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1 ESTRATÉGIA PARA INICIAR/AMPLIAR A COMUNICAÇÃO VERBAL EM ALUNOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL LUCINEI MAZZER DE OLIVEIRA RAMOS 1 RESUMO A comunicação oral representa uma complexa atividade do ser humano. No desenvolvimento global da criança a linguagem assume uma importância particular. É por ela que a criança aprende a expressar seus sentimentos, compreender as reações dos outros, conhecer diferentes pontos de vista sobre um mesmo fato, incorporar valores e normas sociais. Aprende também a organizar seu pensamento e a controlar sua conduta, favorecendo assim, uma aprendizagem cada vez mais consciente. Visando aprofundar o conhecimento sobre o processo da fala no ser humano e a possível intervenção para estimulá-la, ampliando sua qualidade de vida e possibilitando novos avanços educacionais, desenvolvemos um material didático. Trata-se de um brinquedo (miniatura de cômoda), composto de quatro gavetas com as seguintes categorias: a) brinquedos; b) animais; c) objetos de uso pessoal, vestuário e calçados; d) frutas. O material desenvolvido foi aplicado com crianças de 4 a 6 anos, com deficiência mental e atraso na aquisição e desenvolvimento da fala e linguagem, durante aproximadamente três meses. A atividade pedagógica consistiu em propor aos alunos que manipulassem objetos concretos, de cada um dos elementos que compõem as placas do material didático, possibilitando a identificação de suas características, a verbalização de cada nome e sua placa correspondente. Os alunos demonstraram grande interesse pelo material e pela maior parte das atividades desenvolvidas. Durante a intervenção, foram efetuadas alterações para melhor atender o interesse dos alunos. Os resultados não foram quantificados, porém os registros diários da participação dos alunos comprovam avanços significativos no desenvolvimento pretendido, com a maior parte deles. Palavras-chave: Desenvolvimento da fala, educação especial, comunicação. 1 Licenciada em Educação Física – UEL/PR, Especialista em Deficiência Mental – UNIFIL/PR, Professora da Escola de Educação Especial ILECE – Londrina/PR.

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ESTRATÉGIA PARA INICIAR/AMPLIAR A COMUNICAÇÃO VERBAL EM ALUNOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL

LUCINEI MAZZER DE OLIVEIRA RAMOS1

RESUMO

A comunicação oral representa uma complexa atividade do ser humano. No desenvolvimento global da criança a linguagem assume uma importância particular. É por ela que a criança aprende a expressar seus sentimentos, compreender as reações dos outros, conhecer diferentes pontos de vista sobre um mesmo fato, incorporar valores e normas sociais. Aprende também a organizar seu pensamento e a controlar sua conduta, favorecendo assim, uma aprendizagem cada vez mais consciente. Visando aprofundar o conhecimento sobre o processo da fala no ser humano e a possível intervenção para estimulá-la, ampliando sua qualidade de vida e possibilitando novos avanços educacionais, desenvolvemos um material didático. Trata-se de um brinquedo (miniatura de cômoda), composto de quatro gavetas com as seguintes categorias: a) brinquedos; b) animais; c) objetos de uso pessoal, vestuário e calçados; d) frutas. O material desenvolvido foi aplicado com crianças de 4 a 6 anos, com deficiência mental e atraso na aquisição e desenvolvimento da fala e linguagem, durante aproximadamente três meses. A atividade pedagógica consistiu em propor aos alunos que manipulassem objetos concretos, de cada um dos elementos que compõem as placas do material didático, possibilitando a identificação de suas características, a verbalização de cada nome e sua placa correspondente. Os alunos demonstraram grande interesse pelo material e pela maior parte das atividades desenvolvidas. Durante a intervenção, foram efetuadas alterações para melhor atender o interesse dos alunos. Os resultados não foram quantificados, porém os registros diários da participação dos alunos comprovam avanços significativos no desenvolvimento pretendido, com a maior parte deles. Palavras-chave: Desenvolvimento da fala, educação especial, comunicação.

1Licenciada em Educação Física – UEL/PR, Especialista em Deficiência Mental – UNIFIL/PR, Professora da Escola de Educação Especial ILECE – Londrina/PR.

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ABSTRACT

The oral communication represents a complex activity of the human being. In the child's global development the language assumes a private importance. It is through the speech that the child learns how to express their feelings, to understand the reactions of the other ones, to know different point of view about a same fact, to incorporate values and social norms. Also learns how to organize the thought and to control the conduct, favoring a more conscious learning. Seeking to deepen the knowledge on the speech process in the human being and the possible intervention to stimulate it, enlarging life quality and making possible new education progresses, a didactic material was developed. It is a toy (dresser miniature), composed of four drawers with the following categories: a) toys; b) animals; c) objects of personal use, clothing and shoes; d) fruits. The developed material was applied with children from 4 to 6 years, with mental deficiency and delay in the acquisition and development of the speech and language, during approximately three months. The pedagogic activity consisted of proposing to the students to manipulated concrete objects, of all elements that compose the pictures of the didactic material, making possible the identification of their characteristics, the verbalization of each name and the corresponding picture. The students demonstrated great interest for the material and for most of the developed activities. During the intervention, alterations were made for best to assist the students' interest. The results were not quantified, however the daily registrations of the students' participation prove significant progresses in the intended development, with most of them.

Key-word: Development of the speech, special education, communication.

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INTRODUÇÃO

Com base nos textos do Ministério da Educação e Cultura (MEC)

apresentamos o percurso histórico de atitudes da sociedade organizada frente

ao sujeito deficiente.

Ao longo da história da humanidade desde a Antiguidade até os dias

atuais, as formas de pensar e de agir da sociedade com relação à deficiência,

enquanto fenômeno e à pessoa com deficiência, evoluíram por diferentes

classificações, concepções e transformações.

No Brasil, da mesma forma que em outros países, a pessoa com

deficiência, por séculos foi considerada dentro da categoria dos miseráveis. Os

bem nascidos certamente ficaram confinados aos domínios de suas

propriedades. Já os mais pobres ficaram à mercê dos curandeiros, barbeiros

(que então atuavam como cirurgiões) e de outros que se habilitassem a ajudá-

los. Mais tarde foram incluídos nesse grupo, escravos mutilados por castigos

físicos, vítimas de raquitismo, leprosos, mutilados por gangrenas, tumores e

outros.

No século XVII, iniciou-se com a criação de internatos, com atenção

formal às pessoas com deficiência. As instituições foram paulatinamente

assumindo uma natureza de asilos, destinados ao acolhimento de pessoas

inválidas, com caráter assistencialista ou de caridade.

No início do século XX (1906), escolas públicas do Rio de Janeiro

começaram a atender alunos com deficiência mental, mas os mesmos

deveriam passar por triagem da educadora sanitária para avaliar se não

atrapalhariam o andamento da sala.

Na década de 50, proliferou o número de entidades assistenciais

privadas, ampliando-se também o número de pessoas atendidas na rede

pública. Essas entidades organizaram-se em federações estaduais e nacionais.

Também o sistema público organizou serviços de Educação Especial e o

Ministério da Educação e Cultura realizou campanhas tendo como alvo os

deficientes.

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Na década de 60, foram criados centros de reabilitação para todos os

tipos de deficiência, com o objetivo de integrá-los à sociedade e suas diversas

instâncias, o que denominou-se Paradigma de Serviços.

Então, para que fosse possível integrar a pessoa com necessidades

educativas especiais, dentro de sua comunidade, entendia-se que a própria

comunidade deveria se reorganizar para oferecer a essas pessoas os meios

que necessitassem para viabilizar essa integração através da oferta de

serviços.

Novas leis da educação brasileira e órgãos foram criados colocando a

Educação Especial no rol das prioridades do país.

Na década de 90, o país assumiu o compromisso com a proposta de

Educação para Todos, produzida em Jontien (Tailândia), na conferência

mundial da UNESCO, o que determinou profunda transformação do sistema

educacional, com a política de acolher a todos, indiscriminadamente, com

qualidade e igualdade de condições.

Em 1994, dando seqüência a esse processo, o Brasil adotou a proposta

da Declaração de Salamanca, comprometendo-se com a construção de um

sistema educacional inclusivo, visando atender a população de alunos com

necessidades educativas especiais.

Hoje, através de estudos, reflexões, experimentações e com

regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), busca-se modelos

eficazes e eficientes de educação inclusiva para nossa realidade, para que seja

atendida preferencialmente, na rede regular de ensino, toda e qualquer criança

com necessidades educacionais especiais.

Também a rede privada tem buscado formas de participação e auto-

ajuste para atender essa demanda no processo de construção de um sistema

educacional inclusivo.

Porém o Conselho Nacional de Educação (CNE), através das Diretrizes

Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, em seu artigo

terceiro, define a educação especial como modalidade da educação escolar

com uma proposta pedagógica para assegurar recursos e serviços

educacionais especiais organizados para apoiar, complementar, suplementar e

quando necessário substituir os serviços educacionais comuns, para garantir a

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educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos

educandos com necessidades educacionais especiais.

Esse artigo reforça a necessidade da existência de instituições

especializadas, em uma das quais realizo o meu trabalho.

Há que se admitir que considerável número de crianças e jovens com

comprometimentos físicos, neurológicos e mentais, que apresentam reais

carências de requisitos de aprendizagens e, por conseguinte significativas

diferenças individuais têm condições de aprendizagens, porém não conseguem

atingir patamares próximos do potencial cognitivo exigido para compartilhar

aprendizagens escolares comuns, impostas pelas exigências do mundo atual.

Com base na experiência profissional que tenho no ensino fundamental

(regular e especial) e pela realidade das condições do ensino regular hoje,

posso afirmar que grande parte dos alunos com comprometimentos físicos,

neurológicos e mentais receberá atendimento de melhor qualidade em

pequenos grupos ou individualmente sob a responsabilidade do poder público e

de instituições especializadas.

Atitudes responsáveis e ponderadas evitarão que a tentativa de inclusão

dos portadores de necessidades educacionais especiais no sistema regular de

ensino seja o caminho para exclusão definitiva dos mesmos.

No Estado do Paraná, o processo de inclusão vem acontecendo de

modo responsável e gradativo, com o objetivo de proporcionar o atendimento

mais adequado e que melhor promova o desenvolvimento das potencialidades

destes alunos.

Como descrevemos, ao longo da história da humanidade, a deficiência

mental foi caracterizada, definida e interpretada de diferentes maneiras.

A definição de deficiência mental descrita no manual de definição e

classificação da American Association on Mental Retardation (AAMR) –

(FIERRO apud COLL et al., 2004, p.195) diz:

A deficiência mental refere-se a limitações substanciais no desenvolvimento

corrente. Caracteriza-se por um funcionamento intelectual significativamente

inferior à média, que ocorre juntamente com limitações associadas em duas ou

mais das seguintes áreas de habilidades adaptativas possíveis: comunicação,

cuidado pessoal, vida doméstica, habilidades sociais, utilização da comunidade,

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autogoverno, saúde e segurança, habilidades acadêmicas funcionais, lazer e

trabalho. A deficiência mental manifesta-se antes dos 18 anos.

Segundo Coll (2004), essa definição desfruta hoje de um amplo

consenso por caracterizar a deficiência apenas em termos descritivos e não

causais ou explicativos e também porque demonstra o quanto é difícil situar,

dentro de limites precisos, o que é ou não deficiência. Sendo assim, somente

ao longo do desenvolvimento da pessoa e a intervenção educativa adequada

será possível distinguir um quadro de deficiência mental permanente de outro

transitório ou menos generalizado.

São inúmeros os fatores que podem levar à deficiência mental e

Carvalho (MEC, 1997), relaciona quatro tipos de fatores causais, referindo-se a

eles como interativos e cumulativos: fatores biomédicos, sociais,

comportamentais e educacionais.

O cérebro e as funções cerebrais têm sido estudados cientificamente por

diversos ramos do saber. A ciência biológica estuda seu funcionamento físico,

a psicologia tem por objetivo estudar o comportamento do indivíduo e como

este se relaciona com as estruturas cerebrais e a ciência cognitiva estuda as

funções cerebrais com intuito de desenvolver o conceito de aprendizagem.

De acordo com Assencio-Ferreira (2005), o Cérebro não funciona como

regiões isoladas, sendo que a ativação de uma das áreas, por um estímulo,

desencadeia alteração em todas as demais. Isso pode ocorrer com áreas

vizinhas, dentro do mesmo hemisfério cerebral ou de um hemisfério para outro.

Ressalta também que não são aparentes as diferenças anatômicas entre

os dois hemisférios cerebrais (direito e esquerdo), porém apresentam

funcionalidades diferentes.

Aponta que em 98% da população o hemisfério cerebral dominante é o

esquerdo e que o entendimento da localização dos centros cerebrais

controladores da linguagem / fala / escrita, depende dessa compreensão. Já os

movimentos de braços e pernas são controlados pelo hemisfério central do

lado oposto, portanto se a pessoa é destra seu hemisfério dominante é o

esquerdo, quando canhota seu hemisfério dominante é o direito.

É no hemisfério esquerdo onde estão localizados à frente do Sulco

Central (Rolando) o Lobo Frontal e a Área pré-frontal importantes para o

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controle motor da fala. Na região perissilviana, que é o córtex situado ao redor

da Fissura Lateral (Sylvius) estão o controle e a compreensão da linguagem.

Assencio-Ferreira (2005), revela ainda que, anteriormente à Fissura

Lateral (Sylvius) encontramos a área de Broca e posteriormente a área de

Wernicke.

A Área de Wernicke identifica as sílabas e palavras da fala e está

seriamente envolvida na compreensão desta.

A Área de Broca estabelece uma correspondência entre os sons da fala

e os programas motores necessários para produzi-los. Organiza os atos

motores, ou seja, ordens para que os músculos da face, língua, laringe e

faringe se movimentem para produzir sons (fonação) e conseqüentemente para

a produção das palavras que irão formar frases.

Também dessa área parte o início do movimento para a escrita,

organizando os atos motores para realizar ditado, cópia ou geração endógena

(escrita espontânea). Essa área recebe informações visuais (no caso da cópia)

e informações auditivas (no caso do ditado), facilitando o planejamento e

controle da mão.

Para que o ato da leitura (do que está escrito) aconteça, é necessário

que exista participação da conexão entre o córtex visual (lobo occipital) onde

são identificados os grafemas e a Área de Wernicke (lobo temporal) onde são

identificados e compreendidos os símbolos gráficos da escrita.

Figura 1: Vista lateral do hemisfério cerebral esquerdo, demonstrando a Fissura Lateral (Sylvius) e o Sulco Central (Rolando), que delimitam a área pré-frontal. Fonte: Assencio-Ferreira, 2005, p. 39.

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A comunicação humana pode ser considerada uma contínua percepção-

compreensão-produção. A riqueza da linguagem faz com que esse contínuo se

processe de várias maneiras. Assim, dependendo da modalidade, visual ou

auditiva do estímulo externo, as etapas sensoriais em percepção serão

diferentes. Também existe variabilidade na produção da linguagem; podemos

falar, gesticular ou escrever.

De acordo com Valmaseda (2004), a linguagem não é apenas um

sinônimo de falar e compreender o que os outros dizem, pois uma pessoa com

a linguagem desenvolvida codifica e interioriza vários aspectos da realidade, de

modo que consegue manipular mentalmente essas informações, mesmo que

desvinculadas do “aqui e agora”.

É pela linguagem que o homem interage com seus pares, participa da

sociedade onde está inserido.

Entre os diferentes tipos de linguagem destacam-se a linguagem verbal

(comunicação oral), escrita e a não verbal que pode ser representada por

desenhos, expressões corporais, escritas e está sempre relacionada com a

percepção.

Figura 2: Compreensão da linguagem falada Fonte: Assencio-Ferreira, 2005, p.43.

Figura 3: Esquema da compreensão da linguagem escrita Fonte: Assencio-Ferreira, 2005, p. 43.

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DESENVOLVIMENTO DA FALA

Oliveira (1977) menciona que para Vygotsky a origem da sociedade

humana e suas relações se dão com o advento do trabalho. É por meio do

trabalho que o homem transforma a natureza com o objetivo de satisfazer suas

necessidades e também se transforma para adaptar-se a essas mudanças.

O processo de desenvolvimento das funções psíquicas do ser humano

não acontece sempre da mesma forma e sob as mesmas circunstâncias. Ele

sofre influências de diferentes fatores dependendo da situação sócio-

econômica, cultural e política do meio onde está inserido.

Vygotsky (1993) ressalta que as características tipicamente humanas

não estão presentes no indivíduo desde o seu nascimento, mas resultam da

interação dialética do homem e seu meio sócio-cultural. É uma fusão do

biológico com o social. Um bebê não tem condições de sobreviver sem ajuda e

a sociedade não é um mero contexto aonde o homem vai se desenvolver, ela é

constitutiva do homem.

Em seu desenvolvimento, o homem apresenta processos psicológicos

elementares na fase inicial da infância (com predominância biológica),

passando depois a desenvolver funções psicológicas superiores (tendo a

possibilidade de pensar em objetos ausentes, planejar ações a serem

realizadas) que são inatas e ocorrem ao longo do processo de internalização

de formas culturais de comportamento.

De acordo com Rego (1995), esses processos considerados sofisticados,

possibilitam ao homem um universo de conceitos abstratos, pois dispõe não

apenas do conhecimento sensorial, mas também de um conhecimento racional.

Oliveira (1997), afirma que sobre o funcionamento psicológico, as

concepções de Vygotsky têm como conceito central a mediação. Descreve

ainda que em termos genéricos a mediação é o processo de intervenção de um

elemento intermediário em uma relação que deixa de ser direta entre sujeito e

resposta.

Essas mediações praticadas pelos adultos ou por crianças mais

experientes possibilitam que a criança assimile o saber constituído

historicamente (aprender a sentar, falar, controlar esfíncteres, comer com

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talheres...) e inicie o desenvolvimento de processos psicológicos mais

complexos.

Observa ainda que os processos de mediação, que se constituem em

funções psicológicas mais elaboradas, alteram-se ao longo do desenvolvimento

do indivíduo e não acontecem com as crianças pequenas.

Ao longo da história da humanidade o homem criou e continua criando

instrumentos que possibilitem a realização de atividades práticas com o

objetivo de atender suas necessidades materiais, psíquicas e afetivas.

Denomina-se instrumento, o objeto criado pelo homem, fruto de sua

cultura, para possibilitar suas atividades práticas. Como exemplo, Silva (2006)

cita os eletrodomésticos, o computador e outros.

Os instrumentos são elementos externos ao indivíduo, voltados para fora

dele e são utilizados como meios para controlar processos da natureza. Já os

signos, denominados por Vygotsky de “instrumentos psicológicos”, se

equivalem aos instrumentos, porém, dirigem o controle de ações psicológicas e

não concretas (eles evocam o que está ausente).

De acordo com Silva (2006), aos signos são atribuídos significados, e

esses, semelhantes aos instrumentos, atuam com uma função mediadora no

desenvolvimento das funções psicológicas superiores, sendo a linguagem o

signo principal.

Segundo Oliveira (1997) para que a comunicação da criança, através da

fala, aconteça de forma mais sofisticada com outros indivíduos, é necessário

que os signos, dos quais a criança se aproprie sejam também compreendidos

por essas pessoas.

Aponta ainda que no transcorrer do desenvolvimento do indivíduo

acontecem duas mudanças qualitativas fundamentais quanto ao uso dos

signos. A primeira é o processo de internalização que é transformação das

marcas internas (signos) em processos internos de mediação (representações

mentais que substituem objetos do mundo real por sistemas simbólicos) e a

segunda que é a organização desses símbolos em estruturas complexas e

articuladas.

A autora revela que Vygotsky trabalha com duas funções básicas da

linguagem. A principal é o intercâmbio social e a segunda é o pensamento

generalizante.

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Para Vygotsky, o significado de uma palavra é a generalização de um

conceito.

Na perspectiva vygotskyana a construção de conceitos se dá a partir da

formação de um sistema de relações e generalização contidos nas palavras e

determinado por um processo histórico-cultural, internalizado pelo indivíduo

durante seu processo de desenvolvimento.

Os atributos necessários para definir um conceito são determinados pelo

grupo cultural a partir das características consideradas mais relevantes, dos

elementos encontrados no mundo real.

Denominam-se conceitos cotidianos os que são construídos pela criança

a partir da observação, manipulação e vivência direta. Oliveira (1997) cita como

exemplo o conceito de gato. Essa palavra resume e generaliza as

características desse animal (sem definir tamanho, raça, a cor etc.) e o

diferencia de outras categorias com livro, estante, pássaro.

Já, conceitos científicos são os sistematizados, adquiridos nas

interações escolarizadas, não sendo construídos apenas com a observação ou

ação mediata da criança. Utilizando o exemplo do gato o conceito passa a ser

mais abrangente e mais abstrato com diferentes graus de generalização tais

como: mamífero, vertebrado etc.

Apesar das diferenças pontuadas os dois tipos de conceitos se

complementam no processo, pois ao tomar conhecimento de um conceito

sistematizado a criança buscará significado em outros conhecimentos já

internalizados.

Essa capacidade possibilita ao homem lidar com a representação do real

e libertar-se do espaço e do tempo presentes, fazendo representações mentais

na ausência das próprias coisas.

Silva (2006) menciona registros de Vygotsky e Lúria (1996) referindo-se

a crianças pequenas e alguns casos de deficientes mentais que não são

capazes de dominar a utilização funcional dos signos e instrumentos, tornado-

se muitas vezes inacessível o uso cultural da memória. Com essa limitação, na

maior parte das vezes, permanecendo apenas com a memória imediata.

Somente acontece o desenvolvimento das funções psíquicas superiores com a

passagem da memória natural para a cultural. Há que se oportunizar a

constante manipulação de objetos externos, em diferentes tipos de

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experiências, para que internalizem novos conhecimentos o que poderá auxiliar

no desenvolvimento das representações mentais.

Oliveira (1997) cita como exemplos da mediação por signos

internalizados a capacidade do homem imaginar um gato ausente sobre uma

poltrona vazia ou confecção de uma lista de compras. Esses signos fazem

parte da cultura dos membros de um grupo social, são compartilhados e por

isso permitem a comunicação entre os indivíduos aprimorando a interação

social.

A autora ressalta ainda que todos os usuários da língua portuguesa

terão o mesmo significado para a palavra cavalo, após internalizar o conceito,

pois a idéia de cavalo fará a mediação entre o real (mesmo ausente) e a

representação mental (signo).

Vygotsky (1993) registra que todas as funções intelectuais básicas

tomam parte da formação de um conceito (associação, atenção, formação de

imagens, tendências determinantes), porém, o processo não se reduz só a elas.

Todas são indispensáveis, mas insuficientes sem o uso do signo ou palavra

como meio pelo qual conduzimos nossas operações mentais.

Silva (2006) aponta registros de Luria, Leontiev e Vygotsky (1991) sobre

o fato de que para a criança com deficiência mental a mediação é um

instrumento valioso e indispensável, visto que a mesma provavelmente só será

capaz de formar novas concepções após várias explicações.

Ao abordar o desenvolvimento intelectual e lingüístico das crianças,

Vygotsky propôs uma análise semântica – o estudo do desenvolvimento, do

funcionamento e da estrutura das unidades em que pensamento e fala estão

inter-relacionados.

Estudos sobre o desenvolvimento da fala apenas no campo fonético, não

contribuem para compreensão do desenvolvimento lingüístico, pois se deixa de

lado o desenvolvimento do pensamento.

Na concepção de Vygotsky(1993), não há como separar, enquanto

objeto de estudo, a relação intelecto e afeto, pois não há como dissociar o

pensamento da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses pessoais,

das inclinações e dos impulsos daquele que pensa.

Em sua concepção o esquema de desenvolvimento da fala acontece

primeiro com a fala social (fala exterior), segue depois para a fala egocêntrica e

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finalmente para a fala interior, sendo esse curso do social para o individual.

Segundo o autor o desenvolvimento da fala segue do mesmo modo que o

desenvolvimento de outras operações mentais.

Nos primeiros meses de vida que correspondem ao estágio pré-

intelectual do desenvolvimento da fala (as manifestações são em forma de

balbucio, choro, riso e expressões faciais). Rego (1995) aponta que essas

manifestações da criança são bastante difusas, pois não determinam o

significado específico. Como exemplo cita que o choro pode significar fome ou

cólica.

Menciona ainda que antes da fala a criança apresenta uma inteligência

prática com manifestações intelectuais rudimentares, agindo sobre o ambiente,

muitas vezes fazendo uso de instrumentos intermediários como subir em um

banco para alcançar um objeto, mas sem a mediação da fala. Citando Vygotsky,

ela afirma que esse é o estágio pré-lingüístico do desenvolvimento do

pensamento.

Nesse período a relação entre a criança e o adulto, em inúmeras

oportunidades de diálogo possibilita que o adulto interprete e atribua significado

às manifestações da criança (sons, gestos, posturas) assim como facilita sua

inserção no mundo simbólico da cultura. Nessa interação e diálogo entre adulto

e criança, ela aprende a usar a linguagem como instrumento do pensamento e

como meio de comunicação.

Sobre a importância da linguagem no processo de elaboração de novas

conexões cerebrais na criança, Silva (2006) aponta um alerta de Luria e

Yadovich (1985), sobre pessoas com deficiência mental onde as funções

cognitivas encontram-se comprometidas e a linguagem pouco desenvolvida

dificultando a formação de novas conexões. Nesse caso o deficiente mental

necessita de muita mediação e estimulação para intensificar o desenvolvimento

das habilidades lingüísticas possibilitando a formação de novas conexões e,

por conseguinte o desenvolvimento cognitivo.

Vygotsky (1993) revela pesquisas realizadas por Charlotte Buehler, e

menciona que a descoberta mais importante é que próximo dos dois anos as

curvas do pensamento e da fala antes separadas, encontram-se para constituir

nova forma de comportamento. Com isso o pensamento torna-se verbal e a

fala racional.

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Assim a criança aprende que cada coisa tem seu nome e que o nome

passa a fazer parte da estrutura do objeto. Nessa fase também a ampliação do

vocabulário acontece de forma rápida e aos saltos.

Evoluindo para um novo estágio a criança faz uso da fala para

comunicar-se socialmente, fazer contato com as pessoas. Para resolver um

problema ela faz apelos verbais aos adultos. Nessa fase a fala é global, tem

múltiplas funções, mas não é usada como instrumento do pensamento. Uma

palavra tem o significado de uma frase completa. Por exemplo, “aga” significa

“mamãe eu quero água”. Depois passa a utilizar duas palavras, três e

finalmente começa a compor frase simples.

Rego (1995) aponta que Vygotsky denominou essa fala de discurso

socializado.

Aos poucos, a fala socializada que acontecia apenas para comunicar-se

com o adulto para resolver problemas, passa a ter um papel definido e

importante na atividade infantil, estando a serviço da orientação mental e da

compreensão consciente. Gradualmente a criança passa a dirigir sua fala para

si mesmo, é o chamado discurso interior.

É um fenômeno de transição das funções inter-psíquicas para as

intrapsíquicas, ou seja, da atividade social e coletiva da criança para sua

atividade mais individualizada.

Rego (1995) complementa que além das funções emocionais e

comunicativas, a fala começa a ter também a função planejadora. Isso

acontece quando a criança planeja uma ação estabelecendo um diálogo com

ela mesma e exemplifica “Preciso arrumar um jeito de alcançar esse doce.

Posso usar uma escada ou um banco”. Nesse caso a fala precede a ação,

serve como apoio de seqüências a serem seguidas, organiza o pensamento

sobre o que deve ser executado. Assim a criança fala alto, mas não se dirige à

nenhum interlocutor, fala consigo mesma.

Essa “visão de futuro” que possibilita à criança planejar uma ação para

além das experiências imediatas constitui-se em operações psicológicas mais

complexas.

Oliveira (1997) ressalta ainda que para Vygotsky a fala egocêntrica, com

essa função claramente associada ao pensamento, mostra que de fato, o

desenvolvimento da fala caminha para processos internos e a fala que a

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princípio tinha apenas a função de comunicação, passa gradualmente a ser

utilizada como instrumento interno (intra-psíquico) do pensamento.

Porém, para Vygotsky (1993), a fala egocêntrica não desaparece

simplesmente, ela descreve uma curva ascendente, segue por uma evolução,

para uma individualização, isso indica que adquiriu uma nova capacidade de

pensar palavras ao contrário de pronunciá-las.

Um estágio subseqüente do crescimento interior se caracteriza pela

interiorização das operações externas. A criança começa a utilizar a memória

lógica, ou seja, operar com signos interiores como contar mentalmente, por

exemplo.

No desenvolvimento da fala, este é o estágio final da fala interior,

silenciosa que segundo Vygotsky (1993) deve ser vista como uma função da

fala totalmente independente.

Esses estágios de desenvolvimento cognitivo não possuem caráter

universal, e o autor reconhece também, a imensa diversidade nas condições

histórico-sociais em que as crianças vivem, considerando que as oportunidades

abertas para cada uma delas são muitas e variadas, salientando novamente, a

relevância do social na formação do pensamento.

Nesse enfoque Silva (2006), aponta a gravidade do fato de que a criança

com deficiência física ou psíquica pode não alcançar a abstração ou

desenvolvimento de algumas funções psíquicas por não receber a mediação

necessária e adequada que proporcione a aprendizagem.

Quanto ao desenvolvimento da linguagem dessas crianças, há que se

criar constantes estímulos pela importância que a mesma representa no

desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

Com a aquisição do pensamento verbal, que de acordo com Vygotsky,

estabelece a relação entre pensamento e linguagem, chega-se à unidade de

análise proposta em sua metodologia de estudo. Assim ele aponta que a

unidade de análise do pensamento verbal é o significado, que é dinâmico e

transforma-se de acordo com as várias formas pelas quais o pensamento se

desenvolve no processo da ontogênese.

Para Vygotsky o pensamento é gerado pela motivação, para atender

desejos e necessidades, interesses e emoções e a linguagem é impulsionada

pela necessidade de comunicação.

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Segundo o autor, uma palavra sem significado é apenas um som e não

será compreendida por outros humanos.

Valmaseda (2004) destaca que através da linguagem a criança aprende

a dirigir e organizar seu pensamento, controlar seu comportamento superando

ações impulsivas, expressar seus sentimentos e compreender os dos outros,

incorporar valores e normas sociais.

De acordo com Zorzi (1999), crianças que apresentam condições

evolutivas, dentro dos padrões normais de desenvolvimento, tendem a adquirir

linguagem entre o primeiro e segundo ano de vida.

A denominação “distúrbios de linguagem” refere-se ao comprometimento

na evolução do processo de aquisição da linguagem.

Vários fatores interferem e são determinantes para que esse

desenvolvimento aconteça em diferentes momentos com cada criança: o ritmo

de desenvolvimento de cada um, condições emocionais e maturidade social,

hereditariedade, doenças e outros fatores que podem afetar o tempo de

aquisição.

Na criança pequena, esses distúrbios são denominados “retardos de

aquisição da linguagem”. Um dos parâmetros considerados para essa

caracterização é quando a criança apresenta defasagem em relação àquelas

que têm a mesma faixa etária.

A classificação dos retardos de linguagem, citada por Zorzi (1999) é

dividida em dois grupos tomando-se como base as dificuldades encontradas e

suas abrangências. Aplica-se a crianças que não adquiriram linguagem na

idade esperada. Porém, dentro de um mesmo grupo divergem quanto ao grau

e extensão da dificuldade.

No primeiro grupo o retardo de linguagem faz parte do atraso global do

desenvolvimento – crianças que apresentam ausência de condutas simbólicas.

No segundo grupo o retardo simples de linguagem – crianças que

apresentam dificuldades ou impedimentos mais acentuados e específicos

quanto à aquisição da linguagem, sendo que outros aspectos do

desenvolvimento são menos comprometidos e evoluem dentro dos limites

considerados normais. Nesse caso estão incluídas também crianças com

deficiência auditiva, onde um impedimento físico afeta o desenvolvimento da

linguagem.

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Incluem-se neste grupo crianças ouvintes que podem revelar uma boa

compreensão de linguagem e não apresentam o correspondente na

capacidade expressiva. Um dos fatores que pode ocasionar esse atraso é a

convivência da criança em ambientes pouco favoráveis ao desenvolvimento da

linguagem.

Diante do exposto, nos propusemos a elaborar um material didático que

possibilite aos alunos um enriquecimento da sua linguagem, como relataremos

a seguir.

MATERIAL DIDÁTICO

O Material Didático desenvolvido constituiu-se de uma miniatura de

cômoda, com 21 cm de altura, 24,5 cm de largura e 13,5 cm de profundidade,

em material MDF, pintada de branco e verde, impermeabilizada com verniz

transparente. Composta de quatro gavetas, cada uma delas identificada por

apliques externos que determinam as categorias: a) brinquedos; b) animais; c)

objetos de uso pessoal, vestuário e calçados; d) frutas.

No interior de cada gaveta, encontram-se dez placas em MDF, nas

medidas de 8 cm de largura por 10,5 cm de altura, também pintadas de branco

e impermeabilizadas com verniz transparente, com figuras representativas

dessas categorias.

Figura 4: Cômoda “Cada coisa em seu lugar” – vista frontal.

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4.1 Categorias

a) Brinquedos

Na Figura 7 estão expostas as dez

placas da categoria Brinquedos, assim

representadas: bola, trem, caminhão,

tambor, violão, boneca, carro, avião,

pipa e bicicleta.

b) Animais

Na Figura 8 estão expostas as dez

placas da categoria Animais, assim

representadas: gato, cachorro,

pássaro, macaco, coelho, vaca, peixe,

cavalo, galinha e urso.

Figura 5: Cômoda “Cada coisa em seu Lugar” – vista lateral.

Figura 6: Cômoda “Cada coisa em seu Lugar” – vista superior.

Figura 7: Placas da categoria “Brinquedos”.

Figura 8: Placas da categoria “Animais”.

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c) Objetos de uso pessoal,

vestuário e calçados

Na Figura 9 estão expostas as dez

placas da categoria objetos de uso

pessoal, vestuário e calçados, assim

representadas: sapato, tênis, óculos,

calça, bota, casaco, camiseta, boné,

chinelo e meia.

d) Frutas

Na Figura 10 estão expostas as dez

placas da categoria frutas, assim

representadas: abacaxi, morango,

banana, limão, maçã, abacate, uva,

mamão, laranja e melancia.

Conforme mencionado anteriormente a produção do material didático foi

aplicada com alunos com deficiência mental tendo como objetivo ampliar a

linguagem dos mesmos. Relatamos a seguir a metodologia utilizada no

desenvolvimento das atividades.

MÉTODOS E INTERVENÇÃO

O trabalho de intervenção foi realizado com a vivência prática de cada

um dos elementos que constituem as placas do material didático, possibilitando

a generalização de suas características.

Como apoio para a generalização das características dos objetos e a

identificação das figuras correspondentes (placas), foram utilizadas miniaturas,

Figura 9: Placas da categoria “Objetos de uso pessoal, vestuário e calçados”.

Figura 10: Placas da categoria “Frutas”.

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brinquedos e objetos reais. Depois era apresentada a figura correspondente

em papel sulfite, para que os alunos identificassem essa representação e

nomeassem.

Categoria Elementos Atividades

Brinquedos

Bola Rolar, quicar, chutar, esconder, guardar e arremessar.

Boneca Abraçar, trocar roupas, fazer andar, sentar, dormir e dar banho.

Trem Brincar com trenzinho a pilha.

Avião Brincar com vários aviões de brinquedo. Reproduzir os sons desses meios de transporte.

Tambor Tocar e cantar. Violão Tocar e cantar.

Carro e caminhão

Brincar com carros e caminhões em estradinhas desenhadas no chão, pelos próprios alunos. Reproduzir seus sons. Identificar as figuras e nomeá-las

Pipa Brincar com pipas no pátio.

Bicicleta

Andar de bicicleta no pátio. Alguns alunos se mostraram resistentes, mas depois venceram o medo. Todos os alunos precisaram do apoio da professora. Identificar as figuras e nomeá-las.

Quadro 1: Atividades com brinquedos

Como fechamento desta categoria, apresentamos aos alunos o material

didático (cômoda). Tiramos as placas das três últimas gavetas. As crianças

ficaram muito curiosas, exploraram todo o material, abriram todas as gavetas,

alguns nomeavam apliques das mesmas. Identificaram a gaveta com as figuras

dos brinquedos e nomearam-nas em diferentes atividades orais tais como:

solicitar a troca com amigos, identificar as placas solicitadas pela professora e

depois guardar as placas na gaveta correspondente.

A categoria seguinte a ser trabalhada foi com a dos Animais, a cada dia

foram exploradas as características de dois animais (miniaturas de plástico,

bichos de pelúcia) e sons que produzem, como veremos a seguir:

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Categoria Elementos Atividades

Animais

Bois Vacas

Distribuímos várias miniaturas de bois e vacas que as crianças denominavam bois, sem distinção. Sugerimos brincadeiras como organizar filas indianas com os animais, levá-los para beber água, classificá-los pelas cores e também cantamos a música “Boi da cara preta” que aos alunos conheciam.

Coelho

Levamos um fantoche de coelho e todos puderam movimentar e criar falas. Cantamos uma música sobre o coelho e falamos sobre a Páscoa. Identificar as figuras e nomeá-las

Urso e peixe

Exploramos as características de um urso, tendo um de pelúcia como modelo (tamanho, corpo coberto de pêlos, força, habitat e o que gosta de comer). Quando o peixe foi citado como alimento, apresentamos uma bacia com areia, peixes e varinhas para que os alunos pescassem os peixes que o urso gosta de comer. Identificar as figuras e nomeá-las

Pássaro

Apresentamos um pássaro à pilha, que cantava. As crianças ficaram encantadas e cada uma pode controlar por um tempo o brinquedo. Também reproduziram seu som.

Cavalo

Coloquei várias miniaturas de cavalos em uma sacola e somente pelo tato as crianças deveriam adivinhar do que se tratava. Elas puderam criar brincadeiras e trocar entre si, pois os modelos eram diferentes. Identificar as figuras e nomeá-las

Galinha A galinha apresentada foi um brinquedo de corda e todos puderam fazê-la andar. Exploramos a utilidade da galinha e como ela canta.

Cachorro

Citamos suas características. Todos sabiam que o cachorro morde e imitaram seu latido. Levei diferentes cachorros de pelúcia. Um deles latia e dava cambalhotas. Identificar as figuras e nomeá-las.

Gato

Levamos alguns gatos de pelúcia e de borracha. As crianças brincaram e exploramos as características do animal. Depois fomos ao chão engatinhar e imitar o miado do gato.

Macaco

Antes de apresentar o animal falamos suas características e o que gosta de comer. De imediato um aluno pronunciou seu nome. Foram distribuídos diferentes macacos de pelúcia para que os alunos brincassem incentivados a fazer de conta que subiam em árvores, como se coçavam, faziam gracinhas, comiam bananas, dormiam e os sons que produziam. Identificar as figuras e nomeá-las. Neste dia completamos a categoria animais

Quadro 2: Atividades com animais

Para concluir a segunda categoria, levamos novamente a cômoda. As

crianças vibraram quando viram que esse seria o brinquedo do dia.

Deixei, a princípio, apenas as plaquinhas dos animais. Eles identificaram

a gaveta e cada um pegou uma ou duas placas. Foram estimulados a falar o

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nome do animal que tinham pegado. Depois fizemos um rodízio com as placas

que eram por mim nomeadas para que eles exibissem.

A seguir completamos com as placas a gaveta dos brinquedos. Os

alunos pegaram algumas e junto com as dos animais brincaram de nomeá-las

sugerindo trocas. Depois cada um classificou suas placas e distribuiu nas

gavetas correspondentes.

Categoria Elementos Atividades

Objetos de uso pessoal, vestuário e calçados

Camiseta e casaco

Levamos duas camisetas infantis e um agasalho. Estava frio e todos estavam de agasalho. Primeiro analisamos quem estava com a camiseta de uniforme da escola. Depois cada um tirou seu casaco, vestiu uma das camisetas que levamos, olhou-se no espelho e desfilou para os demais. A seguir analisamos a estampa e a cor das camisetas. O mesmo trabalho foi feito com o casaco (denominado por eles como jaqueta). Identificar as figuras e nomeá-las.

Bota, sapato, tênis, meia e chinelo

Em uma sacola estavam alguns pares de calçados e meias. Cada criança retirava da sacola uma dessas peças e colocava sobre a mesa completando os pares. Depois um aluno era o vendedor da loja e os outros vinham comprar. Quando todos os pares eram vendidos trocávamos o vendedor. Na seqüência as crianças exploraram todo material, vestindo as meias nas mãos e colocando as mãos nos calçados imitando uma pessoa andando. Para finalizar cada aluno guardou uma ou mais peças na sacola falando os nomes das mesmas. Identificar as figuras e nomeá-las.

Boné, óculos e calça

A princípio perguntamos como era o nome das roupas que determinado aluno vestia. As crianças estavam muito curiosas para saber o que tinha na sacola. Depois deixei que pegassem a calça. Comentamos suas características e colocamos na frente de cada aluno para ver se servia. Na seqüência cada aluno retirou um objeto da sacola e nomeou. Eram diferentes tipos de óculos. Colocaram, olharam-se no espelho, desfilaram e trocaram com os amigos. Em seguida o mesmo processo aconteceu com bonés. Vestiram os bonés de diferentes maneiras e desfilaram para os colegas. Identificar as figuras e nomeá-las.

Quadro 3 - Atividades com objetos de uso pessoal, vestuário e calçados.

Concluindo essa categoria de objetos de uso pessoal, vestuário e

calçados apresentei novamente a cômoda, a princípio apenas com as

plaquinhas dessa gaveta. Nomeamos as figuras, brincamos de fazer trocas.

Depois completei com plaquinhas as gavetas de animais e brinquedos.

Deixei que os alunos explorassem o material à vontade e para finalizar

eles guardaram nas respectivas gavetas as plaquinhas que possuíam.

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Categoria Elementos Atividades

Frutas

Maçã, uva, mamão e banana

Levamos para a sala pratos, guardanapos, facas plásticas e toalha de mesa. Apresentamos uma fruta de cada vez. Cada criança recebia um pedaço para cortar à sua maneira e comer. Depois cada um escolhia as frutas que queria repetir. Identificar as figuras e nomeá-las.

Morango, laranja, abacaxi e melancia

Repetimos a intervenção do dia anterior. Identificar as figuras e nomeá-las.

Abacate e limão

Nesse dia cada aluno recebeu uma tigelinha, colher e guardanapo. Levamos dois abacates inteiros e maduros. Cortamos o primeiro e exploramos todas as suas características. Fizemos o mesmo trabalho com o limão. Depois cada aluno recebeu um pouco de abacate, picou em sua tigela, colocou açúcar e algumas gotas de limão. Todos experimentaram e alguns repetiram. Identificar as figuras e nomeá-las.

Quadro 4 – Atividades com frutas

Para concluir essa categoria de frutas, apresentei a cômoda a

princípio apenas com as plaquinhas de frutas. Nomeamos as figuras e fizemos

trocas. Depois todas as gavetas foram completadas e os alunos exploraram o

material sendo estimulados a falar os nomes dos desenhos, reproduzirem sons

de animais, brinquedos e meios de transporte.

CONCLUSÃO

No primeiro contato, a maior parte dos alunos mostrou-se receptiva.

Apenas uma aluna chorava algumas vezes, demonstrava medo de quase tudo,

era muito possessiva não aceitando partilhar os materiais. Outro aluno, com

deficiência auditiva também apresentava medo de alguns materiais, mas

participava mesmo sem emitir nenhum som.

No decorrer das atividades as crianças demonstravam grande interesse

por qual seria a novidade do dia, participavam ativamente e muitas vezes eram

necessárias conter alguns comportamentos para a partilha do material.

A partir da segunda intervenção consideramos oportuna a apresentação,

em papel sulfite, das figuras referentes aos materiais apresentados para que os

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alunos identificassem essa representação visto que meu tempo de

permanência com eles seria limitado.

Pude perceber que algumas palavras comuns não são conhecidas dos

alunos: tambores denominaram bateria, vaca - boi, casaco - jaqueta e tênis

sapato.

Na primeira intervenção com a categoria de objetos de uso pessoal,

vestuário e calçados observamos pouco interesse por parte das crianças.

Decidi então abreviar essa etapa trabalhando no mesmo dia todos os tipos de

calçados e meia, até porque têm a mesma finalidade e facilitaria a comparação.

Também finalizamos essa categoria reunindo boné, óculos e calça.

Decidimos também abreviar o trabalho com a categoria de frutas

considerando a justificativa acima. Foi significativo o interesse das crianças

principalmente pela uva (alguns não conheciam) e morango acredito que por

não ser freqüente em suas refeições.

Considero também que foi oportuno o apoio das figuras (em papel sulfite)

durante os dias de intervenção, pois a cada dia os alunos tinham os objetos

presentes e suas representações.

A receptividade ao material didático produzido (cômoda) foi além da

nossa expectativa, a cada dia de trabalho alguns alunos questionavam se não

a levaríamos novamente. Também compreenderam com certa facilidade a que

categorias correspondiam os apliques das gavetas.

É importante registrar que a aluna que a princípio chorava e tinha medo

dos objetos, com o passar dos dias, mudou esse comportamento, participando

das atividades com prazer e evoluindo seu padrão sua linguagem. Também o

aluno com deficiência auditiva tornou-se mais participativo tendo inclusive

emitido alguns sons de animais e meios de transporte.

Posso considerar que a intervenção com o material didático produzido

vem ao encontro aos postulados de Vygotsky (Teoria histórico-cultural) que

considera que o indivíduo se constitui como sujeito devido aos processos de

maturação orgânica, mas principalmente por intermédio de relações sociais

com o desenvolvimento das funções psíquicas, uma vez que a convivência

com seu grupo social possibilita a aquisição de novos conhecimentos, valores,

atitudes entre outros.

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De acordo com Rego (1995), a apropriação desse legado cultural se dá

por intermédio da linguagem.

Em alusão a essa prática, o Referencial Curricular para a Educação

Infantil reforça que a linguagem oral implica na verbalização e no entendimento

de sentidos estabelecidos entre as pessoas que buscam comunicar-se.

Aprender a falar não se resume apenas em memorizar sons e palavras. É

necessária uma articulação com a reflexão, o pensamento, a explicitação de

seus atos, sentimentos, sensações e desejos.

De acordo com Silva (2006) que considera a linguagem fundamental e

indispensável ao desenvolvimento do ser humano, em se tratando de pessoas

com deficiência mental é preciso levar em conta suas limitações, a lentidão do

seu processo de desenvolvimento e a necessidade de uma mediação mais

específica.

Não se pode ignorar as dificuldades e limitações dos alunos com

deficiência mental, sendo que para isso a primeira atitude é não rotulá-los

incapazes, rompendo com preconceitos frente aos mesmos.

Cabe então à escola proporcionar aos alunos condições necessárias

para que superem os obstáculos e ao professor, que atue na função de

mediador como agente transformador da realidade.

Agradecimentos

Agradeço às pessoas da minha família pelo apoio e auxílio nesta

caminhada.

Um agradecimento especial à Professora Eromi Izabel Hummel, que

com sua serenidade e simplicidade deu-me a segurança necessária para

concluir todas as etapas do PDE.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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