modelos de preceptoria de residÊncias em medicina …

57
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências da Saúde Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família – RENASF Programa de Pós-graduação em Saúde da Família no Nordeste Mestrado Profissional em Saúde da Família - MPSF BRUNO HENRIQUE SOARES PESSOA MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE NO CENÁRIO DE APRENDIZAGEM EM ATENÇÃO PRIMÁRIA NO BRASIL NATAL/RN 2019

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Page 1: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

UniversidadeFederaldoRioGrandedoNorteCentrodeCiênciasdaSaúde

RedeNordestedeFormaçãoemSaúdedaFamília–RENASFProgramadePós-graduaçãoemSaúdedaFamílianoNordeste

MestradoProfissionalemSaúdedaFamília-MPSF

BRUNO HENRIQUE SOARES PESSOA

MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE NO CENÁRIO

DE APRENDIZAGEM EM ATENÇÃO PRIMÁRIA NO BRASIL

NATAL/RN 2019

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Page 3: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

BRUNO HENRIQUE SOARES PESSOA

MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM

MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE NO CENÁRIO

DE APRENDIZAGEM EM ATENÇÃO PRIMÁRIA NO

BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Saúde da Família no Nordeste, Centro de Ciências da

Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito para a obtenção do título de Mestre em

Saúde da Família.

Orientador: Prof. Dr, Thiago Gomes da Trindade

Natal/RN

2019

Page 4: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …
Page 5: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

Pessoa, Bruno Henrique Soares. Modelos de preceptoria de residências em Medicina de Famíliae Comunidade no cenário de aprendizagem em atenção primária noBrasil / Bruno Henrique Soares Pessoa. - 2019. 57f.: il.

Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde da Família) -Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciênciasda Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família. Natal,RN, 2019. Orientador: Thiago Gomes da Trindade.

1. Atenção Primária à Saúde - Dissertação. 2. Medicina deFamília e Comunidade - Dissertação. 3. Preceptoria -Dissertação. 4. Internato e Residência - Dissertação. I.Trindade, Thiago Gomes da. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 614

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263

Page 6: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …
Page 7: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

AGRADECIMENTOS

“A gratidão é a mais agradável das virtudes; não é, no

entanto, a mais fácil. [...] a gratidão se distingue da ingratidão

precisamente por saber ver no outro (e não, como o amor-

próprio, unicamente em si mesmo) a causa da sua alegria.”

André Comte-Sponville

É chegada a hora de agradecer, não caminhamos sozinhos até aqui. Agradecer é uma virtude, mas

também é um exercício de humildade.

Gratidão a Eneline de Andrade Heráclio Gouveia Pessoa, minha companheira na vida. Minha colega

de profissão, minha incentivadora na pesquisa, que revisou inúmeras vezes esse manuscrito e fazia

as coisas parecerem tão simples. Por cuidar dos nossos filhos (que não vêem a hora do papai sair do

computador). Por estar presente, sempre.

Agradeço ao professor Thiago Gomes da Trindade, que mesmo num momento de dedicação a outros

projetos de vida pessoal e profissional aceitou ser meu orientador e concordou em seguir na

investigação de um tema que faz vibrar o coração desse orientando.

Agradeço aos meus queridos residentes, aos que passaram comigo, aos que estão comigo, e aos que

ainda virão. Foram as alegrias e frustrações que passei com vocês que me motivaram a investigar este

tema. Foram os modelos que nós adotamos (apostamos) que interferiram muito mais do que na

assistência ou no aprendizado, interferiram nas relações humanas. Elas são complexas de investigar,

mas são as primeiras a serem sentidas. Hoje me sinto um preceptor melhor, mais feliz. Sou grato a

vocês por isso.

Page 8: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

Conhecimento e afeto são coisas que se você guarda, você perde.

Mário Sérgio Cortella

Page 9: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

RESUMO

A especialidade de Medicina de Família e Comunidade (MFC) tem seu princípio no Brasil em 1974.

Os três primeiros programas de residência surgiram já em 1976, mas apesar disso, sempre houve uma

baixa procura pela especialidade. Diversas políticas têm sido desenvolvidas a fim de reorientar a

formação médica com enfoque na Atenção Primária à Saúde, com destaque para o Programa Mais

Médicos. Houve uma expansão no número de vagas anuais de residência em MFC passando de 218

em 2003, para 3.587 em 2019. Diante da demanda crescente de residentes, num cenário de poucos

especialistas preceptores, diferentes modelos vêm sendo testados no Brasil. Existe escassa literatura

nacional e internacional comparada sobre estes modelos de preceptoria e de inserção dos residentes

e preceptores no cenário de prática da atenção primária. O objetivo desta revisão foi identificar os

modelos de preceptoria em residência de Medicina de Família e Comunidade no cenário de

aprendizagem em atenção primária, associado a identificação de fortalezas e fraquezas de cada

modelo. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura em bases de dados eletrônicas, ampliadas

por busca minuciosa em todos os números das Revistas Brasileiras de Medicina de Família e

Comunidade e de Educação Médica. Foram incluídos 14 artigos na revisão, o que resultou em três

modelos gerais de preceptoria, com ao menos sete configurações diferentes. Verificou-se que o modo

de vinculação do preceptor às equipes e unidades de saúde era o fator mais determinante na

configuração dos modelos. Os estudos incluídos nessa revisão eram oriundos de diferentes locais do

país, principalmente da região sudeste. Os modelos de preceptoria influenciam na qualidade da

assistência, na rotina de trabalho do preceptor e na aprendizagem dos residentes. Também foi

observado que os modelos de preceptoria onde o residente compõe equipe e o preceptor se vincula a

mais de uma equipe, foi uma estratégia usada para provimento de médicos para a Atenção Primária

a Saúde e expansão dos programas de residência. Foi destacado que a formação docente dos

preceptores é central na formação do médico residente, independente do modelo de preceptoria

adotado. A qualidade dos artigos foi um fator limitante pois apenas três artigos se referiam a dados

de pesquisas originais. Mais investigações nesse tema são necessárias para saber se existem mais

modelos, além de acessar o impacto desses modelos na aprendizagem e na assistência à saúde da

população.

Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde. Medicina de Família e Comunidade. Preceptoria.

Internato e Residência.

Page 10: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

ABSTRACT

The specialty of Family and Community Medicine began in Brazil in 1974. The first three residency

programs began in 1976, but despite this, there has always been a low demand for the specialty.

Several policies have been used for reorientation and medical training focusing on Primary Health

Care, with emphasis on the More Doctors Program. There has been an increase in the number of

annually residency vacancies from 218 in 2003 to 3,587 in 2019. Given the increasing demand from

residents, in a scenario of few preceptors, different models are being tested in Brazil. There is scarce

national and international literature comparing these models of preceptorship and insertion of

residents and preceptors in the primary care practice setting. The aim of this review was to identify

the models of preceptorship in the Family Practice residency setting in the primary care learning

scenario, associated with the identification of strengths and weaknesses of each model. An integrative

literature review was performed in electronic databases, expanded by thorough search in all issues of

the Brazilian Journals of Family and Community Medicine and Medical Education. Fourteen articles

were included in the review, resulting in three general models of preceptorship, with seven different

configurations. The mode of linking the preceptor to teams and health facilities was the most

determining factor in configuring the models. The studies included in this review came from different

locations in the country, especially from the southeast region. Preceptor models influence the quality

of care, preceptor work routine, and residents' learning. It was also observed that the preceptor models

where the resident makes up the team and the preceptor is linked to one more team was a strategy

used to provide Primary Health Care doctors and expand residency programs. It was emphasized that

the teacher training of preceptors is central to the education of the resident physician, regardless of

the preceptorship model adopted. The quality of the articles was a limiting factor, as only three articles

refer to original research data. Further research on this topic is needed to determine if there are more

models, in addition to accessing or affecting these models in learning and health care of the

population.

Key words: Primary Health Care. Family Practice. Preceptorship. Internship and Residency.

Page 11: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Evolução das vagas em programas de residência em medicina de família

e comunidade no Brasil entre 2002 e 2017..................................................

19

Figura 2 – Diagrama das estratégias de busca integradas utilizadas nessa revisão: à

esquerda Buscas nas bases de dados Medline, LILACS e Scielo utilizados

os termos "Family Practice", "Preceptorship" e "Residency"; à direita

Busca ampliada nos números disponíveis online das revistas RBMFC e

RBEM (Figura 1 do Artigo).....................................................................

33

Quadro 1 – Caracterização dos artigos sobre preceptoria incluídos nesta revisão

integrativa e estratégia de busca a partir da qual foram identificados..........

38

Quadro 2 – Modelos de preceptoria nos programas de residência, identificados a

partir das características da preceptoria descritas nos artigos, agrupados

em Categorias, a partir das características de vinculação dos preceptores

a Unidades e Equipes de Saúde, e identificação de Fortalezas e Fraquezas

em cada uma das categorias identificadas....................................................

40

Page 12: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Evolução das vagas em programas de residência em medicina de família

e comunidade no Brasil entre 2002 e 2017...............................................

19

Figura 2 – Diagrama das estratégias de busca integradas utilizadas nessa revisão: à

esquerda Buscas nas bases de dados Medline, LILACS e Scielo

utilizados os termos "Family Practice", "Preceptorship" e "Residency";

à direita Busca ampliada nos números disponíveis online das revistas

RBMFC e RBEM (Figura 1 do Artigo)....................................................

33

Page 13: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Caracterização dos artigos sobre preceptoria incluídos nesta revisão

integrativa e estratégia de busca a partir da qual foram identificados........

38

Quadro 2 – Modelos de preceptoria nos programas de residência, identificados a

partir das características da preceptoria descritas nos artigos, agrupados

em Categorias, a partir das características de vinculação dos preceptores

a Unidades e Equipes de Saúde, e identificação de Fortalezas e

Fraquezas em cada uma das categorias identificadas................................

40

Page 14: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

LISTA DE SIGLAS

APS Atenção Primária à Saúde

CFM Conselho Federal de Medicina

CNRM Comissão Nacional de Residência Médica

COREME Comissão de Residência Médica

DeCS Descritores em Ciências da Saúde

EURACT Academia Europeia de Professores em Medicina de Família

MeSH Medical Subject Heading

MFC Medicina de Família e Comunidade

PMM Programa Mais Médicos PRM Programa de Residência Médica

RBEM Revista Brasileira de Educação Médica

RBMFC Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade

SBMFC Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade

SMS Secretaria Municipal de Saúde UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

WONCA World Organization of National Colleges, Academies and Academic Associations of

General Practitioners/Family Physicians

Page 15: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 16

2 OBJETIVOS............................................................................................. 22

2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................. 22

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................... 22

3 METODOLOGIA.................................................................................... 23

3.1 TIPO DE ESTUDO................................................................................. 23

3.2 COLETA E ANÁLISE DE DADOS........................................................ 23

3.3 ASPECTOS ÉTICOS............................................................................... 25

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................. 25

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 53

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 55

Page 16: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

16

1 INTRODUÇÃO

A história da especialidade Medicina de Família e Comunidade (MFC) no Brasil tem íntima relação

com o desenvolvimento de sua residência médica. Em 1974 foi publicado o primeiro documento com

referência a esta especialidade: o Projeto de um Sistema de Saúde Comunitária, no Centro de Saúde

Murialdo, em Porto Alegre/RS. Em 1976 surgiram os três primeiros Programas de Residência Médica

(PRMs) na especialidade: 1) o Centro Saúde Escola Murialdo, em Porto Alegre/RS; 2) O Projeto

Vitória, em Vitória de Santo Antão/PE; e 3) o Serviço de Medicina Integral da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no Rio de Janeiro/RJ. Em 1981 a Comissão Nacional de Residência

Médica (CNRM) formaliza os Programas de Residência em MFC, ainda sob a nomenclatura

Medicina Geral Comunitária, oficializando esta área como uma especialidade no Brasil. Somente em

1986 o Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhece a MFC como especialidade médica (FALK,

2004).

Até meados da década de 1990 a especialidade era pouco reconhecida, isolada em poucos PRMs no

país e quase sem mercado de trabalho. Com a criação do Programa de Saúde da Família em 1994,

começa a se desenhar um sistema de saúde orientado pela Atenção Primária à Saúde (APS), e o

médico de família e comunidade tem nesta iniciativa o seu local de trabalho predominante (FALK,

2004 e SARTI et al, 2018). Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda aos municípios que as

equipes de saúde da família sejam compostas preferencialmente por médico especialista em Medicina

de Família e Comunidade (BRASIL, 2017).

Apesar da centralidade dessa especialidade na conformação do sistema de saúde nacional, e apesar

de não ser uma especialidade nova, as residências médicas em MFC historicamente apresentam uma

baixa procura por médicos egressos dos cursos de graduação (COSTA, 2014). Ainda hoje, a taxa de

ociosidade dessas vagas de residência gira em torno de 70% (SARTI et al., 2018 e SCHEFFER et al.,

2018). Diversos fatores vêm sendo associados a essa baixa procura, envolvendo um conjunto de

crenças e mitos relacionadas com a especialidade, que cria uma visão negativa da especialidade no

imaginário coletivo do estudante de medicina, não só no Brasil. Entre eles estão má remuneração,

vínculos trabalhistas precários, elevada carga de trabalho, baixo prestígio na sociedade, mau exemplo

de preceptores na prática em atenção primária e discurso depreciativo dos professores em relação à

MFC (ROHAN-MINJARES, 2015).

Page 17: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

17

Em contrapartida, pesquisa feita com residentes e egressos dos programas de residência de MFC,

identificou os fatores que favorecem a escolha da MFC: aspectos pessoais (compromisso social,

aptidão e afinidade com a especialidade e circunstâncias da vida familiar ou pessoal); características

da residência médica em MFC (tempo curto de duração, grande quantidade disponibilizada de vagas);

e características intrínsecas da especialidade (conteúdo técnico, perspectivas de crescimento

profissional, oportunidade de ensino e pesquisa, diversidade de casos, atmosfera no ambiente de

trabalho, oportunidade de realizar procedimentos ambulatoriais, carga horária média semanal, tipo de

relação médico paciente, trabalho em equipe multidisciplinar, estilo de vida que a especialidade

propicia, assistência predominantemente ambulatorial, cuidado integral do paciente,

longitudinalidade do cuidado, preferência por cuidado primário versus cuidado hospitalar, trabalho

na comunidade e autonomia que a especialidade propicia) (RODRIGUES, 2018).

Zambon (2015), em pesquisa realizada junto a preceptores e supervisores de PRMs em MFC de todas

as regiões do Brasil, identifica ao menos quatro categorias de fatores que influenciam na escolha

destes programas: 1) formação médica na graduação; 2) Formação de professores e modelos de

Médicos de Família a serem seguidos; 3) Mercado de trabalho e; 4) Políticas públicas de

saúde. Dados dessa pesquisa sugerem que a região do país onde o programa se localiza, o tempo de

existência do programa de residência, bem como a ampliação do valor da remuneração dos residentes

ofertada por alguns programas de residência em MFC não influenciaram na taxa de ocupação desses

programas (ZAMBON, 2015).

Passando às categorias analisadas, com relação à categoria "influência da formação na graduação",

os pesquisadores perceberam que esta influência é negativa quanto à escolha da residência em MFC

ou influência neutra. Pelo contrário, a forma como a graduação está organizada hoje influencia

positivamente na escolha por especialidades hospitalares. Destacam-se nesse desestímulo problemas

encontrados pelos alunos durante os estágios na APS: falta de resolubilidade da APS, falta crônica de

insumos e dificuldade de acesso a exames. A inexistência de departamentos e coordenações na área

de MFC nas Instituições de Ensino Superior é outro fator que influencia negativamente, tendo em

vista que isso reflete em pouco contato com Médicos de Família e Comunidade com formação

específica nessas instituições. Um fator muito destacado foi a ambiência ruim dos campos de prática

da APS na graduação, que fazem com que os alunos tenham uma repulsa por carreiras médicas que

atuem na APS pública do país. Já a categoria "Formação de professores e modelos de Médicos de

Família a serem seguidos" demonstrou ser a que mais exerce influência positiva na escolha pela

residência em MFC.

Page 18: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

18

Seguindo na análise desses fatores, o Mercado de Trabalho parece influenciar negativamente na

escolha pela residência em MFC, uma vez que quase não existem planos de cargos, carreiras e

salários. Também não há incentivo de produção com indicadores de qualidade de atenção, nem

incentivo de fixação do Médico de Família no local de trabalho. Ao longo do tempo, o Médico de

Família recebe quase o mesmo salário com que se inicia na carreira. No quesito remuneratório,

quando comparada com outras especialidades, há a percepção de que os Médicos de Família têm

remuneração semelhante ao de outras especialidades clínicas, mas podem receber até 50 vezes menos

que especialidades que envolvam a realização de procedimentos. Apesar dessa influência, a questão

remuneratória não foi considerada como mais importante. A não-obrigatoriedade da obtenção do

título de especialista para trabalhar na APS pública, faz com que muitos recém-formados prefiram

trabalhar diretamente na APS, sem a formação específica, uma vez que receberão remuneração

equivalente ao especialista (ZAMBOM, 2015)

No âmbito internacional, a União Europeia reconhece desde 1986 a necessidade de treinamento

específico para os Médicos de Família e torna essa formação obrigatória em todos os Estados-

Membros. Já em 1993 uma diretiva do Parlamento Europeu condiciona o exercício da Medicina de

Família à obtenção de um título ou diploma de qualificação formal, para trabalhar nos Sistemas de

Saúde Nacionais de cada Estado-Membro, a partir de 1995. (EUROPEAN PARLIAMENT, 1986,

1993; MICHEL, 2018). Precisamos avançar para esta regulamentação no Brasil, e trabalhar com um

plano para os próximos anos, da necessidade em titular (por residência) os futuros ingressantes no

mercado de trabalho, e ao mesmo tempo certificar a todos que atualmente trabalham e ainda não tem

uma certificação como Médico de Família e Comunidade. Algumas estratégias parecem necessárias

para que se alcancem esses objetivos: a universalização das vagas de residência, percentual de 40%

das vagas de acesso direto para MFC, estratégias multifacetadas para a ocupação de vagas, com

destaque para a obrigatoriedade da residência em MFC para futuros ingressos na APS brasileira com

temporalidade definida a vigorar em anos vindouros. (TRINDADE e RODRIGUES, 2016; SBMFC,

2018)

Diversas políticas públicas vêm sendo desenvolvidas a fim de reorientar a formação médica, com

enfoque na APS, tanto na graduação, quanto na pós-graduação. No âmbito da graduação, iniciativas

como o Pró-saúde (BRASIL, 2005) e o PET-Saúde (BRASIL, 2010) vinham sendo implantadas. A

partir de 2013, o Programa Mais Médicos (PMM) (BRASIL, 2013) tem estimulado mudanças ainda

mais intensas na formação de médicos, tanto no âmbito da graduação (com abertura de novas escolas

e estímulo a interiorização), como na pós-graduação, com estímulo a abertura de vagas de residência

em áreas prioritárias para o SUS, entre elas a MFC (BRASIL, 2013). O PMM estimulou mudanças

Page 19: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

19

nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de medicina, prevendo, por exemplo, um mínimo

de 30% da carga horária do internato a ser desenvolvidas neste nível de atenção (BRASIL, 2014). No

que tange a residência médica, PMM têm motivado uma expansão no número de vagas de residência

em MFC, seja pela ampliação dos programas já existentes ou pela criação de novos programas

(BRASIL, 2013), intensificando o que já vinha sendo feito com o Pró-residência (BRASIL, 2009).

Os resultados dessa expansão dos programas de residência em Medicina de Família e Comunidade

podem ser verificados quando se olha para a série histórica. Durante as décadas de 1980 e 1990, o

número de vagas era pouco expressivo e crescia de forma lenta. Somente após 2002, passa-se a notar

um crescimento mais significativo do número de vagas em residência médica em MFC. Por exemplo,

em 2003, existiam 29 PRMs em MFC, com 218 vagas, passando em 2014 para 138 programas com

1.040 vagas autorizadas. Em consulta realizada 2019 junto à Comissão Nacional de Residência

Médica (CNRM), são 3.587 vagas anuais distribuídas em 285 programas, o que corresponde a cerca

de 14% das vagas de acesso direto (AUGUSTO, 2019; ZAMBOM, 2015 e SisCNRM, 2018, 2019),

ainda abaixo dos 40% praticados em países com sistemas de saúde universais orientados à APS

(TRINDADE E BATISTA, 2016).

Figura 1: Evolução das vagas em programas de residência em medicina de família e

comunidade no Brasil entre 2002 e 2017

Page 20: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

20

Fonte: AUGUSTO, 2019

A organização mundial dos médicos de família (World Organization of National Colleges,

Academies and Academic Associations of General Practitioners/Family Physicians - WONCA),

preconiza que a formação de futuros MFCs, deve se dar na maior parte do tempo com Médicos de

Família e em ambientes clínicos onde estes atuam, enquanto que outros níveis de atenção são úteis

para apoiar no desenvolvimento de habilidades (WONCA, 2013). Nesta mesma linha, a resolução

que regulamenta os programas de residência em MFC no Brasil exige que no mínimo de 70 a 80%

da carga horária total do programa de residência sejam realizadas necessariamente em serviços de

APS. Esta mesma resolução, prevê que "os preceptores de estágios em Atenção Primária poderão ser

da mesma equipe de saúde da família ou integrar a equipe da unidade de saúde que receberá o

residente" (BRASIL, 2015).

Diferentes resoluções da CNRM utilizam a palavra "Preceptor" para designar funções distintas, por

vezes como sinônimo de "Tutor" (BRASIL, 2004 e BRASIL, 2015). Da mesma forma, alguns

programas de residência utilizam o termo "preceptor" para designar uma função diferente daquela do

docente-clínico do estágio de atenção primária (GARCIA et al., 2018). Neste ponto, a fim de evitar

ambiguidades, o termos "Preceptor" e "Preceptoria" utilizados neste estudo seguem a definição de

Botti e Rego (2008 e 2011) para quem este seria "o professor que ensina a um pequeno grupo de

alunos ou residentes, com ênfase na prática clínica e no desenvolvimento de habilidades para tal

prática" que tem importante papel na inserção e socialização, do recém-graduado no ambiente de

trabalho, cuja principal função seria ensinar a clinicar, favorecendo a aquisição de habilidades e

competências pelos recém-graduados, em situações clínicas reais, no ambiente de trabalho. Seria, em

suma, um "Docente-clínico", em referência ao paralelo que essa função tem com o termo "clinical

teacher" amplamente utilizado na literatura internacional (BOTTI e REGO, 2008 e 2011).

A exemplo das políticas recentes de expansão dos programas de residência em Medicina de Família

e Comunidade no Brasil, a Austrália, também motivada por decisões governamentais e mudanças de

legislação, experimentou, a partir dos anos 1970s, uma rápida expansão de sua APS, baseada na MFC

(TRUMBLE, 2011). Essa expansão se deu em associação a ampliação da formação de força de

trabalho nesta especialidade. Para isso, os Médicos de Família atuantes no sistema de saúde

australiano foram incentivados a participar dessa formação enquanto preceptores. A demanda por

formação tem sido tão intensa, que já não é possível garantir uma preceptoria baseada apenas no

modelo tradicional, de um formando para um preceptor. Por isso, novos modelos de preceptoria têm

Page 21: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

21

sido propostos para a realidade australiana, inclusive com a possibilidade de supervisão a distância

(LAURENCE et al., 2011 e WEARNE 2011).

No Brasil esse problema se repete. Hoje existem 5.438 titulados em MFC (portadores de certificado

de conclusão de residência médica e/ou aprovados na prova de título de especialista realizada pela

SBMFC), menos de 2% dos especialistas do país, número menor do que o de vagas de residência

autorizadas atualmente (AUGUSTO et al, 2018). Mesmo com a alta taxa de desocupação (73,9%)

das vagas de PRM em MFC (SCHEFFER et al., 2018), existem relatos da dificuldade de prover

preceptoria especializada para os residentes que ingressaram nos PRM em MFC. Há relatos de que

em alguns programas a proporção de residentes por preceptor chega a 4:1 (JUSTINO et al., 2016,

CASTELLS et al., 2016 e SARTI et al. 2018).

Nos defrontamos com um paradoxo: mesmo com a baixa taxa de ocupação das vagas de residência

em MFC, existem poucos preceptores para os residentes ingressantes. Esse aparente paradoxo pode

ser em parte explicado pois alguns programas têm uma alta taxa de ocupação de suas vagas de

residência, enquanto outros têm baixíssima ocupação, gerando ociosidade de preceptores (preceptores

que ficam sem supervisionar residentes). Além disso, no Brasil, contrariando as recomendações

internacionais de que o treinamento de pós-graduação dos Médicos de Família e Comunidade deva

se dar com seus pares especialistas, com treinamento em habilidades educacionais (MICHELS et al

2018 e WONCA 2013), esse treinamento pode se dar também com especialistas com outros tipos de

titulação acadêmica compatível ou notório saber na área e em atuação profissional como MFC, além

dos médicos docentes na área que atuem em Instituição de Ensino Superior que os qualifique a prestar

preceptoria ou facilitação do processo de ensino-aprendizagem em sua área de atuação (BRASIL,

2015). Portanto, apesar do baixo número de especialistas evidenciado anteriormente, um número

expressivo de programas de residência tem preceptores não especialistas em MFC em seu corpo

docente.

O estágio de Atenção Primária deve ocupar mais de 70% da carga horária do residente dos PRM em

MFC, portanto a preceptoria nesse nível de atenção desempenha um papel central na formação do

residente. Diante da demanda crescente de residentes, num cenário de poucos especialistas

preceptores, diferentes modelos vêm sendo testados no Brasil. Em muitos programas de residência

brasileiros esse estágio se dá de forma longitudinal, ficando inserido o residente numa mesma unidade

de atenção primária, mais comumente da estratégia de saúde da família, durante todo o seu período

de formação (2 anos).

Page 22: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

22

Existem diferentes arranjos de inserção dos residentes e preceptores nas equipes de atenção primária,

estando às vezes vinculados à mesma equipe, as vezes vinculados a equipes diferentes, mas numa

mesma unidade (JUSTINO et al., 2016, CASTELLS et al., 2016, GARCIA et al., 2018 e

RODRÍGUEZ, 2008). A legislação prevê que este preceptor deva compor "a equipe de saúde da

família ou integrar a equipe da unidade de saúde que receberá o residente" e que os residentes devem

receber supervisão permanente, entretanto os médicos residentes também podem compor equipes de

Saúde da Família (BRASIL, 2015). Apesar disso, não é incomum que residentes componham equipes

em unidades de saúde onde não há a presença de preceptor, recebendo visitas regulares de

profissionais ligados ao programa de residência, mas não vinculados à unidade de saúde campo de

prática do residente, a pretexto de preceptoria. Situações assim, tornaram-se mais comuns com a

rápida expansão dos PRMs em MFC ao longo dos últimos anos, passando os PRMs a exercer também

um papel de provisão de médicos na APS pública, o que pode comprometer a qualidade da formação

e a segurança dos pacientes, se não for respeitada a garantia de preceptoria.

Existe escassa literatura nacional (JUSTINO et al., 2016, CASTELLS et al., 2016 e GARCIA et al.,

2018) e internacional comparada (LAURENCE et al., 2011 e WEARNE 2011) sobre estes modelos

de preceptoria e de inserção dos residentes no cenário de prática da atenção primária. Carecemos de

informação sobre quais modelos existem e vêm sendo praticados, qual a prevalência de utilização

desses modelos nos programas de residência pelo país, quais são os pontos fortes e fraquezas de cada

modelo, o grau de recomendação de cada modelo e os fatores que levam a escolha de um modelo em

detrimento dos outros. Diante da contínua expansão das vagas de residência em Medicina de Família

e Comunidade e da possibilidade dos programas de residência nessa especialidade comporem uma

das estratégias de provimento de médicos em áreas de baixa retenção (SBMFC, 2018), torna-se cada

vez mais necessária a busca de respostas a essas perguntas.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Identificar os modelos de preceptoria em Residência de Medicina de Família e Comunidade no

cenário de aprendizagem da Atenção Primária à Saúde, associado a identificação de fortalezas e

fragilidade de cada modelo.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Page 23: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

23

Categorizar quais são os modelos de preceptoria identificados;

Explorar as fortalezas e fragilidades de cada modelo de preceptoria categorizado;

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE ESTUDO

Foi realizada uma revisão integrativa da literatura com vistas a incluir o maior número de estudos

referentes à preceptoria em Residências de Medicina de Família e Comunidade. Esse tipo de revisão

é uma análise ampla da literatura, caracterizado por uma busca sistematizada de estudos a partir de

critérios claros de inclusão e exclusão, estes estudos podem ter diferentes desenhos metodológicos,

entre experimentais, quase-experimentais e observacionais, permitindo uma síntese do estado do

conhecimento do assunto em questão. O revisor deve apresentar claramente os resultados dos estudos

incluídos, bem como avaliar criticamente a validade metodológica destes. (MENDES, 2008)

3.2 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Inclusão dos estudos

Essa revisão buscou incluir estudos que descrevessem a preceptoria de PRM em MFC, no estágio

longitudinal de Atenção Primária à Saúde.

Os critérios de inclusão incluíam: artigos que descrevessem a preceptoria em Residência em Medicina

de Família e Comunidade; estudos em língua portuguesa, inglesa ou espanhola. Os critérios de

exclusão foram: artigos que descrevessem preceptoria de outros níveis de treinamento que não

Residência; artigos que descrevessem a preceptoria de outros PRMs que não fosse em MFC; trabalhos

que se referissem a um mesmo estudo.

Estratégia de busca

A busca foi realizada nas seguintes bases de dados eletrônicos: Medline, LILACS e Scielo. Foi feita

consulta ao Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde , disponível

em <http://decs.bvs.br/> e ao Medical Subject Heading (MeSH), disponível em

Page 24: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

24

<http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html>, a fim de realizar desambiguação dos termos, tendo

sido utilizados os seguintes termos: "Family Practice", "Preceptorship" e "Residency". As buscas

foram realizadas no período entre 20/02/2019 e 07/09/2019. A revisão foi ampliada a partir de uma

busca detalhada em todos os números e volumes disponíveis online de duas revistas nacionais de

relevância no tema da área dessa revisão: a Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade

(RBMFC) e a Revista Brasileira de Educação Médica (RBEM). Não houve limite para data de

publicação. As buscas foram realizadas por um dos autores desta revisão.

Seleção dos artigos

A seleção dos artigos encontrados a partir da pesquisa nas bases eletrônicas deu-se inicialmente pela

exclusão de duplicidades dentro da própria base de dados. Em seguida os artigos foram selecionados

a partir da leitura do título, posteriormente pela leitura do resumo. Na etapa seguinte, a seleção era

finalizada com a leitura do texto na íntegra. Os artigos que apareceram em duplicidade entre as bases

de dados também foram excluídos.

A busca ampliada em todos os números disponíveis online das revistas RBEM e RBMFC se deu a

partir da leitura do título dos artigos nos sumários de cada volume das revistas. A etapa seguinte de

seleção ocorreu a partir da leitura do resumo, seguida da leitura do texto na íntegra. Para aqueles

artigos que não possuíam resumo foi feita seleção a partir da leitura do texto na íntegra. Por fim foram

excluídos os textos que apareceram em duplicidade nesta estratégia e na estratégia de busca por

descritores. Também foram excluídos aqueles trabalhos que se referiam aos dados de uma mesma

pesquisa.

Análise dos dados

Dos artigos incluídos na revisão foram extraídos elementos que descrevessem o modo de inserção

dos residentes e preceptores de PRMs em MFC em equipes de Atenção Primária à Saúde, que

compreendesse o estágio longitudinal de APS desses programas. Foram extraídas, para fim de

caracterização do modelo de preceptoria, as seguintes características: a) o vínculo do preceptor à

unidade de saúde; b) se o preceptor compõe uma equipe de APS; c) se o preceptor está vinculado a

mais de uma equipe de APS; d) se o residente compõe equipe sozinho; e) quem pratica

majoritariamente assistência à saúde nessas equipes: residentes, preceptores ou ambos; f) a que

instituição o preceptor está vinculado: de ensino ou assistencial; g) fortalezas e fraquezas do modelo

Page 25: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

25

de preceptoria adotado; h) proporção de residentes por preceptor; i) se existe complementação

financeira da bolsa do residente; j) a instituição que mantém o programa e sua localização. A partir

destas características foram categorizados os modelos de preceptoria em estágio longitudinal de APS

de programas de residência em Medicina de Família e Comunidade. Por fim, foi avaliada a qualidade

metodológica dos estudos incluídos nesta revisão.

3.3 ASPECTOS ÉTICOS

Levando em consideração a Resolução no 510, de 7 de abril de 2016, que dispensa de registro nos

sistemas dos Comitês de Ética em Pesquisa e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa aquelas

pesquisas realizadas exclusivamente com textos científicos para revisão da literatura científica, esta

pesquisa não foi submetida a apreciação ética.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados e discussão estão apresentados na forma de um artigo científico intitulado MODELOS

DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE

NO BRASIL, o qual foi submetido à Revista Brasileira de Educação Médica (RBEM), com a

identificação RBEM-2019-0273

.

MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA DE FAMÍLIA E

COMUNIDADE NO BRASIL

PRECEPTORSHIP MODELS OF FAMILY PRACTICE RESIDENCIES IN BRAZIL

RESUMO

A especialidade de Medicina de Família e Comunidade (MFC) tem seu princípio no Brasil em 1974.

Os três primeiros programas de residência surgiram já em 1976, mas apesar disso, sempre houve uma

baixa procura pela especialidade. Diversas políticas têm sido desenvolvidas a fim de reorientar a

formação médica com enfoque na Atenção Primária à Saúde, com destaque para o Programa Mais

Médicos. Houve uma expansão no número de vagas anuais de residência em MFC passando de 218

em 2003, para 3.587 em 2019. Diante da demanda crescente de residentes, num cenário de poucos

Page 26: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

26

especialistas preceptores, diferentes modelos vêm sendo testados no Brasil. Existe escassa literatura

nacional e internacional comparada sobre estes modelos de preceptoria e de inserção dos residentes

e preceptores no cenário de prática da atenção primária. O objetivo desta revisão foi identificar os

modelos de preceptoria em residência de Medicina de Família e Comunidade no cenário de

aprendizagem em atenção primária, associado a identificação de fortalezas e fraquezas de cada

modelo. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura em bases de dados eletrônicas, ampliadas

por busca minuciosa em todos os números das Revistas Brasileiras de Medicina de Família e

Comunidade e de Educação Médica. Foram incluídos 14 artigos na revisão, o que resultou em três

modelos gerais de preceptoria, com ao menos sete configurações diferentes. Verificou-se que o modo

de vinculação do preceptor às equipes e unidades de saúde era o fator mais determinante na

configuração dos modelos. Os estudos incluídos nessa revisão eram oriundos de diferentes locais do

país, principalmente da região sudeste. Os modelos de preceptoria influenciam na qualidade da

assistência, na rotina de trabalho do preceptor e na aprendizagem dos residentes. Também foi

observado que os modelos de preceptoria onde o residente compõe equipe e o preceptor se vincula a

mais de uma equipe, foi uma estratégia usada para provimento de médicos para a Atenção Primária

a Saúde e expansão dos programas de residência. Foi destacado que a formação docente dos

preceptores é central na formação do médico residente, independente do modelo de preceptoria

adotado. A qualidade dos artigos foi um fator limitante pois apenas três artigos se referiam a dados

de pesquisas originais. Mais investigações nesse tema são necessárias para saber se existem mais

modelos, além de acessar o impacto desses modelos na aprendizagem e na assistência à saúde da

população.

Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde; Medicina de Família e Comunidade; Preceptoria;

Internato e Residência.

ABSTRACT

The specialty of Family and Community Medicine began in Brazil in 1974. The first three residency

programs began in 1976, but despite this, there has always been a low demand for the specialty.

Several policies have been used for reorientation and medical training focusing on Primary Health

Care, with emphasis on the More Doctors Program. There has been an increase in the number of

annually residency vacancies from 218 in 2003 to 3,587 in 2019. Given the increasing demand from

residents, in a scenario of few preceptors, different models are being tested in Brazil. There is scarce

national and international literature comparing these models of preceptorship and insertion of

residents and preceptors in the primary care practice setting. The aim of this review was to identify

the models of preceptorship in the Family Practice residency setting in the primary care learning

Page 27: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

27

scenario, associated with the identification of strengths and weaknesses of each model. An integrative

literature review was performed in electronic databases, expanded by thorough search in all issues of

the Brazilian Journals of Family and Community Medicine and Medical Education. Fourteen articles

were included in the review, resulting in three general models of preceptorship, with seven different

configurations. The mode of linking the preceptor to teams and health facilities was the most

determining factor in configuring the models. The studies included in this review came from different

locations in the country, especially from the southeast region. Preceptor models influence the quality

of care, preceptor work routine, and residents' learning. It was also observed that the preceptor models

where the resident makes up the team and the preceptor is linked to one more team was a strategy

used to provide Primary Health Care doctors and expand residency programs. It was emphasized that

the teacher training of preceptors is central to the education of the resident physician, regardless of

the preceptorship model adopted. The quality of the articles was a limiting factor, as only three articles

refer to original research data. Further research on this topic is needed to determine if there are more

models, in addition to accessing or affecting these models in learning and health care of the

population.

Key words: Primary Health Care; Family Practice; Preceptorship; Internship and Residency.

INTRODUÇÃO

A história da Medicina de Família e Comunidade (MFC) no Brasil tem íntima relação com o

desenvolvimento de sua residência médica. Em 1974 foi publicado o primeiro documento com

referência a especialidade: o Projeto de um Sistema de Saúde Comunitária, no Centro de Saúde

Murialdo, em Porto Alegre/RS. Em 1976 surgiram os três primeiros Programas de Residência Médica

(PRMs) na especialidade. Em 1981 a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) formaliza

os PRMs em MFC, ainda sob a nomenclatura Medicina Geral Comunitária, oficializando esta área

como uma especialidade no Brasil. Somente em 1986 o Conselho Federal de Medicina (CFM)

reconhece a MFC como especialidade médica1.

Até meados da década de 1990 a especialidade era pouco reconhecida, isolada em poucos PRMs no

país e quase sem mercado de trabalho. Com a criação do Programa de Saúde da Família em 1994,

começa a se desenhar um sistema de saúde orientado pela Atenção Primária à Saúde (APS), e o

médico de família e comunidade tem nesta iniciativa o seu local de trabalho predominante1,2

.

Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda aos municípios que as equipes de saúde da família

sejam compostas preferencialmente por médico especialista em MFC3.

Page 28: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

28

Apesar disso as residências em MFC historicamente apresentam uma baixa procura4. Ainda hoje, a

taxa de ociosidade dessas vagas gira em torno de 70%5,6

. Diversos fatores vêm sendo associados a

essa baixa procura, envolvendo um conjunto de crenças e mitos relacionadas com a especialidade,

que cria uma visão negativa da especialidade no imaginário coletivo do estudante de medicina, não

só no Brasil, entre eles estão má remuneração, vínculos trabalhistas precários, elevada carga de

trabalho, baixo prestígio na sociedade, mau exemplo de preceptores na prática em APS e discurso

depreciativo dos professores em relação à MFC7. Em contrapartida, pesquisa feita com residentes e

egressos de PRMs em MFC, identificou os fatores que favorecem a escolha da MFC: aspectos

pessoais (compromisso social, aptidão e afinidade com a especialidade e circunstâncias da vida

familiar ou pessoal); características da residência médica em MFC (tempo curto de duração, grande

quantidade disponibilizada de vagas); e características intrínsecas da especialidade (diversidade de

casos, oportunidade de realizar procedimentos ambulatoriais, carga horária média semanal, tipo de

relação médico-paciente, assistência predominantemente ambulatorial, longitudinalidade do cuidado,

trabalho na comunidade, entre outros)8.

No âmbito internacional, a União Europeia reconhece desde 1986 a necessidade de treinamento

específico para os MFC e torna essa formação obrigatória em todos os Estados-Membros. Já em 1993

uma diretiva do Parlamento Europeu condiciona o exercício da Medicina de Família à obtenção de

um título ou diploma de qualificação formal, para trabalhar nos Sistemas de Saúde Nacionais de cada

Estado-Membro, a partir de 19959–11

. O Brasil precisa avançar para uma regulamentação desta

natureza, e trabalhar com um plano para os próximos anos, da necessidade em titular (por residência)

os futuros ingressantes no mercado de trabalho, e ao mesmo tempo certificar a todos que atualmente

trabalham e ainda não tem uma certificação como MFC. Algumas estratégias parecem necessárias

para que se alcancem esses objetivos: a universalização das vagas de residência, percentual de 40%

das vagas de acesso direto para MFC, estratégias multifacetadas para a ocupação de vagas, com

destaque para a obrigatoriedade da residência em MFC para futuros ingressos na APS brasileira12,13

.

Diversas políticas públicas vêm sendo desenvolvidas a fim de reorientar a formação médica, com

enfoque na APS, tanto na graduação, quanto na pós-graduação. No âmbito da graduação, iniciativas

como o Pró-saúde14

e o PET-Saúde15

vinham sendo implantadas. A partir de 2013, o Programa Mais

Médicos (PMM)16

tem estimulado mudanças ainda mais intensas na formação de médicos, tanto no

âmbito da graduação, como na pós-graduação16

. O PMM estimulou mudanças nas Diretrizes

Curriculares Nacionais dos cursos de medicina, prevendo, por exemplo, um mínimo de 30% da carga

horária do internato a ser desenvolvidas neste nível de atenção17

. No que tange a residência

médica, PMM têm motivado uma expansão no número de vagas de residência em MFC, seja pela

Page 29: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

29

ampliação dos programas já existentes ou pela criação de novos programas16

, intensificando o que

já vinha sendo feito com o Pró-residência18

. No entanto, a criação dessas vagas não foi acompanhada

de estratégias efetivas de preenchimento das mesmas, a bolsa ofertada pelos programas de provimento

emergencial aos recém-egressos, desestimulavam a opção pela residência, contrariando

recomendação da SBMFC19

.

Os resultados dessa expansão podem ser verificados quando se olha a série histórica. Por exemplo,

em 2003, existiam 29 PRMs em MFC, com 218 vagas anuais de R1, passando em 2014 para 138

programas com 1.040 vagas autorizadas. Em consulta realizada em 2019 junto à Comissão Nacional

de Residência Médica (CNRM), são 3.587 vagas anuais distribuídas em 285 programas20–24

, o que

corresponde a cerca de 14% das vagas de acesso direto, ainda abaixo dos 40% praticados em países

com APS forte12

.

A World Organization of National Colleges, Academies and Academic Associations of General

Practitioners/Family Physicians (WONCA), preconiza que a formação de futuros MFCs, deve se dar

na maior parte do tempo com Médicos de Família e em ambientes clínicos onde estes atuam, enquanto

que outros níveis de atenção são úteis para apoiar no desenvolvimento de habilidades25

. Nesta mesma

linha, a resolução que regulamenta os programas de residência em MFC no Brasil exige que no

mínimo de 70 a 80% da carga horária total do PRM sejam realizadas necessariamente em serviços de

APS. Esta mesma resolução, prevê que "os preceptores de estágios em Atenção Primária poderão ser

da mesma equipe de saúde da família ou integrar a equipe da unidade de saúde que receberá o

residente"26

.

Diferentes resoluções da CNRM utilizam a palavra "Preceptor" para designar funções distintas, por

vezes como sinônimo de "Tutor"26–28

. A fim de evitar ambiguidades, os termos "Preceptor" e

"Preceptoria" utilizados neste estudo seguem a definição de Botti e Rego (2008 e 2011)29,30

para quem

este seria "o professor que ensina a um pequeno grupo de alunos ou residentes, com ênfase na prática

clínica e no desenvolvimento de habilidades para tal prática" que tem importante papel na inserção e

socialização, do recém-graduado no ambiente de trabalho, cuja principal função seria ensinar a

clinicar, favorecendo a aquisição de habilidades e competências pelos recém-graduados, em situações

clínicas reais, no ambiente de trabalho. Seria, em suma, um "Docente-clínico", em referência ao

paralelo que essa função tem com o termo "clinical teacher"29,30

.

A exemplo das políticas recentes de expansão dos PRMs em MFC no Brasil, a Austrália, também

motivada por decisões governamentais e mudanças de legislação, experimentou, a partir dos anos

Page 30: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

30

1970s, uma rápida expansão de sua APS, baseada na MFC31

. Essa expansão se deu em associação a

ampliação da formação de força de trabalho nesta especialidade. Para isso, os Médicos de Família

atuantes no sistema de saúde australiano foram incentivados a participar dessa formação enquanto

preceptores. A demanda por formação tem sido tão intensa, que já não é possível garantir uma

preceptoria baseada apenas no modelo tradicional, de um formando para um preceptor. Por isso,

novos modelos de preceptoria têm sido propostos para a realidade australiana, inclusive com a

possibilidade de supervisão a distância32,33

.

No Brasil esse problema se repete. Hoje existem 5.438 titulados em MFC (portadores de certificado

de conclusão de residência médica e/ou aprovados na prova de título de especialista realizada pela

Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade - SBMFC), menos de 2% dos

especialistas do país, número menor do que o de vagas de residência autorizadas atualmente34

. Mesmo

com a alta taxa de desocupação (73,9%) das vagas de PRM em MFC6, existem relatos da dificuldade

de prover preceptoria especializada para os residentes que ingressaram nos PRM em MFC, existem

programas onde a proporção de residentes por preceptor chega a 4:15,35,36

.

Nos defrontamos com um paradoxo: mesmo com a baixa taxa de ocupação das vagas de residência

em MFC, existem poucos preceptores para os residentes ingressantes. Esse aparente paradoxo pode

ser em parte explicado pois alguns programas têm uma alta taxa de ocupação de suas vagas, enquanto

outros têm baixíssima ocupação, gerando ociosidade de preceptores. Além disso, no Brasil,

contrariando as recomendações internacionais de que o treinamento de pós-graduação dos MFC deva

se dar com seus pares especialistas, com treinamento em habilidades educacionais11,25

, esse

treinamento pode se dar também com especialistas com outros tipos de titulação acadêmica

compatível ou notório saber na área e em atuação profissional como MFC, além dos médicos docentes

na área que atuem em IES que os qualifique a prestar preceptoria ou facilitação do processo de ensino-

aprendizagem em sua área de atuação26

.

O estágio de APS deve ocupar mais de 70% da carga horária do residente em MFC, portanto a

preceptoria nesse nível de atenção desempenha um papel central na formação. Diante da demanda

crescente de residentes, num cenário de poucos especialistas preceptores, diferentes modelos vêm

sendo testados no Brasil. Em muitos programas de residência brasileiros esse estágio se dá de forma

longitudinal, ficando inserido o residente numa mesma unidade de atenção primária, mais comumente

da estratégia de saúde da família, durante todo o seu período de formação (2 anos).

Page 31: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

31

Existem diferentes arranjos de inserção dos residentes e preceptores nas equipes de atenção primária,

estando às vezes vinculados à mesma equipe, as vezes vinculados a equipes diferentes, mas numa

mesma unidade35–38

. A legislação prevê que este preceptor deva compor "a equipe de saúde da

família ou integrar a equipe da unidade de saúde que receberá o residente" e que os residentes devem

receber supervisão permanente, entretanto os médicos residentes também podem compor equipes de

Saúde da Família27

. Existe escassa literatura nacional35–37

e internacional comparada32,33

sobre estes

modelos de preceptoria e de inserção dos residentes no cenário de prática da APS. Faltam informação

sobre quais modelos existem e vêm sendo praticados, qual a prevalência de utilização desses modelos

pelo país, quais são os pontos fortes e frágeis de cada modelo, o grau de recomendação e os fatores

que levam a escolha de um modelo em detrimento dos outros. Diante da contínua expansão das vagas

de PRMs em MFC e da possibilidade dos programas de residência nessa especialidade comporem

uma das estratégias de provimento de médicos em áreas de baixa retenção13

, torna-se cada vez mais

necessária a busca de respostas a essas perguntas.

O objetivo dessa revisão foi identificar e categorizar os modelos de preceptoria em Residência de

MFC no cenário de aprendizagem da APS, associado a identificação de fortalezas e fragilidades

desses modelos.

MÉTODOS

Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, caracterizada por uma busca sistematizada de

estudos a partir de critérios claros de inclusão e exclusão, estes estudos podem ter diferentes desenhos

metodológicos, permitindo uma síntese do estado do conhecimento do assunto em questão. O revisor

deve apresentar claramente os resultados dos estudos incluídos, bem como avaliar criticamente a

validade metodológica destes39

.

Os critérios de inclusão foram: artigos que descrevessem a preceptoria em residência em MFC;

estudos em língua portuguesa, inglesa ou espanhola. Os critérios de exclusão foram: artigos que

descrevessem preceptoria de outros níveis de treinamento que não Residência; artigos que

descrevessem a preceptoria de outros PRMs que não fosse em MFC; trabalhos que se referissem a

um mesmo estudo.

Estratégia de busca

Page 32: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

32

A busca foi realizada nas seguintes bases de dados eletrônicos: Medline, LILACS e Scielo. Foi feita

consulta ao Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde, disponível e

ao Medical Subject Heading (MeSH), disponível em, a fim de realizar desambiguação dos termos,

tendo sido utilizados: "Family Practice", "Preceptorship" e "Residency". As buscas foram realizadas

no período entre 20/02/2019 e 07/09/2019. A revisão foi ampliada a partir de uma busca detalhada

em todos os números e volumes disponíveis online de duas revistas nacionais de relevância no tema

da área dessa revisão: a Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (RBMFC) e a

Revista Brasileira de Educação Médica (RBEM). Não houve limite para data de publicação. As

buscas foram realizadas por um dos autores desta revisão.

Seleção dos artigos

A seleção dos artigos encontrados a partir da pesquisa nas bases eletrônicas deu-se inicialmente pela

exclusão de duplicidades dentro da própria base de dados. Em seguida os artigos foram selecionados

a partir da leitura do título, posteriormente pela leitura do resumo. Na etapa seguinte, a seleção era

finalizada com a leitura do texto na íntegra. Os artigos que apareceram em duplicidade entre as bases

de dados também foram excluídos.

A busca ampliada em todos os números disponíveis online das revistas RBEM e RBMFC se deu a

partir da leitura do título dos artigos nos sumários de cada volume das revistas. A etapa seguinte de

seleção ocorreu a partir da leitura do resumo, seguida da leitura do texto na íntegra. Para aqueles

artigos que não possuíam resumo foi feita seleção a partir da leitura do texto na íntegra. Por fim foram

excluídos os textos que apareceram em duplicidade nesta estratégia e na estratégia de busca por

descritores. Também foram excluídos aqueles trabalhos que se referiam aos dados de uma mesma

pesquisa.

Análise dos dados

Dos artigos incluídos na revisão foram extraídos elementos que descrevessem o modo de inserção

dos residentes e preceptores de PRMs em MFC em equipes de APS, que compreendesse o estágio

longitudinal de APS desses programas. Foram extraídas, para fim de caracterização do modelo de

preceptoria, as seguintes características: a) o vínculo do preceptor à unidade de saúde; b) se o

preceptor compõe uma equipe de APS; c) se o preceptor está vinculado a mais de uma equipe de

APS; d) se o residente compõe equipe sozinho; e) quem pratica majoritariamente assistência à saúde

nessas equipes: residentes, preceptores ou ambos; f) a que instituição o preceptor está vinculado: de

Page 33: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

33

ensino ou assistencial; g) fortalezas e fraquezas do modelo de preceptoria adotado; h) proporção de

residentes por preceptor; i) se existe complementação financeira da bolsa do residente; j) a instituição

que mantém o programa e sua localização. A partir destas características foram categorizados os

modelos de preceptoria em estágio longitudinal de APS de PRMs em MFC. Por fim, foi avaliada a

qualidade metodológica dos estudos incluídos nesta revisão.

Aspectos éticos

Considerando a Resolução no 510, de 7 de abril de 2016, que dispensa de registro nos sistemas dos

Comitês de Ética em Pesquisa e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa aquelas pesquisas

realizadas exclusivamente com textos científicos para revisão da literatura científica, esta pesquisa

não foi submetida a apreciação ética.

RESULTADOS

A busca nas bases de dados a partir de descritores padronizados retornou 34 resultados, destes três

foram excluídos por duplicidade. A leitura dos títulos e resumos excluiu 21 artigos. Os dez artigos

restantes foram lidos na íntegra, sendo excluídos seis estudos. Quatro artigos foram incluídos na

revisão final (Figura 1). As buscas foram ampliadas para uma estratégia de busca manual, focando

nas revistas nacionais mais correlatas ao tema desta revisão. Foram lidos os títulos de todos os

trabalhos publicados e disponíveis online nas revistas RBMFC e RBEM, sem limite de data de

publicação. Essa busca retornou 43 títulos, dos quais foram excluídos 31 a partir da leitura do resumo

e/ou do texto na íntegra. Um trabalho foi excluído por apresentar duplicidade com as buscas

realizadas nas bases de dados eletrônicas. Apenas um trabalho apareceu nas duas estratégias de busca,

porém ele se referia a dados de uma mesma pesquisa, publicada anteriormente, que já havia sido

incluída nesta pesquisa a partir das buscas nas bases de dados, sendo por isso excluído, resultando

dez trabalhos desta estratégia ampliada. Ao todo foram incluídos 14 artigos nesta revisão integrativa,

suas principais características estão sumarizadas no Quadro 1.

Figura 1. Diagrama das estratégias de busca integradas utilizadas nessa revisão: à esquerda

Buscas nas bases de dados Medline, LILACS e Scielo utilizados os termos "Family Practice",

"Preceptorship" e "Residency"; à direita Busca ampliada nos números disponíveis online das

revistas RBMFC e RBEM.

Page 34: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

34

A maioria dos artigos selecionados para esta revisão foram publicados nos últimos cinco anos, apenas

um artigo foi publicado há mais tempo. Com relação ao desenho metodológico, apenas três se referem

a artigos de pesquisa: dois estudos exploratório-descritivos de abordagem qualitativa; e um ensaio

teórico-reflexivo. A metodologia dos demais estudos eram: seis relatos de experiências de PRMs em

MFC, quatro entrevistas realizadas pela RBMFC com coordenadores de programas de residência,

publicadas em um número especial da revista dedicado à Residência em MFC, um era uma versão

adaptada, para este mesmo número especial da RBMFC, de um documento institucional da SBMFC

de 2005 (Quadro 1)5,37,38,40–50

.

Com relação aos objetivos destes estudos, apenas três deles traziam claramente como objetivo

analisar e/ou descrever as atividades da preceptoria38,44,46

; os outros estudos objetivaram: descrever

de forma geral a experiência de seus programas5,37,41

; relatar a experiência na construção de

currículos42

; pensar em estratégias de expansão de vagas de residência em MFC40,45

; as entrevistas47–

50 não traziam explícito quais eram seus objetivos (Quadro 1).

Page 35: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

35

A maioria dos artigos incluídos nesta revisão se referiam a apenas um programa de residência cada.

Quatro artigos se referiam ao PRM em MFC da secretaria municipal de saúde do Rio de

Janeiro44,46,47,50

; três tratavam do PRM em MFC na Universidade de São Paulo (USP)37,42,43

. Dois

artigos abordaram as características de mais de um PRM ao mesmo tempo: o estudo de Storti MMT

et al (2017)45

abordou as características de seis PRMs mantidos por secretarias municipais de saúde

de diversas regiões do país e o estudo de Sarti TD et al (2018)5 os de três instituições diferentes em

um mesmo município. A publicação de Rodrigues RD et al (2016)40

trata-se de uma versão adaptada

de documento institucional de 2005 da SBMFC no intuito de tecer recomendações sobre estratégias

de expansão de PRMs em MFC em todo o país.

Construção dos Modelos de Preceptoria

Para a construção de modelos de preceptoria em estágio longitudinal de APS nas Residências em

MFC, foram extraídas características que se repetiam nos relatos sobre a condução da preceptoria nos

estudos incluídos. Estes dados estão sumarizados no Quadro 2. São eles:

1) Modo de vinculação do preceptor a unidade de saúde e/ou equipes de saúde: os preceptores na

maior parte das vezes estavam vinculados a apenas uma unidade de APS, mas poderiam estar

vinculados a mais de uma equipe. No programa da SMS do Rio de Janeiro o modelo preconiza que o

preceptor se vincule a duas equipes de uma mesma unidade de saúde; em João Pessoa no PRM da

UFPB existe um preceptor por unidade de saúde, com quatro equipes de saúde da família em cada

unidade de saúde; na proposta de Rodrigues RD et al (2016)40

, visando a expansão dos PRMs em

MFC existe a previsão de um mesmo preceptor estar vinculado a mais de uma unidade, portanto a

mais de uma equipe, desde que estas unidade sejam geograficamente próximas e que configure uma

exceção;

2) Vinculação do residente a equipe e se este compõe equipe sozinho: em todos os modelos descritos

foi possível verificar que os residentes se vinculam a apenas uma equipe de APS, mas existe uma

diferença na composição: naqueles programas em que o preceptor se vincula a mais de uma equipe o

residente compõe equipe sozinho, ou a divide com outro residente, ficando responsável pela

assistência à saúde daquela equipe;

3) Assistência à saúde prestada majoritariamente por residente e/ou preceptor: naqueles programas

onde o preceptor se vincula a uma única equipe o médico de referência daquela equipe é o próprio

Page 36: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

36

preceptor, exercendo assim uma função assistencial em conjunto com os residentes que estão sob sua

supervisão, diferente dos modelos onde o residente compõe equipe;

4) Vínculo de trabalho do preceptor (se à instituição responsável pela assistência à saúde ou à

instituição de ensino responsável pelo programa): em todos os casos onde foi possível extrair essa

informação, o vínculo do preceptor é com a instituição assistencial; vale destacar que em muitos casos

a própria instituição assistencial é a instituição de ensino responsável pelo PRM;

5) Proporção de residentes por preceptor: existiu uma variabilidade de 1:1 até 4:1;

6) Complementação financeira da bolsa dos residentes: nos modelos em que o preceptor se vincula a

mais de uma equipe e que, portanto, os residentes compõem equipes de APS sozinhos ou em

companhia de outro residente, foi verificada a complementação financeira da bolsa do residente.

Naqueles programas onde o médico de referência da equipe é o preceptor foi verificado que a bolsa

dos residentes ora era complementada, ora não era complementada;

8) Localização e instituição responsável pelo programa: oito estudos se referiam a PRMs da região

sudeste, três se referiam a programas da região sul e apenas um artigo se referia a um estudo feito

com programas da região nordeste. A instituição que mantém o programa de residência (se de ensino

superior pública ou privada, ou se assistencial pública ou privada) não parece ser determinante no

modelo de preceptoria adotado.

A partir da identificação da instituição que oferta o PRM e da cidade onde é sediado foi possível

agrupar os estudos - para isso o estudo de Storti MMT et al (2017)45 foi dividido em três para ser

reagrupado com os estudos individuais de cada PRM; foi possível aglutinar os dados sobre as

características descritas e identificar modelos de preceptoria para cada PRM, os quais foram

representados esquematicamente no Quadro 2. O documento Rodrigues RD et al (2016)40

, não

correspondia a nenhum programa específico, mas também resultou na caracterização de um modelo

diferente; com esse processo foi possível caracterizar sete modelos de preceptoria distintos (Quadro

2). As características que foram mais determinantes para identificação dos modelos de preceptoria

são aquelas relacionadas ao modo de vinculação dos preceptores às equipes e unidades de APS e a

assistência à saúde resultante dessa vinculação (se pelo preceptor ou residente), bem como a presença

de residente compondo equipe (em todos os artigos os residentes se vinculavam a apenas uma equipe).

Essas características foram destacadas nas cores lilás e azul no Quadro 2 para melhor visualização.

Page 37: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

37

A partir destes sete modelos iniciais, e do agrupamento dessas características da preceptoria, foi

possível estabelecer três categorias de modelos preceptoria: 1) Preceptor de Unidade, caracterizada

pela presença do preceptor na mesma unidade de saúde de APS em que está o residente, mas o

preceptor não está vinculado a uma só equipe, e não compõe a mesma equipe do residente; 2)

Preceptor de Equipe, nesta categoria o preceptor é o médico de referência da equipe e os residentes

se inserem nesta equipe (também conhecido por modelo tradicional); e 3) Preceptor de Campo:

nesta categoria o preceptor não está vinculada a apenas uma equipe ou unidade, ele supervisiona

residentes em mais de uma unidade de saúde, portanto em mais de uma equipe, os autores ressaltam

que este deve ser um modelo de exceção e salvaguardada a proximidade entre unidades de saúde.

(Quadro 2).

Page 38: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

38

Quadro 1.

Título Publicação Autores Objetivo Metodologia Estratégia de busca

Preceptoria em Medicina de Família e

Comunidade: desafios e realizações

em uma Atenção Primária à Saúde em

construção. 37

Ciência & Saúde

Coletiva, 22(3),

737–46. (2017)

Izecksohn, M. M. V., Teixeira

Junior, J. E., Stelet, B. P., &

Jantsch, A. G.

Relatar as experiências de formação em MFC no município do Rio de Janeiro entre os

anos 2008 e 2016, tendo como objeto de reflexão o desenvolvimento da preceptoria

no âmbito da especialização médica.

Relato de experiência Bases de dados

A expansão de vagas de residência

de Medicina de Família e Comunidade

por municípios e o Programa Mais

Médicos. 38

Interface:

Communication,

Health, Education, 21,

1301–13.

(2017)

Storti, M. M. T., de Oliveira, F.

P., & Xavier, A. L.

Identificar estratégias para criação ou expansão de vagas de seis PRMs em MFC

promovidas por gestores municipais que podem contribuir para a universalização de

vagas de residência médica e para o provimento em longo prazo de médicos

propostos pelo PMM

Pesquisa qualitativa exploratória Bases de dados

Estudos dos Programas de

Residência Médica em Medicina de

Família e Comunidade: a questão da

preceptoria. 39

Dissertação (Mestrado)

– Escola Nacional de

Saúde

Pública Sergio Arouca.

(2014)

Castells, M. A.

Descrever a preceptoria de programas de residência em MFC do município do Rio de

Janeiro, com base na percepção do preceptor sobre a sua agenda de trabalho e

sobre as suas atribuições.

Estudo exploratório-descritivo,

abordagem quanti e qualitativa; Grupo

focal e aplicação de questionário com

perguntas fechadas. Análise de

conteúdo

Bases de dados

Proposta de um Programa para a

Formação do Residente em Medicina

de Família e Comunidade. 35

Revista Brasileira de

Educação Médica,

32(1), 40–48. (2008)

Rodríguez, C. A., Cassias, A. L.

de, & Kolling, M. G.

Oferecer uma proposta de programa para a formação do RMFC inserido no PSF e

onde se integra o processo formativo ao assistencial por meio da formação em serviço,

entrelaçando a Faculdade de Medicina com os órgãos responsáveis pela saúde e pela

formação do residente

Ensaio teórico-reflexivo Ampliada

Desafios para a expansão de

programas de residência em Medicina

de Família e Comunidade: a

experiência carioca 40

Revista Brasileira de

Medicina de Família e

Comunidade, 10(34),

1–9. (2015)

Junior, J. C. P.Entrevista realizada pela RBMFC explora como a gestão municipal do Rio de Janeiro

vem conseguindo preencher número expressivo de postos de treinamento em MFC.Entrevista Ampliada

O Programa de Residência em

Medicina de Família e Comunidade do

município de Curitiba 41

Revista Brasileira de

Medicina de Família e

Comunidade, 9(30),

300. (2014)

Poli Neto, P.

Entrevista realizada pela RBMFC. A principal temática abordada foi a formação em

Medicina de Família e Comunidade e a importância dessa especialidade médica para

a expansão e qualificação da APS em Curitiba.

Entrevista Ampliada

O Programa de Residência em

Medicina de Família e Comunidade do

município de Florianópolis. 42

Revista Brasileira de

Medicina de Família e

Comunidade, 9(30),

300. (2014)

Lermen Junior, N.

Entrevista realizada pela RBMFC. A principal temática abordada foi a formação em

Medicina de Família e Comunidade e a importância dessa especialidade médica para

a expansão e qualificação da APS em Florianópolis.

Entrevista Ampliada

O Programa de Residência em

Medicina de Família e Comunidade do

município do Rio de Janeiro. 43

Revista Brasileira de

Medicina de Família e

Comunidade, 9(30),

67. (2014)

Soranz, D. R.

Entrevista realizada pela RBMFC. O tema da entrevista foi a formação em Medicina de

Família e Comunidade e sua importância para a expansão e qualificação da APS no

município do Rio de Janeiro.

Entrevista Ampliada

A implementação de Programas de

Residência Médica em Medicina de

Família e Comunidade em uma capital

da Região Sudeste, Brasil: relato de

experiência. 5

Revista Brasileira de

Medicina de Família e

Comunidade, 13(40),

1–12. (2018)

Sarti, T. D., Dala, M., Dalla, B.,

Mara, S., Bof, S., Cristina, S., &

Cruz, D. S.

Discutir o processo de implantação de três PPRMs em MFC em uma capital da Região

Sudeste do Brasil na perspectiva da interface dos programas com a organização do

sistema de saúde local

Relato de experiência Ampliada

Bases para expansão e

desenvolvimento adequados de

programas de Residência em Medicina

de FamÌlia e Comunidade. 44

Revista Brasileira de

Medicina de Família e

Comunidade, 3(11),

180. (2016)

Rodrigues, R. D., Anderson, M.

I. P., Bourget, M. M. M., Dalla,

M. D. B., & Castro Filho, E. D.

de.

Colaborar para que novos e antigos programas de RMFC se desenvolvam com base

em uma estrutura programática e didático-pedagógica coerente e qualificada

Versão adaptada, para número

suplementar da RBMFC, do documento

original da SBMFC, editado em 2005,

sob o mesmo título.

Ampliada

Residência em medicina de família e

comunidade: construindo redes de

aprendizagens no SUS. 45

Revista Brasileira de

Medicina de Família e

Comunidade, 13(40),

1–8. (2018)

Soares, R. D. S., Oliveira, F. P.

de, Melo Neto, A. J. de,

Barreto, D. D. S., Carvalho, A.

L. B. de, Sampaio, J., &

Figueiredo, A. M. De.

Analisar aspectos organizacionais e pedagógicos de um Programa de Residência em

Medicina de Família e ComunidadeRelato de experiência Ampliada

Quadro 1. Caracterização dos artigos sobre preceptoria incluídos nesta revisão integrativa e estratégia de busca a partir da qual foram identificados.

Page 39: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

39

Quadro 1.

Título Publicação Autores Objetivo Metodologia Estratégia de busca

Quadro 1. Caracterização dos artigos sobre preceptoria incluídos nesta revisão integrativa e estratégia de busca a partir da qual foram identificados.

Preceptoria na Residência de Medicina de Família e Comunidade da Universidade de São Paulo: políticas e experiências. 26

Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 13(40), 1–8. (2018)

Garcia, A. P., Cadioli, L. M., Lopes Júnior, A., Gusso, G., & Valladão Júnior, J. B. R.

Compartilhar as políticas institucionais e experiências de preceptoria em nosso programa de residência médica, bem como apontar as múltiplas adversidades existentes e possíveis formas de enfrentamento

Relato de experiência Ampliada

O Currículo de Competências do Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 46

Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 13(40), 1–16. https://doi.org/10.5712/rbmfc13(40)1602. (2018)

Machado, L. B. M., Marques, C. C., Rodrigues, L., Sperling, S., Machado, N. C., Gusso, G. D. F., & Valladão Jr., J. B. R.

Apresentar os passos adotados para a construção de um currículo de competências dentro do programa de residência em medicina de família da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; descrever características e diretrizes fundamentais do currículo de competências relacionadas aos seus três atributos centrais: ferramentas de aprendizado, metodologias docentes e processos avaliativos; e, por fim, descrever comparações do uso de instrumentos de avaliação pelo nosso programa de residência e outras experiências na literatura

Relato de experiência Ampliada

Experiências com estágios externos na Residência de Medicina de Família e Comunidade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 47

Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 13(40), 1–7. (2018)

Liu, G. K. H., Pontes, M. V. C. G. de, Silva, K. V., Mandia, T. M., Silva, B. L. de S. e, & Valladão Júnior, J. B. R.

Descrever o perfil de estágios externos realizados pelos médicos residentes no programa de residência em Medicina de Família e Comunidade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Relato de experiência Ampliada

Page 40: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

40

Autores Localização Programa

Preceptor vinculado à unidade de saúde?

Preceptor compõe uma equipe de APS?

Preceptor vinculado a mais de uma equipe de APS?

Residente (s) compõe equipe sozinho?

Assistência à saúde praticada majoritariamente por preceptor ou residente?

A que instituição o preceptor está vinculado: de ensino ou

Proporção de residente por preceptor

Existe complementação financeira da bolsa do residente?

Modelo esquemático de preceptoria por programa de residência

Categorias de Modelos de Preceptori Fortalezas e Fraquezas dos modelos categorizados

Soranz DR (2014) sim não sim (2) sim residente assistencial 4:1 simCastells MA (2014) sim não sim (2) sim residente assistencial 4:1 sim

Junior JCP (2015) sim não sim (2) sim residente assistencial

2:1depois4:1 sim

Izecksohn MMV et al (2017) sim N/D N/D N/D residente N/D 4:1 N/D

Soares RDS et al (2018)

João Pessoa (PB)

IES Pública (UFPB) sim não

sim(4) sim residente Assistecial 4:1 sim

Garcia A et al (2018) sim sim não não ambos Assistencial ? N/DMachado LBM et al (2018) sim sim não não ambos Assistencial

1:1ou2:1 N/D

Liu GKH et al (2018) sim sim não não

ambos(pricipalmente preceptor) Assistencial

1:1ou2:1 N/D

Rodrígues CA et al (2008)

IES Privada (PUC PR) sim N/D N/D não N/D N/D 2:1 N/D

Storti MMT et al (2017) N/D N/D N/D N/D N/D assistencial 1:1 não

Poli Neto P (2014) sim sim não não ambos assistencial 1:1 não

Storti MMT et al (2017) N/D N/D N/D N/D N/D assistecial 1:1 Sim

Lemern Junior N (2014) sim sim não não ambos assistencial 1:1 sim

Assistencial privada (Unimed) sim sim não não ambos assistencial 1:1 não

Quadro 2. Modelos de preceptoria nos programas de residênica, identificados a partir das caracterísitcas da preceptoria descritas nos artigos, agrupados em Categorias, a partir das caracterísitcas de vinculação dos preceptores a Unidades e Equipes de Saúde, e identificção de Fortalezas e Fraquezas em cada uma das categorias identificadas.

Fortalezas: possibilitou expandir a APS dos municípios com qualidade. A inserção de vários residentes em uma mesma USF (média de quatro residentes) junto com um preceptor, potencializando o processo de educação permanente junto às equipes. Fraquezas: proporção de um preceptor para quatro residentes propicia cenário de intranquilidade e desorganização, inclusive das atividades pedagógicas. O preceptor não estar ligado diretamente à assistência pode gerar uma "perda da identidade de médico". A falta de clareza de suas atribuições contribuiu com a desorganização do processo de trabalho desse profissional, desviando o preceptor do lugar do ensino em serviço.Ser um ‘regulador’ da pressão por demanda de atendimento médico sofrida pelo residente.

Fortalezas: o preceptor é a principal referência para aquela população, garantindo continuidade do cuidado, mesmo em situações de ausência do residente. Preceptoria presente em tempo integral, relação próxima ao residente (férias, estágios externos). Modelo também repetido em programas de residência de países com sistemas de saúde orientados pela APS. Fraquezas: Sobrecarga de trabalho do preceptor, que possui agenda assistencial e precisa supervisionar o residente. Falta de consultório para atendimento para todos os residentes.

Preceptor de Unidade

Preceptor de Equipe

Florianópolis (SC) SMS

Vitória (ES)

Rio de Janeiro (RJ) SMS

São Paulo (SP)

IES Pública (USP)

Curitiba (PR) SMS

Sarti TD (2018)

Unidade de Saúde

Equipe Equipe Equipe Equipe

Unidade de Saúde

Equipe Equipe Equipe

Unidade de Saúde

Equipe EquipeEquipe Equipe

Unidade de SaúdeEquipe Equipe Equipe

Unidade de Saúde

Equipe Equipe Equipe

Unidade de Saúde

Equipe Equipe Equipe

Unidade de Saúde

Equipe Equipe Equipe

Page 41: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

41

Autores Localização Programa

Preceptor vinculado à unidade de saúde?

Preceptor compõe uma equipe de APS?

Preceptor vinculado a mais de uma equipe de APS?

Residente (s) compõe equipe sozinho?

Assistência à saúde praticada majoritariamente por preceptor ou residente?

A que instituição o preceptor está vinculado: de ensino ou

Proporção de residente por preceptor

Existe complementação financeira da bolsa do residente?

Modelo esquemático de preceptoria por programa de residência

Categorias de Modelos de Preceptori Fortalezas e Fraquezas dos modelos categorizados

Quadro 2. Modelos de preceptoria nos programas de residênica, identificados a partir das caracterísitcas da preceptoria descritas nos artigos, agrupados em Categorias, a partir das caracterísitcas de vinculação dos preceptores a Unidades e Equipes de Saúde, e identificção de Fortalezas e Fraquezas em cada uma das categorias identificadas.

IES Pública (UFES) sim sim não não ambos assistencial 2:1 não

IES Privada sim sim não não ambos assistencial 4:1,5 não

não

não (preceptoria em mais de uma unidade) sim sim residente N/D N/D N/D

Preceptor de Campo

*A preceptoria é uma atividade eminentemente presencial, sobretudo, no que toca às práticas de consultório, considerando-se em caráter de exceção algumas situações específicas. Mesmo nesses casos que fogem à regra não se pode dispensar a preceptoria presencial em grande parte das atividades desenvolvidas pelo residente.Parece aceitável em algumas circunstâncias, que um mesmo especialista compartilhe a preceptoria de residentes em unidades muito próximas, mas não se pode aceitar transgressão a norma sobre proporção entre o número de residentes e preceptores.

sim N/D N/D N/D N/D N/D N/D N/D Impossível definirSão Bernardo do Campo (SP) SMS N/D N/D N/D N/D N/D assistecial 1:1 sim impossível definirPalmas (TO) SMS N/D N/D N/D N/D N/D assistecial 2:1 sim impossível definir

impossível definirimpossível definir

Unidade de Saúde de Atenção PrimáriaEquipes de APSLegenda dos modelos esquemáticos Preceptor Residente Equipes sob responsabilidade de um preceptor

Fortalezas: o preceptor é a principal referência para aquela população, garantindo continuidade do cuidado, mesmo em situações de ausência do residente. Preceptoria presente em tempo integral, relação próxima ao residente (férias, estágios externos). Modelo também repetido em programas de residência de países com sistemas de saúde orientados pela APS. Fraquezas: Sobrecarga de trabalho do preceptor, que possui agenda assistencial e precisa supervisionar o residente. Falta de consultório para atendimento para todos os residentes.

LegendaN/D: Não descrito * Por se tratar de uma proposta não foram identificados as fortalezas e fraquezas, aqui estão descritas as prerrogativas para a adoção deste modelo.

Sem categoria

Preceptor de Equipe

Vitória (ES)

Recife (PE) SMS

Versão adaptada de um documento institucional de mesmo nome da SBMFC de 2005, são diretrizes e propostas para todo o país

Rodrigues RD et al (2016)

N/D assistecial 2:1 não

Sarti TD (2018)

Storti MMT et al (2017) N/D N/D N/D N/D

Unidade de Saúde

Equipe Equipe Equipe

Unidade de SaúdeEquipe Equipe Equipe

40h20h

Unidade de Saúde

Equipe Equipe EquipeUnidade de Saúde

Equipe

Equipe

Equipe

Page 42: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

42

DISCUSSÃO

O estágio de APS desempenha um papel central na formação do residente. Apesar disso essa

modalidade de preceptoria parece ser tema recente de estudo científico, a busca de evidências para

essa revisão nas bases de dados encontrou poucos resultados e teve que ser ampliada para uma busca

manual, o que parece ter ocorrido porque o tema central dos trabalhos encontrados se concentra em

outros aspectos da residência. Em apenas três dos artigos incluídos o objetivo do trabalho era tratar

da questão da preceptoria.

Fortalezas e fraquezas

É importante destacar que, em todos estudos em que pode ser identificado, independente da natureza

da instituição mantenedora do programa de residência, a vinculação trabalhista dos preceptores é com

uma instituição responsável por prestar assistência à saúde, notadamente, secretarias municipais de

saúde. São preceptores que trabalham para a municipalidade (com diferentes formas contratuais) em

unidades de saúde de APS municipais, enquanto o programa de residência poderia ser dessa

instituição, ou de uma instituição de ensino parceira. Essa peculiaridade das residências em MFC se

deve ao fato que a APS brasileira no SUS está organizada a partir dos municípios, que a princípio

não tinham um caráter formativo. Esta é uma mudança recente na regulamentação da CNRM que

começou a prever a oferta de PRMs e criação de comissões de residências médicas (COREMEs) em

secretarias municipais e estaduais de saúde, antes essa prerrogativa era apenas de hospitais

universitários e os PRMs precisavam estar vinculados a um deles51. Até hoje, a maior parte dos

programas de residência médica de outras especialidades são ofertados pela mesma instituição que

mantém o serviço assistencial.

A oferta de programa de residência pode afetar diretamente o modo de trabalho do preceptor, muitas

vezes afetando seu modo de inserção em equipes de APS, a depender do modelo de preceptoria

adotado, o que pode comprometer a longitudinalidade do cuidado. Além disso, como viu-se, toda

essa mudança ainda se dá num contexto em que a instituição que oferta o programa pode ser diferente

daquela à qual o preceptor está vinculado, numa atividade que é muitas vezes não-remunerada, ao

contrário do que se recomenda internacionalmente25. Esse vínculo dos preceptores com os PRMs

muitas vezes se dá por ligação afetiva com o programa, de forma voluntária37. Boas estratégias de

integração ensino-serviço precisam ser pensadas para manter a sustentabilidade desses programas.

Page 43: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

43

Neste estudo, nas categorias Preceptor de Campo e Preceptor de Unidade, em que o preceptor não

compõe equipe de APS, sua função passa a ser predominantemente de ensino. Nos locais onde esse

modelo foi adotado, independente da instituição que oferta o programa, houve um forte investimento

da instituição assistencial (SMSs) para que os programas se tornassem sustentáveis41,45,47. Por

exemplo, no Rio de Janeiro o município oferece as mesmas condições a todos os programas de

residência, com complementação financeira de bolsa dos residentes de todos os programas, além de

oferecer preceptor e campo de prática, bem como bolsa aos preceptores. Em contrapartida, todos os

programas se comprometem a adotar o mesmo modelo de preceptoria proposto pelo município, que

busca a expansão de sua rede, com provisão de médicos a partir da residência e proporção de 4

residentes e duas equipes de saúde para um mesmo preceptor47. Do mesmo modo, em João Pessoa, a

secretaria municipal de saúde viabilizou estratégias como a edição de uma regulamentação52, a fim

de viabilizar o modelo adotado de quatro residentes, em quatro equipes, por preceptor, em uma

mesma unidade de saúde, onde todos os programas eram ofertados por instituições de ensino

parceiras41.

As ações de integração ensino-serviço precisam ser bem articuladas e planejadas, nessa perspectiva,

pois os modelos de preceptoria em que o preceptor não está mais inserido em uma equipe de saúde

analisados nessa revisão visavam a expansão de vagas associado a provisão de médicos para a APS

via PRM. Esses modelos ampliam a oferta de vagas com os preceptores existentes, mas, ao mesmo

tempo, expõe o sistema de saúde a uma alta rotatividade de médicos, bem como torna as unidades de

saúde campos de prática da residência dependentes da presença do residente. Sabe-se que o residente

tem outras atividades para além daquelas na unidade de APS, bem como temos uma dificuldade de

atração de residentes para ocupar as vagas de PRM em MFC6,22,34, de modo que, se o município que

oferta o PRM não preencher todas as vagas, corre o risco de não ter assistência em algumas de suas

equipes de saúde. Encontra-se correlação de pagamento de bolsa complementar ao residente

justamente nesses programas em que a residência faz ao mesmo tempo o papel formador e o papel de

provimento de médicos para a APS, em todos os programas onde o residente compunha equipe

sozinho e o preceptor havia sido deslocado, existia essa complementação de renda, provavelmente

para que o município não corra o risco de desassistência. No modelo em que o preceptor permanece

vinculado a sua equipe de saúde existiam a complementação poderia ou não ocorrer.

Para além do impacto na assistência, existe a preocupação com o papel que uma forte pressão

assistencial pode ter sobre o aprendizado do residente, quando esses estão ocupando equipes. Nos

estudos que relataram a experiência do Rio de Janeiro e João Pessoa41,44,46 era comum ver equipes

Page 44: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

44

sobrecarregadas de pacientes, inclusive contrariando a própria resolução da CNRM que prevê um

máximo de 2.000 pessoas por equipe quando o residente compõe equipe de Saúde da Família26.

Além disso, existem relatos que ao “livrar” o preceptor da demanda assistencial não se garante

necessariamente que ele preste suporte contínuo aos residentes, se não houver planejamento,

treinamento e definições claras de seu papel formador. Podem surgir demandas que atravessam sua

agenda, deixando os residentes sem supervisão e causando um sentimento de despersonalização

nesses profissionais. No estudo de Castells MA (2014)46 foi observado que a falta de organização da

agenda do preceptor para atividades docentes junto aos residentes fazia com que outras questões

surgidas na ordem do dia, na maior parte das vezes gerenciais, fossem assumidas pelo preceptor.

Mesmo em programas onde não existe mudança da vinculação do preceptor com a equipe de saúde,

alguns aspectos dessa articulação precisam ser discutidos. No caso das residências ofertadas no

município de Vitória/ES, o modelo de preceptoria e a proporção de residentes por preceptor variam

de acordo com a instituição que oferta esse programa, mas todos os preceptores são vinculados ao

município, existindo uma ameaça à isonomia entre os preceptores. Neste exemplo existe uma situação

paradoxal, uma instituição assistencial privada usa como campo de prática a rede assistencial pública

ao invés de sua própria rede, e os preceptores são servidores do município e não os médicos dessa

instituição. Ao município, cabe a gestão plena dos serviços que receberão os residentes, a elaboração

de políticas que dimensionem todo o arcabouço estrutural e assistencial no qual o residente será

inserido. São encontradas algumas fragmentações da gestão dos PRM, na integração ensino-serviço-

comunidade: são três COREMEs independentes, uma Escola Técnica do SUS municipal como

principal interlocutor da secretaria municipal de saúde, além de outras coordenações e setores que

dispõem de algum grau de autonomia na gestão de processos de trabalho na rede5. Por exemplo, foi

verificado que não existiam consultórios suficientes para todos os residentes, e é demandado ao

preceptor que mantenha uma rotina de atendimentos a sua população, deixando-o sobrecarregado, o

que pode prejudicar seu suporte ao residente5.

O modelo de preceptoria em mais de uma unidade de saúde, por ainda ser uma proposta, não trazia

essa avaliação de pontos fortalezas e fraquezas40. Os programas que adotavam a proporção de um

preceptor para um residente em uma mesma equipe43,48,49, reconheciam esse modelo como o modelo

ideal, por ser o modelo adotado em outros sistemas de saúde onde a residência em MFC está mais

estabelecida4,53 e porque garantiria a longitudinalidade do cuidado, sendo o melhor modelo para as

pessoas assistidas. Mas ainda não existem evidências suficientes para sustentar se esse modelo seria

o melhor no aspecto educacional.

Page 45: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

45

Não foi possível avaliar qual modelo possibilitaria ao preceptor realizar o maior número de

observações diretas de consultas; qual garante ao preceptor acompanhar a aquisição das competências

planejadas no currículo ou qual modelo garante possibilidades de realizar avaliações multifacetadas

com feedback adequado e contínuo, por exemplo.

Formação do preceptor enquanto educador

O que se pode perceber nos estudos dos três modelos identificados foi a necessidade de formação

docente dos preceptores para além da formação enquanto especialista em MFC5,40,44,46. O impacto do

modelo de preceptoria adotado parece ser diminuído se o preceptor não utiliza ferramentas de

ensinagem adequadas, tendo sua agenda atravessada e não prestando assistência adequada aos

residentes sob sua supervisão36,46. As diretrizes do WONCA recomendam que os programas de

residência devem desenvolver estratégias de treinamento de seus preceptores em habilidades

educacionais25.

A partir dessa perspectiva, diversas iniciativas foram tomadas para sanar essa lacuna. Desde 2005 a

SBMFC iniciou uma Oficina de Capacitação de Preceptores, seguida de Oficinas de Capacitação de

Multiplicadores40,54. O PRM da secretaria municipal de saúde do Rio de Janeiro realizou 10 edições

dos cursos de capacitação para a docência em MFC da Academia Europeia de Professores em

Medicina de Família (EURACT)44. Em 2015 foi publicada portaria para viabilizar a formação de

preceptores de Residências em MFC, visando a expansão das vagas desses PRMs27, o Plano Nacional

de Formação de Preceptores. Este plano prevê dois eixos de formação: ofertar cursos de

aperfeiçoamento em preceptoria para residentes de MFC e para médicos que já atuem enquanto

preceptores de PRMs, inclusive com o pagamento de bolsa-formação.

Expansão da residência e estratégia de provimento

O Brasil vem experimentando essa grande variedade de modelos de preceptoria em virtude da recente

expansão nas vagas e programas de residência em MFC, notadamente a partir de 201316. Essa

expansão, como viu-se, veio acompanhado de estratégias de provimento de médicos para a APS via

PRMs em MFC, especialmente naqueles modelos onde o residente compõe equipe e o preceptor se

vincula a mais de uma equipe. Vale a pena discutir este ponto neste momento pois, em documento

recente da SBMFC13 e, mais recentemente, uma carta assinada por um grande número de PRMs em

MFC e por entidades estaduais vinculadas à SBMFC55, propõe-se que os programas de residência

Page 46: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

46

atuem mais fortemente nesta provisão de médicos, mediante complementação de bolsa, visando a

manutenção da expansão das vagas de residência, no âmbito do Programa Médicos Pelo Brasil56.

A expansão parece ter sido bem-sucedida, hoje são 6.736 vagas (3587 de R1, 3.134 de R2 e 15 de

R3) distribuídas em 285 programas21–23. Falta uma discussão mais aprofundada para saber se a

estratégia de provisão de médicos de APS é benéfica. Como estratégia de transição, parece ter sido

efetiva, mas como verificado os residentes que compõem equipe nessa estratégia experimentam uma

grande pressão assistencial que não é benéfica para o aprendizado, o serviço fica dependente do

preenchimento de vagas dos programas de residência, além de gerar uma alta rotatividade dos

médicos nas equipes em virtude do curto período de atuação do médico residente na equipe (no

máximo dois anos), também existe o risco de os municípios não realizarem estratégia de provimento

e fixação de médicos efetivos nas equipes em virtude da provisão via PRMs; ao mesmo tempo, sabe-

se que os PRMs a longo prazo qualificam essa rede, seja porque seus preceptores quando bem

formados e dedicados a atividades de supervisão podem dar um suporte mais efetivo aos residente;

além disso programas de gestão municipal experimentaram uma expansão da cobertura de APS e

melhoria da infraestrutura das unidades de saúde45.

Limitações do estudo

Nesta revisão foi possível identificar um número variado de artigos, no entanto a qualidade

metodológica dos estudos incluídos não representam um elevado grau de evidência: apenas 3 artigos

se referiam a pesquisas originais, dessas duas eram estudos qualitativos exploratório-descritivos e um

era um ensaio teórico-reflexivo, os demais eram relatos de experiência, entrevistas e um documento

institucional. O estudo conseguiu representar 3 regiões do país, apesar de a maioria dos PRMs

representados ser da região sudeste, isso confere uma importante validade interna, mas limita a

validade externa pois a própria conformação da formação de especialistas via programa de residências

varia entre os países4,53,57,58. Por fim, outro fator limitante, é que as buscas não foram realizadas por

pares.

CONCLUSÕES

A grande variedade de modelos de preceptoria no estágio longitudinal de APS em PRMs em MFC

surgidos no Brasil parece ter sido motivada pela expansão das vagas e programas nos anos recentes,

associado a provisão de médicos na rede de APS via PRMs, num cenário com poucos preceptores.

Esta revisão conseguiu captar a experiência de 12 PRMs, grande parte da região sudeste do país,

Page 47: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

47

portanto é possível que existam outros modelos de preceptoria em uso nos 285 PRMs em MFC

autorizados a funcionar em todo o território nacional, mas que ainda não foram publicados.

Os modelos exercem influência na atenção à saúde das populações, na rotina de trabalho dos

preceptores e na qualidade da formação dos residentes. Com relação à esta última, a capacitação do

preceptor em ensinagem e o uso pelo preceptor dessas estratégias parecem ter um papel central na

qualidade da supervisão dos residentes, e o modelo de preceptoria adotado pode influenciar nas

oportunidades de aplicação dessas estratégias.

Os modelos de preceptoria parecem ter cumprido seu papel na expansão dos PRMs, mas é hora de

avaliar qual é o melhor modelo para equilibrar as demandas assistências da população e de

provimento de médicos para a APS, com as demandas educacionais para formar um Médico de

Família e Comunidade com qualidade.

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A grande variedade de modelos de preceptoria no estágio longitudinal de APS em PRMs em MFC

surgidos no Brasil parece ter sido motivada pela expansão das vagas e programas nos anos recentes,

associado a provisão de médicos na rede de APS via PRMs, num cenário com poucos preceptores.

Esta revisão conseguiu captar a experiência de 12 PRMs, grande parte da região sudeste do país,

portanto é possível que existam outros modelos de preceptoria em uso nos 285 PRMs em MFC

autorizados a funcionar em todo o território nacional, mas que ainda não foram publicados. Mais

pesquisas são necessárias para avaliar quais modelos estão sendo capazes de proporcionar melhor

aprendizado das competências necessárias à formação de um MFC com qualidade. Este grupo de

pesquisadores, está conduzindo um estudo de metodologia Delphi com o intuito de acessar estes

objetivos.

Os modelos exercem influência na atenção à saúde das populações, na rotina de trabalho dos

preceptores e na qualidade da formação dos residentes. Com relação à esta última, a capacitação do

preceptor em ensinagem e o uso pelo preceptor dessas estratégias parecem ter um papel central na

qualidade da supervisão dos residentes, e o modelo de preceptoria adotado pode influenciar nas

oportunidades de aplicação dessas estratégias. Como observado nesta revisão, diversas estratégias de

formação de preceptores estão sendo conduzidas, mas elas parecem estar sendo conduzidas de forma

independente, desarticulada, pois parece não existir um conjunto de objetivos educacionais comuns

e complementares, com estratégias multifacetadas, para o desenvolvimento docente continuado

desses preceptores. Sugere-se que o Plano Nacional de Formação de Preceptores seja reforçado nesse

sentido.

Os modelos de preceptoria parecem ter cumprido seu papel na expansão dos PRMs, mas é hora de

avaliar qual é o melhor modelo para equilibrar as demandas assistências da população e de

Page 54: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

54

provimento de médicos para a APS, com as demandas educacionais para formar um Médico de

Família e Comunidade com qualidade. Sendo a Residência Médica a modalidade educacional

“padrão-ouro” na formação de especialistas, está na hora de definirmos quais os parâmetros de

qualidade na formação em MFC, aliado a um sistema de verificação/acreditação desses PRMs,

figurando a preceptoria como elemento fundamental.

Page 55: MODELOS DE PRECEPTORIA DE RESIDÊNCIAS EM MEDICINA …

55

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