estética do estranho e da corporalidade no personagem midiático lady gaga - projeto de pesquisa...

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Índice Introdução ................................................... .............................................................. ............ 5 1. Delimitação do problema ..................................................... ............................................ 6 2. Objetivos .................................................... .............................................................. ........ 11 2.1 Objetivo geral ........................................................ ........................................................ 11 2.2 Objetivos específicos .................................................. ................................................... 11 3. Justificativa ...........................................12 4. Fundamentação teórica....................................13 5. Procedimentos metodológicos..............................17 6. Cronograma...............................................18 Referências.................................................19 Apêndices...................................................21

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Projeto de pesquisa elaborado para a avaliação final da disciplina Teoria e Métodos de Pesquisa em Comunicação - 2011.1, do curso de Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas, da Universidade Federal da Paraíba.

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Page 1: Estética do estranho e da corporalidade no personagem midiático Lady Gaga - Projeto de pesquisa (TMPC)

Índice

Introdução ............................................................................................................................. 5

1. Delimitação do problema ................................................................................................. 6

2. Objetivos .......................................................................................................................... 11

2.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 11

2.2 Objetivos específicos ..................................................................................................... 11

3. Justificativa ......................................................................................................................12

4. Fundamentação teórica....................................................................................................13

5. Procedimentos metodológicos..........................................................................................17

6. Cronograma......................................................................................................................18

Referências............................................................................................................................19

Apêndices...............................................................................................................................21

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Introdução

Desde a origem dos meios de comunicação, o mundo aprendeu a se curvar diante de seres humanos semelhantes na essência a qualquer outro, mas com um brilho a mais, um esplendor acrescido a sua personalidade, os chamados fenômenos midiáticos. De artistas a figuras políticas, eles estão presentes no imaginário do público espectador, ditando tendências e estilos de vida.

Celebridades como Madonna, Michael Jackson, Cher, Cindy Lauper, David Bowie, Marylin Monroe, Elvis Presley e Freddie Mercury, tornaram-se ícones em suas épocas, sendo lembrados até hoje e servindo de inspiração para muitas pessoas pelo caráter transgressor, libertador e vanguardista de suas formas de expressão. E mais uma influenciada pelos arquétipos aqui mencionados, é o foco deste presente trabalho, a cantora Lady Gaga.

Sua estética que rende adjetivos que navegam numa linha que vai do estranho ao grotesco, tem nos fascinado e interessado do momento em que surgiu na mídia, em meados de 2008, até hoje. Mídias essas, muito bem utilizadas pela artista que coleciona recordes de acessos e visualizações de suas páginas em todas as redes que freqüenta. Querendo compreender a maneira que a aparência inusitada proporciona sentidos a este personagem, que influencia a identidade de milhões de indivíduos pelo mundo e se alastra como um verdadeiro vírus, embarcaremos nesta viagem por pesquisas, leis, teorias e métodos.

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1. Delimitação do problema

A representação do estranho, antes vista de forma temerosa, ganha ares de tendência

na atual conjuntura. Durante anos, o feio foi visto como oposição ao belo. A beleza cultuada

desde a época da Idade Média e do corpo atlético dos praticantes de esportes da Grécia

Antiga, sempre foi tida como padrão a ser seguido. Com o passar do tempo, esses

paradigmas foram mudando. As mulheres são o maior exemplo. Das fartas e cheias de

curvas, retratadas nas pinturas medievais as que dominam as passarelas da moda com corpos

esquálidos, esguios e magros. Estes valores estão presentes no imaginário de muitas pessoas

como referencial para ser, para agir. Para Castro (2004, p.12) o culto ao corpo consiste em:

“um tipo de relação dos indivíduos com seus corpos que tem como preocupação básica seu

modelamento, a fim de aproximá-lo o máximo possível do padrão de beleza estabelecido”.

E, para a consecução desse objetivo, os sujeitos fazem de tudo; atividades físicas, dietas,

tratamentos estéticos, produtos estéticos e na mais radical das medidas, recorrem a

intervenções cirúrgicas. Santaella (2003) resume essa questão a definindo como corpo

remodelado. Enfim, tudo que possa vir a ter como conseqüência, um corpo belo e saudável.

Voltando à questão da fealdade, sua estética, embora renegada, está inserida na

sociedade. Não só pela aparência física de alguns cidadãos, mas devido a fatos como

pobreza, violência, guerras, tráfico de drogas e etc. Mazelas de nosso seio social que embora

constantemente sejam ignoradas, fazem parte do imundo, do feio. A vida não é construída

somente por coisas belas, a feiúra também está presente. No entanto, há quem encontre

beleza na esquisitice. A arte é a principal fonte disso e diversas vezes se utilizou do feio para

produzir grandes obras. É o que diz Rolim (2009, p.1), em brilhante resenha do livro

“História da feiúra”, do pensador italiano Umberto Eco: “o feio, ornado pela arte, torna-se

admirável e, ainda, belo”. Foi oriundo do estranho que surgiram obras consagradas como

a Divina Comédia de Dante Alighieri, contos de Dostoiévsk, Allan Poe, Baudelaire ou Don

DeLillo; pinturas de Caravaggio, Dalí, Bosch, Soutine e, caminhando a tempos mais atuais,

o estilo metal-gótico de Marilyn Manson. Recentemente, bedendo dessa “sinistra” fonte,

surgiu Stefanni Joanne Angelina Germanotta, pop star americana mais conhecida como

Lady Gaga.

Adepta da moda camp¹, Gaga uniu o exagero e a extravagância do estilo à ______________________¹ A moda camp é uma forma desmistificada da arte avessa ao conservadorismo. Une exagero, extravagância e teatralidade em looks estilizados e totalmente fora do comum. Uma das precursoras e representantes do movimento no Brasil é Elke Maravilha.

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teatralidade de suas performances. Algo de extrema inteligência num mundo que glorifica e

comercializa o corpo. Jeito de ser, maneira de se portar, vestuário e acessórios são alguns

dos fatores que compõem a corporalidade de um ser. A artista e sua equipe absorveram esse

princípio e arquitetaram uma imagem que a qualificasse como inusitada, estranha e até

mesmo bizarra. Características que a diferenciassem dos demais artistas e atribuíssem novos

sentidos a música pop.

Foto 1: Lady Gaga com ninho na cabeça.Fonte: http://trezeminutos.wordpress.com/category/so-bobose/page/9/

Com suas aparições públicas, músicas e vídeos, a cantora foi adquirindo formas de

personagem midiático. Entende-se por personagem midiático, um indivíduo que obtém

notoriedade nas mídias, as mais diversas (rádio, TV, internet). A presença freqüente dos

singles² nas primeiras colocações da Billboard Hot 100 Songs³, seus mais de 12 milhões de

vendas dos primeiros trabalhos, o “The Fame (2008) e o “The Fame Monster” (2009), quase

400 milhões de acessos do vídeo “Bad Romance”, totalizando mais de um bilhão do canal e

11 milhões de seguidores nas redes sociais, Youtube e Twitter, respectivamente,

exemplificam isso. Seu último disco, lançado há pouco mais de um mês, o “Born This

Way”, já vendeu cerca de três milhões de cópias, estatística muito expressiva num período

______________________² Um single é uma canção considerada viável comercialmente pelo artista e sua gravadora, conhecido no Brasil como música de trabalho, pode ser lançado individualmente, sendo mais comum a presença em álbuns.³ A Billboard Hot 100 Songs é a parada musical mais importante dos Estados Unidos e do mundo. Avalia a lista das 100 músicas mais vendidas ao longo de uma semana, publicada pela revista Bilboard. As colocações são atribuídas pelo número de vendas físicas e digitais, e ainda pelo número de vezes que a música foi executada pelas rádios norte-americanas.

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de declínio da indústria fonográfica, onde a era da web possibilita downloads rápidos e

totalmente gratuitos. Dados como esses motivaram a sua eleição como a celebridade mais

influente do mundo, por uma famosa revista de rankings americana, a Forbes. Sua relevância

nas mídias dita tendências e influencia as pessoas que querem se comportar como ela, ou ter

algo parecido com ela. Se não pelos looks bizarros, pela atitude de ser da artista. Santaella

(2004) compreende que a reprodução da imagem nas mídias e publicidade possui denso

efeito sobre as atividades corporais. Elas, providas de um arsenal de alcance sobre o ser

humano, provocam o nosso psíquico e nos levam a idealizar, fantasiar e construir

expectativas em relação a determinados personagens, nas maneiras de sonhar e de apetecer

que sugerem.

O feio e o esquisito foram explorados na maioria dos clipes da cantora. Em “Bad

Romance”, o seu maior sucesso, a Mother Monster4 coloca para fora todos os monstros que

habitam no seu interior, a canção foi inspirada nos constantes tormentos e delírios que a

mesma sofreu em sua primeira tour, a “The Fame Ball” e possui referências a filmes de

Alfred Hitchcock, famoso diretor do gênero de terror e suspense. Entre os elementos

“estranhos” utilizados no clipe, ganham destaque, o modelito branco que cobre todo o seu

corpo e das dançarinas, as lentes que dão um efeito esbugalhado aos seus olhos, os sapatos

plataforma de Alexander McQueen e o esqueleto que divide com ela a cama incendiada.

“Paparazzi” e “Telephone”, na seguinte ordem, são clipes que se complementam, em

comum, além de um ser continuação do outro, está a realização do que Márcia Tiburi

(2010), chama de pós-feminismo sem vergonha. A morte de homens ocorre nos dois vídeos,

no primeiro, Gaga se vinga do namorado e o mata, no segundo uma parceria entre as

criminosas Beyoncé e Gaga é formada e ambas exterminam um cara estúpido. No clipe de

“Alejandro” talvez esteja contida a maior polêmica de sua videografia, onde provoca a Igreja

católica, engolindo um rosário, símbolo de fé e da cultura cristã. O apelo homoerótico

militar toma conta do clipe. Dançarinos de aspecto andrógeno incorporam militares e em

seguida, quase despidos e usando saltos, são dominados em camas pela cantora. Especula-se

que o clipe é um recado a comunidade eclesiástica, que condena a comunidade gay, mas

esporadicamente possui alguns de seus membros envolvidos em escândalos de pedofilia e

abuso sexual. Em “Born This Way”, a artista cria uma nova raça resistente a todo e qualquer

tipo de preconceito. A música vem com a mensagem de uma igualdade entre homossexuais

______________________4 Modo como a cantora se denomina no Twitter.

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e outras minorias junto aos heterossexuais na sociedade. Para isso, encarna uma estética com

protuberâncias no rosto e ombros, que ressaltam o conceito do clipe. Uma canção de auto-

aceitação, pois como a própria diz: “Cause you baby were born this way”, “Porque você

nasceu assim, baby”. Algumas de suas aparições causaram furor e se tornaram épicas, como

a performance de “Paparazzi” no VMA Awards 20095, onde é enforcada com sangue

jorrando de seu corpo e o desfile com um vestido de carne, no VMA Awards 2010, quando

faturou nove prêmios, integrando-se a galeria de artista com o maior número deles na

premiação.

Foto 2: Foto de divulgação do Álbum “Born This Way”.Fonte: http://tvcinemaemusica.wordpress.com/2011/05/11/lady-gaga-ira-lancar-musicas-ineditas-no-farmville/

As declarações performáticas e dotadas de hipérboles, consideradas por muitos,

polêmicas, da artista, são determinantes para a elaboração do mito do personagem midiático,

que seria hermafrodita. Diante disso, se manifestou:

Sim, eu tenho uma genitália masculina e feminina, mas eu me considero mulher. É só um pedacinho de um pênis e realmente não interfere muito em minha vida. A razão pela qual nunca falei disso é... que realmente não é uma grande coisa para mim. Ora, não é como se todo mundo saísse por aí falando sobre suas partes íntimas. (...) Sou sexy [...] (FRANCO e SANTOS apud GAGA, 2010).

Reportando-nos a um período mais atual, Gaga se mantém empenhada no trabalho de

divulgação de seu mais recente álbum e em uma entrevista nas constantes idas a programas

de televisão, foi questionada sobre suas protuberâncias no rosto e ombros e respondeu sob

tom de veracidade que já tinha nascido assim (nome do disco em português) e que todos nós

também tínhamos. Em sua participação como jurada no show de talentos American Idol,

______________________5 Premiação anual da MTV norte-americana, que oferta, entre outros, os prêmios de melhor vídeo do ano, melhor colaboração, melhor vídeo feminino, melhor vídeo masculino, melhor vídeo pop, melhor vídeo rock, melhor vídeo hip hop, melhor vídeo de música dance, melhor realização, melhor edição e coreografia.

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disse a um concorrente: “Faça amor com o microfone”6 . Essas afirmações só enfatizam a

emergência de um personagem midiático na artista, pois muitas delas são exageradas e até

fantasiosas, servindo muito bem para dar visibilidade e polêmica a garantindo como figura

cativa em sites, tablóides e mídias em geral. O ser proposto por ela e a Haus Of Gaga7,

incorpora o ser humano, o que confunde e ao mesmo tempo admira as pessoas. Quem é

Stefani e quem é Lady Gaga? Ela é realmente assim ou trata-se de uma constante jogada de

marketing? Como conseguem formular um personagem tão perfeito?

Diante do exposto, propomos o seguinte problema: Como a estética do estranho e da

corporalidade constroem sentidos no personagem midiático Lady Gaga?

______________________6 Informação retirada da revista Istoé, edição de junho de 2011.7 Em português, casa da Gaga. Equipe de estilistas, diretores criativos, designers, maquiadores, coreógrafos e publicitários que acompanham a artista.

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2. Objetivos

2.1 Objetivo geral

Analisar como a estética do estranho e da corporalidade constroem sentidos no

personagem midiático Lady Gaga

2.2 Objetivos específicos

Examinar as características do fenômeno Lady Gaga em videoclipes, redes

sociais, aparições em eventos, shows e entrevistas.

Identificar aspectos da imagem e referências da moda que auxiliem na

elaboração do personagem midiático.

Compreender porque adjetivos como o estranho, o esquisito e o grotesco

ganham relevância nas mídias.

Contribuir para os estudos de corporalidade midiática.

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3. Justificativa

Analisar conceitos e aspectos como a estética do estranho, da corporalidade e da

construção de personalidades midiáticas não são de hoje. Daí percebe-se o quanto é

importante tais estudos. Desde Freud ouve-se falar sobre o estranho, e ainda hoje é relevante

tratar de tal questão, já que a cada dia que passa valoriza-se mais o individualismo, a

particularidade e a inovação da identidade. Tem-se no estranho à alternativa para a

construção da autonomia e da estilização e estetização do corpo.

Sabemos que cultuar o corpo é característica marcante da sociedade pós-moderna,

pois o corpo tornou-se objeto de consumo e de reprodução. Fundamentar o conceito de

corporalidade leva a bases teóricas, filosóficas e antropológicas que analisam a natureza

humana e a cultura. Por tudo isso, torna-se necessário analisar a corporalidade dentro de uma

cultura que centraliza o corpo e que o tem como bem publicitário.

Contudo, abordar a influência da estética do estranho na corporalidade e na

construção de personagens midiáticos como Lady Gaga é de suma importância tendo em

vista a presença marcante desses personagens na sociedade, na mídia, e consequentemente

na formação da identidade e do comportamento das pessoas, alterando até mesmo a cultura e

os costumes.

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4. Fundamentação teórica

Inúmeros autores dão contribuições à problemática delimitada nesta pesquisa, tantos

a ponto de precisarmos fazer um significativo recorte, com vista em uma abordagem mais

efetiva e concisa. A questão da estética e do corpo vem sendo retratada constantemente em

trabalhos acadêmicos. A existência de uma sociedade de consumo e de uma cultura de

massa viabiliza a realização desses estudos, algumas vezes voltados à recepção, a como os

sentidos e as influências que a reprodução desses corpos nas mídias se traduz nas pessoas.

Ainda mais agora, num mundo globalizado que é palco de uma rápida disseminação de

informações e mudanças culturais, tendo valores como mobilidade e conectividade

caracterizando o cenário, além da ubiqüidade das mídias, ou seja, sua firme presença ao

mesmo tempo em todos os lugares, o que encurta distâncias e amplia horizontes. Essa

dinâmica da cultura midiática que vem evoluindo desde o século XIX, estaria provocando

uma crise, uma descentralização da subjetividade humana: “em relevo a instabilidade e a

dinâmica complexa, bioideológica pelo qual o sujeito é marcado: múltiplo, estigmatizado

pela falta, descentrado, uma verdadeira estrutura dissipativa em que ordem e desperdício se

conjugam” (SANTAELLA apud VILLAÇA, 2004, p. 123).

Essa crise do “eu” poderia explicar o fato da necessidade que as pessoas têm de

seguir tendências, moldes, se comportar conforme os famosos, que possuem corpo e atitudes

veiculados nas mais diversas mídias, atingindo o público, que é reduzido nesse sentido a

alvo de fácil envolvimento. Couto (2009, p. 1), em resenha do livro “Cultura de massas no

séc. XX”, do filósofo francês Edgar Morin, acredita nessa tese pelo fato de: “estarmos

vivendo em uma sociedade marcada pelo individualismo e pelos desejos de indivíduos que

procuram nos programas de televisão e filmes, se assemelharem a heróis ou vedetes, dessa

forma não assumindo uma responsabilidade plena, de encarar a própria realidade”.

Lady Gaga, fenômeno midiático que é, estaria nesse processo, sendo o arquétipo

admirado. No entanto, paradoxalmente, o que é “admirável” na artista não é propriamente o

belo, mas sim sua estética que coleciona adjetivos a princípio não desejáveis; exótico,

extravagente, feio, estranho, esquisito, grotesco. Aqui destacaremos o grotesco, pois já

abordamos os demais na delimitação. Leão e Souza (2010, p.4) o definem: “O termo

grotesco é originário das grottes: ornamentos românicos antigos, que entrelaçavam

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elementos orgânicos, culturas extraordinárias e figuras teratológicas”. A categoria estética

foi se expandindo e juntamente com isso, agregando valores:

Iniciado em solo italiano no século XVI, o grotesco se difunde por toda a Europa, a partir de então. O trajeto da noção de grotesco no tempo retira dela o sentido técnico e específico de um tipo de decoração romana tardia (e de um estilo renascentista nela inspirado), transformando-a frequentemente em adjetivo, para designar o que é bizarro, fantástico, extravagante e caprichoso. (ITAÚ CULTURAL, 2006, p. 1)

O grotesco une combinações raras de elementos de diferente natureza, com alusões a

distorções de conotação, aberrações, animalidade, seres híbridos, fezes e dejetos. O estilo foi

bastante apreciado na Idade Média, surgindo posteriormente em obras de pintores a exemplo

de Leonardo Da Vinci, Ticiano, Le Brun e vários outros. Sodré e Paiva (2002) acrescentam

que o estilo beira a fantasia e devaneios da imaginação, nos fazendo quase sempre rir. Essas

características podem ser observadas em alguns figurinos da cantora, em especial no clipe de

seu maior hit, “Bad Romance”.

Imagem 1: No videoclipe “Bad Romance”: amostra dos seus figurinos diferentesFonte: http://popularitybystrike.blogspot.com/2010/06/para-gaga-bad-romance-e-musica-mais.html

Muito se fala que Gaga reformulou a música pop, a partir de seu sucesso na mídia em

2009 com os dois primeiros singles, que explodiram nas paradas e pistas de dança de todo o

mundo, “Just Dance” e “Poker Face”. E para dar nova cara à cena pop, que a priori, desde

os tempos áureos de Madonna e Michael Jackson, se mostrava estereotipada com corpos

bonitinhos, mas com pouco talento, a exemplo de Britney Spears, a diva lança mão de

inúmeras referências das artes em geral, compondo um estilo irreverente e nada comum.

Moda, música e artes plásticas aparecem conjugadas na construção do personagem

midiático. Esses seriam os principais “culpados” pelo sucesso dela:

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As figuras midiáticas são participantes ou fundadoras de tribos pós-modernas, exemplo disso, são as personalidades midiáticas que surgem a partir de um diferencial em relação aos outros; essa diferença se configura na aparência, seja considerada inovadora, exótica ou até mesmo esdrúxula. (CIDREIRA e SANCHES, 2009, p. 8)

Os autores ainda falam sobre a importância do corpo nesse contexto:

É no corpo e através do corpo que as marcas culturais se inscrevem como formas de poder e teatralidade. Um exemplo que ilustra a teatralidade contemporânea é a música pop, sendo ela marcadamente reconhecida pela estetização das cantoras, que são consagradas pela sociedade de consumo. (ibidem, p.11)

O êxito da artista não para por aí, na coluna Pop & Arte, do portal G1, uma matéria

foi elaborada pondo em foco a popularidade da cantora na internet, pois a problemática está

cada vez mais no centro de interesse acadêmico da área de Comunicação. Tudo devido ao

fato de em 2010 ter alcançado a marca de um bilhão de visualizações e acessos no site

Youtube, acontecimento inédito a um artista, até então. Alguns professores, entre eles

Henrique Antoun da Escola de Comunicação da UFRJ, foram entrevistados e deram

declarações importantes:

Ela sabe usar os grupos de discussão e os instrumentos que eles oferecem, criando perfis em redes sociais, blogs onde você amarra tudo isso e até vídeos que você sobe para o Youtube e liga ao seu perfil. Misturando todos esses canais e se movimentando bem neles, você pode começar um movimento de sucesso (ANTOUN, 2010).

Ou seja, para ele, Gaga conhece o potencial de promoção que as mídias provêm

atualmente e sabe utilizar as ferramentas possibilitadas pela web. Por ser um canal em que

milhares de grupos dos mais variados segmentos estão inseridos, a internet funciona pelo

feedback, a comunicação boca a boca e em questão de segundos, numa velocidade

avassaladora, todas essas distintas tribos imersas no ciberespaço estarão falando da mesma

coisa.

A visibilidade midiática da cantora também foi tema de estudo para Franco e Santos

(2010), conforme eles, as informações veiculadas sobre a cantora a destacavam por uma

imagem midiática e não pelo seu talento. Fatos como uma queda num aeroporto, a ida à

formatura da irmã e o lançamento de uma boneca inflável inspirada em si, poderiam ocorrer

com qualquer famoso e até com anônimos (no caso dos dois primeiros), mas ganham

relevância simplesmente por estarem vinculados a Lady Gaga. A maioria das publicações

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analisadas tinha aspecto de entretenimento, frisando seus looks inusitados e afirmações

polêmicas relacionadas a ela, enquanto as músicas, a voz e os clipes, seus instrumentos de

trabalho, configuravam-se como coadjuvantes.

Foto : Indo a um jantar em Londres, em fevereiro de 2010Fonte: http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL1509052-9798,00-

LADY+GAGA+SAI+COM+LAGOSTA+BRILHANTE+NA+CABECA+E+VESTIDO+TRANSPARENTE.html

Portanto, diante dessa breve explanação, podemos perceber que o fenômeno Gaga é

assunto vigente e emergente e continuará assim sendo enquanto estiver nos holofotes e

mobilizando seus milhões de little monsters8 nas diferentes formas de interação, tanto do

mundo virtual quanto no mundo real.

_____________________8 Maneira como a cantora chama seus fãs. O conceito surgiu após o lançamento do EP* “The Fame Monster” e devido ao seu grande poder de engajamento, foi amplamente aceito, de modo que os mesmos sentem-se como monstrinhos dela.*EP significa extended play, ou seja, não se configura como um disco e sim como um agrupamento de poucas faixas, menos de dez.

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5. Procedimentos metodológicos

A análise que pretendemos propor nesta pesquisa utiliza-se do método dedutivo de

abordagem, bem como do método de investigação estudo de caso, já que buscaremos estudar

um tema específico de valor representativo, investigando-o em profundidade e sob diversos

aspectos.

Pautar-se-á ainda numa pesquisa explanatória e explicativa, tendo em vista que a

mesma tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, tornando-o

mais explícito, bem como identificar os fatores que contribuem para a ocorrência do

fenômeno em questão. Dessa forma, utiliza-se de instrumentação técnica baseada em

pesquisas bibliográficas, constituídas principalmente de livros e artigos científicos, focadas

nas obras de autores como: Lúcia Santaella, Muniz Sodré e Renata Cidreira. Estes nos

auxiliarão a trazer a luz e o referencial teórico para tal embasamento. Além disso, será

executada uma coleta de dados através de pesquisas por sites, colunas, perfis da cantora no

Facebook, Twitter, Myspace e Tumbrl e em sua comunidade brasileira na rede Orkut, onde

mais de 500 mil membros compartilham conteúdos e notícias relacionados à mesma.

Através dessas mídias, em conjunção com a televisão poderemos identificar e observar

detalhes e características do fenômeno.

Examinaremos a estética e o conceito dos videoclipes da cantora, tanto os já lançados

como os vindouros, observando como se dá o caráter performático e teatral não só de suas

apresentações, mas também de suas participações em eventos e entrevistas. Serão

observadas também suas aparições antigas, mas o foco, sem dúvidas estará nas

apresentações que divulgarão o seu mais novo álbum "Born This Way".

A aparência estranha, bizarra e até grotesca, juntamente com o uso estratégico das

ferramentas tecnológicas por Gaga, se mostrará como norte, o fascínio, o ponto de referência

da nossa pesquisa. E com base no referencial teórico adotado analisaremos criticamente o

material coletado, esperando atingir os objetivos propostos.

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6. Cronograma

ETAPA/MÊSAGO/2011

SET/2011

OUT/2011

NOV/2011

DEZ/2011

01 Pesquisa bibliográfica (enquadramento

teórico)X X

02 Coleta de dados através de mídias, como:

internet, TV, jornal e veículos oficiais de

divulgação da cantora.

X X

03 Exame dos videoclipes e aparições

públicas.X X

04 Análise crítica dos dados coletados. X X

05 Texto preliminar da pesquisa. X

06 Entrega ao orientador. X

07 Revisão e redação final. X

08 Entrega da Pesquisa. X

09 Defesa. X

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Referências

ARROYO, Caio. Lady Gaga irá lançar músicas inéditas no FarmVille. TV, Cinema e Música, 11 de maio de 2011. Disponível em: <http://tvcinemaemusica.wordpress.com/2011/05/11/lady-gaga-ira-lancar-musicas-ineditas-no-farmville/> Acesso em: 28 de junho de 2011.

G1. Coluna Pop & Arte. Universidades se voltam para fenômeno Lady Gaga na web. Disponível em: <http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/07/universidades-se-voltam-para-fenomeno-lady-gaga-na-web.html >. Acesso em: 02 de junho de 2011

CASTRO, Ana Lúcia de. Culto ao corpo: identidades e estilos de vida. Trabalho apresentado no VIII Congresso luso-brasileiro de Ciências sociais, realizado entre os dias 16 e 18 de setembro de 2009. Disponível em: <http://www.ces.uc.pt/lab2004/inscricao/pdfs/painel24/analuciacastro.pdf>. Acesso em: 09 de junho de 2011.

ITAÚ CULTURAL. Grotesco. In: Enciclopédia das artes visuais. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=4981>. Acesso em: 06 de junho de 2011

ECO, Umberto. História da feiúra. Trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2007. Resenha de: Marina Ambrósio Galindo Rolim. Universidade Estadual de Londrina/Capes. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/poslit/08_publicacoes_pgs/Em%20Tese%2013/TEXTO%2002%20RESENHA_jj.pdf>. Acesso em 07 de junho de 2011.

LADY GAGÁ? 13: Humor, curiosidades, atualidades e crônicas, Brasil, 24 de dezembro de 2009. Disponível em: <http://trezeminutos.wordpress.com/category/so-bobose/page/9/> Acesso em: 28 de junho de 2011.

EGO. Lady Gaga sai com lagosta brilhante na cabeça e vestido transparente. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2010. Disponível em: <http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL1509052-9798,00-LADY+GAGA+SAI+COM+LAGOSTA+BRILHANTE+NA+CABECA+E+VESTIDO+TRANSPARENTE.html> Acesso em: 28 de junho de 2011.

LEÃO, Jennifer Laís de Oliveira; SOUZA, Bruno Albyran. Bad Romance e a estética do grotesco. Trabalho apresentado no Congresso Acadêmico da Universidade Federal de Alagoas. Maceió, 2010.

MORIN, Edgar. Cultura de massas no séc. XX: Neurose. Tradução de Maura Ribeiro Sardinha. 1° edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. Resenha de: Sérgio Luna Couto. Universidade Federal de Juiz de Fora/Centro de pesquisas estratégicas “Paulino Soares de Sousa”. Disponível em: <http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/MORIN.pdf>. Acesso em: 23 de junho de 2011.

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Apêndices