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Estado e Desenvolvimento Econômico no Brasil Contemporâneo DAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2017.II (Ano 2 do Golpe) Aula 18 3ª-feira, 8 de agosto

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Estado e Desenvolvimento Econômico

no Brasil Contemporâneo DAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB

(4-0-4)

Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2017.II

(Ano 2 do Golpe)

Aula 18

3ª-feira, 8 de agosto

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Aula 18 (3ª-feira, 8 de agosto): O breve ensaio neodesenvolvimentista

Textos obrigatórios:

BARBOSA, Nelson (2013) “Dez anos de Política Econômica”, p. 69-102, in: SADER, E. (2013).

SUZIGAN, W., FURTADO, J. (2006) “Política industrial e desenvolvimento”, p. 163-185.

Texto complementar:

PIRES, Marcos Cordeiro (2010) “Capítulo 11: O Governo Lula (2003-2006/2007-2008), p. 311-332.

3

O breve ensaio neodesenvolvimentista

(2003-2010)

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 representou não apenas a confiança em um novo projeto político, mas a rejeição pelo eleitorado do segundo governo FHC.

• Lula venceu com 61,27% dos votos José Serra (PSDB), que obteve 38,73% dos votos.

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• 2002: mercado financeiro votou contra Lula (“efeito Lula”):

• Risco país:

– Dezembro de 2001: 963 pontos básicos;

– Dezembro de 2002: 1.460.

• Entrada líquida de capital externo de US$ 27 bilhões para US$ 8 bilhões.

• Taxa de câmbio:

– Dezembro de 2001: R$ 2,32;

– Dezembro de 2002: R$ 3,53.

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• “Assim, depois da instabilidade macroeconômica de 2002 e do ajuste monetário e fiscal de 2003, a economia brasileira parecia ter finalmente decolado em 2004, com um crescimento provocado pelo investimento e pelas exportações e uma substancial melhora nos indicadores fiscais do país.” (Barbosa in: Sader 2013: 71)

• “A melhora do desempenho interno da economia brasileira foi beneficiada pelo contexto internacional favorável, que reduziu a fragilidade das finanças internacionais do país.” (Barbosa in: Sader 2013: 73)

Evolução preços commodities

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All index Food index Metal index Energy index

Saldo comercial

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O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• Ações de política doméstica:

– Bolsa Família;

– Programa de Aceleração do Crescimento (PAC);

– Política de valorização do salário mínimo (efeitos amplos de distribuição de renda).

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• Ações de política doméstica:

– Retomada de políticas industriais – Pedro Malan (ministro Fazenda FHC): “a melhor política industrial é não ter política industrial”:

– PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (2003-2008);

– PDP – Política de Desenvolvimento Produtivo (2008-2010);

– PBM – Plano Brasil Maior (2011-2014).

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• Ações de política externa:

– Política Externa Ativa e Altiva;

– Diplomacia presidencial (470 dias fora do país);

– Apostar na diversificação (África, Oriente Médio, Ásia);

– Ativismo propositivo na OMC;

– Aprofundar relações com os países da América do Sul.

Evolução do comércio por região em bilhões de US$

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Região 2002 2012 Variação no período

Países desenvolvidos US$ 67,3 bi US$ 209 bi 210,5%

Países em desenvolvimento

US$ 39,4 bi US$ 250,9 bi 536,8%

China US$ 4 bi US$ 75,5 bi 1787,5%

América do Sul US$ 15,1 bi US$ 70,7 bi 368%

África US$ 5 bi US$ 26,5 bi 430%

Oriente Médio US$ 3,8 bi US$ 18,9 bi 397%

Total US$ 107,7 bi US$ 465,75 332,5%

Evolução do perfil de exportação e saldo comercial por região

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Região Exportações Básicas

Exportações de Manufaturados

Saldo em US$

2002 2012 2002 2012 2002 2012

Países desenvolvidos

29% 46% 71% 54% US$ 6,1 bi US$ - 8 bi

Países em desenvolvimento

27,6% 49% 72,4% 51% US$ 6,2 bi US$ 22,8 bi

China 61,5% 82,9 38,5% 17,1% US$ 1 bi US$ 7 bi

América do Sul 8,5% 13% 91,5% 87% US$ -0,14 bi US$ 9,65 bi

África 17,8% 36,6% 82,2% 64,4% US$ -0,3 bi US$ - 2 bi

Total 28% 48% 72% 52% US$ 13,2 bi US$ 19,4 bi

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• Porque neodesenvolvimentista?

- Reconhecimento dos limites das políticas da época do nacional-desenvolvimentismo;

- Reconhecimento que o mundo é outro: parte das políticas da fase nacional-desenvolvimentista, embora correta, não se aplica mais;

- Mas: país em desenvolvimento precisa de políticas industriais.

“Convenção neodesenvolvimentista

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• Investimento em infraestrutura;

• Consumo das famílias incentivado pelo crédito;

• O círculo virtuoso entre, de um lado, o aumento de consumo das famílias, derivado dos aumentos do salário-mínimo, das transferências do Bolsa Família, da expansão do emprego formal;

• E, por outro, o investimento na expansão da capacidade produtiva, amparado por incentivos fiscais, crédito subsidiado e subvenções;

• Política externa independente.

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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2010

(existente)

2015 2020

Sondas de perfuração de alto mar

15 37 651

Barcos de apoio e especiais

287 479 568

Plataformas de

produção

44 61 94

Pré-sal e política de conteúdo local

1 Para uma melhor noção do significado desta demanda, vale a pena observar que a frota total de sondas operando no mundo em 2010 era 70.

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• Limites da política industrial:

– Políticas protecionistas aplicadas de forma generalizada, poucas exigência (performance requirements) e sem limite temporal; rent seeking;

– Deficiência no desenvolvimento tecnológico e pouca geração de capacidade tecnológica endógena;

– Dependência de financiamento externo (como sempre!).

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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(variação media anual)

1995-1998 1999-2002 2003-2006 2007-2010

Crescimento PIB 2,5% 2,1% 3,5% 4,4%

Investimento 4,3% -2% 4,5% 8,6%

Investimento público

2,21% 1,6% 1,52% 2,56

Crédito/PIB 30,3% 25,4% 25,4% 40% (2010: 49%)

Inflação (IPCA) 9,7% 8,8% 6,4% 4,8%

Emprego com carteira

-296.000 454.000 1.163.000 1.466.000

Aumento real do salário mínimo

17% 15% 19% 31%

Despesa do Governo Central com Pessoal e Encargos

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(%)

PIB

Pre

ços

con

stan

tes

Preços constantes (2009) (%) PIB

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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Ano Desemprego Criação de empregos

PIB PIB/capita

2003 12,3% 861.014 1,1% -0,2%

2004 11,4% 1.862.649 5,7% 4,3%

2005 9,8% 1.831.041 3,2% 1,9%

2006 9,9% 1.916.632 4% 2,7%

2007 9,3% 2.452.181 6,1% 4,9%

2008 7,8% 1.834.136 5,2% 4,1%

2009 8,1% 1.765.980 -0,6% -1,6%

2010 6,7% 2.860.809 7,5% 6,5%

2011 6% 1,566,000 2,7% 1,7%

2012 5,5% 1,300,000 1% nd

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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1960 1970 1979 1990 2001 2009 2010 2012

Evolução Índice Gini

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Evolução salário mínimo em reais

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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2002 2004 2006 2008 2010

Evolução crédito/PIB

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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Adm. Pública

Estatais Federais

Setor Público

Investimento setor público

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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DLSP (% PIB)

Relação divida líquida/PIB

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• Situação em setembro de 2008 (antes da crise):

– Brasil estava crescendo a mais de 7% anualizado;

– Reservas acumuladas;

– Política desenvolvimentista (PAC);

– Alta popularidade de Lula;

– Respeito externo (inclusive investment grade);

– Presidência do G20 ministerial.

• Enfrentamento heterodoxo sem crise cambial;

• Valorização das opções políticas (bancos públicos, políticas sociais);

• Perda da oportunidade de ligar política industrial com questão ambiental.

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• “A quebra do banco Lehman Brothers gerou uma grande restrição de crédito na economia mundial. De uma hora para outra a incerteza sobre a solvência de instituições bancárias nos EUA e na Europa levou o sistema bancário mundial a um comportamento defensivo de contenção do crédito e fuga para ativos de menor risco, como títulos públicos emitidos pelos países mais ricos. Houve uma desvalorização de títulos privados e de commodities, que aumentou ainda mais o movimento de venda de ativos em uma busca desenfreada das instituições financeiras por liquidez. Os bancos centrais dos países avançados responderam a esse movimento com uma expansão recorde da liquidez mundial, mas ainda assim os países mais ricos entraram em recessão, puxados pela queda substancial do nível de atividade da economia norte-americana.” (Barbosa in: Sader 2013: 80)

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• “O primeiro impacto da crise internacional sobre o Brasil ocorreu de duas formas: uma contração abrupta e substancial da oferta de crédito e uma grande incerteza sobre a solvência de alguns grupos empresariais exportadores. (...) O segundo impacto da crise internacional sobre o Brasil ocorreu pelo canal de comércio exterior, devido à queda no volume de comércio internacional e à redução abrupta dos preços das commodities geradas pela recessão nos países avançados. Como os valores do real e do mercado acionário brasileiro estavam intensamente associados aos preços internacionais das commodities, a quebra do Lehman Brothers foi seguida de uma forte redução do valor das ações brasileiras e uma depreciação rápida e substancial da taxa de câmbio.” (Barbosa in: Sader 2013: 80)

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

30

• “Contrariando as expectativas do mercado, o governo Lula adotou uma postura sem precedentes na história recente do país: uma política de combate aos efeitos da crise internacional mediante medidas expansionistas nas áreas fiscal, monetária e creditícia. Em linhas gerais as principais ações do governo podem ser agrupadas em cinco grupos de medidas: (1) o aumento da liquidez e redução da taxa Selic; (2) a manutenção da rede de proteção social e dos programas de investimentos públicos mesmo em um contexto de queda da receita do governo; (3) as desonerações tributárias temporárias e permanentes; (4) o aumento da oferta de crédito por parte dos bancos públicos; e (5) o aumento do investimento público em habitação.” (Barbosa in: Sader 2013: 81)

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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R$ Milhões - Preços constantes de 2009

BNDES

Desembolsos BNDES

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Balança comercial manufatura em US$

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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Balança comercial manufatura em US$

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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Brasil - Balança Comercial (US$ milhões FOB)

-54.000

-48.000

-42.000

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42.000

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78.000

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Demais produtos 1.902 454 3.282 3.862 3.357 2.717 4.797 6.232 8.170 9.784 13.860 16.601 21.230 31.886 33.693 55.028 78.537 70.079

Prods. ind. transformação -5.368 -6.053 -10.034 -10.485 -4.638 -3.437 -2.083 6.970 16.729 24.059 31.118 29.811 18.798 -7.141 -8.346 -34.761 -48.740 -50.648

Total -3.466 -5.599 -6.753 -6.624 -1.282 -720 2.714 13.202 24.899 33.843 44.978 46.412 40.028 24.746 25.347 20.267 29.796 19.431

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Evolução perfil exportador Brasil

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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Taxa de câmbio

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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7,25

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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2014

Políticas econômicas restritivas

Selic governo DIlma

Evolução taxa de juros

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

37

Mercado interno

Investimentos &

emprego

Salários

+ transferências

+ Crédito

Importações de manufaturados

(China) => Desestimula o

investimento

O modelo demanda-investimento não funciona

mais!

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

38

A crise era uma marolinha, mas o day after....

...sobrou para o governo

Dilma

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• “Do ponto de vista da estratégia da política econômica, o movimento do BCB marcou o início da reversão das medidas de estímulo adotadas para combater os efeitos da crise financeira internacional. No final de 2010, esse movimento foi complementado por uma elevação dos depósitos compulsórios dos bancos e por uma redução do crescimento das despesas primárias do governo federal. Assim, antes do fim do governo Lula, o Brasil começou a adotar uma política macroeconômica mais restritiva com base na expectativa de que o pior da crise internacional já havia passado e que a economia brasileira poderia continuar a crescer sem estímulos adicionais por parte do governo.” (Barbosa in: Sader 2013: 84)

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

40

• “O governo Dilma começou 2011 dando continuidade às ações restritivas iniciadas no final do governo Lula. Após os estímulos adotados em 2009 e 2010, foi necessário retomar uma política macroeconômica menos expansionista sem, contudo, abandonar as conquistas sociais do passado.” (Barbosa in: Sader 2013: 84)

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

41

• “Os últimos dez anos de política econômica foram marcados pela criação de um novo modelo de desenvolvimento da economia brasileira, baseado na expansão do mercado interno e com uma forte atuação do Estado para reduzir a desigualdade na distribuição de renda. Em linhas gerais essa mudança pode ser descrita por cinco eventos ou decisões econômicas: (1) o cenário externo favorável resultou numa elevação substancial nos termos de troca da economia brasileira com o resto do mundo; (2) os ganhos decorrentes do cenário internacional favorável foram canalizados para a redução das vulnerabilidades financeiras do país e para a aceleração do crescimento, puxado pelo investimento e consumo domésticos (...).” (Barbosa in: Sader 2013: 89)

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• “(3) a política de estímulo ao crescimento foi acompanhada de uma série de ações para melhorar a distribuição de renda, o que criou um círculo virtuoso entre a expansão do emprego e do consumo, de um lado, e da produtividade e do investimento, do outro lado; (4) a melhora no desempenho macroeconômico gerou um forte processo de inclusão social, com a redução da taxa de desemprego, o aumento dos salários reais e a ampliação do acesso da população brasileira ao crédito; e (5) a melhora nos termos de troca do Brasil e a evolução do cenário internacional acabaram gerando uma forte apreciação cambial, o que por sua vez comprometeu a competitividade da indústria brasileira, sobretudo nos últimos quatro anos.” (Barbosa in: Sader 2013: 89)

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• “A perda de dinamismo da indústria brasileira representa um dos principais desafios à política econômica do governo federal nos próximos anos. Do ponto de vista produtivo, a continuação do desenvolvimento do Brasil depende da expansão da indústria, pois este é tradicionalmente o setor com crescimento mais rápido da produtividade do trabalho e no qual ocorre a maior parte das inovações tecnológicas. Do ponto de vista social, o desenvolvimento da economia brasileira também depende da manutenção do crescimento dos salários reais e do mercado interno, o que por sua vez significa que a competitividade industrial não deve ser obtida com compressão salarial. Como compatibilizar as duas coisas?” (Barbosa in: Sader 2013: 101)

O breve ensaio neodesenvolvimentista (2003-2010)

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• “Os ganhos de produtividade da economia brasileira devem ser construídos do lado real da economia, com redução dos custos financeiros, tributários e de infraestrutura do país. Ciente desse desafio, não é por acaso que, nos últimos dois anos, o governo Dilma tem atuado fortemente para desonerar tributos, reduzir taxas de juro e aumentar o investimento em infraestrutura no Brasil.” (Barbosa in: Sader 2013: 101)

“Macroeconomicismo”

O Brasil precisa, isso sim, superar seu

atraso tecnológico!

Para pensar...

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1. Durante o breve ensaio neodesenvolvimentista dos governos Lula, o Brasil conseguiu retomar uma trajetória de desenvolvimento sustentado? Por quê?

2. De que modo o ambiente externo interagiu com o ambiente doméstico no que diz respeito ao desenvolvimento ao longo dos governos Lula? Os efeitos do ambiente externo sobre o doméstico foram sempre iguais?