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FACULDADE CATÓLICA SALESIANA DO ESPÍRITO SANTO ABYLA ROMÃO MATIAS ESTADO NUTRICIONAL E INGESTÃO ALIMENTAR DE DIABÉTICOS ACOMPANHADOS POR EQUIPE INTERDISCIPLINAR DA UNIDADE DE SAÚDE BOM PASTOR EM CARIACICA - ES VITÓRIA 2013

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FACULDADE CATLICA SALESIANA DO ESPRITO SANTO

ABYLA ROMO MATIAS

ESTADO NUTRICIONAL E INGESTO ALIMENTAR DE DIABTICOS

ACOMPANHADOS POR EQUIPE INTERDISCIPLINAR DA UNIDADE DE SADE

BOM PASTOR EM CARIACICA - ES

VITRIA

2013

ABYLA ROMO MATIAS

ESTADO NUTRICIONAL E INGESTO ALIMENTAR DE DIABTICOS

ACOMPANHADOS POR EQUIPE INTERDISCIPLINAR DA UNIDADE DE SADE

BOM PASTOR EM CARIACICA - ES

Trabalho de Concluso de Curso apresentado Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo, como requisito obrigatrio para obteno do ttulo de Bacharel de Nutrio.

Orientador: Prof Mrian Patrcia Castro Pereira Paixo.

VITRIA

2013

ABYLA ROMO MATIAS

ESTADO NUTRICIONAL E INGESTO ALIMENTAR DE DIABTICOS ACOMPANHADOS POR EQUIPE INTERDISCIPLINAR DA UNIDADE DE SADE

BOM PASTOR EM CARIACICA - ES

Trabalho de Concluso de curso apresentado Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo, como requisito obrigatrio para obteno do ttulo de Bacharel em Nutrio.

Aprovado em 04 dezembro de 2013, por:

_________________________________________________

Prof Dr Mrian Patrcia Castro Pereira Paixo, FCSES Orientador

_________________________________________________

Nutricionista Esp. Luciana Almeida Costa - SEDU

_________________________________________________

Prof. Msc. Lusa Campos - UFES

AGRADECIMENTOS

A Deus que me concedeu essa oportunidade e sempre est ao meu lado. por isso

que toda honra seja dada ao Senhor por essa conquista.

Aos meus amados pais que me ensinaram a lutar pelos meus sonhos e nos meus

momentos de angstia me incentivaram e encorajaram com sua f e amor.

As minhas irms juntamente com meus cunhados pela enorme disposio em ajudar

e estarem sempre comigo.

Aos meus sobrinhos que me incentivaram pela necessidade de ser exemplo.

Aos demais familiares e aos que adotei como parte integrante da minha famlia, por

sempre acreditarem em mim.

A Waldiney Amorim pela pacincia, compreenso e apoio.

A minha orientadora professora Dr Mrian Patrcia, que muito me ensinou com sua

experincia, esclarecendo as minhas dvidas, tendo muita pacincia e competncia.

A todos os meus professores do curso de Nutrio da FCSES que me auxiliaram

nessa trajetria.

Agradeo a todos os meus amigos e colegas de faculdade, que de alguma forma me

auxiliaram nessa realizao, especialmente Patrcia Teixeira, Josiane Sousa e Ingrid

Carvalho pelo apoio e companheirismo.

A Secretaria de Sade de Cariacica pelo consentimento para a realizao do

trabalho. Aos funcionrios da Unidade de Sade pela contribuio. Aos que

aceitaram participar da pesquisa sempre terei muito carinho e agradecimento a

todos.

A todos que oraram por mim, agradeo grandemente.

Enfim, muito obrigado a todos que contriburam para a realizao da minha

conquista.

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo avaliar o impacto do acompanhamento

interdisciplinar no estado nutricional e sob a ingesto alimentar de pacientes

diabticos da Unidade Bsica de Sade Bom Pastor, do municpio de Cariacica -

ES. Trata-se de uma pesquisa transversal, com abordagem quantitativa e qualitativa.

Para realiz-la foram avaliados 31 pacientes, sendo esses divididos em 2 grupos; o

grupo 1, composto por pacientes acompanhados por todos os profissionais da

equipe interdisciplinar, enquanto o grupo 2 compreende aqueles atendidos por

alguns profissionais da equipe. Os dados foram coletados aps aprovao da

Secretaria Municipal de Sade de Cariacica e Comit de tica e Pesquisa. A

pesquisa dividiu-se em duas consultas; na primeira, os pacientes assinaram o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido e passaram pela avaliao antropomtrica,

com aferio de peso, altura para realizao do clculo de ndice de massa corporal

(IMC), alm de circunferncia da cintura (CC), circunferncia do brao (CB) e prega

cutnea tricipital (PCT); na segunda, os registros alimentares e as informaes dos

exames bioqumicos disponveis foram coletados. Foi realizada anlise estatstica

descritiva dos resultados em mdia e desvio padro, alm disso, foi aplicada a razo

da mxima verossimilhana, teste Exato de Fisher e qui-quadrado. A maioria da

amostra foi composta pelo sexo feminino (61,3%). O grupo 1 representou 51,61% da

amostra, enquanto o grupo 2 48,39%. Com relao a IMC os adultos apresentaram

altos ndices de sobrepeso e obesidade. Elevados ndices de sobrepeso foram

encontrados nos idosos. Os grupos de forma geral apresentaram resultados

desfavorveis quanto CC, CB, PCT, glicemia de jejum e ps-prandial. O perfil

lipdico apresentou em sua maioria valores dentro dos limites. No houve relao

significativa entre o perfil antropomtrico e bioqumico quanto o tipo de

acompanhamento (p>0,050). Ambos os grupos apresentaram ndices elevados

quanto inadequao no consumo de protena, fibra, vitamina A e clcio, situao

essa que deve ser revista pelo nutricionista. Houve relao significativa entre o

adequado consumo de lipdeo e carboidrato (p

permite a abordagem integral, respeitando as individualidades biolgicas,

psicolgicas, sociais e culturais, focando sempre a promoo da sade e preveno

de complicaes.

Palavras chave: Avaliao do estado nutricional. Ingesto alimentar. Equipe

interdisciplinar. Adultos. Idosos.

ABSTRACT

The present study aimed to evaluate the impact of interdisciplinary monitoring the

nutritional status and food intake in diabetic patients of Basic Health Unit Bom

Pastor, in the city of Cariacica - ES. It is a cross-sectional survey with quantitative

and qualitative approach. This research evaluated 31 patients, divided into two

groups, the group 1 was comprised patients followed for all professionals in the

interdisciplinary team, while the second group were attended for some professionals

of interdisciplinary team. Data were collected after approval of the Municipal Health

Cariacica and the Comitte Ethics and Research. The research was divided into two

consultations: in the first, the patients signed a consent form and went through

anthropometric assessment, with measurement of weight, height for calculation of

body mass index (BMI), and waist circumference (WC), arm circumference (AC) and

triceps skinfold (TSF); in the second consultation the food records and information of

the available biochemical tests were collected. We performed descriptive statistical

analysis of the results in mean and standard deviation, moreover, we applied the

likelihood ratio, Fisher's exact test and chi-square. The majority of the sample

consisted of women (61,3%). The first group accounted for 51,61% of the sample,

while group 2 represented 48,39 %. With respect to BMI the adults had high rates of

overweight and obesity. High rates of overweight were found in the elderly. The

groups generally showed unfavorable results as WC, AC, TSF, fasting and

postprandial glucose. The lipid profile showed mostly values within limits. There was

not significant relationship between anthropometric and biochemical levels as the

type of monitoring (p>0,050). Both groups showed a higher level of inappropriate

consumption of protein, fiber, vitamin A and calcium, a situation that should be

reviewed by the nutritionist. There was significant relationship between adequate

intake of lipid and carbohydrate (p

Keywords: Assessment of nutritional status. Food Intake. Interdisciplinary team.

Adults. Elderly.

LISTA DE ABREVIATURAS

A1C Hemoglobina glicada

APS Ateno Primria a Sade

CB Circunferncia do Brao

CC Circunferncia da Cintura

DC Doena Crnica

DCNT Doenas Crnicas No Transmissveis

DCV Doenas Cardiovasculares

DM Diabetes Mellitus

DRIs - Dietary Reference Intakes

GIP Gastric Inhibitory Polypeptide ou Fator Insulina Protetor

GLP1 Glucagon-Like Peptide-1 ou fator ps-glucagon

HDL High Density Lipoproteins ou Lipoprotenas de Alta Densidade

SISHIPERDIA - Sistema de Gesto Clnica de Hipertenso Arterial e Diabetes

Mellitus da Ateno Bsica

IMC ndice de Massa Corporal

LDL Low Density Lipoproteins ou Lipoprotena de Baixa Densidade

PCT Prega Cutnea Tricipital

SUS Sistema nico de Sade

TOTG Teste Oral de Tolerncia a Glicose

UBS Unidade Bsica de Sade

VCT- Valor Calrico Total

SUMRIO

1 INTRODUO ..................................................................................................... 15

2 REFERENCIAL TERICO .................................................................................... 19

2.1 TRANSIO DO PERFIL POPULACIONAL ...................................................... 19

2.1.1 Transio nutricional e a carga de doenas crnicas na populao

mundial .................................................................................................................... 19

2.1.2 Doenas Crnicas No Transmissveis decorrentes do envelhecimento 20

2.2 DIABETES MELLITUS: CONCEITO E CLASSIFICAO .................................. 20

2.2.1 Critrios para diagnstico e acompanhamento do Diabetes Mellitus ...... 21

2.2.2 Possveis manifestaes clnicas no Diabetes Mellitus ............................. 22

2.2.3 Impacto do Diabetes Mellitus ....................................................................... 24

2.3 O PAPEL DO SERVIO DE SADE .................................................................. 25

2.3.1 Estratgias de sade pblica no cuidado do Diabetes Mellitus ................ 27

2.4 PILARES NO TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS ................................. 29

2.4.1 Tratamento no medicamentoso .................................................................. 30

2.4.2 Tratamento medicamentoso ......................................................................... 31

2.4.3 Atuao interdisciplinar no tratamento do Diabetes Mellitus ................... 32

2.4.4 Papel e importncia do nutricionista ........................................................... 34

2.4.4.1 Avaliao do estado nutricional de diabticos .............................................. 35

2.4.4.2 Composio do plano alimentar ................................................................... 39

3 METODOLOGIA .................................................................................................... 43

3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO ......................................................................... 43

3.1.1 Populao e local de estudo ......................................................................... 43

3.1.2 Critrios de incluso e excluso .................................................................. 43

3.2 COLETA DE DADOS .......................................................................................... 44

3.2.1 Critrios ticos adotados .............................................................................. 44

3.2.2 Perodo e oredem da coleta de dados ......................................................... 45

3.3 AVALIAO DO ESTADO NUTRICIONAL ........................................................ 45

3.3.1 Avaliao do perfil antropomtrico .............................................................. 46

3.3.2 Avaliao da ingesto alimentar .................................................................. 47

3.3.3 Avaliao bioqumica .................................................................................... 48

3.4 ANLISE DE DADOS ......................................................................................... 48

3.5 FINANCIAMENTO .............................................................................................. 49

4 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................. 51

5 CONSIDERAES FINAIS .................................................................................. 77

REFERNCIAS ......................................................................................................... 79

APNDICE A ............................................................................................................ 97

APNDICE B ............................................................................................................ 99

APNDICE C .......................................................................................................... 101

ANEXO A ................................................................................................................ 103

ANEXO B ................................................................................................................ 105

ANEXO C ................................................................................................................ 107

ANEXO D ................................................................................................................ 109

ANEXO E ................................................................................................................ 111

ANEXO F ................................................................................................................ 113

ANEXO G ................................................................................................................ 115

ANEXO H ................................................................................................................ 117

ANEXO I.................................................................................................................. 119

15

1 INTRODUO

O Brasil vem passando por um perodo de intensas transformaes, sejam essas

demogrficas, nutricionais e epidemiolgicas. Um desses fenmenos marcado

pelo envelhecimento da populao, juntamente com a reduo nas taxas de

mortalidade e fecundidade, fenmeno esse conhecido como transio demogrfica

(MALTA et al., 2006).

Juntamente com o aumento da expectativa de vida surgem diversas modificaes

fisiolgicas, decorrentes do envelhecimento, alm disso, o envelhecimento est

relacionado ao desenvolvimento de doenas degenerativas e crnicas, como

obesidade, osteoporose, hipertenso arterial sistmica, depresso, doenas

cardiovasculares e diabetes mellitus (CRUZ; MELO; BARBOSA, 2011).

A elevada incidncia e prevalncia de Doenas Crnicas No Transmissveis

(DCNT) vm afetando grandemente a populao mundial, refletindo assim nas taxas

de morbimortalidade da populao. Essa modificao de perfil chamada de

transio epidemiolgica (MENDES et al., 2011).

O Diabetes Mellitus (DM) uma DCNT comumente encontrada na populao

mundial, afetando cerca de 347 milhes de pessoas no mundo (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2013).

Segundo dados da Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas

Crnicas por Inqurito Telefnico (VIGITEL) do ano de 2011, o nmero de pessoas

diabticas est crescente no Brasil, em ambos os sexos (BRASIL, 2012a). Em 2006

cerca de 4,4% dos homens informavam serem portadores de DM, aumentando para

5,2% em 2011. Apesar da crescente nos homens, a prevalncia nas mulheres

ainda maior, alcanando cerca de 6% no ano de 2011 (BRASIL, 2011).

Os nmeros relacionados mortalidade decorrente do DM e suas complicaes

associadas so alarmantes. O Sistema de Informaes sobre Mortalidade do

Ministrio da Sade em 2010 notificou 54.542 casos de mortes no Brasil decorrentes

do DM, sendo que em 2009 eram 52.104 mortes (BRASIL, 2012a).

Porm, mesmo com essa crescente, nota-se um retardo nos ltimos anos em

relao ao percentual de aumento. No perodo de 2008 a 2010 o percentual

diminuiu, alcanando 7,5% de aumento no nmero de casos, quando comparado ao

16

perodo de 2005 a 2007, que o percentual atingiu a marca de 16% de aumento

(BRASIL, 2012b).

O descontrole glicmico pode gerar complicaes metablicas, custos elevados,

tanto para o diabtico e suas relaes sociais quanto para o pas (BRASIL, 2012a).

Dessa forma, o DM se tornou um problema de sade pblica, gerando uma ateno

especial das pesquisas atuais, dos servios e profissionais de sade, tornando-se

assim um desafio a ser enfrentado (BRASIL, 2013).

A grande ascendncia de casos de DM pode ter relao com o envelhecimento da

populao, urbanizao, aumento do nmero de diagnsticos na ateno bsica de

sade, alm de hbitos de vida incorretos, como a alimentao inadequada,

sedentarismo, tabagismo, excesso de peso e consumo de bebidas alcolicas

(BRASIL, 2012b).

Analisando as possveis determinantes do DM, diversas so as medidas que devem

ser adotadas no tratamento, sendo essas no medicamentosas e medicamentosas.

As medidas no medicamentosas englobam a adequao da alimentao, prtica

regular de atividade fsica, educao contnua a respeito de sade e doena, alm

de bem estar psicossocial (COSTA et al., 2011). O tratamento medicamentoso

utilizado quando o no medicamentoso por si s no suficiente, sendo utilizado

nesse a insulinoterapia, medicamentos orais ou a combinao teraputica

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).

Considerando que para tratar DM necessrio entender o indivduo de forma

integral, destaca-se a importncia de estudos que mostrem a relevncia do

acompanhamento interdisciplinar com o nutricionista atuante, de modo a ampliar o

conhecimento a respeito do assunto mostrando a importncia da ateno integral no

tratamento e controle da doena.

Visto isso e a elevada prevalncia de indivduos diabticos, espera-se que a atuao

interdisciplinar apresente excelentes resultados, promovendo uma melhor qualidade

de vida, compreenso do indivduo a respeito da doena e suas complicaes,

permitindo uma abordagem ampla dos profissionais, melhor diviso do trabalho,

diminuio do ndice de massa corporal, lipdeos sricos, custos sociais e

econmicos como demonstrado no estudo de Batista e outros (2005). Alm disso,

almeja-se mostrar a relevncia da correta alimentao no controle glicmico,

17

ressaltando a importncia do profissional nutricionista atuando nas equipes de

acompanhamento ao diabtico como constatado por Silva e Mura (2011).

Desta forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar o impacto do

acompanhamento interdisciplinar no estado nutricional e na ingesto alimentar de

pacientes diabticos, atravs da avaliao do perfil nutricional e consumo alimentar,

evidenciando a influncia do nutricionista atuante na equipe.

18

19

2 REFERENCIAL TERICO

2.1 TRANSIO DO PERFIL POPULACIONAL.

No transcorrer dos ltimos anos o mundo vem passando por um perodo de

significativas modificaes do perfil populacional, sejam essas, nutricionais,

epidemiolgicas e demogrficas, marcadas pelo aumento da expectativa de vida

(FERREIRA; FERREIRA, 2009).

evidente a mudana no estilo de vida da populao, caracterizada pelo aumento

do sedentarismo e hbitos alimentares inadequados, resultando assim na

progresso do excesso de peso e doenas, influenciando negativamente nas

questes sociais e regionais (FERREIRA; FERREIRA, 2009).

2.1.1 Transio nutricional e a carga de doenas crnicas na populao

mundial

Com a mudana de perfil da populao surge a transio nutricional, definida como

a progresso do sobrepeso, obesidade, DCNT e o acentuado declnio da

desnutrio, sendo marcante a influncia dos fatores sociais, econmicos e culturais

nessa mudana de padro populacional (SARTORELLI; FRANCO, 2003).

Diversas so as situaes que influenciam a transio nutricional, dentre elas os

hbitos de vida inadequados, a preferncia em alimentar-se fora de casa com

refeies consideradas rpidas e prticas, com alto teor de sdio, acares, cidos

graxos saturados e trans, como os fast foods, industrializados, refrigerantes e

guloseimas em geral (SOUZA, 2010).

A sada da mulher para o mercado de trabalho juntamente com as questes citadas

anteriormente, impacta grandemente as escolhas alimentares, visto que como

consequncia dessa situao reduziu-se o hbito de alimentar-se em casa, com

refeies completas juntamente com a famlia. Associa-se tambm a transio

nutricional ao processo de urbanizao, aumento da expectativa de vida, tabagismo,

sedentarismo, consumo excessivo de bebidas alcolicas, juntamente com fatores

psicolgicos e sociais (SOUZA, 2010).

20

Essa modificao do perfil da populao est se tornando um fato crtico (SOUZA,

2010), tendo como consequncia a elevada incidncia e prevalncia de DCNT

(BRASIL, 2012b). Entre as DCNT mais frequentes na populao brasileira esto o

diabetes mellitus, doenas cardiovasculares (DCV), hipertenso arterial sistmica,

doenas respiratrias, osteoporose e cncer (BRASIL, 2012a).

2.1.2 Doenas Crnicas No Transmissveis decorrentes do envelhecimento

A transio do perfil demogrfico da populao brasileira caracterizada pelo

envelhecimento da populao, associado reduo na taxa de mortalidade e

fecundidade. Estima-se que no ano de 2050 a populao do pas alcance cerca de

64 milhes de habitantes, sendo desses 30% de idosos (CARNEIRO et al., 2013).

Essas modificaes consequentemente influenciam a base da pirmide

populacional, ocasionando a expanso da mesma (ALVES, 2008). Nesse contexto,

de acordo com o Ministrio da Sade (BRASIL, 2011) considera-se idoso os

indivduos com 60 anos ou mais de idade.

O envelhecimento um processo natural que submete o organismo a modificaes

fisiolgicas, dentre elas: redistribuio da massa corporal, com acmulo de gordura

na regio abdominal, reduo da taxa metablica basal, diminuio da percepo

sensorial, mudanas nas funes do trato gastrointestinal e necessidades

nutricionais (MORAES, 2012).

O aumento da expectativa de vida, associado urbanizao e estilo de vida

inadequado so considerados determinantes para a elevao da prevalncia de

doenas crnicas na populao. O DM tipo 2 encontra-se entre essas doenas que

geram uma grande ateno dos servios e profissionais de sade, tendo alta

prevalncia na populao idosa (WICHMANN; ROOS; KIST, 2007).

2.2 DIABETES MELLITUS: CONCEITO E CLASSIFICAO

O DM uma doena de gnese multifatorial, definida como falhas ou falta da

secreo de insulina, incapacidade da insulina exercer sua ao corretamente ou

ambos os casos (MARINHO et al., 2012), levando assim a hiperglicemia crnica,

21

comumente associada poliria, polidipsia, perda de peso e infeces

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).

A insulina humana um hormnio peptdico produzido pelas clulas beta no

pncreas, atuando na captao de glicose pelas clulas, favorecendo a converso

da mesma em glicognio, reduzindo assim a concentrao plasmtica de glicose

(SILVA; MURA, 2011).

A falta de controle clnico e metablico do DM est relativamente associada a

complicaes micro e macrovasculares, cegueira, neuropatia, acidente vascular

cerebral, nefropatia, insuficincia renal, retinopatia, p diabtico (lcera no p),

amputaes de membros, disfuno sexual e doenas coronarianas (GERALDO et

al., 2008).

O DM classificado com embasamento na causa da doena. A primeira

classificao DM tipo 1, que acomete cerca de 5% a 10% dos indivduos,

caracterizada pela destruio das clulas beta pancreticas, em geral devido a

questes autoimunes; a segunda denomina-se tipo 2, atingindo cerca de 85% a 90%

dos casos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009), sendo decorrente da

resistncia e insuficincia da secreo de insulina (PINHEIRO et al., 2012).

Nesse contexto, existe ainda o diabetes gestacional decorrente da reduo da

tolerncia glicose, sendo esse diagnosticado no momento da gestao, podendo

se manter ou no aps a mesma e outros tipos especficos raros de DM, que podem

ser advindos de problemas genticos, infeces, induzidos pelo uso de frmacos e

agentes qumicos, relacionado a outros tipos de doenas, ou ainda, decorrentes de

doenas excrinas do pncreas (SILVA; MURA, 2011).

2.2.1 Critrios para diagnstico e acompanhamento do Diabetes Mellitus

O diagnstico precoce do DM permite a correo das alteraes metablicas,

atravs do tratamento apropriado, diminuindo assim as chances de complicaes.

Para estabelecer o diagnstico de DM a Sociedade Brasileira de Diabetes emprega

trs critrios usando a glicemia. Dentre eles a anlise da glicemia aleatria superior

ou igual a 200 mg/dl, estando essa associada a poliria, polidipsia ou perda de peso

inexplicada; teste de glicemia de jejum (3 exames a cada 3 meses, com jejum de 8 a

16 horas) com valores superiores ou iguais a 126 mg/dl indicando possivelmente

22

diabetes; e teste oral de tolerncia a glicose (TOTG), analisando a glicemia de duas

horas superior a 200 mg/dl posterior a sobrecarga de 75g de glicose no mximo

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2012a).

Existem muitas especulaes a respeito do uso da hemoglobina glicada (A1C) como

critrio de diagnstico para o diabetes, especialmente do tipo 1 (SUMITA;

ANDRIOLO, 2008), logo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2012a) orienta a

adoo da mesma com cautela, sendo estabelecido valores superiores ou iguais a

6,5%.

A elevao abrupta da glicemia faz com que o rim busque a eliminao da glicose

atravs da urina, logo, o indivduo diabtico pode apresentar o quadro de glicosria

(glicose na urina, sendo possvel detectar nveis maiores que 180 mg/dl), assim, a

anlise da urina pode ser uma alternativa de comprovao do diagnstico do DM,

entretanto, notrio a influncia do volume de urina nos valores encontrados

(SILVA; MURA, 2011). Dessa forma, a Sociedade Brasileira de Diabetes (2012a)

sugere a avaliao da glicosria em pessoas que fazem uso de insulina estando

impossibilitadas por algum motivo de aferir a glicemia capilar antecedendo as

refeies.

A ausncia de glicose para realizao das atividades celulares faz com que o

organismo realize o processo de neoglicognese (liplise e protelise) para a

manuteno da glicemia, tendo como consequncia a produo excessiva de corpos

cetnicos. A presena de cetonria (corpos cetnicos na urina) no indivduo

diabtico deve ser detectada rapidamente evitando agravos metablicos, como o

quadro de acidose metablica. Esta anlise indicada em situaes onde a glicemia

superior ou igual a 250 mg/dl (BARONE et al., 2007).

A hiperglicemia ps-prandial que acomete a maioria dos diabticos pode gerar

leses na parede dos vasos sanguneos, aumento do risco de trombose e derrames,

logo, o exame de glicemia ps-prandial adotado como uma alternativa de controle

dessa situao (BALISTEIRO; ALEZANDRO; GENOVESE, 2013).

2.2.2 Possveis manifestaes clnicas no Diabetes Mellitus

A falta ou dficit na ao da insulina que acomete o portador de DM pode ocasionar

diversas manifestaes clnicas, dentre elas a poliria, polidipsia, polifagia, fraqueza,

23

parestesias, perda de peso inexplicada, obesidade, cetoacidose diabtica, distrbios

visuais e do aparelho genitourinrio, porm se controlada a glicose, muitos desses

sintomas podem regredir (BARONE et al., 2007).

O contnuo descontrole da glicemia pode propiciar o aparecimento de manifestaes

oculares (SILVA; MURA, 2011) como catarata, glaucoma e retinopatia diabtica que

ocorre devido alteraes microvasculares na retina (SMELTZER et al., 2009).

A poliria, ou seja, o aumento do volume urinrio decorrente de diurese osmtica

secundria ao quadro de hiperglicemia. Esse quadro uma das primeiras

manifestaes que acometem os diabticos (SILVA, 2008). Nesse caso, o indivduo

perde glicose, eletrlitos e gua livre atravs da urina (FIABANE; SILVA, 2008).

Como consequncia da poliria ocorre desidratao hipertnica que estimula o

centro da sede proporcionando o aparecimento da polidipsia, mais conhecida como

saliva grossa (LUCENA, 2007).

Os centros hipotalmicos da saciedade e da fome so sensveis ao da insulina,

sendo essa uma possvel explicao para o quadro de polifagia que acomete muitos

diabticos (FIABANE; SILVA, 2008). Essa situao pode favorecer os casos de

obesidade comumente encontrado nos portadores de diabetes, principalmente a

obesidade central que proporciona o maior acmulo de gordura na regio do

abdome, trax, pescoo e face (BARONE et al., 2007).

Entretanto, situaes de emagrecimento tambm podem acometer os diabticos

devido o acentuado estado de catabolismo protico e lipdico para manuteno das

reservas energticas, alm da desidratao decorrente da constante

descompensao metablica. Essa situao mais frequente no DM tipo 1, contudo

tambm ocorre com portadores de DM tipo 2, indicando uma possvel necessidade

de tratamento insulinoterpico (LUCENA, 2007). O marcante catabolismo protico e

os distrbios eletrolticos podem levar ainda a casos de fraqueza (FIABANE; SILVA,

2008).

O elevado catabolismo para manuteno do aporte energtico favorece o acmulo

de corpos cetnicos, levando assim a manifestao da acidose metablica, que por

sua vez pode ocasionar o chamado hlito de ma, alterao do nvel de

conscincia ou edema cerebral, que em casos extremos pode levar a morte

(BARONE et al., 2007).

24

Sensaes de dormncia, prurido e formigamentos denominados de parestesias

podem estar presentes nos diabticos, devido uma disfuno temporria dos nervos

sensoriais perifricos. Essas sensaes refletem uma situao de neurotoxicidade

proveniente da hiperglicemia (LUCENA, 2007).

Diversas so as manifestaes do DM no aparelho genitourinrio, entre elas esto o

prurido, disfuno ertil e vaginite, decorrentes do excesso de glicose em contato

com a regio genitourinria, favorecendo a utilizao da glicose como substrato para

a proliferao de microorganismos, como espcies de Candida albicans, (DIAS,

2010) propiciando casos de infeco (SCHMID, 2007).

Disfunes ovarianas como amenorria ou oligorria so comumente encontradas

em mulheres com resistncia a insulina, decorrentes do aumento da produo dos

hormnios andrgenos pelo ovrio (SILVA; PARDINI; KATER, 2006).

A cicatrizao do indivduo diabtico muito prejudicada, sendo constante o

aparecimento de feridas e rachaduras que no cicatrizam ou que demoram a

cicatrizar, resultante da glicose sempre estar associada com protena ou gua,

dessa forma, as protenas de cicatrizao tambm esto associadas glicose no

DM (LUCENA, 2007).

2.2.3 Impacto do Diabetes Mellitus

O DM considerado um problema de sade pblica, pois o aumento da incidncia e

prevalncia dessa DCNT e suas complicaes metablicas influenciam

significativamente o aumento das taxas de mortalidade da populao, sendo desses,

um grande nmero de casos de mortes prematuras evitveis. Nesse contexto,

estima-se que cerca de 54.877 pessoas morreram, tendo como causa o diabetes no

ano de 2010 (BRASIL, 2013).

O DM afeta todos os estgios de vida, estando crescente a prevalncia nos ltimos

anos em jovens e crianas. O DM e seus agravos levam ainda a inaptido provisria

ou permanente de trabalho do indivduo diabtico, elevando assim os gastos do pas

com o sistema previdencirio e com os servios de sade para o tratamento da

doena, afetando diretamente a situao econmica do pas (GERALDO et al.,

2008).

25

Entretanto, o portador de DM no sofre apenas com os sinais, sintomas e possveis

complicaes da doena, a mesma pode afetar ainda as relaes sociais do

indivduo com as pessoas de seu convvio (famlia, amigos, colegas de trabalho e

escola, dentre outros) (ZANETTI et al., 2008) e sua qualidade de vida (NEVES,

2013).

Dados epidemiolgicos mostram que no ano de 2002 a populao de adultos

diabticos no mundo alcanava a marca de 173 milhes (SOCIEDADE BRASILEIRA

DE DIABETES, 2009), sendo esperado para 2025 o nmero alarmante de cerca de

380 milhes de pessoas atingidas pelo DM (BRASIL, [entre 2008 e 2013]).

A grande quantidade de diabticos no mundo, dentre outras situaes pode ser

justificada pela alta expectativa de vida da populao, maus hbitos alimentares,

tabagismo e aumento do sedentarismo, tendo como consequncia um elevado

nmero de pessoas com sobrepeso e obesas (BRASIL, 2012a).

Com um nmero to alarmante de diabticos, calcula-se que os gastos do Brasil

com o diabetes apenas no ano de 2009, tenha sido de 3,9 bilhes de dlares

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).

2.3 O PAPEL DO SERVIO DE SADE

Considerando todos os prejuzos e gastos acarretados pelo DM e suas

complicaes, tanto para os diabticos quanto para a sociedade, e com intuito de

colaborar para uma melhor qualidade de vida da populao, ascenso econmica e

social do pas os servios prestados pelo sistema de sade necessitam ter como

prioridade a Ateno Primria a Sade (APS) (CUNHA; GIOVANELLA, 2011).

A APS deve estar voltada para uma abordagem individual ou coletiva, guiando-se

pela condio epidemiolgica da populao, com foco na promoo da sade,

preveno, teraputica e reabilitao (NORONHA; LIMA FILHO, 2011), baseando-se

continuamente pelos princpios e diretrizes do Sistema nico de Sade (SUS)

(JAIME et al., 2011).

O SUS foi criado na Constituio de 1988 e regulamentado no ano de 1990 pela Lei

n 8080, de 19 de setembro de 1990, denominada como Lei Orgnica da Sade, que

dispe a respeito das condies necessrias para a promoo, preveno e

26

reestabelecimento da sade, propondo os princpios e diretrizes do SUS a serem

seguidos (BRASIL, 1990a).

De acordo com a Constituio Federal de 1988 os servios pblicos de sade e os

privados conveniados integrantes do SUS no Brasil devem atuar guiando-se pelos

seguintes princpios e diretrizes estabelecidos na Lei n 8080: universalidade,

integralidade, igualdade, descentralizao, integralidade, com a organizao dos

servios e participao popular (MATTOS, 2009).

Todos os cuidados realizados na APS refletem diretamente na melhoria da

qualidade da sade da populao, reduzindo e prevenindo diversos casos de

doenas evitveis, alm de diminuir os casos de mortalidade e gastos do pas com a

sade pblica, pois gasta-se menos com a preveno do que com o tratamento

(CUNHA; GIOVANELLA, 2011).

Entre as estratgias primrias se faz necessrio implantao e/ou implementao

de aes com foco na preveno (NORONHA; LIMA FILHO, 2011), com atuao de

profissionais capacitados nos cuidados primrios, prestando servios em quantidade

e qualidade, atendendo as necessidades individuais, pois estudos afirmam que a

qualidade de vida dos pacientes depende da forma que os mesmos so vistos pelos

profissionais envolvidos no seu atendimento (MATTIONI; BUD; SCHIMITH, 2011).

Ressalta-se ainda a importncia da educao e orientao contnua nos

acompanhamentos (NORONHA; LIMA FILHO, 2011).

Compete ainda aos servios de sade estabelecer o diagnstico dos pacientes

acompanhados pelas unidades de sade, visto que o DM pode se manter

imperceptvel por um longo perodo (JAIME et al., 2011). Com o diagnstico

estabelecido verifica-se o nvel em que a doena se encontra e a partir dessa

situao, prope-se o tipo de tratamento para evitar maiores complicaes e

proporcionar uma melhor qualidade de vida para o paciente (ARAJO, 2013).

A partir do momento que se tem o diagnstico, a ateno secundria, ou seja, o

gerenciamento de qualidade da doena passa a ser a melhor alternativa a ser

estabelecida (JAIME et al., 2011). Dessa forma, o pas vem adotando medidas

consideradas primordiais no controle do DM e preveno de possveis

consequncias, com servios de interveno gratuitos aos indivduos diabticos,

27

tendo como foco a atuao de equipes interdisciplinares (MOURO JUNIOR et al.,

2006).

Ressalta-se que para garantia de melhores resultados durante o tratamento

necessrio ateno integral ao indivduo, no tratar apenas a doena, mas, saber

alm da mesma (JAIME et al., 2011).

Os servios de sade falham quando se trata da agilidade e efetividade no

diagnstico do DM, muitos so os diabticos que desconhecem que possuem a

doena mesmo estando instalada h muitos anos. Essa situao possibilita o

aparecimento de complicaes metablicas, alm de dificultar o tratamento (JAIME

et al., 2011). Estima-se que no ano de 2011, cerca de 30% a 60% dos diabticos

no apresentavam o diagnstico da doena (BRASIL, 2002a).

Para maior efetividade das aes prestadas pelos servios de sade, as estratgias

estabelecidas devem ser bem estruturadas, atendendo a demanda, respeitando

costumes e crenas, com atuao de profissionais capacitados e disponibilizao de

recursos financeiros necessrios, tornando-se esses alguns dos desafios

enfrentados pelos servios e profissionais de sade atualmente (MOURO JUNIOR

et al., 2006).

2.3.1 Estratgias de sade pblica no cuidado do Diabetes Mellitus

Considerando a elevada taxa de mortalidade decorrente do DM e a crescente

incidncia da doena, o Ministrio da Sade vem aperfeioando estratgias de

sade pblica buscando a integralidade no cuidado (BRASIL, [entre 2007 e 2008]).

As estratgias estabelecidas pelo Ministrio da Sade so custeadas pelas trs

esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal), sendo desempenhadas na

maioria das vezes pelo municpio, atravs da rede bsica de sade (BRASIL, 2013).

Sendo assim, o Ministrio da Sade instituiu o Plano Nacional de Reorganizao da

Ateno Hipertenso Arterial e ao Diabetes Mellitus aprovado pela Portaria/GM n

16, de 03 de janeiro de 2002, visando organizao dos servios prestados a

populao, a promoo, preveno, garantia de acesso e educao contnua voltada

para as doenas crnicas (BRASIL, 2013).

28

Dentre essas estratgias, criou-se em 2002 atravs da Portaria n 371/GM em 04 de

maro de 2002 o Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de pacientes

Hipertensos e Diabticos (SISHIPERDIA), auxiliando no monitoramento das pessoas

acompanhadas pelo Plano Nacional de Reorganizao da Ateno Hipertenso

Arterial e ao Diabetes Mellitus (BRASIL, 2002b). O objetivo do SISHIPERDIA a

expanso das aes do SUS, de modo a garantir aos portadores de DM e

Hipertenso Arterial Sistmica a ateno e cuidado necessrio, realizando aes

com foco nos hbitos de vida saudveis (FERREIRA; FERREIRA, 2009).

O SISHIPERDIA determina ainda as informaes necessrias para a distribuio

correta de medicamentao para todos os pacientes cadastrados (BRASIL, 2011). O

Ministrio da Sade baseado pela Organizao Mundial da Sade listou diversos

medicamentos para o tratamento de diabetes e hipertenso arterial para serem

disponibilizados aos pacientes acompanhados pelo SISHIPERDIA, sendo eles:

hidroclorotiazida (25 mg), captopril (25 mg) e propranolol (40 mg) para hipertenso

arterial e para o tratamento do diabetes a insulina NPH (100 UI), glibenclamida (5,0

mg) e metformina (850 mg) (BRASIL, 2013).

Todas as unidades ambulatoriais do SUS devem integrar o servio prestado pelo

SISHIPERDIA, possibilitando assim o recolhimento de informaes para as

administraes de todos os nveis de gesto, sendo possvel recolher dados do perfil

epidemiolgico da populao atendida para posterior criao de aes que visem

mudanas nas situaes encontradas, proporcionando a reduo de complicaes e

gastos do pas do DM e hipertenso arterial sistmica, alm de proporcionar melhora

na qualidade de vida dos portadores dessas doenas (FERREIRA; FERREIRA,

2009).

O SISHIPERDIA deve dispor do atendimento integral, com atuao de diversos

profissionais de sade, como endocrinologista, angiologistas, cardiologistas,

nefrologistas, nutricionista, enfermeiros, psiclogos, farmacutico, educador fsico,

dentistas e assistentes sociais (INSTITUTO MINEIRO DE ENSINO E PESQUISA EM

NEFROLOGIA, [entre 2008 e 2011]).

A Portaria n 371 de 04 de maro de 2002 relata da responsabilidade do gestor

municipal no SISHIPERDIA. Compete gesto municipal garantir a participao das

unidades de sade no programa, cadastrar e atualizar os dados dos pacientes

http://hiperdia.datasus.gov.br/medicamentos.asphttp://hiperdia.datasus.gov.br/medicamentos.asphttp://hiperdia.datasus.gov.br/medicamentos.asp

29

acompanhados pela rede bsica de sade local, assegurar o acesso de todos

portadores de DM e Hipertenso Arterial Sistmica, fornecer os medicamentos

padronizados, atuar na capacitao dos profissionais das redes bsicas de sade,

alm de promover aes que visem a adoo de hbitos de vida saudveis e a

qualidade de vida (BRASIL, 2002b).

Diante disso, a Prefeitura Municipal de Cariacica juntamente com o setor de sade

pblica do municpio relata que adere a diversos programas de sade nas suas

respectivas unidades de sade, dentre eles o SISHIPERDIA, suplementao de

Ferro, Sistema de Acompanhamento do Programa de Humanizao no Pr-Natal e

Nascimento, sade da mulher, sade da criana, planejamento familiar, dentre

outros, como relatado pela Secretaria de Sade de Cariacica (CARIACICA, 2013).

Segundo a Prefeitura Municipal de Cariacica as unidades de sade do municpio

atuam com o SISHIPERDIA prestando assistncia aos portadores de DM e

hipertenso arterial sistmica, sendo diversos os profissionais de sade atuantes no

municpio, como clnico geral, endocrinologista, enfermeiros, fisioterapeutas,

nutricionista, fisioterapeuta, assistente social e psicloga, porm, relatam ainda que

no so todas as unidades que contam com a equipe completa como a citada

anteriormente (CARIACICA, 2013).

2.4 PILARES NO TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS

A partir do momento que se tem o diagnstico de DM tipo 1, DM tipo 2, DM

gestacional ou outro tipo especfico, necessrio o estabelecimento do melhor

mtodo de tratamento (SILVA; MURA, 2011), considerando sempre idade, condio

da doena, tipo de dieta consumida, prtica de atividade fsica, aspectos

econmicos, sociais e psicolgicos (SCHMIDT; DUNCAN, 2011).

O tratamento do DM divide-se em medicamentoso e no medicamentoso. Em

diversas situaes, especialmente naquelas em que o diagnstico estabelecido

muitos anos aps a doena estar instalada, acontecem de existirem agravos

associadas, nesse caso, alm de tratar o DM, se faz necessrio o controle dos

agravantes (SILVA; MURA, 2011). Dentre os fatores comumente associados ao DM

encontram-se a obesidade, hipertenso arterial sistmica, dislipidemias e

insuficincias renais (PINHEIRO et al., 2012).

30

2.4.1 Tratamento no medicamentoso

Para o controle metablico do DM algumas medidas no medicamentosas devem

ser adotadas no tratamento, englobando educao e orientao permanente a

respeito da doena, adequao alimentar, prtica regular de atividade fsica e

estabilidade psicossocial (COSTA et al., 2011).

O ensino contnuo para o paciente e sua famlia a respeito da doena se torna

primordial para a obteno de bons resultados no tratamento, tanto no cuidado

medicamentoso quanto no no medicamentoso, pois permite a transmisso de

informaes primordiais, permitindo o mesmo sentir-se participante do tratamento,

contribuindo no gerenciamento da doena e possveis agravos (COSTA et al., 2011).

Estudos mostram que para garantir uma maior efetividade na educao em sade

se faz necessrio a participao da famlia, pois essa desempenha aes

importantssimas de apoio e motivao para o seguimento adequado do tratamento

(ZANETTI et al., 2008), consequentemente proporcionando bem estar psicossocial

(CARCAVILLA URQU, 2009).

A educao em sade deve ser realizada de forma contnua, com profissionais aptos

a desenvolverem atividades educativas, de modo a atender os pacientes e suas

respectivas famlias, com abordagem ampliada, entretanto, considerando as

particularidades individuais (CARCAVILLA URQU, 2009).

A contribuio dos exerccios fsicos na manuteno da sade e no controle de

diversas doenas conhecida. A prtica regular de exerccio fsico auxilia no

controle dos nveis de lipdeos sricos, glicmicos e pressricos, alm de colaborar

no controle de peso e preveno do DM tipo 2 (LUCENA, 2007).

A prescrio do tipo, frequncia, durao e intensidade do exerccio a ser praticado

deve ser realizada por profissionais capacitados mediante uma avaliao

individualizada e minuciosa do estado fsico, situao metablica, limitaes, idade,

presena de complicaes, riscos, dentre outros fatores (RAMALHO; SOARES,

2008).

O planejamento alimentar adequado associado orientao nutricional

fundamental no gerenciamento do DM (SILVA; MURA, 2011), visto a comprovao

da eficcia dessas medidas no controle metablico, reduzindo significativamente os

31

nveis glicmicos, gordura visceral, triglicerdeos, lipoprotena de baixa densidade

(LDL - colesterol) e a elevao dos nveis de lipoprotenas de alta densidade (HDL -

colesterol).

Desta forma compete ao profissional nutricionista prescrever o tratamento

dietoterpico de acordo com as particularidades dos indivduos, guiando-se pelos

princpios ticos que regem a profisso (FRANA et al., 2012).

2.4.2 Tratamento medicamentoso

A partir do momento que o tratamento no medicamentoso no suficiente ou os

pacientes deixam de cumpri-lo corretamente, a Sociedade Brasileira de Diabetes

(2012b) sugere a necessidade de associao do tratamento medicamentoso, com

intuito de controlar a glicemia, permitindo que os valores de hemoglobina glicada

apresentem-se inferiores a 7%, utilizando medicamentos orais, insulinoterapia ou a

combinao teraputica (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).

Os medicamentos antidiabticos orais so utilizados no tratamento para diminuio

dos nveis glicmicos, mantendo-os na normalidade (DUARTE et al., 2013). Dentre

os antidiabticos orais existem os que estimulam a secreo de insulina

(sulfonilurias e metiglinidas), os que reduzem a produo de glicose (biguanidas),

os que diminuem a absoro dos carboidratos (inibidores da alfaglicosidase) e os

que aumentam a sensibilidade insulina no msculo (glitazonas) (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE DIABETES, 2009), alm disso, as gliptinas elevam o GIP (fator

insulina protetor) que atua no aumento da sntese e ao da insulina e GLP1 (fator

ps-glucagon) que diminui a produo de glucagon favorecendo a entrada de

glicose para o interior da clula (SCHUTZ et al., 2012).

O GIP ou fator insulina protetor um peptdeo secretado pelas clulas K (duodeno e

parte proximal do jejuno), porm seus receptores podem ser expressos em diversas

regies, dentre elas o pncreas, intestino e tecido adiposo. Esse peptdeo atua

acelerando o esvaziamento gstrico e aumentando a ao da insulina no organismo

de diabticos tipo 1, realizando o chamado efeito insulinotrpico. Desta forma,

quando o alimento chega ao estmago ocorre o estmulo para que o pncreas,

intestino e tecido adiposo produzam esse fator para melhorar a ao da insulina

(GABBAY, 2008).

32

O GLP-1 ou fator pr-glucagon um peptdeo secretado pelas clulas L (leo e

clon), agindo no retardo do esvaziamento gstrico e no tempo do trnsito intestinal,

alm de estimular a secreo de insulina e evitar a produo de glucagon,

favorecendo assim a entrada de glicose para o interior das clulas, evitando uma

elevao abrupta da glicemia (ANDREANI et al., 2009).

Outra forma de tratamento do DM a insulinoterapia, sendo indicada nas seguintes

situaes: no tratamento em conjunto com outros medicamentos em caso

especficos, como cirurgias ou infeces, quando os medicamentos orais no esto

sendo mais eficazes e em situaes de nveis glicmicos muito elevados com

presena de agravos, como cetonria (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,

2012a).

As insulinas podem ser humanas, sintticas ou de origem animal, sendo utilizadas

em seringas, canetas ou bombas para infuso consecutiva, considerando

continuamente as necessidades e particularidades de cada indivduo. Existem tipos

distintos de insulinas: ultrarrpida (insulina lispro e aspart), rpida (insulina regular),

intermediria (NPH e insulina lenta) e longa (insulina ultra-lenta e glargina/basal),

sendo essas, classificadas de acordo com a velocidade e permanncia da ao (LA

FUENTE et al., 2008).

A combinao teraputica envolve o uso de medicamentos orais associado

insulinoterapia, visando uma maior secreo insulnica pancretica, diminuio da

secreo heptica de glicose e melhoras em relao resistncia insulnica

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).

Visto a gravidade e complexibilidade no controle do DM, sua relao com hbitos

alimentares inadequados, sedentarismo, questes emocionais e influencias gentica

(GERALDO et al., 2008) e considerando o cumprimento do princpio da integralidade

estabelecido pelo SUS, assistncia interdisciplinar vista como a melhor e mais

eficiente alternativa para o acompanhamento do indivduo diabtico (SILVA et al.,

2010).

2.4.3 Atuao interdisciplinar no tratamento do Diabetes Mellitus

Considerando que o DM uma doena de etiologia multifatorial, surge a

necessidade de compreender em diferentes dimenses o indivduo diabtico. Nasce

33

necessidade de adotar um novo modelo de ateno a sade, atuando de forma

humanizada, generalista, competente, visando s especificidades, garantindo a

todos o direito a sade, com servios em quantidade suficiente e de qualidade,

considerando questes culturais, sociais, psicolgicas e econmicas (TAPP et al.,

2012).

imprescindvel um acompanhamento interdisciplinar no tratamento do DM,

havendo integralidade nas aes de assistncia e na equipe, de modo a obter a

melhor compreenso do indivduo e sua relao com a doena (MATTIONI; BUD;

SCHIMITH, 2011).

Para que o gerenciamento da doena acontea de forma efetiva, a equipe

interdisciplinar deve ser composta por mdicos, nutricionistas, educador fsico,

enfermeiros, farmacuticos, psiclogos, periodontista, assistentes sociais e

fisioterapeutas aptos a exercerem suas atividades, dessa forma, compreendendo o

indivduo em todas as suas dimenses (SILVA et al., 2010).

A ateno integral no acompanhamento permite distintas opinies a respeito da

doena, possibilitando o trabalho em conjunto entre os profissionais, com uma

abordagem completa, agilizando o atendimento, admitindo troca de informaes e

experincias, de modo a complementar, ampliar e especializar o atendimento e a

viso sobre a situao dos pacientes (SILVA et al, 2010).

O estabelecimento de uma equipe interdisciplinar possibilita a diviso do trabalho,

visto como uma alternativa para diminuir a sobrecarga de atividades, o que

impossibilita os profissionais de se dedicarem integralmente nas suas atribuies e

competncias, dessa forma, com a diviso eficiente das aes a serem exercidas,

cada profissional pode se aplicar no que lhe compete, aumentando assim a

efetividade dos servios prestados (NECKEL et al., 2009).

O atendimento integral implica positivamente no entendimento do paciente em

relao doena, possveis complicaes e formas de controle, o que reduz o

nmero de casos de complicaes e abandono do tratamento, pois a partir do

momento que os portadores de DM entendem a gravidade da doena, muitos se

dispem a seguir corretamente o tratamento proposto (OTERO; ZANETTI; OGRIZIO,

2008).

34

A interao da equipe interdisciplinar de extrema relevncia para garantia de

resultados satisfatrios durante o tratamento do DM (MOURO JUNIOR et al.,

2006), pois se realizada de forma efetiva pode contribuir para o controle metablico

dos pacientes acompanhados (CANTOS; SOUZA, 2012).

comprovado que pacientes diabticos acompanhados por equipe interdisciplinar

ao aderirem o tratamento apresentam reduo significativa nos valores de glicemia,

ndice de massa corporal (IMC) e lipdeos sricos, reduzindo assim

consequentemente riscos de complicaes associadas ao DM, consequentemente

influenciando a qualidade de vida dos mesmos, alm dos custos sociais e individuais

(BATISTA et al., 2005).

Em um estudo realizado com diabticos acompanhados por uma equipe

interdisciplinar bem estruturada, com profissionais capacitados, integrados, focados

na educao contnua, percebeu-se a importncia da equipe interdisciplinar, pois

dos pesquisados 51,4% atingiram o controle metablico considerado ideal e apenas

16,7% no alcanaram o controle metablico considerado ideal, estabelecido nesse

estudo pelo valor de hemoglobina glicada (MOURO JUNIOR et al., 2006).

2.4.4 Papel e importncia do nutricionista

A alimentao adequada e a nutrio influem grandemente no tratamento e controle

de agravos do DM, considerando que essa uma condio que pode ser

reestabelecida (CARVALHO et al., 2012).

O nutricionista o profissional de sade capacitado a delinear, organizar,

administrar, supervisionar e avaliar servios de alimentao e nutrio, alm de

diagnosticar estado nutricional, prescrever tratamento nutricional adequado e

realizar educao nutricional, de forma individual ou para a coletividade, seja em

instituies pblicas ou privadas, sendo visto atualmente como o profissional do

presente e do futuro (CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS, 2005).

A atuao do nutricionista est voltada para promoo, preveno, conservao e

recuperao da sade, com intuito de prover maiores conhecimentos sobre

alimentao e nutrio, priorizando a segurana alimentar e nutricional, como

estabelecido no artigo 1 da Lei 8.234, de 17 de setembro de 1991 que regulariza a

profisso do nutricionista (CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS, 2005).

35

O nutricionista deve atuar de forma humanizada, individualizada, considerando os

estgios de vida, condies metablicas, tratamentos associados, preferncias

alimentares e condies socioeconmicas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE

DIABETES, 2009).

Nesse contexto, atribui-se ao profissional nutricionista a avaliao integral do

paciente, estabelecendo seu estado nutricional, influncias da doena, questes

culturais, sociais, psicolgicas e econmicas. A partir do diagnstico, compete ao

mesmo estabelecer tratamento dietoterpico de forma individualizada, considerando

as especificidades de cada indivduo, educando e orientando continuamente sobre a

influncia da alimentao na doena e nas complicaes possveis (SILVA; MURA,

2011).

A educao nutricional no tratamento do DM possibilita aos indivduos diabticos

uma melhor compreenso da influncia da alimentao na doena e provveis

agravos, alm disso, se exercida de forma permanente efetiva os servios

(TSCHIEDEL et al., 2008).

Porm, diversos so os desafios enfrentados pelos profissionais nutricionistas

quando se trata da atuao dos mesmos em equipe interdisciplinar (GEUS et al.,

2011), principalmente quanto a garantia de exercer suas atribuies, falta de

recursos, insuficincia de autonomia, trabalho excessivo e muitas vezes

desempenhando atividades que no lhe competem (PDUA; BOOG, 2006).

Geus e outros (2011) ressaltam que no existe o controle metablico completo da

doena sem o estabelecimento de uma alimentao adequada. Os autores afirmam

ainda que para o controle do DM imprescindvel que ocorra a interao entre os

mtodos de tratamento no medicamentoso e os mtodos medicamentosos quando

necessrio.

2.4.4.1 Avaliao do estado nutricional de diabticos

A apurao das medidas antropomtricas, bioqumicas e do consumo alimentar

indispensvel para o acompanhamento e tratamento do diabtico, pois permite

avaliar o estado nutricional, possibilitam a escolha do melhor tipo de tratamento,

auxiliando no gerenciamento e acompanhamento da evoluo do paciente

36

(GERALDO et al., 2008), alm de contribuir para a identificao de riscos (FISBERG;

MARCHIONI; COLUCCI, 2009).

A avaliao do estado nutricional de portadores de diabetes pode ser feita a partir da

avaliao das medidas antropomtricas (PITANGA, 2008), sendo a antropometria

caracterizada pela anlise das dimenses e composio corporal (SANT'ANNA;

PRIORE; FRANCESCHINI, 2009). Dentre os parmetros comumente analisados

encontram-se: altura e peso para realizao do clculo de ndice de massa corporal

(IMC), pregas cutneas, principalmente a prega cutnea tricipital (PCT),

circunferncia do brao (CB) e circunferncia da cintura (CC) (PITANGA, 2008).

O IMC um mtodo simples, no invasivo, instantneo, de baixo custo, no

necessita prtica e de grandes treinamentos (BRASIL, 2011). Utiliza-se

constantemente o IMC para classificar situaes de eutrofia, sobrepeso e obesidade

na populao em geral (NUNES et al., 2009).

Apesar de ser um parmetro amplamente utilizado, o IMC no distingue a

composio corporal, ou seja, no caracteriza massa magra e massa gorda

(ASCHNER et al., 2009). Todavia percebeu-se em um estudo que existe uma

grande associao do aumento do valor de IMC com a elevao da gordura na

regio abdominal como observado em outros estudos (ROSENZWEIG et al., 2008).

A gordura abdominal pode ser mensurada atravs da aferio da CC, sendo esse

um parmetro de baixo custo, no invasivo, porm, diferente do IMC requer um

maior treinamento do profissional para aferio correta (CASTRO; MATO; GOMES,

2006).

Um estudo realizado por Zubizarreta Peinado e outros (2012) observou a

predominncia de obesos na populao diabtica estudada. A obesidade atinge

cerca de 80% dos portadores de DM (VASQUES et al., 2007), sendo que quando

concentrada em maior quantidade na regio abdominal essa reflete no aumento da

resistncia insulnica (KUMPEL et al., 2011).

Em uma pesquisa que relacionou o risco vascular com as variveis antropomtricas

em pacientes diabticos tipo 2, pode-se observar que 67,5% dos indivduos

avaliados apresentavam risco vascular e tinham a medida da CC acima do

recomendado para o respectivo sexo (ZUBIZARRETA PEINADO et al., 2012).

37

Estudos mostram ainda que a CC possibilita a melhor identificao de risco vascular

quando comparada ao IMC (ASCHNER et al., 2009).

Nisak e outros (2013) perceberam a relao entre a quantidade de gordura visceral

e a elevada medida de CC, considerando que essa situao dificultou o controle

glicmico e aumentou a possibilidade do surgimento de complicaes associadas a

pessoas que apresentaram a CC acima do recomendado, situao essa que

corrobora com a opinio de outros autores que associam a CC elevada com a

dificuldade de controle glicmico (SUMITA; ANDRIOLO, 2008).

Com relao aos distrbios metablicos Zubizarreta Peinado e outros (2012)

ressaltaram que tanto a gordura visceral quanto a gordura subcutnea esto

relacionadas a riscos metablicos, contudo, Vasques e outros (2007), assinalam a

maior influncia da gordura visceral nas complicaes metablicas em pacientes

diabticos, alm de impactar na elevao da presso arterial de portadores de DM

(CHUANG et al., 2006).

Dessa forma, cabe-se destacar a importncia da avaliao da distribuio da

composio corporal para a classificao do estado nutricional, estando essa

relacionada ao surgimento de doenas crnicas e a possveis alteraes

metablicas associadas (REZENDE et al., 2007). Assim, a aferio das pregas

cutneas so utilizadas para uma maior fidedignidade da avaliao da composio

corporal (SANT'ANNA; PRIORE; FRANCESCHINI, 2009).

As pregas cutneas tambm so usadas para a identificao da gordura corporal,

sendo essa uma tcnica simples e prtica (MAFFEIS et al., 2001). Como a gordura

corporal est presente no tecido subcutneo, atravs da aferio das pregas

cutneas (tricipital, bicipital, supraliaca e subescapular) pode-se observar de uma

forma mais ampla a autenticidade da distribuio da gordura corporal (SANT'ANNA;

PRIORE; FRANCESCHINI, 2009).

Para averiguao das pregas cutneas necessrio treinamento dos avaliadores,

sendo a PCT a prega mais utilizada na prtica para identificao do estado

nutricional. Porm em determinadas situaes, como edema e obesidade extrema

os valores mensurados das pregas em geral no so confiveis (SANT'ANNA;

PRIORE; FRANCESCHINI, 2009).

38

Outra medida utilizada para investigar o estado nutricional a CB que representa a

soma da rea do brao considerando tecido muscular, sseo e gordura. Essa

medida mais empegada no diagnstico de desnutrio, porm pode ser utilizada

como parmetro auxiliar no diagnstico do estado nutricional, pois um mtodo

fcil, rpido, no invasivo e de baixo custo (PITANGA, 2008).

Porm, nenhum mtodo isolado estabelece de forma fidedigna o estado nutricional

de um indivduo, dessa forma, se faz necessria a associao de diversos

parmetros (NUNES et al., 2009). Alm disso, a averiguao bioqumica (GUEDES;

GUEDES, 2003) e do consumo alimentar auxiliam na confirmao do estado

nutricional (FISBERG; MARCHIONI; COLUCCI, 2009).

Na investigao bioqumica, usualmente analisa-se exames de glicemia de jejum,

glicemia ps-prandial, hemoglobina glicada, frutosamina, exame de urina

(averiguando a possvel presena de cetonria, microalbuminria ou glicosria),

alm de observar os nveis de triglicerdeos, colesterol total, LDL - Colesterol e HDL -

Colesterol (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).

Estudos relatam que pacientes submetidos interveno nutricional reduziram

expressivamente o peso, IMC, percentual de gordura corporal e glicemia de jejum,

logo, esse acompanhamento se torna muito importante no decorrer do tratamento

(GERALDO et al., 2008).

Alm de todos os parmetros citados anteriormente se faz indispensvel avaliao

da ingesto alimentar para compreender o padro alimentar do paciente. Ressalta-

se que o estado nutricional o reflexo da relao do consumo alimentar e as reais

necessidades nutricionais. Portanto, para a melhor compreenso do estado

nutricional de grande relevncia avaliao da ingesto alimentar da populao a

ser estudada (FISBERG; MARCHIONI; COLUCCI, 2009), incluindo portadores de

DCNT, como o DM (SILVA; VASCONCELOS, 2012).

remota a realizao de estudos no Brasil voltados para questes alimentares, uma

ferramenta utilizada e muito conhecida a Pesquisa de Oramento Familiar

divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (ANJOS; SOUZA;

ROSSATO, 2009). Esta pesquisa trata-se de um estudo que tenta traar o perfil de

consumo alimentar da populao brasileira atravs de registros detalhados dos

39

alimentos ingeridos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA,

2011).

Uma grande vantagem de se conhecer o perfil alimentar de um grupo especfico a

possibilidade de atravs desses dados implantar e/ou implementar estratgias ou

programas relacionados aos hbitos alimentares do grupo estudado, de modo a

contribuir para a promoo e preveno da sade da populao (ANJOS; SOUZA;

ROSSATO, 2009).

Na prtica clnica ou ambulatorial so diversos os mtodos utilizados para avaliao

do consumo alimentar individual ou coletivo, como registro ou dirio alimentar,

recordatrio de 24 horas e questionrio de frequncia alimentar (FISBERG;

MARCHIONI; COLUCCI, 2009).

O registro alimentar possibilita avaliar a ingesto atual, possui baixo custo, no

depende da memria do paciente, logo, possui menor chance de erro quanto a sua

analise, alm de estimar valor calrico total e ingesto de nutrientes (PAULO;

YASSUDA, 2010).

Um estudo realizado por Nisak e outros (2013) com diabticos que participaram de

terapia mdica e nutricional mostrou que aps a interveno nutricional o HDL-

Colesterol dos pacientes reduziu, a ingesto alimentar melhorou significativamente,

os valores encontrados de circunferncia da cintura foram menores e o controle

glicmico melhorou expressivamente, sendo essa situao aferida atravs dos

nveis de frutosamina e hemoglobina glicada.

2.4.4.2 Composio do plano alimentar

evidente que a adequao da dieta primordial no gerenciamento do DM, deste

modo, cabe ao nutricionista incentivar o consumo de refeies saudveis, variadas e

equilibradas, com a ingesto de calorias e nutrientes de acordo com as

necessidades individuais, atendendo as recomendaes, considerando sexo,

estgio de vida, prtica de atividade fsica e a presenas de agravos (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).

Com a avaliao do consumo alimentar possvel observar os padres alimentares,

hbitos e costumes dos indivduos, investigar se a ingesto encontra-se adequada,

40

alm de auxiliar na implantao do plano alimentar condizente com a realidade de

cada um, resultando em uma melhor adeso ao tratamento (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).

Pensando no impacto da alimentao na sade da populao brasileira o Ministrio

da Sade criou estratgias com foco na alimentao para a promoo e preveno

de DCNT e carncias nutricionais, sendo uma dessas estratgias o guia alimentar

para a populao brasileira (BRASIL, 2008).

O guia alimentar incentiva alimentao e hbitos de vida saudveis a partir do

estabelecimento de diretrizes alimentares e orientaes voltadas a preveno das

DCNT e carncias nutricionais, que devido sua enorme prevalncia se tornaram

problemas de sade pblica (BRASIL, 2008).

A Sociedade Brasileira de Diabetes (2009) estabelece as recomendaes dos

macronutrientes (carboidrato, protena e lipdeo) para o indivduo diabtico, como

demonstrado no quadro 01.

Quadro 01: Recomendaes de macronutrientes para diabticos.

Macronutriente Quantidade recomendada

Carboidrato 45% a 60% do valor calrico total da dieta

Protena 15% a 20% do valor energtico total do planejamento alimentar

Gordura total Consumo mximo de 30% do valor calrico total da dieta

Fonte: SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009.

Destaca-se que ao elaborar um plano alimentar deve-se ter bastante ateno em

relao ao ndice glicmico dos alimentos a serem escolhidos, principalmente para a

populao diabtica (DIAS et al., 2010). Sendo que, ndice glicmico um

parmetro muito utilizado que expressa o impacto que um determinado alimento ter

nos nveis glicmicos.

Pensando nisso, a Sociedade Brasileira de Diabetes (2009) instituiu o Manual Oficial

de Contagem de Carboidrato para Profissionais da Sade, que permite a ampliao

das escolhas alimentares dos pacientes com alimentos tpicos das regies

brasileiras (SACHS et al., 2009).

Para o melhor controle do DM recomenda-se a reduo da ingesto de carboidrato

simples, dando preferncia aos carboidratos complexos com alto teor de fibras

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009). O consumo adequado de fibras

41

tem sido bastante empregado no tratamento dietoterpico dos diabticos,

especialmente do DM tipo 2, considerando as implicaes fisiolgicas e as

caractersticas especficas das fibras (MELLO; LAAKSONEN, 2009).

As fibras colaboram com a reduo dos nveis glicmicos, pois diminuem a absoro

dos carboidratos, devido o pouco contato das enzimas intestinais com os substratos,

alm de retardar o transporte e a absoro dos nutrientes, alm disso, a fibra solvel

auxilia no controle das dislipidemias (MOREIRA, 2011).

So vrios os benefcios associados as fibras solveis, dentre eles: retardo do

esvaziamento gstrico, permitindo assim um maior controle dos nveis glicmicos

aps as refeies, alm de reduzir os nveis de colesterol na corrente sangunea e

proporcionar maior sensao de saciedade (SAMAPIO; SABRY, 2007). Sendo

assim, essas fibras podem ser utilizadas para tratamento ou preveno de DCV, DM

tipo 2 (ALVIS; GAGLIADO; LAVINA, 2008), obesidade e dislipidemias (GERALDO et

al., 2008), logo, recomenda-se a ingesto de 20 gramas ao dia ou 14 gramas por mil

calorias ingeridas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009).

Pesquisas tm demonstrado que os carboidratos com alto teor de fibras e baixo

ndice glicmico contribuem para o melhor controle glicmico e insulnico ps-

prandial seja em pacientes portadores de DM ou no portadores. A contribuio das

fibras para os indivduos diabticos muito eficiente, pois essas influenciam

beneficamente at o ndice glicmico em longo prazo (MELLO; LAAKSONEN, 2009).

Porm, para que a fibra realize de forma adequada todas as suas funes

essencial ingesto hdrica adequada (GERALDO et al., 2008).

Logo, ressalta-se a importncia do consumo alimentar adequado no

acompanhamento e controle do portador de diabetes, sendo a avaliao do mesmo

utilizada como um mtodo de auxlio no tratamento (SOCIEDADE BRASILEIRA DE

DIABETES, 2009).

42

43

3 METODOLOGIA

3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

Este trabalho trata-se de uma pesquisa de natureza transversal, com abordagem

quantitativa, pois aborda a avaliao objetiva das informaes coletadas atravs de

variveis pr-existentes, tendo associao da abordagem qualitativa.

3.1.1 Populao e local de estudo

A partir dos critrios de incluso e excluso foram pr-selecionados 40 pacientes de

ambos os sexos, portadores de DM acompanhados pelos profissionais da equipe

interdisciplinar da Unidade Bsica de Sade (UBS) Bom Pastor do municpio de

Cariacica - ES.

Inicialmente vale enfatizar que foram avaliados dois grupos, o primeiro chamado no

trabalho de grupo 1, composto por diabticos acompanhados por todos os

profissionais da equipe interdisciplinar (acompanhamento completo) e o segundo, o

grupo 2, composto pelos pacientes acompanhados apenas por alguns profissionais

integrantes da equipe (acompanhamento incompleto).

Enfatiza-se que a populao do estudo foi dividida em dois grupos para melhor

compreender as diferenas entre os acompanhamentos (completo e incompleto) sob

o estado nutricional e a ingesto alimentar dos pacientes diabticos.

Ressalta-se que a equipe interdisciplinar da UBS em que foi realizada a pesquisa

composta por trs endocrinologistas, uma enfermeira, uma nutricionista, uma

fisioterapeuta e uma assistente social. O psiclogo integrava a equipe, porm no

momento esse profissional encontra-se ausente na unidade. Salienta-se ainda que a

unidade em questo referncia do SISHIPERDIA no municpio.

3.1.2 Critrios de incluso e excluso

Foram selecionados por convenincia pacientes com diagnstico de diabetes

mellitus. Dois estgios de vida participaram do estudo: a populao adulta, ou seja,

44

aqueles que possuem entre 20 e 59 anos de idade e a populao idosa, sendo

esses os indivduos com 60 anos ou mais de idade (BRASIL, 2011).

Todos os avaliados eram acompanhados por profissionais da equipe interdisciplinar.

Foram considerados excludos do estudo aqueles pacientes que no se incluram

nos critrios mencionados anteriormente.

3.2 COLETA DE DADOS

3.2.1 Critrios ticos adotados

A coleta dos dados teve incio posteriormente aprovao do projeto pela Secretaria

Municipal de Sade de Cariacica e do Comit de tica e Pesquisa (CEP). A

autorizao da Secretaria de Sade de Cariacica se deu por meio de um termo de

autorizao institucional (APNDICE A).

Aps aprovaes, o estudo foi apresentado formalmente a alguns profissionais

integrantes da equipe interdisciplinar da UBS que contriburam com as informaes

necessrias para a escolha inicial do grupo a ser estudado de acordo com os

critrios de incluso e excluso. Posteriormente, o trabalho foi apresentado aos

pacientes pr-selecionados, abordando os objetivos, mtodos, benefcios do estudo,

esclarecendo todas as dvidas dos mesmos referentes pesquisa.

Os pacientes que compreenderem a importncia e as ressalvas do estudo e se

disponibilizaram a participar, inicialmente assinaram o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (APNDICE B) autorizando assim sua participao espontnea

na pesquisa. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido fundamentou-se na

resoluo n 196 de 10 de outubro de 1996 estabelecida pelo Conselho Nacional de

Sade (BRASIL, 1996).

As pessoas que se interessaram pelo trabalho e no se encaixaram no grupo a ser

estudado receberam esclarecimentos e orientaes nutricionais a respeito do DM e

no foram enquadradas no grupo de estudo.

A pesquisadora comprometeu-se a utilizar os dados fornecidos apenas para fins

relacionados pesquisa, mantendo em rigoroso sigilo a identidade dos participantes

45

no caso de publicao dos resultados, alm de manter a integridade e bem estar dos

envolvidos.

3.2.2 Perodo e ordem da coleta de dados

A coleta de dados antropomtricos foi realizada por meio de consultas marcadas

pelos profissionais da Unidade bsica de Sade, sendo essa realizada de forma

geral no perodo mximo de 30 dias, no setor de nutrio.

A pesquisa aconteceu em dois momentos: na primeira consulta os pacientes que se

enquadraram nos critrios de incluso e aceitaram participar da pesquisa, aps a

leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram

encaminhados individualmente para a primeira consulta. Inicialmente, foi realizada a

avaliao antropomtrica com averiguao do peso, altura, IMC, CC, CB e PCT.

Ainda na primeira consulta, foi solicitada a realizao de um registro alimentar de

trs dias e exames bioqumicos de acordo com a disponibilidade de cada indivduo,

para a prxima consulta, na semana seguinte. Todas as informaes relacionadas

ao registro alimentar foram dadas, esclarecendo todas as possveis dvidas dos

participantes da pesquisa.

Na segunda consulta, os dados dos exames bioqumicos foram anotados, o registro

alimentar foi coletado e os pacientes receberam um retorno referente aos resultados

encontrados na sua avaliao antropomtrica. Todos os dados coletados foram

anotados em fichas de informao individual (APNDICE C).

Ressalta-se, que a segunda consulta foi realizada exclusivamente para entrega do

registro alimentar e exames bioqumicos, desta forma, os mesmos no tiveram que

marcar horrio na UBS para a referida consulta. A segunda consulta realizou-se na

prpria UBS em um setor disponvel.

3.3 AVALIAO DO ESTADO NUTRICIONAL

Para avaliao do estado nutricional dos pacientes analisados nesse estudo foram

utilizados parmetros antropomtricos, registro alimentar de trs dias e exames

bioqumicos. No sendo os exames bioqumicos um requisito obrigatrio, os

46

mesmos apenas foram utilizados de acordo com a disponibilidade dos indivduos

participantes da pesquisa para auxilio na identificao do estado nutricional.

3.3.1 Avaliao do perfil antropomtrico

Para averiguao da composio corporal como indicado por Pitanga (2008), foram

empregados os seguintes parmetros antropomtricos: altura e peso para posterior

clculo de IMC, alm desses, foram utilizados a CC, CB e PCT.

Para uma maior efetividade dos resultados, durante a aferio da altura e peso foi

solicitado ao participante permanecer em posio ereta, descalo com os

calcanhares juntos, braos estendidos ao lado do corpo, vestindo roupas leves e

olhando para o horizonte (PITANGA, 2008).

Para o estabelecimento do peso foi utilizada a balana mecnica 110 CH da marca

Welmy, com divises de 100 gramas e capacidade de at 150 quilogramas. A

aferio da altura foi realizada com o auxlio da rgua antropomtrica acoplada a

balana, com campo de uso at 2,00 metros e escala de 0,5 centmetros.

Aps averiguao do peso e altura, foi calculado o IMC. O IMC definido como a

razo entre a massa corporal (Kg) e o quadrado da altura (m) (DMASO, 2012).

Posteriormente, o resultado foi comparado com a classificao do estado nutricional

de adultos de acordo com IMC (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995 apud

DMASO, 2012) (ANEXO A) e a classificao do SISVAN para os idosos (BRASIL,

2011) (ANEXO B).

A CC e a CB foram aferidas com o auxlio da trena antropomtrica com trava da

marca Sanny com campo de uso de 2 metros, resoluo em milmetros e tolerncia

de mais ou menos 0,10 milmetros em 1 metro.

Para o estabelecimento da CC o indivduo permaneceu ereto, com os calcanhares

unidos, abdome relaxado, contornando com a fita a cintura na regio mais estreita,

ou ainda, dois dedos acima do umbigo. Depois, o resultado obtido foi classificado,

sendo analisado o risco de complicaes metablicas associados obesidade e

risco cardiovasculares (BRASIL, 2011) (ANEXO C).

Para verificao da CB, inicialmente foi solicitado ao paciente que permanecesse

com o brao no ngulo de 90C em direo ao trax, aps encontrou-se e marcou-

47

se o ponto mdio entre o acrmio e olecrano. Em seguida, solicitou-se que o

paciente estendesse o brao ao longo do corpo com a palma da mo voltada para a

coxa, dessa forma, contornou-se o brao com a fita ajustada no ponto marcado

anteriormente evitando folga ou compresso da pele (PITANGA, 2008).

A adequao da CB foi determinada pela equao a seguir: CB obtida em

centmetros / CB no percentil 50 x 100. O percentil 50 foi encontrado na tabela de

percentil (ANEXO D) (NACIF; VIEBIG, 2008.). O resultado foi comparado aos

valores de referncia (NACIF; VIEBIG, 2008) (ANEXO E).

A PCT foi aferida com o auxlio do adipmetro de marca Cescorf, com amplitude de

leitura de 80 milmetros com preciso de 1 milmetro. Para averiguao da PCT o

indivduo manteve-se com o brao relaxado ao longo do corpo. No ponto mdio

estabelecido para averiguao da CB separou-se com cautela a prega do brao

desprendendo-a do tecido muscular. Aps, aplicou-se o calibrador formando um

ngulo reto, observando e anotando o valor encontrado (PITANGA, 2008).

A adequao da PCT foi definida pela equao a seguir: PCT obtida em milmetros /

PCT no percentil 50 x 100 (ANEXO F). O resultado foi comparado aos valores de

referncia (NACIF; VIEBIG, 2008) (ANEXO G).

3.3.2 Avaliao da ingesto alimentar

Para avaliao da ingesto alimentar foi solicitado na primeira consulta um registro

alimentar de trs dias para a prxima consulta, que foi realizada na semana

seguinte. O registro alimentar de trs dias foi composto por dois dias de semana e

um dia de fim de semana para melhor entender o consumo alimentar dos pacientes

(FISBERG et al., 2005).

Com relao anlise do mesmo, foi avaliado o valor calrico total ingerido,

distribuio dos macronutrientes (carboidrato, protena e lipdeo) e consumo de

vitamina A e C, clcio, ferro, sdio e fibras totais, usando como referncia as DRIs

(Dietary Reference Intakes ou Ingestes Dietticas de Referncia) estabelecidas

pelo Instituto de Medicina (INSTITUTE OF MEDICINE, 2005).

48

3.3.3 Avaliao bioqumica

Os exames de glicemia de jejum e ps-prandial, colesterol total, fraes (HDL -

colesterol e LDL - colesterol) e triglicerdeo foram utilizados para a confirmao do

estado nutricional dos pacientes. Esses exames foram solicitados durante a primeira

consulta para a segunda consulta, sendo esse utilizado de acordo com a

disponibilidade dos pacientes.

Os valores de referncia utilizados para os exames de glicemia de jejum e ps-

prandial foram os valores fornecidos pela Sociedade Brasileira de Diabetes (2009)

(ANEXO H). Os valores de colesterol total, fraes e triglicerdeos encontrados

foram comparados aos valores de referncia do perfil lipdico para adultos utilizado

por Dmaso (2012) (ANEXO I).

3.4 ANLISE DE DADOS

Os registros alimentares coletados foram dispostos em planilhas e calculados no

programa de tabulao Microsoft Excel 2010, determinando Valor Calrico Total

(VCT), distribuio de carboidrato, protena, lipdeo e consumo de fibras totais,

vitamina A e C, clcio, ferro e sdio.

Os resultados encontrados foram analisados atravs de estatstica descritiva,

considerando variveis quantitativas e qualitativas. As variveis quantitativas foram

apresentadas em mdia, desvio padro, mediana, mnimo e mximo, entretanto, as

variveis qualitativas foram apresentadas por meio de frequncia absoluta e relativa.

Alm disso, para comparao entre as variveis categricas com os tipos de

acompanhamentos (completo e incompleto) foi utilizado o teste qui-quadrado, no

sendo utilizado em clulas com resultados esperados menores do que cinco. Nessa

situao, foram utilizados o teste Exato de Fisher ou a razo da mxima

verossimilhana. Valores de p

49

Os resultados encontrados foram dispostos no programa de tabulao de dados

Microsoft Excel 2010, gerando tabelas e grficos para posterior representao dos

mesmos.

3.5 FINANCIAMENTO

Os custos com transporte, trena antropomtrica, canetas e impresses foram

financiados pela pesquisadora. Enquanto a balana com a rgua antropomtrica

acoplada e o adipmetro foram disponibilizados pela UBS, sendo esses os

equipamentos utilizados na prpria unidade.

50

51

4 RESULTADOS E DISCUSSO

Durante o estudo 40 pacientes portadores de DM frequentadores de uma UBS do

municpio de Cariacica que se enquadraram nos critrios de incluso foram pr-

selecionados atravs de reunies com os profissionais da unidade. Os mesmos

concordaram em participar da pesquisa, porm, devido a alguns fatores como faltas

e mudanas na agenda, o trabalho foi realizado com uma amostra de 31 pacientes.

Na tabela 1 esto dispostas as caractersticas da amostra segundo

acompanhamento profissional. A partir da mesma pode-se observar os pblicos

alvos analisados, quantitativo de pacientes avaliados de acordo com o sexo,

estgios de vida abordados, tipo de acompanhamento, classificao do tipo de DM e

tempo de acompanhamento.

Tabela 1 Caracterizao da amostra segundo acompanhamento.

Variveis

Acompanhamento profissional

Amostra Total Acompanhados por todos os profissionais

Acompanhados por alguns

profissionais

N % n % n %

Sexo Masculino 6 37,5 6 40,0 12 38,7 Feminino 10 62,5 9 60,0 19 61,3

Grupo etrio Adultos 11 68,8 8 53,3 19 61,3 Idosos 5 31,3 7 46,7 12 38,7

Classificao do DM Diabetes mellitus tipo 1 - - 1 6,7 1 3,2 Diabetes mellitus tipo 2 5 31,3 6 40,0 11 35,5 No souberam informar 11 68,8 8 53,3 19 61,3

Tempo de acompanhamento At 12 meses 5 31,3 5 33,3 10 32,3 De 13 a 36 meses 8 50,0 6 40,0 14 45,2 Mais de 36 meses 3 18,8 4 26,7 7 22,6 Total 16 100,0 15 100,0 31 100,0

Fonte: Elaborao prpria.

Dos 31 pacientes avaliados, observa-se que a maioria, 61,3% (n= 19) era composta

por indivduos do sexo feminino e 38,7% (n= 12) do sexo masculino. Em um estudo

realizado por Martinello (2009) a respeito da alimentao, perfil nutricional e estilo de

vida de portadores de diabetes mellitus tipo II situao semelhante foi encontrada,

visto que do total amostral analisado 55% era composto por indivduos do sexo

feminino e 45% do sexo masculino.

52

Geraldo e outros (2008) ao analisarem a interveno nutricional, por meio da

avaliao antropomtrica e exame de glicemia de jejum de pacientes diabticos,

verificaram que 59,52% da amostra era composta pelo sexo feminino e 40,48% do

sexo masculino, o que corrobora a situao encontrada no presente estudo.

Dados divulgados pelo Ministrio da Sade indicam que no ano de 2010 ocorreram

30,8 mil casos de mortes no sexo feminino tendo como causa o DM, contra 24 mil

casos no sexo masculino. Esses dados, apenas ressaltam o que foi encontrado no

presente estudo, ratificando que o sexo feminino o mais afetado pelo DM (BRASIL,

2012b).

Segundo Grillo e Gorini (2007) citados por Mondo (2010) a explicao para o grande

nmero de casos de diabetes na populao feminina est relacionada com a maior

busca das mesmas pelos servios de sade quando comparadas ao sexo

masculino. Porm, em um estudo realizado com a populao adulta no perodo de 3

anos em 18 capitais do Brasil, Costa e Thuler (2012) identificaram um maior nmero

de casos de diagnstico prvio no sexo masculino.

Participaram da presente pesquisa dois estgios de vida, sendo esses adultos e

idosos, porm os mesmos foram avaliados de forma conjunta, pois a separao

prejudicaria o n da pesquisa. Com exceo do IMC que possui classificaes

diferenciadas (BRASIL, 2011).

Mondo (2010) ao analisar o estilo de vida de 43 portadores de DM tipo 2 atendidos

em uma UBS do municpio de Ararangu - Santa Catariana, envolveu igualmente

como pblico alvo a populao adulta e idosa, alm disso a maioria de sua amostra

foi composta pelo sexo feminino 65,1% (n= 28), compreendendo apenas 34,9% (n=

15) do sexo masculino.

No presente estudo o maior nmero de portadores de DM analisado foram os

adultos, representando esse 61,3%, enquanto que os idosos portadores de DM

representaram 38,7% da populao estudada. Destaca-se que crescente a

prevalncia de casos de DM tanto na populao adulta quanto na idosa, porm, em

2010 os idosos, com idade superior a 80 anos representaram a maioria das mortes

decorrentes de DM (BRASIL, 2012b).

A anlise quanto ao tipo de DM mostra que do total avaliado, 3,2% eram portadores

de diabetes mellitus tipo 1, 35,5% portador de diabetes mellitus tipo 2. Ressalta-se

53

que 61,3% dos analisados quando questionados a respeito do tipo de DM que

apresentavam no souberam informar.

Atualmente a incidncia e prevalncia do DM tipo 2 tem aumentado

significativamente (TORRES et al., 2009) como encontr