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EMPREENDEDORISMO FEMININO EM LONDRINA Marilia Carvalho Gomes* [email protected] Flavio Kaue Fiuza-Moura** [email protected] Katy Maia*** [email protected] Solange de Cassia Inforzato de Souza*** [email protected] * Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina ** Mestrando em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina *** Professoras do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Londrina Área temática: 6. População e mercado de trabalho no Paraná Resumo: O objetivo deste estudo foi analisar o empreendedorismo feminino no município de Londrina, a fim de verificar o perfil da mulher empresária, observando a escolaridade, a motivação para iniciar um novo negócio, os fatores favoráveis e limitantes deste segmento, entre outros. A metodologia utilizada foi dividida em duas etapas. A primeira refere-se à caracterização do empreendedorismo feminino brasileiro por meio de dados secundários obtidos a partir da Pesquisa GEM, disponível no site do IBQP. A segunda etapa refere-se a uma pesquisa de campo por meio da amostra de empresas londrinenses lideradas por mulheres. Os resultados mostraram que a maioria das empresas iniciou seu negócio por oportunidade e não por necessidade, ou seja, mesmo com alternativas de emprego e renda, optaram por abrir um negócio que lhe permitissem independência. Quanto à escolaridade, a maioria das empresárias possui graduação completa e também incentiva seus funcionários a aperfeiçoarem seus estudos, oferecendo treinamentos dentro e fora das empresas. A maior parte investiu em seu negócio com capital próprio, fazendo com que tivessem maior controle do empreendimento. Elas mostraram que empregam, em sua maioria, mão de obra do gênero feminino. Indicaram também que não consideram o apoio governamental como fator limitante, pois recebem auxílio do Governo. Palavras-chave: Empreendedorismo. Mulher. Mercado de trabalho. Abstract: The aim of this study was to analyze women's entrepreneurship in Londrina, in order to check the profile of the woman entrepreneur, education, motivation to start a new business, favorable and limiting factors of this follow-up, among others. The methodology was divided into two stages. The first refers to the characterization of the Brazilian women's entrepreneurship through secondary data obtained from the GEM Research, available on the site IBQP. The second step refers to a field survey by sample Londrina companies led by women. The results showed that most companies started their business by chance and not by necessity, ie, even with alternative employment and income, chose to open a business that would allow him independence. Regarding education, most entrepreneurs have full degree and also encourages its employees to hone their studies, offering trainings within and outside companies. The most invested in their business with their own capital, granting greater control of the enterprise. They showed that employ mostly females. Also indicated that they do not consider government support as a limiting factor, as they receive aid from the Government. Key-words: entrepreneurship. Woman. Job market.

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EMPREENDEDORISMO FEMININO EM LONDRINA

Marilia Carvalho Gomes* [email protected]

Flavio Kaue Fiuza-Moura**

[email protected]

Katy Maia*** [email protected]

Solange de Cassia Inforzato de Souza***

[email protected]

* Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina ** Mestrando em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina

*** Professoras do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Londrina

Área temática: 6. População e mercado de trabalho no Paraná

Resumo: O objetivo deste estudo foi analisar o empreendedorismo feminino no município de Londrina, a fim de verificar o perfil da mulher empresária, observando a escolaridade, a motivação para iniciar um novo negócio, os fatores favoráveis e limitantes deste segmento, entre outros. A metodologia utilizada foi dividida em duas etapas. A primeira refere-se à caracterização do empreendedorismo feminino brasileiro por meio de dados secundários obtidos a partir da Pesquisa GEM, disponível no site do IBQP. A segunda etapa refere-se a uma pesquisa de campo por meio da amostra de empresas londrinenses lideradas por mulheres. Os resultados mostraram que a maioria das empresas iniciou seu negócio por oportunidade e não por necessidade, ou seja, mesmo com alternativas de emprego e renda, optaram por abrir um negócio que lhe permitissem independência. Quanto à escolaridade, a maioria das empresárias possui graduação completa e também incentiva seus funcionários a aperfeiçoarem seus estudos, oferecendo treinamentos dentro e fora das empresas. A maior parte investiu em seu negócio com capital próprio, fazendo com que tivessem maior controle do empreendimento. Elas mostraram que empregam, em sua maioria, mão de obra do gênero feminino. Indicaram também que não consideram o apoio governamental como fator limitante, pois recebem auxílio do Governo. Palavras-chave: Empreendedorismo. Mulher. Mercado de trabalho.

Abstract: The aim of this study was to analyze women's entrepreneurship in Londrina, in order to check the profile of the woman entrepreneur, education, motivation to start a new business, favorable and limiting factors of this follow-up, among others. The methodology was divided into two stages. The first refers to the characterization of the Brazilian women's entrepreneurship through secondary data obtained from the GEM Research, available on the site IBQP. The second step refers to a field survey by sample Londrina companies led by women. The results showed that most companies started their business by chance and not by necessity, ie, even with alternative employment and income, chose to open a business that would allow him independence. Regarding education, most entrepreneurs have full degree and also encourages its employees to hone their studies, offering trainings within and outside companies. The most invested in their business with their own capital, granting greater control of the enterprise. They showed that employ mostly females. Also indicated that they do not consider government support as a limiting factor, as they receive aid from the Government. Key-words: entrepreneurship. Woman. Job market.

1. INTRODUÇÃO

Por muitos anos, a mulher brasileira esteve vinculada praticamente a trabalhos

domésticos, sua presença sendo necessária apenas para preservar o bom andamento da

casa, para educar seus filhos e cuidar de seu esposo. Hoje, pode-se perceber que essas

funções foram essenciais para que as mulheres ganhassem força e vontade para buscar

novos horizontes e ingressarem no mercado de trabalho. Contudo, atualmente ainda há

discriminação de gênero no mercado de trabalho, levando as mulheres a ganharem salários

inferiores aos dos homens. Com o intuito de superar essas dificuldades, cada vez mais elas

tem buscado conquistar o mercado por meio do empreendedorismo, tendo seu próprio

negócio.

O conceito de empreendedorismo tem sido muito difundido no Brasil nos últimos

anos, intensificando-se no final dos anos 90. A preocupação quanto ao empreendedorismo,

no Brasil, foi a criação de novas empresas que fossem duradouras e a diminuição da taxa

de mortalidade das mesmas logo nos primeiros anos de fundação. Após o fenômeno da

globalização, as empresas brasileiras tiveram que buscar alternativas para aumentar a

competitividade, diminuir custos e manter-se no mercado (JOSÉ DORNELAS, 2001).

Segundo a pesquisa GEM – Global Entrepreneurship Monitor, de 2012, a taxa de

empreendedorismo no Brasil passou de 20,9% em 2002 a 30,2% em 2012, o que significa

que 36 milhões de brasileiros tornaram-se empreendedores iniciais ou já estabelecidos.

No Brasil, em 2012, as proporções dos empreendedores iniciais masculinos

(50,4%) e femininos (49,6%) não apresentam diferenças significativas, estimando-se 9

milhões de mulheres empreendedoras em estágio inicial e 9,5 milhões de homens na

mesma condição. No entanto, a nível regional, as diferenças são marcantes. No Sul, a

proporção de empreendedores iniciais femininos é maior do que em outras regiões, sendo

masculinos (48,2%) e femininos (51,8%) (GEM, 2012).

De 2000 a 2012 a região Sul destacou-se no empreendedorismo feminino, pois este

superou o masculino em percentual de indivíduos que iniciam um empreendimento. Pode-se

perceber significativas mudanças nessa evolução da participação feminina. Uma das

características das mulheres paranaenses que iniciam um empreendimento é que elas

demonstram grande liderança. Além disso, sua natureza mais adaptável e a capacidade

para realizar várias tarefas ao mesmo tempo, as favorecem a iniciar seu próprio negócio.

Neste contexto, a contribuição deste trabalho está em analisar um grupo de

empresas do município de Londrina no que diz respeito ao empreendedorismo feminino. A

partir de dados coletados por meio de uma pesquisa de campo, cujos procedimentos

metodológicos se basearam em pesquisa descritiva com levantamento de informações

primárias e secundárias, foi possível observar que a mulher também está ganhando espaço

em Londrina e aumentando o nível econômico, pois cada vez mais as empresas estão se

formalizando e gerando lucros para suas famílias, comunidades e município.

Este estudo é composto por quatro partes além desta introdução. Na primeira são

apresentadas as abordagens teóricas e dados estatísticos sobre o cenário empreendedor

brasileiro e condições de inserção da mulher no mercado de trabalho. A segunda descreve

os procedimentos metodológicos, enquanto a terceira consiste na apresentação e discussão

dos resultados da pesquisa. Por fim, são apresentadas as considerações finais e as

principais contribuições da pesquisa.

2. REVISÃO DE LITERATURA

O empreendedorismo é hoje um fenômeno global, no qual diversas instituições

públicas e privadas têm investido em pesquisa e incentivam este setor. O

empreendedorismo está claramente correlacionado ao crescimento econômico. Esta

correlação manifesta-se na forma de inovação, desenvolvimento tecnológico e geração de

novos postos de trabalho. A riqueza gerada pelos empreendedores contribui para a melhoria

da qualidade de vida da população e, não raras vezes, é reinvestida em novos

empreendimentos e, de maneira indireta, nas próprias comunidades (ÂNGELO, 2003).

No mundo globalizado o empreendedorismo vem ganhando cada vez mais força

com incentivos de empresas privadas e públicas, visando o desenvolvimento econômico. A

inovação, na ótica de Schumpeter (1949), tem grande importância para os empreendedores,

pois o dono do próprio negócio possui uma tarefa árdua de sempre inovar para se destacar

entre as empresas do mesmo ramo. Essa inovação gera desenvolvimento tecnológico, bem

como novos postos de trabalho, e faz com que o lucro desse investimento em inovação não

seja apenas para seu próprio benefício, mas sim para a comunidade como um todo.

O Estado passou a enxergar também o empreendedorismo como um setor

importante ao desenvolvimento do país. Para os governos, o lucro de incentivar aquelas

pessoas que tem o sonho de abrir seu próprio negócio é proporcionar cada vez mais a

abertura de empresas formalizadas, contribuindo com impostos, os quais muitas vezes são

reduzidos, por exemplo, para o Micro Empreendedor Individual (MEI), e também gerando

novos empregos para o Brasil. Segundo o Portal Brasil (2012), as pequenas e médias

empresas brasileiras em 2012 produziram 20% do PIB, e foram responsáveis por 60% dos

94 milhões de empregos no País.

No Brasil, o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) traz dados atualizados

de todos os anos, a partir de 2001, sobre a evolução do empreendedorismo no país.

Segundo o relatório de 2012, no passado o empreendedor abria seu próprio negócio por

necessidade, ou seja, por não possuir melhores opções de trabalho, a fim de gerar renda

para si e para sua família. Hoje este cenário mudou de cada dez empresas abertas, sete

são por uma questão de oportunidade. O mercado interno do país está diferente, a demanda

por consumo está maior, criando oportunidade para novos empreendedores ofertarem os

produtos procurados. Também a escolaridade dos empresários está acima da média

brasileira, contribuindo para criar um ambiente favorável aos empreendedores (GEM, 2012).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade, IBQP, esse é o

melhor índice já registrado desde o início do levantamento, há 12 anos. Em 2002, apenas

42% das pessoas abriam uma empresa por identificar demanda no mercado, enquanto os

demais tinham o empreendedorismo como única opção, por não encontrar alternativas no

mercado de trabalho.

A pesquisa GEM também averiguou sobre o sonho dos brasileiros. A pesquisa

constatou que, em 2013, um dos seus três principais sonhos era abrir um negócio próprio,

vindo em sequência os sonhos de comprar a casa própria e de viajar pelo Brasil. Fazer

carreira em uma empresa veio em oitavo lugar entre os desejos dos entrevistados.

Sandro Vieira, diretor presidente do IBQP, também chama a atenção o fato do

brasileiro estar mais atento às oportunidades do ambiente. “O percentual da população que

afirma perceber oportunidades de negócio para os próximos seis meses nas proximidades

onde vive subiu de 41,2%, em 2002, para 50%, em 2013, com média de 45,1% no período”

(IBQP, 2014). Segundo a pesquisa, 84% dos brasileiros consideram que abrir sua própria

empresa é uma opção desejável de carreira.

Os autores da Pesquisa GEM elaboraram um questionário com perguntas

estruturadas sobre a dinâmica e o apoio ao empreendedorismo feminino – Brasil e mais 68

países – 2012. Este questionário foi respondido por especialistas, os quais utilizaram em

cada tópico uma escala de 1 a 5. Quanto maior o valor, mais positiva a avaliação. O Brasil

ganhou destaque em relação à aceitação da mulher iniciar um novo negócio (4,0 contra 3,4

da média dos demais países) e em relação à existência de serviços sociais que favorecem a

continuidade da inserção das mulheres no mercado de trabalho, mesmo após terem iniciado

uma família (3,5 contra 2,9 da média dos demais países) (GEM, 2012).

Segundo a Pesquisa GEM de 2012, o grau de escolaridade está ganhando espaço

entre os empreendedores iniciais. Por serem mais jovens, os empreendedores em estágio

inicial apresentam maior escolaridade em relação aos empreendedores já estabelecidos.

Recentemente, os brasileiros estão investindo mais em educação, por isso na

pesquisa verificou-se muitos empreendedores em estágio inicial com ensino médio completo

e ensino superior incompleto. A pesquisa demonstrou que em 2012, na Região Sul, as

maiores proporções de empreendedores em estágio inicial são do sexo feminino, entre 25 e

34 anos, com ensino médio completo e de renda inferior a 3 salários mínimos. Já entre os

empreendedores estabelecidos, as maiores proporções são do sexo masculino, entre 35 e

44 anos, com ensino médio completo e renda inferior a 3 salários mínimos.

A Pesquisa GEM (2012) indicou que no Brasil, em 2012, a diferença entre gêneros

no perfil de empreendedores iniciais não é muito significativa, sendo o gênero masculino

responsável por 50,4% e o feminino por 49,6%. Na região Sul, constatou-se predominância

feminina de 51,8% contra 48,2% dos homens com o perfil de empreendedores iniciais. Para

empreendedores já estabelecidos, a predominância é masculina em todas as regiões.

David McClelland (1960) desenvolveu uma das mais importantes abordagens a

respeito do perfil do empreendedor. Ele constatou que o empreendedor busca satisfazer

suas necessidades pessoais de auto realização. Essas pessoas com elevado grau de

necessidade de auto realização são mais inclinadas a assumir riscos, desde que razoáveis e

desde que tais riscos estimulem um esforço maior. Essas pessoas motivadas são as que

fazem as coisas acontecerem, que vão atrás de seus objetivos e fazem com que seus

sonhos se tornem realidade.

O empreendedor corre riscos em abrir seu negócio, mas esse risco é calculado,

pois ele pesquisa e avalia as melhores condições, o melhor momento, o melhor lugar, etc.,

para iniciar sua empresa. Ele toma iniciativa, buscando expandir seu negócio para novas

áreas, buscando financiamentos, equipamentos etc. para que seu negócio permaneça vivo

em meio à concorrência. A persistência é vista como um ponto forte, pois ele não se sente

ameaçado diante dos obstáculos e permanece focado, buscando muitas vezes mudar a

direção para não ter que fechar as portas (SEBRAE Nacional).

Em relação ao planejamento, o SEBRAE, o governo e outras instituições estão

preocupados em conscientizar o empreendedor a planejar, para que o novo

empreendimento não venha a falir em menos de dois anos, como é o caso de muitas

empresas, apesar desse número estar diminuindo a cada ano. Para o SEBRAE, “obter

informações de clientes, fornecedores ou concorrentes, investigar pessoalmente como

fabricar um produto ou fornecer um serviço e consultar especialistas para obter assessoria

técnica ou comercial” são características importantes que o empreendedor deve assumir.

Um empreendedor destaca-se pelo fato de romper com os modelos tradicionais

(padrões pré-estabelecidos) e de criar novos modelos, novos processos e demais

inovações. Os empreendedores possuem grande importância para a sociedade, pois sua

inserção no mercado está associada à capacidade de transformarem o setor no qual se

propõem a atuar. Isso pelo fato de se introduzirem nos mercados existentes, criando ou

ganhando novas fatias de mercado de competidores menos inovadores. Por isso a inovação

possui papel importante na decisão de iniciar um novo negócio.

É essencial ao empreendedor possuir meios onde possa buscar informação e

conhecimento que o habilite à gestão da incerteza em qualquer ação proposta, e é

justamente isso que direciona o futuro. Ao ingressar no mercado, o empresário tem que ter

consciência de que abrir uma empresa é um processo de aprendizado e descoberta, e é

esse processo de aquisição das informações, que a empresa utiliza para se adaptar quando

houver necessidade de mudanças (BLACK, 2003).

No que tange a inserção da mulher no mercado de trabalho, com a evolução dos

tempos modernos, estas estão conquistando seu espaço e isto vem crescendo desde a II

Guerra Mundial, quando tiveram que assumir a posição dos homens no mercado de

trabalho, pois as mesmas ficavam viúvas ou desamparadas pelos maridos que iam para

frentes de batalha. Elas se viram na obrigação de sustentar seus filhos, pois não sabiam se

seus maridos voltariam, com isso, começaram a ingressar no mercado de trabalho.

Durante a guerra, as mulheres foram chefes de família, condutora de bondes,

operárias de fábricas de munição, auxiliares do exército, etc. Adquiriram mobilidade,

mudaram os trajes para roupas mais confortáveis, adquiriram, principalmente, confiança em

si próprias. Se a guerra foi ou não um momento de emancipação da mulher é um assunto

polêmico, porém é inegável que a guerra constituiu-se em experiências significativas de

liberdade e responsabilidade, mostrou que a mulher era capaz de manusear instrumentos e

técnicas que desconhecia, destruindo as barreiras entre trabalhos masculinos e femininos

(MIRANDA, 2006).

Nos últimos anos as mulheres estão cada vez mais presentes no mercado,

ocupando cargos que antes eram destinados somente aos homens, como ocupações nos

tribunais superiores e na presidência da república, elas estão no topo das grandes

empresas, pilotam jatos, comandam tropas e muitos outros cargos que antes apenas

homens eram permitidos ocupar.

A história da mulher no mercado de trabalho está sendo marcada por dois

fenômenos importantes, a queda da taxa de fecundidade e o aumento do nível de instrução.

Para se colocarem no mercado muitas mulheres estão adiando projetos pessoais como a

maternidade. Elas já provaram que são ótimas cozinheiras, porém, ótimas motoristas,

engenheiras, advogadas, médicas, administradoras, e não ficam atrás do sexo oposto, pois

são capazes de cuidarem de si e conquistar aquilo que desejam provocando mudança na

história do mercado de trabalho.

No que diz respeito ao empreendedorismo, as mulheres começaram a optar por

este segmento, pois sendo proprietárias de seu próprio negócio tem mais liberdade com

horários, afazeres da casa, cuidado com os filhos, etc. A área com maior ingresso da mulher

no mercado de negócios é a área de serviços e nesta área este gênero se destaca muito,

pois tem mais facilidade de comunicação e relacionamento com o cliente. A mulher é

perseverante, detalhista e por ter um espírito mais sensível, tem facilidade em compor

equipes e valorizam o cooperativismo. Também na área intelectual elas se destacam dos

homens por estarem cada vez mais buscando aperfeiçoar o conhecimento acadêmico e por

apresentarem mais foco, ao contrário dos homens que são mais práticos e ágeis.

Aprender e gostar de empreender significa ter liderança, gostar de administrar seu

próprio negócio. As mulheres vêm desenvolvendo cada vez mais esta capacidade, seja por

oportunidade ou por necessidade. A Pesquisa GEM 2010 citou que, nos últimos 30 anos em

que Louis Jacques Filion vem pesquisando o fenômeno do empreendedorismo, ele destacou

algumas das mais marcantes características das mulheres empreendedoras, são elas

(GEM, 2010, p.79):

• Elas têm melhor conhecimento do mercado;

• Apresentam maior estabilidade;

• São mais bem preparadas (elas tendem a fazer suas lições de casa);

• Progridem mais lentamente (mulheres tomam conta da família);

• Planejam melhor;

• Quando iniciam seus negócios acreditam em menor proporção do que os homens de que

tem a competência necessária para ter sucesso;

• Parecem ter uma integração maior entre suas atividades pessoais e profissionais;

• Quando iniciam seus negócios, após os 50 anos de idade, tem objetivos diferentes dos

homens (querem permanecer ativas);

• 25% das mulheres acreditam que são tratadas diferentemente pelas instituições

financeiras por serem mulheres.

Diante dos novos desafios que circundam a participação feminina na economia pelo

seu trabalho, vem crescendo a participação empreendedora sempre vinculada a uma ação

profissional formalizada, e ainda com pouca ou quase nenhuma orientação de gestão,

minimizando a possibilidade de empoderamento, mas presente e em busca de crescimento.

Recentemente o Jornal de Londrina (Janeiro de 2014) publicou uma matéria de

Tatiane Salvatico sobre empreendedorismo e constatou que novos microempreendedores

quadruplicaram em Londrina. A matéria mostra que 2.761 micro e pequenas empresas

foram formalizadas em Londrina, no ano de 2013, segundo o Portal de Empreendedor, do

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; este número é quatro vezes

maior do que o registrado anualmente no município pelo SEBRAE. Algumas explicações

para esse aumento benéfico para a cidade e empreendedores, segundo consultora do

SEBRAE, Daniele Conte, seria a divulgação mais efetiva dos benefícios garantidos aos

microempreendedores e também a estabilidade por parte dos profissionais.

Segundo o Jornal de Londrina, os setores onde obtiveram mais formalização foram

os que estão ligados ao comércio de cosmético e roupas e construção civil. Algumas

mulheres iniciam o trabalho de venda autônoma, porém veem a necessidade de se

formalizarem quando se deparam com as irregularidades de oferecer nota fiscal, por

exemplo, e para não perder vendas, acabam optando por criar um CNPJ. Algumas

empresárias entrevistadas pelo jornal afirmaram que a qualidade do produto é um diferencial

na hora da venda e que também o que as ajudou na formalização de seus negócios foram

as consultorias recebidas pelo SEBRAE, pois perceberam que sem a busca de informações

fica difícil arriscar iniciar um novo negócio.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O levantamento dos dados foi realizado em duas etapas. A primeira refere-se à

caracterização do empreendedorismo feminino brasileiro por meio de dados secundários

obtidos a partir da Pesquisa GEM, disponível no site do IBQP. A segunda refere-se à uma

pesquisa de campo em uma amostra de empresas londrinenses lideradas por mulheres.

Os dados secundários foram obtidos por meio da Pesquisa GEM (2000 a 2012). O

Brasil iniciou sua participação nesta Pesquisa GEM – Global Entrepreneurship Monitor em

2000. Tal pesquisa de âmbito mundial teve início em 1999, por duas instituições

internacionais: Babson College e London Business School. No Brasil, a pesquisa é

conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade – IBQP e trabalha em

parceria técnica e financeira com o SEBRAE. Em 2011 passou a contar com o apoio técnico

do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas.

Em 2012, o GEM Brasil aperfeiçoou sua pesquisa e aumentou significativamente a

amostra pesquisada. Incluiu uma novidade ao analisar não só as estimativas no nível

nacional, permitindo também análises regionais.

Neste contexto, por meio de levantamento de dados, a presente pesquisa

classificou as empresas conforme os dados da GEM. Foram considerados outros aspectos

também, como grau de escolaridade, faixa etária, etc. Para coleta dos dados e análise dos

resultados, as empresas foram classificadas segundo seu porte, quais sejam: micro e

pequenas empresas, médias, e grandes empresas conduzidas por mulheres. A definição de

“Micro e Pequena Empresas” consta na Lei Geral (2006), a qual enquadra tais empresas

segundo sua receita bruta anual.

Na segunda etapa da pesquisa foram entrevistadas empresárias de Londrina. Para

tanto, foi aplicado um questionário numa amostra de empresas para registrar o perfil da

mulher empreendedora e seu papel no desenvolvimento socioeconômico do município.

A escolha desta metodologia se deu em razão das vantagens oferecidas como: (i)

desconhecimento de trabalhos sobre este tema; (ii) dados obtidos direto da realidade, à

medida que são as próprias empresas e instituições investigadas; (iii) economia e rapidez,

pois o questionário permite obtenção de grande quantidade de dados em pequeno espaço

de tempo e com baixo custo, devido ao tamanho da amostra que totalizou 20 empresas.

As questões direcionadas às empresas foram baseadas na Pesquisa GEM e abordaram os

seguintes pontos:

• Caracterização da empresa (ano de fundação, localização, propriedade do capital, tipo de

gestão, tipo de sociedade);

• Escolaridade dos empresários;

• Mão de obra (número de empregados – formais e informais, especializados, segmentação

por gênero, fornecimento de qualificação e capacitação);

• Faixa de faturamento da empresa (em R$);

• Mentalidade Empreendedora: Londrina 2014 (Considera o pensamento sobre abrir um

novo negócio);

• Condições que afetam o empreendedorismo: fatores limitantes e favoráveis segundo a

percepção dos entrevistados;

• Motivação para iniciar o novo negócio (por oportunidade ou necessidade);

•Características dos empreendimentos (conhecimento sobre o produto, concorrência, idade

da tecnologia, etc.).

Seguindo essas abordagens, reuniram-se as informações necessárias para

identificar a dinâmica do empreendedorismo feminino em Londrina. Com base nas

empresas cadastradas na Câmara das Mulheres Empreendedoras e Gestoras de Negócios

de Londrina – CMEG, cujo cadastro totaliza 124 empresas lideradas por mulheres, foi criada

uma amostra composta de 20 micro e pequenas empresas. Assim, aplicou-se o questionário

elaborado, o qual foi preenchido com informações adquiridas por essas empresas. Cabe

ressaltar que a população não reflete o universo, visto que essa representa apenas as

empresas cadastradas na CMEG.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistadas 20 empresas no município de Londrina, cujos proprietários são

mulheres. Dentre essas empresas analisou-se o tempo que a empresa está inserida no

mercado, a atividade que exerce, tipo de capital, forma de sociedade, escolaridade do

proprietário e como se dá a sua gestão.

Em relação ao tempo em que a empresa está inserida no mercado, verificou-se que

a maioria das empresas da amostra (65%) está em estágio inicial entre 0 a 5 anos. As

empresas entre 6 a 10 anos representam 10%, assim como as que se encontram entre 11 a

15 anos (10%); as com mais de 20 anos representam 15% das entrevistadas (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Idade das empresas da amostra do município de Londrina - 2014

Fonte: Elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Quanto à origem do capital das empresas, constatou-se que a maioria das

empresas entrevistadas (85%) iniciou suas atividades por meio de capital nacional próprio,

sendo que apenas uma empresa (5%), possui capital nacional próprio e de terceiros e duas

empresas (10%) abriram seu negócio com 100% de participação de terceiros (Gráfico 2).

Sobre as vantagens e desvantagens do empreendedor usar capital de terceiros ou

próprio, o vice-coordenador acadêmico do GVcepe (Centro de Estudos em Private Equity e

Venture Capital) da Fundação Getúlio Vargas-EAESP, André Saito, em entrevista à

Empreender News comentou que “a principal vantagem é que ele tem controle total do

negócio, tem autonomia para tomar decisões. Pode decidir como e quando crescer, quem

contratar, onde investir, como gastar, etc.” (IBMEC, 2002). Segundo Saito (2002), quando o

empresário decide por adquirir capital de terceiros, ele se vê obrigado a gerar lucros

suficientes para pagar a dívida e essa seria uma das desvantagens.

Gráfico 2 - Origem do capital das empresas da amostra do município de Londrina - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Em relação à melhor escolha sobre o capital para investir no negócio perante a

economia brasileira, Saito (2002) diz que “altas taxas de juros praticadas no Brasil dificultam

o acesso ao crédito”.

No que se refere ao tipo de sociedade, não havia nenhuma empresa com o tipo de

sociedade anônima. Constatou-se que 70% das empresas amostradas caracterizam-se

como sociedade limitada e 30% delas são empresas individuais (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Tipo de sociedade das empresas da amostra do município de Londrina – 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Para diferenciar o tipo de sociedade, pode-se considerar que, uma das principais

características da empresa individual é que a responsabilidade ilimitada é do titular, que

responde com seu patrimônio particular as obrigações contraídas pela empresa. No tipo de

sociedade limitada, cada sócio responde pelo valor de sua cota (PLANETA CONTÁBIL,

2013). Portanto, em relação ao risco de cada empresário no caso de falência, a empresa

individual sofrerá mais caso isso ocorra, pois responde totalmente com seu patrimônio.

Ainda em relação à sociedade das empresas da amostra, constatou-se que 67%

delas possuem 1 sócio masculino e 1 feminino. As empresas com 2 sócios femininos

representaram 22% e as com 3 sócios femininos, 22% (Gráfico 4). Com esse resultado,

observou-se a predominância de mulheres nas empresas entrevistadas e percebeu-se que

as elas possuem preferência para iniciar uma sociedade com alguém do mesmo gênero.

Gráfico 4 – Número de sócios por gênero das empresas da amostra do município de Londrina - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Sobre a escolaridade das empresárias da amostra, verificou-se que 40% possuem

ensino superior completo, ou seja, das empresas pesquisadas a maioria das proprietárias

possui uma escolaridade elevada, se comparada com os dados da GEM 2012, os

empresários (homens e mulheres) da região Sul com ensino superior completo representam

apenas 10,9%. A segunda maior porcentagem, 30%, representa as empresárias com pós-

graduação, 10% com ensino fundamental completo e o restante dos 20% dividiu-se entre

ensino fundamental incompleto (5%), ensino médio incompleto (5%), ensino médio completo

(5%) e ensino superior incompleto (5%) (Gráfico 5).

Gráfico 5 - Escolaridade do proprietário ou sócio majoritário das empresas da amostra do município de Londrina – 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Este resultado que mostra um grau de escolaridade elevado das empresárias é um

fator essencial na pesquisa, pois qualquer pessoa que tenha acesso à educação possui

maior rendimento em sua atividade, consegue administrar com maior eficácia seu negócio e

também incentiva seus funcionários a investir nos estudos.

Na questão sobre a gestão do empreendimento, 50% das empresas entrevistadas

possui gestão profissional, 45% gestão familiar e apenas 5% possui gestão dirigida pelo

sócio majoritário (Gráfico 6).

Estudos indicam que a gestão profissional é mais eficaz que a familiar. No entanto,

segundo Santos (2009), o controle familiar apresenta desempenho similar ou superior às

não familiares, pois elas criam laços estáveis e duradouros com os parceiros de negócio que

facilitam muito a negociação. O lado negativo é que esse tipo de gestão pode gerar

nepotismo, paternalismo, falta de conhecimento de gestão e o favorecimento à família em

detrimento ao negócio, porém cita que esses pontos não afetam de forma tão intensa.

Gráfico 6 - Tipo de gestão das empresas da amostra do município de Londrina – 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Sobre a mão de obra das empresas analisadas, procurou-se examinar a evolução

no número de empregados, assim como o gênero predominante dos funcionários dessas

empresas, se houve crescimento da informalidade ou formalidade da mão de obra e se

estas empresas proporcionam qualificação e/ou capacitação para os funcionários.

Verificou-se que a maioria das empresas da amostra (14) iniciou suas atividades

com até 10 funcionários (Gráfico 7). Duas empresas, uma com 26 anos e outra com 24 anos

de fundação não se recordavam o número de funcionários no ano de abertura e também

após 5 anos da fundação. Observou-se que, após 5 anos de fundação, algumas empresas

expandiram o número de funcionários por meio de contratação de mais mão de obra.

Porém, como 65% das empresas, ou seja, 13 delas possuem de 0 a 5 anos, estas

obviamente não preencheram o campo "após 5 anos". Verificou-se também que uma

empresa com 6 anos de fundação não respondeu o campo "após 5 anos" e uma empresa

de 5 anos de fundação não possui funcionários, apenas sócios.

No quesito formalidade, três empresas declararam empregar funcionários informais

no ano de abertura e ainda em 2014empregam a mesma quantidade. No entanto, uma das

empresas respondeu que emprega funcionários informais, mas fez uma observação de que

estes são terceirizados de outras empresas, então não se caracteriza como informais.

Gráfico 7 – Número de funcionários (formais e informais) no ano de abertura, após 5 anos e no ano atual nas empresas da amostra do município de Londrina - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

No que tange a mão de obra especializada por gênero, constatou-se que o

predominante nas empresas da amostra é o feminino. No ano de abertura, apenas 4

empresas empregavam homens, cerca de 20%; após 5 anos haviam 3 empresas que

empregavam homens, lembrando que 65% (13) das empresas possuem de 0 a 5 anos de

fundação, portanto estas não responderam ao questionamento “após 5 anos”. Em 2014,

houve aumento na contratação de mão de obra masculina, no entanto, foi em proporção não

significativa, pois apenas 8 empresas empregaram homens (Gráfico 8).

Gráfico 8 - Percentual de funcionários do gênero homem no ano de abertura, após 5 anos e no ano atual nas empresas da amostra no município de Londrina - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Em relação à especialização da mão de obra, verificou-se que apenas 4 empresas

possuem funcionários especializados e que não houve grande aumento deste número no

decorrer nos anos. Em Londrina, 30% das empresas da amostra citaram que utilizam o

método de treinamentos dentro e fora da empresa para qualificação da mão de obra. Esses

cursos têm como agente realizador instituições como ACIL, SENAI, SEBRAE, entre outras

empresas privadas. Vale ressaltar que 25% das empresas não realizam nenhum tipo de

treinamento (Gráfico 9).

Utilizando treinamentos, seja fora ou dentro da empresa, as equipes podem se

aperfeiçoar e otimizar seus resultados. As empresas buscam novas formas de aumentar a

produtividade com o menor custo e uso de recursos possíveis e uma delas é o treinamento.

Segundo a Sociedade Brasileira de Coaching (1999), investir no desenvolvimento dos

funcionários é um grande ganho para empresa, pois com colaboradores mais produtivos e

mais capacitados os serviços são melhorados, logo lucros e resultados atingidos sofrem um

aumento considerável.

Gráfico 9 - Qualificação da mão de obra nas empresas da amostra em Londrina - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Ao verificar o porte das empresas por faixa de faturamento, foi constatado que em

Londrina o setor empreendedor feminino da amostra é predominantemente formado por

micro e pequenas empresas, as quais representam 85%. Cabe ressaltar que não foi

entrevistada nenhuma empresa de médio e grande porte.

Gráfico 10 - Porte das empresas da amostra por faixa de faturamento nas empresas da amostra no município de Londrina - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Em relação aos fatores limitantes e favoráveis para o empreendedorismo em

Londrina, foi apontado que 52% das empresárias entrevistadas acreditam que a

Infraestrutura Comercial e Profissional é o fator mais favorável e 41% acreditam que o maior

fator passível de melhoria é a Educação e Capacitação (Figura1).

Como mostra o gráfico 10, a maioria das empresas se enquadra como micro

empresa. Estas possuem maior apoio financeiro por meio de redução nos impostos e

incentivo à formalização, com isso os fatores limitantes “políticas governamentais” e “apoio

financeiro” não foram apontados como de maior relevância para as empresárias. Destacam-

se as políticas governamentais: burocracia, impostos, suporte e ações e esforços dos

agentes públicos para promover as relações e colaborações comerciais (feiras, cursos, etc.).

Figura 1 – Condições que afetam o empreendedorismo nas empresas da amostra: Fatores favoráveis e limitantes – Londrina 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Um dos principais focos deste estudo é entender a motivação que leva o

empreendedor a abrir um novo negócio e, para isso, foi questionado às empresas

entrevistadas se o motivo que as levaram a iniciar seu negócio seria por oportunidade ou

por necessidade.

Segundo a Pesquisa GEM (2012), os empreendedores por necessidade são

aqueles que iniciam um empreendimento autônomo por não possuírem melhores opções de

trabalho, abrindo um negócio a fim de gerar renda para si e suas famílias. Os

empreendedores por oportunidade optam por iniciar um novo negócio mesmo quando

possuem alternativas de emprego e renda, ou ainda, para manter ou aumentar sua renda

pelo desejo de independência no trabalho.

Conforme a pesquisa de campo verificou-se que 68% das empresas da amostra do

município de Londrina iniciaram seu negócio por oportunidade e 32% iniciaram por

necessidade (Gráfico 11). Este resultado é muito importante para o município, pois, segundo

a Pesquisa GEM (2012), atualmente há uma maior proporção de empreendedores por

oportunidades em relação à do início da pesquisa GEM, no final dos anos 90, o que é

também compatível com o dinamismo da economia brasileira após 2002. Mercados mais

dinâmicos, inclusive com expressiva capacidade de gerar empregos formais, tendem a

induzir ao empreendedorismo por oportunidade vis a vis ao de necessidade.

Gráfico 11 – Motivação para iniciar o novo negócio nas empresas da amostra no município de Londrina - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Depois de identificado que o percentual de empreendedorismo por oportunidade é

predominante entre as empresas entrevistadas, verificou-se também a mentalidade

empreendedora. Nesta análise, constatou-se que a maioria das empreendedoras (25%)

afirma conhecer pessoalmente alguém que começou um novo negócio nos últimos dois

anos. A segunda afirmação mais citada (20%) é a de que no país se vê frequentemente na

mídia histórias sobre novos negócios bem sucedidos (Quadro 1).

Quadro 1 - Mentalidade Empreendedora nas empresas da amostra no município de Londrina – 2014

AFIRMAÇÕES DAS EMPRESÁRIAS Percentual das afirmações

Afirmam conhecer pessoalmente alguém que começou um novo negócio nos últimos dois anos. 25%

Afirmam perceber para os próximos seis meses boas oportunidades para se começar um novo negócio na região onde vivem.

11%

Afirmam ter o conhecimento, a habilidade e a experiência necessários para se começar um novo negócio. 13%

Afirmam que o medo de fracassar impediria que começassem um novo negócio. 3%

Afirmam que no país, a maioria das pessoas gostaria que todos tivessem um padrão de vida parecido. 7%

Afirmam que no país, a maioria das pessoas considera o início de um novo negócio como uma opção desejável de carreira.

15%

Afirmam que no país, aqueles que alcançam sucesso ao iniciar um novo negócio tem status e respeito perante a sociedade.

7%

Afirmam que no país, se vê frequentemente na mídia histórias sobre novos negócios bem sucedidos. 20%

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Esses dois pontos mostram que as mulheres entrevistadas conseguem identificar

as oportunidades de negócio no ambiente em que atuam e possuem capacidade para

explorá-las, beneficiando assim não apenas a si própria, mas a sociedade como um todo.

Com relação ao medo do fracasso, apenas 3% das empresárias apontou como sendo sua

mentalidade, ou seja, a maioria das mulheres entrevistadas não acredita que o medo de

fracassar impediria que começassem um novo negócio.

A fim de analisar as características dos empreendimentos, realizou-se um

levantamento com uma série de informações que foram capazes de analisar o grau de

inovações dos negócios. Segundo a Pesquisa GEM (2012), quanto mais os

empreendimentos oferecem produtos e serviços que são considerados novos, possuem

poucos concorrentes, têm orientação internacional, esperam criar muitas ocupações e

utilizam tecnologias mais novas, maior é a probabilidade deles serem empreendimentos

mais inovadores.

De acordo com a Figura 2, a grande maioria (70%) das empresas afirma que o

conhecimento dos produtos ou serviços é novo para alguns, e quanto à concorrência, 60%

afirmam que possuem muitos concorrentes. Esse resultado aponta que a maioria das

empresas entrevistadas possui seu negócio atrelado a uma forte concorrência e que para

isso precisam sempre inovar para se manterem vivas no mercado.

Figura 2 - Características dos empreendimentos nas empresas da amostra no município de Londrina: conhecimento dos produtos ou serviços e concorrência - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Quanto à expectativa de criação de empregos nos próximos cinco anos, a maioria

das empresas (65%) respondeu que pretende criar de 1 a 5 cinco empregos nos próximos

anos, e 45% das empresas possuem sua tecnologia ou processos com idade entre 1 a 5

cinco anos. Este resultado mostra que a maioria das empresas pesquisadas está em estado

inicial e é micro empresa (Figura3).

Figura 3 - Características dos empreendimentos nas empresas da amostra e Londrina: Expectativa de criação de empregos (5 anos) e idade da tecnologia ou processos - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Ao analisar a orientação internacional, verificou-se que a maioria das empresas

(80%) não possui consumidores no exterior e 15% possui de 1 a 25% de seus consumidores

no exterior. Apenas 1 empresa declarou possuir mais de 75% dos seus consumidores no

exterior (Gráfico 12).

Gráfico 12 – Orientação internacional nas empresas da amostra do município de Londrina - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

O quadro 2 indica a diversidade das atividades econômicas exercidas pelas

empresas da amostra. Para analisar tais atividades, foi utilizado o código CNAE –

Classificação Nacional de Atividades Econômicas, que, segundo a Receita Federal (2014), é

o instrumento de padronização nacional dos códigos de atividade econômica e dos critérios

de enquadramento utilizados pelos diversos órgãos da Administração Tributária do país.

Quadro 2 - Descrição da Atividade Econômica Principal desenvolvida pelas empresas da amostra no município de Londrina – 2014 Código CNAE DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA PRINCIPAL

23.91-5-03 Aparelhamento de placas e ex. de trab. em mármore, granito, ardósia e outras pedras

45.20-0-01 Serviços de manutenção e reparação mecânica de veículos automotores

46.18-4-99 Outros representantes comerciais e agentes do com. esp. em prod. não esp. Ant.

47.81-4-00 Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios

47.21-1-04 Comércio varejista de doces, balas, bombons e semelhantes

47.89-0-99 Comércio varejista de outros produtos não especificados anteriormente

47.72-5-00 Comércio varejista de cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal

47.814-00 Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios

47.81-4-00 Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios

47.89-0-99 Comércio varejista de outros produtos não especificados anteriormente

47.89-0-07 Comércio varejista de equipamentos para escritório

56.11-2-01 Restaurantes e similares

56.12-1-00 Serviços ambulantes de alimentação

70.20-4-00 Atividades de consultoria em gestão empresarial, exceto consul. técnica específica

85.91-1-00 Ensino de esportes

85.93-7-00 Ensino de idiomas

85.99-6-04 Treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial

87.12-3-00 Atividades de fornecimento de infraestrutura de apoio e assistência ao paciente no domicílio

96.02-5-02 Atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza

96.02-5-01 Cabeleireiros

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Os códigos da CNAE foram obtidos através dos CNPJ das empresas da amostra

que concederam tal informação a fim de contribuir para que a pesquisa fosse realizada. No

site da Receita Federal é possível obter a CNAE, a qual resulta de um trabalho conjunto das

três esferas de governo, elaborado sob a coordenação da Secretaria da Receita Federal e

orientação técnica do IBGE, com representantes da União, dos Estados e dos Municípios,

na Subcomissão Técnica da CNAE, que atua em caráter permanente no âmbito da

Comissão Nacional de Classificação – CONCLA.

Gráfico 13 - Descrição da Atividade Econômica Principal desenvolvida pelas empresas da amostra no município de Londrina - 2014

Fonte: elaborado pelos autores, a partir do estudo de campo.

Com as informações do quadro 2 e do gráfico 13, pode-se concluir que a atividade

predominante das empresas entrevistadas é a de serviços, mais especificamente o

comércio varejista (40%). Esta diversidade de atividades econômicas mostrou-se um fator

importante para a pesquisa, pois os resultados foram obtidos em vários segmentos,

permitindo uma ampla visão do mercado empreendedor de Londrina.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do final da década de 1990, o Brasil tem buscado intensificar o

empreendedorismo, procurando criar e manter as empresas vivas no mercado de trabalho, a

fim de diminuir a taxa de mortalidade logo nos primeiros anos. Ao longo desses anos, pode-

se observar a quebra de um paradigma cultural de não valorização de mulheres de sucesso,

as quais têm contribuído para o desenvolvimento esse país e gerado riquezas.

A pesquisa confirma o que a literatura aponta, isto é, de que as mulheres estão

ganhando cada vez mais espaço no mercado empreendedor e se fortalecendo em diversos

segmentos da economia. Elas são determinadas e não buscam mais empreender por

necessidade, mas sim por oportunidade, ou seja, optam por iniciar um novo negócio mesmo

quando possuem alternativas de emprego e renda, ou ainda, para manter ou aumentar sua

renda ou pelo desejo de independência no trabalho. No Brasil (GEM, 2012), a taxa de

empreendedorismo por oportunidade está em 69,2%, na região Sul é de 74,1% e, referente

às empresas da amostra, a taxa está em 68% contra 32% que iniciaram seus negócios por

necessidade.

Verificou-se que a maioria das empresas da amostra (65%) está em estágio inicial

entre 0 a 5 anos e, segundo o porte por faturamento, 85% das empresas são micro e

pequenas empresas. Quanto à origem do capital das empresas, constatou-se que no

município de Londrina a maioria das empresas entrevistadas (85%) iniciou suas atividades

por meio de capital nacional próprio.

Quanto à escolaridade, que é um dos pontos importantes da pesquisa, verificou-se

que 40% das empresárias da amostra possuem ensino superior completo e 30% possuem

pós-graduação. Ao comparar esses resultados com os dados da GEM 2012, observa-se que

os empresários (homens e mulheres) da região Sul com ensino superior completo

representavam apenas 10,9%.

Uma vez que as empresárias procuram se qualificar, elas também investem na

educação dos seus funcionários, a fim de aumentar seus rendimentos. É possível confirmar

esta afirmação por meio dos resultados da qualificação da mão de obra nas empresas da

amostra, sendo que apenas 25% das empresas não realizam nenhum treinamento para

seus funcionários.

No que tange a mão de obra especializada por gênero, constatou-se que o gênero

predominante nas empresas da amostra é o feminino, ou seja, quando a empresa possui

como empresária uma mulher, ela tenderá a empregar mais funcionários do gênero feminino

do que masculino, segundo a amostra pesquisada. Sobre os fatores favoráveis e limitantes

para o empreendedorismo no município de Londrina, segundo a amostra, vale ressaltar que

elas não consideram as “políticas governamentais” e “apoio financeiro” como fatores

limitantes, pois a maioria enquadra-se como Micro ou Pequena Empresa, e estas recebem

maior apoio governamental.

Por fim, a pesquisa de campo permitiu concluir que a mulher empresária

londrinense tem buscado oportunidades para iniciar novos negócios e também tem

reconhecido a importância sobre a qualificação da mão de obra de seus funcionários e sua

própria qualificação. Conclui-se também que, assim como em todo o Brasil, a mulher está

cada vez mais presente no meio empreendedor, pois ela tem como característica ser

perseverante, detalhista e ter um espírito mais sensível, tendo facilidade em compor equipes

e valorizar o cooperativismo.

REFERÊNCIAS

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