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ESPECTROS VIBRACIONAIS DE MACROMOLÉCULAS FERNANDA DE LOURDES ALMEIDA

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ESPECTROS VIBRACIONAIS DE MACROMOLÉCULAS FERNANDA DE LOURDES ALMEIDA

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ESPECTROS VIBRACIONAIS DE MACROMOLÉCULAS

Fernanda de Lourdes Almeida

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIDISCIPLINAR EM FÍSICA, QUÍMICA E

NEUROCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI COMO

PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

MESTRE EM CIÊNCIAS.

SÃO JOÃO DEL-REI, MG - BRASIL

SETEMBRO DE 2004

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ALMEIDA, FERNANDA DE LOURDES

Espectros Vibracionais de Macromoléculas

[Minas Gerais] 2004

XI, 210 p. 29,7 cm (UFSJ, M.Sc., Física,

2004)

Dissertação – Universidade Federal de São

João del-Rei, Multidisciplinar em Física, Química

e Neurociência

1. Investigação teórica de possíveis sítios de

sorção de cobre em celulose e lignina. 2.

Estudo teórico comparativo entre os métodos

ab initio Hartree-Fock e semi-empírico MNDO

na caracterização de fullerenos. 3. Estudos

experimental e teórico de espectros de

infravermelho e Raman de fullerenos.

I. UFSJ II. Título (série)

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“Não sei o que possa parecer aos olhos do mundo, mas aos meus pareço apenas ter

sido como um menino brincando à beira-mar, divertindo-me com o fato de encontrar

de vez em quando um seixo mais liso ou uma concha mais bonita que o normal,

enquanto o grande oceano da verdade permanece completamente por se descobrir à

minha frente (...). O que sabemos é uma gota, o que não sabemos é um oceano...”

Isaac Newton

Dedico este trabalho

aos meus queridos pais, Antônio e Aparecida,

ao meu querido irmão Rodrigo

e, de uma maneira muito especial,

ao meu companheiro Willyan.

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Agradecimentos

Ao meu orientador, Prof. Dr. José Luiz Aarestrup Alves, pelo qual tenho grande

apreço e enorme consideração. Sua atenção e dedicação permanentes para com meu

trabalho, nossas discussões científicas extremamente enriquecedoras e nossas

conversas cotidianas preciosas constituíram a base sólida para o bom andamento de

todas as atividades propostas, possibilitando-me um crescimento singular, tanto a

nível profissional quanto pessoal.

Aos Profs. Dr. Horácio Wagner Leite Alves (UFSJ), pelo apoio e estímulo e pelas

importantes discussões em sala de aula, no período em que vigoraram as disciplinas

do curso; Dr. André Luiz Mota (UFSJ), pela disponibilidade e atenção sempre

constantes; Dra. Honória de Fátima Gorgulho (UFSJ), pelo esclarecimento acerca da

investigação estrutural da lignina e Dra. Regina Pinto de Carvalho (UFMG), pela

contribuição experimental acerca da caracterização espectroscópica da celulose.

Aos colegas, professores e funcionários do DCNAT, que de alguma forma

contribuíram para o sucesso deste trabalho, em especial aos colegas Regina Lélis de

Sousa, pelo companheirismo de todas as horas e Luiz Cláudio de Carvalho, pelo

auxílio prestado no decorrer do processo.

Um agradecimento especial à Inês, secretária da Pós-Graduação, pela

assistência e esclarecimentos das inúmeras dúvidas do cotidiano e pelo espírito

sempre gentil e cortês em todos os momentos.

Aos professores Dr. Luiz Orlando Ladeira, Dr. Marcos Assunção Pimenta e Dra.

Aríete Righi, do Departamento de Física do ICEx/UFMG, pela atenção, dedicação e

disponibilidade no decorrer da execução de todas as atividades experimentais.

Aos colegas Sérgio (UFMG), do Laboratório de Preparação de Amostras,

Cristiano Fantini Leite (UFMG), do Laboratório de Espectroscopia Micro-Raman, pela

paciência, desprendimento e zelo na execução de todos os experimentos e

especialmente à minha amiga Elisângela Silva Pinto (UFMG), por todo o apoio e

acolhimento durante minha estadia em Belo Horizonte.

Ao CENAPAD-MG/CO, pelo suporte técnico na execução dos cálculos

computacionais. Ao Instituto do Milênio, pela concessão das amostras de fullereno

adquiridas do Laboratório Sigma-Aldrich. À CAPES, pela concessão da bolsa e pelo

suporte financeiro recebido durante todo o período em que vigorou este projeto.

Por último, e incontestavelmente, o mais sublime dos agradecimentos a Deus, na

pessoa de Jesus Cristo, por Sua presença fiel, constante e essencial em minha vida,

sem a qual nada poderia ter sido realizado.

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Resumo da Dissertação apresentada à UFSJ como parte dos requisitos necessários

para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ESPECTROS VIBRACIONAIS DE MACROMOLÉCULAS

Fernanda de Lourdes Almeida

Setembro/2004

Orientador: José Luiz Aarestrup Alves

Programa: Mestrado Multidisciplinar em Física, Química e Neurociência

Este trabalho divide-se em duas áreas de pesquisa distintas, conectadas entre si

principalmente pela caracterização espectroscópica de infravermelho e Raman das

estruturas moleculares analisadas. Em sua primeira parte, desenvolve um estudo

sobre a investigação de possíveis sítios de sorção de cobre nas estruturas

moleculares da celulose e da lignina, que são biomoléculas constituintes da biomassa

vegetal. Inclui a proposição de sítios de sorção de cobre dos tipos substitucional e

intersticial como as estruturas de configuração de equilíbrio mais estáveis nestes

sistemas. Em sua segunda parte, este trabalho desenvolve um estudo teórico das

propriedades estruturais, eletrônicas e vibracionais de fullerenos e alguns de seus

derivados, principalmente de caráter exploratório, visando a comparação da eficiência

de cálculo entre métodos de química quântica teórica, tais como o método ab initio

Hartree-Fock e o método semi-empírico MNDO. Para sistemas maiores, em que o

emprego do método ab initio torna-se impraticável, o método semi-empírico é capaz

de prover uma alternativa de cálculo satisfatória. Desenvolve ainda um estudo

experimental acerca das propriedades espectroscópicas de infravermelho e Raman

de fullerenos, no sentido de corroborar a conjugação entre teoria e experimento como

uma ferramenta útil na interpretação de resultados experimentais, bem como na

previsão de novos resultados ainda não disponíveis experimentalmente.

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Abstract of Dissertation presented to UFSJ as a partial fulfillment of the requirements

for the degree of Master of Science (M.Sc.)

VIBRATIONAL SPECTRA OF MACROMOLECULES

Fernanda de Lourdes Almeida

September/2004

Advisor: José Luiz Aarestrup Alves

Course: Multidisciplinary in Physics, Chemistry and Neuroscience

This work is separated in two different areas of research, connected themselves

mainly by the spectroscopic characterization of infrared and Raman of the analyzed

molecular structures. In the first part, it presents a study about the possible sites

responsible for the copper biosorption in the molecular structures of the cellulose and

of the lignin, that are biomolecules constituent of the vegetable biomass. In addition,

this work proposes the substitutional and interstitial sites for copper sorption as the

most stable structures in these systems. In the second part, this work develops a

theoretical study of structural, electronic and vibrational properties of fullerenes and

some of their derivatives, having mainly an exploratory aim, seeking the comparison of

efficiency among methods of theoretical quantum chemistry, such as the ab initio

method Hartree-Fock and the semiempirical method MNDO. For large systems, for

which the use of the ab Initio method becomes impracticable, the semiempirical

method is capable to provide an efficient alternative of calculation. In addition, an

experimental study is made concerning the spectroscopic properties of infrared and

Raman of fullerenes; the conjugation between theory and experiment turns to be an

extremely useful tool in the interpretation of experimental results, as well as in the

prediction of results not available experimentally.

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Índice

1. Introdução ............................................................................................................ 01

1.1.Motivação ........................................................................................................... 01

1.1.1. As Biomoléculas de Celulose e Lignina ................................................... 01

1.1.2. Fullerenos e Alguns de Seus Derivados .................................................. 02

1.2. Estrutura Geral do Trabalho .............................................................................. 04

2. Metodologia ......................................................................................................... 06

2.1. Introdução .......................................................................................................... 06

2.2. O Método Hartree-Fock ..................................................................................... 09

2.2.1. A Equação de Schrödinger ...................................................................... 09

2.2.2. A Aproximação de Born-Oppenheimer .................................................... 11

2.2.3. Unidades Atômicas .................................................................................. 13

2.2.4. Teoria do Orbital Molecular ..................................................................... 14

2.2.5. Expansões em Conjuntos-Base ............................................................... 17

2.2.6. O Método Variacional e a Teoria de Hartree-Fock .................................. 20

2.2.6.1. Sistemas de Camada Fechada ....................................................... 22

2.2.6.2. Sistemas de Camada Aberta ........................................................... 25

2.2.7. Análise Populacional de Mulliken ............................................................ 27

2.2.8. Conjuntos-Base Atômicos de Funções Gaussianas ................................ 29

2.2.8.1. O Conjunto-Base Mínimo STO-3G ................................................. 30

2.2.8.2. O Conjunto-Base Estendido 6-31G ................................................ 31

2.2.8.3. O Conjunto-Base Polarizado 6-311G** .......................................... 32

2.3. O Método MNDO ............................................................................................... 33

2.4. Cálculo de Forças .............................................................................................. 35

2.4.1. Introdução ............................................................................................... 35

2.4.2. O Método da Força ................................................................................. 36

2.4.3. Determinação da Geometria de Equilíbrio .............................................. 37

2.5. Derivadas Analíticas de 2a e 3a Ordens no Procedimento SCF ......................... 39

2.5.1. Intensidades de Infravermelho ................................................................. 39

2.5.2. Intensidades Raman ................................................................................. 42

3. Espectroscopias de Infravermelho e Raman ............................................... 44

3.1. Introdução .......................................................................................................... 44

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3.1.1. O Espectro Eletromagnético .................................................................... 45

3.2. Espectros de Infravermelho ............................................................................... 50

3.2.1. Espectro Vibracional de Moléculas Diatômicas ...................................... 50

3.2.2. Espectroscopia de FTIR ......................................................................... 53

3.2.2.1. Princípios Básicos da Técnica de FTIR ......................................... 53

3.2.2.2. Do Interferograma ao Espectro ..................................................... 56

3.3. Espectros Raman .............................................................................................. 61

3.3.1. Espectro Vibracional de Moléculas Diatômicas ....................................... 61

3.4. Vibrações Moleculares e Coordenadas Normais .............................................. 66

4. Estudo das Biomoléculas de Celulose e Lignina ....................................... 70

4.1. O Problema ....................................................................................................... 70

4.2. A Molécula de Celulose: Um Polissacarídeo Estrutural .................................... 73

4.2.1. Os Carboidratos ..................................................................................... 74

4.3. A Celulose e a Lignina ....................................................................................... 83

4.3.1. Estrutura Molecular da Lignina ............................................................... 83

4.3.2. A Lignocelulose ...................................................................................... 85

4.4. Estudos Experimentais na Literatura ................................................................. 87

4.4.1. Modelo para a Sorção de Cobre em Folhas Secas Usando

Espectroscopia de Infravermelho ................................................................................ 87

4.4.1.1. Preparação de Materiais e Métodos Experimentais .................... 87

4.4.1.2. Resultados ................................................................................... 89

4.4.1.2.1. Isotermas de Sorção .......................................................... 89

4.4.1.2.2. Espectros de EPR .............................................................. 90

4.4.1.2.3. Espectros de FTIR ............................................................. 91

4.4.1.3. Conclusões .................................................................................. 93

4.4.1.4. Discussão .................................................................................... 93

4.4.2. Espectros de FTIR por Derivada Segunda de Eucalyptus regnans

(Madeira Dura) e Pinus radiata (Madeira Macia) ........................................................ 96

4.4.2.1. Introdução ................................................................................... 96

4.4.2.2. Descrição Experimental .............................................................. 97

4.4.2.3. Resultados e Discussão ............................................................. 97

4.4.2.3.1. Espectros de FTIR Convencionais .................................... 97

4.4.2.3.2. Espectros de FTIR por Derivada Segunda ........................ 98

4.4.2.4. Conclusão ................................................................................. 101

4.5. Estudo Teórico ................................................................................................ 102

4.5.1. Resultados, Análise e Discussão .......................................................... 102

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4.5.1.1. Propriedades Estruturais: Celulose Pura e Contendo Cobre ...... 102

4.5.1.2. Propriedades Estruturais: Lignina Pura e Contendo Cobre ........ 108

4.5.1.3. Propriedades Vibracionais: Celulose Pura e Contendo Cobre .... 111

4.5.1.4. Propriedades Vibracionais: Lignina Pura e Contendo Cobre ...... 117

4.6. Observações Finais e Conclusões .................................................................. 122

5. Estudo dos Fullerenos e Alguns de Seus Derivados .............................. 123

5.1. Introdução ........................................................................................................ 123

5.2. A Molécula de C60 e o Grupo Icosaédrico ....................................................... 126

5.2.1. Estrutura Molecular do C60 .................................................................... 126

5.2.2. O Grupo Icosaédrico Ih .......................................................................... 129

5.3. A Molécula de C70 ............................................................................................ 130

5.4. Alguns Derivados da Molécula de C60 ............................................................ 132

5.4.1. Os Endofullerenos ................................................................................. 132

5.4.2. Os Heterofullerenos .............................................................................. 133

5.4.3. As “Fuzzyballs” ...................................................................................... 135

5.5. Síntese, Extração e Purificação de Fullerenos ................................................ 137

5.5.1. Síntese de Fullerenos ........................................................................... 137

5.5.2. Extração de Fullerenos ......................................................................... 140

5.5.2.1. O Método de Extração por Solventes ......................................... 141

5.5.2.2. O Método de Extração por Sublimação ...................................... 142

5.5.3. Purificação de Fullerenos ...................................................................... 143

5.6. Estudo Teórico ................................................................................................ 145

5.6.1. Resultados, Análise e Discussão .......................................................... 145

5.6.1.1. A Molécula de C60: Propriedades Estruturais e Eletrônicas........ 145

5.6.1.2. A Molécula de C60: Propriedades Vibracionais ........................... 148

5.6.1.3. A Molécula de C70: Propriedades Estruturais e Eletrônicas ....... 152

5.6.1.4. A Molécula de C70: Propriedades Vibracionais ........................... 155

5.6.1.5. A Molécula de C48N12: Propriedades Estruturais e Eletrônicas... 157

5.6.1.6. A Molécula de C48N12: Propriedades Vibracionais ...................... 160

5.6.1.7. As “Fuzzyballs” C60X60 (X = H, F): Propriedades Estruturais e

Eletrônicas.................................................................................................................. 164

5.6.1.8. As “Fuzzyballs” C60X60 (X = H, F): Propriedades Vibracionais .... 166

5.6.1.9. Os Endofullerenos X@C60 (X = H, Li, Na, K): Propriedades

Estruturais e Eletrônicas ............................................................................................ 169

5.7. Estudo Experimental ....................................................................................... 184

5.7.1. Amostras ............................................................................................... 184

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5.7.1.1. Amostras Obtidas no LPA ......................................................... 184

5.7.1.2. Amostras Adquiridas do LSA ..................................................... 186

5.7.2. Equipamentos e Medidas ...................................................................... 187

5.7.2.1. Espectroscopia de FTIR ............................................................ 187

5.7.2.2. Espectroscopia Micro-Raman .................................................... 188

5.7.3. Resultados, Análise e Discussão ......................................................... 190

5.7.3.1. Os Espectros de FTIR ............................................................... 190

5.7.3.2. O Espectro Micro-Raman .......................................................... 192

5.8. Comparação Entre Nossos Resultados Teóricos e Experimentais ................. 194

5.9. Observações Finais e Conclusões .................................................................. 196

6. Perspectivas Futuras ....................................................................................... 200

7. Referências Bibliográficas ............................................................................. 206

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1. Introdução

1.1. Motivação

1.1.1. As Biomoléculas de Celulose e Lignina Dentre as macromoléculas que estudamos no presente trabalho estão a

celulose, envolvida na biossorção de metais pesados e de interesse em estudos

ambientais, e a lignina, uma substância polimérica intimamente ligada à matriz da

estrutura celulósica. Juntas, estas biomoléculas constituem a biomassa estrutural

extracelular mais abundante do mundo vegetal. Os compostos lignocelulósicos, como

são chamados, apresentam elevada capacidade de sorção de metais pesados em

suas estruturas moleculares. Estes metais são incluídos em determinados sítios

moleculares e, para a identificação dos mesmos, várias técnicas experimentais

complementares são necessárias, dentre as quais podem ser citadas a ressonância

paramagnética eletrônica (EPR) e a espectroscopia de infravermelho por transformada

de Fourier (FTIR). Entretanto, em todos os casos, a análise teórica é fundamental para

a interpretação dos resultados experimentais obtidos.

A biossorção, que consiste na retenção de íons metálicos contidos numa

solução, por biomassa viva ou seca, tem aplicação na descontaminação de efluentes

industriais, com subseqüente reaproveitamento do metal. Embora existam muitos

estudos sobre o comportamento sortivo de diversas biomassas para diferentes metais,

pouco se conhece sobre os mecanismos e sítios responsáveis pela captura de íons

metálicos. FREITAS [1] e CARVALHO et al. [2,3] utilizaram as técnicas de EPR e de

FTIR para o estudo de biomassas carregadas com metal. Com a técnica de EPR é

possível identificar um íon paramagnético e determinar a simetria de sua vizinhança na

matriz da biomassa. A técnica de FTIR é capaz de mostrar as ligações moleculares

existentes na biomassa e as alterações nestas ligações provocadas pela entrada do

íon metálico na matriz. Como exemplo do uso dessas técnicas, os autores

investigaram a sorção de cobre em folhas secas, estudada no Laboratório de

Biossorção do Departamento de Física da UFMG. Em todos os casos estudados, os

autores detectaram a presença de íons metálicos na biomassa e observaram que a

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sorção de cobre em folhas secas ocorreu essencialmente nas fibras ricas em celulose.

Concluíram, então, que o cobre poderia ocupar um sítio com forte simetria axial (EPR),

afetando as ligações dos anéis de carbono das fibras (FTIR). Verificaram que as

técnicas de EPR e FTIR eram úteis nos estudos de biossorção, embora

necessitassem ser complementadas por informações teóricas para a formulação do

modelo de sorção.

Dessa forma, inspirados no problema experimental exposto acima, fomos

motivados a reproduzir teoricamente o modelo proposto por FREITAS [1] e

CARVALHO et al. [2,3] para possíveis sítios de sorção de cobre na estrutura da

celulose, a fim de investigar a viabilidade física do modelo experimental sugerido.

1.1.2. Fullerenos e Alguns de Seus Derivados

Um outro grupo de macromoléculas que também estudamos é aquele formado

pela família dos fullerenos, em especial a molécula de C60. Desde sua descoberta, em

1985, os materiais fullerenos têm se tornado alvo de intensas investigações científicas.

As sínteses recentes de quantidades macroscópicas de C60 têm sugerido possíveis

aplicações em química orgânica, em eletroquímica e na tecnologia de semicondutores.

A caracterização dos materiais fullerenos requer uma análise vibracional completa,

comparável com os dados experimentais. A análise vibracional tradicional, em termos

de estiramentos de ligações, dobramentos de ângulos de ligação e torções nas

estruturas, torna-se uma tarefa difícil nestes materiais, o que é justificado pelo número

extremamente elevado de coordenadas internas acopladas.

A motivação inicial para nosso estudo acerca destes materiais surgiu devido à

existência de um grupo experimental de pesquisa bastante diversificado, pertencente

ao Departamento de Física da UFMG e especializado no estudo de nanomateriais,

como fullerenos e nanotubos de carbono. Dentre as principais técnicas experimentais

empregadas na investigação destes materiais, destacam-se a síntese, a extração e a

purificação de fullerenos e nanotubos, realizadas no Laboratório de Preparação de

Amostras, os estudos espectroscópicos, realizados nos Laboratórios de

Espectroscopias Micro-Raman e de Infravermelho, entre outras técnicas. A motivação

inicial consistiu na interação entre teoria e experimento, no sentido de haver uma

complementação entre os mesmos e, conseqüentemente, culminando com a obtenção

de resultados teóricos e experimentais mais confiáveis e precisos.

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Uma outra motivação consistiu em verificar o desempenho e a eficiência de

métodos de química quântica teórica, tais como o método ab initio Hartree-Fock e o

método semi-empírico MNDO no cálculo das propriedades estruturais, eletrônicas e

vibracionais de moléculas grandes como os fullerenos e seus derivados, tendo em

vista o estudo posterior de moléculas ainda maiores, ou mesmo de sistemas

mesoscópicos, para os quais o método ab initio torna-se impraticável, uma situação na

qual o método semi-empírico pode ser uma alternativa viável.

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1.2. Estrutura Geral do Trabalho

Os principais objetivos do presente trabalho se referem ao estudo teórico das

biomoléculas de celulose e lignina, bem como aos estudos teórico e/ou experimental

de fullerenos e alguns de seus derivados. Mediante a execução de cálculos quânticos

ab initio e/ou semi-empíricos, investigamos as propriedades estruturais, eletrônicas e

vibracionais de todas as macromoléculas estudadas. Realizamos estudos

experimentais acerca dos processos de síntese, extração e purificação de fullerenos,

bem como sua caracterização espectroscópica de infravermelho e Raman.

No Capítulo 2, “Metodologia”, descrevemos os principais métodos de cálculo

empregados em nossos estudos teóricos, o método ab initio Hartree-Fock e o método

semi-empírico MNDO.

No Capítulo 3, “Espectroscopias de Infravermelho e Raman”, fazemos uma

descrição a respeito da teoria envolvida nas transições vibracionais, tanto nos

espectros de infravermelho como de Raman.

No Capítulo 4, “Estudo das Biomoléculas de Celulose e Lignina”, descrevemos

detalhadamente as estruturas moleculares das moléculas de celulose e lignina,

fazemos uma discussão sobre alguns estudos experimentais propostos na literatura,

referentes a estas biomoléculas; apresentamos nossos resultados teóricos a respeito

da investigação das propriedades estruturais e vibracionais destas moléculas, tanto

puras como contendo cobre; estudamos dois possíveis sítios de sorção do cobre

nestas estruturas moleculares; apresentamos os espectros vibracionais teóricos de

infravermelho e Raman para todas as unidades monoméricas investigadas e

comparamos nossos resultados com valores teóricos e experimentais disponíveis na

literatura.

No Capítulo 5, “Estudo dos Fullerenos e Alguns de Seus Derivados”,

descrevemos as características gerais dos fullerenos C60 e C70 e alguns derivados da

molécula de C60, com base na literatura. Apresentamos nossos estudos teóricos ab

initio Hartree-Fock e semi-empírico MNDO, resultantes da investigação das

propriedades estruturais, eletrônicas e vibracionais das moléculas de C60, C70, C48N12,

C60X60 (X = H, F) e X@C60 (X = H, Li, Na, K). Apresentamos os resultados de nosso

estudo experimental, realizado nos laboratórios do Departamento de Física da UFMG,

referentes à preparação de amostras e às medidas espectroscópicas de FTIR e micro-

Raman dos fullerenos C60 e C70. Fazemos uma comparação entre nossos resultados

teóricos e nossos resultados experimentais.

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No Capítulo 6, “Perspectivas Futuras”, apresentamos algumas de nossas

possíveis perspectivas futuras de trabalho, tendo em vista as vastas aplicações de

complexos à base de fullerenos funcionalizados, nas mais diversificadas áreas de

pesquisa.

No Capítulo 7, “Referências Bibliográficas”, são listadas as principais

referências bibliográficas utilizadas em nosso estudo.

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2. Metodologia

2.1. Introdução

Existem três grandes áreas, dentro da química computacional, devotadas à

estrutura de moléculas e suas reatividades: a dinâmica molecular clássica, a dinâmica

molecular quântica e a teoria de estrutura eletrônica. Nestas aproximações, executam-

se, por exemplo, a computação da energia de uma estrutura molecular particular

(arranjo físico de átomos ou núcleos e elétrons), bem como as propriedades a ela

relacionadas; a execução de optimizações de geometria, as quais localizam a

estrutura molecular de energia mais baixa e que dependem primariamente do

conhecimento do gradiente de energia em relação às posições atômicas; a

computação de freqüências vibracionais moleculares resultantes do movimento

interatômico na molécula (as freqüências dependem da derivada segunda da energia

em relação à estrutura atômica. Tais cálculos podem também prever outras

propriedades que dependem da derivada segunda).

A dinâmica molecular clássica, ou simplesmente dinâmica molecular, usa as

leis da física clássica para prever as estruturas moleculares e suas propriedades. Os

métodos baseados em dinâmica molecular estão disponíveis em muitos programas

computacionais, incluindo HyperChem, Quanta, Sybyl e Alchemy. Há muitos métodos

diferentes em dinâmica molecular; cada um deles é caracterizado por seu campo de

força particular.

Os cálculos de dinâmica molecular clássica não tratam os elétrons

explicitamente em um sistema molecular. Ao invés disso, executam computações

baseadas nas interações entre núcleos. Os efeitos eletrônicos são incluídos

implicitamente nos campos de força por intermédio de sua parametrização. Esta

aproximação permite cálculos computacionalmente baratos, sendo aplicável a

sistemas muito grandes, contendo milhares de átomos. Entretanto, a técnica

apresenta algumas limitações. Os cálculos de dinâmica molecular clássica são

capazes de prever propriedades de equilíbrio e de não equilíbrio de diversos sistemas.

Entretanto, em todas as aplicações práticas destes cálculos, são usados potenciais

interatômicos empíricos. Esta aproximação, embora seja apropriada para sistemas tais

como os gases inertes, pode falhar para o caso de sistemas covalentes e/ou

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metálicos. Além disso, estes cálculos não fornecem nenhuma informação a respeito de

propriedades eletrônicas. Por exemplo, tais métodos não são capazes de descrever a

formação ou a quebra de uma ligação química ou ainda prever propriedades que

dependam de interações entre orbitais moleculares.

A dinâmica molecular quântica, primeiramente proposta por CAR e

PARRINELLO [5], é um método capaz de computar as propriedades eletrônicas de

sistemas grandes e/ou desordenados, no nível do estado da arte de cálculos de

estrutura eletrônica; também é capaz de executar simulações ab initio, em que as

únicas suposições são a validade da mecânica clássica na descrição do movimento

iônico e a aproximação de Born-Oppenheimer para separar as coordenadas nucleares

e eletrônicas.

Já os métodos de estrutura eletrônica usam os princípios da mecânica quântica

como a base para suas computações. A mecânica quântica afirma que a energia e

outras propriedades relacionadas de uma molécula podem ser obtidas pela resolução

da equação de Schrödinger. Entretanto, mesmo para os menores sistemas, ainda que

totalmente simétricos, soluções exatas da equação de Schrödinger não são

praticáveis. Os métodos de estrutura eletrônica são caracterizados por várias

aproximações matemáticas para sua solução. Há duas classes principais de métodos

de estrutura eletrônica:

• métodos semi-empíricos, tais como MINDO/3, MNDO, AM1, PM3, PM5, etc.

(implementados em programas como MOPAC, AMPAC, HyperChem e Gaussian),

usam parâmetros provenientes de dados experimentais para simplificar a computação.

Estes métodos resolvem uma forma aproximada da equação de Schrödinger, que

depende de parâmetros apropriados disponíveis para o tipo de sistema químico em

questão;

• métodos ab initio, ou de primeiros princípios, que diferem tanto dos métodos de

dinâmica molecular clássica quanto dos métodos semi-empíricos, os quais não fazem

uso de parâmetros experimentais em suas computações. Ao invés disso, seus

cálculos são baseados somente em princípios da mecânica quântica (os primeiros

princípios referidos na designação ab initio) e nos valores de um pequeno número de

constantes físicas: a velocidade da luz, as massas e cargas de elétrons e núcleos e a

constante de Planck.

Em nossos cálculos, empregamos o código Gaussian94 de química quântica

teórica [6,7], um pacote que dispõe de ambos os métodos de estrutura eletrônica:

semi-empíricos e ab initio. Estes métodos diferem no compromisso entre custo

computacional e precisão de resultados. Cálculos semi-empíricos são relativamente

baratos e em geral fornecem descrições qualitativas razoáveis de sistemas

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moleculares, bem como previsões quantitativas bastante precisas de energias e

estruturas, para sistemas em que haja bons conjuntos de parâmetros. Em contraste,

computações ab initio fornecem informações quantitativas de alta qualidade para os

mais diversos sistemas. Os cálculos ab initio não se restringem a nenhuma classe

específica de sistemas. Os primeiros programas ab initio eram limitados ao tamanho

do sistema que poderiam tratar. Entretanto, isso já não é válido para os “softwares” ab

initio modernos. Em um microcomputador típico, o código Gaussian é capaz de

computar as energias e as propriedades relacionadas para sistemas contendo muitos

átomos pesados em questão de poucos minutos. Métodos ab initio são também

capazes de tratar qualquer tipo de átomo, computando uma variedade de

propriedades moleculares, além das energias e das estruturas atômicas e estão aptos

a investigar moléculas em seus estados excitados e em solução.

Os métodos de química quântica, ab initio e semi-empíricos, a nível Hartree-

Fock e MNDO, evoluíram na última década o suficiente para se tornarem ferramentas

muito poderosas na determinação da estrutura eletrônica de moléculas grandes.

Assim, neste capítulo, apresentamos os principais aspectos teóricos destes métodos,

os quais empregamos em nossos estudos teóricos.

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2.2. O Método Hartree-Fock

A teoria de Hartree-Fock aproxima a função de onda de um sistema de muitos

elétrons como um único determinante de funções spin-orbitais normalizadas. Vários

níveis de teoria Hartree-Fock são possíveis e a escolha apropriada depende do tipo de

sistema a ser investigado. A discussão que se segue a respeito do método Hartree-

Fock baseia-se no trabalho de HEHRE et al. [4].

2.2.1. A Equação de Schrödinger Como já mencionado, a teoria molecular orbital ab initio relaciona-se com o

cálculo de primeiros princípios das propriedades de sistemas atômicos e moleculares.

Baseia-se nos princípios fundamentais da mecânica quântica e utiliza-se de uma

enorme variedade de transformações matemáticas e aproximações técnicas para

solucionar suas equações essenciais. De acordo com a mecânica quântica, a energia

e muitas propriedades de um estado estacionário de uma molécula podem ser obtidas

pela solução da equação de Schrödinger independente do tempo, uma equação

diferencial parcial dada por

Ψ=Ψ EH . (2.1)

Nesta equação, H é o operador Hamiltoniano, um operador diferencial representando

a energia total, E é o valor numérico da energia do estado, isto é, a energia relativa a

um estado no qual as partículas constituintes (núcleos e elétrons) estão infinitamente

separadas, Ψ é a função de onda, que depende das coordenadas cartesianas de

todas as partículas (que podem tomar qualquer valor de -∞ a +∞) e também das

coordenadas de spin (que podem assumir somente um número finito de valores,

correspondendo às componentes de spin do momento angular em uma direção

particular). O quadrado da função de onda, Ψ2 (ou Ψ*Ψ, se Ψ for uma função

complexa) é interpretado como uma medida da distribuição de densidade de

probabilidade das partículas na molécula. O Hamiltoniano, H , como a energia total

em mecânica clássica, é a soma dos termos referentes às energias cinética e

potencial,

. (2.2) VTH ˆˆˆ +=

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O operador energia cinética T é uma soma de operadores diferenciais:

∑ ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+∂∂

+∂∂

−=i iiii zyxm

hT 2

2

2

2

2

2

2

2 18

ˆπ

. (2.3)

A soma é feita sobre todas as partículas (núcleos e elétrons), sendo mi a

massa da partícula i e h a constante de Planck. O operador energia potencial é dado

pela interação coulombiana,

∑∑>

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

i ij ij

ji

ree

V , (2.4)

em que a soma é feita sobre pares distintos de partículas (i, j) com cargas elétricas ei,

ej, separadas pela distância rij. Para elétrons, e ei −= , enquanto para um núcleo com

número atômico Zi, . eZe ii +=

O Hamiltoniano acima descrito é não-relativístico. Dessa forma, não é

apropriado quando as velocidades das partículas, particularmente dos elétrons, se

aproximam da velocidade da luz. Pequenos efeitos magnéticos, como por exemplo, o

acoplamento spin-órbita, as interações spin-spin etc., são também omitidos neste

Hamiltoniano. Estes efeitos são usualmente pouco significativos em discussões

envolvendo energias químicas.

Uma outra restrição deve ser imposta às funções de onda. As únicas soluções

fisicamente aceitáveis da Eq. (2.1) são aquelas que possuem simetria apropriada na

permutação de partículas idênticas. Para partículas do tipo bósons, a função de onda

permanece inalterada, ou seja, é simétrica na permutação. Para partículas do tipo

férmions, a função de onda deve ser multiplicada por –1, ou seja, é antissimétrica na

permutação. Elétrons são férmions, de modo que Ψ deve ser antissimétrica com

relação à permutação das coordenadas de qualquer par de elétrons. Este é o

chamado princípio da antissimetria de Pauli, pelo qual a função de onda deve trocar de

sinal sob uma operação de troca das coordenadas (espaciais e de spin) de dois

elétrons quaisquer,

,...),...,,...,,(,...),...,,...,,( 2121 jiji xxxxxxxx Ψ−=Ψ . (2.5)

A equação de Schrödinger para qualquer molécula terá muitas soluções,

correspondendo a diferentes estados estacionários. O estado com energia mais baixa

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é o estado fundamental e os procedimentos descritos neste capítulo são concernentes

a moléculas neste estado.

2.2.2. A Aproximação de Born-Oppenheimer

A primeira e maior etapa na simplificação do problema molecular geral em

mecânica quântica é a separação dos movimentos nuclear e eletrônico. Isto é possível

porque as massas nucleares são muito maiores do que as massas dos elétrons e,

dessa forma, os núcleos se movem mais lentamente. Como conseqüência, os elétrons

em uma molécula ajustam rapidamente suas distribuições às mudanças das posições

nucleares. Numa aproximação razoável, pode-se supor que a distribuição dos elétrons

depende somente das posições instantâneas dos núcleos e não de suas velocidades.

Em outras palavras, pode-se resolver primeiramente o problema quantum-mecânico

do movimento dos elétrons no campo de núcleos fixos, conduzindo a uma energia

eletrônica efetiva )(REefr

, que depende das coordenadas nucleares relativas,

denotadas por Rr

. Esta energia efetiva funciona como uma energia potencial para o

movimento nuclear. Para uma molécula diatômica, é requerida somente a distância

internuclear Rr

e )(RE efr

é a curva de potencial da molécula. Para um sistema

poliatômico, é necessário um maior número de coordenadas relativas e )(RE efr

é

denominada superfície de potencial da molécula. Esta separação do problema geral

em duas partes é freqüentemente chamada de aproximação adiabática ou

aproximação de Born-Oppenheimer.

Quantitativamente, a aproximação de Born-Oppenheimer pode ser formulada

escrevendo-se a equação de Schrödinger para elétrons no campo de núcleos fixos,

),()(),(ˆ RrRERrH elefelel vrrrrΨ=Ψ . (2.6)

Nesta equação, ),( Rrelrr

Ψ é a função de onda eletrônica que depende das

coordenadas eletrônicas rr e das coordenadas nucleares Rr

. O Hamiltoniano

eletrônico, elH , corresponde ao movimento dos elétrons no campo dos núcleos fixos e

é dado por

, (2.7) VTH elel ˆˆˆ +=

em que elT é o operador energia cinética eletrônica,

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∑ ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+∂∂

+∂∂

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=

elétrons

i iii

el

zyxmhT 2

2

2

2

2

2

2

2

π (2.8)

e V é a energia potencial coulombiana, ˆ

∑ ∑∑ ∑ ∑ ∑>>

++−=núcleos

s

núcleos

ts st

tselétrons

i

núcleos

s

elétrons

i

elétrons

ij ijis

s

ReZZ

re

reZ

V222

ˆ . (2.9)

O primeiro termo da Eq. (2.9) corresponde à atração elétron-núcleo; o segundo,

à repulsão elétron-elétron e o terceiro, à repulsão núcleo-núcleo. Este último é

independente das coordenadas eletrônicas e é uma contribuição constante para a

energia molecular de uma configuração nuclear particular.

A principal tarefa nos estudos teóricos de estrutura eletrônica consiste na

resolução, pelo menos aproximada, da equação de Schrödinger eletrônica (Eq.2.6) e,

dessa forma, encontrar a função potencial nuclear efetiva )(RE efr

. A partir daqui,

serão omitidos os superescritos na Eq.(2.6); será suposto que o Hamiltoniano H , a

função de onda Ψ e a energia E se referirão somente ao movimento eletrônico, cada

uma destas grandezas sendo implicitamente função das coordenadas nucleares Rr

.

A superfície de potencial, )(REr

, é fundamental para a descrição quantitativa

das estruturas químicas e dos processos de reação. Se forem consideradas soluções

da equação de Schrödinger de mais baixa energia, )(REr

será a superfície de energia

potencial do estado fundamental. Quando explorada como uma função de Rr

, esta

superfície apresentará, em geral, mínimos locais, os quais se referem a estruturas de

equilíbrio, como ilustrado esquematicamente na Fig. 2.1.

Se houver vários mínimos distintos, a molécula apresentará várias formas

isoméricas e a teoria pode ser usada para explorar tanto suas estruturas quanto suas

energias relativas. Além disso, a superfície de potencial pode também conter pontos

de sela, isto é, pontos estacionários onde há uma ou mais direções ortogonais nas

quais a energia é um máximo. Em termos matemáticos, a matriz da derivada segunda

de E em relação às coordenadas nucleares possui um ou mais autovalores negativos

em cada ponto.

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Figura 2.1. Seção esquemática de superfícies de potencial. Na figura, A e B são mínimos

distintos, correspondendo a isômeros com energias diferentes; C é a estrutura de transição que

conecta A e B.

2.2.3. Unidades Atômicas

Antes de discutirmos acerca das funções de onda eletrônicas, é útil adotar

novas unidades que eliminem as constantes físicas fundamentais da equação de

Schrödinger eletrônica (2.6). Isto envolve a introdução do raio de Bohr, ao, definido

como

)4( 22

2

0 meha

π= , (2.10)

que é a unidade atômica de comprimento. As coordenadas x’, y’ e z’ podem agora ser

introduzidas:

000

';';'azz

ayy

axx === . (2.11)

De maneira similar, podemos introduzir uma nova unidade atômica de energia,

EH, que é a repulsão coulombiana entre dois elétrons separados por 1 Bohr,

0

2

aeEH = . (2.12)

Esta unidade é denominada Hartree (que equivale a 27.21166 eV). As novas energias

(E’) são dadas por

13

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HE

EE =' . (2.13)

Se as Eqs. (2.11) e (2.13) são substituídas na equação de Schrödinger (2.6),

teremos:

''''ˆ Ψ=Ψ EH , (2.14)

em que o Hamiltoniano 'H , em unidades atômicas, será dado por

.''

1'

'''21'ˆ

2

2

2

2

2

2

∑ ∑ ∑ ∑ ∑∑

>>⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟

⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛−

−⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+∂∂

+∂∂

−=

elétrons

i

núcleos

s

elétrons

i

núcleos

s

núcleos

st st

tselétrons

ji ijis

s

elétrons

i iii

RZZ

rrZ

zyxH

(2.15)

2.2.4. Teoria do Orbital Molecular

A teoria do orbital molecular é uma aproximação empregada em mecânica

quântica molecular que faz uso de funções das coordenadas de um único elétron, ou

orbitais eletrônicos, para uma descrição aproximada da função de onda completa de

um sistema de muitos elétrons. Um orbital molecular, Ψ(x, y, z), é uma função das

coordenadas cartesianas x, y e z de um único elétron. Seu quadrado, Ψ2 (ou Ψ*Ψ, se

Ψ for uma função complexa), é interpretado como a distribuição da densidade de

probabilidade de um elétron no espaço molecular. Para uma descrição completa de

um elétron deve também ser incluída a dependência nas coordenadas de spin, ξ. Esta

coordenada admite um dos dois valores possíveis (±1/2) e mede a componente do

momento angular de spin ao longo do eixo z, em unidades de h/2π. Para spin ao longo

do eixo z positivo, a função de onda de spin é escrita como α(ξ). Então:

;121

=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛+α .0

21

=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−α (2.16)

Similarmente, para spin ao longo do eixo z negativo, a função de onda de spin é β(ξ),

tal que

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;021

=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛+β .1

21

=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−β (2.17)

A função de onda completa para um único elétron é o produto de um orbital

molecular e de uma função de spin, )](),,([ ξαzyxΨ ou )](),,([ ξβzyxΨ e é

denominada spin-orbital, ),,,( ξχ zyx . A princípio, poderíamos pensar que o tipo mais

simples de função de onda apropriada para a descrição de um sistema de n elétrons

seria aquele na forma de um produto de spin-orbitais,

)()()...2()1( 21 ni niproduto χχχχ K=Ψ , (2.18)

em que ),,,()( iiiiii zyxi ξχχ = é a função spin-orbital do elétron i. Entretanto, tal

função de onda não é aceitável, uma vez que ela não possui a propriedade de

antissimetria. Se as coordenadas dos elétrons i e j são permutadas nesta função de

onda, o produto KKK )()( ji ji χχ torna-se KKK )()( ij ji χχ , o que não equivale à

multiplicação por –1. Para assegurar a antissimetria, os spin-orbitais podem ser

arranjados em uma função de onda determinantal,

)()()(

)2()2()2()1()1()1(

21

21

21

nnn n

n

n

χχχ

χχχχχχ

L

MMMM

L

L

=Ψ taldeterminan . (2.19)

Nesta equação, os elementos da primeira linha do determinante contêm informações

do elétron 1 para todos os spins orbitais nχχχ ,,, 21 K ; a segunda linha contém todas

as informações do elétron 2, etc.

A função de onda determinantal (2.19) possui a propriedade de antissimetria,

que é garantida porque a permutação das coordenadas dos elétrons i e j é equivalente

à permutação das linhas i e j no determinante, que têm o efeito de mudança de sinal.

Na expansão, o determinante se torna uma soma de produtos de spin-orbitais,

∑ −=ΨP

nP nP )]()...2()1([ˆ)1( 21 χχχtaldeterminan , (2.20)

em que é o operador-permutação, que atua na função de onda mudando as

coordenadas 1,2,...,n de acordo com uma das n! permutações possíveis entre os n

P

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elétrons. O termo (-1)P vale +1 ou – 1 para permutações pares ou ímpares,

respectivamente. A função de onda em (2.20) é algumas vezes denominada função-

produto antissimetrizada.

Na construção de uma função de onda determinantal, o uso prático consiste

em escolher um conjunto de orbitais moleculares Ψ1, Ψ2, Ψ3,... e então associar

elétrons de spin α ou β a estes orbitais. Uma vez que cada orbital está associado a

uma auto-energia, esta designação de elétrons é freqüentemente representada por um

diagrama de configuração eletrônica, tal como mostrado na Fig. 2.2. Os elétrons são

representados por setas (↑ para α, ↓ para β), sendo os orbitais de energia mais baixa

localizados na base do diagrama.

Figura 2.2. Diagrama de configuração eletrônica para (Ψ1α)(Ψ1β)(Ψ2α)(Ψ2β)(Ψ3α).

Não é possível que um orbital molecular seja ocupado por dois elétrons de

mesmo spin. Este é o Princípio da Exclusão de Pauli, que é válido uma vez que a

função de onda determinantal (2.19) se anula se duas colunas forem idênticas. Dessa

forma, os orbitais podem ser classificados como duplamente ocupados (Ψ1 e Ψ2 na

Fig. 2.2), com ocupação simples (Ψ3) ou desocupados (Ψ4). A maioria das moléculas

possui um número par de elétrons em seus estados fundamentais de mais baixa

energia e podem ser representadas por funções de onda de camada fechada com

orbitais moleculares duplamente ocupados ou vazios.

É possível “forçar” os orbitais a serem ortogonais entre si, isto é,

, para i ≠ j. (2.21) ∫ =ΨΨ= 0* dzdydxS jiij

(O asterisco denota o complexo conjugado). Isto pode ser efetuado sem mudar o valor

da função de onda total, pela mistura das colunas do determinante. As funções de

spin, α e β, são ortogonais pela integração no espaço de spins (efetivamente, a soma

sobre os dois valores possíveis de ξ),

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∑ =⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛−+⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛+⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛+=

ξ

βαβαξβξα 021

21

21

21)()( . (2.22)

Os orbitais moleculares podem ser normalizados, isto é,

1* =ΨΨ= ∫ dzdydxS iiii , (2.23)

pela multiplicação de um individual por uma constante. A normalização

corresponde à exigência de que a probabilidade de se encontrar um elétron em

qualquer região do espaço seja igual à unidade. Dada a equação (2.23), a função de

onda determinantal (Eqs. 2.19 ou 2.20) pode ser normalizada pela multiplicação pelo

fator (n!)

-1/2, isto é,

∫ ∫ =ΨΨ 1!

121

*nddd

nτττ LL . (2.24)

A integração da Eq. (2.24) é feita sobre todas as coordenadas (cartesianas e de spin),

de todos os elétrons. Considerando-se estes aspectos, uma função de onda molecular

orbital completa, para um estado fundamental de camada fechada, de uma molécula

de n elétrons (sendo n par), ocupando duplamente n/2 orbitais, é escrita como:

)()()()()()()()(

)2()2()2()2()2()2()2()2()1()1()1()1()1()1()1()1(

)!(

2/211

2/211

2/211

21

nnnnnnnn

n

n

n

n

βαβα

βαβαβαβα

ΨΨΨΨ

ΨΨΨΨΨΨΨΨ

=Ψ−

L

MMMMM

L

L

(2.25)

O determinante da Eq. (2.25) é freqüentemente chamado de determinante de Slater.

2.2.5. Expansões em Conjuntos-Base

Na seção anterior, foi descrita a forma pela qual uma função de onda de muitos

elétrons pode ser construída a partir de orbitais moleculares na forma de um único

determinante. Em aplicações práticas da teoria, uma restrição posterior é imposta,

requerendo que os orbitais moleculares individuais sejam expressos como

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combinações lineares de um conjunto finito de N funções de um elétron, conhecidas

como funções-base. Se as funções-base são Φ1, Φ2,..., ΦN, então um orbital molecular

individual Ψi pode ser escrito como

, (2.26) ∑=

Φ=ΨN

ii c1µ

µµ

em que cµi são os coeficientes da expansão do orbital molecular. (Segue-se aqui uma

convenção de se usar subscritos romanos para orbitais moleculares e subscritos

gregos para funções-base). Estes coeficientes fornecem a descrição do orbital com

alguma flexibilidade, mas obviamente não permitem uma liberdade total, a não ser

pelo fato de definirem uma expansão sobre um conjunto completo de funções. O

problema de se encontrar os orbitais é reduzido a uma busca de um conjunto finito de

coeficientes lineares que descreva cada função tridimensional Ψi.

Em versões qualitativas simples da teoria do orbital molecular, os orbitais

atômicos dos átomos constituintes são usados como funções-base. Tais tratamentos

são freqüentemente descritos como teorias de combinação linear de orbitais atômicos

(LCAO’s). Entretanto, o tratamento matemático é mais geral e qualquer conjunto de

funções definido apropriadamente pode ser usado como uma base na expansão.

Para prover um conjunto-base que seja bem definido para qualquer

configuração nuclear e, dessa forma, útil para um modelo teórico, é conveniente definir

um conjunto particular de funções-base associado com cada núcleo, dependendo

somente da carga nuclear. Tais funções podem apresentar as propriedades de

simetria de orbitais atômicos e são classificadas como s, p, d, f, ..., de acordo com

suas propriedades angulares.

Dois tipos de funções-base atômicas têm sido largamente empregados. Os

orbitais atômicos do tipo Slater (STO’s), que apresentam parte radial exponencial e

são designados como os orbitais atômicos do hidrogênio (1s, 2s, 2px,...), possuindo a

forma normalizada,

)exp( 1

21

31

1 rs ζπζ

−⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=Φ ,

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛=Φ

2exp

962

21

52

2rrs

ζπ

ζ, (2.27)

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛=Φ

2exp

322

21

52

2rx

xpζ

πζ

,

18

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em que ζ1 e ζ2 são constantes que determinam a extensão radial dos orbitais. As

funções-base do tipo STO proporcionam representações razoáveis de orbitais

atômicos com valores de ζ recomendados por Slater. Entretanto, estas funções não

são apropriadas para trabalhos numéricos e seu uso em cálculos práticos de orbitais

moleculares tem sido limitado.

O segundo tipo de base consiste em funções atômicas do tipo gaussianas.

Estas funções são potências de x, y, z multiplicadas por , sendo α uma

constante que determina a extensão radial da função. Na forma normalizada, as

primeiras dez funções são:

)exp( 2rα−

)exp(2),( 24

3

rrgs απαα −⎟⎠⎞

⎜⎝⎛= ,

)exp(128),( 24

1

3

5

rxrg x απαα −⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= ,

)exp(128),( 24

1

3

5

ryrg y απαα −⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= ,

)exp(128),( 24

1

3

5

rzrg z απαα −⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= ,

)exp(9

2048),( 224

1

3

7

rxrg xx απαα −⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= ,

)exp(9

2048),( 224

1

3

7

ryrg yy απαα −⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= , (2.28)

)exp(9

2048),( 224

1

3

7

rzrg zz απαα −⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= ,

)exp(9

2048),( 24

1

3

7

rxyrg xy απαα −⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= ,

)exp(9

2048),( 24

1

3

7

rxzrg xz απαα −⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= ,

)exp(9

2048),( 24

1

3

7

ryzrg yz απαα −⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= .

As funções gaussianas gs, gx, gy e gz possuem as simetrias angulares de s e

dos três tipos de orbitais atômicos p. As funções de segunda ordem gxx, gyy, gzz, gxy, gxz

19

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e gyz não possuem a simetria angular de orbitais atômicos. Entretanto, podem ser

combinadas para fornecer um conjunto de cinco funções atômicas do tipo d, isto é, gxy,

gxz e gyz e duas outras funções,

)2(21

3 yyxxzzrrzz gggg −−=− ,

)(43 2

1

yyxxyyxx ggg −⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=− . (2.29)

Uma sexta combinação linear resulta em uma função do tipo s,

)(5 21

zzyyxxrr gggg ++= −. (2.30)

De maneira similar, as dez funções gaussianas de terceira ordem podem ser

recombinadas em um conjunto de sete funções do tipo f e um conjunto adicional de

três funções do tipo p.

As funções do tipo gaussianas são menos satisfatórias que as funções do tipo

STO como representações de orbitais atômicos, particularmente pelo fato de

apresentarem derivada nula na origem. Entretanto, estas funções possuem a

vantagem importante de que todas as integrais nas computações podem ser avaliadas

explicitamente, sem recorrência à integração numérica.

Uma terceira possibilidade consiste em usar combinações lineares de funções

gaussianas como funções-base. Por exemplo, uma função-base do tipo s, Φµ, pode

ser expandida em termos de gaussianas do tipo s,

∑=Φs

ss gdµµ . (2.31)

Nesta equação, os coeficientes dµs são fixos. Funções-base deste tipo são

denominadas gaussianas contraídas, sendo as expressões gs denominadas

gaussianas primitivas.

2.2.6. O Método Variacional e a Teoria de Hartree-Fock

Até este ponto, foi descrito de que forma uma função de onda determinantal

pode ser construída a partir de orbitais moleculares e como estes orbitais podem ser

20

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expandidos em termos de um conjunto de funções-base. Resta ainda especificar um

método para fixar os coeficientes da expansão. Este é o domínio da teoria de Hartree-

Fock. A teoria de Hartree-Fock é baseada no método variacional em mecânica

quântica. Se θ é qualquer função antissimétrica normalizada das coordenadas

eletrônicas, então o valor esperado da energia correspondente a esta função pode ser

obtido da integral,

∫= τθθ dHE ˆ' * , (2.32)

em que a integração é feita sobre as coordenadas de todos os elétrons. Se θ for uma

função de onda exata, então Ψ, para o estado eletrônico fundamental, satisfará a

equação de Schrödinger (2.1). Uma vez que Ψ é normalizada, E’ será portanto a

energia exata,

EdEE =ΨΨ= ∫ τ*' . (2.33)

Entretanto, se θ é qualquer outra função antissimétrica normalizada, pode ser

mostrado que E’ é maior que E:

∫ >= EdHE τθθ ˆ' * . (2.34)

O método variacional pode ser aplicado para determinar os orbitais ótimos na

função de onda determinantal. Selecionamos um conjunto-base para a expansão do

orbital e os coeficientes cµi (como na Eq. 2.26) podem então ser ajustados a fim de

minimizar o valor esperado da energia E’. O valor resultante de E’ será tão próximo

quanto possível da energia exata E. Conseqüentemente, a melhor função de onda na

forma de um determinante para o conjunto-base particular empregado é obtida pela

minimização de E’ com relação aos coeficientes cµi. Isto implica nas equações

variacionais,

0'=

∂∂

icE

µ

, (para todo µ, i). (2.35)

Estas equações serão inicialmente empregadas para sistemas de camada

fechada, conforme será descrito a seguir.

21

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2.2.6.1. Sistemas de Camada Fechada

A condição variacional da Eq. (2.35) leva a um conjunto de equações

algébricas para os coeficientes cµi. Estas equações foram obtidas independentemente

para a função de onda de um sistema de camada fechada por Roothaan e Hall, em

1951. As equações de Roothaan-Hall são dadas por

, µ = 0, 1, 2,..., N, (2.36) ∑=

=−N

ii cSF1

0)(ν

νµνµν ε

com as condições de normalização,

∑∑ . (2.37) = =

=N N

ii cSc1 1

* 1µ ν

νµνµ

Na Eq. (2.36), εi é um multiplicador de Lagrange, interpretado como a energia de um

elétron do orbital molecular ; SiΨ µν são os elementos de uma matriz ,

denominada matriz de “overlap”,

NxN

∫ ΦΦ= 111* )1()1( dzdydxS νµµν (2.38)

e Fµν são elementos de uma outra matriz , a chamada matriz de Fock, NxN

∑∑= =

−+=N N

caroço PHF1 1

)]|(21)|[(

λ σλσµνµν νσµλλσµν . (2.39)

Nesta expressão, é uma matriz representando a energia de um único elétron

no campo dos núcleos atômicos. Seus elementos são:

caroçoH µν

, 111* )1()1(ˆ)1( dzdydxHH caroçocaroço ∫ ΦΦ= νµµν

∑=

−⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+∂∂

+∂∂

−=M

A A

Acaroço

rZ

zyxH

1 121

2

21

2

21

2

21)1(ˆ . (2.40)

Na Eq. (2.40), ZA é o número atômico do átomo A e o somatório é feito sobre todos os

átomos. Os termos (µν|λσ) e (µλ|νσ) que aparecem na Eq. (2.39) são as chamadas

integrais de repulsão de dois elétrons,

22

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.)2()2(1)1()1()|(

,)2()2(1)1()1()|(

222111*

12

*

222111*

12

*

dzdydxdzdydxr

dzdydxdzdydxr

σνλµ

σλνµ

νσµλ

λσµν

ΦΦ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ΦΦ=

ΦΦ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ΦΦ=

∫∫

∫∫ (2.41)

Os orbitais atômicos , µΦ νΦ , λΦ e σΦ podem estar todos localizados no

mesmo centro, cada um em um centro diferente, etc. Então, no método Hartree-Fock,

as integrais de interação entre dois elétrons podem envolver 1, 2, 3 ou 4 centros. Os

termos )|( λσµν e )|( νσµλ são multiplicados pelos elementos da chamada matriz

densidade de um elétron,

. (2.42) ∑=

=ocup

iiiccP

1

*2 σλλσ

O somatório é considerado somente sobre os orbitais moleculares ocupados. O fator 2

indica que cada orbital molecular é ocupado por dois elétrons e o asterisco denota o

complexo conjugado (requerido se os orbitais moleculares não forem funções reais).

A energia eletrônica resultante é então dada por

∑∑= =

+=N N

caroçoel HFPE1 1

)(21

µ νµνµνµν , (2.43)

que, quando somada à Eq. (2.44), referente à repulsão internuclear,

∑∑>

=M

A

M

AB AB

BAnuclearrep

RZZE , (2.44)

(em que ZA e ZB são os números atômicos dos átomos A e B e RAB é a separação

entre eles) leva a uma expressão para a energia total,

∑∑∑∑>= =

++=+=M

A

M

AB AB

BAN N

caroçoel

RZZHFPEEE

1 1)(

21

µ νµνµνµν

nuclear repulsão . (2.45)

A Fig. 2.3 representa as etapas requeridas para a solução das equações de

Roothaan-Hall para um sistema de camada fechada, empregadas no código Gaussian.

23

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Figura 2.3. Seqüência de etapas do programa requeridas para a solução das equações de

Roothaan-Hall para um sistema de camada fechada. O diagrama envolvendo as etapas

denominadas “Formação da Matriz de Fock”, “Resolução da equação matricial”, “Formação da

Matriz-densidade” e “Cálculo da energia” é iniciado pela especificação de uma suposição inicial

para a matriz-densidade e finalizado sob satisfação do critério de convergência para a matriz-

densidade, para a energia ou para ambas. As integrais de um e dois elétrons, ( e µνµν HS ,

)|( λσµν ) são calculadas e armazenadas a priori para iniciar a execução do procedimento

SCF. Estas integrais são acessadas durante cada ciclo do procedimento auto-consistente.

24

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As equações de Roothaan-Hall (Eq. 2.36) são não-lineares, uma vez que a

matriz de Fock, Fµν, depende dos coeficientes da expansão do orbital molecular, cµi,

através da expressão da matriz densidade (Eq. 2.42). A solução envolve

necessariamente um processo iterativo. Uma vez que os orbitais moleculares

resultantes são provenientes de seu próprio potencial efetivo, a técnica é

freqüentemente chamada de teoria de campo auto-consistente (SCF).

2.2.6.2. Sistemas de Camada Aberta

Para sistemas de camada aberta, nos quais os elétrons não ocupam os orbitais

moleculares aos pares, as equações de Roothaan-Hall necessitam de alguma

modificação. Isto se aplica, por exemplo, ao dubleto de radicais livres ou a estados de

tripleto, para os quais uma componente terá excesso de elétrons α. Para dubletos,

haverá um elétron α extra; para tripletos, dois elétrons α extras, etc.

A teoria do orbital molecular simples pode ser estendida a sistemas de camada

aberta de duas maneiras possíveis. A primeira é descrita como teoria Hartree-Fock de

spin restrito (RHF). Nesta abordagem, um único conjunto de orbitais moleculares é

usado, alguns orbitais sendo duplamente ocupados e alguns sendo ocupados por um

único elétron de spin α. Este é o caso ilustrado na Fig. 2.2 para o estado de dubleto de

cinco elétrons. Os spin-orbitais no determinante são então

))()()()(( 32211 αβαβα ΨΨΨΨΨ . Os coeficientes cµi são ainda aqueles definidos pela

expansão da Eq. (2.26) e seus valores ótimos são obtidos das condições variacionais

da Eq. (2.35). Entretanto, os detalhes são mais complicados, uma vez que diferentes

condições se aplicam a orbitais com ocupação simples e a orbitais duplamente

ocupados.

O segundo tipo de teoria molecular orbital em uso comum para sistemas de

camada aberta é a teoria Hartree-Fock de spin irrestrito (UHF). Nesta abordagem,

orbitais espaciais diferentes são ocupados por elétrons α e β. Então, há dois conjuntos

distintos de orbitais moleculares, e (i = 1, 2,...,N). A configuração eletrônica

para um dubleto de cinco elétrons pode ser escrita como

e está ilustrada na Fig. 2.4.

αiΨ β

))()()()(( 32211 αβαβα αβαβα ΨΨΨΨΨ

É importante notar que o orbital 1Ψ , antes duplamente ocupado no RHF, é

agora substituído por dois orbitais distintos, e . Uma vez que a função RHF é α1Ψ

β1Ψ

25

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um caso especial, mais restrito, da função UHF, segue-se do princípio variacional que

a energia UHF optimizada deve estar abaixo do valor RHF optimizado.

Figura 2.4. Diagrama de configuração eletrônica para . ))()()()(( 32211 αβαβα αβαβα ΨΨΨΨΨ

Na teoria UHF, os dois conjuntos de orbitais moleculares são definidos por dois

conjuntos de coeficientes,

; . (2.46)∑=

Φ=ΨN

ii c1µ

µαµ

α ∑=

Φ=ΨN

ii c1µ

µβµ

β

Estes coeficientes sofrem variação independentemente, levando às generalizações

UHF das equações de Roothaan-Hall, que passarão a ser dadas por

; ; (µ = 1, 2, ..., N). (2.47) 0)(1

=−∑=

αµ

νµν

ααµν ε i

N

i cSF 0)(1

=−∑=

βµ

νµν

ββµν ε i

N

i cSF

Nestas equações, as duas matrizes de Fock são definidas como,

(2.48) )].|()|)([(

)];|()|)([(

1 1

1 1

νσµλλσµν

νσµλλσµν

βλσ

λ σ

βλσ

αλσµν

βµν

αλσ

λ σ

βλσ

αλσµν

αµν

PPPHF

PPPHF

N Ncaroço

N Ncaroço

−++=

−++=

∑∑

∑∑

= =

= =

A matriz densidade é também separada em duas partes,

; . (2.49) ∑=

=ocup

iii ccP

ααν

αµ

αµν

1* ∑

=

=ocup

iii ccP

ββν

βµ

βµν

1*

26

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As integrais , e (µν|λσ) que aparecem nas equações UHF são as mesmas

já definidas no procedimento de Roothaan-Hall para cálculos de camada fechada.

µνS caroçoHµν

2.2.7. Análise Populacional de Mulliken

A função densidade eletrônica ou função-distribuição de densidade de

probabilidade eletrônica, )(rrρ , é uma função tridimensional definida de tal forma que

rdr rr)(ρ é a probabilidade de se encontrar um elétron em um pequeno elemento de

volume, , em algum ponto do espaço, rdr rr . A condição de normalização requer que

∫ = nrdr rr)(ρ , (2.50)

em que é o número total de elétrons. Para uma função de onda unideterminantal, na

qual os orbitais são expandidos em termos de um conjunto de N funções-base, Φ

n

µ,

)(rrρ é dada pela expressão

, (2.51) ∑∑ ΦΦ=N N

Prµ ν

νµµνρ )(r

em que Pµν são os elementos da matriz-densidade (Eq. 2.42).

É desejável distribuir os elétrons de alguma forma entre as várias partes

constituintes de uma molécula (átomos, ligações, etc.). Pode ser útil, por exemplo,

definir uma carga eletrônica total em um átomo particular, a fim de que um sentido

quantitativo possa ser dado a conceitos como afinidade eletrônica e

eletronegatividade.

A integração da Eq. (2.51) leva a

, (2.52) ∫ ∑∑ ==N N

nSPrdrµ ν

µνµνρ rr)(

em que Sµν é a matriz de “overlap” das funções-base (Eq. 2.38). O número total de

elétrons é então decomposto em termos individuais Pn µνSµν. Considerando que as

funções-base Φµ sejam normalizadas, isto é, Sµµ = 1, os termos da diagonal na Eq.

(2.52) são exatamente Pµµ, cada um dos quais representando o número de elétrons

27

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associado diretamente com uma função-base particular, Φµ. As componentes fora da

diagonal na Eq. (2.52) ocorrem aos pares, PµνSµν e PνµSνµ, de magnitudes iguais. Sua

soma é referida como uma população de “overlap”,

µνµνµν SPQ 2= , (µ ≠ ν). (2.53)

Pode-se notar que a população de “overlap” está associada a duas funções-base,

Φ

µνQ

µ e Φν, que podem ser do mesmo átomo ou de dois átomos diferentes.

A carga eletrônica total é agora distribuída em duas partes, a primeira

associada com funções-base individuais e a segunda com pares de funções-base,

∑ ∑ . (2.54) ∑>

=+N N N

nQPµ µ µν

µνµµ

Esta representação da distribuição eletrônica não é sempre conveniente e,

algumas vezes, é desejável dividir a carga total somente entre as funções-base

individuais. Uma maneira como isso pode ser feito é dividir igualmente as populações

de “overlap”, Qµν, entre as funções-base Φµ e Φν, adicionando metade de cada uma às

populações líquidas Pµµ e Pνν. Isso dá a população “grosseira” para Φµ, definida de

acordo com

∑≠

+=νµ

µνµνµµµ SPPq . (2.55)

A soma das populações “grosseiras” para todas as N funções-base, Φµ, é

certamente igual ao número total de elétrons,

. (2.56) ∑ =N

nqµ

µ

Este esquema particular de partição não é o único. A escolha da divisão das

populações de “overlap”, Qµν, em contribuições iguais de Φµ e Φν é arbitrária.

As populações de funções-base “grosseiras” podem ser usadas para definir as

populações atômicas “grosseiras”,

. (2.57) ∑=A

A qqµ

µ

28

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Nesta equação, o somatório é feito sobre todas as funções Φµ em um átomo particular

A. Considerando que todas as funções-base sejam centradas nos átomos, segue-se

que a soma das populações atômicas “grosseiras” é igual ao número total de elétrons.

Finalmente, uma carga atômica total em A pode ser definida como ZA - qA, onde ZA é o

número atômico de A. A soma das cargas deve ser nula para uma molécula neutra, +1

para um monocátion e assim por diante.

Uma população total de “overlap”, qAB, entre dois átomos A e B, pode ser

definida de maneira similar,

. (2.58) ∑∑=A B

AB Qqµ ν

µν

Neste caso, o somatório é feito sobre todos os µ’s no átomo A e sobre todos os ν’s no

átomo B. As populações totais de “overlap” fornecem informação quantitativa da

ligação entre átomos. Um valor muito positivo para qAB indica uma população

eletrônica significativa na região entre A e B. É um aspecto geralmente associado às

ligações fortes. Reciprocamente, um valor muito negativo de qAB implica que os

elétrons tenham se deslocado para fora das regiões interatômicas, indicando uma

interação anti-ligante.

Embora as populações de Mulliken freqüentemente forneçam informação

valiosa a respeito das distribuições eletrônicas em moléculas, elas devem ser usadas

com certa precaução. Como mencionado previamente, a partição de Qµν em

contribuições de orbitais individuais é arbitrária. Além disso, grandezas tais como

populações atômicas “grosseiras” ou populações totais de “overlap” são fortemente

dependentes do conjunto-base particular empregado.

2.2.8. Conjuntos-Base Atômicos de Funções Gaussianas

Um conjunto-base representa a descrição matemática dos orbitais (que se

combinam a fim de aproximar a função de onda eletrônica total) em um sistema,

usada na execução do cálculo teórico. Os conjuntos-base mais completos aproximam

mais precisamente os orbitais, impondo algumas poucas restrições às localizações

dos elétrons no espaço. De acordo com a mecânica quântica, os elétrons têm uma

probabilidade finita de existência em qualquer lugar do espaço; este limite

corresponde à expansão do conjunto-base infinito.

29

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Um tratamento Hartree-Fock exato (limite Hartree-Fock) envolveria um conjunto

infinito de funções-base , o que é, obviamente, impraticável do ponto de vista do

custo computacional. Assim, a escolha apropriada do tamanho do conjunto-base

depende de um compromisso entre precisão e eficiência. Os conjuntos-base padrão

usam combinações lineares fixas e pré-definidas de funções gaussianas para formar

os orbitais moleculares. O código Gaussian94 [6,7] dispõe de uma série de funções-

base pré-definidas, que podem ser classificadas pelo número e tipo de função que

cada uma contém. Os conjuntos-base atribuem um grupo de funções-base para cada

átomo na molécula, a fim de aproximar seus orbitais. Tais funções podem ser

escolhidas como gaussianas primitivas (ou não-contraídas) ou como combinações

lineares fixas e predefinidas de tais funções, as gaussianas contraídas.

. A discussão que se segue trata da descrição dos conjuntos-base utilizados em

nossos cálculos, STO-3G, 6-31G e 6-311G**, desenvolvida em conjunção com a série

Gaussian de programas computacionais de química quântica teórica [6,7].

µΦ

2.2.8.1. O Conjunto-Base Mínimo STO-3G

O nível mais simples da teoria do orbital molecular ab initio envolve o uso de

um conjunto-base mínimo de funções centradas nos núcleos. Tal representação inclui

estritamente o número de funções requeridas para acomodar todos os elétrons do

átomo, enquanto mantém a simetria esférica global. Os conjuntos-base mínimos

contêm o número mínimo de funções-base necessário em cada átomo, como nos

exemplos abaixo:

H: 1s;

C: 1s, 2s, 2px, 2py, 2pz.

Pode-se então definir o número de funções-base por átomo como:

H, He: 1;

Li a Ne: 5;

Na a Ar: 9;

K, Ca: 13;

Sc a Kr: 18;

Rb, Sr: 22;

30

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Y a Xe: 27, etc.

Os conjuntos-base mínimos usam orbitais atômicos de tamanhos fixos. O

conjunto-base STO-3G, empregado em nossos cálculos envolvendo fullerenos e

alguns de seus derivados, conforme será descrito no Capítulo 5, é um exemplo de

base mínima (embora não seja o menor conjunto-base possível).

O conjunto-base STO-3G usa três gaussianas primitivas por função-base, o

que justifica a designação “3G” em sua nomenclatura. “STO” significa “Slater-type

orbitals” ou orbitais do tipo Slater, representados nas Eqs. (2.27). Assim, o conjunto-

base STO-3G aproxima os orbitais de Slater por funções gaussianas. Os orbitais de

Slater, conforme já discutido na seção 2.2.5, são muito mais precisos nas

computações, embora não sejam convenientes matematicamente como as funções

gaussianas.

2.2.8.2. O Conjunto-Base Estendido 6-31G

Uma das formas pelas quais um conjunto-base pode se tornar maior do que a

representação mínima consiste em aumentar o número de funções-base por átomo,

através das chamadas representações estendidas. Tais representações possuem dois

ou mais tamanhos de funções-base para cada orbital de valência, permitindo que as

componentes individuais se ajustem independentemente, de maneira adequada para

um dado ambiente molecular.

Um conjunto-base formado pela duplicação das funções de uma representação

mínima é usualmente denominado base “double zeta”. Uma extensão mais simples de

um conjunto-base mínimo consiste em duplicar somente o número de funções-base

que representam a região de valência. (Os elétrons de camadas internas são

importantes no que se refere à energia total, mas seu efeito na ligação molecular

apresenta apenas pequenas conseqüências). Por exemplo, para os elementos dos

períodos 1, 2 e 3, temos:

H, He: 1s;

1s’;

Li a Ne: 1s;

2s’, 2p’x, 2p’y, 2p’z;

2s”, 2p”x, 2p”y, 2p”z;

Na a Ar: 1s;

31

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2s, 2px, 2py, 2pz;

3s’, 3p’x, 3p’y, 3p’z;

3s”, 3p”x, 3p”y, 3p”z,

em que as funções-base das camadas de valência são denotadas por ( ’ ) e ( ” ),

respectivamente, as quais diferem em tamanho.

O conjunto-base 6-31G é um exemplo de base estendida, sendo definido para

a segunda linha da Tabela Periódica. Este conjunto compreende as funções das

camadas atômicas internas, cada qual escrita em termos de uma combinação linear

de 6 gaussianas e as funções de duas camadas de valência, a primeira representada

por 3 gaussianas primitivas e a segunda por 1 gaussiana primitiva, justificando a

atribuição da nomenclatura “6-31G”. Este conjunto-base foi aplicado em nossos

cálculos no estudo teórico do dímero da molécula de celulose, conforme será descrito

no Capítulo 4.

2.2.8.3. O Conjunto-Base Polarizado 6-311G**

Os conjuntos-base estendidos permitem uma mudança nas extensões radiais

dos orbitais, mas não permitem que estes orbitais sejam alterados em suas formas. Os

chamados conjuntos-base polarizados, por sua vez, removem esta limitação pela

inclusão de orbitais com momento angular além do que é requerido para o estado

fundamental na descrição de cada átomo. Por exemplo, os conjuntos-base polarizados

adicionam funções d aos átomos de carbono e funções f aos metais de transição,

sendo que alguns deles adicionam funções p ao átomo de hidrogênio.

A representação 6-311G** é um exemplo de conjunto-base polarizado. A

notação “311” foi escolhida no lugar da representação “31” (na base 6-31G) para

aperfeiçoar a descrição da região de valência. A base 6-311G** compreende uma

camada interna descrita por 6 gaussianas do tipo s e uma região de valência mais

externa, dividida em três partes, a primeira parte representada por 3 gaussianas

primitivas, a segunda por 1 e a terceira por 1. O primeiro asterisco indica que são

adicionadas funções p aos átomos de hidrogênio da molécula e o segundo asterisco

indica a adição de funções d aos átomos pesados (são usadas 5 componentes das

funções d), justificando assim a atribuição da nomenclatura “6-311G**”.

Em nossos cálculos, empregamos o conjunto-base 6-311G** na descrição das

moléculas de celulose e lignina, tanto puras como contendo cobre, conforme será

descrito no Capítulo 4.

32

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2.3. O Método MNDO

O MNDO (“Modified Neglect of Diatomic Overlap”) é um método semi-empírico

de química quântica que consiste em uma simplificação do método ab initio Hartree-

Fock. Este método faz parte de um subconjunto de aproximações semi-empíricas

denominado NDDO (“Neglect of Differential Diatomic Overlap”), o qual pertence à

classe geral NDO (“Neglect of Differential Overlap”). O MNDO pode ser usado no

estudo de estruturas, estabilidades, reatividades, propriedades vibracionais, etc., de

moléculas grandes, tipicamente acima de 1000 átomos (sistemas muito maiores que

aqueles calculados pelos códigos ab initio).

O MNDO faz uso de um conjunto-base mínimo consistindo de uma função-

base por orbital atômico [8]; sua autoconsistência é feita apenas nos elétrons de

valência, os elétrons das camadas internas, criando apenas um campo efetivo para

eles.

Conforme já discutido na seção 2.2.6, na teoria de Hartree-Fock, a equação

secular é expressa de acordo com a Eq. (2.36), , sendo µ = 0, 1,

2,..., N. Os elementos gerais da matriz de Fock ( e ) são dados pelas Eqs.

(2.48), em que as integrais de dois elétrons do tipo

∑=

=−N

ii cSF1

0)(ν

νµνµν ε

αµνF β

µνF

)|( λσµν e )|( νσµλ são

definidas nas Eqs. (2.41).

No método MNDO, são desprezadas todas as integrais nas quais intervém um

produto do tipo 1)1()1( rdrνµ ΦΦ (em que os argumentos dos orbitais atômicos e µΦ νΦ

se referem ao elétron 1) se estes orbitais estiverem localizados em centros diferentes.

Rigorosamente falando, nesta aproximação tem -se que:

(2.59) ⎩⎨⎧

≠===

ΦΦ= ∫ .0;1

)1()1( 1 νµνµ

νµµν sese

rdS r

Isso reduz a matriz de “overlap” a uma matriz-identidade. A Eq. (2.36) então

torna-se:

0=− iii cFc νµνν ε . (2.60)

Com base nesta aproximação, todos os termos de repulsão entre dois elétrons,

envolvendo três e quatro centros são desprezados . Somente os termos envolvendo as

33

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integrais de dois centros e dois elétrons, dois centros e um elétron, um centro e dois

elétrons e um centro e um elétron, bem como as integrais de repulsão caroço-caroço

permanecem nesta aproximação.

As integrais de um centro e dois elétrons, tais como,

21*

12

* )2()2(1)1()1( rdrdr

rrµµµµ ΦΦ⎥

⎤⎢⎣

⎡ΦΦ∫∫ , 21

*

12

* )2()2(1)1()1( rdrdr

rrννµµ ΦΦ⎥

⎤⎢⎣

⎡ΦΦ∫∫ e

21*

12

* )2()2(1)1()1( rdrdr

rrνµνµ ΦΦ⎥

⎤⎢⎣

⎡ΦΦ∫∫ são obtidas a partir de dados experimentais em

átomos isolados, tais como potenciais de ionização, afinidades eletrônicas, espectros

atômicos, etc.

Nas integrais de dois centros e dois elétrons, as distribuições de densidade

eletrônica são aproximadas por uma série de cargas puntuais, tais como as

distribuições em monopolos, dipolos, quadrupolos lineares e quadrupolos quadrados,

usadas para representar os produtos de orbitais atômicos.

As integrais de um centro e um elétron, , são avaliadas analiticamente e

representam a energia que um elétron em um orbital atômico

caroçoHµµ

µΦ teria se todos os

elétrons fossem removidos do sistema. Esta aproximação é feita adicionando-se à

energia de um elétron no orbital atômico do átomo totalmente ionizado, o potencial

devido a todos os núcleos do sistema.

As integrais de dois centros e um elétron, , algumas vezes chamadas de

integrais de ressonância, são aproximadas usando a verdadeira integral de “overlap”,

S

caroçoHµν

µν. (Pode-se notar que esta consideração viola a aproximação NDO; esta é a origem

do termo “Modified” na nomenclatura do método MNDO). é escrita como: µνH

)(21

ννµµµνµν HHSH += . (2.61)

Por outro lado, a interação de repulsão caroço-caroço é dada por

, (2.62) )1(|),( ABBABA RRBBAABAN eessssZZBAE αα −− ++><=

em que é a distância de separação entre os átomos A e B; ABR Aα e Bα são

parâmetros atômicos; e são as cargas nucleares efetivas; e são orbitais

atômicos do tipo Slater, referentes aos átomos A e B, respectivamente. Portanto, no

método MNDO, a interação caroço-caroço é parametrizada.

AZ BZ As Bs

34

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2.4. Cálculo de Forças

A descrição completa de uma superfície de potencial multidimensional que

caracteriza um sistema molecular é uma tarefa complexa. Uma forma de caracterizá-la

é através do cálculo analítico direto das derivadas da energia em relação a seus

parâmetros. Embora tais procedimentos exijam esforços significativos de programação

e, em princípio, conduzam à mesma informação obtida por cálculos numéricos,

apresentam vantagens consideráveis em cálculos práticos.

Nesta seção, será discutida a expressão geral para as forças exatas sobre os

núcleos dentro do método Hartree-Fock, baseada no trabalho de PULAY [9]. Será

discutido também o procedimento para a determinação rápida da geometria de

equilíbrio pela relaxação das coordenadas nucleares até que as forças se anulem.

2.4.1. Introdução Uma constante de força Fij é definida como a derivada segunda da energia

molecular E com relação às coordenadas nucleares qi e qj na configuração de

equilíbrio:

0

2

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

∂∂∂

=ji

ij qqEF . (2.63)

Para cálculos ab initio das constantes de força e das geometrias de equilibro, o

método mais conveniente é aquele em que as diferenciações da Eq. (2.63) são feitas

primeiro analiticamente e então numericamente. Neste método, derivando primeiro a

energia analiticamente, podemos calcular a força que atua na direção de qi,

i

i qEf

∂∂

−= . (2.64)

A geometria de equilíbrio é determinada permitindo a relaxação das

coordenadas nucleares até que as forças líquidas se anulem. A constante de força Fij,

que é o negativo da derivada da força fi como uma função de qj é então determinada

numericamente, executando cálculos para diferentes valores de qj próximos da

configuração de equilíbrio. Este método apresenta a vantagem de tornar possível um

35

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rápido procedimento de iteração para determinar a configuração nuclear de equilíbrio,

o que se torna um de seus aspectos mais interessantes.

2.4.2. O Método da Força

Seja Φ uma função de onda tentativa normalizada, dependente das

coordenadas q (= q1, q2, ..., qn) e dos parâmetros variacionais ρ (= ρ1, ρ2, ..., ρm) . Os

parâmetros são determinados de tal forma que eles minimizem a energia total

, sendo tais parâmetros funções dos q’>ΦΦ<= || HE s. No que se segue, o símbolo

denota uma diferenciação na qual a dependência dos parâmetros com as

coordenadas nucleares não foi considerada, isto é, os ρ’

q∂∂ /

s são tomados como

constantes. O símbolo d/dq denota a derivada total, incluindo a dependência dos

parâmetos em q. Para a derivada primeira, temos que

,qE

dqdE

∂∂

= (2.65)

pois 0/ =∂∂ iE ρ . Isso significa que não é necessário saber de que forma os

parâmetros variacionais mudam com as coordenadas nucleares na computação da

força, o que simplifica o formalismo.

Consideremos, por simplicidade, que Φ seja real. Então:

Φ∂Φ∂

−Φ∂∂

Φ−=−= ||2 Hqq

HdqdEf

iiii , (2.66)

em que a energia total é escrita como:

).2)(|()||(2

)]|1|()|1|(2[)||(2

1

122

122

1

nsmrrsmnrs

mnmn

mn

kjj jk

kjkjjj

PPPPrsmnPnHm

rrHE

−+=

=ΦΦΦΦ−ΦΦ+ΦΦ=

∑∑

∑ ∑ (2.67)

Na Eq. (2.67), H1 é o termo de um-elétron do Hamiltoniano, os s'Φ são os orbitais

moleculares SCF, relacionados às funções-base χ por uma transformação com a

matriz retangular C†: Φ = C†χ e P é a matriz densidade, definida como P = CC†. As

36

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notações )||()||( 11 nm HnHm χχ= e )|/1|()|( 12 srnm rrsmn χχχχ= foram

introduzidas. Os termos que vêm da diferenciação de H1 na Eq. (2.67) são calculados

de uma forma muito simples. Um ponto que requer atenção é que a Eq. (2.67) é válida

somente se os orbitais moleculares forem ortonormais. Isto equivale à condição de

que P deve ser idempotente:

PSP = P, (2.68)

em que S é a matriz de “overlap”, )|( nmSmn = . A Eq. (2.67) deve ser diferenciada

com a condição de que P permaneça idempotente. A derivada da Eq. (2.68) é dada

por:

./)/()/()/( qqqq ∂∂=∂∂+∂∂+∂∂ PPPSPSPSPP (2.69)

Esta equação tem um número infinito de soluções ∂ P/∂ q. Qualquer uma delas conduz

ao mesmo valor das forças, uma vez que a energia total deve ser estacionária com as

mudanças infinitesimais na matriz densidade, se estas mudanças não violarem a

idempotência de P. A solução mais simples da Eq. (2.69) é dada por:

PSPP )/(/ qq ∂∂−=∂∂ . (2.70)

A expressão para a força é então escrita como: f

⎪⎭

⎪⎬

⎪⎩

⎪⎨

∂∂−∂∂−∂∂+∂∂++−∂∂+

+∂∂+∂∂+∂∂−

−⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

∂∂++∂∂+∂∂

=>Φ∂Φ∂<−=

mnrsnsmrnsmrrsmnrsmn

nsmrrsmn

mn mn

mn

qPPqPPqPPqPPrsmnPPPPqsrmn

qsrmnrsqnmrsqnm

qPnHmPqnHmnHqm

Hqf

.

1

11

)///2/2)(|()2)](/|(

)/|()|/()|/[(

)/)(||()]/||()||/[(

2

||/2

(2.71)

2.4.3. Determinação da Geometria de Equilíbrio Na determinação da configuração nuclear de equilíbrio, podemos nos restringir

a espécies de simetria totalmente simétricas se a simetria da configuração de

equilíbrio é conhecida. Seja q0 o vetor de coordenadas internas inicial e seja F0 uma

37

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suposição inicial para a matriz da constante de força. Para obter uma melhor

aproximação de q1, calculamos as forças f0 e construímos a seguinte expressão:

q1 = q0 + ∆q = q0 + F0-1 f0 . (2.72)

É evidente que se F0 fosse igual à constante de força da matriz calculada e se

as forças f dependessem linearmente das coordenadas q, então q1 forneceria a

geometria final de equilíbrio. Se isto não for inteiramente válido, q1 diferirá deste valor

de equilíbrio. Contudo, se as suposições iniciais para F0 e q0 não estiverem muito

distantes dos valores corretos, um melhoramento considerável pode ser esperado em

q1, comparado a q0. O processo de iteração qi+1 = qi + F0-1fi então convergirá para o

equilíbrio. Em geral, três ou quatro etapas são suficientes para atingir a configuração

final. Suposições iniciais apropriadas para q0 e F0 são quase sempre disponíveis; a

configuração final de equilíbrio não depende de , o qual determina somente a taxa

de convergência.

0F

38

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2.5. Derivadas Analíticas de 2a e 3a Ordens no Procedimento SCF

Nesta seção, apresentamos as expressões analíticas empregadas no

procedimento auto-consistente SCF para a determinação das derivadas do momento

de dipolo e da polarizabilidade. Tais expressões serão importantes no estudo dos

espectros de infravermelho e Raman descritos no Capítulo 3, referentes à análise das

transições vibracionais permitidas e das regras de seleção envolvidas nestas

transições. Dessa forma, se K,,, zyxa = são coordenadas nucleares, hgff ,,=r

são as componentes de um campo elétrico uniforme aplicado e E é a energia total do

sistema, então são as constantes de força e fornecem a curvatura da

superfície de energia potencial nuclear, bem como as freqüências vibracionais.

Similarmente, são as derivadas do dipolo e determinam as intensidades de

infravermelho, assim como são as derivadas da polarizabilidade e

determinam as intensidades Raman vibracionais. Nas seções 2.5.1 e 2.5.2, discutimos

estes aspectos, com base nas referências [10] e [11], respectivamente.

yxE ∂∂∂ /2

fxE ∂∂∂ /2

gfxE ∂∂∂∂ /3

2.5.1. Intensidades de Infravermelho

Consideremos perturbações no operador Hamiltoniano, H , tais que:

, (2.73) ffaa HHHH ''ˆˆ0 λλ ++=

em que é o operador Hamiltoniano não-perturbado, 0H fλ e aλ são perturbações do

campo elétrico ( ) e das coordenadas nucleares ( a ), respectivamente. Para

conjuntos-base padrão de orbitais atômicos, que dependem das coordenadas

nucleares, mas não do campo elétrico, afeta ambas as integrais de um e dois

elétrons, enquanto afeta somente as integrais de um elétron. Com estas

perturbações, as integrais dos orbitais atômicos de um elétron, , as integrais de

f

aH '

fH '

µνH

39

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“overlap”, , as integrais de dois elétrons,µνS )]1()1()1()1()[|( σλνµλσµν e o µ-ésimo

coeficiente do i-ésimo orbital molecular são expressos como: icµ

K+∂

∂+

∂+=

fH

aH

HH faµνµν

µνµν λλ0 , (2.74)

K+∂∂

+=a

SSS a

µνµνµν λ0 , (2.75)

K+∂

∂+=

aa)|()|()|( 0 λσµνλλσµνλσµν , (2.76)

=+∂

∂+

∂+= K

fc

ac

cc if

iaii

µµµµ λλ0 (2.77)

, (2.78) K+++= ∑∑todos

m

mfmif

todos

m

mamiai cUcUc 000

µµµ λλ

em que a palavra ”todos” implica em uma soma feita sobre todos os orbitais

moleculares, ocupados e virtuais; e são definidos pelas relações aU fU

0mtodos

m

ami

i cUa

µ ∑=∂

∂, (2.79)

0mtodos

m

fmi

i cUf

µ ∑=∂

∂. (2.80)

Nestas equações, o superescrito “0” designa um valor não perturbado. As Eqs.

(2.77) a (2.80) expandem os orbitais moleculares sob a(s) perturbação(ões) aλ e/ou

fλ em termos dos orbitais moleculares não-perturbados.

Para uma função de onda SCF de camada fechada, os elementos da matriz de

Fock na teoria RHF são dados pela soma sobre os orbitais duplamente ocupados,

(2.81) ∑ −+=..

)}|()|(2{od

kijij jkikkkijHF

e as energias orbitais (não-perturbadas) são

. (2.82) 00iji F=ε

40

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A equação de Hartree-Fock com perturbação de primeira ordem é expressa

para uma perturbação arbitrária x como:

, (2.83) ∑∑ =−−virt

k

od

l

xij

xklklijij

xij BUAU

..

,)( εε

em que

)|()|()|(4, jkiljlikklijA klij −−= . (2.84)

Para uma perturbação nuclear ( ax = ), os elementos da matriz B da Eq. (2.83)

são dados por

. (2.85) ∑∑ −−−=.. ..

)]|9)|(2[od

k

od

l

aklj

aij

aij

aij jlikklijSSFB ε

Na Eq. (2.85), o termo é escrito como aijF

. (2.86) })|()|(2{..

aod

k

aaij

aij jkikklijHF −+= ∑

Os elementos da matriz B para uma perturbação do campo elétrico ( )

são simplesmente dados por

fx =

. (2.87) fij

fij HB =

Para sistemas SCF de camada fechada, a energia eletrônica é expressa como

. (2.88) ∑ ∑ −+=.. ..

,)}|()|(2{2

od

i

od

jiiiSCF ijijjjiiHE

As derivadas de primeira ordem da energia com relação à coordenada nuclear

( ) e ao campo elétrico ( ) são a f

∑∑∑ −−+=∂

∂ ....

,

..

2})|()|(2{2od

ii

aii

aod

ji

aod

i

aii

SCF SijijjjiiHa

E ε , (2.89)

e ∑=∂

∂ ..

2od

i

fii

SCF Hf

E. (2.90)

41

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A Eq. (2.90) é uma expressão para o momento de dipolo elétrico ao longo do eixo . f

Uma expressão analítica para a derivada do dipolo pode ser obtida tomando a

derivada da Eq. (2.89) com relação ao campo elétrico ( ). O resultado final é dado

por

f

aij

od

i

fji

todos

ji

aii

od

i

fi

od

i

aij

todos

j

fji

od

i

afii

SCF SUSFUHaf

E ∑∑∑∑∑∑ −−+=∂∂

∂ ....)(

....2

4242 εε , (2.91)

em que

><∂∂

−=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

∂∂

∂= ∑∑ νµν

µνµ

µνν

µνµ ||00

200

fi

OA

ii

OA

iafii r

acce

fah

ccH (2.92)

e as são derivadas das energias orbitais. )( fiε

Uma equação alternativa é obtida tomando-se a derivada da Eq. (2.90) com

relação à coordenada nuclear ( ). O resultado final é dado por a

∑∑∑ +=∂∂

∂ ....2

42od

i

fij

todos

j

aji

od

i

faii

SCF HUHfa

E. (2.93)

Embora as Eqs. (2.91) e (2.93) aparentem ser bastante diferentes, são

matematicamente equivalentes. Subtraindo a Eq. (2.93) da Eq. (2.91), teremos um

termo que se anula como resultado das equações de Hartree-Fock perturbadas.

A diagonalização da matriz de constante de força em coordenadas ponderadas

pela massa fornece os modos normais e as freqüências vibracionais. As derivadas do

dipolo em relação às coordenadas normais produzem as intensidades de

infravermelho, conforme discutiremos na seção 3.2.2.

Esta teoria pode ser uma ferramenta útil para prever de maneira confiável quais

modos vibracionais de espécies ainda não observadas experimentalmente terão

intensidade suficiente para serem detectados através de técnicas de espectroscopia

de alta resolução. O emprego de conjuntos-base mais completos, a inclusão de efeitos

de correlação eletrônica e uma descrição das funções de onda vibracionais que vá

além da aproximação harmônica são fatores obviamente importantes para uma melhor

precisão quantitativa dos resultados.

2.5.2. Intensidades Raman

As intensidades Raman são obtidas teoricamente a partir das derivadas

primeiras da polarizabilidade com relação às coordenadas nucleares. Uma vez que a

42

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própria polarizabilidade é a derivada segunda da energia com relação a um campo

elétrico aplicado, a intensidade Raman é uma propriedade de derivada terceira.

As derivadas da polarizabilidade são estimadas analiticamente tomando-se a

derivada terceira da energia total do sistema em relação à componente x das

coordenadas nucleares e às componentes e do campo elétrico externo aplicado,

de acordo com a seguinte expressão:

f g

xgf

Ex

fg

∂∂∂∂

=∂

∂ 3α, (2.94)

em que

.

)(

22

023

xD

fP

xH

gfP

gfW

xS

PGgf

PgPG

fP

gP

xD

xgfE

gcaroço

xxf

∂∂

∂∂

+∂

∂∂∂

∂+

∂∂∂

∂∂

−∂∂

∂+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

∂∂

=∂∂

∂=

∂∂∂∂ µν

(2.95)

A obtenção da expressão (2.95) não é trivial. Nesta equação, e f g são

componentes de um campo elétrico aplicado e x é uma coordenada nuclear; o

símbolo denota o traço da matriz; νµµν || fD f = é a matriz da componente

do dipolo;

f

P é a matriz-densidade. denota a contração da derivada das

integrais de dois elétrons com uma matriz X, de acordo com a expressão geral:

, em que

)(xG

∑ ><=λσ

λσµν νσµλ |)( XXG >< νσµλ | é a integral de dois elétrons

antissimetrizada sobre os spin-orbitais µ , ν , λ e σ . Na notação , as

derivadas são indicadas por superescritos que especificam a variável da diferenciação

(neste caso, em relação a

)(xG

x ). é a matriz de “overlap”; W = PFP (em que F é a

matriz de Fock), denota a matriz densidade ponderada na energia;

ScaroçoH é o

Hamiltoniano do caroço. Uma descrição analítica mais detalhada do procedimento de

obtenção da Eq. (2.95) encontra-se disponível na referência [11].

As freqüências vibracionais de infravermelho e as intensidades Raman são

preditas estritamente dentro da aproximação harmônica. As freqüências harmônicas

teóricas são, em geral, mais altas do que as freqüências fundamentais observadas

experimentalmente. Tais intensidades teóricas estão geralmente em boa concordância

com os dados experimentais.

43

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3. Espectroscopias de Infravermelho e Raman

3.1. Introdução

Várias técnicas permitem a obtenção de informações sobre estrutura

molecular, níveis de energia e ligações químicas, podendo-se citar, como exemplo, a

ressonância magnética nuclear (NMR), a difração de elétrons, de nêutrons e de raios-

X, a ressonância paramagnética eletrônica (EPR), o efeito Mössbauer, as

espectroscopias Raman e de infravermelho, etc. [12].

A espectroscopia usando radiação eletromagnética em todas as regiões de

comprimentos de onda é uma das mais importantes fontes de informação experimental

para a física de átomos e moléculas. Relaciona-se a estudos da interação da radiação

eletromagnética com a matéria, sendo um de seus principais objetivos a determinação

dos níveis de energia de átomos ou moléculas. Obtêm-se diretamente as energias das

transições entre os estados e, conseqüentemente, as posições relativas dos níveis

energéticos. No caso de moléculas, a região espectral em que estas transições são

observadas depende essencialmente dos tipos de níveis envolvidos: eletrônicos,

vibracionais ou rotacionais. Normalmente, as transições eletrônicas estão situadas na

região do ultravioleta ou visível, as vibracionais na região do infravermelho e as

rotacionais na região de microondas (em casos particulares também no infravermelho

distante). As diferentes regiões espectrais exigem espectrômetros com elementos

dispersivos e detectores apropriados. Assim, cada tipo de espectroscopia tem uma

tecnologia própria associada.

Os espectros atômicos originam-se apenas de transições eletrônicas, ao passo

que os espectros moleculares são extremamente complexos, originando-se em

transições eletrônicas, vibracionais e rotacionais, com modos espectrais

interdependentes [13]. Informações sobre a estrutura molecular e sobre a interação de

moléculas com seus vizinhos podem ser obtidas de diversos modos a partir dos

espectros de emissão e absorção gerados quando a radiação interage com átomos e

moléculas.

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Medidas dos comprimentos de onda das linhas espectrais permitem a

determinação de níveis de energia de sistemas atômicos e moleculares. A intensidade

da linha é proporcional à probabilidade de transição, que mede quão fortemente dois

níveis de uma transição molecular (ou atômica) estão acoplados. Uma vez que a

probabilidade de transição depende das funções de onda de ambos os níveis de

energia, medidas de intensidade são úteis para verificar a distribuição espacial dos

elétrons, a qual pode ser estimada a partir de soluções da equação de Schrödinger. A

largura natural de uma linha espectral pode ser resolvida por técnicas especiais,

permitindo a determinação dos tempos de vida médios de estados moleculares

excitados [14]. Medidas da largura Doppler dão a distribuição de velocidades das

moléculas emitindo ou absorvendo radiação e, com isto, a temperatura da amostra. Do

alargamento por pressão e dos deslocamentos por pressão de linhas espectrais,

podem ser obtidas informações de processos de colisão e dos potenciais

interatômicos. Os efeitos de desdobramento Stark e Zeeman por campos elétricos e

magnéticos externos são importantes para medir momentos de dipolo elétricos ou

magnéticos e esclarecem o acoplamento dos diferentes momentos angulares em

átomos ou moléculas, mesmo com configurações eletrônicas complexas. A estrutura

hiperfina das linhas espectrais dá informação sobre a interação entre os núcleos e a

nuvem eletrônica e permite determinar, também, momentos de dipolo magnético

nuclear ou momentos de quadrupolo elétrico. Medidas resolvidas no tempo permitem o

acompanhamento da dinâmica das moléculas nos estados fundamental e excitado,

para estudos de processos de colisão e mecanismos de transferência de energia [14].

Estes são alguns exemplos das formas pelas quais a espectroscopia contribui

para o conhecimento do mundo sub-microscópico dos átomos e das moléculas.

Contudo, a quantidade de informação que pode ser extraída de um espectro depende

essencialmente do tipo de fonte de radiação usada para “iluminar” as amostras, se

coerente (laser) ou incoerente, da resolução temporal ou espectral dos instrumentos

de dispersão empregados e, finalmente, da sensibilidade de detecção atingida.

3.1.1. O Espectro Eletromagnético

O espectro de radiações eletromagnéticas (Fig. 3.1) estende-se, em ordem

crescente de energia, das ondas de rádio, com longos comprimentos de onda (103 –

100 m), até radiações de altíssima energia (raios-X e raios-γ) com comprimentos de

onda muito curtos, entre 10-10 e 10-15 m.

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O espectro inclui também regiões de radiação com energias intermediárias,

entre as microondas e o ultravioleta. Cada uma dessas regiões tem suas formas

próprias de serem produzidas e detectadas e não existe uma interface perfeitamente

definida entre regiões adjacentes, sendo o espectro contínuo do ponto de vista

macroscópico.

(a)

(b)

Figura 3.1. (a) Esquema do espectro eletromagnético, desde as ondas de rádio, com longos

comprimentos de onda, até a região dos raios-X e da radiação γ, com comprimentos de onda

muito curtos. (b) Esquema do espectro eletromagnético na região do visível.

As microondas são ondas eletromagnéticas com freqüências na faixa de 1 a

100 GHz. Esta é a região da espectroscopia rotacional, especialmente para moléculas

pequenas na fase gasosa. O extremo superior desta região já se sobrepõe com a

região espectral do infravermelho distante.

O infravermelho se estende do limite superior da faixa de microondas até o

começo da região do espectro visível, em um comprimento de onda de cerca de 800

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nm. A parte de comprimentos de onda mais longos (0.1–1 mm) é aplicável à excitação

de espectros rotacionais, enquanto a extremidade de comprimentos de onda menores

(o infravermelho próximo, λ = 10-3 – 10-1 mm) é a região em que espectros vibracionais

típicos das moléculas são observados, os chamados espectros rotacionais-

vibracionais.

As transições eletrônicas começam no infravermelho; contudo elas ocorrem

mais freqüentemente nas regiões do visível e do ultravioleta, em que são observados

espectros de banda de moléculas, no sentido próprio do termo, isto é, espectros

consistindo de transições eletrônicas com transições vibracionais e rotacionais

superpostas.

Além da extremidade de comprimentos de onda curtos do ultravioleta, e

sobrepondo-se com ela, está a região dos raios-X e, em seguida, da radiação γ. Com

radiações de energias tão elevadas, transições e estados dos elétrons mais internos,

aqueles nas camadas mais internas do átomo, podem ser investigados, especialmente

por espectroscopia de fotoelétrons.

Desconsiderando a energia devida aos movimentos translacionais, podemos

expressar a energia total de excitação de uma molécula, com boa aproximação, como

a soma das energias de excitações parciais dos níveis eletrônico, vibracional e

rotacional mencionadas acima, sendo esta última considerada somente no caso de

moléculas pequenas na fase gasosa:

rotvibel EEEE ++= , sendo . (3.1) rotvibel EEE >>>>

Isto permite, numa primeira aproximação, que estes níveis possam ser

considerados separadamente, isto é, cada tipo de espectro possa ser estudado

independentemente das interações entre eles. Na realidade, as transições eletrônicas

envolvem uma estrutura vibracional e rotacional que pode ou não estar resolvida. As

transições vibracionais envolvem níveis vibracionais e rotacionais e somente os

espectros rotacionais seriam puros, no sentido de que as transições ocorrem entre

níveis rotacionais de um mesmo estado vibracional e eletrônico [9].

Conforme foi descrito no Capítulo 2, a separação entre os movimentos dos

núcleos e dos elétrons, a aproximação de Born-Oppenheimer, resulta principalmente

da grande diferença entre as massas dos núcleos e dos elétrons. Sendo o movimento

dos elétrons muito mais rápido do que o dos núcleos, pode-se considerar a posição

dos núcleos como fixa durante a transição eletrônica. Do mesmo modo, durante o

movimento dos núcleos, pode-se considerar uma distribuição média dos elétrons. A

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interação da radiação eletromagnética com o movimento vibracional dos núcleos

origina o espectro vibracional no infravermelho ou o espalhamento Raman.

A Fig. 3.2 ilustra os níveis vibracionais e rotacionais em dois estados

eletrônicos de uma molécula (I e II) e as possíveis transições entre eles.

Figura 3.2. Níveis vibracionais (v) e rotacionais (J) de dois estados eletrônicos de uma

molécula, denotados por I e II. As três setas indicam (da esquerda para a direita) transições

rotacional, rotacional-vibracional e eletrônica da molécula.

As transições obedecem às chamadas regras de seleção e podemos distinguir

três tipos de espectros ópticos:

- espectros rotacionais: são transições entre os níveis rotacionais de um dado

nível vibracional em um estado eletrônico particular. Estes espectros estão na região

de microondas ou no infravermelho distante e consistem tipicamente de um grande

número de linhas espectrais aproximadamente eqüidistantes. Os espectros rotacionais

também podem ser observados por meio de espectroscopia Raman;

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- espectros rotacionais-vibracionais: consistem de transições dos níveis

rotacionais de um certo estado vibracional para os níveis rotacionais de um outro

estado vibracional no mesmo estado eletrônico. O estado de excitação eletrônica,

assim, permanece inalterado. Estes espectros se encontram na região do

infravermelho e consistem de “bandas”, que são grupos de linhas estreitamente

espaçadas, denominadas de linhas de banda, podendo ser observados com

espectroscopias Raman e de infravermelho;

- espectros eletrônicos: consistem de transições entre os níveis rotacionais dos

vários níveis vibracionais de um estado eletrônico e os níveis rotacionais e vibracionais

de um outro estado eletrônico. Isto é chamado sistemas de bandas. Nestes espectros,

estão contidas todas as bandas vibracionais da transição eletrônica em observação,

cada uma das quais com sua estrutura rotacional.

A discussão abordada neste capítulo se restringe apenas ao estudo dos

espectros Raman e de infravermelho vibracionais, tendo em vista que em nossos

estudos teóricos e experimentais investigamos somente espectros desta natureza.

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3.2. Espectros de Infravermelho

A discussão que se segue nesta seção baseia-se na referência [12], exceto

pela seção 3.2.2.

3.2.1. Espectro Vibracional de Moléculas Diatômicas

Rigorosamente falando, as vibrações moleculares devem ser tratadas

quanticamente. Contudo, no caso de moléculas poliatômicas, o método clássico é

considerado como uma maneira prática de resolver o problema vibracional. Por outro

lado, para moléculas pequenas, resultados semelhantes podem ser obtidos pelos

métodos clássico e quântico para algumas propriedades físicas, particularmente

aquelas relacionadas com as freqüências vibracionais.

Mesmo classicamente, o tratamento de moléculas poliatômicas seria

geralmente bastante difícil, se não fizéssemos uso das propriedades de simetria

molecular e de teoria de grupos. Cada um dos N átomos de uma molécula possui 3

graus de liberdade. Se houver interesse somente no estudo dos movimentos

vibracionais, podem ser descartados os 3 graus de liberdade translacional, devidos ao

movimento em fase de todos os átomos nas direções x, y ou z, ou seja, dos

movimentos translacionais do centro de massa da molécula. Mais 3 graus de liberdade

podem ser eliminados para moléculas não-lineares, correspondentes aos movimentos

rotacionais da molécula. Os 3N-6 graus de liberdade restantes correspondem a

movimentos vibracionais, ou seja, podemos esperar 3N-6 modos vibracionais

fundamentais.

Se não houver modos degenerados, haverá, portanto, 3N-6 freqüências

fundamentais, caso contrário, o número de freqüências observadas será menor do que

3N-6. No caso de moléculas lineares, haverá somente dois graus de liberdade

rotacionais, pois considerando-se os núcleos como puntuais, não ocorrerá rotação no

eixo da molécula e teremos 3N-5 graus de liberdade vibracionais. Isso nos permite

prever que numa molécula com 5 átomos, relativamente simples, chegaríamos a uma

equação de movimento de nono grau, cujas raízes seriam relacionadas às freqüências

vibracionais. Os métodos de cálculo utilizando propriedades de simetria e de teoria de

grupos permitem o fatoramento da equação em várias equações de menor grau, mais

fáceis de serem resolvidas.

Classicamente, a absorção (ou emissão) de radiação por um sistema se deve à

variação periódica de seu momento de dipolo elétrico, sendo a freqüência absorvida

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(ou emitida) idêntica à da oscilação do dipolo. Assim, desde que o momento de

dipoloµr , ou uma de suas três componentes, possa oscilar com a mesma freqüência

da radiação incidente, a molécula absorverá esta radiação. A manifestação ou não

dessa ressonância caracteriza os chamados modos normais de infravermelho polares

ou apolares.

O momento de dipolo é determinado pela configuração nuclear e quando a

molécula vibra, o momento de dipolo pode sofrer variação. No caso de moléculas

diatômicas, a única coordenada normal do sistema coincide com a coordenada interna

da ligação, q. Portanto, podemos expandir o momento de dipolo em série de Taylor da

coordenada q, para cada uma das componentes µx, µy e µz ou, numa forma

condensada,

L

rrrr

+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+= 2

02

2

00 !2

1 qdqdq

dqd µµµµ , (3.2)

em que 0µr

é o vetor momento de dipolo permanente e as derivadas são tomadas na

posição de equilíbrio. Para pequenos deslocamentos em relação a esta posição, os

termos de ordens mais altas podem ser desprezados. A condição de variação do

momento de dipolo com a vibração, para haver absorção no infravermelho, implica em

0)( 0 ≠dqdµr , pelo menos para uma das componentes µx, µy ou µz.

Pela mecânica quântica, a transição entre dois estados, caracterizados pelas

funções de onda Ψm e Ψn, é descrita pelo momento de transição de dipolo,

∫ ΨΨ= τµµ dnmmnrr * , (3.3)

ou, explicitamente, pelas suas componentes:

xmnnxmmnx d )()( * µτµµ =ΨΨ= ∫ ,

ymnnymmny d )()( * µτµµ =ΨΨ= ∫ , (3.4)

zmnnzmmnz d )()( * µτµµ =ΨΨ= ∫ .

Os valores dessas integrais determinam a intensidade no infravermelho, que é

proporcional à probabilidade de transição |µmn|2 (ou à soma dos quadrados das

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componentes). Para a transição ser permitida, é necessário que pelo menos uma das

integrais da Eq. (3.4) seja diferente de zero.

Expandindo a expressão do momento de transição de dipolo em série de

Taylor, na aproximação considerada, podemos escrever:

∫∫ ΨΨ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+ΨΨ= τµτµµ dq

dqdd nmnmmn

*

0

*0

rrr

. (3.5)

A primeira integral do segundo membro é igual a zero, pela condição de

ortogonalidade das funções de onda (a não ser quando m = n, caso em que não

ocorre transição e µmm é o valor do dipolo permanente e não mais do momento de

transição). Para o segundo termo da Eq. (3.5) ser diferente de zero, é necessário que

sejam satisfeitas as seguintes condições:

(1) 0)( 0 ≠dqdµr , ou seja, deve haver variação do momento de dipolo com a pequena

vibração em torno da posição de equilíbrio;

(2) . Para esta integral ser diferente de zero, o produto deve

ser uma função par. Como q é uma função ímpar, é necessário que o produto [Ψ

0* ≠ΨΨ∫ τdq nm ][ *nmqΨΨ

mΨn]

seja uma função ímpar, isto é, as duas funções de onda devem ter paridades

diferentes. A regra de seleção para o oscilador harmônico é 1±=−=∆ nmv (para

uma única excitação), sendo v o número quântico vibracional. Neste caso, o sinal “+”

vale para a absorção e o sinal “-” para a emissão.

Como conseqüência da primeira condição, uma molécula diatômica

homonuclear não apresenta espectro vibracional no infravermelho, pois seu momento

de dipolo continua sendo nulo durante a vibração.

Para uma molécula diatômica heteronuclear, o movimento vibracional causará

variação do momento de dipolo e haverá atividade no infravermelho. Sendo as

transições vibracionais usualmente dadas em unidades de cm-1 (número de onda), os

termos de energia, aqui denotados por Gv, podem ser convenientemente escritos

nesta unidade. Embora esta unidade de medida corresponda ao número de onda,

ainda é usual em espectroscopia vibracional associá-la à freqüência (ou à freqüência

em cm-1). Assim, a freqüência observada será dada pela expressão:

eeeGG ωνωνωνν =⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +−⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ +=−+ 2

123

1 , (3.6)

em que v é o número quântico vibracional, ωe = ν/c é o valor clássico da freqüência do

oscilador harmônico, sendo c a velocidade da luz no vácuo (3,0 x 108 m/s).

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Na seção 3.2.2, descrevemos a técnica de espectroscopia de infravermelho

por transformada de Fourier (FTIR), com base na referência [15]. Esta discussão é

feita a fim de proporcionar embasamento teórico aos nossos estudos experimentais,

realizados no Laboratório de Espectroscopia de Infravermelho da UFMG, no qual

empregamos a referida técnica.

3.2.2. Espectroscopia de FTIR

A espectroscopia de infravermelho é considerada uma técnica bastante

importante no universo dos modernos equipamentos utilizados na investigação das

propriedades da matéria. Sendo uma técnica atualmente bem estabelecida, serve

tanto à realização de trabalhos de rotina – caracterização de amostras – quanto à

elucidação de estruturas moleculares complexas.

Até a década de 70, os equipamentos eram baseados em princípios

dispersivos: presença de prismas, redes de difração, fendas, etc. A partir daí,

começaram a ser progressivamente substituídos por equipamentos baseados em

princípios interferométricos, propiciando uma espécie de “renascimento” do

interferômetro de Michelson, tendência que se consolidou na década de 80.

A descrição das funções periódicas pelo método de transformada de Fourier,

associada aos então modernos sistemas computacionais, permitiram o nascimento da

espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR). É importante

salientar que, tanto os princípios interferométricos quanto a própria transformada de

Fourier já eram há muito tempo conhecidos, ficando a modernidade da técnica por

conta do desenvolvimento de novos algoritmos ou, em termos finais, às inúmeras

possibilidades computacionais.

3.2.2.1. Princípios Técnicos Básicos

A partir de 1970, um número significativo de trabalhos foram dedicados aos

aspectos básicos da técnica de FTIR. Esta técnica é baseada na geração de um

interferograma, o chamado Interferômetro de Michelson. De acordo com o esquema

da Fig. 3.3, um feixe proveniente da fonte F é dividido em dois, FF e FM, após

atravessarem um divisor de feixe DF (“beam-splitter”), colocado a 45o em relação aos

espelhos EF e EM, espelho fixo e espelho móvel, respectivamente. O material do qual é

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fabricado e a espessura do divisor de feixe DF são escolhidos de modo que seu poder

de transmissão seja igualmente sensível à região de interesse no infravermelho. O

feixe FF é refletido pelo espelho EF e o feixe FM pelo espelho EM, que interagem

construtiva ou destrutivamente, dependendo da diferença de fase introduzida pela

diferença de caminho percorrido; por fim atingem o detector D. Um dispositivo permite

conhecer a distância x/2, entre o plano O e o espelho EM (o qual executa movimento

harmônico simples),. em relação ao divisor de feixe.

Figura 3.3. Esquema de um interferômetro de Michelson.

Na Fig. 3.4 é mostrado um esquema geral, mais detalhado, de um

espectrômetro baseado na transformada de Fourier. A radiação policromática,

proveniente de uma fonte F, é colimada através dos espelhos E1, E2 e E3, indo incidir

sobre o divisor de feixe DF que, como já mencionado, divide a radiação para os

espelhos móvel EM e fixo EF. A luz enviada atravessa os espelhos E5 e E6, que focam

os feixes sobre o compartimento da amostra. (Saliente-se aqui que a radiação, ao

passar pelo interferômetro, torna-se modulada). Após passar pelo compartimento da

amostra, a radiação encontra toda uma óptica de condensação e focalização,

constituída pelos espelhos E7, E8, E9 e E10 que enviam a radiação transmitida para o

detector D.

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Figura 3.4. Esquema geral de um espectrômetro interferométrico. Algumas partes podem variar

de acordo com o modelo e a marca, porém os componentes principais estão presentes em

todos os equipamentos: fonte, divisores de feixe, compartimentos das amostras, detector.

A eletrônica associada ao detector é concebida de modo que não responda a

ruídos, desprezando a radiação não-modulada que eventualmente possa estar sendo

emitida pela amostra ou proveniente de alguma fonte quente próxima. Um

interferograma típico observado é representado na Fig. 3.5. A interferência construtiva

(máximo) corresponde a uma situação na qual os caminhos ópticos dos feixes FF e FM

são iguais (em fase). A interferência destrutiva, por outro lado, se manifesta quando os

feixes estão fora de fase. É importante frisar que, diferentemente dos equipamentos

dispersivos (nos quais se tem uma “varredura” de freqüências individuais), nos

instrumentos interferométricos cada interferograma é a somatória dos componentes de

cada freqüência. Isso equivale a afirmar que cada interferograma contém toda a

informação espectral dentro da região na qual o detector apresenta sensibilidade. O

laser que aparece no esquema da Fig. 3.4 é utilizado para calibrar o número de onda

do espectrômetro.

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Figura 3.5. Exemplo de um interferograma.

3.2.2.2. Do Interferograma ao Espectro

Como vimos no tópico precedente, designam-se como interferogramas as

variações de intensidade I(x) medidas pelo detector em função da posição x do

espelho móvel EM. Assim sendo, se forem consideradas as vibrações luminosas de

número de onda ν , o “atraso” óptico será dado por xνπ2 . Considerando-se

νν dI )( como a intensidade da fonte no intervalo νd , nas proximidades do número de

onda ν , temos:

)2cos1()()( xdAIxdI νπνν += , (3.7)

em que é a intensidade do feixe, resultante da combinação das vibrações

luminosas no intervalo

)(xdI

νd ; o produto νν dAI )( é a intensidade da fonte e o fator

)2cos1( xνπ+ corresponde ao termo que dá conta da defasagem das vibrações

luminosas. O termo está associado à eficiência do divisor de feixe e às perdas de

luminosidade que podem ocorrer nos espelhos.

A

Todo o domínio espectral é observado simultaneamente. Na ausência da

amostra, integrando sobre todos os números de onda, a expressão seguinte

corresponde à intensidade do feixe,

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∫∞

+=0

)2cos1)(()( ννπν dxAIxI . (3.8)

Uma vez que vários termos da Eq. (3.8) são constantes, em particular o termo

νν dI )( , que corresponde à intensidade total da fonte, podemos dizer que:

∫∞

=0

2cos)()( ννπν xdIxF . (3.9)

O valor de depende somente da posição do espelho móvel E)(xF M e do

espectro )(νI . Como é possível observar na Fig. 3.5, o interferograma é simétrico em

relação ao eixo x.

A expressão é uma transformada de Fourier, sendo assim, a intensidade

espectral é dada por:

)(xF

∫∞

=0

2cos)()( xdxxFI νπν . (3.10)

A Eq. (3.10) relaciona o interferograma ao espectro óptico, ou seja, o espectro que se

obtém é a transformada de Fourier do interferograma.

Algumas considerações sobre a transformada de Fourier são importantes neste

ponto. O deslocamento do espelho móvel EM está necessariamente limitado a um

domínio . Assim sendo, a intensidade será dada pela seguinte expressão: ),( xx +−

∫+

=x

x

xdxxFI νπν 2cos)()(' . (3.11)

Uma das maneiras de se obter a Eq. (3.11) consiste na realização de cálculos

concomitantemente com o deslocamento do espelho. Os valores de são

medidos ponto a ponto para todos os ∆x. Assim, quando o espelho móvel E

)(xF

M estiver na

posição x0 , mede-se e calcula-se )( 0xF xxF ∆)( 0 . Para a posição x1, mede-se

e efetua-se o cálculo:

)( 1xF

xxxFxxF ∆+∆ 110 2cos)(2)( νπ . (3.12)

Na posição , mede-se e calcula-se: nx )( nxF

AxxxFAxxxFAxxFI nn νπνπν 2cos)(22cos)(2)()(' 110 L++= . (3.13)

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Estes cálculos são realizados atribuindo-se todos os valores ν necessários à

obtenção do maior número de pontos sobre a faixa espectral de interesse. Tal

procedimento é mostrado na Fig. 3.6.

Figura 3.6. Procedimento para o cálculo da função )(' νI para os diferentes valores de x.

Outros métodos de cálculo são também utilizados. Um deles está baseado na

adição sucessiva de diversos interferogramas. Nesse caso, a transformada de Fourier

é efetuada sobre a soma dos interferogramas. O resultado desse tipo de procedimento

revela-se através de um aumento notável de sensibilidade. Atualmente, os

equipamentos comerciais, mesmo os mais simples, além de permitirem a visualização

quase instantânea dos espectros, possuem incorporados em seus sistemas

computacionais “softwares” que permitem os mais diferentes tipos de tratamento de

dados.

A título de ilustração, na Fig. 3.7 mostramos um interferograma de um filme de

poliestireno, onde podemos identificar as regiões de interferência construtiva e

destrutiva. Na Fig. 3.8 temos o espectro )(νI em número de onda, após a aplicação

da transformada de Fourier e eliminação da radiação de fundo. Na Fig. 3.9 é mostrado

um “background” típico em referência de KBr, no qual é possível observar as bandas

de absorção devidas à presença da água (3400 cm-1 e 1600 cm-1) e do CO2 (~ 2300

cm-1) na atmosfera.

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Figura 3.7. Exemplo de interferograma do poliestireno.

Figura 3.8. Exemplo do espectro de infravermelho do poliestireno.

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Figura 3.9. “Background” utilizado para a obtenção do espectro do poliestireno mostrado na

Fig. 3.8.

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3.3. Espectros Raman

A discussão apresentada nesta seção baseia-se na referência [12].

3.3.1. Espectro Vibracional de Moléculas Diatômicas

Uma maneira indireta de se observar os espectros vibracionais, transferindo

para a região do visível as informações que seriam normalmente obtidas no

infravermelho, é através do espalhamento Raman, ou seja, do espalhamento inelástico

da radiação eletromagnética monocromática que interage com as moléculas. As

freqüências vibracionais são determinadas pelas diferenças entre as freqüências das

radiações espalhadas e a da radiação incidente.

Embora, como resultado, a molécula possa passar de um estado vibracional

para outro, o fenômeno é fisicamente diferente da absorção de radiação. A absorção

na região do infravermelho envolve uma ressonância entre a diferença de níveis de

energia da molécula e a radiação eletromagnética. No espalhamento Raman, uma

radiação, geralmente no visível ou no ultravioleta, interage com a molécula e é

espalhada com freqüência ligeiramente modificada. Esta variação de freqüência

corresponde à diferença de energia entre dois estados vibracionais. Considerando os

mesmos estados vibracionais, a freqüência Raman seria a mesma do infravermelho.

Embora os mesmos valores de freqüências vibracionais sejam obtidos através

dos espectros Raman e de infravermelho, o fato de diferentes mecanismos estarem

envolvidos leva a um questionamento: estes espectros seriam ou não idênticos? Como

visto, para um modo vibracional ser ativo no infravermelho é necessário que haja

variação do momento de dipolo intrínseco durante essa vibração. A atividade Raman

difere no sentido de que o momento de dipolo a ser considerado é o induzido pela

radiação eletromagnética, isto é, deve haver variação da polarizabilidade da molécula

durante a vibração. O estudo envolvendo medidas de intensidades das bandas é bem

mais complicado, exigindo tratamento por mecânica quântica. Contudo, para uma

análise vibracional envolvendo somente os valores de freqüências, é suficiente ter

noção das propriedades de simetria e de teoria de grupos. Utilizando-se a teoria de

grupos, podemos prever o número de modos vibracionais ativos no Raman e no

infravermelho.

61

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Classicamente, o vetor do momento de dipolo induzido pode ser escrito como

Err αµ = , sendo α a polarizabilidade da molécula e E

r o vetor campo elétrico da

radiação incidente. A polarizabilidade α, num desenvolvimento em série na

coordenada interna q (considerando-se um sistema diatômico) pode ser escrita como:

L+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+= 2

2

2

00 !2

1 qdqdq

dqd αααα . (3.14)

Supondo que a coordenada q e o campo elétrico Er

sejam descritos por

)2cos(0 tqq vπν= e )2cos( 00 tEE πνrr

= , (3.15)

em que νν e 0ν são, respectivamente, as freqüências vibracional e da radiação

incidente, o momento de dipolo induzido será dado por

)2cos()2cos()2cos()( 0000

000 ttEqdqdtEt vπνπναπναµ

rrr⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+= . (3.16)

Nesta equação, os termos de ordens mais altas podem ser desprezados para

pequenas variações da coordenada q em torno da posição de equilíbrio. Tem-se então

que

]})(2cos[])(2{cos[21)2cos( 0000

0000 ttEq

dqdtE vv ννπννπαπναµ −++⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+=

rrr. (3.17)

O primeiro termo contém somente a freqüência da radiação incidente e

corresponde ao espalhamento Rayleigh (espalhamento elástico). No segundo termo,

aparecem radiações espalhadas com freqüências vνν −0 (espalhamento Raman

Stokes) e vνν +0 (espalhamento Raman anti-Stokes). Para os dois últimos termos

terem contribuição, é necessário que 0)/( 0 ≠dqdα , ou seja, deve haver variação da

polarizabilidade com o pequeno deslocamento da coordenada q em torno da posição

de equilíbrio.

No efeito Raman, tanto moléculas diatômicas heteronucleares como

homonucleares apresentam atividade, pois em ambos os casos ocorre variação da

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polarizabilidade com a vibração. No espectro, tem-se simetricamente em relação à

linha Rayleigh uma banda do lado de freqüências mais baixas, correspondendo à

banda Stokes e uma do lado de freqüências mais altas, correspondendo à banda anti-

Stokes. Classicamente, as duas deveriam ter a mesma intensidade, mas observa-se

que a banda Stokes é mais intensa que a anti-Stokes. Para explicar esse

comportamento, é necessário recorrer ao modelo quântico.

Correspondendo ao momento de transição de dipolo, a polarizabilidade é

expressa como

∫ ΨΨ= ταα dnmmn* . (3.18)

A relação entre as componentes do momento de dipolo induzido e as

componentes do campo elétrico é dada pelas seguintes equações:

zxzyxyxxxx EEE αααµ ++= ;

zyzyyyxyxy EEE αααµ ++= ; (3.19)

zzzyzyxzxz EEE αααµ ++= .

As componentes ijα que relacionam os dois vetores formam um tensor

simétrico no efeito Raman normal, isto é, zyyzzxxzyzxy αααααα === ;; .

Para cada transição entre os estados vibracionais m e n, devem ser

consideradas as componentes mnij )(α , em que i e j são x, y ou z. Para haver atividade

no Raman, pelo menos uma das componentes ∫ ΨΨ= ταα dnijmmnij*)( deve ser

diferente de zero.

Substituindo-se a Eq. (3.14) na expressão de αmn, na aproximação harmônica

considerada, temos que

∫∫ ΨΨ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+ΨΨ= ταταα dq

dqdd nmnmmn

*

0

*0 . (3.20)

No espalhamento Raman Stokes ou anti-Stokes, os estados vibracionais m e n

são diferentes e a primeira integral do segundo membro é sempre igual a zero, pela

condição de ortogonalidade entre Ψm e Ψn. Para o segundo termo ser diferente de

zero, é necessário que sejam satisfeitas as duas condições seguintes:

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(1) ( ) 00 ≠qddα , ou seja, deve haver variação da polarizabilidade com a pequena

vibração em torno da posição de equilíbrio;

(2) . Esta condição já foi discutida na atividade no infravermelho, na

sub-seção 3.2.1. A regra de seleção para o oscilador harmônico é

0* ≠ΨΨ∫ τdq nm

1±=−=∆ nmv

(considerando-se apenas uma excitação), em que o sinal “+” vale para Stokes e o

sinal “-“ vale para anti-Stokes, sendo v o número quântico vibracional. Se m = n, tem-

se o espalhamento elástico Rayleigh.

A intensidade Raman depende da probabilidade de transição, ou seja, do

quadrado do momento de transição e da quarta potência da freqüência da radiação

espalhada, de acordo com a equação:

∑∑⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

i jmnijmn I

cI

2404

2

)(9

16 ανπ, (3.21)

em que I0 é a intensidade da radiação incidente e ν é a freqüência da radiação

espalhada.

Os mecanismos de espalhamento podem ser representados pelo esquema da

Fig. 3.10.

Figura 3.10. Representação esquemática dos mecanismos de espalhamento Raman.

No espalhamento Raman Stokes, a molécula num estado inicial sofre colisão

com um fóton de energia hν0, passa para um estado intermediário (ou virtual), que não

precisa ser um estado estacionário da molécula e decai em seguida para um estado

vibracionalmente excitado, de energia eν; o fóton espalhado terá energia menor do que

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o incidente, [hν0 - eν]. No espalhamento Rayleigh, após a interação do fóton com a

molécula, esta retorna ao mesmo nível de energia inicial e o fóton é espalhado sem

modificação de freqüência. No espalhamento Raman anti-Stokes, o fóton encontra a

molécula já num estado excitado e, após a interação, a molécula decai para seu

estado inicial. Esta diferença de energia é cedida ao fóton, que é espalhado com

energia [hν0 + eν].

O esquema mostrado na Fig. 3.10 é útil para visualizar o espalhamento

Raman, mostrando que, além dos estados inicial e final da molécula, também

comparece o estado intermediário. Na realidade deve-se pensar que, após a colisão

do fóton com a molécula, este é aniquilado e a molécula sofre uma perturbação em

todos os seus estados de energia. Isto é representado por uma somatória sobre todos

os seus estados. Quando ocorre que a radiação excitante tem comprimento de onda

situado dentro de uma banda de absorção intensa do composto, funções de onda

cujos auto-valores estão próximos ao nível intermediário, no esquema da Fig. 3.10,

terão contribuição preponderante.

Como a população de estados excitados segue a distribuição de Boltzmann,

deve-se esperar para as bandas anti-Stokes uma intensidade menor do que para as

Stokes. Isto se verifica experimentalmente e a relação entre as intensidades anti-

Stokes/Stokes, , é dada por SA II /

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛−+

=kTe

II v

v

v

S

A exp0

0

νννν

. (3.22)

Para baixas freqüências, as intensidades Stokes e anti-Stokes são

comparáveis, mas para freqüências vibracionais muito altas, torna-se difícil observar

as bandas anti-Stokes.

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3.4. Vibrações Moleculares e Coordenadas Normais

A discussão que se segue nesta seção é baseada na referência [16].

Seja U a energia potencial de um sistema de n átomos, escrita em função das

coordenadas generalizadas )3,,2,1( niqi K= , apresentando um mínimo para .

Considerando para pequenos deslocamentos em torno da posição de

equilíbrio e expandindo U como uma função de para os termos quadráticos,

obtemos a energia potencial como uma forma quadrática positiva ,

0ii qq =

0iii qqx −=

ix

kiki

ik xxkU ∑=,2

1, (3.23)

,

em que tomamos o valor minimo da energia potencial como zero. Uma vez que os

coeficientes na Eq. (3.23) multiplicam a mesma quantidade , obviamente

podemos considerar .

ikk ki xx

kiik kk =

A energia cinética T também pode ser escrita como uma forma quadrática

positiva das velocidades,

∑=ki

kiik xxmT,2

1&& . (3.24)

Os coeficientes também podem sempre ser considerados como simétricos:

. Então, a Lagrangeana de um sistema executando pequenas oscilações

livres é dada por:

ikm

kiik mm =

kiikki

kiik xxkxxmL −= ∑,2

1&& . (3.25)

Dessa forma,

kk

iki

xmxL

&&

∑=∂∂

, kk

iki

xkxL ∑−=∂∂

. (3.26)

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As equações de Lagrange são escritas como

0=+∑ ∑k

kk

ikkik xkxm && , (i = 1,2, ...,k). (3.27)

Estas equações formam um conjunto de k equações diferenciais homogêneas

com coeficientes constantes. Procurando soluções da forma k )(txk

)exp( tiAx kk ω= , (3.28)

em que são constantes a serem determinadas, obtemos um conjunto de equações

algébricas lineares homogêneas a serem satisfeitas pelas :

kA

kA

0)( 2 =+−∑k

kikik Akmω , (3.29)

com equação característica

02 =− ikik mk ω . (3.30)

Em geral, esta equação terá raízes reais e distintas, ; em

casos particulares, algumas dessas raízes podem coincidir. As grandezas

determinadas são as freqüências características ou as auto-freqüências do sistema.

k ),...,2,1(2 k=αωα

2αω

Tendo sido encontradas as freqüências αω , substituímos cada um destes

termos nas Eqs. (3.29) e encontramos os coeficientes correspondentes . Se todas

as raízes

kA

αω da equação característica forem diferentes, os coeficientes serão

proporcionais aos menores do determinante da Eq. (3.30), com

kA

αωω = . Sejam estes

menores . Uma solução particular das equações diferenciais (3.30) é, então, αk∆

)exp( tiCx kk ααα ω∆= , em que é uma constante complexa arbitrária. αC

A solução geral é a soma das soluções particulares. Tomando a parte real

dela, temos:

k

, (3.31) ∑=

Θ∆=∆=n

kkk tiCrex1

)exp(α α

ααααα ω ∑

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em que

)]exp([ tiCre ααα ω=Θ . (3.32)

A variação temporal de cada coordenada do sistema é uma superposição de

oscilações periódicas simples,

n

nΘΘΘ ,...,, 21 , com amplitudes e fases arbitrárias, mas

com freqüências definidas. As coordenadas generalizadas podem ser escolhidas de tal

forma que cada uma delas execute somente uma oscilação simples. Considerando a

Eq. (3.31) como definindo um conjunto de equações de n incógnitas , podemos

expressar em termos das coordenadas . As grandezas

αΘ

nΘΘΘ ,...,, 21 nxx, 2x ,...,1 αΘ

podem ser consideradas como novas coordenadas generalizadas, as chamadas

coordenadas normais, as quais executam oscilações periódicas simples, chamadas

oscilações normais do sistema.

As coordenadas normais αΘ satisfazem as equações:

. (3.33) 02 =Θ+Θ ααα ω&&

Isto significa que, em coordenadas normais, as equações de movimento tornam-se

equações independentes. A aceleração em cada coordenada normal depende

somente do valor daquela coordenada e sua dependência temporal é inteiramente

determinada pelos valores iniciais da coordenada e da velocidade correspondente. Em

outras palavras, as oscilações normais do sistema são completamente independentes.

n

É evidente que a Lagrangeana, expressa em termos de coordenadas normais,

é uma soma de expressões, cada uma das quais correspondendo à oscilação em uma

dimensão com uma das freqüências αω :

∑ Θ−Θ=α

αααα ω )(21 222&mL , (3.34)

em que são constantes positivas. Definindo αm ααα Θ= mQ , temos que

)(21 222

ααα

α ω QQL −= ∑ & . (3.35)

A discussão acima necessita de pequena alteração quando algumas raízes da

equação característica coincidem.

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Neste caso, a cada freqüência degenerada corresponde um conjunto de

coordenadas normais em número igual à sua multiplicidade, mas a escolha destas

coordenadas não é única: as coordenadas normais com αω em comum podem ser

transformadas linearmente umas nas outras, continuando soluções.

A energia total do sistema,

∑=

+=+=n

QQUTE1

222 )]()[(21

αααα ω& , ... (3.36)

é a soma das energias de osciladores harmônicos, em que cada coordenada normal

oscila independentemente das demais. Em outras palavras, o tratamento aplicado

permite desacoplar os osciladores em osciladores harmônicos independentes por meio

das coordenadas normais.

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4. Estudo das Biomoléculas de Celulose e Lignina

4.1. O Problema A utilização de biomateriais em processos de acumulação e remoção de metais

pesados de soluções aquosas tem sido proposta por muitos pesquisadores como um

método alternativo e relativamente barato para o tratamento da água e na recuperação

de íons metálicos de interesse na indústria e no comércio [17].

Tradicionalmente, a recuperação efetiva de áreas contaminadas requer

procedimentos complicados e onerosos, dentre os quais podem ser citados a remoção

e o transporte arriscado de solos e as enormes taxas de desperdício de água em

tratamentos químicos, como a utilização de carvão ativado e os mecanismos de troca

iônica. Devido ao alto custo destes métodos há uma necessidade crucial de se

desenvolver novos procedimentos, não somente economicamente viáveis, mas que

possam ser facilmente postos em prática [18].

Recentemente, a fitorremediação usando sistemas biológicos vem emergindo

como uma tecnologia alternativa eficaz na remoção de poluentes ambientais. Novas

linhas de pesquisa vêm fazendo uso intensivo de plantas para a remediação

ambiental, devido à sua capacidade de retenção natural de metais pesados e de

compostos orgânicos degradados.

A bioacumulação é uma das ferramentas tecnológicas empregadas em

processos de retenção de contaminantes à base de metais pesados pelo uso de

organismos vivos. Esta retenção depende fundamentalmente das atividades

metabólicas das células, uma vez que variações significativas nas taxas de retenção

de íons metálicos influenciam diretamente na capacidade de sobrevivência dos

organismos. O processo de bioacumulação é bastante eficiente em baixas

concentrações. Entretanto, sistemas orgânicos vivos são limitados pelos efeitos

tóxicos de altos níveis de contaminação. Dessa forma, embora seja de grande

interesse em toxologia, é um processo menos eficiente na recuperação de metais, pois

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requer o metabolismo celular ativo, exigindo um ambiente de cultura adequado, além

de apresentar certas dificuldades na recuperação do metal absorvido pela célula [1].

Diversos outros sistemas de tratamento biológico para resíduos industriais

foram instalados nos países industrializados nas últimas décadas. Na maioria dos

casos, entretanto, não há uma etapa de tratamento específica para a remoção ou

recuperação dos metais de interesse. Com o acúmulo de metais durante o tratamento

biológico, o lodo resultante pode conter uma concentração razoável de metais, o que

restringe os benefícios do uso dos lodos como fertilizantes. Isto requer que estes

sejam incinerados ou dispostos adequadamente em solos, causando poluição do ar e

dificuldade de disposição das cinzas, com conseqüente geração de gastos e perdas

de elementos de valor econômico [17].

Inúmeras pesquisas tentam avaliar se a biossorção poderia prover uma

ferramenta alternativa com características de custo-benefício atraentes. Determinadas

espécies de biomassa são capazes de acumular íons metálicos, que podem depois

ser removidos por procedimentos específicos [1]. Uma característica importante deste

processo é que ele pode ser observado mesmo na ausência de atividades metabólicas

pelas células. As paredes celulares dos vegetais, por exemplo, que constituem

materiais residuais da célula morta, ainda manifestam poderosa ação biossorvente,

com alta capacidade de captura de íons metálicos. Materiais biossorventes podem ser

rejeitos de indústrias fermentativas ou biomassa naturalmente abundante, ricas em

polissacarídeos celulósicos. A técnica permite o tratamento de resíduos e minimiza

problemas como, por exemplo, o excesso de biomassa, além de possuir um custo

extremamente baixo. O biossorvente usado e “carregado” com os metais pode ser

incinerado em temperaturas moderadas e depositado em aterros, minimizando o

volume do efluente, o que significa dizer que a biossorção é útil na redução do volume

do rejeito. Alternativamente, a regeneração do biossorvente é possível pela dessorção

do metal por intermédio de ácidos ou soluções salinas. A solução resultante, altamente

concentrada em metais, pode ser processada por outras técnicas, como a

eletrorrecuperação, a fim de se resgatar o metal de interesse. As vantagens no uso

destes sistemas derivam dos baixos custos e da possibilidade de reutilização da

biomassa após cada ciclo de captura metálica [1]. A biotecnologia apresenta-se,

portanto, como uma solução conveniente para o tratamento de resíduos e efluentes

industriais. É um processo ambientalmente correto e economicamente viável.

Dentre os vários compostos de origem biológica com capacidades biossortivas,

os ligno-carboidratos comportam-se como uma fonte potencial de biomateriais para a

remoção de metais pesados de soluções aquosas, devido à sua abundância e

facilidade de aquisição. Os complexos de ligno-carboidratos consistem de cadeias de

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polissacarídeos celulósicos contendo fragmentos relativamente pequenos de lignina,

conectados às ligações pendentes da cadeia polissacarídica, sendo biossintetizados

por vegetais em grandes quantidades [19]. Estudos experimentais e teóricos têm

mostrado que os níveis de tolerância de polissacarídeos celulósicos e lignina à

presença de íons metálicos superam outros tipos de biomassa. Esta capacidade pode

estar associada à existência de grupos funcionais nos meios intracelulares, capazes

de inibir os efeitos causados por metais pesados.

Recentemente, o comportamento sortivo de diversas biomassas para

diferentes metais vem sendo bastante estudado na literatura; entretanto, os

mecanismos e sítios responsáveis pela captura do metal são pouco conhecidos. Assim

sendo, neste capítulo temos por objetivos principais a investigação teórica das

biomoléculas de celulose e lignina, as principais constituintes da biomassa vegetal,

bem como a caracterização de alguns possíveis sítios responsáveis pela sorção do

átomo de cobre nestas estruturas.

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4.2. A Molécula de Celulose: um Polissacarídeo Estrutural

A celulose é uma substância orgânica fibrosa, insolúvel em água e bastante

resistente, encontrada na parede celular de proteção das plantas, particularmente de

troncos, hastes e caules e em todas as partes lenhosas dos tecidos vegetais. É o

principal constituinte de plantas superiores, incluindo linho, palha de cereais, madeira,

algodão, etc., sendo os dois últimos as suas principais fontes industriais [20].

A celulose é a mais abundante das biomoléculas, quer de origem vegetal, quer

de origem animal. Estimativas têm mostrado que a fotossíntese anual de biomassa

atinge cerca de 170 bilhões de toneladas, 40% das quais consistindo de

polissacarídeos, principalmente celulose e amido. Enormes quantidades de celulose

são produzidas, não apenas nas florestas em crescimento, como também pelas

plantas destinadas às colheitas [20]. Estima-se que todos os dias, cerca de 50 Kg de

celulose sejam sintetizados para cada ser humano existente no planeta.

A molécula de celulose foi pioneiramente estudada no século XIX [20], por

Anselm Payen. As estruturas celulósicas e seus derivados são ainda largamente

investigados, embora em menor escala devido à atual disponibilidade de uma enorme

gama de polímeros sintéticos. Entretanto, é importante salientar que a celulose ocupa

lugar de destaque junto aos polímeros superiores. A regeneração de cadeias

celulósicas e as sínteses de seus derivados constituem áreas ativas de pesquisa.

A celulose é classificada como um homopolissacarídeo linear não-ramificado,

constituído de 10.000 ou mais unidades monoméricas de anéis piranosídicos de D-

glicose (Fig. 4.1), unidos entre si por ligações glicosídicas do tipo β(1→4). Devido a

estas ligações, as cadeias de D-glicose assumem uma conformação alongada ou

equatorial e agregam-se lado a lado, formando fibrilas insolúveis, em forma de cadeira

(Fig. 4.2).

Na seção 4.2.1, descrevemos detalhadamente as propriedades estruturais e

conformacionais dos carboidratos, a classe de compostos orgânicos à qual pertence a

molécula de celulose. Serão descritos desde o processo de formação do anel cíclico

da molécula de D-glicose, a unidade monomérica da celulose, até a formação das

cadeias celulósicas poliméricas. Veremos ainda que a co-existência das duas formas

estereoisoméricas da molécula de D-glicose (α e β) são responsáveis por diferentes

funções biológicas. Estas discussões baseiam-se principalmente no trabalho de

LEHNINGER [21].

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(a) (b)

Figura 4.1. Esquema dos estereoisômeros da D-glicose. Em (a), conformação da α-D-glicose;

em (b), conformação da β-D-glicose.

Figura 4.2. Estrutura conformacional da molécula de celulose, representando as unidades

monoméricas de β-D-glicose, sob a forma de cadeira, com todos os substituintes orientados

equatorialmente.

4.2.1. Os Carboidratos

Em 1838, Payen propôs pela primeira vez a composição elementar da celulose,

C6H12O5, classificando-a como um carboidrato [20].

Os carboidratos, na forma de açúcar ou amido, compõem a maior parte da

ingestão calórica diária do homem, da maioria dos animais e de muitos

microorganismos. Também ocupam posição central no metabolismo das plantas

verdes e de outros organismos fotossintetizantes que utilizam a energia solar na

síntese de carboidratos a partir de CO2 e H2O. As vastas quantidades de amido e

outros carboidratos provenientes da fotossíntese são fontes de energia e de átomos

de carbono para as células não-fotossintetizantes.

Os carboidratos apresentam outras propriedades biológicas importantes. O

amido e o glicogênio, por exemplo, servem como depósitos temporários de glicose.

Polímeros insolúveis de carboidratos, como a celulose, podem atuar como elementos

estruturais de sustentação das paredes celulares de vegetais e microorganismos

bacterianos. Outros atuam nos tecidos conjuntivos e no revestimento celular de

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animais, lubrificando as junções ósseas e conferindo especificidade biológica à

superfície celular.

Quimicamente, os carboidratos podem ser classificados como poli-hidróxi-

aldeídos ou poli-hidróxi-cetonas ou ainda compostos que, por hidrólise, liberam estas

substâncias químicas. A designação “carboidrato” se deve ao fato de a maioria dos

compostos da classe apresentar fórmulas empíricas na proporção 1:2:1 entre os

átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio, respectivamente, sugerindo a idéia de

carbono “hidratado” ou “hidrato” de carbono. Na natureza, existem basicamente três

grandes classes de carboidratos: os monossacarídeos, os oligossacarídeos e os

polissacarídeos.

Os monossacarídeos (ou açúcares simples) consistem de uma única unidade

de poli-hidróxi-aldeído ou cetona. São sólidos cristalinos, incolores, muito solúveis em

água e insolúveis em solventes não-polares, a grande maioria possuindo sabor

adocicado. Apresentam fórmula empírica (CH2O)n, com 3 ≤ n ≤ 7. O esqueleto dos

monossacarídeos é uma cadeia não-ramificada de átomos de carbono unidos entre si

por ligações sigma. Um dos átomos de carbono se une a um átomo de oxigênio por

ligação dupla, formando um grupo carbonila. Cada um dos demais átomos de carbono

está ligado a um grupo hidroxila. O monossacarídeo do tipo aldose ocorre quando o

grupo carbonila se localiza numa das extremidades da cadeia, dando origem a um

composto aldeído; se o grupo carbonila estiver em qualquer outra posição

intermediária, o monossacarídeo é uma cetona e é chamado de cetose. Os

monossacarídeos mais simples são as trioses (com 3 átomos de carbono),

representadas pelo composto gliceraldeído, uma aldose (Fig. 4.3a), e pela di-hidróxi-

cetona, um composto cetona (Fig. 4.3b).

Os monossacarídeos com 4, 5, 6 e 7 átomos de carbono em suas estruturas

são chamados, respectivamente, tetroses, pentoses, hexoses e heptoses, cada um

dos quais existindo em duas séries: aldoses e cetoses. As hexoses são os

monossacarídeos mais abundantes na natureza. Entre elas, podem ser citadas a D-

glicose, a unidade monomérica da molécula de celulose (Fig. 4.4a) e a D-frutose,

constituinte básica da molécula de sacarose (Fig. 4.4b).

Todos os monossacarídeos, com exceção da di-hidróxi-cetona (representada

na Fig. 4.3b), contêm um ou mais carbonos assimétricos ou quirais, ocorrendo

portanto em formas isoméricas opticamente ativas. A aldose mais simples, o

gliceraldeído (representado na Fig. 4.3a), contém apenas um centro quiral e é capaz

de existir como dois isômeros ativos, os quais são, um em relação ao outro, imagens

especulares não-superponíveis. As aldoexoses apresentam quatro carbonos

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assimétricos e podem existir na forma de 16 estereoisômeros diferentes, entre os

quais está a forma comum da glicose.

O

O

O

O

OO

O (a) (b)

Figura 4.3. Representação das duas trioses: em (a), o composto gliceraldeído, uma aldose; em

(b), o composto di-hidróxi-cetona, uma cetose. As ligações simbolizadas por ( ) dirigem-se

para cima do plano do papel e as simbolizadas por ( ) dirigem-se para baixo do mesmo

plano.

O

O

OO

OO

O

O

OO

OO

(a) (b)

Figura 4.4. As duas hexoses mais comuns: em (a) a estrutura da molécula de D-glicose, uma

aldoexose; em (b) a estrutura da molécula de D-frutose, uma cetoexose. As ligações

simbolizadas por ( ) dirigem-se para cima do plano do papel e as simbolizadas por ( )

dirigem-se para baixo do mesmo plano.

A Fig. 4.5 representa algumas estruturas das séries D e L das aldotetroses,

aldopentoses e aldoexoses, mostradas como fórmulas de projeção. Os prefixos D e L

são usados em referência à configuração do carbono quiral mais distante do átomo de

carbono da carbonila. Quando o grupo hidroxila desse átomo de carbono mais distante

projeta-se para a direita, ele designa um D-açúcar; quando ele se projeta para a

esquerda, designa um L-açúcar.

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O

O

OO

O

O

OO

O

O

O

OO

O

O

O

OO

O

O

O

OO

O

L-Eritrose L-Ribose D-Arabinose L-Xilose L-Lixose

O

O

OO

OO

O

O

OO

OO

O

O

OO

OO

O

O

OO

OO

O

O

OO

OO

L-Altrose D-Glicose L-Manose L-Gulose L-Galactose

Figura 4.5. Alguns representantes da família das aldoses mais abundantes na natureza,

contendo 4, 5 ou 6 átomos de carbono na cadeia. As ligações simbolizadas por ( ) dirigem-

se para cima do plano do papel e as simbolizadas por ( ) dirigem-se para baixo do mesmo

plano.

Os monossacarídeos com cinco ou mais átomos de carbono ocorrem quando

em solução como estruturas cíclicas ou em forma de anel, nas quais o grupo carbonila

não está livre, mas formando uma ligação covalente com um dos grupos hidroxila

existentes ao longo da cadeia. Uma evidência de que a D-glicose apresenta um

estrutura cíclica se deve ao fato de haver duas formas cristalinas, de composição

química idêntica, porém com propriedades ligeiramente diferentes. Quando a estrutura

é cristalizada a partir de solução aquosa, obtém-se uma forma denominada α-D-

glicose. Se a D-glicose é cristalizada a partir de piridina, obtém-se a forma β-D-glicose.

A partir de uma série de considerações químicas, deduziu-se que os isômeros α e β

da D-glicose não são estruturas com cadeia reta, mas sim dois compostos diferentes

em forma de anel hexagonal (Fig. 4.6). A D-glicose é um hemiacetal intramolecular no

qual houve reação entre o grupo hidroxila do carbono 5 e o grupo aldeído do carbono

1, transformando-o em carbono assimétrico (Fig. 4.6). Como resultado, a D-glicose

apresenta um centro quiral a mais do que os existentes na forma aberta linear. As

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formas isoméricas dos monossacarídeos que diferem entre si apenas na configuração

ao redor do átomo de carbono pertencente ao hemiacetal, como ocorre com α e β-D-

glicose, são denominadas anômeros. Apenas as aldoses que possuem 5 ou mais

átomos de carbono podem formar anéis piranosídicos estáveis.

Figura 4.6. Formação de dois isômeros da molécula de D-glicose. Quando o grupo aldeído do

carbono 1 reage com o grupo hidroxila do carbono 5, forma-se a ligação hemiacetal e dois

estereoisômeros diferentes com relação ao carbono 1 podem ser formados, designados por α-

D-glicose e β-D-glicose.

Estas formas cíclicas dos carboidratos são denominadas piranoses, uma vez

que se assemelham ao anel hexagonal do composto pirano (representado na Fig. 4.6).

Os isômeros α e β são interconvertíveis em solução aquosa. A formação dos anéis

piranosídicos pela D-glicose é o resultado de uma reação geral entre aldeídos e

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álcoois com a formação de derivados hemiacetais, que contêm um átomo de carbono

assimétrico, podendo ocorrer sob duas formas estereoisoméricas (Fig. 4.7).

O C

H

R1

+ HO R2 OR2R1

OH

H

Aldeído Álcool Hemiacetal

O C

R2

R1

+ HO R3 R2R1

OH

OR3

Cetona Álcool Hemicetal

(a)

(b)

Figura 4.7. Aldeídos e cetonas podem reagir com álcoois formando hemiacetais (a) e

hemicetais (b). O carbono do grupo funcional carbonila torna-se, então, um centro quiral.

Usualmente, para a representação das formas em anel dos monossacarídeos,

são empregadas as chamadas fórmulas de projeção de Haworth. Na maioria dos

açúcares, os anéis piranosídicos têm conformação em cadeira, embora também haja

arranjos conformacionais em forma de barco (Fig. 4.8). As conformações

tridimensionais específicas dos açúcares com 6 átomos de carbono são extremamente

importantes na determinação das propriedades biológicas e das funções vitais de

alguns polissacarídeos.

(a) (b) (c)

Figura 4.8. Fórmulas conformacionais das formas cadeira (a) e barco (b) do anel piranosídico.

(c) Fórmula conformacional da β-D-glicose em conformação do tipo cadeira.

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Os oligossacarídeos consistem de pequenas cadeias de unidades

monossacarídicas unidas entre si por ligações covalentes. Os dissacarídeos, os mais

abundantes dos oligossacarídeos, são açúcares formados pela ligação de duas

moléculas de monossacarídeos. Esta ligação, chamada glicosídica, é formada pela

reação entre um grupo hidroxila de um dos açúcares e o carbono anomérico do outro

açúcar. As ligações glicosídicas são facilmente hidrolisadas por ácidos, mas são

altamente resistentes à ação de agentes básicos. Portanto, por processos de fervura

em ácidos diluídos, os dissacarídeos podem ser hidrolisados em seus

monossacarídeos constituintes.

A terceira grande classe dos carboidratos, os polissacarídeos, na qual se

insere a molécula de celulose, consiste de longas cadeias, com centenas ou milhares

de unidades monossacarídicas. Alguns polissacarídeos, como a celulose, possuem

cadeias lineares, enquanto outros, como o glicogênio, apresentam cadeias

ramificadas. Os polissacarídeos mais abundantes, a celulose e o amido dos vegetais,

são formados por unidades recorrentes de D-glicose, diferindo na forma com que

estas unidades estão ligadas entre si.

A maior parte do total de carboidratos encontrados na natureza ocorre sob a

forma de polissacarídeos de alto peso molecular. Alguns deles são formas biológicas

de reserva de monossacarídeos, outros são elementos estruturais de paredes

celulares de tecidos conjuntivos. Pela ação de enzimas específicas ou pela hidrólise

ácida completa, os polissacarídeos liberam monossacarídeos ou seus derivados.

Os compostos polissacarídicos diferem entre si na natureza de suas unidades

monoméricas, no comprimento de suas cadeias e no grau de ramificação, existindo

sob duas formas distintas: os homopolissacarideos, como a celulose e o amido, que

contêm apenas um tipo de unidade monomérica, e os heteropolissacarídeos, formados

por diferentes unidades monossacarídicas, como o ácido hialurônico.

A celulose é o polissacarídeo estrutural extracelular mais abundante do mundo

vegetal. As ligações glicosídicas do tipo (1→4) tornariam a celulose extremamente

semelhante à amilose e às cadeias principais do glicogênio (polissacarídeos de

reserva energética vegetal e animal, respectivamente). No entanto, há uma importante

diferença: na celulose, as ligações (1→4) apresentam configuração β (Fig. 4.9a),

enquanto nos carboidratos de reserva estas ligações são do tipo α (Fig. 4.9b),

resultando em estruturas poliméricas com propriedades muito distintas.

As cadeias principais de D-glicose no glicogênio e no amido, devido à

geometria de suas ligações α(1→4), assumem uma conformação enrolada em hélice,

favorecendo a formação de grânulos densos, como observado em vegetais e animais.

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Estas ligações são rapidamente hidrolisadas pela enzima intestinal α-amilase dos

vertebrados, com conseqüente absorção e utilização da glicose formada, como

combustível rico em energia. Na celulose, entretanto, as ligações β proporcionam uma

configuração alongada às cadeias de D-glicose, cujo agregamento lado a lado dá

origem a fibrilas insolúveis. As ligações do tipo β(1→4) da celulose não são

hidrolizadas pelas α-amilases. A celulose, dessa forma, não pode ser digerida pelos

vertebrados, uma vez que o sistema digestivo dos mesmos não secreta nenhuma

enzima capaz de realizar a hidrólise da estrutura. Suas unidades de D-glicose são

completamente inaproveitáveis como alimento para a maioria dos organismos

superiores.

(a) (b)

Figura 4.9. As diferentes conformações assumidas pelas cadeias β(1→4) da celulose e pelas

cadeias α(1→4) do amido. Em (a), esquema de segmentos das cadeias paralelas de celulose,

evidenciando a conformação dos resíduos de D-glicose e as interligações feitas por pontes de

hidrogênio; em (b), esquema de segmentos da amilose. As ligações α(1→4) da amilose, da

amilopectina e do glicogênio forçam a cadeia a assumir uma estrutura enrolada em hélice, na

qual os numerosos grupos hidroxila ficam voltados para o exterior.

Segundo MICHELL e HIGGINS [22], o conhecimento da conformação da

celulose pode ser obtido do estudo de suas unidades monoméricas, os cristais de D-

glicose, nos quais as fortes ligações de hidrogênio intermoleculares tornam a molécula

de celulose extremamente insolúvel em solventes apolares. As moléculas de celulose,

com seus grupos hidroxila na orientação equatorial, manifestam forte tendência a

formar ligações de hidrogênio intra e intermoleculares. A estrutura cristalina dos

carboidratos revela que o modelo usual envolve todos os grupos hidroxila em ligações

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de hidrogênio. Através de investigações experimentais, por difração de raios-X e

espectroscopia de infravermelho, MICHELL e HIGGINS [22] concluíram que os grupos

hidroxila relevantes não estão livres, mas envolvidos em ligações de hidrogênio muito

fracas, podendo ser evidenciadas por vibrações térmicas. As ligações de hidrogênio

intramoleculares são responsáveis pela natureza rígida e espessa da molécula de

celulose. Já as ligações de hidrogênio do tipo intermoleculares são responsáveis pela

natureza laminar da molécula.

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4.3. A Celulose e a Lignina

4.3.1. Estrutura Molecular da Lignina

A maioria das células vegetais é envolvida por estruturas polissacarídicas

rígidas muito resistentes, comparáveis em resistência ao plástico reforçado com fibra

de vidro. As paredes celulares são muito espessas nas porções lenhosas dos troncos

das árvores, o que as tornam capazes de suportar enormes forças de compressão. A

rede das paredes celulares vegetais é constituída de camadas entrecruzadas de

longas fibrilas de celulose, as quais são mais resistentes que fios de aço de mesmo

diâmetro. Esta rede fibrilar é impregnada por uma matriz de propriedades cimentantes,

que consiste de polissacarídeos de tipos diferentes e de uma substância polimérica

denominada lignina [21].

As ligninas são polímeros naturais formados por compostos aromáticos

macromoleculares e polifuncionais. Sendo componentes dos tecidos vegetais, as

ligninas são responsáveis pelas funções vitais mecânicas, químicas e biológicas,

proporcionando durabilidade e proteção contra efeitos de oxidação e ação de

patógenos [23]. A lignina é biossintetizada nas proximidades dos sítios de

macromoléculas de celulose e de polissacarídeos não-celulósicos, resultando em

matrizes poliméricas de lignocelulose. As interações químicas, físico-químicas e

mecânicas da lignina com a celulose asseguram a formação de uma composição

polimérica complexa, os tecidos vegetais, e predeterminam as reatividades de seus

principais componentes nos processos químicos e tecnológicos.

Em diversas aplicações possíveis para a madeira e as fibras vegetais, não se

faz necessária a separação de seus componentes básicos (celulose, lignina e

polioses), exceto pelas indústrias de papel, onde a lignina não é utilizada. A cada ano,

muitas toneladas de madeira são processadas pela indústria química de papel e

celulose, sendo a maior parte da lignina perdida ou queimada. Apenas uma pequena

parcela é transformada em produtos químicos de importância comercial, com diversas

aplicações, como dispersantes, umectantes, colas, adesivos e outros. A pasta

celulósica obtida pela deslignificação da madeira é a maior fonte de lignina disponível

[24].

A estrutura molecular da lignina é proveniente da polimerização iniciada por

ação enzimática de seus compostos precursores: álcool trans-sinapílico (Fig. 4.10a),

álcool trans-coniferílico (Fig. 4.10b) e álcool trans-para-cumárico (Fig. 4.10c). As

ligninas são constituídas de unidades substituintes de propano-fenol (Fig. 4.11a).

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Estas unidades são comumente referidas como guaiacil (R=H; R’=OCH3), siringil

(R=R’=OCH3) e para-hidróxi-fenil (R=R’=H). Outra unidade monomérica é o composto-

modelo contendo o grupo funcional carbonila C=O (R=R’=H) (Fig. 4.11b). Estes grupos

se unem por ligações carbono-carbono ou carbono-éter-carbono, dando origem à

estrutura da lignina. Sendo o núcleo aromático dos compostos-modelo da lignina de

natureza fenólica, a eletro-oxidabilidade dos fenóis dependerá do caráter de seus

substituintes. Esta capacidade eletro-oxidativa aumenta com a presença de grupos

doadores de elétrons e diminui se os substituintes forem aceitadores. A inserção de

novas unidades ou ramificações na estrutura-base da lignina é aleatória, gerando uma

substância heterogênea, de alto peso molecular e constituída por inúmeros grupos

funcionais, o que a torna uma molécula de reatividade bastante complexa [23].

OH

OCH3H3CO

CHCH2OHCH

OH

OCH3

CHCH2OHCH

CH CHCH2OH

OH (a) (b) (c)

Figura 4.10. Compostos precursores da lignina: (a) álcool trans-sinapílico; (b) álcool trans-

coniferílico e (c) álcool trans-para-cumárico.

(a) (b)

Figura 4.11. (a) Esquema das unidades monoméricas básicas da estrutura da lignina. As

unidades de guaiacil-propanol (R=H e R’=OCH3), siringil-propanol (R=R’=OCH3) e para-hidróxi

fenil (R=R’=H) são os elementos estruturais mais comuns. (b) Esquema de um tipo de

composto-modelo contendo o grupo funcional carbonila C=O (R=R’=H).

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As ligninas estão presentes em muitas espécies vegetais, com teores que

variam de 15 a 36%, de acordo com a espécie, não possuindo a mesma estrutura

química em todas elas. Não deve portanto ser considerada como uma substância

química de estrutura molecular definida, mas sim como uma classe de materiais

correlatos, sendo uma importante fonte de carbono, hidrogênio e oxigênio, os quais

são seus principais constituintes. Devido à irregularidade estrutural e à grande

variedade de ligações químicas existentes na lignina, a descrição desta

macromolécula como uma simples combinação de poucos monômeros (unidades de

propano-fenol substituídas) parece ser impossível. Dessa forma, sua estrutura ainda

não é totalmente resolvida e está sujeita a estudos e investigações [23]. Várias

estruturas da lignina têm sido propostas, baseadas em resultados obtidos por técnicas

experimentais, tais como: etanólise, tioacetólise, produtos de hidrólise e oxidação,

determinação de grupos funcionais, análise comparativa de propriedades de lignina

nativa e de dehidropolímeros (DHP - construídos a partir da substituição de unidades

propano-fenólicas), dados espectroscópicos, tais como ressonância magnética nuclear

(NMR), espectroscopia de infravermelho, de ultravioleta e ainda resultados de

cromatografia em gás e gel e espectrometria de massa [23].

Embora haja uma grande variedade de unidades monoméricas como

compostos-modelo da lignina, nem todas as combinações e acoplamentos ocorrem

com igual probabilidade. Cálculos quantum-químicos realizados mostraram que a

distribuição de densidades eletrônicas favorece a ligação C-O-C do tipo éter [23]. Com

efeito, este é o tipo de ligação predominante em sua estrutura macromolecular.

4.3.2. A Lignocelulose

A questão da existência e da natureza de ligações químicas entre ligninas e

carboidratos em sistemas vegetais é de fundamental interesse industrial e tem sido

sujeita a muitos experimentos e especulações. Evidências espectroscópicas foram

aduzidas à ligação lignina-carboidrato, na qual a banda no espectro de infravermelho

próxima a 1710 cm-1 estava presente em um grande número de ligninas isoladas, mas

ausente nos espectros contendo vários tipos de madeira. Ligações do tipo acetal ou

hemiacetal estão presentes entre os grupos carbonila da lignina e os grupos hidroxila

dos polissacarídeos. Em ligninas isoladas, a ruptura desta ligação dá origem a grupos

β-aril do tipo encontrado na estrutura do guaiacil [22].

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KOSHIJIMA et al. [24] demonstraram experimentalmente que complexos de

lignocarboidratos (CLC’s) consistem de cadeias de polissacarídeos com fragmentos

relativamente pequenos de lignina como ramificações laterais dos anéis de açúcar,

originando estruturas de alto peso molecular. A ligação entre carboidratos e lignina é

principalmente do tipo benzil-éter. Alguns dos CLC’s exibem uma forte tendência a

formar micelas ou agregados em solução aquosa devido às interações hidrofóbicas e

eletrostáticas.

A biomassa vegetal (seca) é constituída quase que integralmente de

lignocelulose, nome dado a um conjunto de três polímeros: celulose, hemicelulose

(formada principalmente de aldopentoses, entre as quais se destaca a poli-xilose) e

lignina (contendo várias funções químicas oxigenadas), os quais representam a fonte

renovável de carbono mais abundante da Terra. A habilidade da biosfera em produzir

quantidades vastas de compostos lignocelulósicos é, certamente, um dos fatores

responsáveis pela manutenção da vida no planeta.

FAULON et al. [25] propuseram um modelo teórico tridimensional baseado em

dinâmica molecular para a lignocelulose de gimnospermas, composto de celulose,

hemicelulose e lignina. De acordo com o modelo, as estruturas de lignina formam

ligações de hidrogênio com as cadeias de hemicelulose e celulose. As ligações de

hidrogênio estão presentes entre os radicais do grupo funcional álcool da lignina e das

diferentes unidades de açúcar (Fig. 4.12).

Figura 4.12. Quatro possíveis sítios para as ligações de hidrogênio entre lignina e

polissacarídeos, propostos por FAULON et al. [25] mediante investigações teóricas.

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4.4. Estudos Experimentais na Literatura

Nesta seção serão feitas descrições experimentais acerca de estudos

referentes às estruturas de celulose e lignina disponíveis na literatura [1,2,3,26]. Tais

estudos serviram de base e pré-requisito para nossas investigações, tanto em nível de

comparação direta de resultados teóricos e experimentais já existentes, quanto de

averiguação de modelos e simulações propostos para estas biomoléculas.

4.4.1. Modelo para a Sorção de Cobre em Folhas Secas Usando Espectroscopia de Infravermelho

A biossorção, como citado anteriormente, é a capacidade de retenção de íons

metálicos de solução através de biomassa. O processo tem sido largamente

investigado, entretanto poucos estudos propõem modelos de sorção capazes de

explicar satisfatoriamente o fenômeno. FREITAS [1] e CARVALHO et al. [2,3] fizeram

estudos experimentais acerca dos sítios responsáveis pela sorção de cobre em folhas

secas de plantas típicas do cerrado brasileiro, usando as técnicas de Espectroscopia

de Absorção Atômica (AAS), Ressonância Paramagnética Eletrônica (EPR) e

Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR). De acordo com

os autores, o sitio de sorção poderia estar localizado próximo às fibras das

macromoléculas de celulose e lignina, uma vez que a rede fibrilar se mostrou mais

efetiva no processo sortivo do que a folha completa.

A seguir será feita uma descrição do estudo experimental mencionado acima,

baseado no trabalho de CARVALHO et al. [2]. Na seção 4.4.1.4, fazemos uma

discussão inicial acerca de alguns dos principais resultados obtidos pelos autores

neste trabalho, comparando-os com nossos resultados teóricos preliminares referentes

à investigação do sítio axial de sorção do cobre em celulose. De início, observamos

uma boa concordância entre os modos vibracionais experimentais atribuídos à

celulose, porém somente aqueles considerados na faixa de 880 a 1450 cm-1. Por outro

lado, a manifestação de alguns modos experimentais na faixa de 1525 a 1745 cm-1 se

opuseram aos nossos resultados e nos levaram a uma investigação mais detalhada a

este respeito, conduzindo-nos a um estudo posterior da molécula de lignina, conforme

será descrito posteriormente.

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4.4.1.1. Preparação de Materiais e Métodos Experimentais Para o estudo da sorção de íons cobre, foram utilizadas soluções de CuSO4; as

amostras contendo a biomassa foram preparadas com folhas secas de alface (Lettuce

sativa) e palha de milho (Zea mays). Estas amostras ficaram expostas ao sol durante

quatro semanas e passaram por um processo de secagem a 35o C durante sete dias.

Em seguida, grãos de biomassa de ~ 1 mm foram novamente submetidos ao processo

de secagem numa temperatura de 70o C durante 24h e lavados em solução aquosa

de pH 4, usando solução de HCl diluído. Foram utilizados compostos químicos Aldrich

em todos os procedimentos laboratoriais.

Os experimentos de sorção foram feitos como descrito a seguir: 100 mg de

biomassa foram misturados com 50mL de solução de CuSO4, com concentrações de

Cu iniciais variando de 20 µg/mL a 200 µg/mL, numa solução de pH = 4. Após uma

hora de contato, a solução foi submetida a filtragem e a concentração de Cu final foi

determinada. As concentrações de Cu das soluções inicial e final foram determinadas

por AAS em um equipamento CG-AA-7000, seguindo os procedimentos tradicionais de

manipulação. As absorções relativas do metal ( ) foram determinadas a partir das

concentrações final ( ) e inicial ( ) de cobre, em uma solução de volume V com

uma biomassa de massa M:

q

fC iC

M

CCVq fi )( −= . (4.1)

Para cada tipo de biomassa em análise, os resultados foram ajustados usando

o modelo de sorção de Langmuir:

)1(

0

f

f

bCbCq

q+

= , (4.2)

em que q0 e b são os parâmetros característicos da isoterma de Lagmuir; q0

representa o valor de saturação de q para altas concentrações de equilíbrio e b

designa a afinidade do íon metálico pela estrutura da biomassa, definindo a inclinação

da isoterma para baixas concentrações de equilíbrio. Para medidas de EPR, amostras

de L. sativa carregadas com cobre foram submetidas à secagem e inseridas no

espectrômetro em tubos de quartzo. O espectro de Cu2+, incluindo a biomassa

pulverizada, foi simulado e comparado com o espectro obtido experimentalmente.

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Para estudos de FTIR de amostras de L. sativa, tanto in natura quanto carregadas

com cobre, foram preparadas pastilhas de KBr como substrato.

4.4.1.2. Resultados

4.4.1.2.1. Isotermas de Sorção

A Fig. 4.13 mostra as isotermas de sorção construídas pelo ajuste de curvas do

tipo Langmuir aos valores de q medidos para L. sativa – alface (L) e Z. mays – palha

de milho (Z), comparadas com as curvas registradas para fibras de M. truncata –

espinheira santa (F) e folhas completas (C). A Tabela IV.1 mostra os valores ajustados

de q0 e b para as biomassas estudadas, bem como os coeficientes de correlação χ2

para as curvas ajustadas.

Figura 4.13. Isotermas de sorção para L. sativa (L - ), fibras de M. truncata (F - ▲), folhas

completas de M. truncata (C - X) e Z. mays (Z - ●) [2].

Tabela IV.1. Valores para q0, b e χ2 referentes às biomassas mostradas na Fig. 4.13 [2].

Biomassa q0 (mg/g) b (L/mg) χ2

L. sativa (L) 33 ± 1 0.22 ± 0.04 11 M. truncata (F - fibra) 26 ± 4 0.04 ± 0.02 10

M. truncata (C - folha completa) 21 ± 1 0.02 ± 0.03 9 Z. mays (Z) 6 ± 3 0.04 ± 0.01 7

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Mediante análise dos resultados obtidos, CARVALHO et al. [2] concluíram que

a capacidade sortiva do íon metálico da espécie Z. mays era muito menor que a

capacidade sortiva de outras biomassas e que a amostra de L. sativa apresentava o

maior potencial sortivo. Com base em seus resultados, os autores então concluíram

que a celulose poderia ser a macromolécula responsável pela captura do metal em

folhas secas, uma vez que Z. mays é formada principalmente de lignina, ao passo que

L. sativa é principalmente composta de celulose.

4.4.1.2.2. Espectros de EPR

A Fig. 4.14 mostra o espectro de EPR para L. sativa carregada com cobre (A) e

o espectro obtido por simulação (B). Desses resultados, CARVALHO et al. [2]

concluíram que o íon Cu2+ estaria incorporado em um sítio da estrutura da biomassa

com simetria aproximadamente axial, com o íon centrado no eixo formado por dois

anéis de glicose paralelos.

Figura 4.14. Espectros de EPR experimental (A) e simulado (B) para a amostra de L. sativa

carregada com cobre [2].

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4.4.1.2.3. Espectros de FTIR

A Fig. 4.15 mostra os espectros de absorção normalizados, referentes à

amostra de L. sativa natural (A) e carregada com cobre (B). Segundo CARVALHO et

al. [2], a presença do cobre modificaria a absorção no infravermelho da amostra na

região entre 800 cm-1 e 1800 cm-1. Esta região, ampliada e desconvoluída, é mostrada

na Fig. 4.16 (A: L. sativa natural e B: L. sativa carregada com cobre).

Figura 4.15. Espectros FTIR de absorção para amostras de L. sativa natural (A) e carregada

com cobre (B) [2].

Figura 4.16. Espectros FTIR de absorção e de deconvolução para amostras de L. sativa natural

(A) e carregada com cobre (B) [2].

Os autores atribuíram os picos de absorção mostrados na Fig. 4.16 a modos

vibracionais de ligações moleculares das ramificações dos anéis glicosídicos da

celulose, conforme mostrado na Tabela IV.2. De acordo com os autores, a presença

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do cobre causaria mudanças nos seguintes picos: 8 e 9 (vibrações dos radicais -CH2);

2, 4 e 7 (modos vibracionais das ligações C-O) e 11 (vibrações do grupo OH). Dos

resultados obtidos, concluíram que nenhum pico de absorção seria criado ou

extinguido pela presença do cobre na biomassa, indicando que nenhuma ligação

molecular seria formada ou destruída em decorrência da sorção do íon metálico. Na

Tabela IV.3, são listadas as freqüências vibracionais referentes ao espectro de

absorção no infravermelho da amostra de L. sativa natural e carregada com cobre [1],

na região de 1300 a 1800 cm-1.

Tabela IV.2. Picos FTIR de absorção (referentes à Fig. 4.16) atribuídos a vibrações

moleculares da celulose [2].

Pico Freqüência (cm-1) Atribuição 1 880 Deformação C-H fora do plano 2 1010 Estiramento C-O acoplado aos modos do anel 3 1055 Estiramento C-O acoplado aos modos do anel 4 1120 Estiramento C-O acoplado aos modos do anel 5 1160 Estiramento C-O-C 6 1245 Estiramento C-O 7 1325 Respiração do anel com estiramento C-O 8 1385 Dobramento C-H 9 1450 Dobramento CH2 simétrico

10 1525 C=C em anéis aromáticos 11 1645 Estiramento C=C ou dobramento OH 12 1745 Estiramento C=O

Tabela IV.3. Freqüências experimentais (em cm-1) referentes à amostra de L. Sativa (alface),

rica em celulose, tanto natural quanto carregada com cobre, na região espectral ente 1300 e

1800 cm-1, extraídos da referência [1]. Amostra de L. sativa in

natura Amostra de L. sativa

contendo cobre 1245 1245 1330 1330 1373 1373 1413 1411 1430 1428 1459 1459 1527 1526 1609 1608 1666 1664 1739 1739

Entretanto, os autores ressaltaram que suas investigações estavam limitadas à

região do infravermelho médio (de 500 a 2000 cm-1). Assim sendo, os possíveis picos

de absorção originários de modos vibracionais de espécies iônicas, como é o caso do

cobre, localizados em regiões de baixas freqüências (abaixo de 500 cm-1), não

puderam ser observados.

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4.4.1.3. Conclusões

As isotermas de sorção, os espectros de EPR e os espectros de absorção de

FTIR da biossorção de íons cobre em biomassas de L. sativa (alface) e Z. mays (palha

de milho), levaram os autores a concluírem que a celulose seria a molécula

responsável pela biossorção em folhas secas e que, após a sorção, o íon cobre

hidratado estaria localizado próximo a dois anéis de glicose da estrutura da celulose,

em um sítio com simetria axial da vizinhança, próximo à ramificação da glicose.

Folhas secas de alface se mostraram um material eficiente na biossorção

metálica e poderiam ser usadas em larga escala no tratamento de água contaminada

por metais pesados, devido ao seu baixo custo e à facilidade de aquisição, além de

constituírem um material orgânico não poluente.

4.4.1.4. Discussão Observamos que os picos 10, 11 e 12, listados na Tabela IV.2, são atribuídos

por CARVALHO et al. [2] aos grupos funcionais C=C e C=O da celulose, bem como

os picos em 1527, 1609, 1666 e 1739 cm-1, listados na Tabela IV.3 [1]. No entanto, de

acordo com as discussões feitas na seção 4.2, observamos que estes grupos

funcionais não pertencem à estrutura molecular da celulose e, conseqüentemente, os

modos vibracionais a eles associados não podem ser atribuídos a esta biomolécula.

De fato, tais grupos estão presentes na estrutura da molécula de lignina, que é

formada essencialmente por anéis aromáticos, contendo também o grupo carbonila

C=O em algumas de suas unidades monoméricas. Dessa forma, constatamos que as

análises dos resultados experimentais devem ser cautelosas na interpretação dos

espectros de amostras de biomassa vegetal, devido à associação intrínseca existente

entre a celulose e a lignina, como discutido anteriormente.

De acordo com os espectros de EPR obtidos, o íon cobre estaria localizado em

um sítio com forte simetria axial. A partir da análise dos espectros de FTIR, os autores

concluíram que a presença do íon cobre poderia afetar as ligações CH2, CO e OH da

celulose e que nenhuma ligação molecular seria criada ou destruída no processo

sortivo. Os grupos CH2 e OH estão presentes na ramificação do anéis glicosidicos e o

grupo CO é encontrado nos anéis de glicose da estrutura da celulose. As ligações OH

também poderiam advir de moléculas de H2O presentes na estrutura.

A fim de ajustarem as informações obtidas, os autores propuseram o modelo

mostrado na Fig. 4.17, em que o íon cobre, hidratado com 4 moléculas de água,

93

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estaria localizado próximo a duas ramificações CH2-OH da celulose, de duas cadeias

glicosídicas diferentes ou da mesma cadeia. As ligações CO do anel de glicose

próximas à ramificação seriam também afetadas pela presença do íon metálico.

Em solução, os íons cobre seriam hidratados com 6 moléculas de água, em

uma simetria octaédrica; após a sorção na biomassa o íon perderia duas das

moléculas de H2O, situadas na posição axial, afim de se acomodar no interior da

estrutura da biomassa. As 4 moléculas de água remanescentes estariam localizadas

em um plano ortogonal ao eixo formado pelo cobre e pelas ramificações CH2-OH, o

que explicaria a simetria axial nas vizinhanças do íon cobre, identificada nos estudos

de EPR.

Figura 4.17. Modelo experimental proposto por CARVALHO et al. [2] para um possível sítio de

sorção do íon cobre após o processo de biossorção por L. sativa.

Nossos cálculos iniciais foram realizados na tentativa de reproduzir o modelo

proposto na Fig. 4.17 por CARVALHO et al. [2] para o sítio de sorção do cobre na

estrutura celulósica. Para isso, inicialmente fizemos optimizações parciais de

geometria (obtenção de comprimentos de ligação e ângulos de ligação interatômicos

de equilíbrio), empregando o método Hartree-Fock irrestrito (UHF), com o conjunto-

base 6-31G. As etapas deste cálculo foram as seguintes:

(1) optimização completa do átomo de cobre com 6 moléculas de H2O, dispostas em

um arranjo octaédrico, conforme mostrado na Fig. 4.18(a);

(2) optimização do monômero de celulose, saturado nas extremidades com radicais

metil, conforme representado na Fig. 4.18(b);

(3) aplicação da operação de inversão no monômero de celulose optimizado

(conforme mostrado na Fig.4.18c), que consistiu na transformação das coordenadas

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(x, y, z) em (-x, -y, -z), a fim de reproduzir o modelo experimental proposto, no qual os

anéis de glicose paralelos são dispostos inversamente entre si;

(4) optimização da estrutura mostrada na Fig. 4.18(d), em que duas das moléculas de

H2O, anteriormente ligadas ao átomo de Cu na simetria octaédrica, foram substituídas

pelos dois monômeros de celulose previamente optimizados. Podemos observar que o

átomo de cobre está localizado próximo a duas ramificações CH2-OH dos dois

monômeros, conforme proposto pelo modelo.

(a) (b) (c)

(d)

Figura 4.18. (a) Representação da simetria octaédrica do átomo de Cu com 6 moléculas de

H2O, usada em nossas simulações; (b) Monômero de celulose optimizado, saturado com

radicais metil; (c) monômero de celulose optimizado, após a aplicação da operação de

inversão; (d) montagem final da conformação estrutural proposta experimentalmente. Os

átomos de C, O, H e Cu estão representados nas cores cinza, vermelha, branca e azul,

respectivamente.

Entretanto, após a execução desta forma de simulação, não obtivemos

resultados que corroborassem o modelo, uma vez que não houve convergência da

estrutura calculada para o ponto de energia mínima. A conformação estrutural do

sistema estudado não foi capaz de reproduzir teoricamente o modelo experimental

proposto e não atingiu as conformações da geometria de equilíbrio do sistema. A Fig.

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4.19 representa a configuração não convergida da estrutura mostrada na Fig. 4.18(d)

após a execução de inúmeros ciclos auto-consistentes.

Figura 4.19. Configuração geométrica atingida pela estrutura proposta no modelo experimental

para o sítio de sorção do átomo de cobre em celulose, após a execução do cálculo auto-

consistente. Os átomos de C, O, H e Cu estão representados nas cores cinza, vermelha,

branca e azul, respectivamente.

Assim sendo, partimos para a investigação de novos possíveis sítios de sorção

do cobre na estrutura da molécula de celulose, tais como sítios de sorção do tipo

substitucional e intersticial, conforme será descrito na seção 4.5.

4.4.2. Espectros de FTIR por Derivada Segunda de Eucalyptus

regnans (Madeira Dura) e Pinus radiata (Madeira Mole)

4.4.2.1. Introdução

Nos espectros de infravermelho convencionais de amostras de madeira, as

bandas tendem a ser largas e fracamente resolvidas, mesmo quando registradas à

temperatura do nitrogênio líquido. Entretanto, a técnica de FTIR por derivada segunda

é capaz de proporcionar uma resolução espectral bastante eficaz. MICHELL e

HIGGINS [22] aplicaram este método no estudo de amostras de celulose provenientes

de algas, bactérias, algodão e madeira, verificando um aumento expressivo da

resolução.

Nesta seção, será descrito o trabalho experimental de MICHELL [26] no estudo

dos espectros de FTIR por derivada segunda em amostras de madeira dura,

96

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Eucalyptus regnans, madeira mole, Pinus radiata e de seus constituintes (celulose,

polissacarídeos não-celulósicos e lignina). Os resultados experimentais obtidos por

MICHELL [26] para os modos vibracionais atribuídos às estruturas da celulose e da

lignina contribuíram enormemente para fins de comparação com nossos resultados

teóricos de caracterização espectroscópica destas biomoléculas.

Os estudos experimentais realizados mostraram que os espectros tornam-se

mais bem resolvidos que aqueles obtidos por técnicas convencionais de absorção

atômica. Além disso, contribuições de bandas das multicomponentes de vários grupos

funcionais constituintes são elucidadas mais facilmente. O número de bandas

observadas em espectros de infravermelho convencionais de madeiras é bastante

reduzido quando comparado ao número de diferentes grupos funcionais existentes e

seus possíveis modos normais de vibração. Isto se deve, pelo menos em parte, às

dificuldades na resolução da sobreposição de bandas originárias das vibrações dos

numerosos grupos OH e CH, que possuem freqüências de absorção bastante

próximas. Com o uso dos espectrômetros de FTIR, capazes de armazenar

computacionalmente as informações espectrais, as técnicas de derivação e

desconvolução foram facilitadas; a técnica da derivada segunda aumenta a resolução

de bandas nos espectros de FTIR. Assim, algumas das atribuições espectrais para

Eucalyptus regnans e Pinus radiata foram re-examinadas pelo autor, tendo em vista o

melhoramento da resolução.

4.4.2.2. Descrição Experimental

A amostra de lignina foi extraída das madeiras de Pinus radiata e Eucalyptus

regnans moídas. As amostras apresentaram a seguinte percentagem de composição

de carboidratos, respectivamente: (1) galacto-glucomanose - glicose: 10.2%; xilose:

3.1%; galactose: 4.6%; arabinose: 1.5%; manose: 26.8%; (2) arabino-4-O-metilglucoxilose - glicose: 0.9%; xilose: 29.0%; galactose: 2.0%; arabinose: 5.0% e

manose: 0.7%. Os espectros das amostras de madeira foram medidos tanto em fatias

finas de KCl como em pastilhas de KBr, com uma resolução de 4 cm-1.

4.4.2.3. Resultados e Discussão

4.4.2.3.1. Espectros de FTIR Convencionais

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Os espectros de FTIR das duas amostras de madeira são comparados na Fig.

4.20. Pequenas diferenças podem ser discernidas entre os espectros nas regiões

entre 2700-3100 cm-1 e 3100-3800 cm-1 (Figs. 4.20B e 4.20A). Entretanto, diferenças

significativas são evidentes na região entre 1200-1800 cm-1 (Fig. 4.20C), que podem

estar associadas com bandas próximas a 1735, 1595, 1505, 1460, 1370, 1265 e 1240

cm-1. Diferenças adicionais são também evidentes em bandas próximas a 1120, 875,

835 e 810 cm-1 (Fig. 4.20D). Na região entre 500 – 800 cm-1 são observadas apenas

poucas diferenças (Fig. 4.20E).

Figura 4.20. Espectros de FTIR da madeira macia, Pinus radiata, (linha pontilhada) e da

madeira dura, Eucalyptus regnans, (linha contínua). Região A: 3100-3800 cm-1; região B: 2700-

3100 cm-1; região C: 1200-1800 cm-1; região D: 800-1200 cm-1e região E: 500-800 cm-1.

4.4.2.3.2. Espectros de FTIR por Derivada Segunda

A derivada segunda de perfis de banda nos espectros de infravermelho possui

uma estrutura de picos com resolução muito melhor do que o espectro original. Para

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se comparar as bandas provenientes de espectros ordinários com aquelas obtidas por

métodos de derivada segunda, é necessário considerar que as alturas dos picos das

bandas no espectro derivativo dependem tanto das larguras quanto das alturas das

bandas originais. A Fig. 4.21 representa um dos espectros de FTIR obtidos por

derivada segunda, na região espectral entre 1200 e 1800 cm-1.

FREQÜÊNCIA (CM-1)

Figura 4.21. Espectros de FTIR por derivada segunda (região entre 1200 e 1800 cm-1) dos

componentes das madeiras. Madeira macia: (A) madeira; (B) celulose; (C)

galactoglucomanose; (D) arabino-4-O-metil glucoronoxilano; (E) lignina da madeira moída.

Madeira dura: (F) madeira; (G) celulose; (H) 4-O-metil glucoronoxilano; (I) lignina da madeira

moída.

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A análise deste espectro forneceu uma série de informações detalhadas, que

não puderam ser identificadas no espectro convencional. Foi verificado, por exemplo,

que a banda próxima a 1730 cm-1, originária do estiramento C=O dos grupos acetil e

carboxila, está presente no espectro de ambas as madeiras (Figs. 4.21A e 4.21F) e no

espectro dos compostos arabino-4-O-metil-glucoronoxilano e 4-O-metil

glucoronoxilano (Figs. 4.21D e 4.21H).

Segundo MICHELL [26], a banda em 1600 cm-1, proveniente da vibração de

estiramento C=C na lignina, é muito mais fraca nos espectros da madeira macia do

que nos espectros da madeira dura (e em suas respectivas ligninas). A banda próxima

a 1510 cm-1, proveniente do estiramento C=C em anéis aromáticos, ocorre

similarmente nos espectros das ligninas dos dois tipos de madeira, mas os espectros

da madeira macia (e de sua lignina) mostram um dubleto próximo a 1470 e 1455 cm-1,

ao passo que os espectros da madeira dura (e sua lignina) mostram um pico simples

próximo a 1470 e um ombro na região próxima a 1447 cm-1. As bandas em 1470 cm-1

têm sido geralmente atribuídas à vibração de dobramento assimétrico nas ligações

dos grupos metil, mas há indicações de que sua origem seja mais complexa. As

bandas próximas a 1430 cm-1 nos espectros de ambas as madeiras têm contribuições

tanto de celuloses quanto de ligninas. A vibração da celulose é atribuída ao modo de

estiramento simétrico CH2 no grupo hidróxi-metil e a vibração da lignina é atribuída ao

estiramento C=C do anel aromático.

De acordo com os resultados obtidos [26], as principais contribuições das

bandas em 1380 cm-1 nos espectros das madeiras parecem vir das vibrações de

dobramento das ligações CH da celulose e de polissacarídeos não-celulósicos. Os

espectros das madeiras também diferem nas regiões próximas a 1330, 1270 e 1245

cm-1. A banda em 1330 cm-1 parece ser devida à absorção presente no espectro da

lignina da madeira dura, mas ausente no espectro da lignina da madeira macia. Foi

atribuído ao anel aromático da lignina um modo de respiração, com estiramento C-O,

referente aos compostos siringil. As bandas próximas a 1270 cm-1, no espectro da

madeira macia e 1245 cm-1, no espectro da madeira dura, são as componentes que

apresentam as maiores contribuições das ligninas e dos polissacarídeos não-

celulósicos. Estas bandas são provavelmente provenientes das vibrações de

estiramento C-O na lignina e nos grupos acetil e carbonila dos polissacarídeos.

Observamos que as bandas em 1510, 1600 e 1730 cm-1 identificadas e

atribuídas por MICHELL [26] ao estiramento da ligações C=C, C=C e C=O,

respectivamente, são associadas aos grupos funcionais existentes na estrutura da

lignina. Tais resultados estão em concordância com nossas considerações anteriores,

baseadas na literatura [21], descritas na seção 4.3, bem como com nossos resultados

100

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teóricos (conforme veremos na seção 4.5); estão, entretanto, em desacordo com os

picos 10, 11 e 12, listados na Tabela IV.2 e os picos em 1527, 1609, 1666 e 1739 cm-1,

listados na Tabela IV.3, que foram atribuídos à molécula de celulose. Conforme

discutido anteriormente, esta molécula não apresenta grupos funcionais do tipo C=C e

C=O.

Uma descrição detalhada de cada uma das demais regiões espectrais

mostradas na Fig. 4.20 é feita por MICHELL [26], nas quais os espectros, as

freqüências e os modos normais de vibração dos vários grupos funcionais presentes

nas amostras são identificados e atribuídos a compostos tais como celulose, lignina e

polissacarídeos não-celulósicos presentes na composição das madeiras analisadas.

4.4.2.4. Conclusão

MICHELL [26] concluiu que o uso da derivada segunda para o estudo dos

espectros de FTIR de madeiras é capaz de fornecer bandas com maior e melhor

resolução do que aquelas obtidas no caso de espectros ordinários. Este aspecto se

torna particularmente útil em uma região como a do estiramento CH, na qual

previamente apenas poucas informações estavam disponíveis, devido à falta de

resolução das bandas. Os espectros mais detalhados são mais eficazes para

evidenciar a natureza das contribuições dos componentes da madeira no espectro

total da amostra.

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4.5. Estudo Teórico

Nesta seção, apresentamos nossos estudos teóricos ab initio, resultantes da

investigação das biomoléculas de celulose e lignina, enfatizando a análise dos sítios e

mecanismos de sorção do cobre nestas estruturas. Fazemos uma análise das

propriedades estruturais e vibracionais das unidades monoméricas constituintes

dessas moléculas, tanto puras como contendo cobre; obtemos os espectros

vibracionais Raman e de infravermelho e comparamos nossos resultados com dados

teóricos e experimentais disponíveis na literatura.

4.5.1. Resultados, Análise e Discussão

4.5.1.1. Propriedades Estruturais: Celulose Pura e Contendo Cobre A estrutura-modelo da molécula de celulose que serviu de ponto de partida

para a construção das estruturas usadas em nossas simulações é mostrada na Fig.

4.22. A unidade monomérica da molécula de celulose, a β-D-glicose, foi calculada

teoricamente considerando dois tipos de saturação. No primeiro caso, as ligações

pendentes (“dangling bonds”) foram saturadas com átomos de hidrogênio (Fig. 4.23a);

no segundo caso, a saturação das extremidades do monômero foi feita por radicais

metil (CH3), conforme está evidenciado na Fig. 4.23b. Um outro tipo de simulação

considerada foi a estrutura do dímero de celulose, formado por duas unidades

monoméricas de β-D-glicose, unidas entre si por uma ligação glicosídica do tipo

β(1→4) (Fig. 4.23c).

Figura 4.22. Fragmento da cadeia celulósica que serviu de ponto de partida para nossas

simulações, evidenciando as ligações glicosídicas do tipo β(1→4), características da estrutura

conformacional. Os átomos de C, O e H estão representados por esferas nas cores cinza, preta

e branca, respectivamente.

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Os monômeros de celulose sem cobre, representados nas Figs. 4.23a e 4.23b

foram calculados pelos métodos Hartree-Fock restrito (RHF), utilizando o conjunto-

base 6-311G**; para o dímero da Fig. 4.23(c), empregamos método RHF no conjunto-

base 6-31G, permitindo a relaxação completa de todas as estruturas, de modo a

minimizar a energia total. Todos os comprimentos de ligação e ângulos de ligação

interatômicos foram optimizados. A Tabela IV.4 mostra alguns dos parâmetros

geométricos obtidos após o processo de optimização das estruturas moleculares, em

conexão com a notação dada na Fig. 4.23. Os dados experimentais listados na última

coluna da Tabela IV.4 se referem a valores típicos atribuídos a pequenas moléculas

que contêm os grupos funcionais listados na primeira coluna, extraídos na literatura

[4].

Figura 4.23. Estruturas moleculares de compostos celulósicos. Os átomos de C, O, e H estão

representados por esferas nas cores cinza, preta e branca, respectivamente. (a) Monômero de

celulose saturado nas extremidades com átomos de hidrogênio. (b) Monômero de celulose

saturado nas extremidades com radicais metil (CH3). (c) Dímero de celulose saturado com

radicais metil.

Tabela IV.4. Comprimentos de ligação (em Å) e ângulos de ligação (em graus) referentes às

estruturas celulósicas mostradas na Fig. 4.23. Os valores experimentais mostrados na última

coluna se referem a valores típicos da literatura [4], atribuídos a pequenas moléculas que

contêm os grupos funcionais listados na primeira coluna.

Parâmetros

Monômero (Fig. 4.23a)

Monômero (Fig. 4.23b)

Dímero (Fig. 4.23c)

Dados experimentais [4]

d(C1-O2) 1.402 1.400 1.394 1.421 d(O2-C8) 1.403 1.398 - 1.421 d(O2-C4) - - 1.444 1.421 d(O3-H4) 0.942 - - 0.958 d(C3-H4) - 1.081 - 1.092 d(C3-H8) - - 1.077 1.092 d(O5-H6) 0.942 0.942 0.953 0.958 d(C1-C7) 1.531 1.531 - 1.531 d(C7-C9) 1.518 1.525 1.519 1.531

<C1-O2-C8 116.28o 115.04o - 114.80o

<C1-O2-C4 - - 124.09o - <C1-C7-C9 109.22o 109.69o 110.82o 110.80o

<C9-O5-H6 109.41o 109.53o 112.86o 108.00o

103

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Reações entre o átomo de cobre e compostos orgânicos de natureza

bioquímica, como os carboidratos, têm sido largamente investigadas. Como já

mencionado, uma das características intrínsecas dos compostos polissacarídicos é a

presença de várias ligações de hidrogênio intramoleculares. BOUTREAU et al. [27]

estudaram a interação entre o monocátion Cu+ e o anel de α-D-glicose, através do

método teórico ab initio da Teoria do Funcional da Densidade (DFT), usando o

funcional B3LYP no conjunto-base 6-31G(d,p) e verificaram que estas ligações são

capazes de influenciar significativamente a estabilidade relativa dos complexos

formados, bem como sua capacidade de interagir com outros sistemas, dependendo

das cargas induzidas pela associação com o cátion metálico.

Em nossas investigações, verificamos que estas interações são seguidas por

uma drástica reorganização da densidade eletrônica do sistema. Estas redistribuições

nas densidades de carga usualmente se refletem em processos de ativação ou reforço

das ligações de hidrogênio. As perturbações causadas pelo cátion Cu+ quando o

sistema apresenta uma ou mais ligações de hidrogênio intramoleculares são

particularmente interessantes. Observamos um enfraquecimento da ligação quando o

metal se fixa ao átomo ligante mais eletronegativo na estrutura do anel. Além disso,

para átomos muito eletronegativos, esta fixação pode conduzir, no limite, a uma

ruptura da ligação química. Por outro lado, quando a fixação do cátion se dá no átomo

ligante menos eletronegativo, as ligações se tornam mais fortes. Este comportamento

se deve principalmente à baixa estabilidade das ligações de hidrogênio

intramoleculares das espécies protonadas com relação ao composto puro. Diversos

monocátions, em particular metais de transição, podem apresentar efeitos similares.

Com base nas idéias propostas por BOUTREAU et al. [27], estudamos a

inserção do átomo de cobre nos monômeros de celulose representados nas Figs.

4.23a e 4.23b. Investigamos dois possíveis sítios de sorção do metal, conforme

representado na Fig. 4.24. O primeiro caso consistiu na substituição de um átomo de

hidrogênio do monômero da Fig. 4.23b, H6, pelo átomo de cobre, Cu6, representado

na Fig. 4.24a. No segundo caso, estudamos o átomo de cobre, Cu10, num sítio em que

este afetava as ligações de hidrogênio intramoleculares, existentes naturalmente nas

estruturas dos açúcares (Fig. 4.24b).

A Tabela IV.5 lista os valores calculados para os mesmos parâmetros

geométricos mostrados na Tabela IV.4 (comprimentos de ligação e ângulos de ligação

interatômicos) para as unidades monoméricas da celulose na presença do cobre, em

conexão com a notação dada na Fig. 4.24.

104

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Figura 4.24. Estruturas monoméricas da molécula de celulose contendo cobre, usadas nas

simulações. Os átomos de C, Cu, O e H estão representados por esferas nas cores cinza

escura, cinza clara, preta e branca, respectivamente. (a) Monômero de celulose saturado nas

extremidades com radicais metil, em que o átomo de cobre Cu6 ocupa um sítio substitucional

ao hidrogênio H6 do grupo hidroxila. (b) Monômero de celulose, saturado nas extremidades

com átomos de hidrogênio, em que o átomo de cobre Cu10 afeta as ligações de hidrogênio

intramoleculares presentes na estrutura.

Tabela IV.5. Comprimentos de ligação (em Å) e ângulos de ligação (em graus) referentes aos

monômeros de celulose contendo cobre, mostrados na Fig. 4.24.

Parâmetros

Monômero de Celulose (Fig. 4.24a)

Monômero de Celulose (Fig. 4.24b)

d(C1-O2) 1.401 1.435 d(O2-C8) 1.402 1.440 d(O3-H4) - 0.949 d(C3-H4) 1.082 -

d(O3-Cu10) - 3.659 d(Cu10-O11) - 2.434

d(O5-H6) - 0.947 d(O5-Cu6) 1.877 - d(C1-C7) 1.531 1.522 d(C7-C9) 1.530 1.514

<C1-O2-C8 115.49o 116.41o

<C1-C7-C9 110.94o 108.85o

<C9-O5-H6 - 112.18o

<C9-O5-Cu6 118.39o -

Como mostrado na Fig. 4.24a, um possível sítio de sorção do átomo de cobre

na estrutura da celulose é aquele formado pela substituição do átomo de hidrogênio H6

do grupo O5-H6 (Fig. 4.23b) pelo átomo de cobre Cu6 (Fig. 4.24a). As alterações

causadas por esta substituição são refletidas no comprimento de ligação d(O5-H6), que

no monômero mostrado na Fig. 4.23(b) vale 0.942 Å. Este parâmetro obviamentesofre

um aumento de 0.935 Å (99.26%) quando o átomo de cobre Cu6 é introduzido na

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estrutura. Da mesma forma, o ângulo de ligação <C9-O5-H6, cujo valor é 109.53o no

monômero da Fig. 4.23b, aumenta de 8.86o (8.09%) devido à presença do cobre (Fig.

4.24a). Neste sítio de sorção, as alterações conformacionais da estrutura monomérica

foram alteradas localmente nas proximidades do sitio substitucional, afetando muito

pouco os demais sítios da molécula, conforme pode ser evidenciado pela análise dos

dados contidos nas Tabelas IV.4 e IV.5.

Como ilustrado na Fig. 4.24(b), outro possível sítio de sorção do átomo de

cobre origina um complexo formado pelo monômero de celulose, no qual o metal foi

introduzido de modo a afetar as ligações de hidrogênio intramoleculares existentes no

composto. Isso pode ser visto como o resultado da interação entre o átomo de cobre

Cu10 e o oxigênio O2 da estrutura, seguido por uma mudança conformacional no grupo

CH2OH ligado ao oxigênio O1, a fim de favorecer a formação de um quelato, no qual o

metal interage simultaneamente com os dois átomos de oxigênio (O3 e O11) dos

grupos hidroxila vizinhos (O3-H4 e O11-H12). Um efeito similar foi também observado

por BOUTREAU et al. [27], em concordância com nossos resultados.

O posicionamento do átomo de cobre Cu10 próximo ao oxigênio cíclico O2 do

monômero implica numa rotação interna do grupo O11-H12 (correspondendo ao grupo

O10-H11 na Fig. 4.23a), de modo a evitar a interação repulsiva entre o hidrogênio

positivamente carregado H12 (que corresponde ao hidrogênio H11 na Fig. 4.23a) e o

metal. Este comportamento pode ser explicado pela presença do cobre, que ocasiona

baixa estabilidade às ligações de hidrogênio intramoleculares. A mudança

conformacional da estrutura também favorece uma estabilização na interação entre o

cobre Cu10 e os átomos de oxigênio negativamente carregados O3 e O11 (Fig. 4.24b),

cujos comprimentos de ligação calculados d(O3-Cu10) e d(Cu10-O11) valem,

respectivamente, 3.659 Å e 2.434 Å, conforme mostrado na Tabela IV.5.

A conseqüência mais importante é que a ligação de hidrogênio O10-H11...O2 no

monômero da Fig. 4.23a é destruída, ao passo que as demais ligações de hidrogênio

intramoleculares do complexo, embora preservadas, são perturbadas. Os

comprimentos de ligação d(C1-O2) e d(O2-C8), no monômero da Fig. 4.23a, aumentam

de 0.03 Å (2.14%) e 0.04 Å (2.85%), respectivamente, quando o cobre é introduzido na

estrutura (Fig. 4.24b). Pode-se notar ainda que os comprimentos de ligação d(C1-C7) e

d(C7-C9) sofrem um decréscimo de 0.009 Å (0.59%) e 0.004 Å (0.26%), devido à

presença do cobre, ao passo que o ângulo de ligação <C1-O2-C8 praticamente não é

modificado. Todavia, o ângulo de ligação <C9-O5-H6 sofre um aumento de 2.77o

(2.53%) quando o cobre é introduzido na estrutura. Portanto, a presença do cobre na

estrutura monomérica da celulose, afetando as ligações de hidrogênio

106

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intramoleculares, é capaz de provocar um maior número de alterações

conformacionais no monômero ao longo de todo o arranjo da molécula.

Na estrutura do dímero representado na Fig. 4.23c, o ângulo de ligação <C1-

O2-C4 vale 124.09o e os comprimentos de ligação d(C1-O2) e d(O2-C4) valem 1.394 Å e

1.444 Å, respectivamente, em boa concordância com os valores experimentais

disponíveis na literatura [4]. Estes parâmetros caracterizam a ligação β(1→4), típica

das cadeias celulósicas. A Tabela IV.6 traz uma comparação entre nossos resultados e os valores

teóricos obtidos por BOUTREAU et al. [27], especificamente para os comprimentos de

ligação O-H do monômero de celulose saturado com hidrogênios, tanto puro como

contendo cobre no sítio intersticial. A notação utilizada na Tabela IV.6 é dada de

acordo com o esquema da Fig. 4.25. É importante salientar que nossos cálculos foram

realizados empregando o conjunto-base triple-zeta 6-311G**, ao passo que

BOUTREAU et al. [27] empregaram uma base double-zeta do tipo 6-31G.

Tabela IV.6. Comprimentos de ligação O-H (em Å) dos monômeros de celulose saturados com

átomos de hidrogênio, mostrados na Fig. 4.25, tanto puros como contendo corbre, comparados

com valores teóricos disponíveis na literatura [27].

Ligação Monômero puro (Fig. 4.25a)

Monômero com Cu (Fig. 4.25b)

Monômero puro [27]

Monômero com Cu [27]

O2-H2 0.9421 0.9489 0.9746 0.9840 O3-H3 0.9423 0.9480 0.9703 0.9713 O4-H4 0.9422 0.9473 0.9707 0.9704 O5-H5 0.9430 0.9462 0.9715 0.9707 O6-H6 0.9398 0.9465 0.9715 0.9710

(a) (b)

Figura 4.25. Esquema das estruturas optimizadas do monômero de celulose saturado com

hidrogênios. (a) Puro; (b) contendo cobre num sítio intersticial. Os átomos de C, Cu, O e H são

representados por esferas nas cores cinza escura, cinza clara, preta e branca,

respectivamente.

107

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De acordo com nossos resultados, os comprimentos de ligação O2-H2, O3-H3,

O4-H4, O5-H5 e O6-H6, listados na Tabela IV.6, sofrem um aumento de 0.0068 Å

(0.72%), 0.0057 Å (0.60%), 0.0051 Å (0.54%), 0.0032 Å (0.34%) e 0.0067 Å (0.71%),

respectivamente, quando o cobre é inserido na estrutura do monômero. Verificamos

que os comprimentos de ligação O-H que sofrem maior alteração são O2-H2 e O6-H6,

exatamente aqueles localizados nas proximidades do sítio intersticial do cobre.

Comparando nossos resultados com os valores obtidos por BOUTREAU et al. [27],

não verificamos a mesma tendência. Em seus cálculos, apenas os comprimentos de

ligação O2-H2 e O3-H3 aumentam de 0.0094 Å (0.96%) e 0.0010 Å (0.10%),

respectivamente; ao passo que os comprimentos de ligação O4-H4, O5-H5 e O6-H6

sofrem decréscimos de 0.0003 Å (0.03%), 0.0008 Å (0.08%) e 0.0005 Å (0.05%),

respectivamente, quando o cobre é inserido na estrutura do anel celulósico.

A Tabela IV.7 lista as energias totais para as seguintes unidades monoméricas:

Fig. 4.23a), que representa o monômero de celulose puro, com saturação de

hidrogênio; Fig. 4.23b), que representa o monômero puro, com saturação de radicais

metil; Fig. 4.24a), que traz o monômero de celulose com o cobre num sítio

substitucional (saturação de radicais metil); Fig. 4.24b), representando o monômero

com o cobre num sítio intersticial (saturação de hidrogênio).

Tabela IV.7. Energias totais (em eV) calculadas para os monômeros de celulose, tanto puros

como contendo cobre em suas estruturas.

Unidade Monomérica ERHF (104 eV) EUHF (104 eV) Monômero puro (saturação de H) -1.860 - Monômero puro (saturação de CH3) -2.072 - Monômero com Cu (sítio intersticial) - -6.319 Monômero com Cu (sítio substitucional) - -6.530

4.5.1.2. Propriedades Estruturais: Lignina Pura e Contendo Cobre

Simulamos quatro tipos de unidades monoméricas, também denominadas

moléculas-modelo, que compõem a estrutura da lignina, representadas na Fig. 4.26.

São elas: guaiacil (Fig. 4.26a), siringil (Fig. 4.26b), para-hidróxi-fenil (Fig. 4.26c) e a

molécula-modelo contendo o grupo carbonila C=O (Fig. 4.26d), com base em modelos

propostos na literatura [19,24,25]. Todas as estruturas estudadas foram optimizadas

usando o método Hartree-Fock irrestrito (UHF), com o conjunto- base 6-311G**.

108

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Figura 4.26. Representação das unidades monoméricas da molécula de lignina. (a) Guaiacil;

(b) siringil; (c) para-hidróxi fenil; (d) molécula-modelo contendo o grupo carbonila C=O. Os

átomos de C, O e H estão representados por esferas nas cores cinza, preta e branca,

respectivamente.

Na Tabela IV.8 mostramos alguns parâmetros geométricos (comprimentos de

ligação e ângulos de ligação interatômicos) obtidos após o processo de minimização

da energia total, em conexão com a notação dada na Fig. 4.26. No caso das unidades

monoméricas constituintes da lignina, analisamos o sítio substitucional do átomo de

cobre, conforme representado na Fig. 4.27. Na Tabela IV.9 estão listados os valores

dos mesmos parâmetros geométricos mostrados na Tabela IV.8 (comprimentos de

ligação e ângulos de ligação interatômicos) para as quatro unidades monoméricas da

lignina, na presença de cobre, em conexão com a notação dada na Fig. 4.27.

Tabela IV.8. Comprimentos de ligação (em Å) e ângulos de ligação (em graus) para as

unidades monoméricas da lignina mostradas na Figura 4.26.

Parâmetros

Guaiacil (Fig. 4.26a)

Siringil (Fig. 4.26b)

P-hidróxi fenil (Fig. 4.26c)

Molécula-modelo com C=O (Fig. 4.26d)

d(C1-C2) 1.383 1.390 1.384 1.392 d(C2-C3) 1.386 1.377 1.382 1.378 d(C2-O4) 1.379 1.374 1.378 1.363 d(O4-H5) 0.946 0.948 0.946 0.948 d(O6-H7) 0.947 0.947 0.947 - d(C6-O7) - - - 1.222 d(C1-O8) - 1.380 - 1.381 d(H5-O8) - 2.143 - 2.170

<C1-C2-C3 119.68o 119.33o 120.28o 120.09o

<C2-O4-H5 114.07o 111.46o 114.46o 112.57o

<C2-C1-O8 - 113.42o - 113.92o

<C3-C2-O4 117.96o 120.64o 117.19o 119.72o

<O4-H5-O8 - 110.36o - 109.24o

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Na unidade guaiacil (Fig. 4.27a), a inserção do átomo de cobre Cu7,

substitucional ao átomo de hidrogênio H7 (Fig. 4.26a) ocasiona um aumento de 0.911

Å (96.20%) ao comprimento de ligação d(O6-H7), referente ao composto sem cobre.

Os comprimentos de ligação d(O4-H5) nas estruturas siringil, para-hidróxi-fenil e

na molécula-modelo contendo C=O obviamente aumentam de 0.998 Å (105.27%),

0.922 Å (97.46%) e 1.014 Å (106.96%), respectivamente, devido à substituição do

átomo de hidrogênio H5 (Fig. 4.26) pelo átomo de cobre Cu5 (Fig. 4.27). Nestas

mesmas estruturas, os ângulos de ligação <C2-O4-H5 também sofrem um aumento de

3.24o (2.88%), 14.99o (13.09%) e 0.57o (0.51%), respectivamente.

Por outro lado, os ângulos <O4-H5-O8 nas estruturas do siringil (Fig. 4.27b) e da

molécula-modelo com C=O (Fig. 4.27d) diminuem de 29.44o (26.68%) e 29.94o

(27.41%), respectivamente, quando o hidrogênio H5 é substituído pelo cobre Cu5.

Nenhuma modificação significativa é observada nos demais parâmetros geométricos

das estruturas analisadas, conforme pode ser constatado pelos valores listados nas

Tabelas IV.8 e IV.9, evidenciando, portanto, que a inserção do átomo de cobre num

sítio substitucional perturba as estruturas moleculares localmente, alterando muito

pouco o restante da conformação estrutural. Este mesmo comportamento foi verificado

nos compostos celulósicos estudados na seção anterior.

Figura 4.27. Representação das unidades monoméricas da molécula de lignina contendo

cobre. (a) Guaiacil; (b) siringil; (c) para-hidróxi fenil; (d) molécula-modelo contendo o grupo

carbonila C=O. Os átomos de C, Cu, O e H estão representados por esferas nas cores cinza

escura, cinza clara, preta e branca, respectivamente.

Tabela IV.9. Comprimentos de ligação (em Å) e ângulos de ligação (em graus) para as

unidades monoméricas da lignina contendo cobre, mostradas na Fig. 4.27.

Parâmetros Guaiacil

(Fig. 4.27a) Siringil

(Fig. 4.27b) P-hidróxi fenil (Fig. 4.27c)

Molécula-modelo com C=O (Fig. 4.27d)

d(C1-C2) 1.383 1.408 1.401 1.410

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Tabela IV.9. (continuação) d(C2-C3) 1.386 1.400 1.400 1.407 d(C2-O4) 1.383 1.330 1.333 1.314 d(O4-H5) 0.946 - - -

d(O4-Cu5) - 1.946 1.868 1.962 d(O6-H7) - 0.947 0.947 -

d (O6-Cu7) 1.858 - - - d(C1-O8) - 1.413 - 1.413 d(C6-O7) - - - 1.227

d(Cu5-O8) - 2.230 - 2.305 <C1-C2-C3 119.54o 115.41o 117.21o 116.14o

<C2-O4-H5 113.63o - - - <C2-O4-Cu5 - 114.70o 129.45o 113.14o

<C2-C1-O8 - 114.85o - 117.13o

<C3-C2-O4 118.06o 122.24o 120.45o 122.78o

<O4-Cu5-O8 - 80.92o - 79.30o

Na Tabela IV.10, listamos as energias totais para as seguintes unidades

monoméricas da lignina, tanto puras (Fig. 4.26) como contendo cobre (Fig. 4.27): para-

hidróxi-fenil, guaiacil, siringil e a molécula-modelo contendo C=O.

Tabela IV.10. Energias totais (em eV) calculadas para os monômeros de lignina, tanto puros

como contendo cobre em suas estruturas.

Unidade Monomérica ERHF (104 eV) EUHF (104 eV) Para-hidróxi-fenil (puro) -1.557 - Para-hidróxi-fenil (com Cu) - -6.015 Guaiacil (puro) -1.867 - Guaiacil (com Cu) - -6.325 Siringil (puro) -2.177 - Siringil (com Cu) - -6.635 Molécula-modelo contendo C=O (pura) -1.554 - Molécula-modelo contendo C=O (com Cu) - -6.012

4.5.1.3. Propriedades Vibracionais: Celulose Pura e Contendo Cobre A Tabela IV.11 traz uma comparação entre nossos resultados e os valores

teóricos obtidos por BOUTREAU et al. [27], especificamente para as freqüências

vibracionais de estiramento dos grupos O-H do monômero de celulose saturado com

hidrogênios, tanto puro como contendo cobre no sítio intersticial. A notação

considerada na Tabela IV.11 é mesma adotada no esquema da Fig. 4.25.

De acordo com nossos resultados, verificamos uma diminuição das freqüências

vibracionais de estiramento dos grupos O-H do monômero quando o cobre é inserido

na estrutura. Os modos normais atribuídos às ligações O2-H2, O3-H3, O4-H4, O5-H5 e O6-

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H6 listadas na Tabela IV.11 são reduzidos de 96 cm-1 (2.60%), 112 cm-1 (3.00%), 75

cm-1 (2.02%), 90 cm-1 (2.43%) e 79 cm-1 (2.14%) devido à presença do cobre.

Comparando nossos resultados com os valores obtidos por BOUTREAU et al. [27],

não verificamos o mesmo comportamento. Em seus cálculos, ocorre uma diminuição

nas freqüências vibracionais de estiramento das ligações O2-H2, O3-H3 e O5-H5 de 140

cm-1 (3.80%), 5 cm-1 (0.13%) e 10 cm-1 (0.27%), respectivamente. Já as ligações O4-H4

e O6-H6 têm suas freqüências de estiramento aumentadas de 13 cm-1 (0.35%) e 16 cm-

1 (0.43%), respectivamente, devido à presença do cobre na estrutura do monômero.

Tabela IV.11. Freqüências vibracionais de estiramento (em cm-1) do monômero de celulose

saturado com átomos de hidrogênio, mostrado na Fig. 4.25, tanto puro como contendo cobre,

comparados com os valores teóricos disponíveis na literatura [27].

Ligação Monômero puro

(Fig. 4.25a)

Monômero com Cu

(Fig. 4.25b)

Monômero puro [27]

Monômero com Cu [27]

O2-H2 3687 3591 3681 3541 O3-H3 3731 3619 3745 3740 O4-H4 3704 3629 3742 3755 O5-H5 3702 3612 3732 3722 O6-H6 3700 3621 3727 3743

Nas Tabelas IV.12 e IV.13 estão listados alguns modos normais de vibração

atribuídos às estruturas dos monômeros e dímeros da molécula de celulose mostrados

nas Figs. 4.23 e 4.24, respectivamente, comparados aos dados teóricos e

experimentais disponíveis na literatura.

Tabela IV.12. Modos normais de vibração (em cm-1) calculados para as estruturas celulósicas

mostradas na Fig. 4.23, comparados com os valores experimentais propostos na literatura [22].

Monômero (Fig. 4.23a)

Monômero (Fig. 4.23b)

Dímero (Fig. 4.23c)

Dados Experimentais

[22]

Nossas Atribuições

880 881 871 880 Deformação C-H fora do plano 964 961 971 965 Estiramento C-O 973 989 995 998 Estiramento C-O 1000 1027 1001 1010 Estiramento C-O acoplado 1035 1041 1041 1032 Estiramento C-O 1051 1055 1056 1055 Estiramento C-O acoplado 1123 1123 1123 1120 Estiramento C-O acoplado 1159 1163 1162 1160 Estiramento C-O 1225 1237 1243 1245 Estiramento C-O 1322 1337 1321 1325 Resp. do anel com estiram. C-O 1378 1372 1371 1371 Dobramento C-H 1385 1382 1384 1385 Dobramento C-H

112

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Tabela IV.12. (continuação) 1428 1423 1423 1428 Dobramento CH21442 1446 1443 1450 Dobramento CH2 simétrico 2869 2884 2887 2894 Estiramento C-H

- 2914 2947 2935 Estiramento anti-simétrico CH2- - 2968 2967 Estiramento C-H - - 2974 2985 Estiramento C-H

3687 3694 3471 3475 Estiramento O-H

Tabela IV.13. Alguns modos normais de vibração (em cm-1) calculados para as estruturas

celulósicas contendo cobre, mostradas na Fig. 4.24, comparados com os valores experimentais

propostos na literatura para amostras de fibras de L. sativa (alface), tanto pura como contendo

cobre [1].

Monômero da Fig. 4.24(a)

Monômero da Fig. 4.24(b)

Dados experimentais (amostra com Cu) [1]

Dados experimentais (amostra in natura) [1]

1243 1232 1245 1245 1334 1336 1330 1330 1370 1379 1373 1373 1420 1406 1411 1413 1431 1424 1428 1430 1458 1484 1459 1459

Observando os valores listados na Tabela IV.12, verificamos que para todas as

estruturas celulósicas analisadas, os espectros vibracionais obtidos apresentaram uma

ausência de picos na faixa entre 1442 e 2869 cm-1. MICHELL e HIGGINS [22]

constataram experimentalmente esta faixa espectral ausente, de 1450 a 2894 cm-1,

conforme mostrado nesta tabela. Por comparação entre os modos vibracionais

atribuídos aos monômeros das Figs. 4.23(a) e 4.23(b), concluímos que o tipo de

saturação das ligações pendentes (com átomos de hidrogênio ou radicais metil) não

foi capaz de causar alterações significativas nos valores das freqüências calculadas.

Estes valores também não apresentaram variações expressivas quando calculados

considerando monômeros ou dímeros de celulose, conforme pode ser evidenciado se

compararmos os valores da Tabela IV.12 entre os monômeros e o dímero. Portanto,

de acordo com os resultados obtidos, concluímos que esta faixa espectral ausente não

pode ser atribuída nem ao tamanho da cadeia celulósica nem ao tipo de saturação

aplicado nas simulações das estruturas.

Esta faixa espectral ausente pode então ser justificada, considerando a

inexistência de grupos funcionais nas cadeias celulósicas, capazes de originar modos

vibracionais com freqüências localizadas nesta região do espectro. Picos incluídos

nesta região podem ser atribuídos, por exemplo, a grupos funcionais presentes na

molécula de lignina que, como já discutido anteriormente, se ligam fortemente à

113

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celulose, formando uma matriz de propriedades cimentantes e, portanto, presente nos

espectros experimentais em que se consideram amostras de biomassa vegetal.

Os dados listados na Tabela IV.13 mostram que a presença do cobre altera

muito pouco os valores das freqüências vibracionais dos monômeros de celulose na

região espectral considerada, entre ~ 1232 e 1484 cm-1.

A sorção de cobre nos monômeros de celulose, tanto substitucional ao átomo

de hidrogênio dos grupos hidroxila (Fig. 4.24a) quanto afetando as ligações de

hidrogênio intramoleculares, (Fig. 4.24b), é efetivamente responsável apenas pela

manifestação de modos vibracionais de baixas freqüências, como pode ser notado na

Tabela IV.14. Estes modos não foram detectados pelos equipamentos de FTIR usados

nos trabalhos de CARVALHO et al. [2,3], uma vez que foram limitados à região do

infravermelho médio, de 500 a 2000 cm-1.

Notamos que a presença do átomo de cobre é efetivamente responsável tanto

pelo aparecimento de novos modos vibracionais, quanto pela supressão de alguns

modos existentes antes de sua inserção nas estruturas moleculares dos monômeros

puros. Por exemplo, para o monômero de celulose com cobre (Fig. 4.24a), os picos

calculados em 31, 57, 78, 132, 173, 206, 277, 301, 381, 448 e 472 cm-1 não aparecem

no monômero puro da Fig. 4.23(b). Similarmente, para o monômero de celulose com

cobre mostrado na Fig. 4.24(b), os picos calculados em 25, 42, 81, 138, 212, 229, 233,

293, 307, 392, 422, 432 e 490 cm-1 também não se manifestam no monômero puro

correspondente (Fig. 4.23a). Portanto, foi possível constatarmos que o átomo de cobre

é de fato responsável somente pelo aparecimento de modos vibracionais de baixas

freqüências, como é naturalmente esperado para o comportamento vibracional de um

metal pesado. Nos trabalhos realizados por FREITAS [1] e CARVALHO et al. [2,3], os

autores mostraram experimentalmente que os valores das freqüências vibracionais

acima de 500 cm-1 são, de fato, muito pouco alterados quando o cobre é introduzido

nas amostras de biomassa ricas em celulose ou lignina, conforme fica evidenciado na

Tabela IV.13, corroborando nossos resultados teóricos. Outra observação importante a

ser feita é que a presença do cobre provoca uma alteração menor nos modos

vibracionais das unidades monoméricas de celulose saturadas com hidrogênio,

quando comparada ao seu efeito no monômero com saturação por radicais metil.

Tabela IV.14. Modos normais de vibração de baixas freqüências (em cm-1), calculados

teoricamente para os monômeros de celulose mostrados nas Figs. 4.23 e 4.24.

Monômero puro (saturado com H)

(Fig. 4.23a)

Monômero com Cu (saturado com H)

(Fig. 4.24b)

Monômero puro (saturado com CH3)

(Fig. 4.23b)

Monômero com Cu (saturado com CH3)

(Fig. 4.24a) 63 25 41 31

114

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Tabela IV.14. (continuação) 98 42 60 43

109 67 67 57 163 81 93 67 195 98 96 78 223 107 121 93 247 138 164 105 255 212 168 132 272 229 189 169 288 233 212 173 324 255 232 206 332 257 254 216 375 293 257 230 381 307 271 258 398 321 296 260 406 371 308 277 418 392 331 301 455 396 340 307 468 401 390 343

- 422 422 381 - 432 434 434 - 490 465 448 - - 496 472 - - - 499

As Figs. 4.28 e 4.29 trazem os espectros vibracionais de infravermelho e

Raman calculados para as estruturas celulósicas representadas nas Figs. 4.23 e 4.24.

Podemos observar que, tanto nos espectros de infravermelho quanto de Raman, está

evidenciada a faixa espectral ausente, entre ~ 1440 e 2870 cm-1. Particularmente, no

monômero de celulose da Fig. 4.23b, a sorção do cobre provoca um aumento das

intensidades de infravermelho na região de freqüências em torno de 1500 cm-1 e um

decréscimo nas intensidades Raman na região de altas freqüências (em torno de 3700

cm-1), como pode ser evidenciado nas Figs. 4.28(b) e 4.29(b), respectivamente.

115

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0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20

25

30

Inte

nsid

ade

de IR

(Km

/mol

)

Freqüência (cm-1)

Monômero de celulose puro: saturado com H saturado com CH3

0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20

25

30

Inte

nsid

ade

de IR

(Km

/mol

)

Freqüência (cm-1)

Monômero de celulose saturado com -CH3:

sem cobre com cobre

(a) (b)

0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20

25

30

35

Inte

nsid

ade

de IR

(Km

/mol

)

Freqüência (cm-1)

Monômero de celulosesaturado com H:

sem cobre com cobre

0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20

25

30

Inte

nsid

ade

de IR

(Km

/mol

)

Freqüência (cm-1)

Dímero de celulose puro, saturado com radicais CH3

(c) (d)

Figura 4.28. Espectros de infravermelho calculados para as estruturas celulósicas. (a)

Monômero de celulose puro, saturado com átomos de hidrogênio (linha vermelha) e com

radicais metil (linha azul); (b) monômero de celulose saturado com radicais metil, puro (linha

vermelha) e com o átomo de cobre no sítio substitucional (linha azul); (c) monômero de

celulose saturado com átomos de hidrogênio, puro (linha vermelha) e com o átomo de cobre no

sítio intersticial (linha azul); (d) dímero de celulose puro, saturado com radicais metil (linha

vermelha). (Obs.: largura de resolução das lourencianas: 2.00).

116

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0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

Ativ

idad

e R

aman

(A4 /u

.m.a

.)

Freqüência (cm-1)

Monômero de celulose saturado com -CH3: sem cobre com Cu

0 1000 2000 3000 40000

5

10

15A

tivid

ade

Ram

an (A

4 /u.m

.a.)

Freqüência (cm-1)

Monômero de celulose puro: saturado com H saturado com CH3

(a) (b)

0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20

25

30 Monômero de celulose saturado com H:

sem cobre com cobre

Ativ

idad

e R

aman

(A4 /u

.m.a

.)

Freqüência (cm-1)0 1000 2000 3000 4000

0

5

10

15

20

Ativ

idad

e R

aman

(A4 /u

.m.a

.)

Freqüência (cm-1)

Dímero de celulose puro, saturado com radicais CH3

(c) (d)

Figura 4.29. Espectros Raman calculados para as estruturas celulósicas. (a) Monômero de

celulose puro, saturado com átomos de hidrogênio (linha vermelha) e com radicais metil (linha

azul); (b) monômero de celulose saturado com radicais metil, puro (linha vermelha) e com o

átomo de cobre no sítio substitucional (linha azul); (c) monômero de celulose saturado com

átomos de hidrogênio, puro (linha vermelha) e com o átomo de cobre no sítio intersticial (linha

azul); (d) dímero de celulose puro, saturado com radicais metil (linha azul). (Obs.: largura de

resolução das lourencianas: 2.00).

4.5.1.4. Propriedades Vibracionais: Lignina Pura e Contendo Cobre

Equivalentemente, nos compostos de lignina analisados neste estudo, o átomo

de cobre presente nas estruturas é também responsável pelo aparecimento de modos

117

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vibracionais de baixas freqüências, abaixo de 500 cm-1, conforme pode ser verificado

na Tabela IV.15.

Tabela IV.15. Modos normais de vibração de baixas freqüências (em cm-1), calculados

teoricamente para as unidades monoméricas da molécula de lignina, representadas nas Figs.

4.26 e 4.27.

Monômero (Fig.

4.26a)

Monômero (Fig.

4.27a)

Monômero (Fig.

4. 26b)

Monômero(Fig.

4.27b)

Monômero(Fig.

4.26c)

Monômero(Fig.

4.27c)

Monômero (Fig.

4.26d)

Monômero(Fig.

4.27d) 24 18 21 19 34 20 82 68 47 33 37 23 55 36 105 76 65 47 56 46 86 54 127 123 85 63 60 69 127 57 176 149 123 70 85 78 160 87 258 157 128 101 122 86 193 131 309 213 155 125 126 100 237 158 329 248 158 130 137 119 270 191 427 331 202 154 155 130 273 234 435 343 231 159 163 143 277 239 489 355 236 172 188 151 313 269 - 407 267 213 216 168 349 277 - 454 272 220 244 179 394 346 - 482 286 245 266 203 424 357 - - 290 280 271 227 447 429 - - 337 288 274 260 482 453 - - 364 326 279 272 - 472 - - 421 364 294 277 - - - - 445 411 317 282 - - - - 476 432 358 295 - - - - 495 476 387 307 - - - -

- 486 425 367 - - - - - - 442 391 - - - - - - 456 440 - - - - - - 485 453 - - - - - - - 460 - - - - - - - 492 - - - -

Analisando os valores listados nas Tabelas IV.2 e IV.3, verificamos que os

picos experimentais em 1745 cm-1 (Tabela IV.2) e 1739 cm-1 (Tabela IV.3) são

provenientes do estiramento da ligação C=O do grupo acetil e estão em boa

concordância com nosso pico calculado, em 1744 cm-1 para a unidade monomérica da

molécula de lignina mostrada na Fig. 4.26(d), e definitivamente não podem ser

atribuídos à molécula de celulose. Com a inserção do cobre, este pico sofre um

decréscimo de 14 cm-1 (Fig. 4.27d).

Conforme pode ser verificado na Tabela IV.16, para as unidades monoméricas

mostradas nas Figs. 4.26a, 4.26b, 4.26c e 4.26d os picos calculados em 1502, 1494,

1503 e 1508 cm-1, respectivamente, provenientes do estiramento da ligação C=C dos

118

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anéis aromáticos, estão em boa concordância com os picos experimentais em 1527

cm-1 [1] e 1510 cm-1 [26]. Para as mesmas estruturas, os picos calculados em 1606,

1606, 1608 e 1608 cm-1, respectivamente, estão em boa concordância com os picos

experimentais em 1609 cm-1 [1] e 1600 cm-1 [26], também provenientes do estiramento

da ligação C=C dos anéis aromáticos.

Tabela IV.16. Modos vibracionais de estiramento C=C (em cm-1) calculados para as

componentes da molécula de lignina pura, representadas na Fig. 4.26. Os valores

experimentais (em cm-1) se referem às referências [1] e [26].

P-hidróxi fenil

(Fig. 4.26a)

Guaiacil (Fig. 4.26b)

Siringil (Fig. 4.26c)

Molécula-modelo com C=O

(Fig. 4.26d)

Freqüência experimental

[1]

Freqüência experimental

[26] 1503 1502 1494 1508 1527 1510 1608 1606 1606 1608 1609 1600

Nas Figs. 4.30 e 4.31 são mostrados os espectros de infravermelho e Raman,

respectivamente, referentes às unidades monoméricas da molécula de lignina,

representadas nas Figs. 4.26 e 4.27.

119

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0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20Componente siringil da lignina:

sem cobre com cobre

Inte

nsid

ade

de IR

(Km

/mol

)Freqüência (cm-1)

0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20

25

30 Componente guaiacil da lignina: sem cobre com cobre

Inte

nsid

ade

de IR

(Km

/mol

)

Freqüência (cm-1)

(a) (b)

0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20

Inte

nsid

ade

de IR

(Km

/mol

)

Freqüência (cm-1)

Componente p-hidróxi-fenil da lignina: sem cobre com cobre

0 1000 2000 30000

5

10

15

20

25

Inte

nsid

ade

de IR

(Km

/mol

)

Freqüência (cm-1)

Molécula-modelo contendo C=O: sem cobre com cobre

(c) (d)

Figura 4.30. Espectros de infravermelho calculados para as unidades monoméricas da lignina,

puras (linha vermelha) e contendo cobre (linha azul). (a) Guaiacil; (b) siringil; (c) para-hidróxi-

fenil; (d) molécula-modelo contendo o grupo funcional carbonila (C=O). (Obs.: largura de

resolução das lourencianas: 2.00).

120

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0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20 Componente guaiacil da lignina: sem cobre com cobre

Ativ

idad

e R

aman

(A4 /u

.m.a

.)

Freqüência (cm-1)0 1000 2000 3000 4000

0

5

10

15

20

25Componente siringil da lignina:

sem cobre com cobre

Ativ

idad

e R

aman

(A4 /u

.m.a

.)

Freqüência (cm-1)

(a) (b)

0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20

25

30

35Componente p-hidróxi-fenil da lignina:

sem cobre com cobre

Ativ

idad

e R

aman

(A4 /u

.m.a

.)

Freqüência (cm-1)

0 1000 2000 3000 40000

5

10

15

20

25 Molécula-modelo contendo C=O: sem cobre com cobre

Ativ

idad

e R

aman

(A4 /u

.m.a

.)

Freqüência (cm-1)

(c) (d)

Figura 4.31. Espectros Raman calculados para as unidades monoméricas da lignina, puras

(linha vermelha) e contendo cobre (linha azul). (a) Guaiacil; (b) siringil; (c) para-hidróxi-fenil; (d)

molécula-modelo contendo o grupo funcional carbonila (C=O). (Obs.: largura de resolução das

lourencianas: 2.00).

121

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4.6. Observações Finais e Conclusões

Com relação às propriedades estruturais da molécula de celulose, nossos

resultados teóricos mostraram que, para o sítio de sorção substitucional, com o átomo

de cobre substituindo um átomo de hidrogênio do grupo hidroxila do anel celulósico, a

estrutura conformacional do anel é alterada apenas nas proximidades do sítio do

metal, o mesmo ocorrendo com todas as estruturas da molécula de lignina. Para o

sítio intersticial, com o cobre afetando as ligações de hidrogênio intramoleculares,

ocorrem alterações conformacionais significativas em toda a extensão do monômero,

com rotação da ramificação CH2OH e com ruptura de algumas ligações de hidrogênio

intramoleculares existentes na estrutura do monômero.

Nossos resultados teóricos também mostram que a localização do átomo de

cobre nos sítios de sorção investigados, tanto nas estruturas da celulose como da

lignina, é responsável pelo aparecimento de novos modos vibracionais somente na

região de baixas freqüências (abaixo de 500 cm-1) e que estes modos estão ausentes

nos compostos puros.

Para os compostos-modelo que constituem a molécula de lignina, os picos

experimentais em 1510, 1600 e 1745 cm-1, ausentes na estrutura da celulose, estão

em concordância com nossos cálculos.

Nossos resultados evidenciam a ausência de freqüências espectrais na faixa

de 1442 a 2869 cm-1 para a molécula de celulose; por outro lado, algumas das

freqüências nesta faixa espectral estão presentes em nosso espectro calculado para a

lignina, em concordância com os resultados experimentais de MICHELL e HIGGINS

[22], os quais constataram esta ausência de picos na faixa de 1450 a 2894 cm-1. Por

outro lado, verificamos que nossos resultados estão em desacordo com as conclusões

de FREITAS [1] e CARVALHO et al. [2,3], os quais associam os picos em 1525, 1527,

1609, 1645, 1666, 1739 e 1745 aos grupos funcionais da molécula de celulose.

Pela comparação entre nossos resultados calculados e os dados experimentais

disponíveis na literatura, podemos concluir que as ferramentas teóricas usadas são

suficientemente precisas no intuito de antecipar e interpretar os espectros vibracionais

experimentais destas biomoléculas, tanto puras como contendo cobre em diferentes

sítios de sorção.

122

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5. Estudo dos Fullerenos e Alguns de Seus Derivados

5.1. Introdução

Pelas mais diversas razões, os fullerenos têm sido alvo dos cientistas em

muitos campos de aplicações. Algumas destas razões estão relacionadas à Física,

pelas temperaturas críticas de supercondutividade relativamente elevadas de materiais

derivados (Tc ~ 33K), pela simetria icosaédrica apresentada pelas estruturas e pelo

comportamento quase unidimensional dos nanotubos de fullereno; à Química, pela

natureza molecular da fase sólida e pela grande família de novos compostos que

podem ser sintetizados a partir de fullerenos; à Geologia, devido à idade geológica

avançada da shungita, um mineral rico em carbono, em cuja composição encontram-

se materiais fullerenos; à Ciência dos Materiais, pelo fato de representarem uma fonte

de nanoestruturas que podem ser construídas sob as formas de filme e cristais e cujas

propriedades podem ser controladas por dopagem e intercalação; à Engenharia

Eletrônica, devido ao uso potencial destes materiais em dispositivos ópticos e

eletrônicos altamente flexíveis, em aplicações fotocondutoras, entre muitas outras [28].

Um grande número de sugestões teóricas antecipou em várias décadas a

descoberta em laboratório de moléculas pertencentes à simetria icosaédrica. Em 1933,

Tisza considerou a simetria do grupo de ponto para moléculas icosaédricas e Osawa,

em 1970, sugeriu que uma molécula de C60 icosaédrica poderia ser quimicamente

estável. Em 1973, cálculos semi-empíricos realizados mostraram que o C60 poderia ter

um grande “gap” eletrônico entre o orbital molecular mais alto ocupado (HOMO) e o

orbital molecular mais baixo desocupado (LUMO) [28].

A identificação experimental da molécula de C60 como um icosaedro truncado

regular ocorreu devido à união entre atividades de pesquisa de duas áreas

aparentemente independentes, em meados dos anos 80. Astrofísicos trabalhavam em

colaboração com espectroscopistas a fim de identificar certa emissão não usual no

infravermelho, proveniente de grandes “clusters” de carbono expelidos de estrelas

vermelhas gigantes. Simultaneamente, SMALLEY et al. [29], em 1981, sugeriram a

possibilidade da criação em laboratório de moléculas de carbono não-usuais, ou de

123

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“clusters”, possuindo o mesmo espectro de infravermelho das estrelas vermelhas

gigantes. Esta motivação levou à colaboração entre KROTO e SMALLEY [30] no uso

da técnica de vaporização a laser de um alvo de grafite para sintetizar e estudar os

aglomerados de carbono. Foi durante estas investigações que um “cluster” incomum,

altamente estável e contendo 60 átomos de carbono foi descoberto e identificado

como uma molécula de simetria icosaédrica.

As sugestões teóricas preliminares propostas para o C60 icosaédrico só foram

reconsideradas após os trabalhos experimentais de KROTO e SMALLEY [30],

comprovando a estabilidade da molécula de C60 na fase gasosa. Nestes experimentos,

uma variedade de “clusters” e espécies moleculares foram produzidas e a

espectroscopia de massa foi usada como a principal ferramenta na caracterização dos

chamados fullerenos. Esta denominação foi dada por Kroto e Smalley, em 1985, à

família de moléculas observadas na fase gasosa, devido à semelhança de suas

estruturas moleculares com as cúpulas geodésicas projetadas e construídas por R.

Buckminster Fuller. O nome “buckminsterfullerene” ou simplesmente “buckyball” foi

atribuído especialmente à molécula de C60. O termo “fullereno” é atualmente usado

para denotar a classe de moléculas fechadas, sob a forma de “gaiola”, consistindo

somente de átomos de carbono. De acordo com o chamado Teorema de Euler, uma

“gaiola” possuindo somente faces pentagonais e hexagonais deve conter exatamente

12 pentágonos, podendo diferir no número de hexágonos. Os arquitetos usam a

distância de ligação de primeiros vizinhos entre faces pentagonais em um icosaedro

truncado regular para estimar o tamanho de uma cúpula geodésica, da mesma forma

que os químicos usam este argumento para estimar o tamanho de grandes moléculas

de fullereno. As estruturas em forma de cúpula são largamente usadas em arquitetura

moderna, devido à sua grande resistência, possuindo uma área superficial mínima

para um volume máximo (esfera). A unidade básica nestas estruturas é principalmente

um triângulo. Cinco triângulos compondo um vértice correspondem a um pentágono e

seis triângulos compondo um vértice formam um hexágono.

Em 1990, KRÄTSCHMER et al. [31] desenvolveram um método simples para a

preparação de grandes quantidades de C60, que até então estavam disponíveis

apenas em pequenas quantidades, baseado na evaporação resistiva de grafite em

uma atmosfera de hélio. Em 1991, HADDON et al. [32] descobriram que a inserção de

metais alcalinos no interior do C60 era capaz de modificar drasticamente as

propriedades eletrônicas dos fullerenos hospedeiros e conduzir a um comportamento

supercondutor com temperatura de transição relativamente elevada (na faixa de 18 a

33 K).

124

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Seguiram-se posteriormente diversos estudos de estabilidade química da

molécula, experimentos envolvendo dopagens endoédricas (nos quais as espécies

dopantes são inseridas no interior de fullerenos), estudos de fotofragmentação, entre

outros. A evidência direta de que o C60 exibia a simetria icosaédrica ocorreu através da

realização de experimentos de ressonância magnética nuclear (NMR), nos quais uma

única linha de ressonância foi observada, o que era consistente com a existência de

um único tipo de sítio químico para os átomos de carbono nesta molécula. Por outro

lado, o espectro de infravermelho com quatro linhas características forneceu uma

evidência direta da simetria icosaédrica. Recentemente, diversas investigações têm

sido feitas no intuito de explorar as diversas possibilidades de aplicação destes novos

materiais.

Neste capítulo, abordamos inicialmente algumas informações introdutórias

referentes às características gerais dos fullerenos e seus derivados, baseadas em

registros disponíveis na literatura e diretamente associadas ao nosso estudo acerca

dessas estruturas. Apresentamos nossos estudos teóricos ab initio Hartree-Fock e

semi-empírico MNDO, resultantes da investigação das moléculas de C60, C70, C48N12,

C60X60 (X = H, F) e X@C60 (X = H, Li, Na, K), enfatizando a análise de suas

propriedades estruturais, eletrônicas e vibracionais; comparamos nossos resultados

com os valores teóricos e experimentais da literatura. Realizamos uma série de

cálculos de caráter exploratório, através dos quais os desempenhos dos métodos

teóricos ab initio Hartree-Fock e semi-empírico MNDO foram comparados, tendo em

vista o estudo futuro de moléculas grandes, para as quais o método Hartree-Fock

torna-se impraticável. Apresentamos os resultados de nossos estudos experimentais

realizados nos laboratórios do Departamento de Física da UFMG, referentes aos

processos de síntese e preparação de amostras de fullereno e às medidas

espectroscópicas de FTIR e micro-Raman. Fazemos uma comparação entre nossos

resultados teóricos e experimentais. Uma das ênfases deste capítulo consiste na

conjugação entre os estudos teórico e experimental, a fim de consolidar a importância

da teoria como ferramenta extremamente útil no auxílio à interpretação dos resultados

experimentais e na confiabilidade da previsão de novos resultados experimentais.

125

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5.2. A Molécula de C60 e o Grupo Icosaédrico

5.2.1. Estrutura Molecular do C60

Uma série de experimentos independentes tem mostrado que materiais

cristalinos formados a partir de fullerenos são sólidos moleculares. Dessa forma, a

estrutura e as propriedades destes sólidos tornam-se fortemente dependentes da

estrutura e das propriedades de suas moléculas de fullereno constituintes. Assim

sendo, nesta seção, serão descritos alguns aspectos referentes à estrutura interna da

molécula de C60, com base na referência [28].

Os 60 átomos de carbono da molécula de C60 estão localizados nos vértices de

um icosaedro truncado (Fig. 5.1), no qual todos os sítios de carbono são equivalentes.

Um icosaedro truncado regular possui 90 arestas de mesmo comprimento, 60 vértices

equivalentes, 20 faces hexagonais e 12 faces pentagonais, formando uma estrutura

fechada, em forma de “gaiola”. Uma vez que a distância de ligação média carbono-

carbono na molécula de C60 (dC-C = 1.44 Å) é quase idêntica à do grafite (dC-C = 1.42 Å),

cada átomo de carbono, tanto no grafite quanto no C60, encontra-se trigonalmente

ligado a três outros átomos. As ligações do tipo sp2 entre átomos de carbono

adjacentes ocorrem numa superfície curva, em contraste com o caso do grafite, no

qual as ligações trigonais sp2 são verdadeiramente planares. Esta curvatura das

ligações trigonais do C60 conduzem a certas misturas de configurações do tipo sp3,

características da estrutura tetraédrica do diamante, mas ausentes no grafite.

(a) (b) (c)

Figura 5.1. (a) Esquema de um icosaedro regular, um poliedro de 20 faces formadas por

triângulos eqüiláteros; (b) representação do truncamento do icosaedro; (c) estrutura geométrica

da molécula de C60, sob a forma de um icosaedro truncado regular, contendo 12 pentágonos

ligados a 20 hexágonos, exatamente como numa bola de futebol. As ligações d5 e d6 se

lcalizam nas junções entre um pentágono e um hexágono e entre dois hexágonos,

respectivamente.

126

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No C60 observamos, para cada vértice, duas ligações simples C-C, localizadas

na junção de uma face pentagonal com uma face hexagonal. O comprimento das

ligações simples, d5, vale 1.46 Å (conforme medidas de NMR) ou 1.455 Å (conforme

medidas de espalhamento de nêutrons). O comprimento da ligação dupla, d6, vale 1.40

Å (conforme medidas de NMR) ou 1.391 Å (conforme medidas de difração de

nêutrons). Uma vez que os comprimentos de ligação na molécula de C60 não são

exatamente equivalentes, os vértices da molécula formam um icosaedro truncado

mas, estritamente falando, um icosaedro não regular. Entretanto, em muitas

descrições do C60, as pequenas diferenças entre as ligações d5 e d6 são geralmente

desprezadas e a molécula é freqüentemente considerada como um icosaedro

truncado regular.

A inspeção da estrutura molecular do C60 mostra que todas as faces

pentagonais são circundadas por cinco hexágonos. Cada pentágono, juntamente com

seus cinco hexágonos vizinhos, apresenta a forma da molécula de coranuleno (Fig.

5.2a, cuja curvatura é mostrada na Fig. 5.2b). No coranuleno, as ligações duplas se

dispõem em diferentes posições relativas no C60, pois suas arestas são ligadas a

átomos de hidrogênio. Outra sub-unidade molecular do C60 é o piracileno (Fig. 5.2c),

que consiste de dois pentágonos e dois hexágonos, arranjados conforme indicado.

Novamente, as ligações duplas diferem entre a sub-unidade do C60 e a molécula de

piracileno devido à presença do átomo de hidrogênio nas ligações pendentes desta

última. O piracileno apresenta interesse particular por evidenciar a separação entre os

pentágonos mais próximos. Considerando a chamada regra do pentágono isolado, por

meio da qual a distância entre os pentágonos do fullereno é maximizada, observamos

uma redução da curvatura local, conferindo estabilidade à molécula de C60.

(a) (b) (c)

Figura 5.2. (a) Vista de cima e (b) vista lateral da molécula de coranuleno; (c) molécula de

piracileno. Estas estruturas podem ser identificadas na superfície do C60 e de outros fullerenos.

O diâmetro em torno de 7.09 Å é calculado para a molécula de C60 mediante

considerações geométricas, tratando os átomos de carbono como pontos e

considerando dC-C = 1.40 Å para as ligações entre hexágonos e dC-C = 1.46 Å para os

comprimentos de ligação nos pentágonos. Técnicas experimentais de NMR

determinaram o diâmetro da molécula de C60 em 7.10 ± 0.07 Å. Quando consideramos

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o tamanho da nuvem de elétrons π associada aos átomos de carbono, o diâmetro

externo da molécula pode ser estimado em 7.09 ± 3.35 = 10.34 Å, em que o valor 3.35

Å corresponde a uma estimativa da espessura da nuvem eletrônica em torno dos

átomos de carbono da “gaiola”. Esta estimativa provém da distância interplanar entre

as camadas de grafite. A energia de ligação por átomo de carbono no grafite vale 7.4

eV. A energia de ligação correspondente à molécula de C60 tem sido calculada por

vários autores e é menor que a energia de ligação do grafite por ~ 0.4 - 0.7 eV,

embora os valores absolutos destas energias para ambas as estruturas ainda não

sejam bem estabelecidos.

Na Tabela V.1 listamos algumas das constantes físicas atribuídas à molécula

de C60 .

Tabela V.1. Constantes físicas atribuídas à molécula de C60.

Grandeza Valor Distância C-C média 1.44 Å Comprimento de ligação C-C em um pentágono 1.46 Å Comprimento de ligação C-C entre hexágonos 1.40 Å Diâmetro interno a 7.10 Å Diâmetro externo b 10.34 Å Momento de inércia I 1.0 x 10-43kg . m2

Volume por molécula 1.87 x 10-22/cm3

Número de sítios de C distintos 1 Número de ligações C-C distintas 2 Energia de ligação por átomo de C 7.40 eV Calor de formação (por g de átomo de C) 10.16 kcal Afinidade eletrônica 2.65±0.05 eV Energia de coesão por átomo de C 1.4 eV/átomo Desdobramento de spin-órbita do C (2p) 0.00022 eV Primeiro potencial de ionização 7.58 eV Segundo potencial de ionização 11.5 eV Limiar de absorção óptica c 1.65 eV

a Este valor foi obtido por medidas de NMR. O valor geométrico calculado para o diâmetro é de

7.09 Å; b este valor para o diâmetro externo foi encontrado considerando que a espessura da

casca de C60 seja de 3.35 Å. No sólido, a distância C60-C60 entre vizinhos é 10.02 Å; c os

valores da literatura para os limiares de absorção óptica da molécula de C60, livre em solução,

variam entre 1.55 e 2.3 eV.

128

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5.2.2. O Grupo Icosaédrico Ih

Muitas das propriedades especiais que os fullerenos exibem estão diretamente

relacionadas à elevada simetria da molécula de C60, em particular, devido ao fato de

que os 60 átomos de carbono equivalentes estão nos vértices de um icosaedro

truncado.

As operações de simetria do grupo icosaédrico Ih são:

• operação identidade E;

• seis eixos S10 (cada qual contendo as operações

); ESSCSSCSiSSCSSCSS ======= 1010

910

45

810

710

35

6102

510

25

410

3105

21010 ,,,,,,,,,

• dez eixos S6 (contendo as operações

, nas quais as operações E e i já estão

incluídas no caso anterior);

ESSCSiSSCSS ===== 66

56

23

462

363

266 ,,,,,

• seis eixos C5, colineares aos eixos S10 (contendo as operações

já incluídas nas operações do eixo S

45

35

255 ,,, CCCC

10);

• dez eixos C3, colineares aos eixos S6 (as operações já estão contidas

nas operações de S

233 ,CC

6);

• quinze eixos C2;

• quinze planos σ que contêm dois eixos C2 e dois eixos C5 .

As 60 operações de rotação próprias (que podem ser identificadas a partir do

esquema mostrado na Fig. 5.3), conjugadas com a operação de inversão (rotações

impróprias), resultam em 120 operações de simetria no grupo icosaédrico Ih. As

moléculas pertencentes a este grupo apresentam o mais alto grau de simetria

conhecido.

Figura 5.3. Representação das 60 operações próprias de simetria rotacional da molécula de

C60.

129

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5.3. A Molécula de C70

Na síntese por arco elétrico do C60, fullerenos de pesos moleculares mais

elevados são também formados. Dentre eles, o fullereno mais abundante é a molécula

de C70, conhecida como “rugby-ball”. A abundância relativamente alta do C70 está

intimamente ligada à sua estabilidade, que se relaciona em parte com sua alta energia

de ligação, de 7.42 eV/carbono ou ~ 0.02 eV/carbono maior que a energia de ligação

do C60 [28]. Embora com energia de ligação mais elevada, o C70 é provavelmente

menos abundante que o C60 por razões cinéticas ao invés de energéticas. Mesmo

possuindo um poço de potencial de maior profundidade, as barreiras a serem vencidas

para a formação da molécula de C70 são maiores que aquelas referentes ao C60, de tal

forma que a taxa de síntese torna-se menos favorável.

A molécula de C70 pode ser formada ou pela adição de um anel de 10 átomos

de carbono à molécula de C60 ou, equivalentemente, adicionando-se um cinturão de 5

hexágonos em torno do plano equatorial do C60, normal a um dos eixos pentagonais e

girando-se apropriadamente os hemisférios do C60 de 36º de tal forma que eles se

ajustem continuamente aos hexágonos do cinturão. Em contraste com a molécula de

C60, que apresenta somente um sítio de carbono, a molécula de C70 possui cinco sítios

inequivalentes. A Fig. 5.4 ilustra as moléculas de C60 (simetria Ih), C70 (simetria D5h) e

C80 (uma extensão da molécula de C70, com formas isoméricas de simetrias D5d e Ih).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.4. (a) A molécula de C60 icosaédrica; (b) a molécula de C70 (simetria D5h); (c) isômero

do C80, uma extensão da molécula de C70; (simetria D5d); (d) outro isômero do C80, um

icosaedro (simetria Ih).

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Alem disso, enquanto o C60 apresenta dois tipos distintos de comprimentos de

ligação C-C, o C70 possui oito tipos diferentes de ligação C-C. Os comprimentos de

ligação maiores tendem a pertencer às arestas entre pentágonos e hexágonos e os

comprimentos de ligação mais curtos, à junção entre faces hexagonais, exatamente

como no C60. Algumas das propriedades físicas da molécula de C70 são sumarizadas

na Tabela V.2.

Tabela V.2. Constantes físicas para a molécula de C70.

Grandeza Valor Distância média C-C (Å) 1.43 Diâmetro do C70 (eixo c) (Å) 7.96 Diâmetro do C70 (eixo a-b) (Å) 7.12 Momento de inércia I (paralelo) 1.24 x 10-43

Momento de inércia I (perpendicular) 1.44 x 10-43

Volume por C70 (cm-3) a 1.56 x 10-22

Número de sítios de C distintos 5 Número de ligações C-C distintas 8 Energia de ligação por átomo de C (eV) b 7.42 Calor de formação (kcal/g . C) 9.65 Afinidade eletrônica (eV) 2.72 Primeiro potencial de ionização (eV) 7.61 Limiar de absorção óptica (eV) c 1.7 Movimento atômico do ponto zero (Å) 0.07

a O volume da molécula de C70 é definido como abcV π34

= , em que , e denotam os

semi-eixos de um elipsóide, como mostrado nesta tabela;

a b c

b a energia de ligação por átomo de

carbono calculada é ~ 20 meV maior para o C70 em relação ao C60 e ~ 690 meV menor que a

do grafite, mas a magnitude absoluta da energia de ligação é menos evidente. c Segundo

registros da literatura, o “gap” de banda calculado varia de 1.55 eV a 1.76 eV.

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5.4. Alguns Derivados da Molécula de C60

Uma rica variedade de compostos derivados de fullerenos tem sido sintetizada,

com base principalmente na molécula de C60, devido à disponibilidade relativamente

baixa de fullerenos superiores. Na literatura, somente a partir de 1997 há registros da

síntese de fullerenos de pesos moleculares mais elevados.

Os aspectos básicos e especiais da química do C60, que são diretrizes para a

funcionalização e síntese químicas, têm sido amplamente discutidos e explicados

exaustivamente. A principal propriedade do C60 é a sua elevada eletroafinidade. Esta

propriedade tem possibilitado a síntese de novos compostos, mediante processos

redutíveis químicos ou eletroquímicos. Outra característica da molécula de C60 é a

reatividade especial de suas ligações “duplas”. Estas ligações permitem diversas

reações precursoras de vários processos de funcionalização e polimerização, dando

origem aos mais diversos derivados [33].

Nas seções 5.4.1, 5.4.2 e 5.4.3, discutiremos algumas das classes de

derivados da molécula de C60, que têm se tornado recentemente alvos de grande

interesse e inúmeras investigações por parte da comunidade científica e para as quais

as concepções teóricas podem prover compreensões cruciais dos aspectos

fundamentais da química e da física dos fullerenos, justificando nosso interesse em

estudá-las, uma vez que a resposta às investigações teóricas é um bom exemplo tanto

do sucesso como das limitações dos métodos de cálculo utilizados.

A primeira classe é constituída dos chamados endofullerenos, que são

complexos originados da inserção de um átomo no interior da molécula de C60; a

segunda classe se refere aos heterofullerenos, provenientes da substituição de um ou

mais átomos de carbono da “gaiola” por átomos com diferentes configurações

eletrônicas; já a terceira classe engloba as chamadas “fuzzyballs”, que são moléculas

resultantes da passivação completa da molécula de C60.

5.4.1. Os Endofullerenos

Endofullereno (X@C60) é a designação genérica dada aos complexos formados

por fullerenos contendo átomos aprisionados. Dentre os endofullerenos, os

metalofullerenos, que são resultantes da inserção de um átomo metálico na estrutura

da “gaiola”, constituem o caso mais interessante do ponto de vista do desenvolvimento

de materiais modernos. Estes sistemas são capazes de fornecer uma possibilidade

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singular na descrição das propriedades específicas dos materiais, tais como resposta

dielétrica, espectros ópticos e reatividade a nível molecular. Particularmente, espera-

se que novas fases ferroelétricas ou ferromagnéticas possam ser obtidas a partir

destes materiais [34]. Uma aplicação potencialmente importante para estas moléculas

dopadas internamente consiste na possibilidade de suas ligações a uma “bulk”

supercondutor com um valor de temperatura crítica Tc superior àquele normalmente

encontrado em cristais de C60 puros. A geometria de equilíbrio e a estabilidade de

vários sistemas têm sido computadas por diversos cálculos de estrutura eletrônica ab

initio e semi-empíricos. Tais cálculos têm sugerido que, similarmente aos derivados de

C60 exoédricos, os sistemas mais estáveis envolvem átomos doadores, especialmente

metais alcalinos, metais alcalinos terrosos e terras raras.

Informações diretas com relação às posições do átomo aprisionado no interior

da “gaiola” podem correntemente ser inferidas através de técnicas experimentais de

precipitação iônica, usando especialmente metais alcalinos e por técnicas de difração

de raios-X. Um trabalho teórico completo pode efetivamente dar suporte a estes

resultados experimentais, retratando as propriedades físicas e químicas de tais

complexos.

Para maiores progressos na pesquisa de metalofullerenos, seria desejável

obter um discernimento dos possíveis efeitos do ambiente em suas propriedades

físicas e químicas. “Ambiente” aqui se refere às soluções nas quais a maioria dos

experimentos é realizada, bem como a existência de outras unidades moleculares, no

caso da fase sólida. Esta última é obviamente importante, do ponto de vista da ciência

dos materiais, pois a extensão e a natureza de suas correlações eventualmente

determinarão as propriedades eletrônicas e magnéticas dos materiais reais. Pesquisas

objetivando a busca de uma forma adequada de abertura e fechamento das “gaiolas”

de fullerenos num padrão controlado poderiam, em princípio, se beneficiar de

simulações computacionais e de cálculos quânticos [33].

5.4.2. Os Heterofullerenos

Heterofullereno é o nome genérico dado aos derivados do C60 e de outros

fullerenos superiores, originados da substituição de átomos de carbono da “gaiola” por

átomos que possuem configurações eletrônicas distintas. Desde sua descoberta,

inúmeros cálculos teóricos de diversos níveis têm sido realizados, na tentativa de

identificar as propriedades físicas e químicas específicas induzidas pela substituição

dos átomos de carbono.

133

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Nos últimos dez anos, inúmeras técnicas experimentais têm sido empregadas

com bastante sucesso na síntese de muitos tipos de heterofullerenos. Quando a

substituição dos átomos de carbono se dá por nitrogênio, os compostos formados são

conhecidos como azafullerenos. A substituição de um único átomo de carbono por um

átomo de nitrogênio corresponde à adição de um elétron extra ao sistema π do C60.

Esta substituição representa um caso especial, no qual a perturbação provocada na

estrutura do fullereno é limitada. Embora a produção em escala de azafullerenos seja

certamente baixa e o conhecimento acerca de suas ricas propriedades químicas seja

ainda reduzido, é natural esperar que outros derivados interessantes sejam obtidos

por substituição.

Muito recentemente [35], o C60 com mais de um átomo de nitrogênio

substituindo os átomos de carbono na “gaiola” foi sintetizado. Em 2001, a existência

de um novo azafullereno, o C48N12, foi registrada na literatura (Fig. 5.5). Desde então,

a investigação das propriedades estruturais, eletrônicas, vibracionais e magnéticas

deste composto vem se tornando bastante intensificada, mediante a execução de

inúmeros cálculos teóricos.

Figura 5.5. Estrutura geométrica da molécula de C48N12. Os átomos de C e N estão

representados por esferas nas cores cinza e azul, respectivamente.

A molécula de C48N12 apresenta vários aspectos peculiares: somente um átomo

de nitrogênio por pentágono, dois átomos de nitrogênio preferencialmente em um

hexágono, simetria S6, seis tipos distintos de ligação N–C e nove tipos distintos de

ligação C–C. Estudos teóricos realizados têm mostrado que a molécula de C48N12

apresenta aplicações potenciais como componentes semicondutores, materiais ópticos

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não-lineares e como possíveis precursores em eletrônica molecular e em dispositivos

fotônicos.

5.4.3. As “Fuzzyballs”

Devido à sua conformação geométrica peculiar, espera-se naturalmente que o

“cluster” de C60 apresente propriedades químicas internas e externas inteiramente

diferentes. Embora menos exóticas que os compostos formados por dopagem

endoédrica ou mesmo por substituição dos átomos de carbono, as moléculas com

ligações químicas localizadas na parte externa da “gaiola” do C60, as chamadas

“fuzzyballs”, são também bastante interessantes. As “fuzzyballs” apresentam

excelentes propriedades lubrificantes, com inúmeras aplicações comerciais e

industriais. As “teflon balls” resultantes, como são chamadas, podem inclusive estar no

ranking dos melhores lubrificantes do mundo. Em particular, a passivação completa

dos substituintes aderidos na superfície externa da “gaiola” e o desvio da hibridização

sp3 dos átomos de carbono insinuam que a ligação nestes sistemas pode ser diferente

daquela presente em moléculas orgânicas saturadas ordinárias. Informações parciais

ou completas disponíveis acerca destes derivados são ainda muito limitadas [36].

A molécula de C60 parcialmente hidrogenada, C60H36, foi a primeira de uma

série de novas moléculas sintetizadas a partir da “gaiola”. Das muitas estruturas

hidrogenadas e fluoretadas à base de C60 possíveis, as espécies completamente

saturadas (Fig. 5.6), como as moléculas de C60H60 e C60F60, apresentam um grau de

simetria elevado e, conseqüentemente, são mais fáceis de serem estudadas por

métodos teóricos de primeiros princípios.

Figura 5.6. Molécula de C60X60 (X = H, F) icosaédrica.

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SCUSERIA [37] realizou estudos ab initio das moléculas de C60H60 e C60F60 e

concluiu que estas estruturas seriam bastante estáveis para serem observadas

experimentalmente. Segundo CIOSLOWSKI [36], as estruturas eletrônicas das

moléculas de C60H60 e C60F60 exibem alguns aspectos interessantes, quase sempre

inesperados. As grandes repulsões entre os substituintes conduzem a um

alongamento significativo das ligações C-C. Isto é especialmente pronunciado na

molécula de C60F60, resultando na desestabilização de cada ligação C-F, precipitando

a formação de caminhos de ligação F-F e alongando as ligações C-C. À luz destas

considerações, CIOSLOWSKY [36] considera que, contrariamente a algumas

sugestões preliminares propostas por SCUSERIA [37], parece ser difícil o isolamento

da molécula de C60F60.

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5.5. Síntese, Extração e Purificação de Fullerenos A discussão que se segue nesta seção é baseada na referência [28].

5.5.1. Síntese de Fullerenos Os fullerenos podem ser sintetizados em laboratório sob uma larga variedade

de formas, todas envolvendo a geração de vapor ou plasma carbônicos. Os métodos

usuais de síntese de fullerenos produzem primariamente C60 e C70. Atualmente, estas

moléculas vêm sendo isoladas em grande quantidade estando, inclusive, disponíveis

comercialmente. Fullerenos de pesos moleculares mais elevados, bem como

complexos endoédricos, também podem ser produzidos e isolados, embora em

quantidades substancialmente reduzidas. O procedimento atual mais eficiente na

produção de fullerenos envolve uma descarga elétrica entre eletrodos de grafite, em

uma atmosfera inerte de ~ 200 torr de gás de hélio. Os fullerenos sintetizados

encontram-se imersos na fuligem de carbono produzida no processo, devendo ser

extraídos e subseqüentemente purificados. Os primeiros procedimentos na síntese de

fullerenos basearam-se em técnicas de vaporização a laser, que produziam somente

quantidades microscópicas destes compostos na fase gasosa. A Fig. 5.7 ilustra o

equipamento utilizado neste processo.

Figura 5.7. Esquema da técnica de vaporização a laser usada na síntese de fullerenos. Na

seqüência de eventos, a válvula do tanque de gás de He se abre, permitindo o escape do gás

no compartimento. A seguir, um pulso de laser atinge a superfície do disco de grafite,

vaporizando o material e originando átomos e íons carbônicos. Os “clusters” de carbono

formados são condensados na câmara de integração e a mistura resultante sofre expansão

supersônica a vácuo, seguida de resfriamento.

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Um pulso de laser intenso (~ 10 - 100 mJ de energia, de um laser de dupla

freqüência Nd: YAG) é usado para vaporizar o material a partir de uma superfície de

grafite, formando plasma carbônico quente. Este plasma interage com o fluido de gás

inerte (He), dando origem a “clusters” de carbono. A formação dos “clusters” ocorre

entre 30 – 200 µs, depois da qual o fluxo gasoso é expandido e sofre resfriamento,

finalizando o processo de crescimento dos aglomerados. A fonte de laser pode ser

acoplada a um espectrômetro de massa para identificação dos produtos.

A Fig. 5.8 traz o espectro de massa proveniente dos “clusters” e moléculas

formados no processo. Neste espectro são mostrados os dois principais agrupamentos

de “clusters” carbônicos: (1) aqueles com pesos moleculares menores (nC < 30, em

que nC é o número de carbonos da molécula), contendo predominantemente um

número ímpar de átomos de carbono e (2) os “clusters” de massas moleculares mais

elevadas (nC > 36), contendo somente um número par de átomos de carbono. Em

1959, Pitzer e Clementi já previam que aglomerados de carbono de pesos moleculares

mais elevados poderiam ser formados a partir da fase de vapor. O espectro da Fig. 5.8

foi um dos primeiros a mostrar experimentalmente a existência desses “clusters”

superiores. O espectro de massa acima de 40 átomos de carbono mostra uma

preponderância de “clusters” do tipo C60.

Figura 5.8. Espectro de massa dos “clusters” de carbono produzidos em um feixe supersônico,

pela vaporização a laser de um alvo de grafite (cujo procedimento é mostrado na Fig. 5.7).

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Estudos teóricos e experimentais têm mostrado que a forma mais estável para

os “clusters” de carbono com mais de 10 átomos consiste em uma cadeia linear. Para

“clusters” contendo entre 10 – 30 átomos, a conformação em anel é a mais estável.

Certos tamanhos de anéis são mais favoráveis energeticamente, como pode ser

observado na Fig. 5.8, onde os máximos são encontrados em nC = 11, 15, 19 e 23

átomos de carbono. Cálculos semi-empíricos realizados mostraram que um anel

neutro é estável contendo 4j+2 átomos de carbono; um anel negativamente carregado

adquire estabilidade contendo 4j+1 átomos e para um anel carregado positivamente,

4j+3 para j = 3, 4, 5 e 6, ou seja, para 10 < nC < 30. A Fig. 5.8 indica também que a

formação de aglomerados carbônicos para 30 < nC < 40 é pouco provável.

A constatação de que havia algo especial em torno do C60 sugeriu a KROTO et

al. [30] que o C60 e outros “clusters” com nC > 40 tinham uma estrutura em forma de

“gaiola”, explicando assim a ocorrência de picos somente para valores pares de nC.

Além da estabilidade do C60, KROTO et al. [30] identificaram uma estabilidade

especialmente elevada para a molécula de C70, estimulando o interesse da

comunidade científica no intuito de encontrar meios de produção de quantidades

macroscópicas de fullerenos isolados.

Um outro meio eficiente nos processos de síntese de grandes quantidades de

fullerenos em laboratório consiste em uma descarga elétrica de corrente contínua ou

corrente alternada em ~ 200 torr de gás de He entre dois eletrodos de grafite. (Fig.

5.9).

Figura 5.9. Esquema da técnica de arco elétrico, usada na síntese de materiais fullerenos. O

calor gerado da descarga elétrica entre eletrodos de grafite evapora carbono, originando

fuligem e fullerenos.

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Segundo registros da literatura [28], a formação destes compostos requer uma

pressão gasosa mínima de ~ 25 torr. Um aumento na pressão de gás de He acentua a

produção de fullerenos de pesos moleculares mais elevados. O calor gerado da

descarga entre os eletrodos de grafite evapora carbono, formando fuligem e fullerenos.

A técnica de descarga em arco elétrico pode também ser usada para sintetizar

nanotubos de carbono. Aparentemente, uma variedade de sólidos à base de carbono

pode ser usada como eletrodos nos processos de síntese de fullerenos. Entretanto,

nesta técnica, vários parâmetros afetam a conversão dos eletrodos de grafite em

fullerenos. Embora estes materiais sejam formados em uma variedade de atmosferas

de gases inertes, tais como argônio e nitrogênio moleculares, geralmente utiliza-se gás

de He de alta pureza. A maioria das câmaras geradoras de fuligem usa uma pressão

de gás de He na faixa de 100 – 200 torr. Sabe-se que a pressão ótima é altamente

sensível às especificações do equipamento, sendo determinada para cada tipo de

gerador.

Um outro procedimento usado na produção de fullerenos se deu com o

aprimoramento da técnica de vaporização a laser. Em um aparato experimental típico,

um laser pulsado Nd: YAG operando em 532 nm e 250 mW de potência é usado como

fonte; o alvo (grafite) é mantido em um forno à temperatura de 1200oC. Fullerenos têm

sido também produzidos em chamas de fuligem envolvendo, por exemplo, a

combustão de benzeno e acetileno, embora em baixas taxas de síntese.

5.5.2. Extração de Fullerenos

No processo de formação de fullerenos por vapor de carbono, gerado a partir

de vários materiais carbonáceos ou hidrocarbonetos gasosos, ocorre a formação de

fuligem carbônica, juntamente com fullerenos solúveis. Dois métodos distintos são

empregados no processo de extração de fullerenos provenientes de fuligem. No

método mais usual, denominado “método dos solventes”, o tolueno ou algum outro

solvente apropriado é usado para dissolver primariamente os fullerenos, embora no

solvente também haja impurezas de hidrocarbonetos insolúveis. A fuligem e outros

compostos insolúveis são facilmente separados desta solução por filtração ou

simplesmente por decantação da solução. No segundo método, chamado “método de

sublimação”, a fuligem contendo fullerenos é aquecida em um tubo de quartzo, em gás

de He ou em vácuo (~ 10-5 Torr) para sublimar os fullerenos, que são então

condensados em uma seção de resfriamento do tubo, conduzindo a fuligem e outros

compostos não-voláteis para trás, na seção mais quente.

140

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Ambos os métodos de extração têm a tendência de carregar impurezas

juntamente com os fullerenos mais estáveis (isto é, C60 e C70). Dessa forma, uma

etapa final de purificação química deve ser realizada para a obtenção de uma solução

de fullereno de alta pureza, bem como para a obtenção de microcristais pulverizados.

5.5.2.1. O Método de Extração por Solventes

A extração “Soxhlet” usando solvente quente foi empregada nas primeiras

tentativas de remoção de fullerenos da fuligem carbônica gerada na etapa de síntese.

Técnicas mais modernas à base de solventes são aplicáveis nos processos de

produção em maior escala. A técnica “Soxhlet” é usada em uma variedade de

extrações, nas quais as espécies moleculares a serem removidas da fase sólida são

solúveis em solventes orgânicos. Na Fig. 5.10, mostramos o esquema de uma unidade

de extração “Soxhlet”.

Figura 5.10. Esquema de uma unidade de extração “Soxhlet” usada na separação de fullerenos

da fuligem formada no processo de síntese em arco elétrico.

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A amostra sólida (contendo fullerenos, fuligem e outros materiais) é introduzida

em um compartimento localizado na porção central do aparato. O solvente entra em

ebulição em um frasco localizado na base do equipamento. O vapor de solvente

resultante se propaga através do braço esquerdo do extrator “Soxhlet”, condensando-

se na base da unidade condensadora representada no esquema, formando gotículas

aquecidas do solvente destilado no interior do compartimento ou mesmo de uma série

de compartimentos concêntricos, que são permeáveis à solução.

A solução contendo as moléculas extraídas retorna ao frasco ebulidor, via

braço direito do extrator. Este sistema fechado é normalmente operado por várias

horas. Durante este período de tempo, os fullerenos solúveis no solvente empregado

são coletados no frasco e a porção insolúvel da amostra sólida permanece no

compartimento.

5.5.2.2. O Método de Extração por Sublimação

Sabe-se que amostras de pó microcristalino de C60 e C70 sofrem sublimação a

vácuo, em temperaturas relativamente baixas, isto é, Ts ~ 350o C (C60) e Ts = 460o C

(C70) e este aspecto pode ser usado diretamente para separar C60 e C70 da fuligem

gerada pelo método de arco elétrico, sem introduzir solventes tais como hexano,

benzeno, dissulfeto de carbono ou tolueno. Para alguns experimentos que são

particularmente sensíveis à contaminação por solventes nas amostras, esta técnica

poderia prover uma alternativa útil à extração por solvente. No método de extração por

sublimação, a fuligem é colocada numa das extremidades de um tubo de quartzo

evacuado e lacrado (ou dinamicamente bombeado) e o conjunto é então inserido em

um forno com um gradiente de temperatura. O bombeamento dinâmico (no qual a

bomba é ligada ao tubo de quartzo durante o processo de sublimação) é preferível,

uma vez que há a possibilidade de que a fuligem possa também conter

hidrocarbonetos poliaromáticos ou outras impurezas voláteis. A extremidade do tubo

contendo fuligem bruta é mantida a uma temperatura mais elevada (Ts ~ 600 – 700o

C), tal que C60, C70 e possivelmente fullerenos superiores sejam sublimados da fuligem

e posteriormente conduzidos pelo gradiente de temperatura até as regiões mais frias

do tubo, sofrendo condensação nas paredes. O C70 e quantidades relativamente

pequenas de fullerenos superiores (como C76 e C84) são também condensados nas

proximidades da fuligem, uma vez que suas temperaturas de sublimação são maiores

que a do C60.

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A diferença nas temperaturas de sublimação entre C60 e C70 é usada para

produzir um feixe molecular de C60 de uma mistura microcristalina de C60 e C70. Neste

caso, esta mistura é primeiramente aquecida em vácuo dinâmico (~ 250 – 300o C) por

um intervalo de tempo extendido (> 4 – 6h) a fim de expelir o solvente residual. O pó

resultante é então aquecido acima da temperatura de ebulição do C60. Em T ~ 400o C,

a taxa de sublimação de C60 em vácuo é favorecida por um fator de 20 sobre aquela

do C70. Dessa forma, considerando-se que o C70 apresenta um fator de abundância 7

vezes menor que o do C60 na fuligem, um feixe molecular de C60 razoavelmente puro

pode ser obtido.

5.5.3. Purificação de Fullerenos Um dos processos de purificação de fullerenos relatados na literatura faz uso

do método dos solventes, baseado em cromatografia líquida (CL). Por purificação

entende-se a separação dos fullerenos em um extrato contendo C60, C70, C84, etc. A

fim de se verificar a eficiência do processo de purificação, os fullerenos são

caracterizados por ferramentas sensíveis tais como espectrometria de massa,

ressonância magnética nuclear (NMR), cromatografia líquida e espectroscopia de

absorção óptica.

A cromatografia líquida (CL) é a principal técnica usada na purificação de

fullerenos. De maneira breve, pode-se definir a CL como uma técnica química

envolvendo umidade, na qual uma solução (denominada fase móvel) contendo uma

mistura molecular é forçada a passar através de uma coluna envolvida por uma

grande área superficial sólida (denominada fase estacionária). A identificação das

frações separadas na coluna de CL é verificada qualitativamente pela cor (magenta ou

púrpura para C60 em tolueno e laranja-avermelhado para C70 em tolueno) e, mais

quantitativamente, por comparação entre espectros vibracionais de infravermelho

observados, espectros ópticos, dados de NMR, etc. A CL geralmente permite a

separação dos fullerenos de acordo com seus pesos moleculares, mas este método

pode também ser usado para isolar um único alótropo quiral distinto, tal como C76, ou

para separar isômeros de mesmo peso molecular, mas com diferentes conformações,

como por exemplo, a separação entre C78 com simetria C2v e C78 com simetria D3.

O princípio do processo de cromatografia líquida é descrito a seguir. Por uma

série de mecanismos físicos ou químicos, uma molécula particular em uma fase móvel

é diferenciada por ser forçada a interagir com a fase estacionária. Esta interação

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aumenta (ou diminui) o tempo de retenção daquela molécula na coluna ou,

equivalentemente, diminui (ou aumenta) a taxa de migração daquela espécie

molecular através da coluna cromatográfica. Dessa forma, como uma função do

tempo, os componentes moleculares separados da mistura emergem, a fim de diminuir

a interação com a fase estacionária. As espécies moleculares mais “adiantadas”

emergem primeiro e assim por diante. A separação das espécies moleculares é obtida

quando uma diferença suficiente no tempo de retenção na coluna puder ser atingida.

Diferenças físicas ou químicas significativas das espécies moleculares (como massa,

forma e adsorção na superfície) são necessárias para atingir uma separação

cromatográfica nítida.

As técnicas efetivamente empregadas em nossos estudos experimentais

referentes aos fullerenos, realizados nos laboratórios do Departamento de Física da

UFMG, serão descritas na seção 5.7.

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5.6. Estudo Teórico

Nesta seção, apresentamos nossos resultados teóricos referentes ao estudo

das propriedades estruturais, eletrônicas e vibracionais das moléculas de C60, C70,

C48N12, C60X60 (X = H, F) e X@C60 (X = H, Li, Na, K). O principal objetivo deste estudo

consiste na execução de cálculos exploratórios, mediante a aplicação dos métodos

teóricos ab initio Hartree-Fock e semi-empírico MNDO na investigação das

propriedades destes fullerenos, a fim de examinar o desempenho destes métodos de

cálculo e comparar sua eficiência. A opção pelo emprego do método semi-empírico

MNDO justifica-se pelo fato de que esta aproximação contém todo um arcabouço

teórico embasado na teoria Hartree-Fock, uma vez que o MNDO consiste numa

simplificação do método ab initio HF, conforme discutimos na seção 2.3. Neste

sentido, a comparação entre os resultados torna-se bastante apropriada. Visando o

estudo teórico posterior de fullerenos de pesos moleculares mais elevados, bem como

de nanotubos de carbono quirais (com grandes células unitárias), para os quais o

cálculo ab initio torna-se inviável, testamos a qualidade dos resultados fornecidos pelo

método MNDO, que é implementado para comportar moléculas grandes, tipicamente

acima de 1000 átomos. Em todos os cálculos realizados, empregamos o conjunto-

base STO-3G.

No decorrer de nossos estudos, tomamos conhecimento de investigações

teóricas similares, realizadas por XIE et al. [35], os quais empregaram o mesmo nível

de cálculo no estudo das moléculas de C60 e C48N12, e cujo trabalho já estava em vias

de publicação na literatura. Entretanto, tal fato foi bastante positivo, no sentido de que

corroborou a exatidão de nossos resultados, mediante a possibilidade de comparação

direta entre os mesmos.

5.6.1. Resultados, Análise e Discussão

5.6.1.1. A Molécula de C60: Propriedades Estruturais e Eletrônicas

A geometria da molécula de C60 foi totalmente optimizada, com relaxação

completa de todos os átomos, através dos métodos ab initio RHF e semi-empírico

MNDO. A opção pelo uso do método Hartree-Fock restrito (RHF), ao invés de UHF

justifica-se pelo fato de a molécula de C60 apresentar camada fechada. O diâmetro

interno calculado para esta molécula foi de 7.09 Å (método RHF) e de 7.07 Å (método

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MNDO), em boa concordância com o valor experimental, em 7.10 Å, conforme listado

na Tabela V.1.

A Tabela V.3 faz uma comparação entre os comprimentos de ligação C-C e

C=C calculados e os valores teóricos e experimentais da literatura.

Tabela V.3. Comprimentos de ligação C-C e C=C da molécula de C60, obtidos a partir de

valores teóricos e experimentais disponíveis na literatura, comparados aos nossos cálculos

(RHF e MNDO). Os valores entre parênteses indicam o erro percentual em relação à média dos

valores experimentais. Método Ligação simples C-C (Å) Ligação “dupla” C=C (Å)

RHF/STO-3G a,b 1.463 (0.76) 1.376 (1.65) MNDO/STO-3G a,c 1.473 (1.45) 1.400 (0.07) SCFMO b 1.49 (2.62) 1.43 (2.29) Hückel b 1.436 (1.10) 1.418 (1.43) QCFF/PI b 1.471 (1.31) 1.411 (0.93) EHM b 1.446 (0.41) 1.402 (0.29) Exp./XRCT b 1.4459 1.3997 Exp./XRPD b 1.455 1.391 Exp./NMR b 1.45 1.40 Exp./GPED b 1.458 1.401

a Nossos cálculos; b referência [35]; c referência [38]. As siglas referentes aos método

teóricos e experimentais denotadas nesta tabela são definidas na página seguinte.

Os comprimentos de ligação optimizados em 1.463 Å para a ligação C-C

(localizada na junção entre uma face pentagonal e uma face hexagonal) e em 1.376 Å,

para a ligação C=C (localizada na junção entre duas faces hexagonais), obtidos por

nossos cálculos RHF, concordam com os valores teóricos e experimentais listados. Os

valores entre parênteses indicam o erro percentual em relação aos valores

experimentais médios (1.452 Å para a ligação simples C-C e 1.399 Å para a ligação

dupla C=C). Como podemos observar, considerando o baixo custo computacional do

método MNDO, os comprimentos de ligação preditos por este método são

satisfatórios. O método semi-empírico QCFF/PI (“quantum-chemical-force-field for π

electrons”) [35] não fornece resultados tão satisfatórios quanto aqueles obtidos a partir

da teoria MNDO, uma vez que sua parametrização é efetuada principalmente com

relação a freqüências de hidrocarbonetos conjugados. Notamos ainda que os

comprimentos de ligação calculados pelo uso dos métodos semi-empíricos Hückel e

do modelo Hubbard estendido (EHM) [35] são eficazes. É interessante observarmos

que estas aproximações teóricas semi-empíricas incluem implicitamente o efeito de

correlação eletrônica encontrado em sistemas π conjugados, com exceção do modelo

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de Hubbard estendido, cujos efeitos de correlação são explícitos. Observamos

também que os valores obtidos pelo método SCFMO (“self-consistent field molecular

orbitals”) [35] concordam com nossos resultados RHF/STO-3G, embora os

comprimentos de ligação obtidos pela aproximação SCFMO sejam um pouco mais

longos.

Em comparação com os valores experimentais listados na Tabela V.5,

percebemos que os dois tipos de comprimentos de ligação calculados usando nossos

métodos teóricos RHF e MNDO estão em boa concordância com os resultados

medidos pelas técnicas de XRPD (“X-ray powder diffraction”), GPED (“gas-phase

electron diffraction”), NMR (“nuclear magnectic resonance”) ou XRCT (“X-ray

crystallography technique”).

A molécula de C60 possui somente dois tipos de ângulos de ligação: o ângulo

entre duas ligações simples C-C adjacentes e aquele entre uma ligação “dupla” C=C e

uma ligação simples C-C adjacentes. Nossos resultados foram calculados em 108.0o e

120.0o, respectivamente.

A Tabela V.4 mostra nossos valores calculados para as energias eletrônicas

referentes à molécula de C60, comparados aos valores teóricos da literatura [35].

Tabela V.4. Energias eletrônicas da molécula de C60, calculadas através de nossos métodos

teóricos ab initio (RHF) e semi-empírico (MNDO), comparadas aos valores teóricos disponíveis

na literatura.

Energias (eV) RHF/ STO-3G a

MNDO/ STO-3G a

RHF/ STO-3G b

DFT/ STO-3G b

ETOTAL -61068.985 37.651 -61067.132 -61446.662 ECARBONO -1012.230 7.411 - - EATÔMICA -60733.801 444.634 - - ELIGAÇÃO 5.586 6.783 5.581 7.715 EHOMO -5.618 -9.129 -5.456 -4.356 ELUMO 3.037 -2.566 2.688 -1.127 ∆EGAP 8.655 6.563 8.144 3.229

a nossos cálculos; b referência [35].

A energia de ligação por átomo de carbono na molécula de C60, ELIGAÇÃO, foi

obtida a partir da seguinte equação:

nEE

E ATÔMICATOTALLIGAÇÃO

−= , (5.1)

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em que n é o número total de átomos. Calculamos a energia eletrônica de um único

átomo de carbono, através dos métodos RHF e MNDO, mediante o uso do mesmo

conjunto-base empregado no cálculo da molécula de C60 (STO-3G). A energia atômica

∑=N

nEEATÔMICA , na Eq. (5.1), foi obtida multiplicando o valor da energia eletrônica de

um único átomo de carbono, nE , pelo número de átomos equivalentes existentes na

molécula (neste caso, 60). Em seguida, substituindo os valores calculados de ETOTAL e

EATÔMICA na Eq. (5.1), obtivemos o valor de ELIGAÇÃO na molécula de C60: 5.586 eV

(método RHF) e 6.783 eV (método MNDO). Nosso resultado ab initio está em

concordância com o valor calculado por XIE et al. [35] em 5.581 eV (método

RHF/STO-3G). O valor calculado por XIE et al. [35] mediante o método DFT/STO-3G

foi de 7.715 eV. O valor experimental para a energia de ligação por átomo de carbono

no C60 é de 7.40 eV [28], conforme pode ser observado na Tabela V.1.

Devemos ressaltar que a energia de ligação depende da exatidão das energias

dos átomos isolados, do conjunto-base empregado e da inclusão de efeitos de

correlação eletrônica. Dessa forma, a comparação direta entre resultados obtidos por

diferentes métodos teóricos de cálculo, ou mesmo pelo uso de diferentes funções-

base em um mesmo método, deve respeitar as devidas restrições. Podemos observar,

por exemplo, analisando os dados listados na Tabela V.4, que os valores RHF e

MNDO para a ETOTAL, ECARBONO e EATÔMICA não são diretamente comparáveis, visto que

são calculados tendo diferentes zeros de energia. Por outro lado, a ELIGAÇÃO é uma

grandeza diretamente comparável, uma vez que se refere à diferença entre as

energias total e atômica da molécula.

A distribuição de cargas atômicas na molécula da C60, segundo a análise

populacional de Mulliken, obviamente apresentou carga nula para todos os átomos.

5.6.1.2. A Molécula de C60: Propriedades Vibracionais

As freqüências vibracionais harmônicas da molécula de C60 foram calculadas

com o mesmo conjunto-base empregado na optimização da estrutura molecular.

Nossos resultados mostraram que os 174 modos normais de vibração da molécula de

C60 correspondem a 46 freqüências fundamentais. A Tabela V.5 compara nossos

resultados teóricos RHF e MNDO com os valores teóricos e experimentais disponíveis

na literatura. Uma importante observação a ser feita é que os resultados obtidos para

os modos vibracionais através do nível de cálculo RHF/STO-3G foram multiplicados

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149

pelo fator de ajuste 0.89, recomendado por FORESMAN et al. [6], visto que o método

Hartree-Fock superestima o valor da freqüência vibracional em relação aos valores

experimentais. Por outro lado, os valores calculados pela aproximação MNDO não

foram corrigidos por qualquer fator, uma vez que não encontramos na literatura

nenhum registro ou recomendação para tal correção.

Tabela V.5. Os 46 modos normais de vibração fundamentais calculados para a molécula de C60

(em cm-1), comparados ao valores teóricos e experimentais disponíveis na literatura. Os

números entre parênteses indicam os erros percentuais (%) relativos às freqüências

experimentais.

Paridade par Modo RHF/

STO-3G a, b MNDO a, c DFT/

STO-3G b QCFF/PI b Experimental b

Ag 1498 (1.9) 1667 (13.4) 1549 (5.4) 1442 (1.9) 1470 492 (1.2) 610 (22.5) 502 (0.9) 513 (3.0) 498

Gg 1604 (5.2) 1650 (8.2) 1594 (4.5) 1585 (3.9) 1525 1363 (0.5) 1404 (3.5) 1380 (1.8) 1450 (6.9) 1356 1070 (0.6) 1235 (14.8) 1127 (4.7) 1158 (7.6) 1076 808 (0.3) 856 (6.2) 788 (2.2) 770 (4.5) 806 581 (6.4) 579 (6.9) 592 (4.6) 614 (1.1) 621 511 (5.1) 491 (1.0) 208 (4.6) 476 (2.1) 486

Hg 1702 (7.9) 1722 (9.1) 1677 (6.3) 1644 (4.2) 1578 1476 (3.4) 1596 (11.8) 1500 (5.1) 1465 (2.7) 1427 1319 (6.2) 1407 (12.5) 1332 (6.5) 1265 (1.1) 1251 1148 (4.3) 1261 (14.5) 1166 (5.9) 1154 (4.8) 1101 788 (1.7) 924 (19.2) 802 (3.5) 801 (3.4) 775 744 (4.6) 771 (8.4) 734 (3.3) 691 (2.8) 711 453 (4.6) 447 (3.2) 449 (3.7) 440 (1.6) 433 269 (1.5) 263 (3.7) 271 (0.6) 258 (5.5) 273

T1g 1340 (1.3) 1410 (3.8) 1357 (0.1) 1398 (2.9) 1358 860 (11.9) 865 (11.4) 865 (11.3) 975 (0.1) 976 612 (21.9) 627 (24.9) 594 (18.3) 597 (18.9) 502

T2g 1441 (5.9) 1483 (9.0) 1431 (5.2) 1470 (8.1) 1360 812 (11.2) 919 (0.5) 827 (9.5) 890 (2.6) 914 803 ( 7.2) 784 (9.4) 809 (6.4) 834 (3.6) 865 576 (1.6) 591 (4.2) 581 (2.5) 637 (12.3) 567

Paridade ímpar Au 989 (13.47) 972 (15.0) 994 (13.0) 1206 (5.5) 1143 Gu 1514 (4.7) 1587 (9.8) 1513 (4.7) 1546 (6.9) 1446

1359 (3.7) 1436 (9.6) 1381 (5.4) 1401 (6.9) 1310 991 (2.2) 1110 (4.1) 1009 (4.1) 1007 (3.8) 970 820 (11.3) 914 (1.1) 815 (11.8) 832 (10.0) 924 768 (1.1) 750 (1.3) 784 (3.1) 816 (7.4) 760 368 (8.0) 362 (9.5) 368 (8.1) 358 (10.5) 400

Hu 1696 (8.8) 1709 (9.6) 1668 (7.0) 1646 (5.6) 1559 1422 (2.7) 1467 (5.9) 1427 (3.0) 1469 (6.1) 1385 1293 (15.8) 1344 (20.3) 1295 (16.0) 1269 (13.6) 1117 788 (1.62) 822 (2.6) 771 (3.7) 812 (1.4) 801 692 (0.6) 706 (1.4) 696 (0.1) 724 (4.0) 696 569 (1.1) 546 (3.0) 564 (0.1) 531 (5.7) 563 412 (20.11) 403 (17.5) 417 (21.5) 403 (17.5) 343

T1u 1457 (2.0) 1628 (13.9) 1505 (5.3) 1437 (0.6) 1429 1242 (4.9) 1353 (14.4) 1266 (7.0) 1212 (2.5) 1183

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150

Tabela V.5 (continuação) 584 (1.4) 719 (24.8) 596 (3.4) 637 (10.6) 576 558 (5.9) 577 (9.5) 546 (3.6) 544 (3.2) 527

T2u 1627 (3.2) 1687 (7.0) 1622 (2.8) 1558 (1.2) 1577 1181 (1.7) 1314 (9.4) 1235 (2.8) 1241 (3.3) 1201 956 (6.8) 1134 (10.5) 1002 (2.4) 999 (2.6) 1026 743 (9.3) 776 (14.1) 734 (7.9) 690 (1.5) 680 350 (1.7) 348 (2.2) 354 (0.5) 350 (1.7) 356

a Nossos cálculos; b referência [35]; c referência [38].

Os 46 modos vibracionais do C60 são classificados, de acordo com a paridade,

nas dez representações irredutíveis do grupo de ponto Ih. Os modos {Ag, Au} são não-

degenerados e os modos {T1g, T1u, T2g, T2u}, {Gg, Gu} e {Hg, Hu} apresentam

degenerescências 3, 4 e 5, respectivamente. Comparando, por exemplo, nossos

valores calculados pelo método MNDO com aqueles obtidos pelo método semi-

empírico QCFF/PI, observamos que este último apresenta em geral melhores

resultados, o que é natural, pois, conforme já mencionado, sua parametrização é feita

com relação às freqüências vibracionais de hidrocarbonetos aromáticos e conjugados,

embora forneça uma optimização de geometria menos satisfatória. Tais resultados

indicam que a estrutura eletrônica do C60 não é muito diferente das estruturas de

outros hidrocarbonetos aromáticos.

A molécula de C60 apresenta apenas 4 modos vibracionais ativos no

infravermelho, todos com simetria T1u. Isso pode ser compreendido mediante

considerações de teoria de grupos. Conforme já discutido no Capítulo 3, utilizando as

propriedades de simetria do sistema, podemos estabelecer as regras de seleção das

transições para a formação do espectro no infravermelho. Estas regras são

determinadas a partir dos valores das integrais das componentes do momento de

dipolo elétrico µr : zyx µµµ ,, . Uma operação de simetria R, aplicada a tais

componentes, correspondendo à vibração molecular, afetará os eixos de coordenadas

de tal forma que zyx µµµ e, se transformem da mesma forma que zyx e, ,

respectivamente. A representação T1u tem como funções-base as coordenadas

),,( zyx , as quais estão associadas às componentes do momento de dipolo µr .

Portanto, na molécula de C60, somente os modos vibracionais com simetria T1u são

ativos no infravermelho. O espectro de infravermelho da molécula de C60 é então

bastante simples, uma conseqüência direta da alta simetria do grupo icosaédrico.

“Clusters” de carbono de tamanhos comparáveis, mas com menores graus de simetria,

apresentam um número maior de freqüências vibracionais com atividade no

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151

infravermelho. Por exemplo, o grafiteno, um isômero do C60, possui simetria D6h e 20

freqüências ativas no infravermelho.

Os modos vibracionais com atividade Raman na molécula de C60 são apenas

10: 2 com simetria Ag e 8 com simetria Hg, podendo ser identificados na Tabela V.7.

Como já discutido, para que haja transição vibracional via espalhamento Raman, é

necessário que pelo menos uma das integrais envolvendo as componentes do tensor

de polarizabilidade ijα seja diferente de zero. Tais componentes transformam-se, por

uma operação de simetria R, como formas quadráticas yzxzxyzyx ,,,,,( 222 ou

combinações das mesmas). No grupo de ponto icosaédrico Ih, somente as

representações Ag e Hg têm como funções-base )( 222 zyx ++ e

( ),,,,2 22222 yzxzxyyxyxz −−− , respectivamente, as quais estão associadas às

componentes do tensor de polarizabilidade ijα . Portanto, na molécula de C60, somente

os modos vibracionais com simetrias Ag e Hg são ativos no Raman.

Nossos resultados nos permitiram verificar que o método semi-empírico

MNDO, embora em geral apresente erros da ordem de até ~ 25% em relação aos

valores experimentais, é capaz de identificar corretamente os modos normais que são

ativos no infravermelho. Entretanto, é importante salientar que no pacote Gaussian94

[6,7], o método MNDO não está parametrizado para o cálculo das intensidades

Raman.

A Fig. 5.11 mostra os espectros vibracionais teóricos de infravermelho e

Raman obtidos para a molécula de C60. Estranhamente, observamos que os espectros

de infravermelho da molécula de C60, calculados pelos métodos ab initio RHF (Fig.

5.11a) e semi-empírico MNDO (Fig. 5.11c), quando comparados entre si, apresentam

diferenças notáveis de comportamento quanto à intensidade dos picos. Uma possível

justificativa poderia estar relacionada com a pobreza do conjunto-base empregado no

cálculo RHF (base mínima STO-3G).

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152

(a)

(b)

(c)

Figura 5.11. Espectros teóricos calculados para a molécula de C60: (a) infravermelho (método

RHF); (b) Raman (método RHF); (c) infravermelho (método MNDO).

5.6.1.3. A Molécula de C70: Propriedades Estruturais e Eletrônicas

Realizamos cálculos de optimização completa da geometria da molécula de

C70, com relaxação completa de todos os átomos de carbono, através do métodos

RHF e MNDO. Como citado na seção 5.3, o volume da molécula de C70 é aproximado

como abcV π= , em que a, b e c denotam os semi-eixos de um elipsóide. Assim, os

diâmetros dos eixos c e (a-b) na molécula de C70 foram calculados em 7.96 Å e 7.09 Å,

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153

respectivamente (método RHF). De acordo com os dados listados na Tabela V.2, os

valores em 7.96 e 7.12 Å estão em boa concordância com nossos resultados.

Na Tabela V.6, nossos resultados teóricos RHF e MNDO para os

comprimentos de ligação C-C da molécula de C70 são comparados com valores

teóricos e experimentais da literatura [28] para os oito tipos de comprimentos de

ligação C-C da molécula de C70. Verificamos que esta molécula apresenta um número

maior de sítios de carbono distintos, bem como um número maior de diferentes

comprimentos de ligação, quando comparada ao C60. Evidentemente, com o aumento

do número de átomos de carbono nos fullerenos, tais números tendem a aumentar,

juntamente com a complexidade da estrutura geométrica.

Analisando nossos resultados teóricos RHF e MNDO listados na Tabela V.6,

verificamos uma boa concordância com os valores teóricos obtidos pelos métodos de

dinâmica molecular “tight binding” (TBMD), aproximação de densidade local (LDA) e

com os valores experimentais de difração de elétrons (ED), espalhamento inelástico

de nêutrons (NIS) e dados de difração de raios-X.

Tabela V.6. Comprimentos de ligação (em Å) calculados para a molécula de C70 (métodos RHF

e MNDO), comparados com os valores teóricos e experimentais da literatura. A notação

adotada se refere à Fig. 5.12.

Métodos teóricos Métodos experimentais Ligação RHF/STO-

3G a MNDO/STO-

3G a, b TBMD b LDA b ED b NIS b Raios-X b

C1-C1 1.461 1.473 1.457 1.448 1.46 1.460 1.434 C1-C2 1.379 1.402 1.397 1.393 1.37 1.382 1.377 C2-C3 1.455 1.469 1.454 1.444 1.47 1.449 1.443 C3-C3 1.364 1.389 1.389 1.386 1.37 1.396 1.369 C3-C4 1.470 1.478 1.456 1.442 1.46 1.464 1.442 C4-C4 1.417 1.442 1.443 1.434 1.47 1.420 1.396 C4-C5 1.414 1.430 1.418 1.415 1.39 1.415 1.418 C5-C5 1.459 1.484 1.452 1.467 1.41 1.477 1.457

a Nossos cálculos; b referência [28].

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154

Figura 5.12. Geometria da molécula de C70 (simetria D5h). No “cluster” de C70, existem cinco

sítios atômicos não-equivalentes (numerados de 1 a 5) e oito tipos diferentes de ligação C-C

(numeradas de 6 a 13).

A Tabela V.7 mostra nossos valores calculados para as energias eletrônicas

referentes à molécula de C70.

Tabela V.7. Energias eletrônicas da molécula de C70, calculadas através dos métodos teóricos

ab initio (RHF) e semi-empírico (MNDO). Energias (eV) RHF/

STO-3G a MNDO/

STO-3G a

ETOTAL -71249.851 40.675 ECARBONO -1012.230 7.411 EATÔMICA -70856.101 518.740 ELIGAÇÃO 5.625 6.829 EHOMO -5.132 -8.675 ELUMO 2.747 -2.842 ∆EGAP 7.879 5.833

a Nossos cálculos.

A energia de ligação da molécula de C70 foi obtida mediante procedimento

análogo ao descrito para o C60. Analisando os resultados listados nas Tabelas V.6 e

V.10, observamos que a diferença entre as energias de ligação das moléculas de C60

e C70 vale 0.03 eV (método RHF) e 0.05 eV (método MNDO). Estes valores estão em

boa concordância com a diferença experimental de 0.02 eV [28]. Observamos, no que

se refere à comparação entre diferenças de energia, o efeito de cancelamento dos

erros de correlação eletrônica, os quais estão ausentes no método RHF. Comparando

nossos resultados RHF e MNDO, verificamos que a energia do “gap”, EHOMO - ELUMO,

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155

diminui cerca de 2.046 eV e que a ELIGAÇÃO aumenta de 1.204 eV, do valor RHF para o

valor MNDO. Uma possível explicação para este comportamento poderia ser o fato de

que o método MNDO utiliza dados experimentais em sua parametrização, os quais

apresentam efeitos de correlação eletrônica embutidos.

A distribuição de cargas atômicas da molécula de C70, segundo a análise

populacional de Mulliken, apresentou uma configuração de cargas essencialmente

nula para todos os átomos de carbono.

5.6.1.4. A Molécula de C70: Propriedades Vibracionais

As freqüências vibracionais harmônicas da molécula de C70, pertencente ao

grupo de ponto D5h, foram calculadas através do método semi-empírico MNDO, visto

que o método ab initio Hartree-Fock não comportou o cálculo da estrutura. Nossos

resultados mostraram que os 204 modos normais de vibração da molécula de C70

apresentam 31 picos de absorção permitidos no infravermelho (correspondendo às

espécies de simetria 10A2” + 21E1’) e 53 modos permitidos no Raman

(correspondendo às espécies de simetria 12A1’ + 22 E2’ + 19 E1”) [44]. Os modos

remanescentes (9A2’ + 9A1” + 20E2”) são inativos. Considerando o grupo de ponto D5h,

ao qual pertence a molécula de C70, podemos constatar que somente os modos

vibracionais com simetria A2” e E1’ são ativos no infravermelho e se transformam de

acordo com as coordenadas z e ),( yx , respectivamente. Os modos vibracionais com

atividade Raman nesta molécula pertencem às representações A1’, E2’ e E1”, cujas

funções-base correspondem às formas quadráticas ( 222 , zyx + ), ),( 22 xyyx − e

),( yzxz , respectivamente.

A Tabela V.8 mostra os modos vibracionais ativos no infravermelho e Raman

calculados para esta molécula, mediante o método MNDO, comparados com os

valores teóricos da literatura.

Tabela V.8. Modos vibracionais ativos no infravermelho (A2” e E1’) e Raman (A1’, E2’e E1”),

calculados para a molécula de C70 (em cm-1), obtidos mediante o método semi-empírico

MNDO, comparados aos valores teóricos da literatura. Método Simetria do

modo Freqüências Vibracionais

MNDO a,b A2” 325, 493, 700, 772, 996, 1159, 1313, 1447, 1637, 1742 Tabela V.8. (continuação) E1’ 334, 367, 428, 518, 627, 650, 669, 740, 832, 863, 929,

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156

1051, 1248, 1327, 1397, 1429, 1470, 1555, 1592, 1659, 1721

A1’ 259, 407, 560, 625, 775, 849, 1222, 1374, 1433, 1617, 1666, 1736

E2’ 222, 310, 393, 515, 504, 529, 697, 770, 831, 822, 869, 910, 1103, 1226, 1282, 1340, 1387, 1449, 1527, 1536, 1662, 1710

E1” 250, 414, 532, 583, 660, 754, 783, 775, 878, 883, 1165, 1266, 1317, 1425, 1491, 1484, 1626, 1652, 1670

Modelo da constante de força c

A2” 374, 525, 668, 741, 1053, 1202, 1271, 1450, 1508, 1588

E1’ 389, 397, 420, 468, 550, 574, 623, 719, 744, 809, 982, 1026, 1187, 1213, 1262, 1316, 1375, 1377, 1430, 1503, 1563

A1’ 230, 308, 475, 536, 737, 825, 1160, 1253, 1290, 1335, 1483, 1585

E2’ 260, 348, 415, 494, 508, 620, 685, 705, 809, 850, 856, 980, 1070, 1182, 1203, 1305, 1325, 1350, 1414, 1415, 1548, 1571

E1” 285, 460, 555, 592, 632, 716, 796, 839, 874, 955, 1172, 1202, 1253, 1345, 1384, 1422, 1494, 1540, 1586

Método QCFF/PI d A2” 326, 485, 592, 684, 895, 1168, 1217, 1270, 1389, 1565 E1’ 327, 361, 412, 498, 560, 585, 650, 711, 748, 819, 931,

961, 1118, 1200, 1245, 1369, 1383, 1424, 1499, 1568, 1640

A1’ 251, 404, 474, 570, 682, 732, 1085, 1187, 1220, 1383, 1465, 1633

E2’ 216, 305, 425, 501, 570, 667, 722, 756, 773, 781, 822, 868, 966, 1064, 1212, 1265, 1332, 1433, 1463, 1526, 1583, 1645

E1” 243, 419, 489, 538, 559, 699, 753, 766, 806, 909, 1069, 1186, 1232, 1317, 1360, 1440, 1461, 1592, 1647

a Nossos cálculos; b referência [39]; c referência [40]; d referência [41].

A Figura 5.13 representa o espectro de infravermelho teórico MNDO calculado

para a molécula de C70.

Figura 5.13. Espectro teórico de infravermelho calculado para a molécula de C70 (método

MNDO).

5.6.1.5. A Molécula de C48N12: Propriedades Estruturais e Eletrônicas

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157

A geometria da molécula de C48N12, representada na Fig. 5.14, foi totalmente

optimizada, com relaxação completa de todos os átomos, através dos métodos RHF e

MNDO.

Figura 5.14. Representação da molécula de C48N12 usada em nossas simulações. Os átomos

de C e N estão representados por esferas nas cores cinza e azul, respectivamente.

Na Tabela V.9, os comprimentos de ligação carbono-carbono (CC) e

nitrogênio-carbono (NC), calculados para a molécula de C48N12 através dos métodos

RHF e MNDO, são comparados aos valores RHF e DFT extraídos da literatura [35].

Observamos que há 6 tipos distintos de ligação NC e 9 tipos de ligação CC diferentes.

Em comparação com os comprimentos de ligação CC da molécula de C60, notamos

que, em geral, as ligações simples C-C são menores no C48N12, o que deve ser devido

à redistribuição da densidade eletrônica na molécula. Os ângulos de ligação <C-C-C,

<C-N-C e <C-C-N na molécula de C48N12 são 108.0o e 120.0o e 120.0o,

respectivamente.

Tabela V.9. Comprimentos de ligação CC e NC (em Å) calculados para as moléculas de C48N12

e C60, mediante os métodos RHF e MNDO, em comparação com os valores teóricos

disponíveis na literatura.

Fullereno Ligação RHF/STO-3G a, b MNDO/STO-3G a DFT/STO-3G (Å) b

C48N12 CC 1.3914 1.4283 1.4275 CC 1.4151 1.4280 1.4371 NC 1.4601 1.4594 1.4742

Tabela V.9, (continuação) CC 1.4662 1.4643 1.4701

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158

CC 1.3590 1.4014 1.4092 CC 1.4566 1.4465 1.4559 NC 1.4553 1.4491 1.4707 CC 1.4580 1.4454 1.4567 NC 1.4637 1.4404 1.4749 CC 1.4352 1.4495 1.4399 CC 1.3641 1.4077 1.4119 CC 1.3705 1.4133 1.4195 NC 1.4419 1.4313 1.4586 NC 1.4313 1.4388 1.4510 NC 1.4360 1.4457 1.4612

C60 C=C 1.3759 1.4002 1.4130 C-C 1.4628 1.4734 1.4773

a Nossos cálculos; b referência [35].

Na Tabela V.10, mostramos os valores calculados para as energias eletrônicas

referentes à molécula de C48N12, em comparação com os resultados teóricos

disponíveis na literatura [35].

Tabela V.10. Energias eletrônicas da molécula de C48N12, calculadas através dos métodos

teóricos ab initio (RHF) e semi-empírico (MNDO), comparadas aos valores teóricos disponíveis

na literatura.

Energias (eV) RHF/ STO-3G a

RHF/ STO-3G b

MNDO/ STO-3G a

DFT/ STO-3G b

ETOTAL -66400.460 -66397.387 39.643 -66795.835 ECARBONO -1012.230 - 7.411 -

ENITROGÊNIO -1461.783 - 4.915 - EATÔMICA -66128.442 - 414.689 - ELIGAÇÃO 4.534 4.510 6.251 6.888 EHOMO -4.204 -3.287 -8.476 -2.365 ELUMO 3.563 3.797 -2.671 -0.188 ∆EGAP 7.767 7.084 5.807 2.177

a nossos cálculos; b referência [35].

A energia de ligação da molécula de C48N12 foi obtida mediante o emprego da

Eq. (5.1) e os valores encontrados foram 4.534 eV (método RHF) e 6.251 eV (método

MNDO). Observamos que nosso resultado RHF concorda com o valor calculado por

XIE et al. [35] em 4.510 eV, também obtido pelo método RHF. Comparando nossos

resultados RHF com os resultados DFT, verificamos que a energia do “gap” (EHOMO-

ELUMO) diminui de 5.590 eV. De fato, os valores calculados para o “gap” de energia são

superestimados no método Hartree-Fock, em relação ao valor experimental. Por outro

lado, na teoria DFT, estes valores são subestimados em relação ao valor

experimental.

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159

A distribuição de cargas atômicas na molécula de C48N12, segundo a análise

populacional de Mulliken, apresentou a configuração mostrada na Tabela V.11.

Tabela V.11. Distribuição de cargas atômicas na molécula de C48N12 (em unidades de carga do

elétron, e), obtida segundo a análise populacional de Mulliken.

Átomo Carga Átomo Carga Átomo Carga C1 .095334 C2 .060001 C3 .089332 C4 .071873 N5 -.234421 C6 .107181 C7 -.023773 C8 -.019225 C9 .094249 N10 -.240551 C11 -.019225 C12 .094249 N13 -.240551 C14 .107181 C15 -.023773 C16 .060001 C17 .095334 N18 -.234421 C19 .071873 C20 .089332 C21 .107181 N22 -.240551 C23 .094249 C24 -.019225 C25 -.023773 N26 -.234421 C27 .071873 C28 .089332 C29 .060001 C30 .095334 C31 .071873 N32 -.234421 C33 .095334 C34 .060001 C35 .089332 C36 .107181 N37 -.240551 C38 .094249 C39 -.019225 C40 -.023773 N41 -.234421 C42 .071873 C43 .089332 C44 .060001 C45 .095334 C46 .107181 C47 -.023773 C48 -.019225 C49 .094249 N50 -.240551 C51 -.019225 C52 .094249 N53 -.240551 C54 .107181 C55 -.023773 C56 .060001 C57 .095334 N58 -.234421 C59 .071873 C60 .089332

A análise da distribuição de cargas desta molécula nos permitiu verificar que

os átomos de carbono e nitrogênio estão simetricamente dispostos. A Fig. 5.15 mostra

tais agrupamentos, representados por um código de cores. Os átomos de N estão

agrupados formando 2 grupos de 6 átomos cada um, ao passo que os átomos de C se

agrupam formando 8 grupos de 6 átomos cada um:

a) primeiro grupo: N5, N18, N26, N32, N41 e N58 (carga: –0.234e; em azul claro);

b) segundo grupo: N10, N13, N22, N37, N50 e N53 (carga: –0.240e; em azul escuro);

c) terceiro grupo: C1, C17, C30, C33, C45 e C57 (carga: +0.095e; em amarelo);

d) quarto grupo: C2, C16, C29, C34, C44 e C56 (carga: +0.060e, em vermelho);

e) quinto grupo: C3, C20, C28, C35, C43 e C60 (carga: +0.089e; em verde escuro);

f) sexto grupo: C4, C19, C27, C31, C42 e C59 (carga: +0.071e; em marrom);

g) sétimo grupo: C6, C14, C21, C36, C46 e C54 (carga: +0.107e; em branco);

h) oitavo grupo: C7, C15, C25, C40, C47 e C55 (carga: -0.237e; em cinza);

i) nono grupo: C8, C11, C24, C39, C48 e C51 (carga: -0.019e; em verde claro);

j) décimo grupo: C9, C12, C23, C38, C49 e C52 (carga: +0.094e; em laranja).

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160

Figura 5.15. Representação da distribuição de cargas na molécula de C48N12, segundo a

análise populacional de Mulliken. Os átomos de C e N estão simetricamente agrupados de

acordo com a carga adquirida, sendo representados na figura através de um código de cores.

Primeiro grupo: N (em azul claro); segundo grupo: N (em azul escuro); terceiro grupo: C (em

amarelo); quarto grupo: C (em vermelho); quinto grupo: C (em verde escuro); sexto grupo: C

(em marrom); sétimo grupo: C (em branco); oitavo grupo: C (em cinza); nono grupo: C (em

verde claro); décimo grupo: C (em laranja).

5.6.1.6. A Molécula de C48N12: Propriedades Vibracionais

A molécula de C48N12, pertencente ao grupo de ponto S6, apresenta um total de

174 modos normais de vibração, dos quais 58 são ativos no infravermelho e 58 no

Raman. Os 58 modos vibracionais com atividade no infravermelho pertencem às

representações Au e Eu. À representação Au, cuja função-base está associada à

coordenada z , correspondem 29 modos não-degenerados; à representação Eu,

associada às coordenadas ),( yx correspondem 29 modos duplamente degenerados.

Os 58 modos vibracionais com atividade Raman pertencem às representações

Ag e Eg. À representação Ag, cujas funções-base são ( 222 , zyx + ), estão associados

29 modos não-degenerados. À representação Eg, cujas funções-base são

combinações do tipo [ ),();,( 22 yzxzxyyx − ], estão associados 29 modos duplamente

degenerados.

Nas Tabelas V.12 e V.13, listamos nossos resultados RHF e MNDO referentes

aos modos vibracionais da molécula de C48N12 ativos no infravermelho e Raman,

respectivamente. Estas tabelas também trazem alguns valores teóricos comparativos

RHF e DFT extraídos da literatura [35]. Observamos que o método semi-empírico

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161

MNDO é eficaz na determinação qualitativa dos modos normais de vibração da

molécula de C48N12, identificando eficientemente todas as degenerescências

existentes na molécula e prevendo corretamente quais freqüências vibracionais são

ativas no infravermelho. Novamente, os modos vibracionais calculados pela

aproximação RHF/STO-3G estão multiplicados pelo fator de ajuste 0.89, o que ocorre

com os valores calculados pelo método MNDO.

Tabela V.12. As 58 freqüências vibracionais ativas no infravermelho (em cm-1), calculadas para

a molécula de C48N12, através dos métodos RHF e MNDO, comparadas aos valores teóricos

disponíveis na literatura.

Modos Vibracionais Ativos no Infravermelho para a molécula de C48N12 RHF/STO-3G a, b MNDO/STO-3G a DFT/STO-3G b

Duplamente degenerados

Não degenerados

Duplamente degenerados

Não degenerados

Duplamente degenerados

Não degenerados

317 271 337 303 314 286 356 329 366 345 363 328 383 360 394 367 394 362 401 381 406 390 406 391 456 469 485 487 437 450 490 495 515 625 465 470 514 570 526 688 496 581 551 619 667 716 566 592 643 654 704 770 623 645 657 683 709 775 632 656 679 714 738 783 656 692 686 747 763 792 675 735 713 775 780 872 695 784 750 800 837 1080 722 798 782 942 1092 1102 788 958 954 958 1174 1166 973 972

1034 975 1301 1338 1055 990 1189 1037 1331 1381 1203 1057 1222 1202 1385 1382 1231 1220 1259 1239 1458 1405 1275 1276 1336 1287 1462 1429 1348 1331 1381 1303 1476 1458 1391 1362 1440 1355 1505 1502 1440 1421 1466 1433 1555 1505 1478 1437 1541 1444 1624 1538 1525 1466 1574 1513 1666 1613 1555 1506 1637 1575 1691 1663 1602 1560 1651 1666 1702 1682 1628 1617 1727 1686 1728 1729 1680 1627

a Nossos cálculos; b referência [35].

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162

Tabela V.13. As 58 freqüências vibracionais ativas no Raman (em cm-1), calculadas para a

molécula de C48N12, através dos métodos RHF e MNDO, comparadas aos valores teóricos

disponíveis na literatura.

Modos Vibracionais Ativos no Raman para a molécula de C48N12 RHF/STO-3G a, b MNDO/STO-3G a DFT/STO-3G b

Duplamente degenerados

Não degenerados

Duplamente degenerados

Não degenerados

Duplamente degenerados

Não degenerados

234 262 250 270 245 264 255 396 265 411 259 382 382 412 406 437 376 406 418 454 431 469 410 444 457 465 463 521 447 471 519 513 566 545 493 498 537 541 573 564 549 544 580 575 594 589 580 578 645 579 651 606 617 585 688 590 691 612 649 621 694 662 728 695 665 625 740 692 773 723 716 658 755 740 811 792 767 730 775 772 834 812 782 768 832 822 854 834 841 836 855 848 911 872 858 856

1103 1082 922 910 1124 1115 1140 1182 1240 955 1162 1194 1169 1196 1269 1229 1182 1221 1266 1246 1293 1303 1274 1316 1314 1307 1397 1306 1318 1337 1376 1334 1442 1410 1386 1367 1431 1365 1504 1434 1452 1416 1466 1410 1555 1485 1466 1439 1528 1473 1620 1548 1504 1481 1585 1532 1668 1624 1571 1531 1630 1573 1674 1667 1595 1558 1676 1618 1703 1699 1633 1581 1704 1732 1725 1736 1662 1683

a Nossos cálculos; b referência [35].

Na Fig. 5.16 mostramos os espectros vibracionais teóricos de infravermelho e

Raman calculados para a molécula de C48N12, mediante os métodos RHF e MNDO.

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163

Figura 5.16. Espectros teóricos calculados para a molécula de C48N12. (a) infravermelho (RHF);

(b) Raman (RHF); (c) infravermelho (MNDO).

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164

5.6.1.7. As “Fuzzyballs” C60X60 (X = H, F): Propriedades Estruturais e Eletrônicas

As moléculas de C60H60 e C60F60 foram totalmente optimizadas, com relaxação

completa de todos os átomos, a fim de minimizar a energia total, através dos métodos

RHF e MNDO. A Tabela V.14 lista nossos resultados obtidos para os comprimentos de

ligação e os ângulos de ligação interatômicos referentes às geometrias de equilíbrio

das moléculas de C60H60 e C60F60.

Tabela V.14. Comparação entre as estruturas de equilíbrio das moléculas de C60H60 e C60F60,

obtidas pelos métodos teóricos ab initio RHF e semi-empírico MNDO e os valores teóricos

disponíveis na literatura. Os comprimentos de ligação estão em Å e os ângulos de ligação em

graus.

X

Variável

RHF/ STO-3G a

RHF/ STO-3G b

MNDO/ STO-3G a, c

AM1 c PM3 c

H C-C (pent) 1.568 1.568 1.554 1.530 1.527 C=C (hex) 1.561 1.561 1.537 1.504 1.508 C-H 1.084 1.084 1.132 1.146 1.122 <HCC 101.9 101.0 100.9 101.3 100.1 H…H (pent) 2.015 - 2.027 1.999 2.014 H...H (hex) 1.981 - 1.964 1.954 1.901

F C-C (pent) 1.600 1.600 1.645 1.584 1.585 C=C (hex) 1.594 1.594 1.633 1.565 1.569 C-F 1.394 1.394 1.362 1.412 1.381 <FCC 101.3 - 101.1 101.3 101.5 F…F (pent) 2.171 - 2.209 2.164 2.147 F...F (hex) 2.141 - 2.157 2.118 2.118

a Nossos cálculos; b referência [37]; c referência [42].

Analisando os valores listados na Tabela V.20, verificamos que todos os

métodos prevêem um aumento dos comprimentos de ligação C-C e C=C quando se

vai do C60H60 para o C60F60, devido à maior eletronegatividade do flúor. Nossos

resultados RHF mostram que ambos os comprimentos de ligação, C-C e C=C, sofrem

um acréscimo de 0.03 Å do C60H60 para o C60F60. Já nossos valores obtidos pelo

método MNDO, para estes mesmos comprimentos de ligação, sofrem um aumento de

0.09 Å. Por outro lado, os ângulos de ligação <HCC e <FCC são muito pouco

alterados, conforme pode ser evidenciado na Tabela V.14. Estes resultados são

consistentes com o efeito que se espera da saturação dos átomos de carbono.

Salientamos que os resultados semi-empíricos AM1 e PM3 fornecem comprimentos de

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165

ligação mais curtos quando comparados aos demais valores da Tabela V.14, visto que

em tais aproximações, o tratamento empírico da energia total é diferente.

Em média, nas moléculas de C60X60 (X = H, F), a distância X...X entre dois

átomos X vizinhos, sejam eles ligados a dois átomos de carbono da aresta de um

pentágono ou da aresta entre hexágonos, são maiores no C60F60 do que no C60H60.

Este aumento varia na faixa de 0.15 a 0.16 Å (RHF) e na faixa de 0.18 a 0.19 Å

(MNDO). Isto pode ser justificado tendo em vista a maior repulsão interatômica entre

os átomos de flúor, quando comparada àquela entre os átomos de hidrogênio.

A Tabela V.15 mostra nossos valores calculados para as energias eletrônicas

referentes às moléculas de C60H60 e C60F60 (métodos RHF e MNDO), em comparação

com os valores teóricos disponíveis na literatura.

Tabela V.15. Energias eletrônicas das moléculas de C60H60 e C60F60, calculadas através dos

métodos ab initio RHF e semi-empírico MNDO, comparadas aos valores teóricos disponíveis na

literatura.

C60H60 C60F60 Energias

(eV) RHF/

STO-3G a RHF/

STO-3G b MNDO/

STO-3G a RHF/

STO-3G a RHF/

STO-3G b MNDO/

STO-3G a

ETOTAL -62002.783 -62029.362 12.375 -221131.300 -221131.300 -34.871 ECARBONO -1012.230 - 7.411 -1012.230 - 7.411

EHIDROGÊNIO -12.696 - 2.259 - - - EFLÚOR - - - -2666.375 - 0.819

EATÔMICA -61495.589 - 580.197 -220716.328 - 493.783 ELIGAÇÃO 4.227 - 4.732 3.458 - 4.405 EHOMO -8.574 -8.572 -12.481 -11.241 -11.328 -15.150 ELUMO 12.746 12.762 1.687 7.803 7.810 -3.258 ∆EGAP 21.320 21.334 14.168 19.044 19.138 11.892

a Nossos cálculos; b referência [37].

A energia ELIGAÇÃO calculada para a molécula de C60H60 foi de 4.227 eV (método

RHF) e 4.732 eV (método MNDO). Observamos que estes valores sofrem uma

diminuição de 0.77 eV (RHF) e 0.33 eV (MNDO), quando comparados aos valores da

energia de ligação da molécula de C60F60. Ainda assim, o grande “gap” de energia

EHOMO - ELUMO observado nestas moléculas é típico de hidrocarbonetos saturados.

As distribuições de carga, segundo a análise populacional de Mulliken mostram

que, para a molécula de C60H60, os átomos de carbono adquirem carga negativa

(~ -0.044e), agindo como aceitadores de elétrons dos átomos de hidrogênio, os quais

adquirem carga positiva (~ +0.044e), agindo como doadores. Por outro lado, no caso

da molécula de C60F60, os átomos de carbono adquirem carga positiva (~ +0.110e),

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166

agindo como doadores de elétrons aos átomos de flúor, os quais ficam negativamente

carregados (~ -0.110e), agindo como aceitadores.

5.6.1.8. As “Fuzzyballs” C60X60 (X = H, F): Propriedades Vibracionais

Realizamos cálculos de freqüências vibracionais para a molécula de C60H60,

empregando os métodos RHF (empregado para sistemas de camada fechada) e

MNDO e para a molécula de C60F60, apenas através do método MNDO, visto que o

método RHF não comportou o cálculo vibracional do C60F60. Nossos resultados

mostraram que dos 354 modos normais de vibração apresentados por ambas as

moléculas, apenas 9 são ativos no infravermelho e somente 20 no Raman. Da mesma

forma que a molécula de C60, as moléculas de C60H60 e C60F60 pertencem ao grupo de

simetria icosaédrico Ih. Assim, somente os modos T1u são permitidos no infravermelho,

da mesma forma que somente os modos Ag e Hg são permitidos no Raman.

Na Tabela V.16 fazemos uma comparação entre nossos resultados RHF e

MNDO e os valores MNDO e AM1 disponíveis na literatura para as freqüências

harmônicas ativas no infravermelho, correspondentes às moléculas de C60H60 e C60F60.

As transições permitidas no Raman (modos Ag e Hg) são listadas na Tabela V.17. Os

dados AM1 são listados nas Tabelas V.16 e V.17 apenas no intuito de indicar o quanto

os métodos semi-empíricos relacionados podem diferir em suas predições (por

exemplo, para X = H, as diferenças entre os resultados são menores).

Tabela V.16. Freqüências harmônicas calculadas (em cm-1) para as transições de

infravermelho permitidas, T1u, das moléculas de C60H60 e C60F60.

X = H (método RHF) a

X = H (método MNDO) a, b

X = F (método MNDO) a, b

X = F (método AM1) b

470 564 282 275 546 577 392 328 1048 1142 462 448 1331 1329 582 490 1495 1427 722 757 1534 1445 1054 1124 1560 1524 1172 1305 3247 3114 1461 1359 3280 3145 1482 1376

a Nossos cálculos; b referência [42].

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Tabela V.17. Freqüências harmônicas calculadas (em cm-1) para as transições Raman

permitidas, Ag e Hg, das moléculas de C60H60 e C60F60.

X Método Simetria do modo

Freqüências Vibracionais

H RHF a Ag 426, 1500, 1570, 3284 Hg 231, 392, 611, 738, 917, 1151, 1331, 1332, 1370, 1461,

1532, 1544, 1563, 3259, 3259, 3273 MNDO a,b Ag 491, 1443, 1545, 3154 Hg 234, 430, 720, 748, 1000, 1245, 1338, 1353, 1414, 1434,

1449, 1493, 1498, 3104, 3128, 3143 F MNDO a,b Ag 281, 586, 1183, 1493 Hg 154, 299, 312, 382, 467, 521, 558, 575, 824, 1026, 1047,

1166, 1221, 1467, 1475, 1487 AM1 b Ag 294, 453, 1322, 1383 Hg 160, 274, 287, 366, 394, 426, 452, 600, 875, 1090, 1128,

1282, 1316, 1358, 1369, 1381

a Nossos cálculos; b referência [42].

A Fig. 5.17 representa os espectros vibracionais teóricos de infravermelho e

Raman calculados para as moléculas de C60X60 (X = H, F), obtidos mediante os

métodos ab initio RHF e/ou semi-empírico MNDO.

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168

(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 5.17. Espectros teóricos calculados para as moléculas de C60X60 (X = H, F). (a) C60H60:

infravermelho (método RHF); (b) C60H60: Raman (método RHF); (c) C60H60: infravermelho

(método MNDO); (d) C60F60: infravermelho (método MNDO).

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5.6.1.9. Os Endofullerenos X@C60 (X = H, Li, Na e K): Propriedades Estruturais e Eletrônicas

Algumas questões pertinentes, no que se refere ao aprisionamento de metais

no interior de fullerenos, ainda permanecem em aberto. Uma delas é se haveria regras

simples e gerais capazes de descrever a ligação X-C60 ou se a localização do mesmo

no interior da molécula de fullereno sofreria variações em cada caso particular.

Nesta seção fazemos uma análise dos efeitos da inserção dos átomos de H, Li, Na e K

no interior da molécula de C60, a fim de investigar o comportamento e as condições de

estabilidade dos mesmos, tanto interna quanto externamente à estrutura da “gaiola”.

Nossos cálculos foram realizados em duas etapas. Na primeira, partindo das

coordenadas cartesianas de equilíbrio da molécula de C60, os átomos de H, Li, Na e K

foram inseridos no centro da “gaiola”. As geometrias moleculares dos compostos

X@C60 (X = H, Li, Na, K) foram totalmente optimizadas, com relaxação completa de

todos os átomos, através do método UHF. Na segunda etapa, congelamos a “gaiola” e

calculamos a energia total E(UHF) à medida que os átomos aprisionados eram

forçados a se deslocarem ao longo de determinadas direções de simetria escolhidas,

partindo do centro da “gaiola”. Para cada simetria, nossos cálculos forneceram as

estruturas eletrônicas dos complexos X@C60.

Nas Tabelas V.18, V.19, V.20 e V.21, listamos as respectivas distribuições de

carga dos complexos H@C60, Li@C60, Na@C60 e K@C60, obtidas segundo a análise

populacional de Mulliken

Tabela V.18. Distribuição de cargas atômicas (em unidades de carga do elétron, e) do

complexo endoédrico H@C60, obtida segundo a análise populacional de Mulliken. Átomo Carga Átomo Carga Átomo Carga H1 -.001202 C2 .000020 C3 .000021 C4 .000020 C5 .000020 C6 .000021 C7 .000020 C8 .000022 C9 .000018 C10 .000022 C11 .000020 C12 .000020 C13 .000020 C14 .000019 C15 .000020 C16 .000020 C17 .000019 C18 .000021 C19 .000018 C20 .000021 C21 .000020 C22 .000020 C23 .000021 C24 .000018 C25 .000021 C26 .000019 C27 .000020 C28 .000020 C29 .000019 C30 .000020 C31 .000020 C32 .000020 C33 .000021 C34 .000020 C35 .000021 C36 .000020 C37 .000020 C38 .000021 C39 .000018 C40 .000021 C41 .000019 C42 .000020 C43 .000020 C44 .000019 C45 .000020 C46 .000020 C47 .000020 C48 .000022

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Tabela V.18. (continuação0 C49 .000018 C50 .000022 C51 .000020 C52 .000020 C53 .000020 C54 .000019 C55 .000020 C56 .000020 C57 .000019 C58 .000021 C59 .000018 C60 .000021 C61 .000020

A análise desses resultados nos permite verificar que, no caso do complexo

H@C60, o átomo de hidrogênio estabiliza-se exatamente no centro da “gaiola”, nas

coordenadas cartesianas 0.0000, 0.0000, 0.0000, com carga aproximadamente nula,

bem como os 60 átomos de carbono.

Tabela V.19. Distribuição de cargas atômicas (em unidades de carga do elétron, e) do

complexo endoédrico Li@C60, obtida segundo a análise populacional de Mulliken. Átomo Carga Átomo Carga Átomo Carga Li1 -.139558 C2 -.020499 C3 -.020423 C4 -.020459 C5 -.020557 C6 -.020583 C7 .002953 C8 .002054 C9 .001821 C10 .002032 C11 .002949 C12 .002969 C13 .002085 C14 .001895 C15 .002077 C16 .002968 C17 .002959 C18 .002055 C19 .001863 C20 .002073 C21 .002963 C22 .002937 C23 .002005 C24 .001769 C25 .002023 C26 .002941 C27 .002933 C28 .002004 C29 .001744 C30 .001998 C31 .002932 C32 .005106 C33 .005103 C34 .005110 C35 .005117 C36 .005115 C37 .008313 C38 .005380 C39 .004088 C40 .005391 C41 .008320 C42 .008315 C43 .005388 C44 .004090 C45 .005383 C46 .008313 C47 .008327 C48 .005394 C49 .004089 C50 .005380 C51 .008318 C52 .008332 C53 .005388 C54 .004087 C55 .005385 C56 .008328 C57 .008322 C58 .005380 C59 .004087 C60 .005392 C61 .008330

Quanto a complexo Li@C60, nossos resultados mostraram que o átomo de Li

estabiliza-se fora do centro da molécula de C60, nas coordenadas cartesianas de

equilíbrio (-0.0011, -0.0031, 1.1613). Como pode ser notado, há um deslocamento

predominante do átomo de Li na direção z, que é a direção do centro de uma das

faces pentagonais da molécula de C60. Isso pode também ser evidenciado, uma vez

que as distâncias de ligação interatômicas Li-C2, Li-C3, Li-C4, Li-C5 e Li-C6 (em que C2,

C3, C4, C5 e C6 são os carbonos da face pentagonal para a qual o átomo de Li se

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move) sofrem um decréscimo de 1.05 Å (29.75%), indo de 3.53 para 2.48 Å, à medida

que o átomo de Li se desloca do centro da “gaiola” para a posição de equilíbrio.

Verificamos que, na distribuição das cargas atômicas listadas na Tabela V.19,

o átomo de Li adquire carga negativa, -0.139e, bem como os carbonos C2, C3, C4, C5 e

C6, cuja carga é de -0.020e. Os demais carbonos da “gaiola” adquirem cargas

positivas, de ~ +0.002e a +0.008e.

Nossos resultados mostraram que, para o complexo Li@C60, a distância de

ligação do Li ao centro da “gaiola” estabilizou-se em ~ 1.2 Å. Este mesmo

comprimento de ligação foi calculado por LI e TOMÁNEK [34] em 1.5 Å, usando o

método DFT/LDA. Esta diferença (~ 25%) pode ser explicada levando-se em conta

que, no método DFT/LDA, a interação interatômica é superestimada, fazendo com que

o átomo aprisionado seja atraído mais intensamente pelos carbonos da “gaiola”,

sofrendo um deslocamento maior e, conseqüentemente, afastando-se mais do centro.

De acordo com os resultados obtidos em [34], a interação Li-C60 é predominantemente

iônica, na qual o Li adquire carga positiva, +0.58e, apresentando apenas uma

pequena contribuição covalente envolvendo os elétrons do estado 2s do átomo de Li;

além disso, tais cálculos indicam que a carga transferida do Li para a casca do C60

diminui de 0.8e para 0.3e quando o Li se move do centro do C60 para a sua posição de

equilíbrio.

Nossos resultados não concordam com os resultados descritos acima para o

composto Li@C60. Nossos cálculos mostraram que o átomo de Li age como aceitador

de elétrons, bem como os 5 átomos de carbono que compõem a face pentagonal na

direção da qual o Li se estabiliza. Os demais carbonos da “gaiola” agem como

doadores de elétrons aos átomos de Li e aos carbonos do pentágono, ficando

carregados positivamente. O caráter da ligação Li-C60 é essencialmente covalente, em

contraposição aos resultados de LI e TOMÁNEK [34], que identificam apenas uma

pequena contribuição covalente nesta região. O grau de hibridização pode ser

investigado qualitativamente, usando a análise populacional de Mulliken. Nossos

resultados obtidos indicam que a carga do Li passa de –0.10e para –0.14e quando o Li

se move do centro do C60 para a sua posição de equilíbrio. Este aumento na

transferência de carga para o Li se reflete em um aumento da hibridização entre Li e

C60 e em um aumento do caráter covalente. Este comportamento covalente do Li

poderia ser explicado levando-se em conta que sua eletroafinidade (~ 0.620 eV) é

maior que a eletroafinidade do Na (~ 0.548 eV) que, por sua vez, é maior que a do K

(~ 0.501 eV). Dessa forma, a quantidade de energia liberada quando o átomo de Li

captura um elétron é maior, quando comparada à energia dos átomos de Na e K.

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172

Por outro lado, LI e TOMÁNEK [34] realizaram cálculos de dinâmica molecular.

Para determinar as forças que atuam sobre os átomos aprisionados na “gaiola”, os

autores usaram um potencial modelo, )(rV r, capaz de ajustar seus resultados obtidos

por DFT/LDA para a interação X-C60. Contraditoriamente, tais resultados refletiram um

grande grau de covalência na ligação Li-C60, causando um grande potencial

anisotrópico. Tais resultados concordam com nossos cálculos UHF de relaxação

dinâmica do complexo Li@C60.

Vamos analisar a seguir o comportamento do átomo de Na.

Tabela V.20. Distribuição de cargas atômicas (em unidades de carga do elétron, e) do

complexo endoédrico Na@C60, obtida segundo a análise populacional de Mulliken. Átomo Carga Átomo Carga Átomo Carga Na1 .862770 C2 -.089712 C3 -.021090 C4 -.026259 C5 -.026950 C6 -.021064 C7 -.025625 C8 -.020975 C9 -.086849 C10 -.021271 C11 -.025938 C12 -.010023 C13 -.011006 C14 -.041358 C15 -.040209 C16 -.011037 C17 -.006202 C18 -.006028 C19 -.008424 C20 -.024455 C21 -.000074 C22 .000053 C23 -.025308 C24 -.008660 C25 -.006173 C26 -.006244 C27 -.010515 C28 -.041184 C29 -.042382 C30 -.010443 C31 -.009960 C32 -.001702 C33 -.004722 C34 -.003871 C35 -.004622 C36 -.001569 C37 -.023671 C38 -.000234 C39 -.006094 C40 -.005961 C41 -.008210 C42 -.011059 C43 -.001904 C44 -.002014 C45 -.010955 C46 -.001575 C47 -.001634 C48 -.004786 C49 -.003755 C50 -.004848 C51 -.001678 C52 -.001507 C53 -.010905 C54 -.001982 C55 -.001934 C56 -.011109 C57 -.008529 C58 -.006060 C59 -.006078 C60 .000019 C61 -.024455

As coordenadas cartesianas de equilíbrio adquiridas pelo átomo de Na,

(0.6461, -0.0137, 1.0642) revelam que há um deslocamento do metal alcalino

predominantemente no plano xz, estabilizando-se preferencialmente na direção da

aresta formada por duas faces hexagonais (região de uma ligação “dupla”), contendo

os carbonos C2 e C9. As distâncias de ligação interatômicas Na-C2 e Na-C9 sofrem

uma diminuição de 1.11 Å (31.44 %), indo de 3.53 Å para 2.42 Å à medida que o

átomo de Na se desloca da origem da “gaiola” para a posição de equilíbrio.

A análise dos dados listados na Tabela V.20 mostra que o Na adquire carga

positiva (~ +0.862e), agindo como doador de elétrons aos átomos de carbono da

“gaiola”, os quais atuam como aceitadores de elétrons, ficando carregados

negativamente (~ -0.041e a –0.001e). Observamos que uma maior quantidade de

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carga é transferida aos carbonos C2 e C9, os quais se tornam mais negativos que os

demais carbonos da “gaiola”, adquirindo cargas em ~ –0.089e e –0.086e,

respectivamente. Se considerarmos a heterogeneidade da distribuição de carga e o

modelo de ligação específico dos fullerenos, as regiões ricas em elétrons, as ligações

“duplas”, atuarão em geral como centros atrativos para o íon Na. Dessa forma,

considerando sua propensão a fornecer uma ligação direcional com os carbonos, o

átomo de Na aprisionado se posiciona fora do centro da unidade de piracileno que

circunda as ligações “duplas”.

Analisemos agora o comportamento do átomo de K.

Tabela V.21. Distribuição de cargas atômicas (em unidades de carga do elétron, e) do

complexo endoédrico K@C60, obtida segundo a análise populacional de Mulliken. Átomo Carga Átomo Carga Átomo Carga K1 .795353 C2 -.007568 C3 -.007202 C4 -.013999 C5 -.013999 C6 -.007202 C7 -.017122 C8 -.006870 C9 -.010262 C10 -.006870 C11 -.017122 C12 -.025550 C13 -.007382 C14 -.013541 C15 -.011257 C16 -.010887 C17 -.021773 C18 -.007269 C19 -.020443 C20 -.011859 C21 -.014776 C22 -.014776 C23 -.011859 C24 -.020443 C25 -.007269 C26 -.021773 C27 -.010887 C28 -.011257 C29 -.013541 C30 -.007382 C31 -.025550 C32 -.013999 C33 -.007200 C34 -.007567 C35 -.007200 C36 -.013999 C37 -.014777 C38 -.011859 C39 -.020445 C40 -.007269 C41 -.021779 C42 -.010883 C43 -.011254 C44 -.013539 C45 -.007382 C46 -.025548 C47 -.017116 C48 -.006869 C49 -.010259 C50 -.006869 C51 -.017116 C52 -.025548 C53 -.007382 C54 -.013539 C55 -.011254 C56 -.010883 C57 -.021779 C58 -.007269 C59 -.020445 C60 -.011859 C61 -.014777

Nossos resultados indicam que, na molécula de K@C60, o átomo de K

estabiliza-se nas proximidades da origem do C60, com coordenadas cartesianas de

equilíbrio em (0.0001, 0.0000, 0.0001). Este átomo adquire carga positiva (+0.795e) e

os 60 átomos de carbono ficam carregados negativamente (~ -0.025e a –0.006e). O

maior confinamento radial do potássio nas proximidades da origem (quando

comparado ao Li e ao Na) resulta de uma repulsão K-C60 maior. Isso se deve ao

grande raio iônico do K, rion(K) = 1.38 Å, em comparação com os raios iônicos do Li,

rion(Li) = 0.76 Å e do Na, rion(Na) = 1.02 Å. A análise populacional de Mulliken indica

que o potássio perde seu elétron de valência 4s para a “gaiola”, atuando com doador

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174

de elétrons, ao passo que os 60 carbonos agem como aceitadores. Neste caso, o

potencial de ionização do C60 (PIC60 = 7.40 eV), sendo muito maior que o valor de sua

afinidade eletrônica (AEC60 = 2.65 ± 0.05 eV), faz com que o C60 seja muito melhor

aceitador do que doador de elétrons. Os resultados DFT/LDA obtidos por LI e

TOMÁNEK [34] indicam que o K estabiliza-se a 0.25 Å do centro da “gaiola”, ao passo

que segundo nossos cálculos, este átomo praticamente não sofre deslocamento em

relação ao centro.

Na Fig. 5.18 estão representadas as posições relativas dos átomos de H, Li, Na

e K, obtidas após o processo de relaxação completa das estruturas, com minimização

da energia total, vistas em diferentes perspectivas. A análise desta figura nos permite

verificar que, ao contrário do que acontece com os átomos de H e K, as posições

favoráveis energeticamente para os átomos de Li e Na são fora do centro da “gaiola” e

que este último não corresponde a um mínimo da superfície de potencial. Tais

sistemas são primariamente estabilizados ou por uma grande interação coulombiana,

proveniente da transferência de cargas entre os átomos aprisionados e a estrutura da

“gaiola” (como é o caso dos átomos de Na e K) ou pelo compartilhamento de elétrons

(como é o caso do átomo de Li), caracterizando uma interação covalente. Na Fig.

5.18(a), observando a disposição dos eixos cartesianos xyz, verificamos que o átomo

de H permanece exatamente na origem da “gaiola”. As Figs. 5.18(b), 5.18(c) e 5.18(d)

representam a configuração de equilíbrio atingida pelo átomo de Li no interior da

molécula de C60, vista sob três direções de deslocamento diferentes: eixo z, eixo x e

eixo y, respectivamente, todos perpendiculares ao plano do papel. Conforme podemos

observar, estas figuras evidenciam que o átomo de Li se desloca essencialmente na

direção z positiva. Da mesma maneira, as Figs. 5.18(e), 5.18(f) e 5.18(g) representam

a configuração de equilíbrio atingida pelo átomo de Na no interior da molécula de C60,

vista sob três direções de deslocamento diferentes: eixo z, eixo x e eixo y,

respectivamente, todos perpendiculares ao plano do papel. Como pode ser verificado,

o Na se desloca preferencialmente no plano xz, tendendo à aresta entre duas faces

hexagonais. A Fig. 5.18(h) mostra que o átomo de K praticamente não se desloca para

fora do centro.

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175

(a)

(b) (c) (d)

(e) (f) (g)

(h)

Figura 5.18. Visão em perspectiva das posições relativas dos átomos de H, Li, Na e K inseridos

no interior da molécula de C60. (a) H@C60; (b, c, d), Li@C60; (e, f, g), Na@C60; (h) K@C60.

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176

Com o objetivo de detalhar a estabilidade dos principais sítios de localização

dos átomos X, congelamos a “gaiola” e realizamos cálculos de energia total E(UHF)

em determinados pontos escolhidos a priori, verificando as condições de energia

mínima das estruturas em cada configuração em particular. Assim, as principais

direções de deslocamento dos átomos, tanto interna quanto externamente à estrutura

do C60 foram escolhidas da seguinte forma: (1) direção do centro de uma face

pentagonal; (2) direção do centro de uma face hexagonal; (3) direção de um vértice;

(4) direção de uma aresta entre dois hexágonos e (5) direção de uma aresta entre um

pentágono e um hexágono.

Para os compostos Li@C60, Na@C60 e K@C60, calculamos os valores da

energia total E(UHF) na origem da molécula de C60 e os valores das energias totais

em cada ponto, à medida que os átomos aprisionados eram forçados a se deslocarem

nas direções escolhidas. Obtivemos em cada ponto as diferenças de energia ∆E (em

eV), calculadas em relação à energia total na origem. Nas Tabelas V.22, V.25 e V.26

sumarizamos estes valores calculados para as moléculas de Li@C60, Na@C60 e

K@C60, respectivamente. As representações ∆Emin interno, ∆Ebarreira pot e ∆Emin externo

denotam as diferenças de energia mínimas obtidas no interior da “gaiola”, nas

proximidades da barreira de potencial e na parte externa da molécula de C60,

respectivamente. Os números entre parênteses indicam as aproximações máximas,

em termos de percentuais das distâncias do centro da gaiola às barreiras de potencial,

conseguidas nos cálculos.

Tabela V.22. Diferenças de energia, em relação ao centro da “gaiola”, calculadas para os vários

sítios de deslocamento do átomo de Li, no complexo Li@C60, tanto interna quanto

externamente à estrutura da “gaiola”.

Direções de deslocamento do átomo de Li no C60

∆Emin interno (eV) ∆Ebarreira pot (eV) ∆Emin externo (eV)

Centro do pentágono -0.3609 24.6394 (100%) -1.5278 Centro do hexágono -0.3422 13.2246 (100%) -1.6647 Vértice 0.4999 25.6117 (75%) -1.4178 Aresta entre dois hexágonos 0.5170 58.0421 (87.5%) -1.4992 Aresta entre pentágono e hexágono 0.3280 52.2920 (87.5%) -1.4492

Analisando os dados mostrados na Tabela V.34 observamos que, para o caso

da molécula de Li@C60, a menor diferença de energia no interior do C60, em –0.3609

eV, ocorre exatamente num ponto localizado na direção do centro de uma face

pentagonal, reproduzindo nosso cálculo ab initio em que permitimos a relaxação

completa desta molécula. Por outro lado, os resultados teóricos obtidos por

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177

ANDREONI [33], usando o método da Teoria do Funcional da Densidade (DFT), na

aproximação LDA, indicam que a posição mais estável para o átomo de Li no

complexo endoédrico Li@C60 ocorre nas proximidades do centro de uma face

hexagonal; o átomo de Li age essencialmente como doador de elétrons aos carbonos

da “gaiola”. Conforme listado na Tabela V.34, nossos resultados evidenciam que a

diferença entre as energias calculadas para o átomo de Li nas direções das faces

pentagonal e hexagonal é da ordem de ~ 0.02 eV. Essa pequena diferença de energia

poderia estar associada a possíveis erros numéricos, de forma que a posição mais

estável do Li possa variar entre as referidas direções.

No intuito de verificarmos esse comportamento do átomo de Li, realizamos

cálculos de energia total para as moléculas de LiC5, na qual o átomo de Li posiciona-

se na direção do centro de uma face pentagonal, e LiC6, com o Li localizado no centro

da face hexagonal. A Fig. 5.19 traz a representação de ambas as moléculas com os

respectivos átomos de carbono convenientemente numerados.

Figura 5.19. Representação das moléculas de LiC5 (a) e LiC6 (b).

As tabelas V.23 e V.24 listam as distribuições de carga das moléculas de LiC5 e

LiC6, obtidas segundo a análise populacional de Mulliken. Observamos que ambas as

moléculas respeitam certas restrições de simetria quanto à distribuição das cargas

atômicas. Tais resultados evidenciam que o Li adquire carga positiva quando

localizado na direção hexagonal, ao passo que apresenta-se negativamente carregado

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178

na direção do pentágono. Estes são, portanto, fortes indícios de que possa realmente

haver duas direções preferenciais de estabilidade para o Li no interior da “gaiola”.

Tabela V.23. Distribuição de cargas atômicas (em unidades de carga do elétron, e) da molécula

de LiC5, obtida segundo a análise populacional de Mulliken.

Átomo Carga atômica Li -0.053602 C1 -0.000854 C2 -0.003582 C3 +0.030789 C4 +0.030813 C5 -0.003564

Tabela V.24. Distribuição de cargas atômicas (em unidades de carga do elétron, e) da molécula

de LiC6, obtida segundo a análise populacional de Mulliken.

Átomo Carga atômica Li +0.115652 C1 -0.019354 C2 -0.018847 C3 -0.019629 C4 -0.019620 C5 -0.018844 C6 -0.019359

A maior barreira de potencial, em 58.0421 eV, ocorre nas proximidades da

aresta entre dois hexágonos. Curiosamente, a menor diferença de energia no exterior

do C60, em –1.6647 eV, ocorre quando o átomo de Li se localiza na direção do centro

de uma face hexagonal. Portanto, a posição mais estável do átomo de Li ocorre

externamente à estrutura do C60, na direção do centro de uma face hexagonal.

Vejamos a seguir o caso do átomo de Na.

Tabela V.25. Diferenças de energia, em relação ao centro da “gaiola”, calculadas para os vários

sítios de deslocamento do átomo de Na, no complexo Na@C60, tanto interna quanto

externamente à estrutura da “gaiola”. Direções de deslocamento do

átomo de Na no C60 ∆Emin interno (eV) ∆Ebarreira pot (eV) ∆Emin externo (eV)

Centro do pentágono -0.2875 67.4999 (100%) 0.4492 Centro do hexágono -0.5312 38.9176 (100%) 0.2059 Vértice -0.4906 52.8784 (75%) 0.3373 Aresta entre dois hexágonos -0.5404 108.6692 (87.5%) 0.0826 Aresta entre pentágono e hexágono -0.4216 93.9927 (87.5%) 0.2676

Os dados mostrados na Tabela V.25 indicam que o comportamento do átomo

de Na é bastante distinto daquele exibido pelo átomo de Li. A menor diferença de

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179

energia interna, em –0.5404 eV, ocorre exatamente num ponto localizado na direção

da aresta entre dois hexágonos, sítio no qual se localiza a ligação dupla, o que

também reproduz nosso cálculo ab initio UHF de relaxação completa da molécula de

Na@C60. A maior barreira de potencial, em 108.6692 eV, também ocorre nesta mesma

direção. Externamente à estrutura da “gaiola”, o átomo de Na é menos estável do que

na parte interna. A menor diferença de energia externa, em 0.0826 eV, é positiva e

ocorre quando o átomo de Na também está na direção da aresta entre dois

hexágonos. Portanto, a posição mais estável do átomo de Na ocorre internamente à

estrutura do C60, na direção da ligação dupla, formada pela aresta entre duas faces

hexagonais.

Tabela V.26. Diferenças de energia, em relação ao centro da “gaiola”, calculadas para os vários

sítios de deslocamento do átomo de K, no complexo K@C60, tanto interna quanto externamente

à estrutura da “gaiola”. Direções de deslocamento do

átomo de K no C60 ∆Emin interno (eV) ∆Ebarreira pot (eV) ∆Emin externo (eV)

Centro do pentágono 0.2718 8.6123 (50%) 0.1486 Centro do hexágono 0.2486 51.3968 (75%) 0.1484 Vértice 0.3752 118.7169 (75%) 0.1197 Aresta entre dois hexágonos -0.0001 225.7013 (87.5%) 0.1500 Aresta entre pentágono e hexágono 0.3477 196.3245 (87.5%) 0.1203

Os valores mostrados na Tabela V.26 indicam que a menor diferença de

energia no interior da “gaiola”, em –0.0001 eV, ocorre num ponto em que o átomo de K

está levemente deslocado do centro, tendendo à direção da aresta entre dois

hexágonos, reproduzindo também nosso cálculo ab initio UHF de relaxação completa

da molécula de K@C60. A energia da barreira de potencial, em 225.7013 eV, ocorre na

direção da aresta entre dois hexágonos. Dessa forma, faz-se necessário acelerar o íon

K+ para que este possa ser introduzido na “gaiola”. Similarmente ao comportamento do

Na, o átomo de K é menos estável na parte externa do C60. A menor diferença de

energia externa, em 0.1197 eV, ocorre na direção de um vértice do C60. Portanto, a

posição mais estável do átomo de K ocorre internamente à estrutura do C60, nas

proximidades da origem, com tendência ao deslocamento na direção da aresta entre

duas faces hexagonais.

Nas Figs. 5.19, 5.20 e 5.21 estão representadas as curvas das diferenças de

energia (em eV) em função da distância à origem (em Å) para os compostos Li@C60,

Na@C60 e K@C60, respectivamente, referentes ao deslocamentos dos átomos de Li,

Na e K nas cinco direções de simetria consideradas; nestas figuras indicamos os

pontos de energia mínima localizados interna ou externamente à estrutura da molécula

de C60.

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180

(a) (b)

(c) (d)

(e)

Figura 5.19. Curvas de energia em função da distância à origem (em Å) para a molécula de

Li@C60, com o átomo de Li se deslocando nas direções: (a) do centro de uma face pentagonal;

(b) do centro de uma face hexagonal; (c) de um vértice (barreira de potencial infinita); (d) da

aresta entre dois hexágonos; (e) da aresta entre um pentágono e um hexágono.

0 1 2 3 4 5 6 7 8

0

5

10

15

20

25

30

Emínima

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)0 1 2 3 4 5 6

0

5

10

15

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0

10

20

30

40

50

60

70

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0

10

20

30

40

50

60

Ene

rgia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9-5

0

5

10

15

20

25

30

35

Ene

rgia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)

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181

(a) (b)

(c) (d)

(e)

Figura 5.20. Curvas de energia em função da distância à origem (em Å) para a molécula de

Na@C60, com o átomo de Na se deslocando nas direções: (a) do centro de uma face

pentagonal; (b) do centro de uma face hexagonal; (c) de um vértice (barreira de potencial

infinita); (d) da aresta entre dois hexágonos; (e) da aresta entre um pentágono e um hexágono.

0 1 2 3 4 5 6 7 8

0

20

40

60

80

Ene

rgia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)0 1 2 3 4 5 6

0

10

20

30

40

50

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0

10

20

30

40

50

60

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0

20

40

60

80

100

120

Emínima

Ene

rgia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 90

20

40

60

80

100

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)

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182

(a) (b)

(c) (d)

(e)

Figura 5.21. Curvas de energia em função da distância à origem (em Å) para a molécula de

K@C60, com o átomo de K se deslocando nas direções: (a) do centro de uma face pentagonal;

(b) do centro de uma face hexagonal; (c) de um vértice (barreira de potencial infinita); (d) da

aresta entre dois hexágonos; (e) da aresta entre um pentágono e um hexágono.

0 1 2 3 4 5 6 7 8

0

2

4

6

8

10

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV

)

Distância à origem (Å)0 1 2 3 4 5 6

0

10

20

30

40

50

60

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0

20

40

60

80

100

120

140

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0

40

80

120

160

200

240

Emínima

Ener

gia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV

)

Distância à origem (Å)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0

40

80

120

160

200

Ene

rgia

tota

l em

rela

ção

à or

igem

(eV)

Distância à origem (Å)

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183

Na Tabela V.27 sumarizamos os valores calculados para as energias

eletrônicas referentes às moléculas de H@C60, Li@C60, Na@C60 e K@C60. As

representações α e β designam as orientações de spin “up” e “down”,

respectivamente. De acordo com os valores listados nesta tabela, os complexos

H@C60, Li@C60, Na@C60 e K@C60 são mais estáveis do que o sistema constituído da

molécula de C60 livre e do átomo alcalino isolado.

Tabela V.27. Energias eletrônicas UHF calculadas para as moléculas de X@C60 (X = H, Li, Na,

K). As representações α e β indicam as polarizações de spin “up” e “down”, respectivamente.

Energias (eV) H@C60 Li@C60 Na@C60 K@C60 ETOTAL (UHF) -61081.692 -61272.198 -65419.074 -77274.875 EH -12.696 - - - ELi - -199.068 - - ENa - - -4344.843 - EK - - - -16131.715 EATÔMICA -60746.497 -60932.868 -65078.644 -76865.516 ETOTAL(C60) + Eátomo X -61081.681 -61268.053 -65413.828 -77200.700 ELIGAÇÃO 5.495 5.563 5.581 6.711 EHOMO(α) -5.616 -2.688 -2.969 -1.568 EHOMO(β) -5.616 -5.463 -4.434 -5.286 ELUMO(α) 3.037 3.052 2.653 2.727 ELUMO(β) 3.037 3.057 2.756 2.729 ∆EGAP(α) 8.653 5.740 5.622 4.295 ∆EGAP(β) 8.653 8.520 7.190 8.015

Para os compostos endoédricos Li@C60, Na@C60 e K@C60, verificamos que as

energias do orbital mais alto ocupado (HOMO) e do orbital mais baixo desocuopado

(LUMO) diferem quanto ao potencial de spin (α ou β). Isso se deve à diferença quanto

ao número de elétrons.

Uma comparação entre os “gaps” de energia do complexo K@C60 mostra que o

∆EGAP(α) é cerca de duas vezes menor do que o ∆EGAP(β). Isso se deve provavelmente a

possíveis efeitos de contaminações de spin presentes no método UHF.

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5.7. Estudo Experimental

Nesta seção, descrevemos nosso estudo experimental realizado nos

laboratórios do Departamento de Física/ICEx da Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG), em que empregamos as técnicas espectroscópicas de FTIR e micro-

Raman na análise de amostras de fullerenos.

5.7.1. Amostras

Em nossos estudos experimentais, foram utilizadas amostras de fullereno com

duas procedências diferentes. Nas medidas de FTIR, utilizamos as amostras

sintetizadas, extraídas e purificadas no Laboratório de Preparação de Amostras (LPA),

sob coordenação do Prof. Dr. Luiz Orlando Ladeira, do Departamento de Física da

UFMG, bem como as amostras de C60 provenientes do Laboratório Sigma-Aldrich

(LSA). Nas medidas de espectroscopia micro-Raman, utilizamos apenas as amostras

provenientes do LSA.

5.7.1.1. Amostras Obtidas no LPA

O equipamento utilizado no LPA para o processo de síntese das amostras de

fullereno é similar ao mostrado na Fig. 5.22. Seu princípio de funcionamento é análogo

ao descrito na seção 5.5.1 para a técnica de descarga em arco elétrico entre eletrodos

de grafite. Tal equipamento, a princípio projetado e construído no LPA para o

crescimento de cristais, foi adaptado para sintetizar tanto fullerenos como nanotubos

de carbono. O procedimento experimental é descrito como se segue. Inicialmente, a

câmara do sistema foi evacuada através de uma bomba de vácuo mecânica e em

seguida, pressurizada com gás de He a uma pressão de 80 torr. Os bastões cilíndricos

de grafite utilizados possuíam um grau de pureza superior a 99%. Entre os eletrodos

de grafite foi aplicada uma diferença de potencial elétrico de ~ 25 V, o que produziu

uma corrente contínua de ~ 100 A entre os dois eletrodos, gerando um arco elétrico. O

arco elétrico gerado produziu uma erosão no bastão de grafite catodo. O carbono

sublimado na região do arco elétrico solidificou-se numa região próxima do arco,

gerando nanoestruturas de carbono. O bastão anodo de grafite possuía um sistema de

translação acoplado de modo a manter constante a distância entre os eletrodos,

184

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produzindo um arco elétrico de potência constante. O anodo fixo possuía 10 mm de

diâmetro e 12 cm de comprimento e o catodo transladável, 20 mm de diâmetro e 30

cm de comprimento. Uma vez estabelecido o arco elétrico, a uma distância de 1 a 2

mm entre os eletrodos foi mantida constante durante a erosão, a uma taxa de ~ 8 mm

de eletrodo/minuto. Ao término do processo, foram sintetizados ~ 2g de amostras, sob

a forma de fuligem, contendo fullerenos.

Figura 5.22. Esquema do equipamento empregado no processo de síntese de fullerenos no

LPA da UFMG.

Para o procedimento de extração de fullerenos da fuligem obtida, utilizamos o

método Soxhlet de extração por solventes, já descrito detalhadamente na seção

5.5.2.1. O extrator Soxhlet do LPA da UFMG é análogo ao representado na Fig. 5.23.

Figura 5.23. Esquema do extrator Soxhlet empregado no LPA da UFMG.

185

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Foram submetidas ao processo de extração ~ 2 g de fuligem, utilizando 600 mL

de tolueno. Este solvente apresenta uma taxa de solubilidade de 2,8 mg/mL de C60. O

procedimento de extração decorreu durante ~ 5 h, sendo extraídos ao final do

processo ~ 170 mg de fullerenos.

Em seguida ao processo de extração, a amostra resultante foi submetida ao

processo de purificação pelo método de sublimação a vácuo. Neste processo, a

amostra obtida diretamente do extrator Soxhlet, foi introduzida em uma das

extremidades de um tubo de quartzo, com comprimento em torno de 30 cm e diâmetro

interno de 20 mm. Uma das extremidades do tubo foi lacrada e a outra foi acoplada a

um sistema de alto vácuo (~ 10-5 torr). Em seguida, este tubo contendo a amostra foi

inserido em um forno, aquecido resistivamente e mantido a uma temperatura de ~

650o C. A extremidade do tubo contendo a fuligem foi posicionada horizontalmente e

colocada no centro do forno (ponto mais quente), enquanto a extremidade oposta foi

posicionada externamente, ficando em contato com a temperatura ambiente. Uma

baixa pressão de gás de Ar foi introduzida no sistema (~ 10-3 torr) a fim de assegurar

uma baixa difusão das moléculas para a base do recipiente, aumentando, portanto, a

chance de equilíbrio térmico local com a parede do tubo. Em seguida, o material foi

submetido a um tratamento térmico a ~ 1000º C, a fim de eliminar as impurezas

eventualmente presentes na amostra, decorrentes dos solventes empregados na

extração Soxhlet. O sistema sofreu um novo bombeamento a vácuo, atingindo

novamente a pressão de 10-5 torr, com a finalidade de extrair as impurezas liberadas.

A câmara foi submetida a uma temperatura em torno de 850oC e o processo de

sublimação transcorreu por ~ 2 h. O gradiente de temperatura possibilitou que os

fullerenos sublimassem da fuligem remanescente na amostra e ficassem aderidos na

parede do tubo de quartzo, difundindo-se para a extremidade mais fria. Foram

extraídos ~ 5 mg de fullerenos não separados, uma vez que o método empregado não

ofereceu mecanismos de separação entre tais compostos.

5.7.1.2. Amostras Adquiridas do LSA

Em nossas medidas espectroscópicas de FTIR e micro-Raman, utilizamos

também uma amostra de fullereno proveniente do Laboratório Sigma-Aldrich (LSA),

consistindo de 25 mg de C60 com 99.5% de pureza.

186

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5.7.2. Equipamentos e Medidas

5.7.2.1. Espectroscopia de FTIR As medidas de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) foram

realizadas no Laboratório de Óptica – Infravermelho, sob orientação da Prof.a Dr.a

Aríete Righi, do Departamento de Física da UFMG. Para a obtenção dos espectros de

FTIR, tanto dos fullerenos provenientes do LPA quanto do LSA, foi necessário o

preparo de pastilhas, uma contendo a amostra de fullereno e outra do material de

referência. Tais pastilhas foram preparadas com uma prensa sob vácuo de 10-3 mbar.

A referência utilizada foi uma pastilha de KBr de 185 mg preparada nas mesmas

condições.

É interessante observar que a escolha apropriada da referência está

diretamente relacionada com a região espectral a ser analisada e com as condições

da amostra. Para este método de obtenção de medidas de infravermelho, torna-se

altamente desejável que a amostra seja misturada com uma substância resistente

(para evitar sua quebra), inerte (para não haver alteração das propriedades da

amostra) e transparente (para não apresentar linhas espectrais no intervalo a ser

estudado). São utilizados, em geral, os halogenetos alcalinos, particularmente o NaCl,

que é transparente até a região espectral de 625 cm-1. Para obter espectros de

freqüências menores, os materiais normalmente utilizados são de KBr (até 400 cm-1) e

CsI (até 200 cm-1). Para as amostras de fullereno utilizadas em nossas medidas

espectrais de FTIR, tanto do LPA quanto do LSA, empregamos a referência de KBr. O

processo de obtenção do espectro de FTIR, já descrito detalhadamente na seção

3.2.3, está esquematizado na Fig. 5.24a.

O espectro de transmissão por FTIR foi obtido com uma resolução de 4 cm-1,

usando um espectrômetro de micro-infravermelho por transformada de Fourier, do

modelo Nexus 870 Thermo Nicolet (mostrado na Fig. 5.24b) com faixa espectral de

500 a 4000 cm-1, em atmosfera inerte de gás nitrogênio. Um detector de telureto de

cádmio e mercúrio (MCT/A) resfriado a nitrogênio líquido foi usado em conjunção com

um divisor de feixe (“beamsplitter”) de KBr. O espectro foi obtido para pastilhas de ~ 1

mg da amostra de fullereno LPA ou LSA por 185 mg de KBr, com 1064 “scans”

(acumulações) com referência ao espectro de uma pastilha de KBr pura (1064 scans).

187

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(a) (b)

Figura 5.24. (a) Esquema do processo de obtenção de um espectro por FTIR; (b) fotografia do

espectrômetro de micro-infravermelho por transformada de Fourier (modelo Nexus 870 Thermo

Nicolet) do Laboratório de Óptica – Infravermelho da UFMG, utilizado em nossos experimentos.

5.7.2.2. Espectroscopia Micro-Raman

As medidas dos espectros micro-Raman da amostra de C60 foram realizadas

no Laboratório de Espectroscopia Micro-Raman, sob coordenação do Prof. Dr. Marcos

Assunção Pimenta, do Departamento de Física da UFMG. O espectro foi obtido a

partir da amostra de C60 do LSA. O preparo foi bastante simples e consistiu na

deposição direta de uma pequena quantidade da amostra em pó ( ~ 5mg) sobre uma

placa de vidro, à temperatura ambiente, em contato com o ar atmosférico.

O espectrômetro Raman utilizado nos experimentos consistiu de um triplo

monocromador (DILOR XY), equipado com um detector CCD (“charge-coupled

device”) refrigerado a nitrogênio líquido para trabalhar à temperatura de 140K. Um

microscópio óptico (OLYMPUS BH - 2) foi acoplado ao espectrômetro a fim de

focalizar o feixe do laser na amostra e coletar a luz espalhada. Um laser de Ar – Kr

(COHERENT INNOVA 70C) foi usado para excitar a amostra com uma linha de

comprimento de onda de λ = 488.0 nm. Em nossas medidas utilizamos uma objetiva

de 80x, com a focalização do laser sob uma potência de 0.22 mW. Os espectros foram

coletados durante 60 segundos em 20 acumulações.

Na Fig. 5.25a é mostrado um esquema do espectrômetro Raman utilizado em

nossas medidas. O princípio de funcionamento deste espectrômetro é descrito como

se segue. A luz proveniente do laser passa por um filtro de interferência, onde são

eliminadas as freqüências de plasma do laser e incide na amostra focalizada pelo

microscópio óptico. O microscópio permite analisar uma região da amostra da ordem

de ~ 1µm. A luz retro-espalhada pela amostra (180o) é coletada pela objetiva do

188

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microscópio e levada ao espectrômetro. No espectrômetro, a luz passa primeiro por

um duplo monocromador (Fig. 5.25b) que é formado por quatro espelhos esféricos de

distância focal de 500 mm e duas redes de difração de 1800 linhas/mm. O duplo

monocromador é usado para eliminar a luz espalhada que possui a mesma freqüência

do laser (espalhamento elástico), permitindo apenas a passagem da luz espalhada no

intervalo de freqüências que se deseja analisar. Ao sair do duplo monocromador, a luz

é enviada a um espectrógrafo (Fig. 5.25c), que é formado por dois espelhos esféricos

de distância focal de 500 mm e uma rede de difração de 1800 linhas/mm. Ele é usado

para dispersar a luz espalhada. Ao sair do espectrômetro, o sinal é então enviado para

o detector CCD. O sinal é então amplificado, digitalizado e enviado ao computador.

(a)

(b) (c)

Figura 5.25. Esquema do espectrômetro Raman utilizado em nossos experimentos [43]. (a)

Espectrômetro; (b) duplo monocromador; (c) espectrógrafo.

189

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5.7.3. Resultados, Análise e Discussão

5.7.3.1. Os Espectros de FTIR

Na Fig. 5.26, fazemos uma comparação entre os espectros de FTIR das

amostras de fullereno provenientes do LSA (linha azul) e do LPA (linha preta),

evidenciando a concordância entre os modos ativos no infravermelho para a molécula

de C60. As freqüências observadas para os quatro picos intensos da molécula de C60,

em 526, 576, 1182 e 1428 cm-1 (indicadas em vermelho na Fig. 5.27), reproduzem os

resultados experimentais já reportados na literatura por BETHUNE et al. [44] em 527,

577, 1183 e 1428 cm-1.

600 800 1000 1200 1400 16000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

1428

1182

576

526

1428

1182

576

526

C60 + C70 - LPA

Abs

orbâ

ncia

(uni

dade

s ar

bitrá

rias)

Frequência (cm-1)

C60 - LSA

Figura 5.26. Comparação entre os espectros de FTIR da amostra de fullereno proveniente do

LPA (em preto) e da amostra de C60 proveniente do LSA (em azul).

O espectro obtido para a amostra de fullereno do LPA é mostrado novamente

na Fig. 5.27, subtraído de uma linha de base (“background”) a fim de exibir

detalhadamente as linhas observadas. Os picos de infravermelho atribuídos à

molécula de C70 em 535, 565, 578, 642, 672, 795, 1086, 1133, 1252, 1321, 1412,

1430, 1460 e 1558 cm-1 foram observados na amostra de fullereno do LPA e estão

indicados em azul na Fig. 5.27. Observamos que estes picos também reproduzem os

valores medidos por BETHUNE et al. [44] em 535, 565, 578, 642, 674, 795, 1086,

190

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1134, 1252, 1321, 1414, 1430, 1460 e 1562 cm-1. Neste espectro, observamos

também picos extras em 696, 726, 1042 e 1375 cm-1 (indicados por *), os quais não

são atribuídos aos fullerenos C60 e C70. Na Fig. 5.28 é feita uma comparação entre o

espectro da amostra de fullereno do LPA e aquele obtido para o composto orgânico

thiol, provavelmente oriundo dos solventes orgânicos empregados no processo de

extração Soxhlet do LPA. Analisando as linhas espectrais do thiol, foi possível

identificar estes picos extras como pertencentes efetivamente ao thiol e não aos

fullerenos.

600 800 1000 1200 1400 16000,0

0,1

0,2

0,3

0,4Amostra do LPA

1252

1321

1430

1086

578

535

565

1375

*

1558

1460

1412

1428

1182

576

526

1042

*

1133

795

726

*69

6 *

672

642

Abs

orbâ

ncia

(uni

dade

s ar

bitrá

rias)

Frequência (cm-1)

Figura 5.27. Espectro de FTIR da amostra de fullereno do LPA, com subtração do

“background”. (Em vermelho: modos vibracionais do C60; em azul: modos vibracionais do C70;

em preto: modos vibracionais de possíveis impurezas presentes na amostra).

Verificamos então que uma possível solução para o problema da presença de

impurezas poderia ser a submissão das amostras sintetizadas diretamente ao

processo de sublimação, sem passar pela etapa intermediária de extração Soxhlet.

Haveria possibilidade, inclusive, de se efetuar a separação entre o C60 e o C70 a partir

deste método. No decorrer deste processo, uma molécula de fullereno específica

eventualmente prende-se na parede do tubo, numa localização dependente de sua

temperatura de sublimação particular. Dessa forma, os fullerenos com temperaturas

de sublimação mais elevadas (altos pesos moleculares) estariam localizados nas

paredes do tubo nas regiões mais quentes, o que possibilitaria que os diversos

191

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fullerenos sublimados fossem recolhidos separadamente. Além disso, uma vez que os

fullerenos superiores e os fullerenos endoédricos são muito menos solúveis em

solventes orgânicos do que o C60 e o C70, é uma conseqüência natural que uma

quantidade significativa desses fullerenos menos abundantes possam permanecer na

fuligem quando são usados os métodos de extração por solventes.

Figura 5.28. Comparação entre os espectros de FTIR da amostra de fu

500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 40000,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Abs

orbâ

ncia

(uni

dade

s ar

bitrá

rias)

Freqüência (cm-1)

Thiol

Amostra do LPA

llereno do LPA (em

.7.3.2. O Espectro Micro-Raman

Conforme já discutido, a molécula de C60 apresenta dez modos vibracionais

ativos

preto) e do composto orgânico thiol, uma possível impureza presente na amostra (em

vermelho).

5

no Raman. No espectro obtido, identificamos dois picos intensos e oito picos de

menor intensidade, correspondendo aos modos de simetria Ag e Hg, respectivamente.

Os modos Ag, medidos em 496 e 1465 cm-1, concordam com os modos Ag já

reportados na literatura por BETHUNE et al. [44] em 496 e 1470 cm-1. Os modos Hg,

medidos em 273, 430, 711, 773, 1101, 1250, 1423 e 1572 cm-1 também concordam

com os valores experimentais em 273, 437, 710, 774, 1099, 1250, 1428 e 1575 cm-1,

obtidos por BETHUNE et al. [44].

192

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O espectro Raman não-polarizado obtido a partir da amostra de C60 do LSA é

mostrado na Fig. 5.29.

(a)

(b

igura 5.29. Espectro Raman experimental da amostra de C60 proveniente do LSA. (a) Modos

500 750 1000 1250 1500 1750 20000

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

496

1465

Inte

nsid

ade

(uni

dade

s ar

bitrá

rias)

Freqüência (cm-1)

Amostra do LSA: (modos Ag)

200 400 600 800 1000 1200 1400 160080

100

120

140

160

180Amostra do LSA: (modos Hg) 1572

1423

1250

1101773711

273

430

Inte

nsid

ade

(uni

dade

s ar

bitrá

rias)

Freqüência (cm-1)

)

F

normais de simetria Ag; (b) modos normais de simetria Hg.

193

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5.8. Comparação entre Nossos Resultados

esta seção, fazemos um estudo comparativo entre nossos resultados teóricos

e expe

tre os modos vibracionais

ativos

abela V.28. Modos vibracionais ativos no infravermelho, referentes à molécula de C60, obtidos

-1) d Representação do

Teóricos e Experimentais

N

rimentais acerca dos modos normais de vibração ativos no infravermelho e

Raman para as moléculas de C60 e C70, no intuito de averiguar a precisão dos

resultados fornecidos por intermédio dos cálculos teóricos.

As Tabelas V.28 e V.29 trazem uma comparação en

no infravermelho para as moléculas de C60 e C70, respectivamente, obtidos em

nossos métodos teóricos e experimentais.

T

teórica (RHF e MNDO) e experimentalmente. Os valores entre parênteses indicam o erro

percentual em relação aos nossos valores experimentais.

νIR (cm-1) a νIR (cm-1) b νIR (cm-1) c νIR (cmmodo

526 526 5 8%) 558 (6.0 77 (9.67%) T1u576 576 584 (1.39%) 719 (24.83%) T1u1182 1182 1242 (5.08%) 1353 (14.47%) T1u1426 1426 1457 (2.17%) 1628 (14.17%) T1u

Nossos resultados exp ntais (a o L s mentais

abela V.29. Modos vibracionais ativos no infravermelho, referentes à molécula de C70, obtidos

Representação do modo

a erime mostra d PA); b nossos resultado experi

(amostra do LSA); c nossos cálculos (RHF/STO-3G); d nossos cálculos (MNDO/STO-3G).

T

teórica (MNDO) e experimentalmente. Os valores entre parênteses indicam o erro percentual

em relação aos nossos valores experimentais.

νIR (cm-1) a νIR (cm-1) b

535 4 93 (5.79%) A2” 565 627 (6.37%) E1’ 578 650 (0.52%) E1’ 642 669 (1.25%) E1’ 672 700 (4.32%) A2” 795 863 (3.40%) E1’

1086 996 (11.79%) A2” 1133 1248 (10.15%) E1’ 1252 1397 (7.03%) E1’ 1321 1429 (5.37%) E1’ 1412 1555 (5.10%) E1’ 1430 1592 (11.33%) E1’ 1460 1637 (7.88%) A2” 1558 1721 (7.19%) E1’

Nossos resultados experimentais b nossos cálculos (MNDO/STO-3G). a (amostra do LPA);

194

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A Tabela V.30 traz uma comparação entre os modos vibracionais ativos no

abela V.30. Modos vibracionais ativos no Raman, referentes à molécula de C60, obtidos

-1) c Representação

Raman para a molécula de C60, obtidos por nossos métodos teóricos e experimentais.

T

teórica (RHF e MNDO) e experimentalmente. Os valores entre parênteses indicam o percentual

de erro em relação aos nossos valores experimentais.

νRaman (cm-1) a νRaman (cm-1) b νRaman (cmdo Modo

273 269 (1.47%) 263 (3.66%) Hg430 453 (5.35%) 447 (3.95%) Hg496 492 (0.81%) 610 (22.98%) Ag711 744 (4.64%) 771 (8.44%)

Hg

773 789 (2.07%) 924 (19.53%) Hg1101 1148 (4.27%) 1261 (14.53%) Hg1250 1319 (5.52%) 1407 (12.56%)

1596 (1Hg

1423 1476 (3.72%) 2.16%) Hg1465 1498 (2.25%) 1667 (13.79%) Ag1572 1702 (8.27%) 1722 (9.54%) Hg

a Nossos resultad erime a ssos cál os (RHF/STO-3G); c

Analisando os valores listados nas Tabelas V.38, V.39 e V.40, verificamos que

fornecidos pelo método ab initio RHF está

is teóricos Hartree-Fock

existente quando comparamos os resultados entre si.

os exp ntais (amostr do LSA); b no cul

nossos cálculos (MNDO/STO-3G)

os maiores erros percentuais contidos no método ab initio Hartree-Fock são da ordem

de até 8.27% em relação aos nossos valores experimentais, ao passo que no método

semi-empírico MNDO tais erros são superiores (da ordem de até 22.98%). Embora o

MNDO contenha erros percentuais maiores, verificamos que os resultados fornecidos

por este método são eficazes, no sentido de fornecer informações qualitativas rápidas

e corretas acerca da atividade espectral dos modos normais. É um método eficiente no

cálculo de moléculas grandes, para as quais um tratamento ab initio torna-se

impraticável. Dessa forma, verificamos que o método semi-empírico MNDO pode ser

capaz de contribuir eficazmente na previsão de espectros de moléculas grandes ainda

não observados experimentalmente.

A precisão dos resultados

intimamente relacionada à qualidade e ao tamanho da base de funções empregada.

Portanto, erros percentuais de até 8.27% em relação ao valor experimental poderiam

ser reduzidos com a utilização de bases mais sofisticadas.

Salientamos novamente que os modos vibraciona

foram multiplicados pelo fator de ajuste 0.89, ao passo que os resultados teóricos

semi-empíricos MNDO não sofreram qualquer ajuste, justificando assim a diferença

195

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5.9. Observações Finais e Conclusões

Nesta seção, apresentamos nossas principais considerações, resultantes dos

studos teórico e experimental dos fullerenos.

do o método ab initio RHF e em 1.473

Å e 1.4

distintas. A energia de ligação do C70 foi calculada em 5.625 eV

resultados

e

- Na molécula de C60, os comprimentos de ligação C-C e C=C foram calculados

em 1.463 Å e 1.376 Å, respectivamente, segun

00 Å, respectivamente, segundo o método semi-empírico MNDO. A energia de

ligação por átomo de carbono no C60 foi calculada em 5.586 eV (RHF) e em 6.783 eV

(MNDO), sendo o valor experimental igual a 7.40 eV. Esta molécula, pertencente ao

grupo de ponto icosaédrico Ih, apresenta 4 modos normais de vibração ativos no

infravermelho, de simetria T1u, calculados em 558, 584, 1242 e 1457 cm-1 (RHF) e em

577, 719, 1353, e 1628 cm-1 (MNDO). O C60 possui ainda 10 modos normais com

atividade no Raman: 2 com simetria Ag, calculados em 492 e 1498 cm-1 (RHF) e em

610 e 1667 cm-1 (MNDO) e 8 com simetria Hg, calculados em 269, 453, 744, 788,

1148, 1319, 1476 e 1702 cm-1 (RHF) e em 263, 447, 771, 924, 1261, 1407, 1596 e

1722 cm-1 (MNDO).

- A molécula de C70 apresenta cinco sítios atômicos não-equivalentes e oito

tipos de ligação C-C

(RHF) e 6.829 eV (MNDO). Observamos que tais valores são da ordem de 0.03 eV

(RHF) e 0.04 eV (MNDO) maiores do que a energia de ligação da molécula de C60, em

concordância com a diferença experimental de 0.02 eV. Quanto às propriedades

vibracionais, a molécula de C70, pertencente ao grupo de ponto D5h, possui 31 picos de

absorção permitidos no infravermelho e 53 picos permitidos no Raman. O maior

número de modos ativos no C70, quando comparado ao C60, é justificado com base na

redução da simetria no primeiro, o que implica em uma redução na degenerescência

dos modos e, conseqüentemente, no aumento do número de modos ativos.

- A molécula de C48N12 apresenta seis tipos distintos de ligação nitrogênio-

carbono e nove tipos distintos de ligação carbono-carbono. Nossos

mostraram que, em comparação com os comprimentos de ligação C-C e C=C da

molécula de C60, as ligações simples C-C são menores no C48N12, o que pode ser

devido à redistribuição de densidade eletrônica nesta última. A energia de ligação

calculada para a molécula de C48N12 foi de 4.524 eV (RHF) e 6.251 eV (MNDO).

Observamos que tais valores são da ordem de 1.05 eV (RHF) e 0.53 eV (MNDO)

menores do que na molécula de C60. A distribuição de cargas, segundo análise

populacional de Mulliken, mostrou que os átomos de nitrogênio e carbono estão

simetricamente agrupados, formando dois grupos de seis nitrogênios cada um e oito

196

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grupos de seis carbonos cada um. Quanto às propriedades vibracionais, esta

molécula, pertencente ao grupo de ponto S6, apresenta 58 modos normais ativos no

infravermelho, correspondentes a 29 modos não-degenerados e a 29 modos

duplamente degenerados. O C48N12 apresenta ainda 58 modos ativos no Raman,

correspondentes a 29 modos não-degenerados e a 29 modos duplamente

degenerados.

- Para as moléculas de C60H60 e C60F60, calculamos os comprimentos de ligação

C-C (nas arestas entre pentágonos e hexágonos), C=C (nas arestas entre

o

estabilizados de duas maneiras principais: ou por uma grande interação coulombiana,

hexágonos), C-X (X = H, F) e X...X, bem como os ângulos de ligação <XCC, através

dos métodos RHF e MNDO. Os dois métodos forneceram resultados similares, uma

vez que ambos previram um aumento dos comprimentos de ligação C-C e C=C

quando se vai do C60H60 para o C60F60. Ambos os comprimentos de ligação sofrem um

acréscimo de 0.03 Å (RHF) e de 0.09 Å (MNDO). Por outro lado, os ângulos de ligação

<XCC são muito pouco alterados quando se vai do C60H60 para o C60F60. Estes

resultados são consistentes com o que se espera do efeito da saturação dos átomos

de carbono. Em média, nas moléculas de C60X60, a distância X...X entre dois átomos X

vizinhos, sejam eles ligados a dois átomos de carbono da aresta de um pentágono ou

da aresta entre hexágonos, são maiores no C60F60 do que no C60H60. Esse aumento

varia de 0.15 a 0.16 Å (RHF) e de 0.18 a 0.19 Å (MNDO), o que pode ser devido à

maior repulsão interatômica entre os átomos de flúor, quando comparada àquela entre

os átomos de hidrogênio. A energia de ligação calculada para a molécula de C60H60 foi

de 4.227 eV (RHF) e 4.732 eV (MNDO). Observamos que estes valores sofrem uma

diminuição de 0.77 eV (RHF) e 0.33 eV (MNDO), quando comparados aos valores da

energia de ligação da molécula de C60F60. O grande “gap” de energia, EHOMO – ELUMO,

observado nas moléculas de C60H60 (21.320 eV (RHF) e 14.168 eV (MNDO) e C60F60

(19.044 eV (RHF) e 11.892 eV (MNDO)) é típico de hidrocarbonetos saturados. A

análise da distribuição das cargas de Mulliken na molécula de C60H60 mostra que os

átomos de carbono adquirem cargas negativas, agindo como aceitadores de elétrons

dos átomos de hidrogênio, os quais ficam carregados positivamente, agindo como

doadores. Por outro lado, na molécula de C60F60, os átomos de carbono adquirem

carga positiva, agindo como doadores de elétrons aos átomos de flúor, os quais ficam

carregados negativamente, agindo como aceitadores. Quanto às propriedades

vibracionais, as moléculas de C60H60 e C60F60, pertencentes ao grupo de ponto Ih,

apresentam 9 modos normais ativos no infravermelho e 20 modos ativos no Raman.

- Quanto aos endofullerenos, nossos resultados ab initio UHF de relaxação

completa mostraram que os complexos H@C60, Li@C60, Na@C60 e K@C60 sã

197

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proven

corre nas proximidades do centro de uma face

hexago

penas uma

pequen

positiva, agindo como doador de elétrons aos carbonos da

“gaiola

iente da transferência de cargas entre os átomos aprisionados e a “gaiola” ou

por um compartilhamento de elétrons, de caráter predominantemente covalente. Em

geral, a estabilização é atingida quando o átomo aprisionado move-se para fora do

centro, causando uma polarização da “gaiola”, à exceção do átomo de H, que

permanece exatamente no centro do C60, com carga essencialmente nula, bem como

os átomos de carbono e do átomo de K, que praticamente não se desloca. O sistema

Li@C60 comporta-se como um complexo de caráter covalente, em que tanto o átomo

de Li quanto os cinco átomos de carbono da face pentagonal na direção da qual o Li

se estabiliza adquirem carga negativa, ao passo que os demais carbonos da “gaiola”

ficam carregados positivamente.

- Por outro lado, os resultados teóricos obtidos por ANDREONI [33], usando o

método DFT/LDA, indicam que a posição mais estável para o átomo de Li no

complexo endoédrico Li@C60 o

nal e que o Li age essencialmente como doador de elétrons. Nossos resultados

evidenciam que a diferença entre as energias calculadas para o átomo de Li nas

direções das faces pentagonal e hexagonal é da ordem de ~ 0.02 eV. Essa pequena

diferença de energia poderia estar associada a possíveis erros numéricos, de forma

que a posição mais estável do Li possa variar entre as referidas direções.

- Nossos resultados obtidos para o complexo Li@C60 não concordam com os

resultados ab initio (DFT/LDA) obtidos por LI e TOMÁNEK [34], segundo os quais o

átomo de Li possui caráter predominantemente iônico, apresentando a

a contribuição covalente. Entretanto, contraditoriamente, os resultados obtidos

pelos mesmos autores através de cálculos de dinâmica molecular indicam um grande

caráter covalente na ligação Li-C60 e uma grande anisotropia na superfície de potencial

do complexo Li@C60.

- Os sistemas Na@C60 e K@C60 comportam-se como complexos doadores de

elétrons, com diferentes graus de ionicidade. No caso do complexo Na@C60, o átomo

de Na adquire carga

”, os quais comportam-se como aceitadores, ficando negativamente carregados.

Os dois átomos de carbono que formam a ligação dupla na aresta entre dois

hexágonos, que é a direção de estabilização do átomo de Na, adquirem uma carga

negativa maior. Por outro lado, no caso do complexo K@C60, verificamos que o átomo

de K praticamente não sofre deslocamento em relação ao centro da “gaiola”. O

potássio, devido ao seu raio iônico elevado (quando comparado ao Li e ao Na), sofre

uma repulsão maior em relação aos carbonos da “gaiola”, estabilizando-se nas

proximidades do centro. O K perde seu elétron de valência 4s para o C60, agindo como

doador, ao passo que os 60 átomos de carbono agem como aceitadores.

198

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- De acordo com nossos resultados, os complexos Li@C60, Na@C60 e K@C60

são mais estáveis do que o sistema constituído da molécula de C60 livre e do átomo

alcalino isolado.

r resultados qualitativos satisfatórios, consumindo um tempo de

síduos de compostos orgânicos provenientes dos

solvent

atura.

na previsão de espectros ainda não observados

experim

- Quanto à aplicabilidade dos métodos teóricos, concluímos que o método

semi-empírico MNDO, por consistir em uma simplificação do método Hartree-Fock, é

capaz de fornece

cálculo muito menor quando comparado ao método Hartree-Fock, além de poder ser

parametrizado para o cálculo de inúmeras propriedades de moléculas grandes como,

por exemplo, fullerenos de pesos moleculares mais elevados, para os quais o método

Hartree-Fock torna-se inviável. Por outro lado, é importante salientar que os valores

teóricos fornecidos pelo método Hartree-Fock são tanto mais próximos do valor

experimental quanto maior a sofisticação da base de funções empregada. Já o método

MNDO, conforme já discutido, tem como característica a utilização de um conjunto-

base mínimo, fator que contribui para que seus resultados sejam menos precisos em

relação ao valor experimental.

- Os resultados experimentais fornecidos pela espectroscopia de FTIR

mostraram que nas amostras de fullereno provenientes do LPA havia a presença de

impurezas, provavelmente re

es empregados no processo de extração Soxhlet. Mediante os resultados

obtidos, observamos que uma possível solução para o problema seria a submissão

das amostras sintetizadas diretamente ao processo de sublimação, sem passar pela

etapa intermediária de extração à base de solventes; o processo de purificação de

fullerenos em um gradiente de temperatura que não envolva o uso de solventes pode

ser mais adequado.

- As medidas dos espectros vibracionais de infravermelho e Raman de

fullerenos, através das técnicas de FTIR e micro-Raman reproduzem os valores

experimentais da liter

- Verificamos que a conjugação entre teoria e experimento é uma ferramenta

extremamente útil na interpretação de resultados experimentais já existentes e pode

contribuir com eficácia

entalmente.

199

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6. Perspectivas Futuras

No decorrer da execução das atividades de pesquisa propostas, nos foi

possível constatar que a conjugação entre teoria e experimento pode ser

extremamente frutífera, de forma que pretendemos que tal interação seja levada à

frente na execução de estudos posteriores. Nosso estudo realizado foi bastante útil no

sentido de que serviu como treinamento para trabalhos experimentais futuros,

pretendidos na fase de doutoramento, tendo em vista que a aquisição de um traquejo

teórico contribuirá enormemente para o bom andamento de atividades de pesquisa

futuras.

Nossas perspectivas futuras se referem ao estudo experimental relacionado à

caracterização espectroscópica de nanoestruturas, em especial fullerenos e seus

derivados, bem como nanotubos de carbono. A UFMG já dispõe de um grupo

experimental ativo dedicado a esta linha de pesquisa, especialmente com relação à

síntese e à caracterização de materiais à base de fullerenos funcionalizados, os quais

são capazes de apresentar vastas aplicações em diversas áreas de conhecimento.

Diversas aplicações recentes, envolvendo fullerenos e seus derivados, têm

sido relatadas na literatura e, sem dúvida, nos servirão de estímulo para futuras

pesquisas relacionadas. Em um artigo de revisão de 2003, BOSI et al. [45] reportam

os avanços mais recentes no desenvolvimento e nas aplicações físicas, químicas e

biológicas de fullerenos e seus derivados. Os aspectos químicos e físicos do C60 têm

propiciado muitas expectativas de aplicações, especialmente nas áreas biológicas.

Um dos aspectos negativos da molécula de C60 para uso em química medicinal

consiste em sua insolubilidade em solventes polares e na conseqüente formação de

agregados em soluções aquosas. Em 2001, foram realizados cálculos computacionais

da solubilidade do C60 em 75 tipos de solventes orgânicos, a fim de se obter relações

quantitativas dos mecanismos de solubilidade; desde então, diferentes métodos têm

sido extensivamente explorados. A metodologia mais versátil é baseada na

modificação química da “gaiola”, dando origem a derivados do C60, que possuem

diferentes propriedades químicas e físicas.

Várias funcionalizações da molécula de C60 têm sido testadas a fim de

aumentar o caráter hidrossolúvel e possibilitar o preparo de novos compostos à base

de fullerenos, que apresentem atividades biológicas e farmacológicas. O caráter

200

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lipossolúvel da “gaiola” pode ser útil nas interações com o sítio ativo de várias enzimas

como, por exemplo, a HIV protease; tal caráter pode ser útil ainda na capacidade das

moléculas de C60 de se intercalarem em membranas biológicas, desestabilizando-as.

Tais ações poderiam apresentar atividades anti-bacterianas associadas a muitos

derivados do C60. A inserção de átomos metálicos no interior da “gaiola”, originando os

metalofullerenos endoédricos, pode dar origem a materiais que funcionem como

rastreadores radioativos em imagens de ressonância magnética e de raios-X. Os

fullerenos podem também ser úteis como transportadores de drogas para o

bombardeamento seletivo de tecidos.

De acordo com relatos presentes na literatura [45], muitas patologias

neurodegenerativas, tais como as síndromes de Parkinson, Alzheimer e Lou Gehrig,

se devem à hiper-produção de oxigênio e óxido nítrico, provavelmente devido à super-

excitação de receptores de ácido glutamínico. O chamado stress oxidativo causado

por radicais oxigênio é conhecido por induzir a instabilidade celular mediante uma

cascata de eventos, conduzindo à morte celular. Em tais situações, tem-se

demostrado que o uso de radicais absorvedores tendem a diminuir a morte neuronal.

A atividade neuroprotetora de fullerenos é baseada em sua capacidade de reagir com

os radicais oxigênio, tais como superóxidos ( ) e hidroxilas , os quais

atacam os lipídeos, as proteínas, o DNA e outras macromoléculas. Os carbóxi-

fullerenos, por exemplo, (Fig. 6.1) têm demonstrado sua eficácia in vivo no combate

aos processos neurodegenerativos.

−2O )( −OH

Figura 6.1. Esquema dos carbóxi-fullerenos, compostos eficazes no tratamento de patologias

neurodegenerativas.

Um número considerável de estudos realizados têm demonstrado que a ruptura

das cadeias nucleotídicas de DNA e RNA pode ser realizada na presença de

derivados de fullerenos, como aqueles ilustrados na Fig. 6.2. Compostos com um

caroço de fullereno ligado covalentemente a uma porção do DNA são capazes de

201

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melhorar a ação e a seletividade do medicamento ao atuar na cadeia de DNA. A

principal conseqüência direta da ruptura de ácidos nucléicos é a citotoxidade,

observada em muitos tecidos. Derivados de fullerenos têm mostrado um caráter

inibitório contra a ação de várias enzimas, tais como as proteases cisteínicas e

serínicas.

igura 6.2. Esquema das interações entre fullerenos e cadeias nucleotídicas, com conseqüente

Mesmo com os avanços atingidos no tratamento da AIDS, a mutação rápida do

vírus H

é um elipsóide hidrofóbico semi-aberto. O

diâmet

F

fragmentação ou ruptura dos filamentos de DNA e RNA.

IV, capaz de resistir às modernas terapias, e a toxidez elevada das drogas

geralmente utilizadas, estimulam a busca de novos agentes. A HIV protease é uma

enzima fundamental para a sobrevivência do vírus. Esta proteína é capaz de romper

uma poliproteína em curto intervalo de tempo após a germinação viral. O efeito desta

ruptura consiste em ativar as enzimas transcriptase reversa, RNAse II, integrase e

protease. Esta última completa o ciclo de vida do vírus HIV e sem esta etapa não é

possível ao vírus infectar novas células. Entretanto, há uma necessidade constante de

obtenção de novos agentes inibidores, devido aos problemas usuais de resistência

virótica à ação inibitória, causada por mutação genética do vírus e pela similaridade

química entre os inibidores disponíveis.

O sítio ativo da HIV protease

ro desta cavidade é de cerca de 10 Å, que é aproximadamente o diâmetro da

esfera de C60. Em 1993, FRIEDMAN et al. [46] realizaram estudos de modelagem

molecular e descobriram que a HIV protease poderia ser complexada e inibida pela

introdução de uma molécula de C60 no interior da cavidade catalítica, permitindo a

202

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formação de interações de Van der Waals entre a enzima e a superfície do C60. O

mesmo grupo de pesquisa realizou a primeira síntese de um fullereno inibidor da HIV

protease (composto mostrado na Fig. 6.3). O composto mostrou fortes interações de

van der Waals entre a superfície do C60 e a enzima, inibindo com sucesso a atividade

da HIV protease.

Figura 6.3. O primeiro inibidor da HIV protease, sintetizado em 1993.

Nos últimos anos, a intenção de se utilizar fullerenos em diferentes campos

farmac

ig. 6.4. C60 funcionalizado, atuando como agente inibidor de genes infectados.

Estes derivados possuem quatro cargas positivas, as quais permitem uma

ligação com a molécula de DNA, sem reconhecimento de bases específicas, mas no

ológicos tem aumentado consideravelmente, juntamente com os estudos de

suas propriedades físicas e químicas. Uma aplicação muito importante reportada na

literatura consiste na utilização de derivados de fullerenos (Fig. 6.4) como agentes

inibidores de genes infectados.

F

203

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sentido

l (Fig. 6.5).

Este d

Fig. 6.5. A interação e regamento de

élulas sangüíneas do tipo eritrócitos.

Estes materiais apresentam ainda uma série de outras aplicações fotofísicas e

spectroscópicas extremamente interessantes. FOLEY et al. [47] estudaram tais

proprie

rmados por polímeros conjugados e derivados

de fullerenos. Os autores investigaram as propriedades ópticas e as respostas

de interações eletrostáticas entre os sais de amônia e os grupos fosfato

negativamente carregados do DNA. As células englobam o complexo através do

mecanismo biológico de fagocitose, sendo a ligação ao DNA reversível.

A síntese de muitos derivados de fullerenos contendo moléculas de açúcar

também tem sido explorada, como é o caso do complexo D-manosil-fullero

erivado é capaz de evitar o agregamento entre eritrócitos (um tipo de célula

sangüínea), tipicamente devido ao fullerol. Estudos têm mostrado que a presença de

porções de α-D-manosil reduz significativamente este agregamento, bem como a

redução da ligação de uma proteína β-galactose específica. Em particular, para o

derivado mostrado na Fig. 6.5, esta agregação entre eritrócitos não se manifesta,

mesmo em concentrações maiores do que 10-2 mol/litro.

ntre fullerenos e açúcares específicos é capaz de inibir o ag

c

e

dades para uma série de derivados do C60, usando uma combinação de

técnicas resolvidas no tempo, incluindo contagem simples de fótons e fotólise de

pulsos de laser. Os autores verificaram que os espectros de absorção eletrônica e de

fluorescência são desviados para o vermelho com relação àqueles referentes à

molécula de C60. Os resultados obtidos mostraram que as propriedades fotofísicas dos

derivados de fullerenos hidrossolúveis dependem essencialmente do tipo de radical

que é aderido à estrutura da molécula.

KIM et al. [48] fabricaram recentemente em laboratório células orgânicas

fotovoltáicas baseadas em complexos fo

204

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fotovol

Figura 6.6. Estrutura química PCBM, como precursores de

células orgânicas fotovoltáica

reportaram seus resultados mais recentes sobre a

odelagem das propriedades ópticas de heteroconjunções de “bulks” de células

olares plásticas, consistindo de uma blenda no estado sólido do polímero conjugado

poli-[2-

s mais vastas aplicações científicas.

táicas de um dispositivo formado por poli[2-metóxi,5-(2’-etil-hexilóxi)-1,4-

fenileno-vinileno (MEH-PPV) e um derivado do C60, [6,6]-fenileno C61-ácido-butírico

metil-éter (PCBM), representados na Fig. 6.6, com várias concentrações de PCBM e

os resultados obtidos demonstraram a potencialidade destes materiais como uma

nova classe de células orgânicas fotovoltáicas.

da interação entre o MEH-PPV e do

s.

HOPPE et al. [49]

m

s

(3,7-metil-etilóxi)-5-metilóxi]-para-fenileno-vinileno e do derivado do C60, 1-(3-

metóxicarbonil) propil-1-fenil [6,6]C61. Estas e muitas outras aplicações são fatores estimulantes para que realizemos

novas pesquisas, objetivando o avanço na compreensão dos fullerenos e seus

derivados, como fonte potencial para a

205

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