estado e desenvolvimento econômico no brasil contemporâneo · –dinâmica do crescimento...

43
Estado e Desenvolvimento Econômico no Brasil Contemporâneo DAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2017.II (Ano 2 do Golpe) Aula 4 5ª-feira, 8 de junho

Upload: lyhuong

Post on 10-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Estado e Desenvolvimento Econômico

no Brasil Contemporâneo DAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB

(4-0-4)

Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2017.II

(Ano 2 do Golpe)

Aula 4

5ª-feira, 8 de junho

Blog da disciplina:

https://edebcufabc.wordpress.com/

No blog você encontrará todos os materiais do curso:

• Programa

• Textos obrigatórios e complementares

• ppt das aulas

• Links para sites, blogs, vídeos, podcasts, artigos e outros materiais de interesse

Para falar com o professor:

• São Bernardo, sala 322, Bloco Delta, 3as-feiras, 19-20h, e 5as-feiras, das 15-16h (é só chegar)

• Atendimentos fora desses horários, combinar por email com o professor: [email protected]

Módulo I:

Aula 4 (5a-feira, 8 de junho): O modelo primário-exportador, sua crise e o surgimento do nacional-desenvolvimentismo

Textos obrigatórios:

FURTADO, C. (2003) “Cap. XXX-XXXIII: Economia de transição para um sistema industrial (século XX)”, p. 177-216.

Texto complementar:

PIRES, M. C. (2010) “Cap. 2: A economia escravista e o modelo primário-exportador”, p. 27-59.

SOUZA, N. A. (2008) “Cap. 1: O Nacional-desenvolvimentismo e a Industrialização”, p. 1-26.

Desenvolvimentismo: origens

5

O modelo

primário-exportador,

sua crise e o surgimento do

nacional-desenvolvimentismo

Transição do modelo agrário-exportador para o modelo de industrialização por substituição de importações (ISI)

6

• Para compreender o processo de transição do modelo primário-exportador para o modelo de industrialização por substituição de importação e mais tarde industrialização liderada pelo Estado, precisamos compreender o contexto político e histórico do Brasil e do mundo nas primeiras décadas do século XX.

Transição do modelo primário-exportador para o modelo de industrialização por substituição de importações (ISI)

7

• A crise do setor primário-exportador na década de 1930 – cujo principal produto aliás, na prática, único produto era o café – deve ser compreendida em um quadro político e histórico mais largo tanto no tempo como no espaço, voltando a meados da década de 1900 e examinando a economia e a política brasileira e mundial nas décadas de 1910-1930.

Transição do modelo primário-exportador para o modelo de industrialização por substituição de importações (ISI)

8

• As crises políticas e econômicas das décadas de 1920 e 1930 resultariam no que o desenvolvimentismo cepalino chamaria de “deslocamento do centro dinâmico da acumulação brasileira”.

• Retomando Bielschowsly: “Até então o crescimento havia sido ‘para fora’, dentro do padrão primário-exportador. As transformações na economia mundial (...) teriam sido responsáveis por um processo espontâneo de industrialização (...) O novo padrão de desenvolvimento ‘para dentro’ (...)”. (Bielschowsky 2000: 15-16)

Transição do modelo primário-exportador para o modelo de industrialização por substituição de importações (ISI)

9

• Ciclos econômicos da história do Brasil:

• Ciclo extrativista/do pau-brasil: 1500-1530

• Ciclo da cana-de-açúcar (primário-exportador) e ciclo de pecuária (subsistência e ocupação): séculos XVI-XIX;

• Ciclo da mineração (ouro e diamantes): século XVIII;

• Tráfico negreiro: séculos XVI-XIX;

• Ciclo do café: 1880-1930 - década de crise

• Ciclo industrial: 1930-1980(?) – o ciclo industrial do Brasil terminou, está terminando, continua?

Sociedade, economia e política cafeeira (1880-1930)

10

• A produção de café no Brasil a partir de meados do século XIX, que teve grande impulso na década de 1880, causou profundas alterações na sociedade, economia e política do Brasil.

• Os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro foram ao longo de quase toda a história colonial brasileira regiões periféricas e apenas indiretamente conectadas à economia primário-exportadora (é só a partir do advento do ciclo da mineração que vai dar alguma importância a essa região passará a ter alguma relevância econômica e política)

Sociedade, economia e política cafeeira (1880-1930)

11

• A transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808 (até então um núcleo populacional irrelevante) resultará no deslocamento do centro político do país do nordeste para o sudeste.

• O dinamismo econômico, no entanto, só fará a transição para o sudeste muito lentamente ao longo de todo o século XIX, culminando na década de 1880.

• A produção de café consolidou o deslocamento do centro dinâmico da economia brasileira do nordeste (que viu ao longo do século XIX um lento mas irreversível declínio da economia açucareira) para o sudeste a partir da segunda metade do século XIX.

Sociedade, economia e política cafeeira (1880-1930)

12

• Com a produção de café tomando o lugar do açúcar como principal produto da economia primário-exportadora, as elites cafeicultoras do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo viram seu poder aumentar acentuadamente. A economia e a política brasileiras passaram a girar em torno da economia do café produzido no sudeste e a atender aos interesses das oligarquias cafeicultoras daqueles estados. O poder central na República Velha (1889-1930), de início compartilhado com as elites do nordeste, cuja economia estava em franco declínio, seria nos anos finais do século XIX monopolizado por aqueles três estados, com predomínio de São Paulo e Minas (um duopólio, portanto).

Sociedade, economia e política cafeeira (1880-1930)

13

• Política do café com leite, 1898-1930: acordo entre as oligarquias agrárias paulista e mineira para controlar o poder central na República Velha.

• Convênio de Taubaté, 1906: acordo entre os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro para defesa da economia cefeeira.

Sociedade, economia e política cafeeira (1880-1930)

14

• Nos primeiros anos da década de 1920 o predomínio das oligarquias cafeicultores de São Paulo e Minas Gerais começa a ser posto em xeque por outras elites e pela ascendente classe média urbana civil e militar.

• Entre as elites, as oligarquias regionais do nordeste e do sul passaram a pressionar crescentemente o duopólio paulista-mineiro para acesso ao poder central.

Sociedade, economia e política cafeeira (1880-1930)

15

• Entre as classes médias urbanas militares, teve início o movimento tenentista/tenentismo, com largo apoio de elementos das classes médias urbanas civis, que vocalizaria o descontentamento das classes médias com o poder oligárquico da República Velha.

• Principais revoltas tenentistas:

– Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, 1922;

– Revolta Paulista, 1924;

– Coluna Prestes, 1925-1927.

Crise de 1929 e a transição da economia brasileira

16

• Crise de 1929 e a Grande Depressão foram um marco para explicar a guinada político-econômica do Brasil.

– Queda acentuada dos preços internacionais do café;

– Arrefecimento do comércio exterior;

– Indiretamente foi responsável por uma mudança do dinamismo econômico e político do Brasil.

Crise de 1929

17

• A crise acelera as condições que possibilitaram o fim da supremacia da oligarquia do café, ao produzir o desencontro entre a classe e seus representantes políticos.

• Já não é a oligarquia cafeeira que “unificaria” o conjunto da nação.

• Washington Luís abandona a defesa do café, vendendo mais ao exterior, não emite para financiar as perdas, nem decreta moratória, o que suscita a ira dos fazendeiros.

• Ainda assim, a “máquina eleitoral” funciona em março de 1930 e elege Júlio Prestes, candidato do paulista Washington Luís, presidente.

Crise de 1929 e a América Latina

18

• A crise alenta também os ressentimentos regionais no momento em que desaba o sistema político.

• Na América Latina, a ocorrência de 11 movimentos revolucionários entre 1930 e 1932 é bastante significativa. Em sua base está o desajuste provocado pela queda dos preços dos produtos de exportação.

• No Brasil, são os tenentes e homens da classe média urbana que dão impulso ao movimento revolucionário conseguindo afastar as figuras tradicionais.

Revolução de 1930

19

• Emergem com força novos atores: classe média urbana, tenentes, alguns industriais (capitães de indústria”), e as oligarquias fora do eixo Rio-São Paulo-Minas se tornam dissidentes.

• Sistema político extremamente excludente e arcaico (muitos setores não votavam e voto era aberto).

• Insatisfação entre os militares com os governos civis que os subordinavam e cuja cúpula aceitava esse papel.

• Colapso da política de defesa do café.

Revolução de 1930 e a subida de Getúlio Vargas ao poder

20

• Em termos gerais foi uma ruptura com o modelo oligárquico e descentralizado da República Velha e uma recentralização do poder e dos instrumentos de política econômica no governo federal.

• Fortaleceu o Estado nacional e consolidou novas classes econômicas no poder (classes médias urbanas, industriais etc.), o que permitiu colocar a industrialização como meta prioritária, como um projeto nacional de desenvolvimento.

• Getúlio Vargas foi ex-ministro de Washington Luís. Afastou-se dele, porém não muito, e estabelecendo-se o que Boris Fausto chamou de “Estado de Compromisso.”

A Revolução de 1930 e o Estado de compromisso

21

• Nenhum dos grupos participantes pode oferecer as bases da legitimidade do novo arranjo de poder, instalando-se um compromisso entre as várias facções:

– Classes dominante, burguesia, parte das classes médias

urbanas (favorecidas pelo crescimento do aparelho do

Estado e da economia de serviços e comércio que era

parte da economia cafeeira). A classe operária, até

aquele momento excluída da esfera política, seria

incorporada ao longo do primeiro governo Vargas, 1930-

1945.

A Revolução de 1930 e o Estado de compromisso

22

• Em suma é uma nova forma de Estado que:

– Tem uma maior centralização;

– Intervém de forma ampliada e não restrita apenas ao café.

– Racionaliza o uso de algumas fontes fundamentais de riqueza (minas, água)

– Oligarquias “intocadas” (relações sociais no campo) agora se subordinam ao poder central (perde poder dos Estados - interventores);

– Liberalismo vai sendo abandonado e em seu lugar ganha força ideias do fascismo nacionalista.

Irradiação do setor cafeeiro e início da industrialização brasileira:

23

• A urbanização e industrialização do país tiveram parte de sua origem na irradiação do setor cafeeiro, principalmente depois da transição para o trabalho assalariado, que elevou a demanda agregada e o efeito multiplicador na economia.

• Esse setor, no entanto, pelo seu tamanho, não era capaz de ”puxar” a dinâmica econômica, até pelo menos a decada de 1930.

• Entre os países latino-americanos, o Brasil teve um desempenho sui generis: o setor industrial as vezes chegou a crescer com taxas superiores ao setor agrícola exportador.

As duas explicações do origem da indústria

24

• Antes de 1930 as indústrias surgiram nas franjas da economia cafeeira, par atender um mercado consumidor incipiente, surgido com a imigração e o trabalho assalariado.

• Na historiografia existem duas correntes para explicar a origem da indústria:

– Teoria dos choques adversos;

– Industrialização induzida por exportações.

Teoria dos choques adversos

25

• Indústria surge como resposta às dificuldades de se importar produtos.

• Como exemplos pode se citar os processos de industrialização decorrentes da I Guerra Mundial e da depressão dos anos 30.

• Nesses momentos a diminuição do valor das exportações trazia dificuldades ao balanço de pagamentos, o que levava o governo a adotar medidas protecionistas (elevação das tarifas e desvolarização cambial).

• Resultado: produção interna maior.

Industrialização induzida por exportações

26

• Ao contrário da interpretação anterior, nesta explicação a industrialização cresce nos momentos de expansão da economia, e não de retração ou crise.

• Expansão do café levou à elevação da renda (da massa salarial), que produziu a expansão do mercado consumidor, que por sua vez permitiu a expansão da demanda por produtos industriais.

• As divisas geradas no boom serviam para a importação de equipamentos e máquinas (bens de capital, bk).

• Na crise a ampliação da capacidade produtiva diminuía (e não aumentava, conforme a explicação baseada nos choques adversos).

O processo de industrialização da década de 1930

27

• Qual das explicações está “certa”?

• As duas!

– O investimento só poderia ocorrer quando houvesse divisas para se importar máquinas.

– Já a ocupação da capacidade instalada e o aumento da produção davam-se em parte nos momentos de crise, quando se dificultava a importação dos bens de consumo importados.

– Dinâmica do crescimento industrial: ora ampliando a capacidade produtiva (quando a economia cresce), ora utilizando a capacidade já instalada (quando a economia se retrai por choques adversos).

O processo de industrialização da década de 1930

28

• Origem da indústria está diretamente ligada ao capital cafeeiro, por conta tanto das necessidades básicas de uma economia baseada no assalariamento como da necessidade de se diversificar investimentos.

• Os primeiros industriais do país eram pessoas ligadas ao café, como a família Prado, comerciantes de vidrarias e donos de curtumes, e a família Matarazzo, inicialmente importadora de trigo que depois passou a produzir o trigo e os sacos para embalagem.

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

29

• “(...) A grande expansão da cultura cafeeira (...) teve lugar praticamente dentro das fronteiras de um só país. As condições excepcionais que oferecia o Brasil para essa cultura valeram aos empresários brasileiros a oportunidade de controlar três quartas partes da oferta mundial desse produto. (...) Ao comprovar-se a primeira crise de superprodução, nos anos iniciais deste século [século XX], os produtores brasileiros logo perceberam que se encontravam em situação privilegiada (...) para defender-se contra a baixa dos preços. Tudo o de que necessitavam eram recursos financeiros para reter a parte da produção fora do mercado, isto é, para contrair artificialmente a oferta”. (Furtado 1999: 178)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

30

• “A ideia de retirar do mercado parte desses estoques amadurece cedo no espírito dos dirigentes dos Estados cafeeiros, cujo poder político e financeiro foram amplamente acrescidos pela descentralização republicana. No convênio, celebrado em Taubaté, em fevereiro de 1906, definem-se as bases do que se chamaria política de ‘valorização’ do produto”. (Furtado 1999: 179)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

31

• “Em síntese, a situação era a seguinte: a defesa dos preços proporcionava à cultura do café uma situação privilegiada entre os produtos primários que entravam no comércio internacional. A vantagem relativa que proporcionava esse produto tendia, consequentemente, a aumentar. Por outro lado, os lucros elevados criavam para o empresário a necessidade de seguir com suas inversões. Destarte, tornava-se inevitável que essas inversões tendessem a encaminhar-se para a própria cultura do café”. (Furtado 1999: 180-181)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

32

• “Dessa forma, o mecanismo de defesa da economia cafeeira era, em última instância, um processo de transferência para o futuro da solução de um problema que se tornaria cada vez mais grave”. (Furtado 1999: 181)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

33

• “O complicado mecanismo de defesa da economia

cafeeira funcionou com relativa eficiência até fins do terceiro decênio deste século. A crise mundial de 1929 o encontrou, entretanto, em situação extremamente vulnerável. (...) A retenção da oferta possibilitava a manutenção de elevados preços no mercado internacional. Esses preços se traduziam numa alta taxa de lucratividade para os produtores, e estes continuavam a intervir em novas plantações. A procura, por outro lado, continuava a evoluir dentro das linhas tradicionais de seu comportamento. Se se contraía pouco nas depressões, também pouco se expandia nas etapas de grande propseridade”. (Furtado 1999: 181)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

34

• “(...) Podemos perguntar onde estava o erro básico de toda essa política (...) O erro (...) estava em não se ter em conta as características próprias de uma atividade econômica de natureza tipicamente colonial, como era a produção do café no Brasil. O equilíbrio entre oferta e procura dos produtos coloniais obtinha-se, do lado desta última, quando se atingia a saturação do mercado, e do lado da oferta quando se ocupavam todos os fatores de produção – mão-de-obra e terras – disponíveis para produzir o artigo em questão”. (Furtado 1999: 182)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

35

• “Em tais condições, era inevitável que os produtos coloniais apresentassem uma tendência, a longo prazo, à baixa de seus preços”.

“Manter elevado o preço do café de forma persistente era criar condições para que o desequilíbrio entre oferta e procura se aprofundasse cada vez mais. Para evitar essa tendência teria sido necessário que a política de defesa dos preços houvesse sido completada por outra de decidido desestímulo às inversões em plantações de café. Essa política de desestímulo era impraticável se não se abria uma alternativa para o empresário produtor de café (...)”. (Furtado 1999: 182)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

36

• “Mesmo que se lograsse evitar a superprodução (...) não seria possível evitar que a política de defesa dos preços do café fomentasse a produção desse artigo (...) [em] outros países (...). A manutenção dos preços a baixos níveis era condição indispensável para que os produtores brasileiros retivessem sua situação de semi-monopólio. (...) Estavam eles destruindo as bases em que se assentara seu privilégio. (Furtado 1999: 183)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

37

• “(...) A política de defesa do setor cafeeiro nos anos da grande depressão concretiza-se num verdadeiro programa de fomento da renda nacional. Praticou-se no Brasil, inconscientemente, uma política anticíclica de maior amplitude que a que se tenha sequer preconizado em qualquer dos países industrializados”. (Furtado 1999: 192)

• “Explica-se, assim, que já em 1933 tenha recomeçado a crescer a renda nacioano no Brasil, enquanto nos EUA os primeiros sinais de recuperação só se manifestaram em 1934”. (Furtado 1999: 193)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

38

• “É, portanto, perfeitamente claro que a recuperação da economia brasileira, que se manifesta a partir de 1933, não se deve a nenhum fator externo e sim à política de fomento seguida inconscientemente no país e que era um subproduto da defesa dos interesses cafeeiros”. (Furtado 1999: 178)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

39

• “Depreende-se facilmente a importância crescente que, como elemento dinâmico, irá logrando a procura interna nessa etapa de depressão. Ao manter se a procura interna com maior firmeza que a externa, o setor que produzia para o mercado interno passa a oferecer melhores oportunidades de inversão que o setor exportador. Cria-se, em consequência, uma situação praticamente nova na economia brasileira, que era a preponderância do setor ligado ao mercado interno no processo de formação de capital. A precária situação da economia cafeeira (...) afugentava desse setor os capitais que nele se formavam”. (Furtado 1999: 197)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

40

• “As atividades ligadas ao mercado interno não somente cresciam impulsionadas por seus maiores lucros, mas ainda recebiam novo impulso ao atrair capitais que se formavam ou desinvertiam no setor de exportação”. (Furtado 1999: 198)

• “É bem verdade que o setor ligado ao mercado interno não podia aumentar sua capacidade, particularmente no campo industrial, sem importar equipamentos (...) Entretanto, o fator mais importante na primeira fase de expansão da produção deve ter sido o aproveitamento mais intenso da capacidade já instalada no país”. (Furtado 1999: 198)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

41

• “O crescimento da procura de bens de capital, reflexo da expansão da produção para o mercado interno, e a forte elevação dos preços de importação desses bens, acarretada pela depreciação cambial, criaram as condições propícias à instalação no país de uma indústria de bens de capital”. (Furtado 1999: 199)

Economia de transição para um sistema industrial (Furtado, 1999)

42

• “Esse tipo de indústria [bk] encontra, por uma série de razões óbvias, sérias dificuldades para instalar-se em uma economia dependente [procura por bk puxada por exportações, momento de euforia cambial; bk depende de economias de escala, inexistentes em países subdesenvolvidos; mais fácil importar] (...) Ora, as condições que se criaram no Brasil nos anos trinta quebraram este círculo. A procura de bens de capital cresceu exatamente numa etapa em que as possibilidades de importação eram as mais precárias possíveis”. (Furtado 1999: 199)

Para pensar...

43

1. Segundo Furtado (1999), a política de defesa do café, ao sustentar os preços do produto, criou as condições para o colapso da economia cafeeira, mas também as condições para a industrialização. Isso se deveu a:

2. De acordo com Furtado (1999) o dinamismo da economia brasileira se inverteu na década de 1930. O que significa isso? Quais seus efeitos sobre o processo de industrialização espontânea que ocorreu naquela década?