estudo de caso clínico: déficit de atenção ligado a problemas

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www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento publicado em 15.10.2016 Ana Cristina Campos Jacob Ernst, Emanuely Zelir Pereira da Silva 1 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt ESTUDO DE CASO CLÍNICO: DÉFICIT DE ATENÇÃO LIGADO A PROBLEMAS EMOCIONAIS 2015 Ana Cristina Campos Jacob Ernst Mestre em Educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Professora acadêmica na Associação Catarinense de Ensino. Tem experiência na área de Psicologia Clínica, com ênfase em Psicoterapia de Orientação Analítica. [email protected] Emanuely Zelir Pereira da Silva Graduada em Psicologia pela Faculdade Guilherme Gimbala. Especializanda em Terapias Cognitivas pelo Instituto Catarinense de Terapias Cognitivas. Atualmente é aluna especial do Mestrado em Psicologia da UFSC. Atua na área clínica e realiza estudos na área de Psicologia. [email protected] RESUMO O presente artigo tem por objetivo relatar o estudo de caso clínico de uma criança com “Déficit de Atenção”, abrigada em “Casa Lar”. Por questões éticas manteremos em sigilo o nome do paciente, utilizando portanto, como nome fictício: “K”. K demonstra em seu comportamento dificuldade de atenção e traços de rejeição, estes podem estar relacionados a condição de abrigamento e também aos maus tratos que o mesmo vivenciou. As crianças desatentas tendem a apresentar taxa mais elevada de prejuízo acadêmico, parecem apresentar altos índices de ansiedade e depressão, por sua vez mostram um isolamento social mais acentuado. Foram realizadas trinta e oito sessões, estas, realizadas na própria Instituição de acolhimento. Decidiu-se pela observação lúdica, utilizando-se dos pressupostos teóricos e técnicos da Psicoterapia de Orientação Analítica. Palavras-chave: Déficit de atenção, problemas emocionais, psicodiagnóstico, osicoterapia, criança abrigada.

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ISSN 1646-6977 Documento publicado em 15.10.2016

Ana Cristina Campos Jacob Ernst, Emanuely Zelir Pereira da

Silva

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ESTUDO DE CASO CLÍNICO:

DÉFICIT DE ATENÇÃO LIGADO A PROBLEMAS EMOCIONAIS

2015

Ana Cristina Campos Jacob Ernst

Mestre em Educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina.

Professora acadêmica na Associação Catarinense de Ensino. Tem

experiência na área de Psicologia Clínica, com ênfase em Psicoterapia

de Orientação Analítica.

[email protected]

Emanuely Zelir Pereira da Silva

Graduada em Psicologia pela Faculdade Guilherme Gimbala.

Especializanda em Terapias Cognitivas pelo Instituto Catarinense de

Terapias Cognitivas. Atualmente é aluna especial do Mestrado em

Psicologia da UFSC. Atua na área clínica e realiza estudos na área de

Psicologia.

[email protected]

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo relatar o estudo de caso clínico de uma criança com

“Déficit de Atenção”, abrigada em “Casa Lar”. Por questões éticas manteremos em sigilo o nome

do paciente, utilizando portanto, como nome fictício: “K”. K demonstra em seu comportamento

dificuldade de atenção e traços de rejeição, estes podem estar relacionados a condição de

abrigamento e também aos maus tratos que o mesmo vivenciou. As crianças desatentas tendem a

apresentar taxa mais elevada de prejuízo acadêmico, parecem apresentar altos índices de ansiedade

e depressão, por sua vez mostram um isolamento social mais acentuado. Foram realizadas trinta e

oito sessões, estas, realizadas na própria Instituição de acolhimento. Decidiu-se pela observação

lúdica, utilizando-se dos pressupostos teóricos e técnicos da Psicoterapia de Orientação Analítica.

Palavras-chave: Déficit de atenção, problemas emocionais, psicodiagnóstico,

osicoterapia, criança abrigada.

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1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo apresentar o caso clínico do paciente K, idade de 10 anos, que

encontra-se abrigado no Lar Abdon Batista. Foram realizadas trinta e oito sessões, estas, realizadas

na própria Instituição de acolhimento.

A queixa apresentada na entrevista inicial com a mãe social e psicóloga da instituição de

acolhimento refere-se ao fato do paciente ser tímido em relacionamento com adultos, apresentar

dificuldade de relacionamento social e desatenção no espaço escolar. O paciente quando iniciou as

sessões, já era terapeutizado. Já estava há um ano em psicoterapia.

Para o desenvolvimento da psicoterapia, decidiu-se pela observação lúdica, utilizando-se dos

pressupostos teóricos e técnicos da “Psicoterapia de Orientação Analítica”. Num primeiro

momento, foi realizada entrevista inicial com a Psicóloga da Instituição e a mãe social. Após

iniciou-se as sessões psicoterápicas, com o paciente.

As sessões foram realizadas sob orientação de nossa orientadora de estágio. As pontuações

eram feitas no momento de supervisão. Desde entrevistas iniciais até mesmo as devolutivas, foram

elaboradas de comum acordo, sempre considerando os pressupostos teóricos.

O estágio na prática clínica infantil, é obrigatório para a conclusão do curso de Psicologia.

Portanto, este relatório, é de grande valia, pois descreve meu primeiro contato com psicoterapia

clínica infantil.

2. PSICODIAGNÓSTICO

2.1 Identificação

Estagiária: Emanuely Zelir Pereira da Silva

Supervisor: Ana Cristina Campos Jacob Ernst

Número de registro no CRP do supervisor: 12/00606

Nome do usuário: K

Número da carteira de identidade do usuário: nº 023044 folha 227 livro A-220

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2.2. Hipótese Diagnóstica

2.2.1 – Histórico

K, nasceu no dia 31/07/2005, natural de Curitiba. Foi acolhido em 01/02/2013, pois a família

vinha apresentando várias problemáticas sociais e de negligência. A genitora gerou um total de

onze filhos. Há informações de que K estava sempre na rua, pois um dos irmãos fazia uso de drogas

no interior da residência.

K tem nove anos, está frequentando o 3º ano na E. M. Heriberto Hulse. Tem como atividades

extracurriculares escolinha de futsal, participa da oficina de estimulação, biblioteca móvel.

A queixa apresentada na entrevista inicial com a mãe social e psicóloga da instituição de

acolhimento refere-se ao fato do paciente ser tímido em relacionamento com adultos, apresentar

dificuldade de relacionamento social e desatenção no espaço escolar. O paciente reprovou na

terceira série. Outra demanda apresentada, por ser uma criança abrigada devido a negligencia

familiar, é evidente a necessidade de psicoterapia. O paciente iniciou o processo terapêutico, no

ano passado.

2.2.2– Método

Foram realizadas trinta e oito sessões de psicoterapia com K. As sessões foram realizadas

uma vez por semana, na sala de Ludoterapia da Instituição, com duração de quarenta e cinco

minutos cada.

Decidiu-se pela observação lúdica, utilizando-se dos pressupostos teóricos e técnicos da

Psicoterapia de Orientação Analítica, para posterior devolutiva aos responsáveis da Instituição.

Realizou-se entrevista com a psicóloga, anamnese com a mãe social, e entrevista devolitiva com

ambas.

2.2.3- Diagnóstico Diferencial

Apresenta déficit de Atenção ligado a problemas emocionais, como agressividade,

introspecção, insegurança; relacionados a negligencia familiar.

Durante as sessões de psicodiagnóstico, o paciente fala pouco, apresenta comportamento

introspectivo. Traz agressividade acentuada. Apresenta carência afetiva, afeto embotado e fala

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enrolada. Sua percepção é comprometida, fazendo que apareça dificuldades no âmbito escolar.

Quando joga jogos relacionados à percepção, apresenta dificuldades.

2.2.4 - Discussão diagnóstica

Durante as sessões de psicodiagnóstico, o paciente interagiu com a estagiária de forma lúdica,

através de jogos e brincadeiras. O lúdico é a forma com que a criança demonstra seus conflitos e

seus respectivos sentimentos. Segundo Efronetal,. 1995 (apud CASTRO, G.; STÜRMER, 2009, p.

99): “Através do brincar, a criança expressa seus conflitos, angústias, fantasias e capacidade

simbólica, permitindo ao terapeuta observar o nível de desenvolvimento emocional e cognitivo em

que se encontra”.

Na primeira sessão de psicodiagnóstico, foi realizada a entrevista com a criança. Segundo

Castro e Stümer (2009, p. 99):

A entrevista com a criança é denominada “Hora de Jogo Diagnóstica” e objetiva o

conhecimento dela por meio de atividades lúdicas, que incluem a utilização de brinquedos,

jogos e material gráfico, que são dispostos sob a forma de uma caixa individual que

representa o sigilo e o mundo interno da criança, além de materiais coletivos, isto é, não

exclusivos daquele paciente.

O paciente no momento da “Hora do Jogo diagnóstica”, entra na sala e fica uns quinze

minutos olhando a prateleira de brinquedos. Após ele senta na cadeira e a estagiária se apresenta e

realizam o contrato de sigilo, K volta para prateleira de brinquedos e fica olhando por mais cinco

minutos. A estagiária o questiona se ele estava procurando algum brinquedo. O paciente balança a

cabeça, dando um sinal de “sim”. Depois de dez minutos, ela pergunta à K se ele queria ajuda, no

mesmo momento ele pega o jogo “Futebol de Botão” e leva para mesa e convida a estagiária para

jogar. K não olhava para estagiária, sempre que reportava a voz para ela, ficava de cabeça baixa.

Nas poucas vezes que falou, foi para dizer a estagiária que era sua vez. Sua fala era num tom de

voz muito baixo.

Através da sessão citada acima, observamos em K, introspecção. Além disso, foi observado

também, afeto embotado. Quando marcava um gol, ele olhando para baixo, dizia um “Yes” num

tom de voz muito reduzido. Esse comportamento se repetiu em diversas sessões do

psicodiagnóstico. Ainda nesta sessão, demonstrou início de “Aliança Terapêutica” com a

estagiária. Ao jogar o “Futebol de botão”, ele jogava para estagiária e a estagiária para ele. Esse

processo de “vai e vem” representa uma possível, criação de vínculo.

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A cada etapa do desenvolvimento infantil, a criança utiliza brincadeiras e brinquedos

diferentes. Desta forma, é importante ressaltar que o paciente se encontra na Fase de Latência.

Segundo Dolto (1971, p. 49):

A fase de latência, normalmente muda, ou quase, do ponto de vista das manifestações e

curiosidades sexuais, é empregada na aquisição dos conhecimentos necessários a luta pela

vida, em todos os planos.

As faculdades de sublimação vão entrar progressivamente em jogo.

A criança utiliza o brincar, como um treino para a vida. Com isso o brinquedo torna-se peça

fundamental para que ela consiga simbolizar suas vivências. Consideramos o brinquedo, a forma

que permite à criança a espontaneidade. Conforme Aberastury (1982, p 48): “O brinquedo permite

a criança vencer o medo aos objetos, assim como vencer o medo aos perigos internos; faz possível

uma prova do mundo real, sendo por isso uma “ ponte entre a fantasia e a realidade”.

Devido à fase de desenvolvimento do K, a procura por jogos competitivos é notória. Sempre

quando inicia a sessão, ele pega um jogo. Os jogos que ele escolhe, são competitivos, não escolhe

jogos como, por exemplo, “quebra cabeça”, “resta um”... Sempre procura por jogos, em que haja

um vencedor e um perdedor. Em alguns momentos ele pega bonecos para brincar de “guerra” com

a estagiária e percebe-se que ele tem a necessidade de vencer sempre.

No decorrer das sessões o ganhar para K é algo muito importante, ele trás isso nas sessões

de psicodiagnóstico. Segue no “Anexo I”, um exemplo onde fica claro este comportamento.

Percebe-se que nas brincadeiras, o paciente não aceita perder. A competição é bastante acentuada.

"Certamente não conseguiremos sempre vencer, mas na maioria das vezes podemos ao menos

compreender por que não ganhamos”. (FREUD, 1940). Esse sentimento de perda pode estar

relacionado ao histórico de K, além da perda, está vivendo abrigamento. O perder para ele torna-

se algo simbólico. Indica associar as perdas com a sua historia de vida, onde perdeu sua mãe, seu

pai, irmãos... grupo familiar.

O paciente, diversas vezes escolheu brincar com o jogo “Liga 4” e o “Jogo da Velha”.

Demonstra dificuldades e algumas vezes a estagiária tentou fazer o paciente ganhar o jogo.

Demonstrava não estar atento. Uma das queixas que a Psicóloga da Instituição trouxe à estagiária,

foi sua desatenção, no espaço escolar.

“Os problemas decorrentes do TDAH não requerem psicoterapia a longo prazo. Entretanto,

algumas crianças vivem histórias sucessivas de fracassos, que as coloca em grande risco para

desenvolverem baixa autoestima, sentimentos de inferioridade, ansiedade, depressão...” (Benczik,

2000 pg 91). “Essas crianças evitam atividades que exigem esforço mental constante, pois são

vivenciadas por elas como desagradáveis e acentuadamente aversivas” (BENCZIK, 2000, p. 27).

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Mattos (2007), sugere que os pais ou responsáveis pela criança, não fiquem irritando, esperneando,

pedindo que seu filho melhore, mas que se tenham um olhar mais atencioso, pois outras questões

poderão estar envolvidas. Por intermédio das sessões, verifica-se que K possui dificuldades de

atenção, demonstrado principalmente quando se depara com jogos que exigam percepção. Para que

chegássemos, a este diagnóstico, o comportamento foi vivenciado em várias sessões. Segundo

Lanyado e Horne (apud CASTRO E STÜMER, 2000, p 91): “A interpretação, muitas vezes, é

resultado final de um trabalho de semanas, até de meses de comunicações verbais e não-verbais

entre a dupla paciente terapeuta”.

O paciente foi levado ao lar, por motivo de negligência. Ele não frequentava as aulas

corretamente, faltava bastante e possuía notas baixas. Vivia na rua e não tinha atenção dos pais.

Ficava sem comer, assim como, ficava horas do dia brincando fora de casa e os pais não davam

assistência.

O Déficit de Atenção pode estar relacionado a problemas emocionais. Segundo Bomberg e

Antoniuk (2011, p 148):

Conflitos familiares, com estrutura funcional inadequada, devem ser pesquisados. O

estresse emocional decorrente dessas situações, associado a maus-tratos físico ou psíquico

na família ou na escola, devem ser pesquisados visando um diagnóstico diferencial e

pesquisa de sintomas associados.

O fato de K possuir dificuldade de atenção, pode estar associado ao histórico de negligencia

familiar. “Algumas teorias sugerem que problemas familiares, especialmente um estilo parental

muito permissivo, seriam causadores do “Déficit de Atenção” (Rohde e Benczik, 1999, p. 60). O

paciente foi vitima de maus tratos, não recebeu as necessidades básicas para seu bem-estar, bem

como: alimentação, cuidados diários, educação e etc. Assim, ocorre um círculo vicioso: “as

crianças recebem todos os impactos de situações de desajustes, perdendo os seus vínculos afetivos

e tornando-se adultos agressivos, potencializando cada vez mais situações agressivas”. Korn (apud

GOMES E DESLADES, 2002, p 710))

O paciente durante as sessões de psicodiagnóstico, por diversas vezes escolhe brincadeiras

com bola. Busca brincar de “Três Cortes”, “Queimada”, “Futebol”, “Cai não cai”. Landreth (apud

GRUNSPUM, H. 1982, p. 24), ensina que materiais agressivos são:

Vários tipos de revólveres, espingardas, cartucheiras, espadas, facas e facões de plástico,

arco e flecha, estrelas de xerife. Luvas de boxe, saco de areia. Soldadinhos e equipamento

de exército. Ferramentas, martelo, serra, alicate e etc. Instrumentos de som, apitos, cornetas,

tambores, campainha, bolas etc.

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O paciente apresenta agressividade acentuada, tanto na escolha do brinquedo, assim como,

demonstra agressividade quando se depara com a perda, durante um jogo.

Conforme Bomberg e Antoniuk (2011, p 143):

“A desatenção leva a distrabilidade, à dificuldade de manter a atenção numa única tarefa

ou atividade por um período prolongado de tempo, principalmente, se essa atividade for

desinteressante ou exigir esforço mental”.

É notória a falta de atenção do paciente, ele não consegue manter a concentração, se esforça,

porém na maioria das vezes não obtêm êxito durante os jogos. O paciente interage com jogos como:

“jogo da memória”, “jogo da velha” e “Liga 4”; é visível a dificuldade de atenção. K passa vários

minutos pensando no que fazer, a estagiária premeditadamente, tenta deixar o jogo de uma forma

mais fácil para que o paciente consiga fazer pontuações. Porém o paciente não observa e

dificilmente ganha o jogo.

A literatura que trata do tema “Déficit de Atenção” quase sempre associa a Hiperatividade.

Por este motivo muitos sintomas estão entrelaçados. Topczemski (1999, p. 68) relata: “Geralmente,

os hiperativos apresentam alterações na chamada memória de curto prazo. Isto se deve a baixa

capacidade de atenção e à pouca concentração”.

Segundo Biedermann ( apud Fichtner,1997, p.110):

O DSM-IV subdivide o TDAH em três tipos, quais sejam: a) TDAH com predomínio de

sintomas de desatenção; b) TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/

impulsividade c) TDAH combinado. Os estudos tem demonstrado uma alta correspondência

entreo DSM – III-R e o DSM – IV, mostrando que a modificação no sistema classificatório

implica mínimas mudanças na identificação de casos.

O tipo com predomínio de sintomas de desatenção é mais frequente no sexo feminino, e

parece apresentar, conjuntamente com o tipo combinado, uma taxa mais elevada de prejuízo

acadêmico. O tipo combinado, apresenta um maior prejuízo no funcionamento global,

quando comparado com os outros grupos. As crianças com TDAH com predomínio de

sintomas de hiperatividade/ impulsividade, por outro lado são mais agressivas, impulsivas

e distraídas do que os outros dois tipos, e apresentam taxas mais altas de transtorno de

conduta. As crianças não-hiperativas, ao contrário, parecem apresentar taxas mais elevadas

de ansiedade e depressão. Embora os tipos não pareçam apresentar diferenças importantes

em termos de disfunção social, as crianças hiperativas tendem a apresentar altas taxas de

rejeição pelos colegas e de impopularidade. As crianças desatentas, por sua vez, mostram

um isolamento social mais acentuado. As crianças hiperativas, tendem a apresentar

problemas motores finos e anormalidades neurológicas, mas as desatentas apresentam mais

problemas de aprendizado. Os autores parecem concordar que as maiores diferenças são

encontradas entre o tipo com predomínio de desatenção e os outros dois grupos

(hiperatividade/ impulsividade e combinado)

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Através das ideias de Biedermann, compreendem-se os comportamentos de K, as crianças

desatentas tendem a apresentar taxa mais elevada de prejuízo acadêmico, parecem apresentar altos

índices de ansiedade e depressão, por sua vez mostram um isolamento social mais acentuado.

Durante as sessões de psicodiagnóstico, paciente fala pouco e apresenta fala enrolada, não

olha nos olhos da estagiária, conforme alhures. Não expressa gestos, nem esboça sinal de euforia,

quando vence as partidas. Apresenta introspecção e seus afetos ficam embotados.

Outrossim, o paciente apresenta agressividade acentuada em sua forma de lidar com

frustações, carência afetiva e afetos embotados. Demonstrando nas oito das dez sessões realizadas

de psicodiagnóstico, o paciente convida a estagiária para brincar de luta, de “Três corte” e

“Queimada”. A dificuldade de perda é evidente. Tenta manipular a estagiária para vencer a partida.

Na oitava sessão, relatada no “Anexo II” demonstra novamente esta dificuldade.

A agressividade apresentada pelo paciente novamente aponta para o seu histórico de

negligência familiar. Ausência paterna e assistencial tornaram-se comuns na vida do menor e não

raras vezes foi visto por vizinhos caminhando sozinho.

Na teoria psicanalítica de Winnicott, o ser humano não é apresentado como um objeto da

natureza, mas sim como uma pessoa que para existir precisa do cuidado e atenção de um outro ser

humano.

Para Winnicott o objeto externo é muito mais do que um modulador das projeções da

criança. A mãe participa de uma verdadeira unidade com o seu filho, ajuda a formar sua

mente, fazendo com que este processo seja bem feito. “Ao lhe dar amor, fornece-lhe uma

espécie de “energia vital”, que o faz progredir e amadurecer” (BLEICHMAR E

BLEICHMAR, 1992, pg. 246)

Winnicott acreditava que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão

de que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária,

base do fazer criativo. (Bleichmar e Bleichmar, 1992, pg. 243)

De acordo com o histórico, percebemos que o paciente é uma criança que não teve uma “mãe

suficiente boa”, descrita por Winnicott. Por este motivo, colocamos a hipótese de seus problemas

emocionais, estarem ligados ao seu histórico de negligência familiar. Segundo Giovacchini (1995,

p 158):

A opinião de Winnicott era de que a agressão, que é intrínseca à natureza humana, deve ter

sua válvula de escape. Posso dizer que qualquer tipo de sentimento deve ser encarado, em

minha opinião, como um elemento sedutor perturbador, apareça ele no cuidado materno ou

na análise, trata-se de um elemento a ser cuidadosamente vigiado.

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Os sentimentos de perda, acompanhado pela agressividade acentuada que o paciente

apresenta durante os jogos, podem estar relacionados a sentimentos de rejeição. A necessidade de

ganho, para K, é algo patológico. Para Melanie Klein o bebê não necessita apenas de alimento e

cuidados básicos de higiene, ele necessita também de amor e compreensão que provém da mãe. A

rejeição faz com que o bebê desenvolva uma ansiedade denominada pela autora como “ansiedade

persecutória”, onde de zero a três meses de vida considera-se a fase de posição esquizo-paranóide.

O ego se encontra fragmentado, em busca de um objeto gratificador. Essa fragmentação do ego se

dá por sua estrutura, composta por muito mais frustrações que gratificações. O ego se estilhaça em

busca de algo que possa dar gratificação a ao menos um de seus "pedaços". O estilhaçamento do

ego é como uma tentativa desesperada de escapar da patologia. A quantidade excessiva de

frustrações traz ao ego uma sensação de aniquilação. (FEITOSA, M, 2009)

O paciente mostra em seu comportamento traços de rejeição. Estes podem estar relacionados

a condição de abrigamento e também aos maus tratos que K vivenciou. Por este motivo, a

dificuldade de perda pode estar relacionado ao fato de ter experenciado mais frustações do que

gratificações. A quantidade de frustação trás ao paciente uma sensação de aniquilamento, sendo

esta demonstrada por sentimentos de rejeição.

Devido aos problemas emocionais e dificuldades de atenção do paciente, conversamos com

a Psicóloga da Instituição, e solicitamos continuação da psicoterapia para lidar com seus conflitos

e sentimentos. Solicitamos uma Avaliação Psicopedagógica para averiguação de suas dificuldades

cognitivas, relacionadas ao déficit de atenção.

“Os problemas com os estudos escolares frequentemente coexistem com conflitos

emocionais e tensões. A terapia tem se mostrado eficaz no auxílio dos problemas emocionais e que

traz de forma conjunta uma melhora na escola”. (AXLINE, 1972, p. 74). A psicoterapia leva o

paciente a um prognóstico favorável, pois permite ao paciente que ele entre em contato com seus

conflitos o levando a um possível progresso.

Ultrapassado o psicodiagnóstico, deu-se início a fase intermediária. Nesta fase, é perceptível

o vínculo demonstrado para com a estagiária por intermédio das inúmeras vezes que ele a chama

para brincar. Aspectos transferenciais, são necessários para que ocorra o vínculo e se evidencie a

possibilidade de aliança terapêutica, que se demonstrou em inúmeras sessões, como por exemplo,

brincar de guerra com os bonecos, onde o paciente nomeia seu boneco e pede para a estagiária

nomear o dela, após se posiciona ao lado da estagiária para juntos lutar contra o mau. Ou em outro

momento, em que o paciente convida a estagiária para jogar boliche e quer que a estagiária ganhe

o jogo.

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A transferência é a força motriz da psicoterapia, ocorre desde o início das sessões e pode ser

entendida como a transferência para a pessoa do analista, das relações do paciente com suas figuras

significativas, ou seja, segundo Almeida,

ao trabalharmos com a transferência, estamos integrando passado e presente ao mesmo

tempo, vivenciando, com o paciente, configurações que apenas podem ser compreendidas

quando vividas em toda sua extensão no presente com o analista. (ALMEIDA, 2008, p. 169)

Terminado o psicodiagnóstico, foram realizadas quinzes sessões ate o presente. “A Fase

Intermediária é, em geral, a etapa mais longa dos tratamentos, que visa examinar, analisar, explorar

e resolver os sintomas e as dificuldades emocionais do paciente. O objetivo dessa etapa é a essência

do tratamento.” (Castro e Stümer, 2009, p. 106). Nesta fase demonstra questões de fase anais, até

chegar o processo de castração.

O paciente na 19º sessão, anexo ao “Anexo III”, mostra-se agressivo por ter perdido a partida.

A estagiária pontua sua atitude, o que é recebido com descontentamento pelo paciente.

Nas sessões seguintes o paciente convida a estagiária para lutar. Ambos brincam de lutas

com bonecos, o que durou quatro sessões, após o que, na quarta-feira, ele convida-a a “matar o

gigante”. Enfim, matam o gigante.

Na vigésima quarta sessão, citada no “Anexo IV”, o paciente joga o jogo “General”. Já não

há mais “trapaças”, pelo contrário, procura mostrar que está jogando conforme as regras. Percebe-

se nesta sessão que K apresenta melhoras quanto aos sentimentos de perda. O perder para K já não

é mais algo inadmissível. Após o término da partida, o paciente guarda o jogo e pega massa de

modelar para brincar. Entrega um pouco para estagiária. Primeiramente o paciente faz um boneco

e, após, o rosto de uma menina. Ao ser questionado sobre quem era a menina, o paciente diz não

saber quem era.

A massa de modelar segundo Landreth (apud GRUNSPUM, H.1982, p 24), é um material

regressivo. Está relacionada a fase anal, fase do controle dos esfíncteres. Freud chamou de fase

anal, a fase em que a criança começa a aprender a pensar. Nessa fase inexiste o problema da

“chupeta”, mas, em compensação tendo em vista a premente necessidade de mexer sempre com as

mãos objetivando agarrar coisas que se amoldem, se transformem ao seu toque e se modele ao seu

comando. Seja argila, massa de modelar, barro ou mesmo lama, e, se nada disso estiver à sua

disposição, com as próprias fezes. (Andersen, 2013)

Pegar a massinha não significa necessariamente ter regredido a fase anterior, porém traz a

evidência uma fase de “controle”. Olhando por este viés, percebemos através do comportamento

da criança, que, ao brincar com a massinha, afirma controle sobre si.

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Observando-se a idade de K, tem-se presente a fase de Latência.Winnicott leciona (1990, p.

109)

Ainda não é bem certo em que se constitui o período de lactência. Biologicamente seria

necessário presumir que nestes poucos anos, dos 6 aos 10, cessa o desenvolvimento

instintivo, de modo a deixar a criança, nesta época, com sua vida instintiva baseada no que

foi desenvolvido no período anterior. (...) O período de latência tem uma vida imaginativa

muito limitada, em conformidade com a forte tendência à repressão que é característica

dessa idade.

“O período de latência é considerado simplesmente como declínio do conflito edipiano, e a

adolescência, ao contrário, como revivescência do mesmo conflito, porém, marcado pelo acesso

pleno e integral à genitalidade.” (MARCELLI E COHEN, 2010, p. 64).

K modela com a massinha. Primeiramente um menino e, após, o rosto de uma menina. Mostra

questões relacionadas à fase fálica. É nesta fase que se inicia o processo de “Castração”, bem como

o Complexo de Édipo”.

“Complexo de castração” designa "o sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela

criança quando ela constata a diferença anatômica entre os sexos" (Roudinesco & Plon, 1998, p

104). “O fim do complexo de Édipo é correlativo da instauração da lei. É pelo medo da castração

que o menino começa a desistir de sua paixão incestuosa, iniciando o processo pelo qual acabará

por identificar-se com a Lei do Pai, assim para Freud a lei repousa na interdição do

incesto.”(MIRANDA. A. 2013 (apud FREUD, 1977, p. 221)).O término do complexo de castração

é para o menino também o término do complexo de Édipo, que não é simplesmente recalcado, ele

desfaz-se literalmente em pedaços sob o impacto da ameaça de castração [... ] nos casos ideais, não

mais subsiste sequer no inconsciente (FREUD, 1908.)

No período em que K, passou pela fase fálica, passando pelo processo de “Complexo de

Édipo” e “Castração”, ele ainda estava com seus pais. O histórico do paciente evidencia que, desde

pequeno, sofreu negligência familiar. Seu pai era alcoolista e sua mãe era “Do lar”, porém não

prestava assistência ao paciente. Considerando tais dados, vale repensar como foi o

desenvolvimento de K frente a esta realidade. A infância é a fase em que ocorre o desenvolvimento

das estruturas mentais. Bem por isso, é importante que a criança receba assistência, amor, atenção

e carinho de seus pais! É por intermédio de tais ações que a criança terá suporte para seu

desenvolvimento tanto no que diz respeito à estrutura físicaquantoà estrutura psicológica.

Segundo Eizirik, C.; Aguiar, R.; Schestatsky (2009, p 728):

O objetivo da terapia é utilizar o relacionamento e o conhecimento a respeito da situação

individual da criança para remover os obstáculos internos ou externos que estejam inibindo

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seu crescimento psicológico normal e recoloca-la no seu melhor patamar de

desenvolvimento.

Os conflitos que o paciente trás em análise estão relacionados com ao seu histórico de vida.

Através da psicoterapia o cliente remove seus obstáculos que tolhem ou inibem seu crescimento,

normatizando seu desenvolvimento.

2.2.5 Prognóstico

O paciente apresentou uma resposta positiva à psicoterapia, sendo que esta concorre para vir

a ser um ambiente suficientemente bom, possibilitando a criança resolução de seus confrontos. A

psicoterapia leva K, a um prognóstico favorável, pois permite ao paciente que ele entre em contato

com seus conflitos o levando a um possível progresso.

Com base no trabalho realizado até o momento, entendemos que K, apresenta necessidade

de maior estruturação, afim de continuar trabalhando seus conflitos, dificuldades e autoestima. O

que torna de fundamental importância à continuidade dos atendimentos psicoterápicos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início do processo terapêutico, K demonstrava-se introspectivo e com fortes resistências

e dificuldades frente a perdas. Seus conflitos eram demonstrados através dos jogos. O ganhar para

ele era muito importante e diante da perda demonstrava-se agressivo. Os ganhos na psicoterapia

infantil começaram a ser percebidos já na fase intermediaria, e com o passar das sessões, o paciente

foi elaborando seus conflitos.

Atualmente, K apresenta melhora significativa! Consegue interagir com as perdas,

demonstrando resiliência, porém ainda necessita da psicoterapia como forma continuada, para

elaborar seus conflitos. No setting representa o local ideal para que consiga trabalhar tais angústias

e alcançar ressignificação de alguns aspectos com relação aos seus enfrentamentos.

Não basta apenas a teoria, mas também técnica por parte do psicoterapeuta, para que este

perceba cada detalhe. Desta maneira influencie no manejo da psicoterapia, influenciando nos

resultados com o paciente em análise.

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4. ANEXOS

4.1 Anexo

RELATÓRIO DE ATENDIMENTO CLÍNICO

Estagiária: EmanuélyZelir Pereira da Silva

Supervisor:Ana Cristina Jernst

Atendimento: Infantil

Prontuário: 5371

Sessão: 10

Data do atendimento: 15/06/2015

Hora do atendimento: 17:05 às 17:50h

Sala do atendimento: Lar Abdon Batista

Descrição:

O paciente entra na sala e vai até a caixa de lego para brincar. Começa a revirar a caixa.

Parece procurar algo. A estagiária diz ao a H:

- Percebo que procura algo

H:- Sim, estou procurando os outros bonequinhos da semana passada

E:- Você quer que eu lhe ajude?

H:- Sim, quero.

O paciente e a estagiária começam a procurar os dois bonecos que faltavam, porém não

encontraram. H então diz:

- Deixa... vamos brincar então que eu sou os bonecos e você os animais.

O paciente então separa um jacaré, um rinoceronte e um leopardo. Ambos eram brinquedos

em miniatura. Separa também dois carros já montados com lego.

O paciente diz para a estagiária:

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- Vamos agora brincar de lutar, estamos numa guerra. Você tenta me matar e eu tento matar

você.

Ambos começam a guerrear e em todas às vezes H diz que matou os animais, que conseguiu

vencer.

Após um tempo, H decide guardar o lego. Após o paciente vai até a estante de brinquedo e

pega os “Minions”. Pega 4 “Minions”, da dois para estagiária e dois ficam com ele. Leva até a

mesa e diz:

- Vamos lutar

E: Vamos

Começam a lutar. Novamente H diz que vence a luta. A estagiária então diz:

- Percebo que você gosta de vencer

O paciente diz´:

- Por quê?

E: - Porque vejo que só você ganha

P: - Então esta bem, pode ganhar pode ganhar pra vc ficar feliz.

O paciente falou para estagiária num tom agressivo. A estagiária então diz ao paciente:

- Percebo que você está chateado

P: Não, não to. Para de fazer esta pergunta!

Fica um silêncio, ele guarda os bonecos na estante. Após H começa olhar a estante e pega o

jogo “Cara a cara”. Começam a jogar. A estagiária pergunta ao paciente:

- É mulher ou homem ou animal?

O paciente então diz que é um homem. Porém ao final do jogo após o paciente ter vencido o

jogo, a estagiária descobre que o paciente havia pegado um animal. O paciente começa a rir. A

estagiária então comenta com o paciente que ele havia falado que era um homem. O paciente então

rindo diz:

- Eu sei...eu errei.

Logo voltam a jogar e H joga corretamente. O paciente durante este jogo demonstrou-se mais

expressivo. Quando ganhava começava a rir e a festejar. Diferente das sessões anteriores.

Faltando alguns minutos para encerrar a sessão, guardam os jogos.

Encerra-se a sessão.

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4.2 Anexo

RELATÓRIO DE ATENDIMENTO CLÍNICO

Estagiária: EmanuélyZelir Pereira da Silva

Supervisor: Ana Cristina Jernst

Atendimento: Infantil

Prontuário: 5371

Sessão: 8

Data do atendimento: 01/06/2015

Hora do atendimento: 17:05 às 17:50h

Sala do atendimento: Lar Abdon Batista

Descrição:

Nesta sessão o paciente entra na sala e convida a estagiária para jogar futebol. Em alguns

momentos H faz pontuações e em outros a estagiária. Paciente vence o jogo. Após H vai até a

prateleira de brinquedos e escolhe o jogo da memória para jogar. Jogaram durante toda a sessão.

O paciente num momento que não era a vez dele, desvira uma carta. A estagiária então questiona

ao paciente, se era sua vez. Ele diz que não era e que sabia que não era, mas que queria ver a carta.

A estagiária questiona ao paciente sobre as regras. O paciente relata que já sabia. Então a estagiária

questiona ao paciente se daquele jeito era válido jogar. H diz:

- Tá, tá...tá bom, vai.. joga!

A estagiária então diz ao paciente:

- Percebo que está chateado

P: Não, não tô..vai joga logo!

Minutos depois, encerra-se a sessão

4.3 Anexo

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RELATÓRIO DE ATENDIMENTO CLÍNICO

Estagiária: EmanuélyZelir Pereira da Silva

Supervisor: Ana Cristina Jernst

Atendimento: Infantil

Prontuário: 5371

Sessão: 19

Data do atendimento: 20/07/2015

Hora do atendimento: 17:05 às 17:50h

Sala do atendimento: Lar Abdon Batista

Descrição:

Nesta sessão o paciente entra na sala e convida a estagiária para jogar futebol. Em alguns

momentos H faz pontuações e em outros a estagiária. Paciente vence o jogo. Após H vai até a

prateleira de brinquedos e escolhe o jogo da memória para jogar. Jogaram durante toda a sessão.

O paciente num momento que não era a vez dele, desvira uma carta. A estagiária então questiona

ao paciente, se era sua vez. Ele diz que não era e que sabia que não era, mas que queria ver a carta.

A estagiária questiona ao paciente sobre as regras. O paciente relata que já sabia. Então a estagiária

questiona ao paciente se daquele jeito era válido jogar. H diz:

- Tá, tá...tá bom, vai.. joga!

A estagiária então diz ao paciente:

- Percebo que está chateado

P: Não, não tô..vai joga logo!

Minutos depois, encerra-se a sessão.

4.4 Anexo

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Estagiária: Emanuély Zelir Pereira da Silva

Supervisor:Ana Cristina Jernst

Atendimento: Infantil

Prontuário: 5371

Sessão: 24

Data do atendimento: 02/09/2015

Hora do atendimento: 17:05 às 17:50h

Sala do atendimento: Lar Abdon Batista

Descrição:

T entra na sala e vai até a prateleira de brinquedos. Após pega o jogo General e convida a

estagiária para jogar. Jogam boa parte da sessão. Durante o jogo, T sempre mostrava seus bonecos

para mostrar a estagiária que o num que valia determinado soldado, era aquele mesmo. T vence o

jogo.

Ao terminar a partida, o paciente guarda o jogo na prateleira e pega a massa de modelar

.Entrega um pouco de massinha para estagiária e um pouco fica com ele. Ele primeiramente faz

um boneco, depois mistura tudo e faz o rosto de uma menina. A estagiária então pergunta ao

paciente, quem era aquela menina. E ele disse não sei.

Brincam de massinha até o término da sessão.

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