entre escolhas 15

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“Entre Escolhas” é um drama que nos ajuda a pensar como as coisas simples do dia a dia, quando não valorizadas, fazem-nos perder pessoas imprescindíveis, e que as nossas escolhas devem ser pensadas com cautela, pois podem ter consequências graves no rumo de nossas vidas e dos demais envolvidos.

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Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Jacilene Moraes

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Andrea Bassoto

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________

P588e

Petrikas, Carla Santos Entre escolhas / Carla Santos Petrikas. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2016.

ISBN 978-85-437-0519-4

1. Ficção brasileira. I. Título.

16-32432 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

________________________________________________________________19/04/2016 22/04/2016

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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Dedico esta obra ao meu tio Roberto Augusto de Moraes, que me ensinou que estudar nunca é demais e incentivou-me a concretizar todos os meus sonhos.

A morte coloca um ponto final na vida, mas jamais no amor e nos ensinamentos. Estes, ficam eternamente em nossos corações.

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agradEcimEnto

No céu existe um Deus maior do que todas as coisas e sou eternamente grata por tudo.

Na Terra existem fragmentos desse mesmo Deus, que chamamos de amigos e família. Sou muito feliz e realizada por tê-los em minha vida diariamente.

Agradeço a todas as pessoas que me incentivaram a publicar esta obra: minha mãe, minha irmã e minhas tias, que sempre me apoiaram em todas as dificuldades.

Agradeço ao meu esposo, pela compreensão e apoio.E a todos os meus amigos, que fazem da minha vida

muito mais encantadora.

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caPítulo i

invEstigação

Havia algo estranho naquela casa. Ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido com Inês. Estava depressiva e muito cabisbaixa. Seria porque Marco Antônio não a havia procurado? Ninguém sabia. Talvez fossem as notas na escola, que não estavam muito boas. Mas isto a chate-aria a tal ponto?

No mesmo dia, tio Augusto ficou preocupado com a melancolia de Inês e resolveu saber o que havia acontecido:

— Querida, percebi que você anda muito triste e gostaria de saber o motivo pelo qual te vi chorando on-tem à noite, na escada.

— Fico muito grata pela preocupação, mas estou muito bem. Não estava chorando, não. Um cisco caiu em meus olhos e tentei tirá-lo a todo custo e parecia que eu havia chorado – disse Inês com convicção.

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Tio Augusto não acreditou, mas, mesmo assim, não quis interrogá-la mais.

Um dia, talvez, ele pudesse saber. E, também, po-deria ser apenas uma fase ruim. O que era mais certo e o que todos esperavam que fosse.

A notícia chegou aos ouvidos da avó Neuza, a qual adora saber sobre tudo o que acontece naquela casa. Vó Neuza é curiosa que só ela. Não deixava nada passar em branco. Ela quase não escutava. Sua audição estava ruim, o que a chateava muito, pois não conseguia ficar sem bis-bilhotar a vida alheia.

O contrário era a avó Dirce. Esta não se preocupava com as fofocas. Ela apenas queria ajudar as pessoas da-quela casa. Tentava agradar e sempre queria que todos ficassem bem. Ela preparava uns pãezinhos de queijo ir-resistíveis e um bolo de fubá que era de lamber os beiços!

Como vó Neuza se intrometia em tudo que ela pu-desse escutar, não seria desta vez que não se intrometeria. Portanto, foi logo falar com Inês, que era a mais velha dos três netos da velha Neuza.

Foi até o quarto de Inês. Eram mais ou menos dez e meia da noite. Bateu na porta e logo Inês respondeu:

— Pode entrar!— Inês, é sua avó mais querida! Vim saber o que

está acontecendo com você, minha netinha.— Hum, vovó... Tinha certeza de que viria. Por que

me pergunta o que está acontecendo comigo?— Todos perceberam que você anda chateada e cho-

rando pelos cantos. É verdade?— Não! As pessoas desta casa andam imaginando

coisas! Ou melhor, vendo coisas que não existem. Enten-

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de, vovó? Estou muito bem. Só preciso dormir porque amanhã tenho uma prova bem difícil. Boa noite, vovó.

— Só mais uma pergunta. Você e Marco Antônio? Como está seu namoro com ele?

— Vovó, já disse preciso dormir. Amanhã conversa-mos. Tudo bem?

— Não está tudo bem. Você não quer mais conver-sar com sua avó? Só por que estou velha e cansada?

— Não é isso, vovó. Sabe que ando trabalhando e estudando muito, não sabe?

— Tudo bem... Vou te deixar dormir. Boa Noite!Voltando para seu quarto, vovó Neuza fica pensati-

va. Queria descobrir o que estava acontecendo com Inês, pois ela nunca a havia expulsado do quarto como tinha feito nessa noite.

No corredor, encontra Marta, sua nora, mãe de Inês. Marta era uma mulher que trabalhava muito, era muito honesta, mas tinha um grande defeito: amava demais seu marido Francisco, o qual era um beberrão de mão cheia e ainda por cima mulherengo. Ninguém entendia como Mar-ta aguentava aquele homem. E ela apenas justificava que o amava demais e jamais poderia viver sem ele ao seu lado.

Vovó Neuza segurou no braço de Marta e comentou:— Sabe o que acontece com Inês?— O que tem minha filha?— Ninguém sabe, mas anda muito esquisita.— Por que esquisita?— Acho bom perguntar a ela. Quem sabe com você

ela se abre. Porque comigo só faltou me pôr a pontapés para fora do quarto dela.

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— Inês sempre foi educada com a senhora, dona Neuza. Por que faria isso?

— Não sei. Pergunte a ela. Ela te dirá.— Amanhã conversarei com ela. Hoje não estou le-

gal para problemas familiares. Já chegam os da empresa. A senhora sabe se seu filho já chegou?

— Por acaso Francisco chega cedo em casa? Em re-lação a Inês, deveria conversar com ela hoje.

— Não, dona Neuza. Amanhã penso nisso. Deve ser por causa do Marco Antônio. Quantas vezes já ficou chateada e esquisita por isso! Vai ver, brigaram.

— É... Talvez seja isso mesmo.— Vou até a cozinha tomar um copo de leite. Me

acompanha?— Não. Vou dormir. Amanhã tenho que ir fazer al-

guns exames pra saber sobre meu colesterol. Anda meio alto, o danado.

— Seu filho vai contigo, dona Neuza?— Aquele inútil do seu marido só serve para beber e

gandaiar. Sinceramente, Marta, não sei como o aguenta!— Simples, dona Neuza. Eu o amo demais.— Também o amo, porém, tem coisas que não sei... Se

eu fosse esposa dele, já teria tomado algumas providências.Sorrindo, Marta se despede de vovó Neuza e vai à

cozinha tomar seu copo de leite.Chegando lá, encontra o tio Augusto falando com

a vovó Dirce sobre a tristeza de Inês. Marta suspira e diz:— Hum... De novo não. Essa história já está me

angustiando. Será que não podem falar de outra coisa?

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Vocês não sabem que Inês, quando briga com Marco An-tônio, fica melancólica?

Tio Augusto responde lentamente:— Não acho que seja isso não, Marta. Agora parece

ser outra coisa.— Tudo bem. Amanhã converso com Inês. Vou

buscá-la na faculdade e tudo se resolverá. Vocês verão como é uma briguinha de namorados.

Vovó Dirce pensa um pouco e diz:— Marta, não acha que está trabalhando demais e se

esquecendo da sua família, minha filha?— Mamãe, de novo com essa conversa? Não sabe

que tenho que praticamente sustentar a casa? Se eu espe-rar o Francisco fazer isso, todos morreremos de fome! Ou não sabe disso?

— Sei e não gosto dessa situação. Mas quem sou eu para mudar sua vida, minha filha. Você não quer se ajudar. Fica com esse traste atrapalhando sua vida. Quer saber? Não está mais aqui quem falou!

— Mamãe, eu amo o Francisco, mesmo ele sendo assim, desse jeito.

— Pra mim isso não é mais amor. É dependência.Tio Augusto interveio:— A mamãe está certa, maninha. Não é um amor

sadio. É uma doença. Temos que amar quem nos ama e não quem só pisa em nosso calo.

— Pensem o que quiserem. Agora vou dormir. Boa noite!!!

— Seu copo de leite. Já ia esquecendo-o na pia, filha.— Obrigada e boa noite.

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Subiu para o quarto, levando seu copo de leite e pensando no que havia acontecido com sua filha Inês. Mesmo preocupada, não quis incomodar Inês aquela hora da noite. Pensou: “Amanhã converso com ela”.

Muito cansada, Marta começa a ler seu livro predi-leto. Entretanto, acaba adormecendo. Francisco chega no quarto e Marta acorda com o barulho que ele faz ao co-locar o pijama, derrubando o copo vazio com que Marta havia tomado leite antes de adormecer.

— Francisco, sabe que horas são?— Sei. Eu tenho relógio para que, se não for para

saber as horas?— E o que estava fazendo até agora na rua?— Marta, por favor, não comece. Não estou a fim

de brigar a esta hora. Amanhã conversamos.— Sempre a mesma desculpa! “Amanhã conversa-

mos”, “Depois conversamos”... Quando é que você terá coragem de acabar com essa vida que levamos, Francisco?

— Por quê? Não está feliz ao meu lado? Não diz aos quatro ventos que me ama?

— Sim, eu te amo. Aliás, mais do que deveria te amar. Mas não posso mais viver com você desse jeito, Francisco. Chegando todos os dias a esta hora, sem dar satisfações e achando normal. Todos acham que sou uma idiota, e é o que sou mesmo, pois ficar com um homem como você, apenas sendo uma idiota. Além de tudo, acei-tar o que você fez e ainda encobrir o seu erro.

— Cale a boca! Você não vai falar dessa história novamente, né? Alguém pode acabar escutando. Tantos anos calada, agora você resolve falar sobre isso todos os

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dias? O que está acontecendo? Na época você me prome-teu que nunca mais tocaria no assunto.

— Está bem, eu prometi e cumprirei. Não falarei mais sobre isso. Mudando de assunto, você sabe o que está acontecendo com sua filha Inês?

— O que tem Inês?— Todos nesta casa estão dizendo que ela anda cho-

rando pelos cantos, chateada com alguma coisa, mas nin-guém sabe o que tem.

— Ninguém sabe o que ela tem? Eu estou careca de saber. Toda vez que briga com aquele fulaninho fica desse jeito.

— Augusto acha que não se trata de briga de namo-radinhos não.

— O que mais pode ser, além disso? A não ser que tenha tirado notas ruins na faculdade. E se for isso, tem que ficar triste mesmo, porque não estou me matando pra pagar aquela porcaria à toa.

— Quem te vê falando pensa que paga tudo sozi-nho. A Inês dá todo o salário dela. Você só complementa. E ainda reclama! Ora, por favor!

— E se não fosse isso, não estaria fazendo faculdade.— Estaria, sim, Francisco. Eu a ajudaria. É por isso

que trabalho como louca.— É bom mesmo, porque assim pode me ajudar

quando Luiz Henrique e Gabriel entrarem na faculda-de também.

— Nem me fale nesse dois! Ontem a professora man-dou um bilhete para eu comparecer na escola porque a di-retora precisa falar comigo. Devem ter aprontado alguma.

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— Eu vou pegar esse dois e dar uma surra tão grande...— Vamos parar com isso, Francisco. Você só pensa

em bater. Ir comigo na escola e saber o que aconteceu você não vai. Só quer saber de gandaiar e nada de se pre-ocupar com sua família. Até mesmo sua mãe está preci-sando de você. Mas você nem sabe, não é mesmo?

— O que quer aquela velha ranzinza?— Aquela velha ranzinza, como você diz, está com

o colesterol alto e precisa ir ao Dr. Eduardo, mas, pelo visto, você não poderá ir com ela, não é mesmo?

— Ainda bem que já sabe. Por que não vai com ela, Marta? Ela gosta mais de você do que de mim.

— A mãe é sua, Francisco. Mas tudo bem, eu irei. Amanhã vou buscar sua filha na faculdade e aproveito e levo sua mãe ao médico.

— Assim está bem melhor. Boa noite, Marta. Preci-so dormir. Amanhã levanto cedo.

— Chegasse cedo, então! Pelo menos teríamos tempo para resolvermos juntos os problemas dos nossos filhos.

Nisto, Francisco já estava dormindo. Nem deu atenção ao que disse Marta. Então, ela resolveu voltar a dormir, pois o dia seguinte seria um dia cheio de pro-blemas para resolver.

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caPítulo ii

consulta intrigantE

Já eram sete e meia da manhã. O sol já estava cla-reando toda a casa e a mesa já estava lotada de gente ao seu redor. Uma gritaria louca, todos dizendo que estavam atrasados.

Tio Augusto demorava horas no banho. Ele era o primeiro a entrar e acabava atrapalhando todo mundo da casa. Inês já estava desesperada porque tinha pro-va na faculdade e precisava escovar os dentes, mas tio Augusto não saía daquele banheiro por nada. Inês bate na porta e berra:

— Vai logo, tio! Tenho prova na faculdade!— Ah, Inês... Ainda vou demorar. Usa o banheiro

do quarto de seus pais, vai!Mais do que depressa, Inês sobe as escadas correndo

e bate na porta do quarto:

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— Posso entrar?Francisco, meio sonolento, responde:— Claro, minha filha. Entra.— A mamãe já foi trabalhar? Não está no quarto e

nem lá embaixo.— Acho que sim. Ela disse que irá buscá-la na

faculdade.— Já estou bem grandinha para me buscarem na

escola, não acha papai?— Ela está preocupada com você. Dizem que anda

meio tristonha.— Ah, não! De novo com isso?! — Você não está reprovando na faculdade, não é

Inês? Sabe o quanto me custa pagar essa sua escola?— E a mim custa muito mais, pois não tenho di-

nheiro nem para comprar um sorvete. Trabalho e nem vejo a corzinha do dinheiro.

— Tudo isso vai passar. Você verá! Logo, logo será uma grande engenheira e tudo isso vai ser recompensado. Agora vem dar um beijo no seu pai e vá pra faculdade.

— Tenho que usar o banheiro. O tio Augusto está no banheiro debaixo e como você sabe, ele demora horas.

— Vai, minha filha. Pode usar.Inês pega o ônibus para ir à faculdade e encontra

Marco Antônio. Senta-se ao seu lado e os dois come-çam a conversar.

— Não vai me contar? – Diz Marco Antônio.— O quê?— Por que estava tão brava com seu pai esses dias?

Você anda fria comigo, nervosa com seu pai, com tanta rai-

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va que dá até medo. Você sabe como é seu pai. Sempre foi assim. Não irá mudar nunca. Se sua mãe o aceita como ele é, por que você tem que ficar chateada e com raiva? E também quero saber: por que mudou comigo de repente?

— Já te pedi para me deixar em paz, que preciso resolver algumas coisas da minha vida particular. Antes disso não podemos ficar juntos.

— O que é tão importante assim, que não posso resol-ver com você? E por que temos que ficar separados enquan-to isso não se resolve? Eu não estou te entendendo, Inês.

— Não irá me entender agora, mas mais tarde com-preenderá e irá me agradecer.

— Agradecer por ficarmos separados?— É quase isso. Te prometo, não ficaremos separados

por muito tempo. Não da maneira que você está pensando.— Agora que você está me confundindo ainda mais.— Marco Antônio, eu te amo demais, mas temos

que ficar separados. Confia em mim. Tudo isso vai se re-solver em breve. Fica tranquilo.

— Ah, Inês, estou muito tranquilo. Você deve estar gostando de outro e não quer dizer. E quando você esti-ver resolvida com ele, você mandará eu te esquecer e vai achar que ficará tudo bem. Mas não vai não, tá bom?

— Não tenho outra pessoa. Não acredito que não confia em mim, Marco Antônio!

— Está bem. Eu confio, mas se eu arrumar outra namorada, terá que aceitar. Você que me largou.

Inês não diz nada. Apenas olha para Marco Antônio com olhos de compaixão e pensa que será melhor mesmo que ele arrume outra pessoa. Assim, sofrerá menos.

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Chegando na faculdade, Inês corre para fazer sua prova. Entra na sala como uma louca e derruba todo o seu material no chão. O professor olha-a e diz:

— Bom dia, senhorita. Bastante atrasada, não acha?— É, professor... Um pouquinho.— Os alunos já estão fazendo a prova. A senhorita

terá que pagar uma substitutiva e fazer outro dia, portan-to, pode esperar a próxima aula lá fora. Obrigado.

Inês sai da sala já chorando. Não tem dinheiro pra nada e ainda terá que pedir ao pai para pagar a prova substitutiva. Era tudo que ela não queria.

Inês resolveu nem entrar na próxima aula. Já tinha per-dido a prova mesmo. Ela não queria nem saber mais se a aula seria importante ou não. Sua cabeça estava tão atordo-ada que ela não estava se preocupando com aquelas aulas.

Ela sai da faculdade meio sem rumo, sem destino. Vai até um shopping perto de sua escola, senta-se em um banco em frente a uma loja de roupas e fica meio paralisada, como se estivesse em outro mundo, sonhando acordada.

Passa horas desse jeito, quando se lembra que sua mãe iria buscá-la na faculdade e levá-la até o seu serviço.

Inês adorava o que fazia. Ela trabalhava em uma confecção e todas as pessoas que trabalhavam com ela eram muito divertidas e descontraídas. Lá, ela esquecia um pouco seus problemas, principalmente o último, que estava lhe deixando atordoada.

Ao lembrar-se que sua mãe iria buscá-la, Inês cami-nha até a faculdade para esperá-la.

Marta tinha levado vovó Neuza ao Dr. Eduardo e eles conversaram muito sobre os problemas de vovó. Dr.

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Eduardo pediu para conversar a sós com Marta e vovó Neuza ficou muito preocupada com sua saúde, achando que já estivesse para morrer.

Mas não era isso que o Dr. Eduardo queria falar com Marta. Então, ele fecha a porta e começa a falar:

— Sabe, Marta, faz muito tempo que você vem tra-zer sua sogra e sua mãe para eu cuidar e eu reparo que você está sempre preocupada com alguma coisa da sua fa-mília. Parece que sempre tem muitos problemas com ela.

— Qual o motivo da pergunta?Segurando em suas mãos, Dr. Eduardo responde:— Sempre te admirei muito, Marta. Você é uma mu-

lher batalhadora, sonhadora. Queria vê-la sorrindo mais, um pouco mais feliz, mas não. Quando vem aqui, parece cada vez mais deprimida e angustiada com seus problemas.

— É... Eu ando meio cheia de coisas para fazer. Muitas coisas sobre os meus ombros, muita responsa-bilidade em cima de mim. As pessoas acham que sou de ferro, mas não sou não. Sou frágil como um cristal e estou a ponto de quebrar. Falta muito pouco. Essa é a mais pura verdade.

— Que posso fazer para ajudá-la, Marta?— Ninguém pode me ajudar. Principalmente agora,

que estou mais confusa do que nunca.— Eu não quero vê-la desse jeito. Só deixarei você

sair desta sala se me prometer que irá ficar bem e não irá mais se preocupar tanto com as coisas. Me promete?

— Posso te prometer que irei tentar, mas não sei se conseguirei, porque minha vida é tão maluca e tão cheia de tumulto... Ah! Acabei de me lembrar que terei que

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levar Inês ao serviço. Tenho que ir. Muito obrigada pela preocupação, doutor.

— Não precisa me chamar de doutor. Me chame ape-nas de Eduardo, porque agora somos amigos, não é? Pode confiar em mim. Quero te ajudar. Ah! Terá que trazer Dona Neuza na semana que vem, para novos exames. Tudo bem?

— Quantos exames, doutor? Ela não está bem?— Você me chamou de doutor?— Ah... Eduardo, ela está bem?— Sim, porém, quero deixar o colesterol bem está-

vel, para evitarmos maiores problemas.Marta já ia abrir a porta do consultório, quando ele

a puxa e lhe dá um beijo longo em seu rosto.Marta acha muito estranho, mas prefere esquecer o

que aconteceu naquela sala. Leva vovó Neuza para casa e vai correndo buscar Inês na faculdade.

Durante o percurso ela vai se lembrando de Eduar-do. Ele nunca havia falado com ela daquela maneira. Até que enfim, alguém se preocupou com ela! Pensava que só ela se preocupava com os outros. Agora, ela via que Edu-ardo importava-se com ela. Achou tudo muito esquisito.

Por que Eduardo notaria justo ela, que vive sem-pre tão correndo e nem repara em nada, principalmente em sua aparência? Marta tinha até cabelos grisalhos, que esquecia muitas vezes de tingir. Sua pele já estava meio enrugada. Ela já estava bem perto dos cinquenta anos e não se importava mais com sua aparência. Achava que já tinha vivido tudo o que o amor pudesse lhe oferecer.

Entretanto, parece que Eduardo a faria viver coisas que ela jamais havia imaginado, porque ele era bem dife-

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rente de seu marido. Eduardo era um homem elegante, inteligente, muito bem educado, não parecia em nada com seu grosseiro marido cheio de defeitos.

“Por que agora?”, Marta pensava. Tantos anos que ela conhecia Eduardo e agora ele tinha resolvido falar so-bre preocupações com ela? Ela não queria admitir, mas saiu do consultório muito mais feliz do que quando en-trou. Aliás, estava tão feliz como há muito tempo não se sentia. Ela estava com a mesma alegria e entusiasmo de quando conheceu Francisco no colégio .

Enfim, ela chegou ao colégio de Inês. Ela já a espera-va na porta há muito tempo. Ela entrou no carro e disse:

— Como demorou! Achei que estivesse me esquecido!— Jamais, filhinha, esqueceria você aqui! Não sou

uma mãe desnaturada. Sabe disso! – Marta disse isso sor-rindo e dando um beijo no rosto de Inês.

— Não é mesmo! É por isso que te amo demais! Mais que tudo nesta vida.

— Também te amo muito, muito mesmo. Mais do que imagina. Agora me conte qual é o seu problema. O que tem você, meu anjo, que anda tristonha. Me diz, vai.

— Marco Antônio e eu terminamos.— Ah não, querida... Aquele safado está te fazendo

sofrer? Falei para você não se envolver tão rápido. Você nem conhecia tão bem a família dele, não sabia se era gente do bem... E nós também não o conhecíamos direi-to. Por que foi se envolver tão rápido?

— O Marco Antônio é gente do bem sim, mamãe. Conheço ele daqui da faculdade já faz uns dois anos. Ele é gente boa sim.

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— Gente boa, Inês? Terminou com você, uma menina tão linda, responsável e inteligente! O que mais ele queria?

— Não foi ele quem terminou comigo. Eu que ter-minei com ele.

— Essa eu não entendi! Por que fez isso, Inês?— Tenho que estudar muito e estou trabalhan-

do também. Não posso ficar de namorinho. Todos os finais de semana ele quer sair, ir ao cinema, shopping e dançar. Não posso mais ficar saindo todo final de semana como ele gostaria.

— Não acredito nisso! Não é desculpa para se termi-nar um namoro, Inês. Você sempre me disse que gostava tanto dele e que ele te fazia tão feliz! Só porque o rapaz gosta de sair os finais de semana, ainda por cima com você, você termina com ele? Não entendo. Sinceramente.

— Mamãe, ele gosta de sair e olha as notas dele na faculdade. São ruins. Nem se parecem com as minhas. Se eu continuar saindo com ele todos os finais de semana vou reprovar, como ele já reprovou este ano.

— Mas, Inês... Por que vocês não entram em um acordo? Converse com ele. Diga a ele que pra você é mui-to importante passar de ano, que não tem pais ricos para bancar a faculdade, como ele deve ter.

— O pior é que Marco Antônio não tem pais ricos para bancar não. Deixa pra lá...

— Como deixa pra lá? Vamos resolver isso, Inês. Não pode terminar com o rapaz por isso. Além do mais, eu sempre achei que ele gosta muito de você.

— Deixa, mamãe. Eu resolvo se voltarei pra ele ou não. É a minha vida!

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— Então, não quero te ver chorando pelos cantos, tá bom? Está todo mundo preocupado com você lá em casa. Promete que não ficará mais triste por isso?

— Prometo, mamãe. Não ficarei mais triste. Ago-ra me dedicarei aos estudos e esquecerei Marco Antô-nio de uma vez.

Marta a abraçou forte e começou a dirigir para o serviço de Inês.

Inês não disse uma só palavra durante o caminho. Parecia que estava muda. E Marta começou a desconfiar que essa história estava muito mal contada. Ela precisava descobrir se foi mesmo Inês que havia terminado com Marco Antônio ou se realmente tinha sido pelo motivo que ela havia lhe contado.

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caPítulo iii

dia EmPolgantE

Inês chegou em seu serviço. Todos a cumprimenta-ram, mas perceberam que tinha algo errado com ela, pois ela era muito brincalhona e nos últimos dias estava muito quieta, quase não puxava assunto com ninguém. Não era a Inês que todos estavam acostumados a ver.

Mônica era uma grande amiga de Inês. Trabalhavam juntas há mais ou menos três anos. Ela estava percebendo a angústia da amiga e resolveu dizer:

— Inês, quero falar com você depois do expediente. Vamos tomar uma cerveja no bar da esquina?

Inês riu e respondeu:— Vamos, cachaceira!!!— Não sou cachaceira. Apenas gosto de uns aperi-

tivos. É normal.— Absolutamente normal.

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— Na verdade, precisamos conversar, pois há algo errado com você, amiga. Preciso que me conte o que está acontecendo.

— Está bem. Depois do expediente conversaremos.Enquanto isso, Marta havia chegado em casa. Estava

dormindo um pouco no sofá quando o telefone tocou:— Alô!— Por gentileza, gostaria de falar com a senhora

Marta Bitencour.— Eu mesma. Pode falar.— Aqui é a diretora Alice, da escola dos seus filhos

Luiz Henrique e Gabriel. A senhora, por favor, pode comparecer aqui ainda hoje?

— Me desculpe... Havia esquecido. Eles me deram o recado, dona Alice, mas com tantos problemas acabei esquecendo e não compareci. Até tirei folga no serviço hoje para resolver todos os pepinos desta casa e acabei me esquecendo desse. Já estou indo. Um abraço!

Marta pegou o carro na garagem e foi rumo à escola dos garotos. No caminho, ficou pensando o que tinha acontecido de tão grave para a diretora precisar falar com ela pessoalmente.

Chegando na escola, ela procurou por dona Alice, que estava em uma reunião, que já estava quase terminando. En-tão, ela ficou sentada numa sala, aguardando a diretora.

Enfim, acabou a reunião e dona Alice cumprimen-tou Marta:

— Boa tarde, dona Marta. Como vai a senhora?— Estou bem, dona Alice. E a senhora? Estou tão ansio-

sa para saber o que os gêmeos aprontaram. O que aconteceu?

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— Não tenho o que reclamar, dona Marta, de seus filhos Luiz Henrique e Gabriel. São excelentes alunos.

— E por que quer falar comigo pessoalmente? Meu ma-rido e eu achamos que os gêmeos tinham aprontado alguma.

— O que tenho que falar é sobre um campeonato que teremos entre todas as escolas de algumas cidades. Estamos escolhendo os melhores jogadores de futebol para representar a nossa escola, e seus filhos Gabriel e Luiz Henrique são muito bons jogadores.

— Ah... Eles realmente jogam muito bem. Eles fi-zeram uns dois anos de escolinha de futebol. Meu ma-rido sempre quis que fossem jogadores de futebol e que pudessem sustentar toda a família com aqueles salários maravilhosos que costumam ganhar.

— Porém, tem um pequeno problema, dona Mar-ta. Esse campeonato será na época das férias e eles terão que viajar junto com a equipe de futebol da escola, jun-to com alguns professores de Educação Física da escola. Você concorda?

— Ficar longe dos meus filhos, dona Alice? É isso que está me propondo?

— Mas é por uma boa causa. Eles podem ganhar o campeonato representando a escola. Irão ganhar meda-lhas e tudo mais. Além do prestígio, ficarão conhecidos em outras escolas. Não acha isso encantador?

— Até acho, mas terei que conversar com o pai deles. Ele também é bastante ciumento com os meninos. Não sei se vai querer ficar longe dos filhos. Quanto tempo leva?

— Umas três semanas apenas, dona Marta. É rapi-dinho. Eles podem voltar com medalhas e felizes. Pensem nisso. Será bom para eles.

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— Tudo bem. Vou conversar hoje com Francisco e te darei a resposta segunda-feira, ok?

— Ok. Espero que pensem com carinho. E muito obrigada por vir até aqui.

Marta voltava para casa e imaginava seus filhos jo-gando em outras escolas, sendo aplaudidos, prestigiados, quem sabe até tomar gosto pelo esporte e realmente se transformarem em grandes jogadores de futebol.

Marta chega em casa e tio Augusto avisa-a que pre-cisava fazer as comprar do mês, pois a despensa estava no fim. Marta responde:

— Não posso acreditar! Mal chego em casa e tenho que sair de novo! Francisco não veio almoçar em casa hoje?

Tio Augusto responde:— Nem deu as caras por aqui hoje. Só pela manhã,

quando tomou café e saiu apressado, como sempre.— Onde anda esse meu marido, hein Augusto? Não

sei mais o que faço com nossas vidas!— Ah, minha irmã! Se eu pudesse te ajudar, juro

que não a deixaria sofrer desse jeito. Agora esqueça isso e vamos às compras. Vou com você, já que seu maridinho não apareceu nem pra almoçar hoje.

— Então, vamos. Quero voltar logo. Preciso conver-sar com os meus filhos Luiz Henrique e Gabriel. Estou muito orgulhosa deles. Preciso dizer isso a eles. No cami-nho te conto.

Enquanto dirige, Marta conta tudo o que a diretora lhe havia falado. Estava muito entusiasmada com a ideia dos meninos jogaram representando a escola.

Tio Augusto, então, diz muito alegre:

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— Ah, que bom! Esses meninos têm mesmo muito talento com a bola. Parecem até que nasceram com ela nos pés. Adorava vê-los nos campeonatos, na época da escolinha de futebol. Era emocionante.

— Pois é, Augusto. E agora podem ter uma chance de ganharem mais medalhas! Não é muito bom?

— Será que o Francisco não vai encrespar com essa história?

— Francisco, em primeiro lugar, nem deveria se in-trometer porque ele nunca está presente na vida de ne-nhum dos filhos. Está sempre muito ocupado. Lembra do dia em que a Inês ganhou o concurso da menina mais bonita da escola, na época do colégio. Ele nem sequer lembrou de ir ver a filha desfilar.

— Um absurdo mesmo. E falando em Inês, você conseguiu falar com ela?

— Falei sim, Augusto. Não sei não. Ela me con-tou uma história de que terminou com Marco Antônio porque ele quer sair todo final de semana. Não acreditei muito não. Parece que algo mais grave aconteceu.

— Não falei pra você que era algo mais grave? Ela anda estranha demais, quieta e muito cabisbaixa.

— Falarei com esse rapaz. Vou até a faculdade na se-mana que vem me encontrar e conversar com ele. E você terá que me ajudar, Augusto.

— Eu? Por quê?— Porque a Inês não poderá saber que irei conversar

com ele, senão vai me matar, entende? Ela não quer que eu me intrometa.

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— Ah, minha irmã... É mesmo necessário falar com ele? E depois, como farei pra ela não desconfiar?

— Preciso sim, conversar com esse rapaz. Quero sa-ber se ele não fez nada pra prejudicar Inês. Já imaginou se Inês ficou grávida desse rapaz e ele pediu pra tirar o bebê? Ou, sei lá... Até algo mais grave.

— Credo, Marta! Como você tem imaginação fértil! Inês não deixaria isso acontecer jamais.

— Mas preciso ter certeza. Preciso conhecer a famí-lia dele, saber quem ele é realmente. Minha filha não está bem e preciso saber o que houve de fato.

— Também acho isso importante. Mas como pode-rei te ajudar?

— A Inês tem que faltar algum dia da semana que vem na escola. Você tem que pedir pra ela te levar ao mé-dico ou qualquer outro lugar. Tem que me ajudar!

— Está bem. Conversarei com ela hoje à noite.Enquanto iam fazendo as compras, Marta ia se lem-

brando de quantas coisas boas tinha vivido naquele dia. Dr. Eduardo estava se preocupando com ela, os gêmeos estavam sendo convidados para jogar em outras cidades... Teria sido um dia perfeito, se não fosse o problema com Inês.

Marta estava tão diferente que até mesmo tio Au-gusto notou a felicidade estampada no rosto de sua irmã. Era inevitável.

Marta sempre estava com cara de preocupação ou de mulher que havia trabalhado o dia inteiro diante de um computador, sem mesmo ter uns minutos para se olhar no espelho, para passar um batom ou um lápis nos olhos. Sempre muito séria e responsável.

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Mas nesse dia não! Ela estava risonha e muito bo-nita. Tinha até mesmo soltado seus cabelos, que viviam presos todos os dias. Francisco que se cuidasse, senão per-deria aquela mulher submissa quando menos esperasse!

Parecia que Marta tinha começado a admirar Edu-ardo a partir daquela conversa no consultório dele. Ela percebeu que ainda podia ser notada, que ainda podia chamar atenção de homens interessantes.

Já estava anoitecendo quando Augusto e Marta ter-minaram as compras, e Marta diz:

— Como demoramos, hein Augusto!— Pois é! Não podemos sair de casa com hora pre-

vista para voltar porque ninguém sabe que horas e nem mesmo se voltamos para casa quando saímos, não é mes-mo, Marta?

— É horrível dizer isso, mas é a pura verdade. Só Deus pra nos proteger nesta cidade violenta. Estou tão ansiosa pra conversar com as crianças quando chegar em casa! Eles vão adorar quando eu der a notícia.

— Eles ainda não sabem, Marta?— Não. A dona Alice achou melhor pedir minha

autorização primeiro. Vamos ver o que eles acharão.— Então, vamos logo, que parece que irá chover

daqui a pouco.

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caPítulo iv

tElEfonEma susPEito

— Vamos logo, Inês. Vamos tomar nossa cervejinha bem gelada no bar da esquina, porque parece que vai chover – diz Mônica, gritando para Inês, que estava ter-minando de entregar uma encomenda ao representante.

O representante da confecção, ouvindo isso, logo se oferece:

— Posso acompanhá-las? Ou irei atrapalhar?Mônica, mais do que depressa, responde que não

iria atrapalhar. Mônica achava aquele representante um gatinho, e do jeito que Mônica era assanhada, não perde-ria a oportunidade de passar a noite ao lado do bonitão.

— Já estamos terminando aqui, Mônica. Daqui a pou-co iremos – responde Inês, meio chateada com a situação.

Inês queria desabafar com Mônica, mas agora não poderia falar mais nada. Já estava se sentindo angustiada de levar seu problema sozinha.

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Então, foram os três ao bar da esquina para tomar uma cervejinha gelada e comer alguma coisa para acom-panhar. Os três conversavam muito animados. Parecia até que Jonas já as conhecia havia muito tempo. Mônica diz a Jonas na maior cara de pau:

— Que bom que veio, Jonas! Sempre te achei um rapaz tão interessante... Jamais pensei que um dia toma-ria uma cerveja com a gente.

Ele ficou muito sem graça, mas respondeu à altura.— Também acho vocês bem interessantes e sempre

tive vontade de conhecê-las melhor.Mônica diz:— Conhecer nós duas melhor? Não entendi?— Conhecer, fazer amizade, ficarmos amigos...

Entende?— Ah! Agora sim!— Por que mulher tem mania de levar tudo para o ou-

tro lado? Não sei... Parece que só vivem pensando besteiras!— Ah... Eu não sei a Inês e o restante das mulheres,

mas eu adoro pensar besteiras – e Mônica deu uma gran-de gargalhada.

Inês percebeu que estava sobrando naquela mesa, que o papo se voltaria para outro lado, e resolveu pedir a conta para ir para casa. E Mônica nem mesmo se lem-brava por que tinha chamado Inês para tomar a cerveja. Apenas tentava impressionar o rapaz que se sentava ao seu lado e que era o representante da confecção de onde trabalhavam. Mônica diz à Inês, antes que ela se levantas-se para ir embora.

— Amanhã conversamos, amiga.

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— Te ligo amanhã. Se não tiver que fazer nenhum trabalho pra faculdade, vamos tomar um sorvete e colo-car nossa conversa em dia.

— Tem razão... Nossa conversa... Havia até me esquecido.

— Não tem problema. Amanhã conversamos.Inês se despede dos dois e vai embora.Enquanto isso, Mônica tenta convencer Jonas que

eles podiam sair mais vezes para se conhecerem melhor. Mas Jonas parecia estar mais interessado em Inês do que em Mônica. Tentava tirar da amiga informações sobre Inês sem que Mônica notasse. Tentou descobrir se Inês namorava, o que gostava de fazer, o que estudava... As-sim, aos poucos, descobriu tudo o que queria sobre ela.

Chegando em casa, Inês fica muito surpresa com a comemoração que estava acontecendo. Seus irmãos Luiz Henrique e Gabriel estavam saltitando de felicidade por-que já estavam sabendo que iriam jogar futebol em outras cidades. Inês diz:

— O que acontece nesta casa? Qual o motivo de tanta comemoração?

Vovó Dirce, trazendo um bolo de fubá que só ela sabe fazer, disse entusiasmada:

— São seus irmãos, Inês. Vão jogar em outras cida-des, representando a escola.

— Puxa vida! Que legal! Quando isso?Sua mãe Marta responde:— O povo desta casa anda comemorando antes da

hora, porque nem falei com Francisco. Ainda nem sei se ele vai deixar.

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Os gêmeos interferem:— O papai tem que deixar! Isso é muito legal!Inês diz:— Acho que o papai não tem o direito de impe-

dir os meninos de irem jogar em outras cidades. Já estão grandinhos e sabem se cuidar, não é mesmo?

E os dois, mais do que depressa, respondem:— Sim! Já sabemos nos cuidar sozinhos!Então, Marta diz:— Mas vou morrer de saudades dos meus pimpo-

lhos! Nunca ficamos separados antes! A Inês, por exem-plo, quando viajou com as amigas sozinha pela primeira vez, Francisco e eu não aguentávamos de saudades.

Inês responde:— Como os pais costumam ser exagerados com as

coisas! A vida é tão simples. Vocês complicam demais!Então, quem resolve falar é vovó Dirce:— Ah, querida Inês! Você diz isso porque ainda não é

mãe. Quando for, será tão ou até mais coruja do que Marta.— É, acho que serei mesmo.Vovó Dirce diz a Inês:— Principalmente se você se casar com Marco An-

tônio. Ele me parece ser um rapaz tão cuidadoso com as coisas, tão prestativo!

Então, o silêncio reinou na sala. Depois de alguns minutos, Inês diz:

— Marco Antônio e eu não estamos mais juntos. Terminamos tudo.

— Como assim? Vocês pareciam estar tão bem! Da-vam-se tão bem! Pelo menos era o que eu via – diz vovó Dirce, com uma tristeza no olhar.

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— É, vovó... Mas é melhor assim. Não estava dan-do certo.

E Marta, tentando dispersar a conversa, diz bem alto:— Vamos todos comer o bolo de fubá da vovó!

Já esfriou!Os gêmeos gritam:— Oba! Vamos comer! Vamos comer!Vovó Dirce diz, ao ver Luiz e Gabriel avançarem no bolo:— Cuidado, crianças! Devagar. Sejam educados. Que-

rem jogar em outras cidades com essa falta de educação?E Marta concorda:— Tem razão, mamãe. Eles estão muito mal educados

e se continuarem assim não irão jogar em lugar nenhum.Mas Luiz Henrique e Gabriel não estavam nem li-

gando para o que sua mãe dizia. Sabiam que ela dizia isso, mas, no fundo, deixaria que eles jogassem sim. Mesmo que o pai deles não deixasse, eles sabiam que Marta aca-baria convencendo-o.

Já eram mais ou menos onze e meia da noite quando Francisco toca a campainha e Marta vai atender. Ela diz:

— Já não era sem tempo, hein Francisco!— Já vai começar, Marta?— Seus filhos adormeceram no sofá te esperando.— Demorei porque perdi minhas chaves de casa.

Fiquei um tempão procurando. E por que os meninos ficaram me esperando?

— Porque eles queriam te contar uma novidade. Porém, como sempre, você não tem tempo pra eles, né?

— Que novidade queriam me falar?

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— Dona Alice, a diretora do colégio... Lembra que te falei ontem à noite que iria ao colégio a pedido dela?

— Lembro. E o que é que tem? Já sei... Apronta-ram alguma.

— Muito pelo contrário. Ela elogiou muito os dois. Disse que são excelentes. E também os convidou para jogar futebol em outras cidades, representando a escola. Não é demais?!

Francisco era fanático por futebol. Ele ficou muito entusiasmado com a ideia dos meninos jogarem e ficarem mais conhecidos em outras cidades. E, assim, acabou a angústia de Marta, com medo de que Francisco não os deixasse ir. Ela diz:

— Que bom, meu amor, que gostou da ideia! Eu também achei ótimo para eles se desenvolverem!

— É! Serão jogadores da seleção brasileira! Eu acre-dito nos meus filhos. Eles têm talento!

Nisto, toca o telefone e Marta atende:— Alô! Pois não?— Oi, Marta. Te liguei porque estava pensando em

você agora há pouco e resolvi ligar para saber como estava.Marta ficou sem reação. Tinha reconhecido a voz do

doutor Eduardo. Não sabia se respondia, pois seu mari-do estava na sua frente, se desligava ou se fingia que era engano. Resolveu dizer que era engano e diz a Eduardo:

— Não tem nenhuma Dolores aqui não. Foi engano.E desligou o telefone com uma vontade enorme

de continuar falando com Eduardo. Aquela voz doce, tão atencioso... Por que as coisas tinham que ser da-quela maneira?

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Sem perceber, Marta ficou com um sorriso no olhar. Francisco ficou muito desconfiado e pergunta:

— Tem certeza de que foi engano, Marta?— Certeza absoluta. Ou você conhece alguma

das Dores?— Das Dores ou Dolores, Marta?— Das Dores ou Dolores... Conhece alguma?— Não sei não... A esta hora? Engano?— Ah, Francisco! Se eu soubesse que ficaria tão

curioso, teria deixado você atender. Aliás, se tocar nova-mente, atenda. Vou tomar um banho agora.

Eduardo ficou um tempão segurando o telefone, pensando em ligar novamente, mas tinha certeza de que marido de Marta deveria estar por perto para ela ter des-ligado daquele jeito. Só podia ser isso.

Marta foi tomar banho e enquanto tomava banho, pensava: “Por que Eduardo me ligou a essa hora? Sabe que meu marido poderia estar em casa! Por que fez isso?”, e decidiu que antes de trabalhar no dia seguinte, passaria no consultório dele para dizer um bom dia.

Nisto, Francisco entra no quarto e diz:— É! Parece que o telefone não irá tocar novamente.Marta responde:— Ah! Ainda essa história de engano? Que foi,

Francisco? Está devendo na praça?— Pelo visto não sou eu que estou devendo na pra-

ça. É você.— Ah é?! Não fui eu que...— Cale a boca! Não vai falar de novo dessa his-

tória! Já disse que algum dia alguém vai acabar escu-

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tando! Que mania! Agora, em toda briga você vai falar disso?! Esqueça!

— É que já me cansei desse segredo, Francisco. Não aguento mais levá-lo nas costas. Até quando não poderei revelar?

— Você nunca poderá revelá-lo! Sabe disso!— Senão você irá preso, não é mesmo?— E você também!— Ai, credo! Vamos acabar com esse papo e vamos

dormir. Boa noite!Amanhece e vovó Neuza pergunta à Marta, na mesa

do café, o que doutor Eduardo havia falado a sós com ela, na sala. E Marta responde, meio sem graça:

— Ah... Era sobre seus exames. Disse que não era nada sério, mas que precisava verificar sempre pra não termos problemas futuros.

— Só isso? – pergunta Vovó Neuza, com uma voz dissimulada.

— Só isso. Por quê? A senhora está com alguma ou-tra dúvida?

— Não sei. De repente percebi que doutor Eduardo se preocupa mais com você do que comigo.

— Ora! Que isso, dona Neuza! Ele é apenas seu mé-dico e o médico da mamãe, pois é um cardiologista. Por enquanto meu coração está funcionando perfeitamente.

— Não tão perfeitamente assim, né Marta, com esse marido... Não tem coração que resista! – Tio Au-gusto comenta.

— Deixa ela, Augusto – diz vovó Dirce, preocupada com a felicidade de sua filha.

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Marta se despede e diz:— Bom, o papo está bom, mas tenho que ir trabalhar.Augusto diz:— Desde quando você trabalha aos sábados?— Só trabalharei este sábado. Tive que faltar ontem

para resolver aquela série de pepinos dessa casa, lembra--se? Tchauzinho e beijinhos.

Marta sai na direção contrária ao seu serviço e Fran-cisco a observa da janela.

Desde a noite anterior Francisco estava achando que Marta estava estranha e agora, ele a vê pegando o sentindo contrário ao seu serviço. “Mas o que pode ser?”, pensa ele. “Marta não é uma mulher muito in-teressante fisicamente. Será que está interessada em outro homem? Por que depois de tantos anos vive vol-tando a assuntos do passado?”.

Francisco estava com medo de perder Marta para outro homem. Por mais que ele fosse daquele jeito, rude e áspero com ela, ele a amava muito, afinal, estavam jun-tos há mais de vinte e cinco anos.

Francisco resolve descer para tomar café e pergun-ta por Marta:

— Alguém sabe para onde a Marta foi?— Trabalhar, né Francisco! – diz sua sogra, com

olhar de desprezo.— Não sabia que agora Marta trabalha aos sábados.

Ainda mais pegando sentido diferente do que costuma pegar habitualmente.

— Por que está desconfiado da minha filha? Por que não pede a separação?

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— Quem está falando de desconfiança, dona Dirce? Só estou comentando.

— Certos comentários guarde para si – diz vovó Dirce, meio nervosa.

Quando todos já estão terminando de tomar café, descem os gêmeos na maior felicidade. Luiz Henrique pergunta ao seu pai:

— Papai, a mamãe falou sobre o jogo de futebol em que nós representaremos a escola?

— Falou sim, Luiz Henrique, e fiquei muito orgu-lhoso de ter dois filhos campeões! Porque você ganharão todas as medalhas que aparecerem e serão jogadores da seleção brasileira!

Gabriel diz, sorrindo:— Será mesmo, papai ,que iremos ganhar essa parada?— Claro que irão! Aliás, tomem café e se preparem!

Vamos jogar no clube para treinar.Os dois respondem:— Oba!!!Todos tomaram café e Francisco leva os filhos ao clube.Enquanto isso, Marta chega ao consultório do dou-

tor Eduardo. Ela bate na porta e entra, pois ela sabe que aos sábados ele não atende. Apenas dá uma revisada nas fichas dos pacientes para saber qual precisa marcar novos exames. Quando a vê, nem acredita:

— Marta! O que faz aqui, a esta hora? Que sur-presa ótima!

— Vim me desculpar por ontem, afinal, tive que desligar na sua cara.

— Seu marido estava por perto?

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— Sim, estava.— Ele só pode morrer de ciúmes de você mesmo.

Uma mulher tão linda...— Ah, Eduardo... Não me venha com falsos elogios,

por favor. Há quantos anos não ouço isso!— Talvez tenha muitos homens cegos, que não en-

xergam a beleza feminina verdadeira.— Ah! Agora entendi! A beleza feminina é estar

sempre pronta para resolver os problemas da casa, dos filhos e tudo mais. É... Porque problemas é o que tenho de sobra! Então, sou realmente muito bonita.

— Não era isso que eu estava pensando. Você tem a beleza de uma mulher que sabe o que quer, que tem garra para lutar, que é determinada, é decidida.

— Nossa! Acha mesmo que sou tudo isso?— Não acho. Tenho certeza.— Não tenha tanta certeza, Eduardo. Você pode

se enganar!— Jamais me engano sobre essas coisas. Lido com as

pessoas diariamente e observo personalidades.— É difícil lidar com pessoas, não é?— É difícil, mas é gratificante muitas vezes. Quando

vejo alguém chegar morrendo ao meu consultório e sair bem ou pelo menos melhor, já me alegro bastante. Eu procuro conversar muito com as pessoas, ir além do que a própria doença. Eu nunca te falei, mas fiz três anos de psicologia e às vezes analiso as pessoas também.

— Está me analisando agora?— Sempre te analisei. Não teria descoberto essa mu-

lher fantástica sem uma análise.

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— Ah! Então, quer dizer que ficou me analisando! Que coisa mais feia, hein doutor? Sou casada! Esqueceu?

— Não, não me esqueci. Aliás, te observando tenho notado de que não está feliz com seu marido.

— Como sabe disso?— Na verdade, não foi te analisando que descobri,

mas foi ouvindo suas conversas com sua sogra sobre ele. Ele me parece ser um homem que te faz de capacho. Des-culpe me intrometer.

— A maior culpada de minha infelicidade conjugal sou eu, Eduardo, pois deixei Francisco fazer o que sempre quis, não pus limite. Deixei-me ser dominada totalmente.

— Você se esqueceu de ser feliz. Pensou demais na felicidade dos outros e deixou a sua escapar pela janela.

— Talvez tenha deixado mesmo.— Mas nunca é tarde pra ser feliz. Podemos ser fe-

lizes. O que acha?— Você e eu? Eduardo, não sonhe. Sou uma mãe de

família. Tenho três filhos e um marido. Não se esqueça.— Também tenho três filhos. Só não tenho uma esposa.— É mesmo! Nunca fala sobre eles.— É que não moram comigo. Estão com a mãe,

em Roma.— Em Roma? Que legal!— Legal para eles, não para mim. É tão raro vê-los...— Você foi casado?— Sim. Casei-me e morei em Roma durante sete

anos. Tive três filhos com minha ex-esposa e resolvi voltar para o Brasil. Na verdade, nunca fui feliz na Itália. Minha esposa era tão complicada... Nunca ti-

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nha tempo para a casa, para a família. Tinha dias que viajava a negócios e voltava apenas três dias depois. As crianças viviam com a avó.

— Deve ser difícil para você ficar tanto tempo longe deles. Não consigo me imaginar longe dos meus filhos.

— Mas consegue se imaginar longe do seu marido?— Essa pergunta é muito delicada. Nunca pensei

antes em ficar longe dele, afinal de contas, temos uma vida juntos.

— Quero que comece a pensar a partir de hoje. Es-tou disposto a te conquistar e de ficar com você pro resto da minha vida.

— Eduardo! Está me assustando dizendo essas coisas!— Não se assuste. Apenas pense.— Meu Deus! Já estou hiperatrasada para o serviço!

Você me desculpe, mas preciso ir agora.Marta dá um beijo no rosto de Eduardo e diz:— Nos vemos quinta-feira. Trarei minha sogra

novamente.— Espero que já tenha se decidido até lá.Eduardo, então, segura e beija a mão de Marta. E

ela sai correndo, desesperada, para seu carro, com medo de perder a hora.

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caPítulo v

a rEvElação

Inês acorda para tomar café e só tio Augusto conti-nua na mesa, tomando café e lendo jornal, como costu-mava fazer todos os dias de manhã. Inês dá um abraço em seu tio e diz:

— Bom dia, tio!— Oi, minha querida! Como você está?— Estou bem. Um pouco cansada. Mais tarde te-

nho que ir à faculdade. É horrível ter aula aos sábados.— Falando em faculdade, queria saber se você pode-

ria me fazer um favor?— Qual favor, tio?— Preciso ir ao médico e queria saber qual dia da

faculdade você poderia faltar para me levar de carro. Sabe que desde o acidente que não posso mais dirigir.

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— Eu sei... Não me importo em te acompanhar até o médico.

— Sabe, Inês, sinto tanta falta de trabalhar, ter meu próprio dinheiro, não depender do salário miserável que recebo por invalidez.

— Ah, tio! Não fique desse jeito. Não gosto de te ver triste.

— O pior é que os médicos dizem que andarei o resto de minha vida de muleta, que nunca mais voltarei a andar sem a ajuda delas.

— Tio, vamos esquecer essa história de doença! Vou ver na faculdade quando poderei faltar. Tudo bem?

— Muito obrigado, Inês!Tio Augusto iria marcar um médico para fazer exa-

mes de rotinas apenas porque havia prometido à sua irmã Marta, que queria conversar com Marco Antônio na fa-culdade. E se Inês fosse para faculdade, Marta não pode-ria conversar com ele sem que ela soubesse.

Nisto, Inês sai da mesa do café e vai até o telefone, para ligar para Mônica:

— Alô... Mônica?— Oi, amiga querida! Como está?— Eu estou bem. E você? Me parece ótima também!

Que foi que aconteceu? Agarrou o bonitão ontem à noite? — Que nada! Jonas parecia estar mais interessado

em você do que em mim. Depois que saiu, não parou de fazer perguntas sobre você.

— É mesmo? Não disse a ele que amo outro.— É isso que não entendo, amiga. Ama Marco An-

tônio e teima em terminar com ele?

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— Mônica, podemos conversar hoje à noite? Posso ir jantar na sua casa para conversarmos?

— Claro que pode, amiga! Aproveita que aluguei uns filmes e dorme aqui também.

— Não quero incomodar.— Até parece! Eu moro sozinha. Não tem problema

algum. Sabe disso. Assim, pelo menos não assisto aos fil-mes sozinha, já que o Jonas não quis vir assistir.

E Mônica começou a gargalhar no telefone. Inês deu risada e despediu-se, dizendo que mais tarde iria até a casa de Mônica para conversar.

Marta trabalha o sábado inteiro pensando em Edu-ardo. Ela começa até a ficar preocupada com seus pensa-mentos, ficando com medo de apaixonar-se por ele. Es-tava até se esquecendo um pouco dos problemas de sua casa, de tanto que pensava nele. Mal ela tinha saído do consultório e queria voltar lá, no final da tarde.

Então, Marta sai do escritório e vai ao shopping para comprar roupas e sapatos novos. Fazia tanto tem-po que Marta não comprava nada para si que ela nem se lembrava o tamanho da roupa que usava. Ela fica um tempão experimentando vários modelos e compra roupas modernas, que não estava acostumada a vestir. Mas ela estava decidida a mudar. Queria ficar mais bo-nita e mais atraente.

Ela acaba descobrindo que ainda estava muito viva e que tinha muito o que aproveitar da vida. Quando estava quase indo embora, passa por uma loja de perfumes e maquiagens e decide entrar e comprar alguns perfumes diferentes e algumas maquiagens.

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Quando Marta chega em casa já eram mais ou menos oito e meia da noite. Já estavam todos preocupados, porque Marta nunca deixava de avisar quando ia chegar mais tarde. Quando chega, uma grande surpresa para todos.

A família toda estava reunida na sala, assistindo à televisão, e chega Marta, com sacolas de roupas, sapatos e perfumes. Um dos gêmeos logo pergunta:

— O que comprou para nós, mamãe?— Desta vez não foi para vocês.E Francisco, mais do que depressa, pergunta:— Então, é para mim, amor?— Também não é para você. Eu estava precisando de

umas roupas e sapatos novos e decidi comprá-los agora.Francisco, meio inconformado, responde:— Que bom! Até que enfim preocupou-se com você!O silêncio reinou na sala. Todos continuaram as-

sistindo à televisão, mas estavam achando Marta mui-to diferente. Sua mãe era quem estava mais curiosa com a mudança repentina na vida de Marta. Vovó Dir-ce pensa: “Será que minha filha resolveu largar essa vida para viver algo melhor? Ou será que se apaixonou novamente? Tomara!”.

Quem não estava gostando nada dessa mudança era Francisco, pois percebia que sua mulher estava se preocu-pando mais com a aparência, estava deixando seus cabe-los soltos, como fazia quando era solteira e namorava-o. Então, Francisco quebra o silêncio que reinava e pergun-ta à sua esposa:

— Você começou trabalhar de sábado agora?Ela responde, meio alterada:

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— Não. Só trabalhei hoje porque ontem eu faltei para resolver problemas! Inclusive, problemas que você deveria resolver junto comigo!

Vovó Dirce comenta:— Por favor, filha... Não vão brigar agora... Ou

aqui, na frente de todos. As crianças não gostam de pre-senciar brigas.

Então, Marta sobe para o quarto dizendo que iria tomar um banho e assistir a um filme. Francisco sobe as escadas, correndo atrás de Marta. Ele não podia perder a oportunidade de perguntar porque ela tinha pegado o sentindo contrário ao que costumava pegar. Entrando no quarto, ele vai logo questionando:

— Por que pegou outro sentindo hoje, pela manhã, quando ia trabalhar?

— Não tenho que te dar satisfações. Você nunca me dá satisfações quando chega tarde e eu pergunto onde você estava. Você me responde?

— Marta, é diferente. Eu sou homem e...— E o quê? Você pode chegar a qualquer hora, pode

fazer o que quiser? Pensa que isso não faz com que nosso casamento vá por água abaixo, Francisco?

— Nosso casamento não está indo por água abaixo! Você é que está diferente!

— Não existe casamento faz muito tempo, Francis-co! Só você não enxerga! Acabou!

— Acabou o quê? Estamos casados ainda. Você não diz que me ama?

— Só eu digo “Te amo”. Você nunca me diz. Ali-ás, faz anos que não saímos para passear. Faz anos que

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não se preocupa comigo. Faz anos que nosso casamen-to é uma farsa.

— Uma farsa?— Sim, uma farsa para a sociedade, porque nem as

nossas famílias conseguimos enganar mais! Chega, Fran-cisco! Vou tomar banho e depois assistirei a um filme que eu aluguei. Se quiser, pode assistir também.

Enquanto Marta toma banho, Francisco não se con-forma e começa a olhar as roupas que Marta havia com-prado. Ele estranha muito aquelas roupas, pois não fazia o estilo de sua esposa. Ela não costumava usar roupas como aquelas que havia comprado. Ele a espera sair do banho para perguntar:

— Marta, que roupas são estas?Marta responde, muito irritada:— Quem mandou você mexer nas minhas coisas?!— Você não usa roupas como estas! Por que com-

prou roupas de mulheres extravagantes? Você não é assim!— Não era assim! A partir de hoje serei. Mudarei

muita coisa. Não apenas o estilo de roupas! Me aguarde!Francisco fica muito assustado com aquela situação.

Não sabia o que pensar, nem o que dizer. Apenas achava to-talmente angustiante ver sua esposa mudando daquele jeito.

Inês volta da faculdade, mas estava com muita dor de cabeça e resolve ligar para Mônica, desmarcando a conversa com ela. Mônica fica muito chateada porque já estava toda empolgada para saber o que tão sério Inês havia para lhe contar. Mas teria que aguardar mais um pouco.

No dia seguinte, era uma linda manhã de domin-go e os pássaros já cantavam na janela de vovó Neu-

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za, que havia acordado muito bem humorada. Não se sabia o motivo, mas de vez em quando vovó Neuza acordava daquele jeito.

Ela até se oferece para preparar o almoço, dizendo que Marta e vovó Dirce precisavam descansar um pouco. Todos estranham muito porque vovó Neuza era sempre muito preguiçosa e só gostava de fazer seu tricô sentada na sua poltrona, e não se preocupava se havia alguma coi-sa para fazer dentro de casa.

Enquanto vovó Neuza prepara o almoço, os gêmeos veem até a sala onde a família estava reunida: vovó Dirce, tio Augusto, Inês, Francisco e Marta. Eles traziam alguns álbuns de fotos da época em que tinham ganhado meda-lhas na escolinha de futebol. Todas as vezes que a família olhava aquelas fotos, elogiavam os dois, por isso eles re-solveram trazer para recordar aquele tempo.

Enquanto ficam olhando as muitas fotos de quando eram crianças, fotos de escola, de ex-professoras, Inês pega algumas fotos de Marta grávida dos gêmeos e pergunta:

— Estranho, não?Marta diz:— O que é estranho, Inês?— Tem tantas fotos da infância e da gravidez dos gê-

meos... E minhas fotos de infância e suas fotos de quando estava grávida de mim?

O silêncio reina na sala. Francisco fica até meio sem palavras, sem reação. Depois de alguns minutos, quem se pronuncia é a vovó Dirce:

— Ah, Inês! Você nasceu tão longe daqui! Eu mes-ma só te conheci com seis anos. Acho que Marta não

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se lembrou de tirar fotos dessa época porque quem mais tirava fotos nesta casa era eu.

Mas Inês continuou perguntando:— Por que tive que nascer tão longe daqui?Marta responde, meio nervosa:— Inês, eu e seu pai fomos morar um tempo no

interior. Seu pai gostava muito de lá. Nós nos casamos e moramos lá por um bom tempo. Depois viemos morar com sua avó.

Inês insiste:— E por que vovó nunca foi me conhecer? E nem

nós viemos antes para a vovó me conhecer?Vovó Dirce responde:— É que seu pai era meio problemático e não queria

visitas. Francisco sempre foi meio esquisito.Francisco diz:— Eh! Calma lá, dona Dirce! Não precisa ofender!— Você me deixou seis anos sem conhecer minha

neta e quer que eu não te chame de esquisito?Marta tenta desviar o assunto:— Vamos parar com as brigas! Hoje é domingo, dia

de lazer, de paz nas famílias. Dia de almoçarmos juntos, então, por favor, vamos parar!

Inês deixa a família na sala e sobe para o quarto, meio inconformada.

Marta e Francisco se entreolham e não dizem mais nada. Todos continuam olhando as fotos, mas o clima estava muito mais tenso. Apenas vovó Dirce estava cur-tindo as fotografias com os netos.

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Marta chama Francisco até o quarto, dizendo que precisava de uma ajuda para consertar o guarda-roupas. Os dois sobem as escadas meio cabisbaixos.

Marta fecha a porta com urgência e diz:— Inês nunca havia perguntado sobre as fotos de

infância! O que deu nela agora?— Não sei. Temos que tomar cuidado com que fala-

mos, senão alguém pode nós escutar.— Você tem razão. Precisamos pensar em alguma

coisa se Inês continuar perguntando.— Não temos que pensar em nada. Falaremos o que

foi a realidade. Moramos muito tempo no interior. Só isso.— Moramos não. Nos escondemos, porque morar

naquele fim de mundo, onde tudo era difícil, só para nós mesmo. Às vezes me lembro de Inês doente e não podíamos nem levá-la ao médico. Não consigo me esquecer dessa his-tória. Sabia que ela poderia ter morrido naquele lugar?

— Inês é forte. Graças a Deus tem muita saúde.— É... Se não tivesse, coitadinha! Já não estaria en-

tre a gente.— Você sempre foi uma excelente mãe para ela.

Nunca a deixou sofrer com nada.— Pena que agora estou vendo minha filha sofrendo

e não posso fazer nada.— Ela esquece. Daqui a pouco arruma outro namo-

rado e esquece tudo que está acontecendo.— Assim espero, Francisco.— Agora vamos para a sala. Estão todos lá, reu-

nidos. Vamos ficar com eles enquanto minha mãe ter-mina o almoço.

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Os dois descem e todos ficam reunidos até o final da tarde. Apenas Inês que não, pois tinha resolvido ir para a casa de Mônica, para conversar com ela.

Inês chega na casa de Mônica e elas fazem uma festa. Mônica tinha preparado um bolo. Elas comem e assistem a um filme. E, então, chega o momento tão esperado por Mônica: a conversa com Inês, na qual ela iria contar por-que estava tão angustiada naqueles dias.

Mônica diz:— Amiga, pode contar comigo. Tudo o que você

disser, seja lá o que for, pode ter certeza de que irei te ajudar da melhor forma possível.

— Então, senta que começarei desde o princípio.— Pode falar.— Então... Terminei meu namoro com Marco An-

tônio não porque não o amo. Muito pelo contrário. Eu o amo demais.

— Não estou entendendo!— Tenho quase certeza de que Marco Antônio é

meu irmão.— O quê?!Mônica fica muito assustada, mas Inês continua

contando sua história:— Ouvi meus pais discutindo no quarto sobre o pas-

sado. Eu estava passando, para tomar água na cozinha, e escutei minha mãe dizendo que eu não era filha dela, que ela tinha aceitado o erro do meu pai e que ele tinha matado a sua amante, com os filhos nos braços, sem piedade.

— Meu Deus, Inês! Isso é muito grave! E por que acha que Marco Antônio é seu irmão?

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— Porque Marco Antônio sempre me contou essa trágica história, que havia acontecido com sua mãe. A mãe dele largou do pai dele para ficar com o amante, mas ele não quis ficar com ela. Então, ela resolveu engravidar desse homem para ficar com ele. Mas o que ela não sabia é que ele teria coragem de matá-la, com o filho nos bra-ços, para não ficar com ela.

— E você acha que esse homem era o seu pai?— Tenho quase certeza, porque, pela história que eu

ouvi, não pode ser outra pessoa.— Mas você não disse que nasceu muito longe daqui?

No interior, como consta na sua certidão de nascimento?— Acho que nasci aqui e me levaram recém-nascida

para lá. Sabe por quê?— Por quê?— Porque minha avó nunca me conheceu antes dos

seis anos de idade. Meu pai não poderia voltar antes da poeira abaixar, então, ele e minha mãe ficaram desapare-cidos durante anos, sem dar notícias.

— Nossa, que história horrível! Então, quer dizer que a Marta não é sua mãe?

— Ela apenas aceitou me criar como filha para en-cobrir o erro do meu pai e ele não ir preso, caso alguém descobrisse que ele é um assassino.

— O que vai fazer agora?— É isso que não paro de pensar. Dia e noite, fico

martelando isso na minha cabeça.— Você tem que falar para o Marco Antônio.— Você pirou? Se ele souber disso vai direto para

polícia denunciar meu pai.

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— E você acha justo seu pai não pagar por um erro tão grave que cometeu?

— Tenho muito medo. Tenho medo de que minha mãe possa ser presa junto. Tenho medo de ver meu pai apodrecer na prisão.

— Ele matou sua verdadeira mãe! Ele roubou você da sua vida!

— Mas se põe no meu lugar. Eu ainda não tenho certeza dos fatos. E depois, não posso pôr meu próprio pai atrás das grades.

— Um canalha é o seu pai. Sempre foi.— Eu sei, mas eu aprendi a amá-lo. E minha mãe

adotiva sempre foi muito boa comigo, e sei que ela vai sofrer muito com essa história. Se ela descobrir que eu sei a verdade, ela vai pirar.

— E o que pretende fazer?— Vou pesquisar. E você vai me ajudar.— Como pretende pesquisar?— Deve ter saído, na época do acontecimento, nos

jornais. Temos que achar jornais da época. E também te-nho que conversar com o pai ou com a avó de Marco Antônio para saber mais detalhes dessa história.

— Então, vamos em todos os sebos que a gente co-nhece, até encontrarmos alguma coisa.

— As férias estão chegando. Vou ter tempo para procurar quando entrar de férias. Falta apenas um mês.

— Ainda vai esperar um mês?— Terei que esperar. Mas todos os dias tento ouvir

alguma coisa no quarto de minha mãe, para ver se escuto alguma coisa referente ao acontecimento.

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— Cuidado! Alguém pode te ver.— Sei o que estou fazendo. Fico tão angustiada com

essa história, Mônica... Eu queria que fosse tudo mentira ou, então, que fosse um sonho ruim.

— O pior dessa história é saber que terá que ficar separada de Marco Antônio até isso se resolver.

— Isso não é o pior. O pior mesmo é se ele real-mente for meu irmão. Daí, teremos que ficar separados para sempre...

— Nem pense nisso! Tudo vai acabar bem. Você vai ver.— Eu só queria que fosse um enorme engano...Inês volta para sua casa muito mais aliviada. Parecia

que tinha tirado um peso dos seus ombros. Mas ela esta-va com um pouco de medo também. Estava com medo de que Mônica comentasse com alguém, pois, então, iria pôr tudo por água abaixo.

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caPítulo vi

o inEvitávEl

Era segunda-feira, dia normal naquela casa: mui-ta correria, gente atrasada e tio Augusto atrapalhando como sempre, demorando horas no banheiro. Marta sai para o serviço sem tomar o café da manhã porque não queria chegar atrasada em plena segunda. Como Inês faria sua prova substitutiva, sua mãe acabou le-vando-a até a faculdade.

Deixando Inês na faculdade, Marta pegou seu celu-lar e pensou em ligar para Eduardo para desejar-lhe um bom dia, mas acabou não tendo coragem para tal coisa. Para sua sorte, ela encontra Marco Antônio, que estava atrasado, indo para faculdade. Marta para o carro e pede ao rapaz para entrar:

— Bom dia, Marco Antônio. Como vai?— Estou bem, dona Marta. E a senhora?

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— Não muito bem. Estou muito triste com o rom-pimento do namoro seu e de minha filha. Por favor, me diga a verdade. O que aconteceu de fato?

— Isso eu gostaria de saber também, dona Marta. Sua filha me veio com uma história de que nós não pode-mos ficar juntos. Eu, sinceramente, não entendi.

— É... Minha filha anda meio estranha ultimamen-te. Todo mundo está percebendo.

— Acho que ela tem outro, dona Marta, mas não tem coragem para dizer. Então, ela fica meio confusa.

— Isso não mesmo! Minha filha não engana nin-guém. Ela é muito honesta.

— Mas ela não está me enganando. Nós estamos separados.

— Não é isso, Marco Antônio. Se ela estivesse apai-xonada por outro homem ela estaria feliz e não cabisbaixa como Inês anda.

— De repente, está triste porque não tem coragem de assumir esse namoro.

— Conheço minha filha. Não é isso. Vou descobrir.— Se a senhora descobrir, por favor, avise-me. Pre-

ciso muito saber o que houve.— Pode deixar, Marco Antônio. Avisarei sim.Então, Marta se despede de Marco Antônio e vai

rumo ao seu serviço.Chegando a noite, quando todos já retornaram para

casa, exceto Francisco, na mesa, para jantar, estavam: Marta, Inês, suas duas avós e o tio Augusto. Inês quebra o silêncio que estava reinando naquele ambiente:

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— Ah, tio! Já vi o dia que posso faltar na faculdade para levá-lo ao médico. Sexta-feira é um ótimo dia para mim. Não tem nenhuma matéria importante.

Marta logo interfere:— Não precisa se preocupar, minha filha. Eu posso

levar seu tio ao médico.Tio Augusto comenta:— Mas Marta...Marta pisca para tio Augusto, dizendo:— Pode deixar, Augusto. Minha agenda está super-

boa esta semana. Estou bem tranquila. Posso te levar sem nenhum problema.

Inês sorri e diz:— Tudo bem, mamãe. Se é assim, então tudo bem.

Mas se precisar pode contar comigo.Tio Augusto fica sem entender nada, pois sua irmã

tinha pedido para ele inventar a história de que tinha médico e agora disse para Inês não se preocupar.

Mais tarde, Marta chama o tio Augusto em seu quarto e comenta:

— Já falei com Marco Antônio.— É mesmo, minha irmã? E o que achou?— Achei que está falando a verdade. Ele realmente

não entendeu porque Inês terminou com ele.— E por que você acha que Inês terminou com

ele então?— É isso que não entra na minha cabeça, Augusto.

Como Inês termina o namoro se ela é apaixonada por ele?— Será mesmo que ela é apaixonada por ele? E se ela

estiver gostando de outra pessoa.

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— Não acredito nesta possibilidade. Mas preciso descobrir, Augusto.

— Sabe o que eu acho, Marta? Que você deve es-quecer essa história. Deixa a Inês resolver os problemas dela sozinha.

— É isso que vou fazer, Augusto, senão serei capaz de enlouquecer.

Marta disse isso a Augusto, mas não era o que ela ia fazer. Ela estava curiosa demais para esquecer aque-la história. Marta queria saber o motivo pelo qual Inês não queria mais namorar Marco Antônio. Eles sempre se deram muito bem e, além disso, Inês estava muito triste com a separação.

Os dias iam correndo normalmente naquela casa. Só faltavam alguns dia para as férias escolares e todos estavam muito animados. Principalmente os gêmeos. Eles não con-seguiam nem dormir, ansiosos com a viagem, com a escola, pensando no campeonato. E Inês cada vez mais apreensiva para obter informações sobre seu passado.

Era dia de Marta levar sua sogra ao Dr. Eduardo. Sua maior alegria eram os dias de consulta de vovó Neu-za. Marta levantou cedo, tomou banho, lavou os cabelos, colocou uma roupa daquelas que havia comprado. Ela estava irreconhecível. Estava muito bonita, sua pele havia rejuvenescido. estava mais corada e feliz. Quando termi-nou de se arrumar, foi chamar a vovó Neuza.

— Vamos, dona Neuza?— Nossa! Tem certeza de que vamos ao médico?

Está parecendo que você vai encontrar com um namora-do, ou vai passear num shopping, ou coisa parecida.

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— Que nada, dona Neuza! Ainda não havia usado minhas roupas novas. Resolvi estreá-las.

— Não tinha outra ocasião para essa estreia?— Infelizmente, não há ocasião para isso. Raramen-

te vou ao shopping, muito menos seu filho me chama para sairmos, então, não vejo outra ocasião.

— Então, vamos! Estamos atrasadas.Marta estava tão cheirosa que vovó Neuza estava até

espirrando com seu perfume. Chegando lá, Eduardo não acredita no que vê. Sua amada entrando na sala, linda como nunca tinha visto. Nem parecia a mesma pessoa. Eduardo a olhou fixamente. Queria muito elogiar, mais não podia, pois a vovó Neuza não parava de olhar. Ela achou muito estranho o Dr. Eduardo ficar meio que pa-ralisado com aquela situação e resolveu falar:

— Viu, doutor, como Marta está bonita hoje? E cheirosa! Vim espirrando o caminho inteiro.

Eduardo responde com um grande sorriso:— Pois é! Já vi que está num bom dia.Marta fica bem sem graça, mas não responde nada.

Apenas sorri timidamente.Ao término da consulta, o Dr. Eduardo não sabe

como iria falar a sós com Marta. Então, ele fica enro-lando. Não tinha mais o que falar, não tinha mais o que explicar e nem o que examinar, então, ele resolve escrever atrás da receita, que entrega para Marta: “Te espero às 19h, aqui”. Marta, quando lê, fica muito surpresa e guar-da em seu bolso rapidamente.

Eles se despedem e Marta leva vovó Neuza de volta para casa. Ela estava tão aérea que vovó Neuza comentava sobre a consulta e Marta nem sequer respondia.

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Chegando em casa, Marta deixa vovó Neuza e volta para o trabalho. No caminho, ela para numa livraria e compra um livro para Eduardo. Era um livro de roman-ce, sobre um amor proibido e impossível. Ela faz uma dedicatória no início do livro, dizendo que o amor que acontece naquele livro é como o amor deles: impossível.

Já eram dezenove horas e Marta chega ao consultó-rio de Eduardo. Ela bate na porta e diz:

— Posso entrar?— Claro que pode entrar. E eu? Posso entrar no

seu coração?— Você não podia, mas já entrou.— Por que não podia?— Sabe por quê. Te trouxe um livro.— Um livro?— Sim. Um livro que fala sobre um amor impossí-

vel, como o nosso.— Nosso amor não é impossível. Você é casada com

um homem que não te faz feliz, nem um pouquinho se-quer. Ele te faz de gato e sapato. É justo que queira viver outra coisa.

— Não sei se é justo querer viver outra coisa, Eduardo. Minha família não aceitaria que eu me sepa-rasse de Francisco.

— Sua família ou você não aceitaria?— Eu?— Sim. Você acha que deve ser infeliz pelo resto de

sua vida? Por que não quer ser feliz, Marta? O que você me esconde? O que viveu no passado que te prende a ele?

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— Ainda me pergunta o que me prende ao passado? Meus filhos, a minha vida de vinte e seis anos de casada! O que mais quer que me prenda?

— Tem mais alguma coisa que te prende. E não é nada dessas coisas, Marta.

— Não acha motivos suficientes para me prenderem?— Não acho motivos suficientes. Acho que você

quer arrumar desculpas para não ser feliz ao meu lado. Tem medo de que eu não te faça feliz?

— Tenho medo de que eu não te faça feliz. Eu sou o problema de toda essa história.

— Eu quero esse problema para mim. Deixa eu cui-dar desse problema, por favor.

— Já não chegam todos os problemas que você re-solve diariamente?

— Resolvo problemas dos outros. Agora, eu quero um problema meu. Só pra mim.

— Sou um problema sério. Você tem certeza de que vai querer?

Marta sorri para Eduardo. Ele diz:— Você será meu problema predileto.Eduardo não espera Marta responder e a beija,

um beijo longo e ardente, como há muito tempo Mar-ta não havia tido. Ela fica sem reação, mas, mesmo assim, diz a Eduardo:

— Não podemos!— Marta, por favor...E antes que ele terminasse sua frase, Marta sai correndo

desesperada para sua casa e deixa Eduardo falando sozinho e lembrando-se de como era bom tê-la em seus braços.

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Marta estava andando em alta velocidade, chorando, pensando como ela podia ser tão covarde. Nem ao menos tinha coragem de assumir o que sentia por Eduardo.

Seu casamento era um fracasso. Nunca mais tinha dado nem um beijo em seu marido como havia dado em Eduardo. Há quantos anos não sabia o que era um beijo ardente, um afeto, uma preocupação com ela... Francisco nunca mais deu-lhe atenção. Quando chegou em casa, os gêmeos estavam eufóricos:

— Mamãe! É amanhã que vamos viajar!— Não acredito! Já?! Meus meninos ficarão longe

da mamãe...— A vovó já ajudou a gente com as malas, mãe.E Marta diz para a vovó Dirce:— Mamãe, não se esqueceu de colocar blusa de frio

nas malas, né?— Ah, minha filha! Você se esqueceu de que sou

mãe duas vezes? Jamais esqueceria uma coisa dessas.Marta estava alegre e triste ao mesmo tempo. Sabia

que os meninos estavam felizes por viajar e conhecer ou-tros lugares, mas estava triste com a situação em que ela se encontrava.

Ela achou que nunca amaria outro homem que não fosse Francisco, que ele era a pessoa que iria lhe fazer feliz, mas não foi isso que aconteceu. Francisco pensou apenas nele a vida inteira. Nunca se preocupou se Marta estava bem ou não, se estava feliz. Agora, ela estava descobrindo um novo rumo para ser feliz. Ela não queria abrir mão de ficar ao lado de Eduardo, mas também não queria abrir mão de sua família.

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Tudo iria desmoronar quando ela dissesse que que-ria separar-se. Teria que tomar uma decisão, talvez uma das mais difíceis de sua vida. Só não era a mais difícil porque um dia ela havia decidido fugir e se esconder para ficar ao lado de Francisco, o que, na época, havia sido muito complicado para ela, pois teve que criar Inês, que não era sua filha legítima, e o pior, era filha de um caso que Francisco tinha com outra mulher.

Ela escolheu esconder a verdade sobre a morte de uma mulher, que foi cruelmente assassinada por seu marido. Preferiu ficar longe de sua mãe, de seu pai, que morreu enquanto eles estavam escondidos num vilarejo no interior, bem distante da cidade e de todas as pessoas conhecidas, bem longe da tecnologia, dos recursos. “E tudo isso para quê?”, ela se perguntava. Para que havia feito tanto esforço? O que havia ganhado de Francisco por tanto sacrifício?

A única coisa que ela se lembrava de que valera à pena eram seus filhos. Apesar de Inês não ser sua filha biológica, Marta a amava muito, como se fosse sua mãe verdadeira. E era isto que ela tinha medo de perder: o amor de seus filhos, com a separação, ficaria abalado.

Os gêmeos interrompem os pensamentos de Mar-ta, dizendo:

— Mãe, amanhã precisamos levantar bem cedinho. Temos que estar na escola às seis da manhã.

— Está bem. Vou acordar vocês junto com as gali-nhas amanhã.

Todos foram dormir. Os gêmeos foram dormir com uma ansiedade muito grande. Estavam muito felizes.

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Queriam ganhar o campeonato de qualquer jeito. Eles es-tavam sonhando com as medalhas que poderiam ganhar, com as novas amizades que iriam fazer viajando com a escola. Iriam conhecer outras escolas, outras cidades. Es-tavam bem empolgados com essa história.

Chegando o dia seguinte, Marta levou-os até a es-cola. Desta vez Francisco foi junto com os gêmeos e sua esposa. Eles se despediram com um grande abraço e em-barcaram felizes.

No caminho da volta para casa, Francisco pega na mão de Marta e diz:

— Porque anda tão estranha comigo, Marta?— Não estou estranha, Francisco.— Não está? Por acaso você é desse jeito que está ul-

timamente? Antes você me agradava, deixava tudo pron-to para quando eu chegasse. Agora não faz mais isso. O que está acontecendo?

— Acho que eu acordei, finalmente.— Acordou?— Isso, acordei. E comecei a enxergar que eu sempre

fiquei ao seu lado, escolhi abrir mão de tudo por você, e o que recebi em troca? Você nem sequer chega cedo em casa para conversar comigo, para saber como foi meu dia, para ficarmos juntos, para namorarmos. Nada para você tem importância. Para mim também não tem mais.

— Não tem mais importância nossa vida?— Não. Acabou, Francisco.— Já sei. Você tem outro.— E se eu tivesse? Você tem tantas por aí! Eu tam-

bém tenho direito!

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— O quê?!! Está me acusando de ter outra? E ainda se acha no direito de ter outro?

— Ah é? Você nunca teve outra! Tanto é que Inês é um fruto que veio de uma árvore ou de uma semente... Sei lá.

— Meu Deus! Essa história novamente?! Você real-mente nunca me perdoou pelo que eu fiz.

— Acho que não. Você mudou o rumo da minha vida. Você entortou meu destino.

— Não entortei. Você aceitou que ele fosse entortado.— Por sua causa.— Nós fomos muito felizes naquela época. Não

se lembra?— É, até fomos. Mas porque eu não tinha nem um

pouco de juízo.— Isso não importa agora. Já passou e somos felizes.— Eu não estou feliz ao seu lado, Francisco. É isso

que você não quer entender.— Por que não?— Você acha que é realmente necessário que eu diga

por que não sou feliz ao seu lado?— Claro que sim. Se não disser, como saberei?— Então, pegue um caderninho e comece a anotar.

Você chega todos os dias tarde em casa, não liga pra mim, para sua família, para o seus filhos. Não me dá satisfações, não me dá atenção, não...

— Chega!!! E eu? Acha que também não tenho re-clamações sobre você? Acha que é perfeita?

— Sei que não sou, mas faço o possível para ser. Não deixo meus filhos e nem meu marido e chego todas as noites tarde.

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— Mas você joga na minha cara que eu te fiz criar uma filha que não é sua, que te fiz mudar para o fim do mundo, que mudei todos os seus planos de felicidade. Você acha fácil carregar essa culpa todos esses anos?

— Todos nós temos que pagar um preço por algo de ruim que fizemos com outras pessoas. Você matou uma pobre inocente, que você iludiu, que teve uma filha sua, só para ficar com você, e agora você quer que nada acon-teça com você? Que nem ao menos se sinta culpado pela sua infelicidade e pela minha?

— E que preço você acha que você paga por ter aceitado tudo isso? Ficar ao meu lado, sendo eu um péssimo marido?

— Exato. Talvez seja esse o preço que devo pagar.— Marta, me perdoa, por favor. Estou disposto a

recomeçar.— Não tem como recomeçar. Acabou o amor, aca-

bou o interesse, acabou o desejo que eu sentia.— Vamos viajar! Vamos tirar umas férias só nos

dois! Vamos aproveitar que os meninos não estão aqui e a Inês já é uma mulher. Nós precisamos ficar juntos e pensar o que queremos de nossas vidas. Se não der certo, pelo menos tentamos.

— Não sei, Francisco, se quero tentar. Já tentei mi-nha vida toda.

— Então, quer dizer que não me dará uma chance de te conquistar novamente?

— Não tem porque eu te dar uma nova chance. Você nunca mudou. Não me iludo mais. Esperei minha vida inteira que você me amasse de verdade, mas isso nunca aconteceu.

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— Isso é demais para os meus ouvidos, Marta! Eu nunca te amei, então? Foi por amor a você que fiz aquela loucura. Não queria te perder, não queria ficar com ela. Eu queria você e sempre quis.

— Me quis e me teve, mas agora não tem mais. Você podia ter pensado melhor e ter escolhido ficar com ela. Quem sabe ela não teria te feito mais feliz do que eu te fiz.

— Poderia ter escolhido ela, mas escolhi você. Você não me entende. Eu tive que matá-la para ficar com você e nossa filha. Você jamais iria ficar comigo se soubesse que ela havia tido uma filha minha porque me amava. Você não me aceitaria. Tive que fazer aquilo pra ter a mínima chance de ficar com você.

— E se eu não tivesse aceitado?— Provavelmente, eu teria me matado. Não iria su-

portar. Matar uma pessoa com uma criança nos braços e depois ser desprezado pela outra que eu amava, seria demais para um pobre coração.

— Pobre coração? Coração gelado! É isso que você é!— Ultimamente, você não me compreende mais.

Na época você aceitou, ficou do meu lado, raramente tocava no assunto, agora não... Qualquer coisa você se lembra do que ocorreu e me joga na cara.

— Então, Francisco... Acabou o amor. Quando eu te amava de verdade parecia que isso era uma prova de amor, que você fez tudo para ficar comigo e com sua filha. Agora me parece um ato horrível, de uma pessoa sem escrúpulos. Sempre foi um ato horrível. Agora comecei a ver isso.

— Me diga: o que quer, então?

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— Que você saia de casa.— Eu sair de casa?! Acha que será simples assim?— Se você quiser complicar, por mim tudo bem. Se

não sair de casa, simplesmente irei falar com algum dos advogados que trabalham comigo e verei como proceder. Muito simples para mim, não acha?

— Por que está fazendo isso comigo? Não sei viver sem você. Nunca soube. Se não me matei naquela época, vou me matar agora.

— Vamos parar de drama! Nunca conseguiu viver sem mim porque nunca quis fazer nada de sua vida. Está sempre nas minhas costas pra tudo, desde aquela época até os dias atuais. Acabou!!! Ouviu? Acabou!!!

— Quer que eu saia de casa mesmo?— Quero.— Está bem. Sairei. Você irá se arrepender em pou-

cas semanas.— A única coisa de que me arrependo foi ter aceita-

do essa história na minha vida. Arruinei-me.— A nossa vida juntos foi uma ruína para você?— Não todas as coisas. Meus filhos não. Eles foram

a melhor coisa que fizemos.— É por eles que te peço: me dá outra chance.— Não complica. Quando eles voltarem quero você

longe de casa. Depois explico a eles o que aconteceu, que já não te amo mais.

Marta continua dirigindo. Já estava quase che-gando em casa. Francisco não falou nenhuma palavra mais. Apenas chorou, chorou, como nunca havia cho-rado em toda sua vida.

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Marta apenas o observava. Queria chorar também, mas ela se segura. Não queria parecer arrependida da sua decisão. Por dentro ela queimava de tanta dor. Tinha cer-teza de que não amava mais Francisco, mas não queria ver seu mundo desmoronar, como estava acontecendo,

Imaginava quando todos soubessem o que estava acontecendo. Qual seria a reação de Inês, dos gêmeos e de toda sua família. Ela tinha que tomar uma decisão definitiva. Não podia mais conviver com aquela situação insuportável. Ela estava muito apaixonada por Eduardo. Pensava nele todos os dias.

Marta estacionou o carro na garagem e Francisco não parava de chorar. Ela diz:

— Acho bom parar com isso, senão todos ficarão preocupados. Podemos contar nossa decisão um pouco mais tarde, quando todos estiverem reunidos.

Francisco apenas balançou a cabeça em sinal de con-cordância. Os dois entraram como nada tivesse aconteci-do. Francisco subiu para o quarto sem dizer uma palavra.

Marta contou para todos que os gêmeos tinham ido muito felizes e que estava tudo bem.

Inês percebe algo estranho em seu pai. Realmente, nunca o tinha visto daquele jeito e comenta com Marta:

— Por que o papai subiu chorando?— Agora não me pergunta nada, Inês. Falaremos

sobre isso mais tarde, quando ele estiver mais calmo.Marta subiu para o quarto. Todos na sala ficaram

apreensivos, querendo saber o que havia acontecido com Francisco. Ninguém nunca o tinha visto chorar.

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caPítulo vii

o Plano

O dia seguiu normalmente, até a hora que Francisco desce as escadas com suas malas nas mãos. Todos arrega-lam os olhos e Inês se manifesta:

— Vai viajar, papai?— Não. Estou indo embora. Sua mãe quis assim.

Estou apenas atendendo um pedido que ela me fez.Todos ficam pasmos. Não sabem o que falar, o que

pensar. Mas, no fundo, vovó Dirce e tio Augusto ficam bem contentem com a situação. Enfim, Marta tinha acor-dado que não valia à pena ficar com um homem como o Francisco para o resto da vida.

Todos se despediram de Francisco, e ele disse:— Tenho certeza de que Marta irá pensar melhor e

na semana que vem estarei de volta.

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Ninguém falou nenhuma palavra sobre o assunto. Apenas acharam que Marta jamais iria se arrepender por Francisco ir embora daquela casa, pois ela não era feliz ao lado dele. Todos sabiam disso. Era evidente. Marta raramente voltava atrás de uma decisão. Então, vovó Neuza fala:

— Eu também terei que ir embora desta casa junto com meu filho?

Marta desce as escadas e responde:— Mas é claro que não, dona Neuza. A senhora

sempre morou com a gente e continuará morando até quando quiser, a não ser que prefira seguir com o seu filho. Acredito que não.

— Sabe que meu filho nunca me deu segurança, né, Marta? Admiro você por tê-lo aguentado todos esses anos.

E Francisco interfere bravo:— Agora essa ingratidão, mamãe! Sempre fiz tudo

por todos nesta casa e só recebo patadas!Todos se entreolham, mas ninguém diz nada. Ape-

nas acham que Marta estava com toda a razão quando pediu para Francisco ir embora.

Ele sai muito cabisbaixo e chorando, insistindo em dizer que em breve voltaria. Já era noite, todos foram dormir. No dia seguinte, Marta levanta totalmente dife-rente. Parecia ter tirado um peso enorme de seus ombros. Na mesa do café da manhã, ela diz sorridente:

— Bom dia, família linda!Inês responde:— Nossa, mãe! Como está feliz hoje! Só por que o

papai foi embora ontem?

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— Não, Inês. Não estou tão bem quanto pareço.— Pois me parece muito melhor agora sem o papai— Toda a separação é muito difícil, minha filha.

Tem muitas coisas para eu rever, alguns costumes deixa-dos para trás por causa da pessoa, coisas que você gosta e tem que aprender a abrir mão por causa da outra pessoa. Isso tudo é muito complicado. Foram muitos anos jun-tos, então, você se acostuma com a outra pessoa do seu lado, demora para dormir achando que uma hora ele vai chegar... Você me entende, né? Por mais que você não ame mais, você se acostuma com a pessoa do seu lado. Você sabe do que estou falando, pois terminou com Mar-co Antônio e sabe como estou me sentindo.

— Não sei não, porque eu e Marco Antônio tínha-mos seis meses de namoro e a senhora tem muitos e mui-tos anos de casada. Se para mim foi difícil, imagino para a senhora. Mas mesmo assim, me parece mais feliz.

— Não digo mais feliz, mas estou mais aliviada. To-mei essa decisão, mas foi muito difícil, demorada e inevi-tável. Não amava mais seu pai. Já não queria mais aceitar as atitudes dele.

— E não tinha que aceitar mesmo, mamãe. O que o papai fazia era inaceitável.

Marta abraça Inês e diz:— Que bom, minha filha, que você consegue me

compreender. Que bom que não está brava por eu ter me separado de seu pai.

— Sempre vou ficar do seu lado. Nunca se esqueça disso, Marta.

— Por que me chamou de Marta? Nunca me cha-mou assim!

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— Só foi uma forma de me expressar.No fundo, Marta fica muito desconfiada e pre-

ocupada. Inês nunca havia lhe chamado pelo nome. Será que ela estava sentindo que não era sua filha de verdade? Inês diz a Marta:

— Mãe, o que vai dizer aos gêmeos quando eles chegarem?

— Esse será meu único problema. Eles são apai-xonados pelo pai. Nunca irão me entender. Ficarão bravos pra valer.

— Pode deixar que eu converso com eles, mãe.— Não adianta, Inês. Eu preciso contar.— Se prefere, tudo bem. Agora vou tomar café e

sair. Tenho que ir na casa da Mônica.Inês tomou café e saiu apressada, mas, na verdade,

ela iria ao sebo com a Mônica para pesquisar sobre a morte de sua mãe verdadeira. Chegando lá elas revi-raram tudo – jornais e revistas antigas –, mas não en-contraram nada, pois era muito antigo, cerca de vinte seis anos antes.

Marta tinha ido ao consultório de Eduardo para contar a novidade. Chegando lá, ele estava em uma consulta. Então, ela esperou durante trinta minutos. Quando ele terminou, ela entrou em sua sala e ele fi-cou muito surpreso.

— Marta! O que faz por aqui? Que surpresa no final da tarde!

— Pois é... Ficou feliz em me ver?— Feliz é muito pouco para expressar o que sinto

quando te vejo.

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— Ficará mais feliz quando eu te disser o que vim fazer aqui.

— O que veio fazer aqui?— Vim te contar que, finalmente, coloquei um

ponto final em meu casamento.— O quê?! Repete, por favor.— É isso mesmo que você ouviu.— Ah, meu amor... Vem aqui me dar um beijo.E Marta deu um longo beijo em Eduardo, que se

sentiu totalmente realizado. E ele disse assim que termi-nou o beijo:

— Vamos sair para comemorar! Vamos jantar num restaurante que eu conheço e que tem uma comida óti-ma. Eu tenho apenas mais uma paciente agora e depois podemos ir.

— Ainda não, Eduardo.— O que ainda não?— Ainda não posso sair com você, desfilando por aí.

Acabei de me separar, ninguém sabe ainda. Nem mesmo meus filhos. Não dá. Ainda não.

— Tudo bem, eu te entendo. Então, podemos fazer um programa a dois que ninguém saberá. O que acha?

— Eduardo, já te falei... Acabei de me separar. Não acha que está colocando a carroça na frente dos bois?

— Está bem, Marta. Vou esperar. Quando você achar melhor a gente começa a se relacionar. Só espero que não demore muito tempo.

— Como você é apressadinho! Já fiz demais me se-parando do Francisco assim, tão rápido. Você está que-rendo muito de mim.

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— Já disse que vou esperar o tempo necessário para você se desligar dele definitivamente.

— Eu não o amo mais. Não sei... Quando a gente se separa de verdade é tudo muito estranho. Sua cabeça fica meio louca. Meio não, completamente louca.

— Eu sei muito bem como é isso. Esqueceu que já me separei uma vez? Entendo o que está sentindo. Apesar de não haver mais amor, existe um costume muito gran-de da outra pessoa.

— É exatamente isso que estou sentindo. Ainda pre-ciso me acostumar com a nova situação.

— Por favor, pense em mim toda vez que se sentir sozinha em seu quarto, toda vez que ele parecer enorme e vazio. Eu sei muito bem que ele parece muito maior do que é quando a gente se separa.

— Só irei te procurar quando colocar minha cabeça no lugar. Enquanto isso, torce por mim, para que eu me ache bem rápido.

— Esperarei o tempo que for para tê-la. Não me importo com nada... Quanto vai demorar, se irá dar certo ou não... Apenas quero viver intensamente nosso amor, como um adolescente apaixonado. Espero que também queira viver isso.

— Quero viver isso sim. Não quero mais me preo-cupar com o futuro, não quero pensar no que os outros irão dizer, se as pessoas acharão errado eu ter deixado meu marido e ficado com o médico da minha sogra. Nada dis-so tem importância agora. Nada.

— Seremos muito felizes juntos. Confie em mim.— Eu confio.

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Eduardo beijou Marta, até que o telefone tocou in-formando que sua paciente estava esperando na recepção.

Marta saiu do consultório muito mais leve. Ela es-tava com medo de que Eduardo não a entendesse, que cobrasse o amor dela de imediato.

Assim foram passando os dias. Os gêmeos estavam muito felizes. Ligavam todos os dias para contar se ha-viam perdido ou ganhado. Eles já estavam nas semifinais do campeonato. Mas eles não tinham a mínima ideia de que o pai deles não morava mais naquela casa. Já estavam acostumados com o fato do pai nunca estar em casa. Às vezes, até se esqueciam de perguntar por ele.

Inês saía todos os dias com Mônica para procurar algo sobre o seu passado. Até que um dia, ela estava fa-lando com Mônica sobre o acontecimento e uma senhora bem velhinha estava por perto e escutou a conversa. O nome dela era Lurdes.

— Boa tarde! Posso interromper a conversa, meninas?— Claro! Boa tarde. O que a senhora deseja? – diz

Inês, bem simpática.— Queria saber se vocês estão falando sobre o caso

ocorrido em setenta e nove?— Sim. A senhora sabe alguma coisa?— Sei. Eu era vizinha da Margarida naquela época.— Nós estávamos rodando a cidade para encontrar

algo sobre essa história e a senhora conhece pessoalmen-te! Que maravilha!

Mônica olha meio desconfiada. Acha que a senhora está doida. E a senhora prossegue:

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— Conheço muito bem essa história porque fiquei chocada durante muito tempo.

— Então, vamos tomar um cafezinho e a senhora nos conta tudo direitinho.

Foram as três numa lanchonete que havia numa es-quina próxima de onde elas estavam. A velha começou contar a história desde que se mudou e se tornou vizinha de Margarida, mãe de Inês e Marco Antônio.

— Ela era uma excelente vizinha. Sempre que eu pre-cisava dela eu podia contar com ela e, assim, nós nos tor-namos grandes amigas. Até que um dia ela me contou que não amava mais o marido dela, que estava apaixonada por um homem que era muito bonito e sedutor, que a estava levando-a às alturas, de tanta felicidade e desejo. O marido dela era estéril e ela sonhava em ser mãe. Apesar de ter um filho adotivo, queria ter um filho dela. Ela queria saber o que era engravidar e carregar nove meses uma criança no ventre.

Inês interrompeu de imediato:— Como era nome desse filho adotivo?— Ah, já não me lembro... Ele era tão pequeno

quando fui embora daquele lugar...— Por acaso é Marco Antônio?— Marco Antônio! Isso mesmo! Você o conhece?— Não o conheço.— Então, por que está tão interessada nesta história?— Porque tenho que fazer um trabalho na faculdade

e a professora pediu para pesquisar sobre essa história. Ela me deu alguns dados. Eu faço Jornalismo.

Inês nunca tinha mentido tão bem. E pediu para a senhora continuar.

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— Então, ela tinha esse filho, Marco Antônio. Ele tinha mais ou menos dois anos quando isso aconteceu.

— Somente dois aninhos?— Pobrezinho... Ficou desamparado totalmente. O

pai adotivo ficou desmotivado com a vida. A mulher que ele amava o havia traído e morrido por esse amor.

— Ele sabia que era estéril? Como ele aceitou a gra-videz de Margarida?

— Ele já sabia da traição. Ela sempre dizia que ia embora para viver esse amor. Ele não queria que ela fosse e acabou aceitando a gravidez, achando que quando o nenê nascesse tudo mudaria e ela voltaria a amá-lo. Mas não foi o que aconteceu. Ela procurou o amante dela. Foi de mala e cuia para viver esse amor e levou a criança em seus braços, mas foi encontrada morta dias depois. Todo mundo sabe que foi o amante que fez essa crueldade e que ele levou a filha que os dois tiveram. Talvez ele a te-nha criado ou talvez a tenha matado. Não sei... Só sei que uma dúvida ficou anos e anos pairando no ar: o que havia acontecido com a menina.

— Que história terrível! A senhora conheceu a criança que nasceu?

— Sim! Era uma menina linda, dos olhos verdinhos como os seus.

— É mesmo?!— Ela me mostrou antes de partir. Estava tão feliz!

Achava que ele abandonaria tudo para ficar com ela. Ele era casado recentemente. Sempre soube que ele não teria coragem de abandonar tudo por ela. Apenas ela não en-xergava isso. E morreu com essa ilusão.

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— Bom, agora eu preciso ir. Muito obrigada por ter me ajudado no trabalho de faculdade que irei fazer. Com essa história eu tirarei dez!

— Espero que realmente eu tenha te ajudado.— Ajudou muito!Inês foi embora com Mônica, que estava até branca

com a história. Ela nem sabia o que dizer e Inês estava realmente muito feliz. Agora, ela sabia que não era irmã de Marco Antônio. Disse sorridente para Mônica:

— Eu não sou irmã do Marco Antônio! Você não ouviu aquela senhora falar?

— Você tem certeza de que vai acreditar nela ple-namente.

— Você não ouviu a história? É exatamente como eu ouvi minha mãe comentando. Só pode ser essa.

— Mas o Marco Antônio tem a versão meio diferente.— É claro! Acho que ele não sabe que é filho adotivo.— E agora? O que pretende fazer? Se jogar nos bra-

ços dele como se nada tivesse acontecido?— Claro que não! Me ajuda! O que posso inventar?— Não acho que você deve inventar. Conta toda

a verdade.— Você quer que eu o deixe louco? Vou conversar

com o pai dele. Vou dizer que já sei de toda a verdade, que ele pode se abrir comigo.

— Vai dizer também que é a filha de sua esposa falecida?— Não posso dizer isso.— Então, não é uma boa ideia.— O que eu faço? Me dê uma luz.

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— Mais cedo ou mais tarde você vai precisar contar essa história para ele. Pretende se casar com ele, agora que sabe que não é seu irmão, não é?

— Talvez... Quem sabe... Só namoramos durante seis meses. Pretendo continuar com ele. Não sei se vou me casar com ele. E se ele me odiar por ser a filha de sua mãe adotiva? Pode ficar chateado por eu ter estragado a vida dele mesmo sem querer.

— Mas terá que contar a verdade.— Você se esqueceu do principal da história? Meu

pai! Marco Antônio vai querer que ele mofe na cadeia.— Abra o jogo com a Marta, então. Fale para ela

que já sabe de toda a verdade.— Não sei. Vou pensar no que devo fazer. Ama-

nhã decido.Mônica, então, despede-se de Inês e vai para casa,

inconformada com a história ouvida. Parecia que não estava vivendo tudo aquilo. Como alguém podia matar uma pessoa assim, sem a menor preocupação com o de-pois. Nem ao menos peso na consciência?

Mônica conhecia o pai de Inês. Ela sabia que era um homem que nunca chegava cedo em casa, que nunca es-tava com a família, nem se preocupava. Por que ele havia feito tudo aquilo? Será que, realmente, ele não tinha uma mente doentia?

Mônica estava extremamente preocupada. “Será que se um dia ele soubesse que elas sabiam da verdade, não poderia matá-las? Para ele era simples. Tinha matado até mesmo sua amante. Mas seria ele capaz de matar sua própria filha? Não, acho que não. Podia tê-la matado no

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mesmo dia em que matou a amante”. Tudo isto não saía da cabeça de Mônica.

No outro dia, Inês foi à casa de Mônica para dizer que já havia tomado uma decisão.

— Mônica, já tomei uma decisão.— Posso saber qual é?— Claro que pode. Aliás, você será a chave para essa

minha ideia.— Eu? Por quê?— Porque eu tenho um plano. Você vai começar a

sair com o pai do Marco Antônio. Vai ficar superamiga do pai dele, assim ele poderá te confirmar a história.

— Você deveria ter pensado nisto antes, né? Ficamos correndo o mundo procurando algo sobre essa história e agora você tem essa brilhante ideia!

— Eu precisava de uma prova real de que a histó-ria realmente aconteceu. Foi ótimo termos encontrado aquela senhora.

— E o pai do Marco Antônio? Ele é bonitão?— Você não presta mesmo, meu Deus do Céu!— Por isso disse que você deveria ter tido essa ideia antes.— Hoje mesmo precisamos que você cruze com ele.— Como fará isso?— Eu sei onde ele trabalha. É perto da biblioteca

do centro. Lá tem um barzinho. Você precisa convidá-lo para tomar um aperitivo.

— Está bem. Como vou fazer isso?— Ele é gerente de uma loja de calçados. Você preci-

sa apenas comprar uma sandalinha e puxar assunto com o gerente da loja.

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— Depois diz que sou eu que não presto!— Você só vai precisar falar com o gerente. O que acha?— O que vou inventar?— Que você até gostaria de comprar a sandália, mas

que em outra loja ela está em promoção. Será que ele não poderia fazer o mesmo preço da outra loja?

— Você é terrível amiga!— Então, vamos ao nosso plano!As duas foram até a loja. Inês descreveu o pai de

Marco Antônio para Mônica e ela fez como Inês havia pedido, até convidá-lo para sair depois do expediente.

Mônica adorou a ideia. Achou o pai de Marco An-tônio até muito simpático. Os dois saíram depois do ex-pediente e conversaram muito. Começou, naquele dia, uma grande amizade.

Eles saíam praticamente todos os dias, como Inês queria que acontecesse. Todos os dias Mônica dava um relatório completo sobre o pai de Marco Antônio, sobre as conversas, o jeito dele, tudo enfim, para Inês.

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caPítulo viii

dEcEPção

Marta estava começando a sair com Eduardo. Os dois começaram a jantar em lugares públicos. Pratica-mente todas as suas amigas já sabiam que ela estava sepa-rada e estavam adorando a mudança de Marta, que estava muito mais atraente, delicada e feliz, muito mais feliz. Isso estava nítido em seu olhar, na sua fisionomia.

Eduardo estava bastante satisfeito com a mudança de Marta. Ela não estava mais preocupada com o que as pessoas iriam falar da sua separação. Ela estava ape-nas curtindo a vida, jantando com Eduardo. Às vezes nem voltava para casa. Ia para o apartamento de Edu-ardo e dormia lá.

Todos em casa estavam estranhando o comporta-mento de Marta, mas ninguém falava nada a respeito porque estava evidente que ela estava muito feliz, com

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alguém especial para ela. Ninguém imaginava que era Eduardo sua grande paixão, mas todos queriam que ela estivesse bem.

Eduardo estava apenas com medo da volta dos gê-meos ao fato de Marta dormir fora mudaria um pouco. Marta estava jantando com Eduardo e ele pede para ela avisar em casa que dormiria fora. Então, ela pega seu te-lefone e começa a ligar para casa. Quem atendeu foi Inês:

— Alô.— Oi, filha. Como você está?— Estou bem. Não virá para casa hoje?— É por isso que eu estou ligando. Era para avisar que...— Não precisa dar explicações. Pode se divertir.

Você merece. Um novo amor faz bem para nosso ânimo.— Obrigada, querida, por me entender.— Eu te entendo. Quem não está gostando nada

dessa história é o papai. Ele esteve aqui e disse que vai voltar, custe o que custar. Disse que você não pode largar ele assim, depois de tantos anos.

— Eu me entendo com o seu pai. Amanhã vou na pensão em que ele está hospedado e vou contar que eu es-tou namorando outra pessoa. Ele vai querer morrer, mas não posso fazer nada.

— É claro! Você tem todo o direito de encontrar uma pessoa para te fazer feliz. Ele não deu valor, perdeu.

— Então, avisa a todos que vou dormir fora.— Pode deixar, mãe. Fica tranquila e divirta-se.Marta desliga o telefone um pouco apreensiva. Não

esperava que Francisco quisesse voltar, pois agora ele tinha a vida que sempre quis, sem ninguém para pegar no pé

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dele. Podia chegar a qualquer hora sem dar satisfações. Ela não imaginava que ele estava sofrendo com a separação.

Ele estava acostumado a ver Marta sempre submis-sa, fazendo tudo por ele sem reclamar. Pagavas as contas, gostava dele... De repente, ele se viu sozinho e sem apoio de ninguém. Queria voltar para casa de qualquer jeito.

Ele não tinha mais nenhuma roupa lavada, andava parecendo um mendigo. Estava prestes a ser mandado embora. Ninguém aguentava mais vê-lo reclamando da vida, da separação... Não tinha mais amigos, pois todos o haviam abandonado. Ele estava decidido a reconquistar sua esposa, por mais que parecesse difícil.

Mônica também havia saído com Tadeu, pai de Marco Antônio. Quando eles saíram juntos estava uma noite muito agradável e bonita. Os dois jantaram e divertiram-se como crianças, pois Mônica era muito extrovertida e engraçada.

A cada dia que passava Tadeu estava mais encanta-do com Mônica, e ela sabendo que era apenas um pla-no que ela havia arquitetado com sua amiga. Porém, ela já não conseguia ver Tadeu com os mesmo olhos de antes. Estava se apegando, gostando das conversas dele, da forma como ele a tratava. Já não sabia como seria quando Inês descobrisse tudo o que ela queria e não precisasse mais sair com ele.

Mônica não conseguia entender por que Margarida, a esposa dele, pôde abandonar um homem tão carinhoso como aquele e justo para trocá-lo por alguém bem pior, o pai de Inês, Francisco, um homem rude e sem elegân-cia. Como podem essas coisas acontecerem na vida de

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alguém?. Ela pensa: “A vida muitas vezes nos deixa entre escolhas, e a maioria das vezes fazemos a escolha errada, que nos leva à infelicidade ou ao sofrimento. No caso daquela mulher, a escolha errada levou-a à morte”.

Tadeu interrompe os pensamentos de Mônica:— Bom, mocinha, já está tarde. Vou te deixar em

seu apartamento. Amanhã conversaremos mais. Adoro estar perto de você, sabia?

— Também gosto muito de sair com você. Estou ficando mal acostumada. Todos os dias me levando em casa. Desse jeito vou esquecer o que é andar de ônibus!

Ele a levou em casa. Mônica estranhava como ele era diferente dos outros homens que já havia conhecido. Ele não pedia para subir no apartamento dela, como a maioria dos homens. Apenas despedia-se dela com um beijo no rosto e ficava olhando até ela subir e desaparecer de sua visão.

Mônica estava achando tudo aquilo incrível. Estava adorando aquela situação. Mal ela tomou banho, escutou a campainha. Era Inês, que já entrou berrando:

— Me conta! Como foi hoje?— Inês, estou muito cansada hoje. Amanhã conver-

samos. Pode ser?— Tudo bem, mas ele não disse nada demais, né?— Não. Está tudo sobre controle. Não disse nada

além do que já disse os outros dias.— Então, está bem. Já vou. Amanhã pela manhã

estarei aqui para saber o que vocês conversaram.Inês se despede e vai embora. Mônica fecha a porta

meio chateada. Não queria mais fazer aquele jogo. Esta-

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va gostando de Tadeu. Mas como podia contar isso para Inês? Ela jamais aceitaria. Tudo o que Inês queria era desvendar a história para poder ser feliz novamente com Marco Antônio.

No caminho, Inês encontra Marco Antônio. Ela não sabe o que faz: se fica na mesma calçada, se olha ou se finge não ter visto. Mas Marco Antônio diz com uma voz bem grave, próximo ao ouvido de Inês:

— Quanto tempo!— Pois é! Acabaram as aulas. Agora fica difícil de

nós nos vermos.— Você passou direto, como sempre.— É, passei.— Vamos tomar alguma coisa?— É que estou meio atrasada. Não se importa?— Pelo visto não mudou de ideia ainda.— Ainda gosta de mim?— Eu sei que não se deve responder uma pergunta

com outra, mas eu que gostaria de saber isso de você.— Quer mesmo saber?— Tenho um pouco de medo da resposta, mas que-

ro ouvir.— Eu te amo.Marco Antônio ficou atônito. Não sabia o que dizer

e nem estava entendendo porque Inês não queria namo-rá-lo, se dizia que o amava.

— Então, por que estamos separados? Eu também não sei viver sem você. Vamos ficar juntos novamente. Eu te peço.

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— Me dá só mais alguns dias. É isso que te peço. Só mais alguns dias. Estou quase resolvendo alguns proble-mas que impedem que fiquemos juntos, mas te imploro: confie em mim.

— Eu confio. Mas não demora, por favor.Mesmo sem Inês querer, Marco Antônio rouba um

beijo seu. Ela sai meio desconfiada, mas feliz, pois tinha quase certeza de que Marco Antônio não era seu irmão de verdade. Apesar daquela história ser horrível, era o lado bom que Inês via naquela situação: ela não era irmã de Marco Antônio.

Ela voltou para casa muito pensativa. Como seu pai tinha sido capaz de fazer aquilo com uma pessoa? Inês começava a odiar seu pai por ter assassinado sua mãe. Ela estava tão confusa com o que estava vivendo que às vezes não tinha vontade de voltar para casa. Queria apenas fi-car andando sem rumo. Entretanto, ela se lembrava que tinha que ser forte e vencer aquela situação.

Muitas vezes pensava que era certo seu pai apodrecer na cadeia como um marginal, pois era isso que ele era. Mas aí se lembrava dos seus irmãos e sua avó e perdia a coragem de fazer essa brutalidade.

Imaginava como seria sua vida se sua mãe biológica estivesse viva. Teria sido criada ao lado de Marco Antônio como irmã dele? Será que ela seria mais feliz? Será que sua mãe biológica a teria a amado mais do que Marta sempre a amou? Será que daria todo o apoio que Marta sempre deu? Como seria a mãe que não a deixaram conhecer? Será que Marco Antônio se lembrava dela? Inês volta para casa com todas estas dúvidas em sua cabeça.

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Chegando em casa Inês avisa para todos que Marta irá dormir fora novamente e vovó Neuza reclama:

— Depois falam que meu filho que não presta. Mal se separou e já arrumou outro.

Todos ficaram quietos. Era de se esperar que vovó Neuza ficasse revoltada.

Marta estava apaixonando-se cada vez mais por Eduardo. Ela já nem se lembrava mais dos problemas em casa, da história de Inês que ela queria tanto desvendar. Nem se lembrava mais dessas coisas. Estava, realmente, como uma adolescente apaixonada. Parecia que estava vivendo tudo como se fosse a primeira vez. Jamais tinha sido tão feliz. Sempre achou que a felicidade se resumia em estar do lado de Francisco e seus filhos, mas agora ela viu que não. Outro homem estava fazendo ela se sentir mais mulher, mais amada.

Marta acorda pela manhã e Eduardo havia lhe pre-parado um café da manhã maravilhoso, com todas as fru-tas que ela mais gostava. Tudo que ela apreciava havia naquela mesa. Ele diz:

— Bom dia, meu amor.— Bom dia, querido.— Eu preparei uma surpresa para você.— Uma surpresa! O que você aprontou desta vez?— Vamos até a cozinha que eu te mostro.Eduardo leva-a até a cozinha e Marta fica admirada.

Como ele podia ser tão gentil? Havia procurado tudo que ela mais gostava. Não havia se esquecido de nenhum de-talhe: cor da toalha azul claro, a sua cor predileta, do jeito que ela sempre havia sonhado. E ela achava que estava

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mesmo sonhando. Será que existia mesmo um homem como Eduardo ou era fruto da sua imaginação?

— Não pode ser, Eduardo! Como sabia das frutas que mais gosto? Meu suco predileto! Até mesmo torrada com geleia de uva! Você não se esqueceu de nada!

— Uma rainha deve ser tratada assim.— Rainha... Estou bem longe de ser uma. Você que

é maravilhoso!Eles tomam café e, nesse dia, Eduardo não havia

marcado nenhum paciente só para passar o dia ao lado de Marta, pois ela também estava de folga. Estavam vivendo um amor de novela.

Já eram mais ou menos umas dez horas e Mônica, que estava pronta para trabalhar, houve a campainha. Ela abre a porta e Inês entra chorando. Mônica fica assustada.

— O que foi, amiga?— Ontem encontrei o Marco Antônio. Ele me

beijou... Não aguento mais essa história, Mônica. Eu quero morrer...

— Vamos parar de besteira! Você já superou tanta coisa. Agora precisa ser forte. Temos que desvendar essa história. Estamos quase lá!

— Ah, amiga! Está me faltando forças para supe-rar tudo isso.

— Eu estou do seu lado, esqueceu?— Não, não me esqueci, mas está difícil.— Eu sei... Vai passar. Você vai ver. Agora, aproveita

e toma café, para irmos trabalhar.— Não sei se vou agora. Eles vão ficar mal acostu-

mados se eu chegar esse horário e quando começarem as aulas não conseguirei fazer o mesmo horário.

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— Mas hoje quero que vá comigo, por favor!— Está bem. Vou tomar café, então.As duas saíram para trabalhar. Inês realmente não

estava nada bem. Parecia outra pessoa. Estava se seguran-do para não chorar o tempo todo.

Marta tomou café e saiu apressada. Foi conversar com Francisco. Não queria que Francisco voltasse para casa. Foi pedir o divórcio. Chegando lá, Francisco atende a porta e ela diz:

— Não foi trabalhar hoje?— Não fui hoje, não vou amanhã e nem nunca

mais. Fui demitido.— Não posso acreditar. Por que, Francisco?— Ainda me pergunta por quê? Estou andando

todo maltrapilho, sem vontade de nada, sem vontade de viver. Você é a razão do meu viver. Perdi você, perdi tudo. Não terei mais dinheiro para pagar o aluguel. Agora vou ter que voltar para casa.

— Você pode até voltar para casa até conseguir ou-tro emprego, mas eu não ficarei lá. Você entra e eu saio.

— Não me suporta mais?— Não, não quero mais conviver com você debaixo

do mesmo teto. Aliás, estou namorando outra pessoa e quero o divórcio.

— Você vem até aqui para me dizer que está namo-rando outra pessoa e ainda por cima quer o divórcio?

— É exatamente o que vim fazer. Agora que já disse, já vou. Até mais.

Francisco não acredita na cena que vê: Marta tão autoritária, tão determinada. Era o que ele mais temia na

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vida: ser abandonado por ela daquele jeito. Ele entra, faz suas malas e volta para casa. Quando chega lá, quem abre a porta é tio Augusto:

— O que faz aqui?— Eu voltei. Se a Marta está pensando que eu vou

deixar outro invadir o terreno está muito enganada.— Ninguém está invadindo o terreno. Você que

nunca esteve presente nele.— Mas agora vou estar cada vez mais presente.Nisto, vovó Neuza entra na sala e fica feliz quando

vê seu filho com as malas.— Que bom, meu filho. Voltou?— Sim, estou disposto a lutar pelo amor de mi-

nha esposa.— É assim que se fala! Não deixe outro estragar sua

felicidade.Tio Augusto pergunta, meio inconformado:— Não está mais trabalhando?— Não. Fui demitido.— Aqui você sabe que acha comida de graça.— Olha quem está falando! Por acaso você trabalha?

Também come de graça.— Eu não vou perder meu tempo discutindo com você.E tio Augusto sobe, muito irritado com a presença

de Francisco. Sabia que Marta não iria gostar nada do que estava acontecendo e ligou em seu celular:

— Marta, você pode falar?— Sim, Augusto. Pode falar.— Seu marido voltou. Veio de mala e tudo.

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— Já esperava que isso acontecesse. Ele foi demi-tido do serviço. É claro que ele vai se achar no direito de voltar para casa.

— O que pretende fazer?— Ainda não sei. Com certeza não voltarei hoje

para dormir em casa.— Ele vai dar trabalho hoje, quando souber que

você não vai voltar.— A Inês cuida dele por mim.— Inês também vai odiar a ideia dele aqui de volta.— Sei disso, mas é o pai dela. — Eu falarei com ela quando ela voltar do trabalho.

Vou dizer que você deu uma difícil missão para ela.E tio Augusto desliga o telefone imaginando como

seria quando Inês chegasse e visse seu pai de volta.Quando anoitece, Inês volta para casa e a primei-

ra pessoa que ela encontra é seu pai. Ela fica sem en-tender nada.

— Pai! O que faz aqui?— Eu voltei, filhota! Não é ótimo?— A mamãe já sabe?— Sua mãe ainda não retornou do serviço. Quando

ela voltar vai ficar surpresa.— Ah, é!— Por quê? Você não gostou de me ver, filha?— Sim, papai, mas a mamãe não quer mais o senhor

aqui. E eu não quero que vocês briguem e que essa casa vire um inferno.

— Não, filha. Eu vou me comportar desta vez. Vai ser tudo diferente daqui para frente.

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Inês apenas sorri e vai para o quarto, imaginando que seu pai estava ficando louco de vez. Na verdade, ela achava que ele nunca teve juízo, mas agora tinha piorado muito.

Marta volta para o apartamento de Eduardo e conta que havia conversado com Francisco e que ele tinha vol-tado para casa. Ele fica indignado e diz:

— Você não tem que sair de sua casa por causa dele. Gostaria muito que você viesse morar aqui comigo, mas sei que não vai querer ficar longe de sua família, e aqui não cabe todo mundo.

— E nem eu quero me precipitar para morarmos juntos.— Esse homem consegue fazer da sua vida um inferno!— Pois é... Por isso, quando morrer, já tenho um

lugar reservado no céu.— Eu acho que o céu é aqui, do seu lado.— Ah, meu amor... Só você para me fazer sorrir

num momento como esse.Francisco estava louco porque Marta não voltava e

ele estava esperando. Ele vai até o quarto de Inês para saber se ela sabia algo sobre Marta.

— Filha.— O que foi, pai?— Você sabe onde sua mãe está?— Deve estar na casa do namorado. Provavelmente

irá dormir lá.— Como assim? Mal eu saí de casa e sua mãe já

arrumou outro?— Papai, sem dramas, por favor. O senhor estava

careca de saber que a relação de vocês não estava bem há muito tempo. Ela precisava ser feliz com outra pessoa.

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— Minha própria filha contra mim! Isso eu nunca imaginei!

— Já falei! Sem dramas, pai.— Vou ligar agora no celular de sua mãe. Quero que

ela volte imediatamente.— Nem adianta. Ela não atende. Já tentei a tarde

inteira. Ela se esquece da vida quando está com ele.— E quem é esse infeliz?— Isso eu acho que terá que perguntar para ela.Todos foram dormir. Francisco dorme muito irritado.

Nunca havia imaginado uma situação dessas. Pela manhã, Marta chega e encontra todos tomando café da manhã.

— Bom dia, família!Francisco levanta rápido da cadeira e começa o discurso:— Posso saber onde dormiu? Uma mulher casada,

chegando de manhã em casa! Que exemplo para sua filha!— Primeiro, não tenho que lhe dar satisfações. Se-

gundo, minha filha sabe porque não voltei para casa. E terceiro, não sou mais uma mulher casada.

— Não é casada? Por acaso já tem o divórcio?— Para mim papéis nunca tiveram a mínima im-

portância.— Marta, você está muito estranha.— A sua opinião para mim pouco importa. Vou to-

mar café que já estou atrasada para o trabalho. Outra coi-sa, nossos filhos retornam hoje. Ganharam em segundo lugar. Se você quiser buscá-los comigo, pode ir.

— Claro que irei, meu amor.— Não me chame assim, por favor. Nunca me cha-

mou assim. Não é agora que quer chamar, né?

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— Está bem... Mas vou com você.Vovó Neuza se intromete:— Francisco, vai deixar a Marta falar assim com

você, meu filho?Marta olha para vovó Neuza muito irritada e diz:— Olha, dona Neuza... Acho bom não se meter na

nossa conversa.— Por que Marta? Você acha certo dormir fora de

casa depois de três semanas de separação?— Dona Neuza, eu não irei responder porque sou

educada e a senhora é a avó dos meus filhos.Desta vez, quem interfere é vovó Dirce:— Minha filha, acalme-se. Você parece muito nervosa.— E não era para estar, mamãe? Chego em casa e

já me vem um interrogatório completo! Não tenho que dar satisfações a ninguém. Sou maior e vacinada e sei me cuidar muito bem.

Marta sai para trabalhar uma pilha de nervos. Inês desce as escadas e pergunta o que estava acontecendo e vovó Neuza responde:

— A louca da sua mãe, que chegou agora de manhã.— Minha mãe não é louca, vovó. Se ela está se com-

portando assim é porque vocês sempre exigiram muito dela e agora ela quer se divertir. Eu a apoio plenamente.

Inês vai para casa de Mônica para saber como ha-via sido com Tadeu na noite anterior. Para sua surpresa, quem atende a porta é o Tadeu:

— Inês!! O que faz aqui?— Seu Tadeu? Me desculpe... É que sou amiga da

Mônica e vim lhe fazer uma visita.

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— Nossa! Que coincidência!— Nós somos amigas há muito tempo. Trabalha-

mos juntas.— Que bom que Mônica tem você como amiga!Inês fica muito sem graça e diz que depois volta para

conversar com Mônica. No caminho de volta, Inês não entende nada e fica se perguntando o que Tadeu estava fazendo no apartamento de Mônica. “Será que Mônica começou a se relacionar com Tadeu de verdade, como namorados?”, perguntou-se.

Mônica não havia comentado com Inês que eles es-tavam namorando. Mônica estava apaixonada por Tadeu, mas não queria que Inês soubesse.

Mônica estava tomando banho e grita para Tadeu do banheiro:

— Quem era, amor?— A sua amiga Inês.Mônica fica muito constrangida e Tadeu continua:— Estou achando essa história muito esquisita.— Que história, amor?— De você ser tão amiga da ex-namorada do meu filho.— Por que esquisita?— Me conta a verdade. Foi Inês que falou sobre

mim, não foi?Mônica ficou sem saber o que responder. Não que-

ria perder Tadeu, mas não queria trair sua amiga. Não podia contar a verdade.

Tadeu estava muito irritado. Ele acha, agora, que es-tava fazendo papel de palhaço, e diz:

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— Você armou para cima de mim com sua amiga, não é, Mônica?

— Vou terminar de tomar banho e a gente conversa.Mônica arruma-se e depois se senta no sofá para

contar o que havia acontecido:— A Inês que me falou de você.— Eu sabia! Você não podia ter me chamado para

sair assim, à toa. Sou um imprestável! Como você se inte-ressaria por mim? Mas o que você queria de mim? Porque dinheiro eu realmente não tenho.

— É uma longa história, mas o que eu quero que saiba é que te amo muito. No começo até era um plano, mas agora eu te amo de verdade.

— Vamos parar de enrolar e me conta logo, por fa-vor. Não me engane mais do que já me enganou.

— É que vai ser muito difícil de você aceitar...— Mas eu quero saber. Me fala logo, anda.— Eu sei de toda a verdade.— Que verdade?— Você sabe... Sobre o assassinato da sua esposa e

sobre Marco Antônio.— Sobre a minha esposa muita gente sabe, mas

como sabe sobre Marco Antônio. Ninguém sabe, além de mim e de Margarida.

— Tem mais alguém que sabe, Lurdes, conhece?— Claro que sim. Foi minha vizinha durante al-

gum tempo.— Ela nos contou a história.— Mas ela não sabia que Marco Antônio era adotivo.— Você achou que ela não soubesse, mas ela sabia.

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— O que tem a ver essa história com você ter entra-do na minha vida.

— A Inês é a filha de sua esposa.— Não posso acreditar! A Inês é a filha da minha

esposa com aquele safado?!— Sim. Inês queria descobrir se realmente era ver-

dade a história de adoção do Marco Antônio, por isso pediu que eu me aproximasse de você.

— Que plano ridículo! Como pôde me enganar des-se jeito? Eu te odeio!

— Eu topei para ajudar a Inês, para ela voltar para o Marco Antônio sem medo de ele ser o irmão dela. Por fa-vor, me entenda... Eu me apaixonei de verdade por você.

— Me esqueça, Mônica. Você não merece o meu amor. Aliás, nunca encontrei ninguém que o merecesse.

— Me perdoa! Eu te amo! E fiz isso porque eu tam-bém queria que Inês voltasse para o Marco Antônio.

— Não posso te perdoar. Está doendo muito. Ago-ra, quero ir falar com Inês.

— Não pode dizer que já sabe.— Como não posso dizer que já sei? Ela é a chave

para colocar aquele safado na cadeia.— Pelo amor de Deus! Inês não quer que o pai dela

vá para a cadeia! Eu te imploro... Não faz isso.— Agora eu tenho a oportunidade de ficar cara a

cara com o assassino de minha esposa e você quer que eu esqueça essa história?

— Não quero que se esqueça, mas eu te contei tudo isso porque te amo. Agora vou perder a amizade de Inês para sempre...

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— Eu perdi a minha família há vinte seis anos e ninguém se importou. Tive que criar meu filho sozinho e sofrer sem saber onde aquele safado estava! Por mim aca-bava com ele com minhas próprias mãos, mas vou deixar que a justiça faça isso por mim.

Mônica fica desesperada e começa a chorar. Teve que fazer uma escolha muito dura: ou ela perderia a amizade de Inês ou perderia o amor de sua vida. Mas, pelo visto, tinha perdido as duas coisas.

Tadeu estava furioso e não via a hora de colocar as mãos em Francisco e acabar com aquela farsa ridícula. Mônica pensa que, desta vez, quem tinha ficado entre escolhas havia sido ela e imagina que havia escolhido er-rado. Assim como Margarida havia escolhido errado na-quela época, ela tinha errado agora.

Tadeu vai embora para casa, disposto a contar para Marco Antônio o que havia acontecido, e contar toda a verdade de uma vez por todas.

Chegando em casa, Marco Antônio não está. En-tão, ele resolve se acalmar e esperar seu filho chegar antes de procurar Inês.

Inês chega em casa e liga para Mônica:— Alô, Mônica.— Inês, estou desesperada! O Tadeu já sabe de

toda a verdade!— Você me traiu! Sua falsa! Por que não me contou

sobre vocês?— Me perdoa, Inês. Eu fiz isso por amor!— Por amor a você! Você me traiu! E agora? O que

eu faço? Ele vai querer matar meu pai!

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— O pior que ele está decidido a colocar seu pai na cadeia.

— Olha o que você fez! E agora? O que eu faço?— Agora terá que contar a verdade.— Simples, né, Mônica?— Não é simples, mas é hora do seu pai pagar

pelos erros dele.— Eu nunca irei te perdoar por isso.Inês desliga o telefone e começa a chorar desespera-

damente. Seu pai iria para a cadeia. Como ela iria expli-car tudo isso?

Ela sai desesperada para procurar seu pai. Tinha que encontrá-lo. Precisava avisar que ele tinha que fugir ou apodreceria na cadeia. Tadeu não ia sossegar enquanto não visse Francisco atrás das grades.

Mônica liga no celular de Marta, mas ninguém atende. Então, ela resolve ir até o serviço de Marta para ver se a encontra.

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caPítulo iX

a Escolha Errada

Mônica chega ao serviço de Marta, mas ela estava vi-sitando um cliente e só voltaria no final da tarde. Mônica estava com medo de que Inês fizesse alguma bobagem e resolve ficar esperando por Marta um tempinho.

Enquanto isso, Inês está atrás de seu pai. Ela o pro-cura em todos os lugares imagináveis que ele pudesse es-tar, mas não o encontra em lugar algum.

Ela chega a pensar que seu pai poderia estar corren-do um enorme perigo. Se Tadeu o encontrasse primeiro iria acabar com ele. E quando Inês pensava nisto entrava em pânico. Inês não queria ver seu pai sofrer. Apesar de ser o que era, ela o amava muito.

Marco Antônio chega em casa e encontra seu pai chorando como uma criança. Ele fica muito assustado com aquela cena e diz:

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— Pai! O que está acontecendo?Tadeu apenas o olha, sem dizer nada por alguns se-

gundos, e logo em seguida diz:— Precisamos ter uma conversa decisiva.— Não estou entendendo, meu pai.— Já irá entender. Vou te explicar desde o começo.— Estou ficando preocupado.— Eu já te contei a história de sua mãe várias vezes,

não é mesmo?— Sim, muitas vezes.— Mas tem uma coisa que você não sabe nessa his-

tória toda.— Me diz o quê?— Sua mãe e eu... É... Não sei como dizer...— Pelo amor de Deus! Me diz, que estou agoniado!— Você é nosso filho adotivo.— Adotivo?!— Sim. Adotivo, mas muito amado.— Então, fui abandonado duas vezes! Primeiro, por

minha mãe biológica e depois, por minha mãe adotiva. Isso que é ser abandonado!

— Suas mães podem até ter te abandonado, mas eu jamais tive essa intenção. E depois, sua avó te criou com muito amor, como sua mãe.

— Por que não me contou antes? Você não podia ter feito isso comigo!

— Eu nunca quis contar porque eu sempre tive medo que você fosse atrás dos seus pais de verdade e me abandonasse, como sua mãe fez comigo.

— E por que resolveu contar isso agora?

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— Porque temos um problema sério para resolver e você precisava saber de toda a verdade. Você me perdoa?

— Agora estou muito confuso. Não sei o que pen-sar, nem o que dizer. Não sei se te agradeço por ter me criado com tanto amor ou se brigo por não ter me dito isso quando eu era um menino.

— Só que isso não é o pior, meu filho.— O que pode ser pior do que ter sido abandonado

por duas mães?— A Inês.Marco Antônio ficou totalmente pálido. Não sabia

o que havia acontecido com Inês, mas sabia que era algo muito grave, pela cara de seu pai. E ele diz, desesperado:

— Onde está a Inês?— A Inês é a filha da sua mãe.— A Inês o quê?!— É isso que ouviu. O pai de Inês é o assassino de

Margarida.— Não posso crer! Ela já sabe disso?— Foi por isso que ela te abandonou. Ela não sabia

que você é filho adotivo e achou que eram irmãos.— Pobre Inês... Como deve ter sofrido quando sou-

be... Por isso que dizia que me amava, mas que não po-deríamos ficar juntos. Mas por que ela não me contou?

— O problema é que ela não quer que o pai dela vá para cadeia, onde ele merece estar.

— Sei que ele até merece, mas Margarida teve muita culpa nessa história toda.

— Ele não tinha o direito de tirar a vida dela! Nem eu, que fui o marido traído, não tive coragem. Deixei-a ir. Morrendo por dentro, mas a deixei ir.

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— Pai, não quero ver o sofrimento de Inês. Não po-demos colocar o pai dela na cadeia depois de tantos anos.

— Não acredito que eu estou ouvindo isso do meu próprio filho! Você sempre quis encontrar o assassino de sua mãe!

— Eu sei, mas agora mudou tudo. O homem que eu tanto procurei é o pai da minha amada. Não posso fazer com que ela sofra desse jeito.

— Você quer que eu esqueça?— Ele, indo para a cadeia, não trará Margarida de

volta. Ainda mais depois de tantos anos.— Não posso perdoar, fingir que não sei de nada,

deixar esse bandido solto por aí.— Ele não é mais um bandido. Ele criou Inês, tem

uma família, uma casa. Vamos esquecer essa história, pai. Pela felicidade de Inês, é o que te peço.

Tadeu começa a chorar bastante e Marco Antônio o abraça com muito afeto, chorando também. Nisto, Inês entra na casa de Marco Antônio, desesperada.

— Tadeu! Não pode fazer isso com meu pai!Já chorando, ela continua a falar:— Perdoa, meu pai... Por favor.Marco Antônio vai até seu encontro, abraça-a e diz:— Por que não me contou? Eu ia ficar do seu lado.

Sempre vou estar, haja o que houver.Inês foi se acalmando e os três conversam muito.

Tadeu resolve não dizer nada para a polícia, mas diz para Inês que quer muito conversar com Francisco. Inês fica um pouco assustada, mas diz que iria marcar uma con-versa entre os dois.

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Mônica estava mais de duas horas esperando por Marta e nada dela aparecer. Então, decide voltar para casa e esperar pelo pior.

Marco Antônio e Inês vivem o amor a tarde inteira. Estavam com saudades um do outro e não se largaram.

Inês estava muito constrangida com aquela situação, pois ela sabia que deveria ter contado para Marco Antô-nio. Ela estava muito feliz, pois ele a havia perdoado, e também a seu pai. E o melhor de tudo é que poderiam ficar juntos para sempre, porque não eram irmãos bioló-gicos. Inês ainda iria enfrentar outro problema: o seu pai. Como ela o convenceria a conversar com Tadeu?

Marta vai buscar os gêmeos na escola. Francisco vai junto. Eles estavam meio triste, pois queriam ter ficado em primeiro lugar, porém, estavam satisfeitos com a par-ticipação. Na volta, os quatro conversam no carro. Marta pergunta aos gêmeos:

— Vocês se divertiram muito?Luiz Henrique era o mais empolgado e logo responde:— Estava tão divertido que por mim ficava por lá!Gabriel comenta:— Sabe por que, mãe, o Luiz não queria voltar?— Por que, meu filho?— Ele arrumou uma namoradinha por lá.— Mentiroso! Não acredita nele, mãe!— Eu não estou acreditando que não estava com

saudades da sua mãe!— Estava sim, mamãe. É que foram as férias mais

divertidas da minha vida!

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— Que bom que gostaram. Da próxima vez, vocês serão os campeões.

Francisco, que estava calado até então, resolve se manifestar:

— Claro que serão os campeões! São meus filhos!— Ainda acha que seremos jogadores da Seleção, papai?— Não só acho, como tenho certeza.Os gêmeos ficam felizes. Quando os quatro chegam

em casa, Inês está na sala. Ela abraça os irmãos e eles contam tudo o que havia acontecido. Eles mostram as medalhas de prata para a irmã, as duas avós e para tio Au-gusto, que fica todo orgulhoso dos sobrinhos. Inês pede para Francisco para conversarem e os dois sobem para o quarto. Chegando lá, Inês decide dizer toda a verdade:

— Pai, tenho algo para lhe contar.— Diga, minha filha.— Eu já sei de toda verdade sobre a morte da minha

mãe biológica.Francisco fica mudo, branco como um papel.— O que disse?— Isso que você ouviu.— Que mãe biológica?— Não tente me enganar novamente. Já sei de tudo.

Já sei quem era ela, sei o nome dela, sobre a família dela.— Pelo amor de Deus, Inês! Quem te contou isso?

Aposto que foi a Marta, só para se vingar.— Não julgue as pessoas antes de saber.— Descobri toda a verdade quando a mamãe e você

comentaram no quarto. Eu estava descendo para tomar

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água e ouvi. Depois, pesquisei muito e descobri muito mais sobre essa história horrorosa.

— Você está me odiando, não é?— Para dizer a verdade, estou. Você é um monstro.

Como pôde matar minha mãe?— Eu sei que para você vai parecer absurdo qual-

quer coisa que eu disser, mas eu amava demais a Marta e não podia ficar com a Margarida naquela época.

— Isso é justificativa para matar alguém?— Para onde Margarida iria com você nos braços

sem mim?— O Tadeu a aceitaria de volta.— Não sei, mas tive medo de que ele te maltratasse,

não cuidasse de você como filha.— Você sabia que Margarida tinha um filho adotivo?— Ela me disse. O maior sonho dela era engravidar,

ter seu próprio filho.— Você pôde proporcionar a ela, né, pai? E depois

tirou esse direito dela.— Pare de me julgar. Você não me entende.— Não entendo e nunca entenderei. Você sabia que

quase pirei achando que Marco Antônio era meu irmão?— Marco Antônio?— Sim. Não se lembra do nome do filho adotivo de

Margarida?— Sim! Marco Antônio!— Pois então, pai... O que me diz? Já imaginou se

fosse meu irmão?— Você não contou para ele, né, Inês?

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— Não fui eu quem contou nada. Mônica me aju-dou a descobrir a verdade e ela acabou contando tudo.

— Tenho que fugir.— Não há necessidade. Tadeu e Marco Antônio já

te perdoaram.— Você é tonta, Inês. Você acha que eles não estão

armando para mim?— Não acho nada disso.— É claro que eles não irão deixar pra lá!— O Tadeu pediu para conversar com você, papai.

Pediu que você vá até a casa dele. E se você não for, ele virá aqui e será bem pior.

— Não vou conversar nada. Vou fugir. Inês, vá até a sala e chame a Marta para mim. Vou arrumar minhas coisas.

— Que papel de covarde! Aliás, sempre foi um.— Chama sua mãe.— Está bem. Faça o que achar melhor.Inês desce as escadas e chama Marta, que sobe mais

do que depressa. Quando ela chega no quarto, Francisco está com uma arma em sua cabeça, e diz:

— Marta, meu amor... Me perdoa por todos esses anos. Eu sei que não fui o marido com o qual você so-nhou. Agora, com a arma que matei a Margarida, acaba-rei com minha vida, pois ela já não tem mais graça sem você. E agora que Inês descobriu a verdade, minha vida não tem sentido.

Francisco aperta o gatilho antes mesmo que Marta pudesse responder qualquer coisa ou fazer qualquer coi-sa. Nisto, Inês entra no quarto e vê toda a cena. Marta cai desmaiada e Inês se desespera. Todos escutam da sala o

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barulho do tiro e sobem correndo. Ninguém acredita no que está diante de seus olhos: Francisco, caído no chão, morto com um tiro.

Tio Augusto chama a polícia. Eles levam Francisco. Marta é levada para o hospital, em estado de choque. Ela já tinha acordado, mas não conseguia falar nenhuma palavra.

Inês não conseguia se controlar depois de ver tudo aquilo acontecer. Ela jamais havia imaginado que seu pai pudesse se matar como havia feito. Estava se culpando muito por tudo aquilo. Tinha certeza de que seu pai havia se matado por sua culpa. Se não tivesse contado para Mônica aquela história, nada disso have-ria acontecido... O mundo tinha caído sobre sua ca-beça. E agora? O que os irmãos pensariam dela? Iriam odiá-la para sempre.

Ninguém havia dormido naquela casa. Inês conta toda a verdade para todos. Não tinha mais porque escon-der nada de ninguém. Seu pai estava morto e não podia mais ser preso ou acusado.

Os gêmeos ficam arrasados com a história e com a morte de seu pai. Vovó Neuza estava à base de calmantes. Não acredita no que ouve Inês contar. Ela chora como uma criança, magoada com seu filho. Por que ele havia feito aquilo com sua própria vida? Seu filho era um as-sassino! Mas não era hora de julgá-lo. Era hora de provi-denciar o enterro e rezar pela sua alma. Era o melhor que todos poderiam fazer.

Quando amanhece, Inês vai providenciar tudo o que era preciso para o enterro de seu pai. Marco Antô-nio vai junto com ela. Tadeu fica sabendo da morte de

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seu pior inimigo e fica aliviado. Odiava Francisco pelo que ele havia feito.

Marta continua no hospital. Eduardo fica com ela e to-dos percebem que só podia ser ele o grande amor de Marta. É claro... Um homem bonito, educado e muito carinhoso com ela. Como poderia não se apaixonar por ele?

Eduardo dá todo o apoio que Marta precisa, porque todos estavam no enterro.

Francisco é enterrado sem muita cerimônia e em seu velório não aparecem muitas pessoas. Todos comentam o que ele havia feito, pois o assunto já havia se espalhado pelos quatro cantos. Ninguém acredita que ele havia sido capaz de tamanha brutalidade.

Mônica aparece no enterro, mas não diz nada. Ape-nas observa Inês abraçada com Marco Antônio e pensa se um dia Tadeu a perdoará e se, um dia, Inês perceberá que tudo o que ela tinha feito era porque ela havia ficado entre escolhas.

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Olá!Espero que vocês tenham gostado da história de

Inês. Comentem sobre o que acharam do livro e respon-dam a pergunta a seguir:

Inês deveria perdoar Mônica?Deem suas opiniões na página do Facebook:www.facebook.com/Entre-escolhas

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EntrE Escolhas

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São Paulo - 2016

carla santos Petrikas

EntrE Escolhas

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Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Jacilene Moraes

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Andrea Bassoto

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________

P588e

Petrikas, Carla Santos Entre escolhas / Carla Santos Petrikas. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2016.

ISBN 978-85-437-0519-4

1. Ficção brasileira. I. Título.

16-32432 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

________________________________________________________________19/04/2016 22/04/2016

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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Dedico esta obra ao meu tio Roberto Augusto de Moraes, que me ensinou que estudar nunca é demais e incentivou-me a concretizar todos os meus sonhos.

A morte coloca um ponto final na vida, mas jamais no amor e nos ensinamentos. Estes, ficam eternamente em nossos corações.

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agradEcimEnto

No céu existe um Deus maior do que todas as coisas e sou eternamente grata por tudo.

Na Terra existem fragmentos desse mesmo Deus, que chamamos de amigos e família. Sou muito feliz e realizada por tê-los em minha vida diariamente.

Agradeço a todas as pessoas que me incentivaram a publicar esta obra: minha mãe, minha irmã e minhas tias, que sempre me apoiaram em todas as dificuldades.

Agradeço ao meu esposo, pela compreensão e apoio.E a todos os meus amigos, que fazem da minha vida

muito mais encantadora.

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caPítulo i

invEstigação

Havia algo estranho naquela casa. Ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido com Inês. Estava depressiva e muito cabisbaixa. Seria porque Marco Antônio não a havia procurado? Ninguém sabia. Talvez fossem as notas na escola, que não estavam muito boas. Mas isto a chate-aria a tal ponto?

No mesmo dia, tio Augusto ficou preocupado com a melancolia de Inês e resolveu saber o que havia acontecido:

— Querida, percebi que você anda muito triste e gostaria de saber o motivo pelo qual te vi chorando on-tem à noite, na escada.

— Fico muito grata pela preocupação, mas estou muito bem. Não estava chorando, não. Um cisco caiu em meus olhos e tentei tirá-lo a todo custo e parecia que eu havia chorado – disse Inês com convicção.

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Tio Augusto não acreditou, mas, mesmo assim, não quis interrogá-la mais.

Um dia, talvez, ele pudesse saber. E, também, po-deria ser apenas uma fase ruim. O que era mais certo e o que todos esperavam que fosse.

A notícia chegou aos ouvidos da avó Neuza, a qual adora saber sobre tudo o que acontece naquela casa. Vó Neuza é curiosa que só ela. Não deixava nada passar em branco. Ela quase não escutava. Sua audição estava ruim, o que a chateava muito, pois não conseguia ficar sem bis-bilhotar a vida alheia.

O contrário era a avó Dirce. Esta não se preocupava com as fofocas. Ela apenas queria ajudar as pessoas da-quela casa. Tentava agradar e sempre queria que todos ficassem bem. Ela preparava uns pãezinhos de queijo ir-resistíveis e um bolo de fubá que era de lamber os beiços!

Como vó Neuza se intrometia em tudo que ela pu-desse escutar, não seria desta vez que não se intrometeria. Portanto, foi logo falar com Inês, que era a mais velha dos três netos da velha Neuza.

Foi até o quarto de Inês. Eram mais ou menos dez e meia da noite. Bateu na porta e logo Inês respondeu:

— Pode entrar!— Inês, é sua avó mais querida! Vim saber o que

está acontecendo com você, minha netinha.— Hum, vovó... Tinha certeza de que viria. Por que

me pergunta o que está acontecendo comigo?— Todos perceberam que você anda chateada e cho-

rando pelos cantos. É verdade?— Não! As pessoas desta casa andam imaginando

coisas! Ou melhor, vendo coisas que não existem. Enten-

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de, vovó? Estou muito bem. Só preciso dormir porque amanhã tenho uma prova bem difícil. Boa noite, vovó.

— Só mais uma pergunta. Você e Marco Antônio? Como está seu namoro com ele?

— Vovó, já disse preciso dormir. Amanhã conversa-mos. Tudo bem?

— Não está tudo bem. Você não quer mais conver-sar com sua avó? Só por que estou velha e cansada?

— Não é isso, vovó. Sabe que ando trabalhando e estudando muito, não sabe?

— Tudo bem... Vou te deixar dormir. Boa Noite!Voltando para seu quarto, vovó Neuza fica pensati-

va. Queria descobrir o que estava acontecendo com Inês, pois ela nunca a havia expulsado do quarto como tinha feito nessa noite.

No corredor, encontra Marta, sua nora, mãe de Inês. Marta era uma mulher que trabalhava muito, era muito honesta, mas tinha um grande defeito: amava demais seu marido Francisco, o qual era um beberrão de mão cheia e ainda por cima mulherengo. Ninguém entendia como Mar-ta aguentava aquele homem. E ela apenas justificava que o amava demais e jamais poderia viver sem ele ao seu lado.

Vovó Neuza segurou no braço de Marta e comentou:— Sabe o que acontece com Inês?— O que tem minha filha?— Ninguém sabe, mas anda muito esquisita.— Por que esquisita?— Acho bom perguntar a ela. Quem sabe com você

ela se abre. Porque comigo só faltou me pôr a pontapés para fora do quarto dela.

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— Inês sempre foi educada com a senhora, dona Neuza. Por que faria isso?

— Não sei. Pergunte a ela. Ela te dirá.— Amanhã conversarei com ela. Hoje não estou le-

gal para problemas familiares. Já chegam os da empresa. A senhora sabe se seu filho já chegou?

— Por acaso Francisco chega cedo em casa? Em re-lação a Inês, deveria conversar com ela hoje.

— Não, dona Neuza. Amanhã penso nisso. Deve ser por causa do Marco Antônio. Quantas vezes já ficou chateada e esquisita por isso! Vai ver, brigaram.

— É... Talvez seja isso mesmo.— Vou até a cozinha tomar um copo de leite. Me

acompanha?— Não. Vou dormir. Amanhã tenho que ir fazer al-

guns exames pra saber sobre meu colesterol. Anda meio alto, o danado.

— Seu filho vai contigo, dona Neuza?— Aquele inútil do seu marido só serve para beber e

gandaiar. Sinceramente, Marta, não sei como o aguenta!— Simples, dona Neuza. Eu o amo demais.— Também o amo, porém, tem coisas que não sei... Se

eu fosse esposa dele, já teria tomado algumas providências.Sorrindo, Marta se despede de vovó Neuza e vai à

cozinha tomar seu copo de leite.Chegando lá, encontra o tio Augusto falando com

a vovó Dirce sobre a tristeza de Inês. Marta suspira e diz:— Hum... De novo não. Essa história já está me

angustiando. Será que não podem falar de outra coisa?

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Vocês não sabem que Inês, quando briga com Marco An-tônio, fica melancólica?

Tio Augusto responde lentamente:— Não acho que seja isso não, Marta. Agora parece

ser outra coisa.— Tudo bem. Amanhã converso com Inês. Vou

buscá-la na faculdade e tudo se resolverá. Vocês verão como é uma briguinha de namorados.

Vovó Dirce pensa um pouco e diz:— Marta, não acha que está trabalhando demais e se

esquecendo da sua família, minha filha?— Mamãe, de novo com essa conversa? Não sabe

que tenho que praticamente sustentar a casa? Se eu espe-rar o Francisco fazer isso, todos morreremos de fome! Ou não sabe disso?

— Sei e não gosto dessa situação. Mas quem sou eu para mudar sua vida, minha filha. Você não quer se ajudar. Fica com esse traste atrapalhando sua vida. Quer saber? Não está mais aqui quem falou!

— Mamãe, eu amo o Francisco, mesmo ele sendo assim, desse jeito.

— Pra mim isso não é mais amor. É dependência.Tio Augusto interveio:— A mamãe está certa, maninha. Não é um amor

sadio. É uma doença. Temos que amar quem nos ama e não quem só pisa em nosso calo.

— Pensem o que quiserem. Agora vou dormir. Boa noite!!!

— Seu copo de leite. Já ia esquecendo-o na pia, filha.— Obrigada e boa noite.

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Subiu para o quarto, levando seu copo de leite e pensando no que havia acontecido com sua filha Inês. Mesmo preocupada, não quis incomodar Inês aquela hora da noite. Pensou: “Amanhã converso com ela”.

Muito cansada, Marta começa a ler seu livro predi-leto. Entretanto, acaba adormecendo. Francisco chega no quarto e Marta acorda com o barulho que ele faz ao co-locar o pijama, derrubando o copo vazio com que Marta havia tomado leite antes de adormecer.

— Francisco, sabe que horas são?— Sei. Eu tenho relógio para que, se não for para

saber as horas?— E o que estava fazendo até agora na rua?— Marta, por favor, não comece. Não estou a fim

de brigar a esta hora. Amanhã conversamos.— Sempre a mesma desculpa! “Amanhã conversa-

mos”, “Depois conversamos”... Quando é que você terá coragem de acabar com essa vida que levamos, Francisco?

— Por quê? Não está feliz ao meu lado? Não diz aos quatro ventos que me ama?

— Sim, eu te amo. Aliás, mais do que deveria te amar. Mas não posso mais viver com você desse jeito, Francisco. Chegando todos os dias a esta hora, sem dar satisfações e achando normal. Todos acham que sou uma idiota, e é o que sou mesmo, pois ficar com um homem como você, apenas sendo uma idiota. Além de tudo, acei-tar o que você fez e ainda encobrir o seu erro.

— Cale a boca! Você não vai falar dessa história novamente, né? Alguém pode acabar escutando. Tantos anos calada, agora você resolve falar sobre isso todos os

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dias? O que está acontecendo? Na época você me prome-teu que nunca mais tocaria no assunto.

— Está bem, eu prometi e cumprirei. Não falarei mais sobre isso. Mudando de assunto, você sabe o que está acontecendo com sua filha Inês?

— O que tem Inês?— Todos nesta casa estão dizendo que ela anda cho-

rando pelos cantos, chateada com alguma coisa, mas nin-guém sabe o que tem.

— Ninguém sabe o que ela tem? Eu estou careca de saber. Toda vez que briga com aquele fulaninho fica desse jeito.

— Augusto acha que não se trata de briga de namo-radinhos não.

— O que mais pode ser, além disso? A não ser que tenha tirado notas ruins na faculdade. E se for isso, tem que ficar triste mesmo, porque não estou me matando pra pagar aquela porcaria à toa.

— Quem te vê falando pensa que paga tudo sozi-nho. A Inês dá todo o salário dela. Você só complementa. E ainda reclama! Ora, por favor!

— E se não fosse isso, não estaria fazendo faculdade.— Estaria, sim, Francisco. Eu a ajudaria. É por isso

que trabalho como louca.— É bom mesmo, porque assim pode me ajudar

quando Luiz Henrique e Gabriel entrarem na faculda-de também.

— Nem me fale nesse dois! Ontem a professora man-dou um bilhete para eu comparecer na escola porque a di-retora precisa falar comigo. Devem ter aprontado alguma.