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1 Rogate 242 maio/06 OPINIÃO OPINIÃO A fé e a coragem da jovem Maria Jefferson Silveira N o aspecto vocacional, quando se re- flete sobre a figura de Maria, logo vem à mente o fato de ela ser a vo- cacionada do Pai. Em verdade, Deus cha- ma para o seu seguimento aqueles e aque- las que ele quer. Mas ele espera resposta ao seu convite. E Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua vontade” (Lc 1,38). A partir daquele instante, o Espírito Santo pousa em Maria e ela gera Jesus Cristo. É como se, aos olhos de muitos, Maria ganhasse contornos mágicos. Ao gerar o Filho de Deus, ela como que dei- xaria de lado a sua humanidade e se tor- naria divina. Na realidade é uma tendência natural do ser humano em isolar os fatos extraor- dinários e as pessoas neles envolvidas, colocando-as num pedestal inatingível. Passamos à veneração, sufocando seu as- pecto profundamente humano e justifica- mos o não-seguimento de seus exemplos pois eram pessoas excepcionais, muito dife- rente de nós, simples mortais! Cabe, então, especialmente aos anima- dores e animadoras vocacionais, ressaltar que Deus está presente no cotidiano, na vida de todos nós, “simples mortais”. Ma- ria nasceu de pais biológicos, Joaquim e Ana, teve os dissabores e as alegrias da infância, da adolescência, da juventude... Foi educada em um lar profundamente re- ligioso. Obediente a seus pais, estava aber- ta a acolher os desígnios de Deus. Aceita a proposta para se casar com José. É uma adolescente firme e também questionado- ra. Tem a ousadia juvenil de perguntar ao anjo como irá conceber se ainda é virgem, mas não coloca em dúvida os desígnios de Deus, como fizera Zacarias (cf. Lc 1,18.34). Em sua fé e firmeza de caráter, a jo- vem Maria revela a José que está grávida, aceita as conseqüên- cias de ser abandona- da pelo noivo e, de- pois de ser acolhida novamente por José, despede-se dele e da família, partindo so- zinha para uma via- gem, ao encontro da prima Isabel. Ao re- tornar para casa, no- vamente viaja, agora com José, a Belém e, depois, ao Egito. Sua trajetória posterior ao lado de Jesus, cul- minando com o cal- vário do filho e a alegria da ressurreição, atestam a força e a fé desta mulher. O seguimento de seu exemplo no coti- diano de nossas vidas, com toda certeza, animará nossa caminhada vocacional. So- mos vocacionados do Pai, como Maria; se- res humanos como ela. Necessitamos, em nossa limitação, de testemunhos humanos que nos auxiliem em nosso constante dis- cernimento. Enxergar Maria desta forma, humana, com fé e coragem, é motivo de ânimo para a nossa missão cotidiana, de ajudar o Pai na construção de seu Reino. O seguimen- to do exem- plo de Maria no cotidiano de nossas vidas, com toda certeza, animará nossa cami- nhada voca- cional.

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1Rogate 242 maio/06

O P I N I Ã OOPINIÃO

A fé e a coragemda jovem Maria

Jefferson Silveira

No aspecto vocacional, quando se re-flete sobre a figura de Maria, logovem à mente o fato de ela ser a vo-

cacionada do Pai. Em verdade, Deus cha-ma para o seu seguimento aqueles e aque-las que ele quer. Mas ele espera respostaao seu convite. E Maria disse: “Eis aqui aserva do Senhor, faça-se em mim segundoa sua vontade” (Lc 1,38).

A partir daquele instante, o EspíritoSanto pousa em Maria e ela gera JesusCristo. É como se, aos olhos de muitos,Maria ganhasse contornos mágicos. Aogerar o Filho de Deus, ela como que dei-xaria de lado a sua humanidade e se tor-naria divina.

Na realidade é uma tendência naturaldo ser humano em isolar os fatos extraor-dinários e as pessoas neles envolvidas,colocando-as num pedestal inatingível.Passamos à veneração, sufocando seu as-pecto profundamente humano e justifica-mos o não-seguimento de seus exemplospois eram pessoas excepcionais, muito dife-rente de nós, simples mortais!

Cabe, então, especialmente aos anima-dores e animadoras vocacionais, ressaltarque Deus está presente no cotidiano, navida de todos nós, “simples mortais”. Ma-ria nasceu de pais biológicos, Joaquim eAna, teve os dissabores e as alegrias dainfância, da adolescência, da juventude...Foi educada em um lar profundamente re-ligioso. Obediente a seus pais, estava aber-ta a acolher os desígnios de Deus. Aceita aproposta para se casar com José. É umaadolescente firme e também questionado-

ra. Tem a ousadia juvenil de perguntar aoanjo como irá conceber se ainda é virgem,mas não coloca em dúvida os desígnios deDeus, como fizera Zacarias (cf. Lc 1,18.34).

Em sua fé e firmeza de caráter, a jo-vem Maria revela a José que está grávida,aceita as conseqüên-cias de ser abandona-da pelo noivo e, de-pois de ser acolhidanovamente por José,despede-se dele e dafamília, partindo so-zinha para uma via-gem, ao encontro daprima Isabel. Ao re-tornar para casa, no-vamente viaja, agoracom José, a Belém e,depois, ao Egito. Suatrajetória posteriorao lado de Jesus, cul-minando com o cal-vário do filho e a alegria da ressurreição,atestam a força e a fé desta mulher.

O seguimento de seu exemplo no coti-diano de nossas vidas, com toda certeza,animará nossa caminhada vocacional. So-mos vocacionados do Pai, como Maria; se-res humanos como ela. Necessitamos, emnossa limitação, de testemunhos humanosque nos auxiliem em nosso constante dis-cernimento. Enxergar Maria desta forma,humana, com fé e coragem, é motivo deânimo para a nossa missão cotidiana, deajudar o Pai na construção de seu Reino.

O seguimen-to do exem-plo de Mariano cotidianode nossasvidas, comtoda certeza,animaránossa cami-nhada voca-cional.

2 Rogate 242 maio/06

NESTA EDIÇÃO

EntrevistaComunicação é vocaçãoe vocação é comunicação 03

AtualidadesA mídia: rede de comunicação,comunhão e cooperação 07

Especial25 anos da Rogate:uma bonita história a ser contada 10

EstudoDiscípulos e missionáriosde Jesus Cristo - 2ª parte 14

Animação VocacionalVocação à vida consagradaCurso Vocacional Rogate - Lição 04 18

Informação 21

Leitor 23

Mística da VocaçãoMateus, um estranho vocacionado 24

EDITORIAL

Capa: Monumento que retrata a anunciação de Nos-sa Senhora (Roma).

Começamos a celebrar, nesta edição,os 25 anos de vida da revista Ro-gate, que serão completados em

maio de 2007. Teremos um ano de resgatehistórico, sempre apresentado na seção“Especial”. Nesta primeira pesquisa his-tórica, analisamos as capas da Rogate nodecorrer dos anos. Uma interessante abor-dagem, mostrando a evolução e, ao mesmotempo, a preocupação da revista em semanter fiel ao seu objetivo maior, de estara serviço da animação vocacional, em co-munhão com a Igreja.

No mês dedicado à Maria, e, por con-seqüência, às mães e mulheres, a Rogateinicia com uma reflexão mariana (cf. “Opi-nião”), além da homenagem estampada nacapa desta edição.

A “Entrevista” e a seção “Atualidades”trazem o tema da comunicação, cujo DiaMundial é celebrado em 28 de maio.

E falando em dia mundial, não pode-mos esquecer do 43º Dia Mundial de Ora-ção pelas Vocações, celebrado no dia 07 demaio, Domingo do Bom Pastor. A Rogatetrouxe, em sua última edição, tanto a men-sagem do papa Bento XVI para este dia,quanto uma proposta de Celebração Voca-cional baseada na mensagem. Rezemos,pois, pelas vocações...

Ano XXV - nº 242Maio de 2006

Lançada em maio de 1982, a revista Rogate temregistro de matrícula em São Paulo, 01/10/87,no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Re-gistros de Títulos e Documentos, sob o nº98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da LeiFederal nº 5.250, de 1967. A revista é de pro-priedade dos Rogacionistas do Coração de Je-sus, em colaboração com as revistas: RogateErgo e MondoVoc (ltália), Vocations andPrayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas).

DIRETOR DE REDAÇÃOJuarez Albino Destro

EDITORJefferson Silveira

COLABORADORESGeraldo Tadeu Furtado, Gilson Luiz Maia,

Patrício Sciadini; Fábio Mattos e Vanderlei

Mendes (encarte do Triguito)

CONSELHO EDITORIALCinzia Giacinti, Írio e Neide Brogni, José

Lisboa Moreira de Oliveira, Juçara dos Santos,

Lédio Milanez, Rogério e Regiane Darabas

JORNALISTA RESPONSÁVELÂngelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP

IMPRESSÃOGráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR)

SEDE CENTRAL/CONTATOSDireção, Editoria, Secretaria e Administração:Tel.: (11) 3932-1434 Fax: (11) 3931-3162

E-mail: [email protected]://www.rogate.org.br

Rua Comandante Ferreira Carneiro, 9902926-090 São Paulo SP Brasil

ASSINATURA ANUALNormal: R$ 30,00 (10 edições ao ano)Colaborador: R$ 50,00

Exterior: US$ 25,00 (serviço prioritário)

O pagamento poderá ser feito por:-Cheque Nominal-Vale Postal (agência 72.300.159-SP)-Depósito Bancário: Bradesco, agência 117-1, conta 92.423-7, Colégio Rogacionista PioXII (CNPJ 83.660.225/0004-44).Neste caso, enviar comprovante por fax oucorreio, com nome e endereço completos.

Os artigos assinados não expressam,necessariamente, a opinião da Revista

A Turma do Triguito

Celebração VocacionalSacerdócio: chamado àamizade em Jesus Cristo

ENCARTES

3Rogate 242 maio/06

ENTREVISTAENTREVISTA

Comunicação é vocaçãoe vocação é comunicação

No mês em que celebramos o 40º Dia Mundial dasComunicações, a revista Rogate conversa com a assessora

de imprensa da CNBB, a religiosa paulina, Patrícia Silva

Patrícia Silva, religio-sa Filha de São Pau-lo (Paulina), 61 anos,

nasceu em São Sebastiãodo Paraíso (MG), de famí-lia simples e bastante reli-giosa. Tem duas irmãs edois irmãos. Sua mãe foisua própria catequista e apreparou para os sacra-mentos. Seu pai era deuma fé bastante esclareci-da. Quando estava paranascer seu irmão mais ve-lho, o pai foi convocadopara servir o Exército, naRevolução de 1938. Sua mãe fez a promes-sa de jejuar por três dias para que ele vol-tasse e foi atendida. O pai voltou, dispen-sado. Juntos, agradeceram a Deus e, dadoque a mãe estava esperando um filho e nãopodia colocar em risco a vida dos dois, opai fez a proposta de mudar a promessa:alimentar por três dias uma família neces-sitada. E assim fizeram.

Ir. Patrícia cresceu neste clima de fé ediscernimento, apaixonando-se por JesusCristo. “Eu amava muito minha família,seria muito lindo constituir uma família,mas queria um espaço maior, uma famíliamaior”, afirma hoje a religiosa. Ingressou

em seu instituto em julhode 1965, fazendo a primei-ra profissão em 1968. Já nacongregação, estudou Filo-sofia, Ciências Religiosas,Jornalismo, Propaganda ePublicidade, sendo pós-graduada em Pastoral daComunicação.

Dentre as muitas ativi-dades desenvolvidas pelaIr. Patrícia, na missão pau-lina, foi redatora da revis-ta Família Cristã, produto-ra de música na COMEP ede programas de TV, rádio

e audiovisuais. Foi, também, professora deComunicação e assessora de imprensa naarquidiocese de Salvador. Atualmente é as-sessora de imprensa da Conferência Naci-onal dos Bispos do Brasil (CNBB), cargoque vem desempenhando desde 1999. Hátrês anos dirige a produção e a programa-ção da Rádio Nova Aliança, da arquidioce-se de Brasília (DF).

Rogate: Em maio celebramos o DiaMundial das Comunicações. Qual a impor-tância deste evento na e para a Igreja?

Ir. Patrícia: Este evento, em primeirolugar, é concretização do desejo de Jesus,

Fotos: Arquivo pessoal

4 Rogate 242 maio/06

ENTREVISTA

quando na Ascensão ao céu, disse: “Ide pelomundo inteiro e pregai o evangelho a todacriatura” (Mt 16,15). Como chegar ao mun-do inteiro, a todas as pessoas? Sem dúvida,em primeiro lugar, com o tes-temunho de vida. Depois, uti-lizando todos os meios possí-veis para levar a Palavra. Acomunicação é, hoje, uma cul-tura. Como evangelizar, chegarao coração das pessoas, semesta linguagem?

Rogate: Como surgiu oDia Mundial das Comunica-ções Sociais?

Ir. Patrícia: Surgiu com oDecreto Inter mirifica, do Va-ticano II. Neste ano estamoscelebrando o 40º Dia Mundialdas Comunicações. O Intermirifica foi publicado no dia 04de dezembro de 1963. No parágrafo 18, dizo Decreto: “Para que se revigore o aposto-lado da Igreja em relação aos meios de co-municação social, deve celebrar-se em cadaano em todas as dioceses do mundo, a juízodo bispo, um dia em que os fiéis sejam dou-trinados a respeito das suas obrigações nes-ta matéria, convidados a orar por esta cau-sa e a dar uma esmola para este fim, a qualserá destinada a sustentar e a fomentar, se-gundo as necessidades, as instituições e asiniciativas promovidas pela Igreja nestamatéria”. Seria bom avaliarmos esta pro-posta. Em 1971, o Pontifício Conselho paraas Comunicações Sociais divulga a Instru-ção pastoral Communio et progressio e vol-ta a recomendar: “Organizem o Dia Mundi-al das Comunicações” (n. 171).

Rogate: O tema da mensagem do papaBento XVI para celebrar esta 40ª edição do

Dia Mundial é “A mídia: rede de comuni-cação, comunhão e cooperação”. Quais as-pectos gostaria de destacar na mesma?

Ir. Patrícia: Ressalto três aspectos queBento XVI coloca em suamensagem, recordando JoãoPaulo II que havia escrito so-bre isto: formação, participa-ção e diálogo. São aspectosfundamentais para a comuni-cação humana e através dosmeios, sem as quais fica difí-cil se comunicar.

Rogate: E destes três as-pectos, no seu entender, qual se-ria o mais desafiador?

Ir. Patrícia: Os três aspec-tos são muito desafiadores.Mas, sem a formação, fica difí-cil a participação e o diálogo.

Rogate: A vocação da mídia é ser, defato, rede de comunicação, comunhão e coo-peração? Quais os desafios atuais que im-pedem a realização plena deste “chamado”?

Ir. Patrícia: Todos nós nascemos da co-municação e para a comunicação. Comoseres humanos só nos realizamos em co-municação, pela comunhão e em coopera-ção. Quanto à mídia ou meios de comuni-cação, quando inventados, seus criadoresbuscavam exatamente ampliar tudo isto.No entanto, nem sempre assim acontece.Este “chamado” à comunicação, comunhãoe cooperação, às vezes, é bloqueado porinteresses econômicos, centralizadores,manipuladores. Atualmente, as redes decomunicação estão nas mãos de alguns econtradizem a vocação original da mídia.

Rogate: Comunicação e vocação. O quedizer destes dois, digamos, carismas?

Como evange-lizar, chegar ao

coração daspessoas, sem alinguagem dacomunicação?

5Rogate 242 maio/06

ENTREVISTA

Ir. Patrícia: Acredito que há muitos as-pectos em comum entre comunicação evocação. Diria até: comunicação é vocaçãoe vocação é comunicação. Vocação no seuconceito é um chamado que pressupõe umaresposta. O mesmo acontece com a comu-nicação. Se não houver este vai-vem, ouseja, a troca de experiência e vida, nem acomunicação, nem a vocação acontecem.A verdadeira comunicação é caminho paraa comunhão. Uma vocação bem correspon-dida também conduz à comunhão comDeus a serviço do povo.

Rogate: Nossa vocação é “ser fiéis à co-municação de Deus em Cristo”, afirmou opapa em sua mensagem, reconhecendo “suaforça dinâmica dentro de nós”, a fim de es-palhar seu amor ao mundo...

Ir. Patrícia: Deus enviou o seu Filhoao mundo. Cristo é a comunicação de Deus.Para tanto se fez semelhante a nós emtudo, exceto no pecado. Nele,em Cristo, temos o paradig-ma, o modelo da comunicação.Ele concretiza o projeto doPai, ele é o amor que salva,que dá a vida para que todostenham vida. Esta é tambémnossa vocação.

Rogate: São Francisco deSales é o patrono dos jornalis-tas, cuja comemoração se faz àsvésperas de São Paulo, outrogrande comunicador (24 e 25de janeiro, respectivamente).Teríamos outros paradigmas aseguir, nesta área específica?

Ir. Patrícia: Muitos. Poderia dizer queo próprio mês de janeiro começa com umagrande comunicadora: Maria, Mãe deDeus. Dia 06 de fevereiro lembramos os

magos do Oriente, grandes modelos de co-municação. Eles vão em busca, encontram-se com Deus, feito gente, e voltam teste-munhando sua fé. Que modelo lindo decomunicadores! Logo após a festa da con-versão de São Paulo celebramos São Ti-móteo, Tito e Silas, grandes colaborado-res de Paulo.Que modelo de equipe de co-municação! E no final do mês de janeiro -para ficar apenas neste primeiro mês doano - lembramos Santo Tomás de Aquino,grande comunicador e teólogo.

Rogate: João Paulo II, numa cartadirigida aos responsáveis pela mídia - O rá-pido desenvolvimento - afirma que o momen-to culminante no qual a comunicação se fazcomunhão plena é o encontro eucarístico (n.05). De modo geral, como está a comunica-ção em nossas celebrações eucarísticas? Ospadres ou líderes comunitários estão bempreparados nesta dimensão?

Ir. Patrícia: Acredito quehá muito progresso na comu-nicação litúrgica, mas há mui-to caminho a se fazer. Porexemplo, apenas a título deilustração: o acolhimento, acompreensão dos símbolos, aquestão da linguagem.

Rogate: Fale-nos sobre oseu trabalho à frente da asses-soria de imprensa da CNBB.

Ir. Patrícia: Estar à fren-te da Assessoria de Imprensada CNBB é uma grande res-ponsabilidade. Temos o desa-fio de cuidar da imagem pú-

blica da Igreja. Nem sempre esta imagemé fielmente retratada pela grande mídia. Deoutro lado, crescemos também como mídiade inspiração cristã e existe muita contri-

Há muitoprogresso nacomunicaçãolitúrgica, mas

há muito cami-nho a se fazer.

6 Rogate 242 maio/06

buição para que a imagem da Igreja sejavista como ela é. Motivo de alegria é cons-tatar a grande credibilidade que tem a Igre-ja Católica na sociedade. A Igreja tem umapalavra profética para cada situação e, so-bretudo, uma grande decisão na defesa davida. Afinal, este é o desejo de Jesus: “Quetodos tenham vida!” (Jo 10,10).

Rogate: A recente assembléia dos bis-pos, em Itaici, refletiu principalmente sobrea questão da juventude. Sabemos que esta“preocupação” dos bispos não é nova, poisbasta lembrar da Campanha da Fraterni-dade de 1992 (Juventude, caminho aberto).Quais as novidades nesta reflexão?

Ir. Patrícia: Os bispos estão realmenteempenhados, há muito tempo, com a evan-gelização da juventude. Bem antes da As-sembléia refletiram muito sobre isto. Ana-lisaram desafios e perspectivas pastorais,buscaram elementos para o conhecimentoda realidade dos jovens, colocaram um olharde fé a partir da Palavra de Deus e do ensi-namento da Igreja, pensaram os desafios ebuscaram princípios orientadores e pistasde ação. Para estimular mais ainda esta re-flexão, os bispos propõem capacitação delideranças para animação, recomendam umtrabalho na linha da dimensão social da fé,que impulsione o espírito missionário nosgrupos de jovens, pastorais e movimentosapostólicos.

Rogate: Sabemos que os bispos devemempenhar-se pelo apostolado da comunica-ção em suas dioceses, de acordo com o De-creto Inter mirifica (n. 20), do Vaticano II.Qual o retrato atual desta situação?

Ir. Patrícia: Há um empenho de todaa Igreja, atendendo à uma constatação daConferência de Puebla, onde os bispos afir-maram: “Evangelização, anúncio do Rei-

no, é comunicação” (n. 1063). E mais, osbispos afirmam que a comunicação socialdeve ser levada em conta em todos os as-pectos da transmissão da Boa Nova. O re-trato da situação de hoje é bonito, mas in-suficiente. Temos cerca de 10 canais detelevisão de inspiração católica, Rede Ca-tólica de Rádio (190 emissoras), RedeMílicia Sat (116 emissoras), Rede Sul deRádio (10 emissoras comerciais de ondasmédias), Rede Mais Nova FM (5 emisso-ras de rádios comerciais), Rede Paulus Sat(61 emissoras de rádios comerciais eeducativas), Rede Canção Nova (25 emis-soras), 10 grandes editoras, revistas e jor-nais, sites e produtoras de vídeos, DVDs,e CDs. Há muito para crescermos em co-municação, comunhão, cooperação, em tra-balho em rede, como é o desejo de BentoXVI, na mensagem deste ano para o DiaMundial das Comunicações.

Rogate: Para concluir nossa conversa,o que dizer do trabalho e missão da UniãoCristã Brasileira de Comunicação Social(UCBC)?

Ir. Patrícia: A missão da UCBC é mui-to importante. Sendo uma entidade ecu-mênica, congrega profissionais, estudan-tes, pesquisadores, professores de comu-nicação e a mídia impressa secular e reli-giosa, buscando ser um espaço de encon-tro, de intercâmbio, de definição de polí-ticas e processos comunicacionais e deeducação para a comunicação. A UCBCtem promovido, junto com a CNBB, osMutirões de Comunicação, sendo que opróximo acontece no ano que vem, emPorto Alegre (RS). Quase sempre estesdebates e reflexões são publicados em li-vros e assim vão registrando a história dacomunicação.

ENTREVISTA

7Rogate 242 maio/06

ATUALIDADESATUALIDADES

A mídia: rede de comunicação,comunhão e cooperação

Este é o tema da mensagem do papa Bento XVIpara o 40º Dia Mundial das Comunicações,

a ser celebrado em 28 de maio

1Em continuidade com o quadragési-mo aniversário da conclusão do Con-cílio Ecumênico Vaticano II, desejo

recordar o Decreto sobre os Meios de Co-municação Social, Inter mirifica, que re-conheceu aos meios de comunicação o po-der de influenciar toda a sociedade huma-na. A necessidade de usufruir, do melhormodo possível, de tais potencialidades, embenefício da humanidade inteira, estimu-lou-me, nesta minha primeira mensagempara o Dia Mundial das Comunicações So-ciais, a refletir acerca do conceito de que amídia se pode configurar como uma redecapaz de facilitar a comunicação, a comu-nhão e a cooperação.

São Paulo, na sua carta aos Efésios,descreve detalhadamente a nossa vocaçãohumana para “participar na natureza divi-na” (Dei Verbum, 21): através de Cristopodemos apresentar-nos ao Pai num sóEspírito; assim já não somos estrangeirosnem hóspedes, mas concidadãos dos san-tos e familiares de Deus, tornando-nostemplo santo e habitação de Deus (cf. Ef2,18-22). Este retrato sublime de uma vidade comunhão engloba todos os aspectos danossa existência como cristãos. O chama-do a ser fiéis à comunicação de Deus emCristo é um chamado a reconhecer a sua

força dinâmica dentro de nós, que depoisse alarga aos outros, para que este amorse torne realmente a medida dominante domundo (cf. Homilia para o Dia Mundial daJuventude, Colônia, 21/08/2005).

2Em certos aspectos, os progressostecnológicos dos meios de comuni-cação venceram o tempo e o espaço,

permitindo a comunicação imediata e di-reta também entre pessoas divididas porenormes distâncias. Este desenvolvimen-to exige uma grande oportunidade paraservir o bem comum e “constitui umpatrimônio que deve ser salvaguardado epromovido” (O rápido desenvolvimento, 10).Mas, como bem sabemos, o nosso mundoestá longe de ser perfeito e verificamos co-tidianamente que a rapidez da comunica-ção nem sempre consegue criar um espí-rito de colaboração e de comunhão no âm-bito da sociedade.

Iluminar as consciências das pessoas eajudá-las a desenvolver o próprio pensamen-to não é uma tarefa fácil. A comunicação au-têntica deve basear-se na coragem e na de-cisão. Quantos trabalham na mídia devemestar determinados a não se deixarem sub-jugar pela grande quantidade de informaçõese não devem contentar-se com verdades par-

8 Rogate 242 maio/06

ciais ou transitórias. De fato, é preciso pro-curar difundir as verdades fundamentais e osignificado profundo da existência humana,pessoal e social (cf. Fides et ratio, 5). Destaforma os meios de comunicação podem con-tribuir construtivamente para a difusão detudo o que é bom e verdadeiro.

3Hoje o apelo que se faz à mídia é queseja responsável, para se tornar pro-tagonista da verdade e promotora da

paz que dela deriva, mesmo se isto com-porta grandes desafios. Os diversos ins-trumentos de comunicação social facilitamo intercâmbio de informações e de idéias,contribuindo para a compreensão recípro-ca entre os diversos grupos, mas ao mes-mo tempo podem ser contaminados pela

ambigüidade. Os meiosde comunicação socialsão uma “grande mesaredonda” para o diálogoda humanidade, mas al-gumas atitudes no seuinterior podem geraruma monocultura queofusca o gênio criativo,reduz a sutileza de umpensamento complexoe desvaloriza as peculi-aridades das práticasculturais e a individua-lidade do credo religio-so. Estas degenerações

verificam-se quando a indústria da mídiase torna fim em si mesma, tendo unica-mente por finalidade o lucro, perdendo devista o sentido de responsabilidade no ser-viço ao bem comum.

Por conseguinte, é necessário garantiruma cuidadosa crônica dos acontecimentos,uma explicação satisfatória dos assuntos deinteresse público, uma apresentação hones-

ta dos diversos pontos de vista. A necessi-dade de defender e encorajar o matrimônioe a vida da família é particularmente impor-tante, sobretudo porque se faz referênciaao fundamento de todas as culturas e soci-edades (cf. Apostolicam actuositatem, 11).Em colaboração com os pais, os meios decomunicação social e as indústrias do espe-táculo podem servir de apoio na difícil, masnobre e satisfatória, vocação de educar ascrianças, apresentando modelos edificantesde vida humana e de amor (cf. Inter mirifica,11). Quando se verifica o contrário, todosnos sentimos desencorajados e aviltados. Onosso coração sofre, sobretudo quando osnossos jovens são subjugados por expres-sões de amor degradantes ou falsas, que ri-dicularizam a dignidade doada por Deus acada pessoa humana e ameaçam os interes-ses da família.

4Para encorajar uma presença constru-tiva e concreta dos meios de comuni-cação na sociedade, desejo realçar a

importância de três aspectos, indicados pelomeu venerado predecessor, o papa João Pau-lo II, indispensáveis para um serviço desti-nado ao bem comum: formação, participa-ção e diálogo (cf. O rápido desenvolvimento,11). A formação para o uso responsável ecrítico da mídia ajuda a pessoa a servir-sedela de modo inteligente e apropriado. Oimpacto incisivo de um novo vocabulário ede novas imagens, que sobretudo os meiosde comunicação eletrônicos introduzem tãofacilmente na sociedade, não devem ser su-bestimados. A mídia contemporânea formaa cultura popular e, portanto, deve vencerqualquer tentação de manipulação, sobre-tudo em relação aos jovens, procurando, aocontrário, educar e servir, para garantir arealização de uma sociedade digna da pes-soa humana, e não a sua desagregação.

ATUALIDADES

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9Rogate 242 maio/06

ATUALIDADES A mídia, encruzilhada dasgrandes questões sociais

AIgreja, que em virtude da mensagemde salvação que lhe foi confiada pelo

seu Senhor é também mestra em humani-dade, sente o dever de oferecer a sua con-tribuição para uma melhor compreensão dasperspectivas e das responsabilidades rela-cionadas com os atuais progressos das co-municações sociais. Precisamente porqueinfluenciam a consciência das pessoas, for-mam a sua mentalidade e determinam a suavisão das coisas, é necessário recordar demaneira vigorosa e clara que os instrumen-tos de comunicação social constituem umpatrimônio a ser tutelado e promovido. É ne-cessário que também as comunicações so-ciais entrem num quadro de direitos e de-veres organicamente estruturados, sob oponto de vista quer da formação e da res-ponsabilidade ética, quer da referência àsleis e às competências institucionais.

[...] Devido aos fortes vínculos que amídia tem com a economia, com a políticae com a cultura, é necessário um sistemade gestão que seja capaz de salvaguardara centralidade e a dignidade da pessoa, aprimazia da família, célula fundamental dasociedade, e a correcta relação entre os di-versos sujeitos.

Impõem-se algumas escolhas que sãoreconduzíveis a três opções fundamentais:formação, participação e diálogo.

[...] sem uma adequada formação, cor-re-se o risco que a mídia, em vez de estarao serviço das pessoas, as instrumentalizee condicione com grande incisividade. [...]Se as comunicações sociais são um bemdestinado a toda a humanidade, devem serencontradas sempre formas atualizadaspara tornar possível uma ampla participa-ção na sua gestão [...]. Por fim, não se de-vem esquecer as grandes potencialidadesque os mass media têm ao favorecer o diá-logo, tornando-se veículos de conhecimen-to recíproco, de solidariedade e de paz.

João Paulo II. O rápido desenvolvimento,Carta Apostólica de 24/01/05, n. 10-11.

5A participação na mídia nasce da suaprópria natureza, como um bem des-tinado a todos os povos. Como servi-

ço público, a comunicação social exige umespírito de cooperação e co-responsabili-dade, exige um uso dos recursos públicos,sábio como nunca, e um sério compromis-so da parte de quantos desempenham pa-péis de responsabilidade pública (cf. Éticanas Comunicações Sociais, 20), recorren-do também a normas de regulação e a ou-tras providências ou estruturas designa-das para tal finalidade.

Por fim, a promoção do diálogo atravésdo intercâmbio de cultura, a expressão desolidariedade e a adesão à paz oferecemuma grande oportunidade à mídia que ne-cessita ser revalorizada e usada. Desta for-ma, ela torna-se recurso importante e pre-cioso para construir uma civilização deamor, que é o desejo de todos os povos.

Tenho a certeza de que sérios esforçospara promover estes três aspectos desen-volverão nos meios de comunicação a suavocação de redes de comunicação, de co-munhão e de cooperação, ajudando ho-mens, mulheres e crianças a se tornaremmais conscientes da dignidade da pessoahumana, mais responsáveis e mais aber-tos aos outros, sobretudo aos membros dasociedade mais necessitados e mais débeis(cf. Redemptor hominis, 15; Ética nas Co-municações Sociais, 4).

Para concluir, desejo recordar asencorajadoras palavras de São Paulo: Cris-to é a nossa paz. Aquele que de dois fezum só povo (cf. Ef 2,14). Derrubemos omuro de hostilidades que nos divide econstruamos a comunhão do amor, segun-do os projetos do Criador, revelados atra-vés de seu Filho!

Papa Bento XVI

10 Rogate 242 maio/06

ESPECIALESPECIAL

25 anos da Rogate:uma bonita história a ser contada

Em maio de 1982 começa a circular a revista Rogate.Para celebrar os seus 25 anos de vida e serviço na animaçãovocacional, neste ano jubilar (maio de 2006 a maio de 2007)

estaremos resgatando a sua trajetória até os dias atuais

Rogate ergo Dominum messis! Rogaipois ao Dono da messe! (cf. Mt 9,38;Lc 10,2). Este mandamento de Je-

sus, transmitido aos seus discípulos apóster percebido que a colheita era grande epoucos os operários, foi compreendido eassimilado por Santo Aníbal Maria DiFrancia (1851-1927) num momento deoração diante de Jesus Eucaristia, numadas Igrejas de sua cidade, Messina, Itália.A situação sócio-política de sua região, deextrema pobreza e indiferença por partedas autoridades (inclusive religiosas), es-tava bastante semelhante à situação daépoca em que Jesus fez o desabafo aosseus amigos mais próximos: Rogai paraque o Dono deste mundo envie mais pes-soas que nos ajudem a transformar estatriste realidade!

Santo Aníbal, após compreender o man-damento de Jesus, o qual passou a chamarde Rogate, dedicou, a partir de então, todaa sua vida por esta causa, aprofundando ateologia bíblica, divulgando a necessidadeda oração vocacional e testemunhando - naprática - como deveria agir um “operáriona messe” (para aprofundar a gênese doRogate em Santo Aníbal, sugerimos o belotexto de Luigi Di Carluccio, Aníbal Di

Francia, precursor e mestre da modernapastoral vocacional, EAR, São Paulo, 2001).

Dentre os principais feitos de SantoAníbal, citamos a fundação de dois institu-tos religiosos, as Filhas do Divino Zelo (em1887) e os Rogacionistas (em 1897). Am-bos com a missão de rezar diariamente pe-las vocações, divulgar o Rogate na Igreja edar testemunho de como ser um bom operá-rio ou uma boa operária na messe. Em 1897Santo Aníbal institui a Sagrada Aliança,envolvendo os ministros ordenados, consa-grados e consagradas na missão pelo Roga-te. E no ano 1900, seguindo o modelo daSagrada Aliança, ele institui a União de Ora-ção pelas Vocações, visando envolver os cris-tãos leigos e leigas nesta missão.

O Rogate “impresso”Uma das formas eficazes de transmitir

o carisma do Rogate à Igreja, conscienti-zando a todos para a necessidade de se re-zar pelas vocações, além de ser bom ope-rário na messe, ajudando a construir oReino, é através dos meios de comunica-ção social. E Santo Aníbal sabia disso. Eleeditava, em sua época, um periódico cha-mado “Deus e o próximo”, atingindo mui-tas pessoas, de todas as vocações - cris-

11Rogate 242 maio/06

ESPECIAL

tãos leigos e leigas, ministros ordenados,consagrados e consagradas.

Em 1938, mais de dez aos após o fale-cimento de Santo Aníbal, os Rogacionis-tas lançam a revista Rogate Ergo, na Itá-lia. Nasce com o objetivo claro de difun-dir, na Igreja, a necessidade de se rezarpelas vocações, mais do que ser um ins-trumento ao serviço de animação voca-cional. Esta concepção mais ampla da di-mensão vocacional aconteceria algunsanos depois, em 1973.

A nossa revista Rogate inspirou-se narevista Rogate Ergo. Em 1981, quando osRogacionistas estavam no Brasilhá 31 anos, uma equipe de religi-osos animadores vocacionais, res-ponsáveis pela área do Rogate,pensaram em transformar o infor-mativo do Seminário Rogacionis-ta Pio XII, de Criciúma (SC), emuma revista vocacional, para todoo país. Além disso, a equipe su-geriu a criação de um centro voca-cional que se responsabilizassepela revista e por outras produ-ções vocacionais e atividadesformativas.

As duas idéias da equipe foramaprovadas e, assim, nasce a revis-ta Rogate e o “Centro Rogate doBrasil”. A primeira edição da Ro-gate é de maio de 1982, circulan-do com o subtítulo “revista de ori-entação vocacional”. Na 19ª edi-ção, em fevereiro de 1984, o sub-título passa a ser “revista de ani-mação vocacional”, que se man-tém até hoje.

O Centro Rogate, sede da re-vista, localizava-se em Curitiba(PR), tendo sido transferido paraSão Paulo no início de 1987.

Acima, capa do primeiro númerodo Informativo do SeminárioRogacionista Pio XII (1979),que estimulou a criação da revistaRogate (1982). No meio, capa daprimeira edição. Em 1983 a Rogateganha nova capa (9ª edição).

As primeiras ediçõesInteressante observar as capas das pri-

meiras edições da Rogate. Eram altera-das no início de cada ano. Nas primeirasoito edições, embora se mantivesse amesma arte - uma montagem de fotos (mi-nistro ordenado na pastoral e na liturgia,uma pessoa consagrada na pastoral, gru-po de oração, jovem vocacionado) -, haviamudança de cor a cada número.

No início de 1983, edição 9, a equipe re-solveu promover a primeira grande altera-ção gráfica, em vista da realização do AnoVocacional no Brasil. A capa, o logotipo e as

seções internas sofreram sua pri-meira mudança. “A revista ficoumuito mais agradável e organiza-da, com conteúdos mais profun-dos” (cf. Especial: há vinte anos!!Rogate 202, encarte, maio/2002).A capa, que perdurou um ano, foielaborada por Vicente Mero, da ci-dade de Grottaferrata, Itália. Con-tinha três desenhos ou fotos: Cris-to, que chama; Santo Aníbal, oapóstolo da oração pelas vocações;e o jovem (o mesmo das primeirascapas), representando a juventu-de, destinatária, por excelência, dochamado vocacional.

O logotipo criado em 1983manteve-se por 14 anos, até a edi-ção 151 (abr/1997). O atual já temsete anos, tendo sido inauguradona edição 165 (set/1998).

12 Rogate 242 maio/06

ESPECIAL

1984 a 1988: capasdesenhadas

O sistema de numeração das ediçõesda Rogate não era, inicialmente, contínuo.Recomeçava a cada novo ano de edição. Em1983, por exemplo, a edição de maio rece-beu o número 02, ano II, ao invés do nú-mero 12. Isto perdurou até o início de 1986,com a 39ª edição, quando se resgatou a nu-meração contínua. A alteração do ano deedição também passou a ser no início (ja-neiro/fevereiro) e não mais em maio (mêsdo aniversário da revista). Hoje estamosna 242ª edição, ano XXV.

As capas, de 1984 a 1988, embora con-tinuassem apresentando a mesma artedurante o ano todo, alterando apenas o nú-mero da edição e o mês correspondente,tinham em comum o fato de serem dese-nhadas. Os anos de 1984 e 1985 mantive-ram os traços da capa anterior (1983). Ade 1984, verde, apresenta uma pessoa emposição orante, cujos pensamentos vãosubindo em direção ao céu; a de 1985, azul,mostra duas mãos bastante próximas, dei-xando a entender a mão humana e a divi-na, a mão da súplica - “Rogar” - e a mãoque atende, movido por compaixão.

Em 1986, o desenho da capa, rosa, des-taca a realidade urbana, da qual surge umapessoa com os braços erguidos, orando,

louvando, suplicando. Tais desenhos estãonum formato de pomba, evocando a idéiado Espírito Santo.

O desenho da capa de 1987 faz lembrardo cuidado que deve ter o ministro orde-nado para com as pessoas, especialmenteas mais indefesas. O padre deve ser umautêntico pastor. A autoria do desenho édo religioso Rogacionista, Ir. FranciscoChirico, ilustrador oficial da Rogate naépoca. Hoje o religioso é o responsávelpelo setor de assinaturas. Durante estes25 anos de história da revista, muitos de-senhos são de sua autoria.

A capa de 1988 traz, pela primeira vez,algo escrito, além do desenho. E não pode-ria ter sido outra mensagem a não ser oícone do Rogate (Mt 9,37-38). O texto estádentro de um pássaro, simbolizando o Es-pírito divino. Aparecem, também, as mãosdo orante, a realidade urbana e a lua (ou osol). Este desenho foi elaborado por LuísCarlos da Silva, na época religioso Rogacio-nista. O uso de textos nas capas, a partirde 1988, seria uma constante.

1989 a 1996: referência àCampanha da FraternidadeAs capas começaram a ganhar quatro

cores em 1989, ano em que se iniciou asreferências às Campanhas da Fraternidade

As capas, de 1984 a 1988, eram desenhadas.

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ESPECIAL

nas capas anuais da Rogate. A de 1989 ain-da era no formato de desenho, seguindo oesquema anterior. Nos anos seguintes, 1990a 1992, passou-se a utilizar fotos. Porém,em 1993 e 1994, os desenhosretornaram. Nestes dois anos hou-ve um avanço: a cada mês altera-va-se a cor de fundo da capa, em-bora fossem mantidos os desenhose os textos. Em 1995 o avanço foiainda maior: uso de fotos a cadaedição, embora com o mesmo tex-to durante o ano.

Esta prática de se fazer refe-rência à Campanha da Fraterni-dade vai até 1996, na edição 143(A Fraternidade e a Política; Jus-tiça e paz se abraçarão). A partirda edição seguinte, 144 (ago/1996), as capas começam umanova fase, fazendo referência àtemática principal do mês emquestão.

Na seqüência, as capas da Ro-gate trouxeram:

a) 1989: A fraternidade e co-municação. Desenho de Ir. Fran-cisco Chirico;

b) 1990: A fraternidade e amulher. Foto montagem;

c) 1991: A fraternidade e omundo do trabalho. Foto de ope-rários;

d) 1992: Fraternidade e juven-tude. Foto de jovens caminhando,durante um encontro latino-ame-ricano de jovens, na Bolívia;

Capas da Rogate quecomeçaram a fazer referência

às Campanhas da Fraternidade.Esta prática foi de 1989 a 1996.

e) 1993: Fraternidade e moradia. De-senho de Jair José Rosso, na época religio-so Rogacionista;

f) 1994: A fraternidade e a família. De-senho de Jair José Rosso;

g) 1995: A fraternidade e osexcluídos. Fotos diferentes a cadanúmero, mantendo o mesmo tex-to durante o ano todo;

h) 1996: A fraternidade e apolítica. Utilização de fotos refe-rentes ao tema principal do mêsem questão.

1997 a 2002: boas novasNa edição 151 (abr/1997) co-

meçam as chamadas de capa. Nomês seguinte - centenário de fun-dação dos Rogacionistas (1897-1997) - um novo desenho é inau-gurado, tanto na capa, quanto nasseções internas.

Em 1998 foi elaborado umencarte especial sobre os 16 anosda Rogate. Saiu na edição 163.Neste mesmo ano era inaugura-do um novo desenho gráfico, comnovo logotipo e novas seções. Adiagramação começava a ser fei-ta pelo próprio Centro Rogate doBrasil (e não mais terceirizada).

Finalmente, em 2002, na edi-ção 207 (novembro), a revistaRogate começa a ser impressatotalmente colorida. E no dia 02de dezembro de 2004 ela é lança-da, oficialmente, na rede Mundi-al de Computadores, a Internet(endereço: www.rogate.org.br).

Nas próximas edições estare-mos aprofundando mais algunsdados desta bonita história!

A Redação

14 Rogate 242 maio/06

E S T U D OESTUDO

Na edição anterior, apresentamos aprimeira parte desta breve refle-xão sobre o Documento de Partici-

pação à 5ª Conferência do Episcopado daAmérica Latina e do Caribe, afirmando quehá uma continuidade entre as cinco assem-bléias, todas tendo como objetivo a evan-gelização. “Com o ouvido colado no cora-ção de Deus e a mão no pulso do tempo”,o Documento de Participação apresenta arealidade latino-americana de forma pro-funda, indo além da “superfície”. E aomostrar o fundamento antropológico damissão, o documento deixa claro que “éresposta a uma busca [...] que seja, de fato,o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Passemos à segunda parte da reflexão.

A missão: uma corrente deamizade com Deus, de vida e

promoção humanaA história da Igreja na América Latina

é a história da missão, isto é, o desenrolarda história da salvação, expressão do de-sígnio salvífico de Deus. Diz o Documentode Participação: “Por um sábio e bondosodesígnio da Providência divina, chegou até

as terras do Continente essa corrente deamizade com Deus, de vida nova e de pro-moção humana, que Jesus Cristo inicioucom sua Encarnação e sua Páscoa, e que oEspírito Santo, com força pentecostal, im-pulsiona ao longo dos séculos” (n. 21).

A missão não se inicia jamais a partirda estaca zero. O primeiro missionário éo Espírito Santo. Ele chega antes de qual-quer missionário humano para preparar oterreno, nele espargindo as sementes doVerbo, a que se referem os Padres Apolo-getas. Semente do Verbo são aqueles valo-res evangélicos que o Espírito divino es-palha na cultura e na vida dos povos: de-sejo de justiça, paz, fraternidade, sede deDeus, anseio misterioso de encontrar al-guém que seja, de fato, Caminho, Verda-de e Vida. É neste terreno preparado peloorvalho divino, derramado pelo Espírito,que o missionário lança a semente da Pa-lavra de Deus. Sem essa ação preparató-ria do Espírito, a semente da Palavra cai-ria sobre o asfalto duro. Sem essa ação, aevangelização seria algo acidental na vidadas pessoas. Quando o evangelho chegoupela primeira vez ao nosso continente, oEspírito Santo já havia preparado o terre-

A revista Rogate apresenta a segunda parte do estudo deD. Benedito Beni dos Santos, bispo auxiliar de São Paulo,

sobre o Documento de Participação à 5ª Conferência doEpiscopado da América Latina e do Caribe

Discípulos e missionáriosde Jesus Cristo

2ª parte

15Rogate 242 maio/06

ESTUDO

Logotipo da 5ª Conferência doEpiscopado da América Latina e

do Caribe: Jesus Cristo (cruz),Maria (globo), mar (semicírculoazul) e terra (semicírculo verde)

(CELAM), em 1955, e as diversas assem-bléias do episcopado por ele promovidastêm sido instrumentos para promover amissão e ajudá-la a vencer os obstáculos.

A missão evangelizadora da Igreja foienriquecida ultimamente com diversosdons da bondade e sabedoria do Pai. ODocumento de Participação cita, de modoespecial, a realização do Concílio Ecumê-nico Vaticano II, que fez surgir, em todaAmérica Latina, paróquias missionárias,ministros da Palavra, renovação litúrgica,

valorização da piedade popular,diáconos permanentes, pastoralpresbiteral, diálogo ecumênico

e inter-religioso, dinami-zação da pastoral da juven-tude e da pastoral vocacio-nal. Dons da bondade e sa-bedoria do Pai, foram ain-da, segundo o documento,a opção preferencial pelospobres, a teologia da liber-tação e a nova evangeliza-ção, lançada pelo papa JoãoPaulo II. Seu pontificadofoi também um grandedom da bondade e sabedo-ria do Pai (cf. n. 33).

Em resumo, com sua ação missionária,a Igreja procurou, desde o início, dar umaresposta àqueles que buscavam, às apal-padelas, satisfazer a sede de busca de sen-tido, felicidade e transcendência (cf. n. 32).

Discípulos e missionáriosO cristianismo não é, antes de tudo,

uma doutrina. Ele teve origem num acon-tecimento: a encarnação do Filho de Deus:“Quando chegou a plenitude dos tempos,Deus enviou o seu Filho ao mundo, o qualnasceu de uma mulher”. Na encarnação de

no, espargindo, na vida dos povos, as se-mentes do Verbo. A isso faz referência oseguinte texto do Documento de Partici-pação: “Neles [povos], as sementes doVerbo, que estavam presentes em um pro-fundo senso religioso, esperavam o orva-lho fecundo do Espírito. Eram muitos osvalores que caracterizavam e que os pre-dispunham a uma recepção mais prontado evangelho” (n. 22).

A Divina Providência, porém, usou deum outro meio, logo no início, para abriras portas do coração dos povos au-tóctones a Jesus Cristo, BoaNova do Pai para a sua vida:a aparição da Virgem deGuadalupe (n. 23). No ros-to de Maria, como afirmouJoão Paulo II no discursode abertura da 2ª Confe-rência Geral do Episcopa-do Latino-Americano,encarnavam-se os autên-ticos valores culturais in-dígenas.

A missão, enquanto açãohumana, está envolvida nãosó por luzes, mas tambémpor sombras. As vicissitu-des históricas também atingem a ação mis-sionária. O Documento de Participação refe-re-se a um verdadeiro holocausto dos indí-genas realizado pela ocupação dos assim cha-mados colonizadores. Mas, por outro lado,houve também intrépidos lutadores pela jus-tiça, evangelizadores da paz (cf. n. 25).

A missão, conforme nos mostra o livrodos Atos, encontra sempre obstáculos.Vence-os, porém, na força do Espírito.Também, na América Latina, a ação mis-sionária sempre encontrou obstáculos, atémesmo crises eclesiais. A fundação doConselho Episcopal Latino-americano

Divu

lgaçã

o

16 Rogate 242 maio/06

seu Filho, Deus de tal modo se aproximoudo ser humano que ele mesmo se tornouum ser humano. O cristianismo iniciou-senesse encontro, que, como recorda o Do-cumento de Participação, é a razão da nos-sa fé. A Igreja vive desse encontro. Ele re-vela quem nós somos, de onde viemos epara onde vamos. A missão da Igreja é le-var todos ao encontro com Jesus. Esse en-contro, como mostra o episódio da Sama-ritana, ou de Zaqueu, leva a uma revisãode vida e à conversão. Esse encontro é afonte do discipulado e da missão.

O evangelho mostra que ser discípulo deJesus é fruto de uma vocação. É ele quemchama. A resposta só é possível através daação da graça: “Ninguém pode vir a mim, seo Pai não o atrair”. A resposta é algo muitoprofundo: consiste em se encontrar com Je-sus e o acolher em nossa vida. Tal acolhidaimplica viver de acordo com os seusensinamentos. Jesus é também mestre.

Ele reúne discípulos não para servi-lo,mas para prepará-los à missão. A finalida-de do discipulado é a missão. Por isso, aIgreja é uma comunidade de comunhãocom Cristo em vista da missão. A dimen-são comunitária e a dimensão missionáriasão as características principais da Igreja.A partir daí, podemos compreender a im-portância da Eucaristia. “Para que essacomunhão com ele fosse cada vez mais ple-na, Jesus Cristo se entregou a seus discí-pulos como o Pão da vida eterna e os con-vidou na Eucaristia a participar de suapáscoa” (n. 52). É na Eucaristia que a Igrejaexpressa a sua identidade e nela cresce.Como mostra o episódio de Emaús, a mis-são tem a sua fonte principal no encontrocom o Cristo vivo presente na Eucaristia.Ela alimenta a missão: “Eu estarei convos-co todos os dias até o final dos tempos”.Jesus pronunciou essas palavras, ao envi-ar os apóstolos em missão. A Eucaristia étambém o objetivo da missão: levar todosao encontro com o Cristo vivo para que setornem seus discípulos e missionários.

Para que nele nossos povostenham vida

Esse é o título do último capítulo doDocumento de Participação. Trata da ativi-dade pastoral. É por meio da pastoral queo anúncio da Boa Nova torna-se boa reali-dade para os que procuram um sentido àvida; para os que têm fome de Deus; paraos pobres e todos os que sofrem. O docu-mento ensina que a Igreja, a Eucaristia e oamor ao próximo são inseparáveis. O amorao próximo prolonga a diaconia de Cristo.

Semelhante ao livro dos Atos, que fi-cou de certo modo inacabado para mostrarque a missão deve continuar, também oDocumento de Participação está um pouco

ESTUDODi

vulga

ção

O Documento de Participação

O assim chamadoDocumento deParticipação à5ª Conferência doEpiscopado daAmérica Latina edo Caribe temcomo finalidadeanimar e orientara participaçãodas comunidadeseclesiais noevento. A contribui-ção deverá serdada a partir dopreenchimento defichas até novem-bro deste ano.

Formato: 13,5 x 21 cmPáginas: 112Preço: R$ 8,00Paulinas - PaulusTel.: 0800-7010081

17Rogate 242 maio/06

inacabado. O último capítulo não está pron-to. Ele deve ser escrito com a contribui-ção de todas as comunidades da AméricaLatina e do Caribe. Trata-se, agora, de ela-borar as práticas pastorais e missionáriaspara todo o continente. O documento enu-mera apenas alguns núcleos para desper-tar a criatividade:

a) formação de discípulos e missio-nários. Existe, ainda, muito descuido, so-bretudo na formação dos leigos para a mis-são. Esta é uma das causas da diminuição donúmero de católicos, do abandono da práticados sacramentos: batismo, crisma e matri-mônio. Nossas paróquias precisam ser nãosó comunidades de acolhida, mas tambémcomunidades missionárias, comunidades quevão ao encontro. A vida das paróquias preci-sa girar não só em torno do eixo sacramen-tal, mas, igualmente, do eixo da Palavra. For-mação mais intensa de discípulos e missio-nários. Está aí um grande desafio.

b) Defesa e promoção da vida. Nun-ca a vida dos inocentes esteve tão amea-çada como em nossos dias. Muitos se es-quecem de uma verdade simples e eviden-te: como a vida é um dom fundamental esagrado, cada ser humano deve ser um ser-vidor da vida, da vida sua e da vida de qual-quer ser humano. Servidor da vida queapenas está se iniciando e também da vidaem desenvolvimento. Servidor da vida quenasce plena e forte, mas também servidorda vida que nasce frágil e com defeito. Ser-vidor da vida em seu início, mas também

ESTUDO

D. Benedito Beni dos Santos

servidor da vida que está se aproximandode seu fim natural. Servidor e defensor davida devem ser os agentes do Estado dedireito, pois a essência da missão do Esta-do é a defesa e a promoção da vida. A de-fesa da vida é um valor supra-partidário,no sentido que deve inspirar qualquer po-lítica que esteja a serviço da pessoa huma-na e da sociedade. É também um valor su-pra-religioso. A inviolabilidade da vida hu-mana, desde seu início até o seu fim natu-ral, é uma questão de direito natural. Oscristãos encontram em sua fé um motivo amais para defender esse direito. Não setrata, pois, de impor à sociedade ou ao Es-tado laico uma convicção religiosa, maslevá-lo a respeitar um direito do ser hu-mano. A Igreja, enquanto instituição dasociedade civil, não só pode, mas tem odever de assim agir.

c) Grande missão continental. Aquise encontra, a meu ver, a grande intuiçãodo Documento de Participação. Através da5ª Conferência, envolver toda a Igrejanuma grande missão continental. Nestesentido, a “Conferência de Aparecida” nãosó estará continuando a tradição das As-sembléias precedentes, mas realizando umsalto qualitativo, que mudará a face pasto-ral da Igreja e aprofundará a sua presençana sociedade. Para isso é necessário umempenho de todos, a começar desde ago-ra, desde essa fase de preparação que estáse iniciando.

www.celam.infoAcompanhe as novidades e a preparação à5ª Conferência do Episcopado da AméricaLatina e do Caribe pela Internet

18 Rogate 242 maio/06

VOCACIONALANIMAÇÃO VOCACIONAL

Vocação à vida consagradaCurso Vocacional Rogate - Lição 04

O estilo próprio de viver esta consagração batismal, sobrea ação luminosa do Espírito Santo, vem se desenvolvendo ao

longo dos séculos em diversas formas

Avocação à vida consagrada é umchamado especial para viver em co-munhão com a Santíssima Trinda-

de. Deus Pai ama e chama desde toda aeternidade. O Filho, que os consagrados eas consagradas seguem, ensina a construiro Reino, cumprindo fielmente a vontadedo Pai. O Espírito Santo ilumina e impul-siona os consagrados a continuarem a mis-são do Filho.

Vocação símboloO papa João Paulo II descreveu a voca-

ção à vida consagrada como um chamadodivino para ser sinal do Reino (cf. VitaConsecrata, 1.14.16.20). Os consagrados,com a vivência dos votos de pobreza, obe-diência e castidade, apontam para o Reinofuturo e ao mesmo tempo antecipam estarealidade no meio do mundo.

A vida consagrada é sinal de esperançatransformadora dentro da Igreja e da co-munidade humana. Os consagrados, comseu testemunho de entrega à causa doevangelho, indicam, mesmo que silencio-samente, a presença libertadora de Deus.Recordamos o exemplo e o martírio dairmã Dorothy Stang, que em 2005 foi as-sassinada no Pará defendendo a vida dospobres e a floresta amazônica. Os consa-grados questionam, incomodam, denunci-

am as situações de injustiças e apontampara os caminhos do Reino. Este testemu-nho vivo, sinal de um estilo de vida origi-nal e diferente, assinala a dimensão esca-tológica da vida consagrada.

Seguir a Jesus de NazaréOlhando mais atentamente, a vida con-

sagrada é uma contínua experiência no se-guimento de Jesus de Nazaré. Esta voca-ção se caracteriza pelo seguimento radicalde Jesus, que implica participar de sua cruze de sua esperança. Os consagrados vivemem comunidade, cultivam a oração, medi-tam a Palavra de Deus e participam da mis-são evangelizadora.

As pessoas chamadas por Deus à vidaconsagrada são seduzidas pela causa doevangelho (cf. Jr 20,7). Elas seguem aspegadas do Mestre, vivendo em obediên-cia, pobreza e castidade como sinal de con-tradição no meio da sociedade e constru-indo o Reino (cf. Mt 6,10).

A consagraçãoTodos somos consagrados no batismo.

Mas os que são chamados à vida consagra-da aderem mais radicalmente a Jesus Cris-to mediante a profissão dos conselhosevangélicos. Esta consagração, mais queuma resposta humana, é um dom divino,

19Rogate 242 maio/06

Vida consagrada:dom de Deus à Igreja

VOCACIONAL

Cf. Vita Consecrata, n. 1, 14, 72.

sinal da graça e do amor do Pai que chamaao seguimento do Filho. Os que são cha-mados à vida consagrada respondem ge-nerosamente ao convite de Jesus: “Se que-res ser perfeito, vai, vende os teus bens,dá o dinheiro aos pobres, e terás um te-souro no céu. Depois vem e segue-me”(Mt 19,21).

Os chamados à vida consagrada obede-cem as regras e constituições dos seus res-pectivos institutos. Mas é mediante a pro-fissão dos votos ou conselhos evangélicosque os consagrados manifestam sua radi-cal adesão ao evangelho.

Os votos de castidade, pobreza e obe-diência são de um profundo significado emmeio a sociedade. Não se trata de viver asexualidade de forma desumanizadora, detestemunhar uma pobreza aparente ouuma obediência alienada. Os votos são ex-pressões de uma entrega total e incondi-cional no seguimento de Jesus. Tambémsão uma crítica à sociedade consumista,erotizada e egoísta. A castidade alegre, apobreza solidária e uma obediência evan-gélica atrai os corações indignados comas ideologias dominantes e apontam paraa realidade do Reino.

Avida consagrada, profundamente arrai-gada nos exemplos e ensinamentos de

Cristo Senhor, é um dom de Deus Pai à suaIgreja, por meio do Espírito. Através da pro-fissão dos conselhos evangélicos, os tra-ços característicos de Jesus - virgem, po-bre e obediente - adquirem uma típica epermanente “visibilidade” no meio do mun-do, e o olhar dos fiéis é atraído para aque-le mistério do Reino de Deus que já atuana história, mas aguarda a sua plena reali-zação nos céus.

Ao longo dos séculos, nunca faltaramhomens e mulheres que, dóceis ao chama-mento do Pai e à moção do Espírito, esco-lheram este caminho de especial seguimen-to de Cristo, para se dedicarem a ele decoração “indiviso” (cf. 1Cor 7,34). Tambémeles deixaram tudo, como os Apóstolos, paraestar com Cristo e colocar-se, como ele, aoserviço de Deus e dos irmãos [...].

O fundamento evangélico da vida con-sagrada há de ser procurado naquela rela-ção especial que Jesus, durante a sua exis-tência terrena, estabeleceu com alguns dosseus discípulos, convidando-os não só aacolherem o Reino de Deus na sua vida,mas também a colocarem a própria exis-tência ao serviço desta causa, deixandotudo e imitando mais de perto a sua formade vida [...].

À imagem de Jesus, dileto Filho “aquem o Pai consagrou e enviou ao mun-do” (Jo 10,36), também aqueles que Deuschama a seguir Cristo são consagrados eenviados ao mundo para imitar o seuexemplo e continuar a sua missão. Valen-do fundamentalmente para todo o discí-pulo, isto se aplica de modo especialàqueles que são chamados, na caracte-rística forma da vida consagrada, a seguirCristo “mais de perto” e a fazer dele o“tudo” da sua existência. Na sua vocação,portanto, está incluído o dever de se de-dicarem totalmente à missão.

As pessoasde vida

consagradacultivam a

oração,meditam a

Palavra de Deuse participam

da missãoevangelizadora

Fotos: Arquivo Rogate

20 Rogate 242 maio/06

Pe. Gilson Luiz Maia, RCJ

Para meditar e responder:

ANIMAÇÃO VOCACIONAL

1. Por que a vida consagrada é uma vo-cação símbolo?

2. Escreva um breve comentário sobreo significado dos votos de pobreza,obediência e castidade.

3. Qual a relação entre vida consagra-da e profetismo?

Consagrados eprofetas

A vocação à vida consagra-da está relacionada com otema do profetismo. As pes-soas consagradas se entregamradicalmente à causa do evan-gelho. Seu testemunho deamor e adesão a Jesus se ma-nifesta de forma transparenteno amor aos pobres e excluí-dos. Esta radicalidade e ocompromisso com os peque-nos e marginalizados (cf. Mt25,34-40) tocam no coraçãodos jovens. Estes se sentematraídos quando encontramconsagrados que testemu-nham com alegria e fé sua ade-são a Jesus Cristo, sua fideli-dade ao carisma e a história dofundador de seu instituto.

A vida consagrada não épara qualquer jovem. Noevangelho encontramos al-guém que não foi capaz de renunciar atudo para seguir a Jesus (cf. Mc 10,17-22).Nem todos têm a coragem da radicalida-de no seguimento do Mestre da Galiléia.Não é fácil ser profeta, viver os votos depobreza, castidade e obediência mergulha-do na realidade atual. Mas quando Deuschama e recebe uma resposta generosado coração vocacionado, ele também dá aforça do seguimento e a perseverançapara aqueles que abraçam esta maneiraespecial de viver o amor.

Um caminho de serviço esantidade

A vida consagrada é um chamado deDeus para a pessoa trilhar um caminho de

serviço e santidade. A consa-gração supõe uma entrega in-condicional de serviço aos ir-mãos, deixando-se conduzirpor Deus no cumprimento damissão (cf. Vita Consecrata,72). Os consagrados têm ple-na consciência de que seu ser-viço e sua missão representamCristo, prolongam a memóriaviva de Jesus no seu modo deviver e agir, fazendo-o presen-te na história.

Para viver plenamente suaconsagração, a pessoa chama-da a esta vocação deixa-seconduzir pelo Espírito. Pois éo Espírito Santo quem nosconsagra no batismo e nosconfigura a Cristo. Ele é quemplasma e ilumina o coraçãohumano, ajudando a viver osvotos e ser sinal do Reino nomundo. Da parte do vocacio-nado, pressupõe-se uma aber-

tura e um esforço interior para viver a ra-dicalidade do evangelho no fiel seguimen-to de Jesus Cristo. Afinal, se toda vocaçãoé um caminho de santificação, esta reali-dade é ainda mais forte para a vocação àvida consagrada (cf. Vita Consecrata, 35).

Se todavocação é umcaminho desantificação,

esta realidadeé ainda maisforte para a

vocação à vidaconsagrada

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IN FORMAÇÃOIN FORMAÇÃO

Novos estudos da CNBB

Lançados pela Paulus,os dois novos estudosapresentam o resultadode dois recenteseventos nacionais

Maria Angela Borsoi, secretária do cardeal Dom Paulo,após selecionar alguns pensamentos do arcebispo

emérito de São Paulo, mostrou-lhe o resultado do traba-lho. “Pouco tempo depois, com seu sorriso de bondade eaquiescência, sentenciou, num - raro! - comentário: Obri-gado, são como que estrelas na noite escura!”. Lançadopelas Paulinas, o livro contém 323 pensamentos, num totalde 163 assuntos.

Formato: 13 x 20 cmPáginas: 102Preço: R$ 11,30

Pensamentos de Dom Paulo Evaristo Arns

Divu

lgaçã

o

Formato: 12,5 x 18 cmPáginas: 152 (nº 90)

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Pedidos:www.paulus.com.brTel.: (11) 5084-3066

Olivro “Estudos da CNBB nº90” apresenta as cinco as-sessorias e o documento

final do 2º Congresso Vocacional doBrasil, realizado em Itaici, Indaia-tuba (SP), de 02 a 06 de setembrode 2005. Teve por tema: “Igreja, povo de Deus a serviço davida”, e lema: “Ide também vós para a minha vinha! (Mt 20,4)”.

Já o livro “Estudos da CNBB nº 91” traz o essencial do 8ºEncontro Nacional da Animação Bíblico-Catequética, reali-zado entre os dias 06 e 09 de outubro de 2005, em Belo Hori-zonte (MG). O tema: “Ouvir e proclamar a Palavra”, e o lema:“Seguir Jesus no caminho (cf. Mc 10,52)”. O evento fez refe-rência aos 40 anos da Constituição Dogmática Dei Verbum,do Vaticano II, e sua influência na renovação da Igreja e dacatequese.

Divulgação

Pedidos:www.paulinas.org.brTel.: 0800-7010081

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IN FORMAÇÃO

ANÚNCIO CATTONI

Assembléia da CNBBDe 09 a 17 de maio, em Itaici, Indaiatu-

ba (SP), os bispos do Brasil estarão refle-tindo sobre o tema: “Evangelização da ju-ventude”, em sua assembléia anual. Seráa 44ª edição. O evento acontece imediata-mente antes do 15º Congresso Eucarísti-co Nacional, que se realizará em Florianó-polis (SC), de 18 a 21 deste mesmo mês.

Perfil do AnimadorVocacionalNo próximo dia 03 de junho, na sede

do Instituto de Pastoral Vocacional (IPV),em São Paulo (SP), realiza-se mais um cur-so de formação destinado aos animadoresvocacionais. Pe. José Lisboa Moreira deOliveira, religioso Vocacionista e Diretor-presidente do IPV, estará trabalhando atemática sobre o “Perfil do Animador Vo-cacional”. O curso vai das 8 às 18 horas. Ainscrição, incluindo material didático e al-moço, é de R$ 60,00. Informações e ins-crições pela Internet (www.ipv.org.br) oupelo telefone: (11) 3931-5365, das 14 às18 horas (2ª à 6ª feira).

Retiro VocacionalEstão abertas as inscrições para o reti-

ro vocacional de 2006, marcado para os dias

28 a 30 de julho, no Centro de Convivên-cia Mãe do Bom Conselho, das IrmãsAgostinianas, em Jundiaí (SP). Promovidopelo Instituto de Pastoral Vocacional (IPV),o retiro tem o propósito de refletir o senti-do da vida, a partir do “Caminho deEmaús”, buscando, na espiritualidade,motivação aos desafios e indagações domundo atual, recriando a própria identida-de. A assessoria será do religioso Roga-cionista, Pe. Geraldo Tadeu Furtado, e dareligiosa Filha do Divino Zelo, Ir. PatríciaMonteiro. Ambos fazem parte da Direto-ria Executiva do IPV. Informações e ins-crições no IPV (veja endereço e telefonena nota anterior).

Novena Vocacional popularA Equipe de Assessoria ao Rogate ela-

borou uma novena vocacional popular, emformato de bolso, visando facilitar a utili-zação por parte do orante. Há um temaespecífico para cada dia, tendo Santo AníbalMaria Di Francia como intercessor, ele queé considerado o apóstolo da oração pelasvocações. O pedido mínimo é de 100 uni-dades (R$ 15,00). Não estão incluídas asdespesas postais. Mais informações no siteda revista Rogate (www.rogate.org.br) oupelo telefone: (11) 3932-1434.

23Rogate 242 maio/06

As mensagens enviadas poderão sereditadas pela equipe, favorecendo ummelhor entendimento de seu conteúdo.

Acesse a revista Rogate pela Internet:www.rogate.org.brNeste endereço você podeacessar a Revista Rogate(veja ao lado) e também outrossites importantes, como o doInstituto de Pastoral Vocacionale o da Turma do Triguito.

L E I T O RLEITOR

Pastoral FamiliarGostaríamos de comunicar que desde

dezembro a TV Século 21 está exibindo, nasquartas-feiras às 18h30, com reprise nasquintas-feiras às 7h15, o programa “BoasNotícias - Família”. O conteúdo é elabora-do pelo Instituto Nacional da Família e pelaPastoral Familiar. Para mais informaçõesou sugestões, eis o nosso endereço ele-trônico: [email protected]

João Bosco e Eunides LugnaniPinhais (PR)

CatequeseFoi publicado na coleção “Estudos da

CNBB”, as palestras do Encontro Bíblico-Catequético Nacional. Encontra-se, tam-bém, nas livrarias o subsídio sobre o Evan-

gelho de Marcos 1 para os Círculos Bíbli-cos e Grupos de Reflexão.

Pe. Jânison de SáIr. Maria Aparecida Barboza, ICMAssessores Nacionais da Catequese

Brasília (DF)

Nova coordenação do SAVVenho até vocês para comunicar a nova

coordenação do Serviço de Animação Vo-cacional (SAV), Regional Norte 1. Desdejulho de 2005 eu vinha desempenhandoeste trabalho. Foram sete meses. Respon-dendo ao convite de minha provincial paraassumir a missão em Belém (PA), tive quedeixar a coordenação. Pe. Odair Costa(redentorista), a pedido de nosso bispo ede acordo com o seu provincial, assumiu acoordenação do SAV e da Escola Vocacio-nal. Continuaremos unidos na oração, mis-são e em cada Eucaristia. Que Maria, mãedas vocações, conceda a graça que maisprecisamos para sermos verdadeiramenteanimadores vocacionais e tenhamos forçae coragem de responder com generosida-de ao amor gratuito de Deus.

Ir. Gervis Monteiro, FSPManaus (AM)

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MÍSTICAMÍSTICA DA VOCAÇÃO

Mateus, um estranho vocacionado

Frei Patrício Sciadini, OCD

Sempre que me deparo com a leiturados textos do evangelho em queocorre a escolha dos discípulos eu

me pergunto: quais eram os critérios deJesus para discernir a vocação dos primei-ros discípulos? Imagino Jesus indo pelabeira do mar, com amor e forte decisão,olhando os pescadores. Ficava encantadocom o esforço que eles faziam para ganharo pão de cada dia. Via que estas pessoas,acostumadas ao sol e à chuva, ao vento eao frio, poderiam dar a própria vida pelonovo ideal do Reino. Como eles entendi-am de pesca poderiam ser educados e for-mados a entender de uma nova “pescaria”,a dos homens, no amor da humanidade.

Jesus escolheu para segui-lo não apenasuma categoria de pessoas, mas várias. E aque mais me chama a atenção é a escolhade Mateus, de Levi. Diz o evangelista:

Jesus saiu de novo para a beira do mar.Toda a multidão vinha ter com ele, e ele osensinava. Quando ia passando, viu Levi fi-lho de Alfeu, sentado junto ao balcão dacoletoria e lhe disse: “Segue-me”. Levi le-vantou-se e o seguiu. Certa vez, Jesus esta-va à mesa em casa de Levi. Muitos cobrado-res de impostos e pecadores estavam senta-dos junto com Jesus e seus discípulos, poiseram muitos os que o seguiam. Os escribas,que eram fariseus, viram que ele comia comos pecadores e cobradores de impostos e dis-seram aos discípulos: “Por que ele come ebebe com cobradores de impostos e pecado-res?” Ouvindo isso, Jesus lhes disse: “Nãosão os que têm saúde que precisam de médi-co, e sim os enfermos. Não vim chamar osjustos, mas os pecadores” (Mc 2,13-17).

Mateus não devia ser uma pessoa bemquista pelo povo, porque cobrava imposto.Estava a serviço do poder. Devia ser umfiscal exigente. Pode ser que os olhos deJesus viram em Levi um coração genero-so, alguém que fazia este trabalho descon-tente, que pensava em outras coisas. Defato, assim que Jesus o chamou, ele ime-diatamente, deixando tudo, passou a segui-lo. A pessoa de Jesus era fascinante paratodos. Seu olhar, suas palavras, sua manei-ra de agir e de tocar o coração alheio.

A metodologia vocacional de Deus é tãodiferente da nossa! Jesus não olha o traba-lho que a pessoa faz, mas sim a profundida-de do coração, o que se passa no interior.

Depois do chamado, pouco sabemos deMateus, mas ele tem uma importância fun-damental na construção do novo Reino eem transmitir para nós a pessoa do Mes-tre. Mateus sente-se chamado a escreverpara o povo de Israel, dirige a sua cate-quese aos próprios judeus. Sabe, comopoucos, colocar em algumas linhas todo oprograma do Reino, que são as bem-aven-turanças, princípios básicos para a totalfelicidade de quem segue o Mestre.

E hoje Jesus continua a chamar para oseu serviço todas as categorias de pesso-as que provêm de todos os trabalhos. Se-ria interessante que cada sacerdote, bis-po, contasse a sua história. Quem diria queo papa João Paulo II, antes de entrar noseminário, era trabalhador de minas, eteatrólogo? Deus se serve de todos os nos-sos dons, é só sabermos oferecê-los comalegria e amor.