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LISTA DE EXERCÍCIOS PARA PROVA FINAL/2015 Disciplina: Literatura Prof.: Gessica Gomes Turmas: 8º ano 1 e 2 1º BIMESTRE Leia a crônica a seguir e responda as questões: A Cobrança - Moacyr Scliar Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: "Aqui mora uma devedora inadimplente". ― Você não pode fazer isso comigo ― protestou ela. ― Claro que posso ― replicou ele. ― Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou. ― Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise... ― Já sei ― ironizou ele. ― Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo. ― Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta... ― Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida. Neste momento começou a chuviscar. ― Você vai se molhar ― advertiu ela. ― Vai acabar ficando doente. Ele riu, amargo: ― E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve. ― Posso lhe dar um guarda-chuva... ― Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva. Ela agora estava irritada: ― Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui. ― Sou seu marido ― retrucou ele ― e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação. Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz. ESCOLA ADVENTISTA SANTA EFIGÊNIA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL Rua Prof Guilherme Butler, 792 - Barreirinha - CEP 82.700-000 - Curitiba/PR Fone: (41) 3053-8636 - e-mail: [email protected] site: www.ease.org.br

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LISTA DE EXERCÍCIOS PARA PROVA FINAL/2015

Disciplina: Literatura

Prof.: Gessica Gomes

Turmas: 8º ano 1 e 2

1º BIMESTRE

Leia a crônica a seguir e responda as questões:

A Cobrança - Moacyr Scliar

Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz,

cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: "Aqui mora uma devedora inadimplente".

― Você não pode fazer isso comigo ― protestou ela.

― Claro que posso ― replicou ele. ― Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente.

E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.

― Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...

― Já sei ― ironizou ele. ― Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus

negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que

estou fazendo.

― Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...

― Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você

fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou

outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.

Neste momento começou a chuviscar.

― Você vai se molhar ― advertiu ela. ― Vai acabar ficando doente.

Ele riu, amargo:

― E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.

― Posso lhe dar um guarda-chuva...

― Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.

Ela agora estava irritada:

― Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.

― Sou seu marido ― retrucou ele ― e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é

devedora. Eu avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas

não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você

que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.

Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava:

continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.

ESCOLA ADVENTISTA SANTA EFIGÊNIA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL

Rua Prof Guilherme Butler, 792 - Barreirinha - CEP 82.700-000 - Curitiba/PR Fone: (41) 3053-8636 - e-mail: [email protected] – site: www.ease.org.br

1) Quem é Aristides? Marque somente uma resposta.

a) O cobrador de uma loja de calçados.

b) O marido sem dinheiro.

c) O mecânico sem dinheiro.

d) O cobrador de uma geladeira.

e) O cobrador infiel.

2) A mulher estava devendo...?

a) uma sapateira.

b) um cartaz.

c) um forno.

d) um carro.

e) uma geladeira.

3) Qual é a ação de Aristides para convencer a mulher a pagar a dívida?

4) Qual fato do cotidiano a crônica que você leu explora?

5) Marque o item incorreto em relação à Crônica.

a) Algumas vezes apresenta ausência de personagens.

b) Pode ser classificada em quatro tipos.

c) É um registro breve de eventos.

d) Apresenta linguagem simples e espontânea.

e) Apresenta seres humanos como personagens.

6) Marque a alternativa incorreta em relação às características da crônica.

a) A maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa.

b) Relata acontecimentos do cotidiano.

c) A palavra crônica deriva do latim: chronica, que significa o relato de um acontecimento em ordem

cronológica.

d) Apresenta linguagem pesada com muitas palavras difíceis.

7) A crônica possui várias classificações, quais são elas? Marque a alternativa correta.

a) Lírica, poesia, socialista e jornalística.

b) Narrativa, metafísica, lírica e comentário.

c) Lírica, jornalística, filosófica, animada e humorística.

SOBRE O LIVRO TULIPA NEGRA.

8) Sabemos que Van Baerle é o personagem principal de Tulipa Negra. Comente sobre suas

características físicas e psicológicas, bem como a sua importância na narrativa:

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_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

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9) Depois de um certo tempo a tulipa desabrochou, dando a Van Baerle o momento mais feliz de

sua vida. Porém, um acontecimento impediu que a flor permanecesse em suas mãos. Explique o que

aconteceu e comente sobre a atitude de Rosa para evitar que Boxtel ficasse com os cem mil florins.

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2º BIMESTRE

1) VASO CHINÊS

Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o

Casualmente, uma vez, de um perfumado

Contador sobre o mármore luzidio,

Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado

Nele pusera o coração doentio

Em rubras flores de um sutil lavrado,

Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura -

Quem o sabe? - de um velho mandarim

Também lá estava a singular figura;

Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a

Sentia um não sei quê com aquele chim

De olhos cortados à feição de amêndoa.

(Alberto de Oliveira)

1) Identifique as características parnasianas nos poemas acima e marque a resposta certa:

a) subjetividade, a busca pelo eu e pela Antiguidade Clássica;

b) objetividade, arte pela arte e rimas rica;

c) subjetividade, a busca pelo eu e rimas livres;

d) objetividade, arte pela arte e busca pelo eu;

e) busca pela Antiguidade Clássica, rimas ricas e arte subjetiva.

2) O que é rima rica? Cite dois exemplos em um dos poemas parnasianos.

Leia o poema abaixo:

VIA LÁCTEA SONETO XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas".

3) O poeta conversa diretamente com o leitor no seguinte verso: (Marque somente uma opção).

a) ―Ora (direis) ouvir estrelas!

b) ―E abro as janelas, pálido de espanto...

c) ―E conversamos toda a noite,

d) ―Inda as procuro pelo céu deserto.

4) No soneto, o poeta ao estabelecer um diálogo com o leitor tem a intenção de criar uma (Marque

com um X na resposta correta).

a) identificação.

b) oposição.

c) dúvida.

d) rejeição.

5) O poema pode ser considerado como um hino

a) ao amor.

b) à amada.

c) à vida.

d) ao leitor.

6) Marque a afirmativa correta sobre o Parnasianismo:

a) O Parnasianismo caracterizou-se, no Brasil, pela busca da perfeição formal na poesia.

b) O Parnasianismo determinou o surgimento de obras de tom marcadamente coloquial.

c) O Parnasianismo, por seus poetas, preconizava o uso do verso livre.

d) O Parnasianismo brasileiro deu ênfase ao experimentalismo formal.

e) O Parnasianismo foi o responsável pela afirmação de uma poesia de caráter sugestivo e musical.

7) O Parnasianismo brasileiro foi um movimento. (Marque com um X a resposta correta).

a) Poético do final do século XIX e início do século XX.

b) Lítero-musical do final do século XVIII e início do século XIX.

c) Poético do final do século XVIII e início do século XIX.

d) Teatral do final do século XX.

e) Lítero-musical do início do século XX.

Leia o poema abaixo:

BRAÇOS - CRUZ E SOUSA

Braços nervosos, brancas opulências,

brumais brancuras, fúlgidas brancuras,

alvuras castas, virginais alvuras,

lactescências das raras lactescências.

As fascinantes, mórbidas dormências

dos teus abraços de letais flexuras,

produzem sensações de agres torturas,

dos desejos as mornas florescências.

Braços nervosos, tentadoras serpes

que prendem, tetanizam como os herpes,

dos delírios na trêmula coorte...

Pompa de carnes tépidas e flóreas,

braços de estranhas correções marmóreas

abertas para o Amor e para a Morte!

8) Identifique se o poema acima pertence ao parnasianismo ou ao simbolismo e diga as

características presentes no poema.

9) Indique a única alternativa que apresenta os valores da estética simbolista:

a) A lógica, o mistério e a sensibilidade.

b) A intuição, a ciência e a sonoridade.

c) O ilógico, o simbolismo e o científico.

d) A intuição, a musicalidade e a espiritualidade.

e) A evidência, a coerência e o simbólico.

10) Escolha um dos contos do livro “Rio de sangue e de amor” para realizar uma reflexão a

respeito dos personagens e do amor divino. (Mínimo 5 linhas).

3º BIMESTRE

Leia parte da peça de Martins Pena:

ATO ÚNICO

CENA I

Sala com uma porta no fundo, duas à direita e duas à esquerda, uma mesa com o que é necessário para

escrever-se, cadeiras, etc.

Paulina e Fabiana. Paulina junto à porta da esquerda e Fabiana no meio da sala; mostram-se enfurecidas.

PAULINA (batendo o pé) - Hei de mandar!...

FABIANA (no mesmo) - Não há de mandar!...

PAULINA (no mesmo) - Hei-de e hei-de mandar!...

FABIANA - Não há-de e não há- de mandar!...

PAULINA - Eu lhe mostrarei. (Sai.)

FABIANA - Ai que estalo! Isto assim não vai longe... Duas senhoras a mandarem em uma casa... é o inferno!

Duas senhoras? A senhora aqui sou eu; esta casa é de meu marido, e ela deve obedecer-me, porque é

minha nora. Quer também dar ordens; isso veremos...

PAULINA (aparecendo à porta) - Hei de mandar e hei de mandar, tenho dito! (Sai.)

FABIANA (arrepelando-se de raiva) - Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher

para minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem casa quer casa... Já não

posso, não posso, não posso! (Batendo com o pé:) Um dia arrebento, e então veremos! (Tocam dentro

rabeca.) Ai, que lá está o outro com a maldita rabeca... É o que se vê: casa-se meu filho e traz a mulher

para minha casa... É uma desavergonhada, que se não pode aturar. Casa-se minha filha, e vem seu marido

da mesma sorte morar comigo... É um preguiçoso, um indolente, que para nada serve. Depois que ouviu no

teatro tocar rabeca, deu-lhe a mania para aí, e leva todo o santo dia - vum,vum,vim,vim! Já tenho a alma

esfalfada. (Gritando para a direita:) Ó homem, não deixarás essa maldita sanfona? Nada! (Chamando:)

Olaia! (Gritando:) Olaia!

Quem casa, quer casa!

1) Qual é a temática (assunto) dessa peça?

a) A nora pode mandar mais na casa.

b) Paulina quer ser a melhor esposa na casa.

c) Fabiana encontra-se com problemas, porque seus dois filhos trouxeram seus cônjuges para morarem

com ela.

d) Ninguém tem direito na casa.

2) Trazendo esse texto de 1847 para a atualidade, sua temática (assunto) continua atual?

3) Comente sobre Martins Pena. Qual é a importância desse escritor para o teatro?

4) Há diferença entre teatro e narrativa? Explique.

5) Marque falso ou verdadeiro nas afirmações corretas sobre drama;

( ) O texto é o ponto de partida do teatro.

( ) As ações e gestos das personagens são importantes para a narrativa.

( ) O cenário relatado faz parte da narrativa.

( ) O teatro se completa no romance.

( ) O diálogo entre personagens faz parte do teatro.

a) F-F-F-F-F

b) V-V-F-F-V

c) V-F-V-F-V

d) F-V-F-V-F

6) Quando o teatro no Brasil se estabilizou, ou seja, teve sua característica própria?

a) Século XIV, em 1838.

b) Século XIX, em 1839.

c) Século XX, em 1848.

d) Século XIX, em 1838.

e) Século XVI, em 1888.

7) Por que os jesuítas que vieram para o Brasil utilizavam-se do teatro? Explique.

8) Comente sobre os personagens Ben e Rose no livro Sem fôlego. (Mínimo 5 linhas)

Leia:

O texto a seguir é um fragmento do "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, uma peça teatral de

fundo popular e religioso.

O trecho faz parte da cena do julgamento, na qual as personagens, após a morte, aguardam uma

decisão quanto a seu futuro. O Encourado, que as recebe, manda o Demônio levá-las para o inferno. As

personagens, aos gritos, resistem. Repentinamente, João Grilo, falando bem alto, diz que tem direito a um

julgamento. As outras personagens o apoiam. Nesse momento, pancadas de sino começam a soar. O

Encourado fica agitado.

"JOÃO GRILO - Ah! pancadinhas benditas! Oi, está tremendo? Que vergonha, tão corajoso antes, tão

covarde agora! Que agitação é essa?

ENCOURADO - Quem está agitado? É somente uma questão de inimizade. Tenho o direito de me sentir

mal com aquilo que me desagrada.

JOÃO GRILO - Eu, pelo contrário, estou me sentindo muito bem. Sinto-me como se minha alma quisesse

cantar.

BISPO, estranhamente emocionado. - Eu também. É estranho, nunca tinha experimentado um sentimento

como esse. Mas é uma vontade esquisita, pois não sei bem se ela é de cantar ou de chorar.

Esconde o rosto entre as mãos. As pancadas do sino continuam e toca uma música de aleluia. De

repente, João ajoelha-se, como que levado por uma força irresistível e fica com os olhos fixos fora. Todos

vão-se ajoelhando vagarosamente. O Encourado volta rapidamente as costas, para não ver o Cristo que

vem entrando. É um preto retinto, com uma bondade simples e digna nos gestos e nos modos. A cena

ganha uma intensa suavidade de Iluminura. Todos estão de joelhos, com o rosto entre as mãos.

ENCOURADO, de costas, grande grito, com o braço ocultando os olhos - Quem é? É Manuel?

MANUEL - Sim, é Manuel, o Leão de Judá, o Filho de Davi. Levantem-se todos, pois vão ser julgados.

JOÃO GRILO - Apesar de ser um sertanejo pobre e amarelo, sinto perfeitamente que estou diante de uma

grande figura. Não quero faltar com o respeito a uma pessoa tão importante, mas se não me engano

aquele sujeito acaba de chamar o senhor de Manuel.

MANUEL - Foi isso mesmo, João. Esse é um de meus nomes, mas você pode me chamar também de

Jesus, de Senhor, de Deus... Ele gosta de me chamar Manuel ou Emanuel, porque pensa que assim pode

se persuadir de que sou somente homem. Mas você, se quiser, pode me chamar de Jesus.

JOÃO GRILO - Jesus?

MANUEL - Sim.

JOÃO GRILO - Mas, espere, o senhor é que é Jesus?

MANUEL - Sou.

JOÃO GRILO - Aquele Jesus a quem chamavam Cristo?

JESUS - A quem chamavam, não, que era Cristo. Sou, por quê?

JOÃO GRILO - Porque... não é lhe faltando com o respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito

menos queimado.

BISPO - Cale-se, atrevido.

MANUEL - Cale-se você. Com que autoridade está repreendendo os outros? Você foi um bispo indigno de

minha Igreja, mundano, autoritário, soberbo. Seu tempo já passou. Muita oportunidade teve de exercer sua

autoridade, santificando-se através dela. Sua obrigação era ser humilde porque quanto mais alta é a

função, mais generosidade e virtude requer. Que direito tem você de repreender João porque falou comigo

com certa intimidade? João foi um pobre em vida e provou sua sinceridade exibindo seu pensamento.

Você estava mais espantado do que ele e escondeu essa admiração por prudência mundana. O tempo da

mentira já passou.

JOÃO GRILO - Muito bem. Falou pouco mas falou bonito. A cor pode não ser das melhores, mas o senhor

fala bem que faz gosto.

MANUEL - Muito obrigado, João, mas agora é sua vez. Você é cheio de preconceitos de raça. Vim hoje

assim de propósito, porque sabia que isso ia despertar comentários. Que vergonha! Eu Jesus, nasci

branco e quis nascer judeu, como podia ter nascido preto. Para mim, tanto faz um branco como um preto.

Você pensa que eu sou americano para ter preconceito de raça?

PADRE - Eu, por mim, nunca soube o que era preconceito de raça.

ENCOURADO, sempre de costas para Manuel - É mentira. Só batizava os meninos pretos depois dos

brancos.

PADRE - Mentira! Eu muitas vezes batizei os pretos na frente.

ENCOURADO - Muitas vezes, não, poucas vezes, e mesmo essas poucas quando os pretos eram ricos.

PADRE - Prova de que eu não me importava com cor, de que o que me interessava...

MANUEL - Era a posição social e o dinheiro, não é, Padre João? Mas deixemos isso, sua vez há de

chegar. Pela ordem, cabe a vez ao bispo. (Ao Encourado.) Deixe de preconceitos e fique de frente.

ENCOURADO, sombrio - Aqui estou bem.

MANUEL - Como queira. Faça seu relatório

JOÃO GRILO - Foi gente que eu nunca suportei: promotor, sacristão, cachorro e soldado de polícia. Esse

aí é uma mistura disso tudo.

MANUEL - Silêncio, João, não perturbe. (Ao Encourado.) Faça a acusação do bispo.

(Aqui, por sugestão de Clênio Wanderley, o Demônio traz um grande livro que o Encourado vai lendo.)"

9) O texto teatral e o texto narrativo apresentam semelhanças: tanto um quanto o outro narram

fatos vividos por personagens em determinado tempo e lugar.

a) Qual é o fato principal desse texto?

b) Onde possivelmente ocorrem os fatos?

c) Qual é, aproximadamente, o tempo de duração dessa cena?

10) Nesse texto, o narrador está ausente. Apesar disso, conseguimos ter uma visão ampla acerca

das personagens.

a) Que ideia você faz de João Grilo e do bispo?

b) De que forma as características de cada personagem nos são reveladas, se não há narrador?

11) No texto teatral, as falas das personagens assumem um papel de destaque na construção da

história. Como é reproduzida a fala das personagens: pelo discurso direto e indireto?

4º BIMESTRE

As questões a seguir (01 a 04) refere-se à passagem transcrita do conto “Feliz Aniversário” (Laços de

Família, 1960), de Clarice Lispector (1920/1977).

Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A

aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe de todos. E se de

repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a

aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a

sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava os. E olhava os piscando. Todos

aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como

se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração. Rodrigo, com aquela

carinha dura, viril e despenteada, cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento e intumescido naquela

cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante.

Oh o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres

opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos com um

bom homem a quem, obediente e independente, respeitara; a quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe

pagara os partos, lhe honrara os resguardos. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos,

sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos fracos,

sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas.

Olhou os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça

e com força insuspeita cuspiu no chão.

(LISPECTOR, Clarice. "Feliz Aniversário". In: Laços de Família. 28. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 78/ 79.)

1) Ainda que Clarice Lispector tenha morrido um dia antes de completar cinquenta e sete anos, a

problemática das mulheres da terceira idade faz se presente em muitos de seus contos. “Feliz

Aniversário” registra tal tema. Neste conto, sentada à cabeceira da mesa preparada para a

comemoração de seu octogésimo nono aniversário, D. Anita... Marque a resposta certa:

(A) Lembra se, saudosa, da época em que seu marido era vivo e com ela dividia as dificuldades cotidianas.

(B) Contempla seu neto, Rodrigo, a trazer lhe ao presente a imagem do falecido marido quando jovem.

(C) Rememora, com rancor, sua vida de mulher, seja enquanto esposa, seja enquanto mãe, mostrando se

indignada com a atual falta de afeto de filhos, netos e bisnetos.

(D) Vê, horrorizada, sua descendência constituída por seres mesquinhos.

(E) Mistura presente e passado, deixando emergir a saudade que há tempo domina seu cotidiano.

2) De acordo com esse trecho, é CORRETO afirmar que a aniversariante... Marque a resposta certa:

(A) sente se revoltada pelo fato de seus familiares divertirem se enquanto ela sofre.

(B) olha para os familiares e reprova o comportamento e a personalidade deles.

(C) tem saudades do marido, que a respeitava e a quem ela respeitara.

(D) pensa ter falhado em sua função de educar os filhos, que se mostram desprezíveis a seus olhos.

(E) comporta se de maneira adequada à situação da festa, embora tenha ódio da família.

3) No trecho, a expressão metafórica que revela a preferência da personagem por um de seus

netos é ... Marque a resposta certa.

(A) “uma boa alegria".

(B) "o tronco fora bom”.

(C) "carne de seu joelho”.

(D) "cabecinha ardente".

(E) "carne de seu coração".

Leia o poema “Canção”, de Cecília Meireles.

Canção

Pus o meu sonho num navio

e o navio em cima do mar;

– depois, abri o mar com as mãos

para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas

do azul das ondas entreabertas

e a cor que escorre dos meus dedos

colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,

a noite se curva de frio;

debaixo da água vai morrendo

meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,

para fazer com que o mar cresça,

e o meu navio chegue ao fundo

e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;

praia lisa, águas ordenadas,

meus olhos secos como pedras

e as minhas duas mãos quebradas

4) Pode-se apontar como tema do poema... Só há uma resposta certa.

a) a transitoriedade das coisas.

b) a dúvida existencial.

c) a desilusão.

d) a fugacidade do tempo.

e) renúncia.

5) O que o eu-lírico quer dizer com essas duas estrofes? Marque a resposta certa:

“Chorarei quanto for preciso,

para fazer com que o mar cresça,

e o meu navio chegue ao fundo

e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;

praia lisa, águas ordenadas,

meus olhos secos como pedras

e as minhas duas mãos quebradas”

a) O eu-lírico quer que o mar cresça, por isso está chorando e isso o deixará feliz.

b) O eu-lírico tem o sonho de o navio chegar ao fundo do mar.

c) O eu-lírico deseja que o sonho desapareça mesmo que isso doa, por acreditar que seja a solução e

doe menos.

d) O eu-lírico quer sair do fundo do mar.

6) Qual escritora trabalha com uma literatura em que o mundo real imbrica com o mundo

sobrenatural?

a) Cecília Meireles.

b) Lygia Fagundes Telles.

c) Clarice Lispector.

7) Cecília Meireles retrata em suas poesias...

a) o mundo psicológico.

b) a epifania.

c) o mundo sobrenatural.

d) coisas de infância e a vida simples.

e) brincadeiras.

8) Escolha um personagem do livro Quissama e discorra sobre ele. Mínimo 5 linhas

O PRIMEIRO BEIJO - Clarice Lispector

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o

namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem

junto: ciúme.

- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com

isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma

mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela? - Perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra,

deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso

como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A

concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir,

gritar, pensar, sentir, puxa vida! Como deixava a garganta seca.

E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente

engolia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede

enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio-dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz

secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes,

mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, talvez horas, enquanto

sua sede era de anos.

Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus

olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando,

farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o

chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele

conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O

primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta

encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma

mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole

sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado

dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido

vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo

estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia.

Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma

tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado,

sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto.

Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de

susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

Ele se tornara homem.

(In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998)

9) No primeiro parágrafo do texto podemos observar um sentimento de:

a. Nostalgia

b. Repulsa

c. Ironia

d. Gratidão

10) No início do texto, percebemos a ocorrência do discurso direto:

a. Apresentando as personagens.

b. Inibindo o leitor

c. Confirmando uma ideia apresentada no primeiro parágrafo.

d. Contradizendo uma afirmativa anterior.