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II CONINTER Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013 ESPETACULARIZAÇÃO DAS CIDADES: VALORIZAÇÃO OU AMEAÇA AO PATRIMÔNIO E A MEMÓRIA LOCAL? BIELSCHOWSKY, BERNARDO BRASIL. (1); PIMENTA, MARGARETH C. A. (2) 1. Instituto Federal de Santa Catarina. Departamento Acadêmico da Construção Civil Endereço Postal: Av. Mauro Ramos, 950 - Centro - CEP 88.020-300 Florianópolis/SC E-mail: [email protected] 2. Universidade Federal de Santa Catarina. Departamento de Geografia Endereço Postal: Campus Universitário Trindade CEP 88.040-970 Florianópolis/SC E-mail: [email protected] RESUMO Este trabalho pretende abordar a importância das paisagens historicamente herdadas para as cidades contemporâneas, pois a partir da compreensão deste processo em Blumenau/SC, cuja paisagem histórica cunhou-se principalmente a partir da influência germânica e sob o impulso do setor têxtil, é possível compreender a relação direta entre cultura e paisagem, através da própria relação do homem com o seu ambiente. A partir da década de 1980 ocorre a crise no setor têxtil e começa uma busca desenfreada por um novo tipo de indústria, denominada turismo cultural. Porém, ao utilizar somente a cultura material ou simbólica como elemento indutor desse tipo de turismo, desconsiderando a dinâmica urbana desse espaço e de suas relações socialmente constituídas, ocorre outro tipo de turismo que é o turismo étnico, baseado apenas na descendência alemã dessa população. Da valorização do patrimônio genuíno à construção de cenários exteriores a sua história socialmente construída, existe um grande buraco a ser preenchido. Logo, o patrimônio historicamente constituído que está sendo ameaçado por sucessivas políticas públicas de espetacularização da cidade, pautado numa questão étnica que é a germanidade local e na criação de cenários e novos símbolos para atrair turistas e tornar a cidade global. Palavras-chave: Turismo. Patrimônio. Memória.

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II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades

Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

ESPETACULARIZAÇÃO DAS CIDADES: VALORIZAÇÃO OU AMEAÇA AO PATRIMÔNIO E A MEMÓRIA LOCAL?

BIELSCHOWSKY, BERNARDO BRASIL. (1); PIMENTA, MARGARETH C. A. (2)

1. Instituto Federal de Santa Catarina. Departamento Acadêmico da Construção Civil Endereço Postal: Av. Mauro Ramos, 950 - Centro - CEP 88.020-300 – Florianópolis/SC

E-mail: [email protected]

2. Universidade Federal de Santa Catarina. Departamento de Geografia Endereço Postal: Campus Universitário – Trindade – CEP 88.040-970 – Florianópolis/SC

E-mail: [email protected]

RESUMO

Este trabalho pretende abordar a importância das paisagens historicamente herdadas para as cidades contemporâneas, pois a partir da compreensão deste processo em Blumenau/SC, cuja paisagem histórica cunhou-se principalmente a partir da influência germânica e sob o impulso do setor têxtil, é possível compreender a relação direta entre cultura e paisagem, através da própria relação do homem com o seu ambiente. A partir da década de 1980 ocorre a crise no setor têxtil e começa uma busca desenfreada por um novo tipo de indústria, denominada turismo cultural. Porém, ao utilizar somente a cultura material ou simbólica como elemento indutor desse tipo de turismo, desconsiderando a dinâmica urbana desse espaço e de suas relações socialmente constituídas, ocorre outro tipo de turismo que é o turismo étnico, baseado apenas na descendência alemã dessa população. Da valorização do patrimônio genuíno à construção de cenários exteriores a sua história socialmente construída, existe um grande buraco a ser preenchido. Logo, o patrimônio historicamente constituído que está sendo ameaçado por sucessivas políticas públicas de espetacularização da cidade, pautado numa questão étnica que é a germanidade local e na criação de cenários e novos símbolos para atrair turistas e tornar a cidade “global”.

Palavras-chave: Turismo. Patrimônio. Memória.

1. INTRODUÇÃO

Santa Catarina pode ser considerado um estado que apresenta um diferenciado mosaico

cultural constituído pelos diversos ciclos migratórios em diversos períodos distintos. Apesar

de a ocupação inicial ter ocorrido desde o século XVIII com a ocupação do litoral

catarinense, este trabalho será focado na paisagem construída pelos imigrantes a partir do

século XIX, com a chegada de trabalhadores qualificados que fugiram das crises europeias

e encontraram na política de imigração brasileira novas oportunidades. A política de

colonização europeia do Governo Imperial buscava mão de obra livre e assalariada para

substituir o trabalho escravo (fim do trafego negreiro em 1850) e ocupar estrategicamente o

Sul do país, com o aval da Lei das Terras de 1850, que transformou o solo em mercadoria,

ou seja, essa região formada por empresas de colonização particulares nasce diretamente

das relações capitalistas que estavam sendo introduzidas no país.

No Vale do Itajaí, região catarinense que será abordada neste trabalho, imigrantes vindos da

Alemanha a partir do final do século XIX, voltados ao trabalho fabril, deixaram de se dedicar

somente à formação de uma colônia agrícola para contribuir na urbanização e

industrialização da cidade. Adaptando-se às condições locais, os migrantes europeus dão

lugar a uma nova cultura, teuto-brasileira, na qual mantêm ou transformam os traços

linguísticos, comportamentais ou sociais de forma diferente de sua evolução no país

originário. Como é a cultura, mediada pelas técnicas, que oferece aos homens os meios de

apropriação dos ambientes para aí imprimir sua característica, constitui-se, então,

identidades culturais locais que forjam, historicamente, a formação de paisagens culturais,

sobretudo, com traços dominantes da origem alemã.

A paisagem de Blumenau retrata bem as formas culturais de apropriação do ambiente pelos

imigrantes e empresários locais, a partir da utilização das técnicas existentes e o

estabelecimento de um sistema de relações locais, constituindo assim uma identidade

cultural. A dinâmica urbana, gerada pela lógica de implantação das indústrias, pelos

sucessivos processos econômicos e sociais ocorridos nos diferentes períodos resultaram

em paisagens específicas e estão registradas na paisagem e na memória coletiva local, e

justamente por isso, com grande valor patrimonial. Essa paisagem constitui um acervo de

importância fundamental ao desenvolvimento da cidade, definindo características

particulares pelos traços culturais, modo de vida e apropriação do espaço, o que pode

reafirmar a ideia de uma identidade social constituída.

Blumenau pode ser analisada em fases distintas e que se sobrepõe em diversos momentos.

A primeira fase foi a de colonização (1850-1900), caracterizada pela implantação de uma

colônia agrícola privada, com a adaptação ao meio existente e a luta pela defesa e

sobrevivência do núcleo isolado. A segunda grande fase foi a industrialização, com a

implantação das industrias têxteis dispersas (1880-1915), depois concentradas (1915-1945)

e a expansão da cidade industrial (1945-1980), com a introdução da modernidade no Vale

do Itajaí em substituição à germanidade, imposta pelo próprio Estado brasileiro, devido a II

Guerra Mundial. A terceira fase é o período caracterizado pela crise do setor têxtil a partir

dos anos 1980, onde as empresas foram compelidas a processos de reestruturação

industrial, principalmente a partir da década de 1990, que tiveram reflexos no ambiente

econômico e social da cidade e promoveram o abandono de imóveis de grande importância

arquitetônica e urbanística. Concomitante com a perda da identidade de cidade industrial (e

moderna) ocorre a introdução de políticas públicas voltadas ao turismo, com a criação de

diversos cenários, construindo edifícios institucionais representativos baseadas numa falsa

arquitetura enxaimel (Prefeitura) e incentivando esse tipo de arquitetura com benefícios

tributários (Rua XV de Novembro). Política pública essa que continua até os dias atuais,

como a construção de uma falsa vila medieval enxaimel no local maior concentração de

turistas, que por sua vez, divulgam essa imagem para o exterior.

Aproveitando o momento de um concurso público de projetos de arquitetura para uma ponte

e uma passarela para o centro da cidade de Blumenau/SC (Figura 01), que supostamente

deveriam ser os novos signos criados para a cidade, este trabalho procura contribuir com o

debate contemporâneo, defendendo a possibilidade de se planejar o desenvolvimento

urbano de uma cidade, levando em conta o patrimônio e a cultura local, que se apresenta na

paisagem e na memória urbana.

Figura 01: Projeto vencedor do concurso de Blumenau. Fonte: Estúdio America/SP, 2011.

Após várias décadas de tentativas de alavancar o turismo com os cenários criados por toda

a cidade e depois com turismos de eventos, que também condicionou grande quantidade de

verba pública para eventos privados na sua grande maioria, agora Blumenau entra na moda

das pontes. Mas, a grande questão é: até quando vão continuar procurando criar novas

identidades ao invés de valorizar o patrimônio e a memória urbana já existente? Muito mais

que apenas novos elementos visuais, essas infraestruturas urbanas, como as pontes,

devem ser elementos de contribuição social e urbana para a reabilitação das diversas

funções vitais do corpo urbano, como a valorização do patrimônio e da memória urbana, a

organização do sistema viário e a proposição de novos usos para o espaço público.

Com os processos de renovação urbana, sobretudo nas regiões metropolitanas, essa

paisagem corre o risco de deformação e até mesmo de desaparecimento, ocasionando

assim, perda irreversível à cidade contemporânea e as futuras gerações. Diferentemente de

alguns países desenvolvidos, as cidades brasileiras conhecem rápidos processos

substitutivos - decorrentes da fraqueza da legislação urbanística que permite uma acelerada

dinâmica do capital imobiliário -, que transforma o tempo numa variável determinante para a

manutenção da paisagem e da memória urbana dessas cidades (Bielschowsky, 2009).

Atualmente a paisagem herdada está presente em áreas de grandes intervenções urbanas,

indicando que, se um alerta sobre a importância dessa paisagem para a memória urbana

das cidades não for seriamente dado, os habitantes de muitas cidades poderão perder

definitivamente o elo com seus traços históricos.

2. CULTURA, PAISAGEM E MEMÓRIA URBANA

A cultura oferece aos homens os meios de apropriação dos ambientes, aí imprimindo suas

características com a mediação das técnicas existentes, que resultam nas paisagens

culturais que se desenvolvem com tempo. A cultura só existe quando é transmitida,

utilizada, enriquecida, transformada (ou não) e difundida. É imprescindível ao individuo, pois

permite sua inserção no meio social, dá significação à sua existência e aos seres que

formam sua sociedade (na qual se insere). Desempenha diferentes papéis ao longo da vida,

porque os fatores culturais também evoluem constantemente. No Vale do Itajaí, por

exemplo, “a concentração relativamente isolada dos núcleos, acrescida da necessidade de

suprir as carências do serviço público, incentivou organizações coletivas dos colonos,

facilitando a manutenção dos costumes e da língua alemã” (Seyferth, 2000). A partir destas

organizações comunitárias estabeleceram-se diversos serviços institucionais, como escolas,

serviços médicos, associações beneficentes, assistenciais, culturais e esportivas, que muito

contribuíram na para a fixação da cultura teuto-brasileira. Nos meios humanizados, o

ambiente torna-se um componente da cultura, que ajuda a transmitir, mas que contribui a

fixar. “Os grupos humanos transformam os meios naturais onde se instalam. (...) A

paisagem humanizada (cultural) toma diversas formas que refletem as escolhas e os meios

de diferentes culturas” (Claval, 1999, p.287).

Apesar das diversas relações culturais preservadas, não vamos tratar aqui de paisagem

cultural, pois esta pressupõe a relação direta entre cultura e paisagem, ou seja, as formas

tradicionais de interação entre o homem e o ambiente, presentes, que seriam protegidas

como tal. A UNESCO define paisagem cultural como uma forma de preservar culturas

tradicionais. O fato de ser uma paisagem herdada não significa que seja uma paisagem

cultural com cultura tradicional. Por isso trabalharemos com o conceito de paisagem

herdada nesse artigo, seguindo o pressuposto de Milton Santos de que a paisagem é algo

em constante mutação, assim como a produção social do espaço.

Milton Santos compreendeu o espaço como matéria trabalhada por excelência. “Nenhum

dos objetos sociais tem tanto domínio sobre o homem, nem está presente de tal forma no

cotidiano dos indivíduos" (Santos, 1978, p.137). O espaço como produção do homem, na

relação com a totalidade da natureza e a intermediação da técnica, que correspondente a

um tempo histórico determinado. Para Santos, "o homem vai impondo à natureza suas

próprias formas, a que podemos chamar de formas ou objetos culturais, artificiais, históricos"

(Santos, 1988, p.89). Estes elementos que são resultado da cultura fazem com que a

natureza se torne mais humanizada. “O processo de culturalização da natureza torna-se,

cada vez mais, o processo de sua tecnificação” (Santos, 1988, p.89). As técnicas se

incorporam à natureza que fica cada vez mais socializada que, cada dia mais, é o resultado

do trabalho humano. Os indivíduos trabalham cada vez mais conjuntamente, ainda que

disso não se apercebam. “No processo de desenvolvimento humano, não há uma

separação do homem e da natureza. A natureza se socializa e o homem se naturaliza"

(Santos, 1988, p.89). O ambiente existe socialmente a partir da maneira como os grupos o

concebem e se apropriam pelas técnicas, historicamente, definidas.

Memória urbana é o estoque de lembranças que estão eternizadas na paisagem ou nos

registros de um determinado lugar. Lembranças essas que devem ser objetos de

reapropriação por parte da sociedade. A história de determinado lugar é a história de seus

espaços, seu modo de apropriação, suas alterações e suas paisagens culturais, disso

resultantes. A importância da preservação e valorização da memória urbana deve ser

contextualizada, para se pensar o espaço e suas alterações no contexto das transformações

decorrentes das intervenções de distintos sujeitos sociais. Sujeitos esses que, como ser

social, tiveram sua cultura produzida ao longo de sua história, pela reprodução da vida, em

condições e situações sociais e históricas específicas. Logo, o espaço não existe e nem

pode ser pensado em si mesmo, pois é produzido e transformado pelo trabalho de distintos

grupos sociais ao longo de anos e por isso é histórico e social.

A cultura estampada na natureza socializada é parte do registro de um determinado tempo,

e a outra parte desse registro encontra-se na memória coletiva social. É essa cultura que vai

criar a identidade cultural local e constituir a paisagem. Essa metodologia pretende

demonstrar o valor cultural da evolução dessa paisagem para embasar o debate

contemporâneo, que não pretende apenas criticar os novos elementos que estão sendo

incorporados na paisagem, mas refletir sobre a própria identidade da cidade. A identidade

não deve ser tratada aqui como uma questão individual, mas como uma construção coletiva

do lugar.

No Vale do Itajaí fica claro a ação do capital sobre a paisagem, modo de viver e cultura nos

núcleos urbanos mais antigos, pois as cidades estão se tornando cada vez mais vítimas da

lógica capitalista de apropriação espacial. Nos espaços mais urbanizados, as principais vias

e espaços históricos já se descaracterizaram há certo tempo, num processo contínuo de

apropriação espacial por parte do capital privado e de descaracterização do ambiente

construído. Mesmo havendo forte resistência nesses processos, o poder público sempre foi

conivente com essa situação de priorizar o valor de mercado ao valor de uso

(Lefebvre,1991). Porém, Blumenau preserva ainda, em parte, o acervo material e social

constituído, devido a uma estreita e confundível relação entre o ambiente de produção e o

ambiente urbano, que reflete também no desenvolvimento das relações sociais. São bens

patrimoniais dessa relação: a influência da cultura trazida pelos imigrantes, os locais

escolhidos para a implantação de seus núcleos organizacionais, as formas de apropriação

destes espaços, a relação entre as edificações e a natureza, o desenvolvimento e a

evolução desses conjuntos arquitetônicos e urbanísticos, as formas de adaptação dos

edifícios ao sitio físico encontrado e as sucessivas tecnologias construtivas, que estão

representados nas paisagens culturais resultantes destes processos.

Conhecer a história local e valorizar a sua paisagem é de fundamental importância para

reafirmar a identidade constituída de forma coletiva. O sentimento de fazer parte dessa obra

socialmente construída que é a cidade pode inverter a lógica de que o valor de mercado

deve se sobressair do valor de uso, ou seja, o sentimento de pertencimento à construção da

história e da paisagem local devem influenciar na efetiva participação democrática da

população na definição das políticas públicas voltadas para a manutenção ou alteração

dessa paisagem.

Não é possível pensar em planejamento urbano sem pensar no patrimônio histórico-cultural

existente, pois será a partir dele ou pelo menos levando em consideração ele, que

poderemos tentar criar uma tradição para a participação coletiva. A tradição participativa

reforçaria os sentimentos de pertencimento e de responsabilidade pelas decisões tomadas,

muito mais no sentido coletivo do que individualista, muito mais no sentido qualitativo do que

quantitativo, repassando também às pessoas o dever da participação correta e a obrigação

pelo acompanhamento e a revisão constante das decisões tomadas ao longo do tempo.

Por isso, valorizar a paisagem e a memória urbana é perceber o ambiente como um todo,

não considerando mais apenas objetos isolados, mas a totalidade do espaço culturalmente

humanizado, inclusive a questão espaço-temporal. Não se trata mais de tombamento ou

congelamento, mas sim de conscientização, de educação patrimonial, da busca pela

inserção do patrimônio na dinâmica urbana local. Trata de uma nova abordagem sobre o

conceito de preservação, não mais estanque e congelado no tempo, mas fazendo sentido,

tendo significado, ou sendo resignificado constantemente pela própria vida contemporânea.

3. AS CIDADES DE IMIGRAÇÃO ALEMÃ – O CASO DE BLUMENAU

A imigração alemã que ocorre no Vale do Itajaí a partir de 1850 foi bem particular, pois o

processo capitalista já estava instaurado na Alemanha, mesmo que tardio em relação a

Inglaterra e França. Logo, a ocupação ocorrida no Vale já é capitalista, pois as relações não

são mais feudais: não chegam só colonos e pobres, mas técnicos e consultores; não vem

somente para serem assalariados, mas consideram como uma oportunidade de

investimento; os artesão já dominam a velocidade dos processos produtivos; e mantém

contato direto com a pátria mãe, tanto para as relações familiares, como para as comerciais

e culturais (Pimenta, 1998).

Apesar de apresentar um sítio físico aparentemente desfavorável, com serras, relevo

acidentado e ocupação nos fundos de vale, os vales litorâneos possuem uma localização

estratégica, entre as duas ocupações catarinenses, planalto-litoral, que não se

comunicavam. Os migrantes alemães se beneficiaram da ocupação açoriana no litoral e

cabocla no planalto, se instalando estrategicamente com a finalidade de fazer essa ligação e

tirar proveito. Trata-se de uma ocupação planejada e não espontânea, uma concessão do

poder público para as empresas de colonização privadas, com o objetivo de ocupar o

espaço “vazio” conhecido como médio vale (Blumenau).

3.1. A imigração e cultura alemãs marcam o Vale do Itajaí.

O fator determinante para a escolha do local para a implantação da Colônia foi o último

ponto navegável do Rio Itajaí-Açú, onde pudesse instalar um porto para se conectar com o

litoral e o mundo (Hering, 1987). O Dr. Blumenau utilizou o máximo aproveitamento do

transporte fluvial num primeiro momento, para conectar com outro tipo de

transporte/locomoção num segundo momento, que seria a implantação da malha ferroviária.

Dessa forma, a uma rede de circulação e de conexão foi sendo construída, de um ponto

final que seria o último ponto navegável, ela passou a ser um nó de conexão entre os

pequenos nós que se conectavam a malha ferroviária vinda do interior (oeste - Alto Vale)

com o litoral (Bielschowsky, 2009).

O núcleo central que era mais de caráter social e representativo, que inicialmente se

concentrou próximo do porto, com as edificações institucionais mais representativas como a

prefeitura, a igreja luterana, a rua das palmeiras e a própria praça do porto, aos poucos foi

se transferindo para a Rua XV, conforme a importância comercial e industrial foi

prosperando. O núcleo comercial se desenvolve principalmente na atual Rua XV de

Novembro, principal rua comercial da cidade, que ligava o antigo porto fluvial ao terminal

ferroviário. Enquanto as relações com o Alto Vale ocorriam pela ferrovia, as relações com o

litoral eram feitas pelo Rio Itajaí-Açú até 1950.

Concomitante ao desenvolvimento do núcleo central, a demarcação dos lotes coloniais

seguia os caminhos dos colonos, paralelamente aos cursos d’água, nas baixadas e

planícies. A partir dessa espinha de peixe dorsal, foram implantadas perpendicularmente

novas espinhas secundárias, geralmente a partir de um nó, que neste caso tratava-se de

uma casa comercial ou de crédito (Peluso Jr., 1991). Vale lembrar que além de função de

trocas comerciais, essas “vendas” serviam como locais de encontros, de troca de

informações e cultura, ou seja, possuíam territorialidade pela forma de apropriação local e

serviam como os nós das redes que se estabeleciam.

A partir dessa convergência de fatores, ocorre um rápido crescimento econômico, aonde os

excedentes vão para o comércio, que se transformam em indústrias de pequeno porte e

avançam na industrialização. A diferenciação social foi um dos fatores para esse

desenvolvimento comercial e industrial, onde a importância da inserção no comércio litoral-

planalto vai resultar na concorrência e posterior domínio de mercado em relação ao litoral.

Contam com o transporte hidroviário num primeiro momento e com o ferroviário

posteriormente, com forte presença do poder público injetando recursos e sendo um forte

aliado para o fortalecimento econômico local, que fica evidenciada pela espacialização dos

setores e do próprio urbanismo hierárquico local.

3.2. As diversas fases de industrialização:

A Primeira industrialização ocorreu a partir de 1880 e a lógica de implantação das indústrias

ocorreu nos fundos de vale, utilizando a força motriz hidráulica (energia), a facilidade de

aquisição de grandes terrenos próximos aos pequenos núcleos agrícolas (espaço e mão de

obra) e a facilidade de deslocamento pelas vias já existentes. Valiam-se dos contatos diretos

com a Europa para financiamentos e para a aquisição de maquinários, tanto os de ponta,

como os subutilizados pela evolução tecnológica da Europa (Pimenta, 1996).

A segunda industrialização ocorreu no período entre a I e a II Guerra Mundial com a

implantação das novas unidades num local de expansão urbana, no bairro Itoupava Seca,

com investimentos públicos e privados concentrados nessa área, como a pavimentação das

vias existentes, a implantação da malha ferroviária (1914) e a instalação de uma usina

hidrelétrica no local (1910). Novamente ocorreu uma série de parcerias entre investidores

externos (Companhia Colonizadora Hanseática, empresas de navegação e o Banco

Alemão) e industriais locais, com o apoio e o aval do poder público, demonstrando uma rede

global-local se territorializando num determinado espaço. Nessa lógica de implantação, não

ocorreu a mesma territorialidade (nem pertencimento e nem a identidade), pois perdeu-se a

relação cultural entre o estabelecimento de produção fabril, o ambiente natural e a

sociedade local. No primeiro processo de industrialização existiu toda uma forma peculiar de

apropriação desse ambiente natural por parte dos empresários imigrantes, que ainda

estavam se adaptando às condições e ao ambiente encontrado, para a formação de uma

nova cultura. No primeiro período houve industrialização e urbanização simultaneamente,

enquanto no segundo período as empresas se localizaram no “Centro expandido” da cidade,

já com certa urbanização, utilizando energia elétrica em vez de energia hidráulica e

utilizando mão de obra dispersa em vez de local com a possibilidade de utilização do

sistema ferroviário (Bielschowsky, 2009).

Nessa interdependência e relação direta entre a cidade e a indústria, grandes obras de

infraestrutura ganham destaque na paisagem local, como a instalação do segundo trecho

ferroviário ligando Blumenau ao porto de Itajaí, que acaba também o transporte fluvial no

Rio Itajaí-Açú. Infelizmente a malha ferroviária foi muito pouco utilizada, cedendo lugar ao

sistema rodoviário. Essas grandes obras de engenharia, como a Pontes dos Arcos e a

Ponte de Ferro ficaram obsoletas durante grande período e passaram a servir o sistema

rodoviário posteriormente.

3.3. A modernidade no Vale do Itajaí:

Essa modernidade que se faz presente, em boa parte, como consequência da

industrialização e urbanização da cidade, vai se consolidar na paisagem urbana na década

de 1950 através dessas obras de infraestrutura, citadas anteriormente, e através da

construção de edifícios institucionais de grande valor em pontos específicos da cidade.

Nesse período ocorre a presença de arquitetos internacionais, especialmente alemães, que

são convidados para realizarem essas obras de grande influência coletiva, como é o caso

das igrejas da região. Entre eles, destaque para Gottfried Böhm, ganhador do prêmio

Pritzker, e Hans Broos.

Blumenau, uma pequena cidade de origem alemã, se vê obrigada a estabelecer uma nova

identidade, através de um modernismo internacional, financiado principalmente pela

indústria têxtil, onde se impõe uma arquitetura muito rica em termos plásticos e técnicos que

vão marcar a paisagem.

3.4. A expansão industrial e a desindustrialização:

Com o grande volume de produtos e a necessidade cada vez maior de espaço físico e mão

de obra local, as empresas locais implantaram o sistema de unidades satélites nas cidades

vizinhas, como Rodeio, Ascurra, Benedito Novo, Ibirama, Gaspar, entre outras, no caso da

Cia. Hering. É um sistema de interdependência que monta uma rede, mais ou menos

hierarquizada, mas que dependente de uma estrutura ainda verticalizada. Apesar de

tratarmos a rede ainda sobre o aspecto da circulação, conexão e interconexão de uma

malha ou um tecido, essa rede passa a ser também objetivada como matriz técnica, com

foco no espaço (infraestrutura urbana), modificando a relação com o espaço e com o tempo.

Ao período de estagnação dos anos 1980 no Brasil sucede, como pretensa solução, a

abertura indiscriminada de produtos estrangeiros e a paridade cambial nos anos 1990,

obrigando as empresas nacionais a rápidos processos de reestruturação industrial. Tendo

que concorrer subitamente com produtos importados, devido à invasão dos produtos

estrangeiros na década de 1990, várias empresas blumenauenses foram compelidas à

reestruturação, buscando alterar produtos, consolidar marcas e investir na moda. Essas

empresas racionalizaram a administração e desverticalizaram o sistema produtivo,

terceirizando alguns setores, o que resultou no enxugamento de seus parques fabris,

desativação de algumas unidades industriais e redução do número de empregados diretos.

O enxugamento das plantas industriais e os processos de terceirização resultaram num

importante acervo fabril ocioso ou abandonado, o que coloca em risco a sua própria

preservação, tanto para a paisagem como para a memória urbana da população local.

Processos de abandono ou de substituição de grandes plantas industriais, decorrentes das

terceirizações e de reestruturações, significam uma ameaça presente ao patrimônio

industrial nacional. Esse problema ocorre em diversas cidades brasileiras, principalmente

nas cidades onde as indústrias tiveram papel fundamental na organização e estruturação do

espaço urbano, como é o caso de Blumenau/SC.

4. O DEBATE CONTEMPORÂNEO

A intenção do debate contemporâneo não é criticar o concurso para as pontes de Blumenau,

pelo contrário, é louvável a atitude da Prefeitura e do IAB de fazer concurso público para o

objeto que é a ponte, porém, algumas questões relativas à totalidade que é a cidade em si,

devem ser levantadas e acreditamos que é um momento adequado para se discutir e

repensar que tipo de cidade desejada. Isso nos leva a outros questionamentos: Por que a

incessante necessidade de criação de novos símbolos para fomentar o turismo? Por que

não se valoriza a cultura e a história local, como o seu patrimônio genuíno ainda encontrado

nas áreas rurais ou a significativa presença do patrimônio modernista e do patrimônio

industrial, ao invés de importar e copiar signos externos? O debate se concentra na

valorização, no desaparecimento, na permanência, na ressignificação, na substituição, na

invenção e na criação de uma nova paisagem. Infelizmente não existe uma política pública

voltada para a manutenção das paisagens culturais catarinenses, de seus conjuntos

arquitetônicos, urbanísticos ou paisagísticos, o que acarreta na desvalorização dos

profissionais que contribuem para a formação e manutenção desse patrimônio cultural.

Na região mais rural do Vale do Itajaí, por exemplo, é possível encontrar edificações

históricas enxaimel, com estrutura de travamento de madeira da própria localidade e

elementos específicos de cerâmica, como tijolos feitos sob medida e telhas planas ou chatas

produzidas somente na região (Blumenau, Pomerode e Rio dos Cedros). Outro fato

marcante é a utilização de muita palmeira nos jardins e nos quintais das residências,

elemento constante na paisagem urbana de algumas cidades menores. Além de palmeiras,

são utilizados também palmitos, esbeltos e altos, que fazem a marcação vertical em

diversos pontos dessas cidades.

Localidades mais isoladas dos centros urbanos se comunicam por estradas rurais que

atravessam os vales, rodeadas de casas no estilo alemão ou italiano, muitas do início do

século XX e algumas do fim do século XIX, acompanhadas de galpões e construções

funcionais, com os morros ao fundo. As casas nessas localidades, o enxaimel alemão ou de

tijolo maciço italiano, são rebuscadas e agradáveis, além de se harmonizarem com a

paisagem rural. Algumas dessas casas apresentam pinturas nas paredes internas, com

padrões feitos a partir de moldes, outras contêm desenhos nas paredes externas feitos com

os tijolos maciços mais e menos queimados. Nessas casas geralmente moram os "de

origem", como se classificam os que são descendentes de europeus, que são às vezes

muito pobres. Parece que este homem do interior, no decorrer das gerações, acaboclou-se,

adquirindo os hábitos da população preexistente quando chegaram ao local. Andar de pés

descalços, preferir a comunicação oral à escrita, fumar palheiro, tomar cachaça e dormir na

rede são hábitos comuns, junto com tocar pistão ou acordeão, comer marreco ou polenta, e

falar seus dialetos locais em alemão ou italiano. Então, de fato, existe um patrimônio rural

marcando a paisagem (Figura 02).

Figura 02: Patrimônio rural existente. Fonte: IPHAN e PMB.

Pode-se considerar que as técnicas tradicionais estão estreitamente vinculadas às tradições

da cultura onde se localizam. Existe a preocupação com a manutenção da identidade

regional, relacionada aos traços culturais do país de origem. Adaptando-se ao meio

diferenciado, fizeram crescer aqui uma região bem diferente do restante do Brasil, cujo

patrimônio edificado se combina à culinária, às festas e à religiosidade, para conformar um

local impregnado de características distintivas que constituem a paisagem atual.

Porém, existem casos delicados que não podemos deixar de alertar, como as edificações

que imitam o enxaimel no Vale do Itajaí. O "falso enxaimel", através da aplicação de

detalhes sobre paredes normais de alvenaria, se prolifera nas cidades do Vale, inclusive

como apelo turístico. A própria prefeitura de Blumenau foi construída dessa forma, num

período em houve uma política que incentivava este tipo de construção no centro histórico

da cidade através de incentivos fiscais e tributários. Apesar de ter havido uma

conscientização sobre este assunto, muitas construções ainda se utilizam desse pastiche ou

cenário, como, por exemplo, a recente construção de uma falsa vila medieval ao lado do

centro de eventos (local da Oktoberfest) da cidade, local que serve se referência para os

turistas, inacreditavelmente projetada e aprovada pelo poder público recentemente,

construindo um cenário que nunca existiu nesta localidade, o que dá um ar de falsidade à

parte urbana da cidade, como cópias de prédios medievais alemães. Outro cenário

construído recentemente no centro da cidade foi a nova edificação dos correios, mas neste

caso pior ainda, pois substituiu um belo exemplar da década de 1960 (Figura 03).

Figura 03: Falso enxaimel construído na última década substituindo arquitetura local: Agência dos Correios de 1969 e antiga PROEB. Fonte: AHMJFS e PMB.

Para o poder público, o turismo se apresenta como fonte econômica em expansão, com a

expansão do turismo rural (inclusive hotel-fazenda-enxaimel em Pomerode), ecoturismo e

turismo de aventura que aproveita o relevo acidentado e as vantagens naturais do próprio

terreno, enquanto o circuito de festas temáticas e as paisagens-cenários ajudam a fixar a

mercantilização da cultura e apropriação dos fetiches pelos turistas.

A politica pública para a memória urbana de Blumenau nunca teve um embasamento

fomentado na cultura legitima, e sempre esteve intimamente ligada ao turismo. Na década

de 80, uma lei incentivou a demolição da arquitetura genuína local para a construção do

pastiche da rua XV: prédios convencionais com as fachadas imitando construções

medievais germânicas, ou seja, um cenário construído a partir de politicas públicas. Além da

perda irreparável da paisagem cultural local, recentemente, em pleno século 21, foi

construída a falsa vila medieval enxaimel, o Parque Vila Germânica, no local que recebe o

maior número de visitantes e que deveria representar a cidade contemporânea. A criação de

cenários e símbolos, implantados em locais onde nunca existiram, é uma politica pública

contínua para o turismo sem maiores critérios. Enquanto isso o patrimônio industrial, a

paisagem da imigração e os excepcionais exemplares da arquitetura moderna, vêm sendo

progressivamente destruídos e esvaziados.

O patrimônio edificado das indústrias têxteis da cidade industrial de Blumenau/SC retrata a

forma como o imigrante-empresário se apropriou da natureza e estabeleceu um sistema de

relações locais, constituindo assim uma identidade cultural. A dinâmica urbana gerada pela

lógica de implantação, pelos sucessivos processos econômicos e sociais ocorridos nos

diferentes períodos e as formas de apropriação do ambiente natural, mediadas pelas

técnicas existentes, pela cultura trazida pelos imigrantes e adaptadas ao meio ambiente,

estão registrados na paisagem cultural e na memória coletiva de Blumenau e, por isso,

devem ser considerados bens patrimoniais.

Blumenau não é apenas uma cidade industrial como outras pelo Brasil, que geralmente

concentram suas indústrias em uma área específica no espaço urbano. Aqui ocorre

exatamente o contrário, elas se implantam dispersas em relação ao centro, cada qual na foz

de um determinado ribeirão, e é por isso que interferem na cidade como um todo e a todo o

momento. Essas indústrias mais importantes, que colaboraram e influenciaram no

desenvolvimento urbano, sendo responsáveis pela expansão e conformação do espaço

urbano, estão presentes na paisagem local e ainda representam e interferem na vida da

cidade contemporânea. Constituem um acervo de importância fundamental ao

desenvolvimento da cidade, definindo características particulares pelos traços culturais,

modo de vida e apropriação do espaço, o que pode reafirmar a ideia de uma identidade

social constituída.

O patrimônio industrial, material e imaterial, é presente, mas desvalorizado. A arquitetura

dos imigrantes, as rotas de colonização, o enxaimel, a preservação das técnicas

construtivas e de seus mestres artífices também ainda existe, mas não é valorizada como

deveria. A arquitetura moderna possui exemplares raros que foram brilhantemente

concebidos na sua época áurea, inclusive sendo elaboradas como solução tipológica para

área de inundações e sujeitas a grandes enchentes. Arquitetura essa também não

valorizada. A esperança é que as novas gerações já conseguem perceber esses fatos e

tentam aos poucos se imporem. Novos arquitetos já possuem certa identidade arquitetônica

e elaboram projetos de qualidade significativa e marcante. O fato que fortalece essa relação

de busca pela identidade local e a valorização dos bens patrimoniais mais relevantes é que

a própria sociedade reconheceu a torre da Igreja Matriz, um projeto moderno de Gottfried

Böhm (ganhador do prêmio Pritzker) que utilizou material (pedras granito rosa) e mão de

obra (mestres artífices) do local, como elemento simbólico da cidade (Figura 04).

Figura 04: Igreja Matriz de Blumenau. Fonte: PMB, 2012.

Com relação ao atual modelo de gestão do território blumenauense, podemos perceber que

a memória urbana da cidade contemporânea está ameaçada, visto que as principais formas

de implantações, adaptações ao meio existente, ampliações e alterações urbanísticas e

arquitetônicas, ocorreram nas partes mais antigas da cidade. O poder público deve valorizar

e preservar essas áreas, adequando seus usos para a manutenção e desenvolvimento da

cultura local ao invés de importar modelos exteriores ao meio em que está inserido.

Da implantação da malha agrícola inicial, do desenvolvimento comercial e industrial,

alinhavando com os diversos sinais das crises ambientais e econômicas, é necessário focar

em ações nessas áreas de grande valor patrimonial e cultural, que são, também, objeto de

maior especulação imobiliária, visto a infraestrutura existente, e que, portanto, sofrem

grande ameaça da perda de identidade do seu conjunto.

Contrariando a própria história da cidade, o atual modelo de planejamento e gestão do

território não leva em consideração a importância desse conjunto patrimonial. Resta, frente

às evidências, reverter o fluxo dos acontecimentos e decidir pela valorização da paisagem

cultural, tanto para a identidade da cidade contemporânea, como também para as futuras

gerações. O grande legado da noção de paisagem cultural é que ela permite demonstrar

algo muito importante para as futuras gerações, que é a relação do homem com o meio em

que ele está inserido, salientando assim o fazer produtivo e cultural de um determinado

período histórico.

Ao invés de inventar novos símbolos para atrair turistas, a identidade local ainda existente

deveria ser mais valorizada, não pela cópia ou invenção de um passado nunca existente ou

da importação de modelos exteriores, mas sim pela particularidade e autenticidade do seu

conjunto historicamente e socialmente constituído.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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