enfoque normativo e Ético da conciliaÇÃo

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RECUPERAÇÃO JUDICIAL Anteprojeto de Alteração da Lei nº 11.101/2005 Projeto de Lei nº 10.220/2018 Paulo Dias de Moura Ribeiro Ministro do Superior Tribunal de Justiça

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Page 1: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

RECUPERAÇÃO

JUDICIALAnteprojeto de Alteração da Lei nº

11.101/2005 – Projeto de Lei nº 10.220/2018

Paulo Dias de Moura RibeiroMinistro do Superior Tribunal de Justiça

Page 2: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

1.- APRESENTAÇÃO

Sem a mais mínima intenção de inovar, indispensável

ter em linha de consideração que a recuperação judicial

passa pela simplicidade do reconhecimento de que nela

o inadimplemento absoluto é mais visto como uma

simples mora da empresa, já que o pagamento atrasado

da devedora ainda é útil não só para os credores, mas

também, e muito mais, para a sociedade.

Por isso, não está só em jogo o interesse do devedor

em solver a obrigação pelo pagamento tempestivo

(“solutio”), mas também o interesse do credor em

receber a prestação convencionada (“satisfactio”), razão

pela qual se admite que a vontade do devedor em pagar

e a do credor em receber caracteriza negócio jurídico

por excelência.

Page 3: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Na hipótese da recuperação judicial não se cogita de

mora “creditoris”, mas só de mora “debitoris” e que, por

isso mesmo, permite emenda, prorrogação

extemporânea, pela sua presumida utilidade.

E nesta toada não se pode esquecer que a par de ser

garantido no Brasil o direito de propriedade, ele, assim

como o contrato, de onde surgem as obrigações, deverá

atender a sua função social (art. 5º, incisos XXII e XXIII,

da CF).

O jurista italiano ENRICO CIMBALI, ainda no século

XIX, já se preocupava com a função social do contrato,

cujos ensinamentos repercutiram nas obras dos juristas

brasileiros, BEVILÁQUA e VICENTE RAO. Veja-se:

Page 4: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

[...] Enrico Cimbali [...] teve, entre nós, repercussões emBeviláqua e Vicente Rao, possibilitando uma certa renovaçãono Direito Civil. Em que pese o seu arriscado ecletismo Cimbaliteve o mérito de não apenas perceber, nos anos noventa doséc. XIX, o que viria a ser chamado de “movimento dadescodificação” quanto, examinando as obrigações contratuaissob a luz do “princípio di socialità” (op.cit., p.p. 315, 333 e ss.)conclui que a relação entre indivíduo e Estado pode ser vistasob três formas: “l’affermazione assoluta dello Stato, l’aaffermazione assoluta dell’individuo, l’affermazione relativadell’uno e dell’altro, quali elemento armonici di coesistenza incui s’integra il vero concetto de l’umanitá progredita. Ed inperfetta corrispondenza com questa tríplice forma di relazione,si è modificato gradativamente in concetto ed il valore giuridicodell’obbligazione”.

(MARTINS-COSTA, Judith. Reflexões sobre o princípio da função social dos

contratos. Revista Brasileira de Direito Comparado, pág. 84,

http://www.idclb.com.br/revistas/29/revista29%20(10).pdf, acessado em

2/8/2017).

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No Brasil, a função social do contrato destacada no art. 421 do

Código Civil se projeta na função social da empresa, na esteira

dos arts. 116 e 154 da Lei das Sociedades Anônimas, que se

amolda, em última análise, à função social dos bens (Lei

6.404/76).

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e noslimites da função social do contrato.

Art. 116. [...]

Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fimde fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua funçãosocial, e tem deveres e responsabilidades para com os demaisacionistas da empresa, os que nela trabalham e para com acomunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmenterespeitar e atender.

Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e oestatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse dacompanhia, satisfeitas as exigências do bem público e da funçãosocial da empresa.

Page 6: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

2.- CONCEITO SUBJETIVO DE

DIREITO COMERCIAL

A história ensina que as primeiras normas a respeito do

Direito Comercial se preocupavam com o conceito de

comerciante e que eles se uniram em torno de aspectos

financeiros que os interessava, em especial, os juros.

Foi por isso que surgiram em Veneza, Gênova e

Florença as primeiras corporações de mercadores que

elegiam juízes, árbitros, para solucionar disputas entre

eles.

Daí a razão pela qual o nosso Código Comercial de

1850 (CCom), em várias passagens, determinava a

arbitragem como forma de solução de conflitos entre

comerciantes. Veja-se:

Page 7: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

a) solução de controvérsias através de árbitros para as

indenizações extraordinárias a que feitores, guarda-livros e

caixeiros pudessem vir a fazer jus (art. 80);

b) durante o período de trabalho dos prepostos de feitores,

guarda-livros e caixeiros não poderia haver desligamento

imotivado, sob pena de pagarem a indenização que os

árbitros fixassem (art. 82);

c) os trapicheiros e administradores de armazéns que

fossem obrigados a pagar por prejuízos, pagariam a

indenização que fosse avaliada por árbitros (art. 95);

d) semelhante avaliação indenizatória por árbitros também

estava prevista no art. 194, do CCom / art. 485 do NCC

(preço incerto deixado a estimação a terceiros, seria

determinado por arbitradores); no art. 201, do CCom / art.

484 do NCC (venda por amostras), hipótese em que

havendo dúvida sobre a qualidade e preço, o desate seria

feito por arbitradores;

Page 8: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

e) também haveria solução indenizável por estimação de

arbitradores nos casos do art. 215, do CCom / art. 447 do

NCC (prejuízo decorrente da evicção), art. 217, do CCom

(vícios e diferenças nas qualidades das mercadorias) / arts.

441 e 443 do NCC (vícios redibitórios); arts. 776/777, do

CCom nas avarias das cargas / art. 707 e §§ do NCPC

(regulação da avaria grossa).

É certo que o Código Reale, que quase revogou o antigo

Código Comercial em sua totalidade, adotou o termo “Direito

Empresarial” em substituição ao Direito Comercial, dada a

sua amplitude.

Tanto assim que, nos termos do CC/02 (arts. 966 a 982),

empresário passou a ser a pessoa física ou jurídica que

exerce profissionalmente, ou seja, com habitualidade e fim

lucrativo, atividade econômica organizada para a produção ou

circulação de bens ou de serviços no mercado, como pontua

SÉRGIO CAMPINHO (Falência e Recuperação Judicial. Ed. Saraiva,

8ª edição, 2017, págs. 37/38).

Page 9: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

3.- INSOLVABILIDADE

Citando vários autores, MODESTO CARVALHOSA ao

tratar do Direito Empresarial e da insolvabilidade, destaca

que ela pode ser vista sob dois prismas: o do déficit

patrimonial ou o da falta de liquidez. Na primeira hipótese

(patrimônio menor que as dívidas ou o passivo maior que o

ativo) a impossibilidade é definitiva, o mesmo não se dando

com a segunda, que poderá ser superada por créditos ou

operações do devedor no mercado financeiro (Tratado de

Direito Empresarial. Ed. RT, vol. II, pág. 34).

HUMBERTO THEODORO JÚNIOR destaca que a lei

brasileira de falência adotou o critério da impontualidade,

em contraposição ao instituto da insolvência civil, que exige

prova do efetivo estado patrimonial deficitário (passivo

maior que o ativo):

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A falência funda-se num sistema misto, em que a presunção deinsolvência decorre ou da impontualidade ou de fatos presuntivosexpressamente enunciados pela lei, além da autofalência, que sebaseia na confissão do próprio devedor, mas que, em última análise,leva em conta também a falta de pagamento, qualificada pela“impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial” (Lei nº11.101/2005, art. 105, ‘caput’).

O critério fundamental da insolvência mercantil é, pois, o daimpontualidade, que assenta a ruína econômica do devedor,autorizadora do concurso universal de credores, sobre o fato de nãopagar no vencimento obrigação líquida, constante de título que legitimeação executiva (art. 1º).

Pode o devedor impugnar o pedido de falência, quer depositando ovalor da dívida para discutir o direito do credor, quer simplesmenteprovando ter “relevante razão de direito” para não efetuar o resgate.Não pode, porém, simplesmente se defender para provar que seupassivo é menor do que o ativo.

Já o devedor civil tem o seu concurso de credores subordinado aocritério do efetivo estado patrimonial deficitário, de sorte que éinsuficiente, para autorizar a execução concursal, a simplesimpontualidade (A Insolvência Civil. Ed. Forense, 2009, 6ª edição, págs.

49/50).

Page 11: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

4.- RECUPERAÇÃO, SANEAMENTO OU

REESTRUTURAÇÃO DA EMPRESA EM CRISE

ECONÔMICO-FINANCEIRA

Na Lei 11.101/2005, a recuperação judicial é norteada

pelo princípio da preservação a empresa que tem

condições de se soerguer, aplaudindo, assim, a função

social da propriedade e do contrato.

A mesma ideia está assentada na União Europeia,

diante dos termos da Recomendação de 12/3/2014 que,

para tanto, emoldura três objetivos básicos, conforme as

anotações de STEPHANIE SUNG A. HONG e MIGUEL

AUGUSTIN KRELING (Particularidades em Procedimentos de

Recuperação de Empresa no Direito Comparado. Revista de Direito

Empresarial: ReDE, v. 4, n. 16, jul. 2016, págs. 75/127).

Page 12: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

São eles, no dizer dos autores: o primeiro é assegurar

que empresas economicamente viáveis, mas com

dificuldades financeiras, possam se reestruturar para

evitar a falência; o segundo, que decorre do primeiro, é

garantir que empresários honestos resolvam suas

dificuldades o mais cedo possível, evitando a falência,

para a continuação da empresa; e o terceiro, mitigar os

efeitos danosos da falência e afastar os seus estigmas

sobre os empresários que querem honestamente a

recuperação de suas empresas.

Page 13: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

No Brasil, o Projeto de Alteração da Lei nº 11.101/2005, em

seu art. 2º-A, enumerou cinco objetivos:

Art. 2º-A. A recuperação judicial, a falência e a recuperaçãoextrajudicial têm os seguintes objetivos:

I - preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos edos recursos produtivos da empresa, incluídos aqueles consideradosintangíveis;

II - viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeirade devedor viável, a fim de permitir a preservação da fonteprodutora, do emprego dos trabalhadores e dos direitos doscredores;

III - fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilizaçãodo retorno célere do empreendedor falido à atividade econômica;

IV - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis com vistas àrealocação eficiente de recursos na economia; e

V - preservar e estimular o mercado de crédito atual e futuro.

Page 14: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Na exposição de motivos do Anteprojeto de Alteração da Lei nº

11.101/2005, o grupo de trabalho responsável por sua elaboração

fixou cinco princípios norteadores para a proposta de alteração:

i) preservação da empresa: em razão de sua função social, a atividade

economicamente viável deve ser preservada sempre que possível,

pois gera riqueza, cria emprego e renda e contribui para o

desenvolvimento econômico. Este princípio, entretanto, não deve ser

confundido com a preservação - a qualquer custo - do patrimônio do

empresário ou da empresa ineficiente;

ii) fomento ao crédito: o sistema legal dos países da América Latina –

Brasil inclusive – apresenta um histórico de pouca proteção ao credor,

o que gera uma baixa expectativa de recuperação de crédito,

impactando negativamente esse mercado por meio da elevação do

custo de capital. A correlação entre a melhoria do direito dos credores

e o aumento do crédito é demonstrada na literatura empírica sobre o

tema. Uma consequência prática desse princípio é que o credor não

deve ficar, na recuperação judicial, em situação pior do que estaria no

regime de falência. Garantir ex-ante boas condições de oferta de

crédito amplia a oferta de financiamentos e reduz seu custo;

Page 15: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

iii) incentivo à aplicação produtiva dos recursos econômicos, ao

empreendedorismo e ao rápido recomeço (fresh start): célere

liquidação dos ativos da empresa ineficiente, permitindo a aplicação

mais produtiva dos recursos, aposta na reabilitação de empresas

viáveis, remoção de barreiras legais para que empresários falidos -

que não tenham cometido crimes - possam retornar ao mercado após

o encerramento da falência;

iv) instituição de mecanismos legais que evitem um indesejável

comportamento estratégico dos participantes da recuperação

judicial/extrajudicial/falência que redundem em prejuízo social, tais

como: proposição pelos devedores de plano de recuperação judicial

deslocados da realidade da empresa (em detrimento dos credores),

prolongamento da recuperação judicial apenas com fins de postergar

pagamento de tributos ou dilapidar patrimônio da empresa etc.

v) melhoria do arcabouço institucional, incluindo a supressão de

procedimentos desnecessários, o uso intensivo dos meios

eletrônicos de comunicação, a maior profissionalização do

administrador judicial e a especialização dos juízes de direito

encarregados dos processos.

Page 16: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

O art. 47 da Lei nº 11.101/2005 dispõe que:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação dasituação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir amanutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dosinteresses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, suafunção social e o estímulo à atividade econômica.

A doutrina extrai da citada norma os seguintes princípios norteadores

da recuperação judicial: (1) princípio da preservação da empresa; (2)

princípio da separação dos conceitos de empresa e empresário; (3)

princípio da recuperação das sociedades empresárias recuperáveis;

(4) princípio da proteção aos trabalhadores; (5) princípio da

participação ativa dos credores; e, (6) princípio do rigor na punição de

crimes relacionados à falência e à recuperação judicial (SILVA,

Reinaldo Limiro da. A Recuperação Judicial Comentada Artigo por

Artigo. Belo Horizonte: Ed. Del Rey. 2015, págs. 332/333).

Page 17: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Disso não discrepa o art. 32 do o Projeto de Lei do Senado

nº 487/2013, que propõe a reforma do Código Comercial,

que mais ou menos na mesma trilha destaca os seguintes

princípios aplicáveis à falência e à recuperação das

empresas, a saber:

Art. 32. São princípios aplicáveis à falência e recuperação dasempresas:

I – inerência do risco a qualquer atividade empresarial;

II – impacto social da crise da empresa;

III – transparência nas medidas de prevenção e solução da crise; e

IV – cooperação judiciária internacional;

Conforme a reiterada jurisprudência do STJ, a recuperação

judicial é norteada pelos princípios da preservação da

empresa, da função social do contrato e do estímulo à

atividade econômica. Veja-se:

Page 18: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

RECURSO ESPECIAL. RELAÇÃO DE CONSUMO.CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ATOS DE CONSTRIÇÃO.FORNECEDOR EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL.COMPETÊNCIA. JUÍZO DA RECUPERAÇÃO. PROTEÇÃO DOCONSUMIDOR E PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. PRINCÍPIOSNÃO ABSOLUTOS. PONDERAÇÃO. MANUTENÇÃO DAEMPRESA. TUTELA DE INTERESSES MÚLTIPLOS.PREVALÊNCIA. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICO-TELEOLÓGICA DA LEI Nº 11.101/2005.

1. A controvérsia dos autos consiste em definir a competênciapara realizar atos de constrição destinados ao cumprimento desentença proferida por magistrado do juizado especial cível, emfavor de consumidor, quando o fornecedor já obteve odeferimento da recuperação na vara empresarial.

2. O compromisso do Estado de promover o equilíbrio dasrelações consumeristas não é uma garantia absoluta, estando asua realização sujeita à ponderação, na hipótese, quanto aosmúltiplos interesses protegidos pelo princípio da preservação daempresa.

Page 19: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

3. A Segunda Seção já realizou a interpretaçãosistemático-teleológica da Lei nº 11.101/2005, admitindo aprevalência do princípio da preservação da empresa emdetrimento de interesses exclusivos de determinadas classes decredores, tendo atestado que, após o deferimento da recuperaçãojudicial, prevalece a competência do Juízo desta para decidirsobre todas as medidas de constrição e de venda de bensintegrantes do patrimônio da recuperanda. Precedentes.

4. Viola o juízo atrativo da recuperação a ordem de penhora ‘online’ decretada pelo julgador titular do juizado especial, pois ainserção da proteção do consumidor como direito fundamentalnão é capaz de blindá-lo dos efeitos do processo dereestruturação financeira do fornecedor. Precedente.

5. Recurso especial provido para reconhecer a competência dojuízo da 7ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Rio deJaneiro.

(REsp 1.598.130/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS

CUEVA, Terceira Turma, j. 7/3/2017, DJe 14/3/2017)

Page 20: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DECOMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL E RECUPERAÇÃOJUDICIAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL.

1. O juízo onde se processa a recuperação judicial é ocompetente para julgar as causas em que estejamenvolvidos interesses e bens da empresa recuperanda.

2. O deferimento da recuperação judicial não suspende aexecução fiscal, mas os atos de constrição ou de alienaçãodevem-se submeter ao juízo universal.

3. A Lei n. 11.101/2005 visa à preservação da empresa, àfunção social e ao estímulo à atividade econômica, a teorde seu art. 47.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no CC 129.079/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS

FERREIRA, Segunda Seção, j. 11/3/2015, DJe 19/3/2015)

Page 21: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

DIREITO EMPRESARIAL, TRIBUTÁRIO E ADMINISTRATIVO. RECURSOESPECIAL. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DECONSTRUÇÃO E MONTAGEM DE INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS DEPRODUÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL COM A PETROBRAS.PAGAMENTO DO SERVIÇO PRESTADO. EXIGÊNCIA DEAPRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO DA EMPRESAPRESTADORA DOS SERVIÇOS. IMPOSSIBILIDADE. SOCIEDADE EMRECUPERAÇÃO JUDICIAL. ARTS. 52 E 57 DA LEI N. 11.101/2005 (LF) EART. 191-A DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL (CTN). INOPERÂNCIADOS MENCIONADOS DISPOSITIVOS. INEXISTÊNCIA DE LEIESPECÍFICA A DISCIPLINAR O PARCELAMENTO DA DÍVIDA FISCAL EPREVIDENCIÁRIA DE EMPRESAS EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL.PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL.

1. O art. 47 serve como um norte a guiar a operacionalidade da recuperaçãojudicial, sempre com vistas ao desígnio do instituto, que é "viabilizar asuperação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim depermitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores edos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação daempresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica".

Page 22: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

2. Segundo entendimento exarado pela Corte Especial, em umaexegese teleológica da nova Lei de Falências, visando conferiroperacionalidade à recuperação judicial, é desnecessáriocomprovação de regularidade tributária, nos termos do art. 57 daLei n. 11.101/2005 e do art. 191-A do CTN, diante da inexistênciade lei específica a disciplinar o parcelamento da dívida fiscal eprevidenciária de empresas em recuperação judicial (REsp1187404/MT, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTEESPECIAL, julgado em 19/06/2013, DJe 21/08/2013).

3. Dessarte, o STJ, para o momento de deferimento darecuperação, dispensou a comprovação de regularidade tributáriaem virtude da ausência de legislação específica a reger oparcelamento da dívida fiscal e previdenciária de empresas emrecuperação judicial. Nessa linha de intelecção, por óbvio, pareceser inexigível, pelo menos por enquanto, qualquer demonstração deregularidade fiscal para as empresas em recuperação judicial, sejapara continuar no exercício de sua atividade (já dispensado pelanorma), seja para contratar ou continuar executando contrato com oPoder Público.

Page 23: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

4. Na hipótese, é de se ressaltar que os serviços contratados jáforam efetivamente prestados pela ora recorrida e, portanto, ahipótese não trata de dispensa de licitação para contratar com oPoder Público ou para dar continuidade ao contrato existente,mas sim de pedido de recebimento dos valores pelos serviçosefetiva e reconhecidamente prestados, não havendo falar emnegativa de vigência aos artigos 52 e 57 da Lei n. 11.101/2005.

5. Malgrado o descumprimento da cláusula de regularidadefiscal possa até ensejar, eventualmente e se for o caso, arescisão do contrato, não poderá haver a retenção depagamento dos valores devidos em razão de serviços jáprestados. Isso porque nem o art. 87 da Lei n. 8.666/1993 nemo item 7.3. do Decreto n. 2.745/1998, preveem a retenção dopagamento pelo serviços prestados como sanção pelo alegadodefeito comportamental. Precedentes.

6. Recurso especial a que se nega provimento.

(REsp 1.173.735/RN, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,

Quarta Turma, j. 22/4/2014, DJe 9/5/2014)

Page 24: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Destaque-se, em reiteração, que a mora da recuperanda

não gera inadimplemento absoluto e impõe

transformações na relação jurídica obrigacional original,

alterando-a pela novação.

O art. 59 da Lei 11.101/2005, mesmo contra a vontade

dos credores, assenta que a concessão da recuperação

implica novação, de modo que os efeitos tradicionais da

mora não têm aplicação porque a ideia de utilidade no

recebimento, só a critério do credor, cede.

Art. 59. O plano de recuperação judicial implicanovação dos créditos anteriores ao pedido, eobriga o devedor e todos os credores a elesujeitos, sem prejuízo das garantias, observado odisposto no § 1o do art. 50 desta Lei.

Page 25: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

A inovação legislativa é muito salutar e permite soluções

judiciais que a antiga lei de falências (Decreto nº

7.661/45), a respeito da concordata, era expressa em

não admitir que o instituto pudesse implicar novação.

Veja-se:

Art. 148. A concordata não produz novação, nãodesonera os coobrigados com o devedor, nem osfiadores deste e os responsáveis por via deregresso.

Page 26: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Tanto isso é certo que o prazo legal de 180 dias para o

cumprimento das obrigações estabelecidas no plano de

recuperação há de ser flexível porque o simples decurso do

seu prazo, tratado no art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005,

não enseja a retomada automática das execuções

individuais. Confiram-se precedentes do Superior Tribunal

de Justiça nesse sentido:

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃOJUDICIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. BEM MÓVEL.ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. ATIVIDADE EMPRESARIAL.ESSENCIALIDADE DO BEM. AFERIÇÃO. COMPETÊNCIA DOJUÍZO UNIVERSAL.

1. Ainda que se trate de créditos garantidos por alienaçãofiduciária, compete ao juízo da recuperação judicial decidir acerca daessencialidade de determinado bem para fins de aplicação daressalva prevista no art. 49, § 3º, da Lei nº 11.101/2005, na parte quenão admite a venda ou a retirada do estabelecimento do devedordos bens de capital essenciais ao desenvolvimento da atividadeempresarial.

Page 27: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

2. Impossibilidade de prosseguimento da ação de buscae apreensão sem que o juízo quanto à essencialidadedo bem seja previamente exercitado pela autoridadejudicial competente, ainda que ultrapassado o prazo de180 (cento e oitenta dias) a que se refere o art. 6º, § 4º, daLei n. 11.101/2005.

3. Conflito de competência conhecido para declarar acompetência do Juízo de Direito da 1ª Vara dos Feitos deRelação de Consumo Cíveis e Comerciais da Comarca deBarreiras/BA.

(CC 121.207/BA, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS

CUEVA, Segunda Seção, j. 8/3/2017, DJe 13/3/2017)

Page 28: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA.FALÊNCIA. TERMO LEGAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. BEMIMÓVEL PRACEADO PELO JUÍZO TRABALHISTA. DECRETAÇÃODA FALÊNCIA. PRODUTO ARRECADADO PELO JUÍZOTRABALHISTA SEM REMESSA AO JUÍZO FALIMENTAR.NECESSIDADE. CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DOJUÍZO FALIMENTAR.

1. Trata-se de conflito de competência suscitado por empresasubmetida ao processo de falência, que teve seu bem imóvelpraceado pelo Juízo Trabalhista.

2. A jurisprudência do STJ tem entendimento firmado no sentidode que os atos de execução dos créditos individuais promovidoscontra empresas em falência ou em recuperação judicial, sob aégide do Decreto-lei nº 7.661/45 ou da Lei nº 11.101/05, devem serrealizados pelo Juízo Universal, ainda que ultrapassado o prazo de180 dias de suspensão previsto no art. 6º, § 4º, da Lei nº 11.101/05.Precedentes.

Page 29: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

3. O valor arrecadado com o praceamento do bem da falida noJuízo Trabalhista deve ser remetido ao Juízo falimentar, aquem compete a administração dos bens daquela, bem como opagamento dos débitos por ela contraídos e apurados no âmbitodo processo de falência.

4. Conflito de competência conhecido para declarar acompetência do Juízo Falimentar.

(CC 146.657/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, Segunda

Seção, j. 26/10/2016, DJe 7/12/2016)

Page 30: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITOPOSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZOS DE DIREITO.RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AÇÃO DE BUSCA EAPREENSÃO. ART. 49, § 3º, DA LEI N. 11.101/2005. BENSESSENCIAIS ÀS ATIVIDADES ECONÔMICO-PRODUTIVAS.PERMANÊNCIA COM A EMPRESA RECUPERANDA. ART.6º, § 4º, DA LEI N. 11.101/2005. RETOMADA DASEXECUÇÕES INDIVIDUAIS. AUSÊNCIA DERAZOABILIDADE. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DARECUPERAÇÃO JUDICIAL.

1. Com a edição da Lei n. 11.101, de 2005, respeitadas asespecificidades da falência e da recuperação judicial, écompetente o respectivo Juízo para prosseguimento dos atosde execução, tais como alienação de ativos e pagamento decredores, que envolvam créditos apurados em outros órgãosjudiciais, ainda que tenha ocorrido a constrição de bens dodevedor.

Page 31: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

2. Aplica-se a ressalva final contida no § 3º do art. 49 da Lein. 11.101/2005 para efeito de permanência, com a empresarecuperanda, dos bens objeto da ação de busca e apreensão,quando se destinarem ao regular desenvolvimento dasessenciais atividades econômico-produtivas.

3. No normal estágio da recuperação judicial, não é razoávela retomada das execuções individuais após o simplesdecurso do prazo legal de 180 dias de que trata o art.6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no CC 127.629/MT, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE

NORONHA, Segunda Seção, j. 23/4/2014, DJe 25/4/2014)

Page 32: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Na Proposta de Alteração da Lei nº 11.101/2005 (Projeto de

Lei nº 10.220/2018), visando fortalecer a posição

jurisprudencial e ao mesmo tempo conferir maior

uniformidade e previsibilidade às decisões judiciais, foi

afastada a limitação rígida de 180 dias para o stay period,

passando a se prever que a suspensão perdurará até o

encerramento da recuperação judicial:

Art. 6º A decretação da falência ou o ajuizamento do pedido derecuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todasas ações e execuções contra o devedor, além de qualquerforma de retenção, arresto, penhora ou constrição judicial ouextrajudicial contra o devedor, incluídas aquelas dos credoresparticulares do sócio solidário.

[...]

§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput

perdurará até a data de seu encerramento, nos termos do art.58 desta lei. (art. 58 – aprovação do plano de recuperação)

Page 33: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Entretanto, o Projeto de Lei do Senado nº 487/2013, que

propõe a reforma do Código Comercial, dispõe de forma

diversa da consagrada jurisprudência do STJ, ao

estabelecer em seu art. 1.095 a alteração do 6º, § 4º, da

Lei nº 11.101/2005:

Art. 6º [...]

§ 4º. Na recuperação judicial, a suspensão de que trata ocaput deste artigo será concedida pelo prazo de cento eoitenta dias contado do deferimento do processamento darecuperação, restabelecendo-se, após o decurso doprazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suasações e execuções, independentemente depronunciamento judicial.

Page 34: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

A preocupação com o soerguimento da empresa em

dificuldades financeiras também ronda o legislador italiano que

prevê três modalidades da sua reestruturação: “concordato

preventivo”, o acordo preventivo; “accordo di ristruturazione dei

debit”, o acordo de reestruturação dos débitos; e,

“amministrazione straordinaria”, a administração extraordinária,

como lembram STEPHANIE SUNG A. HONG e MIGUEL

AUGUSTIN KRELING (Op.cit., pág. 105).

Na primeira (“concordato preventivo”), a empresa permanece

sob a administração de seus titulares sob a vigilância de um

comissário judicial; na segunda (“accordo di ristruturazione dei

debit”), o devedor postula a homologação judicial do acordo

extrajudicial que celebrou com seus credores, desde que 60%

deles tenham formado consenso a respeito; e, a terceira

(“amministrazione straordinaria”), oferece um tratamento

diferenciado para as grandes empresas (mais de 200

trabalhadores e dívidas de 2/3 da última receita anual), hipótese

em que se analisa, primeiro, a possibilidade da recuperação.

Page 35: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Como se vê, mais detalhada é a legislação italiana para

admitir e privilegiar a reestruturação da empresa em

dificuldade financeira.

Entretanto, assim como a legislação brasileira, menos

detalhista, ambas buscam, inescondivelmente, admitir

que a mora da empresa em dificuldades financeiras não

implicará seu inadimplemento absoluto e o consequente

encerramento das suas atividades.

Daí a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que

se exporá a seguir, sempre firme no objetivo de

preservar a empresa em dificuldade financeira porque a

sua sobrevivência condiz com a função social do

contrato, pois só ele permite a circulação lícita da

riqueza, que se espelha e se funda na harmonia social.

Veja-se:

Page 36: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

RECURSO ESPECIAL. AUTOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTODIRIGIDO CONTRA A DECISÃO QUE CONVOLOU A RECUPERAÇÃOJUDICIAL EM FALÊNCIA. OBRIGATÓRIA CONVOCAÇÃO DE NOVAASSEMBLEIA DE CREDORES QUANDO ANULADA AQUELA QUEAPROVARA O PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.INEXISTENTE QUALQUER UMA DAS CAUSAS TAXATIVAS DECONVOLAÇÃO.

1. No processo recuperacional, são soberanas as decisões daassembleia geral de credores sobre o conteúdo do plano dereestruturação e sobre as objeções/oposições suscitadas, cabendo aomagistrado apenas o controle de legalidade do ato jurídico, o quedecorre, principalmente, do interesse público consubstanciado noprincípio da preservação da empresa e consectária manutenção dasfontes de produção e de trabalho.

2. Nessa perspectiva, sobressai a obrigatoriedade da convocação denova assembleia quando decretada a nulidade daquela que aprovara oplano de recuperação e que, consequentemente, implicara a preclusãológica das objeções suscitadas por alguns credores.

Page 37: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

3. No caso concreto, o magistrado, após considerar nula aassembleia geral de credores que aprovara o plano dereestruturação, não procedeu à nova convocação e, de ofício,convolou a recuperação em falência, sem o amparo nashipóteses taxativas insertas nos incisos I a IV do artigo 73 da Lei11.101/2005, quais sejam: (i) deliberação da assembleia geralde credores sobre a inviabilidade do soerguimento dasociedade empresária; (ii) inércia do devedor em apresentar oplano de reestruturação no prazo de 60 (sessenta) dias contadoda decisão deferitória do processamento da recuperaçãojudicial; (iii) rejeição do plano de recuperação pela assembleiageral de credores, ressalvada a hipótese do cram down (artigo58, §§ 1º e 2º, da Lei 11.101/2005); e (iv) descumprimento semjusta causa de qualquer obrigação assumida pelo devedor noplano, durante o período de dois anos após a concessão darecuperação judicial.

Page 38: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

5. Em vez da convolação da recuperação em falência, cabiaao magistrado submeter, novamente, o plano e o conteúdo dasobjeções suscitadas por alguns credores à deliberaçãoassemblear, o que poderia ensejar a rejeição do plano ou aponderação sobre a inviabilidade do soerguimento da atividadeempresarial, hipóteses estas autorizadoras da quebra. Ademais,caso constatada a existência de matérias de alta indagação eque reclamem dilação probatória, incumbir-lhe-ia remeter osinteressados às vias ordinárias, já que o plano de recuperação foraaprovado sem qualquer impugnação.

6. Recurso especial provido a fim de cassar a decisão deconvolação da recuperação judicial em falência e determinar que omagistrado de primeiro grau providencie a convocação de novaassembleia geral de credores, dando-se prosseguimento ao feito,nos termos da Lei 11.101/2005.

(REsp 1.587.559/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,

Quarta Turma, j. 6/4/2017, DJe 22/5/2017)

Page 39: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Na Proposta de Substitutivo ao Projeto de Lei nº

10.220/2018 o art. 22 prevê a possibilidade de mediação

dos conflitos:

Art. 22 [...]I [...]j) promover, sempre que possível, a mediação de conflitosrelacionados à recuperação judicial e à falência, respeitados osdireitos de terceiros;

O art. 58-A trata da possibilidade do juiz convolar a

recuperação judicial em falência:

Art. 58-A. Rejeitado o plano de recuperação pelos credores e nãopreenchidos os requisitos estabelecidos no art. 58, § 1º, o juizconvolará a recuperação judicial em falência.Parágrafo único. Da sentença caberá apelação, sem efeitosuspensivo.

Page 40: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. NEGATIVA DEPRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. COMPRA E VENDACOM RESERVA DE DOMÍNIO. NÃO SUJEIÇÃO AOS EFEITOS DARECUPERAÇÃO JUDICIAL DA COMPRADORA. DESNECESSIDADEDE REGISTRO.

[...]

4. Segundo o art. 49, § 3º, da Lei 11.101/05, o crédito titularizado por

proprietário em contrato de venda com reserva de domínio não se

submete aos efeitos da recuperação judicial do comprador,

prevalecendo os direitos de propriedade sobre a coisa e as

condições contratuais.

5. A manutenção da propriedade do bem objeto do contrato com o

vendedor até o implemento da condição pactuada (pagamento

integral do preço) não é afetada pela ausência de registro perante a

serventia extrajudicial.

6. O dispositivo legal precitado exige, para não sujeição dos créditos

detidos pelo proprietário em contrato com reserva de domínio, apenas e

tão somente que ele ostente tal condição (de proprietário), o que

decorre da própria natureza do negócio jurídico.

Page 41: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

7. O registro se impõe como requisito tão somente para fins de

publicidade, ou seja, para que a reserva de domínio seja oponível a

terceiros que possam ser prejudicados diretamente pela ausência de

conhecimento da existência de tal cláusula. É o que pode ocorrer

com aquele que venha a adquirir o bem cujo domínio ficou reservado

a outrem (venda a ‘non domino’); ou, ainda, com aqueles que

pretendam a aplicação, em juízo, de medidas constritivas sobre a

coisa que serve de objeto ao contrato. Todavia, a relação

estabelecida entre o comprador – em recuperação judicial – e seus

credores versa sobre situação distinta, pois nada foi estipulado entre

eles acerca dos bens objeto do contrato em questão.

RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

(REsp 1.725.609/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma,

j. 20/8/2019)

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AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. DIREITOEMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CESSÃO FIDUCIÁRIADE CRÉDITOS. TRAVA BANCÁRIA. LIBERAÇÃO. DESCABIMENTO.JULGADOS DESTA CORTE SUPERIOR.

1. Controvérsia acerca de decisão do juízo de origem que liberou, emfavor das empresas recuperandas, trava bancária oriunda de contratosgarantidos por cessão fiduciária de crédito.

2. "Tratando-se de credor titular da posição de proprietáriofiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, deproprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivoscontratos contenham cláusula de irrevogabilidade ouirretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou deproprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seucrédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial eprevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condiçõescontratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo,contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6ºdesta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dosbens de capital essenciais a sua atividade empresarial" (art. 49, § 3º,da Lei nº 11.101/2005, sem grifos no original).

Page 43: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

3. Possibilidade de o juízo impor restrições temporárias àpropriedade fiduciária de bens de capital, para mantê-los naposse do devedor, em atenção ao princípio da preservação daempresa, conforme previsto no dispositivo legal supracitado.

4. Impossibilidade, contudo, de se impor restrições à propriedadefiduciária de crédito, por não se tratar de bem de capital, segundoentendimento desta Corte Superior.

5. Restabelecimento da trava bancária, na espécie.

6. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

(AgInt no REsp 1.475.258/MS, Rel. Ministro PAULO DE TARSOSANSEVERINO, Terceira Turma, j. 7/3/2017, DJe 20/3/2017)

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RECURSO ESPECIAL. CONTROLE JUDICIAL DE LEGALIDADE DOPLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL APROVADO PELAASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES. POSSIBILIDADE, EM TESE.PREVISÃO DE SUPRESSÃO DAS GARANTIAS FIDEJUSSÓRIAS EREAIS NO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DEVIDAMENTEAPROVADO PELA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES.VINCULAÇÃO, POR CONSEGUINTE, DA DEVEDORA E DE TODOSOS CREDORES, INDISTINTAMENTE. RECURSO ESPECIALPROVIDO.

1. Afigura-se absolutamente possível que o Poder Judiciário, semimiscuir-se na análise da viabilidade econômica da empresa em crise,promova controle de legalidade do plano de recuperação judicial que, emsi, em nada contemporiza a soberania da assembleia geral decredores. A atribuição de cada qual não se confunde. À assembleiageral de credores compete analisar, a um só tempo, a viabilidadeeconômica da empresa, assim como da consecução da propostaapresentada. Ao Poder Judiciário, por sua vez, incumbe velar pelavalidade das manifestações expendidas, e, naturalmente, preservar osefeitos legais das normas que se revelarem cogentes.

Page 45: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

2. A extinção das obrigações, decorrente da homologação do plano derecuperação judicial encontra-se condicionada ao efetivo cumprimento deseus termos. Não implementada a aludida condição resolutiva, por expressadisposição legal, "os credores terão reconstituídos seus direitos egarantias nas condições originariamente contratadas" (art. 61, § 2º, da Lein. 11.101/2005).

2.1 Em regra, a despeito da novação operada pela recuperação judicial,preservam-se as garantias, no que alude à possibilidade de seu titularexercer seus direitos contra terceiros garantidores e impor a manutençãodas ações e execuções promovidas contra fiadores, avalistas oucoobrigados em geral, a exceção do sócio com responsabilidadeilimitada e solidária (§ 1º, do art. 49 da Lei n. 11.101/2005). E,especificamente sobre as garantias reais, estas somente poderão sersupridas ou substituídas, por ocasião de sua alienação, medianteexpressa anuência do credor titular de tal garantia, nos termos do § 1º doart. 50 da referida lei.

2.2 Conservadas, em princípio, as condições originariamentecontratadas, no que se insere as garantias ajustadas, a lei de regênciaprevê, expressamente, a possibilidade de o plano de recuperaçãojudicial, sobre elas, dispor de modo diverso (§ 2º, do art. 49 da Lei n.11.101/2009).

Page 46: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

3. Inadequado, pois, restringir a supressão das garantias reais efidejussórias, tal como previsto no plano de recuperação judicialaprovado pela assembleia geral, somente aos credores quetenham votado favoravelmente nesse sentido, conferindotratamento diferenciado aos demais credores da mesmaclasse, em manifesta contrariedade à deliberação majoritária.

3.1 Por ocasião da deliberação do plano de recuperaçãoapresentado, credores, representados por sua respectiva classe,e devedora procedem às tratativas negociais destinadas aadequar os interesses contrapostos, bem avaliando em queextensão de esforços e renúncias estariam dispostos a suportar,no intento de reduzir os prejuízos que se avizinham (sob aperspectiva dos credores), bem como de permitir a reestruturaçãoda empresa em crise (sob o enfoque da devedora). E, de modo apermitir que os credores ostentem adequada representação, sejapara instauração da assembléia geral, seja para a aprovação doplano de recuperação judicial, a lei de regência estabelece, nosarts. 37 e 45, o respectivo quorum mínimo.

Page 47: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

4. Na hipótese dos autos, a supressão das garantias real efidejussórias restou estampada expressamente no plano derecuperação judicial, que contou com a aprovação doscredores devidamente representados pelas respectivas classes(providência, portanto, que converge, numa ponderação devalores, com os interesses destes majoritariamente), o queimporta, reflexamente, na observância do § 1º do art. 50 da Lein. 11.101/2005, e, principalmente, na vinculação de todos oscredores, indistintamente.

5. Recurso especial provido.

(REsp 1.532.943/MT, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,

Terceira Turma, j. 13/9/2016, DJe 10/10/2016)

Page 48: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

RECURSO ESPECIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO. 1. DELIMITAÇÃODA CONTROVÉRSIA. 2. TRATAMENTO DIFERENCIADO. CREDORESDA MESMA CLASSE. POSSIBILIDADE. PARÂMETROS. 3.CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO EM FALÊNCIA. CONVOCAÇÃODE ASSEMBLEIA DE CREDORES. DESNECESSIDADE. 4. PREVISÃODE SUPRESSÃO DAS GARANTIAS REAIS E FIDEJUSSÓRIASDEVIDAMENTE APROVADA PELA ASSEMBLEIA GERAL DECREDORES. VINCULAÇÃO DA DEVEDORA E DE TODOS OSCREDORES, INDISTINTAMENTE. 5. RECURSO ESPECIALPARCIALMENTE PROVIDO.

1. Cinge-se a controvérsia a definir: a) se é possível imprimir tratamentodiferenciado entre credores de uma mesma classe na recuperaçãojudicial; b) se é necessária a convocação da assembleia de credoresantes da convolação da recuperação judicial em falência na hipótese dedescumprimento de obrigação constante do plano de recuperaçãojudicial; c) se a supressão das garantias real e fidejussória estampadaexpressamente no plano de recuperação judicial, aprovada emassembleia geral de credores, vincula todos os credores da respectivaclasse ou apenas aqueles que votaram favoravelmente à supressão. Porunanimidade de votos.

Page 49: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

2. A criação de subclasses entre os credores da recuperação judicialé possível desde que seja estabelecido um critério objetivo,justificado no plano de recuperação judicial, abrangendo credorescom interesses homogêneos, ficando vedada a estipulação dedescontos que impliquem em verdadeira anulação de direitos deeventuais credores isolados ou minoritários.

3. O devedor pode propor, quando antever dificuldades nocumprimento do plano de recuperação, alterações em suascláusulas, as quais serão submetidas ao crivo dos credores. Uma vezdescumpridas as obrigações estipuladas no plano e requerida aconvolação da recuperação em falência, não pode a recuperandasubmeter aos credores decisão que complete exclusivamente aojuízo da recuperação. Por maioria de votos.

4. Na hipótese dos autos, a supressão das garantias real efidejussórias restou estampada expressamente no plano derecuperação judicial, que contou com a aprovação dos credoresdevidamente representados pelas respectivas classes, o que importana vinculação de todos os credores, indistintamente.

Page 50: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

4.1 Em regra (e no silêncio do plano de recuperação judicial), a despeito danovação operada pela recuperação judicial, preservam-se as garantias, noque alude à possibilidade de seu titular exercer seus direitos contra terceirosgarantidores e impor a manutenção das ações e execuções promovidascontra fiadores, avalistas ou coobrigados em geral, a exceção do sócio comresponsabilidade ilimitada e solidária (§ 1º, do art. 49 da Lei n. 11.101/2005).E, especificamente sobre as garantias reais, estas somente poderão sersupridas ou substituídas, por ocasião de sua alienação, mediante expressaanuência do credor titular de tal garantia, nos termos do § 1º do art. 50 dareferida lei.

4.2 Conservadas, em princípio, as condições originariamente contratadas,no que se inserem as garantias ajustadas, a lei de regência prevê,expressamente, a possibilidade de o plano de recuperação judicial, sobreelas, dispor de modo diverso (§ 2º, do art. 49 da Lei n. 11.101/2009).

4.3. Por ocasião da deliberação do plano de recuperação apresentado,credores, representados por sua respectiva classe, e devedora, procedemàs tratativas negociais destinadas a adequar os interesses contrapostos,bem avaliando em que extensão de esforços e renúncias estariam dispostosa suportar, no intento de reduzir os prejuízos que se avizinham (sob aperspectiva dos credores), bem como de permitir a reestruturação daempresa em crise (sob o enfoque da devedora).

Page 51: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

E, de modo a permitir que os credores ostentem adequada representação,seja para instauração da assembléia geral, seja para a aprovação do planode recuperação judicial, a lei de regência estabelece, nos arts. 37 e 45, orespectivo quorum mínimo.

4.4 Inadequado, pois, restringir a supressão das garantias reais efidejussórias, tal como previsto no plano de recuperação judicial aprovadopela assembleia geral, somente aos credores que tenham votadofavoravelmente nesse sentido, conferindo tratamento diferenciado aosdemais credores da mesma classe, em manifesta contrariedade àdeliberação majoritária.

4.5 No particular, a supressão das garantias real e fidejussórias restouestampada expressamente no plano de recuperação judicial, que contoucom a aprovação dos credores devidamente representados pelasrespectivas classes (providência, portanto, que converge, numa ponderaçãode valores, com os interesses destes majoritariamente), o que importa,reflexamente, na observância do § 1º do art. 50 da Lei n. 11.101/2005, e,principalmente, na vinculação de todos os credores, indistintamente.

5. Recurso especial parcialmente provido.

(REsp 1.700.487/MT, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Rel. p/

Acórdão Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Terceira Turma, j. 2/4/2019,

DJe 26/4/2019)

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AGRAVO REGIMENTAL EM CONFLITO DE COMPETÊNCIA.RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ALEGAÇÃO DE QUE NO PLANO DECREDORES HOUVE A INCLUSÃO INDEVIDA DE CRÉDITOFIDUCIÁRIO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO RECUPERACIONAL PARAAPRECIAR E DECIDIR SOBRE A NATUREZA DO CRÉDITO NOPROCESSO DE SOERGUIMENTO. DISCUSSÃO QUE EXTRAPOLAOS LIMITES DESTE INCIDENTE PROCESSUAL. MATÉRIAPENDENTE DE APRECIAÇÃO, EM SEDE DE AGRAVO DEINSTRUMENTO, PERANTE A CORTE ESTADUAL. INCONFORMISMODO SUSCITANTE.

1. Nos termos da disposição normativa contida no art. 49 da Lei nº11.101/2005, apenas os créditos existentes na data do pedido estãosujeitos à recuperação judicial.

2. Compete ao juízo da recuperação decidir se o crédito constituídoanteriormente ao processo de soerguimento possui ou não naturezaconcursal e, também, concluir pela possibilidade de se postergar aexecução da garantia, ante o princípio da preservação da empresa.Precedentes da Segunda Seção.

Page 53: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

3. O conflito, enquanto incidente processual, cinge-se tão-somenteem fixar a competência do juízo da recuperação judicial emdetrimento daquele que tramitou execuções individuais ajuizadasanteriormente ao deferimento do pedido de soerguimento,mormente se, como ocorre no caso, a matéria está sendo debatida,em grau de recurso, pela instância ordinária.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no CC 122.293/RJ, Rel. Ministro MARCO BUZZI, Segunda

Seção, julgado em 11/05/2016, DJe 25/05/2016)

Page 54: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITOEMPRESARIAL E CIVIL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CONTINUIDADEDAS AÇÕES AJUIZADAS CONTRA DEVEDORES SOLIDÁRIOS ECOOBRIGADOS EM GERAL. ACÓRDÃO RECORRIDO A CRISTALIZARA EXISTÊNCIA DE MEROS DEVEDORES SOLIDÁRIOS. SOCIEDADEANÔNIMA EM RECUPERAÇÃO. PARTICULARIDADES DO PLANO DERECUPERAÇÃO NÃO ANALISADAS NA INSTÂNCIA DE ORIGEM.SÚMULA 5 E 7/STJ.

1. Questão já examinada pela Colenda 2ª Seção sob o rito do art. 543-Cdo CPC, tendo sido firmada a seguinte tese: "A recuperação judicial dodevedor principal não impede o prosseguimento das execuções neminduz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceirosdevedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, realou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts.6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, porforça do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei n. 11.101/2005". (REsp1333349/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDASEÇÃO, julgado em 26/11/2014, DJe 02/02/2015) 2. AGRAVOINTERNO DESPROVIDO.

(AgInt no REsp 1.448.115/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO

SANSEVERINO, Terceira Turma, j. 14/2/2017, DJe 20/2/2017)

Page 55: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

A recuperação judicial do devedor principal não impede oprosseguimento das ações e execuções ajuizadas contraterceiros devedores solidários ou coobrigados em geral,por garantia cambial, real ou fidejussória.

(Súmula nº 581, Segunda Seção, j. 14/9/2016, DJe

19/9/2016)

Page 56: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

O Projeto de Lei nº 10.220/2018, em seu art. 21-A, estabelece que oadministrador judicial pautará a sua atuação nos princípios daeficiência, da independência, da celeridade e da economiaprocessual.

O Projeto também prevê um processo simplificado para a escolha

do administrador judicial. Na proposta não há nomeação direta de

profissional de confiança do juiz, como ocorre atualmente, devendo

eventuais interessados apresentar propostas em que indicarão o

valor da remuneração, a forma e o prazo de pagamento, o escopo

do trabalho e a sua avaliação sobre o grau de complexidade do

trabalho e os cursos para o desempenho das funções deadministrador judicial:

Art. 24. [...]

§ 5º Deferido o processamento da recuperação judicial, o juiz abriráprocesso simplificado para a apresentação, em até cinco dias, depropostas de interessados em desempenhar a função de administradorjudicial, as quais indicarão, detalhadamente:

I - o valor total da remuneração, a forma e o prazo de pagamento;

Page 57: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

II - o escopo do trabalho e a avaliação fundamentada sobre o graude complexidade do trabalho, incluídos a quantidade de credores,a pluralidade de devedores ou de filiais e a extensão daresponsabilidade assumida, entre outros; e

III - os custos para o desempenho fiel de suas funções, quecontemplarão a descrição de recursos humanos, equipamentos,instalações, materiais a serem utilizados e eventual valor doprêmio de seguro de responsabilidade profissional.

§ 6º Na hipótese de não existirem interessados em participar doprocesso competitivo para administrador judicial, o juiz indicará umprofissional, que lhe apresentará proposta de remuneração nostermos estabelecidos no § 5º.

§ 7º Decorrido o prazo a que se refere o § 5º ou o § 6º, conforme ocaso, o devedor e os credores poderão se manifestar sobre aspropostas, no prazo de dois dias.

§ 8º O juiz considerará o teor das propostas apresentadas nostermos do § 5º ou do § 6º, conforme o caso, e as eventuaismanifestações para fixar o valor da remuneração do administradorjudicial, no prazo de dez dias.

Page 58: ENFOQUE NORMATIVO E ÉTICO DA CONCILIAÇÃO

Entretanto, parece que a Proposta de Substitutivo do Projeto

de Lei nº 10.220/2018 retirou do texto esta novidade mal

vinda, o que está de acordo com o Projeto de Reforma do

Código Comercial. Veja-se:

Art. 99 [...]

IX – nomeará o administrador judicial e convocaráassembleia geral de credores para deliberar sobre aratificação da nomeação ou substituição do nomeado;

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CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO CPC/73. AGRAVODE INSTRUMENTO. PEDIDO DE DESTITUIÇÃO DE SÍNDICO.(1) OFENSA AO ART. 535 DO CPC/73. NEGATIVA DAPRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO CONFIGURADA. (2) DAVIOLAÇÃO DO DECRETO-LEI Nº 7.661/45. (2.1) DAIMPOSSIBILIDADE DE NOMEAÇÃO DE SÍNDICO QUE JÁTIVER SIDO NOMEADO PELO MESMO JUIZ COMO SÍNDICODE OUTRA FALÊNCIA HÁ MENOS DE UM ANO. AUSÊNCIADE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA Nº 282 DO STF, PORANALOGIA. (2.2) INOBSERVÂNCIA DO RITO EDESCUMPRIMENTO DA ORDEM DE NOMEAÇÃO DOSSÍNDICOS. PRECLUSÃO. (3) IMPOSSIBILIDADE DENOMEAÇÃO DE MAIS DE UM SÍNDICO. ART. 59 DODECRETO-LEI Nº 7.661/45. INEXISTÊNCIA DE PROIBIÇÃOLEGAL. (4) AUSÊNCIA DE DESÍDIA DOS SÍNDICOS.CONCLUSÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM COM BASE NASPARTICULARIDADES DO CASO CONCRETO. REEXAME.IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7 DO STJ.

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1. Inaplicabilidade do NCPC neste julgamento ante os termos doEnunciado Administrativo nº 2 aprovado pelo Plenário do STJ nasessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento noCPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na formanele prevista, com as interpretações dadas até então pelajurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

2. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional, quando oTribunal de origem tenha decidido a matéria controvertida de formafundamentada, ainda que contrariamente aos interesses da parte,não estando, ainda, obrigado a tecer considerações sobre todos osargumentos aduzidos pelas partes, desde que os fundamentosadotados sejam suficientes para a solução da lide.

3. A tese da impossibilidade de nomeação de síndico que já tiversido nomeado pelo mesmo juiz como síndico de outra falência hámenos de um ano (art. 60, § 3º, IV, do Decreto-lei nº 7.661/45) nãofoi tratada na decisão recorrida e não foram opostos embargos dedeclaração quanto ao ponto. Incidência da Súmula nº 282 do STF.

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4. A tese da inobservância do rito e do descumprimento daordem de nomeação do síndico foi arguida a destempo.Preclusão.

5. Dispõe o art. 59 do Decreto-lei nº 7.661/45 que: Aadministração da falência é exercida por um síndico, sob aimediata direção e superintendência do juiz.

6. Sendo a natureza jurídica da função de síndico da massafalida de órgão auxiliar do Juízo, cabendo-lhe, de modo efetivo,colaborar com a administração da Justiça, não há proibiçãolegal para a nomeação do segundo síndico.

7. O processo deve se lastrear no princípio da sua razoávelduração e para velar por ela poderá o juiz adotar mecanismosde eficiente gestão, mormente nas grandes falências e/ourecuperações judiciais.

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8. O Tribunal de origem entendeu pela ausência de desídia dossíndicos e manutenção dos mesmos no munus público emvirtude das particularidades da falência discutida - quantidadede ações em diversos tribunais, inúmeras habilitações eincidentes. Para se chegar à conclusão diversa seria inevitável orevolvimento do arcabouço fático-probatório carreado aos autos,procedimento sabidamente inviável na instância especial(Súmula nº 7 do STJ).

9. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, nãoprovido.

(REsp 1.420.509/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, Terceira

Turma, j. 25/4/2017, DJe 2/5/2017)

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Cabe destacar que está em trâmite na Câmara dos

Deputados o Projeto de Lei nº 7.604 de 2006, que propõe

revogar o art. 57 da Lei nº 11.101/2005 que exige a

apresentação de certidões negativas de débitos

tributários.

A revogação do art. 57 não foi incluída na Proposta de

Substitutivo ao Projeto de Lei nº 10.220/2018, porém

referida proposta incluiu os arts. 10-A a 10-C na redação

da Lei nº 10.522/2002, que dispõe sobre o cadastro

informativo dos créditos não quitados de órgãos e

entidades federais (CADIN), para regular o parcelamento

dos débitos fiscais das empresas em recuperação judicial,

bem como a submissão à Procuradoria-Geral da Fazenda

Nacional – PGFN de proposta de transação relativa a

créditos inscritos em dívida ativa da União:

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Art. 10-A. O empresário ou a sociedade empresária que pleitear ou tiverdeferido o processamento da recuperação judicial, nos termos estabelecidosnos arts. 51, 52 e 70 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, poderáliquidar os seus débitos para com a Fazenda Nacional vencidos até a datado protocolo da petição inicial da recuperação judicial, de natureza tributáriaou não tributária, constituídos ou não, inscritos ou não em dívida ativa,mediante a opção por uma das seguintes modalidades:

I - parcelamento da dívida consolidada em até cento e vinte prestaçõesmensais e sucessivas, calculadas de modo a observar os seguintespercentuais mínimos, aplicados sobre o valor da dívida consolidada noparcelamento: [...]

II - em relação aos débitos administrados pela Secretaria da Receita Federaldo Brasil do Ministério da Fazenda, liquidação de até trinta por cento dadívida consolidada no parcelamento com a utilização de créditos decorrentesde prejuízo fiscal e base de cálculo negativa da Contribuição Social sobre oLucro Líquido - CSLL ou com outros créditos próprios relativos aos tributosadministrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério daFazenda, hipótese em que o restante poderá ser parcelado em até oitenta equatro parcelas, calculadas de modo a observar os seguintes percentuaismínimos, aplicados sobre o saldo da dívida consolidada: [...]

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Art. 10-B. O empresário ou a sociedade empresária que pleitear ou tiverdeferido o processamento da recuperação judicial, nos termosestabelecidos nos arts. 51, 52 e 70 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereirode 2005, poderá parcelar os seus débitos para com a FazendaNacional vencidos até a data do protocolo da petição inicial darecuperação judicial, relativos aos tributos previstos nos incisos I e II docaput do art. 14 desta Lei, constituídos ou não, inscritos ou não emdívida ativa, em até doze parcelas mensais e consecutivas, calculadasde modo a observar os seguintes percentuais mínimos, aplicados sobreo valor da dívida consolidada: [...]

Art. 10-C. Alternativamente ao parcelamento de que trata o art. 10-Adesta Lei e às demais modalidades de parcelamento instituídas por leifederal porventura aplicáveis, o empresário ou a sociedade empresáriaque tiver deferido o processamento da recuperação judicial, poderá, atéo momento referido no art. 57 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de2005, submeter à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional – PGFNproposta de transação relativa a créditos inscritos em dívida ativa daUnião, dispondo sobre:

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I – concessão de descontos;

II – prazos e formas de pagamento;

III – oferecimento, substituição ou alienação de garantias e

de constrições; ou

IV – efeitos da inscrição em dívida ativa.

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A jurisprudência da Terceira e da Quarta Turma do STJ é

no sentido de que não é necessária a apresentação de

certidão negativa de débito tributário como pressuposto

para o deferimento da recuperação judicial:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSOESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.PROCESSAMENTO. VIABILIDADE. CERTIDÃONEGATIVA DE DÉBITO. DESNECESSIDADE. ANÁLISEDE DIREITO LOCAL. IMPOSSIBILIDADE.

1. Recurso especial interposto contra acórdão publicadona vigência do Código de Processo Civil de 2015(Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).

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2. Não é necessária a apresentação de certidão negativade débito tributário como pressuposto para o deferimentoda recuperação judicial. Precedentes da Corte Especial.

3. A análise de contrariedade a lei estadual é inviávelpela via do recurso especial, nos termos da Súmula n°280/STF.

4. Agravo interno não provido.

(AgInt no AREsp 1185380/SC, Rel. Ministro RICARDO

VILLAS BÔAS CUEVA, Terceira Turma, j. 26/6/2018, DJe

29/6/2018)

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Por fim, o Projeto de Alteração da Lei nº 11.101/2005 prevê a

ampla divulgação e publicidade da recuperação judicial por meio

de registro eletrônico em cadastro no Conselho Nacional de

Justiça:

Art. 3º-A.

[...]

§ 1º A decretação da falência, o deferimento doprocessamento da recuperação judicial e a homologação deplano de recuperação extrajudicial serão sucedidos de ampladivulgação e publicidade, por meio de registro eletrônico emcadastro no Conselho Nacional de Justiça.

§ 2º Os tribunais manterão banco eletrônico de dadosatualizados com informações específicas sobre as falências eas recuperações judiciais e extrajudiciais que neles tramitam, ecomunicarão novos registros imediatamente ao ConselhoNacional de Justiça para inclusão no cadastro de que trata o §1º.”

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Seria salutar se o Conselho Nacional de Justiça disponibilizasse

informações sobre as empresas em recuperação judicial no

sistema BACEN-JUD, de modo que no momento do ato de

constrição fosse informado eventual deferimento de

recuperação judicial a favor da empresa executada. Tal sistema

eletrônico evitaria a constrição de bens de empresas em

soerguimento, principalmente pela Justiça do Trabalho, evitando

a necessidade de apresentação de Conflitos de Competência no

Superior Tribunal de Justiça.

Na mesma linha o CNJ também vem se batendo pela adoção de

juízos especializados como proposta no Projeto de Lei do

Senado de Reforma do Código Comercial:

Art. 1081. Os Tribunais podem instituir, conforme aspeculiaridades locais, varas, turmas e câmaras especializadasno processamento e julgamento de questões de direitocomercial ou empresarial.

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RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CRAM DOWN.

PEDIDO DE CONVOLAÇÃO EM FALÊNCIA. ALIEGAÇÃO DE NEGATIVADE PRESTAÇÃO JURISIDICIONAL. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DOMINISTÉRIO PÚBLICO. NULIDADE. NÃO CONFIGURADA. PLANO DERECUPERAÇÃO JUDICIAL.

1. Controvérsia em torno da possibilidade de aprovação pelo magistradodo plano de recuperação judicial mesmo diante da recusa do principalcredor. [...]

4. Positivação pelos §§ 1º c 2º do art. 58 da Lei 11.101/2005 do instituto do“cram down”, inspirado no Direito norte-americano, permitindo ao juiz aconcessão da recuperação judicial com base em plano que não obteveaprovação na forma do art. 45 da LREF, desde que, na mesmaassembleia, tenha preenchido, de forma cumulativa, os demais requisitoselencados pelo legislador.

5. Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido dapossibilidade de o magistrado aprovar o plano de recuperação, mesmoque não preenchidos todos os requisitos legais, visando evitar eventualabuso do direito de voto, com fundamento no princípio da preservação daempresa.

6. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.

(REsp 1.665.349/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

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5.- PRINCIPAIS ASSUNTOS POR ÓRGÃO JULGADOR

Acervo em 31/7/2019:

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GRATO.