entomofagia como complemento da alimentação humana e suas implicações

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  • 7/23/2019 Entomofagia como complemento da alimentao humana e suas implicaes

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    Universidade Catlica Portuguesa Escola Superior de Bio tecnologia

    Ins de Sousa Beato

    Entomofagia como complemento da alimentaohumana e suas implicaes

    Porto

    2010

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    Ins de Sousa Beato

    Entomofagia como complemento da alimentaohumana e suas implicaes

    Monografia apresentada Escola Superiorde Biotecnologia Universidade catlicaportuguesa como requisito de obteno daPs-Graduao em Segurana Alimentar

    Professor Orientador:Prof. Doutor Paula Teixeira

    Porto

    2010

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    ndice

    Lista de Tabelas . 04

    Introduo . . 05

    1. Entomofagia .. 06

    2. Artrpodes e insectos . 06

    3. Contedo nutricional .. 08

    3.1. Protenas . 08

    3.2. Gordura 10

    3.3. Hidratos de carbono 12

    3.4. Sais Minerais . 13

    3.5. Vitaminas . . 14

    3.6. Calorias . 15

    4. Benefcios a nvel nutricional do consumo de insectos 16

    5. Possveis desvantagens a nvel nutricional do consumo de insectos . 17

    6. Consideraes em Segurana Alimentar 17

    7. Vantagens econmicas e ecolgicas da criao de insectos 19

    Concluso .. 21

    Bibliografia 23

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    ndice de tabelas

    Tabela 1. Contedo mdio de protenas de insectos edveis em algumas ordens deinsectos .09

    Tabela 2. Contedo proteico mdio de algumas ordens de insectos comparativamentea outras fontes de protena 10

    Tabela 3. Contedo mdio de gordura em algumas ordens de insectos e outros tiposde alimento ...11

    Tabela 4. Contedo de gordura de algumas ordens de insectos ....12

    Tabela 5. Contedo em hidratos de carbono em algumas ordens de insectos .13

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    Introduo

    Esta monografia tem como objectivo a explicao da prtica de entomofagia e

    suas consequncias a nvel nutricional, social e econmico, baseada em vrios textos

    antropolgicos e cientficos. Os alimentos escasseiam em vrias partes do mundo. O

    aumento do custo de produo devido aos mais variados factores origina preos mais

    altos de venda ao pblico. Estes factores viraram a ateno mundial para a

    entomofagia e criao de insectos, tornando-a um dos grandes temas da actualidade.

    Apesar de os insectos no serem correntemente consumidos no mundo ocidental os

    valores nutricionais que estes apresentam podem torn-los alternativas viveis ao

    consumo de carnes de uma maneira relativamente econmica e com boas implicaes

    a nvel social e ambiental. A presente monografia abordar diversos temas: o que aentomofagia, uma breve introduo aos insectos, o contedo nutricional dos insectos

    (que estar explicitado em subcaptulos), as vantagens e desvantagens nutricionais do

    consumo de insectos, consideraes a nvel de segurana alimentar e vantagens

    econmicas e ecolgicas da criao de insectos.

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    1. Entomofagia

    Entomofagia o termo cientfico usado para descrever o uso de insectos como

    fonte de alimento. Pode considerar-se tambm o termo antropo-entomofagia

    exclusivamente em relao ao consumo de insectos por humanos.

    Sabemos que existem aproximadamente 1417 espcies edveis de insectos. Os

    insectos so consumidos maioritariamente nas suas fases de larva e pupa, havendo no

    entanto espcies que so consumidas na sua fase final de desenvolvimento. Os grupos

    mais importantes so gafanhotos, lagartas, besouros, formigas, cigarras, grilos e uma

    variedade de insectos aquticos. Mesmo no sendo insectos, o consumo de aracndeos

    (tarntulas, aranhas e escorpies) tambm pode ser considerado entomofgico.

    Os insectos tiveram um importante papel na histria nutricional humana. J oschimpanzs (famlia Hominidae, juntamente com gorilas, orangotangos e humanos)

    incorporavam insectos na sua dieta e fezes humanas fossilizadas, encontradas em

    cavernas nas montanhas de Orzak, Estados Unidos, apresentavam formigas, piolhos,

    carraas, caros e larvas de baratas (Capinera 2004). Tambm se encontraram na cova

    de Altamira, Espanha, pinturas rupestres datadas de 30000 a 9000 a.C. que mostravam

    a recolha de colmeias, presumindo que os humanos daquela regio se alimentavam

    das pupas e larvas de abelha juntamente com mel. Em Shanxi, China, runas datadas

    entre 2500 a 2000 a.C. apresentavam casulos de bicho-da-seda nos quais lhes foram

    feitos buracos por meio de ferramentas, de maneira a chegar ao interior dos mesmos

    (Capinera 2004). Tambm Levtico descriminou em Levtico 11:22 as espcies de

    insectos permitidas consumir pelo homem.

    Este consumo foi sendo perdido medida que os humanos encontraram

    formas de consumir protena mais fceis e com menos dispndio energtico, como a

    criao de gado. A parte cultural criou tambm o desdm pela entomologia em

    algumas regies. Muitas das vezes as pessoas tinham dificuldades em aceitar e

    considerar costumes diferentes dos mesmos, tendo por exemplo os colonos que

    consideravam entomofagia primitiva e brbara por ser praticada pelas tribos indgenas.

    Mesmo assim esta acabou por persistir em algumas regies aliada a outro tipo de

    dietas.

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    Actualmente o consumo de insectos no muito disseminado nas regies da

    Amrica do Norte e Europa, sendo principalmente consumidos na Amrica do Sul,

    Mxico, Austrlia, frica e sia, perfazendo um total de pelo menos 133 pases por

    pelo menos 3000 grupos tnicos.

    Na maioria destes pases a entomofagia no apenas exercida em caso de

    emergncia mas sim incorporada na dieta do dia-a-dia ou sazonalmente, quando o

    insecto em causa est disponvel. Estes insectos so usados como a base principal do

    prato ou como condimento. Em alguns casos a entomofagia praticada como

    medicina tradicional e no como parte normal da dieta.

    2. Artrpodes e insectos

    Os artpodes so animais invertebrados, que apresentam exoesqueleto(esqueleto externo), corpo segmentado e apndices juntos. Dentro destes distingue-se

    a classe dos insectos, que apresentam caractersticas prprias: exoesqueleto de quitina;

    corpo dividido em cabea, trax e abdmen; trs pares de pernas conjuntas, olhos

    compostos (constitudos por vrios fotoreceptores separados que em conjunto

    formam a imagem total) e um par de antenas.

    Os insectos so dos grupos mais populosos do planeta, com um nmero de

    espcies altamente diversificado (estimando-se que esteja por volta dos 7 a 30

    milhes). Podem encontrar-se em quase todos os habitats, estando no entanto em

    menor nmero nos oceanos, onde os crustceos (tambm artrpodes) proliferam.

    Na sua maioria os insectos nascem a partir de ovos fertilizados. Aps nascimento os

    insectos tm de se desenvolver, sofrendo uma srie de mudanas at chegarem

    idade adulta, chamadas metamorfoses. Esta pode ser metamorfose incompleta ou

    completa. Na incompleta o insecto vai crescendo gradualmente fazendo uma srie de

    eclidses (mudanas de pele) at chegar ao tamanho e formato adulto. Estes insectos

    em crescimento so chamados de ninfas. Na metamorfose completa o insecto passa

    por quatro estgios de vida: ovo, larva, pupa e adulto. A larva eclode do ovo e cresce.

    Chegando a um certo ponto, esta imobiliza-se e forma uma camada protectora ou um

    casulo, tornando-se uma pupa. Aps necessrio esta emerge da sua cpsula como um

    adulto completamente desenvolvido (Gullan 2005).

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    A alimentao dos insectos variada, podendo alimentar-se de plantas e

    derivados, outros insectos, matria em decomposio e at estrume.

    3. Contedo nutricional

    Os valores nutricionais dos insectos variam entre as espcies, estgio de

    desenvolvimento e habitat mas no geral os insectos tendem a ser ricos em protenas,

    cidos gordos, minerais e vitaminas.

    3.1. Protenas

    As protenas so polmeros de cadeias lineares de aminocidos ligados entre si

    por ligaes peptdicas. Os aminocidos dividem-se em aminocidos essenciais (que o

    corpo no sintetiza e necessitam de ser obtidos pela dieta) e no essenciais (que ocorpo sintetiza partindo de outros aminocidos). Os aminocidos essenciais so:

    leucina, isoleucina, histidina, metionina, valina, lisina, treonina, triptofano e

    fenilalanina. Os no essenciais so asparagina, c. asprtico, glutamina, c. glutmico,

    arginina, alanina, tirosina, cistena, glicina, prolina e serina.

    As protenas so a base do funcionamento do organismo. Estas apresentam

    uma funo estrutural, de defesa, hormonal e enzimtica. So o componente

    estrutural principal de msculos e rgos e os seus aminocidos so precursores de

    cidos nucleicos, vitaminas, hormonas e enzimas.

    Os insectos so ricos em protenas (Tabela 1.). Em espcies de insectos edveis

    analisadas na sia, estipulou-se que a quantidade de protena se situava entre 20 a

    70%. Muitos insectos das regies do Mxico e frica apresentavam contedos entre 50

    a 82%, com valores de protena digervel na ordem dos 64% (Schabel 2010). Estas

    protenas tendem a ser baixas em metionina e cistena, mas altas em lisina e treonina

    (DeFoliart 1992). Em 100 espcies analisadas observou-se que o contedo de

    aminocidos essenciais era de 10 a 30%, estando em concordncia com os valores

    propostos pela Organizao Mundial de Sade e FAO (Xiaoming, Ying e Hong 2010).

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    Tabela 1. Contedo mdio de protenas de insectos edveis em algumas ordens de

    insectos (% peso seco). Adaptado deXiaoming, Ying e Hong (2010)

    Ordem Protena Aminocidos Aminocidos essenciais

    Ephemeroptera 66,26 65,97 23,81Odonata 58,83 46,03 16,12

    Orthoptera 44,10 38,87 13,95

    Homoptera 51,13 42,45 16,34

    Hemiptera 55,14 48,72 18,65Coleoptera 50,41 39,74 17,13

    Megaloptera 56,56 53,51 19,51

    Lepidoptera 44,91 32,88 13,92

    Diptera 59,39 ND NDHymenoptera 47,81 45,18 16,23

    *ND- no disponvel

    As anlises a larvas de Ephemeroptera (ex: efmeras) indicavam que tinham um

    contedo proteico de 66,2%. Larvas de Odonata (ex: libelinhas) apresentavam 40 a

    65%, larvas e ovos de Homoptera (ex: pulges) 40 a 57%,Larvas de Hemiptera (ex:

    cigarras) 42 a 73%, de Coleoptera (ex: besouros) 23 a 66%, de Megaloptera

    (ex: alderflie)56.5%, de Leptidoptera (ex: traas e borboletas) 20 a 70%, de Diptera

    (ex: moscas)59,9% e de Hymenoptera (ex: vespas, abelhas e formigas) 38 a 76%

    (Xiaoming, Ying e Hong 2010).

    Podemos ento observar que muitos insectos apresentam em normalmente contedo

    proteico alto, chegando por vezes a ultrapassar valores proteicos de carne e ovos

    (Tabela 2.)

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    Tabela 2. Contedo proteico mdio de algumas ordens de insectos comparativamentea outras fontes de protena (% protena). Adaptado deXiaoming, Ying e Hong (2010)

    Origem Protena (%)

    Carne de porco 21,42

    Leite 28,04Ovos 48,83

    Ephemeroptera 66,26

    Odonata 58,83

    Orthoptera 44,10Homoptera 51,13

    Hemiptera 55,14

    Coleptera 50,41Megaloptera 56,56

    Lepidoptera 44,91

    Dptera 59,39

    Hymenoptera 47,81

    3.2. Gordura

    As gorduras so compostos variados cujo ponto em comum a sua

    insolubilidade em gua e solubilidade em solventes orgnicos.

    Estas apresentam funes de reserva e fornecimento de energia, proteco de rgos,

    componentes estruturais de membranas celulares, molculas sinal e tm um papel

    importante na absoro de vitaminas liposslveis.

    Todos os lpidos so constitudos por cidos gordos ligados a uma cadeia,

    normalmente de glicerol.

    Os cidos gordos podem dividir-se em saturados e insaturados. Nos c.gordos

    saturados os tomos de carbono esto saturados pois todas as suas ligaes

    disponveis so feitas a tomos de hidrognio. Isto faz com que as ligaes entre

    carbonos sejam ligaes simples. No caso dos c.gordos insaturados nem todas as

    ligaes disponveis do carbono esto ocupadas por tomos de hidrognio, podendo

    existir ligaes duplas entre carbonos. Os c.gordos insaturados podem apresentar

    duas configuraes, cis e trans, dependendo da geometria da ligao dupla. No caso do

    cis os hidrognios encontram-se no mesmo lado da ligao dupla, no caso dos trans

    estes apresentam-se em lados opostos. Os c.gordos cis causam uma dobra na cadeia,

    fazendo com que os lpidos que os contenham sejam menos estveis e necessitem de

    menos energia para serem quebrados.

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    A nvel nutricional deve substituir-se gorduras saturadas por insaturadas, sendo

    que dentro destas deve consumir-se mais gordura cis em detrimento da trans, pois

    estudos relacionam o consumo em excesso desta com vrias doenas. Nas gorduras

    insaturadas cis incluem-se tambm os c.gordos essenciais, c.gordos que no podem

    ser sintetizados pelo organismo, tendo que ser obtidos pela dieta.

    Nos alimentos as gorduras saturadas esto presentes principalmente em

    derivados de animais (natas, queijo, manteiga, banha), algumas carnes gordas e alguns

    produtos vegetais (leos de coco, chocolate). A maior parte da gordura mono

    insaturada encontra-se tambm nestes alimentos. A gordura polinsaturada encontra-

    se principalmente em peixe e aves, estando tambm presente em alguns leos

    vegetais (milho e soja).

    Os insectos apresentam valores variveis de gordura. Este valor varia com o

    estgio de desenvolvimento, sendo maior nos estgios de larva e pupa em contraste

    com os da fase adulta (Xiaoming, Ying e Hong 2010). Geralmente os insectos so ricos

    em gordura, existindo no entanto espcies com valores muito baixos (Tabela 3.).

    Estudos realizados mostram que as quantidades de gordura podem ir de 2 a 55%

    (Tabela 4.).

    Tabela 3. Contedo mdio de gordura (%) em algumas ordens de insectos e outrostipos de alimento. Adaptado deXiaoming, Ying e Hong (2010)

    Origem Gordura (%)

    Gado bovino 24,3

    Gado caprino 30,5Porcos 33,3

    Aves 4,3Odonata 25,38

    Orthoptera 2,2

    Homoptera 27,73Hemiptera 30,43

    Coleptera 27,57

    Lepidoptera 24,76

    Dptera 12,61

    Hymenoptera 21,42

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    Tabela 4. Contedo de gordura de algumas ordens de insectos (% peso seco)

    Origem Gordura (% peso seco)

    Mximo Mnimo Mdia

    Odonata 41,28 14,23 25,38

    Orthoptera ND ND 2,2Homoptera 30,60 24,85 27,73

    Hemiptera 44,30 9,73 30,43

    Coleoptera 35,86 14,05 27,57Lepidoptera 49,48 5,0 24,76

    Diptera ND ND 12,61Hymenoptera 55,10 7,99 21,42

    *ND- no disponvelFonte: Xiaoming, Ying e Hong (2010)

    Estudos realizados indicam que a nvel de composio de c.gordos os insectos

    so ricos em insaturados, tendo uma quantidade semelhante dos insaturados

    presentes em peixe e aves. Os insectos so no entanto mais ricos em polinsaturados,

    sendo alguns deles ricos em c.gordo linoleico e linolnico, c.gordos essenciais

    (DeFoliart 1992). Pode afirmar-se que a nvel de gordura os insectos tm um bom valor

    nutricional.

    O colesterol nos insectos varia dependendo da sua dieta.

    3.3. Hidratos de carbono

    Os hidratos de carbono, normalmente conhecidos como acares, so

    elementos muito importantes para o corpo humano. Estes agrupam-se em quatro

    grupos: monosacardeos, dissacardeos, oligossacardeos e polissacardeos. Os

    monossacardeos so as unidades bsicas dos sacardeos. Estes so principalmente

    usados no metabolismo, onde actuam como fonte primria de energia e so

    componentes estruturais importantes do organismo (a desoxiribose do ADN uma

    forma modificada da ribose, por exemplo). Os polissacardeos dividem-se em dois

    grupos: homopolissacardeos e heteropolissacardeos. Como o nome indica,

    homopolissacardeos so constitudos pelas mesmas unidades de monossacardeos,

    em contraste com os heteropolissacardeos. Alguns homopolissacardeos actuam como

    reserva de energia. Outros, nomeadamente a celulose e a quitina, so constituintes

    estruturais de paredes celulares de plantas e exoesqueleto de animais, incluindo

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    insectos. Os heteropolissacardeos tm componente estrutural em organismos,

    especialmente como constituintes de membranas celulares.

    Os insectos so ricos em protena e gordura mas apresentam menos hidratos

    de carbono. Estes valores so muito variveis de insecto para insecto, podendo

    apresentar-se entre valores de 1 a 15% (Tabela 5.)

    Tabela 5. Contedo em hidratos de carbono em algumas ordens de insectos (% pesoseco)

    Origem Hidratos de Carbono (% peso seco)

    Mximo Mnimo Mdia

    Odonata 4,78 2,36 3,75

    Orthoptera ND ND 1,20Homoptera 2,80 1,54 2,17

    Hemiptera 4,37 2,04 3,23

    Coleoptera 2,82 2,79 2,81

    Lepidoptera 16,27 3,65 8,20Diptera ND ND 12,04

    Hymenoptera 7,15 1,95 3,65

    *ND- no disponvelFonte: Xiaoming, Ying e Hong (2010)

    O corpo e pele dos insectos rica em quitina, no entanto esta varia consoante a

    espcie e estgio de desenvolvimento do insecto, sendo maior na fase adulta. Estudos

    feitos indicam que esta quantidade pode variar em mdia entre 5 a 15% (Xiaoming,

    Ying e Hong 2010).

    3.4. Sais Minerais

    Os sais minerais so constituintes importantes para manter as funes

    fisiolgicas do organismo e o seu normal funcionamento. Estes servem funes

    estruturais, reguladora e actuam como electrlitos. Os minerais principais necessriosna dieta so o Potssio (K), Cloro (Cl), Sdio (Na), Clcio (Ca), Fsforo (P), Magnsio

    (Mg), Zinco (Zn), Ferro (Fe), Mangans (Mn), Cobre (Cu), Iodo (I), Selnio (Se) e

    Molibdnio (Mo).

    Outros minerais como o Flor (F), Boro (B), Enxofre (S), Cobalto (Co), Nquel (Ni) e

    Crmio (Cr) tambm apresentam funes no organismo mas no so considerados

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    essenciais, pois so necessrios em quantidades muito baixas, sendo facilmente

    obtidos pela dieta.

    Apesar de os valores variarem de espcie para espcie, estudos efectuados

    indicam que os insectos so ricos em Potssio, Clcio, Sdio, Magnsio, Mangans,

    Cobre, Ferro, Zinco e Fsforo (Ying, Feng et al2010). As lagartas apresentam a maioria

    destes sais minerais em grandes quantidades, o resto dos insectos costuma ter valores

    de Potssio, Clcio, Ferro e Magnsio ligeiramente superiores em relao a outros sais

    minerais (Schabel 2010).

    3.5. Vitaminas

    As vitaminas so compostos orgnicos que necessrios para o metabolismo empequenas quantidades. Estas no conseguem ser sintetizadas em quantidades

    suficientes no organismo, tendo de ser obtidas pela dieta. At agora so reconhecidos

    13 compostos como vitaminas: Vitamina A (retinol), B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B3

    (niacina), B5 (cido pantenico), B6 (piridoxina), B7 (biotina), B9 (cido flico), B12

    (cobalaminas), C (cido ascrbico), D (calciferol), E (tocoferol) e K1 (filoquinona).

    As vitaminas apresentam vrias funes: reguladores de crescimento e metabolismo

    (Vit, A e D), antioxidantes (Vit. C e E) e intervenientes de reaces enzimticas (Vit. do

    complexo B).

    Estudos realizados at ao momento (DeFoliart 2010, Yhoung-aree 2010 e

    Schabel 2010) indicam que os insectos apresentam uma boa variedade de vitaminas.

    No entanto as vitaminas e sua quantidade divergem entre espcies: a lagarta de Usta

    terpsichore (ordem Leptidoptera, famlia Saturniidae) uma boa fonte de vitamina B1 e

    B2, outras lagartas da famlia Saturniidae so ricas em B2 e B3 mas pobres em B1 e B6;

    Outros insectos apresentam mais vitaminas: o insecto Macrotermes annandalei

    Silvestri (ordem Isoptera) rico em vitamina D e E, as larvas do besugo Rhynchophorus

    phoenicis (F) so ricas em B2, as pupas de abelha so ricas em vitamina A e D, os

    gafanhotos do gnero Sphenarium (ordem Orthoptera) so ricos em B3, as formigas

    negras Polyrhachis vicina Rogers (ordem Hymenoptera) so ricas em vitamina E, os

    ovos de vrias espcies de insectos aquticos so ricos em B2 e B3 e no geral as lagartas

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    de vrias espcies so especialmente ricas em B1, B2 e B6. Estas vitaminas analisadas

    apresentam-se em quantidades necessrias para um desenvolvimento saudvel. Pode

    dizer-se que na sua maioria os insectos edveis so ricos em vitaminas necessrias para

    a sade e crescimento humano.

    3.6. Calorias

    As calorias so a quantidade de energia obtida a partir do alimento aquando da

    respirao celular. Quando os nutrientes reagem com o oxignio dentro das clulas

    estes libertam energia. Estes valores costumam ser muito pequenos, pelo que

    normalmente se apresentam em Kcal (kilocalorias), equivalente a 1000 cal (calorias).

    Os valores dirios de referncia recomendados para jovens adultos e adultos so

    respectivamente 2000 Kcal/dia para mulheres e 2500 Kcal/dia para homens.

    Estudos realizados indicam que as calorias obtidas pelos insectos podem variar

    entre 293 Kcal/100g e 776,9 Kcal/100g de insectos (Yhoung-aree 2010). Os insectos

    ricos em gordura originam mais calorias. De vrios insectos analisados concluiu-se que

    50% tinham valor calrico acima de feijes de soja, 87% superior ao de milho, 63%

    superior ao de carne de vaca, 70% superiores a peixe, lentilhas e feijes, 95%

    superiores a trigo, centeio e outras grandeas do gneroZea (excluindo milho). A carne

    de porco continua a ser dos alimentos testados com maior valor calrico (DeFoliart

    1992).

    O mtodo de preparao dos insectos influencia o seu valor calrico. O valor

    calrico de um insecto pode ser aumentado por fritura, podendo-lhe ser adicionado

    desde 13 a 17g de gordura por 100g de insectos (Yhoung-aree 2010).

    4. Benefcios a nvel nutricional do consumo de insectos

    Os insectos so altamente nutritivos. Muitas espcies de insectos contm tanto

    ou mais protena do que a presente em outros alimentos, tal como carne, peixe, ovos e

    leite, apresentando valores proteicos variveis entre 20 a 70% (% peso seco). Nos

    insectos tambm esto presentes aminocidos essenciais em grandes quantidades (10

    a 30%). A qualidade destas protenas boa, podendo complementar a falta de

    protena ingerida por muitas dietas principalmente vegetarianas de pases em

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    desenvolvimento. O mesmo se aplica aos aminocidos essenciais presentes,

    principalmente lisina e treonina, aos quais as pessoas em pases em desenvolvimento

    tm acesso limitado tambm devido sua dieta (DeFoliart 1992).

    Alguns insectos, principalmente nos seus estgios de larvas e pupas so ricos

    em gorduras, principalmente gorduras insaturadas, tendo um perfil semelhante ao

    peixe e aves. No entanto estas gorduras so principalmente polinsaturadas, ricas em

    cidos gordos essenciais, que diminuem a quantidade de colesterol total e

    lipoprotenas de baixa densidade (LDL) no sangue (que se depositam nas artrias e

    limitam o fluxo de sangue), diminuindo o risco de doenas cardiovasculares (Mensink

    2003).

    Os insectos tambm contm quantidades significativas de vitaminas e sais

    minerais, o suficiente para satisfazer as quantidades mnimas necessrias para o bomfuncionamento do organismo.

    O corpo e pele dos insectos so ricos em quitina, especialmente na fase adulta

    do seu desenvolvimento. Estes podem atingir valores entre 5 a 15% (% peso seco). A

    quitina e o quitosano (um derivado da quitina) apresentam vrios efeitos benficos

    para o organismo (Omotoso 2006). A quitina digerida no organismo por quitinases: a

    quitinase acdica de mamferos (AMCase) e a quitotriosidase (chit), enzima hidroltica

    produzida por macrfagos. A quitina e o quitosano ligam-se s gorduras, reduzindo a

    sua absoro no intestino, o que por seguinte diminui o colesterol presente no plasma

    e os triglicridos (Yhoung-aree 2010).

    Os insectos so por estes motivos vistos geralmente como uma boa fonte nutricional.

    5. Possveis desvantagens a nvel nutricional do consumo de insectos

    Os insectos so altamente nutritivos e como tal devem ser consumidos com

    moderao e no mbito de uma alimentao variada.

    Estudos correlacionam a ingesto excessiva de protena animal com a formao

    de pedras de rim calcificadas (Yhoung-aree 2010). A ingesto de grandes quantidades

    de protena aumenta o metabolismo de fenilalanina, tirosina, triptofano e

    hidroxipirolina, consequentemente aumentando a excreo de oxalato. Normalmente

    o corpo humano absorve apenas 6 a 14 % do oxalato presente na dieta, mas nesta

    situao, o excesso de oxalato em conjunto com um desequilbrio dos outros

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    nutrientes pode aumentar o risco de formao de pedras nos rins. No se conhece

    exactamente o mecanismo em que o oxalato potencia a formao de pedras nos rins,

    mas de acordo com os estudos feitos uma situao a ter em conta aquando da

    ingesto de alimentos ricos em protena.

    O consumo excessivo de insectos ricos em calorias e gordura pode contribuir para a

    obesidade, levando a vrios problemas, estando a hiperlipidmia relacionada tambm

    com a formao de pedras no fgado (Yhoung-aree 2010). Esta situao deve ser

    monitorizada principalmente em mulheres, devido percentagem de gordura

    presente no corpo.

    Enquanto a quitina se liga s gorduras, impedindo a sua absoro no intestino, o

    quitosano forma um gel que para alm de lpidos tambm absorve outros nutrientes,

    incluindo sais minerais e vitaminas lipossolveis. O consumo em excesso e durante umlongo perodo de tempo pode originar falta de minerais, principalmente clcio,

    podendo interferir na formao ssea e absoro de Vitamina D (Yhoung-aree 2010). O

    consumo excessivo de quitosano deve ento ser tido em ateno principalmente por

    grvidas, de maneira a no interferir no bom desenvolvimento do feto.

    6. Consideraes em Segurana Alimentar

    Aquando do consumo de insectos existem vrios factores a nvel de segurana

    alimentar que tm de ser considerados, dependendo se os insectos so adquiridos

    atravs do meio ambiente ou por criao em quintas.

    Os insectos so altamente nutritivos e sendo assim desenvolveram mecanismos

    de defesa contra os seus predadores. Entre estes encontram-se a produo de

    qumicos de defesa que podem ser apenas repelentes ou danosos para os predadores.

    Estas toxinas podem ser obtidas a partir do sequestro de fitoqumicos ou produo

    pelo prprio insecto (Schabel 2010). Estas toxinas podem criar srios problemas de

    sade a quem as consome. Enquanto que a maioria dos insectos edveis so fceis de

    identificar, e muitos dos insectos venenosos apresentam caractersticas de anunciam a

    sua potencial toxicidade (ex: cores vivas), h o risco de se fazerem identificaes

    erradas, visto que alguns insectos com potencial txico podem assemelhar-se a

    espcies edveis no txicas. Por exemplo, enquanto vrios insectos da ordem

    Orthoptera so seguros de se consumir, principalmente gafanhotos, os pertencentes

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    famlia Pyrgomorphidae so geralmente txicos. Est registada uma morte devido a

    envenenamento por consumo do gafanhoto Phymateus leprosus, pertencente a esta

    famlia (Steyn 1962).

    Para alm dos insectos inerentemente txicos, outros insectos podem apresentar uma

    toxicidade condicionada. A toxicidade de algumas espcies pode variar dependendo da

    zona onde o insecto se encontra ou da altura do ano. A toxicidade condicionada est

    normalmente relacionada com a dieta disponvel do insecto. Por exemplo, um insecto

    considerado edvel que provenha de uma zona poluda pode tornar-se txico, pois

    acumula os qumicos presentes nas plantas. Assim aconteceu na Califrnia, onde vrias

    pessoas foram internadas com envenenamento por chumbo aps o consumo de

    gafanhotos (Handley 2007). Outros insectos apresentam uma alimentao variada e

    consoante a poca do ano, podem alimentar-se de plantas com mais ou menosfitoqumicos, influenciando a sua toxicidade. o caso dos gafanhotos da espcie

    Zonocerus spp., que apesar de pertencerem famlia Pyrgomorphidae so

    considerados seguros e consumidos regularmente na Nigria devido sua alimentao,

    contrastando com muitos outros pases que os no os consideram prprios para

    consumo (Schabel 2010). Estes problemas descritos so importantes principalmente

    quando o insecto caado no ambiente, contrastando com a criao em quintas, onde

    esta situao estar mais controlada.

    Os insectos apresentam tambm perigos fsicos. Insectos da ordem Orthoptera

    (ex: gafanhotos) e principalmente Coleoptera (ex: besouros) possuem mandbulas,

    patas grossas, asas e outros apndices que podem alojar-se ou danificar o tracto

    digestivo, sendo necessrio retirar estes apndices antes do consumo (Schabel 2010).

    Existe tambm o risco de alergias. Muitas lagartas esto cobertas de plos que

    podem causar dermatites em contacto com a pele e as mucosas, podendo despoletar

    reaces alrgicas graves. Alguns insectos da ordem Hymenoptera, especialmente

    abelhas e vespas, contm apitoxina, o que pode originar reaces anafilticas e morte

    (Ying et al2010). Convm ter especial cuidado no manuseamento destes insectos e no

    caso de alergia evitar o consumo. Isto implica que em caso de comercializao deve

    existir um aviso de alergneos.

    Se os insectos forem criados em quintas deve tambm ter-se em ateno a

    alimentao dada aos mesmos, visto que eles sequestram as toxinas das plantas. Os

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    insectos podem concentrar nos seus corpos os vrios pesticidas e herbicidas usados

    nas plantas, devendo ser analisados antes da sua comercializao a ponto de ser

    determinada a quantidade de txicos presentes.

    Um devido processamento, transformao e armazenamento dos insectos

    tambm importante. No Botswana estavam presentes nveis de alfatoxinas superiores

    ao aceitvel em stocks de lagartas de Gonimbrasia belina (ordem Saturniidae), devido

    a um mau armazenamento dos insectos. Tambm se registaram casos de botulismo no

    Qunia aps a ingesto de trmitas que tinham sido transportadas dentro de sacos de

    plstico durante quatro dias (Schabel 2010).

    Os insectos so particularmente vulnerveis a contaminaes aps as eclidses, sendo

    necessria ateno redobrada no seu manuseamento.

    7. Vantagens econmicas e ecolgicas da criao de insectos

    O aumento do preo dos alimentos, a sua escassez em algumas partes do

    mundo e uma maior conscincia ecolgica atraram a ateno para a criao de

    insectos.

    A pecuria responsvel por aproximadamente 18% das emisses globais de

    gases de estufa. Esta est tambm relacionada indirectamente com a eroso dos solos,

    principalmente aquando do uso de gros para alimentao animal, visto que esta

    representa 40% dos gros cultivados a nvel mundial. Os custos de gua para

    alimentao animal tambm so elevados. Por exemplo, nos Estados Unidos estima-se

    que para animais alimentados com gro necessrio o gasto de 100000 L de gua para

    cada quilograma de carnes vermelhas produzida e 3500 L para Kg de carne de aves

    produzida. Para comparao necessrio 2000 L para Kg soja, 1912 L para Kg arroz,

    900 L para Kg trigo e 500 L para Kg de batata (Pimmentel 2010).

    Os insectos tm uma eficincia de converso de alimento ingerido para

    protena muito maior que outros animais usados para alimentao. Isto significa que

    para aumentar a mesma quantidade proteica necessrio menos alimento. Muitos

    insectos apresentam aproximadamente uma converso de energia para protena numa

    razo de 4:1, semelhante s galinhas, considerada das mais eficientes. A produo de

    carne de vaca apresenta uma razo de converso de energia para protena de 54:1, a

    de carne de carneiro 50:1, carne de porco 17:1 e a de peru 13:1. Para o leite temos

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    uma razo de 14:1 e para ovos uma razo de 26:1 de energia obtida para produo de

    protena (Pimmentel 2010). O consumo de gua por insectos tambm muito menor,

    muitas vezes conseguindo manter os seus valores de humidade normais unicamente

    por absoro desta do ar e da obteno de gua pela extraco de molculas de guas

    a partir dos hidratos de carbono presentes na sua dieta.

    Para alm destas vantagens os insectos podem ingerir uma variedade muito

    maior de plantas comparativamente a outros animais. Podem ingerir desde gros a

    bambu, cactos, serradura e outros subprodutos da agricultura, que no poderiam ser

    utilizados para raes. Temos assim consequentemente mais gros disponveis para

    alimentao humana e um menor desperdcio de subprodutos da agricultura.

    A criao de insectos apresenta tambm um melhor aproveitamento de espao.

    Na mesma rea possvel criar muitos mais insectos comparativamente criao deoutros animais. A taxa de reproduo dos insectos tambm muito maior que a de

    outros animais. Por exemplo um gafanhoto fmea pode pr 25 massas de ovos, cada

    uma contendo entre 20 a 120 ovos, perfazendo no mximo 3000 possveis crias

    (Glogoza 1997).

    Tudo isto leva a uma maior eficincia na produo e a um maior rendimento

    energtico, sem contar que a nvel ambiental reduzida a pegada ecolgica e algum

    desperdcio causado pela agricultura e pecuria.

    Estes motivos tornam os insectos uma alternativa vivel criao de gado em

    pases em desenvolvimento (Omotoso 2006). A criao para consumo prprio e venda

    torna-se relativamente simples para uma famlia: as condies ambientais j esto

    presentes no caso de criao de uma insectos autctones e a alimentao pode ser

    feita com restos de alimentos usados pelos humanos, sendo apenas necessrio um

    espao para a criao dos mesmos.

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    Concluso

    Os insectos so dos grupos mais populosos do planeta, podendo ser

    encontrados nas mais distintas localidades com variadas condies ambientais.

    A entomofagia praticada desde os primrdios da Humanidade, tendo sido

    abandonada em algumas regies do mundo, quer por questes sociais quer por

    substituio da fonte de protena por outros tipos de animais. No entanto os insectos

    so altamente nutritivos. Estes apresentam um alto ndice de protena, apresentando

    valores entre 20 a 70%, chegando a ultrapassar o de outras fontes mais comuns como

    carne, ovos e leite. Nestes podem encontrar-se tambm aminocidos essenciais,

    constituintes necessrios para o organismo que este mesmo no consegue sintetizar.

    Em matria de gordura, os insectos chegam a apresentar valores variveis entre os 2 e

    55%, sendo geralmente ricos em gordura insaturada, tornando-os nutricionalmente

    parecidos com os peixes e aves. Esta gordura insaturada maioritariamente

    polinsaturada, estando includos nela vrios cidos gordos essenciais como o

    c.linoleico e linolnico. Os hidratos de carbono so muito menores

    comparativamente aos teores de protena e gordura, sendo no entanto ricos em

    quitina, cuja quantidade pode variar entre 5 a 15%. Os insectos apresentam uma

    grande variedade de sais minerais e vitaminas em quantidades suficientes para um

    bom crescimento e saudvel funcionamento do organismo. O valor calrico pode

    variar entre 293 Kcal/100g e 776,9 Kcal/100g de insecto, tendo em mdia valores

    superiores a muitos alimentos, especialmente gros, sendo no entanto menos

    calricos que a carne de porco.

    A constituio nutricional dos insectos traz vrios benefcios para a sade,

    especialmente a nvel de problemas cardiovasculares e colesterol. Numa dieta

    desproporcionada pode levar a outros problemas como obesidade e formao de

    pedras nos rins. A constituio nutricional dos insectos permite tambm

    complementar a deficincia de alguns nutrientes nas dietas que algumas pessoas em

    pases em desenvolvimento apresentam.

    necessrio ter em conta vrios aspectos a nvel de segurana alimentar. Os

    insectos apresentam perigos fsicos, como patas e outros apndices corporais que

    podem causar ferimentos no tracto digestivo. Os insectos tambm podem apresentar

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    toxinas que podem estar presentes por produo feita pelo prprio insecto ou pelo

    sequestro de fitoqumicos e poluentes presentes nas plantas constituintes da sua dieta.

    O risco de alergneos est tambm presente, causado por alguns constituintes do

    corpo do insecto ou toxinas que este produz.

    A criao de insectos uma actividade rentvel a nvel econmico e ambiental.

    Os insectos produzem menos gases de estufa comparativamente a animais usados

    normalmente em pecuria. A converso de alimento ingerido para protena muito

    maior, o que significa que os insectos requerem menos alimento para crescerem. As

    necessidades de gua dos insectos so tambm menores que nos outros animais. Os

    insectos tm uma alimentao muito mais verstil, podendo ser alimentados com

    restos e outros produtos no normalmente usados (ex: bamb, serradura), o que

    alivia a necessidade do cultivo de gros para agricultura e causa menos desperdcio. Osinsectos apresentam tambm uma taxa de reproduo superior de outros animais, o

    que nos permite obter mais produo de uma maneira mais rpida. Sendo os insectos

    pequenos, h tambm um maior rendimento a nvel de espao, podendo criar mais

    insectos com a mesma quantidade de alimento e gua, comparativamente a outras

    espcies. Isto pode ser uma vantagem em alguns pases em desenvolvimento, onde

    escasseiam meios para o cultivo de outros animais.

    Apesar de tudo isto necessrio a realizao de mais estudos, visto que para

    alm do contedo e benefcios nutricionais, os insectos aparentam possuir qualidades

    teraputicas. No entanto, pelo que se sabe, pode afirmar-se que os insectos so uma

    alternativa vivel a nvel no consumo de protena e podem incluir-se perfeitamente

    como constituintes de uma alimentao saudvel e variada. O seu perfil nutricional e

    baixo custo torna-os tambm uma espcie de alimento essencial para complementar

    dietas deficientes de muitos pases em desenvolvimento, permitindo a estas pessoas

    ter uma alimentao saudvel de maneira acessvel. O consumo e criao de insectos

    assegura assim sustentabilidade quer a nvel alimentar, quer a nvel ecolgico.

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