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Epidemiologia e Causa
Causalidade, Causação, Negação
Heleno R Corrêa Filho_2015
Causa
• Evento que precede um desfecho de
modo freqüente, consistente em
intensidade, e magnitude.
• Em saúde costumam ser utilizadas
correspondencias do tipo “marcador
típico-diagnóstico”(patognomônico,
específico); “dose-resposta”; “risco-
incidência”; “exposição-dano”.
Nexo
• Termo utilizado para descrever o reconhecimento de uma associação causal na linguagem jurídica, forense, previdenciária, e securitária.
• Subentende uso de evidências acumuladas sobre a associação entre fator precedente (causa) e efeito (desfecho).
• PROVA – é termo técnico que designa uma evidência isolada. Nunca tem valor absoluto embora a linguagem comum interprete como “irrefutável”. O valor da prova depende da possibilidade de ser contestada ou refutada.
Nexo
• Causalidade em Epidemiologia é um modelo quantitativo: _ Compara quanto aumenta ou diminui o número de afetados em um grupo exposto [incidência] em relação a outro não exposto.(Efeito Relativo do aumento da Incidência entre expostos comparado a não expostos)
• A expressão probabilística da causalidade epidemiológica é a categoria RISCO.
Causa e Nexo
• Em um único indivíduo a CAUSA de uma
doença ou agravo pode ser qualquer
exposição que precede o diagnóstico.
• Na presença de muitas exposições o
NEXO é atribuído para aquela que o
avaliador julga mais provável. É subjetiva
e depende de quem avalia.
Causa e Nexo
• Diante de várias exposições causais o nexo é atribuído ou não segundo a visão do avaliador (técnico) ou julgador (geralmente juiz).
• Em epidemiologia não faz nenhum sentido atribuir causa ou nexo sobre uma pessoa sem relatar a probabilidade para um grupo de pessoas. O indivíduo pode ser completamente diferente de todo o grupo.
Causa
• O RISCO calculado pela probabilidade da
associação entre exposição e desfecho
(doença) é considerado evidência, “prova” e
pode ser forte ou fraco, na opinião de quem
julga.
• Síndrome de Down tem alto risco de ocorrer
entre mães acima de 40 anos de idade, MAS A
MAIORIA dos casos de Down é de nascituros
de mães entre 20 e 40 anos. IDADE não pode
ser CAUSA.
DETERMINAÇÃO
• Características antecedentes maiores e
amplas que mostram capacidade de levar
a seqüências de causa e efeito.
• Exploração e Pobreza – determinantes.
– Acesso a alimentos e desnutrição – causa.
– Habitação aglomerada e tuberculose – causa.
• Determinantes englobam (subsumem)
causas.
Agravos do Século XXI
• Asma, alergias respiratórias, doenças das vias respiratórias.
• Cancer
• Doenças cardiovasculares e cerebrovasculares
• Doenças de veiculação alimentar e nutrição.
• Mortalidade e morbidade associadas com o clima e o calor.
• Disturbios de desenvolvimento humano.
• Saúde mental e afecções relacionadas com stress. (LER/DORT)
• Doenças e afecções neurológicas.
• Doenças de veiculação hídrica.
• Zoonoses e doenças transmitidas por Vetores (malaria, hantavírus) [ Quemé suscetivel e vulneravel; populações deslocadas; infraestrutura publica emsaúde; capacitação e habilidades necessárias; comunicação e educação] .
• USA - NIEHS - National Institute of Environmental Health Sciences: A human health perspective on climate change, edited by DHHS - Department of Health and Human Services. Environmental Health Perspectives, 2010, pp. 80.
Confundimento
• Características ou fatores que influenciam o aparecimento de doenças em pesquisas e estudos epidemiológicos mas que não são ligadas aos mecanismos de causa considerados.
• O confundimento deve ser associado com a exposição e também pode desencadear o desfecho estudado na ausência da exposição estudada.
Baixo Peso PODE ser
confundimento.
• Pode haver mortalidade neonatal por
mecanismos outros que o baixo peso?Fumar
Baixo Peso ao Nascer
Mortalidade Neonatal
Confundimento
• Pode haver Malaria decorrente de suscetibilidade do sexo masculino
(gênero?) que não depende de trabalhar fora do domicílio?
Sexo Masculino
Trabalho fora do domicílio
Malária
Confundimento
• Pode haver cancer de colon por fatores ligados à dieta e não dependentes
de renda e educação?
Dieta Carente
Em vitaminas
Renda e Educação
Câncer de Colon
Interação
• Fator ou característica que modifica o
efeito de uma exposição de forma aditiva
ou multiplicativa. Pode ou não causar o
efeito isoladamente em menor escala.
• O quanto adiciona ao risco? _ Risco
Atribuível.
• O quanto multiplica o risco? _ Risco
Relativo.
Interação
• Exemplo típico – Isoladamente, fumar ou
trabalhar com amianto causam câncer de
pulmão.
• Trabalhar com amiando fumando
multiplica a ocorrência por dez.
Interação ou Modificação do Efeito
Fumo CaPlm
AmiantoCaPlm
Fumo
AmiantoCA de Pulmão
Interação
• A busca da interação ou do fator que é
Modificador do Efeito isolado é feita
comparando subgrupos com exposição
diferente. Buscam-se gradientes de efeito
conforme varia a exposição ao fator de
Interação.
Clínica e Epidemiologia
• Cânones de John Stuart Mill (1806 - 1873)
- descobrir, provar ou demonstrar relações
causais. [antes:Francis Bacon] 1
– Método da Concordância
– Método da diferença
– Método da concordância e diferença
– Método dos resíduos
– Método da variação concomitante
Princípios Modernos de
Causalidade
• Proceedings of the Royal Society of Medicine
[Proc. R. Soc. Med.] 58:295-300,1965,
BRADFORD-HILL, AUSTIN.2, 3
Força da Associação Consistência
Especificidade Temporalidade
Gradiente Biológico Plausibilidade
Evidência Experimental Coerência
Analogia
Causalidade múltipla
• Necessária e suficiente (alguns carcinogênicos e vírus, poucas bactérias)
• Necessária mas não suficiente (a maioria das bactérias e vírus incluindo a “pobre bactéria” Helicobacter Pylori)
• Suficiente mas não necessária (doenças nutricionais carenciais de causa múltipla4)
• Nem suficiente nem necessária (acidentes e lesões, episódios agudos em doenças crônicas)3
Conflito de interesse e pesquisa
epidemiológica
• Riscos são “aceitos” por técnicos.5 Decisões são
determinadas por fatores “extra-técnicos”.
[Carlos Gentile de Mello (1974)]
• Contestação começa com a “Primavera
silenciosa” - Rachel Carson, 1962.6,7
• Trabalhadores e epidemiólogos organizam
coortes e analisam exposição.8,9
• Academia e organismos multilaterais organizam
métodos.10,11,13,14
Erros e acertos em exames
diagnósticos
Resultados de
Exames de
DIAGNÓSTICO
Doentes
verdadeiros
Não Doentes
VERDADEIROS
Resultados
Positivo Correto
(sensibilidade)
Errado – Falso
Positivo
(erro Beta ou tipo
II)
Valor Preditivo +
(corretos/total)
Negativo Errado – Falso
Negativo
(erro Alfa ou tipo
I)
Correto – Poder
de teste
(especificidade)
Valor Preditivo -
A produção e o consumo: o
ponto de vista coletivo• As epidemias de doenças crônicas e não-
transmissíveis são decorrentes dos
processos de produção e consumo típicos
da nova sociedade urbana e
internacionalizada 17,18
• As abordagens individuais se mostram
insuficientes face aos recursos coletivos
para mudar padrões de produção,
consumo e destino de dejetos e rejeitos.
Doenças ambientais e sociais
• causadas por exposição única ou múltipla:
– agente único;– agente infeccioso (epstein-bar e linfoma);
– agentes químicos e físicos (freqüentemente impossíveis
de demonstrar causalidade no indivíduo - somente
possíveis de avaliar em população);
– agentes sociais e ergonômicos.
– agentes múltiplos - doses superpostas e
intermitentes; – poluição urbana, agrícola, de mineração e indústrias.
– rotinas de trabalho precário e assédio moral.
Doenças Crônicas
e não transmissíveis• História natural prolongada15,16
• Multiplicidade de fatores de risco
complexos no trabalho e no ambiente
Interação de fatores etiológicos
conhecidos e desconhecidos
• Causa necessária desconhecida
• Especificidade de causa desconhecida
Doenças Crônicas
e não transmissíveis• Ausência de participação ou participação
duvidosa de microorganismos entre os
determinantes
• Longo período de latência
• Longo curso assintomático
• Curso clínico em geral lento, prolongado e
permanente
Doenças Crônicas
e não transmissíveis• Manifestações clínicas com períodos de
remissão e exacerbação
• Lesões celulares irreversíveis
• Evolução para graus variados de incapacidade
ou morte
• (“DANT” segundo Inês Lessa, 1998 – apud Silva
Jr, Gomes, Cezário & Moura, cap 10 [in 23]
Rouquayrol & Almeida Fo. 2003, p.289-312)
Doenças Crônicas
e não transmissíveis
• Modelo agente-hospedeiro-meio ambiente
não permite ação e intervenção
• Suscetibilidade é socialmente
determinada.
• Fatores de risco são constitucionais,
comportamentais, sociais e culturais.
Inflamação e função
• 1 _ extravasamento de líquidos;
• 2 - substâncias químicas -migração de
leucócitos;
• 3 - aumento do volume líquido e barreiras
de fibrina;
• 4 - aumento da temperatura local;
• 5- células migratórias - leucócitos
histiócitos;
Inflamação e função
• 6 - reabsorção do edema;
• 7 - migração de fibroblastos - cicatriz;
• 8 - Redução de volume;
• 9 - PERDA DE FUNÇÃO - cicatrização.
Disfuncionalidade - CIF
• Lista infindável de argumentos negativos.
• O reconhecimento depende da
capacidade de unir evidências;
• Prevenir adoecimentos e tornar o trabalho
um espaço criativo de crescimento
individual e coletivo.
A dor
• não é sentida por quem examina;
• Consegue se vestir rápido;
• Descalça os sapatos;
• A mão tem força;
• Resiste a manobras;
• Consegue abaixar-se - lombalgia do
simulador.
Causalidade Negada
• Toma-se por causa o que é fator presente
na seleção
• Marcador não é causa. Em epidemiologia
pode ser chamado de fator de
confundimento
• as informações são consideradas segredo
empresarial e patronal
Negacionismo - Criacionismo
• fé absoluta, autoritária e fundamentalista
que despreza evidências
• Mapear o conflito de interesses
• Não existe ciência neutra
• exigidos quanto a requisitos científicos se
dizem “neutros”
Negacionismo
• Funcionalidade deveria ser avaliada por
trabalho multiprofissional
• Funcionalidade não é determinada por
integridade de um órgão ou sistema
corporal
• A avaliação da funcionalidade não é
somente biomecânica
Negacionismo
• Pode-se chegar ao suicídio por dor
corporal ou sofrimento psíquico sem lesão
• Lesões biomecânicas sem reabilitação
não recuperam a funcionalidade
• As lesões agudas ocorrem com pouca ou
nenhuma inflamação
Outras Perguntas
• O senhor ou a senhora:
• tem problemas para limpar-se?
• Evita usar banheiros?
• Consegue colocar roupa de baixo?
• Consegue se pentear?
• Pode olhar para trás?
• Consegue subir num ônibus com a força
das mãos?
Outras perguntas
• Tem vergonha de seus colegas de
trabalho?
• Tem medo de falar com seus chefes?
• Tem medo de contar em casa que pode
perder o emprego?
• Tem medo de não levantar para ir ao
trabalho?
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