entrevista com luís rodolfo

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O agregador do marketing. 6 Agosto de 2011 www.briefing.pt Entrevista Catarina Caldeira Baguinho jornalista Programas culturais e música ao vivo são algumas das novidades que o aeroporto de Lisboa terá em 2012. Trata-se de um novo espaço comercial com muito potencial para as marcas. É que, como diz Luís Rodolfo, director de retalho da ANA, Aeroportos de Portugal, “os aeroportos são como uma montra espectacular e devem ser encarados como um novo canal de vendas” Ramon de Melo Aeroportos são uma montra Luís Rodolfo, director de retalho da ANA, Aeroportos de Portugal “Nos últimos quatro anos, crescemos, ao todo, mais de 30 por cento em receitas” Briefing | Como é a área de não-aviação de uma empresa que só é conhecida pela avia- ção? Luís Rodolfo | A não-aviação na ANA apareceu há 15 anos, mas foi nos últimos dez que se deu a grande aposta do conselho de administração. Os negócios não-aviação são cinco: o reta- lho, que representa cerca de 50 por cento, o estacionamento, a publicidade e o imobiliário (que são os terrenos da periferia dos aeroportos, das estações de serviços a hotéis) e ainda o rent-

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Entrevista com Luís Rodolfo

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Page 1: Entrevista com Luís Rodolfo

O agregador do marketing.6 Agosto de 2011

www.briefing.ptEntrevista

Catarina Caldeira Baguinhojornalista

Programas culturais e música ao vivo são algumas das novidades que o aeroporto de Lisboa terá em 2012. Trata-se de um novo espaço comercial com muito potencial para as marcas. É que, como diz Luís Rodolfo, director de retalho da ANA, Aeroportos de Portugal, “os aeroportos são como uma montra espectacular e devem ser encarados como um novo canal de vendas”

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Aeroportos são uma montraLuís Rodolfo, director de retalho da ANA, Aeroportos de Portugal

“nos últimos quatro anos, crescemos, ao todo, mais de 30 por cento em receitas”

Briefing | Como é a área de não-aviação de uma empresa que só é conhecida pela avia-ção?Luís Rodolfo | A não-aviação na ANA apareceu há 15 anos, mas foi nos últimos dez que se deu a grande aposta do conselho

de administração. Os negócios não-aviação são cinco: o reta-lho, que representa cerca de 50 por cento, o estacionamento, a publicidade e o imobiliário (que são os terrenos da periferia dos aeroportos, das estações de serviços a hotéis) e ainda o rent-

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Aeroportos são uma montra

“Até final de Junho deste ano,

crescemos, no total, 10 por cento face ao ano passado (mais

2 milhões de euros), sendo que, por

exemplo, em Lisboa, mais sete por cento e no Porto mais 36 por

cento”

“Afinal, os aeroportos são cartões de visita

do nosso país! Em Lisboa, o plano de

expansão total, que já dura há vários anos, é de 350 milhões de

euros”

-a-car, que no total contribuíram em 2010 para o volume de ne-gócios da ANA Aeroportos com cerca de 100 milhões de euros. Estas receitas não-aviação con-tribuem para tornar os aero-portos geridos pela ANA mais atractivos face a outros aero-portos estrangeiros, traduzindo--se em taxas mais competitivas, seja para as companhias aéreas seja para os passageiros.

Briefing | Em 2007, tinha três grandes objectivos: mudar de-finitivamente a imagem do re-talho do aeroporto, aumentar em 20 por cento as receitas com os passageiros e obter mais de sete milhões de euros de receitas. Foram consegui-dos?LR | Nos últimos quatro anos, crescemos, ao todo, mais de 30 por cento em receitas. Os ob-jectivos foram atingidos. Além disso, tivemos uma outra com-ponente mais qualitativa em que também crescemos: na avalia-ção de satisfação dos passagei-ros da responsabilidade do Air-port Council International (ACI), que abrange mais de 150 aero-portos no mundo inteiro, evolu-ímos nos sete critérios da área de retalho.

Briefing | Como têm evoluído as receitas na área do retalho?LR | Só num projecto em que foram investidos oito milhões de euros, cinco milhões dos quais da ANA e três milhões dos lo-jistas, aumentámos em 20 por cento a receita por passageiro. O payback deste investimento andou à volta dos dois anos. Conseguimos recuperar todo o investimento que a ANA e os lojistas fizeram. Até final de Ju-nho deste ano, crescemos, no total, 10 por cento face ao ano passado (mais dois milhões de euros), sendo que, por exemplo, em Lisboa, mais sete por cento e no Porto mais 36 por cento.

Briefing | Que investimentos estão previstos?LR | Em Lisboa, está em cons-

trução um projecto que vai ser inaugurado em 2012. É um con-junto que vai finalizar as obras do plano de expansão que de-signamos internamente de Praça Central, em que os passageiros vão ter a oportunidade de estar numa zona muito confortável com um ambiente muito agra-dável, uma atmosfera comercial relaxante. Vamos ter programas culturais, haverá um espaço de música ao vivo e de artesanato para dar a conhecer o que fa-zemos de bom em Portugal. No fundo, queremos trabalhar o con-ceito de Sense of Place/Sense of Uniqueness fazendo com que, tanto às partidas como às che-gadas, a recordação e experi-ência no aeroporto seja positiva e memorável e não apenas um lugar de passagem. Afinal, os aeroportos são cartões de vi-sita do nosso país! Em Lisboa, o plano de expansão total, que já dura há vários anos, é de 350 milhões de euros.No aeroporto de Faro, também temos um grande projecto de ampliação para 2016 que envol-ve desde novas acessibilidades, à zona da pista, até ao terminal, onde se insere a componen-te comercial, e que se justifica pelas receitas e pelo valor que acrescenta à viabilidade do pro-jecto. No Porto, o investimento que foi feito, e aí posso precisar porque foi só retalho, foi de dois mi-lhões de euros.

Briefing | Como promovem os espaços para os lojistas?LR | Além de termos uma equi-pa comercial que conhece bem o negócio, as marcas e a sua estratégia, é costume partici-parmos em feiras e conferências internacionais do sector. Temos ainda brochuras para cada aero-porto em que explicamos a po-tenciais parceiros o que é a ANA (missão, valores, posicionamen-to), qual é a cidade em questão, qual o perfil de passageiros, quais as facilidades do aeropor-to e qual é o projecto comercial em causa. Há uma coisa que

“Agora as marcas e os retalhistas portugueses estão a entender melhor a importância deste canal e, a pouco

e pouco, estão a investir. Como exemplo, iremos abrir em breve no

Porto a marca Lanidor e Parfois”

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digo sempre, especialmente, às marcas portuguesas: os ae-roportos são como uma mon-tra espectacular para o mundo inteiro daquilo que melhor fa-zemos e devem ser encarados também como um novo canal de vendas - o travel retail, que continuará a crescer nos próxi-mos anos.

Briefing | As marcas portugue-sas ainda não compreendem bem este canal?LR | Há dois anos, no projecto de remodelação comercial do Aeroporto do Porto, lançámos vários desafios e quase ne-nhuma marca portuguesa quis participar. Pelo contrário, mar-cas como a Carolina Herrera,

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Futura Praça Central do Aeroporto de Lisboa: um espaço de descontração com animação garantida

Foi aluno do Colégio Militar dos 10 aos 18 anos e, posterior-mente, ingressou no Instituto Superior Técnico, da Universidade Técnica de Lisboa, para estudar Engenharia e Gestão Industrial por ser o único curso daquela instituição com a componente de gestão e engenharia.Terminada a licenciatura, Luís Rodolfo entrou para o grupo Exxon, onde começou como representante de vendas das estações de serviço. “É engraçado porque a Exxon também tinha os fuels e os non-fuels; é como a aviação e a não-aviação. E eu na altura esta-va nos non-fuels. Agora na ANA estou também na não-aviação… essa tendência do ‘não’…”, diz, em tom de brincadeira. Ainda no mesmo grupo foi “expatriado”, como diz, para Paris, onde permaneceu por três anos na área de controlo de gestão e coordenação de projectos IT a nível europeu. De regresso a Portugal, o actual director de retalho da ANA Aeroportos abraçou uma nova área: o real estate business. Mas, na altura, a Exxon tinha comprado a Mobil e Luís achou que “já não era a mesma coisa”. Por isso, decidiu concorrer a um anúncio para director de desenvolvimento da Leroy Merlin, do grupo Adeo. A marca queria desenvolver o mercado português e foi a Luís Rodolfo que coube a tarefa de abrir duas lojas do grupo: uma em Almada, outra em Albufeira.Passados dois anos, em 2006, foi contactado para exercer a fun-ção que actualmente ocupa na ANA: director de retalho (lojas, restaurantes, bancos, serviços) em seis aeroportos. Aeroportos não eram, sem sombra de dúvidas, o seu forte. Na verdade, nem tinha nenhum de eleição, nem conhecia aquele que se viria a tor-nar o seu aeroporto português favorito: o Sá Carneiro, no Porto.

Do Colégio Militar aos aeroportos

PERFIL

a Adolfo Dominguez, Bimba y Lola e outras marcas espanho-las perceberam e aproveitaram a oportunidade que criámos! Mas, agora, as marcas e os re-talhistas portugueses estão a entender melhor a importância deste canal e, a pouco e pouco, estão a investir. Como exemplo, iremos abrir em breve no Porto a marca Lanidor e Parfois. Briefing | Quais são os próxi-mos desafios?LR | Há vários. Temos a avalia-ção dos passageiros pelo Airport Council International, as vendas por metro quadrado, venda por passageiro, a emoção/m2 que referi anteriormente… Além da futura Praça Central, em 2012,

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“Além da futura Praça Central, em 2012, no Aeroporto de Lisboa (com mais 30 novos espaços comerciais

e cerca de 300 novos empregos criados)

da operacionalização do conceito Loja de Portugal, temos um outro projecto que

vai entrar em Outubro deste ano: o airport

shopping online”

“A ANA tem agora uma estratégia online de comunicação às redes sociais, em ponte com a revista Livening, que é também uma peça do puzzle. Já estamos online mas vamos ter um novo site completamente reformulado”

Do Colégio Militar aos aeroportos

no Aeroporto de Lisboa (com mais 30 novos espaços comer-ciais e cerca de 300 novos em-pregos criados) da operacionali-zação do conceito Loja de Por-tugal, temos um outro projecto que vai entrar em Outubro deste ano: o airport shopping online. Vamos ter um site com uma ar-quitectura Web 2.0, toda ligada às redes sociais e à compra do e-commerce, que vamos iniciar, em Lisboa, com algumas lojas. Mais uma vez, tentamos facilitar a vida às pessoas. Anteriormente, tínhamos mi-lhões de pessoas que iam ao nosso site recolher informação de voo e não estávamos a renta-bilizar estes internautas ou a se-duzi-los. A ANA tem agora uma estratégia online de comunica-

levantar nas lojas ou podem le-vantar no regresso. É uma coisa nova que iniciámos este ano no Porto e vamos trazer também para Lisboa e outros aeroportos. Será para passageiros e, numa outra fase, para não passagei-ros.

ção às redes sociais, em ponte com a revista Livening, que é também uma peça do puzzle. Já estamos online, mas vamos ter um novo site completamente re-formulado A Livening é como um guia para os aeroportos, apresenta o mapa de cada um, diz que lojas exis-tem, as que vão abrir. Com a re-modelação da revista queremos criar conteúdos mais ricos, nos quais os leitores se interessem. Temos bloguistas conhecidos para diferentes tipos de clientes. Queremos ser mais abrangentes e institucionais, mais fun. A parte online tem que ver com o site, com as redes sociais e com o shopping online, em que onde as pessoas podem fazer com-pras antes de embarcar, podem