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Ervas de Pass arinho unnl não conhece as ervas de passari- nho, essas terríveis parasitas que inva- dem os nossos pomares, haurindo a seiva mineral das nossas fruteiras, causando-lhes até a morte? Providas de numerosas raízes sugadeiras, em tôda a extensão do caule, as ervas de passa. rinho devem ser ferozmente combatidas, apesar das suas propriedades terapêuticas. Cenros VreNe Fnernr Ex-naturalista do Museu Nacional e, com os excrementos, cai sôbre um galho de árvore, germinando logo e emitindo urlâ vefl- tosa gue a fixa fortemente e f.az penetrar nos tecidos da casca os haustórios que atingem os vasos lenhosos, condutores de seiva mineral, da qual se alimenta a planta parasita. A erva de passarinho é clorofilada e, por isso, semi-parasita, nutre-se da seiva mineral ou seiva bruta, absorvida pela planta hospedeira. V |, fragmento do caule de goiabeira; C, calo formado pela hipertrofia dos tecidos da goiabeira para se defender contra a parasita; F, Íeixe lenhoso da goiabeira; P, tecido da parasita que forma o cone de penetração; H, ramos da parasita; V, feixe lenhoso da parasita. P F c O nome por que são conhecidas provém de serem as sementes muito procuradas pelos passarinhos, devido a uma substância adoci- cada e glutinosa que as envolve. A semente per- corre todo o aparêlho digestivo do passarinho I Transcrito de Uíara, revista da Sociedade dos Àmigos do Museu Nacional, Vol. I, N. 1, outubro-dezembro de 1937, Pp.23-24, muitas espécies de ervas de passari- nho e, na presente nota, ocupar-nos-emos, de preferência, de uma muito interessante, que foi enviada ao Museu Nacional por um dos seus amigos, o Sr. Teofilo Carvalho da Silva. pro- prietário da Fazenda da Rocinha, no 4. Dis- trito de Petrópolis. I -1 DEZEMBRO, 1944

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Ervas de Pass arinho

unnl não conhece as ervas de passari-nho, essas terríveis parasitas que inva-dem os nossos pomares, haurindo a seiva

mineral das nossas fruteiras, causando-lhes atéa morte?

Providas de numerosas raízes sugadeiras,em tôda a extensão do caule, as ervas de passa.rinho devem ser ferozmente combatidas, apesardas suas propriedades terapêuticas.

Cenros VreNe FnernrEx-naturalista do Museu Nacional

e, com os excrementos, cai sôbre um galho deárvore, germinando logo e emitindo urlâ vefl-tosa gue a fixa fortemente e f.az penetrar nostecidos da casca os haustórios que atingem osvasos lenhosos, condutores de seiva mineral,da qual se alimenta a planta parasita.

A erva de passarinho é clorofilada e, porisso, semi-parasita, nutre-se da seiva mineral ouseiva bruta, absorvida pela planta hospedeira.

V

|, fragmento do caule de goiabeira; C, calo formado pela hipertrofia dos tecidosda goiabeira para se defender contra a parasita; F, Íeixe lenhoso da goiabeira;P, tecido da parasita que forma o cone de penetração; H, ramos da parasita;

V, feixe lenhoso da parasita.

P

F

c

O nome por que são conhecidas provémde serem as sementes muito procuradas pelospassarinhos, devido a uma substância adoci-cada e glutinosa que as envolve. A semente per-corre todo o aparêlho digestivo do passarinho

I Transcrito de Uíara, revista da Sociedade dos Àmigos doMuseu Nacional, Vol. I, N. 1, outubro-dezembro de 1937, Pp.23-24,

Há muitas espécies de ervas de passari-nho e, na presente nota, ocupar-nos-emos, depreferência, de uma muito interessante, que foienviada ao Museu Nacional por um dos seusamigos, o Sr. Teofilo Carvalho da Silva. pro-prietário da Fazenda da Rocinha, no 4. Dis-trito de Petrópolis. I

-1

DEZEMBRO, 1944

I

Observando o Sr. TeOfilo que as suas ja-boticabeiras e goiabeiras apresentavam ramossecos, procurou averiguar a causa, o que lhe foi[ácil, pois eram ervas de passarinho.

O que lhe pareceu estranho foi o apresen-tarem os galhos atacados uma grande calosi-dade e, dessa, partirem vários galhos de ervasde passarinho. "Nas ervas que eu conheço, -

H

C, casca da planta parasitada; H, raízes adventíciasda parasita; F, feixe lenhoso da parasitai F2, idem da

parasitada,

dizia o Sr. Teófilo, - o caule tem sugadeirasem tôda a extensão e um simples contato pro-voca logo o nascimento de muitas ventosas quese colam fortemente à árvore parasitada. Umsó pé de erva de passarinho pode tomar contade uma laranjeira inteira e até causar-lhe â Ínor-te. A espécie, porém, que agora tenho eocoÍr-trado aqui, e que só verifiquei em goiabeiras ejaboticabeiras, não se estende por tôda a árvo-re; limita-se a um só galho".

Assim falando, levou-nos ao pomar ondejá estavam amontoados e secos, prontos paraqueimar, muitos galhos parasitados.

d

H

Seção longitudinal da parasita e transversal do ramoda parasitada; F, feixe da parasitada (goiabeira);C, calo de proteção; P, cone de penetração da gata,sita; H, ramos da parasita; V, Íeixe lenhoso da erva

de passarinho.

Teve o Sr. Teófilo o cuidado de reservarespecialmente para nossos estudos, uma goia-beira com cinco ramos atacados e uma jaboti-cabeira com sete.

A erva de passarinho a que nos referimosnão é trepadeira como a que ataca as laranjei-ras, nem possui sugadeiras no caule. A semen-

te, caindo sôbre o galho da goiabeira ou dajaboticabeira, germina e o aparêlho sugadorpenetra no galho formando um cone. A árvore,sentindo-se atacada, procura defender-s e al1J-

mentando consideràvelmente os tecidos de re-sistência, ao mesmo tempo que desvia os vasoscondutores de seiva. Trava-se, então, renhidaluta onde a hospedeira consegue, rarameÍrte, as-fixiar a parasita como tivemos ocasião de vere como provam alguns exemplares que trouxe-mos para o Museu Nacional, ofertados poraquêle nosso amigo.

O aparêlho sugador dessa espécie é muitorestrito e se limita apenas à região onde se for-mou o calo. Tem a forma de um cone com ovértice enterrado na planta parasitada. Em um

F

ô

R

wVo

c

)

A, Iragmento de erva de passarinho com as raízesadventicias; B, idem, sem as raízes adventícias; C,fragmento de plantarcom"#lrJ:"""U""ru; D, Ílor de

corte, feito nas proximidades do calo, nada en-contramos da parasita. É, portanto, de fácilcombate. Há ervas de passarinho que, depoisde penetrarem no hospedeiro, desenvolvem oshaustórios ou sugadeiras, sob a casca da âr-vore, não permitindo, assim, que se vejam porfora; são de dificil extinção.

F FT

C, casca da planta parasitada; H, raizes adventíciasda parasita; F, feixe

T:l""rt"Í:.*rasitai F2, idem da

As ervas de passarinho pertencem tôdasa uma só família: Lorantáceas, com cêrca de2l gêneros e 850 espêcies, tôdas tropicais e degrande dispersão devido à facilidade do trans-porte das sementes.

As espécies mais comuns em nossos poma-res pertencem aos gêneros Struthanthus, Oryc,thanthus, Phoradendron.

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H

26 REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONAL

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