entrevista ao presidente da câmara de paços de ferreira

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ENTREVISTA O MUNICIPAL N.º 362 - Março/2011 ASSOCIAÇÃO DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS MUNICIPAIS e paroquiais. Temos ainda o projecto “Maio Movimento para a vida” que contempla caminhadas, aulas de aeróbica, fitness e Tchai-chi ao ar livre. “O Municipal” - Sabemos que têm sido criadas várias “áreas de lazer”, com o objecvo de congregar num mesmo espaço o verde, a água, os percursos pedonais, o convívio, o divermento infanl, entre outras acvidades, por todo o município. Qual tem sido a sua recepvidade junto da população? Pedro Pinto - Tem havido uma excelente recepvidade, porque este trabalho vai de encontro aos anseios da população, não só porque querem espaços para lazer, mas muito mais porque hoje grassa a preocupação com o bem-estar sico e estes espaços “O Municipal” - Ciente dos benecios da práca de exercício sico da população em geral, e da população Sénior, em parcular, quais as iniciavas da Câmara Municipal de Paços de Ferreira para dinamizar e mudar os hábitos da população? Pedro Pinto - A par da práca desporva federada, que conta com a parcipação de mais de 2.600 atletas federados em diversas modalidades, promovemos os jogos concelhios para toda a população com incidência nas diversas gerações e com a parcipação de todas as freguesias do concelho. Parcipam cerca de 3.000 pessoas. Temos o programa “Idade de reforma, idade de recuperar a forma” que contempla hidroginásca, fitness e aeróbica, entre outras, e envolve os idosos dos centros sociais PEDRO ALEXANDRE OLIVEIRA CARDOSO PINTO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PAÇOS DE FERREIRA PAÇOS DE FERREIRA Localizado no Distrito do Porto e sede de um pequeno município com 70,99 km² de área e cerca de 56.333 habitantes (2008), o concelho de Paços de Ferreira está dividido em 16 freguesias. Até ao liberalismo constuía o Couto de Paços de Ferreira, tornando-se concelho em 6 de Novembro de 1836 e elevado a cidade em 20 de Maio de 1993. Situado numa zona de planalto denominada “Chã de Ferreira”, Paços de Ferreira oferece uma bela vista panorâmica, já que, a parr daí, se consegue observar grande parte do concelho, nomeadamente a parte mais ocidental (Seroa e Serra da Agrela, Meixomil, Penamaior e Eiriz). Paços de Ferreira é uma cidade jovem e em transformação, observando-se nos úlmos anos que a outrora vila rural, formada por lugares e quintas, e casas granícas, têm vindo a transformar-se numa cidade moderna. Os vesgios dessa vila rural são já poucos, pois têm sido apagados ao longo dos tempos, tais como as angas Escolas Primárias (no local da actual Câmara Municipal), o ango posto da GNR e o ango Posto dos Correios, demolidos para dar lugar a construções mais recentes. Porém, por enquanto, é ainda possível observar algumas casas angas na cidade, tais como a Quinta das Uveiras (do século XIX), a Casa da Torre (quinta da família de D. Sílvia Cardoso, que contém uma capela datada de 1898), e a Casa de Coquêda (casa de brasileiro do início do século XX) que, embora já sem o esplendor de outros tempos, connuam a testemunhar o passado rural de Paços de Ferreira. (Fonte: wikipédia)

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Localizado no Distrito do Porto e sede de um pequeno município com 70,99 km² de área e cerca de 56.333 habitantes (2008), o concelho de Paços de Ferreira está dividido em 16 freguesias. Até ao liberalismo constituía o Couto de Paços de Ferreira, tornando-se concelho em 6 de Novembro de 1836 e elevado a cidade em 20 de Maio de 1993. Situado numa zona de planalto denominada “Chã de Ferreira”, Paços de Ferreira oferece uma bela vista panorâmica, já que, a partir daí, se consegue observar grande parte do concelho, nomeadamente a parte mais ocidental (Seroa e Serra da Agrela, Meixomil, Penamaior e Eiriz).

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Page 1: Entrevista ao Presidente da Câmara de Paços de Ferreira

e n t r e v i s t a

O MUNICIPAL N.º 362 - Março/2011

ASSOCIAÇÃO

DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

e paroquiais. Temos ainda o projecto “Maio

Movimento para a vida” que contempla

caminhadas, aulas de aeróbica, fitness e

Tchai-chi ao ar livre.

“O Municipal” - Sabemos que têm sido

criadas várias “áreas de lazer”, com o

objectivo de congregar num mesmo espaço

o verde, a água, os percursos pedonais,

o convívio, o divertimento infantil, entre

outras actividades, por todo o município.

Qual tem sido a sua receptividade junto da

população?

Pedro Pinto - Tem havido uma excelente

receptividade, porque este trabalho

vai de encontro aos anseios da população, não só porque

querem espaços para lazer, mas muito mais porque hoje

grassa a preocupação com o bem-estar físico e estes espaços

“O Municipal” - Ciente dos benefícios da

prática de exercício físico da população em

geral, e da população Sénior, em particular,

quais as iniciativas da Câmara Municipal de

Paços de Ferreira para dinamizar e mudar os

hábitos da população?

Pedro Pinto - A par da prática desportiva

federada, que conta com a participação

de mais de 2.600 atletas federados em

diversas modalidades, promovemos os

jogos concelhios para toda a população

com incidência nas diversas gerações e

com a participação de todas as freguesias

do concelho. Participam cerca de 3.000

pessoas. Temos o programa “Idade de reforma, idade de

recuperar a forma” que contempla hidroginástica, fitness e

aeróbica, entre outras, e envolve os idosos dos centros sociais

P e D R O A l e x A N D R e O l I V e I R A C A R D O S O P I N TO

P R e S I D e N T e D A C â M A R A M U N I C I PA l D e PA Ç O S D e F e R R e I R A

PAÇOS De FeRReIRA

Localizado no Distrito do Porto e sede de um pequeno município com 70,99 km² de área e cerca de 56.333 habitantes (2008),

o concelho de Paços de Ferreira está dividido em 16 freguesias.

Até ao liberalismo constituía o Couto de Paços de Ferreira, tornando-se concelho em 6 de Novembro de 1836 e elevado

a cidade em 20 de Maio de 1993.

Situado numa zona de planalto denominada “Chã de Ferreira”, Paços de Ferreira oferece uma bela vista panorâmica, já

que, a partir daí, se consegue observar grande parte do concelho, nomeadamente a parte mais ocidental (Seroa e Serra da

Agrela, Meixomil, Penamaior e Eiriz).

Paços de Ferreira é uma cidade jovem e em transformação, observando-se nos últimos anos que a outrora vila rural, formada

por lugares e quintas, e casas graníticas, têm vindo a transformar-se numa cidade moderna. Os vestígios dessa vila rural são

já poucos, pois têm sido apagados ao longo dos tempos, tais como as antigas Escolas Primárias (no local da actual Câmara

Municipal), o antigo posto da GNR e o antigo Posto dos Correios, demolidos para dar lugar a construções mais recentes.

Porém, por enquanto, é ainda possível observar algumas casas antigas na cidade, tais como a Quinta das Uveiras (do século

XIX), a Casa da Torre (quinta da família de D. Sílvia Cardoso, que contém uma capela datada de 1898), e a Casa de Coquêda

(casa de brasileiro do início do século XX) que, embora já sem o esplendor de outros tempos, continuam a testemunhar o

passado rural de Paços de Ferreira.(Fonte: wikipédia)

Page 2: Entrevista ao Presidente da Câmara de Paços de Ferreira

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O MUNICIPAL N.º 362 - Março/2011

ASSOCIAÇÃO

DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

apostámos na criação de uma rede de pólos empresariais com

vista à captação de investimento e ao incentivo à relocalização

de empresas. Para que os pólos fossem eficazes tivemos que

lançar uma rede de novas vias estruturantes e qualificar

muitas outras com extensão superior a 70km. Fomos o

primeiro Município do País, ao que se conhece, a lançar um

regulamento de incentivo ao investimento que é gerido pela

empresa municipal PFR-Invest. Até ao momento este projecto

já significou a criação de 2080 empregos já preenchidos. Nos

projectos conquistados destaca-se as três fábricas do grupo

Ikea. De 2004 para o ano de 2009, as exportações de Paços

de Ferreira cresceram 123% e neste período o volume de

negócios no concelho cresceu 85%.

“O Municipal” - Que análise faz da evolução das competências

e atribuições das autarquias locais?

Pedro Pinto - A cada passo e quando interessa aos governantes

e a alguns comentadores “políticos”, na maior parte dos casos

desconhecedores da realidade autárquica, as autarquias são

entendidas como essenciais no processo de desenvolvimento

e devem assumir mais competências e atribuições. Legisla-se

e logo na primeira oportunidade se contraria o que se disse

antes, reduz-se a responsabilidade da administração central,

reduzem-se as transferências e compromete-se a gestão

municipal. Assumo que as Câmaras Municipais podem e devem

continuar a assumir mais responsabilidades, mas tem que ser

com base em contratos firmes. A título de exemplo, fomos

incentivados/empurrados a assumir o pessoal não docente da

educação, foi prometido e contratado que haveria transferências

adequadas. É um facto que fazem as transferências financeiras

atempadamente, não as reduziram, mas reduziram as referentes

à participação dos Municípios nos impostos do estado… Não

tiraram de uma gaveta, mas tiraram de outra. Já tenho alguma

experiência para ficar céptico no que diz respeito a “negócios”

com os governos. Somos entendidos como um fardo para os

governos e para os governantes que não conhecem o País e

alteram as regras do jogo sem perceberem o impacto.

“O Municipal” - A propósito da reorganização da rede de

escolas do 1.º ciclo do ensino básico, que comentário faz sobre

o encerramento de algumas e a concentração dos alunos em

estabelecimentos de maior dimensão?

Pedro Pinto - O reordenamento da rede escolar do 1º ciclo e da

proporcionam o exercício. Não só se recuperam locais e zonas

degradadas e desqualificadas, como se proporcionam espaços

de qualidade e que fomentam uma vida saudável, o convívio

e o enraizamento da população. Neste momento estamos a

preparar o Parque Urbano de Paços de Ferreira, uma área de 20

ha no centro da cidade e a concluir a primeira fase do projecto

Centro Cívico de Frazão.

“O Municipal” - Com uma área de cerca de 16 mil m2 vai ser

construído o Centro Cívico de Ferreira. Quais os serviços que se

pretendem instalar nos dois edifícios que serão construídos?

Pedro Pinto - O Centro Cívico de Ferreira está construído desde

há cerca de cinco anos e permitiu qualificar a envolvente ao

Mosteiro de Ferreira, monumento nacional inserido na Rota do

Românico. Para além de espaços verdes e de lazer, dispõe de

auditório polivalente, bar e centro de informação da Rota.

“O Municipal” - Este é o segundo mandato como Presidente da

Câmara Municipal de Paços de Ferreira. Ao longo destes anos, à

frente dos destinos da autarquia local, pode salientar algumas

das iniciativas que lhe tenham dado especial prazer e orgulho

em realizar? Que outros projectos gostava de ver concluídos?

Pedro Pinto - Assumi a presidência com um projecto para 10

anos com objectivos claros. Paços de Ferreira teria que ter

uma estratégia de desenvolvimento assente em dois pilares: a

Educação e o Desenvolvimento Económico. Tudo o que temos

concretizado tem estes dois pilares por referência. No que

respeita à Educação já entraram em funcionamento oito Centros

Escolares que substituíram 25 velhos edifícios escolares. Nos

próximos dois anos entrarão em funcionamento mais seis

Centros Escolares. Ainda na educação temos vários projectos

imateriais e de apoio social com cariz inovador e em rede de

parcerias. No que concerne ao desenvolvimento económico

Edifício dos Paços do Concelho

Page 3: Entrevista ao Presidente da Câmara de Paços de Ferreira

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O MUNICIPAL N.º 362 - Março/2011

ASSOCIAÇÃO

DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

Educação Pré-Escolar decorre da estratégia definida na Carta

Educativa de Paços de Ferreira. Impunha-se tal reorganização

pelo desajustamento dos edifícios existentes relativamente à

actual realidade do processo educativo, de onde se destaca a

generalização do serviço de almoço, serviços de apoio à família

e Actividades de Enriquecimento Curricular. Acresce o facto

das antigas escolas não terem capacidade para responder

à procura da Educação Pré-Escolar e 1º ciclo, que levava a

listas de espera e existência de regimes duplos. Com 8 novos

Centros Escolares já em funcionamento o balanço é positivo

quer pela boa adaptação de toda a comunidade educativa,

pela rentabilização de recursos e melhoria de todo o processo

de ensino/aprendizagem.

“O Municipal” - Como avalia a descentralização de competências

para os municípios no domínio da educação?

Pedro Pinto - Paços de Ferreira integrou o grupo dos primeiros

municípios que aceitaram a transferência de competências

em matéria de educação, em Setembro de 2008. Esta

descentralização tem permitido um efectivo reforço da relação

de proximidade entre o município e os Agrupamentos de Escolas,

uma maior celeridade na resolução de problemas relacionados

com o edificado e pessoal não docente, rentabilização de

recursos e harmonização de procedimentos.

No que se refere ao pessoal não docente, constatam-se vários

constrangimentos que decorrem fundamentalmente da falta

de regulamentação e até de harmonização de procedimentos

entre municípios e Ministério da Educação, designadamente na

compatibilização dos procedimentos legais da administração

central com os da administração local. Com os mesmos recursos

humanos, o município teve que responder às exigências que

decorrem da quase duplicação dos seus funcionários.

De acrescentar que a definição dos rácios de pessoal não

docente não responde às reais necessidades das escolas,

obrigando o município, pela sua relação de proximidade com

a comunidade educativa, a assumir encargos superiores às

transferências financeiras do estado que gradualmente têm

vindo a diminuir.

Relativamente à transferência da gestão dos edifícios das

Escolas Básicas do 2º e 3º ciclos, há ainda a necessidade

de clarificar conceitos e efectivas responsabilidades dos

municípios, que neste momento, com a verba transferida não

podem dar resposta às necessidades identificadas.

Em jeito de balanço, teremos que afirmar que muitas mais

arestas terão de ser limadas para que haja uma efectiva

transferência de competências e, assim, possamos dizer que

esta se revela positiva.

“O Municipal - O que acha da Proposta de Lei n.º 25/XII, que

altera o regime jurídico da tutela administrativa em vigor? Qual

é a sua opinião sobre a perda de mandato por não avaliação dos

trabalhadores?

Pedro Pinto - É mais um exemplo de como os governantes

gostam de tratar os autarcas. A Lei nº 66-B/2007 de 28 de

Dezembro vem definir claramente o conceito de dirigente

máximo do serviço “titulares de cargos de direcção superior

do 1º grau ou legalmente equiparado, outros dirigentes

responsáveis pelo serviço dependente de membro do governo

ou os presidentes de órgão de direcção colegial sob sua tutela

ou superintendência”.

O diploma que adapta a presente lei às autarquias locais vem

desde logo clarificar que as referências feitas ao dirigente

máximo do serviço, consideram-se feitas nos municípios ao

Presidente da Câmara Municipal e nos serviços municipalizados

ao presidente do Conselho de Administração.

Ora, sendo o Presidente da Câmara Municipal um eleito demo-

craticamente, como tantos outros órgãos políticos, porque não

há sanção idêntica para estes?

Há desde logo uma discriminação, que claramente surge com

este novo regime de Tutela Administrativa e Financeira.

Não existe uma igualdade de circunstâncias quer em relação a

um Secretário de Estado ou mesmo um Ministro, ou Presidente

de uma Entidade Pública. Existe sim, um tratamento desigual e

uma discriminação dos municípios.

“O Municipal” - A respeito da Lei n.º 55-A/2010, de 31 de

Dezembro, que aprovou o Orçamento do Estado para 2011, que

comentário faz às disposições aplicáveis aos trabalhadores do

sector público, em especial, as que se referem à redução das

remunerações e à proibição de valorizações remuneratórias, não

esquecendo a forma como passa a ser efectuada a determinação

do posicionamento, no âmbito dos procedimentos concursais?

Pedro Pinto - No que diz respeito à redução das remunerações

atingem os trabalhadores com remunerações acima dos 1500

euros, com uma variação de corte entre os 3,5% e os 10%. Entendo

que tem significado, mas percebe-se pela situação do País.

Page 4: Entrevista ao Presidente da Câmara de Paços de Ferreira

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O MUNICIPAL N.º 362 - Março/2011

ASSOCIAÇÃO

DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

A Proibição das valorizações remuneratórias para todos os

trabalhadores, que mesmo atingindo o número de pontos

necessários à alteração de posicionamento, ficam impedidos,

questiona-se: qual a utilidade prática do SIADAP, se o número

de pontos obtidos quer em 2010, quer em 2011, apenas terão

efeitos no futuro, e não no presente momento?

Como motivar trabalhadores que mesmo atingindo os 10 pontos

não podem ver a sua remuneração valorizada?

No que diz respeito à determinação do posicionamento

remuneratório, no âmbito dos procedimentos concursais,

desde Janeiro de 2011 não há lugar a negociação. A todos os

trabalhadores que iniciem funções será atribuída a primeira

posição remuneratória da carreira onde são integrados. Neste

caso não vejo grande problema porque quem concorre fica a

conhecer de início as regras do jogo, embora ficar pelo salário

mínimo, possa dificultar o recrutamento de bons profissionais da

carreira assistente operacional porque são melhor remunerados

no exercício de funções privadas.

“O Municipal” - Perante as restrições em matéria de

endividamento municipal, para o ano de 2011, como encara o

futuro da gestão autárquica?

Pedro Pinto - Mais do que as restrições de endividamento

preocupa-me a redução de transferências que tem vindo a

ser feita. O Município de Paços de Ferreira, com 56.000 hab.,

recebe de transferências do Estado menos do que Municípios

que não atingem 10.000hab. Em 2011, o total de transferências

é de 8,7M€, e há Municípios com menor dimensão populacional

que recebem mais 2M€, outros 3M€ e alguns 4,5M€ por ano

do que Paços de Ferreira. É difícil perceber se não recuarmos

à penúltima Lei das Finanças Locais para interpretar esta

disparidade. Naquela LFL, o peso da população para efeitos

de cálculo de transferências não era significativo, a área

distorcia o cálculo. Com a nova Lei das Finanças Locais, ficou

mais claro o respeito pela dimensão populacional o que viria

a fazer aumentar as transferências para Paços de Ferreira em

5% ao ano, limite máximo definido pela Lei, caso contrário,

em 2009, Paços de Ferreira que recebia 9,1M€ passaria a

receber 15,1M€, de acordo com informação da DGAL. O que

acabou por acontecer foi redução sistemática e não aumento,

redução essa que foi percentualmente igual para todos e na

minha opinião deveria haver um critério de correcção que

levasse em conta as correcções defendidas pela LFL. Neste

ano de 2011, de acordo com a LFL, Paços de Ferreira receberia

10,1M€ e com as reduções ficou em 8,7M€. Apesar do rótulo

que os governos tentam colar aos autarcas, são as autarquias

que assumem a resolução da maior parte dos problemas

das comunidades. Acresce que o fazemos gerindo melhor e

gastando para actos similares muito menos do que gasta a

administração central. Julgo que não é necessário dar muitos

exemplos, fico-me por este: para qualquer tipo de construção,

a generalidade das autarquias consegue executar, em média,

com menos 30% dos gastos.

“O Municipal” - Qual é a sua posição sobre a intenção anunciada

pelo Secretário de Estado da Administração Local, de se

reorganizar o mapa autárquico, envolvendo a fusão e extinção

de municípios e freguesias?

Pedro Pinto - Isto ficou definido também no acordo com a

“Troika”. Eu acho que há governantes que têm uma especial

predisposição para se perderem com o acessório em vez

de atacarem o essencial. Partir para a extinção e fusão vai

provocar uma enorme instabilidade em Portugal e nós temos

é que estar focados em objectivos de desenvolvimento e

não a fazer despontar um evento que se pode tornar numa

convulsão social complicada. Veja-se a Grécia. A dimensão

média de Municípios na Europa é de 5.000hab e em Portugal

é de 35.000hab. Se atendermos a estes dados, não há um

problema de dimensão média. Apesar disto, entendo que há

um problema de disparidade a resolver: freguesias com 500

hab. e as mesmas competências e atribuições de freguesias

de 50.000 hab. e municípios de 2.000 hab. com as mesmas

atribuições e competências de municípios de 200.000 hab..

Pode-se atingir os mesmos objectivos se se proceder à

combinação do seguinte: recorrer a uma hierarquização

de competências em função da dimensão populacional,

determinando que em várias delas tivesse que haver níveis

de escala adequados; proceder à compatibilização do número

de cargos políticos em função desta hierarquização; resolver

a questão da identidade e afectividade não extinguindo ou

fundindo freguesias ou municípios, os menos urbanos, mas

através da criação de órgãos políticos que digam respeito

a mais do que uma freguesia ou município. Não devemos

esquecer que em alguns locais as autarquias são o único e

último reduto da presença do estado junto das populações.