estrutura das formaÇÕes vegetais na reserva …paulorosa/paginas/trab_acad/trabalhos... · b277e...

67
M A R I A J O S É V I C E N T E D E B A R R O S ESTRUTURA DAS FORMAÇÕES VEGETAIS NA RESERVA BIOLÓGICA GUARIBAS - PB Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Departamento de Geociências João Pessoa Maio/2002

Upload: nguyenbao

Post on 08-Feb-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

M A R I A J O S É V I C E N T E D E B A R R O S

ESTRUTURA DAS FORMAÇÕES VEGETAIS NARESERVA BIOLÓGICA GUARIBAS - PB

Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências Exatas e da Natureza

Departamento de Geociências

João PessoaMaio/2002

ESTRUTURA DAS FORMAÇÕES VEGETAIS NARESERVA BIOLÓGICA GUARIBAS - PB

B277e Barros, Maria José Vicente de.Estrutura das formações vegetais na Reserva

Biológica Guaribas - PB./ Maria José Vicente de Barros -João Pessoa, 2002.

65p.: il.Inclui bibliografia

Orientador: Prof. Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa.

Monografia (conclusão de curso) – UFPB/CCEN.

1. Paisagem 2.Análise de paisagem 3. Biogeografia. Estruturae formação vegetal. I Título

UFPB/BC CDU 911.52/.53 (043.2)

M A R I A J O S É V I C E N T E D E B A R R O S

ESTRUTURA DAS FORMAÇÕES VEGETAIS NARESERVA BIOLÓGICA GUARIBAS - PB

Monografia apresentadaao Departamento de Geociênciasda Universidade Federal daParaíba, para obtenção do grau debacharel do curso de Geografia.

Orientador: Prof. Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa

Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências Exatas e da Natureza

Departamento de Geociências

M A R I A J O S É V I C E N T E D E B A R R O S

ESTRUTURA DAS FORMAÇÕES VEGETAIS NARESERVA BIOLÓGICA GUARIBAS - PB

Monografia apresentada e aprovada em 16/05/2002, pela banca examinadora constituídapelos professores:

Prof. Ms Paulo Roberto de Oliveira RosaOrientador

Prof. Ms. José Bezerra dos SantosExaminador

Prof. Dr. Sérgio Fernandes AlonsoExaminador

Dedico este trabalho aos meus pais, que desde

minha infância ensinaram-me a lutar pela

sobrevivência, onde sei a importância que

represento para eles, que acima de tudo me

acreditaram enquanto pessoa, fruto dessa união.

A quem devo o afeto a que recorro, quando de

minhas angústias.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de externar meus agradecimentos às pessoas que tiveram importância e

que durante este período contribuíram em muito para o andamento de minha vida

acadêmica.

Aos meus familiares que durante todo esse período me apoiaram nas decisões mais

importantes que precisei tomar, sendo compreensivos com as minhas faltas em algumas

reuniões familiares.

Aos colegas Anadege e Edvaldo que inicialmente me incentivaram a fazer um curso

superior.

As minhas colegas da RUF II, que por um bom tempo, se constituíram como

familiares, compartilhando as incertezas quanto aos nossos futuros profissionais. A estas

não citarei nominalmente por serem muitas.

A Manoel Fernandes, que a partir de muitos diálogos durante o início do curso, me

incentivou a persistir no curso que havia escolhido.

Aos colegas de equipe, Conrad, Cunha, Kallianna, Mônica, Nadja e Pablo, que

durante todo este período estiveram presentes em meus momentos difíceis e felizes no

decorrer da construção desta pesquisa, seja compartilhando dúvidas ou ajudando no fazer,

sem os quais não haveria concluído ainda a pesquisa. Juntamente com eles aprendi muitas

técnicas e lições de vida.

A Odete e Vera, que durante bom tempo também nos acompanharam e partilharam

de nossos sonhos.

A equipe da REBIO, Marcelo Marcelino, Ivaldo Marques, Cacau, Manoel Pedro,

Tabosa, Aluísio, Oscar e Célia, por ter nos recebido e acompanhado sempre que necessário,

nas saídas de campo.

A professora Cristina Arzabe, pesquisadora da herpetofauna da REBIO, com quem

mantivemos contatos, trocando dados e informações.

A David, por ter se disponibilizado a ir ao campo conosco.

Ao André por ter participado efetivamente de nossa atividade de campo.

Aos Professores Sérgio Alonso e José Bezerra, por terem aceito participar da banca

examinadora desta pesquisa.

A Nílvia, por ter participado de forma efetiva, realizando pacientemente nossa

revisão formal e fazendo sábias sugestões as quais guardamos e utilizamos com grande

êxito nos momentos oportunos, bem como por ter nos recebido em seu lar por tantas vezes,

nos fazendo sentir um pouco do cotidiano familiar, quando estávamos distantes de nossos

entes.

Ao João Batista, membro da APAN (Associação Paraibana dos Amigos da

Natureza), a quem tenho grande respeito e admiração pelos trabalhos e lutas travadas em

prol do meio ambiente, pois foi a partir de sua simplicidade e sapiência em solicitar junto

ao Ministério Público algumas providências a respeito de empreendimentos degradadores

do meio ambiente, que efetivamente comecei a entender o sentido e a significância dos

estudos de impactos ambientais para a implantação de determinadas atividades.

A Paulo, quem realmente posso chamar de Mestre, pois iniciou-me efetivamente na

vida científica e me tutoriou até o presente momento, seja na orientação dessa investigação

científica, ou acerca de vários assuntos por nós debatidos em termos de profissão e

mercado de trabalho, sempre incisivo para que seguíssemos em frente e levantássemos a

bandeira da Geografia. A este grande homem, lutador da geografia, um obrigada é muito

pouco para externar meus agradecimentos.

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE GRÁFICOS

LISTA DE QUADROS

RESUMO

PRIMEIRA PARTE

1.1 – INTRODUÇÃO........................................................................................................ 12

1.2 – REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITUAL........................................................... 15

1.3 - MÉTODO E TÉCNICAS.......................................................................................... 32

SEGUNDA PARTE

2.1 – CARACTERIZAÇÃO E DELIMITAÇÃO DA REBIO GUARIBAS, DOS

DIFERENTES TIPOS DE ELEMENTOS GEOGRÁFICOS E ESPECIFICAMENTE

DAS FORMAÇÕES VEGETAIS.....................................................................................36

2.2 - MAPEAMENTO DA DINÂMICA DA PAISAGEM VEGETAL: UMA

INTERPRETAÇÃO VISUAL ENTRE DOCUMENTOS VIRTUAIS E O CAMPO NA

ATUALIDADE...........................................................................................................53

TERCEIRA PARTE

CONCLUSÕES................................................................................................................. 60

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................... 62

APÊNDICE........................................................................................................................ 65

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 - Domínios morfoclimáticos do Brasil.......................................................... 18

FIGURA 02 – Domínio da Mata Atlântica. ...................................................................... 22

FIGURA 03 – Remanescentes florestais em 1990............................................................ 22

FIGURA 04 – Cultivo de cana-de-açúcar próximo aos limites da REBIO – 08/2001...... 27

FIGURA 05 - Interseção dos três conjuntos..................................................................... 28

FIGURA 06 - Mapa da REBIO Guaribas.......................................................................... 37

FIGURA 07 – Vista aérea da sede da REBIO................................................................... 38

FIGURA 08 – Bromélia florada na REBIO – 18/04/2002................................................ 40

FIGURA 09 – Parcela dendrométrica na SEMA II........................................................... 41

FIGURA 10 – População de imbaúbas.- 18/04/2002........................................................ 42

FIGURA 11 – Zona de transição entre três formações – 18/04/2002............................... 43

FIGURA 12 – Caule de casca espessa – 18/04/2002........................................................ 44

FIGURA 13 -.Vegetação de tabuleiro – 1998................................................................... 45

FIGURA 14 –Cajueiro queimado pelo fogo – 1997......................................................... 45

FIGURA 15 - Característica retorcida da formação arbustiva – 18/04/2002................... 46

FIGURA 16 – Detalhe do campo graminoso – 18/04/2002.............................................. 46

FIGURA 17 – Campo graminoso SEMA I – 04/2002...................................................... 48

FIGURA 18 – Detalhe do campo graminoso – 18/04/2002.............................................. 48

FIGURA 19 – Área de gramíneas com solo encharcado – 18/04/2002............................ 49

FIGURA 20 – Erosão regressiva, SEMA I ...................................................................... 50

FIGURA 21 – Solo da floresta – 18/04/2002.................................................................... 50

FIGURA 22 – Solo do tabuleiro, areia quartzosa – 18/04/2002....................................... 50

FIGURA 23 –Plantio de abacaxi nos arredores da Reserva – 18/04/2002........................ 51

FIGURA 24 –Plantio de mamão nos arredores da Reserva – 18/04/2002........................ 52

FIGURA 25 – Mosaico de aerofotos que representam a REBIO Guaribas em 1970/71.. 54

FIGURA 26 – Composição colorida de imagem SPOT da área referente à REBIO –

1991.......................................................................................................... 55

FIGURA 27 – Mapa da vegetação nas SEMAS I e II referente ao ano de 1970............... 58

FIGURA 28 – Mapa da vegetação nas SEMAS I e II referente ao ano de 1991............... 59

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 – Gráfico demonstrativo da diferença do corpo florestal Mata

Atlântica............................................................................................ 24

GRÁFICO 02 – Gráfico denotativo da população vegetal na parcela dendrométrica.... 41

GRÁFICO 03 – Adensamento vegetacional a partir de indivíduos acima de 1 m......... 43

GRÁFICO 04 – Percentual SEMA I - 1970................................................................... 56

GRÁFICO 05 – Percentual SEMA I – 1991.................................................................. 56

GRÁFICO 06 – Percentual SEMA II – 1970................................................................. 56

GRÁFICO 07 – Percentual SEMA II – 1991................................................................. 56

LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 - Área Original da Mata Atlântica........................................................ 23

QUADRO 02 – Valores referentes às estruturas das formações vegetacionais da

REBIO.............................................................................................. 56

RESUMO

Este trabalho consiste na caracterização, delimitação e quantificação das áreas de diferentesformações vegetais da Reserva Biológica Guaribas, especificamente nos anos de 1970 e1991. O território da REBIO encontra-se fragmentado em três partes distintas, SEMA I,SEMA II e SEMA III, localizadas nos municípios de Mamanguape (SEMA I e II) e RioTinto (SEMA III), apresentando em sua paisagem, um corpo populacional com estruturafisionômica relativamente heterogênea, identificadas e classificadas em três formaçõesdistintas: arbórea, arbustiva e herbácea. Recorre a documentos imagéticos (mosaico deaerofotos, 1970 e imagem de satélite, 199l), referentes aos dois momentos, 1970 e 1991,para inventariar e fazer o balanço entre as áreas ocupadas pelas populações vegetais e suasclasses. Distingue in loco as classes fisionômicas das classes de indivíduos que ascompõem e apresenta os dados de forma visual, através de fotografias e gráficos,consubstanciando os resultados obtidos.

Sou a lenha que te aquece amorosamente no invernoE que te oferece sombra, quando o sol ardente te queimaSou a viga do teu teto e a tábua de tua mesaDou leito para teu sono quieto e à tua barca um mastro forteSou a viga da sua construção, portal de tua moradaEm teus tempos de infância, fui o berço que te ninouMorto, é comigo que teu corpo se cobre embaixo da terraSou madeira santa e dou a flor em que seu fruto amadurece.Homem, escuta minha oração, não destruas o que sou!

(Paráfrase de um texto alemão anônimo)

12

PRIMEIRA PARTE

1.1 - INTRODUÇÃO

O nível de fragmentação das florestas nos dias atuais é muito alto, principalmente

no que tange à Mata Atlântica, considerando que esta vegetação ocupou vastas áreas

litorâneas do território brasileiro indo desde o Rio Grande do Norte até os estados sulinos,

sendo representada pela floresta tropical plena, associada aos ecossistemas costeiros de

mangues nas enseadas, foz dos grandes rios, baías e lagunas de influência de marés,

matas de restinga nas baixadas arenosas do litoral; às florestas de pinheirais no planalto,

(...); e em campos de altitude (...) (Reserva da Biosfera da Mata Atlântica: 1992). Hoje, a

Mata Atlântica apresenta aproximadamente 4% de sua área primária1, apesar de ser uma

das florestas que possuem maior endemismo, tanto em termos de flora quanto de fauna,

encontra-se bastante reduzida, sendo representada por pequenos núcleos que se encontram

de alguma forma protegidos, constituindo-se em resquícios de uma paisagem de riquíssima

heterogeneidade.

Esse processo de fragmentação se constitui de um determinante no que se refere à

Biodiversidade pois, direta ou indiretamente ele acaba por afetar o futuro de várias

populações, sejam elas vegetais ou animais, tendo em vista o nível intenso de

interdependência entre ambos fazendo com que a fragmentação venha a ameaçar de

extinção várias espécies que dependem do contato com determinados ambientes e

condições para se perpetuarem. Pode-se notar então, a partir dessas assertivas, a

importância da conservação dos ambientes ora fragmentados.

Neste tocante, as unidades de conservação passam a ter fundamental papel na

conservação desses ambientes, tendo em vista estarem protegidas legalmente, o que

contribui para a realização de pesquisas mais sistemáticas e aprofundamento em

determinados campos, pouco conhecidos, gerando mais subsídios sobre a riqueza natural

presente nesse sistema. Assim sendo pode-se obter um melhor aproveitamento por parte da

sociedade, a partir das políticas públicas então direcionadas. A Reserva Biológica Guaribas

(REBIO GUARIBAS), localizada na zona da mata paraibana, a 70 km de João Pessoa, nos

1 Cf. Almeida, Danilo Sette de. Recuperação ambiental da mata atlântica, 2000.

13

municípios de Mamanguape e Rio Tinto, faz parte desse sistema de proteção. Essa Unidade

de Conservação oficializada em 1988, tem sua área dividida em três partes, denominadas

de SEMAS2. As duas primeiras (SEMA 1 e SEMA 2) localizam-se no Município de

Mamanguape e possuem 616,4 ha e 3.378,2 ha respectivamente, enquanto que a terceira

(SEMA 3), está localizada no município de Rio Tinto e possui a extensão de 327 ha.

O nosso trabalho de investigação ficou restrito às duas primeiras áreas, ou seja,

SEMA 1 e SEMA 2 tendo em vista a proximidade entre elas, o que demandou menor custo

de locomoção para verificações em campo. O tema estrutura da população vegetal

culminou em observação e inventário do elemento quantitativo relativo aos três segmentos

referentes à presença das formações vegetais: arbórea, arbustiva e arbórea, em dois

momentos distintos da história do lugar, que foram em 1970 e 1991. Para guiar o processo

investigativo procedemos a construção do seguinte questionamento: Qual a estrutura das

formações vegetais na Reserva Biológica Guaribas após sua oficialização?

O questionamento é um elemento que fornece condições para o estabelecimento de

parâmetros, pois uma observação mais elementar nos indica que o conjunto florístico

contido na paisagem da Reserva Biológica Guaribas é de uma grande heterogeneidade. O

conjunto florístico apresenta uma diversidade em estruturas vegetais, estando presentes na

área a formação herbácea, representada por gramíneas, a arbustiva, onde se tem um tipo de

savanização característico dos Tabuleiros Costeiros e a formação de porte arbóreo,

representada naquela porção territorial, pela floresta estacional semidecidual das terras

baixas, pertencente ao complexo da Mata Atlântica.

Na perspectiva de atingir o processo de distribuição espacial da estrutura da

vegetação da REBIO, o que no decorrer da história do lugar apresentou anomalias em

relação à dinâmica espontânea daquela população pela presença de agentes interferentes,

como por exemplo a economia extrativa, tanto na questão do frutos de mangabeira como de

cajueiro, e fundamentalmente na extração da madeira nos propusemos estabelecer dois

momentos significativos, tais como1970/71 e 1991, registrados em aerofotos e imagem de

satélite. Para que o processo investigativo fosse mais confiável, estabelecemos uma

hipótese que deu mais segurança ao caminhar em busca de responder ao questionamento

2 SEMA corresponde à antiga Secretaria Especial do Meio Ambiente

14

feito. A hipótese levantada foi a afirmativa que para nós traz uma certa nitidez de que

houve uma sensível recuperação nas áreas que foram desmatadas anteriormente à

instalação da Unidade de Conservação REBIO Guaribas ocorrida em 1988 e o

domínio herbáceo permanece ocupando as mesmas áreas após a implantação da

REBIO apesar de ter havido uma expansão da formação arbórea sobre o domínio

arbustivo. A partir da procura de confirmação ou refutação dessa hipótese pudemos

transcorrer com certa segurança a pesquisa.

15

1.2 - REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITUAL

A Biogeografia apresenta entre os que dela costumam fazer uso, algumas

indefinições no que diz respeito às suas verdadeiras atribuições. Sendo assim, abordaremos

o termo dentro da concepção de Pierre Danserau, que citado por Martins (1988: 09),

conceitua a Biogeografia como sendo “o estudo do revestimento biótico da Terra de

acordo com o clima, as barreiras, as pontes, que condicionam não só a expansão mas

também o isolamento das espécies”. Kuhlmann, também com base em Dansereau,

classifica a Biogeografia como sendo a “ciência que estuda a distribuição, a adaptação, a

expansão e a associação das plantas e dos animais”. (1977, p.48). A Biogeografia possui

em seu interior duas subdivisões que tratam especificamente da fauna e da flora,

denominadas de zoogeografia e fitogeografia respectivamente. Considerando a importância

que a vegetação representa dentro da categoria paisagem, daremos enfoque à fitogeografia,

levando em conta que “a dependência imediata das plantas superiores ante o solo e o

clima as torna valiosas com ‘índices do terreno’ e lhes assegura uma delicada adaptação

às condições físicas” (Wooldridge, 1967, p.59). Ou seja, a partir da vegetação, pode-se

inferir as situações climáticas e pedológicas dos locais onde estão inseridas. Assim, além

dos fatores de ordens física, química e biótica, ressaltamos o fator antrópico, que se faz

sempre presente e interferindo na dinâmica natural do meio.

As florestas tropicais ocorrem entre os trópicos de Câncer e Capricórnio, tendo sua

distribuição nos continentes Americano, Africano e Asiático e possuem em decorrência

dessa localização uma maior facilidade de ciclagem de nutrientes, o que faz com que esteja

sempre renovando seus estoques de matéria orgânica, visto que a região é quente e úmida,

muito embora Remmert afirme que a produção de matéria orgânica na região tropical não

seja superior à produção das regiões temperadas. Esse Autor, refere-se às observações de

Darwin, o qual ressalta que “as florestas tropicais lhe pareciam um símbolo da vida, cheias

de poder de crescimento”, enquanto que “as florestas do extremo sul do continente

pareciam um símbolo da morte, cheias de troncos, ramos e galhos de árvores mortas”

(1982, p.40). Esta assertiva tem razão de ser, visto que nos trópicos a decomposição é bem

mais rápida, logo, as árvores que caem, apodrecem com rapidez, não sendo notadas. Em

contrapartida, a produtividade pode não ser muito alta nas circunstâncias de temperaturas

mais elevadas. Como destaca Remmert, em “altas temperaturas as perdas constantes pela

16

respiração são tão grandes que o balanço entre a fotossíntese e respiração pode

apresentar um défict”. (ibid.)

Na opinião de O’Brien (1995, p.51), Merrian (1890, 1892) foi um dos pioneiros na

confecção de mapas vegetacionais, por associar as faixas distintas de vegetação às zonas de

vida, em estudo realizado no Arizona. No geral apesar da não veracidade da relação,

constatada por estudos realizados posteriormente, as zonas de vida, os biomas e os

ecossistemas terrestres, são caracterizados pela vegetação por apresentarem uma idéia geral

da paisagem, sendo esta determinada pelo clima, água e solo. O’Brien ainda coloca que na

floresta tropical pluvial, onde a precipitação é razoavelmente alta, o fator que limita o

crescimento das árvores é a luz, o que vem a ocasionar uma competição intensa entre os

indivíduos vegetais de sub-bosque.

Fazendo referência aos trabalhos realizados sobre a vegetação brasileira, Romariz

(1968) relaciona alguns autores de relevada importância nos estudos fitogeográficos em

nosso território citando, sobretudo, Alexandre de Humboldt, que considera pioneiro nos

trabalhos sobre a vegetação, dando enfoque geográfico, trabalho que data do início do

século XIX, quando, segundo a autora surgiu o conceito de geografia botânica. Referencia

ainda os trabalhos de Luís Filipe Gonzaga de Campos, que em 1912 publicou o Mapa

Florestal do Brasil, o qual serviu de base aos estudos para a criação das reservas florestais,

bem como o trabalho de F. C. Hoehne intitulado de Observações gerais e contribuições ao

estudo da flora e fitofisionomia do Brasil. Há muitos autores consagrados no campo da

fitogeografia, contudo não os abordaremos aos limites deste estudo.

A vegetação componente do conjunto paisagem é a principal categoria de

observação, sendo esta estruturada em função do solo e do clima predominante no local,

oferecendo boa indicação dos demais conjuntos. O Brasil é um país que apresenta em seu

território uma riquíssima heterogeneidade no que diz respeito aos conjuntos vegetacionais.

Estes foram organizados a partir das flutuações climáticas presentes em nosso território

durante o período Quaternário, época marcada por expansões e retrações das florestas, em

função dos ambientes nos quais estão inseridos. Bigarella pontua que “a situação florestal

atual teve sua expansão e desenvolvimento subseqüente à última fase seca que precedeu a

formação das várzeas atuais” (1964, p.212). Notadamente, o Autor considera, em um outro

17

trabalho intitulado “Domínios de paisagens brasileiras” (1994), que essa variedade de

feições paisagísticas tem sua explicação na interação entre os fatores, quando coloca que

“(...) os diferentes padrões de paisagem que compõe a assembléia de feições geomórficas

regionais3 (...) dependem da interação local dos processos morfoclimáticos e dos fatores

litológicos, topográficos e tectônicos” (ibid: p. 97/98). Ou seja, consideram-se as variações

climáticas do Quaternário como ponto de partida para a explicação das configurações

atuais dos quadros paisagísticos da vegetação, os quais encontram-se também atrelados às

condições locais dos elementos citados anteriormente e que se configuram como fatores

limitantes, para a permanência ou não das tipologias em determinados locais. Considerando

os trabalhos realizados por Ab’Sáber em 1970, onde apresenta os domínios

morfoclimáticos do Brasil (FIG. 01), citaremos aqueles que se constituem dos domínios

Amazônico, Cerrado, Mares de morros, Caatingas, Araucária e Pradarias, em que

considerou uma associação entre o relevo, clima e vegetação. Logo, ao tratar

especificamente da vegetação, nos fixamos na fisionomia vegetacional, sem perder de vista

a geomorfologia da área trabalhada.

3 As feições geomórficas regionais foram inicialmente denominadas por Ab’Saber em 1970 de domíniosmorfoclimáticos.

18

FIGURA. 01 – Domínios morfoclimáticos do BrasilFONTE: Ab’ Sáber, 1970, IN: Bigarella, 1994, p.100

19

Na relação feita por Ab’Sáber, os domínios citados correspondem às unidades

estruturais do relevo, onde “cada domínio é definido pelos aspectos vegetais e feições

morfoclimáticas generalizadas, compreendendo fatores geomórficos, climáticos, e

pedológicos, os quais conferem certa homogeneidade a um conjunto paisagístico”

(Bigarella, 1994, p.101). Desta forma o Domínio Amazônico ocupa a Planície Amazônica,

a qual denomina de terras baixas; o Domínio do Cerrado ocupa os chapadões tropicais

interiores; a vegetação do Domínio dos Mares de Morros, que se constitui da Floresta

Atlântica, ocupa áreas mamelonares tropicais que avançam desde o Rio Grande do Norte

ao Rio Grande do Sul; o Domínio da Caatinga ocupa as depressões intermontanas e

interplanálticas semi-áridas; o Domínio da Araucária ocupa planaltos subtropicais e o das

pradarias ocupa as coxilhas4 subtropicais. Nestes termos temos uma relação entre o clima e

o relevo, quando um ou os dois fatores vêm a determinar o tipo vegetacional que ocorre em

cada região.

Ainda sobre o assunto, verificamos que Rizzini (1997) dividiu os complexos

vegetacionais do Brasil em dez, obedecendo a extensão e importância fisionômica de cada

um. Estes foram classificados em dois grandes grupos, considerando a homogeneidade e

heterogeneidade. Dentro do grupo homogêneo, temos dois grandes biomas: a Floresta

Amazônica e a Floresta Atlântica, os quais foram subdivididos em ecossistemas menores e

específicos. Uma das características funcionais dos conjuntos homogêneos são as

condições favoráveis de água, que se apresenta como um dos principais fatores limitantes

destes conjuntos. Os conjuntos heterogêneos, também não apresentam homogeneidade

quanto ao fator limitante, onde em algumas ocasiões é a água que determina, outras vezes

são os solos ou mesmo a idade do substrato que se mostra como fator preponderante. Outra

característica marcante para classificação dos conjuntos heterogêneos é que estes possuem

tipos próprios de vegetação, ou seja, foram localmente desenvolvidos. Os complexos de

Cerrado e Caatinga oferecem um bom exemplo desta classificação.

Ao tratar desta temática, Rizzini considera, sobretudo o clima e o solo como um dos

principais fatores para a distribuição dos tipos vegetacionais. Nesta relação, utiliza os

conceitos de formações edáficas, climáticas e edafoclimáticas. Dentro destes parâmetros,

4 Denominação regional do Rio Grande do Sul usada para pequenas elevações ou colinas que aparecem nonúcleo sul-riograndense. (Guerra, 1980: 110).

20

relata que as formações climáticas dependem principalmente do clima local, enquanto que

na formação edáfica passam a depender com prioridade do solo, sendo o clima um fator

secundário. A partir dessas colocações, o Autor explica a existência de enclaves de

algumas formações em lugares díspares, destacando como exemplo a ocorrência de

pequenas porções da floresta atlântica no planalto central como sendo uma formação

edáfica (ibid. p.318).

Referindo-se ao Estado da Paraíba, Carvalho (1982) considerou as feições

conjuntamente com o clima predominante em cada local, apresentando a divisão efetuada

em dois setores, os quais denominou de Setor Oriental Úmido e Subúmido e Setor

Ocidental Subúmido e Semi-árido. A Autora considera a Frente Oriental do Maçiço da

Borborema como linha divisória entre os dois setores. No primeiro setor, estão inseridas:

áreas sedimentares marinhas e flúvio-marinhas, constituídas das formações recifais e da

baixada litorânea; áreas sedimentares continentais, constituídas pelo Baixo Planalto

Costeiro, planícies aluviais e chapadas; áreas cristalinas, constituídas da Depressão

sublitorânea, esporões do Maciço da Borborema e escarpas orientais do Maciço da

Borborema. O setor oriental tem sua história geomorfológica marcada por “episódios

tectônicos, oscilações climáticas e oscilações do nível do mar ocorridas ao longo do

Cenozoico, principalmente no Quaternário, (...)” (ibid p.17). O segundo setor é composto

de áreas cristalinas, constituídas pela Superfície Aplainada do Maciço da Borborema,

maciços residuais, Depressão Tectônica do Curimataú e Pediplano Sertanejo e áreas

sedimentares continentais, constituídas pelas chapadas e Depressão do Rio do Peixe.

A faixa litorânea entre o Oceano Atlântico e o Planalto da Borborema é marcado

por um relevo onde ocorrem o Baixo Planalto Costeiro e a Depressão Sublitorânea. O

Baixo Planalto Costeiro tem marcadamente uma litologia de material sedimentar originado

possivelmente da dissecação no período Terciário do planalto cristalino. Neste aspecto,

Bigarella afirma que “a sucessão das alternâncias climáticas do quaternário imprimiu na

paisagem, de forma cíclica, as características próprias de cada época, passíveis de serem

identificadas na morfologia e nos depósitos superficiais” (1994, p.94).

21

O Baixo Planalto com sua litologia sedimentar possui solos com predominância de

material argilo-arenoso, um relevo contemplado por um clima cuja influência é

determinada pelo Oceano Atlântico, tendo como especificidade a direção dos ventos de SE

para NO. O Planalto da Borborema, sendo constituído basicamente por material cristalino,

diferencia-se profundamente em termos litológicos do Baixo Planalto Costeiro. Por esta

razão as condições geográficas deste Baixo Planalto, denominados regionalmente de

Tabuleiros, contêm características referentes às comunidades bióticas diferenciadas em

relação àquele planalto. Neste tocante, em relação às comunidades bióticas, é conveniente

salientar o destaque para a generalidade referente à vegetação.

Conforme já foi realçado, o nível de fragmentação das florestas é muito alto, e neste

caso o que tange à Mata Atlântica (FIG. 2 e 3) e sua formação vegetal que é representada

pela floresta tropical plena, associada aos ecossistemas costeiros de mangues nas

enseadas, foz dos grandes rios, baías e lagunas de influência de marés, matas de restinga

nas baixadas arenosas do litoral; às florestas de pinheirais no planalto, (...); e em campos

de altitude (...) (Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 1992, p.19). Ainda ressaltando

valores que denotam o estado muito pequeno da Mata Atlântica, que apresenta o valor de

aproximadamente 4% de sua área primária, apesar de ser uma das florestas que possuem

maior endemismo, tanto em termos de flora quanto de fauna, encontra-se bastante reduzida,

sendo representada por pequenos núcleos que se encontram de alguma forma protegidos,

constituindo-se em resquícios de uma paisagem de riquíssima heterogeneidade.

22

Em relação à Paraíba, a devastação

1,03% da área original, ocupada por este Biom

território paraibano, como se pode ver no

desmatamento teve início já na colonização, q

Após esse período, a devastação teve sua jus

com a ascensão da cultura da cana-de-açúca

encontra hoje.

FIGURA 3 - Remanescentes florestais em1990.FONTE: Dossiê da Mata Atlântica, 2001.

FIGURA 02 – Domínio da Mata Atlântica.FONTE: Dossiê da Mata Atlântica, 2001.

teve maiores proporções, restando apenas

a, que anteriormente equivalia a 11,92% do

quadro 1. Ao que consta o processo do

uando se tirava a madeira para diversos fins.

tificativa na expansão agrária, e finalmente,

r, ajustamos o quadro ao que este Bioma se

23

QUADRO 01 - Área Original da Mata AtânticaÁrea original da Mata Atlântica segundo definição do Conselho Nacional do

Meio Ambiente (CONAMA) e Remanescentes Florestais

Área original (DMA) Remanescentes florestaisUF Área UFKm2 (1)

km2 (2) % (3) km2 (4) % sobre a área do DMA na UF

% sobre áreatotal da UF

Paraíba 56.585 6.743 11,92 584 8,66 1,03(1) IBGE, 1999.(2) Área do DMA segundo Sistema de Informações Geográficas do ISA, 2000.(3) Sobre a área da UF.(4) Sociedade Nordestina de Ecologia (dados de 1990).

DMA – Domínio da Mata Atlântica (Conama, 1992).

FONTE: Dossiê Mata Atlântica 2001.

Como já foi realçado anteriormente o processo de fragmentação de um corpo

florístico constitui uma ação determinante na dinâmica da Biodiversidade, podendo levar

várias espécies interdependentes à extinção por falta de contatos com outros indivíduos das

comunidades pertencentes ao ambiente primitivo. Segundo estudos realizados por Jean

Paul Metzger e outros, e publicado na revista Ciência Hoje5, as pequenas manchas

florestais isoladas aumentam o risco de extinção das espécies por não haver disseminação,

o que pode acabar ocasionando um maior empobrecimento na diversidade biológica

brasileira visto que, ficando as espécies isoladas, há grande risco de extinção. Os estudos

apontam como medida mitigadora para o problema, a circulação e disseminação através de

corredores florestais que funcionam ligando fragmentos uns a outros, isso permite que haja

circulação biológica entre eles. Destacam que os corredores “podem facilitar o fluxo de

animais, sementes e grãos de pólem” entre eles, contribuindo desta forma para a

perpetuação das espécies (1999, p.62). No referido estudo os autores constataram que os

fragmentos que possuem maiores níveis de conexões, ou seja, fazem ponte através de

corredores florestais com outros fragmentos, faz com que possuam uma riqueza maior em

termos de biodiversidade. Verificaram ainda que a largura dos fragmentos influenciava na

diversidade vegetal, assim sendo, os fragmentos mais largos possuíam maior número de

espécies vegetais. Este é apenas um dos vários processos que podem ocorrer com a redução

da floresta. De acordo com pesquisa realizada por Nobre (Centro de Previsão do Tempo e

5 Revista Ciência Hoje vol. 25 nº 146, p.62/64.

24

Estudos Climáticos, INPE) e Gash (Institute of Hidrology, Grã-Bretanha), na Amazônia, o

clima vem mudando a partir do desmatamento. Segundo os pesquisadores “(...) o

desmatamento modifica as interações físicas e químicas entre o solo, a vegetação e a

atmosfera. (...) quando atinge grandes extensões, pode provocar sensíveis mudanças nos

sistemas de circulação atmosférica que compõem o clima”(1997, p.33). Com relação à

fragmentação, no estado da Paraíba, o gráfico 01 denota em números o visual do domínio

original da Mata Atlântica e os respectivos remanescentes.

ecossi

melho

Const

entre

lei, de

aos r

reman

reserv

regula

Bellia

Segun

GRÁFICO 01 – Gráfico demonstrativo da diferença do corpo florestalMata Atlântica.FONTE: Dossiê Mata Atlântica 2001.

Neste sentido, chamamos a atenção para a legislação vigente sobre esses

stemas, sobre qualidade de vida, uma legislação bem elaborada, contudo, falta uma

r fiscalização para que se cumpra o que ela determina. Sobre o assunto, a

ituição Federal Brasileira em seu capítulo VI, Art. 225, declara a Mata Atlântica,

outros biomas, como patrimônio nacional, donde “sua utilização far-se-á na forma da

ntro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto

ecursos naturais” (1988, p.136). Todavia, para se ter uma proteção efetiva dos

escentes, é preciso usar recursos, como criação de parques, estações ecológicas,

a biológica entre outras. Há uma distinção dos conceitos de cada categoria onde a lei

menta com maior ou menor rigor, a depender do interesse da área a ser constituída.

(1993, p.59) discute bem a diferenciação entre os termos preservação e conservação.

do ele, a conservação pode ser definida como “o uso sustentado, por várias

6.743

584

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

km2

Área original Remanescente

Mata Atlântica no Estado da Paraíba

25

gerações, dos recursos naturais, buscando a perenização das condições de uso originais”,

enquanto que a preservação indica a “manutenção permanente e intocada de um

ecossistema”. Pode-se notar a partir dessas assertivas, a importância da conservação dos

ambientes ora fragmentados, onde as unidades de conservação passam a ter fundamental

papel, tendo em vista estarem protegidas legalmente. Isso contribui para a realização de

pesquisas mais sistemáticas e aprofundamento em campos pouco conhecidos, gerando mais

subsídios sobre a riqueza natural presente nesse sistema. A partir de estudos sistemáticos,

podemos inferir que o tempo é o elemento necessário para a regeneração de determinada

paisagem, com o cessar da perturbação ambiental, considerando os fatores atuantes nesse

processo.

26

A lei nº 9985/2000 que trata do Sistema Nacional de Unidades de Conservação –

SNUC, traz em seu Capítulo III que as unidades de conservação se dividem em: unidades

de proteção integral e unidades de uso sustentável; a primeira tem como objetivo básico a

preservação da natureza, admitindo-se apenas o uso indireto dos recursos naturais, a

segunda que compatibiliza a natureza, utilizando parcela dos seus recursos naturais de

forma sustentada. A reserva biológica faz parte do grupo de unidades de proteção integral e

tem como objetivo “a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes

em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-

se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo

necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os

processos ecológicos naturais” (SNUC, Cap. III, Art. 10).

A REBIO Guaribas, parte integrante desse sistema de proteção, contém em sua

paisagem um conjunto florístico que apresenta uma diversidade em estruturas vegetais,

indo desde a formação herbácea6, representada por gramíneas; à arbustiva7, onde se tem um

tipo de savanização característico dos Tabuleiros Costeiros, bem como, a formação de

porte arbóreo8 a qual é representada, naquela porção territorial, pela floresta estacional

semidecidual das terras baixas, pertencente ao complexo da Mata Atlântica.

Inicialmente as áreas ocupadas pelo cerrado no território paraibano permaneceram

intactas no que se refere ao cultivo da cana-de-açúcar, visto que os solos em que ocorrem

este tipo vegetacional, é arenoso, pobre em nutrientes, excessivamente drenados e

lixiviados, isto se constituía de um determinante para a cultura. Todavia, a partir da

reorganização econômica e energética, em 1975 instituiu-se o PROÁLCOOL, havendo

incentivo por parte do governo para o aumento da produção canavieira e a partir de então,

as terras antes ocupadas pelo cerrado passaram a ser ocupadas pelos canaviais existentes só

nas áreas de várzeas e em locais de solos mais férteis. Dentro deste contexto, o município

de Mamanguape também sofreu as conseqüências do PROÁLCOOL, pois segundo relata

Carvalho (1993) com base em Moreira, a taxa de crescimento do cultivo da cana-de-açúcar

6 Plantas que têm consistência e porte de erva, cujo caule não possui ou apresenta pouco tecido lenhoso.Manual técnico da vegetação brasileira, 1992.7 Vegetais com tamanho variando de 1 a 5 m de altura, resistente e lenhoso, sem tronco predominante pois seramifica desde a base. Ibid.8 Consideramos como arbóreo, os indivíduos com altura superior a 5 m.

27

entre os anos de 1970 a 1985 foi de 204,2%. A Autora considera que o percentual de

acréscimo é decorrente da expansão da cultura para as encostas e topos dos ‘tabuleiros’, o

que ocasionou a devastação do cerrado.

Referindo-se ao estudo da vegetação e suas modificações no tempo e espaço, Conti

ressalta, que as transformações sofridas por uma comunidade florestal que foi desmatada

pode ser verificada e interpretada considerando um tempo mínimo de dez a trinta anos

(1995, p.136). Tendo em vista as questões ora levantadas, iniciamos o mapeamento da

cobertura vegetal da Reserva Biológica Guaribas, visando à compreensão do grau de

desenvolvimento e regeneração da paisagem daquela unidade de conservação, no intervalo

de tempo que envolve desde época anterior à sua criação e instalação em 1990 até os dias

atuais. O destaque se dá ao reconhecimento de uma área onde o fator antrópico sempre

esteve presente como modificador do ambiente, seja em extrativismo praticado

anteriormente ou mesmo através da

pressão sofrida devido à

fragmentação atual, onde as

porções de floresta sobrevivem

rodeadas da monocultura de cana-

de-açúcar (FIG. 04) e de espécies

frutíferas cultivadas em escala

comercial.

FIGURA 04 - Cultivo da cana-de-açúcar próximoaos limites da REBIO – 08/2001.

Sendo a paisagem da REBIO nosso objeto de estudo, buscamos ir além de sua

aparência, considerando-a como sendo um sistema aberto onde ocorrem trocas de matéria e

energia e uma dinâmica própria. Entretanto, interligado, esse sistema passa a depender de

outros. Constituindo-se a paisagem a partir das interações entre os elementos, devemos

então, a partir de uma decomposição analisar a interação entre eles. Com esta finalidade,

Dolfuss propõe que o geógrafo classifique as formas pertencentes a cada um dos conjuntos

(FIG. 05) estabelecendo a continuidade e regularidade das relações aí existentes, o que

deve ser feito observando-se as repetições e irregularidades, visto que “cada jogo de

28

elementos repetido com maior ou menor regularidade confere à paisagem uma fisionomia

que deve ser descrita e explicada” (1973, p.15).

FIGURA 05 - Interseção dos três conjun

de Strahler, 1989, p.39).

Esta discussão nos remete a uma outra que consiste

quais Ratzel deu sua contribuição esclarecendo o princíp

delimitação do fenômeno estudado. De Martonne acres

princípio de extensão resulta a da cartografia(...) [ond

estudo recebe o sinete geográfico quando se procura exp

resultados” (1953, p.18). O Autor ainda menciona outros

geografia geral e o princípio da causalidade. O primeiro,

Vidal de La Blache, utiliza-se da análise e da analogia,

fenômeno local, procura-se observar fenômenos análogos q

regiões. Humboldt foi o precursor do princípio da causalid

a fortalecer bastante a geografia no sentido de se consid

fenômeno, a interação com os demais, visto que remonta

ocorrência em determinado local. Segundo De Marto

mostrado de modo mais preciso quanto Humboldt, “como

clima, da vegetação, como a vegetação é função dos fenôm

dependem uns dos outros” (ibid, p.13).

Hidrográfico

Geomorfológico

Climático

Biótico

tos (adaptado

nos princípios da geografia, dos

io da extensão que consiste na

centa que “da importância do

e] deve-se notar que qualquer

rimir cartograficamente os seus

dois princípios: o princípio da

expresso por Ritter e depois por

ou seja, na investigação de um

ue têm sua ocorrência em outras

ade, um dos princípios que vêm

erar no estudo de determinado

às causas que determinam a sua

nne, até então ninguém tinha

o homem depende do solo, do

enos físicos, como estes mesmos

29

Dentro dessa visão sistêmica, e por tratar-se de uma paisagem vegetal, portanto de

ordem biótica, esta é o resultado da interação dos três grandes conjuntos: hidrográfico,

geomorfológico e climático (Fig.5) dos quais o biótico é o resultado. Como realçado

anteriormente, o climático apresenta maior significação para a paisagem, pois, a depender

deste os processos morfogenéticos se manifestam de forma mais ou menos intensa. As

atividades climáticas foram muito intensas em períodos remotos, o que nos concederam as

configurações das paisagens atuais, pois, “(...) deslocaram no espaço e no tempo as ações

relativas à natureza e à intensidade dos processos de intemperismos, bem como aquelas

ligadas à formação dos solos de um sistema morfogenético,(...)” (Bigarella, 1994, p.94).

Em relação ao conceito de análise, sob a concepção geográfica, Dolfuss ressalta que

“a análise leva (...) à compreensão das modalidades de organização no espaço constituído

pela superfície terrestre e pela biosfera que a molda” (1973, p.8). Dentro da perspectiva

analítica da paisagem, Dolfuss coloca que “O geógrafo situa no espaço as estruturas que

compõem um mosaico ( ) com o objetivo de extrair seu significado. Seja qual for a

natureza dos fenômenos analisados, (...) adota o mesmo procedimento a fim de decompor

seu domínio (...) trazer à tona a originalidade (ou singularidade) de cada conjunto (...)”

(ibid, p.32).

Em nosso território a tipologia em termos de classificação da vegetação tem como

pioneiro Martius que estabeleceu a classificação das formações vegetais, quando em 1837

dividiu o Brasil em cinco regiões botânicas, tomando como base o clima e a constituição

florística (Romariz, 1968, p.525).

Com referência aos aspectos que foram analisados na vegetação, Rizzini oferece

importante subsídio a este respeito quando levanta três importantes categorias a serem

consideradas para um estudo mais completo, as quais se constituem da “fisionomia,

estrutura e composição” (1997, p.309). Nesta pesquisa, a ênfase é dada à estrutura que,

segundo o Autor

“é a ordenação das formas de vida que compõem a vegetação e que se fazde maneira estratificada; esta estratificação, embora nem sempre fácil dediscernir, é característica das florestas; nas formações abertas, ela é antessubterrânea, pois nestas é muito mais ampla a diversificação dos órgãos

30

intraterrestres do que das partes aéreas, menos desenvolvidas do que nasmatas, onde prevalece a vida aérea”(ibid).

Quanto ao termo formação, o Manual técnico da vegetação brasileira, publicado

pelo IBGE, utiliza a terminologia formação dentro da perspectiva de Du Rietz (1957), que

reformulou o termo criado por Grisebach (1872) para designar um tipo vegetacional

definido; com a reformulação, o termo passou a designar “( ) um conjunto de formas de

vida de ordem superior composto por uma fisionomia homogênea, apesar de sua estrutura

complexa” (1992, p.11). Carlos Toledo Rizzini (1997, p.10), também trabalha o termo

formação levando em conta o aspecto fisionômico.

Partindo da perspectiva epistemológica, Jolivet coloca que “(...), chegamos ao

conhecimento preciso das essências ou naturezas e das propriedades apenas por meio da

análise” (1966: 73) que se constitui na divisão do todo em suas partes. O geral no nosso

caso constitui-se do quadro vegetacional, que decompomos em três formações específicas.

Estas foram analisadas separadamente, dentre características comuns, solos mais propícios,

clima, etc.

Para classificação da paisagem, nos pautamos na estratificação, observando sempre

a estatura do indivíduo. Assim sendo, delimitamos a estrutura que contém o mosaico da

paisagem, onde Dajoz observa que “a estratificação é muitas vezes consequência da

competição interespecífica, na procura da luz e da água, (...)” (1978, p.291). Em algumas

áreas verificamos que a estratificação é decorrente de outros fatores e não só da

competição. Seguindo essa linha de raciocínio buscamos interpretar a paisagem a partir de

documentos primários (aerofotos) e secundários (cartas topográficas), utilizando-nos da

técnica de fotointerpretação de imagens, que segundo Loch, começou a ser utilizada para

interpretar a vegetação em decorrência da necessidade de levantamento de áreas que

continham muita dificuldade em serem acessadas por terra, optando-se pela

fotointerpretação para a realização destas áreas (1984, p.31). Todavia, a importância das

fotografias aéreas em nossa pesquisa teve uma outra conotação em termos de valor, pois

são documentos fotográficos de uma época anterior à oficialização da Reserva enquanto

Unidade de Conservação. Visando a cobertura de toda a Reserva, optamos pela montagem

de um mosaico, o qual é definido em Paredes (1987, p.420) com base no Manual de

31

Fotogrametria da Sociedade Americana de Fotogrametria, como sendo ‘uma montagem de

fotografias aéreas ajustadas sistematicamente umas às outras para formar uma vista

composta de toda a área coberta por essas fotografias’.

Em um outro momento, tomamos como documento de interpretação da paisagem

imagem SPOT, quando utilizamos respaldo teórico de instruções contidas no programa

SPRING, software desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE.

Diante dessas conceituações, a busca pela compreensão do processo de regeneração

do conjunto vegetal da paisagem da REBIO Guaribas é de primordial importância,

considerando os fatores atuantes naquela paisagem, que direta ou indiretamente

contribuem, influenciando em seu processo de recuperação. Entre as saídas de campos

realizadas fizemos algumas amostragens dendrométricas, levando em consideração a

poligonal das áreas a serem amostradas, ou seja, as parcelas foram divididas obedecendo ao

contorno de uma figura geométrica com vários ângulos, determinada por um indivíduo

superior que servia como pivô central.

32

1.3 - MÉTODO E TÉCNICAS

Centrando na categoria paisagem, no caso a vegetação da REBIO Guaribas,

tomamos como respaldo metodológico os estudos de Jolivet ligados à análise, visto que

“decompõe o objeto complexo (...), com o fim de apreender nêle a essência(...)”(1966,

p.75), considerando as interligações entre os conjuntos. Para obtenção dos resultados ora

explanados, fizemos uma análise interpretativa de documentos primários e secundários,

bem como, realizamos visitas ao campo na atualidade.

Partindo da época que remonta à oficialização da Reserva, identificamos e

delimitamos os diferentes tipos de formações vegetais utilizando as técnicas de

fotointerpretação das quais destacamos a estereoscopia, planimetria e montagem do

mosaico. Selecionamos aerofotos de 1970/71 da GAV-FAB na escala 1:30000 que

contemplasse toda a área que hoje constitui o território da Reserva (áreas 1 e 2), das quais

fizemos cópias a laser, para se ter uma boa resolução. Na seqüência, fizemos a

reconstituição da área através da montagem do mosaico não controlado, proposto por

Paredes (1987), que consiste no ajustamento das aerofotos pela combinação de detalhes,

onde foram observadas alguns elementos para evitar uma grande distorção, pois embora o

mosaico não controlado ofereça um bom quadro do terreno, pode conter erros de escala e

de direção, os quais foram ajustados posteriormente. O mosaico foi montado a partir das

cópias sobre uma superfície mais rígida (cartolina).

Para trabalhar o mosaico foi feito um pré-teste com papel manteiga e, depois, em

papel vegetal, optando finalmente em trabalhar com acetato sobre o mosaico, visto que este

oferece ótima transparência; em seguida, passamos à delimitação dos elementos da imagem

sobre o acetato. Como as fotografias são em preto e branco, embora ofereçam uma boa

resolução, fez-se necessário, para melhor determinação dos elementos estruturais da

população vegetal, a utilização de estereoscópio de espelho (Modelo ST4 WILD

HEERBRUG), sendo utilizadas ainda cartas topográficas de 1974 da SUDENE folhas:

SB.25-Y-A-V-2-SO (Camaratuba) e SB.25-Y-A-V-2-SE (Rio Grupiúna), escala 1:25000,

para obtenção de informações adicionais. A utilização do acetato permitiu destacar das

fotografias aéreas as estruturas pertinentes a cada formação vegetacional com caneta para

retroprojetor, quando foram atribuídos símbolos e cores diferentes para cada tipologia.

33

Delimitadas as áreas ocupadas pelas diferentes formações, estabelecemos as coordenadas

de acordo com as cartas topográficas, onde tomamos como base pontos referentes e

existentes nas cartas e nas aerofotos, como estradas, áreas desmatadas, entre outros.

A segunda fase refere-se ao ano de 1991, época um pouco posterior à oficialização

da REBIO. Nesta etapa, tendo em vista não dispormos de fotografias aéreas da área

referente a este período, fizemos uso da imagem SPOT, impressa em escala 1:50000,

resultante da composição colorida RGB, da qual foi feita a interpretação visual para a

identificação e delimitação da cobertura vegetal, considerando a resposta espectral

referente a cada formação.

No que se referem aos limites da Reserva, encontramos algumas dificuldades em

delimitar o território da REBIO por meio das fotografias aéreas e imagem de satélite.

Inicialmente, tomamos como base uma delimitação feita tempos atrás a partir de GPS. Em

um outro momento, resolvemos fazer a delimitação através do memorial descritivo,

contido no Decreto nº 98.884/90 que cria a REBIO Guaribas, para nos certificarmos de

algumas posições, considerando que a área do entorno foi loteada e com o tempo os lotes

em grande maioria acabaram sendo vendidos ou repassados para outras pessoas, ou em

outros casos, anexados a alguns já existentes. Entretanto foi nesta etapa que encontramos a

deficiência, pois o memorial descritivo não cita nenhuma coordenada, dificultando em

muito nosso trabalho, visto que o único documento que estava a nossa disposição era um

mapa do INCRA, que também não continha coordenada para delimitação dos lotes do PIC

Rio Tinto (Projeto Integrado de Colonização Rio Tinto). Desta forma, nos deparamos

apenas com azimutes sem coordenadas iniciais de onde pudéssemos partir. Indo dos lotes

citados pelo Decreto, seguimos ainda a delimitação enquanto os azimutes referenciavam

retas, contudo, quando o Decreto enunciava azimutes iniciais, se fez difícil o fechamento

das áreas. Enviamos correspondência ao INCRA, onde encontra-se o processo Incra BR-

5275/78 do Projeto do PIC Rio Tinto ao qual o Decreto referencia como base o mapa

planimétrico em escala 1:10000, anexado ao referido processo, só que não obtivemos

retorno do referido órgão às nossas indagações.

Apesar desses percalços sobre a delimitação da área, o que inevitavelmente

acarretou problemas no momento da configuração planimétrica das áreas internas

34

referentes às coberturas vegetais, o problema técnico foi resolvido quando fomos ao campo

e coletamos diversos pontos referentes às coordenadas métricas da poligonal do território

da REBIO, com GPS (modelo GARMIM III). Em laboratório iniciamos o processo de

impasse entre áreas que não eram confirmadas, a partir das coordenadas tiradas nos

documentos de representação (isto é, documentos aerofotográficos e a imagem de satélite

SPOT), e além de confirmar os pontos pendentes verificamos algumas áreas com as

coordenadas programadas no aparelho de posicionamento, onde tínhamos dúvidas quanto

ao tipo de formação.

No campo utilizamos ainda o trado (modelo holandês), quando fizemos algumas

tradagens do solo, com enfoque para as áreas de ocupação de cada formação. Nesta etapa

fizemos o registro fotográfico das situações, utilizando a câmera digital Epson (modelo

PHOTO PC 650). Realizamos também uma coleta atual de dendrometria em área bem

distante das bordas para verificação da densidade populacional da formação florestal.

Quanto às outras formações, consideramos uma fraca densidade, pois são muito espaçados

e em algumas áreas se confundem, tendo a ocorrência das duas formações. A atividade

consiste em contar os indivíduos de uma poligonal, tendo um indivíduo adulto como pivô

central. Neste pivô amarramos um cordão, o qual foi levado às arestas de cada área,

fechando assim o polígono. Na contagem, tomamos como parâmetro indivíduos acima de 1

metro dos quais foram medidos diâmetro e altura. O diâmetro foi medido com o

paquímetro (medida em milímetros), considerando a altura do parâmetro estabelecido para

o censo, enquanto que para a altura utilizamos o clinômetro para tirar a angulação,

tomando a copa como ponto final de observação; a partir de então calcula-se a tangente do

ângulo, multiplicando-a pela distância de onde se está olhando até a árvore observada e

soma-se com a altura do olho do observador. Nesta atividade utilizamos giz colorido para

distinguir os indivíduos que já haviam sido contados. Ao final da contagem mede-se cada

área, colocando o desenho em escala pode-se mapear a distribuição dos indivíduos. Para

esta atividade foi utilizado formulário específico e a partir desta coleta pode-se obter a

densidade populacional dividindo-se a quantidade de indivíduos pela área de amostragem.

A partir da interpretação realizada com base na imagem Spot, passamos à

digitalização dos mapas, visando além da quantificação mais precisa, uma equivalência de

escala, tendo em vista que o primeiro mapa temático foi feito com base em fotografias

35

aéreas em escala superior ao segundo. Para esta atividade fizemos uso do programa

Sistema CAD 14. Os resultados foram obtidos com a planimetria, e assim pudemos

analisar o grau de regeneração daquela paisagem específica. Dos dados planimétricos

obtidos no Sistema CAD 14 puderam ser geradas tabelas na planilha eletrônica Excel e

conseqüentemente os gráficos referentes às duas épocas distintas.

36

SEGUNDA PARTE

2.1 - CARACTERIZAÇÃO E DELIMITAÇÃO DA REBIO GUARIBAS,DOS DIFERENTES TIPOS DE ELEMENTOS GEOGRÁFICOS EESPECIFICAMENTE DAS FORMAÇÕES VEGETAIS.

Como pode ser observado no mapa (FIG. 06) a REBIO Guaribas é cortada por duas

rodovias: uma estadual e outra federal; esta última possui um tráfego bastante intenso, pois

liga o estado paraibano ao Estado do Rio Grande do Norte. Segundo o Plano de Ação

Emergencial (1995), a REBIO foi criada a partir de uma negociação entre a antiga SEMA e

o INCRA, no sentido de destinar 20% das terras do PIC Rio Tinto (Projeto de Colonização

Rio Tinto) para a criação de uma estação ecológica. A negociação visava algumas áreas de

matas que haviam sido preservadas. A partir de 1981 o INCRA autorizou a SEMA a

utilizar as áreas 1, 2 e 3 para implantação da estação ecológica. Contudo, nas áreas de

Mamanguape houve uma dizimação das florestas mediante uma série de fatores,

possivelmente por falta de rigor na fiscalização. Finalmente, em 1990 as terras foram

transferidas para o IBAMA e as áreas foram declaradas oficialmente Reserva Biológica,

através do Decreto nº 98.891. Os moradores também confirmaram as informações contidas

no Plano de Ação Emergencial, pois afirmam que antes da implantação do PIC Rio Tinto, o

local era ocupado por matas densas, as quais eram povoadas por uma rica fauna e flora, não

havendo sequer estradas naquele local.

37

FIGURA 06 – Mapa da REBIO GUARIBAS.

Ao descrever Mamanguape, Lyra Tavares (1910, p.712) relata sobre a riqueza das

espécies vegetais, e assim ressalta:

“A vegetação é abundante em hervas medicinaes e o pasto é vigoroso.Restam algumas grandes mattas onde se encontram massaranduba,jurema, Bpetiá-marfim, sucupira, páo d’oleo, amarelo do norte,madeira nova, angico, gonçalo-alves, parahyba, peroba, camaçarí,goroba, oiticica, embiriba, páo brasil, páo d’arco, mangue e muitasoutras madeiras de construção.Há muitas fructas, entre as quaes, massaranduba, jaboticaba, ingá,jatobá, ariticum, mangaba, goiti, laranjas, bananas, abacaxi, goiaba,araçá, sapotí, manga, jaca, umbú e pinha.Os terrenos são magnificos para o cultivo de vinha.A metade dos terrenos é de catingas.Existe muita terra inculta e também alguma devoluta, na extensão de37 km, de Leste a Oeste e 24 de Norte a Sul.

38

(...), Mamanguape exporta borracha de mangabeira, em quantidadede quatrocentos volumes, anualmente (...)”.

Verificamos a partir deste relato, que havia naquele mesmo espaço, coleta de frutos

silvestres, madeira e colheita de produtos da agricultura, pois apesar dos habitantes do

lugar praticarem a agricultura ainda praticavam o extrativismo, principalmente no que

refere à exportação da borracha de mangabeira, pelo que descreve em Tavares (ibid, p.714)

era uma importante fonte de renda para o município de Mamanguape.

Após a oficialização da Reserva Biológica, o IBAMA instituiu uma sede (FIG. 07),

que fica dentro da Reserva com ótima infra-estrutura para permanência de pesquisadores,

bem como, uma fiscalização mais incisiva por parte dos guardas, que vez por outra

FIGURA 07 - Vista aérea da sede da REBIO.FOTO: Conrad R. Rosa – 04/2002.

Considerando as estratificações da vegetação do lugar, levantamos na REBIO

Guaribas três tipologias diferenciadas de formações vegetacionais. Seguindo como

parâmetro sua estrutura e organização, destacamos a presença das formações arbórea,

arbustiva e herbácea. Na caracterização da paisagem vegetal que o Plano de Ação

Emergencial da REBIO (1995, p.09) estabelece, tomando como base o Projeto

RADAMBRASIL (1981), a Reserva apresenta dois tipos de vegetação: a floresta estacional

semidecidual das terras baixas e a savana arbórea aberta. Contudo pela descrição feita, a

savana “caracteriza-se por um contínuo tapete gramíneo-lenhoso (...)” (RADAMBRASIL,

1981, p.501), o que nos leva a deduzir que o tapete gramíneo tratava-se da formação

herbácea e o elemento lenhoso é de característica arbustiva.

ainda flagram pessoas caçando ou

retirando madeira no local. O

resultado da regeneração desta

paisagem pode ser avaliado através

de uma leitura elementar entre as

duas paisagens, REBIO e cultura

(FIG. 07).

SEDE

CULTURA

SEMA II

39

A vegetação de porte arbóreo que ocorre na REBIO, conforme relatado no

RADAMBRASIL, é representada pela Floresta Estacional Estacional Semidecidual das

Terras Baixas, que faz parte do complexo Mata Atlântica. Esta formação, segundo o

Manual Técnico da Vegetação Brasileira, geralmente é encontrada em tabuleiros do

Pliopleistoceno do Grupo Barreiras, e possui como característica marcante a exuberância

no que diz respeito à sua coloração e à diversidade de indivíduos como as epífitas e

sobretudo as bromeliáceas (FIG. 08) e outro elemento importante apresentado pelo corpo

vegetacional são os estratos diversificados cujas copas dos bosques são do tipo frondosa,

verificação feita a partir dos dados coletados numa parcela dendrométrica9 (FIG. 09) e

(GRAF. 02). Algumas áreas de ocupação dessa população vegetal encontram-se em

terrenos com elevada declividade,

o que ocasionam uma maior

luminosidade, e acabam por

permitir iluminação nos estratos

mais baixos e até mesmo

vegetação herbácea em meio a

estrutura florestal.

FIGURA 08 - Bromélia florada na REBIO – 18/04/2002.

Kuhmann relata a respeito desse tipo vegetacional no Nordeste, colocando que a

“devastação iniciada com o ciclo do Pau-brasil foi intensificada com o desmatamento

exigido pela cultura da cana-de-açúcar, para combustível de engenho e usinas, para

cultura do fumo,(...).Da exuberante floresta que existia ficou como testemunha a expressão

Zona da Mata (...)” (1977, p. 86).

9 Elucidamos que os dados coletados nas parcelas dendrométricas foram obtidos a partir de um formuláriopor nós desenvolvido no qual é indicado as classes de diâmetro e altura dos indivíduos (segue como apêndiceo formulário)

40

FIGURA 09 – Parcela dendrométrica na SEMA II

GRÁFICO 02 – Gráfico denotativo da população vegetal na parcela dendrométrica.

0

50

100

150

200

250

Qu

anti

dad

e

Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5

Relação de diâmetro e altura em parcela amostral da SEMA II

Altura Diâmetro

41

A vegetação arbórea da REBIO possui uma certa estratificação, apesar de ser uma

vegetação jovem, em virtude do processo de exploração aplicado anteriormente. Em

alguns locais nota-se a presença de

forma significativa da imbaúba

(FIG.10), vegetação pioneira em

recomposição populacional. Este

tipo de vegetação possui uma grande

importância em termos de

recuperação de áreas desmatadas,

por possuírem um certo limite de

tolerância, sendo ainda pouco

exigentes, por isso acabam por

preparar as condições locais para as

espécies mais exigentes quando da ativação do banco de sementes do solo. Segundo

Kuhlmann a este processo se dá o nome de reação onde

“a competição pelos diversos fatores indispensáveis à vida faz com que asplantas modifiquem inteiramente as condições do meio, tornando-asdiferentes daquelas existentes no início do processo. Onde havia intensailuminação há agora sombra; as áreas úmidas tornaram-se mais secasdevido à absorção da água do solo por maior número de raízes e por maisintensa perda de água por transpiração; as áreas mais secas tornaram-semais úmidas pelo acúmulo de matéria orgânica que retém mais água”(1977, p.86).

A vegetação pioneira, a que referimos (imbaúba), ocupa grande área nas

proximidades da sede, onde encontramos os vestígios da antiga comunidade Mary Pitanga.

Acreditamos que a sobrevivência da vegetação tenha sua grande ocorrência nas áreas em

que a população dessas comunidades já extintas praticava a agricultura.

A formação arbórea apresenta um corpo populacional significativo e este tipo

vegetacional tem sua predominância na SEMA II, ocupando tanto às superfícies como as

vertentes e os fundos dos vales junto aos rios e riachos que nascem dentro da REBIO. A

FIGURA 10 - População de imbaúbas – 18/04/2002.

42

vegetação de porte arbóreo possui uma densidade significativa (GRAF. 03), com árvores de

médio porte que chegam aos 20m de altura, formando o estrato de dossel10.

GRÁFICO 03 - Adensamento vegetacional a partir de indivíduos acima de 1 m.

Há ainda nesta área pequenos enclaves de vegetação arbustiva-herbáceo, as quais

estão inseridas no mosaico nas superfícies mais planas e mal drenadas. Esses locais se

caracterizam como ecótono, ou

seja, nesta zona de transição (FIG.

11) percebe-se nitidamente o

contado entre as três formações.

Nestes locais, denominados de

áreas de tensão ecológica, os

limiares oferecem condições para

permanência de indivíduos das três

formações, assim não se sabe onde

começa uma ou termina a outra

1

1 ,8 8

0 ,9 1

0 ,6 7

1 ,7 4

0 ,0 0

0 ,2 0

0 ,4 0

0 ,6 0

0 ,8 0

1 ,0 0

1 ,2 0

1 ,4 0

1 ,6 0

1 ,8 0

2 ,0 0

C a b e ç a d ob o i

C a ia n a B r e j in h oV is g u e ir o

Á g u aV e r m e lh a

A d e n s a m e n t o v e g e t a c io n a l e m s u b - b a c ia s lo c a liz a d a s

n o t e r r it ó r io d a R E B IO ( m 2 )

herbácea

arbustivaarbórea

FIGURA 11 - Zona de transição entre as trêsformações – 18/04/2002.

formação.

0 Tapete contínuo sempre verde formado pelas arvores. (ODUM 1986, p.366)

43

A vegetação arbustiva que ocorre na REBIO é bem caracterizada não somente pela

estatura como também por algumas formas determinantes, características deste tipo

vegetacional inerentes também à vegetação de cerrado do Brasil Central, das quais têm

destaque troncos e galhos curtos e retorcidos, revestidos por uma casca espessa, folhas

coriáceas, estas ainda possuem pêlos em algumas espécies. Essas características estão

sugeridas em bibliografias específicas que também indicam que estes indivíduos estão

diretamente ligados ao tipo de clima quente e semi-úmido, tendo em média de 7 a 8 meses

com precipitação; solos bastante profundos e relevo tabular. O cerrado apresenta ainda

raízes bastante profundas e em algumas ocasiões alcançam a água no lençol freático. O

sistema radicular das espécies do cerrado permite ainda que essa vegetação sobreviva no

período seco, considerando que o solo por ser bastante profundo armazena água no

subsolo, onde as raízes se abastecem. No caso específico da REBIO, o solo não é tão

profundo como o do Brasil Central. A casca espessa (FIG. 12) tem a função própria para os

indivíduos da savana, sendo que uma dessas funções tem sua realidade ligada à proteção do

indivíduo em relação às anomalias possíveis do lugar como é o caso do fogo, pois as áreas

de clima com estiagem relativamente elevada é propenso a esse tipo de colapso. O

fogo também tem sua função para

este tipo específico de vegetação,

pois serve para renovar os estratos,

bem como, para quebrar a

dormência de algumas sementes

típicas deste tipo de vegetação.

Ao que indicam as evidências elementares, a permanência da vegetação savanóide

em algumas áreas do Nordeste brasileiro, especificamente no Estado da Paraíba pode estar

também relacionada ao tipo de solo característico dos tabuleiros sobre o grupo Barreiras,

que segundo Tricart (1982, p.3), “são baixos platôs litorâneos onde os solos arenosos

infligem um regime hídrico que impede o crescimento da floresta. A vegetação é uma

FIGURA 12 - Caule de casca espessa –18/04/2002.

44

formação arbustiva, com algumas árvores, arbustos, gramíneas”. Neste sentido, a

vegetação acha-se de tal forma ligada à geomorfologia que, regionalmente falando,

quando queremos nos referir à

vegetação de características

savanóides, utilizamos a expressão

“vegetação de tabuleiro” (ibid)

(FIG. 13). Kuhlmann (1977, p.99)

registra a ocorrência deste tipo

vegetacional na região nos Estados

do Maranhão, Bahia, Paraíba e

Alagoas. Na Paraíba o autor ainda

cita sua presença no município de

FIGURA 13 - Vegetação de Tabuleiro – 1998. Arquivo-LABEMA

Santa Rita, contudo, essa vegetação também é encontrada em vários outros municípios da

zona da Mata do Estado, estando intimamente ligada à forma do relevo tabular,

regionalmente denominadas de tabuleiros costeiros.

Das espécies presentes no território da REBIO, as mais conhecidas são a

mangabeira, que produz um fruto de sabor forte, muito utilizado para o fabrico de poupas,

também como alimento, e o

cajueiro (FIG. 14), outra espécie

encontrada no Tabuleiro,

oferecendo tanto o fruto, que é um

tipo de castanha de sabor bastante

apreciado, como o receptáculo

carnoso, utilizado para o fabrico de

poupas e doces. Dentre eles

existem muitas outras espécies

de vasta utilidade mais

conhecidas pelos moradores do lugar. A vegetação referente ao cerrado é de caule quase

sempre retorcido e com altura média de 1,5 até aproximadamente 5 metros (FIG.15).

Com relação à ocorrência de enclaves dessa tipologia savanóide, similar ao cerrado

do Brasil Central, pode-se deduzir do que postula Rizzini que a Floresta Atlântica é uma

FIGURA 14 - Cajueiro queimado pelo fogo – 1997 –Arquivo LABEMA

45

formação tipicamente climática, porém sua ocorrência no “Planalto Central são

consideradas edáficas” Rizzini (1997, p: 318). A partir das questões aqui colocadas, estas,

na verdade, tratam-se de formações edáficas, onde entra em ação a compensação de um

vegetam sobre o mesmo clima geral dominado por uma estação seca. Por isso

freqüentemente ocorrem juntos, em mosaico” (ibid, p.317), todavia, o ambiente aéreo no

interior da Mata Atlântica possui umidade superior, em decorrência da fraca intensidade de

luz que aí chega.

Em relação à outra formação, ela constitui-se basicamente de gramíneas, um tipo de

capim que alcança aproximadamente 1 metro de altura, e denota a estatura da

vegetação (FIG. 16). Com base em Odum

(1986, p.357), e tomando como parâmetro a

medida de altura, vimos que as gramíneas

presentes na REBIO, as que medem

aproximadamente 1 metro, podem ser

classificadas como intermediárias, variando

entre 0,6 e 1m de altura. Segundo Odum,

esse tipo de vegetação em sua maioria,

possui raízes profundas indo muitas vezes

além da medida de sua parte aérea, e

algumas espécies possuem rizomas

subterrâneos, chegando a formar torrões; aFIGURA 16 - Detalhe do campograminoso – 18/04/2002.

FIGURA 15- Característica retorcida daformação arbustiva – 18/04/2002.

fator ecológico por outro, ou seja, o

solo torna-se pois um fator

preponderante para a permanência

desta tipologia específica as quais

limitam-se a solos geralmente

arenosos nas superfícies tabulares

do Baixo Planalto Costeiro. Sobre o

assunto, Rizzini coloca que o

“Cerrado e Mata Atlântica

46

vegetação herbácea tem sua ocorrência concomitante com a arbustiva. Representada quase

que exclusivamente por gramíneas, a vegetação herbácea ocupa solos pobres, mal drenados

ou lixiviados. Ao que consta, essa formações são dotadas de grande resistência, aparecendo

nos mesmos locais em 1970, data das fotos em que foram feitas as primeiras interpretações

visuais, permanecendo com a mesma configuração em 1991. Este tipo vegetacional tem sua

predominância na SEMA I (FIG. 17 e 18) sendo acompanhada pela formação arbustiva.

Esta predominância tem sua explicação em virtude do solo que se constitui de areia

quartzosa distrófica, não permitindo a ocupação pela vegetação de porte arbóreo, ficando

esta restrita aos locais de relevo mais íngreme às vertentes dos riachos que possuem suas

nascentes nesta área, se caracterizando como mata de galeria.

47

FIGURA 17 - Campo graminoso SEMA I – 04/2002.FOTO: Conrad R. Rosa

FIGURA 18 - Detalhe do campo graminoso – 18/04/2002.

48

Em alguns locais de ocorrência de gramíneas o solo possui pequena profundidade,

ocasionando uma saturação nos períodos de precipitação elevada sobre a área (FIG. 19),

pois abaixo da superfície do solo há presença de material endurecido denominado de

fragipam11, o qual tende a oferecer

uma impermeabilização no terreno,

não permitindo que haja o

escoamento vertical para as demais

camadas, considerando que o

relevo da área constitui-se de uma

planura e a água da chuva não

escoando, forma pequenas poças.

FIGURA 19 - Área de gramíneas com soloencharcado – 18/04/2002

A geomorfologia elementar do lugar que, de acordo com o mapa geomorfológico

do Projeto RADAMBRASIL (1981), a REBIO apresenta em seu território uma

geomorfologia de formas convexas, o que confere a fisionomia dos Tabuleiros Costeiros,

sejam os

“relevos de topo convexo com diferentes ordens de grandeza e deaprofundamento de drenagem, separados por vales em ‘V’ e eventualmentepor vales de fundo plano. Apresenta ainda formas tabulares, relevos de topoplano, com diferentes ordens de grandeza e de aprofundamento dedrenagem, separados geralmente por vales de fundo plano”.

Estes são decorrentes da formação geológica, constituída pelo Grupo Barreiras,

onde se têm arenitos finos a médios, siltitos e argilas variegadas, com níveis caulínicos e

níveis conglomeráticos grosseiros; estratificação horizontal incipiente e coloração

avermelhada a amarelada (FIG.20).

11 Fragipam “As camadas densas ou pan representam em geral horizontes compactos de argila”(Ranzani,1969: 146).

49

FIGURA 20 - Erosão regressiva, SEMA I – ArquivoLABEMA.

O solo, foi definido por Kuhlmann (1977, p.73) baseado em Aubert e Boulaine

(1967), como “o produto da alteração, do remanejamento e da organização das camadas

superiores da crosta terrestre sob a ação da vida, da atmosfera e das trocas que aí se

manifestam”, ou seja, é formado em função do clima, rocha matriz, topografia e vegetação

apresentando sua riqueza em

função da abundância do húmus

gerado a partir da serrapilheira.

Neste sentido, o Autor destaca que

os solos das florestas tropicais são

menos ricos que os das florestas

temperadas, em decorrência dos

processos de decomposição da

matéria orgânica, e que nos

trópicos acontecem com maior

rapidez, impedindo que haja uma

maior acumulação. A REBIO

apresenta em seu território dois

tipos de solos, sendo constituídos

de areias quartzosas distróficas e

solos podzólico vermelho-amarelo

distrófico (FIG. 21 e 22), onde a

Revestimentoartificial semelhantefragipan

Areia quatzosadistrófica

FIGURA 22 - Solo do tabuleiro, areia quartzoza18/04/2002.

FIGURA 21 - Solo da floresta – 18/04/2002.

50

predominância é do primeiro, o qual ocupa as áreas de topos, enquanto que o segundo

ocupa as vertentes dos riachos que possuem suas nascentes dentro da Reserva.

A hidrografia do lugar, apesar de estar no interior da floresta que é um habitat

mesófilo12 apresentando também habitats hidrófilos13, pois neste ambiente florestal é que

surgem várias nascentes que vertem suas águas como tributários da margem direita do Rio

Camaratuba, e nesse caso destacamos dentre vários tributários o Riacho Brejinho

Visgueiro, Rio do Barro Branco, Rio Caiana e o seu importante fluente que é o Riacho

Pipina, Riacho Água Vermelha e Riacho Água Fria. Destes tributários trazemos com maior

destaque a sub-bacia do Rio Caiana, pois é o rio com maior caudal.

A partir da observação de que o território da REBIO contém diversas nascentes

assim como um corpo vegetacional de relativa envergadura, podemos inferir que essa áreas

passam a servir como agente regulador hídrico não somente para o rio determinante, que é

o Camaratuba, mas também para o entorno, pois há neste uma atividade agrícola intensa

sem zonas de amortecimento cuja função seria a de absorver parte dos impactos causados

por essas atividades no entorno da Reserva. A exploração agrícola é intensiva tanto na

forma comercial, quanto industrial. A primeira é constituída pelo cultivo de abacaxi e

mamão (FIG. 23 e 24), a qual, segundo os agricultores, é vendida para o Estado do Rio

Grande do Norte. Quanto à

produção industrial, esta é

representada pelo cultivo da cana-

de-açúcar. Em decorrência dessas

atividades há um consumo intenso

de água com a irrigação, o que

acaba por alterar o regime hídrico

dos afluentes dos rios Camaratuba

e Mamanguape como bem mostra

FIGURA 23 - Plantio de abacaxi nos arredores daReserva. – 18/04/2002. Rosa em A Reserva Biológica

12 Mesofilia corresponde a uma situação eqüidistante entre as duas condições extremas de umidade.(Kuhlmann, 1977, p.51).13 Hidrofilia corresponde a uma situação de alta umidade (ibid).

51

Guaribas (PB): degradação da

paisagem pelo escoamento

superficial (2000), o consumo da

água dos rios e riachos estava

sendo superior ao fluxo hídrico,

fato verificado no Rio Caiana,

sendo esse um dos rios que nascem

no interior da Unidade. O fato do

consumo acima do fluxo de

escoamento ocasionou a migração

de uma suas nascentes. Com esse

consumo mal planejado, há uma tendência de que o lençol freático venha a baixar o nível,

visto que “(...) no sistema natural (...), a entrada da matéria água se faz pela precipitação

e, a mesma nesta região apresentou-se irregular(...)” (ibid, p.45).

FIGURA 24 - Plantio de mamão nos arredores daReserva – 18/04/2002.FOTO – Nadjacleia Vilar.

52

2.2 - MAPEAMENTO DA DINÂMICA DA PAISAGEM VEGETAL:

UMA INTERPRETAÇÃO VISUAL ENTRE DOCUMENTOS

VIRTUAIS E O CAMPO NA ATUALIDADE

A partir das técnicas cartográficas em conformidade com as técnicas estatísticas de

coleta de dados no campo, como dendrometria em parcelamento com poligonal de diversas

faces, pudemos assim dar início ao inventário da dinâmica da estrutura da paisagem

vegetacional na REBIO Guaribas. O intervalo que nos proporcionou este tipo de balanço

foi referente a dois momentos separados por um lapso de vinte e um anos, porém a REBIO

só está assentada na área de forma oficiosa a partir de 1988, e oficialmente ela foi instalada

por decreto em 1990, nesse sentido podemos conferir que esta Unidade de Conservação

(UC) beneficiou a área com apenas três anos efetivamente. Apesar de tão pouco tempo da

ação da implementação e efetivação da UC (entre 1988 e 1991), a área manteve-se com

maiores possibilidades de repovoamento vegetacional.

A documentação cartográfica que já foi amplamente indicada anteriormente, agora

procuramos trazê-la enquanto imagens como instrumento de análise, pois assim o

observador atento pode fazer tanto inferências como também deduções (FIG. 25 e 26).

53

FIGURA 25 – Mosaico de aerofotos que representam a REBIO GUARIBAS em 1970/71.

54

FIGURA 26 – Composição colorida de imagem SPOT da área referente à REBIO - 1991

Tomando essas duas imagens como uma premissa de ordem virtual-real,

começamos a investigação de ordem inventariante, pois assim ficou com maior

possibilidade de êxito da empreitada em relação ao balanço relativo à ocupação da área

pela população vegetal. Após uma leitura convencional sobre a área, medindo as áreas

elaboramos uma tabela com valores em hectares e em percentuais. Esses valores denotaram

de forma clara a diferença da estrutura dos conjuntos vegetacionais contidos naquela

paisagem como vemos no Quadro 02.

55

QUADRO 02 – Valores referentes às estruturas das formações vegetacionais daREBIO.FORMAÇÃO 1970 1991

SEMA I(ha)

% SEMA II(ha)

% SEMA I(ha)

% SEMA II(ha)

%

Arbórea 206,39 27,79 2293,32 69,99 266,32 35,87 2714,95 82,86Arbustiva 307,89 41,47 798,82 24,38 261,99 35,28 530,87 16,2Herbácea 228,22 30,74 124,28 3,79 214,19 28,85 30,78 0,94

Ao ler e comparar esses números, percebemos que houve significativa diferença em

relação aos dois períodos estabelecidos. Para melhor visualizar essa diferença, elaboramos

representações gráficas, as quais esperamos dar maior nitidez àquilo que precisamos

demonstrar para confirmação ou negação do corpo hipotético (GRAF. 04, 05, 06 e 07).

GRÁFICO 04 – Percentual SEMA I 1970

GRÁFICO 06 - Percentual SEMA II – 1970.

Optamos por analisar a distribuiç

representações gráficas, para demonstrar os

Analisando inicialmente a SEMA I fica ba

formação herbácea entre 1970 e 1991 decresc

Formações vegetais na REBIO (SEMA I) em 1970

Arbórea28%

Arbustiva41%

Herbácea31%

Formações vegetais na REBIO (SEMA II) em 1970

Arbustiva25%

Arbórea71%

Herbácea4%

GRÁFICO 05 – Percentual SEMA I – 1991.

GRÁFICO 07 – Percentual SEMAII – 1991.

ão populacional da REBIO a partir de

percentuais que nos facilita uma conclusão.

stante nítida de forma comparativa que a

eu em 2%; a arbustiva também decresceu de

Formações vegetais na REBIO (SEMA I) em 1991

Arbórea36%

Arbustiva35%

Herbácea29%

Formações vegetais na REBIO (SEMA II) em 1991

Arbórea83%

Arbustiva16%

Herbácea1%

56

41% para 35% ou seja houve um recuo em 6%, denotando que houve um crescimento

significativo na formação arbórea, e está demonstrado esse crescimento na ordem de 28%

para 36%, ou seja um avanço da floresta em 8%. Concluímos então que a população

florestal está se recuperando neste intervalo de 20 anos.

Na SEMA II, segunda área por nós trabalhada, procuramos também analisar os

valores percentuais, pois como anteriormente tivemos sucesso na demonstratividade das

representações gráficas, demos continuidade ao processo analítico da mesma forma. A

formação herbácea no período investigado nessa área teve um recuo acentuado, pois

anteriormente essa formação ocupava 4% da área em 1970, no entanto no segundo período

investigado, a área ocupada por essa formação recuou para 1%, diminuindo então em três

por cento de sua extensão anterior. Na formação arbustiva o recuo foi mais acentuado

ainda, pois no primeiro período a área de cobertura com essa formação era de 25%, e no

segundo período o percentual baixou para 16%, significando assim que houve então um

recuo de 9% da presença dessa formação na área pesquisada. Esses valores nos conduzem a

dedução efetiva de que a formação florestal avançou de forma eficiente sobre a área da

SEMA II, ou seja, recuperou seu domínio, podemos verificar esse fato através dos números

que indicam que a formação arbórea em 1970 estava com 71%, e subiu para 83% em 1991,

significando assim um crescimento de domínio na ordem de 12%. Após esses valores

indicados podemos, sem sombra de dúvida, apontar que as áreas referentes as SEMA I e II

estão sendo repovoadas pela formação florestal, pois essa apresentou um forte avanço

sobre as outras duas formações nas áreas em estudo (FIG. 27 e 28).

57

FIGURA 27 – Mapa da vegetação nas SEMA I e II referente ao ano de 1970.

58

FIGURA 28 – Mapa da vegetação nas SEMA I e II referente ao ano de 1991.

59

TERCEIRA PARTE

CONCLUSÕES

Com os dados aqui apresentados e analisados, podemos destacar a importância da

paisagem, no que concerne ao conhecimento geográfico. As implicações que determinados

elementos apresentam, quando expostos a pressões antrópicas, podem afetar os demais

integrantes do sistema.

A REBIO Guaribas apresenta em sua paisagem ocorrência de tipologias

diferenciadas de vegetação, demonstrando uma certa heterogeneidade nas formações que a

figuram. Acompanhando esta questão durante todo o percurso investigativo, entendemos

que estas tipologias são o resultado de condições passadas, onde as formações se

expandiram e se retraíram de acordo com o clima e na atualidade com a ação antrópica. A

vegetação típica de outros locais, como é o caso das savanas e das gramíneas (esta última

bastante resistente na delimitação de sua área de ocupação) que permanecem nos locais

onde as condições ecológicas atuais não permitem a recuperação da floresta, ficando então

definidas como formações edáficas.

A produção do mapa com a tipologia estrutural da população florestal tem um

cunho científico, pois ficando registrado, servirá para posterior estudo do comportamento e

localização de determinados fenômenos relacionados à estrutura e à distribuição da

formações vegetais no interior da REBIO. Documento esse que acaba fornecendo ainda,

um panorama geral da regeneração da cobertura vegetal no intervalo de 21 anos, a partir da

caracterização da paisagem vegetal no território da área pesquisada.

Os tipos classificados na paisagem da REBIO se constituem basicamente de três

formações, para as quais consideramos a estrutura como principal elemento de

classificação: formação arbórea, formação arbustiva e formação herbácea.

Diante do exposto, podemos inferir o quanto é necessária a conservação desses

ecossistemas fragmentados com a criação de corredores ecológicos. Entretanto, nos

arredores da REBIO a predominância de canaviais impossibilita a criação e manutenção

desses corredores, restringindo, portanto, a circulação da fauna e flora para outros

60

fragmentos, o que vem a interferir em um dos principais objetivos de sua criação, que

segundo consta seria a introdução de um dos primatas em extinção, o Guariba do Nordeste,

o qual cedeu o nome para a referida unidade de conservação, servindo de espaço para sua

reabilitação.

Em um outro momento, a conservação das florestas passa a ter um papel

determinante no que diz respeito aos benefícios à população humana, pois ao mesmo

tempo que possibilita uma melhor qualidade de vida com a ciclagem dos gases da

atmosfera e dos nutrientes do solo, protegendo os mananciais e regulando o regime hídrico,

possui uma importância maior para a garantia de vida das gerações futuras.

Do ponto de vista social, o diagnóstico realizado poderá servir como elemento de

conscientização tanto à população residente nas adjacências da Reserva como para o

restante da população que sequer sabe da existência do potencial da fauna e flora do Estado

que, uma vez preservados, poderão constituir-se em atrativo didático para o

desenvolvimento das gerações futuras.

61

3.2 - BIBLIOGRAFIAS

ALMEIDA, Danilo Sette de. Recuperação ambiental da Mata Atlântica. Ilhéus: Editus,2000.

BELLIA, Victor.; BIDONE, Edison D. Rodovias, recursos naturais e meio ambiente.Niterói: EDUFF, 1992.

BIGARELLA, João José. Variações climáticas no Quaternário e suas implicações norevestimento florístico do Paraná. Boletim paranaense de geografia. Curitiba, n.10, 11,12, 13, 14, 15, p.211-231, 1964.

BIGARELLA, João José et al. Estrutura e origem das paisagens tropicais esubtropicais. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994. vol.1

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Sistema Nacional de Unidades de Conservação daNatureza – SNUC: lei nº9.985, de 18 de julho de 2000. Brasília: MMA/SBF, 2000.

BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Projeto RADAMBRASIL. Folhas SB.24/25Jaguaribe/Natal.. Rio de Janeiro: Ministério das Minas e Energia, 1981. vol.23.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal.Plano de ação emergencial: Reserva Biológica Guaribas. Brasília: Programa Nacionaldo Meio Ambiente, 1995.

CARVALHO, F. A. Fernandes de.; CARVALHO, M. Gelza R. F. de. A devastação doscerrados (tabuleiros) no litoral do Estado da Paraíba. Revista nordestina de biologia. JoãoPessoa, UFPB/CCEN. vol.8, n.2., 1993.

CARVALHO, Maria Gelza R. F. de. Estado da Paraíba: classificação geomorfológica.João Pessoa: Editora Universitária/ UFPB, 1982.

CONSÓRCIO MATA ATLÂNTICA & UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS.Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Plano de Ação. Referências Básicas. 1992.

CONTI, José Bueno.; FURLAN, Sueli Angelo. Geoecologia: o clima, os solos e a biota.São Paulo: EDUSP, 1995.

DAJOZ, Roger. Ecologia geral. 3.ed. Tradução de Francisco M. Guimarães. Petrópolis:Vozes, 1978.

DOLFUSS, Olivier. A análise geográfica.. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973.Série Saber Atual.

GRISI, Breno Machado. Glossário de ecologia e ciências ambientais. João Pessoa:Editora Universitária/UFPB, 1997.

62

GUERRA, Antônio Teixeira. Dicionário geológico-geomorfológico. 6.ed. Rio de Janeiro:IBGE, 1980.

HESS, Anselmo Antônio. Ecologia e produção agrícola. Florianópolis: ACARESC,1980.

JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Tradução de Eduardo Prado de Mendonça. 8.ed. Riode Janeiro: AGIR, 1996.

KUHLMANN, Edgar. Vegetação. In: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística. Geografia do Brasil: Região Nordeste. Rio de Janeiro: SERGRAF/IBGE,1977.vol 2.cap.3, p.85-110.

__________________. Noções de biogeografia. Boletim Geográfico. Rio de Janeiro,n.254, p.48-111, jul./set., 1977.

LEÃO, Regina Machado. A floresta e o homem: pesquisa e edição de texto. São Paulo:EDUSP: IPEF, 2000.

LOCH, Carlos. A interpretação de imagens aéreas: noções básicas e algumasaplicações nos campos profissionais. Florianópolis: Editora da UFSC, 1984. Sériedidática

IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Manual técnico davegetação brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 1992. Série manuais técnicos em geociências

MARTINS, Celso. Biogeografia e ecologia. 5.ed. São Paulo: Nobel, 1988.

MARTONNE, Emmanuel de. Panoramas da geografia. Lisboa: Edições Cosmos, 1953.vol 1

METZGER, Jean Paul et al. Caminhos da biodiversidade. Revista Ciência Hoje. vol.25,n.146, janeiro/fevereiro, 1999.

NOBRE, Carlos A.; GASH, Jonh. Desmatamento muda clima da Amazônia. RevistaCiência Hoje. vol 22, n.128, maio/junho, 1997.

ODUM, Eugene Pleasants. Ecologia. Tradução de Christopher J. Tribe. Rio de Janeiro:GUANABARA, 1986.

PAREDES, Evaristo Atêncio. Introdução à aerofotogrametria para engenheiros.Maringá: CONCITEC, 1986.

PIRES-O’BRIEN, Maria Joaquina.; O’BRIEN, Carl Michael. Ecologia e modelamento deflorestas tropicais. Belém: FCAP. Serviço de Documentação e Informação, 1995.

PROJETO MONITORAMENTO PARTICIPATIVO DA MATA ATLÂNTICA. DossiêMata Atlântica. ISA, 2001.

63

REMMERT, Hermann. Ecologia. São Paulo: EPU/Springer/EDUSP, 1982.

RIZZINI, Carlos Toledo. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos,

sociológicos e florísticos. 2ª ed. São Paulo: HUCITEC, 1997.

ROMARIZ, Dora de Amarante. A vegetação In: Brasil: a terra e o homem. Vol I. 2.ed.São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968.

ROSA, Paulo Roberto de O. A Reserva Biológica Guaribas (PB): degradação dapaisagem pelo escoamento hídrico. Recife: UFPE/PROPESQ, 2000. 116p. (Dissertação,Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais)

STRAHLER, Artur N.; STRAHLER, Alan H. Geografia física. 3.ed. Barcelona: EdiçõesOmega, 1989.

TAVARES, João de Lira. A Parahyba. Parahyba: Imprensa Official, 1910. vol 2

TRICART, Jean. Paisagem e ecologia. Revista Inter-facies: escritos e documentos. SãoPaulo: UNESP, n.76, 1982.

______________. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN,1977.

WOOLDRIDGE, S. W.; EAST, E. W. G. Espírito e propósitos da geografia. TraduçãoThomaz Newlands Neto. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1967.

64

APÊNDICE