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André Luiz de Oliveira Epidemiologia das ocorrências e aspectos clínicos e cirúrgicos das vítimas de disparos de arma de fogo em Uberlândia MG. Uberlândia 2005

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  • Andr Luiz de Oliveira

    Epidemiologia das ocorrncias e aspectos clnicos e

    cirrgicos das vtimas de disparos de arma de fogo em

    Uberlndia MG.

    Uberlndia

    2005

  • 2

    Andr Luiz de Oliveira

    Epidemiologia das ocorrncias e aspectos clnicos e

    cirrgicos das vtimas de disparos de arma de fogo em

    Uberlndia MG.

    Orientadora: Profa. Dra. Lindioneza Adriano Ribeiro

    Co- orientador: Prof. Dr. Ademir Rocha

    Uberlndia

    2005

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em

    Cincias da Sade da Faculdade de Medicina da

    Universidade Federal de Uberlndia como requisito parcial

    para a obteno do titulo de Mestre.

  • 3

    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA

    FACULDADE DE MEDICINA UFU

    Oliveira, Andr Luiz de Epidemiologia das ocorrncias e aspectos clnicos e cirrgicos das vtimas de disparos de arma de fogo em Uberlndia MG / Andr Luiz de Oliveira. Uberlndia, MG [s.n], 2005.

    Orientadora: Prof. Dra. Lindioneza Adriano Ribeiro Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Uberlndia. Faculdade de Medicina.

    1. Arma de fogo. 2. Epidemiologia. 3. Violncia. I. Lindioneza Adriano Ribeiro. II. Universidade Federal de Uberlndia. Faculdade de Medicina. III. Titulo.

  • 4

    DEDICATRIA

    minha esposa Celene, pelo companheirismo e incentivo na conquista

    deste projeto e tantos outros e minha filha Letcia, razo de minha felicidade e

    motivo de orgulho para toda a famlia.

    Aos meus queridos pais, Pedro e Bioleta, irmos e irm e

    correspondentes famlias, por aprendermos juntos a conquistar nosso espao ao

    sol na cidade, visando sempre um futuro melhor com dignidade e conhecimento.

    Aos agentes da Pastoral da Sade do Brasil, com muita estima e honra

    os tenho representado por inmeros lugares e momentos de capacitao.

    A todas as pessoas que formam a minha famlia, pela compreenso e

    colaborao incondicionais.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Inicialmente a Deus, pela oportunidade de realizar este projeto e

    conduzir-me incessantemente pelas trilhas do bem e das atitudes corretas.

    minha orientadora e eterna incentivadora, Professora Lindioneza,

    que, com carinho e confiana, aceitou este desafio desde o seu incio e acreditou na

    sua realizao. Ao meu co-orientador Professor Ademir, agradeo a confiana e a

    estima na conduo deste trabalho. No posso esquecer o incentivo igualmente

    importante do Professor Dr. Miguel Tans Jorge, que soube resgatar a vontade e a

    perseverana para alcanar esta linha de chegada.

    Aos colaboradores acadmicos Daniel R. Coelho Pereira e Guilherme

    M. Andrade, pelo empenho e dedicao na realizao deste trabalho, o meu sincero

    agradecimento e desejo de muitas realizaes na graduao e carreira profissional.

    Ao Professor Azarias T. Moraes amigo e incentivador na rea de

    Medicina Legal e Anilta Vitria de Almeida Marcelino e ngela (bibliotecria do

    Campus Santa Mnica) que, com grande eficincia e presteza, colaboraram na

    agilidade para a coleta de dados no Posto Mdico Legal e na reviso das

    Referncias Bibliogrficas, respectivamente.

    Ao SAME

    Setor de Arquivo Mdico do HCU e ao Comando da 9

    Regio da Polcia Militar de Minas Gerais um especial reconhecimento importante

    colaborao na realizao destes levantamentos. A todos aqueles que, mesmo no

    mencionados, contriburam para a realizao deste trabalho, o meu eterno

    agradecimento.

  • 6

    RESUMO

    Objetivo - Conhecer a epidemiologia dos disparos de arma de fogo em Uberlndia,

    MG, e os aspectos clnico-cirrgicos das vtimas. Mtodos - Foram obtidos dados

    sobre disparos de armas de fogo de: Boletins de Ocorrncia da Polcia Militar;

    pronturios do Hospital de Clnicas de Uberlndia - 2001 e 2002; laudos de leso

    corporal e necropsias do Posto Mdico Legal - 2000 a 2003. Resultados - As

    ocorrncias foram principalmente em bairros perifricos; 171 (53,61%) em vias

    pblicas, 72 (22,57%) em residncias, mais de 1/3 em finais de semana; dos

    disparos para os quais os dados foram obtidos, em 110 (75,34%) a arma utilizada foi

    o revlver e foram motivados principalmente por discusso (46; 29,68%) e acerto de

    contas/vingana (40; 25,81%); de 94 (26,40%) casos cujo dado foi obtido, em 60

    (63,83%) o agressor foi classificado como cidado comum; em 130 (67,01%) casos

    os agressores fugiram. As percentagens aproximadas de vtimas do sexo masculino,

    de 10 a 39 anos e solteiras foram de, respectivamente, 90%, 80% e 70%. Nos casos

    fatais, os locais mais atingidos foram o tronco (257; 93,12%) e o crnio (150;

    54,35%) lesionando sobretudo o crebro (128; 46,38%) e os pulmes (125; 45,29%).

    Concluses - so freqentes os disparos em bairros perifricos, vias pblicas ou

    residncias, em finais de semana, por revlver, motivados por dificuldades de

    relacionamento interpessoal, realizados por cidados comuns que, geralmente fogem

    da cena do crime; as vtimas so, sobretudo, homens jovens e solteiros; nos casos

    fatais so mais comuns leses em tronco e crnio, acometendo crebro e pulmo.

  • 7

    SUMMARY

    Objective

    This study aims to know the epidemiology of the firearm shootings in

    Uberlndia, MG, and the victim s clinic-cirurgical aspects. Methods - Information of

    gunshots was obtained from: Occurence Reports of the Military Police; medical

    reports of the Hospital de Clnicas de Uberlndia

    2001 and 2002; lauds of corporal

    lesions and necropsy from the Legal Medical Rank

    2000 to 2003. Results

    The

    occurrences were mainly in peripheral areas; 171 (53,61%) in public ways, 72

    (22,57%) in residences, more than 1/3 in the weekends; from the cases which the

    data was obtained, in 110 (75,34%) the revolver was the used weapon and the cause

    of the violence was discussion (46; 29,68%) and revenge/payback (40; 25,81%);

    from the cases which the information was obtained, in 60 (63,83%) the aggressor was

    classified as common citizen; in 130 (67,01%) cases the aggressor runaway. The

    proximal percentages of the victims which were male, from 10 to 39 years and single

    were respectively, 90%, 80% and 70%. In the fatal cases, the most committed

    regions were the trunk (257; 93,12%) and the head (150; 54,35%) hurting mostly

    brain (128; 46,38%) and lungs (125; 45,29%). Conclusions - The shootings are

    frequently in peripherical areas, public ways or residences, in the weekends, by

    revolver, caused by interpersonal relationships, in common citizens that runnaway

    from the crime scene; the victims are single young male; in the fatal cases the lesions

    are more common in the trunk and in the head with the committing of the brain and

    lungs.

  • 8

    SUMRIO

    pg

    1. Introduo.............................................................................................................09

    2. Objetivo..................................................................................................................21

    3. Casustica e mtodo ............................................................................................22

    4. Resultados ............................................................................................................24

    5. Discusso .............................................................................................................57

    5.1 - Municpio de procedncia, bairro e local da ocorrncia ...................57

    5.2 - Motivo aparente .....................................................................................62

    5.3 - Destino dado a vtima e local do primeiro atendimento ....................64

    5.4 - Sexo, idade, estado civil e profisso/ocupao das vtimas.............65

    5.5 - Ms, dia de ocorrncia / atendimento e horrio de atendimento......69

    5.6 - Nmero e localizao dos orifcios de entrada ..................................70

    5.7 - rgos acometidos e procedimentos cirrgicos ...............................72

    5.8 - Tipo de arma ..........................................................................................74

    5.9 - Caractersticas e destino do agressor ................................................75

    5.10 - Quadro clnico de chegada, dias de internao ...............................76

    6. Concluses ...........................................................................................................79

    7. Comentrios e sugestes ...................................................................................81

    8. Referncias Bibliogrficas ..................................................................................82

    9. Anexos ..................................................................................................................91

  • 9

    1. INTRODUO

    A violncia sempre fez parte da natureza humana. O primeiro conflito

    organizado e documentado, entre grupos, data de h 10 mil anos. Um pouco mais

    tarde, a arte rupestre no sudoeste da Espanha mostra grupos a lanarem setas, uns

    contra os outros. O que hoje se sabe, sobre evoluo, dos conflitos e instrumentos

    de guerra, deve-se em grande parte s oferendas aos deuses, encontradas nos

    tmulos e s feridas que os esqueletos apresentavam (PORTUGAL

    ARQUEOLOGIA, 2003). Este estudo no ir resgatar as infindveis histrias dos

    conflitos e das guerras ocorridas desde o primrdio dos tempos, mas pretende

    sensibilizar qualquer cidado dos efeitos inesperados e irreversveis da violncia,

    principalmente por arma de fogo, em qualquer nvel de convivncia do ser humano.

    Historicamente, a violncia foi mais comumente identificada como

    sinnimo de criminalidade e, por isso, quase que objeto de reflexo exclusiva das

    cincias jurdicas. S mais recentemente que ela passou a ser incorporada de

    forma mais sistemtica por outras reas do conhecimento. Se por um lado, algumas

    reas vm tentando desvendar determinados aspectos da violncia encobertos nas

    prticas sociais (demonstrando uma maior conscincia do problema, tambm em

    virtude dos seus crescentes ndices), por outro, persistem as reflexes que a

    vinculam unicamente delinqncia. Isto expressa no s diferentes nveis de

    desenvolvimento do conhecimento, mas tambm posies ideolgicas na

    aproximao do objeto que se refletem nas abordagens tericas e metodolgicas de

  • 10

    distintas correntes de pensamento (SOUZA, 1993). Por isso, a violncia passa a ser

    objeto de reflexo por parte de vrios setores, entre eles o da Sade Pblica

    (MINAYO e SOUZA, 1993).

    Os levantamentos sobre a importncia da violncia no Pas foram

    desenvolvidos, em sua maior parte, a partir dos anos 80. Foram avaliados dados de

    mortalidade que revelaram crescimento da violncia principalmente entre os jovens

    (BARROS, XIMENES e LIMA, 2001). No Brasil, a violncia tem se caracterizado

    como um grave problema de Sade Pblica (ASSIS, 1995). Com os ndices

    crescentes de homicdios, assumindo caractersticas de pandemia, houve uma

    priorizao deste assunto (EDELMAN e SATCHER, 1993). Iunes (1997) afirma que

    os acidentes e violncias como causas de mortalidade e morbidade tm atingido

    propores quase epidmicas no Brasil.

    Szwarcwald (1989) descreveu que, no incio dos anos 80, j se

    percebia uma profunda transformao no perfil de mortalidade no Brasil, em que as

    doenas do aparelho circulatrio, as neoplasias e as causas externas assumiram

    nesta ordem, as posies de principais responsveis pela maioria dos bitos

    registrados. No final da referida dcada, as mortes por acidentes e violncias

    passaram a responder pela segunda causa de bitos no quadro de mortalidade

    geral, ensejando a discusso de que se tratava de um dos mais graves problemas de

    Sade Pblica a ser enfrentado (MINISTRIO DA SADE, ANURIO 2002;

  • 11

    GAWRYSZEWSKI, KOIZUMI e MELLO JORGE, 2004). Na mesma dcada, o

    nmero total de bitos aumentou em cerca de 20%, porm as causas violentas de

    bito elevaram-se em 60% (MANTOVANI e FRAGA, 1998).

    A deteco da distribuio espacial dos eventos de mortes violentas

    proporciona contribuio significativa gesto do Sistema de Sade e qualificao

    do modelo de ateno. A geografia da sade pode contribuir para a preveno das

    mortes violentas por meio da deteco de grupos vulnerveis aos complexos fatores

    envolvidos na gnese dessas mortes (SANTOS et al., 2001). Qualquer que seja a

    proporo dos homicdios relacionados s drogas ou ao narcotrfico, estes delitos

    devero ocorrer com maior intensidade nas regies e vizinhanas assoladas pelo

    trfico (BEATO FILHO et al., 2001).

    Macedo et al. (2001) mostraram a associao da mortalidade por

    homicdios com reas mais pobres da cidade, ratificando a possibilidade das

    relaes entre tal tipo de crime com as desigualdades sociais. O fenmeno tambm

    encontrado na zona rural, em menor proporo, diferenciando a caracterizao dos

    motivos da violncia, tais como: conflitos de terra e rota do narcotrfico (MINISTRIO

    DA SADE, ANURIO 2002).

    Os homicdios representam a maior parte dos bitos por violncia, j

    superando aqueles por acidentes de trnsito (MANTOVANI e FRAGA, 1998). Em

    2000, dos 44.715 bitos de pessoas jovens, 13.186 (29,5%) ocorreram por armas de

    fogo (MINISTRIO DA JUSTIA, 2003).

  • 12

    Recentemente, a Comisso sobre Preveno de Crimes e Justia

    Criminal da Organizao das Naes Unidas divulgou resultados de pesquisa

    baseada em informaes oficiais dos governos de 49 pases, evidenciando o Brasil

    como lder de um grupo de naes pelas suas elevadas taxas de mortes causadas

    por armas de fogo (homicdios, suicdios, acidentes), isoladamente, nas rubricas

    homicdios e acidentes, e tambm pelo uso de armas de fogo em roubos e assaltos

    (ONU, 1998).

    A Unesco Brasil (2005), Organizao das Naes Unidas para a

    Educao, a Cincia e a Cultura, revelou que o Brasil ocupa o segundo lugar em

    mortes por arma de fogo entre 57 pases, com uma taxa de 21,72 mortes por 100 mil

    habitantes, ficando atrs apenas da Venezuela (22,15 mortes por arma de fogo por

    100 mil habitantes), ultrapassando inclusive a taxa de bitos por armas de fogo de

    Israel, o qual enfrenta situao de conflito armado. O pas de menor taxa foi o Japo,

    com 0,06 bito por 100 mil habitantes.

    Souza (1995), em trabalho com dados da mortalidade por causas

    externas em Pernambuco no perodo de 1979 a 1992, ressaltou o acentuado

    crescimento das taxas de homicdios. Segundo o Ministrio da Justia (2003), esses

    delitos eram, at recentemente, a principal causa de bito por armas de fogo (90,3%)

    e o restante (9,7%) resultado de suicdios, acidentes com armas de fogo e outras

    categorias.

    Peres e Santos (2005) tambm relataram, no Brasil, aumento

    expressivo de homicdios na dcada de 90 e apontaram a importncia daqueles por

  • 13

    armas de fogo. Considerando todas as mortes por causas externas registradas no

    Pas de 1991 a 2000, as armas de fogo foram responsveis por 24% delas e os

    acidentes de trnsito por 27,8%. A proporo de mortes por arma de fogo

    (homicdios, suicdios, acidentes) foi superior a de acidentes de trnsito (33,3%).

    Segundo Peres (2004), as armas de fogo so usadas na maior parte dos homicdios

    no Brasil (59,25%) e, entre as mortes por armas de fogo, o homicdio a primeira

    causa no pas em suas cinco regies, variando de 72,7% no Sul a 85,5% na regio

    Nordeste, com mdia de 82,2%.

    Segundo o Conasems (2005), as armas de fogo em 2000 superaram os

    acidentes de trnsito como causa de morte, ocupando a primeira posio entre as

    chamadas causas externas, tendo sido responsveis por 265.975 mortes, 24% de

    todas as mortes no naturais. Desse total, 82% foram homicdios, 11% com

    intencionalidade indeterminada, cerca de 5% foram suicdios, 2% foram mortes

    acidentais e 0,1% foi atribuda interveno legal (ao policial). E ainda, o fato de

    terem sido encontrados coeficientes de mortalidade mais elevados nas capitais,

    indica que a violncia por armas de fogo um problema predominantemente urbano

    no Pas.

    As armas de fogo foram utilizadas em 60% dos homicdios ocorridos na

    dcada de 90, atingindo o percentual de 70% no ano 2000 (PERES e SANTOS,

    2005). Neste mesmo estudo, analisando coeficientes de mortalidade por arma de

    fogo em 13 capitais, as autoras tambm detectaram que no ano 2000 houve um

    aumento das mortes por homicdio por armas de fogo, sendo que a proporo de tal

  • 14

    crime excedeu o valor de 50% nas capitais estudadas e em sete a proporo foi

    superior a 80% dos casos.

    Conceitualmente, o custo econmico introduzido por uma doena, ou

    problema de sade, pode ser classificado em duas grandes categorias: os chamados

    custos diretos (custos mdicos e de outros profissionais com consulta, prescrio,

    diagnstico, tratamento, recuperao e reabilitao) e custos indiretos (perda de

    produo e produtividade advindas com a enfermidade) (HODGSON e MEINERS,

    1982; IUNES, 1997). Com o crescimento da violncia no Brasil, os servios de

    sade tm redirecionado esforos, no que tange ao escasso financiamento na Sade

    Pblica e no insuficiente quadro de recursos humanos e logsticos, na tentativa de

    adequar seus poucos recursos a essa demanda emergente (DESLANDES, SILVA e

    UG, 1998).

    O crescimento da violncia no Brasil tem contribudo para que os leitos

    hospitalares se tornem ainda mais escassos. Conseqentemente, torna-se

    insuficiente o nmero de profissionais nas unidades de emergncia, nos centros

    cirrgicos e nas unidades de sade como um todo e de leitos em unidades de terapia

    intensiva e de recuperao ps-anestsica, bem como dos servios de imagem.

    Acresce-se, ainda, o estrangulamento da capacidade operacional dos laboratrios

    (MINISTRIO DA SADE, ANURIO 2002). Assim, o agravo na Sade Pblica fica

    cada vez mais evidente e, com o aumento da densidade populacional em

    determinados centros urbanos, clareia a necessidade urgente de reformulao no

    financiamento da Sade.

  • 15

    Como a qualidade no atendimento pr-hospitalar de suma

    importncia na reduo do tempo de permanncia hospitalar, de seqelas e da

    mortalidade, este nvel de atendimento vem exigindo perspiccia e agilidade de

    administradores e gestores pblicos (MINISTRIO DA SADE, 2002).

    No Brasil, tem sido referida a falta de pesquisas mais sistemticas, na

    rea de sade, sobre os homicdios (MINAYO, 1990; SOUZA, 1991). Souza (1994)

    aponta a existncia de problemas na qualidade das informaes sobre as mortes por

    causas externas, em particular no que se refere ao uso da categoria

    intencionalidade indeterminada , o que resulta na subestimao das mortes por

    homicdios. No se conhece, entretanto, a qualidade de informao sobre o tipo de

    instrumento que levou ao bito (PERES e SANTOS, 2005).

    No Brasil, existe dificuldade na obteno de informaes com qualidade

    em vrios campos. Esta falta de qualidade nas informaes produzidas pelas

    secretarias de segurana estaduais um dos maiores obstculos para a pesquisa

    sobre violncia no Brasil (PERES, 2004). O precrio conhecimento sobre a

    epidemiologia dos homicdios, principalmente com a prevalncia e com a existncia

    de falhas considerveis nas informaes sobre incidncia (SOUZA, 1994), dificulta

    as polticas e aes preventivas. importante que todos os setores e profissionais se

    preocupem com o preenchimento adequado das fichas e dos documentos que

    registram a ocorrncia dos fatos.

    A despeito do crescimento da violncia no Brasil, so poucos os

    pesquisadores que abordam a contribuio das armas de fogo. Muito pouco se sabe

  • 16

    sobre o nmero e tipos especficos de tais instrumentos em circulao no Pas, sobre

    a morbidade, mortalidade e atividades criminais relacionadas ao seu uso, assim

    como sobre os perfis das vtimas e dos agressores (PERES, 2004).

    As informaes de mortalidade so essenciais para o conhecimento

    dos agravos que afetam as populaes, refletindo suas condies de vida e sade,

    alm de contribuir para o desenvolvimento de aes preventivas com o

    monitoramento da violncia, pois permitem a avaliao de tendncias e o

    acompanhamento do impacto das intervenes voltadas para a reduo dos nveis

    de violncia (DRUMOND JNIOR et al., 1999). Sabe-se que a maioria dos

    homicdios envolve o uso de armas de fogo, que incidem sobre grupos sociais cujo

    perfil scio-econmico menos privilegiado do que o encontrado em outras causas

    violentas (MELLO JORGE, 1998).

    Segundo a imprensa leiga (DEFESA PESSOAL, JORNAL DA GLOBO,

    2003), o Brasil est entre os pases que registram o maior nmero de mortes com

    armas de fogo (45 mil por ano). Possui cerca de 5 milhes de armas de fogo

    registradas e o nmero das ilegais pode atingir 20 milhes. De acordo com uma

    pesquisa de vitimizao realizada pelo Llanud/Datafolha em 1996, 9% das

    residncias do Rio de Janeiro assumiram a existncia de armas de fogo e, em 1997,

    8% das de So Paulo, sendo o revlver a arma mais comum (CONJUNTURA

    CRIMINAL, 2003).

    A Comisso do Congresso Nacional que prepara o Estatuto do

    Desarmamento tem a inteno de unificar todas as propostas de lei sobre este

  • 17

    assunto, propondo regulamentos ou critrios de normalizao no uso de armas de

    fogo, no sentido de reduzir ou at mesmo coibir o nmero de portes das mesmas no

    pas. A constituio dessa Comisso e as 58 propostas de lei que tramitam na

    Cmara dos Deputados e no Senado Federal sobre o uso de armas de fogo atestam

    a importncia da matria em questo em mbito nacional (RELATRIO, JORNAL

    NACIONAL, 2003).

    A proposta de um referendo popular, previsto no Estatuto do

    Desarmamento, est agendado para outubro de 2005. Este Plebiscito dever

    explicitar a opinio da populao brasileira sobre o comrcio de armas de fogo, porte

    e munio para particulares (SECRETARIA DE COMUNICAO DE GOVERNO E

    GESTO ESTRATGICA DA PRESIDNCIA DA REPBLICA, 2005).

    O debate sobre as armas de fogo e o seu impacto na violncia vem

    ocupando grande espao nos principais meios de comunicao de massa do Pas

    (SZWARCWALD e CASTILHO, 1998; PERES e SANTOS, 2005). Em torno da

    discusso sobre o Estatuto do Desarmamento, as opinies se dividem entre aqueles

    que defendem medidas mais rgidas para a posse e o porte de armas de fogo, e

    aqueles que afirmam o direito do cidado do bem de possuir armas de fogo como

    forma de garantir a defesa e a segurana (PERES e SANTOS, 2005).

    A Campanha Nacional do Desarmamento um marco na histria do

    Brasil no que se refere ao combate violncia e instituio de uma cultura de paz

    (SECRETARIA DE COMUNICAO DE GOVERNO E GESTO ESTRATGICA DA

    PRESIDNCIA DA REPBLICA, 2005). Desde o incio do recolhimento de armas,

    com a publicao do Decreto que regulamenta o Estatuto em 15 de julho de 2004, a

  • 18

    populao j entregou mais de 440 mil armas de fogo destruio, superando as

    expectativas iniciais de 80 mil e depois de 200 mil (at dezembro de 2004). Com a

    nova prorrogao do prazo at outubro de 2005, o governo espera que esse nmero

    ultrapasse 500 mil armas, seis vezes superior previso inicial (SECRETARIA DE

    COMUNICAO DE GOVERNO E GESTO ESTRATGICA DA PRESIDNCIA DA

    REPBLICA, 2005). A populao brasileira poder decidir no Plebiscito de 23 de

    outubro de 2005 o futuro da venda e do porte de armas no pas.

    A Unesco considerou que esta campanha uma das melhores

    estratgias de promoo da paz j desenvolvida na histria do Pas e entregou ao

    Brasil o Prmio Unesco 2004 na categoria Direitos Humanos e Cultura da Paz

    (SECRETARIA DE COMUNICAO DE GOVERNO E GESTO ESTRATGICA DA

    PRESIDNCIA DA REPBLICA, 2005). Segundo estudos dos Ministrios da Justia

    e da Sade, esta iniciativa j est apresentando resultados concretos, pois j se

    percebe uma reduo no nmero de internaes hospitalares causadas por arma de

    fogo nos Estados de So Paulo (7%) e Rio de Janeiro (10,5%) (CONTRA, FOLHA

    DE SO PAULO, 2005; SECRETARIA DE COMUNICAO DE GOVERNO E

    GESTO ESTRATGICA DA PRESIDNCIA DA REPBLICA, 2005), e, de acordo

    com o prprio Ministrio da Justia em Campanha do Desarmamento reduz mortes

    por arma de fogo no Brasil (2005), a populao j entregou 443.719 armas de fogo

    destruio desde julho de 2004, sendo que o ndice nacional de mortalidade por

    armas de fogo caiu, pela primeira vez em 13 anos, com a reduo de 8,2% em 2004

    em todo o pas. Em nmeros absolutos, os Estados que mais contriburam para a

  • 19

    reduo do ndice em 2004 foram So Paulo com 1.960 mortes e Rio de Janeiro com

    672 mortes a menos.

    Segundo dados relatados por Peres (2004), Minas Gerais o Estado

    da Regio Sudeste que apresenta a maior porcentagem de suicdios (6,4%)

    considerando-se todos os bitos por causas externas e 11,1% de todas as mortes

    por arma de fogo deveram-se a auto-extermnio. Em relao aos homicdios, Minas

    Gerais ocupa o terceiro lugar na Regio Sudeste (15,5%). Por ser alta a

    porcentagem de mortes com inteno indeterminada, esta autora sugere que o

    nmero de homicdios esteja subestimado.

    Uberlndia (MG) uma importante cidade do Tringulo Mineiro, com

    585.260 habitantes (IBGE, 2005). Trata-se de cidade de mdio porte com taxa de

    crescimento expressiva (3,31/ano), tendo sua populao evoluda de 120.000

    habitantes em 1970 para quase 600.000 em trs dcadas (SILVEIRA e RIBEIRO,

    2002). Certamente, essa evoluo demogrfica acarretou problemas graves e atuais

    de Sade Pblica, tendo a violncia urbana como um dos principais. Em 2004, as

    causas externas ocuparam o quarto lugar como causas de mortes (9,7%), aps as

    doenas do aparelho circulatrio (30,5%), as neoplasias (15,5%) e as doenas do

    trato respiratrio (11,5%) (INFORMATIVO MAIS SADE, 2005).

    O entendimento da violncia como sendo decorrente de uma rede de

    fatores socioeconmicos, polticos e culturais que se articulam e interagem de forma

    dinmica tem sido defendido por Minayo (1990) e utilizado como fonte para diversos

    autores. No presente estudo, norteou a busca epidemiolgica das ocorrncias por

  • 20

    arma de fogo em Uberlndia (MG). importante lembrar que na caracterizao dos

    aspectos socioeconmicos do Estado, as particularidades regionais devem ser

    observadas, gerando a necessidade de estudos que analisem e interpretem

    possveis relaes entre os padres das taxas de homicdios e as especificidades do

    contexto scio-espacial do Estado (LIMA et al., 2002).

    A violncia por arma de fogo ocasiona altos custos diretos e indiretos

    para o sistema de sade, com perda de vidas, sobretudo de pessoas jovens, e

    importantes repercusses indesejadas no setor econmico, desde o afastamento

    temporrio do trabalhador at sua incapacidade permanente. A necessidade de se

    estudar esta temtica em Uberlndia (MG) deve-se principalmente ao crescente

    impacto que este tipo de violncia vem apresentando nos ndices de mortalidade em

    todo o Pas, inclusive em cidades de mdio porte e do interior (KODATO e SILVA,

    2000).

    Como as bases de dados LILACS e o MEDLINE no registram, at a

    presente data, trabalhos prvios sobre violncia por arma de fogo em Uberlndia ou

    mesmo na Regio do Tringulo Mineiro, e no pas ainda h lacunas nas informaes

    sobre este tema, importante que se conhea o perfil dessa violncia para uma

    futura avaliao do efeito da possvel deciso de se proibir o porte de armas de fogo

    e munio no Pas, aps o Plebiscito de outubro de 2005. Este conhecimento

    tambm necessrio para sensibilizar cidados e autoridades governamentais,

    jurdicas e de segurana para que atuem efetivamente no combate violncia por

    arma de fogo.

  • 21

    2. OBJETIVO

    Conhecer aspectos da epidemiologia dos disparos de arma de fogo em

    Uberlndia, MG, da clnica e do tratamento cirrgico das vtimas.

  • 22

    3. MATERIAL E MTODO

    Foram obtidos dados sobre disparos de armas de fogo de quatro fontes

    independentes, a saber:

    a) trezentos e cinqenta e seis Boletins de Ocorrncia (BO) Policial

    (Polcia Militar), durante os anos de 2001 (187 BO; 52,53%) e 2002 (169; 47,47%),

    referentes a casos que envolveram disparo de arma de fogo na cidade de

    Uberlndia, incluindo casos de homicdio, homicdio tentado e leses corporais com

    projtil de arma de fogo, fornecidos pela 9 Regio de Polcia Militar de Minas Gerais.

    Com base nos dados obtidos nos BO, foram analisados os seguintes aspectos:

    bairro da ocorrncia; local do crime; motivo aparente; destino dado vtima;

    caracterizao da vtima (sexo, idade e profisso/ocupao); dia da semana da

    ocorrncia; localizao dos orifcios de entrada; tipo de arma utilizada; perfil do

    agressor e destino dado ao mesmo (ANEXO I).

    b) trezentos e oito pronturios de pacientes vtimas de ferimentos por

    arma de fogo, atendidos no Pronto Socorro do Hospital de Clnicas de Uberlndia

    (HCU) nos anos de 2001 (168 pronturios; 54,55%) e 2002 (140; 45,45%),

    pesquisados no Setor de Arquivo Mdico

    SAME - do HCU. Em funo das

    informaes dos pronturios, as seguintes variveis foram estudadas: municpio de

    procedncia; caracterizao da vtima (sexo, idade e estado civil); ms, dia da

    semana e horrio do atendimento; nmero e localizao dos orifcios de entrada;

  • 23

    procedimento cirrgico realizado; quadro clnico inicial no HCU e nmero de dias de

    internao (ANEXO II).

    c) cento e noventa laudos de percia de leses corporais por projtil de

    arma de fogo, realizadas no Posto Mdico Legal (PML) de Uberlndia, nos anos de

    2000 (37 laudos; 19,47%), 2001 (58; 30,53%), 2002 (47; 24,74%) e 2003 (48;

    25,26%). Nesta fonte de dados foram analisados: municpio de procedncia;

    caracterizao da vtima (sexo, idade, estado civil e profisso/ocupao); ms e dia

    da semana de atendimento; nmero e localizao dos orifcios de entrada (ANEXO

    III).

    d) duzentos e setenta e seis laudos de necropsias realizadas no PML

    de Uberlndia, tendo como causa mortis ferimento por projtil de arma de fogo, nos

    anos de 2000 (67 laudos; 24,28%), 2001 (71; 25,72%), 2002 (60; 21,74%) e 2003

    (78; 28,26%). Foram pesquisados os seguintes dados: municpio de procedncia;

    caracterizao da vtima (sexo, idade, estado civil e profisso/ocupao); ms e dia

    da semana da necropsia; nmero e localizao dos orifcios de entrada e rgos

    acometidos (ANEXO IV).

    Este estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da

    Universidade Federal de Uberlndia (ANEXO V).

  • 24

    4. RESULTADOS

    A grande maioria das vtimas de arma de fogo procedia de Uberlndia,

    o que foi demonstrado com base nas quatro fontes de dados pesquisadas (Tabela 1),

    Dos 237 (66,57%) registros em BO em que havia informao do bairro de ocorrncia,

    houve maior nmero no Luizote de Freitas (21; 8,86%), Morumbi (17; 7,17%), Tibery

    (15; 6,33%) e So Jorge (15; 6,33%) (Figura 1 e Tabela A em Anexo VI). Entretanto,

    como h grande variao na populao de cada bairro, o coeficiente de incidncia

    por 100 mil habitantes foi maior nos Bairros Umuarama (117,16 casos por 100 mil

    habitantes), Dona Zulmira (114,55), Dom Almir (114,23), Centro (112,39), Cana

    (111,45), Morumbi (108,00) e Luizote de Freitas (99,19) (Tabela 2 e Grfico 1). De

    302 (84,83%) BO com informao sobre o local da ocorrncia, 171 (56,62%) foram

    em vias pblicas, 72 (23,84%) em residncias, 48 (15,89%) em bares e boates, 6

    (1,99%) em postos de gasolina e 5 (1,66%) em automveis (Grfico 2).

    Menos da metade dos casos (155; 43,54%) em que os motivos

    aparentes para o uso de arma de fogo foram descritos nos BO, cerca de 30% foram

    referidos como discusso/briga (46; 29,68%) e acerto de contas/vingana (40;

    25,81%) (Tabela 3 e Grfico 3).

    Entre os 278 casos (78,09%) para as quais se encontrou descrio nos

    BO sobre o destino dado vtima, 121 (43,53%) foram encaminhadas para o PS-

    HCU, 110 (39,57%) para outros hospitais e 46 (16,55%), para o PML. Uma nica

  • 25

    vtima (0,36%) permaneceu no domiclio (Tabela 4, Grfico 4 e Tabela B em Anexo

    VI).

    As vtimas de ferimento por projtil de arma de fogo no presente estudo

    eram, sobretudo do sexo masculino (Tabela 5 e Grfico 5), encontravam-se

    predominantemente na faixa etria dos 10 aos 39 anos de idade (Tabela 6 e Grfico

    6) e eram mais comumente solteiras (Tabela 7 e Grfico 7). Embora a

    profisso/ocupao mais comum tenha sido referida como servios gerais , outras

    como comerciante/comercirio, motorista/mototaxista, pedreiro/servente/pintor

    tambm foram freqentes (Tabela 8).

    A ocorrncia dos eventos mostrou pouca variao durante os meses do

    ano e no obedeceu a um padro semelhante segundo as diferentes fontes de dados

    (Tabela 9 e Grfico 8). Observou-se tambm, que mais de 1/3 ocorreram ou foram

    atendidos no final de semana (sbado e domingo), independentemente da fonte de

    dados utilizada (Tabela 10 e Grfico 9). Quase a metade dos casos (139; 45,13%)

    atendidos no HCU deram entrada no PS no horrio de 21 s 3 horas (Tabela 11 e

    Grfico 10).

    Embora a presena de apenas um orifcio de entrada de projtil tenha

    sido mais comum entre os pacientes atendidos no HCU e nos indivduos submetidos

    a exame de corpo delito, entre os casos de necropsias a maioria dos cadveres

    apresentava dois ou mais orifcios (Tabela 12 e Grfico 11). Nos pacientes atendidos

    no HCU, a regio anatmica mais acometida foi o tronco (156; 50,65%), seguida por

    membros inferiores (89; 28,90%), membros superiores (45; 14,61%) e crnio (30;

    9,74%). J nos indivduos necropsiados, a regio mais acometida tambm foi o

  • 26

    tronco (257; 93,12%) seguida de crnio (150; 54,35%) (Tabela 13). Entre estes

    ltimos foi freqente a leso de rgos vitais como crebro (128; 46,38%), pulmo

    (125; 45,29%), corao (80; 28,99%) e fgado (69; 25%) (Tabela 14).

    De 267 (86,69%) pacientes atendidos no HCU para os quais se pde

    obter informao, 132 (49,44%) foram submetidos a algum procedimento cirrgico,

    115 (43,07%) tiveram alta sem internao e 20 (7,49%) evoluram para bito. As

    principais cirurgias realizadas foram: laparotomia exploradora (51; 38,64%), sendo

    que 66 pacientes foram alvejados em abdome; das 53 pessoas que apresentaram

    FAF em trax, 51 (38,64%) foram submetidas a procedimento cirrgico, com 30

    (58,82%) submetidos a tratamento conservador ou a drenagem torcica e 21

    (41,18%) a toracotomia exploradora; processo cirrgico em ossos (35; 26,52%) e

    arteriorrafias (30; 22,73%) (Tabela 15).

    De 146 casos de BO (41,01%) para os quais o dado foi obtido, as

    armas utilizadas no disparo foram referidas como revlver (110; 75,34%), pistola (21;

    14,38%), espingarda (4; 2,74%) e outras (11; 7,53%) (Grfico 12).

    De 94 (26,40%) casos cujo dado foi obtido, o agressor foi classificado

    como reconhecidamente meliante (29; 30,85%) ou policial (5; 5,32%), mas a maioria

    como cidado comum (60, 63,83%) (Grfico 13). Entre os 194 casos (54,49%) em

    que foi referido o destino do agressor, 130 (67,01%) fugiram e 50 (25,77%) foram

    encaminhados para a delegacia de polcia (Tabela 16 e Grfico 14).

    Do total de pacientes atendidos no HCU, 232 (75,32%) deram entrada

    no PS conscientes, 40 (12,99%) em choque hipovolmico (Tabela 17 e Grfico 15).

    Pouco mais da metade (159; 51,62%) dos pacientes chegaram a ser internados (24

  • 27

    horas ou mais de permanncia no HCU) e, destes, a maioria (108; 67,92%)

    permaneceu no hospital por at uma semana (Tabela 18 e Grfico 16).

  • 28

    Tabela 1

    Distribuio segundo a fonte de dados e o municpio de procedncia da

    vtima de acidente com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    PML

    HCU1 LC1 NEC1

    Municpio de procedncia

    No % No % No % Uberlndia 266 86,93 142 82,08 207 85,89

    Tupaciguara 4 1,31 6 3,47 7 2,9

    Monte Alegre 5 1,63 8 4,62 5 2,07

    Araguari 3 0,98 0 0 4 1,66

    Monte Carmelo 7 2,29 6 3,47 3 1,24

    Outros 21 6,86 11 6,36 15 6,22

    Total 306 100 173 100 241 100

    1 HCU = Hospital de Clnicas de Uberlndia (2001 e 2002); LC = Registro de leses corporais do PML (2000 a 2003); NEC = Necropsias realizadas no PML (2000 a 2003). 2 No foi possvel obter informaes de dois casos no HCU, dezessete de LC e trinta e cinco de NEC. Fontes: Setor de Arquivo Mdico do HCU, Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 29

    LEGENDA 1 Morada do Sol 2 Tocantins 3 Guarani 4 Taiaman 5 So Jos 6 Dona Zulmira 7 Jardim Patrcia 8 Luizote Freitas

    9 Mansour 10 Chcaras Tubalina 11 Planalto 12 Jaragu 13 Daniel Fonseca 14 Osvaldo Resende 15 Jardim Braslia 16 Maravilha 17 Pacaembu

    18 Presidente Roosevelt

    19 Martins 20 Bom Jesus

    21 Centro 22 Fundinho 23 Tabajaras 24 Ldice 25 Cazeca 26 N. Sra. Aparecida 27 Saraiva 28 Vigilato Pereira 29 Jardim Karaba 30 Morada da Colina 31 Patrimnio 32 Tubalina 33 Cidade Jardim

    34 Jardim das Palmeiras

    35 Jardim Holanda 36 Jardim Cana 37 Jardim Clia 38 Rancho Alegre

    39 Jardim Nova Uberlndia

    40 Jardins Barcelona 41 Gvea Hill 42 Shopping Park II 43 Shopping Park I 44 Laranjeiras 45 So Jorge

    46 Granada 47 Santa Luzia 48 Segismundo Pereira

    49 Santa Mnica 50 Tibery

    51 Custdio Pereira 52 Brasil 53 Umuarama 54 Marta Helena 55 Minas Gerais 56 Morumbi

    57 Morada Nova

    Figura 1

    Distribuio geogrfica por bairros das ocorrncias de disparos por arma de

    fogo conforme o Boletim de Ocorrncia (PMMG), Uberlndia-MG, 2001 e 2002.

  • 30

    Tabela 2 - Distribuio, segundo bairro, nmero de ocorrncias e coeficiente

    populacional, das vtimas de arma de fogo, conforme o Boletim de Ocorrncia (PMMG),

    Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Bairro Populao N de ocorrncias Coeficiente Umuarama 3.414 4 117,16

    Dona Zulmira 3.492 4 114,55 Dom Almir 4.377 5 114,23

    Centro 8.008 9 112,39 Cana 10.767 12 111,45

    Morumbi

    15.741 17 108,00 Luizote de Freitas

    21.171 21 99,19 Martins 10.535 10 94,92

    Ipanema 7.003 5 71,40 Tibery

    21.161 15 70,89 Brasil 14.339 9 62,77

    So Jorge

    24.299 15 61,73 Tocantins 13.728 8 58,28

    Ldice 5.259 3 57,05 Cidade Jardim 5.909 3 50,77

    Aparecida 13.977 6 42,93 Custdio Pereira 10.388 4 38,51

    Roosevelt 23.507 9 38,29 Taiaman 8.179 3 36,68

    Marta Helena 10.923 4 36,62 Lagoinha 11.257 3 26,65

    Santa Mnica 31.646 8 25,28 Laranjeiras 16.544 3 18,13

    Outros 260.509 57 Total 556.133 237 42,62

    Estimativa da populao do municpio de Uberlndia, por bairro, em 2003 (Secretaria Municipal de Sade). Refere-se tambm aos bairros Carajs e Pampulha. Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

  • 31

    0 20 40 60 80 100 120

    Umuarama

    Dona Zulmira

    Dom Almir

    Centro

    Cana

    Morumbi

    Luizote de Freitas

    Martins

    Ipanema

    Tibery

    Brasil

    So Jorge

    Nmero de ocorrncias Coeficiente em 100 mil hab.

    Grfico 1 - Distribuio, segundo bairro, nmero de ocorrncias e coeficiente de

    incidncia por 100 mil habitantes, das vtimas de arma de fogo, conforme o Boletim de

    Ocorrncia (PMMG), Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

  • 32

    56,62

    23,84

    15,89

    1,99 1,66

    0,00

    10,00

    20,00

    30,00

    40,00

    50,00

    60,00

    %

    Via pblica Residncia Bares/Boates Postos deGasolina

    Automvel

    Local de ocorrncia

    Grfico 2 - Local do crime das vtimas de arma de fogo, conforme o Boletim de

    Ocorrncia (PMMG), Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

  • 33

    Tabela 3

    Motivo aparente para uso de arma de fogo, conforme o Boletim de

    Ocorrncia (PMMG), Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Motivo aparente No %

    Discusso/briga 46 29,68

    Acerto de contas/vingana

    40 25,80

    Homicdio tentado 30 19,35

    Assalto (vtima) 18 11,61

    Troca de tiros 12 7,74

    Assalto (agressor) 7 4,52

    Suicdio 2 1,29

    Total 155 100

    Duzentos e um registros sem dados suficientes (46 classificados como outros motivos e 155 ignorados). Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

    29,6825,8

    19,35

    11,617,74

    4,521,29

    05

    101520253035

    Dis

    cuss

    o/b

    riga

    Ace

    rto

    deco

    ntas

    /vin

    gan

    a

    Hom

    icd

    iote

    ntad

    o

    Ass

    alto

    (v

    tima)

    Tro

    ca d

    e tir

    os

    Ass

    alto

    (agr

    esso

    r)

    Sui

    cdi

    o

    Motivo aparente

    %

    Grfico 3 - Motivo aparente para uso de arma de fogo, conforme o Boletim de

    Ocorrncia (PMMG), Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

  • 34

    Tabela 4 - Destino dado vtima de acidente envolvendo arma de fogo, conforme o

    Boletim de Ocorrncia (PMMG), Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Destino dado vtima No %

    PS-HCU 121 43,53

    Outros Hospitais (UAIS) 110 39,57

    bito/PML 46 16,55

    Permanncia em domiclio 1 0,36

    Total 278 100

    No havia informao sobre o destino da vtima em setenta e oito BO. Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

    43,5339,57

    16,55

    0,36

    05

    1015202530354045

    %

    PS-HCU OutrosHospitais

    (UAIS)

    bito/PML Permannciaem domiclio

    Destino dado vtima

    Grfico 4 - Destino dado vtima de acidente envolvendo arma de fogo, conforme o BO

    (PMMG), Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

  • 35

    Tabela 5

    Distribuio segundo a fonte de dados e o sexo da vtima de acidente com

    arma de fogo, Uberlndia-MG.

    Sexo

    Masculino Feminino Total Fonte de dados

    No % No % No %

    BO1 317 91,35 30 8,65 3472 100

    HCU1 283 92,18 24 7,82 3072 100

    LC1 165 86,84 25 13,16 190 100

    NEC1 257 93,45 18 6,55 2752 100

    1 BO = Boletim da Ocorrncia da PMMG (2001 e 2002); HCU = Hospital de Clnicas de Uberlndia (2001 e 2002); LC = Registro de leses corporais do PML (2000 a 2003); NEC = Necropsias realizadas no PML (2000 a 2003). 2 No foi possvel obter informaes de nove casos no BO, um caso no HCU e um caso de NEC. Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG); Setor de Arquivo Mdico do HCU, Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    BO HCU LC NEC

    % d

    os

    caso

    s

    Masculino

    Feminino

    Grfico 5 - Distribuio segundo a fonte de dados e o sexo da vtima de acidente com

    arma de fogo, Uberlndia-MG.

    Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG) (2001 e 2002); Setor de Arquivo Mdico do HCU (2001 e 2002), Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML) (2000 a 2003).

  • 36

    Tabela 6

    Distribuio segundo a fonte de dados e a faixa etria da vtima de acidente

    com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    PML

    BO1 HCU1 LC1 NEC1 Idade (anos)

    No % No % No % No % 0 |- 10 1 0,37 5 1,64 4 2,19 3 1,18

    10 |- 20 56 20,82 54 17,7 28 15,3 47 18,5

    20 |- 30 112 41,64 128 41,97 78 42,62 98 38,58

    30 |- 40 51 18,96 59 19,34 33 18,03 51 20,08

    40 |- 50 33 12,27 36 11,8 26 14,21 28 11,02

    50 |- 60 10 3,72 19 6,23 11 6,01 15 5,91

    60 ou mais 6 2,23 4 1,31 3 1,64 12 4,72

    Total 269 100 305 100 183 100 254 100

    1 BO = Boletim de Ocorrncia da PMMG (2001 e 2002); HCU = Hospital de Clnicas de Uberlndia (2001 e 2002); LC = Registro de leses corporais do PML (2000 a 2003); NEC = Necropsias realizadas no PML (2000 a 2003). 2 No foi possvel obter informaes em oitenta e sete casos nos BOs, trs casos no HCU, sete casos de LC e vinte e dois casos de NEC. Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG); Setor de Arquivo Mdico do HCU, Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 37

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    0 |- 10 10 |- 20 20 |- 30 30 |- 40 40 |- 50 50 |- 60 60 oumais

    Idade

    %

    BO

    HCU

    LC

    NEC

    Grfico 6 - Distribuio segundo a fonte de dados e a faixa etria da vtima de acidente

    com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG) (2001 e 2002); Setor de Arquivo Mdico do HCU (2001 e 2002), Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML) (2000 a 2003).

  • 38

    Tabela 7

    Distribuio segundo a fonte de dados e o estado civil da vtima de acidente

    com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    PML

    HCU1 LC1 NEC1

    Estado civil No % No % No %

    Solteiro 171 76,68 94 62,25 149 62,61

    Casado 39 17,49 43 28,48 67 28,15

    Amasiado 6 2,69 12 7,95 11 4,62

    Divorciado/Vivo 7 3,14 2 1,32 11 4,62

    Total2 223 100 151 100 238 100

    1 HCU = Hospital de Clnicas de Uberlndia (2001 e 2002); LC = Registro de leses corporais do PML (2000 e 2003); NEC = Necropsias realizadas no PML (2000 a 2003). 2 No foi possvel obter informaes em oitenta e cinco casos no HCU, trinta e nove casos de LC e trinta e oito casos de NEC. Fontes: Polcia Setor de Arquivo Mdico do HCU e Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 39

    76,68

    17,49

    62,25

    7,951,323,142,69

    28,48

    4,624,62

    28,15

    62,61

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    Solteiro Casado Amasiado Divorciado/Vivo

    Estado civil

    %

    HCU

    LC

    NEC

    Grfico 7 - Distribuio segundo a fonte de dados e o estado civil da vtima de acidente

    com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG); Setor de Arquivo Mdico do HCU, Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 40

    Tabela 8

    Distribuio segundo a fonte de dados a profisso/ocupao da vtima de

    acidente com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    PML

    BO1 LC1 NEC1

    Profisso/Ocupao

    No % No % No %

    Servios gerais 18 12,77 16 12,5 31 17,03

    Comerciante/comercirio

    10 7,09 14 10,94 28 15,38

    Motorista/Mototaxista 10 7,09 14 10,94 18 9,89

    Pedreiro/Servente/Pintor

    12 8,51 8 6,25 19 10,44

    Estudante 14 9,93 4 3,13 5 2,75

    Do Lar 0 0 9 7,03 5 2,75

    Mecnico 4 2,84 3 2,34 4 2,2

    Vigilante/Segurana 5 3,55 0 0 4 2,2

    Vendedor 0 0 0 0 3 1,65

    Autnomo 3 2,13 0 0 3 1,65

    Aposentado 0 0 0 0 3 1,65

    Profissional do sexo 3 2,13 0 0 0 0

    Policial 13 9,22 8 6,25 0 0

    Outras 49 34,75 52 40,63 59 32,42

    Total2 141 100 128 100 182 100

    1 BO = Boletim de Ocorrncia da PMMG (2001 e 2002); LC = Registro de leses corporais do PML (2000 e 2003); NEC = Necropsias realizadas no PML (2000 a 2003). 2 No foi possvel obter informaes em duzentos e quinze casos nos BO, sessenta e dois casos de LC e noventa e quatro casos de NEC. Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG) e Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 41

    Tabela 9

    Distribuio segundo a fonte de dados e o ms de ocorrncia/atendimento

    do acidente com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    PML

    HCU1 LC1 NEC1

    Ms

    No % No % No %

    Janeiro 26 8,44 19 10,05 20 7,33

    Fevereiro 25 8,12 12 6,35 20 7,33

    Maro 26 8,44 20 10,58 26 9,52

    Abril 24 7,79 18 9,52 18 6,59

    Maio 30 9,74 15 7,94 25 9,16

    Junho 34 11,04 14 7,41 19 6,96

    Julho 21 6,82 19 10,05 18 6,59

    Agosto 25 8,12 13 6,88 26 9,52

    Setembro 29 9,42 18 9,52 26 9,52

    Outubro 28 9,09 15 7,94 21 7,69

    Novembro 14 4,55 8 4,23 25 9,16

    Dezembro 26 8,44 18 9,52 29 10,62

    Total2 308 100 189 100 273 100

    1 HCU = Hospital de Clnicas de Uberlndia (2001 e 2002); LC = Registro de leses corporais do PML (2000 a 2003); NEC = Necropsias realizadas no PML (2000 a 2003). 2 No foi possvel obter informao em um caso de LC, trs casos de NEC. Fontes: Setor de Arquivo Mdico do HCU, Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 42

    0

    5

    10

    15Janeiro

    Fevereiro

    Maro

    Abril

    Maio

    Junho

    Julho

    Agosto

    Setembro

    Outubro

    Novembro

    Dezembro

    HCU

    LC

    NEC

    Grfico 8 - Distribuio segundo a fonte de dados e o ms de ocorrncia/atendimento

    do acidente com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG) (2001 e 2002); Setor de Arquivo Mdico do HCU (2001 e 2002), Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML) (2000 a 2003).

  • 43

    Tabela 10 - Distribuio segundo a fonte de dados e o dia da semana da

    ocorrncia/atendimento do acidente com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    PML

    BO1 HCU1 LC1 NEC1 Dia

    No % No % No % No %

    Segunda 27 7,58 35 11,36 26 13,76 34 12,36

    Tera 38 10,67 31 10,06 16 8,47 35 12,73

    Quarta 47 13,2 42 13,64 20 10,58 37 13,45

    Quinta 37 10,39 33 10,71 28 14,81 32 11,64

    Sexta 50 14,04 53 17,21 28 14,81 34 12,36

    Sbado 64 17,98 51 16,56 32 16,93 45 16,36

    Domingo 93 26,12 63 20,45 39 20,63 58 21,09

    Total 356 100 308 100 189 100 275 100

    1 BO = Boletim de Ocorrncia da PMMG (2001 e 2002); HCU = Hospital de Clnicas de Uberlndia (2001 e 2002); LC = Registro de leses corporais do PML (2000 a 2003); NEC = Necropsias realizadas no PML (2000 a 2003). 2 No foi possvel obter informao em um caso de LC e um caso de NEC. Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG); Setor de Arquivo Mdico do HCU, Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 44

    0

    10

    20

    30Segunda

    Tera

    Quarta

    QuintaSexta

    Sbado

    Domingo

    BO

    HCU

    LC

    NEC

    Grfico 9 - Distribuio segundo a fonte de dados e o dia da semana da

    ocorrncia/atendimento do acidente com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG) (2001 e 2002); Setor de Arquivo Mdico do HCU (2001 e 2002), Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML) (2000 a 2003).

  • 45

    Tabela 11

    Distribuio segundo horrio de atendimento no HCU, dos pacientes

    vtimas de arma de fogo, Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Horrio de atendimento (horas) No %

    0 | 3 74 24,03

    3 | 6 39 12,66

    6 | 9 13 4,22

    9 | 12 18 5,84

    12 | 15 26 8,44

    15 | 18 31 10,06

    18 | 21 42 13,64

    21 | 24 65 21,10

    Total 308 100

    Fonte: Setor de Arquivo Mdico do HCU.

  • 46

    21,10%

    13,64%

    10,06%

    8,44%

    5,84%

    4,22%

    12,66%

    24,03%

    0

    5

    10

    15

    20

    250 | 3 h

    3 | 6 h

    6 | 9 h

    9 | 12 h

    12 | 15 h

    15 | 18 h

    18 | 21 h

    21 | 24 h

    Grfico 10 - Distribuio, segundo horrio de atendimento no HCU, dos pacientes

    vtimas de arma de fogo, Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Setor de Arquivo Mdico do HCU.

  • 47

    Tabela 12 - Distribuio segundo a fonte de dados e o nmero de orifcios de entrada

    (OE) na vtima de acidente com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    PML

    HCU1 LC1 NEC1 OE

    No % No % No %

    1 217 70,68 135 72,97 122 44,36

    2 52 16,94 30 16,22 43 15,64

    3 22 7,17 11 5,95 30 10,91

    4 6 1,95 7 3,78 23 8,36

    5 ou + 10 3,26 2 1,08 57 20,73

    Total 307 100 185 100 275 100

    1 HCU = Hospital de Clnicas de Uberlndia (2001 e 2002); LC = Registro de leses corporais do PML (2000 a 2003); NEC = Necropsias realizadas no PML (2000 a 2003). 2 No foi possvel obter informao em um caso no HCU, cinco de LC e um de NEC. Fontes: Setor de Arquivo Mdico do HCU, Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 48

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    1 2 3 4 5 ou +

    Nmero de OE

    %

    HCU

    LC

    NEC

    Grfico 11 - Distribuio segundo a fonte de dados e o nmero de orifcios de entrada

    (OE) na vtima de acidente com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG) (2001 e 2002); Setor de Arquivo Mdico do HCU (2001 e 2002), Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML) (2000 a 2003).

  • 49

    Tabela 13 - Distribuio segundo a fonte de dados e localizao dos orifcios de entrada

    (OE) na vtima de acidente com arma de fogo, Uberlndia-MG.

    Localizao dos

    OE BO % HCU

    % LC % NEC

    %

    Crnio 39 13,00 30 9,74 23 12,11

    150 54,35

    Tronco 85 28,33 156 50,65

    113 59,47

    257 93,12

    MMSS 36 12,00 45 14,61

    59 31,05

    68 24,64

    MMII 47 15,67 89 28,90

    53 27,89

    41 14,86

    1BO = Boletim de Ocorrncia do PMMG (2001 e 2002); HCU = Hospital de Clnicas de Uberlndia (2001 e 2002); LC = Registro de leses corporais do PML (2000 a 2003); NEC = Necropsias realizadas no PML (2000 a 2003). 2 A mesma regio anatmica pode ter sido lesada mais de uma vez e mais de uma regio anatmica pode ter sido lesada na mesma pessoa. Cinqenta e seis registros no continham informaes com relao a regio anatmica atingida pelo projtil conforme os BO e em 134 registros a regio anatmica lesada foi denominada como outra; Fontes: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG); Setor de Arquivo Mdico do HCU, Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 50

    Tabela 14 Distribuio dos rgos acometidos, das vtimas de acidente com arma de

    fogo, necropsiadas pelo PML de Uberlndia-MG, no perodo de 2000 a 2003.

    rgos acometidos No %

    Encfalo 128 46,38

    Pulmo 125 45,29

    Corao 80 28,99

    Fgado 69 25,00

    Diafragma 58 21,01

    Intestino 46 16,67

    Estmago 29 10,51

    Coluna 23 8,33

    Bao 14 5,07

    Rim 14 5,07

    Outros 78 28,26

    Porcentagem referente a 276 casos de necropsias. Mais de uma regio anatmica podia ser lesada na mesma pessoa. Fonte: Posto Mdico Legal de Uberlndia (PML).

  • 51

    Tabela 15

    Distribuio dos procedimentos cirrgicos, em 132 vtimas de arma de

    fogo, Uberlndia-MG, 2001 e 2002.

    Procedimento cirrgico No %

    Laparotomia exploradora com abordagem em

    51 38,64

    intestino delgado 27 52,94

    intestino grosso 25 49,02

    rim 16 31,37

    fgado 12 23,53

    estmago 11 21,57

    diafragma 8 15,69

    vescula biliar 4 7,84

    Interveno no trax 51 38,64

    Drenagem torcica 30 58,82

    Toracotomia exploradora 21 41,18

    Interveno em ossos 35 26,52

    Arteriorrafias 30 22,73

    Interveno em pescoo 6 4,55

    Interveno em crnio 4 3,03

    Outras 34 25,76

    Sete pacientes submetidos a rafia pulmonar e 6 a cardiorrafia. Fonte: Setor de Arquivo Mdico do HCU.

  • 52

    75,34%

    14,38%

    2,74%

    7,53%

    Revlver

    Pistola

    Espingarda

    Outro

    Grfico 12 - Arma de fogo utilizada, conforme o Boletim de Ocorrncia (PMMG),

    Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

  • 53

    Perfil do agressor

    63,83%

    30,85%

    5,32%

    Meliante Policial Cidado comum

    Grfico 13 Perfil do agressor, conforme o Boletim de Ocorrncia (PMMG), Uberlndia-

    MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

    Tabela 16

    Destino dado ao agressor em acidentes envolvendo arma de fogo,

    conforme o Boletim de Ocorrncia (PMMG), Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Destino dado ao agressor No %

    Fuga 130 67,01

    Encaminhado para Delegacia de Polcia

    50 25,77

    bito 8 4,12

    Liberado 4 2,06

    PS-UFU 2 1,03

    Total 194 100

    No foi possvel obter informao em cento e sessenta e cinco registros. trs pessoas foram encaminhadas para mais de um local; Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

  • 54

    67,01

    25,77

    4,12 2,06 1,030

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    Fuga Encaminhadopara Delegacia

    de Polcia

    bito Liberado PS-UFU

    Destino dado ao agressor

    %

    Grfico 14 - Destino dado ao agressor em acidentes envolvendo arma de fogo,

    conforme o Boletim de Ocorrncia (PMMG), Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Boletim de ocorrncia (BO) da Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG).

    Tabela 17

    Distribuio, segundo quadro clnico de chegada dos pacientes vtimas de

    arma de fogo, atendidos no HCU, Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Quadro clnico No %

    Consciente 232 75,32

    Choque hipovolmico 40 12,99

    Pr-choque 30 9,75

    Coma 3 0,97

    bito 3 0,97

    Total 308 100

    Fonte: Setor de Arquivo Mdico do HCU.

  • 55

    75,32

    12,99 9,750,97 0,97

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    %

    Consciente Choquehipovolmico

    Pr-choque Coma bito

    Quadro clnico

    Grfico 15 - Distribuio, segundo quadro clnico de chegada dos pacientes vtimas de

    arma de fogo, atendidos no HCU, Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Setor de Arquivo Mdico do HCU.

    Tabela 18

    Distribuio, segundo o nmero de dias de internao, dos pacientes

    vtimas de arma de fogo, atendidos no HCU, Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Dias de internao No % % acum.

  • 56

    48,38%

    18,51%

    16,56%

    16,56%

    < 1

    1 a 3

    4 a 7

    8 ou mais

    Grfico 16 - Distribuio, segundo o nmero de dias de internao, dos pacientes

    vtimas de arma de fogo, atendidos no HCU, Uberlndia-MG, nos anos de 2001 e 2002.

    Fonte: Setor de Arquivo Mdico do HCU.

  • 57

    5. DISCUSSO

    5.1 - MUNICPIO DE PROCEDNCIA, BAIRRO E LOCAL DA OCORRNCIA.

    A predominncia de vtimas por projtil de arma de fogo procedentes do

    municpio de Uberlndia explica-se pelo fato do Hospital de Clnicas de Uberlndia

    (HCU) e o Posto Mdico Legal (PML) estarem situados nesta cidade. A ocorrncia de

    vrias vtimas oriundas de outros municpios da regio, por sua vez, explica-se por

    estas instituies terem atuaes regionais e o HCU ser o maior prestador pblico que

    atende a rede do Sistema nico de Sade (SUS) de toda a regio do Tringulo Mineiro

    e Alto Paranaba e ser considerado como referncia para mdia e alta complexidade

    (INFORMATIVO MAIS SADE, 2005).

    Souza (1993), estudando dados oficiais da Secretaria de Estado de Sade

    do Rio de Janeiro, tambm encontrou, em Duque de Caxias, sobretudo, vtimas

    residentes do prprio municpio. Uberlndia, talvez por ser a terceira maior cidade do

    Estado de Minas Gerais (IBGE, 2005), plo regional econmico do interior do estado,

    que atrai vrios imigrantes devido aos servios oferecidos no comrcio em geral, no

    setor atacadista e de agronegcios e ainda por ser um plo regional cultural com

    inmeras instituies de ensino superior, tem atrado uma gama considervel de

    universitrios de todas as localidades do pas. Todos esses aspectos resultaram em

    urbanizao descontrolada com conseqncias nos ndices atuais de violncia

    (INFORMATIVO MAIS SADE, 2005).

  • 58

    Kodato e Silva (2000), em uma investigao de fatores associados a

    homicdios de adolescentes no municpio de Ribeiro Preto (SP), cidade de tamanho

    semelhante e localizao prxima a Uberlndia, mostraram que tambm em cidade de

    mdio porte a criminalidade violenta vem aumentando consideravelmente como foi

    observado anteriormente nos grandes centros urbanos (FUNDAO SEADE, 1999).

    Szwarcwald e Castilho (1998), em estudo de anlise espacial da

    mortalidade por arma de fogo no Estado do Rio de Janeiro, evidenciaram taxas

    elevadas nos municpios do interior, corroborando o fato da interiorizao para este tipo

    de delito. O mesmo estudo expe a necessidade em compreender o motivo de certos

    segmentos populacionais serem to vulnerveis, acarretando a propagao to rpida

    da epidemia daquele tipo de morte pelo interior do estado.

    Embora no tenha sido avaliada a incidncia, as reas onde ocorreram

    mais disparos por arma de fogo foram as que tm situao scio-econmica

    desfavorvel e, geralmente, mais perifricas do municpio de Uberlndia. Em estudos

    de homicdios realizados por Barata, Ribeiro e Moraes (1999) em So Paulo e por

    Peres e Santos (2005) na dcada de 90 para o Brasil, observaram-se maiores taxas de

    mortalidade por homicdios em reas urbanas caracterizadas por baixos indicadores

    scio-econmicos e de difcil acesso a bens e servios pblicos.

    Em Salvador, Bahia, um mesmo padro de distribuio foi encontrado por

    Paim et al. (1999) e Macedo et al. (2001), sendo encontradas mortes por homicdio

    mais concentradas em reas caracterizadas por padres econmicos e culturais mais

    baixos. Este ltimo estudo tambm mostrou uma maior ocorrncia de tais crimes em

    bairros afastados, o que sugere a existncia de diferenas no risco de morte por

    homicdio segundo a rea dessa capital.

  • 59

    Em Recife, Lima e Ximenes (1998) encontraram taxas de mortalidade por

    homicdio mais elevadas em reas urbanas com piores condies de vida. J em Belo

    Horizonte, Beato Filho et al. (2001) identificaram cinco agrupamentos de mortes por

    homicdio em bairros pobres e favelas, o que pode ser explicado, segundo os autores,

    pela presena de trfico ilcito de drogas. Em Porto Alegre, Santos et al. (2001)

    tambm encontraram taxas de homicdios mais elevadas nas reas com condies

    socioeconmicas mais baixas, alta densidade populacional, presena de favelas e

    trfico de drogas.

    As pesquisas indicam a existncia de relao entre desenvolvimento

    socioeconmico e taxas de mortalidade por homicdios, sendo que este tipo de delito

    est mais concentrado em reas caracterizadas por baixo desenvolvimento

    socioeconmico e difcil acesso aos servios pblicos (PERES, 2004). Cardia et al.

    (2003) tambm mostraram que as taxas de homicdios so mais elevadas em reas

    com alta densidade domiciliar, as quais so mais comumente encontradas em zonas

    perifricas caracterizadas tambm por difcil acesso aos servios pblicos tais como

    sade, segurana, educao, sistema judicial e saneamento.

    Minayo e Souza (1993) efetuaram anlise descritiva de mortalidade por

    causas externas nas capitais das principais regies metropolitanas do pas, com

    destaque para o Rio de Janeiro, e observaram que este tipo de violncia maior em

    reas perifricas da capital, onde a segurana mais precria e onde atuam os grupos

    de extermnio (ASSIS, SOUZA E CRUZ NETO, 1991). J Kodato e Silva (2000), em

    estudo da epidemiologia de homicdios praticados contra adolescentes em Ribeiro

    Preto, observaram que a maior parte das vtimas (75,24%) residia em setores de maior

    concentrao populacional. Em anlise espacial dos homicdios ocorridos em Belo

  • 60

    Horizonte de 1995 a 1999, registrados pela Polcia Militar, Beato Filho et al. (2001)

    mostraram que quase a totalidade desse pequeno universo de reas de risco est

    concentrada em favelas. Macedo et al. (2001), em levantamento de mortalidade por

    homicdios e condies de vida em Salvador, reforaram a hiptese da relao entre

    homicdios e ms condies de vida, ou seja, entre a situao de sade e as

    desigualdades econmico-culturais. Em levantamento de homicdios em Bogot, entre

    1997 e 1999, Llorente et al. (2002) detectaram que as taxas mais significativas de

    homicdios (80%) se concentravam em reas de densidade populacional em torno de

    60%, ou seja, mais significativa.

    A discrepncia entre os nmeros de ocorrncias e os coeficientes de

    incidncia pode ser justificada por vrios fatores como a concentrao populacional

    residente em alguns bairros e caractersticas socioeconmicas e atividades como

    comerciais e de lazer. Os bairros Umuarama e Centro (classe mdia e alta) possuem

    apenas 0,61% e 1,44% da populao de Uberlndia, respectivamente. Alm disso, o

    Hospital de Clnicas e a 16 Delegacia Regional da Polcia Civil esto sediados no

    Umuarama, onde provavelmente ocorreram BO relacionados a disparos ocorridos em

    outros bairros, por denncia de vtimas que foram levadas diretamente ao hospital e/ou

    a disparos durante rebelies na citada delegacia. O Centro talvez tenha alto coeficiente

    de incidncia por ser um centro comercial e de grande fluxo de pessoas.

    Em Uberlndia, dados sobre os bairros com maior nmero de casos e os

    com maior incidncia, conforme o presente estudo, podero ser teis para as polticas

    de atuao preventiva de combate ao crime por arma de fogo.

    Em concordncia com os dados obtidos no presente estudo, Silva Filho

    (2003) encontrou, em estudo do perfil de homicdios em Diadema que os locais mais

  • 61

    freqentes para a ocorrncia de tais crimes so as vias pblicas (72%) e os bares

    (16,6%). Alguns casos ocorreram em ambientes fechados, com destaque para a prpria

    residncia das vtimas. Peres e Santos (2005) tambm evidenciaram a predominncia

    de casos de agresses por estranhos e em espaos pblicos.

    Kodato e Silva (2000) observaram a coincidncia do local do homicdio

    com a regio de residncia da vtima. No estudo com pacientes que se apresentaram

    para internao por FAF no Sarah-Braslia e Sarah-Salvador, observou-se que 56,4%

    dos acidentes com AF ocorriam nas ruas e 18,2% em bares e locais de festas, o que,

    segundo os autores, poderia explicar a alta percentagem de ocorrncias nos finais de

    semana, visto que o nmero de pessoas nesses locais aumenta com os descansos

    trabalhistas, impondo disperso de grupos policiais e reduo da segurana pblica,

    aumentando a exposio das mesmas violncia urbana (HOSPITAL SARAH, 2005).

    O mesmo estudo tambm revelou como local de ocorrncia das agresses por arma de

    fogo a prpria residncia da vtima (8,9%).

    Souza, Assis e Silva (1997), em estudo de violncia realizado no Rio de

    Janeiro, em reas de risco e tendncias da mortalidade entre adolescentes,

    evidenciaram que os homicdios vitimaram preferencialmente os prprios moradores da

    rea. Constataram tambm que no local de residncia e em seu entorno que as

    principais inter-relaes pessoais tm lugar, pois neste espao os indivduos circulam e

    estabelecem suas relaes sociais. A ocorrncia de conflitos vai depender do conjunto

    de caractersticas desse ambiente e, basicamente, daquele de seus moradores.

  • 62

    5.2 - MOTIVO APARENTE

    Embora no se possa associar diretamente o aprofundamento da crise

    scio-econmica decorrente das desigualdades sociais com os elevados nveis de

    violncia, sobretudo nos centros urbanos, como afirma Souza (1995), no se pode

    negar o potencial gerador de conflitos acirrados nas relaes interpessoais (LIMA et al.,

    2002) que acarretam crescentes casos de morte (PERES E SANTOS, 2005). Isso

    corroborado pelo presente estudo, que mostrou conflitos interpessoais como a maioria

    dos motivos aparentes das ocorrncias dos disparos das armas de fogo. Segundo

    Santos et al. (2001), a ocorrncia de conflitos vai ocorrer onde os indivduos circulam e

    estabelecem suas relaes sociais .

    De um modo mais amplo, vale destacar ainda: a expanso, a

    diversificao e a sofisticao da violncia delitual nas grandes cidades; a

    generalizao de uma cultura da violncia, de certo modo, legitimada pelos veculos de

    comunicao de massa; a concentrao da violncia intrafamiliar em reas urbanas, em

    decorrncia da densidade populacional das cidades e da generalidade desta variante

    do fenmeno da violncia; a disseminao do porte de arma de fogo, legal ou

    ilegalmente; e, principalmente, a concentrao de renda e sua contrapartida na

    desigualdade social, que fazem com que o banditismo urbano tenha ntidas motivaes

    econmicas, manifestadas nos diversos crimes contra a propriedade concentrados nas

    cidades (HOSPITAL SARAH, 2005).

    O estudo da Hospital Sarah (2005) tambm verificou como principal

    motivao do agente agressor os assaltos (34,3%) e quanto s violncias interpessoais

    no delituais, observou-se uma elevada ocorrncia de casos de brigas, discusses ou

  • 63

    desavenas, correspondendo a 31,4% de todos os casos de violncias investigados e a

    59,7% dos casos de violncias interpessoais no delituais.

    Propores semelhantes tambm foram verificadas em Peres (2004),

    onde a maior parte das leses por projtil de arma de fogo foi decorrente de disparo

    intencional, sendo que chama a ateno o grande nmero de casos motivados por

    brigas e discusses (31%) no relacionadas atividade criminal, sendo que os motivos

    relacionados a assaltos chegaram a 34%. Em relao a motivos de homicdio tentado e

    causas passionais representaram 13% e 8%, respectivamente.

    Na grande So Paulo, por exemplo, 60% dos homicdios so cometidos

    por pessoas sem histrico criminal e por motivos banais, como brigas de trnsito,

    discusses em bares e outras situaes em que o destempero e os efeitos do lcool se

    associam existncia de uma arma mo para produzir uma tragdia (CONTRA,

    FOLHA DE SO PAULO, 2005).

    Mingardi (1996), em pesquisa sobre a violncia na Zona Sul de So

    Paulo, destacou que 48,3% dos homicdios ocorreram por motivos fteis, tais como

    brigas entre casais, vizinhos ou amigos, e que os homicdios diretamente relacionados

    com o uso e trfico de drogas corresponderam a 12%, na rea de maior violncia,

    enquanto aqueles relacionados ao de justiceiros, acerto de contas e vingana

    significaram 24% do total.

    J o estudo de Kodato e Silva (2000), em Ribeiro Preto, revelou que os

    motivos alegados para o homicdio de adolescentes, quando existentes nos processos,

    referem-se, na maioria das vezes, a dvidas contradas na aquisio de entorpecentes,

    vingana ou conflitos de natureza subjetiva, por desentendimentos ocasionados em

    brigas anteriores e, ainda existem as mortes por engano, quando as vtimas so

  • 64

    confundidas com outra pessoa. Beato Filho et al. (2001) apontaram que, em diversas

    ocasies, policiais tm ressaltado a conexo existente entre o trfico de drogas e o

    aumento no nmero de homicdios realizados na cidade de Belo Horizonte, tendo 55%

    dos homicdios, at o final de 1998, envolvimento com o uso ou a venda de

    entorpecentes.

    Silva Filho (2003) refere que o grande nmero de homicdios se deve ao

    fato de os valores sociais serem atropelados por valores de sobrevivncia, com

    ausncia ou ineficincia do Estado, tanto em prover assistncia como em mostrar seu

    poder regulador do comportamento social desviante de normas. Entretanto, refere que

    essa considerao merece maiores e mais profundas anlises.

    5.3 - DESTINO DADO A VITIMA E LOCAL DO PRIMEIRO ATENDIMENTO

    Como na grande maioria dos casos de BO as vtimas foram

    encaminhadas para um servio de sade ou para o PML, indica que na maioria das

    ocorrncias por arma de fogo que geram BO, em Uberlndia, o disparo atinge a vtima.

    O fato de o HCU ser o maior prestador pblico de servios sade

    pblica da cidade e um centro de referncia em vrias especialidades, inclusive nas

    reas de urgncia e emergncia, para policiais civis, militares, bombeiros e populao

    em geral, talvez venha a justificar o motivo de a maioria das vtimas ter como primeiro

    local de destino e de atendimento, aps a agresso por projtil de arma de fogo, o

    Pronto Socorro do referido servio, seguido pelos outros que incluem as Unidades de

    Atendimento Integrado, as quais se encontram mais dispersas na cidade e com

  • 65

    eventual localizao mais prxima da ocorrncia com a arma de fogo e,

    conseqentemente, de acesso mais rpido (INFORMATIVO MAIS SADE, 2005).

    5.4 - SEXO, IDADE, ESTADO CIVIL E PROFISSO/OCUPAO DAS VTIMAS.

    A maior freqncia de ocorrncias envolvendo adolescentes e adultos

    jovens, em sua maioria do sexo masculino, encontrada no presente estudo, mostra total

    concordncia com estudos internacionais e nacionais sobre a violncia no Brasil

    (MINAYO e SOUZA, 1993; SOUZA, 1993; SOUZA, 1994; SZWARCWALD e

    CASTILHO, 1998; MAIA, 1999; RIBEIRO e MORAES, 1999; BARATA, BARROS,

    XIMENES e LIMA, 2001; SANTOS et al, 2001; KRUG et al., 2002; LIMA et al., 2002;

    SIMES, 2002; SILVA FILHO, 2003; ONU, 2004; PERES, 2004; WAISELFISZ, 2004;

    CONASEMS, 2005; HOSPITAL SARAH, 2005; PERES e SANTOS, 2005).

    Minayo e Souza (1993), em estudo realizado no Rio de Janeiro,

    encontraram que, na dcada de oitenta, 94% dos homicdios eram de pessoas do sexo

    masculino e a maioria das mortes se dava, em ambos os sexos, por disparos de arma

    de fogo (92,3%), o que segue a tendncia mundial em termos de maior incidncia entre

    pessoas do sexo masculino e das faixas etrias jovens (KRUG et al., 2002; ONU, 2004;

    WAISELFISZ, 2004).

    A diferena nas taxas de violncia segundo o sexo das vtimas encontra

    suporte no modelo biopsiquitrico, uma das teorias explicativas da violncia (MINAYO,

    1994). De acordo com seus preceitos, os homens possuem uma agressividade

    instintiva natural, o que os tornaria potencialmente mais expostos violncia, alm de

    serem, com maior freqncia, os agressores (MINAYO 1994).

  • 66

    Esta grande freqncia de envolvimento de pessoas do sexo masculino

    tem tambm sido referida por Kodato e Silva (2000). Segundo Zaluar (1996), isto ocorre

    particularmente no crime organizado.

    Maia (1999), analisando a evoluo da mortalidade por homicdios nas

    duas ltimas dcadas do sculo XX, em So Paulo, percebeu que este Estado possui

    alta taxa de mortalidade masculina por homicdios, que s foi menor do que a da

    Colmbia, dentre 19 pases estudados, incluindo o prprio Brasil.

    O fato de as agresses por armas de fogo no constiturem um fenmeno

    inerente natureza masculina, mas sim um fenmeno socialmente construdo como

    masculino, ou seja, a situao representar uma questo de gnero e no propriamente

    de sexo, foi abordado pelo estudo da Hospital Sarah (2005). Observou-se ainda que as

    questes de trabalho, lazer, simples locomoo ou comportamentos mais agressivos

    expem mais facilmente os homens e os tornam vulnerveis aos riscos da violncia

    armada.

    A disseminao dos homicdios por arma de fogo onde houve aumento da

    violncia parece indicar que o uso desse tipo de arma vem sendo incorporado rotina

    de vida da populao (BARROS, XIMENES E LIMA, 2001) e est relacionado maior

    exposio de pessoas do sexo masculino a fatores de risco individuais como o

    consumo de lcool e/ou outras drogas e maior insero no mercado informal de

    trabalho em atividades lcitas ou ilcitas (SOUZA, 1995).

    A idade das vtimas de homicdios, em sua maioria formada por

    adolescentes e adultos jovens, confirma a tendncia descrita por Souza (1994). Peres

    (2004) revelou que, em 2000, a maior contribuio das armas de fogo para o total de

    mortes por causas externas, na Regio Sudeste, se deu na populao de 15 a 19 anos,

  • 67

    onde mais de 50% destes bitos foram decorrentes de leso por projtil de arma de

    fogo. Em relao ao crescimento relativo, considerando grupos de sexo e faixa etria,

    destacou-se a populao de sexo masculino de 5 a 29 anos. O mesmo estudo tambm

    revelou que as Taxas de Mortalidade por Arma de Fogo (TMAF) foram extremamente

    elevadas no grupo de 20 a 29 anos, superando 90 mortes por 100 mil habitantes em

    2000.

    Friday (1995), em estudo nos Estados Unidos sobre o impacto psicolgico

    da violncia em comunidades carentes, mostrou que a pobreza, o abuso de drogas, a

    capacitao profissional insuficiente para o mercado, a ausncia de lar e a falta de

    integrao com seus pares so os principais fatores associados predisposio do

    jovem a uma vida de violncia e atividade criminal.

    O fato de a maioria das vtimas ser homens jovens e solteiros, mais

    propensos a se envolver em situaes de maior risco, mostra uma concomitncia de

    duas caractersticas que no deve ser casual. Segundo pesquisa recente do IBGE

    (2004), o nmero de casados aumenta com o aumento da idade, sendo que para a

    populao brasileira a idade mdia dos cnjuges ao se casar de 26,7 anos para as

    mulheres e 30,3 anos para os homens. Devido ao tipo de desenho deste estudo, no foi

    possvel avaliar adequadamente se a idade ou o fato de ser solteiro tem maior peso

    como fator de risco.

    Os nmeros revelados pelo presente estudo esto de acordo com a

    literatura. Santos et al. (2001), em estudo de deteco de aglomerados espaciais de

    bitos por causas violentas em Porto Alegre, em 1996, encontraram que 51% das

    vtimas eram solteiras e Souza (1993), em estudo em Duque de Caxias, mostrou que os

    solteiros eram responsveis por cerca de 70% do conjunto dos agravos por causas

  • 68

    externas. Tambm Silva Filho (2003), no levantamento de perfil do homicdio de 618

    vtimas em Diadema (SP), encontrou que apenas 22,8% eram casados e no estudo da

    Hospital Sarah (2005), encontrou-se que 58,8% das vtimas internadas por causas

    externas eram solteiras.

    O achado de que a maioria das vtimas exerce atividades caracterizadas

    pela no exigncia de qualificao ou escolaridade est de acordo com dados de

    Kodato e Silva (2000), em estudo de homicdios praticados em adolescentes, que

    observaram ocupaes de servios gerais, servente de pedreiro, ajudante de bar e

    balconista como as mais comuns. Souza (1993) encontrou que 66% das mortes por

    causas externas, em Duque de Caxias, envolveram trabalhadores do setor tercirio

    (servios). Observou ainda que a maioria (60%) dos falecidos exercia mo-de-obra no

    especializada no setor tercirio. Os nmeros apresentados no presente estudo tambm

    corroboram estes dados, com o predomnio do setor informal ou pouco especializado

    (servios gerais, comerciante/ comercirio, motorista/ mototaxista, pedreiro/ servente/

    pintor).

    Silva Filho (2003) estudou 618 casos de bitos por homicdio em Diadema

    (SP) e observou que somente 29,7% das vtimas tinham empregos estveis, o que

    refora a idia de que a estabilidade econmica ajuda a afastar ocorrncias por disparo

    de arma de fogo fatais.

    A constatao de cerca de 10% de policiais, segundo dados do presente

    estudo, envolvidos em BO como vtimas ou agressores, mas sem nenhum registro de

    bito dos mesmos, mostra uma eficincia destacvel daquelas autoridades ou pode

    significar um reflexo da subnotificao de inteno indeterminada, constatada nos

    Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais segundo Peres (2004). Este documento

  • 69

    revelou que, na opinio de mais da metade dos entrevistados, o controle do crime por

    parte da polcia ineficiente e que menos de um tero das vtimas notificou o fato

    (todos os tipos de crime, exceto roubo de veculo) polcia, tendo sido os grupos de

    baixa renda os maiores notificadores e apenas um tero estava satisfeito com a

    atuao policial.

    5.5 - MS, DIA DE OCORRNCIA / ATENDIMENTO E HORRIO DE ATENDIMENTO

    A falta de uma marcante sazonalidade que pudesse ser demonstrada com

    os dados do presente estudo na ocorrncia de mortes por armas de fogo est de

    acordo com Maia (1999), em sua anlise da evoluo da mortalidade por homicdios

    nas duas ltimas dcadas do sculo XX. Este autor, entretanto, observou ocorrncia

    um pouco maior de mortes nos ltimos dois meses do ano e diminuio at maio, o que

    no foi observado no presente estudo. Deslandes, Silva e Ug (1998) perceberam, em

    dois hospitais municipais do Rio de Janeiro, nmero um pouco maior de atendimentos

    por causas externas de dezembro a maro e em julho. Referiram que at o maior ou

    menor nmero de feriados no ms pode levar a maior ou menor ocorrncia.

    A preponderncia de disparos de arma de fogo nos finais de semana

    segundo as trs fontes de dados, iniciando-se na sexta-feira e com pico aos domingos,

    bem como no final da primeira metade da noite e incio da madrugada, foi semelhante

    obtida em estudo transversal de Coben e Steiner (2003) nos Estados Unidos, que

    mostrou que um tero das hospitalizaes por estas causas se davam aos sbados e

    domingos. Zautcke et al. (1998), visando prever os picos de ocorrncia de vtimas de

    trauma penetrante por agresso, de modo a reduzir os custos de seu atendimento,

  • 70

    mostraram que, para esses pacientes atendidos em centros traumatolgicos no Estado

    de Illinois, EUA, h um indicativo de maior ocorrncia s sextas-feiras e pico s 23,1

    0,36 horas. Um estudo descritivo realizado nos hospitais Sarah-Braslia e Sarah-

    Salvador, caracterizando pacientes que se apresentaram para internao por FAF,

    mostrou 65,7% das ocorrncias nos finais de semana, especialmente aos sbados e no

    perodo noturno (70,8% dos casos) (HOSPITAL SARAH, 2005). No estudo de Maia

    (1999), que levantou dados de homicdios no Estado de So Paulo, observou-se maior

    ocorrncia de mortes aos domingos e sbados, com 20% e 18% dos casos,

    respectivamente.

    De forma semelhante ao presente estudo, que revelou preponderncia de

    atendimentos no HCU de vtimas por arma de fogo no perodo de 21 s 3 horas, Silva

    Filho (2003) refere que o homicdio um crime tpico da noite e que, em seu estudo,

    entre os 618 homicdios ocorridos em Diadema (SP), cerca de dois teros dos casos

    concentraram-se das 20 s 8 horas.

    5.6 - NMERO E LOCALIZAO DOS ORIFCIOS DE ENTRADA

    O nmero e a regio anatmica dos orifcios de entrada dos projteis

    parecem variar de acordo com a situao de ocorrncia do bito, se homicdio ou

    suicdio. O fato de, no presente estudo, 44,36% dos cadveres terem apenas um

    orifcio de entrada, e 40,00%, trs ou mais, faz supor a existncia de disparos letais em

    grande percentual. Dentre 133 indivduos suspeitos de suicdio por arma de fogo,

    submetidos a necropsias em Belo Horizonte, em 1997 e 1998, analisados por

    Rodrigues Jnior et al. (1998), a grande maioria (94,7%) apresentava apenas um

  • 71

    orifcio de entrada. Isso obviamente deve-se a que, diferentemente de homicdio, no

    caso de suicdio dificilmente o indivduo consegue efetuar mais de um disparo.

    No estudo da Hospital Sarah (2005), observou-se que a maioria (65,1%)

    dos pacientes internados devido a leses por projtil de arma de fogo apresentava

    apenas um orifcio de entrada, estando de acordo com o presente estudo. J em

    Diadema, Silva Filho (2003) avaliou homicdios e revelou que, em 70,7% dos casos, as

    vtimas foram atingidas por trs ou mais tiros. No trabalho de Assis, Souza e Cruz Neto

    (1991), em estudo na Baixada Fluminense, observou-se a ocorrncia de mais de 10

    tiros em 14% dos casos, levando a se pensar na possibilidade de crimes de execuo.

    Como no presente estudo, considerando o mnimo de 5 orifcios de entrada, obteve-se

    cerca de 20% dos casos, no se pode descartar tambm o dolo da execuo.

    A freqncia de localizao do orifcio na cabea foi menor do que a

    encontrada por pesquisadores que estudaram unicamente homicdios. Tanto Souza

    (1993) quanto Gawryszewski, Koizumi e Mello Jorge (2004) encontraram que a regio

    anatmica mais alvejada foi a cabea, o que se relaciona ao dolo de produzir a morte.

    Os dados do presente estudo corroboram o realizado pela Hospital Sarah (2005),

    mostrando a regio do tronco como a regio do corpo mais freqentemente atingida

    pelo projtil de arma de fogo para os pacientes internados naquele servio, vtimas de

    PAF.

    A maior preponderncia de leses em tronco e crnio entre as vtimas

    fatais, segundo dados do PML, em relao s atendidas no HCU, est de acordo

    tambm com o estudo de Rosenfeld (2002). Este autor, em reviso acerca dos

    ferimentos por PAF em cabea e coluna vertebral, chama a ateno para as leses

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    intracranianas como causas de morte, defendendo a abordagem imediata no

    atendimento a essas vtimas, considerando-se sua alta letalidade.

    Para os casos que resultaram em bito, a maior ocorrncia de ferimentos

    em tronco, seguida por crnio, assemelha-se aos relatos de Mkitie e Pihlajamki

    (2002), na Finlndia, mostrando ocorrncia de 51% no tronco (43% em trax e 8% em

    abdome), bem como de Elfawal e Awadem (1997), na Arbia Saudita, em levantamento

    de 10 anos das fatalidades por armas de fogo, encontrando ocorrncia de 41% dos

    ferimentos no trax.

    McLaughlin et al. (2001), avaliando retrospectivamente grupos de

    adolescentes masculinos (10 a 18 anos) quanto a seu envolvimento em agresses por

    PAF, encontraram que 52% foram alvejados em membros inferiores, diferenciando-se

    muito do dado encontrado neste estudo.

    5.7 - RGOS ACOMETIDOS E PROCEDIMENTOS CIRRGICOS

    A percentagem de 77,27% de laparotomia exploradora entre os casos de

    ferimento por arma de fogo em abdome, segundo dados do presente estudo,

    semelhante de 73,1% encontrada em estudo prospectivo envolvendo pacientes com

    FAF abdominal em Lagos, Nigria (ADESANYA et al., 1998). Provavelmente, os casos

    no submetidos cirurgia devem-se ao fato de que a bala a