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contínua ANO XXXV - Nº 242 - NOV/DEZ 2012 contínua corrente corrente Energia sem fronteiras

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contínuaAno XXXV - nº 242 - noV/dez 2012

contínuac o r r e n t ec o r r e n t e

Energia sem fronteiras

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SCn - Quadra 6 - Conjunto ABloco B - Sala 305 - entrada norte 2

CeP: 70716-901Asa norte - Brasília - dF.

Fones: (61) 3429 6146 / 6164e-mail: [email protected]

site: www.eletronorte.gov.br

Prêmios 1998/2001/2003

Diretoria Executiva: - diretor-Presidente - Josias Matos de Araujo - diretor de Planejamento e en-genharia - Adhemar Palocci - diretor de operação - Wady Charone - diretor econômico-Financeiro - Antonio Barra - diretor de Gestão Corporativa - Tito Cardoso - Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Ge-rência de Imprensa: Michele Silveira (dRT 11298 - RS) - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (dRT 1342-dF) - Byron de Quevedo (dRT 7566- dF) - César Fechine (dRT 9838-dF) - Érica neiva (dRT 2347-BA) - Michele Silveira (dRT 11298 - RS) - As-sessorias de Comunicação das unidades regionais - Estagiários: diogo Alves Ferreira, Antônia eriva-núzia Araújo Macedo e Angélyca da Cruz Miranda - Fotografia: Alexandre Mourão, Roberto Francis-co, Rony Ramos, eliane Luchtemberg, Assessorias de Comunicação das unidades regionais, Agência Brasil e Banco da Imagens da eletrobras eletronor-te - Revisão: edileia Maria de oliveira - Diagrama-ção: Jorge Ribeiro - Impressão: Multigráfica - Tira-gem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral

Índice5

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a EnERGIa Dos vEnTos

EnTREvIsTaaDRIano PIREs

o quE PoDEmos fazER Em vInTE anos

PRoJETolInha vERDE

na vIDa Da ElETRobRas ElETRonoRTE os ConTos E EnConTRos Do “GRuPo InTEGRaDo DE TRansmIssão - GIT”

EClusas DE TuCuRuí GERam EConomIa DE TEmPo E RECuRsos

o ano Da EnERGIa susTEnTávEl

um novo TEmPo Com Ivan lIns

na REGIão DE TuCuRuí,12 munICíPIos RECEbEmR$ 130 mIlhõEsEm DEz anos

os 35 anos Da corrente contÍnua

IDEIas: PlanEJamEnTo PaRaoTImIzaR a manuTEnção

CoRREIo ConTínuo

oITo mIl PRofEssoREs.875 mIl alunos.200 munICíPIos.

foTolEGEnDa

editorialNesta edição a Corrente Contínua completa 35 anos. Mais do que um caminho de informação, suas páginas têm registrado a trajetória do Setor Elétrico de forma dedicada, profissional e, como diz sua própria essência, contínua. Vivemos hoje um novo momento para as estatais de energia elétrica. Com a edição da Medida Provisória 579, de 11 de setembro de 2012, o cenário é de desafios, mas também de oportunidades. Ao longo dos seus quase 40 anos, que serão comemorados em 20 de junho de 2013, a Eletrobras Eletronorte manteve compromissos com a inovação, a criatividade, a qualidade técnica e o profissionalismo de suas equipes. Mais do que isso, assumiu um compromisso com o desenvolvimento sustentável da Amazônia e do Brasil. Nascemos com a função estratégica de investir na Amazônia quando poucos se arriscavam a fazê-lo. Uma decisão de governo que, mais tarde, se tornaria referência na geração de energia de forma sustentável, com responsabilidade e de forma integrada. Com 9,7 mil megawatts de potência total instalada e cerca de dez mil quilômetros de linhas de transmissão e 53 subestações, levamos energia elétrica a todo o Brasil por meio do Sistema Interligado Nacional. Nesta edição você vai navegar pelas Eclusas de Tucuruí e conhecer o projeto Mandalla, que está fazendo a diferença nas comunidades no entorno das linhas de transmissão no estado do Maranhão. Vai saber como é possível uma escola ser referência em eficiência energética e conhecer um pouco mais do trabalho da Eletrobras Eletronorte na promoção da cultura no Brasil. Vai mergulhar na história do Setor Elétrico com as primeiras edições da Corrente Contínua. Na capa, o conceito de energia sem fronteiras. Criada na Amazônia, a Eletrobras Eletronorte chega agora aos estados do Rio Grande do Norte, com empreendimentos eólicos, e São Paulo, com a subestação Araraquara, que integra o Complexo de Transmissão do Madeira. Acreditamos que a energia, de fato, não tem fronteiras. A cada dia uma inovação, uma nova fonte, um novo aproveitamento. É nessa energia que está o hoje e o amanhã do Brasil e do mundo. Uma energia sem fronteiras, para um mundo sem fronteiras. Boa leitura! Coordenação de Comunicação Empresarial

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a capa desta edição traz, na fotografia de rony ramos, uma das

torres eólicas que estão sendo construídas nos

Parques eólicos alegria Ie alegria II, vizinhos ao

empreendimento de Miassaba 3, em

Guamaré, no rio Grande do norte.

nesta edição você confere a reportagem

de césar Fechine sobre os empreendimentos que estão levando a

eletrobras eletronorte para a nova fronteira

da energia eólica no Brasil.

contínuaANO XXXV - Nº 242 - SET/OUT 2012

contínuac o r r e n t ec o r r e n t e

Energia sem fronteiras

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abre aspas

Se eu tenho uma hidrelétrica com reservatório e mais eólica, combinação melhor Deus não podia disponibilizar.

Nos últimos três anos foram viabilizados 6.800 MW de eólicas nos leilões para a expansão da oferta. Isso significa ampliar, até 2015, em 7,5 vezes a capacidade instalada em 2010 dessa fonte.

O potencial hidrelétrico latino-americano é de 500 mil km². Fazer uma grande interligação de bacias pode trazer ganhos para todos os países. Temos perspectiva de, no futuro, trabalhar de forma integrada, por meio de um sistema de dimensões continentais.

Valter luIz cardeal de Souza- diretor de Geração da eletrobras, durante o 24º Fórum nacional, promovido pelo Instituto nacional de altos estudos - Inae, no rio de Janeiro.

MaurÍcIo tolMaSquIM - Presidente da empresa de Pesquisa energética - ePe

HerMeS cHIPP - diretor-geral do operador nacional do Sistema elétrico - onS e presidente da comissão de Integração energética regional, durante o seminário “energia e Sustentabilidade”

Geração

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A brisa constante, o sol e o mar que varia entre as tonalidades do azul ao verde tornam as praias do Rio Grande do Norte paradisíacas. E os ventos alí-sios que sopram do Oceano Atlântico oferecem as condições ideais para a produção de energia a partir de uma fonte limpa, renovável e abun-dante. Para aproveitar esse potencial dos ventos, as empresas Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas e J. Malucelli, se uniram para construir os empreendimentos de Miassaba 3, Rei dos Ventos 1 e Rei dos Ventos 3, que vão adicionar 187,04 MW ao Sistema Interligado Nacional - SIN.

Eletrobras Eletronorte participa da construção de três parques eólicos que vão adicionar 187 MW ao SIN

césar Fechine

a energia dos ventos

em regiões em que as comunidades são caren-tes de atividades econômicas. “Não se tem a im-plantação de parques eólicos nas proximidades de grandes ou médias cidades. E a implantação dos parques gera recursos e tributos que pas-sam a ser um vetor de desenvolvimento para essas comunidades”, afirma Sotério.

As obras começam com a construção dos can-teiros, supressão vegetal para abertura dos acessos, terraplanagem, sondagem, escavação, fundação e construção das bases. A 180 quilô-metros de Natal, na divisa dos municípios de Guamaré e Macau, as obras civis de Miassaba 3 estão quase prontas.

“O parque está estruturado em 13 eixos e terá 41 aerogeradores com potência de 1,67 MW, totalizando 68,47 MW. O Grupo Energia faz a engenharia do proprietário em consórcio com a Alstom Grid, que fornecerá os equipamentos da subestação, e com a 2A, projetista e emprei-teira”, informa Edson Bessa (à direita), coorde-

nador de Contratos da Brasventos.

Nos empreendimentos de Rei dos Ven-tos 1 e 3, o Grupo Energia também faz a engenharia do proprietário e a Cor-

tez Engenharia é a projetista e emprei-teira, em consórcio com a Alstom Grid.

“Os investimentos nas obras civis dos três parques somam R$

126 milhões”, acrescenta Bessa.

Três empresas compõem a Brasventos: Brasven-tos Miassaba 3 Geradora de Energia S/A, Bras-ventos Eolo Geradora de Energia S/A e Rei dos Ventos 3 Geradora de Energia S/A. A participa-ção societária da Eletrobras Eletronorte na Bras-ventos é de 24,5%, Eletrobras Furnas tem 24,5% e J. Malucelli, 51%.

Meio Ambiente

As obras do parque Miassaba 3 começaram no fim do ano passado, depois da emissão da Licen-ça de Instalação - LI. A LI de Rei dos Ventos 3 foi emitida em janeiro deste ano e a do parque Rei dos Ventos 1, em abril. O licenciamento é feito pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte - Ide-ma, rigoroso quanto à análise de projetos, prin-cipalmente em áreas de dunas, como é o caso de Rei dos Ventos 1.

Existe uma condicionante da Licença de Insta-lação denominada Relatório de Detalhamento

dos Programas Ambientais, em que são apresentadas as ações da empresa. “O empreendi-

mento de Miassaba 3 possui 16 programas ambientais e Rei dos Ventos 1 e Rei dos

Ventos 3, 23 programas, cada. As condicionantes previs-

tas para os empreendi-mentos estão sendo

cumpridas na sua

A produção de energia eólica já se consolidou na matriz energética brasileira, a exemplo de outros países do mundo, declara Alcides Sotério, diretor-técnico da Brasventos (foto à esquerda, na página ao lado), empresa responsável pela construção e administração dos três parques eó-licos. “A tendência no mundo é a busca da ener-gia renovável, de fonte limpa. E a eólica se desta-ca pela característica de não acarretar dano, mas alguns impactos que, na grande maioria, são re-versíveis na fase de operação”, defende Sotério.

Outra característica dos empreendimentos eó-licos é que os sítios potenciais estão localizados

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totalidade”, declara Juliana Aquino, coordena-dora de Meio Ambiente da Brasventos.

Entre as condicionantes estão o Programa de Acompanhamento e Monitoramento dos Pro-cessos Erosivos, Dinâmica Costeira e Sedimen-tar, que verifica a movimentação das dunas e o avanço do mar.

A Brasventos também contratou uma empresa especializada, com equipamentos e software de última geração, que vão coletar dados para ve-rificar se os aerogeradores vão interferir ou não no meio ambiente. Hoje, não há nenhum dado que comprove que o aerogerador, em si, cause impacto ambiental.

Nesse tipo de empreendimento, o controle am-biental é feito, principalmente, durante a cons-

trução do parque, acessos a dunas, controle da supressão vegetal e escavação durante a fase das obras civis. Outros programas preveem o monitoramento da avifauna e da fauna, com relatórios feitos mensalmente e apresentados ao Idema a cada seis meses.

Já o Programa de Arqueologia é desenvolvido junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-tístico Nacional – Iphan, que tem a competên-cia para análise desse processo, acompanhado também pelo Idema. Em Miassaba, um levan-tamento feito pelo grupo de arqueologia não detectou nenhum sítio arqueológico e o Iphan emitiu parecer com o aceite do relatório, mas determinando o monitoramento no período das escavações.

O plano ambiental também estabelece a ne-cessidade de monitoramento do ruído de má-quinas, caminhões, retroescavadeiras e outros

equipamentos durante a construção do empre-endimento, com base na norma NBR-10.151, de conforto acústico. Na fase de operação, poderá ser solicitado também o monitoramento do ru-ído dos aerogeradores.

Um dos projetos estruturantes prevê o abas-tecimento de água potável para o município de Galinhos, onde estão os projetos de Rei dos Ventos, além do tratamento do lixo e um pro-jeto-piloto de climatização da escola estadual, utilizando fontes de energia renovável. “A água do município é coletada de poços artesianos e é salobra, em consequência da proximidade com o mar. Esse projeto extrapola as condicionantes ambientais”, informa Sotério.

Bases

A engenharia de construção das bases é funda-mental para sustentar a estrutura dos imensos

cataventos que vão capturar o potencial eólico. Após a sondagem do terreno, as escavações das estacas das bases são feitas até à cota de proje-to, que varia entre 10 e 20 metros de profundi-dade. As estacas são fixadas com concreto e aço.Após a construção das estacas, é feita a regu-larização do subleito, fundamental para man-ter a base nivelada, e a montagem da armação, aplicação de forma e concretagem. Cada base consome cerca de 300 m³ de concreto, cerca de 20 toneladas de ferragens e o trabalho leva de 8 e 10 horas.

Com a concretagem pronta, a base entra no processo de cura. E o que é o processo de cura? “O ideal seria que a base ficasse submersa numa piscina com água, mas isso seria muito complexo. Nós fazemos a cura mantendo a base umedecida por sete dias com um tecido poroso para evitar a retração do concreto e para que

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se consiga atingir a resistência ideal”, explica a engenheira civil Bárbara Fernanda de Carvalho Carlos (abaixo, à direita), que trabalha no Grupo Energia.

O cimento racha se secar muito rapidamente, podendo causar a infiltração de água e ferru-gem na base. Como a região é muito quente, a cura é um processo superimportante. Depois, é feito o reparo das microfissuras identificadas na base com resina epóxi.

A construção das bases é concluída com a mon-tagem dos uncle boats (parafusos).

Ventos

Para construir os parques eólicos são necessá-rias grandes extensões de terra, com uma média de 10 hectares por megawatt instalado, o que, invariavelmente, leva as empresas a enfrenta-rem questionamentos de posseiros e problemas fundiários. Normalmente, as terras são arrenda-

das. A área total só para a instalação do parque eólico de Miassaba 3 é de 1.260 hectares.

Na região, os ventos alísios são constantes e previsíveis e abrangem uma grande faixa aci-ma e abaixo do Equador, onde está o litoral do Rio Grande do Norte e do Ceará. Esses ventos não são muito fortes e atingem uma velocida-de média de 12 metros por segundo, ideal para a geração eólica.

“Os ventos para a geração eólica não devem ser muito fracos, nem muito fortes, pois podem da-nificar os equipamentos. A energia boa é aquela entre 10 e 12 metros por se-gundo, constante, que deixa a má-quina funcionando e em condição de ser controlada”, explica Alfon-so Sorrentino, engenheiro indus-trial com especialização em eletro-técnica, um entusiasta da energia eólica (foto na página ao lado). Al-fonso trabalha na empresa J. Malu-celli e participa da construção dos empreendimentos da Brasventos.

A nacele dos aerogeradores, parte que contém a turbina, sempre fica voltada na direção do ven-to, que sofre turbulência quando passa pelas pás. E a turbina que estiver atrás, se o vento não se restabeleceu, não utilizará o mesmo poten-cial. Por isso, as torres são afastadas umas das outras. “Quanto mais para trás, melhor para a recomposição do potencial do vento”, explica Alfonso.

Se o vento chega a uma velocidade de 23 metros por segundo ou mais, a máquina pode sofrer danos e a unidade é desligada automaticamen-te. Nesse caso, as pás são colocadas em posição paralela ao vento, travadas, e a nacele, que gira 360 graus na direção do vento, para de se movimentar.

O problema é que o vento gera uma velocidade que dentro do gerador é 100 vezes maior, porque a caixa de en-grenagens possui um multiplicador que amplia a rotação. As pás dos aerogeradores giram em torno de 15 rotações por minuto e se

o vento for muito forte essas engrenagens po-dem ser danificadas. Quanto mais alta a nace-le, maior a potência do aerogerador. E quanto maior o diâmetro do rotor do aerogerador, mais energia se produz.

Torres

Os aerogeradores se dividem em torre, nacele (que contém a turbina), rotor e pás. A monta-gem das torres de Miassaba 3 começaram no

mês de agosto. O contrato de fornecimento dos equipamentos firmado com a Alstom

Wind para os três parques totaliza R$ 447 milhões.

A torre é composta de três segmentos (tramos), com um comprimento aproxi-

mado de 25 metros, cada. Embai-xo, a base inferior tem barras

de ferro com espessura de cinco centímetros e o peso de cada tramo pode chegar

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a 50 toneladas. O peso total da torre varia de 150 e 180 toneladas, dependendo da tecnologia aplicada.

As torres possuem um diâmetro de quatro me-tros na parte de baixo e de dois metros em cima, com um elevador interno para transportar os técnicos até o topo. O nível de precisão de nive-lamento das bases é muito alto e não há espaço para erros, o que poderia levar a uma inclina-ção. As empresas que fazem a construção civil seguem uma especificação bastante rígida e to-dos os procedimentos de cálculo estabelecidos pelo fornecedor do equipamento.

A preocupação com os padrões de fundação e com o controle de qualidade é constante entre os técnicos, levando inclusive a me-lhorias nos projetos. “Nós fomos muito exigentes com a engenha-ria do proprietário, marcando as pequenas trincas que surgiram nas bases e fechando com epóxi. E apoiamos o pessoal da enge-nharia civil com melhorias, por exemplo, no projeto da Alstom Wind. A parte da base que fica exposta era plana e isso poderia levar a água a empossar. Nós sugerimos a incli-nação de dois graus para a água escorrer, evi-tando futuros problemas”, relata o engenheiro civil Bastian Fenner (acima), consultor do Grupo Energia.

Quando os equipamentos chegam é feito o con-trole de qualidade, inspeção visual, verificação do material utilizado nas turbinas e extensores para evitar corrosão. O trabalho inclui a che-cagem do nível de óleo, dos equipamentos de refrigeração, enfim, a inspeção geral das condi-ções das naceles e das pás.

Montagem

A sequência de montagem das torres é a se-guinte: o tramo 1 é montado com um guin-daste pequeno e nivelado. A base é preen-chida com uma mistura especial de cimento que absorve a pressão e os parafusos são instalados. Dois dias depois, um guin-daste grande de esteira monta o tramo 2, o tramo 3 e a nacele.

Um terceiro guindaste vai montar as três pás. Depois disso, é feito o trabalho de montagem eletromecânica, que consiste na montagem do elevador e de todas as conexões dos cabos den-tro da turbina. Depois de colocado todo o peso da torre é dado o torque final no aperto dos pa-rafusos.

Normalmente, as turbinas começam a traba-lhar com ventos de três metros por segundo. Cada equipamento possui uma estação anemo-métrica na parte superior que mede a velocida-

de do vento, fazendo a nacele girar na direção do vento.

“A caixa de engrenagens contém o rotor, o eixo, o multiplicador e o gerador. O multiplicador amplia em 80 vezes a rotação. Esses equi-pamentos são de alta tecnologia e as turbinas modernas preveem a absorção de esforços do rotor para proteger o multiplicador”, prosse-gue Bastian.

Os empreendimentos da Brasven-tos vão utilizar o modelo Eco 86 da

Alstom, o que significa que cada pá do aeroge-rador terá 43 metros de comprimento. A altura de cubo, que é a altura da torre, medida no meio do rotor, é de 85 metros.

Galinhos

No Município de Galinhos, a 156 km de Natal, estão em construção os Parques Eólicos Rei dos Ventos 1 e Rei dos Ventos 3, que terão, respec-tivamente, 35 e 36 aerogeradores, com potência total de 118,57 MW. Atualmente, 40 bases des-ses parques estão concretadas e com as vias de

acesso regularizadas. “A terraplanagem da subestação também está concluí-

da, com a marcação topográfica dos gabaritos de todas as bases”, infor-

ma o engenheiro José Carlos Ri-beiro (á esquerda), responsável pela fiscalização das obras.

Os parques em Galinhos terão cerca de 160 quilômetros de ca-

bos enterrados na areia para fazer a conexão dos gera-dores até à subestação.

Já o projeto de Miassaba 3 terá mais de 80 quilômetros de cabos.

Como parte dos empreendimentos, está sendo construída uma linha de transmissão com 40 km de extensão em 230 kV, que vai interligar os parques de Rei dos Ventos 1 e 3 à subestação Miassaba. Outra linha com 80 km ligará Mias-saba 3 até a subestação Açu (RN), administra-da pela Eletrobras Chesf e integrada ao SIN. Os investimentos nos sistemas de transmissão so-mam R$ 42,7 milhões.

Com esses três empreendimentos, a Brasventos captura a força dos ventos por meio de aeroge-radores, que nada mais são que turbinas colo-cadas sobre torres nas alturas. Trata-se de uma energia limpa, capaz de abastecer milhares de

famílias brasileiras, sem criar desequilíbrio ambiental. É como conclui Seu Alfonso Sor-

rentino: “A energia eólica é a energia do futuro. Uma fonte inesgotável, barata e à

disposição de toda a humanidade.”

Nota da Redação: As fotos das torres eólicas prontas que ilustram esta edição da Corrente Contínua são dos Parques Eólicos Alegria I e Ale-gria II, vizinhos ao empreendimento de Miassa-ba 3, em Guamaré (RN). Os empreendimentos estão sendo construídos pela empresa New Ener-gy Options Geração de Energia, controlada pelo grupo Multiner, e terão 92 aerogeradores com capacidade total instalada de 151,8 MW.

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adriano Pires

Entrevista

“Energia que gera menos impacto ambiental é aquela que não consumimos”

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Todas as semanas, leitores dos principais jornais brasileiros podem ler os artigos do diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura – CBIE, Adria-no Pires, hoje, sem dúvida, um dos mais influentes pensadores e analis-

tas do Setor Elétrico brasileiro. O CBIE é uma empresa de consultoria e informação especializada em serviços

de inteligência e gestão de negócios no mercado de energia.

“Monitoramos os acontecimentos do mercado, a economia, o cenário político, as decisões go-vernamentais, em especial de órgãos regu-ladores, e outros fatores externos que pos-

sam afetar a dinâmica das indústrias de energia”, explica Adriano, economista que atua há mais de 30 anos na área. Sua últi-ma experiência no Governo foi na Agência

Nacional de Petróleo – ANP. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ exerceu a

função de professor, pesquisador e consultor. Desenvolveu atividades de pesquisa e ensino nas áreas de economia da regulação, economia da infraestrutura, aspectos legais e institucionais da concessão dos serviços públicos e tarifas públi-cas. Também é mestre em planeja-mento energético pela Coppe/UFRJ e doutor em economia industrial pela Universidade Paris XIII.

Nesta entrevista exclusiva à Cor-rente Contínua, Adriano Pires re-força o que vem escrevendo em seus artigos. Confira.

o senhor participou este ano de um evento no exterior sobre petróleo e gás. o que traz de volta na bagagem?

O evento foi sobre as chamadas energias não convencionais, uma preocupação do mundo todo sobre qual será o papel do petróleo e do gás, considerados energias não convencionais, no futuro da humanidade. É uma discussão nada fácil. O que trago de volta é a complexi-dade que o Brasil enfrentará na exploração dos recursos do pré-sal e a falta de uma política de combustíveis que o nosso País ainda não conse-guiu estabelecer de fato.

o senhor se refere à produção de biocombustíveis, área que temos o domínio e a tecnologia?

Sim, também. A situação atual mostra que o Brasil não possui uma política de combustí-veis de acordo com a vantagem competitiva que o País tem. Precisamos de uma política que promova o consumo dos combustíveis de que dispomos e que a sociedade seja beneficia-da com isso. O fato de o Brasil ter a tecnologia do etanol, produzir biodiesel, e ter descoberto o pré-sal, nos faz pensar que o Governo precisa olhar tudo isso em um conjunto que promova uma política no sentido de possibilitar à socie-dade escolher qual combustível ela que usar e comprar.

mas, hoje, estamos vivendo uma crise entre o preço baixo da gasolina frente ao do etanol, o que inviabiliza abastecer carros flex com álcool combustível.

É verdade. O Governo, preocupado com a infla-ção e com fatores políticos, congelou o preço da gasolina durante o mesmo período em que in-centivou a produção e a compra de carros flex. A crise de 2008 deu uma pancada forte no setor usineiro e o preço do etanol começou a subir, desestimulando seu uso pelos consumidores. Como consequência, o Brasil virou um grande importador de gasolina. Em 2011 foram 45 mil barris por dia; em 2012 já chegamos a 80 mil barris/dia. É muita coisa. Nos próximos três anos, mesmo que se aumente o preço da gaso-lina agora, vamos continuar importando gaso-lina e etanol.

na Conferência da onu, a Rio + 20, o brasil demonstrou ter uma situação privilegiada, com forte participação de fontes renováveis na matriz energética.

Acho que a presidente Dilma Rousseff está coberta de razão ao evidenciar essa situação brasileira tão favorável. Somos mesmo privile-giados no que se refere a fontes primárias para a geração de energia elétrica, e se olharmos as economias emergentes, talvez a grande vanta-gem comparativa que o Brasil tem em relação à China, Índia, Rússia e África do Sul seja a nossa diversidade energética, além de uma dispersão regional muito interessante. Olhando o mapa do Brasil, temos ao Norte muita água ainda e um potencial de gás natural. No Nordeste, te-mos os ventos para a geração eólica; no Sudes-te, a biomassa e o pré-sal; no Sul mais eólica e carvão. Poucos países no mundo têm essa di-versidade energética. O que não pode é sermos movidos por discursos ideológicos de organiza-ções internacionais.

o atual modelo do setor Elétrico brasileiro tem dado bons resultados?

Acho que o modelo criado no Governo Lula, ain-da na gestão da ministra Dilma, que tem como fundamento maior os leilões de empreendi-mentos de geração e transmissão, está sim dan-do bons resultados. Naquela época foi impor-tante a ideia de que o País não poderia passar por outro apagão de energia, e isso teve suces-so. Se até 2008 a fonte mais vitoriosa era o óleo combustível, para mover as térmicas em even-tualidades, depois disso a fonte eólica tem sido a grande vencedora dos leilões. A Presidente declarou que só com sol e vento não é possível atender à demanda e ela está certa. Afinal, com essa história de se fazer reservatório hidrelétri-co a fio d’água as novas hidrelétricas não vão ter a capacidade de regularizar o sistema como as antigas, que tinham reservatórios grandes.

o ideal, então, seria voltar a construir usinas com grandes reservatórios?

Temos que rever o planejamento de novas hi-drelétricas a fio d’água. Não quero dizer que temos que voltar a fazer grandes reservatórios, mas também nem todos a fio d’água, pois es-tamos desperdiçando uma riqueza que o País

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possui. A energia mais limpa e mais barata é a hidráulica, que temos em abundância. Se conti-nuarmos com projetos a fio d’ água para aten-der a ONGs internacionais, as gerações futuras de brasileiros vão cobrar isso da gente, vão di-zer: olha, vocês desperdiçaram uma riqueza.

Como conciliar todos esses interesses do ponto de vista energético, ambiental e social?

Como temos essa diversidade de fontes e a dis-persão regional, está na hora de o Governo pen-sar em fazer leilões por fontes e também leilões regionais. Acho que a hora é de mudar o modelo dos leilões. A meta de evitar apagão já foi supe-rada, e o grande objetivo agora deveria ser, em minha opinião, usar de maneira racional e com viés ambiental essa diversidade que o País pos-sui, por meio de uma política nacional e sem preocupação com acusações de ambientalis-tas. Até porque temos hoje a matriz energética mais limpa do mundo.

a questão ambiental realmente é um fator de preocupação de governo e investidores na expansão da oferta de energia elétrica no brasil?

A questão ambiental é presente e precisamos respeitá-la. Mas temos que tomar cuidado para não deixar que se crie a indústria do meio am-biente. Hoje, muitos atores envolvidos se apro-veitam da situação para cobrar dos empreende-dores compromissos que não são das empresas, mas dos governos federal, estadual e municipal. Temos que deixar isso muito claro para a socie-dade, os papéis de cada um em todo o processo. Outro ponto sensível é a questão trabalhista, com muitas greves acontecendo nos canteiros de obras de empreendimentos como o Madeira e Belo Monte. Precisamos rever as relações de trabalho na construção de obras desse porte, analisar caso a caso e evitar os confrontos.

A eficiência energética foi outro ponto muito debatido na Rio + 20. o senhor concorda que o brasil tem promovido políticas nesse sentido?

No mundo todo, a energia do petróleo ainda é a mais dominante, mas também a mais peri-gosa, suja e cara. Não temos mais como parar

de investir em energias mais limpas, como os biocombustíveis, e, novamente, o Brasil precisa valorizar também a questão da eficiência ener-gética, promover o uso racional da energia elé-trica. Às vezes eu brinco que o Governo deveria usar a televisão, as escolas, algum personagem ou formador de opinião, para incentivar o uso racional de energia. Seria uma maneira de levar a discussão para a população em geral, para as classes emergentes C e D. As novelas já pautam questões como doenças, drogas, combate à vio-lência, por que não o uso eficiente de energia?

além das novelas, os próprios artistas poderiam se unir nessa corrente, como às vezes se unem em defesa ou contra alguma obra, programa ou ideologia?

Sim, claro. Durante o racionamento de 2001 houve uma mobilização da sociedade impres-sionante, todo mundo trocou lâmpada, desli-gou aparelhos, o governo estabeleceu metas de consumo, bônus e ônus para os consumidores e o consumo caiu muito. A sociedade, quando mobilizada, entende a sua participação, e nove-las, personagens brasileiros, têm empatia com a população. Qualquer fonte de energia promove impacto ambiental, umas mais outras menos, mas também é a melhor maneira para se man-ter a qualidade de vida das pessoas. Em vez de artistas fazerem igual fizeram com Belo Monte, dizendo um monte de bobagens, demonstran-do desconhecimento do processo e trabalhan-do para ONGs internacionais, que querem tirar a soberania do Brasil nas decisões que temos que tomar aqui dentro, poderiam fazer um ví-deo para mostrar que energia barata e que gera menos impacto ambiental é aquela que não consumimos, ou deixamos de consumir de ma-neira mais inteligente. Essa é a discussão que precisamos ter no Brasil.

Hoje, muitos atores envolvidos se aproveitam da situação para cobrar dos empreendedores compromissos que não são das empresas, mas dos governos federal, estadual e municipal.

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Projeto linha verde

Por arthur quirino

A Eletrobras Eletronorte está transformando a vida de dezenas de famílias de agricultores em seis povoados no Maranhão, por meio do projeto Mandalla. Trata-se de um programa de inclusão produtiva nos municípios de Miranda do Norte (PA Cigana Santa Catarina e Quilombo Joaquim Maria); Matões do Norte (Palmeiral I e Alto da Cruz) e Peritoró (Sítio Serraria e Rocinha).

O projeto Mandalla faz parte de um protocolo de intenções assinado em maio de 2011, entre o diretor-presidente da Eletrobras Eletronorte, Josias Matos de Araujo, e as respectivas prefei-turas desses municípios. Além do Mandalla, o protocolo prevê ainda ações de piscicultura, ateliê de costura e a construção de um mercado do produtor.

De acordo com o coordenador do projeto na Ele-trobras Eletronorte, Ricardo de Mello Brandão (foto abaixo), da Assessoria de Ações de Respon-sabilidade Social, o projeto começou com uma pesquisa sobre as oportunidades de realizar um projeto social com sustentabilidade. “Durante

as pesquisas conhecemos o trabalho e a mis-são da Agência Mandalla, que é transformar a agricultura familiar em um negócio economica-mente rentável, socialmente responsável e am-bientalmente sustentável, através da difusão de tecnologias alternativas de geração de renda, emprego, segurança alimentar e sustentabili-dade ambiental para o agricultor familiar”.

Mas, afinal, o que são as Mandallas? São estru-turas circulares de produção de alimentos for-madas por círculos concêntricos que têm no centro um pequeno espelho de água, de onde parte o sistema de irrigação. Galinhas, patos, peixes, entre outras espécies de pequenos ani-mais, e uma diversidade de plantas dispostas estrategicamente, convivem em uma área co-mum, formando assim um sistema interativo em que necessidades de um são supridas pela produção do outro.

Segundo a Agência Mandalla, um exemplo é a cadeia em que a galinha oferece esterco e ração para a plantação e se alimenta de ervas dani-nhas. O tamanho da Mandalla varia de acordo com diversos locais. Caso exista disponibilidade de espaço, pode ser feita a Mandalla que ocupa uma área de até 1/4 de hectare, podendo ainda, em um tamanho menor, ser implantada até nos quintais das casas dos agricultores. Em cada área de 2.500 m² (1/4 hectares), irrigada por bomba submersa tipo sapo, são cultivadas 64 ti-pos de culturas vegetais, 10 espécies de animais e até 450 fruteiras diversificadas.

A gerente da Assessoria de Responsabilidade So-cial, Rosa Maria de Sousa e Albuquerque Barbo-sa, explica que o Projeto Social Linha Verde prevê a realização de ações sociais nas áreas de convi-

Um sonho vira realidade no Maranhão

Responsabilidade social

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vência da Empresa. “Nesse momento, a ação so-cial no eixo de trabalho e renda está sendo im-plementada por meio de tecnologia Mandalla de hortas comunitárias, e temos uma parceria com a Regional do Maranhão, tanto na execução, como na fiscalização do contrato. Os resultados já começam a aparecer e é uma conquista mui-to gratificante para todos que participam desse projeto”, afirma.

No Maranhão, cada município foi beneficiado com duas Mandallas, contemplando em média 25 famílias cada uma. O projeto é composto de uma mandalla pedagógica, Mandalla mãe, co-mum a essas famílias. No final de dois anos, cada comunidade terá 26 Mandallas, por meio da replicação que as famílias farão em suas pro-priedades.

O projeto teve início em janeiro de 2011, sob a responsabilidade do superintendente Edmilson Irineu Carneiro, da Gerência da Coordenação Regional de Representação no Estado do Mara-nhão - PMA e teve como gestor Roberto Nonato e coordenadora Valker Sousa. Um diagnóstico realizado em fevereiro de 2011, realizado pela Coordenação Regional de Representação da Ele-tronorte no Maranhão em nove municípios do Estado, identificou a situação socioeconômica e a potencialidade produtiva das comunidades situadas em áreas de convivência dos empreen-dimentos da Eletronorte.

Roberto e Valker contam que tudo começou “nas nuvens”. Durante uma viagem de Brasília para São Luís, conversaram com Edmilson Carneiro e sentiram o apoio da Eletrobras Eletronorte para atuar fortemente na responsabilidade social nas áreas de convivência da Empresa no Maranhão. Elaboraram então um plano de trabalho. Projeto

feito, partiram em busca de parcerias internas como a Assessoria de Ações de Responsabili-dade Social; a Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e Eficiência Ener-gética; a Superintendência de Meio Ambiente; e com o Comitê de Gênero e Raça da Eletrobras Eletronorte. As parcerias externas com os po-deres públicos federal, estadual e municipal também foram fundamentais no processo. De-pois disso, o passo foi a formação do Comitê de Responsabilidade Social e Empresarial com Sustentabilidade, em cada cidade, composto por membros dos órgãos públicos, sociedade civil organizada, comunidades de cada município e a Eletrobras Eletronorte.

Nos depoimentos das equipes coordenadoras, uma certeza: “Em janeiro de 2011 chegamos a essas comunidades sem nada pronto, sem ne-nhum projeto totalmente elaborado. Não sendo uma coisa imposta, os projetos foram construí-dos ouvindo as comunidades, e de acordo com a aptidão, potencialidade de cada comunidade, comercialização no mercado local e alguns cri-térios básicos como existência de associações comunitárias formais e legalizadas, área pró-

pria, acesso à água e energia elétrica para im-plantação de projetos.

Para Ricardo Brandão, além de promover a inte-gração com as comunidades na área de atuação da Empresa, o projeto promove a inclusão produ-tiva por meio de geração de trabalho e renda. “É gratificante acompanhar a transformação social nas comunidades beneficiadas nos municípios, conseguindo o reconhecimento dessa ação social como dever cumprido e fortalecendo o nome da Eletrobras Eletronorte na região”, afirma.

De acordo com Cynthia Chiarelli, da Assessoria de Responsabilidade Social da Eletrobras Eletro-norte, o projeto está inserido no Planejamento Estratégico 2010-2020 da Empresa, por meio do objetivo de integrar e eficientizar a gestão de programas sociais e ambientais. “Além disso, o Projeto Mandalla está em acordo com a Política de Responsabilidade Social da Eletrobras Eletro-norte e com a Política de Sustentabilidade das Empresas Eletrobras, por meio da promoção do desenvolvimento sustentável nas áreas de con-vivência”, explica. Segundo Cynthia, o grande diferencial do projeto é o caráter sustentável. “Estamos falando de uma iniciativa de inclusão produtiva e transformação social que te todas as condições de ser sustentável”.

“Uma revolução”Para as famílias beneficiadas, é um sonho que vira realidade: mais qualidade de vida em um meio ambiente mais saudável; um trabalho me-nos pesado, sem queimadas na tradicional roça de toco, onde terão a produção de alimentos orgânicos, sem agrotóxicos. “Uma verdadeira revolução”, como as próprias famílias definem.Ao longo de dois anos elas serão acompanhadas

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por uma equipe de técnicos profissionais da Mandalla da Universidade Federal da Paraíba, com quem a agência tem um contrato assinado. O primeiro ano é de aprendizado na Mandalla pedagógica, conhecida também como Mandalla Mãe, que pertence à comunidade. Cada família replica uma Mandalla em sua propriedade. Elas terão o acompanhamento desde a construção do projeto até à comercialização do produto nas feiras. Edmilson Carneiro acredita que o Projeto de Inclusão Produtiva Mandalla deixou de ser um sonho. “Já está se tornando uma realidade, em que o agricultor passa a ser sujeito da mu-dança. Com isso pretendemos erradicar a extre-ma pobreza das comunidades de convivência da Eletrobras Eletronorte no Maranhão, mantendo os agricultores no campo com qualidade de vida”, afirma.

Ainda segundo ele, o sucesso desse trabalho está na metodologia aplicada pela equipe, que combina diagnóstico da realidade social e ins-trumentos de inserção local, e busca o envolvi-mento do poder público, a capacitação e estímu-los para o comprometimento das comunidades.“Por meio do associativismo e de Projetos de

Inclusão Produtiva como o Mandalla, capaz de mobilizar todos os fatores de interesse da coleti-vidade, pretendemos eliminar o subdesenvolvi-mento e a fome das comunidades de convivên-cia”, afirma Roberto Nonato.

A coordenadora do Projeto no Maranhão, Valker Sousa, diz que já é possível comprovar que as comunidades rurais estão sendo fortalecidas. “O Projeto Mandalla está oferecendo melhores condições de vida aos trabalhadores e traba-lhadoras rurais para desenvolver a agricultura familiar, que é uma das metas dos Objetivos do Milênio”, afirma.

O secretário adjunto de Minas e Energia do Esta-do do Maranhão - Seme, Francisco Peres Soares, fez uma visita ao projeto e destacou a susten-tabilidade do Mandalla. “Dentro da visão mais progressista do movimento ambiental mundial, o que se busca são empreendimentos susten-táveis e aqueles que permitem a prosperidade econômica com a inclusão social e a proteção ambiental. A Eletrobras Eletronorte está de pa-rabéns, pois conseguiu implantar um projeto consentâneo com as premissas da Rio + 20 e que

realmente foi apropriado pelas comunidades visitadas em Peritoró e Miranda do Norte”.

Ainda segundo ele, o que se percebe é uma co-munidade envolvida, entusiasmada e, melhor de tudo, que se adotou do projeto sem depen-dência assistencialista. “As pessoas consideram o projeto uma conquista da comunidade, e não um presente. Isso agrega valor social ao projeto que passa a ser construído como uma conquista da comunidade. Vi homens e mulheres, jovens, adultos e idosos trabalhando em multiparcerias institucionais; mas vi em cada semblante a ma-neira diferente que eles olhavam para o que es-tavam construindo, um olhar especial que se vislumbra no dono que aprecia sua proprieda-de”, disse Francisco.

O investimento da Eletrobras Eletronorte é de R$ 265.425,00 durante dois anos. Até agora já foram repassadas uma parcela de R$ 56.017,00 e outra de R$ 44.373,00. Em cada município participam 50 pessoas, acompanhadas de seus familiares. Os resultados esperados incluem a capacitação em técnicas agroecológicas e em-preendedorismo, além da geração de renda, a minimização significativa das situações de vulnerabilidade social e a contribuição para a otimização de processos de combate à fome e à desnutrição.

O diretor de operações da Agência Mandalla, Willmar Cristians, em visita recente a todas as Mandallas do Maranhão, classificou a ação de responsabilidade social da Eletrobras Eletronor-te “como uma grandiosa oportunidade de mu-danças e melhorias para as comunidades aten-didas pelo projeto de desenvolvimento”.

Segundo ele, “as pessoas beneficiadas, suas co-munidades e municípios encontram-se em si-tuação de vulnerabilidade social, com extrema necessidade de receberem de forma prática no-vas alternativas de resgate da dignidade huma-na através do conhecimento em uma ação pro-dutiva como injeção de ânimo”.

“Já estamos colhendo frutos valiosos nessa ação e teremos ainda mais em breve, como garantia da segurança alimentar, geração de renda e sus-tentabilidade por meio da melhoria de qualida-de de vida, melhoria da produtividade econô-mica e melhoria do equilíbrio ambiental, como

uma forma coerente e responsável de realizar projetos sociais com impactos reais”, afirma.

o projetoO projeto tem prazo de execução em 12 meses, período necessário para a formação do alicerce para a consolidação e difusão da metodologia de intervenção social exposta, sendo dividido em três etapas, que são:

Etapa I: Ambiência Processual, preparação de toda a estrutura operacional para a concretiza-ção da presente demanda;

Etapa II: Formação empreendedora, formação específica das famílias objetivando inseri-las no mercado de trabalho como empreendedores por meio da formatação de um plano de negó-cios para cada um dos beneficiados durante o período de treinamento. O esquema de forma-ção para a operacionalização da Tecnologia So-cial Mandalla segue uma lógica de seis ciclos de formação teórico-prático dividido em seis mó-dulos, assim formatados: Módulo I - Filosofia processual, potencial produtivo local, sistema Mandalla; Módulo II - Permacultura (cultura permanente) básica, técnicas de plantio, adu-bação e defensivos orgânicos; Módulo III - Tec-nologias sociais, criação de pequenos animais, negócios sociais produtivos; Módulo IV - Nu-trição básica e alimentação alternativa; Mó-dulo V - Beneficiamento da produção-práticas de fabricação e processamento de alimentos; Módulo VI - Gestão e empreendedorismo social (saber empreender, identificação de oportuni-dades de negócios, noções mercadológicas, no-ções de matemática financeira e fluxo de caixa, gerenciamento de pessoal e gerenciamento de estoque e produção, plano de negócio e linha de financiamento).

Etapa III: Modelagem da formação empreende-dora orientada para a consolidação de negócios sustentáveis – ementa do curso de formação dos beneficiados do projeto em seis módulos. A equipe técnica que está acompanhando o pro-jeto no Maranhão é composta por Willmar Cris-tians dos Santos Pessoa Rodrigues, engenheiro de alimentos; Wagner Ribeiro dos Santos, zoo-tecnista; Manoel Rodrigues de Souza Filho, pe-dagogo e tecnólogo do Mandalla; e Osório Gama Filho, difusor social do Mandalla.

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Byron de quevedo

históriana vida da Eletrobras Eletronorte, os contos e encontros do Grupo Integrado de Transmissão, o GIT

manutenção e expandir os sistemas elétricos eram enormes. Então, em 1978, constatada a necessidade de captação e formação de técnicos para operar e manter os sistemas de transmis-são associados aos de Tucuruí, no Pará, e Cou-to Magalhães, em Mato Grosso, a Eletronorte, apoiada pela Eletrobras, coordenou a estrutura-ção e o planejamento das sete empresas da Hol-ding para a formação desses profissionais.

história - O projeto aconteceu de março/79 a ju-nho/81 para formação de 210 profissionais. Em 1981, com a entrada em operação do sistema de transmissão associado à Hidrelétrica Tucu-ruí, decorrente da interligação com o Sistema Nordeste - e com a decisão pela transferência, a partir de 1º de janeiro de 1983, para a Eletrobras Eletronorte, do sistema de transmissão em 230 kV, responsável pelo abastecimento de parte do Maranhão - a Empresa estruturou e planejou o projeto GIT Maranhão. O objetivo era recrutar, selecionar e capacitar 110 profissionais, especi-ficamente, para manter o sistema de transmis-são do Estado, constituído pelas subestações de 500 kV em Imperatriz, Presidente Dutra e São Luís; uma usina termelétrica; três subestações de 230kV e suas interligações via de linhas de transmissão.

Tuba, Abelha, Orelha, Surubim, Tucunaré, Pi-pão, Fom-fom, Careca, GG, PP, Capitão Caverna, He-Man, Menina Veneno, Bico de Pato, Bolinha, Prefeito Rufino, Pé de Bicho e tantos outros: quem diria que seriam esses os escolhidos entre outros mil candidatos selecionados para com-por o especializado Grupo Integrado de Trans-missão - GIT, que viria revolucionar o sistema

O Projeto GIT Maranhão iniciou no final de 1981 com as atividades de divulgação, no âmbito das Escolas Técnicas Federais do Maranhão e Pará, além de unidades do Exército Brasileiro. O pro-grama formou eletricistas de manutenção de linhas de transmissão; técnicos de manutençãoelétrica de equipamentos, de mecânica, de co-mando de controle e proteção, de telecomunica-ções e os de equipamentos de supervisão.

Os selecionados foram contratados em 1º de fe-vereiro de 1982. Em sua passagem por Brasília, foram recepcionados pelo Cel. Raul Garcia Lha-no, então presidente da Empresa, e seguiram para a Ilha Solteira, em São Paulo, onde, a partir de 8 de fevereiro daquele ano, fizeram seus cur-sos de formação e estágios. Na Ilha, a Compa-nhia Energética de São Paulo - CESP tinha uma usina hidrelétrica, a vila residencial e laborató-rios de engenharia civil e eletromecânica, além do Centro de Treinamento, redes de distribui-ção, de transmissão e hotel. O Centro recebia ainda profissionais do Setor Elétrico brasileiro e da América do Sul, Central e da África.

Trinta anos depois, em São Luís, os chamados gitianos foram homenageados numa cerimônia que teve a presença do diretor-presidente da

interligado de transmissão das regiões norte e nordeste brasileiras?

Eles estiveram em São Luís, no Maranhão, em março deste ano, para comemorar os 30 anos de criação e instalação do GIT. Claro, eles têm seus nomes de batismo e se orgulham deles, mas os apelidos foram elos que os faziam se comunicar, divertir e entender uns aos outros como irmãos - contam eles. É que até os anos 70 as dificulda-des técnicas e administrativas para gerir, dar

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Eletrobras Eletronorte, Josias Matos de Araujo e do diretor de Operação, Wady Charone Júnior. Foram homenageados o engenheiro Alberto deOliveira Messias, que a partir de 1976 trabalhou no desenvolvimento e na concepção dos siste-mas de proteção, controle e comunicação do Sis-tema de Tucuruí e do Sistema de Transmissão Associado; o engenheiro eletricista, Hildergard Santos Araújo, primeiro coordenador do GIT 04/78, em Brasília, e coordenador da Regional do Maranhão; e Marcio Nogueira da Gama, o ge-rente de Operações da empresa, em 1979.

O que não faltou no Encontro dos Gitianos foi his-tória. E com H maiúsculo. “Causos” de um tempo em que tudo começava. E por isso mesmo suas vidas se confundem com a da própria Empresa.

a dança das cadeiras - Messias lembrou fatos hilários dos dias iniciais da Eletronorte, quando ela tinha apenas 100 empregados. “Não tínha-mos 100 cadeiras. Então todos ficavam de olho e, quando um ia viajar ou tirar férias, pegava-se o assento dele. Foram tempos difíceis, mas muito divertidos. Vejo com orgulho o desenvolvimen-

to daquela empresa ainda embrião, chegando até hoje: uma líder em tecnologia, inovação e de alta competência no Setor Elétrico”.

bagageiro de avião - Conta Carlos Magnos Silva que a maioria deles jamais andara de avião. E ao final daquela primeira viagem, no aeroporto de destino, muitos gitianos foram para debai-xo da aeronave, achando que a devolução das bagagens era igual à das estações rodoviárias. Então os rapazes gritavam agitados: “Moço pega a minha maleta, é aquela toda amarradinha de cordão”; “Ei amigo, dá pra pegar aquela sacola alí!?”; “Éééras maninho... Olha lá: tão levando as nossas malas embora no tratorzinho!”. Os an-tigos riam ao ver a ingenuidade daqueles mo-ços com “calça nova de riscado, paletó de linho branco, de sorrisos encantados, com vinte anos de amor...”, como cantava Fagner na canção “As velas do Mucuripe”, daqueles tempos. Aliás, mú-sica da época foi o que não faltou na bem-hu-morada retrospectiva ilustrada com saudosas imagens, exibida pelos apresentadores Alvaro Rainere, Vera Lacerda e Arthur Quirino.

Fala Chefia! - Hildegard Santos Araújo, o primei-ro chefe dos gitianos no Maranhão viera da Ce-

pisa, no Piauí, onde fora o diretor. Na Eletronor-te supervisionava e coordenava o treinamento dos rapazes. “O Setor Elétrico ainda não tinha experiência nesta área. Marcou-me muito ver a ansiedade dos moços por fazer parte daque-la equipe seleta e por estarem ganhando novos ensinamentos. Acompanhei a fase de adaptação deles e vi o esforço que dedicavam para fazerem as coisas como deviam por onde passavam: in-terior de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e, finalmente, no Maranhão. Foi uma etapa dura, mais muito gratificante pelos bons resultados apresentados”. Quebradeira não! - Mas segundo vários gitianos, o chefe Hildegard não era mole não! O Antonio José Setubal que o diga. Passou momentos de aperto na sua gestão. Conta que a cisma do co-ordenador - hoje superada - fora em decorrên-cia de uma saída no final de semana. Setubal conta que bebeu, arranjou encrenca num bar e, na efervescência dos seus vinte e poucos anos, quebrou o local por inteiro. O fato foi comuni-cado pelo proprietário, que foi indenizado. Mas para Hildegard, um homem linha dura, aquilo era inadmissível a um gitiano. Ele queria a de-missão do ‘desacerbado mancebo’. Fez-se uma

comissão que, depois de muitos debates, pon-derou: um homem que a lutar com adversários quebra um bar de rústico mobiliário por intei-ro em decorrência de um rude entrevero, sem dúvida, era dotado de grande força. E mais: se devidamente treinada, aquela energia poderia ser útil nas missões do sistema de transmissão e subestações na floresta amazônica. Antonio safou-se dessa graças também aos muitos ami-gos gitianos a ele solidário. Mas se lamentou de outras bocas maldosas que comentam o ca-minho que Setubal tomaria não fosse a Eletro-norte. “Eu nunca daria este desgosto a minha querida mãezinha que me criou muito bem. Prova disto é que, apesar das rusgas, estou aqui hoje recebendo esta placa de destaque e figu-rando no pelotão elite dos grandes homens do sistema elétrico nacional!”.

Eletrovaquinhas - Wilson Amaro conta que na época das inscrições ele morava em Belém e estudava Eletrotécnica na Escola Técnica Fede-ral do Pará - ETFPa. Para a sua profissão, a sele-ção era em São Luís. “Fiquei sabendo e aí, com dinheiro de uma vaquinha entre colegas, fui me inscrever. Uma semana depois voltei para

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Márcia tauil mostrou seu

talento no Viva a arte

fazer as provas, graças à outra vaquinha entre colegas e parentes ansiosos por me ver entre aqueles eletricitários. Nas etapas seguintes pedi às psicólogas que me deixassem fazer os testes com a turma de Telecomunicações, em Belém, e elas disseram sim. E assim foi. Após três meses de treinamento na Ilha, fomos esta-giar nas regionais da CESP. Em seguida fizemos estágios na Cepisa, em Teresina, com treina-mento sobre o sistema de Proteção e Teleco-municações do Maranhão, nas subestações da Empresa. “Em Vila do Conde, trabalhei com o saudoso presidente Jorge Palmeira, era então engenheiro de manutenção. Com ele apren-di o quanto pesa uma “ampola de injeção de corrente” que me pediu para buscar na sala de comando e desloca-la pelo pátio até a casa de relés. Lá estava eu a arrastar aquela bomba sapo enorme sob um sol escaldante! Mas sin-to-me honrado em ter pagado este mico frente a homens nobres. De repente todo o enorme Sistema de Transmissão estava nas mãos da-queles meninos. Um ano após, apareceu por lá o engenheiro Delcídio do Amaral Gomez e levou boa parte do nosso grupo para fazer o comissionamento da Hidrelétrica Tucuruí. Ele botou a Usina para funcionar e veio a ser um líder importante da Empresa. Depois, muitos gitianos voltaram para suas terras e alguns para outros estados”.

Conexão gitiana - Márcio Nogueira da Gama contou as agruras dos antigos sistemas elé-tricos. “Os da região Sul e sudeste não tinham interligação com o Norte e Nordeste que eram isolados do resto do País. Muitos gitianos se tornaram gerentes e são considerados profis-sionais de primeira linha. A Eletrobras Eletro-norte era nova e mesmo assim teve sucesso com ótimos resultados tornando a conexão dos sistemas uma realidade, com a energia da Hi-drelétrica Tucuruí a fluir para outras regiões. A

carência por profissionais qualificados era tão grande que eles passaram a formar outros téc-nicos.”

Irmãos à obra - Irineu Carneiro referiu-se aos gitianos como verdadeiros irmãos de destino e missão. Disse ele que foram treinados para tra-balhar em harmonia e tratar respeitosamente os companheiros e diretores. “Foram anos de árduo trabalho feito com muito orgulho. Éra-mos jovens e mal nos conhecíamos entrando numa empresa desconhecida. Muitos achavam que íamos para São Paulo tentar a vida como retirantes. Por isso houve lágrimas nossas e dos parentes na partida. Voltamos experientes e querendo trabalhar. Muitos maranhenses pen-savam que éramos uma empresa revendedora de eletrodomésticos. Sou grato a esses queridos irmãos por permitir fazer parte da vida deles e por terem feito parte da minha vida. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria com prazer. Agora vivemos momentos e espaços diferentes, mas gostaria de dar-lhes um grande abraço e um beijo no coração. Seremos sempre vistos como grandes realizadores!.”

amigos para sempre - Orlando Benedito Zarlen-ga, hoje lotado na área de Gestão de Pessoas, diz que a amizade entre os gitianos continua forte. “Foi bom rever aqueles que ajudaram a montar as bases de um sistema sofisticado propiciando o fluxo de energia da matriz elétrica mais limpa e diversificada do mundo. Temos colegas que se casaram quatro vezes. Isto comprova que os so-nhos não têm limites. Há cinco anos encontrei com o saudoso coronel Walter, em Marabá, con-versamos, relembramos o passado, e ele disse: “Olha como esse menino cresceu, tem até auto-móvel!”. Carro era um sonho na época. Trabalho há 43 anos no setor elétrico, mas ainda tenho muito a realizar.”

Venha trabalhar conosco! Jesse Lima de Assun-ção falou como representante da comunidade gitiana. Segundo ele, quando a Eletrobras Ele-tronorte chegou a São Luis, se instalou na Esco-la Técnica Federal do Maranhão, onde estudava. Ela fazia este convite: ‘Venha trabalhar conosco gerando energia!’. A adesão foi enorme. Mui-tos tiraram a sua primeira carteira profissional para ingressar nesse primeiro emprego. Jamais

esqueceremos aqueles que nos receberam para os exames de seleção: Dra. Rosa, Jair e o Ciro.

A viagem para Ilha Solteira foi no sábado do primeiro fim de semana de fevereiro de 1982. Embarcamos num avião da Varig, vindo de Be-lém, que trazia a equipe de manutenção eletrô-nica. Em São Luis embarcaram os treinandos das equipes de manutenção elétrica, mecânica e de proteção. Seguimos para Imperatriz onde embarcaram os eletricistas de linha de trans-missão e fomos para a Ilha Solteira, mas antes fizemos escala em Brasília. Na Empresa nos re-cepcionou o saudoso Coronel Walter, responsá-vel pelos processos de recrutamento e seleção. Recebemos aulas sobre a estrutura da Eletro-norte e as etapas a enfrentar. Durante capaci-tação, nos tornamos amigos dos instrutores e coordenadores e, em especial, do saudoso pro-fessor Orlando Benedito Salem”.

Jesse lembrou ainda as brincadeiras saudáveis, os jogos de futebol no campo da Pousada, o la-zer no clube, a interação com as pessoas da ci-dade, o intercâmbio cultural com o lançamen-to da quadrilha - uma novidade levada pelos gitianos para a Ilha - que, com a chegada deles passou a ter intensa vida cultural. “Mas chegou a hora de voltarmos. Retornarmos repletos de conhecimentos em dezembro de 1982, para o Natal. A partir de janeiro de 1983 fomos dis-tribuídos para as regionais. Hoje a Eletrobras Eletronorte é uma referência nacional em ges-tão. Tucuruí foi reconhecida, no ano passado, com o prêmio máximo da Fundação Nacional da Qualidade, a Empresa conquistou prêmios de consistência em TPM, atribuída a todas as suas regionais”.

Presente do passado - Domingos Silva lembrou os gitianos ausentes ao encontro, por vários motivos, como pessoas queridas eternizadas na

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memória de cada um. O coordenador técnico do Projeto, Tenysson de Matos Andrade - que par-ticipou da capacitação até o encaminhamento dos formandos e execução do projeto nas su-bestações de Pedrinhas, São Luis, Presidente Dutra e Imperatriz - foi lembrado pelo colega Jorge Luiz Furtado da Silva. Ele recordou ainda, com distinção, o copatrocinador do projeto e as-sistente administrativo da Empresa, Carlos Al-berto de Farias de Souza. “Ao constatar o legado deixado para as futuras gerações, parabenizo a esses amigos e diretores do passado pelo inves-timento e pelo belo treinamento ministrado ao grupo.”

Mas Tenysson não só foi lembrado. O coorde-nador fez questão de registrar o orgulho de ter feito parte da história do GIT - Maranhão por meio de uma mensagem enviada ao Grupo. “É hora de curvar-nos aos membros do bem suce-dido projeto de Captação e Capacitação de pro-fissionais que tiveram como missão assumir a manutenção do sistema de transmissão do Maranhão, elo fundamental da interligação do Sistema Norte-Nordeste. (...) Temos o orgulho e a ousadia de dizer que os membros formados pelo Projeto GIT-Maranhão contribuíram, não apenas para melhorar o atendimento à popu-

lação do Estado, não apenas para fortalecer o importante elo de interligação do Sistema Norte-Nordeste, mas sim para acelerar o desen-volvimento do Estado e da Região. (...) Por fim, gostaria de congratular-me e parabenizar todos integrantes dessa equipe vencedora bem como os dirigentes dessa maravilhosa Empresa. Aos dirigentes do passado, pela visão e pelo inves-timento assertivo nesse talentoso grupo e aos Dirigentes atuais, pela grandeza do reconheci-mento prestado a esse grupo”.

Chora neném! Quem leu a matéria até aqui, já sabe que apelidos não faltavam. Wilson Amaro conta que os gitianos o apelidaram de Franklin, mas nunca descobriu o porquê. “Creio que esta deva ser mais uma história do Bolinha, meu amigo do coração e de República, Roberto. Às vezes a saudade de casa era tan-ta que a gente se reunia para chorar. Era triste aquilo, mas agora acho engraçado lembrar da-queles homens fortes a beber e a soluçar. No meu caso, a gratidão a todos é ainda mais for-te. Eu tinha um problema congênito para falar. Os coordenadores licenciaram-me para fazer a operação e o tratamento. Curado, os anos sub-sequentes foram de alegria. Sem as limitações vocais, veio uma nova fase profissional e pes-soal de muito êxito.”

Concessões - Se o encontro foi uma pausa para recordações, também cedeu espaço para pensar nos desafios que vêm pela frente. O gitiano Ja-ckcenildo dos Santos alertou para os novos ce-nários com a questão das concessões.

Encantamento - Para o diretor de Operação da Eletrobras Eletronorte, Wady Charone Junior, os desafios são oportunidades para por em prova a capacidade da Empresa. “Devemos nos orgulhar da nossa trajetória. Mas a história não acaba aqui. A Empresa espera que continuem a con-tribuir com suas ideias inovadoras. Os cenários atuais exigem um renascer. Creio que a manu-tenção das concessões tem de vir acompanhada da compreensão econômica, técnica e financei-ra. A Eletrobras Eletronorte sempre apresenta boas saídas para os problemas e temos tudo para nos tornar uma das melhores empresas do mundo no domínio das tecnologias renováveis para fins de geração de energia elétrica. Vejo as ameaças como cenários de oportunidades. Acre-dito no potencial de todos, como líderes da nova geração. E quando formos comemorar os 40 anos do GIT, verificaremos que todos ajudaram na ab-sorção das mudanças. Além da sustentabilidade empresarial temos a sustentabilidade pessoal. Steve Jobs dizia: “Tenha coragem, siga o seu co-ração, ele sabe o que você realmente quer ser.”

Compositores - Omar Cardoso disse ter ouvido muitas histórias engraçadas dos gitianos. “Es-tivemos em missões para resolver problemas e sempre eles nos ajudaram a ter êxito. Este é o re-conhecimento da Empresa a essas pessoas que construíram suas vidas junto com a história da Empresa. Como diz Almir Sater: “Cada um com-põe a sua história” e eles souberam compor a deles. Chegaram cheios de expectativas e vonta-de de realizar coisas. Imagino o choque cultural das pessoas aqui, saindo do interior do estado e vir a descobrir seus caminhos. Eu entrei pouco depois da formação do GIT, mesmo assim sinto grato em fazer parte desta turma. Mas eles ain-da têm mais histórias pra contar.”

no lugar certo - Mauro Luiz Aquino observou que a Eletronorte proporcionou aos seus em-pregados equilíbrio e foi generosa. “Creio que certas coisas nos são determinadas. Estamos num lugar diferenciado. Muitas pessoas com competência e merecimento perdem oportu-nidades por não ter a sorte de estar no lugar certo, na hora certa. Esta precisão, envolvendo hora e locais certos, aconteceu para nós quando ingressamos na Empresa. Imagino a vida como um rio de correnteza forte. Temos que fazer for-

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ça para avançar. O universo conspirou a nosso favor, mas desempenhamos bem a nossa parte, prova disto é esta bela homenagem.”

Sem dúvida, o que este repórter presenciou foi um belo reviver de experiências. Muitos fo-ram vistos ainda abraçados, a contar casos e às gargalhadas lá pela madrugada, em frente ao Litorânea Praia Hotel. Ouviam-se ainda na-quelas cabanas praianas frases de uma canção vitoriosa, com acordes fora do tom de vozes emocionadas, mas em perfeita sintonia com a alegria do reencontro e a certeza de terem vivi-do vidas úteis para si, para a suas famílias, suas cidades e para o País: “Valeu a pena, êh, êh; valeu a pena êh, êh”, cantarolavam eles aos sete ventos.

Talento não é tudoO diretor-presidente Josias Matos de Arau-jo (foto ao lad0), que também está che-gando aos 30 anos de Empresa, brindou os gitianos com discur-so emocionado. Ele felicitou os homena-geados do evento, o engenheiro Márcio Nogueira, cuja missão era visitar as regio-nais e acompanhar o andamento dos trabalhos; Alberto de Oliveira Messias, o chefe de Departa-mento visionário, que na época idealizou a rede interligada entre os equipamentos de informática; e Hidelgardo Santos, que conviveu diariamente com os novos profissionais.

Josias disse que “a esses homens de braços fir-mes foi destinada a tarefa de carregar muitos fardos para que a Empresa cumprisse as suas metas. Naquela época trabalhávamos com equipamentos rudimentares, mas aprendi muita coisa. As nossas notas eram rodadas no

mimeógrafo. Evoluímos muito em 30 anos. O Zarlenga, por exemplo, pode ser chamado de um filho da Belle Époque, pois tem mais de 40 anos de profissão. Somos da época iniciada nos anos 80, com outro estilo. Hoje geramos filhos da chamada geração X e esses têm filhos de ge-ração Y. E começaram a chegar os filhos de ge-ração Z, uma geração que já nasce dentro da in-clusão digital e manipulando tablets. Tivemos que nos adaptar aos novos tempos. Nascemos no final de um século e início de outro e vimos tudo surgir: a televisão, telex, telefone, compu-tadores, celulares, microcomputadores, tablets. E como será a vida daqui a 10 anos?”.

O Presidente ganhou de Carlos Magno o livro “Talento não é Tudo”, de onde ex-traiu trechos marcan-tes. “Às vezes aquele esquecido, o isolado pelos colegas, conse-gue ir muito além. A vida não é feita só de conhecimentos. Ela é feita de sabedoria. Temos que aprovei-tar cada momento da vida para aprender. Vejam esta frase: ‘A vida é uma bicicleta de 10 marchas, e tem marcha que nunca usamos’. Quantas coi-sas temos na cabeça e jamais as explora-mos? Outra mensa-gem sobre a qual vale a pena pensar: ‘Se você acredita ser um derrotado, você é! Se

você gostaria de vencer, mas acha que não pode, é quase certo que não vencerá’. As batalhas da vida nem sempre são do homem mais forte ou mais rápido. Quem vence é quem pensa que pode”. Não se intimide, não desista na primeira dificuldade, avance. Sozinho, ninguém faz nada. Dependemos de todos. E cada um deixa o seu legado. Os gitianos deixam um grande legado para a Eletrobras Eletronorte e para a posterida-de, com benefícios para os nossos filhos, netos e para os novos colegas. Enfim, fizeram história”.

Henrique Santos Gomes, o gitiano inventor

Há trinta anos, nem tudo era perfeito e pronto para funcionar. As condições do solo, umidade, a incidência solar, o calor, a precária refrigeração das máquinas e outras intempéries demanda-ram que os técnicos readequassem várias fer-ramentas e equipamentos para as condições de trabalho brasileiras. E por incrível que pareça,

inventos simples evitaram muitos danos ao sis-tema e uma significativa economia de recursos. A questão que se impunha era: como resolver urgentemente determinado problema técnico? Foi nesse sentido que os inventores da Casa for-maram os pilares de uma história de vitórias contra limitações de toda espécie. Sem dúvida, Henrique Santos Gomes (ao lado), hoje na Divi-são de Transmissão de São Luis II foi, entre ou-tros notáveis inventores gitianos, um dos pro-motores de melhorias que estão aí para ajudar a manter os equipamentos do sofisticado parque tecnológico interligado.

Um dos inventos de Henrique: a Cames de seccionadora de 230 KV e de 500Kv FAB - Lo-renzetti e Alface, instaladas na Regional do Maranhão, apresentavam constantes falhas durante as manobras remotas de abertura e fe-chamento, sendo necessário a intervenção ma-nual do operador da subestação para finalizar a manobra do fechamento ou abertura dessas chaves. Em seguida, a equipe de manutenção vinha para resolver o problema. Assim as sec-cionadoras sempre tinham o mesmo ciclo: de-pois de consertadas, funcionavam por algum tempo e tornavam a dar o mesmo defeito. Ou seja, o dispositivo de acionamento formado por um conjunto de contatos NA e NF aciona-do por Cames, sempre quebravam por fadiga do material. Cansado dessa rotina de danos, o gitiano inventor percebeu que os Cames eram feitos com um material plástico muito vulne-rável. Decidiu então fazer uma melhoria subs-tituindo o material tradicional por Cames de alumínio fundido, o que aumentou a vida útil do componente. A experiência deu certo, e pas-sou a ser utilizado em todas as seccionadoras com este tipo de dispositivo. Com essa melho-ria, eliminou-se a indisponibilidade das seccio-nadoras, reduzindo o tempo de manobra pela operação e os diversos retrabalhos da equipe de manutenção.

“Importante também foi o envolvimento da minha família na fabricação do invento. A pe-quena fábrica gerou emprego, na própria resi-dência, para o meu pai e para o meu irmão, pro-porcionado o aumento da renda familiar, além da satisfação de ver algo criado e feito por nós sendo aplicado, com sucesso, em equipamentos de alta sofisticação. Até hoje ainda recebo enco-menda para resolver esse problema específico”.

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Um trajeto que precisaria de 16 caminhões - do Porto de Vila de Conde, em Barcarena, até Parauapebas - caiu de 874 km para 165 km de estrada

Eclusas de Tucuruí geram economia de tempo e recursos

Por césar Fechine

Infraestrutura

Passa um pouco das 9 horas da manhã de uma segunda-feira quando começa a transposição das eclusas de Tucuruí, no Pará, com equipa-mentos da Vale. Depois de chegar à eclusa 2, uma balsa de 70 metros de comprimento, com 425 toneladas de equipamentos, é elevada por um volume de aproximadamente 246.000 m³ de água que enche a câmara ao nível do Rio Tocan-tins até à cota de 38 metros do canal interme-diário. Saindo da eclusa 2, a balsa é conduzida por um empurrador até a eclusa 1, que receberá 250.000 m³ de água para elevar a embarcação até à cota de 74 metros do reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) Tucuruí, numa operação que leva cerca de duas horas.

A transposição inédita com equipamentos da Vale pelas eclusas de Tucuruí – as maiores do Brasil, e que integram a hidrovia Tocantins-Ara-guaia, foi realizada em março com 10 básculas, caçambas usadas em caminhões fora de estrada para retirar o minério das minas. As caçambas foram produzidas no Chile e transportadas por navio até o porto de Belém (PA). O destino, após a transposição, foi a cidade de Marabá. As ca-çambas são utilizadas no transporte de minério de ferro e compõem caminhões enormes, com pneus de até 3,8 metros de diâmetro.

A estreia desse tipo de transporte hidroviário pela Vale abre novas perspectivas de logística

para a região amazônica, além de ser ecologica-mente mais eficiente ao reduzir o número de ve-ículos em circulação pelas estradas, diminuindo em cerca de 30% o tempo e os custos do trajeto. A etapa seguinte do trajeto foi feito por terra até Parauapebas, na Serra dos Carajás.

No modelo tradicional usado pela Vale, as car-gas chegam no Terminal de Vila do Conde, em Barcarena, e são transferidas por intermédio do modal rodoviário e distribuídas para as ope-rações da empresa, nas cidades do sudeste pa-raense. A alternativa vai atender, no futuro, às obras de construção da Aços Laminados do Pará - Alpa, siderúrgica que está sendo construída pela empresa em Marabá.

Com a utilização da nova logística, incluindo a hidrovia, o trajeto para o transporte da carga, que precisaria de 16 caminhões para levar os equipamentos do Porto de Vila de Conde, em Barcarena, até Parauapebas, caiu de 874 km para 165 km de estrada. Com isso, deixou-se de emitir 82 toneladas de gás carbônico na atmos-fera, o equivalente ao plantio de cerca de 520 árvores.

De acordo com o gerente-geral de Comércio Ex-terior da Vale, Ângelo Donaggio, esta alternativa logística para a região sudeste do Pará represen-ta um grande salto de qualidade do transporte, conciliando o binômio custo x beneficio. “O mo-delo de transporte proposto é ecologicamente

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mais limpo, logisticamente mais rápido, eco-nomicamente mais viável e operacionalmente mais seguro”, analisa.

A nova rota de transporte configura-se como al-ternativa ao escoamento da produção e de insu-mos para toda a região. O modelo de transporte hidroviário também favorece a contratação de serviços especializados locais, incentivando o desenvolvimento de novos fornecedores na re-gião.

Para realizar a viagem pioneira do transporte, a Vale contratou os serviços da balsa e do empur-rador da empresa Matapi Navegação Ltda, que tem sede no Pará. Com o sucesso da operação pi-loto, a Vale pretende dar prosseguimento ao transporte de carga para o interior do Pará usando essa nova modalidade logística.

Capacidade

O mesmo comboio que levou os equipa-mentos retornou a Belém com 2 mil to-neladas de ferro-gusa. A Vale, maior mineradora do mundo em produ-ção de minério de ferro, já havia feito outra transposição com empregados que estavam traba-

lhando na batimetria (estudos da topografia e profundidade) do Rio Tocantins, entre a Usina Hidrelétrica de Tucuruí e Marabá.

Esses estudos são essenciais para compor a car-ta náutica do Rio Tocantins, com informações sobre os bancos de areia, que podem mudar de posição com a velocidade da água e interferir na profundidade dos canais de navegação. Ou-tras informações que devem constar da carta náutica são a profundidade do Rio, localização de trechos rochosos, como deverá ser o siste-ma de balizamento, locais de implantação das boias de sinalização e até que época do ano o transporte pode ser realizado sem risco para as embarcações.

A Eletrobras Eletronorte é a empresa res-ponsável pela operação e manutenção das

eclusas de Tucuruí desde o dia 1º de julho de 2011, quando houve a primeira trans-posição e começou a operação comercial,

após a assinatura de um contrato com o Departamento Nacional de

Infraestrutura de Transportes - Dnit.

A Companhia Siderúrgica do Pará - Cosipar, que fez a primeira exportação de

ferro-gusa durante a inauguração das eclusas de Tucuruí, utilizando embarcações da empre-sa de logística MC Log, é outra empresa que tem utilizado com regularidade as eclusas de Tucuruí.

A Cosipar, que já investiu mais de U$ 50 mi-lhões, em parceria com o BNDES, na construção de três empurradores, um guindaste flutuante e 18 novas barcas para exportação de produtos, fez a maior transposição das eclusas de Tucuruí ao transportar 4.800 toneladas de ferro gusa.

“Com 210 metros de comprimento, por 33 de largura, as eclusas de Tucuruí comportam com-boios de até 200 metros de comprimento por 32 de largura. A capacidade de carga de cada com-boio é de 19.100 toneladas, com uma capacidade efetiva estimada em 40 milhões de toneladas por ano”, informa Carlos Augusto Gil (na página ao lado), gerente do Se-tor de Operação e Manutenção das Eclusas de Tucuruí.

Gil faz parte do Comitê Técnico da Hidrovia Araguaia-Tocantins, que integra diversos órgãos, tais como Agência Nacional de Águas - ANA, Agência Nacional de Transportes

Aquaviários - Antaq, Administração das Hidro-vias da Amazônia Oriental - Ahimor, Marinha do Brasil e Departamento Nacional de Trans-portes - Dnit. As reuniões do Comitê são reali-zadas a cada 90 dias, ou menos, se necessário, para debater os problemas que eventualmen-te ocorrem na hidrovia e assuntos relativos às transposições.

“A hidrovia Tocantins-Araguaia, quando imple-mentada em sua plenitude, será uma hidrovia estruturante porque possibilitará o transporte de produtos desde a Amazônia e da região cen-tral do País até o oceano”, informa Adalberto Tokarski (abaixo), superintendente de Navega-

ção Interior da Antaq.

Nesse contexto, a cidade de Ma-rabá será um polo importante de apoio e logística. “Os estudos do Plano Nacional de Integração Hi-droviária mostram que um volume significativo de cargas, como grãos e minérios, poderá sair de Marabá para exportação, com a distribui-ção feita por rodovias e ferrovias a partir dali para o interior do País”, acrescenta Tokarski.

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Marinha

Pesando 105 toneladas, com 30 metros de com-primento e 12 de largura, o Navio-Patrulha Pa-rati (P-13) foi a primeira embarcação da Mari-nha do Brasil a fazer a transposição das Eclusas de Tucuruí, levando 27 tripulantes a bordo.

Um dos objetivos principais da transposição foi a fiscalização aquaviária no sentido de Belém a Marabá. “O propósito da missão da Patrulha Naval Tocantins foi implementar e fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos de águas jurisdicionais brasileiras, contribuir para a sal-vaguarda da vida humana e garantir a seguran-ça da navegação aquaviária”, explica o Capitão--Tenente Albino, Comandante do P-13.

Ainda segundo o Capitão-Tenente, também fi-zeram parte da missão “a prevenção da polui-ção ambiental e o apoio à campanha contra o escalpelamento com a colocação de coberturas de eixos e de volantes nas embarcações irregu-lares que navegam no Rio Tocantins”.

Logo após a inauguração das eclusas, a Marinha também participou do treinamento para os opera-dores das eclusas. Na ocasião, 70 marinheiros com mais experiência em navegação na região recebe-ram informações para ajudar a população ribeiri-nha e dar apoio durante o processo de eclusagem.

derrocamento

O governo federal irá retomar as obras de der-rocamento (destruição de pedras e rochas sub-mersas) que impedem a plena navegação na região do chamado Pedral do Lourenço, à mon-tante das eclusas de Tucuruí, no Rio Tocantins. As obras são necessárias para viabilizar a Hidro-via Araguaia-Tocantins, que fica condicionada ao período conhecido por “inverno amazônico”, quando as águas dos rios sobem com o volume das chuvas na região. Fora desse período, a nave-gabilidade de grandes comboios de cargas pelo Rio Tocantins fica restrita em função da quan-tidade de rochas que impedem a passagem de grandes embarcações.

O anúncio do investimento foi feito numa reu-nião da ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, no Senado Federal, em Brasília. A elaboração do projeto-executivo do derrocamento do Rio Tocantins está sob a res-ponsabilidade do Dnit.

A plena viabilização da hidrovia vai agilizar o transporte de grandes cargas, que poderão ser levadas ao porto de Belém, gerando também economia com a queima de combustível fóssil que seria utilizado em veículos por terra, aju-dando a preservar o meio ambiente com a redu-ção da emissão de dióxido de carbono.

Rio + 20 promove a consciência ambiental. E basta

o que podemos fazer em 20 anos

alexandre accioly

o tempo - Observando meu filho debruçado so-bre um livro de direito constitucional, estudan-do para trabalhar, me vem à lembrança não so-mente o que ensinei a ele nos seus 20 anos, mas também o que aprendi na minha vida inteira em nossos lares, as lições da mãe, do pai e dos avós. Coisas simples, mas que ficam por toda a nossa existência aqui na Terra.

Isso me ocorreu ao verificar a singela, mas signi-ficativa coincidência: em maio de 1992, quando ele tinha apenas 15 dias de vida, fui designado para cobrir a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, na cidade do Rio de Janeiro, que depois ficou conhecida como Rio-92. Os efeitos da relação do homem com a natureza já haviam sido tema da Conferência de Estocolmo, realizada na Suécia, também 20 anos antes, em 1972.

Agora, duas décadas depois de o meu filho nas-cer, eu estava reportando as notícias dos vários ambientes da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, realizada no mês de junho deste ano. Uma con-dição excepcional, do ponto de vista profissio-nal, para um jornalista.

As comparações foram inevitáveis: o que fize-mos nesses 20 anos? O que mudou? Nós mu-damos? Que lições ficaram? Bem, para começar

vivíamos sem quase nenhuma tecnologia atual de comunicação virtual e instantânea. Não ha-via telefones celulares, apenas fixos e orelhões; nem internet - pouquíssimos e paquidérmicos computadores; o envio de informações se dava pelo fax, o telefone fixo e o prosaico telex. Textos batidos à máquina. Nem o termo ‘digitar’ exis-tia. Isso apenas para ficar no campo da comu-nicação. Já as pessoas mudaram de forma diferente. Não avançaram tão rápido em determinadas ques-tões, noutras até regrediram e, em algumas, fo-ram longe. Entre as percepções daquele e deste tempo, me parece que, em 1992, os participan-tes da conferência oficial se comportaram qua-se exatamente iguais aos de agora, lideranças comprometidas com suas políticas e seus pla-nejamentos.

A lição que ficou a um tempo e outro é aquela familiar, reforçada nas salas de aula do chama-do, no meu tempo, de ensino primário: temos que preservar a natureza e para isso precisamos cuidar dela sem descuidar de nós mesmos.

o espaço - A cidade do Rio de Janeiro acolheu a Rio + 20 com hospitalidade, paciência e o cenário deslumbrante que elevou a capital à condição de patrimônio da humanidade dias depois do tér-mino da Conferência. O trânsito, sempre compli-cado, até que fluiu bem nos dez dias em que cer-ca de 100 mil pessoas se deslocaram para lugares

Diário Repórter

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distantes como o Riocentro e o Parque dos Atle-tas; ou mais centrais, como o Aterro do Flamen-go, o Forte de Copacabana e o Píer Mauá. Nossa reportagem também se pautou nesse circuito.

O ponto mais que comum nas discussões que ocorreram nesses diversos ambientes foi a defe-sa que cada um fez do seu próprio espaço. Cada país preocupado com as suas desigualdades in-ternas; alguns pedindo socorro, outros negando ajudar. Os ecologistas delimitando a natureza e oferecendo poucas opções de harmonia entre a preservação e a exploração sustentável. E a in-defectível expressão “desenvolvimento susten-tável” servindo de apoio às teses de cada um. Lá fora, o espaço Terra aguardava.

Dois espaços especiais merecem palavras difí-ceis de encontrar: as exposições Cerrado, de Si-ron Franco, montada no Museu de Arte Moder-na - MAM; e a exposição Humanidade 2012, de Bia Lessa, edificada no Forte de Copacabana.

Os espaços sensoriais dos ambientes das duas mostras permitem momentos de reencontros - às vezes com o nosso ‘eu’; outras, coletivos. Uma vez compartilhados, o que ficou foi a vivência de uma arte tão impactante, tão formadora de uma nova consciência, um imaginário coletivo e democrático.

Mas o espaço que pulsava vivo e lindo era mes-mo o cenário do Rio de Janeiro, que mostrou a evolução possível em duas décadas. A educação ambiental é um exemplo. Ainda tímida nos cur-rículos escolares, mas já responsável por atitu-des mais dignas hoje, como reciclar o lixo. Em 1992 nós não reciclávamos sequer as latinhas de alumínio. Não tínhamos quase nenhuma consciência ambiental.

As crianças que visitaram os espaços feéricos de Siron e Bia certamente serão muito mais respon-sáveis por seu papel cidadão; no cuidado com a limpeza das cidades, por exemplo. A atitude sus-tentável assume a condição de legado valioso.

a ideologia - Como conciliar as línguas, as lin-guagens, as mensagens na babilônia da Rio + 20? Não há conciliação. Não é possível de ela acontecer pelo simples fato de que não existiu, em nenhum daqueles amplos espaços de deba-tes, informação suficiente para esclarecer os fa-

tos, demonstrar as verdades, educar as gerações. Como podem algumas entidades condenar o Brasil e a expansão dos seus recursos hídricos sem olhar para a base energética poluidora dos seus países de origem? Ou como podem ignorar a destruição frenética do cerrado e da caatinga, deixando somente a Amazônia no pedestal da preservação?

As ideologias autocráticas permeadas nos dis-cursos oficiais e paralelos da Rio + 20 não pas-saram apenas pela Cúpula dos Povos. Na Rio 92,

ali mesmo no Aterro do Flamengo, foi montado o Fórum Global, inversamente menos circense e muito mais crítico e sério nas defesas apresen-tadas e mensagens difundidas.

Foi fácil verificar nessas falas todas que ainda faltam esclarecimentos verdadeiros para que se possa vislumbrar uma ponta de esperança na formação de uma pessoa, na construção de uma cidade, na preservação de uma floresta, na exploração de um rio. O que se forma, ao final, é uma geleia disforme, que apesar de se expandir, já não se sustenta.

a energia – A energia foi o tema dominante na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável. Não poderia ser diferente pelo ób-vio. Somente com acesso à eletricidade é possí-vel erradicar os bolsões de pobreza em qualquer lugar do planeta. A guerra é velha e assim ain-da será por muitos anos: o sonho do homem em substituir combustíveis fósseis por fontes reno-váveis e mais limpas. O fato é que nenhum país abre mão de suas reservas petrolíferas e ninguém está absolutamente interessado se as mulheres africanas estão morrendo por conta da lenha usa-da para cozinhar.

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É sempre bom lembrar que para comer e beber, ou seja, para sobreviver, o homem barra os rios desde que as tribos formadoras da civilização moderna se instalaram na Mesopotâmia. Água barrada, muito antes de gerar energia elétrica, gerava o alimento irrigado e a sede matada. En-tão há que se ensinar como funciona uma hi-drelétrica, quais benefícios vêm junto da ener-gia. Uma barragem, antes de tudo, é uma caixa d’água, e nós vamos precisar muito dessas re-servas no futuro. No Planalto Central, no cerra-do, nas chapadas, nascem os rios, mas ninguém nunca viu uma sigla ecológica fincar a bandeira em uma nascente. Curioso.

Mas, nos Diálogos para o Desenvolvimento Sus-tentável, foi apresentado o tema Energia Susten-tável para Todos. Das dez sugestões iniciais, os painelistas escolherem três: acessibilidade, efi-ciência e substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis, com o fim dos subsídios ao petróleo e seus derivados. No documento final - O Futuro que Queremos- o foco principal ficou mesmo na acessibilidade, para tirar da escuri-dão, sem metas e recursos financeiros definidos, alguns bilhões de seres humanos. O fim dos sub-sídios simplesmente foi ignorado no texto final.

Poderíamos dar um recado: sigam o modelo bra-sileiro! Afinal, olhando esse quadro lembramos imediatamente do Programa Luz para Todos, um dos mais bem sucedidos projetos de inclu-são elétrica, que já deu acesso à eletricidade a mais de 14 milhões de brasileiros; a tecnologia do etanol como o mais eficiente biocombustí-vel; e o Programa Nacional de Conservação de

Energia – Procel, que educa as crianças na escola para diminuir o consumo de energia elétrica e premia equipamentos eficientes.

o futuro – Sustentabilidade, economia verde, desenvolvimento sustentável, fontes renová-veis, erradicação da pobreza, tecnologia, ino-vação, governança ambiental, crise econômica, salve a Amazônia. Seria uma dessas expressões ou o conjunto delas o futuro que queremos?

O discurso ambientalista parece que perdeu fô-lego, seja do lado dos ativistas ambientais e até mesmo dos cientistas, seja do lado dos políticos e empresários. Não é possível mais acreditar no im-possível, no improvável, na mistificação do pre-servacionismo e até mesmo da sustentabilidade.

Quais os interesses envolvidos nas palavras de ordem, de uma nova ‘nova ordem mundial’? Tal-vez essa mensagem deformada acabe por impe-dir o futuro que queremos, não levando a uma congregação de valores que eventualmente po-deria mover o mundo em outra direção.

Da mesma forma, talvez um novo e revigorado processo de educação possa reformar essa bolha deformada, redespertar nas pessoas, nos gover-nos, nas empresas, um pensamento único que leve à preservação da humanidade sem esgotar os recursos naturais. Nesse sentido, há que se ter um compromisso com o conhecimento, com a inovação tecnológica.

É preciso refocar as nossas reais e mais imedia-tas necessidades de sobrevivência, de saúde. O Brasil acaba de desenvolver uma vacina para a malária. Que efeito isso terá em tantas popula-

ções que habitam a faixa tropical do planeta? Garantir água limpa para todos? Energia elé-trica para todos? São efeitos incomensuráveis, mas não inimagináveis.

Volto os olhos pra o meu filho de 20 anos. O fu-turo que ele quer é o mesmo que eu quis, que um africano ou um japonês quer. O desejo co-mum é permanecer vivo. Nesse momento ouço na memória, na voz de minha avó, aquele re-cado sustentável: apaga a luz, fecha a torneira, desliga o gás, tranca a porta!

Memórias de uma liçãoabandonar reservatórios é a saída? - Adriano Pi-res (veja entrevista nesta edição) e Abel Holtz, do Comitê Brasileiro de Infraestrutura – CBIE, dis-seminam nos corredores da Rio + 20 uma publi-cação onde expõem temas polêmicos e sugerem melhorias para cada um deles. Por exemplo, em relação aos reservatórios: “A perda de capaci-dade de regularização das hidrelétricas precisa ser compreendida e debatida entre os membros da sociedade, para que seja possível analisar se a mudança no reservatório de acumulação das usinas deve ser considerada somente em função dos impactos ambientais, sem levar em conside-ração os custos e a perda da capacidade de fir-mar energia do SIN”.

Na sala de entrevistas coletivas, a Parceria Po-breza e Ambiente, uma rede bilateral de agên-cias de suporte, bancos de desenvolvimento, agências da ONU e ONGs internacionais, afir-ma que “uma transição à economia verde po-deria retirar milhões de pessoas da pobreza e mudar o sustento de muitas das 1,3 bilhão de

pessoas que ganham apenas US$ 1,25 por dia no mundo inteiro”.

A afirmação consta do relatório Construindo uma Economia Verde Inclusiva para Todos, que cita exemplos de países em desenvolvimento que estão mudando para uma economia verde de forma bem-sucedida. No setor de energia, por exemplo, a Etiópia está desenvolvendo seis projetos de energia eólica e um projeto geotér-mico, os quais aumentarão a capacidade do país em mais de 1.000 MW. A Mongólia está cons-truindo seu primeiro parque eólico de 50 MW, que deve gerar uma potência estimada em 5% da energia demandada pelo país.

Complementaridade de fontes - A condição atual do Brasil de construir usinas hidrelétricas sem reservatórios marcou as apresentações do pai-nel Energia e Desenvolvimento Sustentável, in-termediada pelo secretário-executivo do Minis-tério de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, segundo o qual, os demais países já exploraram 100% do seu potencial hidrelétrico e o fizeram antes de implementar novas fontes, e que, ago-ra, o Brasil segue o mesmo caminho.

“Só exploramos 33% do nosso potencial hidre-létrico e nas regiões onde fizemos isso primeiro, vimos crescer o desenvolvimento socioeconô-mico. Estamos evoluindo no conceito entre a preservação ambiental e a tecnologia de cons-trução de hidrelétricas e estudando as matrizes eólica e de biocombustíveis para a complemen-taridade da nossa demanda energética, prin-cipalmente face à implantação de usinas sem reservatórios”.

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Nivalde de Castro, professor do Gesel/UFRJ, apresentou dados que confirmam o Brasil como o País com maior capacidade instalada de ener-gia hidrelétrica e criticou a construção de usi-nas a fio d’água, uma vez que 88% da demanda atual é atendida por essa fonte. “Em cem anos construímos 972 hidrelétricas, com uma capa-cidade de geração de 82,5 GW. Mas, hoje, vemos que até 2020 vamos aumentar nossa capaci-dade instalada em 66%, mas apenas 11% da capacidade de regularização dos reservatórios. A complementaridade certamente se dará pela energia eólica, pela biomassa e, infelizmente, também pelas termelétricas”.

Presente ao painel, o diretor-presidente da Ele-trobras Eletronorte, Josias Matos de Araujo (foto abaixo), afirmou que a tônica do debate foi a questão da plurianuidade dos reservatórios hi-drelétricos. “Com as novas questões ambientais estamos cada vez mais complementando a ge-ração com outras fontes de energia para atender ao crescimento da demanda. No passado, tínha-mos grandes reservatórios com capacidade para gerar o ano todo, mas hoje, depois do período de cheias, temos que gerar menos energia nas no-vas hidrelétricas. Para garantir a matriz limpa, precisamos complementar com fontes também limpas e aí reside um grande desafio para as em-presas Eletrobras e para o governo brasileiro”.

a cúpula da pluralidade - Tem início a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio + 20, que reu-niu movimentos sociais e alternativos como um contraponto ao evento oficial. Na abertura, cha-

mou a atenção a tenda do Acampamento Terra Livre, de várias etnias indígenas lideradas por organizações que defendem o direito dos índios no continente sul-americano. A líder Sônia Gua-jajara abriu uma concorrida coletiva de impren-sa, falando em nome da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – Apib.

Para ela, “a Cúpula dos Povos é uma oportuni-dade para demonstrar que os povos indígenas são a verdadeira referência de uma ‘economia verde’, por ter suas terras entre as mais preser-vadas e pelo modo de vida, que busca o equilí-brio total com a natureza e o meio ambiente”. A chamada “economia verde” teve a rejeição unânime entre as lideranças indígenas, como também o modelo econômico e político que os governos das América Latina, segundo eles, es-tariam praticando.

Outro evento paralelo à Conferência da ONU foi a Pop Ciências, que recebeu milhares de es-tudantes no Píer Mauá, reunindo mais de 30 instituições de ensino e pesquisa em ambientes dinâmicos e interativos, com atividades muito interessantes.

No tema energia, a Universidade Federal de San-ta Catarina - UFSC despertou a curiosidade dos visitantes com o barco solar, projeto apoiado pela Eletrobras. Desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da UFSC, e chamado de “Energia solar fotovoltaica aplicada ao trans-porte e a atividades produtivas na Amazônia”. O projeto selecionou a comunidade ribeirinha San-ta Rosa, nas proximidades de Belém (PA), como local para instalação de um sistema solar foto-voltaico com potência de cerca de 20 kW, com-posto por um subsistema fixo e outro móvel.

O fixo será instalado nas margens do rio junto à comunidade ribeirinha para acionar equipa-mentos de fabricação de gelo e de purificação de água. O móvel será incorporado a uma embar-cação fluvial, com sistema de propulsão elétrico e servirá, principalmente, para buscar e levar as crianças à escola. O barco solar tem capacidade para 22 pessoas sentadas.

Inovação a serviço da energia - Energia foi o tema dominante em todas as discussões nos vários ambientes da Rio + 20. No Parque dos Atletas, onde ficaram as exposições dos países, estados

brasileiros, empresas e instituições de pesquisa, um estande se destacou na questão energética ao apresentar soluções inovadoras: o da Coppe/UFRJ, maior centro de ensino e pesquisa de en-genharia da América Latina.

São tecnologias inovadoras que incluem alterna-tivas mais eficientes para a mobilidade nas gran-des cidades, a produção de energia a partir das

ondas do mar, o reaproveitamento de resíduos agrícolas, industriais e urbanos para a produção de biocombustíveis e biomateriais, entre outras.

A primeira usina da América Latina que utiliza o movimento das ondas para produzir energia elétrica, por exemplo, está instalada no porto de Pecém (CE). O diferencial da tecnologia da Co-ppe/UFRJ é o uso de um sistema de alta pressão

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para movimentar a turbina e o gerador. O con-junto completo consiste em um flutuador e um braço mecânico que, movimentados pelas on-das, acionam uma bomba para pressurizar água doce e armazená-la num acumulador conectado a uma câmara hiperbárica. A água altamente pressurizada forma um jato que movimenta a turbina que, por sua vez, acinar o gerador de ele-tricidade.

autonomia e exemplo indígena - No estande da Eletrobras houve duas palestras de técnicos da Eletrobras Eletronorte. A analista ambiental Silviani Froelich e o o indigenista José Porfírio Carvalho, falaram sobre os programas sociais da Usina Hidrelétrica Tucuruí e do Programa Wai-miri Atroari, respectivamente.

Silviani começou sua apresentação com dados gerais sobre a Usina Hidrelétrica Tucuruí, em con-traponto ao contexto ambiental da época, na dé-cada de 1970. Citou, por exemplo, que mesmo sem uma legislação ambiental a Eletrobras Eletronor-te contratou, em 1977, o Relatório Goodland, que recomendou as primeiras ações mitigadoras dos impactos ambientais provocados pela obra e que foram implementadas pela Empresa, resultando em um plano de controle ambiental, então inédi-to no País e no Setor Elétrico brasileiro.

O tema principal de sua palestra foram os pro-gramas sociais desenvolvidos a partir da cons-trução da segunda etapa da Usina. O Plano de Desenvolvimento Sustentável a partir de ações de inserção regional prevê investimentos, pela Eletrobras Eletronorte, da ordem de R$ 200 mi-lhões para os municípios situados a montante

da barragem e de R$ 160 milhões para as ci-dades de jusante, num período de 20 anos. Até 2010 já foram investidos R$ 130 milhões nos dois projetos denominados Pirtuc e Pirjus (ver matéria na página 61).

Silviani (acima à direita) descreveu a situação da região antes da construção da Hidrelétrica, apresentando fotos antigas e atuais para de-monstrar o crescimento das cidades do entorno. Citou, por exemplo, que a cidade de Tucuruí é responsável por 60% do PIB regional e teve sua população aumentanda em nove vezes entre 1970 e 2012, saindo de dez mil habitantes para 97 mil.

O indigenista Porfírio Carvalho (acima à es-querda) apresentou o programa indígena Wai-miri Atroari, desenvolvido há 24 anos pela Eletrobras Eletronorte e Funai. Começou sua apresentação situando a história dessa etnia desde os primeiros contatos, na década de 1960, quando somavam cerca de duas mil pessoas, reduzidas a 374 em 1986 e hoje contando com 1.542 índios.

Segundo ele, os Waimiri Atroari voltaram a vi-ver, hoje, exatamente como viviam há cente-nas de anos, se alimentando da mesma forma e mantendo seus rituais como sempre foram. Carvalho ressaltou que não foi apenas a Usina Hidrelétrica Balbina, cujo lago inundou cerca de 30 mil hectares da terra indígena que im-pactou essa comunidade, mas principalmente a construção da BR-174 e a mineração Taboca. Esta última invadiu 526 mil ha da terra, inclusi-ve construindo uma hidrelétrica própria, muito antes de Balbina.

Inovar ou perecer - A superintendente de Gestão da Inovação Tecnológica e Eficiência Energética da Eletrobras Eletronorte, Neusa Maria Lobato Rodrigues apresentou duas palestras no estan-de da Eletrobras.

Inicialmente, Neusa Lobato (acima à esquerda) discorreu sobre “Inovação tecnológica sustentá-vel: a chave para o futuro das empresas do Setor Elétrico”. A partir de dados sobre o crescimento populacional mundial e a distância da distribui-ção de renda entre pobres e ricos, Neusa traçou um contraponto com a necessidade de as empre-sas serem competitivas de forma sustentável.

Citou como exemplo dessa responsabilidade o Banco de Germoplasma da Usina Hidrelétrica Tucuruí, uma ilha onde são produzidas mudas de espécies nativas da Amazônia brasileira. “Nosso desafio é produzir energia limpa sem esquecer os três pilares da sustentabilidade, o econômico, o social e o ambiental”.

Na palestra seguinte, “Inovar ou perecer: o grande desafio das empresas do setor elétrico”, Neusa Lobato avançou pela legislação e marcos legais do governo brasileiro em relação à pes-quisa, desenvolvimento e inovação. Apresentou os programas desenvolvidos pela Eletrobras Ele-tronorte nessa área e os seus resultados, todos proporcionando significativa redução de custos.

Por exemplo, por meio do Prêmio Muiraquitã já foram premiadas 189 inovações e 150 emprega-dos, sendo que no caso de a inovação vir a ser patenteada, o empregado inventor fica com 20% da titularidade do produto. Em projetos de P&D são investidos cerca de R$ 10 milhões por ano e,

em face de uma premiação de R$ 870 mil a Ele-trobras Eletronorte já conseguiu uma redução de custos da ordem de R$ 110 milhões.

A Eletrobras Eletronorte também levou para a Rio +20 a palestra “Projetos Especiais de Linhas de Transmissão na Amazônia”, ministrada pelo gerente da Assessoria de Coordenação de Em-preendimentos da Empresa, José Henrique Ma-chado Fernandes (acima à direita).

Segundo ele, o Brasil tem como fatores ener-géticos decisivos a diversidade de ciclos hidro-lógicos entre as regiões brasileiras e o grande potencial energético a ser explorado, especial-mente na Amazônia. “A diversidade hidrológica leva a grandes interligações entre os sistemas geradores. Também é preciso considerar as in-terconexões dos sistemas geradores garantem um ganho energético para o Sistema Elétrico Brasileiro”, afirma.

não existe uma solução mágica - Um dos painéis mais esperados dos Diálogos para o Desenvolvi-mento Sustentável, debates que antecederam as decisões mais importantes da Rio + 20, acon-teceu no Riocentro: Energia Sustentável para To-dos. Os painelistas listaram dez sugestões sobre o tema, mas ao final, o consenso prevaleceu so-bre a acessibilidade dos mais pobres à energia elétrica, a eficiência energética e a substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis.

As dez sugestões iniciais foram: substituição do uso de combustíveis fósseis; educação da popula-ção para a eficiência energética; metas ambicio-sas para o uso de energias renováveis; incentivar

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a construção de edifícios sustentáveis e reformar os existentes; promover o uso sustentável da energia e o acesso a ela como política de saúde pública; encorajar o uso de bicicletas; aplicar os regulamentos que exigem dispositivos para pou-par energia em automóveis novos; incentivos fiscais ambiciosos para a eficiência energética; requerer etiquetas ambientais com informações claras sobre a eficiência energética dos equipa-mentos e incentivar o trabalho em casa.

Mas os painelistas também consensaram que não existe uma solução mágica para o futuro energético do planeta. Eles citaram situações que variam de país para país e em cada um deles, de região para região. Na África, por exemplo, as mulheres enfrentam graves problemas de saúde causados pelo uso da lenha na cozinha. Uma das soluções passaria a ser uma tecnologia energé-tica voltada exclusivamente para o ato de cozi-nhar. “Mas não queremos apenas cozinhar, que-remos crescer”, disse um representante africano.

É exatamente nessas diferenças econômicas e também culturais que o futuro esbarra. Para que se tenha energia para todos até 2030, com justiça social e segurança ambiental, seria ne-cessário aumentar as fontes renováveis nas matrizes, promover a eficiência energética e

eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis, canalizando-os para o desenvolvimento tecno-lógico e eficiente. Segundo estudos recentes, esses subsídios são, hoje, da ordem de US$ 400 bilhões a US$ 600 bilhões por ano, em todo o mundo. No entanto, a indústria da energia re-novável, por sua vez, vem aplicando US$ 257 bi-lhões no desenvolvimento de novas tecnologias.

19 de junho - A organização não governamental Greenpeace lança na Cúpula dos Povos, o relató-rio Horizonte Renovável, um mapa de três fon-tes renováveis de energia elétrica – solar, eólica e biomassa, em várias regiões do Brasil.

De acordo com a ONG, “a publicação é o teste-munho de que podemos ter energia sem que seja necessário destruir a floresta ou afetar a vida de milhares de pessoas, como acontece quando se constrói grandes hidrelétricas na Amazônia. Com uma orientação política clara e consciente, o Brasil tem todas as condições para se tornar a primeira grande potência energética com uma matriz 100% limpa”.

O Greenpeace assumiu, durante a apresentação do relatório, coincidentemente ou não, a mesma postura dos líderes mundiais da Rio + 20 no que diz respeito aos três pontos fundamentais para o

futuro energético do planeta: aumento da parti-cipação de fontes renováveis na matriz; melhoria da eficiência energética e acessibilidade plena de todos os povos ao serviço de energia elétrica.

Segundo o relatório Horizonte Renovável, de to-das as fontes renováveis, a eólica atualmente é a mais bem consolidada na matriz energética brasileira. Ela teria deixado de ser considerada uma opção inviável e cara e já consegue compe-tir com as outras fontes convencionais.

Participou do lançamento do relatório do Gre-enpeace e dos debates que se seguiram, o pro-curador da República no Pará, Felício Pontes, um dos autores de dezenas de ações e liminares con-tra a construção da Usina Hidrelétrica Belo Mon-te, no Rio Xingu (PA). Curiosamente, não foi so-bre Belo Monte que Felício discorreu, mas sobre as usinas projetadas para a bacia do Rio Tapajós, iniciando uma nova cruzada contra o que chama de “energia suja e cara”, e “em defesa dos povos da floresta”.

“As hidrelétricas da bacia do Tapajós, ao contrá-rio do que está sendo dito pelo Governo Federal, em propaganda na mídia nacional no horário mais nobre e mais caro, essa energia não é lim-pa nem barata, ela é suja e é cara”. Para Felício, todas as usinas previstas para o Tapajós e o Te-les Pires alagarão áreas consideradas pelo Mi-nistério do Meio Ambiente, como de prioridade alta, muito alta ou extremamente alta, além de afetar terras indígenas. “Nenhum projeto que possa ser pensado para a Amazônia é tão perigoso para os povos indígenas quanto esse projeto do Governo Federal de tentar retirar, a

qualquer custo, energia para o Brasil a partir dos rios amazônicos.”

Nesse mesmo dia, o diretor de Engenharia da Ele-trobras, Valter Cardeal, proferiu palestra no pai-nel Energias Renováveis para o Desenvolvimento Sustentável, realizado no Forte de Copacabana.

O Diretor da Eletrobras rebateu as críticas teci-das pelo procurador da República, Felício Pon-tes, sobre uma possível destruição da biodiver-sidade na região do Tapajós pela construção do complexo hidrelétrico: “Não é verdade que ha-verá qualquer tipo de destruição. Ao contrário, vamos cumprir e realizar todos os estudos am-bientais da forma mais eficiente, além de imple-mentarmos o novo conceito de usinas-platafor-ma, sem a constituição de núcleos urbanos. São usinas cada vez mais sustentáveis e, somente naquela região, vamos implantar 14 unidades de conservação permanente perfazendo 200 mil km² de área protegida”.

Cardeal adiantou que em 2013 será leiloada a Usina Hidrelétrica São Luiz do Tapajós, que faz parte do aproveitamento daquela bacia. “As hi-drelétricas brasileiras são fonte inesgotável de energia e por meio delas incrementaremos nos-so política ambiental com a construção, na re-gião do Tapajós, do maior centro de pesquisa da biodiversidade do mundo. O conhecimento ad-quirido na construção de nossas hidrelétricas já tem permitido que usinas como Itaipu e Tucu-ruí sejam verdadeiros laboratórios de estudos e pesquisas do mais alto nível”.

Segundo ele, da capacidade atual instalada no Brasil, de 121 mil MW, a Eletrobras é responsá-vel por 42 mil MW. “Somente em obras novas, o Sistema Eletrobras está incorporando mais 20 mil MW a essa soma. Se adicionarmos os em-preendimentos eólicos que se iniciam – hoje já temos 13 fábricas de equipamentos para a gera-ção de energia eólica, que também já produzi-mos com o preço mais barato do planeta -, e as usinas que estamos inventariando, essa soma chega a 50 mil MW novos”.

Nota da redação: o repórter Alexandre Accioly produziu o Diário Repórter durante a Rio +20. O conteúdo gerado durante a cobertura também foi divulgado na página especial http://eletro-nortenario20.com/

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As fontes alternativas de energia se aliam ao desenvolvimento social

da redação, com colaboração de angélyca Miranda

Uma nova conscientização para as questões energéticas vem ganhan-do força. Após o Grupo Consultivo de Alto Nível sobre Energia e Alterações Climáticas da Organização das Na-ções Unidas - ONU ter apresentado o seu relatório final em 2010, a Assem-bleia Geral das Nações Unidas apro-vou a Resolução 65/151 que procla-mou o ano de 2012 como O Ano da Energia Sustentável para Todos.

Os dados são desafiadores. Atualmente, 3 bilhões de pessoas no mundo ainda usam biomassa tra-dicional para preparação de alimentos e aqueci-mento de suas casas e 1,3 bilhões não têm acesso à eletricidade.

Segundo Reid Detchon, vice-presidente de Ener-gia e Clima na Fundação das Nações Unidas, a iniciativa Energia Sustentável para Todos possui três objetivos interligados: garantir o acesso uni-versal a serviços modernos de energia, dobrar a taxa global de melhoria da eficiência energética e duplicar a participação de fontes de energia re-novável na matriz energética global.

Coerente com o slogan da celebração do Ano da Energia Sustentável para Todos, o Secretário--Geral da ONU, Ban Ki-moon, definiu junto ao Grupo Consultivo sobre Energia e Alterações Cli-máticas, as grandes metas a serem alcançadas até o ano de 2030, que são: assegurar a todos o acesso a serviços modernos e mais sustentáveis de energia; reduzir em 40% a intensidade ener-gética global e aumentar em 30% o uso de ener-gias renováveis em todo o mundo.

Mas e o Brasil? Será que está preparado para adotar tais medidas? Sim, está. É o que diz Ana Dolabella (acima), diretora do Departamento de Licenciamento e Avaliação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Segun-do ela, a política nacional sobre mudan-ça no clima estabeleceu compromissos voluntários na redução das emissões de gases de efeito estufa, entre 36,1% e 38,9% das emissões projetadas para 2020. “ O setor de energia terá sua con-tribuição para o alcance dessas metas estimadas em 234 milhões de tonela-das de CO2eq ou 27% a menos das emis-sões”, explica Ana.

O Brasil já é líder mundial no uso de fontes renováveis de energia. Cerca de 45% da matriz energética brasileira é composta por essas fon-tes, enquanto a média mundial é de 13% de participação. A maneira de se produzir, distribuir e consumir energia influencia nas mudanças climáticas, dinamiza a economia, proporciona igualdade de direitos e garante qualidade de vida.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o País está engajado a adotar os parâmetros da sustentabilidade. “O Brasil se comprometeu em manter a política de participação elevada de fon-tes renováveis e limpas na produção de energia, a partir de biocombustíveis, hidroeletricidade, biomassa e fonte eólica e solar. Comprometeu-se, igualmente, a alcançar a universalização do aces-so à energia nos próximos anos e a implemen-tar ações de eficiência energética que permitam reduções significativas de consumo. Ademais, o Brasil buscará promover a cooperação com paí-ses em desenvolvimento em projetos de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a partir do uso de recursos energéticos renováveis”.

O acesso à energia elétrica proporciona o desen-volvimento, principalmente na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade social. A eletri-cidade permite o surgimento de microempresas nas comunidades, e com o auxílio da ilumina-ção é possível que milhares de pessoas possam estudar à noite, contribuindo mais tarde para o processo de desenvolvimento do País.

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o ano da energia sustentável

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De acordo com Silviani Froehlich, analista de Meio Ambiente da Eletrobras Eletronorte, a sustentabilidade pode direcionar perspectivas futuras para a Empresa. “Hoje não se atende a uma premissa simplesmente legal, você tem que atender toda uma questão de legalidade, agregando valor nesses processos; tem de bus-car práticas no sentido da sustentabilidade, para estar dentro desse padrão de perspectiva”.

Luz para Todos

O programa Luz para Todos, lançado pelo Go-verno Federal em 2003, tem como foco acabar com a exclusão elétrica no País. Atualmente na sua segunda fase, o Programa já beneficiou 14,4 milhões de pessoas que não vivem mais no es-curo e gerou aproximadamente 439 mil postos de trabalho.

Reid Detchon elogia o Programa. “O Luz para To-dos, implementado pelo Brasil é um excelente exemplo de engajamento governamental para promover o acesso universal à eletricidade. O Governo agora trabalha para providenciar ele-tricidade a cerca de 1 milhão de pessoas que vi-vem na região amazônica”.

O Luz para Todos está em uma nova fase e pre-tende levar eletricidade vencendo a barreira da distância. O projeto viabiliza serviços básicos às comunidades isoladas como saneamento, água, saúde e educação.

Uso consciente da energia

Umas das premissas de energia elétrica susten-tável é que os usuários também sejam instru-ídos a usar racionalmente esse recurso, coope-rando com o meio ambiente, sem desperdício de

de energia e contribuindo com a qualidade de vida das pessoas.

Na Eletrobras Eletronorte, um dos exemplos é a Agenda Ambiental da Administração Pública -A3P, que visa à conscientização na questão de descarte e uso consciente de recursos. Em 2011,a Empresa conquistou o primeiro lugar na ca-tegoria Uso Sustentável dos Recursos Naturais com o “Programa Educacional para Uso Racional de Energia nas escolas públicas de Tucuruí, no Pará”. Em 2012 também ficou entre as finalistas e obteve o segundo lugar com o projeto Procel Educacional como ferramenta de combate ao desperdício de energia elétrica.

Em Tucuruí, entre 2005 e 2009, participaram do projeto 32 escolas municipais, com 816 profes-sores capacitados e mais de 32 mil alunos. Du-rante esse período foram economizados 84.813kWh, o que seria suficiente para atender 129 residências, com consumo de 110 kWh, por seis meses, considerando a realidade da região. (vejamatéria na página 67 ).

O projeto é uma das ações do Programa Eletro-norte de Eficiência Energética - PEEE, voltado à conscientização para o uso racional de energia. “Tudo que você tentar reduzir em relação ao consumo, melhorar o processo e buscar agregar valor, se inclui na sustentabilidade”, comple-menta Silviani Froehlich.

desenvolvimento sustentávele equidade de gênero

“Há vinte anos, na Cúpula da Terra, no Rio de Ja-neiro, houve um acordo unânime no sentido deo desenvolvimento sustentável não acontecer sem as mulheres e a igualdade de gênero. Mas,

apesar dessa consciência não ser uma novidade, ainda há um longo caminho a percorrer para a inclusão feminina”, afirma Rebecca Tavares, repr sentante da ONU Mulheres Brasil e Cone Sul.

O acesso equitativo a oportunidades, recursos, finanças, métodos e tecnologias, permite que a mulher possa contribuir para o avanço dos três pilares do desenvolvimento sustentável: social, econômico e ambiental.

Rebecca informa que as mulheres representam, em todos os países do mundo, praticamente a metade da população. “Elas administram os re-cursos do lar, criam os filhos e as filhas e traba-lham. Sua plena participação, o respeito a seus direitos e à integração na vida de seus países e comunidades pode dar um novo impulso ao de-senvolvimento sustentável”.

Os Princípios de Empoderamento das Mulheresou Weps (Women Empowerment Principles) é uma iniciativa da ONU Mulheres e do Pacto Glo-bal , que orientam as empresas e as entidades interessadas no empoderamento das mulhe-res no trabalho e na comunidade. A Eletrobras Eletonorte é uma das empresas mais ativas do Weps no País. A Empresa já conquistou o Selo Pró-Equidade por três anos consecutivos e agoratrabalha para conquistar a categoria Ouro dessereconhecimento conferido pela Secretaria de Polícias Públicas para as Mulheres.

“As empresas que promovem o empoderamentode mulheres e sua ascensão a cargos estraté-gicos são percebidas como mais estáveis e de-monstram-se mais eficientes e lucrativas. Inves-

tir em mulher não é apenas uma questão dejustiça social, mas também estratégia de negó-cio e investimento inteligente”, afirma a repre-sentante da ONU.

energia limpa, sustentável ou renovável?

Energia limpa é aquela cuja produção não emite, de forma significativa, gases poluentes e gases que contribuem para o aquecimento global. Por-tanto, não polui ou polui menos que o habitual. São exemplos a energia hidrelétrica, eólica e so-lar. Energia renovável é aquela em que os recur-sos naturais podem ser renovados, como os pro-venientes de fontes como o sol, o vento, a água dos rios, as marés e a biomassa. Energia sustentável é conectada ao desenvolvi-mento sustentável. Utiliza-se do consumo racio-nal, obedecendo a limites, não interferindo sig-nificativamente na diversidade, complexidade e na função dos ecossistemas, de maneira que a natureza possa repor esses recursos. De acordo com Ana Dolabella, podem se des-tacar como exemplos de projetos: as plantas fotovoltaicas que estão sendo instaladas em estádios de futebol; os parques eólicos implan-tados de maneira sustentável; o programa Mi-nha Casa Minha Vida com sistemas de aque-cimento solar de água; o Programa de Etanol Brasileiro; o Programa de Produção e Uso do Biodiesel, e os empreendimentos hidrelétri-cos que operam com respeito aos princípios da sustentabilidade.

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um novo tempo com Ivan lins

Byron de quevedo

A Eletrobras Eletronorte acredita na cultura como ferramenta de desenvolvimento do Brasil.Há quase 40 anos, constrói novos tempos para o Brasil, particularmente na Amazônia, onde es-tão situados seus principais empreendimentos de geração e transmissão de energia elétrica. Para viver o futuro sob nova perspectiva, a Em-presa se prepara com determinação, segurançae inovação tecnológica. A missão da Eletrobras Eletronorte - atuar nos mercados de energia de forma integrada, rentável e sustentável - vai muito além de gerar e transmitir energia a mais de 15 milhões de pessoas.

Seja por meio do patrocínio à Or-questra do Estado do Mato Grosso, seja ao Projeto Cultural Viva a Arte, a Empresa contribui para democra-tizar o acesso às artes e valoriza a cultura nacional.

Em Brasília, a Eletrobras Eletro-norte apoia a já tradicional Noi-te Cultural do Açougue T-Bone,

uma criação do açougueiro, ativador cultural e sonhador convicto, Luiz Amorim (abaixo), um apaixonado por livros que, em 1994, começou a dividir o espaço do açougue com uma biblioteca aberta ao público.

A primeira estante, com dez livros, ficou pe-quena para os 45 mil atuais, espalhados pelas bibliotecas populares ou no projeto Par da Cul-tural - Biblioteca Popular 24 horas, que coloca livros nos pontos de ônibus da Asa Norte.

Luiz Amorim diz que jamais deixará de ser açou-gueiro e nem planeja desistir de suas atividades

como ativador cultural na cidade que ama. “Gosto do que faço e nos anos vindouros, meu estabeleci-mento sempre oferecerá aos bra-silienses bons cortes de carnes e apresentações de muitos artistas que ainda irão passar pelo nosso palco logo ali em frente” antecipa convicto do sucesso do projeto.

Em 1998, fez a primeira edição do projeto Noite Cultural T-Bone,

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ainda dentro do estabelecimento, para 30 pes-soas. Desde então, mais de 150 mil pessoas e 500 artistas já participaram do evento, entre os quais Moraes Moreira, Chico César, Guilherme Arantes, Célia Porto, Geraldo Azevedo, Belchior, Erasmo Carlos, Milton Nascimento, Zé Rama-lho, Evandro Mesquita e tantos outros.

Quando foi a vez de Ivan Lins subir ao palco montado na Quadra 312 Norte, a equipe da re-vista Corrente Contínua foi registrar as quase três horas em que o cantor e compositor emba-lou as mentes e corações candangos. Com um show apresentado pelo artista performático Miquéias Paz, com participações do violonista Manassés e do cantor local Zelito Passos (fotos abaixo), Ivan Lins misturou canções novas e antigas para encantar as cerca de 5 mil pessoas que acompanharam o show.

Ivan Lins tem trajetória musical respeitável, que o levou a ganhar vários Grammys por suas gravações solo e com astros famosos. É hoje o artista brasileiro vivo mais gravado no exterior. Iniciou a tocar piano aos 18 anos, influenciado pelo jazz e pela bossa nova. Sua apresentação no Açougue foi memorável, pois um coro de cinco mil vozes entoaram uníssonas as can-ções “Começar de Novo”, “Abre Alas”, “O Amor é o Meu País” “Agora”, “Deixa o Trem Seguir”, “Modo Livre”, “Chama Acesa” “Quem Sou Eu?”, “Somos Todos Iguais Esta Noite”, “Nos Dias de Hoje”, “A Noite”, “Novo Tempo” e a inesquecí-vel “Madalena”. O público aplaudiu também as canções novas.

Brasília, com seus shows ao ar livre, como os doT-Bone, parece ter descoberto a ambiência que

faltava para tornar seus palcos aconchegantese atrativos aos grandes artistas do Brasil e do mundo. Foi uma noite alegre, o que não evitou Ivan de exercer o seu lado panfletário e denun-ciativo. O público ouviu com atenção suas pala-vras de ordem ao estilo anos 70/80. E como se o tempo não tivesse passado, está aí de novo esseartista politizado e bem-humorado, mandando o seu recado. Confira a entrevista exclusiva à re-vista Corrente Contínua:

seus shows estão sempre lotados. você pertencente a seleto grupo dos queridões da cidade?

Brasília jamais se mostrou hostil às minhas apresentações. Sempre fui bem recebido, tanto para shows solo, como participando de apresen-tações coletivas. Não sei se sou um queridinho especial da cidade, mas sinto muito calor hu-mano quando me apresento aqui. Tenho con-versado com outros artistas e eles falam mara-vilhas do público daqui. Acho que a cidade pela sua diversidade geográfica, com populações de

diversas partes, tem esta particularidade. Quando se canta para o brasilien-se, canta-se também para os goianos, paraenses, amazonenses, mineiros, paulistas, cariocas, gaú-cho, e para muita gente de fora do País. Aqui aca-ba sendo uma síntese do Brasil.

É tarefa dos governos atuar como fomentador da arte e da cultura?

Ainda é muito importan-te o apoio de empresas estatais, dos governos estaduais e federal às artes. Quando, princi-palmente as empresas estatais, resolvem investir nesse setor, ele ga-nha novo impulso. Na verdade somos o País onde se paga a maior quantidade de impostos no mundo. Patrocinar as manifestações artís-ticas é uma forma de os governos retornarem ao povo aquilo que ele paga em tributos nos municípios, nos estados e para a Federação. Esta também é uma das formas de os gover-nos dizerem para onde está indo o dinheiro da nação. Hoje ainda há ainda enorme lacuna de investimentos, principalmente nas áreas da saúde, da educação e na fiscalização dos re-cursos públicos. Devolver as arrecadações em forma de cultura é maravilhoso, mas a devolu-ção em forma de saúde, por exemplo, também é importantíssima e jamais poderia ser negli-genciada. Sou um humanista. Ou seja, vejo o ser humano em primeiro lugar, e entendo a saúde como algo fundamental para a existên-cia humana.

Existe o tal “momento brasil” ou é só coisa da mídia?

Eu vejo a grande mídia, os veículos de comuni-cação e o próprio governo muito voltados paraas classes C, D e E. É compreensível que o go-verno tenha resolvido dar às classes menos fa-vorecidas, mais oportunidades. Vejo o acesso aos bens de consumo dessas classes de forma positiva. Eram pessoas à margem do mercado

dos bens de consumo. A solução definitiva com o equilíbrio entre as classes só virá a médio ou longo prazo, pois esperar por providências rá-pidas dos políticos brasileiros é o mesmo que dizer para o cidadão: abandone essa sua causa, pois a coisa não terá solução tão cedo. A diferen-ça está no nosso povo, nos malucos brasileiros que fazem acontecer esse momento brilhante do Brasil. Isto ocorre em decorrência de suas ideias diferenciadas, como a do Luiz Amorim, daqui de Brasília, que criou este belo evento. São as pessoas do povo que fazem as coisas bonitas surgirem. Melhor dizendo, não são malucos, são cidadãos de almas 100% brasileiras, que fazem parte dos nossos grandes momentos. Isto aqui é uma festa e eu tenho o maior orgulho de par-ticipar de um destes acontecimentos feitos por gente simples e automotivada.

qual é o momento que você esta vivendo?

Estou num momento maravilhoso da minha carreira. Eu amo subir ao palco e ter esse inter-câmbio de energias com o público. Canto o que o povo gosta. Amo ver como eles recebem as mi-nhas músicas, principalmente considerando a forma que eu toco. Minhas canções têm muitos e complexos acordes. E mesmo assim eles me acompanham. Ao ver a recepção das plateias, me delicio tocando e cantando estas canções

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Nesta edição a Corrente Contínua traz uma nova coluna: Visitas na História. Aqui, a memó-ria não tem limites. Vai além do que está escritoe busca momentos que marcaram não só a his-tória da Eletrobras Eletronorte, como as vidas de cada pessoa que passou por aqui nos últimos quase 40 anos. Na estreia, nada mais justo que começar pela própria Corrente Contínua. Há 35 anos ela chegava como ferramenta essen-cial para a tarefa de informar e ser informado, como anunciava o primeiro presidente da Ele-tronorte, Raul Garcia Lhano.

Na época, a revista era um boletim de oito pági-nas, lançado em agosto de 1977. Com uma dia-gramação simples, mas elegante; textos curtos e ainda com escassas imagens, o boletim já re-fletia a paixão de quem a fazia.

De lá pra cá, Corrente Contínua cresceu não só em número de páginas, mas de leitores. Como veículo institucional da Eletrobras Eletronorte, assumiu a condição de leitura estratégica entre agentes do Setor Elétrico. Com exemplares envia-dos para públicos diferenciados - gestores, agen-tes do Setor, políticos, representantes de classe, acadêmicos, jornalistas, pesquisadores, forma-dores de opinião, entre outros - a Revista recebe a cada edição novas cartas e novos pedidos de assinatura. A trajetória até aqui tem sido de muito tra-balho e, sobretudo, de muita dedicação. Em janeiro de 1983, para comemorar os dez anos de criação da Eletronorte, Corrente Contínua ganha nova “cabeça” e sai todo na cor verde,

com manchete para a posse do novo diretor--presidente, Douglas Souza Luz. E o editorial: “Nossa Empresa completa seus dez anos de existência. Muito trabalho, dedicação, esfor-ços e até sacrifícios preenchem as páginas de sua história. Isso precisa ser comemorado. É tempo de alegrias, recordações, de festa. A pri-meira delas é a nova roupagem do Corrente Contínua: novo cabeçalho, nova cor, novo tipo de letra e a marca dos dez anos inserida em cada página”.

Em janeiro de 1990 é introduzida a cor azul, oficial da Eletronorte, no lugar do verde. Pelas manchetes é possível ter uma ideia da expan-são das atividades da Empresa e de como ela já se posicionava estratégicamente no Setor Elétrico brasileiro: “Eletronorte propõe equacio-namento energético do Estado do Tocantins”; “Nacionalização de peças economiza US$ 5 milhões”; “Em Manaus, indústrias consomem mais de 33% de toda a geração”; “Os usos múlti-plos da UHE Lajeado”.

Sete anos depois, em outubro de 1997, o nosso “jornalzinho” se transforma em tabloide, papel especial e todo em cores, com diagramação mo-derna e limpa. Dizia o editorial: “Ao propor mu-danças para o Corrente Contínua, o Jornal da Eletronorte, estamos trabalhando para melhorar o processo de comunicação empresarial. Começa-mos ousando na diagramação e no papel, mas nos próximos números poderemos implantar novas ideias até chegarmos a um produto que satisfaça ao máximo nossos públicos interno e externo”.

Em setembro de 2001, na edição 200, a Corrente Contínua já é de fato uma revista. Uma belíssi-ma foto da Volta Grande do Xingu e a manchete “Belo Monte, a esperança que vem do Xingu”. Edição histórica: novo logotipo, tamanho, pa-pel, impressão, qualidade de textos e fotos.

O tempo passou e, após dois anos sem circular, a revista voltou em maio de 2007, mais uma vez de cara nova. Era o momento em que chegavam na Empresa os novos empregados e empregadas oriundos do concurso público realizado depois de um longo período sem contratações. Mais uma vez a Revista assumia papel fundamental na disseminação de informações para geração de conhecimento sobre a Empresa. Com uma linha editorial sustentada em grandes reportagens, a

da redação

visitas na históriaos 35 anos da Corrente Contínua

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Corrente Contínua agrega múltiplas fontes e as-suntos para garantir o pluralismo e a qualidade jornalística com a qual é comprometida.

Em junho de 2012, a Revista trouxe um novo layout, mais moderno, valorizando as imagens e a diversidade de temas do Setor Elétrico bra-sileiro. Um layout inspirado nas novas tendên-cias de leitura e identificado com o conceito de energia limpa e renovável. Uma edição eletrô-nica, compatível com os novos, e mais democrá-ticos, canais de comunicação na internet, che-gando a ultrapassar a marca dos 4 mil acessos virtuais em cerca de dois meses, o que significa ampliar em quase 50% a tiragem impressa.

Continuamos acreditando que renovar compro-missos é uma conquista. E por isso a Corrente Contínua preserva sua tradição de jornalismo plural, informativo e provocador, consolidando seu papel de leitura estratégica entre aqueles que constroem não só a história da Eletronorte, como a do Setor Elétrico brasileiro. Exatamente como se comprometia há 35 anos.

há 35 anos...A seguir você relembra - ou conhece - um pouco mais dessa história, com a preservação estilísti-ca de textos e gramática.

A função

“A função de integrar os empregados da Eletro-norte passa a ser exercida, também, por ‘Corren-te Contínua’, que circula pela primeira vez. Na verdade, entendemos que a informação é funda-mental, desde seu nível mais técnico até o dia--a-dia da Empresa, com seus aspectos humanos e naturais problemas de expansão. É sobre este aspecto que o Boletim, que começa a viver agora, pretende atuar”.

Trabalho em equipe

“Este é o primeiro número de “Corrente Contínua”, o Boletim Interno da Empresa, destinado a inte-grar os empregados da Eletronorte por intermédio da palavra escrita. Há algum tempo vínhamos sentindo a necessidade de possuir um veículo que levasse a todos os nossos companheiros notícias da Administração Central e, de outro lado, trouxesse

à Sede da Empresa os fatos que acontecem tanto na obra de Tucuruí, quanto na Hidrelétrica de Co-aracy Nunes e nas Unidades que serão construídas ao longo do tempo, algumas delas em avançado estágio de planejamento.

De início, “Corrente Contínua” será mensal. E o fluxo de informações, a colaboração de todos os empregados e mesmo o trabalho em equipe a favor de nosso Boletim, poderão transformá-lo numa publicação semanal, no médio prazo. (...) A Corrente Contínua poderá ser a grande solu-ção, para as geradoras de energia que estão si-tuadas em condições geográficas desfavoráveis e distantes do mercado consumidor. Nosso Bole-tim, como, de resto, todas as demais atividades

da Empresa, resultado do trabalho de equipe e, por isto, a colaboração de todos será, sempre, muito bem recebida.”

o que foi notícia na Corrente Contínua número 1

Agosto de 1977

A Usina de Tucuruí está sendo construída.

Nova diretoria foi empossada no dia 4 de julho, em solenidade na Sede da Empresa em Brasília: Os empossados são esses: Raul Garcia Llano, presidente. Fausto Cesar Vaz Guimarães, diretor técnico. Jayme Barcessat, diretor administrati-vo. José Carlos Brito Lopes, diretor de operação e Vilson Daniel Christofari, diretor financeiro.

Em vista da precariedade da infraestrutura de Coaracy Nunes, Amapá, a Eletronorte vem envi-dando esforços para, a médio prazo, poder pro-porcionar melhores condições de vida para os seus empregados e familiares. Neste sentido es-tão sendo realizados os serviços de urbanização da vila, reforma de residências e prédios desti-nados ao Setor Administrativo e concluindo o novo sistema de iluminação da vila.

A Eletronorte, objetivando preservar seu mais alto patrimônio, o homem, vem desenvolvendo estudos no sentido de promover o bem estar so-cial de seus empregados e planejando progres-sivamente implantar programas assistenciais, programas relativos a assistência médica, hos-pitalar e odontológica. Está sendo construído um hospital compatível com as necessidades locais, para o pessoal lotado em Tucuruí. Para os demais empregados a Eletronorte, ou seja, os não integrantes do Quadro Especial de Obras, a diretoria aprovou a implementação imediata do “Plano de Proteção e Recuperação de Saúde”, que previa basicamente o reembolso parcial de despesas feitas por empregados e dependentes.

A Eletronorte assinou em agosto de 1977 um convênio com o Instituto de Pesquisas Tecnoló-gicas do Estado de São Paulo, visando o asses-soramento técnico daquele Órgão na execução das obras da Hidrelétrica de Tucuruí.

A Eletronorte tem sob sua responsabilidade 80 dos 150 milhões de KW aproveitados no Brasil, para a geração de energia.

Setembro de 1977

A usina Hidrelétrica de Balbina, ao norte de Manaus, dará inicio ao programa de substi-tuição do sistema termoelétrico, atualmente, existente naquela cidade, proporcionando uma economia de 742 toneladas diárias de óleo, isso significa 25 milhões de dólares por ano.

A diretoria da Eletronorte decidiu pré-selecio-nar as empresas Copavel/AS e Rofundo Cons-truções e Fundações Ltda, com o objetivo das futuras necessidades de execução dos serviços de sondagem e ensaios de campo e laboratório para a Hidrelétrica de Balbina, entregue no fi-nal da década de 80.

A empresa Tacom S/A foi declarada vencedora da licitação promovida pela Eletronorte para a execução dos serviços de restituição aerofoto-gramétrica e mapeamento da futura UHE de Samuel, em Rondônia, no rio Jamarí a 50 quilô-metros de Porto Velho.

Em setembro de 1977, a empresa Líder Táxi Aé-reo assinou contrato com a Eletronorte, com o objetivo de prestar apoio aéreo ao levantamen-to geodésico topográfico na bacia do rio Xingu, nos estados do Pará e Mato Grosso.

A Eletronorte adquiriu por intermédio do Ser-viço de Patrimônio da União – SPU-, uma área de 65.700 ha situada entre a cidade de Tucuruí e a Vila de Jatobal, que, anteriormente, perten-cia a Estrada de Ferro Tocantins, cujo Decreto de extinção determinou a partilha, entre os di-versos Órgãos atuantes naquela área, dos bens que compunham aquela legendária ferrovia. O presidente Raul Garcia Llano representou a em-presa no ato de assinatura da transferência dos bens para a Eletronorte, que ocorreu em Belém no final de julho de 1977.

Carteira Funcional - A partir de setembro de 1977 os empregados e estagiários da Eletronor-te, receberam carteiras funcionais, emitidas em duas cores, branca e vermelha, que permitia o acesso dos empregados e estagiários as depen-dências da empresa.

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atender ao desenvolvimento industrial do Terri-tório Federal do Amapá. Sua principal finalida-de foi distribuir a energia pela Hidrelétrica Coa-racy Nunes, ao Distrito Industrial de Santana, e à cidade de Macapá, capital do Amapá, através de uma subtransformação em 69.000 volts.

O trajeto Macapá/Ferreira Gomes/Hidrelétrica de Coaracy Nunes era atendido a pouco mais de um mês, por uma linha regular de ônibus, aces-sível a todos os empregados. Até então, neste trajeto não havia transporte regular, fato que obrigava a Eletronorte, de maneira frequente, a fretar ônibus uma vez por semana, em con-dições difíceis, sendo que a demanda sempre esteve acima da oferta de lugares. A partir disso a Eletronorte resolveu fazer um convênio com a empresa Estrela de Ouro, da cidade de Macapá, para fazer o transporte regular dessas pessoas.

Técnicos do Departamento de Estudos e Pro-jetos da Eletronorte proferiram uma série de palestras na Universidade de Brasília, segun-do um programa de colaboração da Empresa a aprimoramento dos conhecimentos de Enge-nharia de alunos daquela Instituição.

A Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A – Ele-tronorte- firmou convênio com as Centrais Elétri-cas Brasileiras S.A – Eletrobrás- Furnas Centrais Elétricas S.A- Furnas- e a Centrais Elétricas Mato grossenses S.A- CEMAT- estabelecendo diretrizes básicas para o suprimento de energia elétrica ao Estado de Mato Grosso. O convênio surgiu como consequência do desmembramento do território daquele Estado, com a criação do Mato Grosso do Sul, e a necessidade de garantir novas áreas au-tônomas do novo Estado, condições básicas para o seu desenvolvimento sócio econômico, através do fornecimento de energia elétrica.

Com um projeto totalmente realizado por uma empresa brasileira, foram iniciadas as obras de construção da Hidrelétrica de Palmar, no Uru-guai, que, aproveitando as águas do rio Negro, se tornará um dos maiores empreendimentos energéticos daquele país.

Cientistas russos estão estudando as camadas quentes de água sob as regiões geladas da Sibé-ria. A mil metros de profundidade correm rios quentes que poderão ser úteis na geração de energia elétrica.

outubro de 1977

O engenheiro Lourival Almeida Oliveira partici-pou, no mês de outubro, de um Simpósio Interna-cional sobre “Lagos Artificiais e Saúde Humana”, em Paramaribo, Suriname. No Simpósio foram discutidas várias experiências ecológicas realiza-das naquele país durante a construção do reser-vatório da Usina Brokopondo. A Eletronorte tem o maior interesse em obter informações sobre a repercussão daquela usina no meio ambiente, cujos conhecimentos foram muito importantes para as construções de Tucuruí e Balbina.

A diretoria da Eletronorte aprovou a proposta da Diretoria Eletrônica e Proteção ao Voo (DEPV) do Ministério da Aeronáutica para elaborar o projeto de sistema eletrônico de proteção ao voo no aeroporto de Tucuruí. Desta forma, além da alternativa dos voos que demandam de Be-lém, Tucuruí construiu numa, efetiva escala, benefícios para a comunidade.

Começou no final de setembro de 1977 o pro-grama de treinamento técnico da área de Pa-trimônio Imobiliário ministrado por Furnas, pela Eletronorte e por profissionais liberais de Belém com o objetivo de aprimorar o nível de conhecimento em avaliação e indenização de imóveis rurais e urbanos. Esta atividade foi fundamental para o prosseguimento das obras planejadas.

novembro 1977

A Hidrelétrica de Tucuruí, por suas peculiarida-des e, também, em razão de suas enormes di-mensões recebeu a visita de diversas entidades que, no local, procuraram compreender e dis-cutir os objetivos daquela obra. A Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), o deputado João Ubaldo, Presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, manifestou no canteiro das obras da Hidrelétrica, o apoio e o aplauso do Congres-so Nacional pelo elevado nível técnico do qua-dro de empregados da Eletronorte.

Com um programa de serviços previsto pela Di-retoria de Operação, entre os dias 6 e 13 de no-vembro de 1977, foi energizada a nova subesta-ção de Santana, principal do sistema de Coaracy Nunes, que a partir daquela data começou a

Eletrobras Eletronorte firmou 150 convênios nas áreas de educação, infraestrutura, saúde e desenvolvimento

na região de Tucuruí, 12 municípios recebem R$ 130 milhões em dez anos

alexandre accioly

Entre os anos de 2002 e 2011, a Eletrobras Ele-tronorte investiu mais de R$ 130 milhões nos programas de inserção regional junto aos doze municípios situados a jusante e a montante da barragem da Usina Hidrelétrica Tucuruí. As ações são desenvolvidas em Breu Branco, Goia-nésia do Pará, Itupiranga, Jacundá, Nova Ipixu-na, Novo Repartimento e Tucuruí (a montan-te); e Baião, Cametá, Igarapé Miri, Limoeiro do Ajuru e Mocajuba (a jusante), cujas prefeituras firmaram, até agora, 150 convênios nas áreas de educação, saúde, desenvolvimento socioeco-nômico urbano e rural, infraestrutura básica e saneamento.

Os programas, denominados Pirtuc e Pirjus, são um marco na história de Tucuruí e uma con-

quista da mobilização dos atores regionais, mo-vimentos sociais e populações atingidas pelos efeitos do reservatório da Usina. Desde a sua implantação, essas localidades já conseguem al-cançar significativa elevação dos níveis de esco-laridade, com o incremento da capacitação pro-fissional e melhoria da saúde pública, resultando na redução da mortalidade infantil e ao aumento da expectativa de vida. Também conquistaram a ampliação da rede de saneamento básico, abas-tecimento de água e esgoto; coleta e tratamen-to do lixo e até mesmo o aumento do Produto Interno Bruto, em vista da criação de condições fundamentais para a atração de investimentos privados nos setores produtivos. Isso significa redução da pobreza e das desigualdades sociais.

Nesses dez anos, os municípios envolvidos nos dois programas buscam, cada vez, mais inves-

Responsabilidade social

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Outras técnicas de construção eficiente são utilizadas nas obras do Pirtuc e Pirjus, como a captação de águas subterrâneas na ausência de águas tratadas e calçadas com sistemas drenan-tes, o que colabora com as demais ações de sane-amento. Nesse sentido, os gestores municipais e a Eletrobras Eletronorte já estão trabalhando na elaboração de planos de saneamento básico contemplando o gerenciamento de resíduos só-lidos, distribuição de água tratada e drenagem de águas pluviais.

Projetos especiais - Finalmente, vale ressaltar alguns projetos espaciais que acompanham as ações de inserção regional da Eletrobras Eletro-norte na região de influência da Usina Hidrelé-trica Tucuruí.

Um deles é o Projeto Ipirá, de piscicultura, com criação de peixes em tanques-rede. Com a res-trição da pesca em certas regiões do lago da Usina, principalmente no “pé da barragem”, devido ao risco de acidentes, os pescadores da região e as entidades públicas apoiadoras da causa, buscaram junto à Empresa soluções para o problema, e uma delas foi a criação do Projeto Ipirá.

Esse projeto propõe a preservação do estoque pesqueiro do lago e a alteração da forma de trabalho dos pescadores, que passa ser uma ati-vidade coletiva. O projeto, em convênio com a Secretaria de Pesca e Aquicultura do Estado do Pará, soma um investimento total de R$ 6,1 mi-lhões e pretende atender a 325 pescadores de duas cooperativas. Segundo o plano traçado, cada pescador teria direito a oito tanques-rede, totalizando 2.600 tanques para a criação da espécie conhecida como pirapitinga ou pacu-caranha. O parque aquicola, instalado no município de Breu Bran-co, começa com a montagem de 362 tanques e a capacitação dos pescadores, para o aprendizado sobre transporte, alimentação e demais cuida-dos com o pescado.

Após a alevinagem dos primeiros tanques-rede, ocorrida a partir de 2011, teve início o processo de alimentação dos alevinos e avaliação biomé-trica dos peixes. Estima-se que a primeira reti-rada de pescado para venda seja da ordem de 45 toneladas.

res em busca de oportunidades. Após o término das obras, Tucuruí tornou-se um polo na pres-tação de muitos serviços ofertados pelo Estado, como do Departamento de Trânsito, o campus avançado da Universidade Federal do Pará – UFPA e o Instituto Federal do Pará – IFPA; e tam-bém serviços privados, como bancos, comércio e até colégios particulares.

Na área da educação, que foi a segunda com maior índice de investimento do Pirtuc e a pri-meira do Pirjus, ocorreram melhoras nas condi-ções estruturais do sistema de ensino público municipal, como aumento da oferta de vagas e postos de trabalho. No total já foram entregues 25 escolas construídas, quatro reformadas e duas em fase de construção.

meio ambiente - A Eletrobras Eletronorte, ao as-sinar convênios com as prefeituras da região de Tucuruí, faz constar desses instrumentos exi-gências ambientais que demonstrem respeito à natureza e garantam a redução do uso de re-cursos naturais. Ações como o gerenciamento dos resíduos sólidos e a sua correta destinação final são partes integrantes na celebração de convênios.

Por exemplo, na aquisição de materiais como areia, seixos, tijolos e demais materiais mine-rais, as licenças ambientais cabíveis às ativida-des de extração são cobradas dos fornecedores, com o objetivo de não incentivar a extração ir-regular.

Também existem regras para evitar o desma-tamento de áreas não construídas, ao mesmo tempo em que nas construções permaneçam espaços arborizados, com árvores frutíferas e gramados, favorecendo a circulação de ar e a proteção do solo, ou seja, os projetos devem le-var em consideração a arborização e o paisa-gismo.

O uso de novas tecnologias garante ainda que as obras civis sejam sustentáveis, aplicando tec-nologias que permitam, por exemplo, a redução do consumo de água e energia, e a utilização de materiais não poluentes ou reciclados. Nas obras já entregues é possível verificar o melhor aproveitamento da luz natural, e quando não é possível, o uso de lâmpadas do tipo LED, de alta eficiência energética.

timentos em prédios públicos e de utilidade pública, principalmente nas áreas de infraes-trutura e educação, tanto nas regiões urbanas quanto nas rurais. O investimento já realizado nas áreas de saneamento e desenvolvimento rural, por sua vez, tem influenciado outras melhorias na infraestrutura física das cidades, como por exemplo, na expansão da malha de estradas vicinais e das condições sanitárias. As áreas de infraestrutura e educação foram as que obtiveram os maiores índices do investi-mento financeiro que vem sendo realizado pela Eletrobras Eletronorte, seguidas de saneamen-to e desenvolvimento rural. No Pirtuc, destina-do aos municípios de montante, dos mais de R$ 100 milhões investidos as áreas mais beneficia-das são infraestrutura, educação e saneamento. No Pirjus, destinado aos municípios de jusante, a maior parte dos R$ 30 milhões já investidos foi para educação e desenvolvimento rural.

De acordo com a Gerência de Implementação de Ações Socioambientais de Tucuruí, da Ele-trobras Eletronorte, “em pouco mais de 35 anos de existência, a microrregião e a sub-região da Usina Hidrelétrica Tucuruí sofreram profundas mudanças, sendo que a base econômica, a for-mação da população e as perspectivas de futu-ro acompanharam essa transformação radical, fazendo de toda a região um polo de geração de energia que induziu a uma capacidade de explorar as belezas naturais e as riquezas am-bientais”.

melhorias perceptíveis - Os investimentos rea-lizados pela Eletrobras Eletronorte nesses dois programas, e também em uma série de ativi-dades e projetos ligados à Hidrelétrica Tucuruí, todos voltados para o desenvolvimento socioe-conômico e à preservação ambiental, tem pro-vocado um notável crescimento nas cidades do entorno. É perceptível, por exemplo, melhorias como ruas asfaltadas, grandes comércios, aten-dimentos de serviços públicos básicos e distri-buição de água potável.

Apesar de cidades como Breu Branco e Novo Repartimento apresentarem os maiores índi-ces de crescimento populacional, é o município de Tucuruí que tem se desenvolvido mais, pois com a execução do empreendimento hidrelétri-co recebeu um grande número de trabalhado-

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A coluna Ideias nasceu do propósito de divulgar a produção acadêmica e democratizar o acesso aos trabalhos desenvolvidos por profissionais do Setor Elétrico brasileiro, em especial da Ele-trobras Eletronorte. Não é intenção publicar a íntegra dos estudos, fases de testes e expe-rimentos, mas sim, a essência da ideia e seus resultados. Se você quiser mais informações a respeito dos artigos publicados na coluna, entre em contato com os autores pelos e-mails divul-gados no final da coluna.

Na estreia, uma produção que conquistou o se-gundo lugar no Grupo de Estudos de Aspectos Técnicos e Gerenciais de Manutenção – GML durante o XXI SNPTEE, com o trabalho “Méto-dos Quantitativos Aplicados na Otimização da Manutenção realizando Previsão Orçamentária para Troca de Componentes Buscando Confiabi-lidade, Mantenabilidade e Disponibilidade de Equipamentos”, apresentado por Lílian Ferreira Queiroz, gerente de Equipamentos e Linhas de Transmissão na Eletrobras Eletronorte.

“A engenharia de manutenção da Eletronorte desenvolveu conjuntamente com o Cepel, o Pro-grama Conweib, que analisa as falhas dos com-ponentes e calcula a probabilidade de a próxi-ma falha ocorrer por meio de um histórico de dados”. Lilian explica que, com esse trabalho, a equipe de manutenção conseguirá dimensionar os sobressalentes necessários em cada subesta-ção e o momento que deve ser feita a previsão orçamentária e a compra dos componentes.

ficha Técnica“Métodos Quantitativos Aplicados na Otimiza-çãoda Manutenção realizando PrevisãoOrçamentária para Troca de Componentes

Buscando Confiabilidade, Mantenabilidade eDisponibilidade de Equipamentos”Eletrobras Eletronorte: Lilian Ferreira Queiroz,Sérgio Luis Zaghetto, Jader Alves de OliveiraIvan Jesus da Silva.Centro de Pesquisa Energética – Cepel: SergioCabral, Ricardo Cunha, Helio Amorim Junior ePablo de Abreu Lisboa.

o resumo

O objetivo deste trabalho é empregar a confia-bilidade para gerenciar a manutenção. Com o Programa Conweib e a ferramenta FMEA, equi-pes de manutenção conseguem dimensionar sobressalentes necessários em cada subesta-ção, qual momento deve ocorrer a previsão or-çamentária e compra de sobressalentes para troca. Com a ferramenta a Eletrobras Eletronor-te ganhou com a melhoria no processo da pro-gramação antecipada de troca de componentes no Plano Anual de Manutenção – utilização de dado estatístico, não ficando na subjetividade da experiência de técnicos e informações de fabri-cantes; há programa antecipado de substituição de componentes; revisão dos programas de ma-nutenção, dimensionar sobressalentes e estima-tivas de redução de custos.

A ideia

A análise de Weibull é utilizada para examinar dados de falha histórica e permite estimar o ris-co de falhas de amostras que apresentem um histórico de ocorrências. É uma distribuição de probabilidade contínua, usada em estudos de tempo de vida de equipamentos e estimativa de falhas. A partir de um conjunto com algumas fa-lhas ou defeitos graves pode-se estimar a curva

de probabilidade e valores relevantes, como a taxa de falhas, tempo médio para a falha (MTTF) e tempo de substituições dos componentes.

Na análise quantitativa da confiabilidade de um equipamento, deve-se separar os sistemas, subsistemas e componentes que sejam repará-veis dos não reparáveis.

A utilização indiscriminada da Lei de Weibull para modelar estatisticamente a confiabilidade de qualquer sistema sujeito a falhas, sem levar em consideração as duas categorias menciona-das, pode conduzir a resultados bastante im-precisos e, consequentemente, pouco úteis ao processo decisório dos gestores da manutenção.

A Engenharia de manutenção da Eletrobras Eletronorte desenvolveu, conjuntamente com o Cepel o Programa Conweib. Este analisa as falhas dos componentes do equipamento e cal-cula a probabilidade da próxima falha ocorrer.

O módulo de Weibull ajusta automaticamente a distribuição selecionando os dados inseridos manualmente pelo usuário ou importadas de outros programas e exibe os resultados grafica-mente sob a forma de gráficos de probabilidade acumulada. Os resultados podem ser visualiza-dos na tela ou impressos em um relatório.

O programa Conweib fornece parâmetros ca-racterizadores do modelo estatístico mais ade-quado à categoria do item sob análise, seja ele

reparável ou não (β e η, β e θ). Fornece outras métricas úteis à análise da confiabilidade de um equipamento (MTTF, MTBF, Blife etc). Permite, ainda, mensurar o crescimento da confiabilida-de após a implementação de ações de melhoria nos processos e rotinas da manutenção. O mo-delo obtido a partir dos parâmetros fornecidos pelo programa será posteriormente aplicado na avaliação da confiabilidade global e do índice de robustez da subestação (Anse Visual).

A engenharia de manutenção da transmissão da Eletrobras Eletronorte está utilizando a me-todologia Manutenção Produtiva Total - TPM nos seus processos de manutenção e ainda a RCM - Manutenção Centrada em Confiabilida-de (RCM), um procedimento para determinar estratégias de manutenção com base em técni-cas de confiabilidade, e abrange os métodos de

análise conhecido como Failure Mode Effects Analysis (FMEA). A estratégia de manutenção escolhida deve levar em conta o custo, seguran-ça, ambiente operacional e consequências.

Os efeitos de redundância, peças, custos de ma-nutenção, o envelhecimento do equipamento e tempos de reparo devem ser levados em conta, juntamente com muitos outros parâmetros.

A MCC – Manutenção Centrada em Confiabili-dade e TPM são ferramentas modernas de ges-tão. O princípio básico do TPM é a eliminação total das perdas por toda Empresa, o que acaba transformando o ambiente de trabalho e ele-vando, de maneira considerável, o conhecimen-to e a autoestima dos colaboradores. O TPM distingue seis fontes principais causa-doras de perdas: perdas por quebra em equipa-mentos; perdas por ajustes na preparação; per-das por paradas curtas de produção; perdas por velocidades abaixo da nominal; perdas devidas a peças defeituosas e retrabalhos; perdas decor-rentes de start–up (regime de partida).

RCM é um processo usado para determinar o que deve ser feito visando assegurar que qualquer ativo físico continue a fazer o que seus usuários querem que ele faça no seu contexto operacional. O processo de RCM implica em sete perguntas so-bre cada um dos itens sob revisão ou sob análi-se crítica, como a seguir: quais são as funções e padrões de desempenho de um ativo no seu con-texto presente de operação? De que modo ele fa-lha em cumprir suas funções? O que causa cada falha funcional? O que acontece quando ocorre cada falha? De que forma cada falha importa? O

Planejamento para otimizar a manutenção

Ideias

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que pode ser feito para predizer ou prevenir cada falha? O que deve ser feito se não for encontrada uma tarefa pró-ativa apropriada?

A Eletrobras Eletronorte levou em consideraçãoalguns pontos para integração das metodolo-gias: características individuais de cada meto-dologia e possibilidades de integração dos dois programas com base em alguns ajustes, e veri-ficou os resultados desta integração. A Eletro-bras Eletronorte está utilizando a metodologia do TPM para gestão do processo de manuten-ção e utilização da RCM para refinamento do processo, visto que isto se faz necessário.

Para implantação do RCM, algumas etapas de-vem ser seguidas, por meio de reuniões dos chamados grupos de trabalho, com pessoal ca-pacitado nas diferentes áreas, dependendo do equipamento analisado e do conhecimento ne-cessário para avaliar o sistema. Esses grupos de trabalho devem sempre ter pessoal de operação e manutenção para que se possa ter uma visão ampla dos modos de falha que podem ocorrer no equipamento ou sistema.

A Eletrobras Eletronorte definiu as etapas do processo RCM, conforme a metodologia: defini-ção do sistema (fronteiras/interfaces); funções e analises das falhas funcionais; análise modos falhas e seus efeitos (FEMEA); diagrama de de-cisão para seleção de tarefas de manutenção; formulação e implantação do plano de manu-tenção baseado RCM. A Empresa está revendo seus planos de manutenção de equipamentos baseada na metodologia do RCM. A implanta-ção do RCM não termina na formulação e im-plantação do plano de manutenção, pois é um processo contínuo, em que o plano é periodica-mente revisado em função dos dados de falhas e de reparos que devem ser continuamente co-letados e analisados. Nesse momento utiliza-se a ferramenta aqui descrita, o Conweibull.

As conclusões

Com a utilização da ferramenta Conweib a Ele-trobras Eletronorte ganhou melhoria no pro-cesso da programação antecipada de troca de componentes no Plano Anual de Manutenção. Com a utilização de dado estatístico, não fican-do na subjetividade da experiência de técnicose informações de fabricantes, foi possível ter

um programa antecipado de substituição de componentes, previsão orçamentária, revisão dos programas de manutenção periódica, di-mensionamento de sobressalentes, estimativas de redução de custos, melhor dimensionamen-to da franquia das funções transmissão.

A RCM fornece uma base para armazenar dados de falha, parâmetros de manutenção, peças de informação e os detalhes da equipe de manu-tenção. Esses dados são utilizados para fornecer informações de consultoria baseada em mode-los de simulação incorporado no programa. Por exemplo, intervalos de manutenção diferentes podem ser comparados ao seu efeito sobre a manutenção e custos operacionais. O usuário pode então gravar a decisão sobre qual política de manutenção irá adotar. Essa decisão permi-te incluir combinações de: tarefas agendadas da manutenção preventiva (lubrificação ou substi-tuição); monitoramento de alarmes e inspeção de falhas ocultas.

A Eletrobras Eletronorte está revendo seus pro-gramas anuais de manutenção de equipamentos com a ferramenta FMEA. O programa Conweib auxilia no cálculo probabilístico de previsão de troca de componentes no Plano Anual de Manu-tenção dos equipamentos, com isso a empresa faz a previsão orçamentária para substituição de componentes dos equipamentos. Com isso a engenharia de manutenção acompanha o en-velhecimento dos equipamentos possibilitando a troca de componentes entendendo a vida útil dos equipamentos e instalações.

A Eletrobras Eletronorte está migrando o proces-so de Plano Anual da Manutenção de equipamen-tos para Plano Anual da Manutenção por função - plano enviado ao Operador Nacional do Sistema -, devido à otimização e utilização de franquias, evitando a cobrança da parcela variável.

Com o programa Conweib e a ferramenta FMEA, a equipe de manutenção consegue di-mensionar os sobressalentes necessários em cada subestação e em qual momento deve ocorrer a previsão orçamentária e compra de sobressalentes. O Conweib tem como proposta final o Indicador de Robustez das subestações,levando em consideração a taxa de falha dos equipamentos e a operação, além da configura-ção sistêmica.

Os números da Eficiência Energética

oito mil professores. 875 mil alunos. 200 municípios.

da redação, com colaboração de núzia araújo

sustentabilidade

A demanda energética brasileira aumenta a cada dia. Esse crescimento é decorrente do de-senvolvimento econômico aliado ao elevado consumo comercial, industrial e residencial. Diante da demanda é necessário despertar a sociedade para uma reflexão sobre o consumo de energia consciente. A concepção de negócio de gerar e transmitir energia não impede que a Eletrobras Eletronorte invista em eficiência energética, atuando como agente de política púbica. Mais do que isso, a Empresa torna-se cada dia mais uma referência em políticas de gestão e formação para o combate ao desperdí-cio de energia elétrica.

Em 2005, a Diretoria Executiva criou o Programa Eletronorte de Eficiência Energética – PEEE, com o intuito de fomentar o uso racional de ener-gia nas áreas onde a Empresa atua. De acordo com a superintendente de Pesquisa e Desen-volvimento Tecnológico e Eficiência Energética, Neusa Maria Lobato, o PEEE foi elaborado para que houvesse uma área específica dentro da Empresa responsável por cuidar do seu produto. “Quando falamos hoje em sustentabilidade, nos referimos a três pilares: o ambiental, o econô-mico e o social. Isso significa que as empresas devem produzir e gerar lucros sem agredir o

meio ambiente e, ao mesmo tempo, beneficiar a sociedade. Podemos tomar como exemplo de responsabilidade ambiental e social a Usina de Tucuruí, pois é um empreendimento que se preocupa com a fauna, a flora, e com as pessoas que estão a sua volta. Isso também é eficiência energética.”

As atividades do PEEE, que até 2011 beneficia-ram 63 municípios brasileiros, são voltadas à gestão educacional, à gestão energética muni-cipal e a projetos de eficiência energética em prédios públicos, em parceria com o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – Procel, da Eletrobras. O Procel foi criado em 1985 pelos ministérios de Minas e Energia e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Ex-terior, e tem a missão de promover a eficiência energética, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população e eficiência dos bens e serviços, reduzindo os impactos am-bientais. Para isso, o Programa utiliza recursos da Eletrobras e da Reserva Global de Reversão - RGR, fundo federal constituído com recursos das concessionárias.

A atuação do Procel é realizada por meio de subprogramas, como a Gestão Energética Mu-nicipal - Procel GEM, executado pela Eletrobras Eletronorte. A GEM visa orientar os administra-

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dores públicos municipais para a gestão e o uso eficiente de energia nas unidades consumido-ras ligadas às prefeituras. Desde sua criação, o projeto já economizou 63.858,10 MWh, energia suficiente para abastecer uma cidade de 148 mil habitantes durante um ano.

Para a implementação do GEM é necessário criar a Unidade de Gestão Energética Munici-pal - Ugem, por meio de decreto municipal, da capacitação da equipe técnica e implantação do Sistema de Informação Energética Municipal – Siem. Com o levantamento das diferentes ativi-dades desempenhadas pela prefeitura e análise das unidades consumidoras, são identificadas as áreas com potencial de redução de consumo e, por fim, elaborado o Plano Municipal de Ges-tão Energética - Plamge.

O Plamge é o instrumento de apoio à adminis-tração pública municipal e tem como objetivo levantar e organizar as diferentes atividades desenvolvidas pela prefeitura por meio de diagnóstico dos contratos de fornecimento de energia elétrica, sistemas de saneamento, ilu-minação pública e educação para combater des-perdícios.

Segundo Neusa, a Agência Nacional de Ener-gia Elétrica - Aneel determina que as empresas distribuidoras de energia destinem anualmen-te, no mínimo, 0,5% de sua receita operacional para o combate ao desperdício de energia elé-trica. “Mesmo não sendo obrigada, por ser uma Empresa geradora e transmissora de energia elétrica, a Eletrobras Eletronorte também tra-balha para conscientizar as pessoas do uso ra-

cional de energia, por meio desses programas e projetos. Essa é mais uma prova do nosso com-prometimento com a sociedade brasileira.”

A Empresa já desenvolveu projetos para GestãoEnergética Municipal em municípios com maisde 50 mil habitantes, em parceria com a Eletro-bras e as prefeituras. Entre os municípios que já participaram do Plano Municipal de Gestão Energética - Plamge estão Abaetetuba, no Pará, onde foram economizados mais de R$ 800 mil. Em São José de Ribamar, no Maranhão, a econo-mia chegou a mais de R$ 1,1 milhão. Em Arique-mes, Rondônia, foram economizados aproxima-damente R$ 1,925 milhões de reais entre 2005 e 2009.

Agora, para contemplar os municípios de até 50 mil habitantes, o Procel desenvolveu uma meto-dologia específica nas chamadas Comunidades de Aprendizagem, um instrumento de apoio à administração pública que consiste em capaci-tar os Agentes Municipais de Eficiência Energéti-

ca - AMEEs, disponibilizando informações e pro-movendo acompanhamento para possibilitar a gestão com o planejamento e controle do uso de energia elétrica nas unidades consumidoras de responsabilidade da Prefeitura Municipal.

Essa capacitação é composta de três encontros. O primeiro deles trata da fase de conscientiza-ção, no qual será ministrada a capacitação em eficiência energética, e outros dois encontros abordam as fases de implementação e de resul-tados.

Além desses programas, a Eletrobras Eletronor-te realizou também diversos projetos voltados à eficiência energética, como é o caso do laudo das instalações elétricas da Embrapa e o proje-to de disseminação dos conceitos de eficiência energética, em Boa Vista (RR). Destaca-se, tam-bém, o projeto de iluminação nas ruas da Base Área de Brasília e projetos em hospitais do Pará (PA) e Ariquemes (RO).

Corrente do Bem

Na gestão educacional, a Eletrobras Eletronorte atua por meio de convênios firmados com a Ele-trobras, na implantação do Procel Educacional em mais de 1.300 escolas brasileiras. O Procel Educação busca incluir no processo educativo formal ações complementares aos programas de ensino, com vistas à difusão da eficiência energética entre professores e alunos das redes pública e privada de ensino do país.

No município de Timon (MA), trinta e cinco es-colas que participam no Procel Educação conse-guiram uma economia de R$ 400 mil, desde que professores e alunos começaram a participar das lições de economia de energia elétrica. Em

abril deste ano, duas delas – a Projeto Educati-vo Mãos Dadas e Projeto Alvorada de Educação, foram premiadas pela Eletrobras Eletronorte como as que tiveram melhores resultados no município.

Entre 2005 a 2011, 8.158 professores foram capacitados e 875.453 alunos beneficiados. Ao todo, 200 municípios brasileiros já foram con-templados com algum programa ou projeto de eficiência energética coordenado pela Ele-trobras Eletronorte. Neusa explica ainda que o Procel Educacional é importante porque en-sina que é possível combater o desperdício de energia elétrica com pequenas mudanças de hábitos. “A educação é o primeiro passo para garantir um bom futuro a essas crianças. Efici-ência energética não significa gastar menos, e sim gastar consciente. Lutamos por um Brasil onde todos possam usufruir de um chuveiro elétrico, geladeira, máquina de lavar roupas e, consequentemente, de melhor qualidade de vida”.

As atividades do programa incluem sensibili-zação de gestores escolares, capacitação de pro-fessores, realização de atividades lúdico-peda-gógicas e medição do consumo de energia nas escolas e residências dos estudantes. O dinheiro economizado por meio dessas ações poderá ser aplicado para outros fins beneficentes a toda população. São pequenas lições aprendidas em sala de aula que passam a ser praticadas por pais e filhos no ambiente familiar, e o resultado é uma enorme corrente em prol de um planeta melhor.

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Meus parabéns!Simplesmente fantástica essa nova roupagem e acessibilidade da revista Corrente Contínua.Um abraço.

Yvonaldo nascimento bentoEletrobras Eletronorte - Coordenação Regional da Representação no Estado do Pará Olá,Quero assinar a revista.

alessandro sousa almeidasantarém - Pa Parabéns a toda a equipe da Revista Corrente Contínua. Um abraço especial pela matéria dos 10 anos do Linhão de Guri, tão importante para nossa região.

José Carlos de almeidaboa vista - RR A revista Corrente Contínua 241 está DEZmaiissssss. Senti falta da data na capa.

arthur quirino da silva netoEletrobras Eletronorte - Regional de Transmissão do maranhão Sou estudante de engenharia e gostaria de receber a versão impressa da revista. E parabéns pela versão digital, está linda. Mas confesso que adoro mesmo é guardar uma edição em casa. Obrigada e continuem assim. mariana m. soaressão Paulo - sP Adoramos a matéria dos chargistas. Parabéns a todos pelo traço primoroso. Parabéns também aos jornalistas que produzem essa revista.

Jorge freitasbrasília - Df

fotolegendaCorreio Contínuo

Texto: Byron de QuevedoFoto: Roberto Francisco

Luz pra Todos

Depois que a luz chegouComprei uma geladeiraPassei a vender ‘geladins’E a meninada choveu à minha beiraTinha tudo quanto é saborUva, laranja, manga, tangerina.De tanta variação as mães guardavam no isoporEste era o meu salárioE foi assim que uma depois da outraPaguei meu crediárioLogo que terminouMandei a freguesia emboraPra casa da vizinhaPara que ela comprasseA geladeira delaPois sem a meninadaComo ela ia terUma igual a minha

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