especiais

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BETO OLIVEIRA BRASIL & MUNDO A10 CORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO 1/8/2010 UFU abre concurso para suprir déficit > 60 VAGAS DEVERÃO SER PREENCHIDAS EM JANEIRO; QUANDO TERMINAM ELEIÇÕES E AS CONTRATAÇÕES FICAM LIBERADAS AUTONOMIA LYGIA CALIL | REPÓRTER [email protected] A s universidades federais do país ganharam mais li- berdade para gerir recursos e pessoal. Depois de mais um ano de reuniões e discussões com reitores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou três decre- tos e uma medida provisó- ria que garante mais auto- nomia para as instituições, entre elas, a Universidade Federal de Uberlândia. Um dos primeiros reflexos na cidade será a abertura de concurso para técnicos- administrativos, ainda sem data prevista. O principal decreto, se- gundo o reitor Alfredo Jú- lio Neto, é o que autoriza as instituições a realizar em concursos de contrata- ção de servidores sem pré- via consulta ao Ministério do Planejamento. Não po- derão ser criadas vagas no- vas, mas sim abrir concurso para os postos de trabalho abertos por aposentadoria, morte ou demissão de ser- vidores. No primeiro concurso, serão abertas 60 vagas. “Ainda é pouco perto do número que precisamos, mas pelo menos vamos parar de perder estes car- gos”, afirmou Júlio Neto. Segundo ele, o principal problema da UFU são as aposentadorias. “Estamos completando 30 anos e os funcionários mais antigos estão saindo em ritmo mui- to acelerado, que sem o de- creto não conseguiríamos repor”, afirmou. Em 2009, se aposenta- ram, entre professores e técnicos, 175 servidores da UFU. Neste ano, foram 121 até julho. “A nossa luta foi conseguirmos vagas retroa- tivas à publicação do decre- to, mas não foi possível”, disse o reitor. As vagas, de acordo com ele, deverão ser preenchidas a partir de 3 de janeiro, quando a lei eleito- ral permite a contratação para cargos federais. PARA o reitor da Universidade Federal de Uberlândia, mudanças trarão mais tranquilidade à gestão dos recursos GESTÃO COM TRANQUILIDADE A gestão orçamentária e financeira das universidades também foi tema de um de- creto. Agora, com a nova legis- lação, será possível transferir recursos não utilizados de um ano para o outro. Até 2009, as instituições que por qualquer razão não conseguissem em- penhar todo o dinheiro dispo- nível eram penalizadas com a perda da verba. No ano passado, a Federal de Uberlândia, perdeu R$ 2 mil que não puderam ser apro- veitados. Para 2010, a UFU tem orçamento estimado em R$ 800 milhões. “No fim do ano, era um su- foco, porque para qualquer compra é necessário um pro- cesso muito longo e burocráti- co. Muitas vezes, demoramos meses para comprar determi- nado produto. Com este de- creto em vigência, vamos ter muito mais tranquilidade para realizarmos compras de ma- neira mais eficiente, porque não corremos o risco de per- der o recurso. Vamos gastar melhor”, disse o reitor. ORÇAMENTO MAIS APOIO PARA ESTUDANTES A partir deste ano, progra- mas de bolsas e transporte de universidades federais passam a ser considerados política de Estado. A recente abertura das federais a alunos de baixa renda, por meio de programas afirmativos como ProUni e políticas de cotas, criou uma demanda por as- sistência a estes alunos. O decreto regulamenta este programa, cujo orçamento atual é de R$ 300 milhões. “Não só abrimos as portas a estes alunos, como queremos mantê-los na universidade, oferecendo moradia, transpor- te, livros, além de apoio psi- cossocial”, afirmou o reitor da UFU, Alfredo Júlio. Atualmente, o orçamento para estes pro- gramas na universidade é de R$ 8,5 milhões, mas, de acordo com o reitor, a tendência é que este número aumente pra os próximos anos, conforme mais alunos carentes ingressem na UFU e mais programas sejam criados. Em Uberlândia, são ofereci- das bolsas de iniciação científi- ca, ensino, moradia, transporte e alimentação (veja mais no box desta página). A partir do ano que vem, serão implanta- dos programas de incentivo à prática de esportes e à cultura. PROGRAMAS REITOR ACHA QUE AUTONOMIA PODE SER MAIOR A medida provisória assina- da pelo presidente Lula propõe uma relação mais transparente entre as universidades e fun- dações de apoio à pesquisa. Segundo o reitor Alfredo Júlio Neto, depois dos escândalos de 2008, relacionados à gestão de algumas fundações, todas as universidades federais do país foram prejudicadas. “Houve abusos por partes de algumas, mas as punições foram gene- ralizadas”, disse. Atualmente, a UFU tem parcerias com a Fundação de Assistência, Estudo e Pes- quisa de Uberlândia (Faepu), Fundação de Apoio Universi- tário (FAU), Fundação Rádio e Televisão Educativas de Uber- lândia (RTU) e Fundação de Desenvolvimento Agropecu- ário (Fundap). A Fundação de Apoio ao Estudante Universi- tário (Faesu) está em proces- so de desativação. “As parcerias com as funda- ções têm funcionado bem para a UFU, tanto que não temos ne- nhum caso na Justiça. A medida provisória trouxe um certo alí- vio, mas ainda não é tudo, que- remos mais autonomia. É outra guerra que ainda não acabou”, disse o reitor. MEDIDA PROVISÓRIA Bolsas que a UFU oferece nos campi de Uberlândia e Ituiutaba ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL FUNDAÇÃO Rádio e TV Universitária é uma das fundações da UFU, para a qual MP pede maior transparência MANOEL SERAFIM 25/07/2008 Iniciação científica 1.050 Ensino 240 Moradia 290 Transporte 229 Alimentação 1.811 BETO OLIVEIRA EM 2009, SE APOSENTARAM 175 SERVIDORES DA UFU. EM 2010 FORAM 121 Em 2009, a UFU perdeu R$ 2 mil que não puderam ser aproveitados. Para 2010, orçamento previsto é de R$ 800 milhões BETO OLIVEIRA

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Reportagens especiais, de temas diversos, produzidas para as edições de domingo.

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Page 1: Especiais

BETO OLIVEIRA

BRASIL & MUNDOA10

CORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 1/8/2010

UFU abre concurso para suprir déficit> 60 VAGAS DEVERÃO SER PREENCHIDAS EM JANEIRO; QUANDO TERMINAM ELEIÇÕES E AS CONTRATAÇÕES FICAM LIBERADAS

AUTONOMIA

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

As universidades federais do país ganharam mais li-berdade para gerir

recursos e pessoal. Depois de mais um ano de reuniões e discussões com reitores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou três decre-tos e uma medida provisó-ria que garante mais auto-nomia para as instituições, entre elas, a Universidade Federal de Uberlândia. Um dos primeiros refl exos na cidade será a abertura de concurso para técnicos-administrativos, ainda sem data prevista.

O principal decreto, se-gundo o reitor Alfredo Jú-lio Neto, é o que autoriza as instituições a realizar em concursos de contrata-ção de servidores sem pré-via consulta ao Ministério do Planejamento. Não po-derão ser criadas vagas no-vas, mas sim abrir concurso para os postos de trabalho

abertos por aposentadoria, morte ou demissão de ser-vidores.

No primeiro concurso, serão abertas 60 vagas. “Ainda é pouco perto do número que precisamos, mas pelo menos vamos parar de perder estes car-gos”, afi rmou Júlio Neto. Segundo ele, o principal problema da UFU são as aposentadorias. “Estamos completando 30 anos e os funcionários mais antigos estão saindo em ritmo mui-to acelerado, que sem o de-creto não conseguiríamos repor”, afi rmou.

Em 2009, se aposenta-ram, entre professores e técnicos, 175 servidores da UFU. Neste ano, foram 121 até julho. “A nossa luta foi conseguirmos vagas retroa-tivas à publicação do decre-to, mas não foi possível”, disse o reitor. As vagas, de acordo com ele, deverão ser preenchidas a partir de 3 de janeiro, quando a lei eleito-ral permite a contratação para cargos federais.

PARA o reitor da Universidade Federal de Uberlândia, mudanças trarão mais tranquilidade à gestão dos recursos

GESTÃO COM TRANQUILIDADEA gestão orçamentária e

fi nanceira das universidades também foi tema de um de-creto. Agora, com a nova legis-lação, será possível transferir recursos não utilizados de um ano para o outro. Até 2009, as instituições que por qualquer razão não conseguissem em-penhar todo o dinheiro dispo-nível eram penalizadas com a perda da verba.

No ano passado, a Federal de Uberlândia, perdeu R$ 2 mil que não puderam ser apro-veitados. Para 2010, a UFU

tem orçamento estimado em R$ 800 milhões.

“No fi m do ano, era um su-foco, porque para qualquer compra é necessário um pro-cesso muito longo e burocráti-co. Muitas vezes, demoramos meses para comprar determi-nado produto. Com este de-creto em vigência, vamos ter muito mais tranquilidade para realizarmos compras de ma-neira mais efi ciente, porque não corremos o risco de per-der o recurso. Vamos gastar melhor”, disse o reitor.

ORÇAMENTOMAIS APOIO PARA ESTUDANTESA partir deste ano, progra-

mas de bolsas e transporte de universidades federais passam a ser considerados política de Estado. A recente abertura das federais a alunos de baixa renda, por meio de programas afi rmativos como ProUni e políticas de cotas, criou uma demanda por as-sistência a estes alunos. O decreto regulamenta este programa, cujo orçamento atual é de R$ 300 milhões.

“Não só abrimos as portas a estes alunos, como queremos mantê-los na universidade, oferecendo moradia, transpor-te, livros, além de apoio psi-

cossocial”, afi rmou o reitor da UFU, Alfredo Júlio. Atualmente, o orçamento para estes pro-gramas na universidade é de R$ 8,5 milhões, mas, de acordo com o reitor, a tendência é que este número aumente pra os próximos anos, conforme mais alunos carentes ingressem na UFU e mais programas sejam criados.

Em Uberlândia, são ofereci-das bolsas de iniciação científi -ca, ensino, moradia, transporte e alimentação (veja mais no box desta página). A partir do ano que vem, serão implanta-dos programas de incentivo à prática de esportes e à cultura.

PROGRAMAS

REITOR ACHA QUE AUTONOMIA PODE SER MAIORA medida provisória assina-

da pelo presidente Lula propõe uma relação mais transparente entre as universidades e fun-dações de apoio à pesquisa. Segundo o reitor Alfredo Júlio Neto, depois dos escândalos de 2008, relacionados à gestão de algumas fundações, todas as universidades federais do país foram prejudicadas. “Houve abusos por partes de algumas,

mas as punições foram gene-ralizadas”, disse.

Atualmente, a UFU tem parcerias com a Fundação de Assistência, Estudo e Pes-quisa de Uberlândia (Faepu), Fundação de Apoio Universi-tário (FAU), Fundação Rádio e Televisão Educativas de Uber-lândia (RTU) e Fundação de Desenvolvimento Agropecu-ário (Fundap). A Fundação de

Apoio ao Estudante Universi-tário (Faesu) está em proces-so de desativação.

“As parcerias com as funda-ções têm funcionado bem para a UFU, tanto que não temos ne-nhum caso na Justiça. A medida provisória trouxe um certo alí-vio, mas ainda não é tudo, que-remos mais autonomia. É outra guerra que ainda não acabou”, disse o reitor.

MEDIDA PROVISÓRIA

Bolsas que a UFU oferece nos campi de Uberlândia e Ituiutaba

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

FUNDAÇÃO Rádio e TV Universitária é uma das fundações da UFU, para a qual MP pede maior transparência

MANOEL SERAFIM 25/07/2008

› Iniciação científi ca 1.050› Ensino 240› Moradia 290› Transporte 229› Alimentação 1.811

BETO OLIVEIRA

EM 2009, SE APOSENTARAM 175 SERVIDORES DA UFU. EM 2010 FORAM 121

Em 2009, a UFU perdeu R$ 2 mil que não puderam ser aproveitados. Para 2010, orçamento previsto é de R$ 800 milhões

BETO

OLIV

EIRA

Page 2: Especiais

CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 2/5/2010

A4

BRASILEIROS PAGAM, MAS NÃO LEVAM> FAMÍLIAS RECOLHEM IMPOSTOS, MAS CUSTEIAM SAÚDE E EDUCAÇÃO NO SETOR PRIVADO EM FUNÇÃO DA QUALIDADE

SERVIÇOS PÚBLICOS

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

Os brasileiros trabalham 147 dias por ano para pagar, em

média, 67 tributos que custeiam o poder públi-co e seus serviços, entre eles, saúde e educação. De acordo com um es-tudo do Instituto Brasi-leiro de Planejamento Tributário (IBTC), cerca de 40% da renda fami-liar vai para os cofres dos governos federal, es-tadual e municipal. No entanto, estes recursos, que em 2009 ultrapas-saram R$ 1 trilhão, não cobrem as necessidades básicas de muitas famí-lias. Quem não confi a na qualidade dos ser-viços públicos recorre ao setor privado e, com isso, paga duas vezes por um atendimento médico, por exemplo.

Para a parcela da po-pulação que não confi a no setor público, o gasto com serviços pode com-

prometer mais 30% do rendimento familiar, so-bretudo da classe média. O recolhimento dos im-postos garante o acesso aos serviços, mas nem todos usufruem este di-reito.

Na casa da designer gráfi ca Ana Paula de Almeida Pereira, o gas-to mensal com saúde e educação é de R$ 1,2 mil — somente com as mensalidades escolares dos dois fi lhos, de 3 e de 8 anos, e do plano mé-dico familiar —, sem in-cluir materiais, lanche e transporte, além de medicamentos e exames não cobertos pelo pla-no de saúde. A despesa total equivale a 30% do orçamento dela e do ma-rido.

Ainda assim, segundo ela, confi ar a educação dos fi lhos ou a saúde da família ao serviço públi-co está fora de cogitação, mesmo que a receita da família fosse ainda me-nor. “Eu não confi o na qualidade dos serviços.

DIVULGAÇÃO/ÁLBUM DE FAMÍLIA

IMPOSTÔMETROREGISTROUARRECADAÇÃODE R$ 400.859BILHÕES ATÉ30 DE ABRIL

BÁRBARA, ALEXANDRE SILVA E O FILHO LUCCA Custeio de escola e atendimento médico são prioridades da família

CASAL GASTA MAIS DE 25% DO ORÇAMENTOO publicitário Alexandre

Silva é casado e tem um fi lho de 3 anos. A falta de confi ança na qualidade dos serviços de educação e saú-de leva o casal a gastar mais de 25% do orçamento para garantir atendimento no se-tor privado. Segundo ele, o gasto é alto para a renda da família.

Para bancar as priori-

dades, que, segundo Ale-xandre Silva, sempre foram saúde e educação, a alter-nativa foi abrir mão da casa própria.

O valor que o publicitá-rio e a mulher dele, Bárba-ra, economizariam se não custeassem escola e aten-dimento médico daria para comprar um carro popular por ano ou pagar o fi nancia-

mento de um apartamento. “É um absurdo, porque

acabo pagando caro por um serviço que não uso. Co-mecei a pensar nisso desde que me casei. Antigamente, fazia sentido nossos pais pagarem estes impostos, pois, independentemente da qualidade, era o serviço que podíamos ter. Mas hoje, eu não uso”, disse.

RENDA

CLASSE MÉDIA É A MAIS SOBRECARREGADA De acordo com o advoga-

do tributarista José Roberto Vasconcelos, a classe média brasileira é a que mais sente no bolso o peso dos impos-tos. “A classe mais baixa tem benefícios e isenções, enquanto a classe alta é fa-vorecida pelas alíquotas dos impostos. A carga tributária no país é uma das maiores do mundo e quem suporta

este ônus é a classe média”, afirmou.

Os gastos com saúde e educação são abatimento em um dos impostos pagos (o de renda), mas, segundo o tributarista, o desconto não se aproxima do valor das despesas. “Você gasta fortunas por ano com men-salidades de plano médico e de escola, mas o que é des-

contado é um valor ínfimo, já que existem tetos para isso.”

De acordo com o Impos-tômetro, organização ligada à Associação Comercial de São Paulo, os contribuintes pagaram R$ R$ 400.859 bi-lhões em impostos de 1º de janeiro até quinta-feira (29). A arrecadação equivale a um valor médio de R$ 1.940 para cada brasileiro.

TRIBUTOS

RECURSOS DEFINEM CUMPRIMENTO DE DEVERESÉ obrigação do Estado

oferecer à população ser-viços de saúde e educação, entre outras necessidades básicas. O dever está explí-cito nos artigos 196 e 205 da Constituição Federal, de 1988.

O ‘pagamento’ por estes serviços é feito por meio do recolhimento do Imposto de Renda Pessoa Física, da contribuição previdenciária, de contribuições sindicais, além da tributação sobre consumo, já incluída no pre-

ço dos produtos e serviços. No entanto, de acordo

com o jurista Adir Campos, a interpretação dos artigos da Constituição que garan-tem os serviços passa por um viés ideológico. Há quem defenda que os itens sejam uma espécie de carta de boas intenções do governo, enquanto outros defendem a leitura do texto à risca. Além disso, há outra brecha que permite que as obrigações legais não sejam cumpridas.

“Existe um princípio cha-

mado de reserva do possí-vel, que garante ao Estado poder gastar quanto ele tem disponível, ainda que não esteja efetivamente cum-prindo uma determinação expressa pela Constituição.

Como o Estado vai garan-tir estes serviços se o valor que seria gasto com eles não condiz com a realidade econômica? A ordem jurídi-ca, neste caso, acaba sen-do sobreposta pela ordem econômica. Isto não deveria acontecer”, disse Campos.

CONSTITUIÇÃO

Podemos economizar em várias outras coisas, mas de educação e saúde não abro mão”, afi rmou.

Na avaliação de Ana Paula Pereira, os impos-tos pagos não retornam à família em serviços de qualidade. “Somos muito passivos a tudo isso. É cada um por si, cuidando da sua parte. Pagamos todos os impos-tos em dia e não temos o retorno dos recursos.”

Se os gastos com saú-de e educação fossem menores, a família in-vestiria em uma mora-dia com maior conforto e em uma poupança para os fi lhos. “Seria um sonho”, disse a designer gráfi ca.

ARRECADAÇÃO EM 2009 › R$ 1,09 trilhão

› Cada brasileiro pagou, em média, R$ 5.706,36 (em 2008, foram R$ 5.572,66)

DIVISÃO › Tributos federais - 69,5%

› Tributos estaduais - 25,8%

› Tributos municipais - 4,5%

IMPOSTOS SÁUDE

ORÇAMENTO PARA 2010

EDUCAÇÃO

BETO OLIVEIRA

› Aplicação de recursos arrecadadosUnião: 18%Estados e municípios: mínimo de 25%

› Aplicação de recursos arrecadados União: não há um percentual defi nido. A regra em vigor é somar ao valor destinado à área no ano an-terior (R$ 48 bilhões, em 2009) a infl ação e o cres-cimento do PIB, o que para este ano gera um acrés-cimo de 9%. Desta forma, o orçamento para a saúde em 2010 é de cerca de R$ 52,3 bilhões. Estados e municípios: 15%

UNIÃO: R$ 1,860 TRILHÃOSaúde: R$ 66,6 bilhões Educação: R$ 7,5 bilhões MINAS GERAIS: R$ 41,1 BILHÕESSaúde: R$ 5,51 bilhões Educação R$ 4,65 bilhões UBERLÂNDIA: R$ 1,16 BILHÃOSaúde: R$ 238,6 milhões Educação: R$ 202,4 milhões

Podem ser feitas até o dia 9 as inscrições para os exames supletivos do ensino médio. Pela internet: www.educacao.mg.gov.br ou na Superintendência de Ensino

ADIR CAMPOS Estado pode deixar de cumprir determinações legais se a realidade econômica for desfavorável

Page 3: Especiais

CORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 2/8/2009

CREDITO

BETO OLIVEIRA

DORES DE CABEÇA SÃO SENTIDAS COM MAIS FORÇA NA IDADE FÉRTIL, ENTRE 30 E 39 ANOS

PESQUISA E SAÚDE

LYGIA CALIL | REPÓRTER

[email protected]

Quem convive com a enxaqueca sabe quando a crise se aproxima. A visão

se torna embaçada, pon-tos luminosos aparecem e desaparecem diante dos olhos, um mal-estar genera-lizado toma conta do corpo acompanhado de náuseas e formigamentos. Depois, a intolerância à luz e ao som e, fi nalmente, a dor forte, latejante, em um dos lados da cabeça.

O primeiro levantamento sobre dor de cabeça no País revela que cerca de 20% das brasileiras conhecem bem estes sintomas, pois sofrem com crises de enxaqueca.

O número é mais do que o dobro da incidência nos homens. No Brasil, 9,3% deles manifestam as crises. Segundo o estudo, a maio-ria das vítimas está na faixa dos 30 aos 39 anos.

Divulgada no mês passa-do, a pesquisa foi realizada por profi ssionais de institui-ções como a Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), Hospital Israelita Albert Einstein e o Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre).

Foram ouvidos 3.848 vo-luntários com idade entre 18 e 79 anos, nos 27 estados brasileiros.

Segundo o neurologis-ta José Antônio Carneiro, que coordena um centro de tratamento para a dor de cabeça em um hospital particular em Uberlândia, a incidência é maior em mulheres porque são mais

suscetíveis às variações hor-monais.

É por isso, também, que a enxaqueca desaparece quando a mulher está grávi-da ou na menopausa.

As causas das dores são variadas, nem todas são co-nhecidas. Durante a crise, há uma alteração na vascu-laridade do cérebro. Os va-sos sanguíneos contraem-se excessivamente e, em segui-da, se dilatam.

As dores e o mal-estar são causados pela falta de san-gue e, depois, pelo excesso.

Sabe-se que há caracte-rísticas familiares, embora não se conheça um con-junto de genes responsável pelas dores. “Percebemos que algumas famílias apre-sentam mais casos do que outras, mas ainda não há comprovação de que se tra-ta de uma doença genética”, afi rmou Carneiro.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de enxa-queca, de acordo com o neurologista, é feito por ex-clusão. Há muitas doenças que podem estar relaciona-das à enxaqueca, como hi-pertensão, infl amações nos seios paranasais (sinusites), neuralgias, até distúrbios de refração na visão e pro-blemas odontológicos.

“De cada 100 pacientes que atendo, apenas 20% têm a enxaqueca clássica, não provocada por outras doenças. As pessoas chegam aqui e já dizem que têm a enxaqueca, pois parece ser uma doença ‘chique’. Não é bem assim. Há que se inves-tigar”, disse.

Dependendo do paciente e do tipo de enxaqueca que apresenta, o tratamento é diferente. Os medicamen-tos mais utilizados, segundo o neurologista José Antônio Carneiro, são beta-bloquea-dores, usados no tratamento da pressão alta, que ajudam no controle da irrigação vas-cular no cérebro.

Antidepressivos e anticon-vulsivantes também podem ser indicados quando as crises

se intensifi cam ou os pacien-tes não respondem ao trata-mento mais leve.

“É preciso muito critério para usar estes medicamen-tos, porque causam depen-dência e efeitos colaterais. Não é para qualquer um”, afi r-mou Carneiro.

Para ajudar o tratamen-to regular, outras medidas podem ser tomadas. A prá-tica de exercícios físicos, por exemplo, é essencial. Também

pode-se recorrer a técnicas de relaxamento, como acupuntu-ra e massagens.

A enxaqueca também ataca crianças. De acordo com José Antônio Carneiro, elas exigem mais cuidado, pois não podem ser medicadas com o trata-mento aplicado a adultos. Os remédios são fortes e podem atrapalhar o desenvolvimento dos pacientes. “Normalmente, usamos só a dieta alimentar”, disse.

RELAXAMENTO E MASSAGEM PODEM AJUDAR

COMPORTAMENTOTIVE QUE APRENDER A CONVIVER COM A DOR

SARA HATEN

PESQUISA REVELA CARACTERÍSTICAS DA DOENÇA ENXAQUECA

15.4

9.5 9.3

20.0

TIPO TENSIONAL ENXAQUECA

PERFIL DOS PORTADORES (% POR SEXO)Pesquisa feita pela Unifesp, Hospital Albert Einstein e Moinhos de Ventos, de Porto Alegre com 3.848 pessoas de idades entre 18 e 79 anos em 27 estados brasileiros

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BETO OLIVEIRA

MAISNOS

Duas em cada dez mulheres sofrem coma enxaqueca

“ A engenheira química Sara Haten, 28, enfrenta a enxaque-ca há três anos. A primeira cri-se aconteceu à noite, enquanto dormia. Acordou já com os pri-meiros sintomas.

“Estava com o coração dis-parado, um mal-estar horrível e náuseas. Depois, a cabeça co-meçou a doer. Era uma dor que eu nunca tinha sentido e não ti-nha ideia do que poderia ser. Foi assustador.”

As dores passaram a apa-recer quase todos os dias e ela viu sua rotina transformada. Começou a tomar doses exage-radas de analgésicos. Procurou um médico quase um ano de-

pois, que receitou um remédio forte, usado no tratamento da epilepsia.

Por três meses, as dores su-miram, mas efeitos colaterais começaram a aparecer. “Era como se, para consertar um problema, eu criasse outros até mais graves”, afi rmou.

Ela procurou, então, um se-gundo especialista, com quem continua se tratando até hoje à base de remédios fi toterápicos e dieta alimentar – evita fritu-ras, chocolates e mantém uma rotina de exercícios físicos.

Além do tratamento com o médico, anda, por conta pró-pria, com analgésicos, remédios

para enjoo e antiinfl amatórios na bolsa. “É uma preocupação permanente, porque as cri-ses atrapalham tudo, desde o desempenho profi ssional até os relacionamentos pessoais. Tudo fi ca para depois que a dor passar.”

Ela sabe que a enxaqueca não tem cura, mas se sente confortável com a doença sob controle.

Hoje, as crises aparecem, em média, uma vez por mês. “Tive de aprender a conviver com as dores. Sei que, depois de passar por situações de stress, que são como gatilhos para as crises, elas vão aparecer”, disse.

TUDO FICA PARA DEPOIS QUE A DOR PASSAR

ALTERNATIVAS

ALIMENTOS E BEBIDAS GERAM ENXAQUECA

VERDADE. O chocolate é vilão, assim como o vinho tinto. Evite algumas frutas cítricas, frituras e café também .

BATATA GELADA MELHORA

MITO. Qualquer material gelado pode aliviar a dor. Prefi ra usar uma bolsa de gelo

NA MENOPAUSA MELHORA

VERDADE. Durante a menopausa, há escassez dos hormônios relaciona-dos às crises

NA GRAVIDEZMELHORA

VERDADE. A maioria das mulheres apresenta melhora da enxaqueca no período de gravidez

MITOS &VERDADES

SARA HATEN tem seu desempenho profi ssional e pessoal comprometido com as crises de enxaqueca

JOSÉ ANTÔNIO CARNEIRO diz que mulheres sofrem mais por causa das variações hormonais

CIDADE & REGIÃOA16

FRASES DA SEMANAA máscara cirúrgica não impede a passagem do vírus da gripe H1N1.“ GLADSTONE DA CUNHA

Secretário de Saúde, sobre a gripe A

BETO OLIVEIRA

Page 4: Especiais

CIDADE & REGIÃOA4

CORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 4/7/2010

> DURANTE 3 HORAS DE RONDA, A REPORTAGEM DO CORREIO DE UBERLÂNDIA ENCONTROU 15 PESSOAS QUE NÃO TÊM ONDE MORAR

MORADORES DE RUA

A casa deles é o mundo e a cama, o banco da praça

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

Uma volta pelo Cen-tro de Uberlândia ao meio-dia reve-la a movimentada

economia do município – a segunda maior de Minas Gerais, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geo-grafi a e Estatísticas (IBGE). À meia-noite, depois que as lojas fecham e os pedestres apressados e carros somem das ruas, surgem pessoas que passam despercebidas

em meio ao corre-corre. São homens e mulheres que não têm para onde ir e vivem à margem da riqueza da ci-dade. Dormem, sozinhos ou em grupos, embaixo das marquises das lojas e em bancos das praças.

O fl anelinha Paulo Sérgio Miros da Silva, de 27 anos, é um dos 15 homens que a reportagem do CORREIO de Uberlândia encontrou dor-mindo na rua, na madru-gada de terça-feira (29). Ele saiu de casa, em Brasília, aos 13 anos, depois que o

pai morreu, e percorreu al-gumas cidades. Caminhan-do, chegou a Uberlândia há nove anos. Desde então, já dormiu em construções, casas abandonadas e hoje ‘mora’ na praça Tubal Vile-la. “Minha casa é o mundo. Se me der vontade, eu saio andando e paro em qual-quer lugar”, afi rmou.

Quando encontra uma caixa de papelão grande, guarda para dormir em cima dela. O modelo preferido são as de geladeira. Quando não consegue, dorme em

um banco da praça. Para conseguir comida, roupas e cobertor, ele depende da boa vontade de pessoas que moram por perto de onde ele fi ca. Paulo não toma ba-nho todos os dias. Quando dá, se banha no córrego do Óleo, que corta a cidade.

Em um dia, ele consegue até R$ 40 vigiando carros na avenida Floriano Peixoto, juntando o trabalho do dia e da noite. Tudo o que ganha gasta com bebida. “Bebo pinga todos os dias, várias vezes.”

Os três albergues de Uber-lândia (veja quadro) oferecem, conjuntamente, 140 leitos por dia. Cada pessoa pode se hospedar por até cinco dias, prazo que pode ser estendido de acordo com a condição do usuário. Nestes locais, além da cama, eles recebem alimen-tação e podem tomar banho. Diferentemente do que os mo-radores de rua entrevistados alegaram, a secretária Muni-cipal de Desenvolvimento So-cial, Iracema Barbosa Marques, nega que não haja vagas sufi -cientes para a demanda.

Segundo ela, além dos al-bergues, são realizados mais dois trabalhos para tirar as pes-soas das ruas. Um é a aborda-gem em rondas feitas durante o dia e a noite em que assisten-tes sociais da prefeitura tentam encaminhar o desabrigado aos programas municipais, além de unidades de saúde. Neste ano, foram feitos 163 atendimentos.

O segundo trabalho é vol-tado para os migrantes, com a doação de passagens para que

eles possam voltar para casa. “Temos que focar no ser huma-no e tentar mostrar a eles que a vida pode ser melhor”, disse a secretária.

ASSISTÊNCIA

O fl anelinha Paulo Sérgio Miros da Silva está cadastrado no sistema da Secretaria Mu-nicipal de Desenvolvimento Social. Segundo a chefe da di-retoria assistencial, Edna Már-cia Oliveira Assumpção, ele é um dos relutantes em receber assistência.

“Consta em nossos registros que ele foi abordado pelo menos seis vezes nos últimos seis me-ses. Não podemos fazer muita coisa para quem não quer ser ajudado. Muitas pessoas que estão na rua não querem esta assistência. Não querem ir para o albergue, por exemplo, porque sabem que existem normas a serem seguidas. E a maioria é dependente químico, que não se adapta a certas regras”, afi rmou Edna Assumpção.

SERVIÇOS PÚBLICOS ATENDEM DESABRIGADOS E MIGRANTES

PREFEITURA

Todos os moradores de rua encontrados pela re-portagem do CORREIO de Uberlândia na madrugada de terça-feira (29) eram ho-mens que relataram serem alcoólatras e terem histórico de famílias desestruturadas. A maioria disse já ter sofrido violência nas ruas. Paulo Sér-gio da Silva, fl anelinha que vi-gia carros na avenida Floriano Peixoto, também já foi vítima de espancamentos e de uma tentativa de homicídio. Se-gundo ele, em 2006, um casal jogou álcool e ateou fogo no corpo do rapaz, enquanto ele dormia em frente à catedral Santa Terezinha, no Centro. Segundo ele, os dois agres-

sores estão presos. “Eram 7h da manhã, eu

estava bêbado e acordei pe-gando fogo. Entrei na igreja correndo, na hora da missa, e pulei na pia com água benta. Acordei na UTI, seis meses depois. Tenho as cicatrizes até hoje.”

Paulo Silva tem poucos objetos para carregar. Alguns pares de roupa, um par de chinelos e nenhuma quantia em dinheiro. Mas mantém um sonho: se livrar do alcoolis-mo. “Se alguém pudesse me ajudar, me levar para a roça, para eu trabalhar, capinar, mexer com horta, que é o que eu gosto de fazer, eu podia largar a pinga”, disse.

A aproximação com os moradores de rua não foi fácil. A reportagem do CORREIO de Uberlândia encontrou resis-tência por parte de muitos deles. Desempregado, o pau-listano Daniel* mora nas ruas em Uberlândia há cinco anos. Ele foi um dos mais resisten-tes. Tanta desconfi ança tem sua razão: medo.

Em São Paulo, ele dormia na praça da Sé quando, em agosto de 2004, uma onda de ataques a moradores de rua do Centro da capital pau-lista deixou sete mortos em três dias. Amedrontado por ter visto a violência de perto, ele se mudou para um bairro distante e, depois, veio para

Uberlândia, onde tem fami-liares, com os quais não se relaciona.

Durante a ronda na ma-drugada, a reportagem en-controu seis homens de um centro espírita que distribuí-am leite quente, um prato de comida e água para os de-sabrigados. Eles se revezam com outros religiosos na as-sistência à população de rua e preferiram não se identifi car. Um deles disse que até quem tenta ajudar encontra difi cul-dade na aproximação com os moradores de rua. “Muitos rejeitam até a comida.”

(*Nome fi ctício; ele não quis se identifi car)

HISTÓRICO DE ALCOOLISMO PERFIL

MEDO LEVA À RESISTÊNCIAAPROXIMAÇÃO

PAULO SÉRGIO MIROS DA SILVA, de 27 anos, vive em Uberlândia há 9 anos, sempre em casas abandonadas ou construções e, hoje, na praça Tubal Vilela

PAULO AUGUSTO

SERVIÇOS

VALTER DE PAULA

PAULO SÉRGIO MIROS DA SILVA

ERAM 7H DA MANHÃ, EU ESTAVA BÊBADO E ACORDEI PEGANDO FOGO

CADEIRANTE é encontrado dormindo no chão na entrada do estádio Juca Ribeiro

PAULO AUGUSTO

HOMEM ignora o frio e dorme sobre a grama na praça Clarimundo Carneiro

O Banco de Desenvolvimento de Minas Geraislançou o BDMG Net, voltado para empresas que faturam até R$ 10,5 milhões por anowww.bdmg.mg.gov.br

ATENDIMENTOA POPULAÇÃO DE RUA

› PASSAGENS AOS MIGRANTES• 2005 ! 3.152• 2006 ! 2.784• 2007 ! 3.795 • 2008 ! 3.937• 2009 ! 4.189• 2010* ! 1969 *até junho

› ABORDAGENS NAS RUAS• 2005 - 836• 2006 - 598• 2007 - 405• 2008 - 294• 2009 - 262• 2010* - 163 *até junho

Principais pontos de mendicância em Uberlândia

• Rodoviária• Praça Tubal Vilela• Praça Nossa Senhora Aparecida

› ALBERGUES

‘Ceami – Reabilitação para a Vida • Unidade I - rua José Soares

Ferreira, 281 - Roosevelt / Fone: (34) 3225-3204

• Unidade II - rua Santa Bárbara, 990 – Chácaras Panorama

Albergue Noturno Ramatis - avenida João Pinheiro, 3.150 - BrasilTelefones :(34) 3232-2597 e 3219-0273

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QUARTA!FEIRA • 6 DE JANEIRO DE 2010 • [email protected] QUARTA!FEIRA • 6 DE JANEIRO DE 2010 • [email protected]

REVISTAINTERNACIONAL ARGENTINA PERDE UM DE SEUS GRANDES ÍDOLOS • PÁGINA B4

CORREIO DE UBERLÂNDIA

CHRIS CORNELL confi rma a volta do Soundgarden. PÁGINA B4

Jornalista de Uberlândia está no programaANA ANGÉLICA, DE 24 ANOS, DISPUTA O PRÊMIO DE R$ 1,5 MILHÃO NA 11ª EDIÇÃO DO REALITY SHOW, QUE COMEÇA NO DIA 12

BIG BROTHER 10

MARCELO CALFAT | REPÓRTER

[email protected]

A jornalista uberlan-dense Ana Angélica Martins, de 24 anos, está entre os 15 se-

lecionados da 10ª edição do Big Brother Brasil (BBB), que estreia na próxima terça-feira (12). A lista foi divulgada on-tem pela Rede Globo, emisso-ra que transmite o programa.

De acordo com amigos e familiares entrevistados pelo CORREIO, Ana Angélica é uma pessoa carismática, alto astral e de fácil convivência. “Esta-mos torcendo muito por ela, temos confi ança de que ela vai ganhar”, disse uma tia que preferiu não se identifi car. A jornalista está confi nada em um hotel no Rio de Janeiro com os demais participantes.

Ana Angélica trabalhou como repórter e apresentado-

ra de programas esportivos e jornalísticos da TV Paranaíba, emissora afi liada da Rede Re-cord na região de Uberlândia. Ela graduou-se em Comuni-cação Social pelo Centro Uni-versitário do Triângulo (Uni-tri) no segundo semestre de 2007. Os pais não residem em Uberlândia. Na cidade moram a avó e uma tia. Segundo fon-tes não ofi ciais, a jornalista é vegetariana e faz aniversá-rio dia 13 de março. Portanto, existe a possibilidade de Ana Angélica festejar os 25 anos na casa do BBB, caso perma-neça no programa. Foram se-lecionadas 15 pessoas para o BBB 10 e outras duas já estão confi nadas e só serão conhe-cidas na estreia do programa.

NESTA EDIÇÃO

Para monitorar os partici-pantes confi nados no BBB 10

serão utilizadas 55 câmeras e 75 microfones. O vencedor levará para casa R$ 1,5 mi-lhão, livre de impostos, o se-gundo colocado R$ 150 mil e o terceiro, R$ 50 mil. De 2005 até o ano passado, os prêmios eram, respectivamente, de R$ 1 milhão, R$ 100 mil e R$ 30 mil. Para esta edição foram 370 mil inscritos.

A jornalista Ana Angélica Martins será a segunda re-presentante de Uberlândia no “Big Brother Brasil”. Natural de Tupã e radicada em Uber-lândia, Íris Stefanelli, a Siri, participou do “BBB 7”, sendo eliminada na sétima sema-na. Depois da eliminação no reality show nacional, ela fez uma participação especial na atração argentina “Gran Her-mano 4”, da emissora Telefe. Atualmente, é apresentadora do programa “TV Fama”, da Rede TV. A BBB Ana Angélica em foto do ensaio realizado pelo site www.zebillin.com.br

A delicada preservação da arte sacraLYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

Um trabalho minucioso, que requer paciência e ha-bilidade. Assim é o cotidiano de quem trabalha com arte sacra. Quando se trata de restauração, os detalhes são ainda mais relevantes. Se uma imagem chega ao ate-liê da religiosa Denise Apa-recida Pereira aos pedaços, com as mãos quebradas, pintura desgastada ou qual-quer outra deformidade que precise de conserto, ela é a responsável por devolvê-la ao dono novamente inteira, restaurada.

Todas as semanas chegam a Uberlândia, vindos de di-versas cidades, santos, ora-tórios, presépios e anjos que precisam de reparos. Como em um hospital, as imagens recebem os primeiros-so-corros, depois são tratadas e fi cam “internadas” no ateliê por até três meses, onde re-cebem cuidados diários de Denise e de suas duas aju-dantes, a irmã de sangue Hu-lânia Pereira e a irmã de fé Roberta Gomes.

Pelas mãos da restaurado-ra já passaram preciosidades sacras como uma imagem de São Domingos de Gus-mão de 300 anos. Da Espa-nha, chegou uma escultura da Imaculada Conceição de Nossa Senhora com detalhes tão delicados que precisou de uma lupa poderosa para a restauração dos bordados da vestimenta da santa. En-tre orações e pincéis, os dias correm tranquilos no ateliê, praticamente em silêncio. “Trabalhamos em paz de es-pírito”, disse Hulânia Pereira.

VERSATILIDADE

Para a restauração, é pre-ciso versatilidade, pois são inúmeros as técnicas e os materiais utilizados pela re-ligiosa Denise Aparecida Pereira. O trabalho envolve pintura, escultura, arte sacra, em superfícies de cerâmi-ca, resina, gesso, madeira e ferro. Preferencialmente, ela

atende às dioceses da região do Triângulo Mineiro, Alto Pa-ranaíba e leste de Goiás, mas também recebe trabalhos particulares. Pelas mãos da artista, já passaram mais de mil imagens.

PRATA

Há uma semana, as artis-tas que trabalham no ateliê com a religiosa Denise Apa-recida Pereira se dedicam a uma imagem de Nossa Se-nhora do Carmo que veio do município de Prata, a 80 km de Uberlândia, que mede quase 1,80m. É a segunda vez que a santa passa pe-las mãos de Denise. “Não é só um trabalho remunera-do. Estou mais interessada no benefício que as imagens proporcionam às pessoas. É gratifi cante ver alguém re-zando aos pés de uma santa que eu restaurei. Me sinto importante espiritualmen-te”, disse a religiosa.

Ela trabalha com arte sacra há 12 anos e começou no con-vento no Pará, com uma irmã franciscana que lhe ensinou os primeiros passos da res-tauração. A partir de então, desenvolveu suas próprias técnicas e as ensinou para suas duas ajudantes. “Cada trabalho que fi ca pronto e vai embora é como um pedaci-nho nosso”, afi rmou Roberta Gomes.

Além das restaurações, ela pinta e transforma imagens sob encomenda. “Existem santos muito raros, que as fá-bricas não têm formas para fazê-los. Quando alguém pede alguma imagem dessas, eu pego uma parecida e faço mudanças até ela fi car perfei-ta”, afi rmou Denise.

Para conseguir esta per-feição, ela pesquisa em livros e na internet, mas não dis-pensa a ajuda de padres mais experientes. “Os mais ve-lhinhos conhecem todos os santos. Mesmo aqueles que não encontro nem na inter-net. É importante, pois cada santo tem uma identidade, uma cor, um semblante dife-rente”, disse.

RESTAURAÇÃO

DESAFIO

Em imagens mais antigas, especialmente nas de ma-deira, é comum encontrar bilhetes, pedidos, até foto-grafias. “Já li muitas men-sagens bonitas que encon-trei dentro dos santos. São pedidos muito especiais, agradecimentos, acho lin-do”, disse Denise Aparecida Pereira. Apesar de trabalhar com tanto entusiasmo, ela

sabe que um dia terá que pa-rar. Ela sofre de atrite, uma doença que, aos poucos, li-mitará suas pinceladas de-licadas e movimentos su-aves. “Eu tenho medo, mas enquanto puder continuar os trabalhos, vou estar aqui. Sou muito feliz lidando com meus santinhos”, disse. O ateliê para restauração de peças sacras de Denise Pe-reira fica na rua Cambuquira, 538, bairro Martins.

BETO OLIVEIRA

DENISE APARECIDA trabalha com a ajuda de duas irmãs em seu ateliê

Estreia na quinta-feira (7), à 0h30, na Record, a série “Lipstick Jungle”, já apresentada no Brasil no canal pago Fox. Criada pela autora do fenô-meno “Sex and the City”, Candance Bushnell, a série segue a vida de três amigas quarentonas da alta sociedade de Nova York e seus problemas profi ssionais e pessoais. Com muito humor, essas modernas mulheres se apoiam nos triunfos e nas lágrimas para vencer.

As personagens princi-pais são Nico Reilly (Kim Raver), uma editora-chefe da revista de moda “Bon-fi re Magazine” que precisa lidar com problemas no casamento, Wendy Healy (Brooke Shields), uma executiva cinematográfi ca que vê que seus esforços parecem não ser sufi -cientes para conciliar car-reira e família, e Victory Ford (Lindsay Price), uma designer que quer realizar seus sonhos e encontrar o cara certo para namorar.

A Rede TV colocará no ar, em março, seu primeiro reality show. O “Desafi o da Música Gospel” pretende incen-tivar o estilo. A estreia na TV está prevista para o começo de março e as audições começam ainda neste mês no Brasil (em oito capitais), nos Estados Unidos (Nova York, Miami e Boston) e na Europa (Portugal). Ao todo, serão 22 programas, com uma hora de duração, em

cinco meses de exibição, sempre aos sábados às 13h30, com uma hora de duração. Devem ser apre-sentadas versões e letras nos mais diversos estilos musicais como rock, MPB, pop, axé, entre outros. A expectativa da emis-sora é receber mais de 100 mil inscrições. Serão distribuídos R$ 5 milhões em prêmios. As inscrições podem ser feitas no site www.desafi odamusica-gospel.com.br.

“Lipstick Jungle” estreia na TV aberta

Rede TV terá reality show gospel

PODEROSAS

TELEVISÃO

CASSIO REGAL/ZEBILLIN/DIVULGAÇÃO

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CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 6/6/2010

A4

> MELHORIAS, INICIADAS COM A INTEGRAÇÃO DO SISTEMA, CHAMAM A ATENÇÃO DE REPRESENTANTES DE OUTRAS CIDADES

UBERLÂNDIA

Com mais de 60 milhões de usuários por ano e 395 ônibus em circulação, o sistema de transporte público de passageiros

de Uberlândia tornou-se referência para outras cidades brasileiras. Os terminais e as estações que se integram, as faixas e os corredores exclusivos para ônibus e a acessibilidade chamam a atenção de publicações especializadas nacionais e internacionais e de gestores municipais interessados em melhorar o serviço em suas cidades.

Pelo novo conceito de transporte urbano, o sistema recebeu em 2009 o troféu do Mérito Municipalista, da As-sociação Brasileira de Muni-cípios (ABM), que destaca o fortalecimento da qualidade de vida nas cidades.

Desde então, a Secreta-ria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran) recebe frequentes visitas de gesto-res, profi ssionais e estudan-tes que querem ver o que foi feito na cidade mineira de 634 mil habitantes.

Na sexta-feira (28), alunos

do curso de Turismo do Insti-tuto de Educação Superior de Brasília participaram de uma apresentação feita por servi-dores da Settran e conhece-ram o Corredor Estrutural da avenida João Naves de Ávila.

No dia 20 de maio, o pre-sidente da Companhia de Engenharia de Transportes e Trânsito da prefeitura de Cas-cavel (PR), Jorge Luiz Lange, também conheceu o sistema. “Há alguns meses, participei de uma apresentação sobre o trabalho desenvolvido em Uberlândia e fi quei impressio-

nado”, disse Lange, à época. O modelo de serviço cha-

mou a atenção também do secretário Municipal de Trân-sito e Transportes de Marin-gá (PR), Walter Guerlles, que reforçou a lista de visitantes. Ele esteve na cidade, no início do mês passado, com o obje-tivo de obter subsídio para a elaboração de um novo Plano Diretor de Transportes para a cidade paranaense. “Estamos andando por diversas cidades e avaliando os resultados das melhores. O sistema de Uber-lândia certamente está entre

os melhores, juntamente com Goiânia, Curitiba e Bogotá, na Colômbia, e vai nos aju-dar a criar melhores critérios para o nosso. É uma boa for-ma de atender a população”, afi rmou Guerlles.

O planejamento do Siste-ma Integrado de Transportes (SIT) de Uberlândia começou a ser feito em 1991, durante a elaboração do Plano Diretor da cidade, aprovado em 1994. A implantação do sistema ocorreu em julho de 1997, após a construção dos termi-nais de integração.

SIT ABRIU FASE DE MUDANÇASA implantação do Sistema

Integrado de Transporte (SIT) foi o primeiro grande passo para a melhoria da qualidade do serviço em Uberlândia. Mas foi a partir de setem-bro 2006, que o sistema da cidade passou a chamar a atenção, com a abertura do corredor estrutural da aveni-da João Naves de Ávila, que servirá de modelo para mais quatro corredores, com pre-visão de implantação até o fi m de 2012. O projeto está avaliado em R$ 110 milhões, segundo o secretário de

Trânsito e Transportes, Paulo Sérgio Ferreira (leia mais na página A5).

“Foi uma decisão política investir fortemente em trans-porte público e um choque de modernidade para Uberlândia. Pelo crescimento da frota [de veículos de passeio] da cidade, que hoje está em cerca de 10% ao ano, sabíamos que logo a população ia sofrer com o trân-sito. A decisão da prefeitura foi investir em qualidade, para manter o usuário no sistema público e atrair quem usa carro ou moto”, disse o secretário.

QUALIDADES

ÁREA MENOR, SERVIÇO MELHOR A cidade foi divida em três

setores para a operação das empresas, cada uma com frota de até 132 veículos. Se-gundo Paulo Sérgio Ferreira, a setorização foi adotada como estratégia para que as em-presas prestassem um ser-viço mais efi ciente, com uma estrutura menor e atuando em uma área também menor.

“Também foi pensada a questão da concorrência, já que cada uma se esforça para superar a qualidade das ou-tras. Com isso, conseguimos

reduzir o tempo de viagem e as reclamações dos usuários. Ainda temos reclamações, mas a população tem sentido a cada dia a melhoria”, afi rmou.

Todas as linhas são acom-panhadas por GPS – sistema de monitoramento por satéli-te -, o que garante, por exem-plo, que o motorista cumpra o trajeto sem ultrapassar a ve-locidade permitida e parando em todos os pontos previs-tos. “Temos o controle total dos veículos em circulação”, disse o secretário.

SETORIZAÇÃO

REPORTAGEM CONSTATA FALHASMesmo com todos os

avanços, ainda há garga-los e defi ciências a serem corrigidas no transporte de passageiros da cidade. A re-portagem do CORREIO de Uberlândia percorreu os cinco terminais de ônibus da cida-de em uma tarde, saindo às 14h20 do Distrito Industrial. Seis linhas foram usadas e, em quatro delas, a viagem foi feita em pé, com ônibus cheios.

A pior delas, em conforto, foi entre o Terminal Central e o Terminal Planalto, por volta das 17h15, com o ônibus su-perlotado e curvas feitas em alta velocidade. A experiência terminou por volta das 19h.

O secretário Paulo Sérgio Ferreira reconhece que nem tudo está perfeito no sistema,

principalmente em horários de pico, que concentram veí-culos superlotados nas linhas de maior movimento. Por isso, a Settran, juntamente com as empresas de ônibus, estão realizando uma pesqui-sa sobre a origem e o destino dos passageiros, para que toda a malha e linhas possam ser refeitas. “Nos próximos seis meses vamos fazer uma readequação em horários e até no número de veículos, se for necessário”, afi rmou Pau-lo Sérgio.

Sobre a superlotação nos ônibus, o secretário disse que os 100 fi scais da Settran tra-balham em três turnos para evitar que a capacidade má-xima dos veículos, informada no interior dos mesmos, seja extrapolada.

EXPERIÊNCIA

LICITAÇÃO PERMITIU AVANÇOSDe acordo com o secretário

Paulo Sérgio Ferreira, foi por meio da licitação para a troca das empresas que operavam no transporte de passageiros na cidade que a prefeitura pôde reestruturar o sistema. “Tínha-mos gravíssimos problemas, como a idade média da frota, duas empresas operando com altos índices de reclamações, omissões de viagens. No edi-tal, procuramos resolver todos eles.”

O edital da licitação levou cinco anos para ser concluído, em 2009, depois de sucessi-vas renovações de contratos com as antigas concessioná-rias e entraves na Justiça. O prazo da concessão é de 10 anos e pode ser renovado pelo

mesmo período. Foi estabelecido que as

empresas, para operarem em Uberlândia, deveriam ter boa capacidade fi nanceira, históri-co de serviço, além de oferecer frota mais nova, com motores menos poluentes e 100% adap-tada a usuários com defi ciência física. Enquanto estiverem no sistema, elas estão obrigadas a renovar a frota, cuja idade mé-dia máxima não pode ultrapas-sar 5 anos.

A estimativa do diretor de uma das empresas que operam na cidade, Leandro Gullin, é de que a viação já investiu R$30 milhões no sistema e que, nos próximos cinco anos, sejam in-vestidos mais R$ 30 milhões, se a frota não aumentar.

NOVAS EMPRESAS

CORREDOR de ônibus, implantado em setembro de 2006, foi mais um avanço

DESTAQUES

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

PRÊMIO CONQUISTADO PELA PREFEITURA EM FUNÇÃO DO SIT:! Mérito Municipalista - Associação Brasileira de Municípios – outubro de 2009

! Publicações que citam o sistema:! TechniBus – janeiro/fevereiro de 2010! Revista Transporte Atual (CNT) – dezembro/2009! Cartilha Priorização do Transporte Público Coletivo - Frente Parlamentar do Transporte Público – abril de 2009! 1000x Architeture of the Américas – 2009 (anual)! Summa + 103 - 2009 (anual)

VISITAS TÉCNICAS

Representantes de: ! Belo Horizonte ! Brasília (DF) ! Franca (SP) ! Goiânia (GO) ! Maceió (AL) ! Marília (SP) ! Maringá (PR)! Cascavel (PR) ! Palmas (TO)! Ribeirão Preto (SP) ! São José do Rio Preto (SP)

! Estudantes do curso de Turismo do Instituto de Educação Superior de Brasília

! Participantes do 48º Fórum Mineiro de Gerenciadores de Transportes e Trânsito - representantes de 15 municípios mineiros

USUÁRIOS DO SITTotal: 60.396.637 Média mensal: 5.033.053 (Em 2009, exceto idosos)

FROTA

EMPRESA VEÍCULOS

AutoTrans 131

São Miguel 132

Sorriso de Minas 132

Total 395

(360 operantes e 35 reservas)

LINHAS*

EMPRESA VEÍCULOS

AutoTrans 38

São Miguel 39

Sorriso de Minas 33

Total 110

*Maio de 2010

SIT

MAIORES DEMANDAS*LINHA Nº DE USUÁRIOS

T-131 T. Central/T. Santa Luzia 358.323T-121 T. Umuarama/Luizote-Mansour 219.483T-120 T. Umuarama/Luizote-Mansour 217.939

T-132 T. Central/T. Santa Luzia 183.449 *MARÇO/2009

PAULO AUGUSTO

FUNCIONAMENTO do Terminal Central e de outros quatro, iniciado em 1997, foi o primeiro passo para a reestruturação do serviço

BETO OLIVEIRA

PAUL

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GUST

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CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • SEGUNDA!FEIRA • 7/9/2009

A3

Eles venceram os limites do corpo> COM ÓRGÃOS DOADOS, UBERLANDENSES VIVEM NORMALMENTE E DÃO EXEMPLO DE AMOR À VIDA

VIDA DE TRANSPLANTADO

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

Para doentes crô-nicos, quando já não há mais outro recurso ou

tratamento, o transplante de órgãos é a última indi-cação dos médicos. É uma tentativa, a opção fi nal. Ouvir a notícia, porém, é o primeiro passo de um longo processo, que inclui internações, fi las de espe-ra, cirurgias e medo.

Mas, depois de ultrapas-sado o limite da doença e toda a angústia causada por ela, como é a vida de quem convive com um pedaço de outra pessoa no próprio corpo? Que li-mitações e expectativas envolvem quem passa por um transplante?

“Pedi a Deus que tives-

BETO OLIVEIRA

se misericórdia de mim. E Ele teve.” É esta a explica-ção da enfermeira Neide Carla de Jesus, 39 anos, para o sucesso dos trans-plantes de rim e pâncreas que ela recebeu há quase dez anos. Ela é a única transplantada dupla de Uberlândia e faz da sua condição uma bandeira.

São 12 comprimidos to-dos os dias, uma vida mais regrada e nem por isso anormal. “A minha imu-nidade é mais baixa, mas continuo a fazer minhas atividades normalmente. Vivo para ajudar trans-plantados e conscientizar as pessoas da importância da doação”, disse.

A insufi ciência renal surgiu por causa do dia-betes incontrolável, hoje curado em função do transplante de pâncreas.

AOS 39 ANOS, NEIDE CARLA LEVA UMA VIDANORMAL, APENAS COMINGESTÃO DE12 COMPRIMIDOSAO DIA

TRANSPLANTADA, Neide tornou-se enfermeira para ajudar outras pessoas

CIGARRO obrigou o empresário Roberto a um transplante de pulmão

“A minha taxa de glicose subia e descia, entrei em coma algumas vezes. Quan-do recebi a notícia da insu-fi ciência e do transplante, eu me desesperei, me agar-rei a Deus. Hoje, eu faço pelas outras pessoas o que fi zeram por mim. Até me formei como enfermeira para poder ajudar”, disse.

UMA VIDA TRANSFORMADAO hobby preferido do em-

presário Roberto Rodrigues, 62, é pescar. Durante 25 anos, ele viajou com amigos para pescarias em vários lugares do Brasil. Na sema-na passada, depois de qua-se sete anos sem praticar o esporte, ele fi nalmente foi liberado por uma junta mé-dica para viajar. Há quatro anos, ele carrega no peito um pulmão de um jovem gaú-cho, morto em função de um aneurisma.

Devido ao enfi sema cau-sado pelo cigarro (fumava três maços diariamente), ele foi dependente do balão de oxigênio por sete anos. “Não conseguia nem tomar banho sozinho. Era uma tortura di-ária, não era vida”. Ele fi cou na lista de espera, morando em Porto Alegre (RS) de no-vembro de 2004 até abril do

ano seguinte. “No fi nal, já não conseguia fazer nada, só esperar, com agonia, a notí-cia da chegada do pulmão”, disse.

Hoje, vive uma vida ini-maginável há cinco anos: tra-balha, namora, pratica ativi-dades físicas, faz drenagem linfática. De diferente, só um detalhe: são 24 comprimidos de imunossupressores todos os dias. “Vai ser assim pelo resto dos meus dias. Estou feliz, voltei a respirar alivia-do”, afi rmou.

Assim como a enfermei-ra Neide, ele dedica parte do tempo para a conscien-tização das pessoas sobre a importância da doação de órgãos, além de participar de campanhas contra o fumo. “Tenho que fazer a minha parte. Eu tive sorte, é minha obrigação ajudar.”

ROBERTO

MUITA PACIÊNCIA COM A FILA DE ESPERAHá dez anos na fi la de espera

por um rim, o aposentado Na-talino José Augusto, 60, sobre-vive graças às quatro sessões de diálise semanais. Com os dois rins paralisados em fun-ção de pressão alta, ele se diz resignado com a própria sorte. “Deus é perfeito e dá uma cruz a quem pode carregar. Sou tei-moso, vou resistindo enquanto der”, disse.

A difi culdade para encontrar um rim para Natalino Augusto é o tipo sanguíneo raro, O positi-vo. Ele afi rma não sentir tanta dor como outros pacientes de hemodiálise, nas sessões que duram, em média, quatro ho-ras, mas se queixa das limita-ções. “Não posso comer o que

DIÁLISES

MÉDICO COLECIONA HISTÓRIAS EMOCIONANTESO nefrologista Heleno

Batista de Oliveira é um dos responsáveis pelos trans-plantes renais realizados em Uberlândia. Na cidade, além desta modalidade, só são feitos transplantes de cór-neas. Há dez anos na função, ele se emociona ao relembrar histórias de pacientes que se livraram da diálise e hoje vivem bem, depois de muito tempo de transplante.

Entre os mais de 250 pa-cientes transplantados que atende, ele aponta quatro

fases pré e pós-transplante. A primeira é de extrema de-pressão ao receber o diag-nóstico. Depois, há a ago-nia da espera, seguida pelo medo. No fi nal, depois do transplante, o clima de fes-ta no setor do Hospital de Clínicas da Universidade Fe-deral (Setran-HC/UFU) que envolve pacientes, família e equipe médica. De acordo com ele, os renais têm a op-ção de continuar com diálise, mas são poucos que prefe-rem não transplantar. No

caso de transplantes como de pulmão, coração e fígado, não há opção. Os pacientes fi cam dependentes do transplante. Nestes casos, o tempo na fi la de espera é crucial. “O trans-plante tem a função básica de reinserir o paciente na socie-dade, não é só resgatar a saú-de, mas também a dignidade.”

A escolha do candidato a receber o órgão não é feita por ordem na fi la, mas por compatibilidade: vai para o paciente que apresenta a me-nor chance de rejeição.

FASES

eu quero, beber o que eu te-nho vontade. Se eu for viajar, tenho de correr atrás de diá-lise para onde eu for. É muito difícil”, disse.

Presidente da Associação dos Renais Crônicos, ele co-

nhece todas as histórias dos cerca de 300 pacientes da região do Triângulo Mineiro. “Todo renal crônico sonha em abandonar a máquina. É uma vida muito limitada. Todos queremos liberdade”, afi rmou.

RENAL crônico, Natalino aguarda transplante e sonha em se livrar da diálise

PAULO AUGUSTO

PAULO AUGUSTO

O transplante tem a função básica de reinserir o paciente na sociedadeHELENO BATISTA DE OLIVEIRA | NEFROLOGISTA

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CIDADE & REGIÃOA7

CORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 8/11/2009

Gansos no lugar de cães> AVES ALARDEIAM PRESENÇA DE PESSOAS ESTRANHAS E PODEM AFUGENTÁ!LAS

SEGURANÇA

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

Na França, os gansos são usados para a gastronomia. O fí-gado da ave é ingre-

diente para uma iguaria local, o foie gras (patê de vísceras infeccionadas). Em Uberlân-dia, eles têm outra serventia: são aves de guarda. Se na Eu-ropa os que não viram patê vão para o forno, por aqui

eles vivem em paz, para ga-rantir a paz de moradores de chácaras preocupados com a falta de segurança na cidade.

É o caso do comerciante Carlos José Silva, que man-tém, na zona oeste, um casal de gansos – que recentemen-te teve quatro fi lhotes. Há cinco anos, os dois desfi lam sua elegância pelo quintal, namoram e, quando chega visita estranha, gritam, gras-nam e alardeiam por toda a

casa que há alguém estranho por lá. É dessa forma que eles protegem a chácara.

“Eles até podem bicar quem chega, mas os gritos são mais efi cazes para espantar as pessoas. De longe dá para ou-vir. Dizer que [o ganso] prote-ge sozinho é exagero, mas se o ladrão está no escuro e vem um bicho deste tamanho, cor-rendo, fazendo tanto barulho, é lógico que ele vai sair corren-do”, disse Carlos Silva.

O criador, que tem tam-bém duas cadelas, mas que não protegem a casa, apon-ta vantagens dos gansos em comparação aos cães, tradi-cionalmente utilizados como animais de guarda. “Para co-mer, eu jogo milho, e eles pas-tam, então não gasto com ra-ção. Também acho os gansos mais higiênicos, as fezes não cheiram mal, nem juntam moscas. E não tem perigo de eles me atacarem”, afi rmou. CHÁCARA de Carlos José Silva é vigiada por casal de gansos que tem 4 fi lhotes

BETO OLIVEIRA

SEM AMBIENTENATURAL, OSGANSOS SOFREM

O responsável pelo setor de animais silvestres do Hospital Veterinário Universitário, pro-fessor André Luiz Quagliatto, afi rmou que a criação de qual-quer animal silvestre envolve a disposição do dono em repro-duzir, ainda que parcialmente, o ambiente natural.

“Gansos são animais aquá-ticos. É necessário que se te-nha um lugar onde eles possam fl utuar e se exercitar. Pode ser uma lagoa, um lago, uma re-presa. Sem água, eles sofrem”, disse.

De acordo com ele, um cui-dado deve ser tomado: evitar a contaminação pela salmo-nela. Bactéria presente no in-testino de todas as aves, ela oferece risco de gastrointerite (infecção intestinal) em crian-ças, idosos e portadores de doenças imunossupressoras que entrarem em contato com as fezes do animal. A infecção pode se tornar grave e até ma-tar. “É uma questão de higiene básica, como lavar as mãos depois de encostar no bicho”, afi rmou.

VETERINÁRIO

Para o médico veterinário André Luiz Quagliatto, um animal não é melhor do que outro, pois isso depende das condições de espaço e da disposição do dono.

VEJA O COMPARATIVO:

- Alimentação

Gansos pastam e comem grãos, como milho, mas também há a opção de usar ração para aves, mais barata e menos consumida do que ração para cães

- Espaço

Cachorros, de acordo com o porte, podem ser criados em espaços menores. Gansos requerem muito espaço e água sufi ciente para fl utuar

- Comportamento

Cães podem ser dóceis e se relacionar afetivamente com seus donos. Os gansos mantêm um comportamento mais primitivo, de respeito em troca de alimento. Cães podem ser treinados; gansos, não

- Preço

Um casal de gansos pode ser comprado por cerca de R$ 200. Um bom cão de guarda, como o pastor alemão, pode variar de R$ 200 a R$ 1 mil

CURIOSIDADES

> Os gansos foram domesticados há 4 mil anos, no antigo Egito

> Na natureza, a maior parte das espécies de gansos é encontrada no Hemisfério Norte

> Medem entre 64 cm e 1,14 m

> As penas foram muito usadas desde o início da era Cristã, até meados do século 19, como canetas

CÃO OU GANSO?

Clientes fumantes renderão multas de R$ 2.034,90 a R$ 6.104,70 a proprietários de estabelecimentos coletivos fechados

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CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 9/5/2010

A4

CUIDAR DE IDOSOS GERA DÚVIDAS> CONTRATAÇÃO DE PROFISSIONAIS OU INTERNAÇÃO EM CLÍNICAS, EM MUITOS CASOS, É A SOLUÇÃO, DIZ ESPECIALISTA

DEPENDENTES

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

O número de brasi-leiros que chegam à terceira idade é crescente. A ex-

pectativa de vida da popu-lação é hoje de 72,8 anos, 11 anos a mais que em 1980. Para o futuro, um es-tudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea), aponta que, em 2040, o país terá 55,5 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Entre elas, 13 milhões serão oc-togenários. Em 2000, este grupo era de 1,8 milhão.

O aumento desta popu-lação gera dúvidas para as famílias que precisam de-cidir o que fazer quando os idosos se tornam depen-dentes funcionais e qual é a melhor forma de cuidar deles.

De acordo com o geriatra

Márcio Borges, editor do site Cuidar de Idosos, a decisão sobre como cuidar do idoso passa por fatores como o número de familiares dis-postos à tarefa, o estado de debilidade do paciente e a situação fi nanceira. Segun-do ele, a maior causa de de-pendência funcional entre pessoas da terceira idade são as doenças de Alzheimer e de Parkinson, além de aci-dentes vasculares cerebrais (AVCs) e quedas.

“Famílias numerosas se encaixam bem em esquema de revezamento. A maioria das famílias de hoje, peque-nas e nucleares, precisa do auxílio de cuidadores profi s-sionais. Institucionalizar o idoso dependente pode ser, em muitos casos, uma solu-ção, um prêmio para ele, e não um castigo. Atualmen-te, chamamos de Institui-ções de Longa Permanência para Idosos (Ilpis) as casas

de repouso e os asilos. E o termo mais usado é institu-cionalizar, e não internar”, disse o médico.

“PESO”

Na avaliação da pro-fessora de Educação Físi-ca Geni de Araújo Costa, especialista em terceira idade da Universidade Fe-deral de Uberlândia (UFU) e coordenadora do progra-ma Atividades Físicas e Recreativas para a Tercei-ra Idade (Afrid), muitas fa-mílias sentem o idoso de-pendente como um peso. “As famílias não são pre-paradas para cuidar dos velhos. Uma pessoa com mais de 80 anos geralmen-te tem, no mínimo, cinco doenças crônicas. Normal-mente, as famílias cuidam de forma errada, por falta de conhecimento e de in-formação”, afi rmou.

PAULO AUGUSTO

GENI COSTA Famílias não estão preparadas para cuidar dos idosos e geralmente o fazem de forma errada

ESCOLHA DO LOCAL DE TRATAMENTO É LIGADA AO FATOR FINANCEIROA escolha de como e onde

cuidar dos idosos depen-dentes passa, invariavel-mente, pelo viés econômico. Optar pelo tratamento em casa ou em instituições de-pende de quanto a família tem para gastar. Segundo Geni Araújo, especialista em terceira idade, a manu-tenção de um idoso custa, em média, R$ 1,6 mil men-sais, incluindo medicamen-tos, fraldas e remuneração de cuidadores. Conforme apurou a reportagem do

CORREIO de Uberlândia, as mensalidades em institui-ções particulares custam de R$ 1,8 mil a R$ 2,5 mil, na cidade.

Por causa do alto custo para contratar pessoas es-pecializadas, a maioria das famílias assume a tarefa. “O problema é que ninguém é preparado para fazer isso. O idoso se torna um peso à medida que o familiar faz por obrigação ou sentimen-to de culpa. Muitas vezes, também, a família peca por

excesso de zelo”, afi rmou a especialista.

O preconceito contra o processo de institucionaliza-ção – tratado popularmente como internação -, segundo Geni Araújo, é justifi cável de-vido às condições precárias de algumas instituições. “Há a visão de que estes lugares são péssimos, depósitos de pessoas. E alguns realmente são. Colocam-se duas en-fermeiras para cuidar de 10 idosos dependentes. Se dois deles querem ir ao banheiro

ao mesmo tempo, por exem-plo, um fi ca no prejuízo.”

Segundo a professora, esta imagem tende a mu-dar. “Em grandes capitais existem hoje as pousadas e hotéis para os idosos. Mui-tas vezes, são eles mesmos que procuram conhecedores das suas limitações. Sen-do oferecido um trabalho de qualidade, é a melhor opção. Há a convivência com pesso-as da sua idade, com valores correspondentes, histórias, desejos. É uma rede social.”

CASA X CLÍNICA

INTERNOS SÃO ABANDONADOSOs administradores

de duas instituições que cuidam de idosos em Uberlândia afirmaram que muitas famílias não se preocupam com os in-ternos. “Para a maioria [dos idosos] falta a parte afetiva. São raras as fa-mílias que vêm todas as semanas e procuram se informar sobre o estado de saúde. A maioria não quer nem saber. Temos de ligar e correr atrás para dar notícias”, disse Adria-

na Paiva, do Lar Alziro Za-rur, mantido pela Legião da Boa Vontade (LBV).

Em instituições parti-culares, é menos frequen-te a ausência dos familia-res, mas também existe. “Normalmente, são pais e mães que lutaram, passa-ram por dificuldades para criar os filhos e quando mais precisam são deixa-dos e esquecidos em ins-tituições”, disse Leonar-do Strack, dono de uma clínica.

ASILOS

IRMÃS DIVIDEM AS TAREFAS E O ACOMPANHAMENTO DA MÃESegundo a professora

Geni Araújo, por uma ques-tão cultural, a maioria das famílias prefere cuidar dos idosos dependentes em casa, com serviços dos pró-prios familiares ou de cui-dadores contratados. Em alguns casos, surgem con-flitos quando as tarefas não são divididas e a responsa-bilidade sobrecarrega ape-nas uma pessoa.

Para a família da servi-

dora pública Maria Heloísa Gomes, que cuida da mãe em casa, com a ajuda de três irmãs, o compromisso não gerou nenhum problema. Ela faz parte de uma família de longevos em que normal-mente os membros vivem mais de 80 anos. Francisca Gomes, de 92 anos, divide o tempo entre a cama e a ca-deira de rodas, desde janeiro deste ano, quando fraturou o fêmur em uma queda.

Inicialmente, as irmãs contrataram uma enfermeira que ensinou como lidar com a idosa, carregá-la, dar ba-nho. “A cada dia, precisamos aprender alguma coisa nos cuidados com ela, porque não sabíamos nada antes da queda. Nunca passou pela nossa cabeça ter de cuidar dela desta maneira”, disse Heloísa Gomes.

Em um esquema de cola-boração mútua, as irmãs se

revezam nos afazeres. Uma delas abriu mão do traba-lho e fica o dia todo com a mãe. As outras três parti-cipam dos cuidados quando voltam para casa e rateiam os custos do tratamento. “Acho que a nossa criação contribuiu para o reveza-mento. É tudo feito com muito carinho. É um prazer cuidar da minha mãe. Acre-dito que seja uma coisa na-tural.”

UNIÃO

MARIA HELOÍSA e as irmãs cuidam da mãe, Francisca Gomes

FAMÍLIA OPTA POR INSTITUIÇÃOA família do criador e trei-

nador de cães Walce Magni-no Cardoso decidiu colocar a avó dele, de 101 anos, em uma instituição. Ela sofre, desde 2005, de mal de Alzheimer e de Parkinson. Antes de ir para a clínica, em 2008, ela morava sozinha em um apartamento e era assistida por profi ssionais 24 horas. O gasto mensal ul-trapassava R$ 10 mil, segundo Cardoso.

A ideia de institucionalizar a idosa surgiu do geriatra dela, que orientou a família. “Visitei

todas as instituições de Uber-lândia. Encontrei muitas boas e outras desumanas, com cenas horríveis. Cabe à família pro-curar o que for melhor. Procu-ramos uma que equilibrasse a estrutura profi ssional com o calor humano”, disse.

Quase todos os dias, Wal-ce Cardoso visita a avó, que já não o reconhece mais. “Ela foi uma mulher que sempre uniu a família em torno dela, sempre com muito carinho. Oferecer um tratamento digno a ela é o mínimo que podemos fazer.”

SOB ORIENTAÇÃO

CUIDADORES PODEM ADOECERA Organização Mundial de

Saúde (OMS) preconiza que a família é a melhor fonte de bem estar e de qualidade de vida de um idoso. Isso signi-fi ca que, preferencialmente, a família deve cuidar. Porém, nem sempre é saudável o envolvimento direto no tra-tamento, quando doenças graves acometem o idoso, pois há o risco de o cuidador acabar adoecendo também.

Segundo o neurologista Reinaldo Ugrinovich, deve existir um preparo psicológi-

co para a pessoa que acom-panha o idoso dependente, sobretudo com doença de Alzheimer. “A recomendação é que a família não se envol-va diretamente no trabalho braçal com o idoso, mas que dê suporte afetivo. É um tra-balho desgastante, que nem sempre faz bem à família.”

Na avaliação do geriatra Márcio Borges, se a opção do familiar for cuidar do ido-so, são necessários, além do preparo, momentos de des-canso e lazer.

ENVOLVIMENTO

NO SITE ! O que observar antes de se contratar um cuidador de idosos › O que deve ser observado em uma instituição

www.correiodeuberlandia.com.br

BETO OLIVEIRA

PAULO AUGUSTO

BRASIL TERÁ13 MILHÕESDE PESSOASCOM MAISDE 80 ANOSEM 2040

WALCE MAGNINO visita frequentemente a avó, de 101 anos, em uma clínica

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CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 11/4/2010

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Área urbana deve ser ocupada até 2023> PREFEITURA NÃO VAI AUTORIZAR EMPREENDIMENTOS LOCALIZADOS FORA DO PERÍMETRO JÁ DELIMITADO NO MAPA

PLANEJAMENTO

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

Até 2023, o atual perímetro urba-no de Uberlândia, uma área de 135

km2, terá sido completa-mente ocupado, se a ci-dade mantiver o ritmo de crescimento estável pelos próximos anos. A previsão é da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano. Para evitar a especulação imobiliária, que se tornou, historicamente, uma ca-racterística da expansão da cidade, o atual traçado do perímetro urbano não será modifi cado até que todos os espaços hoje vazios rece-bam construções.

De acordo com o secre-

tário de Planejamento de Uberlândia, Rubens Kazu-chi Yoshimoto, a maior par-te dos territórios que ainda estão vagos é de proprieda-de de poucas pessoas, des-cendentes de pioneiros que adquiriram muitas glebas de terra no passado.

“Nosso objetivo é que não haja mais esta prática especulativa. Por isso, não aprovamos loteamentos em áreas muito afastadas, para que os terrenos no cami-nho até elas se valorizem e os donos ganhem com isso, com o passar do tempo e o desenvolvimento local. O nosso interesse é aprovar loteamentos em áreas in-tegradas com os bairros já existentes”, afi rmou o se-cretário.

O único espaço disponí-vel hoje para grandes lote-amentos está no setor sul, que se tornou o maior ve-tor de crescimento da cida-de. Para os outros setores, a maior parte do planeja-mento já está pronta (veja nesta página).

Segundo o secretário, o Plano Diretor da cida-de, estabelecido em 2006 e com revisão agendada para 2016, já está “obsoleto para a realidade da cidade”. “Hoje, vivemos em uma ci-dade diferente daquela de quatro anos atrás. A reali-dade é outra, temos outras necessidades. O Plano Dire-tor já se tornou velho. Re-vemos todos os dias as nos-sas metas”, disse Rubens Yoshimoto.

SECRETÁRIO Rubens Yoshimoto disse que ocupação de áreas já integradas a bairros evita a especulação imobiliária

DÉFICIT DE 15 MIL MORADIAS SERÁ REDUZIDOHoje, o défi cit habitacio-

nal em Uberlândia é de cerca de 15 mil casas. Segundo o secretário de Planejamento Urbano, Rubens Yoshimoto, a demanda tem sido ameni-zada com projetos como o do Jardim Célia, por meio do qual a prefeitura já entregou 600 casas populares e pretende entregar mais 300 até maio.

Em outro extremo da cida-de, no bairro Shopping Park, outras 3,6 mil moradias serão construídas. De acordo com o secretário, há estudos de projetos semelhantes para a zona leste, no entorno do bairro Morumbi.

“Isso sem contar outros projetos habitacionais reali-zados pela iniciativa privada,

HABITAÇÃO

CONSTRUTORAS TÊM NOVA RESPONSABILIDADE Em dezembro de 2009, a

Câmara Municipal aprovou uma lei proposta pelo Execu-tivo que obriga as construto-ras a participar, em conjunto com a prefeitura, da instala-ção de equipamentos sociais como escolas e áreas de la-zer para atender à popula-ção dos novos loteamentos. Segundo o secretário de Pla-nejamento Urbano, Rubens Yoshimoto, esta medida pos-sibilitará que a cidade cresça

com estrutura.A lei prevê que, antes de

iniciar qualquer loteamento na cidade, deve ser feito um estudo técnico na área para saber quais equipamentos sociais deverão ser cons-truídos. Antes de haver esta legislação, o empreendedor só era co-responsável pela infraestrutura básica do em-preendimento, como água, esgoto e asfalto.

“A prefeitura funcio-

na como uma empresa: só pode gastar de acordo com a receita. Todo equipamen-to social gera uma despesa permanente, então é justo que as empresas ajudem a bancar, pelo menos, a cons-trução, já que a manutenção vai fi car por conta do poder público. Em síntese, os em-preendimentos imobiliários nascerão com os equipa-mentos sociais necessários à população.”

LEGISLAÇÃO

SETORES

SUL É o que dispõe da maior parte dos terrenos vagos da cidade. Maior vetor de crescimento de Uberlândia, nos próximos anos, deverá ser ocupado por condomínios e loteamentos de re-sidências para todos os públicos – desde casas populares, no Shopping Park, até casas de alto padrão no entorno do Uberlândia Shopping.

OESTEOnde está o bairro Luizote de Freitas, por exemplo. O setor tem pouco para crescer fi sicamente à pois a área está praticamente toda ocupada.Segundo Rubens Yoshimoto, existe uma área grande ocupada por uma granja que no futuro poderá ser transferida para outro lugar. “Todo o terreno pertence somente a um grupo, que poderá loteá-lo quando a área se valorizar mais.”

NORTEA área que restou nesta região será ocupada, progressivamente, pela expansão do atual Distrito Industrial. “Serão novas indústrias que já pleiteiam o espaço. A infraestrutura já está pronta”, disse o secretário de Planejamento Urbano.

Uberlândia tem 135 quilômetrosquadrados de área no setor urbano

PAUL

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LESTEA Secretaria de Planejamento Urbano começou o estudo para a aprovação de um loteamento entre os bairros Mansões Aeroporto e Morumbi. É neste setor, também, que será construído o novo Distrito Industrial da cidade, composto somente por fábricas não-poluentes. A escolha do local está relacionada com o aproveitamento da mão de obra dos moradores dos bairros mais carentes da cidade (Morumbi, Joana D`Arc, Alvorada). Os trabalhadores economizarão tempo e dinheiro para se deslocar até as empresas; poderão ir a pé ou de bicicleta.

BETO

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META É FORTALECER COMÉRCIO E SERVIÇOSA Secretaria de Plane-

jamento Urbano pretende amenizar os problemas do trânsito em Uberlândia — que já incomodam moto-ristas e pedestres — com o fortalecimento de centros comerciais e de serviços nos bairros, a exemplo do que existe hoje no bairro Luizote de Freitas, na região oeste. De acordo com o secretá-rio Rubens Yoshimoto, para isso, deverão ser feitos ajus-tes na Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, para que empresas de ser-viços, como bancos, possam se instalar nos bairros.

A ideia é que cada bairro integrado tenha seu subcen-tro, com comércio variado e serviços diversos. Além do Luizote, Roosevelt e São Jorge deverão ter centros comerciais fortalecidos. Mesmo sem o incentivo oficial, estas localidades já dispõem de comércio. “Cria-remos também nestes luga-res postos avançados com serviços da prefeitura. As pessoas não precisarão ir ao centro da cidade para resol-ver qualquer coisa. Os bair-ros terão mais autonomia. Isso certamente vai refletir no trânsito do Centro”, disse

o secretário.Outro projeto para mé-

dio prazo é criar uma linha radial que envolva todos os seis terminais (cinco atuais e um que será construído no bairro Shopping Park) do Sistema Integrado de Trans-porte (SIT), que dispensará a intermediação do Terminal Central. “Isso vai dar maior agilidade às viagens e flui-dez no trânsito, após a con-clusão dos novos corredores de ônibus [previstos para as avenidas Fernando Vilela e Vasconcelos Costa, Getúlio Vargas, Segismundo Pereira e João Pessoa]”, afirmou.

BAIRROS

CRIAÇÃO de subcentros deve refl etir no trânsito da região central, que hoje registra pontos de congestionamento

BETO

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visando às classes C e D. Não temos bolsões de pobreza em Uberlândia. Há, sim, moradias simples, mas com água, ener-gia e saneamento básico. Não há condição de vida sub-hu-mana e queremos que conti-nue assim, mesmo crescendo em ritmo forte”, disse.

Na avaliação de Yoshimo-to, a quantidade de migran-tes de cidades vizinhas que chega a Uberlândia também tem de ser levada em conta no planejamento da cidade. “Na última década, a popula-ção cresceu, em média, 2,6% ao ano e hoje está em 3%. Crescemos acima de qual-quer cidade do mesmo porte e, por isso, é tão importante planejar. É preciso realizar o que está planejado no curto prazo para que o médio e lon-go prazos se concretizem.”

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CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 16/8/2009

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Divórcio causa prejuízos à saúde> PROBABILIDADE DE DESENVOLVER PROBLEMAS CRÔNICOS É 20% MAIOR ENTRE AS PESSOAS QUE SE DIVORCIAM

PESQUISA

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

Q uem já acompa-nhou um processo de divórcio de per-to sabe quantos

problemas a separação cau-sa. Em primeiro plano, pelo sofrimento e frustração de sonhos abandonados. Para os mais práticos, questões fi nanceiras difíceis de serem resolvidas. Além de todos estes transtornos, o rompi-mento também pode causar sérios prejuízos à saúde, se-gundo cientistas.

Uma pesquisa realizada na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, aponta que pessoas que se divor-ciam têm 20% mais chances de desenvolver um proble-ma crônico de saúde do que as que nunca se casaram ou permanecem juntas por toda a vida.

Publicada no mês pas-sado na revista científi ca “Journal of Health and So-cial Behavior”, a pesquisa foi feita com 8.652 pessoas

com idades entre 51 e 61 anos. Resultados prelimina-res de outros estudos feitos na Universidade indicam que, entre os mais jovens, os efeitos nocivos da separação também são percebidos em proporção equivalente aos mais velhos.

Os cientistas responsáveis pela investigação sugerem que a maior incidência de doenças como câncer, dia-betes e problemas cardíacos em divorciados está relacio-nada ao estresse causado pe-los confl itos e pela queda da renda dos parceiros.

ADOECER PSÍQUICO

Segundo o psicólogo Jorge Pfeifer, as doenças podem co-meçar a aparecer mesmo an-tes do término do casamento. Quando o casal se dá conta de que não há caminhos para que o relacionamento continue, inicia-se o processo de luto, pelo qual ambos os ex-parceiros passam.

“Há um adoecer psíquico, acompanhado por apatia,

indiferença e negação do futu-ro. A autoestima é minada e a tendência é que a resistência fi que cada vez menor. É aí que surgem doenças. O problema maior é quando a pessoa não consegue dar um passo adian-te, fi ca remoendo e tem senti-mentos de rejeição ou culpa”, afi rmou.

Em outros casos, de acor-do com Pfeifer, as patologias começam inconscientemen-te para chamar a atenção ou culpar o outro pela situação de sofrimento e pela incapa-cidade de enfrentar o futuro sozinho.

PESQUISA OUVIU

PESSOAS COM IDADES ENTRE 51 E 61 ANOS

8.652

PSICÓLOGO Jorge Pfeifer diz que patologias começam inconscientemente para chamar a atenção ou culpar o outro

LUTO DEVE PERMANECER ENTRE 4 E 6 MESESSegundo o psiquiatra Al-

fredo Demétrio Jorge Neto, é normal que o luto de pa-cientes separados dure entre quatro e seis meses. Passa-do este tempo, se o estado emocional não melhorar ou se os transtornos se agrava-rem, é sinal de que a dor pode ter se tornado patológica. Quando isso acontece, é hora

de procurar ajuda com um es-pecialista.

“Todas as separações são dolorosas, mas não é preciso que seja pelo resto da vida. Quem se divorcia deve guar-dar as melhores lembranças e seguir em frente. Os relacio-namentos devem ser cons-trutivos, sempre, mesmo de-pois que acabam”, disse.

Jorge Neto alertou que os divórcios também podem provocar o efeito contrário, e curar doenças psíquicas causadas pela infelicidade de manter um relacionamento já falido. “Muitas vezes, acon-tece de a separação fazer bem para a pessoa. Tudo de-pende das condições em que o casamento estava.”

MALES E BENS

CASAL SAI NO PREJUÍZO DURANTE PARTILHAOs prejuízos fi nanceiros

causados pelo divórcio tam-bém são inimigos da saúde, pelo estresse que causam. Se-gundo o advogado e professor universitário Antônio Chaves Neto, que atende casos da vara de família há 14 anos, em todo processo de partilha de patri-mônio, o casal sai no prejuízo e o mal-estar é inevitável.

“Por muito tempo, o com-portamento dos envolvidos muda. Dorme-se e come-se mal, há uma absorção do pro-blema. A vida da pessoa passa a girar em função do divórcio. É por isso que o advogado deve ser um pouco psicólogo tam-bém. Já vi muitos clientes adoe-cerem, até enfartarem durante o processo”, disse.

Ainda que os esforços em-preendidos para alcançar os bens tenham sido os mesmos, de ambas as partes, há tam-bém o sentimento de injustiça do outro levar a metade de tudo. “Ninguém planeja um casamento por tempo deter-minado. De fato, há o prejuízo, pois o patrimônio conquistado é dividido”, afi rmou.

PREJUÍZOS FINANCEIROS

FIM DO RELACIONAMENTO FOI SURPRESADepois de dois anos de ca-

samento, a pedagoga empre-sarial Paula (nome fi ctício), 27 anos, surpreendeu-se quando o marido decidiu abandoná-la e voltou a morar na casa da mãe dele. Um mês depois do rompimento defi nitivo, seis quilos mais magra, hoje ela busca forças para superar o trauma na religião e em um tratamento psicológico.

“Tínhamos planos, querí-amos fi lhos, planejamos um futuro juntos. No começo, tí-nhamos as mesmas ideias. Tudo o que procurava em um homem encontrei nele. Acho que, quando se entra em um casamento, ele deve ser leva-do a sério. No meu, não teve falta de respeito nem traição. Ele, simplesmente, quis jogar tudo para o alto. Foi falta de

consideração”, disse.Mesmo depois de o ex-

companheiro ter saído de casa, ela tentou a reconciliação. Por quatro meses, o casal se en-controu e manteve um namo-ro. “Já não era a mesma coisa. Aí fui eu que resolvi que não adiantava mais. Mas não é fá-cil. Nunca busquei tanto a Deus quanto neste último mês. É uma dor inexplicável”, afi rmou.

QUEM

BETO OLIVEIRA

INFORMAÇÕES SOBRE A GRIPE ASIM - 3239-2800Polícia Militar - 190 !

Veja mais sobre o assuno no site www.correiodeuberlandia.com.br

DICASQuando a separação já é fato con-sumado, o que fazer? Veja algu-mas sugestões de profi ssionais que podem ajudar a superar o trauma com mais equilíbrio e evi-tar o estresse

ARTES – Descubra um dom es-condido em você. Tente pintar, cantar, bordar, fotografar lugares diferentes

ENCONTRE UM INTERMEDIÁRIO Quando os confl itos e agressões

verbais forem muito frequentes, procure alguém para intermediar as negociações

NÃO SE ABANDONE - Invista em si mesmo. Se possível, mude o corte de cabelo, compre roupas novas e se prepare para a nova vida

ATIVIDADES FÍSICAS – Encontre atividades que deem prazer. Pode ser algum esporte, arte marcial, dança, o que o atrair

ESPIRITUALIDADE – Busque con-forto em Deus. As religiões podem ser grandes aliadas para enfrentar traumas emocionais

FAMÍLIA E AMIGOS – Aproxime-se de quem gosta de verdade de você. Busque forças com sua fa-mília e amigos

AFETIVIDADE - Quando se sentir preparado ou surgir a oportuni-dade, invista em um novo amor e siga em frente

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CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 17/1/2010

A4

Comunidades retomam tratamento> MAIORIA DOS 104 DEPENDENTES QUÍMICOS ATENDIDOS ANTES DAS INTERDIÇÕES NÃO RETORNOU; TRÊS MORRERAM NAS RUAS

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

As intervenções do Ministério Público e Vigilância Sani-tária, em julho e

agosto do ano passado, de-volveram às ruas 104 depen-dentes químicos internados nas comunidades terapêu-ticas de Uberlândia. Desde então, seis meses depois, o que mudou no tratamento aos usuários? Por onde eles andam e o que estão fazendo nas ruas?

A reportagem do COR-REIO de Uberlândia visitou comunidades terapêuticas e entrou em contato com usu-ários e familiares. Contagem informal apontou que dois ex-internos teriam se suici-dado, outros quatro estariam presos. A ex-interna Viviane Vieira Reis, de 27 anos, foi assassinada em setembro. Muitos voltaram para as ci-dades de origem (cerca de 60%, segundo o Ministério Público) e o restante não foi encontrado.

Quatro clínicas foram fe-chadas por uma ação con-junta do Ministério Público Estadual e Vigilância Sanitá-ria, iniciada em 31 de julho. Outras duas foram vistoria-das e receberam prazo para adequações. Primeira a ser fechada, a Nova Vida Casa de Recuperação foi a única acusada de torturar internos.

Enquanto as irregulari-dades perante a Vigilância Sanitária puderam ser resol-vidas de forma mais rápida, a acusação por cárcere pri-vado, enfrentada por alguns proprietários de comunida-des terapêuticas, será resol-

vida na esfera criminal pela Justiça.

Antes das intervenções, o município era tido como uma referência nacional de internações involuntárias e ilegais, ao receber muitas pessoas de fora do estado para o tratamento à força (cerca de 60% dos internos liberados, segundo o MP). Depois das interdições, mui-tas comunidades terapêuti-cas fecharam antes mesmo das vistorias e abriram em outros locais, como Catalão (GO), a 110 km de Uberlân-dia.

SERIEDADE

Hoje, proprietários de comunidades terapêuticas afi rmam não mais realizar o serviço involuntariamente. “Houve abertura indiscrimi-nada destas comunidades, o que acabou difamando as instituições sérias. De qual-quer forma, encaro como uma coisa positiva, pois as que restaram foram as que mostraram um trabalho sé-rio”, disse Bárbara Oliveira Carneiro, que dirige com o marido, Luiz Antônio da Fonseca Neto, uma institui-ção para dependentes quí-micos em Uberlândia.

Assim como a maioria dos donos de comunidades terapêuticas da cidade, o casal também é dependen-te químico em tratamento. “Muitos ex-internos abriram comunidades com interesse único de ganhar dinheiro. Ser um usuário em recupe-ração, sem nenhuma qualifi -cação, não habilita ninguém a tratar outros adictos”, afi r-mou Luiz.

“MINHA MISSÃO É AJUDÁ!LOS A ENCONTRAR OS 12 PASSOS”Reaberta há 30 dias, a Co-

munidade Terapêutica Revi-va foi uma das interditadas em setembro, no ano pas-sado. Segundo o proprietá-rio da instituição, Rodrigo Gouveia do Nascimento, ele assinou um termo de ajuste de conduta com a Vigilância Sanitária. Ele afirmou que

o fechamento foi em de-corrência da falta de alvará de funcionamento devido a uma mudança de endereço.

“Sinto que a minha mis-são e responsabilidade é ajudar os internos a encon-trarem os 12 passos, que foi o que funcionou para mim e para milhões de outros

adictos. Não há outra forma de sair das drogas. Eu ofe-reço o caminho e um lugar para eles se desintoxicarem e fortalecerem. O restante para a vida inteira é por con-ta deles”, disse.

Em setembro, Rodrigo do Nascimento mantinha duas comunidades terapêuti-

cas - uma unidade para ho-mens e outra para mulheres. Ao todo, eram 50 internos. “Quando a primeira comuni-dade foi fechada, conversei com todos eles e disse que quem quisesse poderia sair. Saíram 20”, afirmou. Hoje, 18 dependentes estão inter-nados na comunidade.

COMUNIDADE

PROMOTOR APONTA FALHA NAS AÇÕES DO PODER PÚBLICOSegundo o promotor Lú-

cio Flávio de Faria e Silva, da Promotoria Especializada na Defesa da Saúde, do Defi -ciente e do Idoso, as comuni-dades terapêuticas se insta-laram por omissão do poder público. “Estado e município falharam nas suas atribui-ções de planejar uma política nacional e local na repressão ao tráfi co, na prevenção do uso e no tratamento. A obri-gação de fi scalizar não foi

cumprida”, afi rmou.Após as intervenções do

ano passado, muitas famí-lias procuraram a Justiça para interditar os depen-dentes, para mantê-los sob internação compulsória, mas, até hoje, nenhuma conseguiu. “Só é possível conseguir a interdição para doentes mentais graves e um paciente assim não pode ser tratado nas comunida-des. É uma clara tentativa de

burlar a legislação. Entendo o desespero das famílias, mas não há muito o que se fazer. Internar, só se for em ambiente hospitalar. Esse não pode ser um trabalho tão amador”, disse.

O promotor espera forte atuação do Conselho Munici-pal Antidrogas (Comad), que terá a diretoria empossada em breve, ainda sem data de-fi nida. Das 28 cadeiras, duas serão ocupadas por repre-

sentantes das comunidades terapêuticas e não existirão mais as vagas cativas, ocu-padas indefi nidamente por donos dessas comunidades.

Ele também aguarda a abertura do Caps III, com estrutura para internação de pacientes em crise. “Neste caso, poderá haver a inter-nação involuntária, pois os profissionais seguirão crité-rios observados na legisla-ção”, disse Lúcio Flávio.

MINISTÉRIO PÚBLICO

MÉDIA MENSAL DE ATENDIMENTOS NA REDE AUMENTOUSegundo o coordenador da

rede municipal de saúde men-tal, responsável pela admi-nistração dos Centros de As-sistência Psicossocial (CAPs), Christiano Mendes de Lima, nas duas unidades da institui-ção a frequência de usuários atendidos com regularidade aumentou. A média mensal que era de 150 pacientes saltou para 340 no bairro Tibery e 250 no bairro Luizote de Freitas.

Ele afi rmou que, para a

maioria dos casos de adicção por crack, a estrutura ofere-cida pelos Caps, que não têm internação, é sufi ciente. Já os casos mais graves devem ser atendidos na Psiquiatria da Universidade Federal de Uberlândia.

“Nem na Europa, onde a droga que mais assusta é a heroína, não há internação por mais de 45 dias, que é o tempo regular para a desin-toxicação e diminuição de

sintomas de abstinência mais importantes”, disse.

De acordo com Cristiano, falta estrutura para o mane-jo clínico nas comunidades. “Um fator importante no es-tado de saúde do usuário de drogas é a parte clínica. Des-nutrição e desidratação são muito comuns. Não há um médico 24 horas para tratar dos sintomas físicos da abs-tinência, como, por exemplo, uma parada cardíaca ou con-

CAPS

AJUDA ESBARRA NA LEGISLAÇÃOAntes das interdições,

a comunidade dirigida por Bárbara Carneiro e Luiz Neto tinha 135 internos. Com o cerco apertado contra a internação involuntária, eles começaram a liberar os pacientes que não queriam continuar em tratamento. Hoje, restam 54 deles.

“A regulamentação parece ter sido feita por leigos no as-sunto. Um adicto de crack não é o mesmo do que um usuá-

rio de maconha. Se alguém não tomar uma decisão para que o paciente se submeta ao tratamento, ele nunca vai se tratar”, disse Luiz Neto.

Um dos ex-internos que se suicidaram saiu da comu-nidade terapêutica do casal. “É um crime. Tive que ouvir um pai pedir pelo amor de Deus para salvar o filho dele, mas não pude fazer nada. O rapaz se matou no dia se-guinte”, disse.

INTERNAÇÃO

vulsão nestas comunidades”, afi rmou.

TERAPIA Após a interdição pelo Ministério Público, comunidades tiveram que se adequar à legislação e não podem mais receber internações involuntárias

ATENDIMENTO Mais da metade dos internos que estavam nas instituições de Uberlândia é de outras cidades e não retornou para as comunidades após as adequações

LUIZ E BÁRBARA são donos de comunidade que hoje atende 54 dependentes

FOTOS BETO OLIVEIRA

Eu ofereço o caminho e um lugar para eles se desintoxicarem e se fortalecerem. O restante, para o resto da vida, é por conta delesRODRIGO GOUVEIA | PROPRIETÁRIO DE INSTITUIÇÃO

EusereRO

COMUNIDADES TERAPÊUTICAS

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CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 18/7/2010

A3O 10º Arraiá da Fraternidade será realizado hoje em prol das obras do Complexo Assistencial Dr. Hansen. A partir das 10h, na rua Pio XII, no Santa Mônica. Informações pelo telefone 3236-0231

DORIVAL DIAS 26/9/2005

Nomes são bens preciosos no mercado> INADIMPLENTES APELAM A AMIGOS E FAMILIARES PARA DRIBLAR A AUSÊNCIA DE CRÉDITO E TER ACESSO A PARCELAMENTOS

CONSUMO

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

A geladeira dos so-nhos da diarista Leidiane (que pre-feriu não ter o so-

brenome publicado) custa, à vista, R$ 1.199. Ela não tem o dinheiro para pagar à vista, também não tem como com-provar o que recebe por mês e está devendo no banco. Mesmo sem crédito na praça, ela não vai deixar de realizar o seu sonho de consumo. A solução está na porta ao lado: uma vizinha vai emprestar o nome para que ela parcele a compra.

Assim como a vizinha de Leidiane, 47% dos con-sumidores das classes C e D (com até R$ 2,5 mil de renda mensal) têm o costume de

“emprestar” crédito, segun-do uma pesquisa do Instituto Data Popular, publicada pelo jornal Estado de Minas. Na mesma pesquisa, também fo-ram investigados os hábitos de participar de vaquinha ou bolão e vender auxílio-refei-ção (veja os números da pes-quisa no box nesta página).

O empresário Renato Ben-to de Faria, que administra uma loja de móveis popula-res há mais de 12 anos em Uberlândia, confi rma que a prática é mais comum do que se imagina, sobretudo entre família. “O crédito hoje está muito acessível, mas ainda assim muita gen-te usa o do outro, seja por-que não tem como com-provar a renda ou porque o nome está sujo. Muitos autô-nomos, por exemplo, fazem

isso”, disse. Segundo ele, o vendedor

sempre desconfi a de clientes que escolhem a mercadoria e querem pagar no nome de um parente que tem crédito, mesmo que ele esteja junto no momento da compra.

“No primeiro aperto, a pessoa para de pagar e a dí-vida fi ca no nome do outro. Isso cria muitos problemas para a loja. Mas não temos culpa se a pessoa se dispôs a ‘emprestar’ o nome para o outro comprar. Por isso, tentamos orientar o cliente, para evitar que ele seja ingê-nuo, mas a escolha é sempre dele”, afi rmou o empresário, que já se viu obrigado a re-jeitar vendas para evitar pro-blemas relacionados à prá-tica. “Isso tem que acabar”, disse.

MURIEL GOMES 02/02 /2009

47% DOS CONSUMIDORES DAS CLASSES C E D !COM ATÉ R$ 2,5 MIL DE RENDA MENSAL" TÊM O COSTUME DE “EMPRESTAR” CRÉDITO

FALTA de acesso ao crédito não impede consumidores de realizar os sonhos de consumo

AMIZADE ESTÁ ACIMA DO CONSTRANGIMENTO

DEVERES SÃO DOS TITULARES DA DÍVIDA

“EMPRÉSTIMO” DO NOME É INGENUIDADE

Para Leidiane, pedir o nome emprestado não é constrangi-mento, porque ela já emprestou várias vezes para a amiga. “Te-mos intimidade para isso, cres-cemos juntas. Já dei dinheiro para ela sem cobrar e cheques do banco. Quando estou em-pregada e em situação melhor,

ajudo. E agora ela está me aju-dando. Já aconteceu de eu não pagar e ela também fi car com o nome sujo. Mas desta vez, vou pagar direitinho, para ela não ter problema”, disse.

Duas vezes por semana, ela passa na porta de uma loja po-pular para trabalhar e “namora”

a geladeira. Os planos são subs-tituir a atual, que ela ganhou de presente de casamento da mãe, há mais de 18 anos. O modelo dos sonhos é branco e duplex. “Até o casamento já acabou. Está na hora de comprar, mesmo que no papel ela não seja minha”, afi rmou a diarista, entre risos.

O direito como consumidor de quem compra no nome do outro também não é garantido. Se a mercadoria tiver algum defeito, por exemplo, quem terá de correr atrás da loja e reaver o prejuízo é quem em-prestou o nome. “O direito é

de quem tem o nome na nota fi scal. Só essa pessoa pode registrar uma queixa contra algum estabelecimento co-mercial”, afi rmou o superin-tendente interino do Procon em Uberlândia, Marcelo Cunha.

Segundo ele, os consumi-

dores que chegam até o Pro-con nesta situação são orien-tados a fazer uma procuração. “Com um documento assinado pelo dono do nome da nota fi scal, o verdadeiro consumidor pode reclamar seus direitos”, disse Cunha.

Se na hora de comprar uma mercadoria no nome de outra pessoa a amizade ou o paren-tesco fala mais alto, na hora de pagar nem sempre isso aconte-ce. Os problemas fi nanceiros de Cátia (nome fi ctício) começaram quando ela emprestou o cartão de crédito de uma loja de depar-tamentos para a cunhada com-prar roupas para a família.

A parente gastou todo o limi-te do cartão de Cátia e dividiu a conta em 16 vezes, com muitos

juros. “Ela se empolgou na hora e garantiu que ia pagar. Agora, ela e o meu irmão estão desem-pregados e eu que vou ter que pagar a conta para limpar o meu nome. Pode uma coisa dessa? Estou sem dinheiro, sem nome e preciso comprar um sapato urgente para a minha fi lha. Vou pedir o cartão da minha mãe emprestado”, afi rmou, rindo, ao perceber a ironia.

Quem empresta o nome não tem direito de reclamar

na Justiça se não receber o combinado. “Legalmente, quem compra adquire uma obrigação para si. É um do-cumento assinado por ele, no qual contraiu uma dívida. A lei é taxativa e não adianta que-rer ir contra ela. O Direito não reconhece este tipo de nego-ciação. Ingenuidade de quem emprestar o nome”, disse a advogada especialista em Direito do Consumidor, Karen Canuto.

INTIMIDADE

PROCON

EVENTUALIDADES

CONSUMIDOR POPULAR (CLASSES C e D)

› 47% já emprestaram o cartão de crédito para parentes ou amigos

› 46% vendem auxílio-re-feição recebido no trabalho

› 39% fi zeram vaquinha para comprar nos últimos 30 dias

› 85% já participaram de bolão da Mega-Sena

PERFIL

SOLUÇÃO para muitos é “emprestar” cheques e cartões de terceiros, que assumem o risco em caso de não pagamento

MANOEL SERAFIM 25/02/2008

PARA o empresário Renato Bento de Faria, prática pode acarretar problemas

VALTER DE PAULA

Fonte: Instituto Data Popular

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CIDADE & REGIÃOA6

CORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 20/6/2010

Benefícios e praticidade na cozinha > ESCOLHA E MANUTENÇÃO DAS PEÇAS DEVE LEVAR EM CONTA OS DIVERSOS TIPOS DE MATERIAIS DISPONÍVEIS NO MERCADO

PANELAS

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

A escolha parece ser fácil durante a compra de pane-las. As peças são

escolhidas de acordo com o orçamento do compra-dor e com a aparência do utensílio. Apesar de serem indispensáveis na maio-ria dos lares brasileiros, a compra é feita sem maio-res cuidados. O que poucos consumidores sabem é que alguns materiais trazem benefícios à saúde, outros são indiferentes e há ainda os que podem ser prejudi-ciais.

Estes resultados depen-dem da forma como as pa-nelas são usadas, lavadas e guardadas. De acordo com a nutricionista Flaviana Pe-reira de Oliveira, especia-lista na área de produção, há pouca informação sobre o assunto à disposição dos consumidores. “A maioria das pessoas não sabe como usar as panelas que tem em casa ou escolher a mais adequada. Muitas vezes, as donas de casa cometem er-ros que podem facilmente ser evitados”, disse.

O principal erro, segun-do ela, é usar a esponja de aço para limpar os utensí-lios. “Primeiro, porque a esponja tira a proteção das panelas e arranha a pelícu-la que evita contaminação,

no caso das de alumínio, por exemplo. Depois, por-que ela solta resíduos e não é segura. Em cozinha onde haja um nutricionista por perto, esponjas de aço não entram. O ideal é usar fi -bras naturais para limpar”, afi rmou a especialista.

O cozinheiro também não pode se esquecer de que existe a interação entre os alimentos e as panelas. A panela de ferro pode ser um exemplo. Ao utilizá-la para cozinhar ensopados, refogados e molhos – uma tradição, sobretudo na cozi-nha mineira –, o alimento fi ca enriquecido com ferro e ajuda no combate à ane-mia.

FRITURAS

Já no caso de frituras, seu uso não é recomendado, porque a substância pode deteriorar o óleo. “Todas as panelas têm vantagens e desvantagens. Tudo depen-de do cuidado de quem as usa”, disse a nutricionista (leia mais nesta página).

Os únicos dois tipos de panelas que não liberam substâncias, as de vidro e as de titânio, não foram en-contradas à pronta-entrega nas lojas de utilidades do-mésticas de Uberlândia. As de vidro não são vendidas nem pela internet, onde só foram encontradas unida-des usadas.

KRIS NARDINI possui cerca de 50 modelos de panelas de vários materiais e mantém os cuidados com a escolha, a limpeza e o modo de guardá-los

PAULO AUGUSTO

UTENSÍLIOS EXIGEM ‘CURA’

RESÍDUOS PODEM PREJUDICAR

Em vez do preço e da es-tética, na hora de escolher uma panela é preciso ter em mente três fatores: a saúde dos usuários, a praticidade e a funcionalidade da peça. Há materiais que precisam de um preparo especial antes do uso. O processo, chamado de cura, varia de acordo com o tipo da panela.

As de inox, por exemplo,

liberam níquel nos primeiros usos. Para evitar a contami-nação, é preciso ferver água por três vezes antes de pre-paro alimentos. As de barro requerem impermeabilização, com óleo e fervura, assim como as de ferro. Durante a compra, o consumidor deve buscar informações sobre como realizar o procedimento com segurança.

De acordo com a nutri-cionista Flaviana Pereira de Oliveira, os danos à saúde causados pelos resíduos liberados nas panelas não chegam a ser graves. Po-rém, eles devem ser evita-dos. Uma pessoa saudável pode eliminar o excesso de substâncias tóxicas, mas se houver algum comprome-timento da saúde, a pessoa pode ter problemas.

Um doente crônico dos rins ou fígado, por exemplo, deve tomar mais cuidado, já que o processo de eliminação das substâncias pelo orga-nismo é menos efi ciente. Em alimentos preparados para crianças e idosos também é necessário ter cautela.

A intoxicação pode acon-tecer por metais nocivos,

como o alumínio, ou resídu-os de alimentos não retira-dos das panelas. Cuidados no manuseio e limpeza das peças evitam que a superfí-cie seja comprometida e que resíduos sejam acumulados.

Panela de cobre lava-se com limão. Já a de ferro, para evitar a ferrugem, deve levar uma fina camada de óleo ao ser guardada. As de barro e de pedra devem ser secadas na chama do fogão para evitar mofo.

“São pequenos cuidados que eu tomo. Dá trabalho, mas ao mesmo tempo são rituais preciosos, criados pela sabedoria popular, mas que a ciência comprova a cada novo estudo”, disse Kris Nardini, dona de casa e colecionadora de panelas.

ANTES DE USAR

DOENTES

“PREFIRO GANHAR PANELA A UMA JOIA”, DIZ COLECIONADORAA dona de casa e blogueira

Kris Nardini é colecionadora de panelas. Desde a infância, quando rondava a cozinha da avó, descendente de italianos, ela era fascinada pela alquimia do preparo de alimentos. Se-gundo ela, a família é famosa pelas delícias que prepara e sempre se reuniu em torno do fogão. Na cozinha, ela tem cer-ca de 50 modelos de panelas diferentes, de todos os mate-

riais que já encontrou.Em datas comemorati-

vas, como aniversário, Dia das Mães e Natal, ela prefere ganhar utensílios e livros so-bre culinária a qualquer outro produto. “Sou apaixonada. Prefi ro ganhar uma panela a uma joia”, disse.

Além das que ela ganhou e comprou, sobretudo em via-gens, Kris Nardini tem pane-las de mais de 80 anos herda-

das dos avós. Nos armários, ela guarda uma pequena for-tuna em panelas. “Cada uma delas carrega uma história, uma tradição. As minhas pre-diletas são as mais antigas. Tenho um fogão a lenha na minha casa só para usá-las.”

A dona de casa, que cozinha todos os dias para o marido e fi lhos e, aos fi ns de semana, para amigos, diz que a preocu-pação com a escolha da panela

certa e o cuidado que se toma ao limpá-las e guardá-las é permanente. “Não precisamos correr riscos desnecessários. Cozinhar é um prazer e é as-sim que deve ser. Sigo todos os processos de cura, que considero verdadeiros rituais, e procuro saber tudo sobre o material”, disse Kris Nardini, que mantém o blog Cozinhan-do para Relaxar (www.cozi-nhandopararelaxar.com).

GOSTO

Ferro

OPÇÕESPRINCIPAIS VANTAGENS E DESVANTAGENS, DE ACORDO COM OS TIPOS DE MATERIAIS

MATERIAL VANTAGENS DESVANTAGENS PREÇO*

AlumínioLeveza Aderência

R$ 40Rápido Aquecimento Altera a forma com o tempoPraticidade Liberação de alumínio

AntiaderenteRápido aquecimento O material se solta com o tempo

R$ 90Fácil higienização Formação de aminas cancerígenasPraticidade Não pode ser levada ao fogo vazia

BarroVai ao forno e na chama Peso

R$ 40Mantém o alimento aquecido Requer cura

CerâmicaMantém o aquecimento Liberação de chumbo

R$ 80Fácil higienização Queima facilmente o alimento

CobreRápido aquecimento Altera a cor do alimento

R$ 70Aquecimento homogêneo Libera cobre

EsmaltadoPeso Queima facilmente o alimento

R$ 70Fácil higienização O material se solta com o tempo

FerroPrevine anemia Peso

R$ 70Durabilidade Interfere na cor e saborMantém o calor do alimento Cuidados ao secar e guardar

InoxFácil higienização Escurece com o tempo

R$ 90Durabilidade Libera níquel nos primeiros usosPode ser usada para guardar Requer cura

Pedra-sabãoAntiaderente natural Peso

R$ 65Mantém o aquecimento FragilidadeLibera cálcio e ferro Requer cura

TitânioFácil higienização Preço

R$ 250Atóxica Superaquecimento

VidroVisualização do alimento Fragilidade

*Não encontradaAtóxico Aderência

Pode ser usado para guardar PesoVALOR MÉDIO DE UMA PEÇA DE 2 LITROS

Pedra-sabão

Cerâmica

Alumínio

FOTOS PAULO AUGUSTO

Em cozinha onde haja um nutricionista por perto, esponjas de aço não entram. O ideal é usar fi bras naturaisFLAVIANA PEREIRA | NUTRICIONISTA

KRIS NARDINI

SIGO TODOSOS PROCESSOSDE CURA EPROCURO SABERTUDO SOBRE OMATERIAL

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O QUE PODE FAZER A DIFERENÇA

CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 20/12/2009

A4

Para economizar tempo e dinheiro> ESPECIALISTA E AFICIONADO POR PLANEJAMENTO DÃO DICAS QUE PODEM RESULTAR EM MELHOR APROVEITAMENTO DO DIA

OTIMIZAÇÃO

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

O dia tem as mesmas 24 horas para to-dos. Mas algumas pessoas conseguem

aproveitá-las melhor do que outras, com métodos e há-bitos para otimizar o tem-po. Além de conseguirem produzir mais nas horas de trabalho, têm mais disponi-bilidade para o lazer e o des-canso.

Segundo o especialista em gestão e planejamento Tony Amaral, a prática do geren-ciamento do tempo passa, invariavelmente, pela orga-nização e disciplina. Ele de-senvolveu e patenteou um método que oferece ferra-mentas e técnicas para faci-litar a vida de quem procura ter mais tempo para viver e trabalhar melhor.

“O primeiro passo, sem-pre, é ter um plano. Todos nós temos uma missão, que procuramos cumprir. Você

deve montar estratégias e defi nir um controle na sua vida para alcançá-la. Não dá para querer tudo. É preciso escolher prioridades e man-ter o foco”, disse.

A sugestão do especialista é se organizar por semana, e não mensalmente, e estabe-lecer metas diárias. “Quando chega o fi m do dia e perce-bemos que não foi produti-vo, é frustrante. Mas se você percebe que fez o que era necessário, vai estar mais motivado no dia seguinte. O importante é sair da frustra-ção e ter autonomia.”

Ao se planejar, é preciso estar atento ao seu ritmo de trabalho e respeitar seus limites. Afi nal, estabelecer um prazo impossível de ser cumprido não adianta. “As pessoas têm que ter em mente que devem saber di-mensionar seus esforços. O tempo vale muito para ser aproveitado de maneira in-correta”, disse. TONY AMARAL, especialista em gestão e planejamento do tempo, diz que é preciso escolher prioridades e manter o foco; metas devem ser diárias

PAULO EDUARDO VIEIRA tem método próprio para ganhar tempo e economizar dinheiro

TONY AMARAL

O PRIMEIROPASSO ÉSEMPRE TERUM PLANO

DIA DE JORNALISTA “COMEÇA SEMPRE ONTEM”Frequentemente, o jor-

nalista Paulo Eduardo Vieira, de 35 anos, é alvo de piadas no ambiente familiar e no trabalho. Em casa, é chama-do de “Sargentão”, por ser extremamente organizado e autodeclarado “doente” pela economia de tempo e dinheiro. O hábito começou ainda na infância e, como ele mesmo disse, é aprimorado a cada dia.

Ele gosta de ganhar tem-po em tudo o que faz e, para isso, dispõe de metodologia própria. Por exemplo, não vai

ao centro da cidade; prefere resolver problemas pelo tele-fone ou internet; quando quer pagar uma conta que não está programada ou no débito au-tomático, vai ao caixa eletrô-nico, de preferência à noite, quando não tem fi la. Mas, se a ida ao centro é indispensável, vai de moto, porque foge do trânsito e encontra estacio-namento mais facilmente.

Para sair mais rápido de casa pela manhã, ele deixa tudo organizado no dia an-terior – roupas e sapatos, agenda, celular, chaves do

SUPERORGANIZADO

carro. “Meu dia começa sem-pre ontem. É uma questão de planejar. Assim, posso até acordar 20 minutos mais tarde, porque não há risco de atraso”, disse.

Um hábito que ele mantém é descobrir rotas mais fáceis e distâncias menores nos ca-minhos que têm de percorrer. “Olho em mapas. Prefi ro ca-minhos em linha reta. Chego antes e ainda pago menos combustível”, afi rmou. Para as férias, organiza roteiros meses antes e contabiliza todo o gasto, até os centa-vos. “Gosto de ter o controle, de saber exatamente o que gasto com cada coisa. É uma mania que não acaba nunca.”

DICAS

Pequenos hábitos no dia a dia podem fazer a diferença ao longo de um mês. Veja algumas dicas:

Para quem é afi cionado por tecnologia e procura ferramentas para se organizar, o Google oferece muitas opções para o trabalho e a vida pessoal. Todas são gratuitas. Veja algumas delas:

> CHECK IN PELO CELULAR OU INTERNET

Quem viaja muito de avião e não gosta de perder tempo nas fi las para o embarque pode se benefi ciar da tecno-logia. Feito o check in, chegar com 20 minutos de antecedência é sufi ciente

> DÉBITO EM CONTA

Para fugir das fi las nos bancos ou agências lotéricas no dia de vencimento das contas, programe o débito automático da sua conta corrente. Além de não pagar juros com possíveis atrasos, é uma preocupação a menos

> LEMBRETES NO CELULAR

Todos os aparelhos disponíveis no mercado dispõem da função de alarme. Aproveite e se avise com antecedência de 20 minutos do próximo compromisso

> LISTAS

Crie listas do que fazer. Elas podem substituir a agenda e ser diárias ou semanais. Também quando for fazer compras, é sempre bom ter em mãos o que levar para casa (isto evita gastos desnecessários)

> PLANEJAMENTO

Se for indispensável ir ao Centro da cidade, junte várias coisas para serem resolvidas de uma só vez

> GOOGLE CALENDAR

Em interface de fácil assimilação, é possível criar compromissos, modifi car eventos, enviar convites, criar agendas múltiplas. Esta ferramenta também é integrada com o Gmail

> GOOGLE DOCS

Plataforma de trabalho com textos, tabelas e slides. Além de arma-zenar os documentos, eles podem ser manipulados diretamente do navegador. A vantagem é ter acesso aos documentos de qualquer terminal

> GOOGLE MAPS

Permite a consulta de mapas rotas para qualquer lugar do mundo

> GOOGLE READER

Agregador de notícias, junta jornais do mundo todo e blogs. Foi modifi cado recentemente para utilização mais dinâmica e efi ciente

> IGOOGLE

Cria na página inicial do seu navegador uma área de trabalho, que agrega todas as ferramentas do Google, lembretes, e-mail e mais inúmeras funções que são reunidas em uma página só

FRASES DA SEMANADeixo a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, mas não abandono as minhas convicçõesAÉCIO NEVES | GOVERNADOR DE MINAS Sobre a decisão de abrir mão da disputa ao Palácio do Planalto em 2010

PAULO AUGUSTO

BETO

OLIV

EIRA

a

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CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 21/3/2010

A3

Famílias estrangeiras LIDERAM ADOÇÕES

> EXIGÊNCIA DE CANDIDATOS BRASILEIROS À ADOÇÃO FAZ COM QUE A MAIORIA DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES PERMANEÇA NOS ABRIGOS

NOVO LAR

SELMA SILVA | EDITORALYGIA CALIL | REPORTER

Oitenta e seis crian-ças e adolescentes que vivem em oito instituições de

acolhimento, em Uberlân-dia, esperam por um novo lar. Este número poderia ser menor se fossem tam-bém menores as exigências das famílias inscritas para a adoção. A preferência da maioria dos candidatos é por crianças de cor bran-ca, de até 3 anos de idade – prioritariamente até um ano -, que sejam saudáveis e que não sejam prematu-ras. Para grupos de irmãos, a chance de serem adotados por famílias brasileiras é mínima. Como a maioria das crianças disponíveis para adoção não se encai-xa neste perfi l, o caminho

é aberto para famílias es-trangeiras, que lideram o número de adoções em Uberlândia – 16 das 29 formalizadas no ano passa-do pela Vara da Infância e da Juventude.

De acordo com Neuza Martins Borges Pereira, res-ponsável pelos processos de cadastramento de candida-tos à adoção e de crianças, enquanto 95% das famílias brasileiras escolhem o per-fi l do ‘futuro fi lho’, o mes-mo porcentual de famílias inscritas em outros países não faz exigências. “Elas querem adotar uma crian-ça para aumentar a família. Não querem fazer de conta que tiveram um fi lho bioló-gico para mostrar para a so-ciedade. No Brasil é assim”, afi rmou.

Ainda segundo Neuza Pe-reira, outro fator que limita

as adoções seja em Uberlân-dia ou no país são os grupos de irmãos. A Justiça prefere que eles façam parte de uma mesma família para não se separarem. “Quando é ado-ção internacional a gente não tem esta difi culdade”, disse a servidora.

A juíza da Vara da Infân-cia e da Juventude da Co-marca de Uberlândia Édila Moreira Manosso reforça a divergência que há entre as exigências dos candidatos brasileiros e as caracterís-ticas dos menores destituí-dos do poder familiar. “Te-mos muitas crianças para serem adotadas, mas não dentro do perfi l preferi-do.” Segundo ela, menores que atendem aos requisitos impostos pela maioria dos candidatos são adotadas assim que se tornam dispo-níveis.

INSCRITOS NA COMARCA TÊM PRIORIDADE Mesmo com uma lista úni-

ca que compõe o cadastro nacional de pretendentes e de crianças aptas a serem adotadas, os inscritos em Uberlândia têm prioridade. De acordo com a juíza Édila Moreira Manosso, indepen-dentemente da posição que a família ou pessoa interessada esteja na lista nacional, sendo a primeira na fi la da comarca, ela concretiza o processo de adoção.

A consulta à lista de candi-datos de outras comarcas de Minas Gerais e, na sequên-

cia, do país, só é feita depois de constatado que não há pretendente na cidade para aquele perfi l de criança.

No caso de adoção in-ternacional, a criança só é disponibilizada depois de ter passado pelo cadastro nacional e não ter encon-trado candidato para as ca-racterísticas dela. Segundo Neuza Pereira, responsável pelos cadastramentos na comarca de Uberlândia, a inscrição é feita na Comis-são Estadual Judiciária de Adoção (Ceja), em Belo Ho-

rizonte. É este órgão que faz a intermediação com a famí-lia estrangeira, que vem ao Brasil, depois de passar por avaliação e outros procedi-mentos em seu país de ori-gem, para adotar uma crian-ça previamente definida.

O período de convivência entre os candidatos a pais e o ‘fi lho’ ou ‘fi lhos’ é obrigato-riamente de 30 dias. Só de-pois deste período, se houver aceitação de ambas as partes, é que a viagem de volta pode ser feita com uma nova família constituída.

FILA

EXIGÊNCIAS SÃO TENDÊNCIA NACIONAL O nível de exigência dos

candidatos de Uberlândia quanto ao perfi l da criança que pretendem adotar segue, em alguns requisitos, uma tendência nacional. De acordo com dados do Cadastro Na-cional de Adoção (CNA) dos 26.735 pretendentes registra-dos no sistema, 78,6% querem crianças com no máximo 3 anos de idade. Já a preferência pela raça branca foi citada por 39,2% dos candidatos.

O cadastro aponta ain-da que 85,7% dos inscritos

querem adotar apenas uma criança e 13,4%, duas. Das 4.578 crianças e adolescen-tes aptos a serem adotados, 35,2% são brancos e 71,89% deles possuem irmãos, em-bora nem todos estejam tam-bém cadastrados no CNA. As estatísticas revelam ainda que 45,7% das crianças são pardas e 17,8% negras. Os in-dígenas representam 0,76% e a raça amarela, 0,42%.

De acordo com Vera de Oli-veira Tavares, coordenadora do Núcleo de Instituições da

Vara da Infância e da Juven-tude da Comarca de Uberlân-dia, os fatores que fazem com que os estrangeiros adotem mais crianças no Brasil do que os candidatos nacionais são idade, cor e os grupos de irmãos cadastrados. A maio-ria, segundo ela, das crianças com adoção internacional é parda. Algumas possuem, por exemplo, défi cit neuromotor ou difi culdade de aprendiza-gem, nada que um tratamento adequado e o amor da nova família não revertam.

ESTATÍSTICAS

CASAL ESPERA POR CRIANÇA HÁ UM ANO E MEIO Há um ano e meio, uma

analista de tecnologia, de 47 anos, que prefere não ter o nome publicado espera, ao lado do marido, pela adoção de uma criança. O casal não tem muitas exigências: quer uma criança de qualquer sexo, raça ou condição de saúde, mas que tenha até 3 anos de idade.

Quando fi cou sabendo so-

bre a nova lei e a unifi cação da lista de espera, por meio do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), achou que logo conse-guiria o fi lho. “Fizemos pro-postas em todas as comarcas em um raio de mil quilômetros de Uberlândia. Achei que seria mais rápido. Ficamos ansio-sos, porque não temos como acompanhar o processo de

perto. Não temos muita infor-mação”, disse.

Casada há 18 anos, ela de-cidiu adotar uma criança há dois anos, cinco anos depois de desistir de tentar engravi-dar. “Ainda acho que o sistema atual é o correto, com priorida-de para a família biológica. Va-mos continuar esperando para adotar. É preciso ter paciência.

ANSIEDADE

MENINAS GANHAM UMA NOVA FAMÍLIAA professora Sara Vargas

Rangel e Pereira e o marido, o gerente comercial Rodrigo Rangel e Pereira, moradores do bairro Cidade Jardim, re-gião sul de Uberlândia, espe-raram cinco anos para con-seguirem aumentar a família, que já tinha um fi lho biológico.

Ao contrário da maioria dos candidatos à adoção no Brasil, o casal exigia apenas que a criança tivesse até 3 anos, idade próxima à do fi lho Lucas. Eles queriam um me-nino ou menina, de qualquer raça, sem restrições a doen-ças e estavam dispostos a adotar irmãos.

Hoje, Sara e Rodrigo têm duas fi lhas (por adoção) gê-

meas — Kely e Kathleen — e a guarda de Jéssica, cujo pro-cesso de adoção está em an-damento na Justiça. As me-ninas têm 8 anos, e Lucas, 11. “Ao conhecermos as meni-nas [com 1 ano de idade], nos encantamos. Eram as nossas fi lhas. É um sentimento tre-mendo, uma empatia, uma coisa inexplicável”, afi rmou a mãe.

Enquanto a adoção não caminhava, o casal viajava com frequência a São Pau-lo, onde viviam as meninas, em uma instituição de aco-lhimento. Depois de pratica-mente concluído o processo, os pais biológicos pediram a guarda das fi lhas. “Nos

afastamos do processo para protegê-las e evitar mais so-frimento”, disse Sara.

Enquanto eles sofriam com o afastamento das gê-meas, uma assistente social de uma cidade da região de Uberlândia ligou falando de Jéssica. Dois dias depois, a garota já estava morando com o casal.

Logo em seguida, a Vara de Infância de São Paulo entrou em contato afi rmando que as gêmeas haviam sido no-vamente abandonadas pelos pais. “Não deu outra. Fomos atrás das nossas fi lhas. Cos-tumo dizer que para ser fi lho não é preciso ser gerado na barriga, mas sim no coração.

DOSE TRIPLA

CADASTRO BENEFICIA CANDIDATOS E JUÍZESO Cadastro Nacional de

Adoção (CNA) foi criado em abril de 2008 pelo Conse-lho Nacional de Justiça (CNJ) como uma ferramenta para ajudar os juízes da condução dos processos de adoção e ampliar as oportunidades para as famílias, que podem se inscrever em diversos es-tados e fazer parte de uma lista única, de acordo com o perfi l de criança escolhido.

Na avaliação da juíza Édila

Moreira Manosso, o cadastro trouxe benefícios. “Antes, a pessoa podia se cadastrar em varias cidades, mas a busca era feita em cada uma das comarcas. Além disso, o ca-dastro nacional trouxe mais transparência ao processo e segurança aos juízes”, afi r-mou.

Podem se inscrever no CNA casais e pessoas sem companheiro ou companhei-ra, inclusive homossexuais.

LISTA ÚNICA

JUÍZA Édila Moreira diz que maioria das crianças não se encaixa no perfi l exigido

LUCAS, Rodrigo Rangel (pai), Kathleen, Kely, Sara Vargas (mãe) e Jéssica; família tem duas adoções e a terceira em andamento

NÚMEROS

16 DAS 29 CRIANÇASADOTADAS EMUBERLÂNDIA, NOANO PASSADO,FORAM PARAOUTROS PAÍSES

Uberlândia tem 108 famílias inscritas paraadoção e 86 crianças e adolescentes aptosa deixar as instituições de acolhimento

Crianças e adolescentesaptos a serem adotados 86

Candidatos de Uberlândiainscritos para adoção 108

meninas39meninos47até 6 anos21de 7 a 12 anos38de 13 a 18 anos27

BETO

OLIV

EIRA

PAULO AUGUSTO

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CIDADE & REGIÃOCORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 23/8/2009

A6

Bairro tornou-se “terra de ninguém”> MORADORES RECLAMAM DE ABANDONO E DENUNCIAM PRÁTICAS ILÍCITAS NO BAIRRO CRIADO PARA SER CONDOMÍNIO

MANSÕES AEROPORTO

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

As recentes desco-bertas de clínicas ilegais para o tra-tamento de depen-

dentes químicos nas Man-sões Aeroporto expõem um problema crescente na área. Aproveitando-se das condi-ções do bairro - afastado, cercado e de baixa densida-de demográfi ca -, comer-ciantes mantêm atividades ilícitas no local, longe da fi s-calização e da vigilância do poder público.

No mês passado, a Justiça fechou no bairro duas ins-tituições para adictos sem alvará de funcionamento, com fortes indícios de uso de tortura e cárcere priva-do. A interdição partiu de denúncias de moradores, que procuraram o Ministé-rio Público e a Vigilância Sanitária.

Segundo um morador que pediu para não ser identifi cado, a aparente paz das Mansões e os altos muros das residências são ideais para que os comer-ciantes possam esconder suas atividades à margem da lei. Além das cerca de 10 clínicas de recuperação de dependentes, há, de acordo com ele, casas de prostitui-ção, tráfi co e consumo de drogas no local.

Outro homem que mora na vizinhança há um ano defi niu o bairro como “ter-ra de ninguém”. “Está aban-donado. Ninguém vem aqui ver o que está acontecendo e, quando há algum tipo de

reclamação, difi cilmente aparece alguém para apu-rar e resolver o problema”, disse.

“As pessoas sentem se-gurança para fazer isso porque têm a certeza de que não serão descobertas. Os vizinhos sabem o que acontece, mas ninguém quer criar problema e pou-cos são os que denunciam”, afi rmou uma moradora, que vive no bairro há mais de dez anos.

CONFLITOS

As Mansões são dividi-das por um confl ito inter-no, entre duas associações de moradores que defen-dem visões opostas para o aproveitamento dos lotes.

A briga entre os proprie-tários começou na década de 1990, quando várias ca-sas eram alugadas para fes-tas que incomodavam os outros moradores. Um gru-po defende a abertura do bairro a atividades comer-ciais e a retirada da cerca viva. O outro luta para que ele seja um condomínio re-sidencial e área de proteção ambiental.

MORADORA DO BAIRRO

NÃO DÁ PARA FICAR ASSIM, DESPROTEGIDO DE TODOS OS LADOS

FESTAS TUMULTUAVAM BAIRROCriadas há 30 anos na zona

rural de Uberlândia para ser um recanto de descanso, as Mansões Aeroporto foram engolidas pela malha urbana ao longo do tempo. Localizado na zona Leste do Município, é um bairro arborizado, com lo-tes mínimos de 5 mil metros quadrados.

Dos 402 lotes, espalhados na área de 42 alqueires, cer-ca de 50% estão ocupados por casas luxuosas, a maioria com amplos espaços verdes. Há imóveis que chegam a ter mais de dez quartos e várias piscinas, construídos para se-rem alugados para recreação.

O bairro é fruto de quatro loteamentos feitos pela imo-biliária City Campo, de 1978 a

1981. Na década de 1980, as construções começaram a ser erguidas.

Na década seguinte, houve uma grande evasão de mo-radores, incomodados pelas festas, que chegavam a reu-nir mais de mil pessoas. Os constantes confl itos entre os moradores conseguiram coibir as festas já no início dos anos 2000.

A partir de então, a área voltou a ser ocupada por mo-radores em busca de conforto. Há cerca de dois anos, as pri-meiras clínicas para depen-dentes químicos foram insta-ladas no local, dando abertura, segundo os moradores, a ou-tras atividades ilícitas exerci-das no bairro.

HISTÓRIA

MORADORES PEDEM ATENÇÃOO presidente da asso-

ciação de moradores das Mansões Aeroporto (As-pma), Thogo José Lemos, afirmou que desconhece as ilegalidades denunciadas à reportagem por outros mo-radores do bairro.

Segundo ele, a única e mais notória atividade co-mercial praticada são as clínicas para dependentes químicos, que ocuparam o lugar das casas alugadas anteriormente para festas.

Ele afi rmou, porém, que os moradores sentem o des-caso e a omissão do poder público, que, de acordo com ele, não se faz presente no bairro. “Há uma lacuna dei-xada pelo poder público que nós queremos suprir. Temos tentado cuidar e preservar do que é nosso, mas não te-mos apoio. Não há justifi ca-tiva para isso”, afi rmou.

A estratégia adotada pela associação é mobilizar os moradores para a pre-servação ambiental, numa tentativa de integração en-tre os vizinhos e de chamar a atenção da sociedade para o bairro. “O nosso objetivo é atrair pessoas interessadas em morar e cuidar da área, para que não haja intenções de exploração não-residen-cial do bairro”, afirmou.

Representantes da As-sociação de Proprietários, Moradores e Amigos do bairro Mansões Aeroporto (Ampabma) foram procura-dos pela reportagem, mas não quiseram falar sobre o assunto. O presidente da entidade, Edmundo Alves, disse que só se manifesta por meio do fotolog da as-sociação e não quis comen-tar as denúncias de irregu-laridades no bairro.

LIDERANÇA

ZONA PARCIAL DE PRESERVAÇÃONa avaliação da Prefeitura

Municipal de Uberlândia, se-gundo o secretário de Planeja-mento, Rubens Kazuchi Yoshi-moto, as Mansões Aeroporto não são um condomínio e têm a particularidade de ser uma Zona de Proteção Parcial, de acordo com a lei 245 de 2000, que defi ne o zoneamento, uso e ocupação do solo.

Ele afi rmou que a estrutura do bairro, por ser composta exclusivamente de residên-cias, difi culta a fi scalização. “É difícil saber se é casa, clínica ou qualquer outra coisa. Então fi camos dependentes de de-núncias dos moradores, que normalmente sabem o que acontece por trás dos muros”, disse.

DEFESA

LIXO E ENTULHO NAS RUASOs moradores do bairro

Mansões Aeroporto denun-ciam também de lixo jogado em terrenos baldios, entulho de construções pelas ala-medas, áreas comuns aban-donadas, como a praça dos Araújos, e iluminação pública insufi ciente.

O secretário de Serviços Urbanos Wilmar Ferreira da Silva refutou as acusações. Ele afi rmou que todos os serviços feitos na cidade são extensivas às Mansões Aero-porto.

“Fizemos um serviço de roçagem no bairro inteiro há duas semanas. A iluminação também é a mesma de outros bairros. Estamos trocando as

lâmpadas por outras de vapor de sódio. Isso já foi feito em 40% da área. Pretendo, tam-bém, montar um projeto, com os moradores, para o aprovei-tamento da praça dos Araújos, com bancos, plantio de mudas e o que mais for necessário”, afi rmou.

Sobre a fi scalização supos-tamente defi ciente nas ime-diações, ele disse que todas as solicitações dos moradores são atendidas e que as de-núncias são apuradas.

“Não temos pessoal su-fi ciente para estar em todas as áreas da cidade, por isso contamos com a população para denunciar”, disse o se-cretário.

RECLAMAÇÃO

THOGO LEMOS defende a preservação do verde e da tranquilidade do local

MANOEL SERAFIM 22/12/2008

ALAMEDA EUROPA está cheia de galhos de árvores não recolhidos pela PMU

BETO OLIVEIRA

RUAS ARBORIZADAS e lotes de cinco mil metros abrigam casas com muitos quartos, piscinas e áreas verdes, durante muito tempo usadas para festas

BETO OLIVEIRA

OCORRÊNCIAS POLICIAIS EM 2009

MANSÕES AEROPORTO

Furtos a residência 9Ameaças 2Homicídio consumado 1Lesão corporal 1Furto de veículo 1Roubo à mão armada a transeunte 1

FONTE: 9ª REGIÃO DA POLÍCIA MILITAR

FRASE DA SEMANAPassamos a suspeitar de todos os casos de gripe para preservar a vida dos pacientesDALTRO CATANI | DIRETOR DA REGIONAL DE SAÚDE

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CORREIO DE UBERLÂNDIA | DOMINGO, 26/7/2009 CIDADE | B3

O trabalho é duro, mas com-pensa. A margem de lucro dos feirantes varia de 30% a 50%, dependendo do produto. Segun-do o presidente do Sindicato dos Feirantes de Uberlândia, Obismar Barbosa da Silva, as frutas são mais lucrativas que as verduras.

A maior vantagem, de acordo com ele, é que o investimento do feirante é praticamente só o pro-duto, já que não precisa pagar impostos, energia e outros tribu-tos que um comerciante teria se abrisse uma loja, por exemplo.

Na avaliação de tio Pepe, além de ser mais vantajoso, man-ter a banca na feira é muito mais prazeroso do que ter uma loja no Centro. “Comprei minha casa, criei os meus fi lhos com dignida-de, tudo com dinheiro daqui. Para mim, feira é uma coisa que nunca vai acabar. Vem desde antes dos tempos de Cristo”, disse.

Para oferecer melhores preços aos clientes e vender mais, o feirante tem de estar atento aos preços dos produtores. Por isso, todos os dias, exceto às terças-feiras, Edu Elisiário dos Santos acorda às 5h e vai à Ceasa antes de ir para a feira.

Na central de abastecimento,

o preço das mercadorias varia diariamente. “Temos que ficar espertos. Quando acho boas promoções, trago mais para a feira, ponho um preço melhor e conquisto mais clientes”, disse.

Enquanto a maioria dos feiran-tes busca suas mercadorias na Ceasa, Geraldo Jerônimo Freires, 59 anos, 31 deles vendendo pescado, vai um pouco mais longe. Uma vez por semana, ele viaja a São Simão (GO), a 260 quilômetros de Uberlândia, para comprar até 500 quilos de peixe congelado. Segundo ele, a rotina vale a pena.

“Eu gosto da feira. O serviço é muito pesado, mas é recompen-sador. Graças a Deus, consegui dois carros e três imóveis do meu suor. Para dar certo, tem que ter garra”, disse.

Festa

É em 25 de agosto que se comemora o Dia do Feirante. De acordo com Selísia Pires, é nesta data a oportunidade de todos eles se encontrarem. A festa, nos últi-mos dois anos, foi realizada no Camaru. “É festa para mais de mil pessoas, uma beleza. Churrasco, cerveja e forró a noite toda”, disse.

FEIRA LIVRE

PODE CHEGAR. É DIA DE FEIRA Feirantes criam osfi lhos e constroemsuas vidas vendendo verduras fresquinhas

LYGIA CALIL [REPÓRTER][email protected]

“É dia de feira, quarta-feira, sexta-feira, não importa a feira. É dia de feira, quem quiser pode chegar.” Os versos da música “A Feira”, gravada pela banda O Rappa, representam bem a rotina de Pompílio Macedo — o tio Pepe —, 58 anos.

Desde 1964, quando as feiras começaram na cidade, ele já es-tava lá, aos 13 anos, a ajudar o pai em uma banca de cereais. Após 45 anos, continua no mes-mo ramo, vendendo os mesmos produtos e até atendendo alguns clientes fi éis de seu pai ou os fi -lhos e netos deles.

Acordar, todos os dias, antes de o sol nascer, montar e des-montar barracas, levar e trazer mercadorias frescas, carregar, nos braços, quilos e mais quilos de frutas, legumes, verduras, ce-reais, até brinquedos e panelas. Mesmo assim, manter aquela simpatia típica de quem está disposto a fazer qualquer negócio para cativar a clientela. Assim é o cotidiano dos 345 feirantes de Uberlândia, que trabalham, sema-nalmente, em 58 feiras espalha-

das por todas as regiões da cida-de (veja a lista completa no site do CORREIO de Uberlândia).

A rotina não é fácil, segundo tio Pepe. Mas quem está há tan-tos anos na profi ssão já não re-clama de ter de acordar todos os dias às 5h nem de encarar, com disposição, sete feiras por sema-na. “A feira é um lugar mágico. Os produtos que você encontra aqui não existem em nenhum outro lugar. Se você não gostar das mercadorias desta banca, logo ali na frente tem outra. É para agra-dar a todo mundo”, disse.

Foi na feira que tio Pepe co-nheceu a mulher, Rosângela de Medeiros Macedo, 50, com quem é casado há 34 anos. Da união, são quatro fi lhos e três netos, todos criados atrás da bancada. “Dizem que meus fi lhos nasceram embaixo da barraca, mas não é bem assim. Eles só cresceram aqui”, disse a feirante, em tom de brincadeira.

Nostálgico, o feirante recorda quando acompanhava o pai, a aprender os segredos da profi s-são — simpatia, qualidade e preço — que tenta manter até hoje.

“Lembro quando vinha com o meu pai, todo mundo trazia os produtos em carroças. O prefeito era Raul Pereira. Por dois anos, as feiras fi caram em caráter experi-mental. Depois, como viram que deu certo, foram autorizadas”, afi rmou.

TIO PEPE e sua mulher, Rosângela, têm uma história de vida e trabalho dedicada ao comércio nas bancas das feiras livres de Uberlân-

BETO OLIVEIRA

A receita é simples, mas faz sucesso entre os frequentadores de feiras livres. Farinha de trigo, óleo, água e sal, nesta ordem. Depois, amassar, abrir e cortar. O sabor vem com o recheio, a gosto do cliente.

Pode ser do tradicional queijo com carne a combinações de chocolate e frutas. O fato é que, entre os fãs do pastel, ir à feira sem fazer uma pausa na barraca preferida é inconcebível.

Há 29 anos, o feirante Ronal-do Almeida Santos, 55, faz a alegria dos clientes com pastéis fritos na hora, que de longe atra-em o cliente pelo cheiro.

Em dias de maior movimento, principalmente nas feiras em fi ns de semana, ele e a família prepa-ram mais de 500 pastéis. “Não faço mais porque não dá tempo. O público é garantido”, afi rmou Santos.

Todos os dias, ele acorda às 4h30 para preparar a Kombi. Às 6h, já está na rua, a montar a barraca de lona com dois cilindros

elétricos, tachos de cobre com óleo fervente e galões de recheio, preparados e congelados no dia anterior. “Para trabalhar com co-mida, tenho de tomar cuidado. Tudo tem de ser muito limpo, muito asseado.”

Faz 25 anos que o pastel de feira é a paixão do servidor públi-co José Carlos Lemos Garcia, 57. Três vezes por semana, ele acorda às 6h para ir à feira. “Como eu trabalho só à tarde, posso vir comer meu pastel, jogar conversa fora, encontrar os amigos”, disse. Os recheios preferidos são guari-roba, carne e queijo. “Feira sem pastel não é feira”, afi rmou.

Vizinha da feira do Martins desde que nasceu, a estudante Uitney Dandara Domingues Macha-do, 12, nem se lembra mais desde quando vai à feira comer pastel. Às quintas-feiras, ela acorda mais cedo e corre para a barraca de Ronaldo. “Eu gosto de misturar e experimentar novos sabores, mas os meus preferidos são misto e presunto e queijo”, disse.

PRAZER

Feira sem pastel não é feira

MERCADO

Feirante tenta fi delizar cliente“Comprar em supermerca-

do não tem a mesma graça”, afi rmou Selísia Aparecida Pi-res, 46 anos, feirante há 13. Apesar de reclamar do exces-so de trabalho, ela diz que se diverte com a clientela duran-te as seis feiras semanais que faz.

“É bom que conheço todo mundo, converso, dou risada, brinco. O serviço é pesado, mas é gostoso”, disse.

Edu Elisiário dos Santos, 33 anos, concorda com a colega. Ele trabalhou pela primeira vez em uma feira há 12 anos, como ajudante. Desde então, não saiu de trás da banca. “Não daria mais conta de fi car em um lugar só, trabalhando com burocracia. Preciso ver gente, conversar. Gosto muito do que eu faço, nem férias eu tiro direito”, afi rmou.

A rotina semanal do feiran-te inclui oito feiras e inúmeras viagens à Ceasa para comprar mais mercadorias. Segundo ele, o segredo para conquistar clientes é ter bom preço. “A concorrência é forte, então

tenho que fi car sempre aten-to. O cliente nem sempre é fi el”, disse.

A estratégia de Selísia Pi-res envolve mais elementos, além do preço. Sempre sim-pática, ela disse que feirante tem de ser bom de conversa. Outra tática para fi delizar a clientela é oferecer regalias, como a caderneta, em que “pendura” as compras dos fregueses mais assíduos. “Anoto para quem paga direi-to. Só aqueles que eu conhe-ço, que vêm toda semana há muito tempo. Assim eles con-tinuam vindo”, afi rmou.

Outro segredo é manter a boa reputação, oferecendo bons produtos. De acordo com Geraldo Jerônimo Freires, 59 anos, 31 deles vendendo pescado em feiras livres, um cliente insatisfeito pode des-truir toda a fama do feirante, conquistada ao logo de anos de trabalho.

“Se a mercadoria não for boa, em um dia a propaganda negativa que o freguês faz destrói a banca”, disse, em tom de exagero.

SELÍSIA APARECIDA diz que se diverte conhecendo gente nova

PAULO AUGUSTO

NEGÓCIO

Margem varia entre 30% e 50%EDU ELISIÁRIO não perde uma boa compra para fazer promoção

PAULO AUGUSTO

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CORREIO DE UBERLÂNDIA | DOMINGO, 26/7/2009B4 | CIDADE

COMEMORAÇÃO

O RITMO E A MAGIA DE SER AVÓHOJE É O DIA DE SANTA ANA, MÃE DE NOSSA SENHORA E AVÓ DE JESUS

BENVINDA BORGES faz aniversário hoje e comemora seus 93 anos cheia de saúde e vitalidade

LYGIA CALIL [REPÓRTER][email protected]

O livro que a aposentada Benvinda Fontes Borges lê atual-mente se chama “O ritmo da vida”, obra do australiano Mat-thew Kelly, lançada no Brasil em 2006.

Mas, neste tema, nem preci-saria da leitura. Sobre o ritmo da vida, ela sabe muito, talvez até mais do que o autor. Hoje, Ben-vinda completa 93 anos e tem dois motivos para comemorar. Além de ser seu aniversário, 26 de julho é o Dia da Avó, função que ela desempenha, com gosto, há 39 anos.

Ela teve a primeira fi lha aos 27 anos, três depois do casa-mento. Hoje, a prole conta três fi lhos, oito netos e quatro bisne-tos. “Povoei o mundo. Eu vivo cercada de carinho, de pessoas que cuidam e se preocupam co-migo. Mesmo os que estão longe sempre ligam. Quando os netos

que moram fora vêm para Uber-lândia é sempre uma festa”, disse.

Coruja assumida, quando começa a falar dos netos, desde quando eram crianças até as profi ssões que escolheram, não para.

O tom da voz muda, os olhos brilham. “Tenho mais luxo com meus netos do que tinha com os meus fi lhos. Tenho mais atenção, sou mais preocupada. Tento ensi-nar coisas sobre a vida”, afi rmou.

Lembra quando viu a primeira neta pela primeira vez. “É uma emoção que toma conta da gen-te. Era um pedacinho de mim. Todos eles são”, disse.

Na infância dos netos, ela foi uma avó presente nos moldes antigos.

Ensinou brincadeiras de roda, orações. Fazia pão de queijo e broa de fubá, bolo de milho, la-ranja e cenoura com cobertura de chocolate.

Mas esta descrição engana

ao remeter a uma senhora de idade que prefere a cadeira de balanço à ginástica. Disposição é o que não falta na vida de Benvinda.

Contrariando preconceitos e preocupações dos mais cuidado-sos, Benvinda mora sozinha. Três vezes por semana faz hidroginás-tica e não dispensa uma caminha-da pela manhã ou no fi m de tarde.

O exercício preferido é peda-lar em baixo d’água – a hidro-bike. “Eu fazia musculação tam-bém, mas agora parei, porque operei a mão. De vez em quando ainda faço. Não gosto de fi car parada. Tudo é evolução e não vou fi car para trás”, disse.

O segredo da longevidade? Simples: é o ritmo da vida, como o livro que está lendo. “Quando se tem o espírito forte, é fácil continuar jovem. Gosto do mun-do, do céu, do Sol, da Lua. Tudo foi feito para ser admirado. É isso que tento passar para a minha família”, afi rmou.

PAULO AUGUSTO

Eulália Medeiros Machado, 50 anos, duas fi lhas e dois netos, não faz o gênero Dona Benta, personagem clássico do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato.

Em vez de fazer bolo de fubá e pão de queijo para os netos, ela prefere “andar de bike”. “Já não se fazem mais avós como antigamente”, afi rmou.

A avó moderna se comunica com o neto mais novo pelo MSN (programa de comunicação ins-

tantânea), tem Orkut, ouve rock e gosta de sentar com os netos para construir novos brinquedos.

“Eu tento aguçar a criativida-de deles. Não adianta nada pegar tudo pronto. Assim, eles dão mais valor”, disse.

O neto mais velho, Gustavo, tem 10 anos e o mais novo, Cauã, tem 2. Ela disse que, depois de ter se tornado avó, o amor se multiplicou para fora dos limites da família. “Parece que todas as crianças do mundo se tornaram

meus netos. É amor demais, quase transborda”, disse.

Há um ano e seis meses, ela se formou em fi losofi a. “Eu me casei muito novinha, parei de estudar na 7ª série. Aí, depois que criei as fi lhas e ganhei meu primeiro neto, pensei em voltar a estudar. Ter uma formatura era um sonho muito antigo. É o que pretendo deixar para os meu netos: ensinar que qualquer coisa é possível, desde que se tenha determinação”, disse.

DIFERENÇA

Dinâmicas ou caseiras, são superavósAos 80 anos, esbanjando

energia, duas senhoras de Uber-lândia são “superavós”. Cada uma, contando fi lhos, netos e bisnetos, tem na família mais de 40 descendentes. Mesmo com estilos diferentes, as duas têm, em comum, a casa sempre cheia de gente.

No bairro Marta Helena, re-gião Norte da cidade, Olívia Machado Fernandes reúne, aos domingos, boa parte de seus 14 fi lhos, 27 netos e 12 bisnetos. Quando vai para a cozinha, com a ajuda de fi lhas, noras e netas, faz a alegria da família.

“Todo domingo é dia de festa. E o Dia da Avó vai ser melhor ainda”, disse.

Ela se lembra da avó mater-na e do quanto ela, que, apesar de os tempos rígidos, era cari-nhosa e dava liberdade para os netos. “Sou do mesmo jeito. Gosto de abraçar, de beijar e cheirar meus netos.”

Além de carinhosa com os netos, a vovó também gosta de se cuidar, ir ao salão de beleza, cuidar das unhas e dos cabelos. “Tento ser uma avó bonitinha”, afi rmou.

Apesar de tantos cuidados com todos, ela disse que não gosta de mimar os netos. “Quan-do precisa, eu chego junto. Chamo a atenção no canto, nunca na frente de todo mundo e gritando. Eles me respeitam muito.”

A superavó iniciou uma tradição na família: os casa-mentos consanguíneos. Em 1947, ela se casou com Louri-val Rodrigues Fernandes, seu primo primeiro. Depois dela, três filhos se casaram com primos e, mais recentemente, uma neta também se casou

com um sobrinho de dona Olívia.

Dinâmica Em outro extremo da cida-

de, no bairro Tubalina, região Oeste, vive Maria Rosa de Jesus.

Ela tem 10 fi lhos, 26 netos e nove bisnetos, que gosta de ver reunidos “sob suas asas”. “O que eu mais gosto, quando junta todo mundo, é pensar que tanta gente partiu de mim.”

Diferentemente de dona Olívia, ela não é tão caseira. Gosta tanto de passear, que foi até a Bélgica visitar o fi lho e dois netos.

Além de fazer todo o trabalho doméstico, ela tem muitas ativi-dades: três vezes por semana,

faz hidroginástica e, outras três, educação física. Parar, mesmo, só às 18h, para assistir à novela “Paraíso”, na Rede Globo.

“Mesmo assim, no intervalo arrumo alguma coisa para fazer. Não pode parar, senão enferru-ja”, disse.

Apesar de afi rmar que ama todos os 26 netos do mesmo jeito, ela não esconde que há um xodó: o neto Guilherme, 19 anos, que mora com ela desde pequeno.

“Meu amor é de verdade, mas sou mais próxima dele, tenho mais afinidade. Não adianta os outros terem ciú-mes, eles sabem que amo to-dos”, afi rmou.

OLÍVIA adora reunir netos e fi lhos para grandes almoços em casa

MARIA ROSA tem 26 netos e uma vida cheia de atividades

BETO OLIVEIRA

PAULO AUGUSTO

CONECTADA

Eulália se comunica pelo MSN e adora o Orkut

EULÁLIA MEDEIROS diz que o amor pelos netos é tanto, que transborda e é passado para todas as cri-

PAULO AUGUSTO

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DOMINGO • 1º DE NOVEMBRO DE 2009 • [email protected] DOMINGO • 1º DE NOVEMBRO DE 2009 • [email protected]

REVISTAHOJE É DIA DE CONFERIR O RESUMO SEMANAL DAS NOVELAS • PÁGINA B4

CORREIO DE UBERLÂNDIA

MÉDICOS! E.R. !PLANTÃO MÉDICO" # ÚLTIMO EPISÓDIO

EXIBIDO NA QUARTA$FEIRA !28"Mostra o cotidiano da emergência de um hos-pital público de Chicago, visto sob a ótica dos médicos e enfermeiros que trabalham ali.

! GREY’S ANATOMY $ 6ª TEMPORADA Jovens médicos do Seattle Grace Hospital, onde há o mais rígido programa para residentes de Harvard, vivem em um mundo onde o aprendi-zado pode ser uma questão de vida ou morte, e ainda precisam lidar com os problemas de suas vidas pessoais.

! HOUSE M.D !DR. HOUSE" $ 6ª TEMPORADA Trata de um médico conceituado do estado de New Jersey, nos Estados Unidos. Além de con-seguir elaborar excelentes diagnósticos. O seu carácter é marcado pelo seu mau-humor, com-portamento anti-social, cepticismo e sarcasmo.

! MENTAL $ ESTREANTE O Departamento de Psiquiatria do Hospital Wharton Memorial tem um novo diretor, o Dr. Jack Gallagher, um profi ssional com métodos nem um pouco ortodoxos para decifrar os segredos da mente humana.

! SCRUBS # ENCERRADA “Scrubs” se difere das demais séries médicas por ser uma comédia. Tem um estilo leve para lidar com assuntos sérios com personagens caricatos e divertidos.

DIREITO! LAW & ORDER !LEI E ORDEM" $ 20ª TEMPORADA

O programa mostra o mundo do crime por meio de duas diferentes perspectivas. Na primeira meia hora, os detetives investigam casos e apreendem suspeitos. Na segunda metade, o foco passa para a corte criminal, onde os pro-curadores se esforçam para fazer justiça.

! RAISING THE BAR $ 1ª TEMPORADAUm grupo de jovens advogados e ex-colegas de classes se encontram em lados opostos em um drama legal.

INVESTIGAÇÃO! COLD CASE !ARQUIVO MORTO" $ 7ª TEMPORADA

Mostra uma divisão policial que se especializa na investigação de crimes não resolvidos do passado.

! MONK !MONK: UM DETETIVE DIFERENTE" $ 8ª TEMPORADA Um detetive brilhante de homicídios tem Trans-torno obsessivo-compulsivo (TOC), incluindo uma série de tiques e fobias. Ele é contratado quando a polícia não consegue resolver algum caso.

! CSI: CRIME SCENE INVESTIGATION # 9ª TEMPORADAÉ uma série dra-mática centrada nas investigações do grupo de cien-tistas forenses do departamento de criminalística da polícia de Las Vegas, Nevada. Estes cientistas, designados CSI’s (Crime Scene Investigators), desvendam cri-mes e mortes em circunstâncias misteriosas e pouco comuns.

Profissão como objeto de entretenimentoSERIADOS NORTE!AMERICANOS RELACIONADOS A ALGUMAS CARREIRAS UNEM REALIDADE À FICÇÃO

ÓCIO E OFÍCIO

LYGIA CALIL | REPÓ[email protected]

Cada vez mais di-versifi cados e assistidos, os se-riados de TV nor-

te-americanos ganham espaço como entreteni-mento para públicos dife-rentes. Se antes eles eram chamados de “enlatados de USA” e se restringiam, ba-sicamente, a comédias que satirizavam o estilo de vida do americano médio, hoje há os específi cos para ado-lescentes, os dramáticos, as comédias. Existe, tam-bém, uma vertente voltada para profi ssões – como ad-vogados, médicos, deteti-ves e investigadores.

Mas até que ponto estes seriados podem representar

a realidade de uma profi s-são, ou de que maneira eles podem ser úteis aos pro-fi ssionais que os assistem? O CORREIO de Uberlândia procurou fãs de seriados que tratam sobre seus ofícios para saber o ponto de vista deles desses programas.

Químico por formação, o perito técnico da Polícia Civil Eduardo Borgatto, 27, sempre foi fã de seriados de investigação. Desde que assistiu “CSI” pela primei-ra vez, em 2004, não parou mais. O interesse pelo as-sunto se tornou tão grande que ele buscou a carreira de investigador. “Ser perito era meu sonho de consu-mo. Dando aulas de química não tinha tempo para es-tudar para o concurso, en-tão parei de dar as aulas e

consegui passar”, afi rmou. Quando fi nalmente se viu no trabalho de perito, ele descobriu o lado fantasioso da série. “Tem muita coisa que é fi ctícia, como a apa-relhagem que eles usam. São impossíveis, mesmo se tratando da tecnologia dos Estados Unidos. Não condi-zem com a realidade. Mes-mo assim é divertido.”

Mas nem tudo o que ele assiste é encarado como simples diversão. Interessa-do pela pesquisa na profi s-são, os episódios oferecem soluções alternativas para a profi ssão. “É possível abrir a mente para outras visões, sacadas diferentes, que são importantes para o trabalho. São conclusões as quais eu não chegaria se não tivesse assistido”, disse.

UM FAMOSO DOUTOR MAL!HUMORADOEstudante do 4º ano de

Medicina, Lays Aparecida Evangelista é afi cionada no seriado “House”, que mos-tra o dia a dia de um reno-mado médico que, apesar da competência, é conside-rado pela sua equipe um in-sensível. Ele não se impor-ta de ser arrogante e mal educado, mas ainda assim é muito respeitado, pois não costuma errar seus diag-nósticos.

Diferentemente do pe-

rito Eduardo Borgatto e da advogada Neiva Flávia, que preferem a TV a cabo para assistirem seus seriados, Lays assiste pelo compu-tador, em DVDs gravados pelos colegas de sala e ami-gos. “Eu pego as tempora-das completas e, em um fi m de semana, assisto tudo. Não consigo fi car muito tempo esperando, dá ago-nia”, disse.

Com o seu ídolo, ela diz rever muita coisa que já

aprendeu em sala de aula. “Estou assistindo, aí mostra alguma coisa e falo: ‘Isso eu sei!’. Serve como revisão da matéria”, afi rmou. Sobre a postura do médico, ela diz que entende o seu lado “hu-mano”, mas explica que, na prática, é impensável um profi ssional se comportar daquela maneira. “Ele é du-rão, mas se importa com as pessoas. Até sente dores fí-sicas quando se sente rejei-tado”, afi rmou.

CARA DE BRAVO

DEVE SE CONSIDERAR AS DIFERENÇAS A advogada e professora

universitária Neiva Flávia de Oliveira, além de ser fã dos seriados sobre a sua profi ssão, gostaria de usá-los em sala de aula. Ela já utiliza muitos fi lmes, mas ainda não encontrou ne-nhuma série para ajudá-la. “O Direito norte-americano é totalmente diferente do nosso”, disse ela, que as-siste “Law” & Order”, “CSI” e “Criminal Intents”.

Uma nova série da pro-

gramação do canal pago AXN e que já conquistou a atenção da professora é “Raising the Bar”. “É uma novidade ainda, mas acho que vai dar para trabalhar com ele. Além das leis se-rem outras, há ainda mais uma difi culdade para levar os seriados para as aulas. Eu ministro direito de famí-lia e a maioria das séries é sobre direito criminal. Por isso estou prestando mais atenção a este novo, porque

trata várias vertentes do Direito”, disse.

Mas mesmo com as di-ferenças nas leis, segundo ela, um atributo é universal na prática do Direito: a ética. “Nos seriados que gosto, to-dos os advogados são sem-pre muito éticos. Isso mos-tra um lado importante da profi ssão e posso comentar sobre eles nas aulas.”

LEGISLAÇÕES

SAIBA MAIS

BETO OLIVEIRA

LAYS APARECIDA EVANGELISTA é estudante de medicina e fã de “House”

PAULO AUGUSTO

NEIVA FLÁVIA é advogada e espectadora de Law” & Order”

Saiba quais as atrações do penúltimo dia do Festival de Dança do Triângulo PÁGINA B3