estudo da conciencia dos arquetipos e seu reflexo no desenvolvimento humano e organizacional

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Anais do 4º Congresso Brasileiro de Sistemas – Centro Universitário de Franca Uni-FACEF – 29 e 30 de outubro de 2008 O ESTUDO DA CONSCIÊNCIA, DOS ARQUÉTIPOS E SEUS REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO E ORGANIZACIONAL Autores: LÉO TEOBALDO KROTH (UFSC) , ADRIANO CARLOS RIBEIRO (UFSC), CLÁUDIO HENRIQUE SCHONS (UFSC), FERNANDO REICHERT (UFSC) E RAFAEL AMARAL DE LIMA (UFSC) RESUMO: O presente artigo apresenta as tendências de concepção de organizações que convergem para a personalidade, o comportamento e as relações entre as pessoas. Por meio de pesquisa bibliográfica, foram descritas as teorias de Ken Wilber e Erich Neumann sobre o desenvolvimento humano e das organizações. Num primeiro momento, será exposto um breve apanhado da história das organizações, com base deste conhecimento, estudaremos as duas visões de desenvolvimento humano proposto por Wilber e Neumann. Desta forma analisaremos os estágios pré-pessoais propostos por Wilber e aplicabilidade da sua base teórica nas organizações conteporrâneas. No final do trabalho, são feitas algumas propostas hipotéticas de aplicação das idéias desses autores da psicanálise nas organizações, visando à melhoria dos relacionamentos humanos e obtenção de um maior desempenho empresarial. Palavras-chave: Organizações, Ken Wilber, Erich Neumann. ABSTRACT: This article presents the trends of development of organizations that converge to the personality, behavior and relationships between people. Through literature search, were described the theories of Ken Wilber and Erich Neumann on human development and organizations. Initially, it will be explained a brief overview of the history of organizations, based on this knowledge, study the two visions of human development proposed by Wilber and Neumann. Thus we will analyze the pre-personal training proposed by Wilber and applicability of its theoretical basis in conteporrâneas organizations. At the end of the work are hypothetical made some proposals for implementing the ideas of these authors of psychoanalysis in organizations, aiming at the improvement of human relationships and achieving a higher business performance. Keywords: Organizations, Ken Wilber, Erich Neumann.

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O presente artigo apresenta as tendências de concepção de organizações que convergem paraa personalidade, o comportamento e as relações entre as pessoas. Por meio de pesquisabibliográfica, foram descritas as teorias de Ken Wilber e Erich Neumann sobre odesenvolvimento humano e das organizações. Num primeiro momento, será exposto um breveapanhado da história das organizações, com base deste conhecimento, estudaremos as duasvisões de desenvolvimento humano proposto por Wilber e Neumann. Desta formaanalisaremos os estágios pré-pessoais propostos por Wilber e aplicabilidade da sua baseteórica nas organizações conteporrâneas. No final do trabalho, são feitas algumas propostashipotéticas de aplicação das idéias desses autores da psicanálise nas organizações, visando àmelhoria dos relacionamentos humanos e obtenção de um maior desempenho empresarial.

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  • Anais do 4 Congresso Brasileiro de Sistemas Centro Universitrio de Franca Uni-FACEF 29 e 30 de outubro de 2008

    O ESTUDO DA CONSCINCIA, DOS ARQUTIPOS E SEUS REFLEXOS NO

    DESENVOLVIMENTO HUMANO E ORGANIZACIONAL

    Autores: LO TEOBALDO KROTH (UFSC) , ADRIANO CARLOS RIBEIRO (UFSC), CLUDIO HENRIQUE SCHONS (UFSC), FERNANDO REICHERT (UFSC)

    E RAFAEL AMARAL DE LIMA (UFSC)

    RESUMO: O presente artigo apresenta as tendncias de concepo de organizaes que convergem para a personalidade, o comportamento e as relaes entre as pessoas. Por meio de pesquisa bibliogrfica, foram descritas as teorias de Ken Wilber e Erich Neumann sobre o desenvolvimento humano e das organizaes. Num primeiro momento, ser exposto um breve apanhado da histria das organizaes, com base deste conhecimento, estudaremos as duas vises de desenvolvimento humano proposto por Wilber e Neumann. Desta forma analisaremos os estgios pr-pessoais propostos por Wilber e aplicabilidade da sua base terica nas organizaes conteporrneas. No final do trabalho, so feitas algumas propostas hipotticas de aplicao das idias desses autores da psicanlise nas organizaes, visando melhoria dos relacionamentos humanos e obteno de um maior desempenho empresarial. Palavras-chave: Organizaes, Ken Wilber, Erich Neumann.

    ABSTRACT: This article presents the trends of development of organizations that converge to the personality, behavior and relationships between people. Through literature search, were described the theories of Ken Wilber and Erich Neumann on human development and organizations. Initially, it will be explained a brief overview of the history of organizations, based on this knowledge, study the two visions of human development proposed by Wilber and Neumann. Thus we will analyze the pre-personal training proposed by Wilber and applicability of its theoretical basis in conteporrneas organizations. At the end of the work are hypothetical made some proposals for implementing the ideas of these authors of psychoanalysis in organizations, aiming at the improvement of human relationships and achieving a higher business performance. Keywords: Organizations, Ken Wilber, Erich Neumann.

  • Anais do 4 Congresso Brasileiro de Sistemas Centro Universitrio de Franca Uni-FACEF 29 e 30 de outubro de 2008

    INTRODUO

    Atualmente, existe uma grande preocupao dos pesquisadores em avaliar e compreender as organizaes. Muitas idias de concepo e anlise das organizaes foram construdas ao longo do tempo, adotando-se diferentes vises, como a mecanicista e a biolgica. Neste trabalho, as organizaes sero consideradas como fenmenos psquicos criados por processos conscientes e inconscientes que geram imagens, idias, pensamentos e aes e que podem confinar ou aprisionar seus membros. Os pensamentos de dois grandes estudiosos do tema do desenvolvimento humano, Ken Wilber e Erich Neumann, so usados como fonte de inspirao na busca de alternativas de soluo para os problemas relacionais das organizaes. No que diz respeito metodologia, trata-se de um artigo de reviso, de carter exploratrio e de natureza qualitativa, ao qual utilizou-se como subsdio, fontes primrias como artigos.

    1. DESENVOLVIMENTO

    1.1A histria das organizaes e o desenvolvimento humano Anteriormente ao advento da revoluo industrial, os processos de produo eram

    basicamente artesanais, com forte participao humana. Isso fazia com que houvesse grande interao entre as pessoas, os processo produtivos, os produtos resultantes e os prprios consumidores.

    A partir de 1776, com a inveno da mquina a vapor por James Watt (1736-1819) e a sua posterior aplicao produo, uma nova concepo de trabalho veio modificar completamente a estrutura social e comercial da poca, provocando profundas e rpidas mudanas de ordem econmica, poltica e social que, num lapso de aproximadamente um sculo, foram maiores do que as mudanas havidas no milnio anterior. o perodo chamado Revoluo Industrial, que se iniciou na Inglaterra e rapidamente se alastrou por todo o mundo civilizado. Oportuno destacar que a mquina de vapor foi para a primeira revoluo industrial o que o computador representou para a revoluo da informao.

    Adam Smith d como exemplo uma fbrica de alfinetes. Um nico operrio, no existindo

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    diviso de trabalho, dificilmente conseguir fabricar 20 alfinetes. Se, porm, o fabrico de alfinetes for segmentado em tarefas (cerca de 18 operrios), executadas por pessoas diferentes, possvel fabricar centenas ou, mesmo milhares de alfinetes por operrio (TACHIZAWA et al, 2001).

    A revoluo industrial tambm teve grande impacto sobre a famlia. Essa era a unidade de produo at ento, com o marido, a mulher e os filhos trabalhando juntos na fazenda e na oficina do arteso. De acordo com Motta (1999) a Revoluo Industrial marcou a diferena mais fundamental na histria da produo e de sua gesto: alterou no s a forma de organizar e produzir, mas tambm a vida das pessoas. Ainda segundo este autor, a singularidade encontra-se na prpria evoluo: instabilidades, revolues ou desordens so acidentes ou obstculos a serem ultrapassados. So naturais a eroso existente e a emergncia de novos valores e prticas sociais.

    Atualmente, percebe-se uma busca por produtos e servios diferenciados, com enfoque social, ambiental e humano. Para Guattari, apud Fialho et al (2008, p.19), temos trs ecologias, e que devemos agir no mundo seguindo uma tica ecosfica, que significa a articulao entre os trs registros ecolgicos: o meio ambiente Gaia o tecido social Socius e a ecologia humana Anthropos.

    Para Morgan (2007), os cientistas produziram interpretaes mecanicistas do mundo natural, filsofos e psiclogos articularam teorias mecanicistas da mente e do comportamento humano. As organizaes so burocratizadas devido ao pensamento mecanicista que fundamenta o delineamento estrutural das organizaes. Por isso, a maioria das organizaes opera mecanicamente, com rotinas, eficincia, confiabilidade ou previsibilidade. Mas para que as organizaes possam ser assim, as pessoas que as constituem, as estruturas que as

    formam, agem de maneira mecanizada.

    Somente a partir dessa compreenso podero ocorrer mudanas, pois no se consegue transformar uma organizao a partir dela mesma, seno pela perspectiva comportamental das pessoas que dela fazem parte. Morgan (2007) inclusive, afirma que Frederic Taylor, o criador da administrao cientfica, tinha uma personalidade. de alguma forma, perturbada, tendo a reputao de maior inimigo do trabalhador.

    esse tipo de organizaes que queremos? dessa forma que as pessoas sonham ou querem se comportar?

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    Para podermos entender as mudanas que se processam nas pessoas e nas organizaes, precisamos compreender as relaes existentes entre elas e no seu interior. O comportamento das organizaes reflete o comportamento das pessoas que as constituem. Por isso, se quisermos que uma organizao se transforme de mecanicista para humanista precisamos primeiramente compreender a lgica do pensamento das pessoas que a estruturaram e que a comandam, lideram e operam.

    1.2 Wilber e Neumann: duas vises do desenvolvimento humano Ken Wilber e Erich Neumann so dois expoentes na contribuio ao estudo do

    desenvolvimento humano. O primeiro filsofo, nascido em Oklahoma City, nos EUA, em 1949, e o segundo era um analista jungiano nascido em Berlin, na Alemanha, em 1905.

    Suas diferentes trajetrias de vida produziram dois grandes acervos de conhecimentos sobre o tema, com diferentes linhas de desenvolvimento devido aos relacionamentos e o acesso aos trabalhos de outros pesquisadores.

    Wilber desenvolveu um modelo do desenvolvimento do self caractersticas da personalidade - baseado em investigaes e tratamentos clnicos de patologias psquicas que seriam resultantes de falhas na organizao estrutural desse self durante os primeiros anos de desenvolvimento do indivduo (WILBER, 1986). Ele baseou-se no s em pesquisadores como Heinz Kohut, que iniciou a corrente da psicologia do self, mas tambm em Jean Piaget e Melanie Klein, entre outros, para descrever as estruturas mais primitivas do psiquismo humano referentes aos estgios iniciais do seu desenvolvimento, denominados por ele de estgios pr-pessoais e pessoais (WILBER, 2001).

    Neumann, por sua vez, considerava as patologias psquicas como resultado de desvios do ser humano das atitudes bsicas naturais que deveria assumir em estgios iniciais de desenvolvimento de sua conscincia, em funo de contedos arquetpicos recebidos de forma transpessoal (NEUMANN, 2003).

    Na pgina seguinte apresentado o modelo do ciclo da vida de Wilber que ilustra os estgios de evoluo da conscincia sendo que at o do ego maduro existe relao com os estgios de desenvolvimento da conscincia de Neumann. O arco externo, que o caminho que conduz o indivduo do subconsciente autoconscincia, abrange a maioria dos estgios que sero considerados neste artigo.

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    1.3 Os estgios pr-pessoais e pessoais de Wilber

    No primeiro estgio, o do eu pleromtico, o indivduo ainda um feto ou um recm-nascido, e nesta fase no existem objetos de qualquer espcie o eu e o ambiente fsico so um s e a mesma coisa. O indivduo percebe o que acontece sua volta, mas no a si mesmo. O universo est focado no eu.

    No segundo estgio, o urobrico, que representado pela serpente mtica que, comendo a prpria cauda - uroboros, constitui uma massa auto-suficiente, pr-diferenciada, em estado bruto, ignorante de si mesma. O beb sente que basta desejar algo para t-lo. O indivduo sente um medo primordial e opressivo, somente por reconhecer um outro, um medo de ser engolido, engolfado e aniquilado pelo outro urobrico (muitas vezes na forma do seio mau); como a uroboros pode engolir o outro, teme para si o mesmo destino, desenvolvimento cognitivo nos estgios iniciais da esfera sensrio-motora.

    FIGURA 1 O ciclo da vida Fonte: Wilber ( 2001, p. 19)

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    No terceiro estgio, o do eu tifnico, que representado pela figura mitolgica metade humana e metade serpente - tifon, o indivduo passa por trs sub-estgios: o do corpo axial, em que percebe o corpo fsico como diferente do ambiente fsico e reconhece apenas objetos presentes, o do corpo prnico, em que vive emoes prprias e rpidas, passando a ser regido pelo princpio do prazer-desprazer e o impulso da sobrevivncia imediata, e o do corpo imagem, em que est envolvido em aspectos do nvel axial-prnico, anal e flico, e passa a criar imagens mentais; os objetos podem ser imaginados; o primeiro objeto de todo indivduo a me.

    No qua rto estgio, de afiliao-cognio - o eu da afiliao surge a linguagem. A estrutura profunda de qualquer linguagem inclui uma determinada sintaxe de percepo e, na medida em que adquire a estrutura profunda de sua lngua materna, o indivduo aprende a fazer uma sntese mental de um determinado tipo de realidade descritiva e, assim, perceb-la como se estivesse incorporada na prpria estrutura da lngua, a estrutura de sua lngua a estrutura de seu eu e o limite de seu mundo. Chegamos ento fase mgica, na qual a experincia animista ainda perdura, porm com um importante acrscimo: o ser humano adquiriu o poder da linguagem e de outros smbolos. No entanto, a diferena entre o smbolo e o que ele representa. Assim o smbolo (p. ex., o nome ou outra imagem) a coisa, e a manipulao da imagem simblica como descrever o nome da coisa com a devida cerimnia, realar os animais que sero caados, e assim por diante confere poder sobre os objetos em questo. O selvagem, o beb e o neurtico regredido tm uma srie infindvel de rituais para exercer esse controle mgico. A criana aprende a transformar e assim criar seu fluxo de percepes de acordo com a descrio do grupo ao qual filiada. O aparecimento da mente verbal simplesmente um exemplo clssico de uma estrutura superior que tem a possibilidade de reprimir todas as inferiores, e isso pode levar s mais desastrosas conseqncias com a linguagem. O indivduo pode, pela primeira vez, criar uma representao de uma srie ou seqncia de fatos, comeando a construir um mundo de enorme extenso temporal.

    O indivduo adquire a noo de passado e futuro. A fala acelera o pensamento consciente e a conseqente capacidade de retardar a descarga motora. Neste estgio o eu aprende a dividir um amplo contedo em aspectos parciais, vivenciando-os aos poucos, um aps outro, isto , em sucesso linear, no tempo. Atravs da linguagem e suas estruturas

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    simblicas, sujeitas ao tempo, pode-se adiar a descarga imediata e impulsiva de impulsos biolgicos simples. O indivduo j no est totalmente dominado pelas exigncias do instinto, mas pode, at certo grau, transcend-las. Isso significa, simplesmente, que o eu est comeando a diferenciar-se do corpo e a surgir como um ser mental ou verbal ou sinttico. medida que o eu mental faz sua apario e se diferencia do corpo (com auxlio da linguagem), ele transcende o corpo e, assim, pode atuar sobre ele usando como instrumentos suas prprias estruturas mentais (pode retardar as descargas imediatas do corpo e adiar as gratificaes instintivas usando inseres verbais). Ao mesmo tempo, isso permite o incio da sublimao das energias sexuais-emocionais do corpo em atividades mais sutis, complexas e evoludas.

    No quinto estgio, do ego inicial e intermedirio/persona, o indivduo desloca sua identidade central da esfera tifnica para a esfera verbal e mental. O raciocnio linear, conceitual, abstrato, verbal e consensual penetra firmemente em todos os elementos da conscincia. O resultado final que o eu deixa de ser apenas uma auto-imagem ou constelao de auto-imagens passageiras e amorfas, ou uma simples palavra ou nome, para ser uma unidade de ordem superior de conceitos auditivos, verbais, dialgicos e sintticos, a princpio muito rudimentares e tnues, mas que se consolidam rapidamente. Enquanto a uroboros era um eu pr-pessoal, enquanto o tfon era um eu vegetal, enquanto o eu da afiliao era um eu de nome-e-palavra, a essncia do ego a idia do eu, o eu-conceito. O ego o conceito de si mesmo, ou uma constelao de conceitos de si mesmo, juntamente com as imagens, fantasias, identificaes, lembranas, subpersonalidades, motivaes, idias e informaes relativas ou ligadas ao conceito do eu separado. Assim, um ego saudvel, na expresso da psicanlise, um conceito do eu mais ou menos correto, que leva devidamente em conta as diversas tendncias, freqentemente discordantes, do ego cujo incio semelhante fase flica (ou locomotor-genital) da psicanlise. Tambm marca o aparecimento definitivo do superego propriamente dito. O superego um conjunto internalizado ou introjetado, auditivo, verbal-conceitual de sugestes, ordens, exigncias e proibies, em geral, assimiladas dos pais. No tanto o pai isoladamente, que internalizado, mas sim a relao entre o pai e o filho. Na medida em que o indivduo se identifica com seu ego (eu conceitual, de dilogo) ele fica preso ao roteiro ou programado pelas instrues internalizadas. Sob a influncia do superego e dependendo de todo o histrico dos nveis de desenvolvimento anteriores do eu, alguns afetos-conceitos so cindidos ou alienados,

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    permanecem indiferenciados ou esquecidos. O indivduo no fica com um conceito realista do eu, ou razoavelmente preciso e flexvel, mas com um conceito fraudulento, um eu idealizado, um ego fraco. Uma pessoa pode, e deve, possuir vrias personae a persona do pai, a persona do mdico, a persona do marido. A dificuldade comea quando uma determinada persona - o bom moo no agressivo - se fortalece e domina o campo da conscincia, de modo que outras personae legtimas - a persona da agresso saudvel ou da assertividade - no conseguem entrar na conscincia. Surge, assim, um ego mental razoavelmente coerente que se diferencia do corpo, transcende o simples mundo biolgico e que, portanto, pode, at certo ponto, atuar sobre o mundo biolgico usando os instrumentos do simples pensamento de representao. Toda essa tendncia se consolida com o aparecimento do que Piaget chama de pensamento operacional concreto um pensamento que pode atuar sobre o mundo concreto e sobre o corpo, usando conceitos.

    No sexto estgio, da adolescncia a etapa do ego tardio/persona - o eu comea a diferenciar-se do pensamento concreto. Ele pode, at certo ponto, transcender esse processo de pensamento e, portanto, atuar sobre ele. Piaget denomina esse estgio, o mais elevado, segundo ele, operacional formal, porque o indivduo pode atuar sobre o prprio pensamento concreto. Durante o perodo tardio do ego, alm de normalmente dominar suas diversas personae, o indivduo tambm comea a transcend-las, a desidentificar-se delas.

    Wilber chama a ateno para os smbolos de transformao, pois cada transformao efetuada, ou, no mnimo, acompanhada por algum tipo de estrutura simblica. Cita Neumann, para o qual o caminho da evoluo, que leva a humanidade da inconscincia para a conscincia, o caminho traado pelas transformaes e ascenso da libido - que na psicologia junguiana no a energia sexual, e sim a energia psquica neutra em geral.

    Conforme Jung, o mecanismo que transforma a energia o smbolo. Em cada fase da evoluo uma estrutura simblica adequada, que aparece naquele estgio, transforma cada modo especfico de tempo no seu sucessor e, dessa forma, d o ritmo da ascenso da conscincia. Transformaes semelhantes ocorrem na vida afetiva, motivacional e conativa do indivduo - transformaes indicam mudana de nvel, tradues indicam representaes diferentes em um mesmo nvel. Sempre que a traduo malogra, segue-se uma transformao, que pode ser regressiva ou progressiva. A traduo opera com signos, enquanto a transformao opera com smbolos.

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    Com a represso, porm, um aspecto do eu permanece em um nvel inferior, no consegue se transformar adequadamente. Portanto, entra na conscincia apenas como um smbolo e o indivduo traduz mal a verdadeira forma de sua realidade atual. Quando a agressividade do eu fortemente reprimida durante a transformao da esfera tifnica em esfera do ego, a ascenso da conscincia fica sustada com respeito a essa faceta do eu. Ou ento, dessa etapa em diante, o impulso da raiva ser mal transladado com respeito a qualquer estrutura profunda, que posteriormente recusar esse impulso. Essa m translao significa que o indivduo no consegue representar esses impulsos para si mesmo com signos adequados, mas apenas com smbolos e esses smbolos representam aspectos ocultos do eu que agora esto alojados em nveis inferiores de seu ser.

    O impulso de raiva reprimido pode ser diretamente mal traduzido ou deslocado para outras pessoas ou objetos. A raiva original tambm pode ser retrovertida ou transladada de volta para o eu, de modo que a pessoa j no sente raiva e sim depresso. Ou a raiva pode ser inteiramente projetada, ou transladada na origem para outra pessoa, deixando o projetor com sentimentos de temerosa ansiedade, visto que no ele, mas sim outra pessoa que agora parece ser hostil e estar zangada com ele. O sintoma da depresso no seno um smbolo do impulso da raiva agora inconsciente ou integrado sombra para o prprio indivduo, seu sintoma parece ser uma linguagem totalmente estranha. O sintoma da depresso causa-lhe total perplexidade. Nesse nvel, o terapeuta ajuda o indivduo a retraduzir o sintoma/smbolo para a forma original. Ele pode dizer: o seu sentimento de depresso sentimento mascarado de raiva e ira. A traduo, ou interpretao teraputica continua at ocorrer uma transformao autntica, de modo que o smbolo passa a ser signo e a raiva pode entrar na conscincia em sua forma original, o que, por assim dizer, elimina o sintoma.

    No stimo estgio, o do ego maduro, estgio tardio do indivduo, alm de normalmente dominar suas diversas personae, tende a diferenciar-se delas, a desidentificar-se delas, a transcend-las. Tende, assim, a integrar todas as suas possveis personae no ego maduro e comea, ento, a diferenciar-se dele, para descobrir, pela transformao, uma unidade de ordem superior ao eu egico.

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    Quadro 1: Elaborado pelos autores baseado em conceitos de Wilber (2001).

    Os estgios pr-pessoais e pessoais de Wilber

    Eu Estilo Cognitivo Clima afetivo Modo temporal Modo do eu

    Pleromtico Sem objeto, sem espao Incondicional Rudimentares Atemporal Matria prima

    Urobrico Medo Primordial Pr-temporal Pr-pessoal

    Axial Sentimento Medo, cobia...

    Corpo Imagem Emoes, desejos

    Afiliao Desejos temporais Razes da fora Passado e futuro

    Mental do Ego

    Centauro Auto-realizao Ser corpo mente total

    Fatores motivacionais

    Incio desenvolvimento sensrio motor

    Necessidades fisiolgicas

    Sobrevivncia imediata

    Concreto e momentneo

    Sensrio-motor, narcisista

    Complemento sensrio-motor

    Satisfao de desejos

    Presente expandido

    Imagem corporal no reflexa

    Verbal da Afiliao

    Senso de transitoriedade

    Pensamento operacional concreto e formal

    Culpa, desejo, orgulho, amor

    Autocontrole, auto-estima

    Linear, histrico, passado e futuro Vrias personae

    Sntese dos processos primrio e secundrio

    Compreenso, espontaneidade

    Ligado ao momento presente

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    1.4 As bases tericas de Neumann e Wilber

    Para Neumann, todos os estgios descritos anteriormente so estgios transpessoais, tendo-se baseado em pesquisadores de manifestaes msticas coletivas, de linguagens e smbolos usadas pela humanidade em diversos lugares e pocas, como Frazer, Deussen e Cassier (NEUMANN, 2003) , para justificar a sua teoria sobre o desenvolvimento humano, em que o indivduo experimentaria o mundo mediante arqutipos e estes, por sua vez, seriam resultantes do desenvolvimento psquico da humanidade ao longo de sua histria.

    A personalidade humana seria o produto das relaes entre o ego e os smbolos dos arqutipos. Segundo Neumann, o indivduo precisa passar por estgios arquetpicos e seus correspondentes simbolismos a cada fase de seu desenvolvimento biolgico, assim como os povos da humanidade passaram por estgios culturais. Ele cita a passagem do povo grego pela cultura cretense-micnica antes da mitologia grega como exemplo de desenvolvimento da conscincia coletiva de uma parte da humanidade e relaciona a mesma com a passagem de um simples ser humano pelos estgios regidos pelo arqutipo pr-histrico da Grande Me e pelo arqutipo da luta com o drago, estgios esses que so necessrios para que ele desenvolva a sua conscincia individual (ibid, 2003).

    Os mecanismos de projeo e introjeo so considerados tanto por Neumann como por Wilber. O primeiro entende que no incio da formao e desenvolvimento da personalidade humana, o indivduo introjeta contedos do exterior, uma vez que ele ainda est envolvido na psicologia inconsciente de seus pais, assim como, no nvel coletivo, os membros de um grupo ainda podem estar sendo dominados emocionalmente pelos contedos dominantes do inconsciente coletivo. O segundo, por seu lado, utiliza o termo introjeo nas relaes intersubjetivas baseando-se em psicanalistas como Ferenczi e Rank, e existencialistas como Becker, para explicar a tendncia natural do indivduo de identificar completamente seu eu com o seu corpo e depois elaborar conceitualmente o seu eu modelando-o a partir do eu de seus pais. Nesta segunda etapa o processo pessoal e relacional em que o indivduo est envolvido faria com que este recebesse dos seus pais as novas formas de traduo da realidade, to necessrias ao seu desenvolvimento inicial (WILBER, 2001).

    Wilber utiliza o conhecimento de Neumann como referncia na descrio de seu Projeto Atman e, baseando-se em Rank e Becker, at pensa como ele sobre a cultura, de que ela seria uma projeo de certos impulsos naturais dos seres humanos sobre objetos externos,

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    produzindo, desta forma, os smbolos. Mas, com relao aos sonhos e fantasias e seus significados, a concordncia no a mesma e prefere definir os primeiros estgios do desenvolvimento humano como pr-pessoais e pessoais em lugar de transpessoais.

    1.5 As organizaes nas vises de Wilber e Neumann

    Wilber utiliza a abordagem de Klein, uma de suas pesquisadoras de referncia, para a anlise das relaes objetais do indivduo na sua primeira infncia. Para ele, essa abordagem pode ser utilizada para compreender a estrutura, o processo, a cultura e, at mesmo, o ambiente de uma organizao, seja em termos de mecanismos de defesa desenvolvidos pelos seus membros para lidar com a ansiedade individual e coletiva provocada pelo medo da morte ou aniquilao, ou em outros termos (MORGAN, 1996, p. 222).

    O pensamento de Neumann tambm adotado por pesquisadores de organizaes como Ian I. Mitroff, da Universidade de Southern Califrnia, dos EUA, para quem existe um carter mitolgico no s para todas as partes da psique do indivduo, mas tambm para as partes de uma estrutura social (MITROFF, 1983, p. 86). As projees conscientes e inconscientes de estados psquicos, que so comuns nos indivduos durante o desenvolvimento de seus self, podem se reproduzir nas organizaes. Assim, da mesma forma que uma pessoa possui aspectos menos dominantes de sua personalidade na inconscincia, ou sombra, uma organizao pode apresentar projees de diferentes tipos psicolgicos. Por exemplo, um grupo de funcionrios de uma organizao pode reproduzir uma situao tpica de uma famlia nuclear, que a do Complexo de dipo.

    O lder considerado como o pai e o grupo ou subgrupo como a me. Do mesmo modo como ocorre na famlia, surge inicialmente um conflito entre os membros do grupo ou subgrupo e o lder e depois a incluso do lder no grupo por mecanismos de introjeo. Os grupos normalmente esto repletos de assunes mitolgicas sobre eles mesmos, e tanto os seus membros como os seus lderes fazem uso de fantasias e atividades ritualsticas. Nesta linha de raciocnio, patologias organizacionais podem surgir quando os mitos e smbolos da cultura organizacional no atendem as necessidades arquetpicas de seus membros.

    O pensamento de Wilber dirigido s relaes de poder, pois ele sempre faz referncia a processos de negociao quando o self se diferencia de diferentes objetos

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    percorrendo os estgios de desenvolvimento de sua estrutura (WILBER, 1986), e as organizaes tambm podem ser analisadas sob essa tica desde que as tratemos como estruturas hierrquicas de relacionamento (VELLOSO, 2000).

    Tomando-se como referncia novamente a famlia nuclear, de forma similar uma organizao pode apresentar reprodues atitudinais neurticas, cujo tratamento vai requerer uma psicoterapia organizacional ou de grupo (DION, 1975). As reprodues neurticas so obstculos relacionais que criam posturas defensivas entre os membros de uma organizao, levando-os a antagonizarem-se mutuamente. Segundo a linha wilberiana de abordagem do desenvolvimento humano, a soluo deste tipo de problema viria pelo treinamento e manejo das relaes interpessoais dentro do grupo, fazendo com que seus membros aprendam a compreender que os seus sofrimentos so de origem psicolgica e iniciem um processo de reviso de suas atitudes.

    1.6 Aplicao das teorias de Wilber e Neumann nas organizaes Considerando-se uma organizao como um self, que precisa desenvolver-se para ter

    uma crescente autonomia e capacidade de discernimento e de deciso para conseguir atingir objetivos empresariais cada vez maiores, faremos algumas propostas hipotticas de uso das idias de Wilber e de Neumann na melhoria do desempenho das organizaes.

    Segundo o pensamento de Neumann, as figuras dos arqutipos podem ser usadas para entender melhor o funcionamento de certos mecanismos utilizados pelas organizaes para serem mais produtivas e competitivas, como o do financeiro, o de direitos autorais, o do planejamento corporativo e outros. Por meio de aes promovidas pelas estruturas dessas organizaes, pode ser facilitado o aparecimento de arqutipos nas personalidades dos seus membros, que so interessantes para a obteno dos seus objetivos.

    Se uma organizao atua num meio competitivo e precisa desenvolver um mecanismo de engenharia de processo de negcios, por exemplo, conveniente que ela crie ou fortalea o arqutipo do heri na personalidade de seu pessoal para que a figura correspondente a esse arqutipo esteja presente na narrativa da competio com suas caractersticas inovadoras e empreendedoras (MATTHEWS, 2002).

    Wilber compara as crises entre os membros de uma organizao s crises que um indivduo precisa superar para desenvolver a estrutura do seu self, como os medos da morte e

  • Anais do 4 Congresso Brasileiro de Sistemas Centro Universitrio de Franca Uni-FACEF 29 e 30 de outubro de 2008

    do aniquilamento. A partir deste ponto de vista, provocar certos confrontos entre os membros da organizao passa a ser interessante, uma vez que, pela aprendizagem, os mesmos podem superar certos estgios de desenvolvimento de seus relacionamentos, resultando no desenvolvimento da psique da prpria organizao. Nestes confrontos, os medos interiores, que foram desenvolvidos na infncia, viro tona e, por meio de uma terapia grupal supervisionada por um profissional especializado, podero ser superados (MORGAN, 2007; DION, 1975).

    CONCLUSO Para que as organizaes se desenvolvam e consigam superar as dificuldades que encontram num ambiente externo competitivo, preciso que as mesmas atinjam um elevado grau de coeso corporativa e, para isso, espera-se que os relacionamentos entre os seus membros sejam harmnicos e cooperativos. A partir das teorias de Wilber e Neumann sobre o desenvolvimento humano e organizacional podemos identificar as causas dos problemas psquicos nas organizaes e propor solues para a falta de desempenho relacional adequado. Aprofundando o conhecimento sobre certas perturbaes de origem psicolgica, seja pelo caminho do desenvolvimento estrutural do self, seja pelo caminho da evoluo arquetpica da conscincia, problemas aparentemente insolveis das organizaes podero ser diludos pela simples compreenso dos fenmenos envolvidos ou resolvidos por aes estratgicas que facilitem as mudanas para situaes melhores.

    REFERNCIAS FIALHO, F. A. P.;. Gesto da Sustentabilidade na Era do Conhecimento. Florianpolis: Visual Books, 2008. MATTHEWS, R. Competition archetypes and creative imagination. Journal of Organizational Change Management. Vol. 15, n. 5, p. 461-476, 2002. MITROFF, I. I. Stakeholders of the Organizational Mind. San Francisco: Jossey-Bass, 1983. MORGAN, G. Imagens da Organizao. So Paulo: Atlas, 2007. MOTTA, P. R. Transformao Org. A Teoria e a Prtica de Inovar. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. NEUMANN, E. Histria da Origem da Conscincia. So Paulo: Cultrix, 2003.

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    TACHIZAWA, T.; CRUZ JNIOR, J. B. da, ROCHA, J. A. de O. Gesto de Negcios: Vises e Dimenses Empresariais da Organizao. So Paulo: Atlas, 2001. VELLOSO, G. Em busca da cura das tendncias patolgicas nas interaes profissionais com base em Biossntese e Terapia Organizacional.. So Paulo, 2000. WILBER, K. Transformaes da Conscincia O espectro do desenvolvimento humano. So Paulo: Cultrix, 1986. WILBER, K. O Projeto Atman. Barcelona: Kairs, 2001.