escrita criativa nº 15

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1 Mês Setembro nº 15 Um conto com um final surpreendente Um poema que descreve o como é o sentimento de amar Um poema que reflecte sobre a condição de ser sem abrigo Um conto que reflecte a profundidade de emoções contidas Um poema que questiona o próprio ser e as suas experiências

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A Revista Escrita Criativa é uma revista literária que publica histórias de todos que gostam de escrever e para todos aqueles ler histórias novas de escritores novos todos os meses

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Page 1: Escrita Criativa nº 15

1

Mês Setembro nº 15

Um conto com um final surpreendente

Um poema que descreve o

como é o sentimento de amar Um poema que reflecte sobre a condição de ser

sem abrigo

Um conto que reflecte a

profundidade de emoções

contidas

Um poema que questiona o próprio ser e as suas

experiências

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Escrita Criativa

Índice e destaques

Ficha Técnica: Mês de Setembro n.º15 via internet – ebook Editora e Proprietária: Marta Sousa Revisora: Patrícia Lopes Redacção: Marta Sousa, Pedro Mesquita, Liliana Machado, Giovana Damaceno, Graça Samora, Diana Almeida, Ana Maria Teixeira, Francisco Hill e Firmino Bernardo Grafismo: Paula Salgado, Marta Sousa, e Pedro Mesquita em “Matilde” Interdita a reprodução para fins lucrativos ou comerciais dos textos e interdita a outros que não o autor e a reprodução sem a indicação do respectivo nome do autor.

Destaques Histórias Narrativas

Matilde – Um conto com um final surpreendente

Histórias Poéticas Agridoce sabor do Amar – Um poema que descreve o como é o sentimento de amar

Sem Abrigo- Um poema que reflecte sobre a condição de ser sem abrigo

Críticas ou Sátiras Courier, tamanho doze, espaçamento duplo – uma divertida crítica à burocracia

Índice

Editorial………………………………..….3

As Nossas Sugestões………………..5

Histórias Narrativa

Matilde ………………………………...6

Infância…………………………………8

Dos Quintais da Memória…….10

O dia mais vermelho……………14

Histórias Poéticas

Agridoce sabor do Amar………16

O Namoro …………………….….….18

A Vida de Mulher.……………….19

Sem Abrigo………………………….21

1 ………………………………………...22

28 …………………………..…….…....23

Críticas e Sátiras

Courier, tamanho doze, espaçamento duplo………………..25

Regras para Trabalhos

Enviados………………………………….33

Page 3: Escrita Criativa nº 15

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Escrita Criativa

Para o mês de Setembro, a Revista

Escrita Criativa conta com uma

capa muito especial, sendo que é o

novo logótipo feito por Paula

Salgado para a Revista Escrita

Criativa. Como já referimos a

Revista Escrita Criativa pretende

dar vida aos textos refundidos

dentro do baú por parte de autores desconhecidos, e é isso

que representa o logótipo da Revista Escrita Criativa,

apresentando-se esta como uma oportunidade de libertar e

também partilhar por entre todos esses escritos valiosos há

muito tempo selados e guardados no baú de cada um.

Mas não só a capa, que é especial no número de Setembro

mas, também as participações deste mês!

Nas Histórias Narrativas contamos com a história

surpreendente de Pedro Mesquita, a crónica que relembra

a infância de Liliana Machado assim como as crónicas de

Giovana Damaceno, por outro lado, temos “O dia Mais

Vermelho” de Graça Samora, que reflecte a dor dos

sentimentos omitidos. Na rubrica Histórias Poéticas

Editorial

Page 4: Escrita Criativa nº 15

4

Escrita Criativa

contamos com o poema de Diana Almeida, com uma

criativa descrição do amor, também contamos com três

poemas de Ana Maria Teixeira sobre o tema da vida e o

sofrimento humano, temos ainda os poemas curiosos de

Francisco Hill que retrata o dia-a-dia do ser humano. Por fim

temos ainda uma crítica à burocracia contada numa história

criativa de Firmino Bernardo.

Nós aceitamos o desafio de realizar um número especial

sugerido por Flávio Pereira, de modo que iríamos retratar o

ser humano em si e o seu sofrimento, mas como obtivemos

poucas participações nesse âmbito, o número especial ficou

sem efeito, no entanto, as participações foram aproveitadas

e publicadas neste número da Revista.

Agradecemos mais uma vez, o apoio de todos os nossos

participantes e leitores!

Continuamos a contar com a vossa divulgação e

participação!

Marta Sousa

Page 5: Escrita Criativa nº 15

5

Escrita Criativa

O Enigma das Cartas Anónimas

De Agatha Christie

Agatha Christie é desde

sempre um nome

reconhecido em livros de

mistério e do género policial,

sendo o seu livro mais

conhecido O Expresso do

Oriente. Porque sugiro O

Enigma das Cartas Anónimas

e não O Expresso do Oriente?

Por que além do mistério e

do surpreendente final

habitual nos livro da autora

este tem uma história mais envolvente entre as personagens em que

Miss Marple (quem desvenda todo o mistério) aparece apenas nas

últimas páginas. Um romance para quem gosta de um bom livro de

mistério, policiais e uma pitada de romance.

Um óptimo livro para relaxar!

As Nossas Sugestões

Page 6: Escrita Criativa nº 15

6

Matilde Escrita Criativa

Matilde

A gota que me caiu na testa escorreu lentamente pela sobrancelha e pestanas, saltou para a bochecha e desceu para o queixo. Quase não dei conta. Era apenas mais uma gota. Estava encharcado até aos ossos em pleno temporal. Esqueci-me do guarda-chuva em casa, mas não fazia diferença. Até estava a saber bem. Não era um dia frio e a rua cheirava a terra. O Outono mal começara e eu gostava de caminhar assim pela cidade. À minha volta as pessoas corriam para se abrigar, de rostos franzidos, como se, com isso, conseguissem contornar as gotas. Só que a chamada "molha-tolos" toca afinal a todos. Para quê evitar o inevitável? As nuvens carregadas no céu e a chuva, que não abrandava, faziam prever dias seguintes iguais. Deviam ser quase sete da tarde e já começava a escurecer. Cada vez mais cedo, de dia para dia, pensei. Nas ruas estava ainda uma multidão mas hoje sentia-me sozinho. Atravessei a rua, para entrar num bar. As portas eram daquelas com molas que se empurram e demoram a parar. Para a frente e para trás, para a frente e para trás, num movimento pendular cada vez mais curto até parar de vez. Há mais de um minuto que as tinha atravessado e já bebia uma cola ao balcão. Estava encharcado mas com sede.

-Dás-me um leite com chocolate?

Era uma voz meiga. Olhei para o meu lado direito, depois para baixo, e vi que era uma criança. Devia ter uns nove anos. Cabelo preto. Pele morena. Os olhos brilhavam e sorria para mim.

-Claro, senta-te aqui. Como te chamas?

-Matilde. Dás-me um chocolate quente?

Histórias Narrativas

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7

Matilde Escrita Criativa

Percebi de imediato que só teria conversa se correspondesse ao pedido.

-Tem leite com chocolate? Perguntei ao empregado. Queria um bem quentinho, para a Matilde, por favor.

Ela voltou a sorrir para mim e disse:

-Sabes? Ainda não comi nada hoje. Os meus pais obrigam-me a pedir na rua mas hoje eu decidi fugir. Nunca mais.

-E para onde vais?

-Não sei, nem que durma à entrada de um prédio…

Rimo-nos os dois e ela disse:

-Pai, hoje fiz de pobre, que tal me saí?

A escola da Matilde era mesmo ao lado. Esperava sempre naquele bar por ela e todos os dias inventava um personagem diferente. Queria ser actriz quando fosse grande. Saímos abraçados. Eu não tinha guarda-chuva mas o casaco dela era daqueles com capuz. Fomos juntos para casa. Podia ser que amanhã não chovesse e mesmo que chovesse haveria sempre outra história. Ao contrário da maioria dos pais era ela quem mas contava.

Pedro Mesquita

Page 8: Escrita Criativa nº 15

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Infância Escrita Criativa

Infância

Saudade de ti. Saudade do tempo que vivi. Saudade dos

velhos, dos farrapos, dos sentimentos menores. Das horas mortas,

dos sorrisos e até das lágrimas que ainda não chorei. Recordo muitas

vezes décadas em que já fui feliz. É um sentimento interior que brota

num saudosismo estranho por momentos que pareço conhecer, mas

que não vivi. Vejo lugares, objectos e pessoas do meu passado, uma

viajem difícil, dolorosa e arrepiante. Quero resgatar o meu passado e

fazer dele o meu agora. Onde estás? Porque fugiste tão depressa? O

que te fiz eu? Volta para mim, quero voltar a ser feliz contigo, quero

voltar a ser criança, a sorrir com as histórias que me fazias ouvir na

voz doce da minha mãe. Quero voltar a viver aventuras com o mano

mais velho: brincar com berlindes, com os carros de corrida e com as

bicicletas. Sonho com os dias de verão: pés descalços e banhos das

16 horas nos tanques das vizinhanças. Devaneio com os lanches

longos debaixo da laranjeira, com as paparocas de amoras e com as

flores à volta da casa, cheias de borboletas de mil cores. Recordo os

TPC para fazer nas férias com a mesma pressa com que os fazia para

ir brincar com a vizinha com quem projectava mil e uma profissões

que queria ser “quando fosse grande”. Fui professora primária, fui

cabeleireira, fui empresária e até fui dona de casa e mãe (sempre

Page 9: Escrita Criativa nº 15

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Infância Escrita Criativa

com o boneco chorão ou o careca ao colo). Estraguei a única Barbie

com que fui presenteada, não gostava dela… era perfeita. Queria ser

diferente, livre, inteligente e sobretudo, humilde com os outros.

Pensava que a idade me traria amigos, amores, dinheiro e respeito.

Agora que já vivi… perdi amigas (descobri que nunca as tive), o

dinheiro tem sido cada vez mais suado, o trabalho (que traria

respeito) está difícil de conseguir e o amor foi a única coisa que

conquistei com a mesma graça com que o sonhei.

Tenho saudade dos tantos Natais que me ofereceste, das

prendas carinhosas e sacrificadas que os pais, apesar das dificuldades

dos tempos, sempre colocaram no pequeno sapatinho… e as

bombocas de morango e baunilha, sabores intemporais, tão

deliciosas que até evoco o paladar só de as imaginar.

Quando rezo em silêncio, peço que a minha infância caiba a tantas

outras crianças… bela, doce, carinhosa, cheia de valores, de

aprendizagens, cândida e, sobretudo, muito feliz.

Hoje, apesar de ter crescido mais do que gostava, continuo a

ser a menina que não gosta de bonecas perfeitas, prefiro os

berlindes… são muitos e dão para partilhar com os outros no recreio.

Liliana Machado

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Dos Quintais da Memória Escrita Criativa

Dos quintais da memória

Senti falta de infância. Senti falta de ser criança. Doeu a saudade de

tempos frescos, de família em casa, pai, mãe, irmãos, primos, do café

cheiroso no bule às quatro da tarde e do pão quentinho chegando no

cestão de vime do padeiro de bicicleta. Deu aquele aperto no coração

ao me lembrar do quintal, da horta, da ameixeira, do galinheiro, do

poço com tampa de pedra bem pesada que eu brincava em cima.

Saudade dos colos, cuidados, carinhos, inocência.

Nem toda criança teve ou tem o que tive; não viveu a liberdade de

ter um quintalzão de terra, brincar na lama, ter uma garnizé de

estimação, poder passar um dia inteiro de calor apenas de calcinha,

tomar banho no tanque quando se é bem pequena e mais tarde de

mangueira, espalhando água por todo lado. Andei de velocípede

(alguém sabe o que é isso?), depois tive uma bicicleta. Tinha uma

caixinha de bolas de gude, um coelhinho de borracha, e um piano, e

uma boneca chamada Katy.

A família passava horas de uma tarde de fim de semana chupando

cana, que minha mãe descascava e cortava; todo mundo sentado no

quintal, sem pressa. Ou então meu pai mandava minha irmã ir à

Page 11: Escrita Criativa nº 15

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Dos Quintais da Memória Escrita Criativa

sorveteria Spumel comprar picolé. E lá ia com um isopor e trazia

aquele monte de picolé, cujos sabor e textura ainda me lembro

perfeitamente. E a turma era grande. Além dos seis filhos sempre

havia um agregado: primo, prima, tia, passando uns tempos. O

movimento era grande, divertido, trabalhoso pra minha mãe, que

dava conta de tudo sozinha, mas ela também gostava.

Para mim eram tempos muito felizes, pelo menos calmos. Os irmãos

mais velhos, adultos ou quase, já ingressavam no mundo das

responsabilidades, mas a caçula aqui ainda demoraria a vislumbrar

este mundo. Preferia as histórias que eu mesma criava com os

móveis da minha casinha: armário, fogão, panelinhas, sofás. A gente

criava um mobiliário inteiro de caixas de fósforo, encapado com

tecidos variados. Minha mãe fazia roupas para a minha boneca e ela

virava uma personagem fashion.

Um dia, com uma colega de infância, plantei uma semente de ameixa

amarela (Nêspera). Durante anos acompanhei o crescimento daquela

árvore que ficou enorme e acredito que ainda esteja lá. Se não me

falha a memória foi o último pé de ameixa amarela que vi. Também

não esqueço o sabor e a textura daquela frutinha carnuda de casca

peluda e caroços redondos.

Page 12: Escrita Criativa nº 15

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Dos Quintais da Memória Escrita Criativa

Na segunda fase da infância já morava em outra casa. Não tinha um

quintal tão extenso, mas a qualidade estava nas árvores frutíferas ao

meu dispor. Vamos ver se me recordo de todas: abacate, romã,

goiaba vermelha, mexerica, figo, mamão, manga espada, limão e até

uma parreira de uva. E mais outra coisa que a casa anterior não

tinha: terraço. Levei boas palmadas na bunda por me arriscar a

caminhar no beiral. Na calçada havia um fícus italiano (que na

verdade é indiano), que com aquelas raízes aéreas era diversão pura

quando meu pai não estava por perto.

Deste momento da minha vida de criança em diante, a família em

casa começou a diminuir, com os casamentos dos irmãos. E a

realidade trazida por aquele mundo que eu não conhecia foi se

abrindo diante dos meus olhos. Era a adolescência chegando e com

ela todas os compromissos da vida pré-adulta. Já curtia namorico na

escola, me preocupava sozinha com a obrigação dos estudos, mas

não abandonava minha pequena mobília e minhas bonecas. Tornei-

me moça, como se dizia na época, mas queria continuar brincando de

queimada e garrafão no meio da rua. Parecia um prenúncio do

conflito que viveria em todos os meus dias. Cresci sem querer

crescer.

Page 13: Escrita Criativa nº 15

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Dos Quintais da Memória Escrita Criativa

Embora a saudade possa incomodar, pois tais momentos não voltam,

é prazeroso lembrar e saber que desfrutei de tudo isso. E agora, três

décadas depois, sinto que acontece uma nova transição, como a do

início da adolescência, e a percebo por não curtir tanto mais minha

família de origem, mas sim, a que criei. Cada irmão está voltado para

sua própria família, enquanto outros se foram. É hora de fazer novos

esforços, para crescer mais um pouquinho, desta vez sem conflitos,

pois a idade já não permite a negação do avanço. Porém, permaneço

a desfrutar os quintais das lembranças, pois são eles que mantêm

viva a história que vou continuar contando.

Giovana Damaceno

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O dia mais vermelho Escrita Criativa

O dia mais vermelho

A boca sabia-me a tequilha: acabara de apadrinhar o casamento que

queria para mim… Quando consegui abrir a fechadura, entrei de

rompante, não fechei a porta, e fui tropeçar no estupor do cão de

louça da tia Alice. Sempre detestei aqueles paspalhos, inertes, de ar

ameaçador. E aquele já tinha o rabo rachado e as pontas das orelhas

descascadas, ainda por cima… Mas, pronto: a dona, minha tia-avó,

emprestara-me a casa, enquanto emigrou para a terra de onde o

bicho era oriundo, as Caldas da Rainha, em Portugal, e muitas

recomendações me fez… que não alterasse a posição dos móveis,

que não estragasse nada, que não deitasse nada fora…

Juro-vos: naquele momento, eu vi o sacana do cão arreganhar mais

a dentuça para mim, eu vi, sim, como que um esgar de riso, de gozo…

Atirei os sapatos apertados ao ar. Ӄ hoje que eu acabo com este

tipo! Vou escaqueirá-lo!... não: é pouco!” Lembrei-me do garfo do

peixe frito, e fui buscá-lo à gaveta dos talheres: os dentes que lhe

restavam eram afiados como lancetas. Com toda a força que me foi

possível fazer, enfiei-o na boca do bicho até às goelas: deitei-lhe

abaixo uns incisivos, os dentes do garfo partiram-se; a minha mão e

pulso ficaram presos na bocarra, ferrados com os caninos do animal.

Page 15: Escrita Criativa nº 15

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O dia mais vermelho Escrita Criativa

E não consegui retirá-los, nem com a ajuda desajeitada da mão

esquerda.

A boca tinha um gosto adocicado; a visão turvava-se-me mais… Na

nuca, uns arrepios de frio. As fotografias da parede perdiam a cor…

desapareciam. E davam lugar às imagens de vastos campos, cafezais

e bananais sem fim, que se estendiam até às praias…! Mar das

Caraíbas! Pássaros vermelhos: a terra de Lupe…”Trouxe-a para o

México, para Pepe!!...” Era filha de um fazendeiro, moça esbelta, de

andar muito seguro mas desenvolto, que ele, o meu melhor amigo,

me pediu que fosse buscar…Estavam já noivos.

Senti os pés quentes e húmidos: o vermelho do vestido de Lupe

alastrava pelo soalho, lentamente, enrugando-se em pregas,

transpondo a cintura da entrada, embainhando-se no debrum do

patamar de mármore, desfiando-se depois, aqui e ali, pelos degraus

da escada…

Alguém chegou no último instante…

Pepe e Lupe nunca souberam de nada: este é o meu grande segredo.

Resolvi partir. A minha segunda vida é, agora, num imenso bananal,

onde os pássaros têm mil cores!

Graça Samora

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Agridoce sabor do Amar Escrita Criativa

Agridoce sabor do Amar

«É o canto,é o frio,é o simples vazio que

toma conta de mim

É o sol é a lua,

as tuas amarras á minha cintura

que de tanto amor me fazem suar

é o sopro é a brisa

sonho que desliza pelos parapeitos

da minha janela

é quadro pintado a fresco

que a ti me faz chegar

E é feliz e é triste

o momento em que partiste

para de novo te poder encontrar

e se a saudade não engana

não é inopurtuna veterana

por ti me fez cegar

audácia é minha por tentar escrever

aquilo que não consigo falar

a quem fica a quem sente

Histórias Poéticas

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Agridoce sabor do Amar Escrita Criativa

fica apenas

o agridoce sabor do amar.»

Diana Raquel Melo de Almeida

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O Namoro Escrita Criativa

O NAMORO

Namoramos-la toda a vida,

A vida.

É um namoro muito delicado.

A qualquer momento pode ser quebrado

O que nos deixa desesperados

Pois todos os actos de infidelidade ficam marcados.

Por mais que tentemos ser-lhe fieis,

Somos por vezes muito cruéis.

Deixamos que o namoro fique por um fio

E ela permite-nos esse desafio,

Dando-nos abertura, deixando-nos folgados

Mas mostrando-nos que estávamos errados.

Tantas vezes lhe pedimos perdão

E da nossa culpa esperamos absolvição

Mas se tudo corre bem voltamos a desafiá-la,

Duelo ilícito pois não podemos aniquila-la

E por isso ela também nos desafia.

Nós e a vida, somos pura alquimia.

Ana Maria Teixeira

Page 19: Escrita Criativa nº 15

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Vida de Mulher Escrita Criativa

VIDA DE MULHER

Mulher cala a criança!

Mulher quando é servido o jantar?

Mulher vem deitar-te!

Mulher como é belo o teu corpo!

Mulher quanto desejo!

Mas tu deitas-te cansada…

Mulher já é manhã!

Recomeçam as canseiras, uma vida infernal!

Mulher a criança já chora,

Já ferve o leite no fogão!

Corre mulher que se faz tarde e o trabalho não espera!

Mulher, almoçar na cantina, a azáfama diária

Apanhar o comboio, a criança na creche,

As compras no mercado, o marido no café. Depressa!

Depressa que a noite vem correndo!

Mulher, fazer o jantar, passajar, coser, lavar,

Sempre a correr. Que loucura de vida!

Page 20: Escrita Criativa nº 15

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Vida de Mulher Escrita Criativa

Que mata o desejo num rosto tão belo

E o teu belo corpo tão cansado

Na cama repousando...

Teu marido amando-o!

Mas sem entrega recíproca,

Que vida mulher! Que vida!...

Ana Maria Teixeira

Page 21: Escrita Criativa nº 15

21

Sem Abrigo Escrita Criativa

O SEM ABRIGO

Vive na rua o sem abrigo

Não tem um tostão não tem um amigo

Já não tem metas para cortar

Nem meios para a vida melhorar.

Chamam-lhe o enjeitado

Por da vida não querer ser escravo

Luta pelo que quer mas não é determinado

Deixando-se iludir por qualquer ditado.

Vagueia pelas ruas da cidade

E dorme ao relento apreciando a lua.

Chamam-lhe o homem da rua

Mas ele aprecia esta privacidade

E chama-lhe sua.

Come os restos de que se sacrifica

Mas da vida fácil não abdica.

É astuto e perspicaz

Mas no fundo não entende o que faz.

Ana Maria Teixeira

Page 22: Escrita Criativa nº 15

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1 Escrita Criativa

1

Às quatro por três já eram sete

e daqui até depois

parecia demasiado.

O gato, calado, como gente.

A porta permanecia discreta.

O sempre igual a si mesmo.

Enfim... era tarde.

E o chá, gelado.

Francisco Hill

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28 Escrita Criativa

28

Às Portas de Brandeburgo,

vi um gato maltês

a dançar a Polka.

Torci-lhe o rabo e,

com sotaque francês,

chamei-lhe Missy.

Soltou-me os cães sem pestanejar

e, na minha fragilidade

quase terna,

corri,

como nos filmes

pós-realistas da Cinemateca.

Em menos de três tempos,

caí de queixos no capot

de um Mercedes benzido

pelo Papa-Milhas.

Kaputta de cena!

pensei eu.

O dono do carro também

não parece ter gostado.

Page 24: Escrita Criativa nº 15

24

28 Escrita Criativa

Saltavam-lhe Bratwursts

da boca de dois metros

e a sua baba enchia canecas

prontas a gelar

para inglês beber.

Disse-lhe:

vim ver os anjos

mas nem ganza encontrei.

Vou pra casa!

Francisco Hill

Page 25: Escrita Criativa nº 15

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Courier , tamanho doze, espaçamento duplo Escrita Criativa

Courier, tamanho doze, espaçamento duplo

Domingo. Descobri finalmente uma Instituição que me pode

ajudar num problema antigo. O processo é simples: basta consultar o

sítio na Internet para saber a quem me dirigir e escrever-lhe um e-

mail. Não tenho Internet em casa, mas isso não é problema.

Entro num cyber-café e pergunto o preço. Dois euros por

hora. Acho que consigo resolver o problema em dez, quinze minutos.

O empregado avisa que tenho de pagar, no mínimo, o preço de uma

hora. Não gosto da ideia, mas dada a complexidade do problema, o

que são dois euros? Sento-me frente ao computador, escrevo o

endereço na respectiva barra e espero, espero, espero. Chamo o

empregado e aviso que a Internet está lenta. Rosna-me que não pode

fazer nada e volta para trás do balcão.

Ao fim de um quarto de hora, acedo ao sítio da Instituição e

procuro o nome da pessoa que me pode ajudar. Descubro-o uma

hora depois, anoto-o no caderno e procuro o e-mail. Encontro-o

passados quinze minutos. Entro na minha caixa de correio

electrónico, escrevo a mensagem e envio-a. Ao todo, estive na

Internet uma hora e vinte minutos. O empregado cobra-me duas.

Críticas ou Sátiras

Page 26: Escrita Criativa nº 15

26

Courier , tamanho doze, espaçamento duplo Escrita Criativa

Segunda. Entro no cyber-café e consulto a minha caixa de

correio electrónico. Não recebi nenhuma resposta. Pago os dois

euros e saio.

Terça. Cyber-café. Nenhuma resposta. Dois euros.

Quarta, Quinta, Sexta, Sábado, Domingo. Nenhuma resposta.

Dois euros.

Duas semanas depois. Segunda. A pessoa que me pode

ajudar ainda não deve ter lido o meu e-mail. Ou então, já o leu e

ainda não teve tempo de responder. Se calhar, tem estado a pensar

na melhor resposta. Mas também o pode ter apagado sem querer.

Ou então, tem um filtro anti-spam que impediu o meu e-mail de

chegar à caixa de correio dela. Até pode ter um problema no

computador e não conseguir aceder à Internet.

Telefono para a Instituição. Uma voz simpática informa-me

que a chamada será atendida o mais brevemente possível. Depois de

várias músicas, intercaladas com a mensagem inicial, desligo e decido

ir lá pessoalmente.

Apanho um autocarro, um comboio, outro autocarro e um

táxi. Chego e encontro as portas fechadas. Leio o papel que está na

porta. Só atendem pessoas entre as dez e o meio-dia. Percebe-se. À

tarde, têm de resolver os problemas que os cidadãos expõem de

manhã.

Page 27: Escrita Criativa nº 15

27

Courier , tamanho doze, espaçamento duplo Escrita Criativa

Terça. Apanho um autocarro, um comboio, outro autocarro e

um táxi. Chego às dez e um quarto. A fila ocupa metade da rua, vou

ao quiosque mais próximo e compro um jornal. Quando regresso, a

fila está muito maior, mas pelo menos tenho alguma coisa para ler.

Às onze e meia, entro no edifício. Às dez para o meio-dia, só há uma

pessoa à minha frente. Quando chega a minha vez, a funcionária

avisa que está na hora de almoço e baixa os estores. Tento

argumentar que ainda é cedo. Tarde demais, estores fechados.

Quarta. Levanto-me às seis. Depois do pequeno-almoço e da

higiene matinal, apanho um autocarro, um comboio, outro autocarro

e um táxi. Chego às dez para às oito. Já há fila, mas desta vez, trouxe

um livro. Às dez e um quarto, uma funcionária abre as portas.

A minha vez chega às onze e meia. Preparo-me para expor o

problema, quando a senhora me informa que tenho de escrever um

requerimento. Pergunto-lhe como devo fazê-lo, ela pede-me para

esperar e vai ao fundo do escritório, tira um dossier de uma

prateleira alta, pousa-o numa mesa, faz-lhe uma festa, abre-o e

folheia-o devagar, não vá alguma folha rasgar-se por falta de

cuidado.

Está tão concentrada, que consegue virar as folhas e falar

com os colegas sobre uma discussão que ouviu aos vizinhos, uma

notícia que leu num tablóide e o episódio de ontem da telenovela.

Page 28: Escrita Criativa nº 15

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Courier , tamanho doze, espaçamento duplo Escrita Criativa

Sem perder o fio da conversa, retira uma folha do dossier, examina-a,

arrasta-se até à fotocopiadora e tira uma cópia. Regressa, pé ante pé,

e arquiva o original. Aproxima-se de mim, estende-me a cópia, cobra-

me cinquenta cêntimos e diz que aquele é o modelo para expor o

problema.

Volto para casa. Escrevo o requerimento. Revejo-o vinte

vezes. Leio-o em voz alta. Parece-me bem. Não falta nada e está

conforme o modelo.

Quinta. Chego à Instituição, por volta das seis, só há duas

pessoas à minha frente. Às dez e meia, entrego o documento. A

funcionária devolve-mo e diz que não pode aceitá-lo por ter sido

escrito à mão. Manda-me reescrevê-lo a computador e entregar uma

cópia em papel e duas cópias em CD-ROM. Pergunto-lhe se o

conteúdo está correcto, responde que não tem tempo de verificar.

Volto para casa, ligo o computador, abro o programa de

processamento de texto, digito o requerimento, gravo-o, revejo-o.

Ligo a impressora, coloco o papel no tabuleiro, imprimo o

requerimento, copio o ficheiro para dois CD e guardo tudo numa

pasta.

Sexta. Chego às quatro da manhã. Às nove e meia, entrego o

documento. A funcionária recusa-o.

Page 29: Escrita Criativa nº 15

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Courier , tamanho doze, espaçamento duplo Escrita Criativa

- Tem de escrever em courier, tamanho doze e espaçamento

duplo.

- Porquê courier? Arial é uma fonte standard.

- Não posso aceitar em arial e muito menos com

espaçamento simples. Ninguém consegue ler um documento com

espaçamento simples.

Peço desculpa e saio. Quando chego a casa, ligo o

computador, abro o documento e formato-o de acordo com as

instruções da funcionária: Courier, tamanho doze, espaçamento

duplo. Ligo a impressora, o papel já está no tabuleiro. Imprimo o

documento e pego na folha. O texto está esbatido, há palavras

ilegíveis. Verifico o tinteiro, está quase vazio.

Sábado. Levanto-me cedo, vou a uma loja de informática.

Contrariado, o funcionário interrompe uma conversa virtual para me

atender.

– Não tenho tinteiros para essa impressora. Já é antiga.

– Antiga? Ainda não tem dois anos.

– Em informática, dois anos é muito tempo. Tinteiros para

isso, só por encomenda.

– Quanto tempo é que…?

– Três dias. Mas só posso encomendar na segunda, o

fornecedor fecha ao sábado.

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– Posso deixar-lhe os dados do tinteiro?

– Não. É melhor vir cá na segunda.

Agradeço, despeço-me e saio.

Segunda. Volto à loja. O funcionário encomenda o tinteiro

por telefone e informa-me que chega, o mais tardar, na quinta.

Quinta. Volto à loja. Houve um atraso na entrega das

encomendas.

Sexta de manhã. O tinteiro ainda não chegou. Início da tarde.

Nada.

Dezassete horas. Compro finalmente o tinteiro. Regresso a

casa. Ligo o computador, coloco o tinteiro na impressora, imprimo

uma página de teste. Está tudo bem. Abro o documento, imprimo-o.

Guardo a folha na pasta, junto dos cd.

Segunda. Chego à Instituição às cinco para as quatro. Sou

atendido às dez e um quarto, depois de saber o que os funcionários

fizeram no fim-de-semana. Desta vez, quem me atende é uma jovem

sorridente e descontraída. Entrego-lhe o documento e os cd. Ela

sorri, coloca uma pastilha na boca, pega no requerimento, lê-o sem

pressas e informa-me que está de acordo com o modelo. Pede-me o

número de telefone, escreve-o a lápis no canto superior direito da

folha. Pede-me o bilhete de identidade, o número de contribuinte, a

carta de condução, o passaporte, o cartão de eleitor, a cédula militar,

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Courier , tamanho doze, espaçamento duplo Escrita Criativa

o cartão da segurança social, o certificado de habilitações e o cartão

de dador sanguíneo.

Entrego-lhe os documentos, ela copia os respectivos dados e

o texto do meu requerimento, palavra a palavra, para o computador.

Quando termina, cospe a pastilha para o cesto de papéis, coloca

outra na boca, imprime uma ficha com os meus dados e o meu

pedido e manda-me assinar. Fotocopia a ficha, entrega-me a cópia,

devolve-me os documentos e manda-me para a outra sala.

Vou para a outra sala e espero na fila. Uma hora depois, um

funcionário pede-me a cópia da ficha e os documentos. Entrego-lhe o

que me pede. Ele pega numa caneta, estuda minuciosamente os

dados dos meus documentos, compara-os com os dados impressos

na folha e assinala-os à medida que os confirma. Quando termina,

devolve-me os documentos e introduz os dados no computador.

Imprime outra ficha, pede-me para assinar, aperta-me a mão e

informa que me ligarão assim que tiverem a solução para o meu

problema.

Volto para casa. Decido deixar o telemóvel ligado vinte e

quatro horas por dia, quero estar disponível a qualquer momento,

afinal o assunto é do meu interesse.

Três meses depois. Sexta. O telemóvel toca. No visor, está o

nome da Instituição. Atendo. Uma funcionária explica-me que os

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Courier , tamanho doze, espaçamento duplo Escrita Criativa

superiores estudaram atentamente o meu problema, reuniram várias

vezes para analisar e discutir o requerimento e chegaram a

conclusões: dada a complexidade do assunto, não são as pessoas

mais indicadas para o resolver. Muito simpática, a senhora espera

que eu encontre lápis e papel e dita-me o endereço de Outra

Instituição, mais apta para tratar de situações como a minha.

Agradeço e desligo. Apanho um autocarro, um comboio, um

barco, outro comboio e um táxi. No interior das portas de vidro, há

um aviso com o período de atendimento: às quartas-feiras, entre as

dez e quarenta e cinco e as onze e cinquenta.

Volto para casa, optimista. Daqui a cinco dias, o meu

problema estará resolvido.

Firmino Bernardo

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