espaço mariano ano 2 - n.03

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O "Espaço Mariano" é um subsídio, o material didático que serve de apoio para a Associação Nossa Senhora das Dores.

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APRESENTAÇÃO

A pergunta que Espaço Mariano continua fazendo para nós: “Quem é Maria, a Mãe de Jesus”, vai intensificando nosso conhecimento e qualificando nossa vivência, a exemplo de Maria. Neste terceiro número do subsídio, irmã Monica conduz o leitor e a leitora, a um movimento que harmoniza a dimensão mariana, o cuidado da vida e o aprendizado da contemplação da natureza, comparando os acontecimentos na vida de Maria, peregrina na fé, como uma evolução de cada etapa do ciclo vital da natureza. Conduz-nos também a saborear uma significativa poesia de Dom Pedro Casaldáliga, que nos ajuda a intensificar o conhecimento e a interioridade de Maria de Nazaré.

Dando continuidade a esta temática, a equipe do Centro de espiritualidade, proporcionou-nos um retiro sobre Maria, Mãe de Deus. Surgiu também aqui uma pergunta provocadora: “De que Deus, Maria é Mãe”, aprofundando a dimensão integradora de Jesus Cristo Filho de Deus Pai e Deus Criador. Este tema proporcionou o aprofundamento e oração sobre a integração com a espiritualidade ecológica, em harmonia também com a temática da Campanha da Fraternidade deste ano. Foi um momento propício para aprofundar o “senhorio” de Deus, compreendido como capacidade de ser criador, autor, cuidador da vida.

Por fim, a comunidade das irmãs do Centro de espiritualidade,

quis também fazer-nos participar de uma significativa Memória histórica que ocorre no próximo mês de novembro, para as Servas de Maria Reparadoras: os 90 ANOS DE MISSÃO no Brasil. Este acontecimento proporciona-nos a alegria de participar da Ação de graças a Deus, por tantos benefícios concedidos durante este tempo precioso de experiência missionária e de anúncio de Jesus Cristo; pela graça da vocação missionária à qual é chamada toda a Igreja, a Congregação das SMR e todo o povo de Deus, especialmente os que caminharam conosco durante este longo tempo em serviço, inspirado em Santa Maria, Mãe e Serva do Senhor!

A redação

I. MARIA, QUEM ELA É

Ciclo vital

Percebo nesta estação do ano, a natureza se exibindo com intensidade igual a força de uma mãe, de um pai. É semelhante à criatividade do poeta, da poetisa, dos artistas da música, do teatro, do cinema, dançarinos/as, os malabaristas do circo e/ou dos sinais de trânsito. E como faz bem ao corpo, à existência humana, ser aprendiz na arte de olhar cuidadosamente para a natureza que nos remete ao Criador. Ela é também exageradamente delicada. Observando as mangueiras, por exemplo, cada ponta traz um cachinho de pequenas flores e a seu tempo surgirá, fartamente, o fruto. Sem descanso, a natureza pulsa, alimenta o circuito da vida, arruma o crescimento dos vegetais que estão aí aos nossos olhos, em cada rua, nas casas que sinalizam a continuada maneira do Criador demonstrar seu amor incondicional.

No tempo de inverno primaveril, também as montanhas estão com vegetações e os raios do sol iluminando cada manhã cedinho, o verde recebe tonalidades diversas; a intensificação da presença do astro dito “Rei” torna-se avermelhado, às vezes um verde prateado, depois marrom, finalmente a específica. No entanto, sabemos que todo o criado se extingue: as plantas, os animais, as estrelas...; também as pessoas amadas...

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É a energia vital existindo de outra forma: na saudade e na lembrança. A vida segue seu curso!

A observação dessa maravilhosa evolução da natureza tem muito a ver com Maria de Nazaré, pois são parceiras comparações favorecendo-nos provar a incomparável presença do ciclo vital que nos conduz a uma palavra: “Mulher”. Para nós, Servas de Maria Reparadoras e a Associação Nossa Senhora das Dores, também ao desdobramento “Mãe Maria”! Em ritmo de processo, pare um pouco e complete a frase por escrito, socializando com alguém se assim desejar: * A reflexão contida nesses parágrafos contribui para que eu ...

Continuando nossa reflexão, manteremos o movimento da sintonia porque ela traz centelhas de energia no nosso caminho de cuidadoras e cuidadores da vida. Faremos isso utilizando experiências, poemas, letras de músicas, para demonstrar que a Mãe Maria, junto com tantas outras Marias foram sustentadoras da memória afetiva da ousada vida do Amado Filho e Mestre.

Esta energia é reforçada através das afirmações de Elizabeth A. Johnson, sobre a presença de Maria na comunidade de Jerusalém: Que histórias ela trocava com Joana, que seguiu Jesus apesar de ter fortuna e prestígio de sobra? Que memórias, esperanças e estratégias ela partilhava com as outras mulheres da comunidade? Talvez ela vivesse pacificamente como idosa reverenciada por ser mãe do Messias. Talvez, quando o pão era partido, ao ouvir as mulheres e os homens ao redor da mesa refletir no sentido da vida, morte e ressurreição de seu Filho, ela transmitisse sua sabedoria, seu conhecimento, seu ciclo vital. Talvez, ela fosse uma anciã desinibida que dava opiniões criativas a respeito dos problemas com os gentios, e apoiava a liderança da comunidade de mulheres tais como Maria de Mágdala.

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Pode ser que ela se preocupasse com as desamparadas entre elas, em especial as viúvas, ou fosse tomada pela inevitável tristeza que nunca acabava de vez depois da violência com o seu filho, ou estivesse cheia de proclamações a respeito do que Deus fazia para endireitar o mundo, ou encorajasse os esforços criativos dos jovens... (cf Nossa verdadeira irmã. Teologia de Maria na comunhão dos santos, Edições Loyola, 2006, p. 363).

Na vida de Maria os acontecimentos foram marcantes, sem involução – movimento regressivo –, mas de evolução, pois ela participava de cada etapa do ciclo vital como peregrina na fé. Utilizando uma expressão da autora acima citada: A vida da mulher histórica Miriâm de Nazaré foi, na verdade, uma viagem de fé. De sua casa camponesa em Nazaré para a Igreja doméstica em Jerusalém, ambas esforçando-se para sobreviver em circunstâncias econômicas e políticas opressivas; do nascimento de seu primogênito a sua morte horrenda, a quando o ouviu proclamado Senhor, Messias e Salvador – ela seguiu o caminho de sua vida guardando a fé com seu Deus indulgente, o Santo de Israel. Agora, é mulher mais velha instruída no Espírito... Todos os seus anos de sofrimento e alegria, de ansiedade e esperança, trabalho árduo e descanso no sábado, relacionamentos íntimos e perdas, unem-se com novo estímulo. Mesmo que pareça inconcebível, o Deus de Israel em quem ela acreditou agiu para cumprir a antiga promessa feita a seu povo. Toda a criação move-se em direção a uma transformação vivificante (cf. Nossa verdadeira irmã. Teologia de Maria na comunhão dos santos, Edições Loyola, 2006, p. 363-364).

É neste movimento contínuo da criação que a seiva fortalecedora desliza e, repetidamente, vai colorindo caules, ramos, flores e frutos, como a dança da ciranda que evoca a dinâmica da existência humana. Neste sentido lembro aqui de uma poesia que Dom Pedro Casaldaliga escreveu: “Dizer teu nome Maria”. Trata-se de uma poesia muito significativa, pois

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ela nos ajuda a intensificar o conhecimento e interiorizar a vida desta jovem de Nazaré cujo nome, recebido pelos genitores – Joaquim e Ana – contém uma ação transformadora quando é visto à luz d’Aquele por ela nomeado: “E tu o chamarás com o nome de Jesus” (Lc 1,31).

Essa poesia conduz a reeducar o olhar, aguçar o paladar, afinar os ouvidos, irrigar cada pedaço de pele que recobre o corpo como aconteceu com Jesus, o fruto do ventre de Maria. Eles, Mãe e Filho, rezaram a poesia contida nos salmos, nos livros sapienciais, nas narrações da libertação do seu povo, em toda a largueza, altura e profundidade da Torá, para cultivar a tradição e reinterpretá-la no justo momento da história pessoal e social.

Mantenhamos hoje esse ciclo, interiorizando e rezando parte da poesia: “Dizer teu nome Maria”. Dizer teu nome Maria, é dizer: a pobreza comprou os olhares de Deus. Dizer teu nome Maria, é dizer que a promessa vem com leite de mulher. Dizer teu nome Maria, é dizer que a carne veste o silêncio do Verbo. Dizer teu nome Maria, é dizer que todo nome pode estar cheio de graça. Dizer teu nome Maria, é dizer que toda morte pode ser também PÁSCOA!

Dando continuidade ao nosso ritmo formativo, uno-me a você na nossa experiência de Deus, ciente de que: “Todo mundo ama um dia, todo mundo chora. Um dia a gente chega, no outro vai embora. Cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz. É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir. É preciso chuva para florir” (Tocando em Frente, de Almir Sater e RenatoTeixeira).

2. Com determinação e leveza: * Silencie, interiorize, contemple. Caso queira, escreva...

Irmã Monica Gomes Coutinho, smr

Campo Grande – Rio de Janeiro 5

II. RETIRO: COM MARIA MÃE DE DEUS

Com esse artigo partilharemos a experiência realizada no Centro de Espiritualidade Maria Mãe da Vida, na formação da devoção mariana. Um meio dessa formação é Retiro para incentivar a experiência de Deus, de Jesus Cristo. Por esse motivo, nos três dias de reflexão sobre a “Mãe de Deus” de 17 a 19 de junho desse ano, a pergunta foi: “Mas, que Deus?” Oferecendo a integração com o tema: Espiritualidade ecológica, visto que a temática da Campanha da Fraternidade favorecia a relação com o cuidado da vida, à luz da proposta de Jesus Cristo: “Que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10), embasado com a reflexão da Irmã Mercedes Lopes, MJC.

Apresentaremos uma síntese da reflexão, e parte do texto da Irmã Mercedes, como também algumas experiências de quem rezou essa proposta.

Que esta leitura seja uma contribuição para que seu caminho de seguimento a Jesus, o Cristo, permaneça orante e comprometido. 1. De que Deus, Maria é Mãe?

O texto de Lucas 9,13 revela Deus providente; Deus que confia e espera em nós; Deus cuidador da vida; Deus Pai; Deus que caminha conosco; Deus misericórdia; Deus provocador, envolvente, companheiro nas situações extremas: “Dai vós mesmos de comer a esta multidão”; Deus paciente; Deus Amor.

Caminhar inspirando-se na vida de Maria, Mãe desse Deus, conduz a uma ação e oração integradora que favorece profundamente a harmonia entre a atitude de Jesus, o Cristo (cf. Lc

9,13) e o cuidado da natureza, de todos os seres criados, pois o Deus revelado por Ele é o cuidador da vida. Portanto, Ele – Deus – é companheiro e a vida é o seu ato amoroso por excelência.

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Maria, como criatura e como mulher, contribui para a vida: “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4,4); Jesus também é criatura, portanto, faz a sua pergunta: Quem é minha mãe... (Mc 3,31-35)? A relação interpessoal é necessária, a fim de aprofundar e integrar o processo existencial com a fé.

Mãe de Deus – Pai – Ela é Mãe de Jesus, um judeu,

apresentado, nos evangelhos, como vindo de Nazaré, localidade de José e de Maria, da família como um todo, e da comunidade (cf. Mc 6,2-3; Mt 13,54-55; Jo 6,41-42; Lc 4, 16-22). Mas esse judeu chama Deus de Pai. Mesmo tendo sido educado pela fé a evocá-Lo como Criador, Misericórdia, Amor.

Mãe de Deus – Companheiro: o Deus dos cristãos, dos

católicos é universal. Aqui temos Paulo que divulga a Boa Notícia. Onde há civilização, ele anuncia: “Nele temos a vida, o movimento e o ser” (At 17, 28). O Deus dos cristãos não é um Deus estático, é dinâmico; envolve todos que desejam cuidar da vida em todas as formas criadas por Ele. 2. A dimensão integradora de Jesus, Filho de Deus Pai e Deus Criador

A atitude integradora de Jesus, o Cristo, impulsiona olhar a criação enquanto compromisso permanente com a vida. Trata-se de um ato contínuo, à luz do “senhorio” de Deus Criador, compreendido como capacidade de ser criador, autor, cuidador da vida.

“Mais do que nunca, os últimos desastres naturais sinalizam

a urgência de uma mudança em nossa maneira de viver como seres humanos e discípulos/as de Jesus, o Cristo, no hoje da história.

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Para isso, necessitamos de uma espiritualidade profunda que ajude a contemplar o universo como casa de todos. Que possibilite a abertura necessária para poder aprender a conviver com os mais de seis bilhões de seres humanos que a compõem sem perder o foco do discipulado de Jesus. Viver neste momento da história supõe uma consciência e uma prática novas, como cuidadores e cuidadoras da sua fantástica criação.

Faz-se necessário ressaltar a importância de compreender o universo como uma teia de vida e experimentar como arte e participante deste misterioso e surpreendente tecido. Daí a eco espiritualidade, como um convite para aprendermos a admirar as mais sutis complexidades do universo que incluem nossa postura proativa que propõe a realização de ações em cadeia para impedir os desastres ecológicos em vez de ficarmos apenas reagindo.

Para que isto seja possível, precisamos desenvolver a sensibilidade e a atenção para captar e escutar os gemidos da terra e de todos os seres vivos, agindo criativamente e de forma solidária para cuidar e defender a vida do planeta. Essa criação é um dado da natureza. Assim como ela continuamente busca refazer-se, o ser humano busca realizar a intervenção justa de cuidado e atenção ao misterioso processo da vida, não de uma vez por todas, mas continuamente, atento ao que está acontecendo na natureza, na história e dentro de si mesmo.

Segundo Leonardo Boff “a atitude do cuidado deve transformar-se em cultura e processo pedagógico que faz surgir um novo estado de consciência e de conexão com a terra e com tudo o que nela existe e vive”. Este estado de consciência gera em nós um ritmo de vida semelhante ao próprio ritmo do universo; o ritmo da entrega e doação gratuita, continuada, harmoniosa. Um dinamismo de vida que podemos contemplar, por exemplo, no sol.

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No coração do ser humano o imenso esbanjamento de energia do sol pode ser sentido como um impulso inabalável para dedicar a própria vida ao bem estar da comunidade, da humanidade, do planeta. Este é o ritmo da criação de Deus. Na misteriosa e magnífica obra da criação, há um dinamismo de vida.

A eco espiritualidade nasce e cresce em cada pessoa, a partir da permanente busca de sentido para a vida; do assumir contínuo e paciente das dificuldades nas relações interpessoais; da opção por uma postura terna e acolhedora com todas as criaturas de uma visão comprometida e crítica da história e de uma séria e permanente autocrítica que gera um processo pessoal e comunitário de compromisso, de mudança, de movimento, através da entrega livre e incondicional para uma vida digna e feliz (Jo 10,10), em contínua, acelerada e harmoniosa evolução” (Irmã Mercedes Lopes, MJC, Eco espiritualidade, Apostila, 2011).

Cada ser humano também contribui e, com isso, descobre que nas “dores de parto” está contida a alegre esperança de vida. Também o tempo dedicado para contemplar uma parte do Filme: Filha do teu Filho, onde Maria, de geradora passa a ser gerada, ajudou na aproximação do processo da integração com os acontecimentos da vida! 3. Ressonâncias sobre o Retiro “Como foi importante estar aqui, Maria, sob a luz do teu olhar, neste momento particular que estou vivendo” (Maria Helena Salgado Carvalho). “O canto: Maria exemplo de amor, me faz rezar sempre quando o canto, ou apenas medito as suas palavras. Que o homem saiba contemplar a natureza com os olhos do coração e tenha a consciência de que ela a cada dia clama por

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mais amor. Amor que agradece, amor que cuida, amor que não destrói, amor consciente de que tudo foi colocado ao nosso dispor para o bem da humanidade” (Maria Heloísa Corrêa). “Tudo o que eu gostaria de falar sobre Maria, talvez não conseguiria expressar como ela merece. Maria viveu intensamente como mãe, como esposa, como amiga, como parente, etc. Quando Maria foi visitar Isabel, ela demonstrou uma atitude de amor e caridade, para com seu próximo, que nós deveríamos sempre imitar esta atitude. Maria como mãe foi um exemplo. Ela doou toda sua vida em função do seu filho, mesmo nos momentos mais difíceis, ela nunca se rebela e aceita as provações com muita paciência. Maria, como eu gostaria de ser parecida com você, grande mulher” (Neuda da Silva Costa Pinto). “Tudo o que Deus criou é para o nosso bem. Então, nós não temos o direito de tirar uma folha, mas deixar que ela caia sozinha quando Deus quiser. Senhor, ajuda-nos a respeitar a natureza” (Maria de Fátima Amaral). “Concede-me, Senhor, a serenidade para que no mundo eu possa contribuir, com tua criação, de forma a contagiar outros no teu seguimento no respeito à dignidade de cada irmão, a natureza, a toda a criatura. Que eu possa Te ver em cada dia na criação. Amém” (Marilena Lopes Pereira). “Senhor fortalece todo o meu ser para animar, conservar e respeitar a natureza, obra das tuas mãos. Ajuda-me a desfrutá-la apenas o que for permitido por ti, de tudo aquilo que, através dos recursos naturais que nos tem concedido” (Quintino).

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“Oh, Senhor, tu que és o nosso Sol! Alimenta-nos com tua imensa Luz para que a vida seja um contínuo existir na dimensão de toda a criação e que toda a humanidade de posse desta energia seja movida pelo dinamismo da vida que é todo Bem. Faz, Senhor, cada um/a de nós como um Girassol que carente de vida e de luz volta-se humildemente para o Sol em busca de energia, de vida. Faz, Senhor, que esta decisão seja uma opção definitiva para nossas vidas e que esta opção seja contagiada pelas pessoas que conosco convivem nesta enorme teia que é a humanidade. Senhor, recebe nossa entrega livre e incondicional neste processo de comprometimento com a história de vida de nossa humanidade” (Jussara Rocha Rosa).

Concluímos o retiro com o coração exultante, como possivelmente foi o da mãe Maria ao cantar o seu Magnificat, pois ela nos ensina a constância no caminho de integração com Deus que olha amorosa e constantemente para a sua criatura, para a inteira criação. Agradecemos ao Senhor por sermos criaturas feitas à sua imagem, pela diversidade e dinamismo da vida que pulsa em nós, em cada ser humano, em toda a criação!

Equipe de reflexão e comunidade Maria Mãe da Vida

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III. HÁ 90 ANOS ADERINDO A NOVOS HORIZONTES MISSIONÁRIOS

1921-2011

“Meu desejo é que Jesus Cristo seja conhecido, amado e servido”.

(Elisa Andreoli)

Fazer memória deste acontecimento histórico das Servas de Maria Reparadoras (SMR), significa resgatar para as irmãs, os leitores e leitoras de Espaço Mariano, a experiência de uma moção interior vinda de Deus para o chamado à vida missionária, no Brasil, a Elisa Andreoli, fundadora da Congregação.

O início dessa história missionária remonta ao antigo Território do Acre, atual Estado do Acre, na cidade de Sena Madureira, em 14 de novembro de 1921, ainda na fase inicial da fundação da Congregação, ocorrida em 12 de julho de 1900, em Vidor – Itália, justamente na virada do século XX .

Neste período, a Igreja católica tinha como Pontífice o Papa Leão XIII , que se destacou por suas Encíclicas Sociais pioneiras e originais, sendo mais tarde sucedido por Pio X, que deixou seu Pontificado em meio à Primeira Guerra mundial. Em seguida, Bento XV assumiu o Pontificado em plena Guerra mundial, dirigindo a Igreja entre os anos de 1914-1922. Neste contexto, Bento XV deu um grande impulso às missões, valorizando a promoção do clero indígena, organizações sindicais católicas, a criação de escolas, a abertura ao ecumenismo, entre outros aspectos.

Em 1921, o mundo recém saía de uma guerra mundial desastrosa. Era preciso restabelecer o maior patrimônio que fora destruído: o ser humano. Entre as muitas iniciativas, o Papa, Bento XV , em 4 de outubro de 1919, instituiu a “Prelazia do Alto Acre-Purus” e confiou-a à Ordem dos Servos de Maria (OSM).

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Dom Próspero M. Bernardi, OSM, foi o primeiro Bispo a tomar posse da Prelazia do Alto Acre-Purus, em 15 de agosto de 1920.

Diante da imensa extensão da missão e do escasso número de missionários, os Servos de Maria procuraram ajuda entre as Congregações das Irmãs Servas de Maria, na Itália. Diante de tal convite, Madre Elisa Andreoli, com o olhar atento à realidade do mundo e aderindo ao mandato de Jesus: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulas” (Mt 28, 19), acolhe este apelo missionário como um chamado de Deus. Portanto, confiante na ajuda da Providência divina, e na atitude generosa de suas irmãs, lança um apelo à Congregação em vista de uma adesão profética, rumo a Novos horizontes missionários, no além Oceano, ao qual as irmãs, imediatamente, respondem entusiastas

e disponíveis a esta aventura de fé e de amor, em favor dos “povos em terras distantes”! E foram enviadas: Irmã Constantina Gian, Irmã Mercedes Andreello, Irmã Ester Bressan, Irmã Rosária Vettorato, Irmã Margherita Dametto e a postulante Augusta Franceschi (depois irmã Peregrina). Após quatro meses de viagem de navio

atravessando o Oceano, e de barco pelos afluentes do Rio Amazonas, as seis primeiras missionárias chegaram a Sena Madureira, no dia 14 de novembro de 1921.

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É muito significativa a narração de um fato ocorrido pouco antes da partida das missionárias para o Brasil, certamente sem se preocuparem com os perigos que iriam encontrar, ou com a distância destas “terras longínquas”, quando alguém, surpreendentemente, por telefone, adverte a Fundadora dos perigos da floresta Amazônica, do então chamado “inferno verde”, que as irmãs iriam encontrar e sofrer..., Madre Elisa, inspirada na Palavra de Deus responde de imediato e corajosamente: “Sobre serpentes e escorpiões andarás e nenhum mal te acontecerá” (cf. Sl 91,13-14)! Elisa, ancorada, como é sua característica, na confiança inabalável em Deus, e no impulso missionário que dá sentido à sua vida consagrada, continua acompanhando todos os preparativos para o Envio missionário, que se fazia sempre mais eminente.

Na realidade, o motivo que levou Madre Elisa Andreoli abrir-se para a dimensão missionária ainda nos primórdios de fundação da sua Família religiosa, brota de um profundo amor por Jesus Cristo que se manifesta através do serviço feito com amor aos irmãos. Ela dizia com frequência: “Meu desejo é que Jesus Cristo seja

conhecido, amado e servido”. Certamente, esta atitude brota também do seu desejo de ser missionária e de expandir a Congregação em novas realidades. De fato, numa carta às irmãs missionárias, no dia 7 de junho de 1925, assim escreve: “[...] Quando eu era jovem noviça em outro Instituto, pedia para ir às missões; foi-me sempre negado por motivos da minha saúde frágil”. E, ainda: “Agora, vocês me representam e traduzem a vocação missionária da vossa Madre geral”.

Como podemos perceber, a Congregação das SMR, surgiu com a dimensão evangelizadora e a disponibilidade em repartir o pão ganho com o próprio trabalho e o pão da própria vida, inicialmente, com os pobres da Itália e, a partir de 1921, com o povo brasileiro; mais tarde, com outros povos em diversos Países. Atualmente, as SMR estão presentes: em Fátima–Portugal (1967); Argentina (1976); Costa do Marfim–África (1981); Bolívia (1990); Albânia (1991); Filipinas (2000); Peru (2007); Togo–África (2008); México (2009).

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Madre Elisa e as primeiras missionárias em 1921.

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As irmãs exercem sua missão através da Educação, Saúde Hospitalar e preventiva, Promoção humana, Projetos Sociais, Pastoral e outros, dando continuidade ao empenho missionário inicial (cf SMR, O rosto das Servas de Maria Reparadoras na América Latina, 1921-2011, p. 14-19, «no prelo»).

Hoje, em sintonia com a caminhada da Igreja, a Congregação continua em permanente estado de missão, pois os destinatários do Evangelho são todos os povos. Portanto, esta tarefa não perdeu a sua urgência. Pelo contrário, “a missão do Cristo-Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento. Uma visão geral da humanidade mostra que tal missão está ainda no começo, e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço” (João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Missio, 1).

Por isso, com a audácia de Madre Elisa, nossa fundadora, e das primeiras irmãs missionárias que, a exemplo de Santa Maria partiram solícitas para servir e anunciar Jesus Cristo aos povos, damos sentido à nossa vocação de mulheres consagradas SMR e, em comunhão com muitos outros evangelizadores e evangelizadoras, colaboramos: na formação de lideranças na Igreja; no resgate do valor da formação humana, cristã, e da espiritualidade que nos é própria, a partir das pessoas que, nas diversas realidades, trabalham conosco. Este compromisso requer empenho na vivência comunitária e na missão, a fim de conformar-nos constantemente a Jesus Cristo que veio para servir e dar sua vida por nós (cf. Mc 10,45), gerando relações que “transfiguram” e mudam nosso jeito de ser e de agir. Assim, nossa ação evangelizadora, em harmonia com a caminhada da Igreja da América Latina e do Caribe que motiva a todos ser “discípulos missionários e missionárias de Jesus Cristo” (cf. DA), é concretizada através da Iniciação cristã de crianças, adolescentes, jovens e adultos que procuram viver a fé de maneira mais comprometida com Deus, com a Igreja, e a Pastoral Vocacional (PV).

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Além disso, hoje, defrontamo-nos com outra realidade: de pobreza, a situação das mulheres marginalizadas, mães que cuidam e protegem a vida gerada em si mesmas ou de outras e que as adotam por serem sensibilizadas com a dor da rejeição que por vezes sofreram na infância; a solidariedade como resposta da falta de razões para viver, de sonhos transformados em pesadelos; a busca de sentido ao se partilhar a vida com muitas pessoas...

Diante de tudo isso, experimentamos, como nos testemunharam as primeiras irmãs missionárias, uma presença constante da graça e da misericórdia de Deus em nós e na missão.

Neste entrelaçado de percurso histórico, de um dar e receber gratuitamente, por tudo, damos graças a Deus Pai e, com Madre Elisa Andreoli e todas aquelas irmãs missionárias SMR que nos precederam cantamos com nossa Mãe Maria, o Magnificat, ao Senhor da Vida! Acolhemos agradecidas, toda a realidade da Congregação como dom: a vida de cada irmã doada com ardor missionário; a vida gerada em cada realidade durante os 90 Anos de Missão nas diversas realidades iniciando na cidade de Sena Madureira, Acre; o cuidado e a contemplação da natureza; as luzes e sombras vividas na fé e na confiança no Senhor, pois o amor de Deus Pai sempre esteve conosco! Para reflexão pessoal ou em grupo: 1. A partir do relato dos 90 Anos de Missão SMR, de que maneira você pensa de aderir ao apelo missionário? 2. Qual sugestão você oferece para a Congregação?

Comunidade Maria Mãe da Vida

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