ergatividade cindida, papel temático e causativização na língua ka'apor

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Ergatividade cindida, papel temático e causativização na língua Ka’apor 1 Split ergativity, theta role and causative verbs in the Ka’apor language Fábio Bonfim Duarte Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais Mário Alexandre Garcia Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais Abstract This paper examines the Case and theta role assignment to DPs in the Ka’apor language. Our hypothesis is that Ka’apor manifests a split Case system, which may be triggered either by the semantic nature of stative predicates or by the DPs that receive the theta role “paciente/theme”. In addition to this, we propose that the enclitic particle [.ke] may be described as the (absolutive) Case and thematic role assignment to object and to subject of unaccusative verbs. We also postulate that the causative prefix {mu- ~ m-}, which occurs in ergative predicates, is the morphological manifestation of the light verb. Finally, we propose to extend the obligatory Case parameter in order to explain the split Case system of the Ka’apor. Thus, we suggest that Spec-TP is activated for assigning the (nominative-absolutive) structural Case to the subjects of active transitive, unergative and unaccusative verbs and Spec-vP is activated for assigning the absolutive Case to the object and to the subject of stative verbs. Keywords Split Case, theta role, causative verb and Obligatory Case Parameter (OCP).

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Ergatividade Cindida, Papel Temático e Causativização Na Língua Ka'Apor

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  • Ergatividade cindida, papel temtico e

    causativizao na lngua Kaapor1

    Split ergativity, theta role and causative verbsin the Kaapor language

    Fbio Bonfim DuarteUniversidade Federal de Minas GeraisUniversidade Federal de Minas GeraisUniversidade Federal de Minas GeraisUniversidade Federal de Minas GeraisUniversidade Federal de Minas Gerais

    Mrio Alexandre GarciaUniversidade Federal de Minas GeraisUniversidade Federal de Minas GeraisUniversidade Federal de Minas GeraisUniversidade Federal de Minas GeraisUniversidade Federal de Minas Gerais

    AbstractThis paper examines the Case and theta role assignment to DPs in theKaapor language. Our hypothesis is that Kaapor manifests a split Casesystem, which may be triggered either by the semantic nature of stativepredicates or by the DPs that receive the theta role paciente/theme.In addition to this, we propose that the enclitic particle [.ke] may bedescribed as the (absolutive) Case and thematic role assignment toobject and to subject of unaccusative verbs. We also postulate that thecausative prefix {mu- ~ m-}, which occurs in ergative predicates, is themorphological manifestation of the light verb. Finally, we propose toextend the obligatory Case parameter in order to explain the split Casesystem of the Kaapor. Thus, we suggest that Spec-TP is activated forassigning the (nominative-absolutive) structural Case to the subjectsof active transitive, unergative and unaccusative verbs and Spec-vP isactivated for assigning the absolutive Case to the object and to the subjectof stative verbs.

    KeywordsSplit Case, theta role, causative verb and Obligatory Case Parameter(OCP).

  • DUARTE; GARCIA 216

    Resumo

    Este artigo trata da atribuio de Caso, Papel Temtico e da realizaodo verbo causativo na lngua Kaapor. Procuramos demonstrar que alngua Kaapor manifesta uma ciso no sistema de Caso, a saber:nominativo-absolutivo. Esta ciso conseqncia da natureza semnticados DPs e dos verbos estativos. Com relao aos verbos estativos, ocaso absolutivo marcado por meio dos prefixos absolutivos. J osDPs sujeito de verbos inacusativos e estativos, e objeto de verbostransitivos recebem caso absolutivo por meio da partcula [.ke], quecodifica, alm do Caso, o papel temtico [+paciente/tema]. Sobre overbo causativo, propomos que o prefixo {mu ~ m}, que ocorre empredicados ergativos, a manifestao morfolgica do verbo causativoleve. E por fim, buscamos explicar a ciso no sistema de Caso doKaapor, utilizando o Parmetro de Caso Obrigatrio (OCP). Sugerimosque Spec-TP ativado para atribuir caso estrutural (nominativo-absolutivo) aos sujeitos de verbos transitivos, inergativos e inacusativose Spec-vP ativado para atribuir o Caso absolutivo ao objeto e ao sujeitode verbos estativos.

    Palavras-chaveciso no sistema de Caso, papel temtico, verbo causativo e ParmetroObrigatrio de Caso (OCP)

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 217

    0. INTRODUO0. INTRODUO0. INTRODUO0. INTRODUO0. INTRODUO

    ste artigo tem por objetivo mostrar que, na lngua Kaapor2, diferentementede outras lnguas Tupi-Guarani, possvel estabelecer uma ntidadistino sinttica entre predicados inergativos e inacusativos, se

    tomarmos por base o papel temtico e o Caso (estrutural) que atribudo aoDP sujeito desses verbos. Buscamos ainda motivar que o prefixo causativo{mu- ~ m-}, que pode ser acrescentado a verbos descritivos/estativos,inacusativos, inergativos e, at mesmo a verbos transitivos, pode ser vistocomo sendo o reflexo, na morfologia, do verbo leve (light verb) que encabeao ncleo da estrutura v-VP. Conforme anlise que desenvolveremos na seo3, este prefixo pode c-selecionar VPs mondicos e didicos, produzindoverbos ergativos de dois lugares.

    Os dados colhidos at o momento mostram que o DP sujeito dos verbosintransitivos descritivos/estativos e inacusativos, ao contrrio do DP sujeitodos verbos inergativos e transitivos de ao, pode vir marcado por meio dapartcula [.ke], que geralmente vem encltica ao DP sobre o qual estabeleceescopo sinttico-semntico, conforme se v pelos dados abaixo:

    INACUSATIVOS

    (1) ihe ) ke a-ar (Silva, 2001:47)eu ABS eu-cairEu caio

    (2) ihe ) O-jiwa ke u-pen ti ) (Silva, 2001:19)meu POSS-brao ABS 3-quebrar REPMeu brao quebrou

    E

  • DUARTE; GARCIA 218

    DESCRITIVOS

    (3) ae ta ke i-akang ke i-juhar ti) (Silva, 2001:9)ela PL ABS POSS-cabea ABS ABS-ter coceira REPElas, as cabeas deles esto coando [lit: tm coceiras].

    Conforme veremos na seo 2, uma das principais funes da partcula[.ke] tornar visvel o papel temtico [+AFETADO/+PACIENTE] dos DPs com osquais co-ocorre. Por sua vez, DPs sujeitos agentivos de verbos inergativosno recebem essa partcula. interessante observar que essa restrio sintticasinaliza uma importante diferena na marcao dos sujeitos dos verbosmonoargumentais na lngua Kaapor. Comparem os dados em (1) a (3) depredicados inacusativos e descritivos com os exemplos em (4) e (5), abaixo,de predicados inergativos:

    INERGATIVOS

    (4) jane ja-jengar ja-in (Silva, 2001:20)ns ns-cantar ns-estarNs estamos cantando

    (5) arauxu O-ahem uhu (Kakumasu, J. 1986:331)Arajo 3-gritar muitoArajo gritou muito

    Todavia, alm do DP sujeito dos verbos descritivos e inacusativos, em(1) a (3), tambm DPs na funo sinttica de objeto podem vir marcados pormeio da partcula [.ke], conforme se v pela presena dessa partcula juntoaos DPs objetos dos predicados transitivos em (6) a (11) abaixo. Notem aindaque os DPs sujeitos dos verbos transitivos no vm marcados com a partcula[.ke]:

    TRANSITIVOS

    (6) ihe ) tayn ke a-mu-e (Silva, 2001:15)eu criana ABS eu-CAUS-aprenderEu ensino a criana [lit: fao-a aprender]

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 219

    (7) ihe ) narj ke a-pirok (Silva, 2001:39)eu laranja ABS eu-descascarEu descasco a laranja

    (8) tayni hj-okwen ke Oi-kina (Caldas, 2001:22)criana POSS-porta ABS 3-fecharA crianai fecha a porta (delaj)

    (9) ihe ) ae ke a-mu-eo (Silva, 2001:22)eu ele ABS eu-CAUS-ter cansaoEu o cansei

    (10) ihe ) ae ke a-mu-wa:wak (Silva, 2001:19)eu ele ABS eu-CAUS-rodarEu o fiz rodar

    (11) Cristina ihe ) O-jiwa ke O-pyhyk (Caldas, 2001:22)Cristina minha POSS-brao ABS 3-segurarCristina segura meu brao

    Tomando por base o que o conjunto de dados acima indica, a hipteseque exploraremos neste trabalho de que a ocorrncia da partcula [.ke] juntoa DPs no aleatria, mas, ao contrrio, tem a funo gramatical de assinalara natureza semntica [+AFETADO/+PACIENTE] do sujeito de verbos inacusativose do objeto de verbos transitivos de ao, fato que sugere um interessantealinhamento sinttico-semntico entre o DP sujeito de verbos intransitivos(descritivos e inacusativos) com o DP objeto. Este tipo de alinhamento lembramuito o sistema que Dixon (1979, 1994) denomina de ergatividade cindida (splitergativity). Nessa linha de investigao, outro propsito deste artigo encontraruma resposta para a questo formulada em (12):

    (12) ser a partcula [.ke] reflexo da atribuio do papel theta [+AFTEADO/+PACIENTE] e do Caso estrutural aos DPs na funo sinttica de sujeito(S) de verbos descritivos/estativos, inacusativos e de objeto (O) deverbos transitivos de ao?

  • DUARTE; GARCIA 220

    Para responder a esta e a outras questes relativas predicao verbalna lngua Kaapor, dividimos este texto em quatro sees. Na seo (1),fornecemos uma breve descrio do sistema de concordncia que se d entreo sujeito e o verbo em predicados monoargumentais e transitivos; na seo2, tomando por base as propriedades sinttico-semnticas da partcula [.ke],propomos subdividir os verbos intransitivos da lngua Kaapor em, pelomenos, duas subclasses: os descritivos/estativos e inacusativos, por um lado,e os inergativos, por outro; na seo 3, averiguamos os tipos de alternnciacausativa que aumentam a valncia de predicados descritivos, inacusativos,inergativos e transitivos e propomos que o prefixo {mu- ~ m-} seja interpretadocomo realizao do verbo leve causativo, o qual equivale aos verbos FAZER/CAUSAR/PROVOCAR; e, por fim, na seo 4, estando ciente da ciso na marcaode Caso dos argumentos (S) dos predicados monoargumentais, utilizamos omecanismo de atribuio de Caso (estrutural), acompanhando o ParmetroObligatrio de Caso (OCP), conforme proposto por Laka (1993) e Bobaljik(1993).

    1. SISTEMA DE CONCORDNCIA VERBAL NA LNGU1. SISTEMA DE CONCORDNCIA VERBAL NA LNGU1. SISTEMA DE CONCORDNCIA VERBAL NA LNGU1. SISTEMA DE CONCORDNCIA VERBAL NA LNGU1. SISTEMA DE CONCORDNCIA VERBAL NA LNGUA KAA KAA KAA KAA KAAPORAPORAPORAPORAPOR

    Na lngua Kaapor, assim como em outras lnguas da famlia lingsticaTupi-Guaran, usa-se indistintamente a srie de prefixos pessoais nominativospara codificar tanto o sujeito de verbos transitivos como o sujeito de verbosintransitivos (=inacusativos e inergativos). Para facilitar a compreensodos dados da anlise, arrolamos o inventrio completo dos pronomespessoais e dos prefixos pessoais nominativos na tabela 1 abaixo:

    TABELA 1Marcadores pessoais

    pronomes pessoais prefixos pessoais nominativos

    ihe) eu a- eune tu ere- tujane ns ja- nspehe vs pe- vsae ele(s)/ela(s) o-/u- ele(s)/ela(s)razes monossilbicas

    O- ele(s)/ela(s) razes com mais de umaslaba.

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 221

    A ocorrncia dos prefixos pessoais nominativos em verbos transitivos,inacusativos e inergativos pode ser visualizada por meio dos paradigmas deconjugao verbal arrolados abaixo. Notem que o prefixo pessoal de terceirapessoa assumir a forma {O-} quando a raiz verbal contiver mais de uma slaba,como no paradigma em (15):

    INERGATIVO

    (13) ihe) a-por eu pulone ere-por tu pulasjane ja-por ns pulamospehe) pe-por vs pulaisae u-por ele pula

    INACUSATIVO

    (14) ihe) ke a-ar eu caione ke ere-ar tu caisjane ke ja-ar ns camospehe) ke pe-ar vs caieisae ke u-ar ele cai

    TRANSITIVO

    (15) ihe) a-mue eu ensino (algum)ne ere-mue tu ensinas (algum)jane ja-mue ns ensinamos (algum)pehe) pe-mue vs ensinais (algum)ae OOOOO- mue ele ensina (algum)

    Os dados acima mostram que o sistema de concordncia por meio dosprefixos pessoais nominativos no nos permite estabelecer uma distinomorfossinttica clara entre as duas classes de verbos monoargumentais3, umavez que a mesma srie de prefixos pode figurar na raiz de verbos inacusativose de verbos inergativos, independentemente do fato de os inacusativos c-selecionarem um DP com o papel theta [+AFETADO] e os inergativos, um DP como papel theta [+AGENTE]. Todavia, o padro flexional dos verbos monoargumenataisestativos difere do padro flexional dos verbos monoargumenatais em (13) e(14) por utilizarem a srie de prefixos absolutivos para codificar o DP na funosinttica de sujeito. A tabela 2 a seguir mostra o inventrio desses prefixos:

  • DUARTE; GARCIA 222

    TABELA 2Prefixos absolutivos

    tema em consoante4 tema em vogal

    adjacncia do complemento O r-no adjacncia do complemento i- h-

    Os alomorfes {- ~ r-} aparecem nos contextos em que o DP vemadjacente ao verbo na estrutura e os alomorfes {i- ~ h-}, por sua vez, denotamo fato de o DP no vir imediatamente adjacente ao verbo, seja porque foideslocado para uma posio mais alta na estrutura ou seja porque foisimplesmente omitido. Os exemplos abaixo mostram os contextos deocorrncia desses prefixos:

    (16) ihe ) r-ury ym (Silva, 2001:5)eu ABS-ter alegria NEGEu no tenho alegria

    (17) ihe ) OOOOO-jeje ym ko a-xo (Silva, 2001:5)eu ABS-estar sozinha NEG aqui eu-estar em movimentoAqui, eu no estou sozinha

    (18a) [aej ta ke ik -akangj ke]i ii-juhar ti) (Silva, 2001:9)ela PL ABS POSS-cabea ABS ABS-ter coceira REPElas, as cabeas deles esto coando

    (18b) _____proi _________ ii -juhar ti )ABS-ter coceira REP

    (Elas= as cabeas) esto coando

    (19a) [ko mee) ywy] i h iaku (Silva, 2001:8)esta PART terra ABS-estar quenteEsta terra est muito quente

    (19b) _____pro i ________________ h i -akuABS-estar quente

    (Ela = a terra) est muito quente

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 223

    Observem que, em (18a) e (19a), o DP sujeito e o verbo esto situadosem posies distintas na estrutura, visto que as propriedades denotacionaisdos prefixos {i-} e {h-}5 apontam para a no-adjacncia do sujeito em relaoao verbo. Este fato pode ser captado se propomos que o DP sujeito se move paraa posio de SPEC de uma projeo funcional acima da posio sinttica emque situa o verbo, conforme se v pela configurao proposta em (18c) e (19c):

    (18c) [FP [DP aej ta ke ik-akangj ke]i .......[VP..tDP ...ii-juhar ti... ]

    (19c) [FP [DP ko mee) ywy]i .......[VP..tDP ... hi-aku ... ]

    Tomando por base o padro de concordncia sujeito-verbo exposto nosdados (13) a (19) acima, notamos haver uma ciso parcial no sistema deconcordncia condicionada pela natureza semntica dos predicados estativos/descritivos. Para explicar esta ciso, utilizaremos a terminologia introduzidapor Dixon a partir de 1979, de maneira que faremos referncia ao argumentoagente de um verbo transitivo de ao por meio da sigla (A) e abreviaremoso argumento tema/paciente por meio de (P). Por sua vez, o nico argumentodos verbos intransitivos ser referido por (S). O sistema nominativo e o sistemaergativo, propostos por Dixon (ibid), podem ser observados em (20):

    (20)Sistema SistemaNominativo arg. Ergativo

    A Ergativo

    Nominativo {S

    } AbsolutivoAcusativo O

    Conclumos que, nos dados em (13) a (19), o sujeito (S) de verbosestativos codificado pelos prefixos absolutivos e o sujeito (S) dos verbosinacusativos e inergativos codificado por meio dos prefixos nominativos.Este fato nos permite, ento, propor a seguinte ciso na codificao doargumento (S) dos predicados monoargumentais6 na lngua Kaapor:

  • DUARTE; GARCIA 224

    (21)Sistema SistemaNominativo arg. Ergativo

    Nominativo Sa

    }So Absolutivo

    Vejam que, em (21), (Sa) faz referncia ao sujeito de verbos inergativose inacusativos, por um lado, e (So), ao sujeito dos verbos estativos/descritivos,por outro. Na prxima seo, mostraremos que, embora o sistema deconcordncia sujeito-verbo marque indistintamente o sujeito [+PACIENTE/+AFETADO] do verbo inacusativo e o sujeito [+AGENTE] do verbo inergativo pormeio dos prefixos pessoais nominativos, a distino semntica entre os doisargumentos pode ser codificada pela possibilidade de ocorrncia da partculaencltica [.ke] junto ao DP sujeito de verbos inacusativos e descritivos/estativos. O comportamento desta partcula nos servir como um interessantediagnstico sinttico-semntico para distinguirmos os verbos inacusativos(e tambm os descritivos/estativos) dos verbos inergativos.

    2. PROPRIED2. PROPRIED2. PROPRIED2. PROPRIED2. PROPRIEDADES SINTTICAS E SEMNTICAS DADES SINTTICAS E SEMNTICAS DADES SINTTICAS E SEMNTICAS DADES SINTTICAS E SEMNTICAS DADES SINTTICAS E SEMNTICAS DA PA PA PA PA PARTCULA KEARTCULA KEARTCULA KEARTCULA KEARTCULA KE

    Dados retirados dos trabalhos elaborados por Kakumasu, J. (1986);Kakumasu, J. & Kakumasu, K. (1990), Silva (2001) e Caldas (2001) nosrevelam que a partcula [.ke], em geral, denota que o argumento envolvido noevento recebe a interpretao de [+AFETADO/+PACIENTE]. Tal intuio ,particularmente, confirmada quando comparamos a ocorrncia dessa partculano objeto de verbos transitivos com a sua ocorrncia no sujeito de predicadosdescritivos/estativos e inacusativos, conforme se v em (22) a (29):

    ORDEM [SOV] EM TRANSITIVOS DE AO

    (22) aerehe taru Nexi ke7 O-jook (Kakumasu, J., 1986:327)por esta razo Taru Nexi ABS 3-pegarPor essa razo, Taru pegou Nexi.

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 225

    (23) ihe ) ne ke a-kutuk-ta (Silva, 2001:40)eu tu ABS eu-furar-IMINEu vou te furar

    (24) ae ok ke O-muj (Silva, 2001:39)ele casa ABS 3-fazerEle faz casa.

    ORDEM [SV] EM DESCRITIVOS/ESTATIVOS

    (25) Ana ke h-e) y (Caldas, 2001:26)Ana ABS ABS-ter cansao PERF.1Ana j cansou

    ORDEM [SV] EM INACUSATIVO

    (26) ihe ) ke a-ar (Silva, 2001:47)eu ABS eu-cairEu caio

    (27) arapari) ke u-e ta ki ) (Caldas, 2001:62)lamparina ABS 3-apagar IMIN INTA lamparina vai apagar.

    (28) tayn ta ke O-jixiu ja-jur rahcriana PL ABS 3-chorar ns-vir quandoAs crianas choravam, quando ns viemos. (Silva, 2001:46)

    ORDEM [VS] EM INACUSATIVO

    (29) a-pyhyj ta ihe ) ke1-cochilar IMIN eu ABSEu (tenho necessidade de) cochilar. (Silva, 2001:46)

    Tomando por base os dados mostrados acima, defenderemos doravantea hiptese de que a funo da partcula [.ke] na lngua Kaapor tornar visvel,

  • DUARTE; GARCIA 226

    ao nvel do componente sinttico-semntico, o papel temtico de [+AFETADO/+PACIENTE] dos DPs na funo sinttica de sujeito e dos DPs na funo sintticade objeto. A conseqncia terica que essa proposta traz para nossa anlise que teremos de admitir, ento, que a partcula [.ke] est possivelmenteassociada realizao de Caso estrutural dos DPs. No mbito da gramticagerativa, assume-se que Caso estrutural responsvel por tornar visvel o papeltemtico dos DPs. Segundo Mioto et alli (2005:174-175):

    a categoria gramatical de caso necessria para qualquer lnguana medida em que permite que os DPs sejam interpretados (....).Sem o caso, no seria possvel recuperar qual o papel temtico doDP. Esta necessidade de caso se verifica mesmo para lnguas queno dispem de um nico morfema para este fim. Como todas asoutras, esta lngua precisa indicar qual o papel- do DP e isso feitopor meio do Caso abstrato.

    Se essa proposta estiver mesmo correta, ento, ficamos em condiesde responder a questo levantada em (12), de sorte que postularemos que oescopo da partcula [.ke], na lngua Kaapor, constitui um dos mecanismospara realizar o Caso8 estrutural do DP sujeito de inacusativos e descritivos/estativos e do DP objeto de verbos transitivos. Vejam que esta propostaencontra evidncia adicional no fato de o sujeito (So) e o objeto (O) poderemambos receber a partcula encltica [.ke], conforme evidenciam os dados em(22) a (29) acima. Nestas oraes, verifica-se o alinhamento do DP sujeito dospredicados inacusativos e descritivos/estativos com o DP objeto do predicadotransitivo. Uma possvel explicao para esse alinhamento pode estarcorrelacionada com o que Dixon (1979:89) denomina de ciso determinadapela natureza semntica dos argumentos (S) dos verbos intransitivos:

    (...) in most examples of split conditioned by the semantic natureof verbs, bound affixes are involved; whereas, in most examples ofsplit conditioned by the semantic nature of NPs, case-marking isinvolved. This is surely what could have been predicted: that kindof morphological marking split is CONDITIONED by the semantic natureof the verb is most often REALIZED BY an affix to the verb; that varietyof split which is CONDITIONED BY the semantic nature of NPs is usuallyREALIZED BY affixes or particles attached to NPs.

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 227

    Notem que o padro de marcao em Kaapor parece coincidirexatamente com o previsto por Dixon acima, porquanto a ciso semnticacondicionada pela natureza semntica dos predicados descritivos, conformedescrito na seo 1, realizada por meio dos prefixos absolutivos. J a cisocondicionada pela natureza semntica dos D/NPs codificada por meio dapartcula encltica [.ke], conforme os dados em (22) a (29) acima. Este fatorefora nossa hiptese de que, em Kaapor, a partcula [.ke] tem a funogramatical de tornar visvel o papel temtico [+AFETADO/+PACIENTE] e realizar oCaso estrutural dos DPs com os quais figura encltica. No mbito da tipologiasinttica, costuma-se denominar este Caso sob o rtulo de absolutivo.

    Contudo, a mesma situao no se verifica com a codificao do sujeito(Sa) dos verbos inergativos e com a codificao do sujeito (A) dos verbostransitivos de ao, tendo em vista que, nestes predicados, os DPs agentivosna funo de sujeito no vm marcados pela partcula [.ke], conforme se vpelos exemplos abaixo:

    INERGATIVOS

    (30) jane ja-jengar ja-in (Caldas, 2001:47)ns ns-cantar ns-estarNs estamos cantando

    (31) ne re-wa:wak mi ? (Silva, 2001:18)tu tu-rodar PROBTu rodastes?

    (32) jane ja-piku)j mi ? (Silva, 2001:11)ns ns-remamos PROBNs remamos?

    (33) ae ta o-por mi ? (Silva, 2001:11)ele PL 3-pular PROBEles pularam?

    (34) ihe ) a-jeeng a-in (Silva, 2001:12)eu eu-falar eu-estar.sentandoEu estou falando sentando

  • DUARTE; GARCIA 228

    TRANSITIVOS

    (35) taynj hi-okwen ke Oj-nupa u-amcriana POSS-porta ABS 3-bater 3-estar em pA crianaj est (em p) batendo porta (dele(a)i) (Caldas, 2001:50)

    (36) isawia upa ihe ) O-mae ke O-suu:suurato tudo minha POSS-roupa ABS 3-roer:roerO rato roeu toda a minha roupa (Caldas, 2001:53)

    Tomando por base o contraste entre os dados (22) a (29), por um lado,e os dados em (30) a (36), por outro, notamos que o escopo sinttico-semntico da partcula [.ke] em predicados monoargumentais nos permiteoperar uma importante distino gramatical entre verbos inacusativos e verbosinergativos. Portanto, o fato de os sujeitos agentivos dos predicadosinergativos no receberem a partcula [.ke] servir como um importantediagnstico sinttico para diferirmos as duas subclasses de verbosmonoargumentais na lngua Kaapor. Chegamos, assim, ao seguinte sistemacindido de marcao de Caso dos argumentos nucleares A, Sa, So e O, nalngua Kaapor:

    (37)Sistema cindido de codificao dos argumentos em Kaapor

    A

    Caso Nominativo {Sa

    Oke Caso Absolutivo

    } Soke Caso Absolutivo

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 229

    Vejam que o sistema em (37) mais amplo e incorpora o sistemaproposto em (21). Neste ltimo, a ciso determinada apenas pela naturezasemntica do predicado descritivo/estativo e pela ocorrncia dos prefixosabsolutivos, enquanto, no sistema proposto acima, a ciso est intimamentecorrelacionada com o escopo sinttico-semntico da partcula [.ke]. Porconseguinte, a ciso de (S) em (37) nos permite alocar os verbos monoargumentaisem, pelo menos, duas subclasses: a subclasse dos descritivos/estativos einacusativos, por um lado, e a subclasse dos inergativos, por outro, conformemostramos pela lista de verbos na tabela 3 abaixo:

    Predicados monoargumentais que marcamDPs sujeito por meio da partcula ke

    Descritivos Inacusativos

    -e: ter cansao -kajum:perder, fugir-yaj: ter suor -pen: quebrar-se-pahar:ter pressa -karuk: urinar-kya: ter sujeira -man: morrer-pyai: ter tristeza, -mano:ano: debater ter saudade, ter paixo -pak:acordar-aku: ter quentura -pyhyj:cochilar-juhar: ter coceira -jixiu: chorar-pui: ter finura -hyk: chegar-katu: ter bondade -siryk: escorregar-ahy: ter dor -ar: cair-akym: ter umidade -pyrii: tropear-axer: ter ruindade -e: apagar-taj: ter ardor-nge: ter sede-risan: ter frio-kau: ter tonteira-membek: ser macio

    Predicados monoargumentaisque no marcam DPs com apartcula ke

    Inergativos

    -xe: entrar-jahuk: tomar banho-piku)j: remar-por: pular-hem: sair-wata: andar-jeen: falar-wapik: sentar-se-nin: deitar-se-pum: levantar-se-ker: dormir-jengar: cantar-wa:wak: rodar-jan: correr-purahaj: danar-hendu: ouvir-hem: gritar-jawir: errar

    TABELA 3Subclasses de verbos monoargumentais

    Na seo (4), discutimos a atribuio do Caso nominativo e absolutivo luz do Parmetro Obrigatrio de Caso (OCP), conforme Laka (1993) eBobaljik (1993). Antes, faz-se necessrio que apresentemos como os verbos

  • DUARTE; GARCIA 230

    descritivos, inacusativos, inergativos e mesmo transitivos podem mudar suavalncia por meio do acrscimo do prefixo causativo {mu- ~ m-}. Nossahiptese ser que este prefixo a realizao do verbo leve (light verb), o qual juntado (merged) na posio de ncleo da projeo mais alta da concha v-VP.

    3. PROPRIED3. PROPRIED3. PROPRIED3. PROPRIED3. PROPRIEDADE GRAMAADE GRAMAADE GRAMAADE GRAMAADE GRAMATICAL DO PREFIXTICAL DO PREFIXTICAL DO PREFIXTICAL DO PREFIXTICAL DO PREFIXO CAO CAO CAO CAO CAUSAUSAUSAUSAUSATIVTIVTIVTIVTIVO {O {O {O {O {mu- ~ m-mu- ~ m-mu- ~ m-mu- ~ m-mu- ~ m-}}}}}

    Em Kaapor, verbos podem, em princpio, se ergativizar9, alterando asua valncia por meio do acrscimo do prefixo causativo {mu-}~ {m-}10.Desse modo, este morfema pode afixar-se a razes de verbos descritivos,inacusativos, inergativos, e ainda a razes de verbos transitivos, resultando emuma mudana na valncia dos predicados. Nota-se que este prefixo vem antesda raiz verbal e situa-se depois dos prefixos nominativos, resultando naseguinte ordem interna dos prefixos verbais {AGR+CAUS+VERBO}, conformeos dados abaixo:

    DESCRITIVO ERGATIVO

    (38a) ihe ) O-a ke i-akym ti) (Silva, 2001:23)meu POSS-cabelo ABS ABS-ter umidade REPO meu cabelo est molhado

    (38b) ae ihe ) O-a ke O-mu-akym ti)ele meu POSS-cabelo ABS 3-CAUS-ter umidade REPEle fez o meu cabelo ficar molhado

    (39a) upa O-mae kase ke h-aku O-pytu (Silva, 2001:23)tudo G-coisa caf ABS ABS-ter quentura 3-ter manhaTodo o caf est morno

    (39b) ihe ) kase ke a-mu-akueu caf ABS eu-CAUS-ter quenturaEu fao o caf ficar quente

    INACUSATIVO ERGATIVO

    (40a) ihe ) O-jee-ha ke upa O-kajim o-hominha POSS-falar-NOMI ABS tudo 3-perder-se 3-irMinha fala toda vai fugindo (Silva, 2001:18)

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 231

    (40b) ihe ) O-jee-ha ke upa a-mu-kajim a-hominha POSS-falar-NOMI ABS tudo eu-CAUS-perder-se eu-ir(Eu) fao a minha fala toda fugir

    INERGATIVO ERGATIVO

    (41a) ne re-wa:wak mi (Silva, 2001:19)tu tu-rodar PROBTu rodastes?

    (41b) ihe ) ae ke a-mu-wa:wakeu ele ABS eu-CAUS-rodarEu o fiz rodar

    (42a) jane ja-jengar ja-in (Silva, 2001:20)ns ns-cantar ns-estarNs estamos cantando

    (42b) ihe ) ae ke a-mu-jengareu ele ABS eu-CAUS-cantarEu o fao cantar

    TRANSITIVO ERGATIVO

    (43a) a-sak ae O-po r-ehe (Silva, 2001:25)eu-ver ele POSS-mo OBLQ-com respeito aEu vejo a mo dele

    (43b) ne ihe ) ke re-mu-sak ytu eu ABS tu-CAUS-ver PERF.1Tu me fizestes ver

    Nas alternncias acima, observa-se que o DP sujeito dos exemplos em(a) promovido a objeto do verbo ergativo e, geralmente, vem marcado coma partcula [.ke], situao sinttica que sinaliza mudana do papel temticodos DPs sujeitos dos verbos inergativos e transitivos em (41a), (42a) e (43a),os quais assumem o papel temtico [+AFETADO/PACIENTE]11 em (41b), (42b) e(43b). Esta alterao de valncia do predicado e do papel temtico dos

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    argumentos pode ser ainda sentida pela concordncia que se estabelece entreo sujeito e o verbo. Por isso, nas sentenas em (b), a concordncia sujeito-verbo s pode dar-se por meio do prefixo nominativo, nunca por meio doprefixo absolutivo.

    Existe ainda a possibilidade de um verbo transitivo (indireto) serergativizado por meio do acrscimo do prefixo {mu-}. Nesses contextos, oDP, que o sujeito do verbo transitivo (indireto), promovido para a funosinttica de objeto direto do predicado ergativo e tem seu papel temticoalterado, o que sinalizado pela ocorrncia da partcula [.ke]:

    (44a) ne re-parahy ihe ) r-ehe (Silva, 2001:24)tu tu-ter raiva eu OBLIQ-deTu tens raiva de mim

    (44b) ihe ) ne ke a-muparahyeu tu ABS eu-CAUS-ter raivaEu te fiz ficar com raiva (Silva, 2001:25)

    (45a) ne re-pya y m ihe ) r-ehe ytu tu-pensar NEG eu OBL-em PERF.1Tu no pensaste em mim

    (45b) ae ne ke O-mu-pya ihe ) r-ehe yele tu ABS 3-CAUS-pensar mim OBLQ-em PERF.1Ele te fez pensar em mim

    Quanto aos argumentos nucleares12, nota-se que a ordem sinttica maisrecorrente SOV, conforme vemos nos exemplos acima, e no exemplo (46)abaixo em que figura o verbo ergativo -mu-karuk fazer urinar:

    ORDEM [SOV]

    (46) ihe ) ae ke a-mu-karuk (Silva, 2001:21)eu ele ABS eu-CAUS-urinarEu o fao urinar

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    Vemos que o prefixo {mu- ~ m-} tem como funo principal mudar avalncia dos predicados verbais. Uma maneira de captarmos esta alternncia assumirmos que esse prefixo seja a instanciao, no mbito do componentemorfossinttico, do verbo leve abstrato (light verb) na concha v-VP [cf. Halee Keyser (1993a, 2000)]. Com base nessa hiptese, assumamos que o prefixocausativo {mu- ~ m-} seja juntado como ncleo de vP, podendo, em princpio,c-selecionar tanto VPs transitivos quantos VPs intransitivos, conformeindicamos pelas representaes abaixo:

    C-SELEO DE INACUSATIVOS E DESCRITIVOS/ESTATIVOS

    (47) [vP .....mu- [VP DPke V ]13

    C-SELEO DE INERGATIVOS

    (48) [vP ......mu- [VP DP V ]

    C-SELEO DE TRASITIVOS DIRETOS

    (49) [vP ......mu- [VP DP V DPke]

    C-SELEO DE TRASITIVOS INDIRETOS

    (50) [vP ......mu- [VP DP V PP]

    Assim sendo, na sentena (51a) abaixo, o prefixo causativo c-selecionaum VP mondico, o qual exibe, na posio de SPEC-VP, o DP [ne ke].Suponhamos ainda que sua natureza afixal14 torna obrigatria a incorporaodo verbo descritivo, resultando o verbo [-mu-purah] fazer ter raiva. Aincorporao do verbo pode ser visualizada pela configurao sinttica em(51b):

    (51a) ihe ) ne ke a-mu-parahy (Silva, 2001:24)eu tu ABS eu-CAUS-ter raivaEu te fiz ficar com raiva

  • DUARTE; GARCIA 234

    (51b)vP

    eiDP vihe) ei vo VP mu- ei DP V ne ke ! Vo

    -parah

    Veja que a ordem linear observada na sentena (51a) pressupe que omovimento do verbo lexical para ncleo de vP deve ser seguida do movimentodo DP objeto e do DP sujeito para posies em que possam verificar Caso.Se adotarmos a hiptese de que o Caso estrutural do objeto pode ser atribudoem SPEC externo de vP, ento, segue-se que o DP objeto em (51a) move-se paraSpec-vP. J o DP sujeito elevado at SPEC-TP, posio em que recebe o Casonominativo, conforme a derivao em (52):

    (52c)

    TPeiDP T! eiihe) vP ei DP v ! ei ne ke DP v ! ei tsuj vo VP ! ei mu-parah tobj V ! tv

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    Por isso, a questo que se coloca para nossa anlise saber em quemedida o movimento dos DPs para receber Caso (estrutural) est correlacionadocom o Parmetro Obrigatrio de Caso (OCP) e com a natureza morfossintticados ncleos To e vo. Na prxima seo, acompanhando a proposta de Laka(1993), Bobaljik (1993), Aldridge (2005) e Rackowski e Richards (2005),exploraremos a idia de que, em Kaapor, o ncleo To de oraes transitivas,inergativas e inacusativa

    inserido na derivao com o trao de Caso

    nominativo a atribuir aos DPs que sobem para a posio de Spec-TP. Por suavez, em predicados estativos, To no estar ativo para atribuir Caso, de modoque, nesses predicados, ser o ncleo vo que atribuir o Caso absolutivo aossujeitos dos verbos descritivos. De maneira semelhante, nossa hiptese ade que o ncleo vo nos predicados transitivos entra na derivao com o traode Caso estrutural (absolutivo) a atribuir ao DP objeto.

    4. O P4. O P4. O P4. O P4. O PARMETRO OBRIGAARMETRO OBRIGAARMETRO OBRIGAARMETRO OBRIGAARMETRO OBRIGATRIO DE CASOTRIO DE CASOTRIO DE CASOTRIO DE CASOTRIO DE CASO

    Laka (1993) e Bobaljik (1993) desenvolvem uma teoria em que aatribuio do Caso ao nico argumento de verbos intransitivos estar sujeita parametrizao, o que ir depender de qual Categoria funcional, responsvelpela atribuio de Caso a esse argumento, estiver ativa. Assim sendo, numalngua nominativa, o nico argumento do verbo monoargumental recebe Casonominativo na posio de SPEC-TP, independentemente do fato de ser o verboinacusativo ou inergativo. J, em lnguas ergativas, o sujeito do verbointransitivo poder receber o Caso absolutivo na posio de SPEC da projeovP. Atribui-se o Caso ergativo/nominativo nos contextos em que h dois Casosa serem atribudos: o ergativo ao DP sujeito e o absolutivo ao DP objeto, nosistema ergativo; e o nominativo ao DP sujeito e o acusativo ao objeto, nosistema nominativo. O parmetro de atribuio de Caso no se aplica aospredicados transitivos, mas somente a predicados intransitivos, visto que, aosujeito (S) de verbos intransitivos, poder ser atribudo o nominativo ou oabsolutivo, a ocorrncia de um ou outro Caso depender das escolhasparamtricas de cada lngua. Tomando por base a proposta de Laka (1993) eBobaljik (1993), assumiremos que Caso nominativo corresponde ao ergativoe o Caso acusativo, ao absolutivo. Em consonncia com esta abordagem:

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    (...) ergative and nominative are two different names for the Caseassigned in the SPEC of Agr1 [i.e. AGRSP] (...) and absolutive/accusative both refer to the Case assigned in the SPEC of AGR2 [i.e.AGROP](...)

    Uma maneira de adaptarmos a proposta acima estrutura da orao emque se eliminam a projees AGRSP e AGROP no mecanismo de verificao dotrao de Caso considerarmos que as duas categorias responsveis pelaatribuio dos Caso nominativo/ergativo e acusativo/absolutivo so TP e vP,respectivamente. Para facilitar nossa exposio, rotularemos o Caso nominativo/ergativo atribudo por TP de C1 e o Caso acusativo/absolutivo atribudo porvP de C2, conforme mostramos pela configurao sinttica abaixo:

    (53) TPeiC1 T ei vP ei C2 v ei v ei vo VP ei

    V

    Levando-se em considerao que o parmetro de natureza binria e quepode ativar os Casos C1nominativo ou C2absolutivo nos predicados monoargumentais,proporemos que o acionamento do Caso estrutural ao sujeito (S) pode resultarnas seguintes possibilidades tipolgicas:

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 237

    PARMETRO OBRIGATRIO DE CASO

    LNGUAS NOMINATIVAS

    (54) Se C1nominativo estiver ativo(a) Vtransitivo (C1nom, C2acc)(b) Vintransitivo (C1nom)

    LNGUAS ERGATIVAS

    (55) Se C2absolutivo estiver ativo

    (a) Vtransitivo (C1erg, C2abs)(b) Vintransitivo (C2abs)

    Exemplos de lnguas que acionam positivamente a escolha paramtricaem (54) e que alinham (S) com (A) so o Ingls e o Latim, conforme os dadosem (56a-c) e (57a-c). Notem que, em (57a-c), o Caso nominativo dos sujeitosde transitivos e intransitivos atribudo pelo ncleo finito To, o que se evidencia,por exemplo, pela concordncia morfolgica sujeito-verbo no Latim. Almdisso, observa-se que o sistema de atribuio de Caso nessas lnguas noreflete a distino semntica entre verbos inacusativos e inergativos.

    (56a) SheC1 saw her C2.(56b) She C1 fell.(56c) She C1 laughed.

    (57a) Mullier C1 mulierem C2 vide.(57b) Mullier C1 cade.(57c) Mullier C1 ride.

    J, no Inuit (cf. Bobaljik 1993), que uma lngua ergativa, o sujeito doverbo transitivo recebe o Caso ergativo, i.e. C1, e o sujeito do verbointransitivo recebe o Caso absolutivo, i.e. C2, o mesmo que marca o objetodo verbo transitivo. Veja que essa marcao casual dos argumentos nitidamentecontrasta com o paradigma exposto em (56) e (57) acima.

  • DUARTE; GARCIA 238

    (58a) Jaani-upC1 natsiqC2 kapi-jaNaJaani-ERG seal stab-TRANSJaani stabbed a seal.

    (58b) inukC2 tikit-tuqperson-ABS arrivedThe person arrived.

    (58c) ilinniaqtitsiji C2 uqaq-tuqteacher-ABS spokeThe teacher spoke.

    Em sntese, v-se que as lnguas que acionam o sistema nominativoatribuem C1 ao sujeito do verbo intransitivo. Esta atribuio ocorre numaposio funcional mais alta, i.e., em SPEC-TP. Alm disso, s fazem uso daposio de atribuio de C2 na posio mais baixa quando existem dois DPsrequerendo Caso, ou seja, em contextos de predicados transitivos. J aslnguas ergativas atribuem C2 ao sujeito do verbo intransitivo na posiofuncional mais baixa, i.e., em SPEC-vP, que a mesma posio estrutural emque o objeto recebe Caso (absolutivo) e C1 (=Caso ergativo) ao sujeito doverbo transitivo na posio funcional mais alta, i.e., em SPEC-TP.

    A questo que se coloca para nossa anlise como conciliar oParmetro de Caso Obrigatrio ao sistema cindido de marcao de Caso doKaapor, em que a atribuio de Caso ao sujeito do verbo monoargumentaldepende (i) da natureza semntica do predicado (estativo); (ii) do papel temticodo DP e (iii) da concordncia morfolgica visvel entre o sujeito e o verbo,conforme esquematizado no quadro em (37), repetido a seguir como (59):

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 239

    (59)Sistema cindido de codificao dos argumentos em Kaapor

    A

    Caso Nominativo {Sa

    Oke Caso Absolutivo

    }Soke Caso Absolutivo

    Para explicarmos a ciso na atribuio do Caso a (Sa) e (So) dos verbosintransitivos da lngua Kaapor, proporemos alargar a gama de possibilidadestipolgicas previstas pelo Parmetro Obrigatrio de Caso. Assim, alm daspossibilidades em (54) e (55), teremos uma outra em que C1 e C2 podem seracionados simultaneamente, resultando na ciso em (59), conforme expomosem (60).

    PARMETRO OBRIGATRIO DE CASO

    LNGUAS COM CISO NA ATRIBUIO DE CASO A (SA) E (SO)

    (60) Se C1nominativo e C2acusativo/absolutivo so ativos

    (a) Vtransitivo (C1nom, C2abs)(b) Vinergativo (C1nom)(b) Vinacusativo (C2abs)

    A alternativa que existe a de que lnguas com sistema cindido exibemuma possibilidade tipolgica no prevista em (54) e (55), visto que acionamSPEC-TP para atribuir C1 ao sujeito dos verbos transitivos, inergativos einacusativo e SPEC-vP para atribuir C2 ao sujeito dos verbos estativos e aoobjeto do transitivo, situao que, na lngua Kaapor, fica particularmenteevidenciada em virtude da ocorrncia da partcula encltica [.ke] a DPs que

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    recebem o papel theta [+AFETADO/PACIENTE] e pela alternncia entre concordncianominativa e absolutiva, conforme mostram os exemplos repetidos abaixo:

    (61) CristinaC1 ihe ) O-jiwa ke C2 O-pyhyk (Caldas, 2001:22)Cristina meu POSS-brao ABS 3-segurarCristina segura meu brao

    (62) arauxu C1 O-ahem uhu (Kakumasu, J. 1986:331)Arajo 3-gritar muitoArajo gritou muito

    (63) Anai kei C2absolutivo hi-e) y (Caldas, 2001:26)Ana ABS ABS-ter cansao PERF.1Ana j cansou

    Uma questo fica em aberto: como pode ser que os verbos intransitivospossam atribuir Caso absolutivo/acusativo, conforme se nota em (63), tendoem vista a generalizao de Burzio, segundo a qual:

    a verb may only assign object Case to its complement if it assignsa theta-role to its agent. Expressed in terms of structural relations,this implies that a verb can only assign Case to its complement if itassigns a theta-role to its specifier () [cf. Holmer, (2001:9)]

    No entanto, dados das lnguas que acionam o sistema ergativo, comoo Inuit, e o sistema cindido, como o Kaapor, mostram claramente que oschamados verbos inacusativos podem sim atribuir Caso estrutural ao seucomplemento, contrariando assim a predio elaborada por Burzio (1986). Talfato pode ser observado pelos dados em (58) e (63). Uma maneira decontornarmos essa questo pode ser encontrada se propusermos, ento, quea generalizao de Burzio (ibid) vlida apenas para as lnguas nominativas.Essa opo nos permite, por sua vez, propor que as lnguas, dependendo decomo o Parmetro de Caso acionado, podem ser agrupadas em dois grandessubtipos, a saber:

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 241

    (64) TIPO 1

    Lnguas acusativasGeneralizao de Burzio se aplicaC1nominativo acionado como o Caso do sujeito do verbo intranstivoSPEC-TP licenciado possvel a voz passiva

    (65) TIPO 2

    Lnguas ergativas e cindidasGeneralizao de Burzio no se aplicaC1nominativo ou C2acusativo/absolutivo podem ser acionados como o Caso dosujeito dos verbos intransitivosSPEC-vP licenciado possvel a formao de antipassivas

    Uma ltima questo que fica em aberto em nossa anlise saber qual exatamente a posio estrutural que o DP sujeito de verbos inacusativos emKaapor recebe Caso. A hiptese que desenvolvemos a de que essa posiocorresponde a Spec-TP, e no a Spec-vP, apesar de a partcula [.ke] vir juntoaos DPs sujeitos dos inacusativos, conforme sugere o exemplo (1), repetidoabaixo como (66).

    (66) ihe ) ke a-ar (Silva, 2001:47)eu ABS eu-cairEu caio

    Essa hiptese muito semelhante anlise desenvolvida por Aldridge(2005:1-4), segundo a qual, em lnguas ergativas, o Caso absolutivo pode serchecado pelos ncleos vo ou To, o que depender da transitividade dopredicado. Nessa linha de raciocnio, a autora levanta vrias evidncias de que,na lngua Tagalog, o ncleo vo de predicados transitivos possui trao EPP forte,o que explicar o movimento longo do DP objeto para o sistema CP, emperguntas tipo-qu. No curso do movimento cclico para Spec-CP, o objetodireto verifica o Caso absolutivo em Spec-vP. J, em predicados intransitivos,vP no possui trao EPP forte e tambm no licencia verificao do Casoabsolutivo ao sujeito, visto que o ncleo com trao de Caso estrutural a ser

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    atribudo To. As evidncias empricas apuradas a partir da atribuio de Casoaos argumentos nucleares em Tagalog conduziram Aldridge (ibid) a tomar umadireo oposta em relao ao que Murasugi (1992), Bittner e Hale (1996) eUra (2000) assumem no mbito do programa minimalista, segundo a autora:

    absolutive Case is checked by either v or T, depending on thetransitivity of the verb. This is a clear departure from traditionalapproaches to syntactic ergativity (..) under which absolutive isequated with nominative. The position taken by this paper is thatabsolutive DPs do not necessarily have the properties of subject() absolutives in transitive clauses, which check their case withv, function more like objects than subjects, while external arguments,regardless of whether they have absolutive or ergative case, behavemore like subjects.

    Tomando por base a teoria desenvolvida por Aldridge (2005), assumiremosento que vo

    , em predicados inacusativos, no Kaapor, no entra na derivao

    com trao-EPP forte e nem possui trao de Caso estrutural (=absolutivo) aatribuir ao seu sujeito (i.e. ao argumento interno, gerado em Spec-VP). Nessesentido, o ncleo que disponibilizar esse Caso ser To, e no vo. Uma forteevidncia a favor dessa anlise surge do fato de que os sujeitos dos inacusativos,diferentemente dos sujeitos dos verbos estativos/descritivos, no engatilhama concordncia sujeito-verbo por meio dos prefixos relacionais/absolutivos,mas, ao contrrio, acionam somente a srie dos prefixos pessoais nominativos.Por isso, a configurao abaixo indica que o local de verificao do Casoestrutural ao sujeito do verbo inacusativo idntica ao ponto na estrutura emque o sujeito dos verbos inergativos verifica o Caso estrutural. Nossa hiptese que esta posio corresponde a Spec-TP, conforme a seguir.

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    (67)

    TPeiC1 T ei To vP [+C1absolutivo] | v ei vo VP ei

    Vo DPke

    Veja que a proposta acima est em consonncia com a teoria desenvolvidapor Alexiadou e Anagnostopoulou15 (2001:211) segundo a qual os Casosnominativo e acusativo, por um lado, e ergativo e absolutivo, por outro, podemser tratados formalmente como sendo idnticos, a diferena entre um e outroresidir apenas no fato de onde eles so licenciados na sentena. Nesse sentido,o que os dados do Kaapor e de outras lnguas ergativas (cindidas) sugerem que o Caso absolutivo pode ser atribudo tanto pelos ncleos vo quanto pelosncleos To

    , dependendo da natureza do predicado. Assim sendo, termos como

    nominativo, absolutivo, acusativo, ergativo etc. seriam apenas rtulosdescritivos. O que devemos considerar a posio na estrutura em que o Casoestrutural dos DPs sujeito e objeto licenciado.

    5. CONSIDERAES FINAIS5. CONSIDERAES FINAIS5. CONSIDERAES FINAIS5. CONSIDERAES FINAIS5. CONSIDERAES FINAIS

    Neste texto, mostramos que a lngua Kaapor possui um sistema de casocindido que se caracteriza pela natureza semntica dos predicados e pelanatureza semntica dos DPs. Com relao primeira, pde-se verificar queos predicados descritivos/estativos acionam prefixos absolutivos, enquantoos predicados inacusativos, inergativos e transitivos acionam os prefixosnominativos. A ciso de caso pela natureza semntica dos DPs se realiza pormeio da partcula encltica [.ke] que tem a funo gramatical de realizar o papeltemtico [+AFETADO/+PACIENTE] e caso estrutural. DPs sujeitos de predicados

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    descritivos/estativos, inacusativos e objetos de predicados transitivos seromarcados com a partcula [.ke]. J DPs sujeitos de predicados inergativos etransitivos no recebem a partcula [.ke] sinalizando, por meio dessealinhamento, o caso nominativo. A ciso no sistema de caso por meio danatureza semntica dos DPs permitiu-nos, adicionalmente, distinguir ospredicados monoargumentais em duas classes: os descritivos e inacusativos,por um lado, e os inergativos, por outro. Tal ciso no determinada pelanatureza semntica dos predicados, mas, ao contrrio, tem por base o papeltemtico que o nico argumento do verbo intransitivo (Sa/So) recebe.

    Tambm verificamos que a alternncia causativa nos permite propor aexistncia de, pelo menos, cinco subclasses de verbos, a saber: (i) descritivos/estativos; (ii) inacusativos; (iii) inergativos; (iv) transitivos simples (direto eindireto) e (v) ergativos. Vejam que essas subdivises sugerem que a distinotradicional entre transitivos e intransitivos no agrega a possibilidade tipolgicade uma distino mais detalhada entre verbos intransitivos. Esta propostaproporciona uma anlise mais refinada dos vrios subtipos de verbos na lnguaKaapor.

    E por fim, considerando a proposta de Laka (1993) e Bobaljik (1993),propusemos alargar o Parmetro de atribuio de Caso de modo a dar contade lnguas que acionam ciso no sistema de caso como o Kaapor. Nossaproposta que, nessas lnguas, existe uma terceira escolha paramtrica, a saber:o Caso do sujeito do verbo inergativo e inacusativo licenciado em SPEC-TPe o Caso do sujeito do verbo estativo atribudo em SPEC-vP, a mesma posioem que o objeto recebe Caso estrutural. Por fim, entretivemos a idia de queergativo/nominativo e acusativo/absolutivos so, ao final das contas, diferentesnomes para o mesmo fenmeno: o primeiro conjunto so nomes do Casoatribudo pelo ncleo To; o segundo so os nomes do Caso transmitido peloncleo vo.

  • Rev. Est. Ling., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 215-255, jun./dez. 2006 245

    NONONONONOTTTTTASASASASAS

    1 A lngua Kaapor pertence ao ramo VIII da famlia Tupi-Guarani juntamentecom o Takunyap, Wayampi, Wayampipuk, Emrillon, Amanay, Anamb,Turiwra, Guaj (cf. Rodrigues, 1985). Atualmente, os ndios Kaapor vivem nadivisa dos Estados do Par e do Maranho. Estima-se que na regio hajaaproximadamente 1.000 ndios distribudos em onze aldeias, a saber:

    (1) Xie pyhun r-endacuri preto GEN-lugarLugar do curi preto

    (2) Parakuy r-endaparacu GEN-lugarLugar da Paracu

    (3) Pakury-y r-endabacuri-rvore GEN-lugarLugar do bacurizeiro

    (4) Urutawy r-enda coruja GEN-lugarLugar da Coruja

    (5) ximbo r-endaximbo GEN-lugarLugar do ximb

    (6) waxi ngy r-endauaxingui GEN-lugarLugar do uaxingui

    (7) arasa-ty r-endaarasa-plantao GEN-lugarLugar da plantao de arasa

    (8) pykya-y r-endapiqu-rvore GEN-lugarLugar da rvore do Piqu

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    (9) kumaru-y r-endacumaru-rvore GEN-lugarLugar da rvore Cumaru

    (10) jatahuty r-endababau GEN-lugarLugar do Babau

    (11) xixindustio novoStio Novo

    2 As oraes analisadas foram coletadas dos estudos elaborados por Kakumasu,J (1986); Corra da Silva (1997); Kakumasu, J. e Kakumasu, K. (1990), Silva(2001) e Caldas (2001). Em Kakumasu (1986), encontra-se uma proposta dedescrio da lngua Kaapor baseado nas narrativas coletadas pelo autor. Otrabalho de Corra da Silva (1997) trata de uma descrio diacrnica da lnguaKaapor comparando esta com as lnguas Temb, Wayamp, Tupinamb e aLngua Geral Amaznica. O trabalho de Kakumasu, J. & Kakumasu, K. (1990)contm quinze narrativas indgenas que foram transcritas na dcada de 60 na aldeiagua Preta. Mais especificamente, as transcries foram documentadas nos anosde 1962 a 1965 e 1967. Os trabalhos de Caldas (2001) e Silva (2001) constituem-se numa descrio geral das classes verbais e dos morfemas de aspecto e modoem Kaapor. O corpus das pesquisas de Caldas (2001) e Silva (2001) estobaseados em 62 horas de gravao com palavras, sentenas isoladas, narrativasindgenas, msicas cantadas e conversas espontneas entre os ndios Kaapor.

    3 No mbito da literatura gerativista, distinguem-se duas classes de verbosmonoargumentais: os inacusativos e os inergativos.. Em consonncia com Levine Rappaport (1995:3): an unergative verb takes a D-structure subject and noobject, whereas an unaccusative verb takes a D-structure object, be it clausal

    or a simple NP and no subject.

    4 H uma alternncia morfofonolgica nos prefixos absolutivos. Quando o prefixopreceder uma raiz verbal iniciada por consoante, ento teremos os prefixos zero{O-} e {i-}. J em razes iniciadas por vogal, teremos os prefixos {r-} e {h-}.5 Em Tenetehra, os prefixos {i- ~ h-} podem denotar inclusive a elevao deDPs objetos para a posio de foco contrastivo, como se v pelos exemplosabaixo, retirado de Duarte (2005:18).

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    (ia) w-exak Fbio Mrcia3-ver Fbio MrciaFabio viu a Mrcia

    (ib) upaw Mrcia Fbio h-exak OOOOOtoda Mrcia Fbio ABS-ver- DESLOCTODA A MRCIA, Fabio viu[lit: viu-a por inteiro, integralmente, e no parcialmente]

    (iia) u-u teko pira3-comer a gente peixeA gente come peixe

    (iib) upaw pira teko i-u-ntodo peixe a gente ABS-comer-DESLTODO O PEIXE, a gente come.

    6 A lngua Guarani exibe uma ciso muito semelhante ao do Kaapor, visto que aclasse de verbos estativo/descritivos, denominados por Gregorez e Surez deverbos de qualidade (=quality verbs), tambm tomam os prefixos absolutivos.Conforme Dixon (1979:83):

    quality verbs (.....) take prefixes that are almost identical to objectprefixes on transitive verbs. Most quality verbs would correspond toadjectives in other languages, although the classe does contain remember,forget, tell a lie, and weep.

    7 Vejam o que afirma Kakumasu em relao ao escopo sinttico-semntico dapartcula [.ke]:

    The morpheme ke normally follows a noun or a noun phrase, includingpronouns and demonstratives (....) In transitive clauses where two nominalsoccur, one of them may be marked with ke to indicate that the markedone is the object, that is the one to whom the action is done. (Kakumasu,1986:350-351)

    Object marking is no, however, the only function of ke. It can occur withthe subject nominal of intransitive (.....) (Kakumasu, 1986:137-138)

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    8 Conforme Duarte (2005:2), podemos afirmar que a categoria de Caso no uma propriedade privativa das lnguas que a exibem na morfologia, como asituao do Latim, do Grego, do Alemo, do Russo, dentre outras lnguas.Chomsky (1981a) incorpora a noo tradicional de Caso teoria gerativa e postulaque a marcao de Caso nos NPs deve ser entendida como um princpio universalda Gramtica. Para Chomsky, todos os NPs foneticamente realizados precisamreceber Caso abstrato na sintaxe, o qual pode ou no receber manifestaofonolgica, o que depender das propriedades morfossintticas das lnguasparticulares. Assim sendo, a diferena entre o Latim e o Portugus deve-se aofato de haver ou no a realizao de Caso no componente morfolgico.9 Nas pesquisas da rea da sintaxe e semntica, h dois sentidos para o termoergativo. Um dos significados tem a ver com o caso ergativo que os DPs agentesassumem nos sistemas de caso ergativo-absolutivo. Nesse sistema, a lngua trataos argumentos sujeito de verbo intransitivo (S) da mesma forma que o objeto deverbo transitivo (O) codificando, assim, o caso absolutivo, e diferencia o sujeitoagente de verbos transitivos (A), o qual recebe o caso ergativo (cf. Dixon, 1979,1994; Comrie, 1981; Seki, 2000; Whaley, 1997). J no segundo significado, otermo ergativo faz referncia aos verbos transitivos que alternam a sua valncia,possuindo ora uma configurao didica ora uma configurao mondica(=inacusativa), exemplos (i) O sol secou a madeira e (ii) A madeira secou. Nessaalternncia da valncia, h o rearranjo de argumentos nucleares, de maneira queo sujeito (S) do verbo intransitivo secar passa a ocupar a posio de objeto (O)do verbo transitivo. Esse rearranjo lembra a marcao de caso ergativo apontadopor Lyons (1968:352), conforme citao abaixo:

    ...the term that is generally employed by linguists for the syntacticrelationship that holds between (1) The stone moved and (3) John movedthe stone is ergative: the subject of an intransitive verb becomes theobject of a corresponding transitive verb, and a new ergative subject isintroduced as agent (or cause) of the action referred to. This suggeststhat a transitive sentence, like (3), may be derived syntactically from anintransitive sentence, like (1), by means of an ergative, or causativetransformation.

    10 Em geral, o prefixo causativo {mu-} torna-se {m-} diante de vogais:/mu/ /m-/ /

    ______ [ +VOGAL ]

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    11 Para a classificao dos Papis Temticos, adotamos as propostas de Canado& Ciraco (2005) e Canado (2005) que consideram os papis temticos comoum grupo de propriedades semnticas derivadas. Segundo as autoras, os papistemticos no so noes primitivas, mas se definem como o grupo de

    propriedades atribudas a um determinado argumento a partir dos

    acarretamentos estabelecidos por toda proposio na qual esse argumento se

    encontra. (Canado & Ciraco, 2005:8). Algumas propriedades semnticas dospapis temticos estabelecidas por Canado (2005) so:

    (i) controle est associada a capacidade de se interromper uma ao,um processo ou um estado:

    (a) Joo quebrou o vaso Joo contm a propriedade de controle;

    (ii) desencadeador faz referncia ao argumento que desencadeia oevento:

    (a) Joo quebrou a janela Joo tem as propriedades de controle edesencadeador;

    (b) Joo quebrou o vaso com o empurro que levou do irmo Joo tem a propriedade de desencadeador;

    (iii) Afetado corresponde mudana de estado:

    (c) Joo matou seu colega colega possui a propriedade de afetado;(d) Joo recebeu uma herana Joo possui as propriedades de

    controle e afetado;

    (iv) Estativo definida por no alterar as caractersticas do argumentonum intervalo de tempo:

    (f) Joo leu um livro livro contm a propriedade de estativo

    12 Kakumasu (1986:327) considera que a ordem predominante nas sentenas SOV: I now consider SOV to be the basic word order in the transitive clause,not OSV as in Kakumasu (1976). In the least marked clauses which have both

    subject and object nominals, the most frequent order is SOV.

    13 Consoante Hale e Keyser (1993:16), unaccusatives are simply composite1p-dyadic verbs. The specifier, whose projection is a defining feature of the

    composite dyadic argument structure configuration, corresponds to the internal

  • DUARTE; GARCIA 250

    argument (....) It is a specifier, not a complement; it appears as an object

    only in appropriate sentential syntactic uses of the transitive alternant.

    14 No italiano, Guasti (1997) aponta que predicados ergativos so formados pelagramaticalizao do verbo lexical ao verbo causativo fare, constituindo assimuma unidade morfossinttica. Esta unidade entre o verbo causativo e o verbolexical no pode ser quebrada. Dentre as evidncias que demonstram a unidadeentre os dois verbos, a autora destaca os seguintes exemplos:

    (a) Em predicados ergativos, o DP interno, o qual gerado na posiode especificador do verbo lexical, sempre ocorre na posio ps-verbal:

    (ia) Elena fa lavorare Gianni

    (ib) *Elena fa Gianni lavorareElena fez Gianni trabalhar

    (iia) Il tren ha fatto arrivare Gianni in ritardo

    (iib) *Il tren ha fatto Gianni arrivare in ritardoO trem fez Gianni chegar tarde

    (b) Em predicados ergativos, clticos ocorrem sempre em prclise aoverbo causativo, conforme (iiia); enquanto, em predicados noergativos, a ocorrncia do cltico em nclise ao verbo lexical,conforme (ivb)

    (iiia) Elena la fa ripare a Gianni

    (iiib) *Elena fa riparela a GianniElena consertou o carro para Gianni

    (iva) Gianni promise di leggere il libro

    (ivb) Gianni promise di leggerloGianni prometeu ler o livro

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    (c) Em predicados ergativos na forma passiva, o DP interno move-separa a posio de sujeito do verbo causativo:

    (va) La machinai stata fatta riparare ti a GianniO carro est sendo consertado por Gianni

    15 Consoante Alexiadou e Anagnostopoulou (2001:211):

    there is no nominative Case feature distinct from an accusative Casefeature. There is just a Case feature on v and a Case feature on T. Thetwo featues are identical for the computational system (....). They comeout differently in the morphological component, which spells outaccusative on the DP relating to the lower feature in opposition to theDP relating to the higher feature by virtue of the fact that accusative isa dependent case downward in accordance with a case realizationhierarchy suggested by Marantz (1992).

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    APNDICE

    1. ABREVIATURASABS: caso absolutivo; AGR: agreement (concordncia nmero-pessoa); AUX: verboauxiliar; CAUS: morfema causativo; IMIN: iminente; INT: inteno; NOML:nominalizador; NEG: partcula de negao; PERF1: perfectivo de no-exclusividade;PL: partcula de plural; PROB: probabilidade; POSP: posposio, OBL: caso oblquo;POSS: prefixo que indica o possuidor; REL: relativizador; REP: repetio; TRANS:transitividade; VER: verdadeiro, genuno;

    2. ORTOGRAFIA USADAConsiderando o padro fonmico dos sons da lngua Kaapor, adotamos a seguinteortografia cujo objetivo principal facilitar a leitura dos dados usados em nossaanlise. Os grafemas so:

    (i) consoantes: p, t, k, kw, , m, n, ng, ngw, s, x, h, r, w, j

    (ii) vogais: (a) orais: i, y, e, a, o, u; (b) nasais: i), y), e ), , , u)

    Os grafemas kw, ng, ngw, x, y, correspondem respectivamente aos seguintesfonemas: kw oclusiva velar no-vozeada labial /kw/; ng nasal velar vozeada/N/; ngw nasal velar labial vozeada /Nw/; x fricativa alveo-palatal /S/; y vogal oral alta central oral //; y) - vogal nasal alta central / )/ e o diacrtico oclusiva glotal no-vozeada ///.