estudo da privação de sono na conectividade funcional do...

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL Estudo da privação de sono na conectividade funcional do lobo frontal Eduardo João Nunes Leal Mestrado em Biologia Humana e Ambiente Dissertação orientada por: Dr. Alberto Leal Prof. Paulo Fonseca 2018

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Estudo da privação de sono

na conectividade funcional do lobo frontal

Eduardo João Nunes Leal

Mestrado em Biologia Humana e Ambiente

Dissertação orientada por:

Dr. Alberto Leal

Prof. Paulo Fonseca

2018

i

AGRADECIMENTOS

O autor deseja agradecer a todas as pessoas e instituições que de alguma forma contribuíram para a

elaboração deste trabalho e, em particular:

• Ao Doutor Alberto Leal, pela possibilidade de realização deste projecto, pelo seu incentivo,

disponibilidade e apoio que sempre demonstrou;

• Ao Professor Paulo Fonseca pela sua inesgotável disponibilidade, inúmeras sugestões e

ensinamentos que me permitiram prosseguir este trabalho;

• Ao Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa por todo o apoio prestado durante a realização

desta tese;

• Aos colegas e amigos que disponibilizaram do seu tempo, para a recolha de dados necessários

a este trabalho, sempre com simpatia e incentivo;

A todas estas pessoas que mencionei, sem o contributo das quais não teria sido possível a realização

desta tese, o meu sincero agradecimento.

ii

iii

RESUMO

O sono é um estado comportamental presente em todos os animais com um sistema nervoso

diferenciado, todavia a sua função biológica fundamental permanece incerta.

A investigação sobre o papel do sono tem levado à formulação de variadas hipóteses sobre a sua função

que incluem, entre outras, modulação imunitária, conservação de energia metabólica, termorregulação

ou consolidação de memórias.

Presentemente, um grupo de hipóteses com especial proeminência tem-se focado na regulação da

plasticidade sináptica que sucede durante a vigília, propondo que durante o sono ocorre um conjunto de

operações que, em última análise, levam à consolidação de mudanças sinápticas induzidas durante a

vigília através da interacção com o ambiente.

A formação de novas memórias na vigília implica a modificação da comunicação entre as redes

neuronais, as quais podem ser estudadas ao nível macroscópico através da alteração da conectividade

funcional entre elas.

O EEG/MEG é, actualmente, a metodologia com a maior resolução temporal para caracterizar estas

interacções e com a facilidade de registo no escalpe associada à sua reduzida interferência com o sono,

oferece oportunidades relevantes para estudos experimentais da sua modulação durante as várias fases

do ciclo sono-vigília.

Existem numerosas evidências experimentais que associam a conectividade funcional com a interacção

entre redes neuronais que constituem a base do processamento cognitivo, com o estudo da interferência

do sono na conectividade funcional cerebral a prometer revelar certos aspectos da sua relação com a

cognição.

Neste contexto, é importante o estudo da conectividade dos lobos frontais, pois esta aparenta encontrar-

se significativamente modificada durante o sono, para além de exercer um controlo cognitivo “top-

down” sobre as outras áreas cerebrais. Não existe, no entanto, um modelo descrevendo o mecanismo

responsável pelas variações na conectividade funcional dos lobos frontais durante o sono e o seu papel

na organização da actividade cerebral.

Palavras-chave: sono; conectividade funcional; lobos frontais; EEG

iv

v

ABSTRACT

Sleep is a behavioral state present in all animals with a well differentiated nervous system, however its

fundamental biological function remains uncertain.

Research on the role of sleep led to the formulation of numerous hypotheses about its function that

include, among others, immune modulation, metabolic energy conservation, thermoregulation or

consolidation of memories.

A group of hypotheses with prominence at present focuses on the regulation of synaptic plasticity that

takes place in wakefulness, being proposed that during sleep a set of operations occurs that ultimately

consolidate the synaptic changes induced in wakefulness by interaction with the environment.

The formation of new memories in wakefulness implies modifying the communication between

neuronal networks, which can be studied at the macroscopic level through modification of the functional

connectivity between them.

The EEG/MEG is currently the methodology with the highest temporal resolution to characterize these

interactions, and the ease of records on the scalp, associated with reduced interference with sleep, offers

important opportunities for experimentally study its modulation in the various stages of the sleep-wake

cycle.

There is currently large experimental evidence associating functional connectivity with the interaction

between neural networks which are the base of cognitive processing. The study of interference of sleep

in brain functional connectivity promises to illuminate certain aspects of this relationship with cognition.

In this context, it is relevant the study of connectivity of the frontal lobes as it appears prominently

modified in sleep, in addition to exercising a ' top-down ' control over the other brain areas in cognition.

There is not, however, a model describing the mechanism responsible for variations in functional

connectivity of frontal lobe during sleep and its role in organization of brain activity.

Keywords: sleep; functional connectivity; frontal lobes; EEG

vi

vii

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................. i

RESUMO ............................................................................................................................................... iii

ABSTRACT .............................................................................................................................................v

LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................... xi

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................................... xiii

LISTA DE ANEXOS .......................................................................................................................... xvii

LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................................ xix

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................1

1.1 Teorias sobre a função do sono .....................................................................................................1

1.2 Papel do sono na regulação da plasticidade cerebral .....................................................................3

1.3 Lobos frontais ................................................................................................................................4

1.4 EEG ...............................................................................................................................................6

1.5 Conectividade ................................................................................................................................9

1.6 A conectividade funcional em EEG como uma medida da interacção entre áreas funcionais

cerebrais .............................................................................................................................................11

1.7 Evidências do efeito da privação do sono na conectividade funcional dos lobos frontais ..........12

2. OBJECTIVOS ................................................................................................................................13

3. METODOLOGIA ..........................................................................................................................14

3.1 Participantes ................................................................................................................................14

3.2 Protocolo experimental ................................................................................................................14

3.3 Desenho do estudo.......................................................................................................................16

3.4 Equipamento utilizado .................................................................................................................17

3.5 Análise dos dados ........................................................................................................................17

3.6 Criação de segmentos para a conectividade ................................................................................18

3.7 Determinação das regiões de interesse ........................................................................................18

3.8 Cálculo da conectividade funcional.............................................................................................19

3.9 Análise estatística ........................................................................................................................20

4. RESULTADOS ..............................................................................................................................22

4.1 Tarefas comportamentais ............................................................................................................22

4.2 Conectividade associada à tarefa experimental ...........................................................................26

4.3 Conectividade associada à privação do sono ...............................................................................27

viii

ix

4.4 Conectividade associada à sesta ..................................................................................................30

5. DISCUSSÃO ..................................................................................................................................32

5.1 Desempenho comportamental .....................................................................................................32

5.1.1 Efeito da tarefa comportamental ......................................................................................... 32

5.1.2 Efeito da privação de sono .................................................................................................. 33

5.1.3 Efeito da sesta ...................................................................................................................... 33

5.2 Conectividade entre áreas cerebrais ............................................................................................34

5.2.1 Efeito da tarefa experimental............................................................................................... 34

5.2.2 Efeito da privação de sono .................................................................................................. 35

5.2.3 Efeito da sesta ...................................................................................................................... 36

6. CONCLUSÕES .........................................................................................................................37

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................38

8. ANEXOS ...................................................................................................................................45

x

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Idade, sexo e profissões dos participantes. .......................................................................14

Tabela 3.2 – Protocolo de fecho e abertura de olhos para medição do EEG em estado de repouso. ....16

Tabela 4.1 – Percentagem de erros cometidos por participante sem e com privação de sono e

respectiva variação. ................................................................................................................................23

xii

xiii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Principais áreas cerebrais. ...................................................................................................5

Figura 1.2 – Representação de uma porção da região cortical com a presença de células piramidais. ...6

Figura 1.3 – Representação dos potenciais extracelulares associados à actividade sináptica. ................8

Figura 1.4 – Os potenciais eléctricos no escalpe resultantes da soma de múltiplos dipolos corticais

constitui a base do EEG............................................................................................................................8

Figura 1.5 – Fases do sono. .....................................................................................................................9

Figura 1.6 – EEG realizado ao nível do escalpe. ...................................................................................10

Figura 1.7 – Representação do modo como a actividade neuronal produzida por uma fonte é captada

por diferentes sensores. ..........................................................................................................................10

Figura 1.8 – Reconstrução de fonte. ......................................................................................................10

Figura 1.9 – EEG de alta resolução. .....................................................................................................11

Figura 3.1 – Montagem de EEG de alta resolução com 82 electrodos utilizada durante a realização da

tarefa experimental. ................................................................................................................................15

Figura 3.2 – Sequência de eventos durante a avaliação experimental...................................................16

Figura 3.3 – Regiões de interesse. .........................................................................................................19

Figura 3.4 – Bandas de EEG analisadas. ...............................................................................................19

Figura 3.5 – Representação das principais conectividades (esquerda) e matriz de todas as

conectividades (direita) entre as ROIs de um participante durante a realização da tarefa experimental.

................................................................................................................................................................20

Figura 4.1 – Número de respostas certas, erradas e falhadas de cada participante sem e com privação

de sono, antes da realização de uma sesta. .............................................................................................22

Figura 4.2 – Percentagem de erros cometidos por cada participante sem e com privação de sono. .....23

Figura 4.3 – Caixas de bigodes dos tempos de reacção. .......................................................................24

Figura 4.4 – Hipnogramas das sestas realizadas, com tempo total e percentagem de fase 1 e 2 do sono

de cada um dos participantes com privação de sono. .............................................................................25

Figura 4.5 – Tempo total de sono e tempo decorrido nas diferentes fases do sono nas sestas realizadas

pelos participantes com privação. ..........................................................................................................26

Figura 4.6 – Conectividade dos pares de ROIs na condição passiva e activa. ......................................27

Figura 4.7 – Conectividade dos pares de ROIs sem e com privação de sono. ......................................28

Figura 4.8 – Correlação entre o aumento de erros em privação de sono e a conectividade Occipito-

Frontal. ...................................................................................................................................................29

Figura 4.9 – Correlação entre o aumento de erros em privação de sono e a conectividade Parieto-

Frontal. ...................................................................................................................................................30

xiv

xv

Figura 4.10 – Conectividade dos pares de ROIs antes e depois da sesta. .............................................31

xvi

xvii

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Percentagem de erros sem e com privação de sono e respectiva normalização antes da sesta.

................................................................................................................................................................45

Anexo 2 – Tempos de reacção (em milissegundos) das respostas correctas, erradas e respectivos

desvios-padrões dos participantes sem e com privação de sono. ...........................................................45

Anexo 3 – Percentagem de erros cometidos pelos participantes com privação de sono antes e após a

sesta. .......................................................................................................................................................46

Anexo 4 – Anova de três vias para o efeito da tarefa experimental sobre a conectividade das regiões

cerebrais seleccionadas. . ........................................................................................................................47

Anexo 5 – Anova de três vias para o efeito da privação de sono sobre a conectividade das regiões

cerebrais seleccionadas...........................................................................................................................47

Anexo 6 – Anova de três vias para o efeito da sesta sobre a conectividade das regiões cerebrais

seleccionadas. .........................................................................................................................................48

Anexo 7 – Parecer da Comissão Científica e Pedagógica do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa.

................................................................................................................................................................49

xviii

xix

LISTA DE ABREVIATURAS

REM Movimento rápido dos olhos

EEG Electroencefalografia

MEG Magnetoencefalografia

LFP Potencial de Campo Local

PET Tomografia de Emissão de Positrões

ATP Adenosina trifosfato

EPSP Potencial pós-sináptico excitatório

IPSP Potencial pós-sináptico inibitório

DC

Corrente contínua

ECG

Electrocardiograma

EOG

Electroculograma

DTF Direct Transfer Function

FrontOccip Fronto-Occipital

FrontPar Fronto-Parietal

OccipFront Occipito-Frontal

ParFront

Parieto-Frontal

BOLD Blood Oxygen-level Dependent (Dependente do Nível de Oxigénio

Sanguíneo)

xx

1

1. INTRODUÇÃO

O sono é um estado fisiológico amplamente disseminado no mundo animal, estando presente em todos

os animais com um sistema nervoso diferenciado como, por exemplo, nos vertebrados, mas igualmente

em nemátodes, como C. elegans (Raizen et al., 2008) ou artrópodes como a mosca da fruta (Drosófila

melanogaster) (Greenspan et al., 2001; Huber et al., 2004). Constitui um processo fisiológico que ocorre

ciclicamente, caracterizado do ponto de vista comportamental pela drástica redução da interacção com

o meio externo, com marcado aumento do limiar de resposta a estímulos sensoriais, possuindo ainda

propriedades homeostáticas (Krueger et al., 2016).

A sua larga disseminação no reino animal sugere uma função importante para estes seres vivos, todavia

ainda não existe actualmente uma noção bem estabelecida de qual o seu papel fundamental. Nos

mamíferos, o sono parece indispensável à normal regulação do comportamento e homeostasia corporal.

Em ratos, a privação de sono causa um aumento significativo do gasto energético, assim como o

aparecimento de sintomas semelhantes à má nutrição, tais como anemia ou perda de peso (Everson,

1995). Quando este período é alargado (em média cerca de 21 dias), surgem efeitos fatais, decorrentes

de uma menor resistência a infeções por parte do sistema imunitário. Contrariamente, em humanos, a

privação de sono não acarreta mortalidade, sendo principalmente caracterizada pela marcada perda de

capacidades cognitivas, tais como redução da coordenação motora, fala arrastada, afasia parcial,

astereognosia, dificuldades de concentração e no discurso, lapsos de memória, bem como das

capacidades funcionais, nomeadamente dificuldade de focagem visual e falta de coordenação (Patrick e

Gilbert, 1896; Ross, 1965). Ocorrem igualmente alterações comportamentais, como irritabilidade ou

falta de cooperação e, por vezes, sintomatologia psicótica como alucinações visuais (Patrick e Gilbert,

1896).

Deste modo, parece assim haver efeitos diversos ao nível das espécies em relação com a privação do

sono, o que tornou historicamente difícil o estabelecimento de uma função única para o mesmo. Ao

longo das últimas décadas, têm sido propostas muitas funções para o sono, no entanto, nenhuma delas

apresenta uma explicação plenamente satisfatória do ponto de vista biológico.

1.1 Teorias sobre a função do sono

Ao longo dos anos, têm surgido diversas teorias que procuram explicar a função principal do sono. Uma

proposta relaciona o mesmo com o sistema imunitário, baseando-se em evidências que o sono

desempenha um papel ao nível da modelação de vários parâmetros imunológicos, tais como o aumento

do número de células T indiferenciadas e citocinas pró-inflamatórias, a diminuição do número de células

T citotóxicas e de citocinas anti-inflamatórias, assim como a facilitação do transporte das células T para

os nódulos linfáticos (Besedovsky et al., 2012). Foram igualmente registados aumentos do número de

células T auxiliares induzidas imunologicamente na noite após uma vacinação, tendo sido sugerido que

o sono lento possa ter papel importante nesse processo (Lange et al, 2011).

2

Outra função postulada para o sono reside na conservação de energia. Esta teoria deriva originalmente

da constatação que os animais com maiores períodos de sono possuem taxas metabólicas mais elevadas,

assim como uma menor massa corporal (Zepelin e Rechtschaffen, 1974). Deste modo, animais com

maiores taxas metabólicas, como por exemplo o rato, dormem cerca de 18 horas por dia, enquanto

animais maiores e com taxas mais baixas, como a girafa ou o elefante, dormem apenas 3 a 4 horas. Por

outro lado, durante o sono ocorre uma diminuição da taxa metabólica no organismo destes animais,

indicando que as reservas de energia gastas durante a vígilia serão recuperadas no sono, de forma a que

o organismo consiga ter sempre um fornecimento adequado de energia (Krueger et al., 2016). Todavia,

não parece evidente que conservar energia seja a sua função primordial, pois o ganho energético durante

o sono é bastante modesto (Chokroverty, 2009), sendo que não são explicados alguns dos seus aspectos

fundamentais, como a significativa redução da capacidade de resposta aos estímulos exteriores.

Apesar deste baixo ganho energético, é possível que o sono tenha uma função metabólica específica no

cérebro. Estudos utilizando PET têm mostrado que o consumo de glucose durante o sono não-REM é

inferior ao existente na vigília. Em 2002, numa experiência com 14 indivíduos verificou-se um

decréscimo de cerca de 11% no metabolismo da glucose durante o sono não-REM, observando-se

igualmente diminuições significativas em grandes regiões do córtex frontal, parietal, temporal e

occipital (Nofzinger et al., 2002). Por outro lado, o sono REM parece registar um aumento metabólico

relativamente à vigília. Medições da função cerebral utilizando um radioisótopo de oxigénio mostraram

que certas regiões do cérebro que eram activadas no sono REM (em relação ao sono não-REM),

apresentavam níveis mais elevados que na vigília (Braun et al., 1997).

No contexto do metabolismo cerebral, o glicogénio tem também merecido atenção. Em 1983, num

estudo efectuado em ratos, observou-se que os níveis de glicogénio no cérebro após o começo da vigília

decresciam substancialmente em relação aos níveis existentes durante o sono, os quais atingiam o seu

máximo durante o sono lento (Karnovsky et al., 1983). Esse facto levou à teoria de que o sono lento

poderia ter como função restaurar os níveis de glicogénio gastos durante a vigília para produzir ATP

(Benington e Heller, 1995). Esta hipótese foi testada em várias espécies com diferentes durações de

privação de sono. No entanto, contrariamente ao expectável, os resultados obtidos mostram que o nível

de glicogénio se mantém estável durante a privação, observando-se um aumento do seu turnover assim

como de moléculas envolvidas na sua produção, como a enzima glicogénio sintetase (Petit e Magistretti,

2015). Isto poderá significar que para além da degradação de glicogénio, o metabolismo promove

igualmente a sua síntese, mantendo a concentração a níveis constantes e conservando as suas reservas.

Outra tese relativa à função do sono defende o seu papel na termorregulação do organismo, tendo por

base evidências de anormalidades na mesma durante a privação de sono, ao passo que durante o sono

normal é mantida a homeostase termoregulatória (Chokroverty, 2009). Vários estudos suportam a

relação entre os dois processos, ao passo que outros sugerem que poderão ser parcialmente

independentes, mostrando que alterações num dos processos não se reflectem sempre em modificações

no outro (Bach et al., 2011), sendo por isso ainda desconhecida a sua relação de causalidade.

Por fim, o sono poderá ainda desempenhar um papel ao nível da consolidação das memórias adquiridas.

Esta hipótese possui uma longa história abrangendo observações dos efeitos da privação de sono na

3

formação de novas memórias, assim como dos efeitos de um período de sono imediatamente após a

realização de uma tarefa. Existem evidências que o seu processamento seja dependente do sono em

várias espécies animais, nomeadamente em gatos, ratos, ratinhos, no Homem e noutros primatas

(Chokroverty, 2009). Em humanos, os estudos mais antigos centram-se em tarefas de aprendizagem

declarativa. Em 1989, De Koninck e os seus colaboradores mostraram que após a aprendizagem

intensiva de uma língua estrangeira ocorria um aumento do sono REM, o qual se correlacionou com a

aprendizagem obtida. Estes resultados sugerem que o sono REM seria importante para a consolidação

da memória, tendo propriedades homeostáticas. No entanto, resultados contrários foram obtidos por

Meienberg, que não registou alterações nos parâmetros do sono REM num indivíduo sujeito a este tipo

de aprendizagem verbal intensiva durante 3 semanas (Meienberg, 1977).

Encontram-se igualmente documentados efeitos do sono REM ao nível da aprendizagem perceptual.

Em 1994, um estudo testou os efeitos da privação de sono lento e sono REM neste tipo de aprendizagem

em 6 jovens adultos, não tendo observado melhorias após a privação de sono REM, contrariamente ao

sono normal e à privação de sono lento (Karni et al., 1994). Por outro lado, existem experiências que

têm atribuído ao sono lento a função de consolidação de memórias declarativas. Um estudo realizado

por Gais e Born, em 2004, demonstrou que em tarefas de associação envolvendo conjuntos de pares de

palavras, ocorria uma diminuição da performance dos indivíduos com o aumento do nível de acetilcolina

durante o sono lento. Adicionalmente, dois anos depois, uma experiência demonstrou que o aumento do

sono lento, obtido com recurso ao estímulo das oscilações muito lentas do córtex pré-frontal, permite

uma melhor retenção das memórias declarativas (Marshall et al., 2006).

1.2 Papel do sono na regulação da plasticidade cerebral

Nos anos mais recentes, tem havido grande interesse em elucidar de que forma o sono se relaciona com

a aprendizagem e consolidação de memórias. É sabido que estes processos envolvem fenómenos de

plasticidade cerebral, ou seja, mudanças estruturais e funcionais ao nível das respostas neuronais a

diferentes estímulos, que se traduzem em alterações de actividade nas várias regiões do cérebro

(Chokroverty, 2009). Actualmente, existem evidências da acção do sono nestes processos, obtidas

através de estudos electrofisiológicos que mostram que eventos característicos do sono não-REM e do

sono REM parecem estar envolvidos na plasticidade cerebral, por via de mecanismos de potenciação e

depressão sináptica. Com efeito, Steriade e os seus colaboradores, em 2001, mostraram que é possível

provocar modificações permanentes na resposta de neurónios corticais, estimulando-os em surtos

semelhantes aos produzidos por fusos do sono, característicos da fase 2 do sono. Adicionalmente,

estudos em ratos mostraram que durante a realização de tarefas espaciais e novas experiências, os

padrões de disparo de redes neuronais de várias regiões corticais e sub-corticais do cérebro presentes na

vigília, são replicadas durante o sono lento e REM subsequentes (Chokroverty, 2009).

A um nível mais microscópico, o modelo de plasticidade sináptica mais detalhadamente caracterizado

e promissor para explicar a aprendizagem e memória nos sistemas nervosos mais complexos consiste

no fenómeno de Potenciação de Longa Duração, o qual produz um aumento da resposta pós-sináptica

mais eficiente que o mecanismo antagónico de Depressão de Longa Duração, criando um desequilíbrio

que se torna necessário controlar (Tononi e Cirelli, 2014). Neste contexto, o sono poderia desempenhar

4

um papel de regulador ao reestabelecer o equilíbrio sináptico perturbado durante a vigília, ao diminuir

o ganho na transmissão sináptica de tal forma que as várias sinapses não fiquem saturadas e recuperem

o seu potencial de plasticidade no dia seguinte.

Outra forma de avaliar a acção do sono na aprendizagem e consolidação de memórias consiste na

realização de estudos neuroimagiológicos. Um dos principais objectivos deste tipo de experiências tem

sido procurar perceber se o treino numa determinada tarefa durante a vigília condiciona as características

da activação funcional do cérebro durante o sono. Uma forma de observar esse efeito seria pela repetição

no sono, de padrões de actividade cerebral característicos da realização dessa tarefa. Um trabalho

representativo desta ideia foi feito por Maquet, que demonstrou que durante o sono REM são replicados

padrões de actividade motora manifestados durante tarefas motoras na vigília (revisto em Chokroverty,

2009). Além disso, estes investigadores verificaram também que a aprendizagem obtida durante a

realização destas tarefas correlacionava-se com o grau de reactivação durante o sono REM. A realização

de tarefas espaciais envolvendo labirintos virtuais foi também associada a reactivações de áreas do

hipocampo durante o sono lento seguinte, sendo o grau de activação tanto maior quanto melhor a

performance dos indivíduos no dia seguinte (Peigneux et al., 2004). Estas observações demonstram que

a realização e o nível de aprendizagem obtida numa tarefa, podem modelar a actividade cerebral que

ocorre durante o sono, com reactivações que conduzem a melhores performances comportamentais.

Outro modo de estudar a plasticidade dependente do sono consiste ainda em comparar padrões de

actividade cerebral antes e após uma noite de sono. Recorrendo a ressonância magnética funcional, foi

possível, por exemplo, detectar uma maior activação cerebral em determinadas zonas do córtex motor e

também do cerebelo durante a realização de tarefas de sequência motora após uma noite de sono (revisto

em Chokroverty, 2009).

Em síntese, este tipo de estudos permite compreender melhor a plasticidade cerebral associada à

memória/aprendizagem que é dependente do sono, pois nele ocorrem reactivações de padrões de

actividade neuronal presentes durante a realização de tarefas na vigília prévia, sendo mais fortes aquando

de uma melhor performance pós-sono.

1.3 Lobos frontais

Os lobos frontais (Figura 1.1) constituem uma das principais áreas cerebrais no Homem, definindo

aspectos fundamentais da sua personalidade e comportamento (Stuss e Knight, 2002). A sua importância

foi controversa durante o século XIX e a primeira metade do século XX, com autores defendendo que o

córtex frontal possuia funções cerebrais muito integradoras e com outros afirmando que a sua relevância

era diminuta, pois eram poucos os défices associados a lesões no córtex frontal (revisto em Stuss e

Knight, 2002). Esta divisão devia-se, em boa parte, ao famoso caso de Phineas Gage (1848), pois este

mostrou que danos significativos nos lobos frontais provocavam uma grande alteração no

comportamento e personalidade dos indivíduos, mantendo intactas, no entanto, a consciência, a

sensibilidade, movimento e a maior parte das funções cognitivas.

5

Ao longo do tempo, este dilema foi sendo resolvido com a melhoria das avaliações clinicas e evolução

dos instrumentos neurofisiológicos, permitindo a documentação de casos de pacientes com lesões do

córtex frontal que revelavam alterações do foro comportamental, tornando-se profanos, irresponsáveis

ou irascíveis, enquanto outros evidenciavam perda de espontaneidade, curiosidade, iniciativa,

diminuição da atenção, motivação, criatividade, raciocínio abstrato ou resolução de problemas , entre

outros aspectos (Stuss e Knight, 2002). Além disso, foi demonstrado que uma lesão nos lobos frontais

pode afectar de forma marcada a capacidade de planear e sequenciar comportamentos complexos,

entender o contexto e natureza de situações complexas, resistir à distracção e interferência, seguir

instruções com vários passos ou a inibição de respostas imediatas, mas inapropriadas, entre outras

(Mesulam, 1986).

A realização de testes neuropsicológicos em pacientes tem revelado uma concordância com o descrito

acima, evidenciando deficiências em diversas tarefas (revisto em Stuss e Knight, 2002). No entanto, a

grande maioria dos testes de percepção, construção, linguagem e atenção espacial permaneceram

normais.

Actualmente, sabe-se que os lobos frontais e em especial o córtex pré-frontal, desempenham um papel

preponderante nas funções relacionadas com a organização temporal do comportamento intencional, da

linguagem e da razão, obtidos exercendo sobre as outras áreas cerebrais um controlo “top-down”

importante (Fuster, 2008). Estas funções, denominadas funções executivas, constituem processos

cognitivos complexos envolvidos no controlo e coordenação de acções com vista ao cumprimento de

objectivos futuros, incluindo um conjunto de capacidades tais como a capacidade de focar a atenção

ignorando estímulos irrelevantes, planear e sequenciar pensamentos e comportamentos, actualizar

informação à medida que as condições se alteram, inibir acções inapropriadas, formar conceitos

abstratos ou pensar de modo flexível e inovador.

Figura 1.1 – Principais áreas cerebrais. Lobo frontal – azul; Lobo parietal – amarelo; Lobo temporal – verde; Lobo occipital

– rosa (Retirado de http://www.drdiagram.com/human-brain-diagram-cerebrum/human-brain-diagram-cerebrum-3/).

6

1.4 EEG

O EEG consiste no registo da actividade eléctrica cerebral ao nível do escalpe, tendo sido realizado pela

primeira vez por Berger na década de 20. Apesar da sua aceitação como um método de análise da função

cerebral, os mecanismos de geração e a significância funcional do EEG permaneceram controversos

durante bastante tempo devido não só à complexidade dos geradores neuronais, mas também à

transferência dos sinais da superfície cortical até ao escalpe, que é condicionada pelas diferentes

propriedades topológicas e eléctricas dos condutores de volume, nomeadamente o cérebro, líquido

cefalorraquidiano, crânio e o escalpe.

O EEG representa a actividade eléctrica conjunta de populações de neurónios, juntamente com uma

pequena contribuição de células gliais (Lopes da Silva, 2010). Os neurónios são células excitáveis cuja

actividade produz campos eléctricos e também magnéticos. Estes campos podem ser detectados por

eléctrodos colocados a pequenas distâncias das fontes (EEG local ou LFP), da superfície cortical

(Electrocorticograma) ou a longas distâncias a partir do escalpe (EEG).

Foi demonstrado que, de entre os vários tipos de neurónios, as células piramidais localizadas no córtex

são as responsáveis pela geração dos campos eléctricos registados pelo EEG. São células excitatórias

que constituem cerca de 80% a 90% dos neurónios do Sistema Nervoso Central, possuindo um corpo

celular com uma forma piramidal característica. Estas encontram-se orientadas perpendicularmente à

superfície cortical (Figura 1.2), com as dendrites apicais mais próximas da superfície e o corpo celular

e axónio estendendo-se na direcção diametralmente oposta. A sua organização em paliçada (Figura 1.2)

permite que, quando activadas de forma sincronizada, estas células gerem campos eléctricos dipolares

amplos, resultado da soma de um grande número de pequenos dipolos individuais.

Figura 1.2 – Representação de uma porção da região cortical com a presença de células piramidais (Retirado de

http://charlesfrye.github.io/FoundationalNeuroscience/02/).

7

A activação neuronal pode ocorrer de duas formas fundamentais: por via de uma despolarização rápida

das membranas neuronais gerando potenciais de acção ou através de potenciais sinápticos.

Um potencial de acção consiste numa rápida reversão da polaridade eléctrica de uma região da

membrana celular que posteriormente se propaga ao longo do axónio até aos terminais sinápticos sem

perda de amplitude. Este envolve a acção de canais iónicos dependentes de voltagem localizados na

membrana (canais de sódio e potássio), os quais aumentam a condutância quando a membrana celular

atinge um certo limiar de voltagem. No entanto, a brevidade deste tipo de activação neuronal torna-o

pouco relevante para o EEG.

Os potenciais pós-sinápticos mais lentos, por outro lado, são os que mais contribuem para o potencial

eléctrico observado no EEG. Estes podem ser excitatórios (EPSPs) ou inibitórios (IPSPs), dependendo

do neurotransmissor e respectivo receptor pós-sinaptico, assim como da sua interacção com

determinados canais iónicos.

Num EPSP, a corrente eléctrica transmembranar é formada pela entrada de iões de sódio (Na+) ao nível

da sinapse, direccionando-se para o meio intracelular.

Num IPSP, essa corrente eléctrica é formada pela entrada de iões de cloro (Cl-) ou saída de iões de

potássio (K+) do interior para o exterior do neurónio. Consequentemente, gera-se um potencial negativo

no meio extracelular no caso de um EPSP e um potencial positivo no caso de um IPSP.

A compreensão de como estes potenciais originam campos detectáveis no escalpe exige o conhecimento

de dois factos adicionais:

a) as sinapses excitatórias distribuem-se preferencialmente nas dendrites distais, ou seja, perto da

superfície cortical;

b) as sinapses inibitórias distribuem-se mais profundamente, sobretudo junto do corpo celular. Quer

se trate de um EPSP ou IPSP, a estimulação das células piramidais origina um pequeno dipolo, cujo

polo negativo é superficial e o positivo se encontra na profundidade.

O facto de os estímulos sinápticos ocorrerem de forma sincronizada pela estimulação de vias aferentes

contendo múltiplos terminais sinápticos, assim como a orientação paralela dos dipolos individuais

(Figura 1.3), leva à soma dos campos elétricos microscópicos que passam a ser detectáveis na superfície

do escalpe como EEG (Figura 1.4).

8

Figura 1.3 – Representação dos potenciais extracelulares associados à actividade sináptica. E – EPSP; I – IPSP (Adaptado de

Mulert e Lemieux, 2010, p.21).

Figura 1.4 – Os potenciais eléctricos no escalpe resultantes da soma de múltiplos dipolos corticais constitui a base do EEG

(Adaptado de Nunez e Srinivasan, 2006, p. 5).

Deste modo, o EEG representa a actividade eléctrica resultante da estimulação sináptica sincronizada

de múltiplas células piramidais no córtex cerebral. Quando as células neuronais não possuem a

organização em paliçada anteriormente referida, como acontece por exemplo, no Tálamo ou no

Cerebelo, o seu contributo para o EEG é nulo. A definição dos vários ritmos cerebrais possibilitados

pelo EEG serviram de base para estabelecer as diferentes fases existentes no sono (Figura 1.5), sendo

ainda actualmente o método de referência.

9

Figura 1.5 – Fases do sono (Retirado de https://tigerweb.towson.edu/rburns8/project_02).

1.5 Conectividade

A conectividade cerebral constitui uma medida das interacções entre grupos neuronais de diferentes

áreas cerebrais. Considera-se habitualmente 3 tipos de conectividade:

1. Estrutural (ou neuroanatómica), que se refere à distribuição anatómica das fibras ao longo das

regiões cerebrais, sendo frequentemente estudada através de técnicas como a Ressonância

Magnética Nuclear (Hagmann et al., 2007) ou o Tensor de Difusão (Heuvel et al., 2009).

2. Funcional, que consiste na caracterização das correlações estatísticas entre a actividade temporal

gerada pela actividade de grupos neuronais em regiões distintas do cérebro, podendo ser analisada

utilizando sinais de Electroencefalografia (Smit et al., 2007), Magnetoencefalografia (Stam et al.,

2007), Potenciação de Longo Termo (Ray e Maunsell, 2011), Tomografia de Emissão de

Positrões (Grady et al., 2003) ou Ressonância Magnética Funcional (Roy et al., 2009).

3. Efectiva, que mede a influência exercida por um grupo/sistema neuronal sobre outro, ou seja, a

causalidade das interacções entre as diferentes regiões cerebrais.

Neste âmbito, o EEG constitui uma óptima opção para o estudo destes tipos de conectividade, pois

possui uma resolução temporal na ordem dos milissegundos (He et al., 2011), permitindo calcular as

interações entre regiões cerebrais ao longo ao tempo numa ampla gama de frequências. Neste contexto,

os registos de EEG mais vantajosos são realizados no escalpe (Figura 1.6), devido à sua natureza não

invasiva, no entanto, os campos eléctricos gerados pelas diferentes fontes neuronais apresentam uma

10

elevada dispersão global (Figura 1.7), levando a uma contaminação cruzada significativa do sinal

captado pelos diversos sensores (eléctrodos) (Schoffelen e Gross, 2009).

Figura 1.7 – Representação do modo como a actividade

neuronal produzida por uma fonte é captada por diferentes

sensores (Adaptado de Schoffelen e Gross, 2009).

Este facto limita a utilidade das medidas de conectividade obtidas entre os registos dos vários sensores,

tornando a sua interpretação bastante complicada. A imprecisão resultante pode ser minimizada

recalculando as fontes na superfície cerebral, por via de métodos de análise de fonte (Astolfi e Babiloni,

2008) (Figura 1.8). Todavia, a tarefa de localizar os geradores intracranianos dos potenciais eléctricos

no escalpe é problemática, não só devido à complexa configuração dos campos eléctricos associados,

mas também à distorção produzida pelas diferentes condutividades eléctricas do cérebro, crânio e do

escalpe (Babiloni et al, 2005).

Figura 1.8 – Reconstrução de fonte (Retirado de http://www.fil.ion.ucl.ac.uk/~wpenny/research/meeg.html).

Este obstáculo foi minimizado graças ao surgimento do EEG de alta resolução (Figura 1.9), que

possibilitou estimar com maior precisão a actividade cortical a partir de medições de EEG não invasivas,

Figura 1.6 – EEG realizado ao nível do escalpe

(Retirado de https://www.epilepsysociety.org.uk/what-

epilepsy#.Wk5Pit9l8uU).

11

utilizando um número elevado de eléctrodos no escalpe, modelos realistas da cabeça baseados em

imagens de Ressonância Magnética Estrutural, assim como metodologias de processamento

relacionadas com a solução do problema inverso.

Figura 1.9 – EEG de alta resolução.

Nos últimos anos tem havido grande expansão de métricas de conectividade, instrumentos matemáticos

que procuram quantificar o grau de correlação entre as séries temporais registadas da actividade de

várias áreas cerebrais. A validação empírica destas métricas encontra-se, no entanto, ainda nas fases

iniciais não sendo clara qual a metodologia mais adequada nos diversos contextos.

1.6 A conectividade funcional em EEG como uma medida da interacção

entre áreas funcionais cerebrais

A ideia de que o sono poderia ter uma função na regulação da conectividade entre diferentes redes

neuronais surgiu na sequência de evidências relacionando a actividade nas diferentes áreas cerebrais

com o tipo de aprendizagem efectuado na vigília prévia (Huber et al., 2004; Marshall et al., 2006). A

modulação da actividade sináptica associada à aprendizagem traduz-se, a nível macroscópico, na

modificação da sincronização entre a actividade intrínseca das redes neuronais envolvidas, o que origina

modificação da conectividade funcional entre elas. O estudo da conectividade funcional entre as

diferentes áreas cerebrais seria assim um correlato a nível das redes neuronais da plasticidade sináptica

a nível neuronal.

O estudo da conectividade funcional capitaliza no facto de as diversas redes neuronais apresentarem

oscilações intrínsecas que se correlacionam com o estado funcional (Schoffelen e Gross, 2009). Em

diversos estádios de activação, estas oscilações modificam em amplitude e frequência, podendo

apresentar fenómenos de sincronização temporal com outras redes neuronais. Estas sincronizações

12

transitórias entre redes neuronais parecem corresponder a períodos de troca de informação, com

importância crucial para compreender o funcionamento cerebral.

Na actualidade, o estudo da conectividade funcional em humanos efectua-se usando primariamente

registos neurofisiológicos (EEG e MEG) ou neuro vasculares (Ressonância Magnética), que pela sua

natureza não invasiva são adequados a estudos da dinâmica cerebral em condições ecologicamente

válidas.

1.7 Evidências do efeito da privação do sono na conectividade funcional dos

lobos frontais

Várias das funções executivas atribuídas aos lobos frontais encontram-se perturbadas de forma

proeminente durante a privação do sono, o que sugere uma interferência particularmente importante da

mesma no funcionamento destas regiões cerebrais.

A conectividade funcional dos lobos frontais é proeminente com a generalidade das áreas corticais

(Fuster, 2008), o que certamente se correlaciona com o referido controlo sobre a restante actividade

cerebral. Será, pois, expectável que a degradação cognitiva associada à privação do sono se relacione

com perturbações desta conectividade funcional. Permanece, no entanto, pouco claro se esta perturbação

se correlaciona com uma degradação difusa da conectividade ou se esta é selectiva para algumas

estruturas em particular. Na verdade, alguns estudos enfatizam a importância da conectividade funcional

entre os lobos frontais e as áreas parietais como especificamente relevantes (Cui et al., 2015), enquanto

outros evidenciam alterações mais difusas (Verweij et al., 2014).

Seria assim importante caracterizar a selectividade das alterações da conectividade funcional fronto-

parietal na degradação cognitiva associada à privação do sono, comparando nos mesmos indivíduos,

protocolos de avaliação do impacto da privação em diferentes aspectos da cognição.

13

2. OBJECTIVOS

O principal objectivo desta tese consiste em caracterizar o impacto da privação completa de uma noite

de sono na conectividade funcional entre os lobos frontais, os lobos parietais e as áreas visuais occipitais,

assim como no desempenho funcional durante a realização de uma tarefa experimental associada à

activação occipital e frontal.

Os objectivos secundários serão:

1. Avaliação do impacto da activação experimental na conectividade frontal.

2. Avaliação do efeito de uma sesta na recuperação funcional.

14

3. METODOLOGIA

3.1 Participantes

6 voluntários (5 homens e 1 mulher), de idades compreendidas entre os 25 e os 52 anos, participaram

neste estudo (Tabela 3.1). Eram adultos saudáveis com um ciclo de trabalho normalizado, bons hábitos

de sono, sem doenças neurológicas ou psiquiátricas e sem problemas associados ao sono. Na semana

anterior aos registos não foram reportadas alterações significativas dos hábitos de sono. Adicionalmente,

os voluntários negaram a utilização de medicação crónica, estimulantes ou álcool nas 24 horas anteriores

ao estudo, tendo preenchido um questionário breve - Escala de Epsworth (Johns, 1991) - para quantificar

o nível de sonolência antes de o iniciar.

Tabela 3.1 – Idade, sexo e profissões dos participantes.

Participante Idade Sexo Profissão

P1 52 Masculino Médico

P2 52 Feminino Médica

P3 25 Masculino Estudante

P4 34 Masculino Técnico Neurofisiologia

P5 51 Masculino Militar

P6 33 Masculino Técnico Neurofisiologia

3.2 Protocolo experimental

Cada participante submeteu-se a dois registos experimentais: um após uma noite de privação total de

sono (totalizando aproximadamente 34 horas de privação) e outro sem alteração do ritmo circadiano

individual. Os registos tiveram lugar durante a semana às 17 horas.

A tarefa experimental consistiu na aplicação de uma variante do protocolo Go-Nogo. que é

frequentemente utilizado em estudos de inibição de respostas, uma função executiva dos lobos frontais

que consiste na capacidade de um individuo suprimir uma resposta não adaptativa ou inapropriada.

Classicamente, este requer a execução de uma resposta motora a um estímulo frequente (Go) e a inibição

dessa resposta em face de um estímulo menos frequente (Nogo); na nossa variante é exigida uma

resposta motora ao estímulo Go e uma resposta motora alternativa ao estímulo Nogo.

O protocolo foi realizado juntamente com registo de EEG de alta resolução com 82 eléctrodos mais

electrocardiograma. Estes eléctrodos, constituídos por cloreto de prata, foram colocadas numa touca

contendo as 82 posições de amostragem no escalpe (Figura 3.1), correspondente ao mapa do sistema

10-10 mais os eléctrodos temporais inferiores. Seguidamente foi aplicado gel condutor e aferidas as

impedâncias de modo a obter valores inferiores a 5 KΩ em todos os eléctrodos.

A montagem utilizada nos registos foi a referencial, na qual se regista a diferença de potencial eléctrico

entre cada eléctrodo e uma referência comum, neste caso localizada sobre o lobo frontal (Fcz) (Figura

15

3.1). O eléctrodo de terra foi colocado 2 centímetros anterior ao eléctrodo AFz, igualmente sobre os

lobos frontais.

Os filtros definidos e aplicados a todos os canais de EEG durante a aquisição foram: passa-alto a DC e

passa-baixo a 200 Hz, que permite manter as variações dependentes de potenciais electrotónicos e

remover oscilações rápidas, por exemplo, causadas por ruído ou por eventos transientes de curta duração

sem relevância para a interpretação do EEG. A amostragem foi realizada a 1000 Hz.

Figura 3.1 – Montagem de EEG de alta resolução com 82 electrodos utilizada durante a realização da tarefa experimental. A

vermelho encontra-se destacada a referência utlizada nesta montagem (Fcz).

Os participantes encontravam-se confortavelmente sentados face a um monitor colocado a 1,5 metros

de distância em que se apresentavam estímulos visuais de forma sequencial, sendo solicitados a dar

respostas utilizando uma caixa com botões. Os estímulos apresentados eram números de 0 a 9, que

surgiam individualmente durante um período fixo que permitia uma fácil identificação (200

milissegundos) e com intervalos de tempo variáveis (entre 1200 e 1800 milissegundos). O voluntário

foi instruído a carregar o mais rapidamente possível num botão com o polegar esquerdo (botão 1),

aquando do aparecimento de qualquer número à excepção do número 0 e noutro botão com o polegar

direito (botão 2) quando surgisse o número 0 (o estímulo pouco frequente). As respostas eram registadas

como eventos no sistema de apresentação de estímulos (STIM), correspondendo a cada um dos tipos de

resposta dados (1’ para o botão 1 e 2’ para o botão 2).

16

Em cada avaliação, realizaram-se 6 sessões de estímulos. Cada sessão continha uma sequência diferente

de 300 números, sendo 20% deles o número 0. Após 3 sessões de respostas, os voluntários fizeram uma

sesta de 30 a 40 minutos, com manutenção do registo EEG, à qual se seguiam as restantes 3 sessões

(Figura 3.2).

Figura 3.2 – Sequência de eventos durante a avaliação experimental.

Foi igualmente registado o EEG no estado de repouso antes do início da tarefa experimental e após a

sesta, tendo-se pedido a cada participante que fechasse e abrisse os olhos durante certos períodos (Tabela

3.2), de modo a obter dados de referência para o cálculo da conectividade funcional.

OF

5 minutos

OA

30 seg.

OF

30 seg.

OA

30 seg.

OF

30 seg.

OA

30 seg.

Tabela 3.2 – Protocolo de fecho e abertura de olhos para medição do EEG em estado de repouso. OF - Olhos Fechados; OA –

Olhos Abertos.

3.3 Desenho do estudo

O design escolhido para o estudo seguiu o modelo cross-over, onde cada participante faz parte

simultaneamente do grupo de intervenção e do grupo de controlo, realizando duas avaliações espaçadas

no tempo.

A vantagem fundamental deste modelo é a redução da variabilidade entre o grupo de controlo e de

intervenção, o que permite a utilização de amostras mais pequenas, reduzindo os custos inerentes à

experiência e a sua duração.

As principais desvantagens são a possível permanência na segunda avaliação, de efeitos causados pela

intervenção prévia, assim como a aprendizagem adquirida nos testes realizados. Para minimizar estes

riscos, definiu-se um intervalo de, pelo menos, 3 semanas entre as avaliações do mesmo participante,

com a intervenção no sono a ser efectuada de forma contrabalançada, ou seja, metade dos participantes

realizaram a privação de sono aquando do primeiro registo, enquanto que os restantes a realizaram

apenas no segundo registo experimental.

17:00 h

17

3.4 Equipamento utilizado

Para esta tarefa experimental foi utilizado o sistema de apresentação de estímulos sensoriais e registo de

respostas STIM 2 (Compumedics - Neuroscan), que possibilitou a apresentação dos estímulos visuais e

recolha das respostas motoras. Este sistema encontrava-se conectado ao sistema de registo de EEG,

composto por um Electroencefalógrafo digital SYNAMPS 2 (Compumedics – Neuroscan) com 128

canais que possibilitava a inserção sincronizada de triggers sincronizados com o registo de EEG. O

programa utilizado para a visualização e registo do EEG foi o SCAN v. 4.5 (Compumedics -

Neuroscan).

3.5 Análise dos dados

3.5.1 Dados comportamentais

As variáveis comportamentais seleccionadas para análise foram: respostas certas (estímulo “0”, botão

2), respostas erradas (estímulo “0”, botão 1), tempo de reacção (em milissegundos) e respostas falhadas

(não carregar no botão).

Os dados recolhidos em cada registo foram concatenados em Excel em dois grupos, referentes às sessões

antes e após a sesta, sendo apenas considerados as respostas ao número 0. Seguidamente, foi

contabilizado o número total de respostas certas, erradas e falhadas, assim como os respectivos tempos

médios de reacção e desvios padrão de cada voluntário. Para o cálculo dos tempos de reacção, não foram

contabilizadas respostas inferiores a 100 milissegundos, consideradas como respostas antecipatórias,

nem respostas superiores a 1000 milissegundos, definido como sensivelmente o dobro do tempo máximo

de reacção obtido em registos preliminares (450 milissegundos).

3.5.2 Registo EEG

O processamento do registo de EEG decorreu de acordo com os seguintes passos:

1) Aplicação de um filtro passa-alto a 1 Hz sem alteração de fase, seguido de um filtro passa-baixo

de 70 Hz igualmente sem alteração;

2) Selecção e interpolação de canais com artefactos (se existissem);

3) Marcação e remoção de segmentos do traçado contendo artefactos;

4) Marcação dos artefactos causados pelo ECG e posterior remoção através da construção e

aplicação de um filtro espacial;

5) Marcação dos artefactos causados pelo EOG e posterior remoção através da construção e

aplicação de um filtro espacial;

18

O estadiamento do sono durante a sesta foi efectuada por análise visual em épocas de 30 segundos, de

acordo com os critérios definidos pelo Manual da Academia Americana de Medicina do Sono para o

Estadiamento do Sono e Eventos Associados (Berry et al., 2016).

3.6 Criação de segmentos para a conectividade

Para o cálculo da conectividade funcional, foram seleccionados segmentos de EEG com 30 segundos,

com o participante em repouso com os olhos fechados, em repouso com os olhos abertos e durante a

realização da segunda sessão de respostas, antes e após a sesta.

A primeira sessão foi excluída com vista a minimizar os efeitos adversos decorrentes da adaptação

inicial à tarefa experimental e à inércia do sono após a sesta, enquanto que a terceira sessão foi retirada

da análise de modo a reduzir o efeito provocado pelo desgaste acumulado, visto que, em condições de

privação de sono, o tempo despendido numa tarefa traduz-se, em geral, num desempenho cognitivo

progressivamente pior, independentemente da tarefa em questão (Durmer e Dinges, 2005).

Estas segmentos foram processados no software MATLAB R2015b utilizando a toolbox eConnectome

(He et al., 2011). Os canais contendo artefactos foram interpolados e calculou-se uma estimação do

potencial eléctrico na superfície cortical pela norma mínima (Schoffelen e Gross, 2009).

3.7 Determinação das regiões de interesse

As regiões de interesse (ROIs) (Figura 3.3) foram estabelecidas com base nos dados da literatura para

as áreas corticais activadas nas tarefas de Go-noGo e discriminação visual.

A tarefa experimental implementada requeria a discriminação de um estímulo visual, que trabalhos

prévios evidenciaram produzir activação de áreas visuais secundárias, localizadas na região occipital

inferior de ambos os hemisférios, pelo que as ROIs occipitais foram colocadas simetricamente nesta

área cortical. Por outro lado, as tarefas de inibição e selecção de respostas encontram-se associadas à

zona mesial dos lobos frontais, mais concretamente, à área pré-suplementar motora (Mostofsky e

Simmond, 2008), sendo assim as ROIs frontais colocadas simetricamente nesta região. As ROIs

parietais foram colocadas simetricamente na região lateral.

19

As ROIs são constituídas por áreas circulares na superfície cortical com diâmetros de 3 centímetros nos

lobos frontais e occipitais inferiores e de 2 centímetros nos lobos parietais.

3.8 Cálculo da conectividade funcional

A conectividade funcional entre as regiões de interesse foi estimada para as várias bandas de EEG

utilizando a métrica DTF (Direct Transfer Function) (Kaminski e Blinowska, 1991). Para cada

segmento de EEG foram analisadas as bandas delta (1 Hz – 4 Hz), teta (4 Hz – 7 Hz), alfa (8 Hz – 12

Hz) e beta (12 Hz - 30Hz) (Figura 3.4), tendo-se utilizado a toolbox eConnectome (He et al., 2011) para

calcular a DTF. A significância estatística das determinações foi determinada através de testes de

permutação (N = 1000, p < 0.05), utilizando o mesmo software.

Figura 3.4 – Bandas de EEG analisadas (Retirado de http://econtact.ca/14_2/ortiz_biofeedback.html).

Figura 3.3 – Regiões de interesse (construído com a toolbox eConnectome do software MATLAB R2015b).

20

Foram calculadas as conectividades entre as ROI dos lobos frontais, occipitais e parietais (Figura 3.5).

Apesar de as determinações terem sido efectuadas entre ROIs localizadas nos dois hemisférios, para

efeitos estatísticos seleccionaram-se os maiores valores de conectividade entre as ROIs frontais,

occipitais e parietais, independentemente da lateralidade das mesmas.

3.9 Análise estatística

Foi efectuada a análise estatística tendo em vista comparar as variações na conectividade entre as regiões

corticais de interesse sem e com privação de sono (objectivo principal), em repouso passivo vs execução

experimental (objectivo secundário), antes e após a sesta (objectivo secundário).

Para cada uma das comparações, foi efectuada uma ANOVA de 3 vias em que os factores foram: a

banda espectral do EEG (delta, teta, alfa e beta); pares de regiões de interesse (Fronto-Occipital,

Occipito-Frontal, Fronto-Parietal e Parieto-Frontal); execução da tarefa experimental / privação de sono

/ sesta.

Figura 3.5 – Representação das principais conectividades (esquerda) e matriz de todas as conectividades (direita) entre

as ROIs de um participante durante a realização da tarefa experimental. Cada número na matriz corresponde a uma

determinada região cerebral: 1- região frontal esquerda; 2 - região frontal direita; 3 – região parietal esquerda. 4 – região

parietal direita; 5- região occipital esquerda; 6 – região occipital direita. A matriz é lida no sentido ji. Os valores das

conectividades variam entre 0 (sem conectividade) e 1 (conectividade máxima). Construído com a toolbox

eConnectome do software MATLAB R2015b.

21

A variável independente foi a conectividade cortical. Foram efectuados testes de Tukey pós-hoc para

avaliar a significância estatística da diferença de médias individuais.

Foram efectuadas análises de correlação linear entre as variações de conectividade e a variação dos erros

comportamentais, com a privação de sono. O software usado para processamento estatístico foi o

OriginalLab Pro 2017.

22

4. RESULTADOS

4.1 Tarefas comportamentais

As tarefas experimentais do paradigma Go-Nogo foram executadas sem problemas, tendo havido uma

boa adesão dos participantes, assim como um número reduzido de respostas falhadas (Figura 4.1).

Os níveis de sonolência apurados aquando do seu início revelaram-se adequados, com os participantes

a registarem uma pontuação média na Escala de Epsworth de 4,8 (valor normal ≤ 10) após uma noite

normal e de 14,3 com privação de sono.

Figura 4.1 – Número de respostas certas, erradas e falhadas de cada participante sem e com privação de sono, antes da

realização de uma sesta.

O desempenho comportamental evidenciou que a proporção de respostas erradas de cada participante

possuía uma marcada variabilidade inter-individual, pelo que o efeito da privação foi avaliado

normalizando os erros segundo o valor sem privação (Figura 4.2 e Anexo 1).

117

174

112

134140

158

60

5

59

46

32

19

3 19

08

3

121

174

113122

113

149

50

6

67

54 51

30

90 0

4

16

1

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

P1 P2 P3 P4 P5 P6

Respostas comportamentais

Correctas sem privação Erradas sem privação Falhadas sem privação

Correctas com privação Erradas com privação Falhadas com privação

23

Figura 4.2 – Percentagem de erros cometidos por cada participante sem e com privação de sono.

Observou-se um aumento médio de 23% nos erros com a privação de sono sendo, no entanto, ainda

aparente apreciável variabilidade (Tabela 4.1), com um dos participantes a apresentar mesmo uma

redução dos erros após a privação (P1).

Tabela 4.1 – Percentagem de erros cometidos por participante sem e com privação de sono e respectiva variação.

Participante sem privação com privação Variação

P1 34% 29% -14%

P2 3% 3% 0%

P3 35% 37% 8%

P4 26% 31% 20%

P5 19% 31% 67%

P6 11% 17% 56%

Média 21% 25% 23%

34%

3%

35%

26%

19%

11%

29%

3%

37%

31% 31%

17%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

P1 P2 P3 P4 P5 P6

Erros sem e com privação de sono

sem privação

com privação

24

Sem privação de sono, o tempo de reacção médio para as respostas certas foi de 365 milissegundos, e

para as respostas erradas de 270 milissegundos. Após a privação, o tempo de reacção para respostas

certas foi de 363 milissegundos e para as erradas 262 milissegundos (Anexo 2).

A diferença das médias não atingiu significância estatística (p > 0,05) , não suportando assim a existência

de um efeito significativo da privação de sono nestas variáveis (Figura 4.3).

Figura 4.3 – Caixas de bigodes dos tempos de reacção.

Globalmente, os anteriores resultados evidenciam que a privação de uma noite de sono produziu a nível

do desempenho um aumento do número de erros, consentâneo com uma diminuição da capacidade de

monitorização, mas sem significativa modificação dos tempos de reacção nas respostas individuais.

Foram ainda analisados os erros cometidos antes e após a sesta. Os participantes dormiram em média

cerca de 19 minutos, encontrando-se 59,6 % do tempo em fase 1 do sono e 40,4 % em fase 2 (Figuras

4.4 e 4.5).

150

200

250

300

350

400

450

Correctos sem privação Correctos com privação Erros sem privação Erros com privação

Tempos de reacção sem e com privação de sono

25

Figura 4.4 – Hipnogramas das sestas realizadas, com tempo total e percentagem de fase 1 e 2 do sono de cada um dos

participantes com privação de sono. W- Vigília; 1 – fase 1; 2 – fase 2; 3 – fase 3.

sono 6,5 minutos

Fase 1 61,5%

Fase 2 38,5%

sono 20,5 minutos

Fase 1 80,5%

Fase 2 19,5%

Sono 27 minutos

Fase 1 20,4%

Fase 2 79,6%

sono 14,5 minutos

Fase 1 62,1%

Fase 2 37,9%

sono 16 minutos

Fase 1 90,6%

Fase 2 9,4%

sono 27 minutos

Fase 1 42,6%

Fase 2 57,4%

W

1

2

3

P3

W

1

2

3

P4

W

1

2

3

P6

W

1

2

3

P5

W

1

2

3

P1

W

1

2

3

P2

26

Figura 4.5 – Tempo total de sono e tempo decorrido nas diferentes fases do sono nas sestas realizadas pelos participantes com

privação.

Os erros cometidos antes e após a sesta nos participantes com privação de sono atingiram valores médios

de 25% e 23% respectivamente (Anexo 3), não suportando a existência de um efeito significativo da

sesta no desempenho dos participantes (p > 0,05).

4.2 Conectividade associada à tarefa experimental

A fim de avaliar o efeito da tarefa experimental na conectividade entre as áreas cerebrais seleccionadas,

efectuou-se uma ANOVA de três vias (Anexo 4), usando como factores as bandas espectrais (delta, teta,

alfa e beta), os pares de ROIs (OccipFront, FrontOccip, ParFront e FrontPar) e a condição experimental

(Passiva, Activa), sendo a variável independente a conectividade.

Esta análise evidenciou os seguintes resultados:

a) As médias das conectividades das bandas espectrais não são significativamente diferentes (p =

0,88), não sendo demonstráveis diferenças de conectividade ao nível das bandas;

b) As médias de conectividade entre ROIs são significativamente diferentes (p < 0,05), o que suporta

a existência de conectividades distintas entre as ROIs;

c) As médias de conectividade entre a condição passiva (repouso) e activa não são

significativamente diferentes (p = 0,68), o que sugere não existir variação relevante;

0

5

10

15

20

25

30

P1 P2 P3 P4 P5 P6

Tem

po

(m

inu

tos)

Tempos de sono total e suas fases

Sono Fase 1 Fase 2

27

O teste de Tukey para comparação de pares de médias evidencia que nas conectividades entre ROIs, as

postero-anteriores (Occipito-Frontal e Parieto-Frontal) são significativamente maiores que a antero-

posteriores (Fronto-Occipital e Fronto-Parietal) (p < 0,05).

A interacção da condição experimental (Passiva e Activa) com os pares de ROIs, (Figura 4.6), evidencia

que na condição activa as conectividades Parieto-Frontal, Fronto-Parietal e Fronto-Occipital diminuem

ligeiramente, aumentando somente a Occipito-Frontal. Adicionalmente, a comparação da conectividade

média Parieto-Frontal com a Occipito-Frontal na condição passiva é estatisticamente significativa (teste

Tukey), mas não significativa na condição activa.

Estes resultados suportam a existência de um aumento relativo da conectividade entre as áreas visuais

secundárias e as áreas meso-frontais com a realização da tarefa experimental visuo-motora.

Figura 4.6 – Conectividade dos pares de ROIs na condição passiva e activa.

4.3 Conectividade associada à privação do sono

Foi avaliado o efeito da privação de sono na conectividade entre as áreas cerebrais seleccionadas por

meio de uma ANOVA de 3 vias (Anexo 5), utilizando como factores as bandas espectrais (delta, teta,

alfa e beta), os pares de ROIs (OccipFront, FrontOccip, ParFront e FrontPar) e a condição experimental

(sem e com privação de sono), sendo a variável independente a conectividade.

Passiva Activa

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

Conecti

vid

ade

parROI

FrontOccip

OccipFront

FrontPar

ParFront

28

Obtiveram-se os seguintes resultados:

a) As médias de conectividade das bandas espectrais não são significativamente diferentes (p =

0,89), pelo que não existe diferenças entre bandas ao nível da conectividade;

b) As médias de conectividade dos pares de ROIs são significativamente diferentes (p < 0,05), o que

suporta a existência de conectividades distintas entre ROIs;

c) As médias de conectividade globais sem e com privação de sono são significativamente diferentes

(p < 0,05), logo a privação influencia os níveis de conectividade entre as diferentes áreas

cerebrais;

O teste de Tukey evidencia que nas conectividades entre ROIs, as conectividades postero-anteriores são

significativamente maiores do que as antero-posteriores (p < 0,05). A conectividade Parieto-Frontal é

significativamente maior que a Occipito-Frontal (p < 0,05), porém não existe diferença significativa

entre as conectividades antero-posteriores (p > 0,05). A interacção entre as conectividades dos pares de

ROIs evidencia uma tendência geral de aumento da conectividade com a privação, com a conectividade

Parieto-Frontal a registar o maior aumento (Figura 4.7).

Efectuando uma comparação das médias das conectividades Parieto-Frontal e Occipito-Frontal antes e

após privação (teste de Tukey), apenas se observa uma diferença estatisticamente significativa com a

privação, suportando a existência de um aumento relativo da conectividade Parieto-Frontal em relação

à Occipito-Frontal com a privação de sono.

Figura 4.7 – Conectividade dos pares de ROIs sem e com privação de sono.

sem com

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

0,60

0,65

0,70

Conec

tivid

ade

Privação

parROI

FrontOccip

OccipFront

FrontPar

ParFront

29

Verificou-se também a relação entre os erros cometidos durante a tarefa experimental e as

conectividades mais elevadas antes e após a privação de sono, nomeadamente a conectividade Occipito-

Frontal e Parieto-Frontal, através de análise de correlação linear. A conectividade Occipito-Frontal não

apresentou qualquer correlação significativa com os erros cometidos (r de Pearson = - 0.01) (Figura

4.8), ao passo que a conectividade Parieto-Frontal apresentou uma correlação negativa (r de Pearson =

- 0.643) (Figura 4.9).

Estes resultados evidenciam que o aumento selectivo desta conectividade com a privação do sono está

associado a uma menor percentagem de erros, com os participantes que registaram menores acréscimos

de erros com a privação do sono, a ser os que mais aumentaram a conectividade Parieto-Frontal.

Figura 4.8 – Correlação entre o aumento de erros em privação de sono e a conectividade Occipito-Frontal.

-0,2 0,0 0,2 0,4 0,6

0,0

0,5

Vari

ação

da c

on

ecti

vid

ad

e O

ccip

Fro

nt

Erros

Equation y = a + b*x

Plot OccipFront Conect var

Weight No Weighting

Intercept 0,05263 ± 0,20267

Slope -0,01149 ± 0,54449

Residual Sum of Squares 0,61227

Pearson's r -0,01055

R-Square(COD) 1,11364E-4

Adj. R-Square -0,24986

30

Figura 4.9 – Correlação entre o aumento de erros em privação de sono e a conectividade Parieto-Frontal.

4.4 Conectividade associada à sesta

Foi avaliado o efeito de uma sesta na conectividade entre as áreas cerebrais seleccionadas por meio de

uma ANOVA de 3 vias (Anexo 6), utilizando como factores as bandas espectrais (delta, teta, alfa e beta),

os pares de ROIs (OccipFront, FrontOccip, ParFront e FrontPar) e a condição experimental (antes e após

a sesta), sendo a variável independente a conectividade.

Obtiveram-se os seguintes resultados:

a) As médias de conectividade das bandas espectrais não são significativamente diferentes entre si

(p = 0,92), pelo que não existe diferenças entre bandas ao nível da conectividade;

b) As médias de conectividade dos pares de ROIs são significativamente diferentes (p < 0,05) sendo

assim a especificidade dos ROIs um factor relevante para a variação da conectividade;

c) As médias de conectividade globais antes e após a sesta não são significativamente diferentes (p

= 0,44), logo a sesta não aparenta influenciar a conectividade global entre as diferentes áreas

cerebrais.

-0,2 0,0 0,2 0,4 0,6

0,0

0,5V

ari

ação

da c

on

ecti

vid

ad

e P

arF

ron

t

Erros

Equation y = a + b*x

Plot ParFront Conect var

Weight No Weighting

Intercept 0,32262 ± 0,14411

Slope -0,65154 ± 0,38715

Residual Sum of Squares 0,30955

Pearson's r -0,64384

R-Square(COD) 0,41453

Adj. R-Square 0,26816

31

O teste de Tukey evidencia que as conectividades postero-anteriores são significativamente maiores que

as antero-posteriores nas duas condições experimentais (p < 0,05). Adicionalmente, a conectividade

Parieto-Frontal é significativamente maior que a Occipito-Frontal antes da realização da sesta (p < 0,05).

A interacção da condição experimental (antes e após a sesta) com os pares de ROIs, (Figura 4.10),

evidencia que a conectividade Parieto-Frontal é a que regista a maior variação, diminuindo após a sesta.

No entanto, a mesma não atinge significância estatística (p > 0,05).

Figura 4.10 – Conectividade dos pares de ROIs antes e depois da sesta.

Efectuando uma comparação das médias das conectividades Parieto-Frontal e Occipito-Frontal antes e

após a sesta (teste de Tukey) apenas se observa uma diferença estatisticamente significativa antes da

sesta, verificando-se uma diminuição selectiva da conectividade Parieto-Frontal em relação à Occipito-

Frontal. A sesta parece assim provocar uma variação inversa à da privação de sono na conectividade

Parieto-Frontal.

pre pos

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

0,60

0,65

0,70

Co

necti

vid

ade

Sesta

parROI

FrontOccip

OccipFront

FrontPar

ParFront

32

5. DISCUSSÃO

O nosso estudo pretendeu analisar os efeitos de uma noite de privação total de sono no desempenho

comportamental e conectividade cerebral utilizando um protocolo Go-Nogo contendo uma resposta

motora alternativa ao estímulo Nogo. Esta é uma tarefa simples e robusta, permitindo, neste caso, não

só avaliar a capacidade de inibir uma resposta inapropriada, mas também de iniciar uma resposta

alternativa.

A curta duração da privação de sono (aproximadamente 34 horas) permitiu apenas uma pequena

interferência da sonolência no estado de vigília dos participantes, sendo adequada para uma boa

execução do protocolo proposto. Estudos envolvendo longas privações de sono (> 45 horas) registam

frequentemente perturbações como micro-sonos ou ataques de sono, revelando uma maior variabilidade

ao nível da performance cognitiva, que se traduz por um aumento do número de lapsos (erros de

omissão) e erros de comissão (efectuar a resposta motora habitual ao estímulo Nogo) (Durmer e Dinges,

2005). Esta variabilidade intra-individual é provavelmente consequência de uma instabilidade no estado

de vigília (Doran et al., 2001), que ocorre quando mecanismos homeostáticos de iniciação do sono

interferem na vigília, sendo dependente da severidade da privação de sono. Neste contexto, o

desempenho cognitivo torna-se cada vez mais variável e dependente de mecanismos compensatórios

como manter-se em pé (Patrick e Gilbert, 1896) ou até incentivos monetários (Horne e Pettite, 1985).

Outro aspecto relevante prende-se com a existência de diferenças inter-individuais na vulnerabilidade

aos efeitos decrementais provocados pela privação de sono. Apesar das mesmas se encontrarem

identificadas há bastante tempo (Wilkinson, 1961), apenas nos últimos 15 anos surgiram evidências

demonstrando que estas diferenças são estáveis e provavelmente constituirão uma característica pessoal

que permanece ao longo do tempo (Leproult et al., 2003; Van Dongen et al., 2004). Adicionalmente,

um estudo preliminar usando ressonância magnética funcional BOLD numa tarefa de memória de

trabalho sugeriu que indivíduos vulneráveis à privação de sono apresentam padrões de activação

cerebral diferentes de indivíduos resistentes, quer a um nível basal, quer após privação de sono (Mu et

al., 2005a). O modelo crossover adoptado no nosso estudo visou minimizar este efeito, com o grupo de

intervenção e o grupo de controlo a serem constituídos pelos mesmos participantes.

5.1 Desempenho comportamental

5.1.1 Efeito da tarefa comportamental

Após uma noite normal de sono, verificou-se que a realização da tarefa comportamental gerou uma

variabilidade acentuada ao nível dos erros de comissão cometidos. No entanto, a proporção média deste

tipo de erros encontra-se em linha com outro estudo analisando uma privação de sono de duração similar

(Drummond et al., 2006). Por outro lado, os tempos de reação obtidos apresentam igualmente uma certa

variabilidade, sendo que as respostas certas são, em média, mais lentas que os erros cometidos. Este

resultado é expectável pois os erros são resultantes de uma incapacidade de inibir uma resposta

automática a um estímulo frequente, a qual será mais rápida que a resposta alternativa, dada após um

estímulo pouco frequente.

33

5.1.2 Efeito da privação de sono

É reconhecido que a privação de sono provoca deficiências de desempenho em tarefas requerendo

processos cognitivos simples como testes de tempos de reacção, que envolvem geralmente medidas de

atenção, vigilância ou memória declarativa (Durmer e Dinges, 2005). Um exemplo paradigmático é a

tarefa de vigilância psicomotora, a qual requer atenção contínua de modo a detectar a ocorrência de

estímulos aleatórios.

Este tipo de testes, exigentes em atenção, têm-se revelado como uma medida segura e sensível da

privação de sono. Por outro lado, processos cognitivos mais complexos envolvendo funções executivas

como a inibição de respostas, apresentam resultados inconsistentes. Um estudo utilizando a tarefa Stroop

para medir a capacidade de inibir uma resposta prepotente revelou que a privação de sono não provocou

alterações no desempenho (Sagaspe et al., 2006), todavia estudos que mediram esta função executiva

aplicando uma tarefa Go-Nogo observaram uma diminuição do desempenho após a privação de sono

(Drummond et al., 2006; Chuah et al., 2006).

Os nossos resultados demonstraram que uma noite com privação total de sono provocou um aumento

médio do número de erros de comissão cometidos na realização desta tarefa, em linha com estudos

similares que registam um aumento significativo deste tipo de erros após aproximadamente 24 horas de

privação de sono (Drummond et al., 2006; Chuah et al., 2006).

Analisamos igualmente os tempos de reacção das respostas certas ao estímulo Nogo (o número 0). O

nosso objectivo consistia em perceber se a privação de sono afectava significativamente a rapidez com

que era realizada uma resposta motora alternativa. Os resultados demonstram que tal não sucede, com

os participantes a alterarem a sua resposta à mesma velocidade, independentemente de terem dormido

na noite anterior. Adicionalmente, verificamos que os erros de comissão também não apresentaram

diferenças a este nível.

5.1.3 Efeito da sesta

Vários estudos têm demonstrado que sestas diurnas de curta duração (inferiores a 30 minutos) têm um

efeito benéfico na manutenção dos níveis de vigília durante o dia e no desempenho cognitivo (Gillberg

et al., 1996; Hiyashi et al, 1999; Takahashi e Arito, 2000). Contrariamente, sestas longas nestes

contextos estão associadas a perda de produtividade e a inércia do sono (Lubin et al., 1976), a qual

ocorre logo após o indivíduo acordar e se traduz numa lentificação no desempenho de várias tarefas

cognitivas, sendo a sua severidade dependente do tipo de tarefa realizada (Tassi e Muzet, 2000).

Os nossos resultados mostraram que a sesta não provocou alterações significativas na eficácia dos

participantes. No contexto da inibição de respostas, um estudo recente realizado em pessoas que dormem

sestas regulares de 30-40 minutos evidenciou que a ausência das mesmas provocava um aumento

significativo de erros numa tarefa Go-Nogo independentemente do nível de dificuldade aplicada (Ru et

al., 2017). A ausência de significância dos nossos resultados pode dever-se à hora a que a sesta foi

realizada. Os participantes dormiram a sesta por volta das 17:30, 1 hora e meia depois da hora

34

considerada óptima para a realização da mesma (15 horas) (Dhand e Sohal, 2006), contribuindo

possivelmente para a ocorrência de períodos de sono mais curtos e menos profundos, reduzindo o efeito

benéfico da mesma.

5.2 Conectividade entre áreas cerebrais

5.2.1 Efeito da tarefa experimental

A realização da tarefa experimental provocou um aumento selectivo da conectividade entre as regiões

occipitais inferiores e as regiões situadas nas áreas pré-motoras da zona mesial dos lobos frontais quando

comparado com a variação da conectividade Parieto-Frontal. As regiões occipitais fazem parte de áreas

corticais de associação visual que rodeiam o córtex visual primário, sendo responsáveis pela

interpretação de sinais e reconhecimento da sua forma, enquanto que as áreas da zona mesial fazem

parte da Área Pré-suplementar Motora, que aparenta ser fundamental para a preparação e selecção de

respostas, incluindo seleccionar a inibição de uma resposta motora.

Evidências electrofisiológicas, imagiológicas e envolvendo lesões cerebrais têm demonstrado a

importância desta área cerebral na inibição de respostas. Em 1994, Lim e os seus colaboradores

revelaram que a aplicação de estimulação eléctrica de baixa intensidade na Área Pré-suplementar

Motora provocava uma supressão da actividade motora. Observações em estudos de ressonância

magnética funcional empregando a tarefa Go-Nogo, registam frequentemente activações desta área

associadas a situações de inibição (Garavan et al., 2006; Mostofsky et al., 2003), distinguindo, no

entanto. a actividade relacionada com a resposta automática (Go) localizada na Área Suplementar

Motora, da referente à inibição de resposta (Nogo) presente na Área Pré-suplementar Motora (Mostofsky

et al., 2003). Por último, estudos envolvendo a análise de lesões cerebrais têm associado um aumento

no número de erros de comissão a lesões na Área Pré-suplementar Motora (Drewe, 1975; Picton et al.,

2007).

Medições electrofisiológicas também realçam a importância desta área cerebral na selecção de respostas.

Em 2007, Isoda e Hikosaka verificaram que, numa tarefa de selecção de respostas em macacos Rhesus

que exigia a mudança de uma resposta automática para outra mais controlada, esta área cerebral era

sempre activada independentemente do tipo de resposta dado. No entanto, a ocorrência de respostas

incorrectas provocava uma activação mais tardia, sugerindo que esta ocorria demasiado tarde para

prevenir as mesmas. Adicionalmente, estes autores observaram que, ao aplicar microestimulação na

Área Pré-suplementar Motora aquando do aparecimento do aviso, a mudança de resposta era facilitada,

indicando que uma activação imediata desta área cerebral será essencial para a selecção de uma resposta

apropriada.

O aumento da conectividade Occipito-Frontal em relação ao estado de repouso no nosso protocolo Go-

Nogo com resposta alternativa é assim compatível com as evidências conhecidas para o papel das duas

regiões neste tipo de tarefa experimental.

35

5.2.2 Efeito da privação de sono

A privação de sono provocou um marcado aumento da conectividade Parieto-Frontal em relação à

Occipito-Frontal, originando uma diferença significativa entre os valores destas conectividades.

Adicionalmente, a variação da conectividade Parieto-Frontal encontra-se negativamente correlacionada

com a percentagem de erros de comissão cometidos, ou seja, os participantes com privação de sono que

conseguem aumentar mais esta conectividade, obtêm um menor número de respostas erradas. O reforço

da conectividade Parieto-Frontal parece assim funcionar como um mecanismo compensatório dos

efeitos da privação de sono na capacidade de monitorização dos lobos frontais.

A activação das regiões frontais e parietais é particularmente susceptível à privação de sono em tarefas

de memória de trabalho (Chee e Choo, 2004; Choo et al., 2005, Chee et al., 2006), com diminuições

mais acentuadas a nível do córtex parietal (Mu et al., 2005b). Além disso, a magnitude de activação

destas regiões no estado de repouso é aparentemente preditivo de um declínio no desempenho na

realização das tarefas (Mu et al., 2005a; Chee et al., 2006), assim como do modo como as regiões

respondem em privação de sono (Lythe et al., 2012). Neste âmbito, a região frontal apresenta

variabilidade no nível de activação durante o desempenho em privação de sono reflectindo

provavelmente um mecanismo compensatório (Chee et al., 2006).

No contexto de inibição de respostas, observa-se um efeito semelhante a nível da região frontal. Em

2006, Chuah e os seus colaboradores, utilizaram ressonância magnética funcional para mostrar que 24

horas de privação de sono resultavam num decréscimo da actividade tónica decorrente da realização de

uma tarefa Go-Nogo, nas regiões pré-frontais anterior e ventral. No entanto, verificaram que quando

ocorriam inibições bem-sucedidas, surgiam activações fásicas no córtex pré-frontal ventrolateral direito,

que variavam de acordo com a eficiência inibitória dos indivíduos. Uma maior eficiência aparentava

estar relacionada com uma maior capacidade de recrutar esta área cerebral, actuando assim como um

mecanismo compensatório à privação de sono em indivíduos menos vulneráveis à mesma. Por outro

lado, os indivíduos vulneráveis registavam uma maior activação basal nessa região, sugerindo que tal

seria necessário para apresentarem um desempenho satisfatório na tarefa Go-Nogo.

Mais recentemente, a análise da conectividade anatómica tem suportado a importância das regiões

frontais e parietais no desempenho comportamental em privação de sono. Em 2015, Cui e os seus

colaboradores, utilizando Tensor de difusão e Tractografia probabilística verificaram que a integridade

da microestrutura dos feixes de fibras de matéria branca que conectam as regiões frontais e parietais se

encontrava positivamente correlacionada com a resistência dos indivíduos à privação de sono, não

observando qualquer outra correlação com feixes de fibras presentes noutras regiões cerebrais.

Os nossos resultados apontam para um mecanismo compensatório semelhante ao nível da inibição de

respostas, no qual estas regiões frontais e parietais apresentam uma maior conectividade entre si nos

participantes menos vulneráveis à privação de sono, fazendo com que mantenham aproximadamente o

mesmo nível de eficácia na realização da tarefa experimental.

36

5.2.3 Efeito da sesta

A realização de uma sesta provocou uma diminuição da conectividade Parieto-Frontal, reduzindo

significativamente a sua diferença em relação à conectividade Occipito-Frontal.

Este resultado possui especial relevância, pois parece indicar uma diminuição do reforço desta

conectividade em comparação com a Occipito-Frontal, sugerindo que após uma sesta, os participantes

menos vulneráveis à privação de sono necessitam de um menor aumento da conectividade Parieto-

Frontal, de modo a manter o mesmo nível de eficácia na realização da tarefa experimental.

37

6. CONCLUSÕES

A realização da tarefa experimental revelou uma elevada variabilidade no desempenho dos participantes,

após uma noite de privação total de sono, observando-se uma tendência marcada de diminuição da

eficácia (aumento dos erros de comissão), mas não dos tempos de reacção.

No que concerne à conectividade funcional, os participantes que apresentaram um menor declínio no

desempenho após a privação de sono, registaram maiores aumentos da conectividade Parieto-Frontal

em comparação com as restantes conectividades, sugerindo a existência de um mecanismo

compensatório em relação ao efeito produzido pela privação de sono.

Neste contexto, a realização de uma sesta não produziu efeitos relevantes no desempenho dos

participantes, verificando-se, todavia, uma redução da conectividade Parieto-Frontal, indicando que os

participantes menos vulneráveis à privação de sono necessitam de um menor reforço desta conectividade

após uma sesta, de modo a manter aproximadamente o nível de eficácia.

38

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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45

8. ANEXOS

Anexo 1 – Percentagem de erros cometidos sem e com privação de sono e respectiva normalização antes da sesta.

Participante sem privação com privação Normalização

P1 33,9% 29,2% -13,7%

P2 3,0% 3,0% 0,0%

P3 34,5% 37,2% 7,9%

P4 25,6% 30,7% 20,1%

P5 18,6% 31,1% 67,1%

P6 10,7% 16,8% 56,1%

Média 21,0% 24,7% 22,9%

Anexo 2 – Tempos de reacção (em milissegundos) das respostas correctas, erradas e respectivos desvios-padrões

dos participantes sem e com privação de sono. TR – tempo de reacção; DP – desvio-padrão.

Sem Privação

Média TR correcta (ms) DP Média TR errada (ms) DP

P1 398,97 48,73 239,85 46,55

P2 332,12 56,34 310,00 56,24

P3 328,08 51,56 199,86 41,69

P4 355,88 58,80 278,46 34,33

P5 391,38 65,91 332,56 83,06

P6 382,91 62,38 258,63 87,92

Média 364,89 57,29 269,89 58,30

46

Com Privação

Média TR correcta (ms) DP Média TR errada (ms) DP

P1 398,10 54,96 259,84 93,16

P2 319,65 48,05 280,67 37,63

P3 320,02 43,86 202,71 26,15

P4 379,98 75,34 288,13 33,64

P5 378,47 75,12 289,80 82,53

P6 380,53 70,89 252,57 62,27

Média 362,79 61,37 262,29 55,90

Anexo 3 – Percentagem de erros cometidos pelos participantes com privação de sono antes e após a sesta.

Participante Pré-sesta Pós-sesta Diferença

P1 29,2% 27,0% -2,3%

P2 3,3% 4,4% 1,1%

P3 37,2% 33,5% -3,7%

P4 30,7% 30,1% -0,6%

P5 31,1% 27,5% -3,6%

P6 16,8% 15,0% -1,7%

Média 25% 23% -2%

Desvio-Padrão 12% 11% 2%

47

Anexo 4 – Anova de três vias para o efeito da tarefa experimental sobre a conectividade das regiões cerebrais seleccionadas.

FreqRange – bandas espectrais; parROI – pares de ROI; passiva/activa – condição passiva e activa; DF – graus de liberdade.

DF Sum of Squares Mean Square F Value P Value

FreqRange 3 0,03156 0,01052 0,22893 0,87615

parROI 3 3,88191 1,29397 28,15874 1,13E-14

Passiva/Activa 1 0,00801 0,00801 0,17427 0,6769

FreqRange * parROI 9 0,22928 0,02548 0,55438 0,83258

FreqRange *

Passiva/Activa 3 0,04596 0,01532 0,3334 0,8012

parROI *

Passiva/Activa 3 0,20555 0,06852 1,491 0,21905

FreqRange * parROI *

Passiva/Activa 9 0,10618 0,0118 0,25675 0,98479

Model 31 4,50845 0,14543 3,16486 1,21E-06

Error 160 7,35243 0,04595 0 0

Corrected Total 191 11,86088 0 0 0

Anexo 5 – Anova de três vias para o efeito da privação de sono sobre a conectividade das regiões cerebrais seleccionadas.

FreqRange – bandas espectrais; parROI – pares de ROI; DF – graus de liberdade.

DF Sum of Squares Mean Square F Value P Value

FreqRange 3 0,03278 0,01093 0,20966 0,8896

parROI 3 5,54402 1,84801 35,45989 0

Privacao 1 0,25085 0,25085 4,81339 0,02968

FreqRange * parROI 9 0,3004 0,03338 0,64046 0,76118

FreqRange * Privacao 3 0,01879 0,00626 0,12021 0,94811

parROI * Privacao 3 0,1685 0,05617 1,07775 0,36023

FreqRange * parROI *

Privacao 9 0,14015 0,01557 0,29881 0,97421

Model 31 6,4555 0,20824 3,99578 4,11E-09

Error 160 8,33847 0,05212 0 0

Corrected Total 191 14,79397 0 0 0

48

Anexo 6 – Anova de três vias para o efeito da sesta sobre a conectividade das regiões cerebrais seleccionadas. FreqRange –

bandas espectrais; parROI – pares de ROI; DF – graus de liberdade.

DF Sum of

Squares

Mean

Square F Value P Value

FreqRange 3 0,02909 0,0097 0,16228 0,9216

parROI 3 5,94396 1,98132 33,15924 1,11E-16

Sesta 1 0,03521 0,03521 0,58924 0,44384

FreqRange * parROI 9 0,25663 0,02851 0,47722 0,88836

FreqRange * Sesta 3 0,02705 0,00902 0,1509 0,92899

parROI * Sesta 3 0,24223 0,08074 1,35131 0,25975

FreqRange * parROI

* Sesta 9 0,10021 0,01113 0,18635 0,99532

Model 31 6,63438 0,21401 3,5817 6,90E-08

Error 160 9,56027 0,05975 0 0

Corrected Total 191 16,19465 0 0 0

49

Anexo 7 – Parecer da Comissão Científica e Pedagógica do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa.