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Universidade da Beira Interior
Departamento de Ciências Sociais e Humanas
2º Ciclo: Sociologia: Exclusões e Políticas Sociais
Estado-Providência e Políticas Sociais
Estado-Providência e Políticas Sociais:
Saúde e Exclusão Social
Docente: Prf. Dr. Nuno Augusto
Discente: Sandra Matos (m3453)
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Introdução
Em resposta à sociedade do risco, à cada vez maior desigualdade entre sectores da
sociedade e às elevadas situações de exclusão social, o Estado-providência surgiu comosuposta resposta a estas conjunturas. Assim no seguinte trabalho tem-se como principais
objectivos caracterizar as políticas de saúde primeiramente no âmbito da sociedade do
risco e posteriormente e de modo mais amplo no quadro do Estado-providência
português.
Num segundo momento, irá analisar-se o conceito de exclusão social e o modo como
este está patente no acesso aos serviços de saúde, e tem implicações nas condições de
saúde.
Conceitos Chave: Sociedade do Risco, Individualização, Estado-providência, Políticas
sociais, políticas de saúde, exclusão social
A saúde no quadro da Sociedade do Risco
Viveu-se a transformação ou transição de um tipo de sociedade para outro, se antes se
tinha uma sociedade de certezas, hoje vive-se numa sociedade ambivalente e recheada
de riscos.
Segundo Beck (2000:2), esta transição é o resultado de uma “modernização reflexiva”,
ou seja, a sociedade industrial entrou num processo de “(auto)destruição” o que deixouos indivíduos sem as certezas absolutas, sem as âncoras, que o auxiliavam na sociedade
industrial.
Uma das principais características desta nova sociedade é o facto de que a
individualidade de cada um, vem ao de cima, deixamos de possuir os modelos
estandardizados que nos encaminhavam na sociedade industrial e procuramos fazer as
nossas próprias escolhas tendo em conta os riscos que a elas vem associadas, pois não
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sabemos ainda em que sociedade estamos a entrar, e daí, ainda a dificuldade em
designa-la1.
Para Beck, esta individualização é um processo, primeiro de “descontextualização” em
que os indivíduos começam por se libertar das bases sociais, dos padrões da sociedade
industrial, pois percebem que os modelos padronizados, como a família e a classe
social, por exemplo, já não respondem às suas necessidades, e de seguida ocorre uma
“recontextualização” aos novos modelos da sociedade em que vivem, nos quais têm a
necessidade de se exporem e adaptarem a novas situações e relações permanentemente,
fazendo assim por “ produzir, encenar e montar eles próprios as suas biografias” (Beck ,
2000: 13), os indivíduos têm assim espaço para escolher o seu percurso identitário, mas
não no vazio, trata-se apenas “do surgimento de uma nova forma de conduzir e
organizar a vida, já não mais obrigatória e vinculada a modelos tradicionais” (Beck,
in Mitjavila, 2004: 73), que na linguagem de Giddens se designa pela criação de uma
“biografia reflexiva” (in Mitjavila, 2004: 73)2.
Para além da importante questão da (construção da) identidade, existem três áreas onde
a noção de risco se evidencia, a questão do trabalho, da política e da sociedade de
providência, evidenciadas em Hespanha et al (2002)
O trabalho é cada vez mais precário, flexível e temporário, se na sociedade Industrial,
ter trabalho significava estabilidade laboral e a garantia de acesso à não-exclusão, hoje
apenas é apresentado como um dos contextos onde a vulnerabilidade é acentuada.
Segundo Pedro Hespanha (2002: 29-36) e outros autores, o trabalho é marcado por
cinco dimensões importantes, 1) o desemprego, onde se acentua a condição de mulher e
de baixo nível de escolaridade, apresentando assim um paradoxo, visto serem as
mulheres quem possui mais habilitações; 2) a precariedade do emprego, não é estável, a
existência dos recibos verdes que não garantem as condições de trabalho como os
subsídios; 3) baixos rendimentos, devido às diversas situações os indivíduos sujeitam-seaos chamados “biscates”; 4) pluriactividades do emprego, os indivíduos deixam de ter
uma profissão para passarem a ter várias que vão gerindo; e por último, mas não menos
importante 5) o elevado nível de endividamento, que surge para satisfazer necessidades
básicas como a alimentação, habitação e vestuário.
1 Sociedade do Risco (Beck); Sociedade do Consumo (J. Baudrillard); Modernidade Líquida (Z.Bauman); pós-modernidade; modernidade tardia; segunda modernidade…
2 A vida dos indivíduos é comparada a uma “colcha de retalhos” em que os indivíduos sobre a identidadeque possuem cozem “novas crenças, saberes e identificações” (Paiva e Calheiros, 2001:143).
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O Estado responde a este contexto com políticas sociais, contudo estas são também
geradoras de desigualdades, revelando-se inadequadas e insuficientes, já para não
referir que existem políticas que respondem às necessidades da anterior realidade, da
sociedade industrial, ou seja não são compatíveis com as necessidades actuais, “a
ausência de respostas adequadas às necessidades torna-se num factor activo de risco
social para esses agregados” (Hespanha, e tal, 2002: 37). Neste âmbito existem
também novos agentes a quem cabe também as decisões e o controle. A regulação
Estatal tem vindo a perder força e não só a nível da saúde, o âmbito específico deste
trabalho, com a globalização muitas das decisões estatais ultrapassam os próprios
estados.
Por último a Sociedade Providência, esta é posta em casa de devido às características da
nova sociedade, a individualização, e a redução de confiança nas relações interpessoais,
contudo ainda são estas “relações de entreajuda baseadas em relações de parentesco e
de vizinhança que assumem a cobertura do risco social” (Hespanha e tal, 2002:46)
nomeadamente em situações de exclusão e/ou pobreza.
Referindo mais especificamente a área da saúde, esta é uma construção social, o que
significa que as características importantes da saúde e da doença são criadas e
influenciadas pelas atitudes, acções e interpretações dos membros de uma sociedade.
Logo se houve uma alteração no tipo de sociedade, abordada anteriormente, esta
modificação tem consequências na maneira como é entendida e vivida a saúde , “a
história social das doenças nas sociedades europeias tem revelado que, em asa época,
uma doença «domina a realidade da experiencia e a estrutura das representações» ”
(Herzlich e Pierret in Carapinheiro, 1986:10), o exemplo claro disto é a doença da
“obesidade” e da “hiperactividade”, antes eram consideradas como situações normais,
sem lhes ser atribuído qualquer tipo de indícios de doença, situação que se veio aalterar.
A saúde que antes era considerada algo do âmbito familiar, privado passou para as
agendas políticas e tornou-se um assunto público, “ foi penetrando em domínios não
tradicionais, como o trabalho, escola, velhice, sexualidade, desporto, etc”
(Carapinheiro, 1986: 20). Com a modernização a saúde e a doença passaram para um
período secular, estão cada vez mais diversificadas e mais especializadas, mais
enraizadas no âmbito do discurso científico, o que antes também era impensável, asaúde e a doença estavam ligadas ao sagrado, através de forças divinas. Contudo é
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visível que ainda hoje estas duas lógicas coexistem, os indivíduos tanto se dirigem ao
hospital, como de seguida vão aos “curandeiros” ou ao “endireita”. Os indivíduos fazem
escolhas e ponderam os riscos a elas associadas, “os indivíduos experimentam formas
alternativas de curar se uma eventualidade surgir. Mas relembre-se que em primeiro
lugar acredita- se no poder da medicina e dos médicos” (Carvalho, s/d:2) isto ocorre
devido aos vincos que a medicina deixa na sociedade, através das “ novas competências
e técnicas adaptadas à especificidade da actuação médica (…) maior clarificação das
funções sociais da medicina (…) inauguração de estratégias de apropriação de novas
posições de poder nunca experimentadas anteriormente” (Carapinheiro, 1986: 20).
Estado-Providência e as Políticas Sociais – o caso das políticas de Saúde
Estado-Providência em Portugal
Já os outros países se encontravam com o seu Estado-providência em crise quandoPortugal constrói o seu “tardiamente e de forma problemática” , isto porque, Portugal
viveu sobre um regime ditatorial até aos inícios da década de 70 e o facto de Portugal
ser altamente rural, sem industrialização, sem o terceiro sector e sem urbanização
(Portugal, 2005:1-2).
O Estado-providência é o resultado de “ um compromisso, ou de um certo pacto
teorizado no plano económico por Keynes, entre Estado, o capital e o trabalho, nos
termos do qual os capitalistas renunciam a parte da sua autonomia e dos seus lucros eos trabalhadores a parte das suas reivindicações” com o objectivo de obter paz social e
a acumulação de capital para a posterior distribuição em direitos sociais, através das
políticas sociais (Santos, B.S. 1990:194)
Segundo Esping-Andersen (1998: 15,16) existem três modelos de Estado-providência
construídos tendo em conta o modo como “repartem as responsabilidades sociais entre
o estado, o mercado e a família”, assim tem-se o modelo Anglo-saxónico, o modelo
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Escandinavo e o modelo da Europa continental3, no qual Portugal se insere segundo o
mesmo autor. Contudo existem outros autores, como Maurizio Ferrera que devido às
especificidades do caso português, consideram a existência de um quarto modelo de
“welfare state”, que para além de Portugal inserem também Itália, Espanha e Grécia,
constituindo assim o “modelo social do sul” (in Portugal, 2005:3). Este tem como
principais características, um sistema “ fragmentado e corporativista” o que leva a uma
protecção social desigual, a existência de um SNS que procura o carácter de
universalista, a combinação ente público e privado sem intervenção por parte do Estado
e ainda a visão assistencialista do Estado (Ferrera in Portugal, 2005:3; Ferrera in Santos,
B.S. e Ferreira, S., 2002:192).
Devido às divergências entre as várias realidades, concebidas dentro de um mesmo
conceito, o de Estado-Providência, leva também há existência de discordâncias entre os
vários teóricos, entre os quais Boaventura Sousa Santos, que coloca em causa a
existência de um Estado Providência em Portugal, e afirmando o contrário encontram-se
os teóricos Juan Mozzicafreddo e António Barreto.
Segundo Boaventura Sousa Santos, Portugal não possui um Estado-providência, tendo
em conta as características comparativas que levaram há existência deste nos outros
países. De acordo com o mesmo autor, um Estado-providência “assenta na ideia de
compatibilidade (e até complementaridade) entre crescimento económico e políticas
sociais, entre acumulação e legitimação, ou mais amplamente, entre capitalismo e
democracia” (1990: 196), contudo Portugal não “obedece” a estes pontos, a articulação
entre democracia e capitalismo e a concertação entre capital e trabalho, ocorreram “já
num contexto de “crise” internacional do Estado- providência” (Santos, B.S. e Ferreira,
S., 2002: 186); a tentativa de interdependência entre acumulação e legitimação também
não ocorreu, antes da revolução de 1974 era permitida a acumulação mas não existialegitimação democrática, após esta, legitimou-se o modelo político, mas em
3 O modelo anglo-saxónico é considerado o mais excludente, uma vez que dirige a acção social para osmais desfavorecidos, aposta numa privatização da segurança social e dos direitos sociais não osuniversalizando, a intervenção do Estado é mínima. O modelo Escandinavo serve a totalidade dosindivíduos, é universalista, aposta numa lógica de colectivização do dos direitos sociais, apoiando afecundidade e a maternidade, o emprego feminino, o crescimento demográfico, o papel do Estado évalorizado em detrimento do mercado. O modelo da Europa continental combina características dosanteriores, procura a universalidade mas ao mesmo tempo combina privado – público, depende do
trabalho (masculinizado) sobre o qual recai uma protecção excessiva o que leva a uma quebra das taxasde natalidade e de fecundidade (Santos, B. S. e Ferreira, Sílvia, 2002:179-181; Esping-Andersen, G.,1998:15-17)
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contrapartida a acumulação económica era fraca o que, também, não permitia, por sua
vez, os elevados gastos em capital social. Também é de referir que em Portugal o
Estado-providência não resultou de processos democráticos e conquista social, isto é,
“de uma internalização, por parte da burocracia estatal, das despesas e serviços
sociais como direito dos cidadãos”, o que faz com que se veja os direitos sociais não
como tal mas sim como uma “benevolência estatal”, neste ponto “Portugal está ainda
longe o modelo europeu de burocracia social, em algumas áreas” (Santos, B.S. e
Ferreira, S., 2002: 190).
Do lado discordante, encontram-se Juan Mozzicafreddo e António Barreto que afirmam,
que apesar de fraco e incipiente é indiscutível a existência de um Estado-providência em
Portugal, a “menor visibilidade, analítica e política, das características do Estado-
providência em Portugal não indica necessariamente a não existência desta forma
política e social do Estado de direito” (Mozzicafreddo, 1997:31).
Na base das suas teorias estão argumentos como a “existência política e administrativa
do Estado-providência”, o rápido desenvolvimento de “políticas sociais e de
compensação”, a “intervenção do Estado no mercado através da regulação económica e
de políticas macroeconómicas”, e ainda a tentativa de “diminuição das desigualdades
sociais através da consertação entre parceiros sociais e económicos” (Mozzicafreddo,
1997:32). O nível de desenvolvimento destas questões tem que ser analisado tendo em
conta o contexto político e social português.
A crise do Estado-providência poderá se chamar de tripla crise, uma vez que os factores
para tal se situam em três elementos importantes, a crise financeira, a crise de
legitimidade e a crise de eficiência. A Crise financeira diz respeito à descontinuidade
existente entre o crescimento económico e as despesas sociais, isto é “o Estado tende a
fazer despesas acima dos seus recursos”; o facto de a questão das desigualdadescontinuar a existir de forma marcante e os privilégios serem dirigidos apenas para
alguns sectores da população, faz com que ocorra a crise de legitimação e por último, a
crise de eficiência em que o Estado não consegue efectuar o papel que lhe compete de
regulador do pacto social, isto é, de manter em quantidade e qualidade os direitos
sociais (Santos, 1990).
Por outro lado Esping-Andersen, mais recentemente, indica outros três factores para a
crise do Estado- providência, sendo eles “o impacto da internacionalização
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económica… as mudanças demográficas… as mudanças a nível da família [incluindo] o
novo papel económico das mulheres” (1998:13-14)
As Políticas Sociais – o caso específico da Saúde
Devido à vivência numa sociedade do risco, tal como foi definida anteriormente, as
políticas sociais visam atender a situações de risco, de desigualdade social, e deste
modo traduzir os direitos sociais (Rodrigues, et al, 1999:1). Assim, consideram-se
políticas as que forem “desenvolvidas pelo Estado em vista da realização das
prestações materiais e individuais a que os cidadãos tenham direito” (Carreira,
1996:37).A saúde foi uma das áreas onde o Estado-providência trouxe grandes alterações, depois
da revolução de 1974, foi implementado em Portugal, com a entrada em vigor da
Constituição (1976), o Sistema Nacional de Saúde (SNS) que tem como principais
objectivos fornecer cuidados de saúde a toda a população e gratuitamente, é assim, um
sistema universal, geral e gratuito (Carreira, 1996:124)4.
Como já referido em cima no trabalho, o suposto papel do Estado-providência é o de
regulador do pacto entre capitalismo, trabalho e Estado, e por sua vez cabe a este a
“incumbência de mobilizar os recursos financeiros indispensáveis ao SNS, de modo a
assegurar a sua progressiva implantação e realização” (Carreira, 1996:125).
O SNS é extremamente vasto, tem sobre a sua alçada os “cuidados de promoção e
vigilância da saúde e de prevenção da doença; os cuidados médicos de clínica geral e
de especialidades; os cuidados de enfermagem; o internamento hospitalar; os meios
complementares de diagnóstico e terapêuticos; os medicamentos e produtos
medicamentosos” (Carreira, 1996:125).
Foi a partir da década de 80 que a saúde deixou de ter algumas das características
anteriores, como por exemplo, a gratuitidade, com a implementação das taxas
moderadoras em 1981, isto porque o Estado começou com a política de racionalização
da saúde, “o financiamento passa a ser também da responsabilidade de outras
entidades, além do Estado. Incumbe, nomeadamente, aos beneficiários, «tendo em
4 Ver também (Portugal, 2005:6; Carapinheiro, G. e Pinto, M. G., 1987:75, 83; Mozzicafreddo, 1997:53)
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conta as suas condições económicas e sociais…» ” (Carreira, 1996:127), pois uma
“ política social coerente (…) tem de ser definida com ponderada consideração de um
conjunto de variáveis entre as quais assumem especial relevância, as de natureza
económico- financeira” (Carapinheiro e Pinto, 1987:86) aspecto crucial na altura em
Portugal.
Coexistem com este regime oficial, SNS, outros subsistemas, entre os quais a ADSE,
contudo o primeiro ainda serve cerca de 86% da população (Carapinheiro e Pinto,
1987:90)
O papel do Estado tem vindo a diminuir, não conseguindo “dar conta” de todas as áreas,
e ao aparecer o privado, o Estado, deixou que este servisse de suplemento em algumas
áreas, onde o público não estivesse, devendo ser, esta, uma situação temporária, contudo
o privado foi alargando a sua influência, passando de suplemento para substituto,
sobretudo nos meios complementares de diagnóstico (Mozzicafreddo, 1997:59). A
transferência do público para o privado tem vindo a aumentar como resultado de
acordos e contratos entre os dois sectores, o que reflecte a “incapacidade do sector
Estatal para responder às solicitações da população, (…) [as respostas que o Estado
tem dado baseiam-se na criação de] barreiras/preço junto dos utentes” (Carapinheiro e
Pinto, 1987: 94). Tal como refere Correia de Campos o sistema politico português nem
é publico nem privado, e no caso da saúde não é excepção, acaba por ser um sistema
misto, onde se tem em conta o bem-estar de todos (público) e o lucro (privado)
(1986:617)
Apesar de o SNS continuar a ser o elemento principal, este foi completamente esvaziado
da sua concepção inicial. Com toda esta situação o SNS entra também ele em crise,
devido a alguns factores que são em parte consequência da melhoria das condições de
saúde como a inversão da pirâmide etária: aumento da esperança média de vida ediminuição da natalidade a nível demográfico, menos capital, e por conseguinte o recuo
do Estado, a nível político a existência de um lobbie forte com interesses imperativos (a
Ordem dos Médios) (Cabral e Silva, 2009:21); a existência de um “mercado misto [de
saúde, onde] tanto prestadores públicos como privados competem por contratos, no
âmbito dos processos de contratualização descentralizada”, (Ferreira, 2004:315) a
organização burocrática e centralizada da saúde, o modo como se concebe os cuidados
de saúde, o privilégio dos hospitais em detrimentos dos centros de saúde, sendo estes
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últimos descapitalizados de status e de poderes na dimensão médico-cientifica (Cabral e
Silva, 2009:21).
Exclusão social e acesso à Saúde
Antes de se iniciar a análise de exclusão social no acesso à saúde é de extrema
importância conceptualizar o conceito de exclusão, visto este ser um tanto ou quanto
complexo.
Exclusão social diz assim respeito a um “ processo de ruptura com a sociedade,
processo que pode assumir duas formas principais: por um lado, a ruptura pela
ausência de um conjunto de recursos básicos (…) por outro, a ruptura como
consequência de estigmatização que afectam grupos sociais es pecíficos…” (Rodrigues,
2000:174). De acordo com a primeira parte deste trabalho e segundo Peter Townsend os
excluídos “são indivíduos que acumulam um conjunto de riscos, de dificuldades ou de
handicaps, através de trajectórias de vida que reforçam diferentes tipos de rupturas e
perdas ou privações…” (in Rodrigues, 2000:175).
Muitas outras definições existem, contudo é importante de ter em conta que existe na
teoria quem refira a exclusão como uma “causa individual”, isto é, os excluídos estão
nessa situação por culpa própria e só a eles cabe a efectuar o processo contrário. Pelo
contrário outros, afirmam que a exclusão se deve a “ factores sociais”, e neste caso a
culpa é atribuída à sociedade e às estruturas sociais, e cabe ao governo implementar
medidas para os indivíduos voltarem a estar integrados e inseridos na sociedade
(Augusto A. e Simões Mª J., 2007:8).
De modo mais completo e eficaz existe a chamada teoria de síntese que combina os
factores individuais com os sociais, afirmando assim que a “exclusão social deve-se a
um conjunto imbricado de factores sociais e individuais que importa em cada contexto
ou caso concreto identificar”, a exclusão decorre de factores sociais, económicos,
educacionais, profissionais, políticos. Neste sentido para além de ser necessário a
intervenção do Estado, requer-se uma participação activa do indivíduo no seu processo
de inserção social. (Augusto A. e Simões Mª J., 2007:8)
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Devido á grande diversidade de situações em que o indivíduo se pode encontrar nos
diferentes domínios da vida social há autores que definem “zonas” em que os indivíduos
se podem inserir tal como o próprio nome indica: “ zona de integração … zona de
vulnerabilidade …[e] zona de exclusão” (Díez, 2006:32-33) ou noutra terminologia
como refere Thompson “os que se chamam de desvantajosos, (…) os marginalizados ou
inseguros (…) [e por fim] os privilegiados” (2000:2).
A exclusão ou vulnerabilidade à exclusão é analisada recorrendo a três dimensões
explicitadas resumidamente da seguinte forma: 1) privação diz respeito “ao acesso a
recursos materiais (…) para manter condições de vida aceitáveis”; 2) desqualificação
social é o “descrédito a que estão sujeitos aqueles que não participam na vida
económica e social” e 3) desafiliação implica a junção de “dois vectores: um eixo de
integração (…) e um eixo de inserção” que quando não ocorrem originam a quebra dos
laços sociais nos 4 pilares fundamentais. Trabalho, Estado, Família e Comunidade (ISS,
Tipificação das Situações de Exclusão em Portugal Continental in Augusto A. e Simões
Mª J., 2007:10-11)
A saúde é um elemento importante no processo de integração dos indivíduos, e existem
vários elementos e/ou factores que estão implicados na concretização desta integração.
O parque hospitalar é constituído pela seguinte hierarquia de organizações de saúde:
centros de saúde – Hospitais distritais – Hospitais centrais – Entidades privadas,
contudo este parque não é equilibrado a nível regional, isto é, existem “assimetrias
regionais” na distribuição e oferta destes serviços, assim como no que diz respeito a
recursos humanos, reportando-se aos profissionais de saúde, o que conduz a um
“ problema de acessibilidade por parte dos indivíduos aos serviços de saúde”. Estes
meios estão assim, maioritariamente disponíveis, não só a nível de quantidade mas
também de qualidade e desenvolvimento (especialização) na faixa litoral de Portugal,principalmente nas cidades de Lisboa, Porto e Coimbra (Carapinheiro e Pinto, 1987:97,
99). Isto coloca um entrave ao acesso à saúde, para os indivíduos que vivem no interior
do país, passam a ficar, ou não, limitados de acordo com os seus rendimentos, neste
âmbito a condição laboral tem grande influência no acesso à saúde.
Outro aspecto diz respeito ao sector privado, algumas, se não mesmo a maioria, das
áreas mais especializadas, encontram-se apenas neste, e mais uma vez a questão de
capital, quem o possui tem acesso, quem não possui fica à margem, “observa-se uma
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maior propensão à escolha de consulta privada, que é tanto maior quanto mais elevado
é o escalão de rendimento em que o agregado familiar se situa” (Barros, s/d: 16,17)
Outros elementos, independentes das regiões, mais individuais, dizem respeito ao “sexo,
idade, escolaridade, rácio peso/altura” (Barros, s/d:13). É visível que as mulheres, e
quem possui mais habilitações, acedem com mais frequência aos serviços de saúde.
É de referir também que a exclusão e as desigualdades não ocorrem só no acesso por
parte dos doentes, mas também dentro da própria organização, por exemplo existe uma
clara discriminação entre os hospitais e os centros de saúde. Contudo estes dois pontos
de análise e muitas outras situações ficarão para um próximo trabalho.
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Conclusão
A entrada num novo tipo de sociedade, trouxe várias alterações a nível dos vários
sistemas: económico, político, social, cultural, e importante de referir, na vida de cada
indivíduo.
Contudo também existem aspectos que não mudam, como as desigualdades sociais e a
exclusão social, que apesar de se viver sobre um Estado-providência, que tem como um
dos princípios básicos a igualdade, mesmo com a aplicação de políticas e programas
específicos, este é incapaz de dar todas as respostas necessárias para se ultrapassarem
estas questões que são demasiado complexas e que requerem ainda muita investigação,
pois muito do que é feito não tem em conta a verdadeira realidade.
A questão específica da saúde, foi aqui analisada, no sentido de perceber as alterações
que a própria noção de saúde sofreu, e também o que existe que sustente esta área de
intervenção social.
Em relação à exclusão no acesso à saúde, é de referir que foram analisados apenas as
assimetrias regionais a nível de serviços disponibilizados, do nível de desenvolvimento
dos mesmos e a relação entre público/privado através das escolhas que são feitas tenho
em conta a classe de rendimentos dos indivíduos. Muitos outros elementos se poderiam
ter em conta inclusive os de cariz mais individual, que ficarão para um próximo
trabalho.
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