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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS
Área de Concentração: Geoquímica
EMILIANO MENDONÇA SILVA
ANÁLISE ESTATÍSTICA DE PARÂMETROS DE QUALIDADE DE ÁGUAS
SUPERFICIAIS COMO INDICADORES DA GEOQUÍMICA DO SELÊNIO EM UMA
MINA DE CARVÃO CANADENSE
CUIABÁ/MT
2012
i
ANÁLISE ESTATÍSTICA DE PARÂMETROS DE QUALIDADE DE
ÁGUAS SUPERFICIAIS COMO INDICADORES DA GEOQUÍMICA DO
SELÊNIO EM UMA MINA DE CARVÃO CANADENSE
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
Reitora
Maria Lúcia Cavalli Neder
Vice-Reitor
Francisco José Dutra Souto
Pró-Reitora de Pós-Graduação
Leny Caselli Anzai
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
Diretor
Edinaldo de Castro e Silva
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS
Chefe
Paulo César Corrêa da Costa
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Geociências
Amarildo Salina Ruiz
iii
iv
CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ANÁLISE ESTATÍSTICA DE PARÂMETROS DE QUALIDADE DE
ÁGUAS SUPERFICIAIS COMO INDICADORES DA GEOQUÍMICA DO
SELÊNIO EM UMA MINA DE CARVÃO CANADENSE
Emiliano Mendonça Silva
Orientador
Prof. Dr. Denis de Jesus Lima Guerra
Co-Orientador
Prof. Dr. Marcello Mariz da Veiga
Department of Mining Engineering
University of British Columbia
Vancouver, Canadá
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geociências do
Departamento de Recursos Minerais da Universidade Federal de Mato Grosso como
requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Geociências
Área de concentração: Geoquímica
CUIABÁ
2012
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte
S586a Silva, Emiliano Mendonça.
Análise estatística de parâmetros de qualidade de águas superficiais
como indicadores da geoquímica do selênio em uma mina de carvão
canadense / Emiliano Mendonça Silva. -- 2012.
xiii, 88 f. : il. (algumas color). ; 30 cm.
Orientador: Denis de Jesus Lima Guerra.
Co-orientador: Marcello Mariz da Veiga.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso,
Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós-Graduação em
Geociências, Cuiabá, 2012.
Inclui bibliografia.
1. Águas superficiais - Qualidade. 2. Selênio – Meio ambiente. 3.
Mineração de carvão – Selênio. 4. Geoquímica. 5. Geologia. I. Título.
CDU 556.5:[ 622.333:553.662](71)
Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não
seja para venda ou qualquer fim comercial
v
Dissertação defendida e aprovada em 16 de Março de 2012 pela Banca Examinadora
constituída pelos professores:
_____________________________________
Prof. Dr. Denis de Jesus Lima Guerra
Presidente da Banca/Orientador (DRM/UFMT)
_____________________________________
Prof. Dr. Marcelo Sacardi Biudes
Examinador Interno (IF/UFMT)
_____________________________________
Prof. Dr. Rômulo Simões Angélica
Examinador Externo (UFPA)
vi
Dedico este trabalho aos meus pais,
irmã, amigos e familiares que sempre
me apoiaram em minha busca ao
conhecimento.
vii
Agradecimentos
Ao Pai Celestial, que, dentre o número infinito de possibilidades cósmicas, me permitiu existir
no planeta Terra, humano, saudável, em um período de busca pelo conhecimento, em um país livre,
filho de pais maravilhosos, amigo de pessoas maravilhosas, e tão grato por tudo que a melhor forma
que tenho de agradecer é buscando compreender Seus mistérios através da modesta ciência humana.
Aos meus pais, irmã, e familiares, que moldaram a essência do meu caráter, sempre me
incentivando, apoiando minhas escolhas e alimentando o meu espírito com o mais puro amor.
Aos amigos Angelo Soccio, André Chormiak, João Oinaski, Victor Faria, Aldebaran Martini e
tantos outros que me proporcionam um ciclo social verdadeiro, rico em cultura e entretenimento e, por
sempre me auxiliarem nos momentos de dificuldades, tristezas e necessidades.
Ao Professor Edinaldo de Castro e Silva, amigo e orientador de Graduação, por fomentar meu
contato inicial com a pesquisa científica com tanta confiança.
Ao Professor Denis Lima Guerra, amigo e orientador de Mestrado, pela confiança
incondicional, apoio em meus empreendimentos acadêmicos e valorosas orientações acadêmicas e de
vida.
Ao Professor Marcello Mariz da Veiga, amigo e co-orientador de Mestrado, pela confiança,
orientação, e tão grande apoio que me proporcionaram a ida ao Canadá, sem a qual, este trabalho e
minha formação como Mestre em Ciências seriam completamente diferentes.
Aos membros da Lorax Environmental Services, em especial ao cientista Alan Martin, por
confiar em meu trabalho permitindo que eu fizesse parte do projeto que resultou nesta dissertação, e
me oferecer orientações tão valiosas durante a execução deste trabalho. Um grande agradecimento
também a Justin Stockwell e John Dockery pelas valiosas dicas, e aos amigos Victor Veiga e Amrit
Lally, pela companhia nas escaladas da Grouse Mountain e nos jogos semanais dos Canucks.
A todos do Departamento de Engenharia de Minas da University of British Columbia, por me
receberam tão bem e pela paciência e ajuda durante minha estadia no Canadá, em especial a Sally
Finora.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de
mestrado, processo 146728/2010-6. E ao Emerging Leaders in the Americas Program, do Governo do
Canadá, por financiar meu intercâmbio na University of British Columbia.
Por fim, a todos que em algum momento cruzaram o meu caminho e contribuíram para que eu
chegasse até este momento.
Muito obrigado!
viii
Resumo
Embora seja um elemento essencial ao metabolismo dos animais, os efeitos adversos de concentrações
elevadas de selênio no meio ambiente têm sido um fator de preocupação em áreas de mineração de
carvão. Estudos têm demonstrado, que a presença do nitrato em ambientes anóxicos pode impedir que
o selênio seja reduzido, bem como atuar como um agente oxidante de minerais sulfetados e
seleníferos. Em áreas de mineração, o nitrato derivado de resíduos de explosivos poderia, portanto,
contribuir para a lixiviação das formas oxidadas de Se(IV) e Se(VI) a corpos d’água receptores à
jusante das minas, podendo atingir níveis tóxicos na biota aquática. Este trabalho apresenta os
resultados de uma Análise de Componentes Principais e Análise de Correlação, empreendidos sobre
um conjunto de dados hidrogeoquímicos de águas superficiais da Mina Trend, uma mina de carvão a
céu aberto, localizada na Província de British Columbia, Canadá. Seu objetivo foi compreender as
associações geoquímicas do selênio na área de estudo, bem como, possíveis mecanismos de lixiviação
e/ou atenuação do elemento aos corpos d’água receptores da mina. Os resultados indicam que a
principal fonte de selênio às represas de decantação da mina provém da oxidação de minerais
sulfetados. Fortes correlações entre Se e NO3-, bem como, SO4
2- e NO3
-, sugerem que o nitrato
participe na oxidação de minerais sulfetados/seleníferos, seja por um possível excesso no uso de
explosivos na mina, que geraria frações mais finas de rejeitos de rochas, mais suscetíveis à oxidação;
ou pela atuação do nitrato em processos redox, que causariam a oxidação do S e Se. Elevadas
concentrações de dureza na água demonstraram ser inversamente proporcionais às correlações entre Se
e NO3- e SO4
2- e NO3
-, possivelmente em razão da coprecipitação do Se e SO4
2- com minerais
secundários, tais como calcita e gipsita. Isso seria um mecanismo de atenuação que reduziria a
influência do NO3- sobre o Se e S, no entanto, estudos posteriores devem ser empreendidos para
comprovar a efetividade desse mecanismo na atenuação de compostos de Se em minas.
Palavras-chave: Qualidade de águas superficiais, Geoquímica, Selênio, Carvão
ix
Abstract
Although it is an essential element in the metabolism of animals, the adverse effects of elevated
concentrations of selenium in the environment have been a parameter of concern in coal mining areas.
Studies have been demonstrating that the presence of nitrate in anoxic environments can prevent
selenium reduction as well as act as an electron acceptor capable of oxidizing sulfide and selenium
minerals. In mine settings, nitrate as a residue from blasting materials could, therefore, contribute to
the leaching of oxidized forms of Se(IV) and Se(VI) to water bodies downstream the mines, in a way
Se could reach toxic levels to the aquatic biota. This work presents the results of Principal Component
Analysis and Correlation Analysis undertaken on a database of hydrogeochemical parameters of
surface water from Trend Mine, an open pit coal mine located in the Province of British Columbia,
Canada. The objectives of this work were to understand the geochemical associations of selenium in
the studied area, as well as the possible leaching and/or attenuating mechanisms of the element to the
receiving water bodies downstream the mine. The results indicate that the main source of selenium to
the mine sediment ponds is derived from the oxidation of sulfide minerals. Strong correlations
between Se and NO3-, as well as SO4
2- and NO3
- suggest that nitrate participates in the oxidation of
sulfide/selenium minerals either by an excessive use of explosives in the mine, which would generate
thinner fractions of waste rocks, more susceptible to oxidation; or by the action of nitrate in redox
processes that would cause the oxidation of S and Se in anoxic settings. Elevated concentrations of
hardness in water demonstrated to be inversely proportional to the correlations of Se and NO3- and
SO42-
and NO3-, possibly due to the co-precipitation of Se and SO4
2- with secondary minerals, such as
calcite and gypsum. This would be an attenuating mechanism that could reduce the influence of NO3-
over Se and S, however, further studies need to be undertaken in order to assess the effectiveness of
this mechanism in the attenuation of Se compounds in mine environments.
Keywords: Surface water quality, Geochemistry, Selenium, Coal
x
Sumário
Lista de Figuras ................................................................................................................................... xii
Lista de Tabelas .................................................................................................................................. xiii
CAPÍTULO 1 ..........................................................................................................................................1
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................1
1.1. Apresentação do tema ............................................................................................................1
1.2. Justificativa ............................................................................................................................2
1.3. Objetivos ................................................................................................................................3
1.4. Limitações do trabalho ...........................................................................................................4
CAPÍTULO 2 ..........................................................................................................................................5
SELÊNIO NO MEIO AMBIENTE ......................................................................................................5
2.1. Propriedades químicas do elemento .......................................................................................5
2.2. Ocorrências de selênio ...........................................................................................................7
2.2.1. Selênio em carvões ...........................................................................................................9
2.2.2. Associações de selênio com a matéria orgânica ............................................................12
2.2.3. Associações de selênio com minerais sulfetados............................................................12
2.2.4. Associações de selênio com argilominerais ...................................................................13
2.2.5. Associações de selênio com oxi-hidróxidos de ferro e manganês ..................................16
2.3. Remobilização, transporte e atenuação do selênio ...............................................................17
2.3.1. Fluxos globais ................................................................................................................17
2.3.2. Remobilização e transporte do selênio ..........................................................................19
2.3.3. Transformações biogeoquímicas e mecanismos de atenuação do selênio .....................23
2.4. Ecotoxicologia do selênio ....................................................................................................29
2.4.1. Efeitos em humanos ........................................................................................................29
2.4.2. Efeitos em animais domésticos .......................................................................................30
2.4.3. Efeitos em peixes e animais selvagens ...........................................................................31
2.4.4. Efeitos em plantas ..........................................................................................................33
CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................................34
ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................................................34
3.1. Histórico e localização .........................................................................................................34
3.2. Geologia local e regional......................................................................................................34
3.2.1. Geologia local ................................................................................................................34
3.2.2. Geologia regional ..........................................................................................................35
3.3. Operação da mina .................................................................................................................37
3.3.1. Monitoramento da qualidade da água ...........................................................................38
3.4. Selênio em rejeitos de rocha e corpos d’água ......................................................................39
3.4.1. Rejeitos de rocha ............................................................................................................39
3.4.2. Corpos d’água receptores ..............................................................................................40
CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................................41
MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................................41
4.1. Abordagem metodológica ....................................................................................................41
4.2. Organização dos dados .........................................................................................................42
xi
4.3. Análise de Componentes Principais .....................................................................................42
4.3.1. Matriz de dados X ..........................................................................................................43
4.3.2. Matriz de covariância S .................................................................................................44
4.3.3. Padronização dos dados ................................................................................................45
4.3.4. Determinação dos componentes principais ...................................................................46
4.3.5. Contribuição de cada componente principal .................................................................48
4.3.6. Interpretação de cada componente ................................................................................48
4.3.7. Interpretação da PCA através do software Tanagra .....................................................49
4.4. Análise de correlação ...........................................................................................................50
CAPÍTULO 5 ........................................................................................................................................52
RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................................................52
5.1. Concentrações de selênio em águas superficiais ..................................................................52
5.2. Principais processos geoquímicos em rejeitos de rocha e represas de decantação ..............54
5.3. Relações entre o selênio e indicadores de intemperismo de rejeitos de rochas e resíduos de
explosivos ...........................................................................................................................59
CAPÍTULO 6 ........................................................................................................................................67
CONCLUSÕES ....................................................................................................................................67
6.1. Considerações finais .............................................................................................................67
6.2. Recomendações para estudos posteriores ............................................................................68
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................69
ANEXOS ...............................................................................................................................................79
xii
Lista de Figuras
Figura 1. Esquema proposto para as formas de ocorrência de Se em carvões. ......................................11
Figura 2. Representação esquemática da estrutura de argilominerais ....................................................14
Figura 3. Representação esquemática da dupla camada elétrica na superfície dos argilominerais ........15
Figura 4. Adsorção dos diferentes cátions de selênio à superfície de argilominerais ............................16
Figura 5. Ciclo biogeoquímico do selênio..............................................................................................18
Figura 6. Diagrama de estabilidade das espécies inorgânicas de Se em condições ambientais .............19
Figura 7. Ciclo aquático do selênio ........................................................................................................24
Figura 8. Transformações biogeoquímicas do selênio ...........................................................................25
Figura 9. Estratigrafia dos períodos Jurássico e Cretáceo na região carbonífera de Peace River ..........35
Figura 10. Fluxo das águas provenientes das pilhas de rejeitos de rocha. .............................................41
Figura 11. Selênio dissolvido versus pH. ...............................................................................................53
Figura 12. Correlação entre selênio total e selênio dissolvido nas amostras de água da Mina Trend. ...54
Figura 13. Correlação entre selênio dissolvido e sulfato nas amostras de água da Mina Trend. ...........63
Figura 14. Correlação entre selênio dissolvido e nitrato nas amostras de água da Mina Trend. ............64
Figura 15. Correlação entre sulfato e nitrato nas amostras de água da Mina Trend. .............................65
xiii
Lista de Tabelas
Tabela 1. Principais espécies de Se presentes no meio ambiente e biologicamente relevantes ...............6
Tabela 2. Principais propriedades químicas e físicas do enxofre e selênio. .............................................7
Tabela 3. Concentrações de Se em diferentes litologias ..........................................................................8
Tabela 4. Alguns minerais em depósitos de carvões ..............................................................................10
Tabela 5. Distribuição de Se em carvões de Elk River Valley, Canadá .................................................11
Tabela 6. Fluxos Globais de Selênio ......................................................................................................17
Tabela 7. Principais organismos capazes de metilar compostos de Se ..................................................26
Tabela 8. Coordenadas e descrições das estações de coleta de águas superficiais na Mina Trend. .......39
Tabela 9. Médias anuais de selênio total nas estações de monitoramento. ............................................52
Tabela 10. Autovalores, porcentagens de variância individual e porcentagens de variância acumuladas
dos componentes principais. .................................................................................................55
Tabela 11. Pesos dos parâmetros em cada componente principal rotacionados. ...................................58
Tabela 12. Parâmetros que apresentaram correlações fortes a moderadas com Se. ...............................59
Tabela 13. Parâmetros que apresentaram correlações fortes a moderadas com SO42-
. ..........................61
Tabela 14. Influência da dureza nas correlações de Se/NO3- e SO4
2-/NO3
-. ...........................................66
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA
O selênio (Se) é um elemento químico encontrado no grupo 16 da tabela periódica, juntamente
com o oxigênio, enxofre, polônio e telúrio. Pode ser encontrado na natureza em quatro estados de
oxidação: seleneto (-2), selênio elementar (0), selenito (+4) e selenato (+6). Em razão disso, o Se tem a
capacidade de formar compostos com vários outros elementos na natureza, incluindo brometos,
fluoretos, óxidos, hidratos, sulfetos, bem como, diversos selenetos metálicos (tais como Ag, As, Au,
Bi, Cd, Co, Cu, Fe, Hg, Ni, Pb, Sb, Tl e Zn) (CCME, 2009). A distribuição entre as espécies de Se é,
em geral, controlada pelo pH, potencial redox (Eh), forma química e estado de oxidação do Se,
atividade microbial e disponibilidade de compostos complexantes no ambiente deposicional
(BROWN, T. H., 1990).
O selênio apresenta diversas propriedades químicas similares às do enxofre, por isso, os ciclos
biogeoquímicos dos dois elementos podem se justapor, de modo que ambos os elementos sejam
passíveis de sofrer reações análogas no meio ambiente. No entanto, o Se é mais facilmente reduzido, e
esta é a principal característica que o difere do enxofre (HERRING, 1990).
O selênio ocorre como um elemento traço na crosta terrestre. Seus compostos podem ser
encontrados em praticamente todos os compartimentos terrestres: rochas, solos, água e ar (PLANT et
al., 2003). Cerca de 40% de todo o Se disponível na crosta terrestre está contido em rochas,
principalmente em arenitos, quartzitos e rochas calcárias (WANG, Z.; GAO, 2001). Existe uma forte
afinidade entre selênio e rochas carboníferas, podendo este ser encontrado em concentrações várias
vezes acima da média crustal nesse tipo de litologia (COLEMAN, L. et al., 1993). Em rochas
carboníferas, o Se pode se ligar covalentemente à estrutura molecular da matéria orgânica, bem como,
ionicamente às suas superfícies; substituir S em minerais sulfetados; ocorrer como selenetos ou; na
forma de selenato ou selenito, se ligar a aluminossilicatos ou oxi-hidróxidos de ferro e manganês
(LUSSIER et al., 2003).
O selênio é comumente encontrado como um substituto ao enxofre em minerais como
calcopirita, pirita, e outros sulfetos metálicos, sendo a pirita o principal mineral portador de selênio no
meio ambiente (YUDOVICH; KETRIS, 2006). Em razão das muitas similaridades entre o Se e S, a
substituição isomórfica do S pelo Se em minerais pode ser obtida com relativa facilidade
(COLEMAN, R. G.; DELEVAUX, 1957).
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
2
O selênio foi descoberto como sendo um nutriente essencial ao metabolismo dos animais em
1957 (SCHWARZ; FOLTZ, 1999). De todos os elementos, o Se tem uma das faixas mais estreitas
entre deficiência nutricional (<40 µg/dia) e níveis tóxicos (>400 µg/dia) (FORDYCE, 2007), com
ingestão recomendada de 55 µg/dia para humanos adultos (NIH, 2011). Altas concentrações de Se
podem causar sérios problemas a ecossistemas selvagens (HAMILTON, 2004). Incidentes nas décadas
de 1970 e 1980, como Lago Belews, Carolina do Norte (LEMLY, 1997), e no Parque Nacional de
Kesterson, Califórnia (OHLENDORF, 1989, 2002), respectivamente, evidenciam os efeitos tóxicos
que o selênio pode impor ao meio ambiente.
Por ser relativamente abundante em litologias carboníferas, o selênio é um parâmetro de
preocupação em áreas de mineração de carvão (BROWN, T. H., 1990). Nessas áreas, o selênio se
encontra associado principalmente a rejeitos de rocha e é liberado ao meio ambiente através da
oxidação de minerais que o contém, especialmente a pirita (LUSSIER et al., 2003), podendo atingir
níveis acima dos limites máximos recomendados para proteção da biota aquática (2,0 µg/L) em corpos
d’água receptores (MCDONALD; STROSHER, 1998).
Em ambientes aeróbicos, o oxigênio presente no sistema é o principal receptor de elétrons que
ocasiona a oxidação dos minerais (EVANGELOU; ZHANG, Y. L., 1995). Em ambientes anaeróbicos,
os compostos de selênio tendem a ser reduzidos por meio de processos bióticos e abióticos (BROWN,
T. H., 1990). Contudo, há evidências que sugerem que em condições anaeróbicas, o nitrato, oriundo de
rejeitos dos explosivos utilizados na mineração, possa afetar tanto a mobilização quanto atenuação de
compostos de selênio em ambientes de rejeitos de rochas. Em ambientes anóxicos, a presença do
nitrato pode manter o sistema suficientemente oxidante para impedir a redução do selênio (WERES et
al., 1990). Além disso, em um estudo de laboratório, concentrações de Se dissolvido apresentaram
fortes correlações positivas com nitrato dissolvido em soluções contendo xistos marinhos ricos em
selênio (WRIGHT, 1999). Os resultados foram atribuídos à oxidação do Se pelo nitrato em ambientes
anóxicos. Existem ainda, evidências de que o nitrato pode oxidar a pirita diretamente (TORRENTÓ et
al., 2010; ZHANG, Y.-C. et al., 2009), permitindo que as concentrações de Se contidas nesses
minerais sejam liberadas aos sistemas em questão.
1.2. JUSTIFICATIVA
Embora existam estudos sobre a geoquímica e mecanismos de liberação do selênio em carvões
e áreas de mineração de carvão (COLEMAN, L. et al., 1993; DREHER; FINKELMAN, R B, 1992;
LUSSIER et al., 2003; RILEY et al., 2007), o relacionamento entre o selênio e nitrato nessas áreas
ainda não foi examinado em detalhes. Nesse propósito, um projeto intitulado Role of Nitrate in the
Remobilization and Attenuation of Selenium in Coal Mine Waste (O Papel do Nitrato na
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
3
Remobilização e Atenuação do Selênio em Rejeitos de Minas de Carvão) foi elaborado pela empresa
de consultoria ambiental canadense Lorax Environmental Services, em parceria com o programa Mine
Environment Neutral Drainage (MEND), do governo canadense; a empresa de consultoria ambiental
SRK Consulting, bem como oito companhias de mineração de carvão, localizadas na Província de
British Colúmbia, Canadá. Um banco de dados de variáveis hidrogeoquímicas das minas foi
compilado, com o intuito de se adquirir uma compreensão geral sobre os efeitos do nitrato na
remobilização de compostos de selênio nas minas estudadas. Linhas de evidência como as condições
redox presentes nos ambientes de rejeitos de rochas, análise estatística dos dados, entre outras, foram
utilizadas para que tal compreensão fosse adquirida.
Em razão do potencial risco de bioacumulação e toxicidade do Se em ambientes aquáticos, o
entendimento dos diferentes processos que influem no comportamento geoquímico do selênio é de
fundamental importância para a proposição e implementação de estudos e ações posteriores que
promovam melhores práticas de gerenciamento do selênio em minas de carvão, proporcionando
alternativas economicamente viáveis, bem como, menores impactos ao meio ambiente.
O presente trabalho apresenta resultados de análises estatísticas empreendidas sobre os dados
hidrogeoquímicos de águas superficiais de uma das minas do projeto, a Mina Trend, localizada na
região nordeste de British Colúmbia. Os dados aqui apresentados foram obtidos entre os meses de
Março e Setembro de 2011, em Vancouver, Canadá, durante a realização de um intercâmbio
acadêmico financiado pelo Governo do Canadá, através do Programa Líderes Emergentes nas
Américas (ELAP – Emerging Leaders in the Americas Program). Tal intercâmbio foi realizado no
Departamento de Engenharia de Minas da Universidade de British Colúmbia, sob a orientação do Prof.
Dr. Marcello Mariz da Veiga, e os dados foram compilados durante um estágio na empresa Lorax
Environmental Services.
1.3. OBJETIVOS
O presente estudo teve como objetivo a investigação dos principais mecanismos geoquímicos
relacionados à lixiviação do selênio na área de estudo, dando maior foco ao papel do nitrato nesses
processos. Para isso, as técnicas estatísticas de Análise de Componentes Principais (PCA), e Análise
de Correlação foram aplicadas sobre o banco de dados hidrogeoquímicos de águas superficiais da
Mina Trend. As técnicas estatísticas empreendidas tiveram os seguintes objetivos específicos:
A análise de componentes principais foi aplicada com o objetivo de se realizar um agrupamento
estatístico dos dados, de modo a identificar diferentes processos geoquímicos responsáveis pela
liberação de Se e outros elementos-traço em corpos d’água.
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
4
A análise de correlação foi aplicada com o intuito de ilustrar o relacionamento geoquímico do
selênio com outros parâmetros hidrogeoquímicos, indicadores da oxidação de rejeitos de rochas,
bem como, do nitrato, oriundo de resíduos de explosivos.
1.4. LIMITAÇÕES DO TRABALHO
A principal limitação deste trabalho se dá no fato de o mesmo ter sido baseado em dados
amostrais coletados por terceiros, sem um controle da qualidade na amostragem e localidade das
amostras. Desse modo, ainda que, com base na literatura, os processos aqui descritos correspondam
aos reais fenômenos ocorridos na área de estudo, os mesmos não podem ser provados até que
experimentos posteriores sejam empreendidos.
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
CAPÍTULO 2
SELÊNIO NO MEIO AMBIENTE
2.1. PROPRIEDADES QUÍMICAS DO ELEMENTO
Selênio é um metaloide encontrado no grupo 16 ou VI-A da tabela periódica, juntamente com
o oxigênio, enxofre, polônio e telúrio. O selênio como elemento químico foi descoberto em 1817 pelo
sueco J. J. Berzelius, como um resíduo da oxidação de calcopirita na produção de ácido sulfúrico
(OLDFIELD, 2006). Existem seis isótopos naturais de selênio, sendo os mais abundantes: 80
Se (50%)
e 78
Se (23,5%). O selênio pode ser encontrado em quatro estados de oxidação: seleneto (-2), selênio
elementar (0), selenito (+4) e selenato (+6). Em razão de seus vários estados de oxidação, compostos
de Se podem ser encontrados no meio ambiente em várias formas, incluindo: brometos, fluoretos,
óxidos, hidratos, sulfetos e diversos compostos metálicos (ex.: selenetos de Ag, As, Au, Bi, Cd, Co,
Cu, Fe, Hg, Ni, Pb, Sb, Tl e Zn) (CCME, 2009). A distribuição entre tais espécies é, em geral,
controlada pelo pH, potencial redox (Eh), forma química e estado de oxidação do Se, atividade
microbial e disponibilidade de compostos complexantes no ambiente deposicional (BARCELOUX,
1999; FORDYCE, 2007).
Sua forma mais oxidada, Se(VI), existe em corpos d’água naturais como um oxiânion
tetraédrico em solução, nas formas de hidrogenoselenato (HSO4-) ou selenato (SeO4
2-). Existe
predominantemente em ambientes com altos potenciais redox, e é considerado bastante solúvel com
baixas capacidades de adsorção e precipitação (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009;
HERRING, 1990).
O selenito, Se(IV), existe nos ambientes aquáticos naturais como oxiânion de coordenação
tetratédrica. O selenito é um ácido fraco que pode ser encontrado como H2SeO3, HSeO3- ou SeO3
-,
dependendo do pH da solução (SÉBY et al., 2001). Em uma faixa moderada de potencial redox,
selenito é a espécie mais abundante de Se e sua mobilidade é governada principalmente por processos
de sorção/dessorção em várias superfícies sólidas, como argilominerais e oxi-hidróxidos metálicos
(BALISTRIERI; CHAO, 1990; PEAK, 2006) e matéria orgânica (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ;
CHARLET, 2009).
Em sua forma elementar, o selênio pode ser encontrado na natureza em vários alótropos
diferentes: dois alótropos amorfos (vermelho preto); três formas cristalinas monocíclicas (vermelho
escuro); selênio cristalino trigonal, ou romboédrico, (cinza metálico); selênio ortorrômbico, bem
como, três alótropos de cristais cúbicos formados sob condições de alta pressão (FERNÁNDEZ-
MARTÍNEZ; CHARLET, 2009).
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
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O seleneto, Se(-II), só é estável em condições fortemente redutoras, na forma de uma
variedade de selenetos metálicos e compostos orgânicos. Selenetos orgânicos não voláteis tais como
seleno-aminoácidos e selenetos metilados voláteis, principalmente dimetilseleneto e dimetildiseleneto,
podem ocorrer em ambientes aquáticos. Tais compostos geralmente são produtos de atividades
microbiais (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009). A Tabela 1 apresenta os principais
compostos orgânicos e inorgânicos de selênio na natureza.
Tabela 1. Principais espécies de Se presentes no meio ambiente e biologicamente relevantes
(adaptada de FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009).
Espécie Fórmula química Comentário
Espécies inorgânicas
Selenato [Se(VI)] H2SeO4, HSeO4-, SeO4
2- Espécie predominante em solos
sedimentos e corpos d’água
Selenito [Se(IV)] H2SeO3, HSeO3-, SeO3
2- Presente em ambientes ácidos
razoavelmente oxidantes
Dióxido de selênio [Se(IV)] SeO2 Gás presente em erupções vulcânicas e
processos de combustão
Selênio elementar [Se(0)] Se0 Precipitado por redução microbial e
química
Seleneto [Se(-II)] H2Se Composto volátil formado por redução
bacterial
Se2-
Ânion insolúvel formado em ambientes
altamente redutores
Espécies Orgânicas
Dimetilseleneto (CH3)2Se Composto volátil formado por metilação
bacterial
Dimetildiseleneto (CH3)2Se2 Composto volátil formado por metilação
bacterial
Dimetilselenosulfeto (CH3)2SeS Produto de metilação microbial
Dimetilselenodisulfeto (CH3)2SeS2 Produto de metilação microbial
Selenocisteína HSeCH2CHNH2COOH Principal espécie orgânica de selênio em
tecidos biológicos
Selenometionina CH3Se(CH2)2CHNH2COOH Espécie predominante em plantas
Trimetilselenônio (CH3)3Se+ Metabólito urinário
Selenocianato SeCN- Presente em efluentes de refinarias de
petróleo
Selenoproteínas Várias Várias proteínas e enzimas
Existem diversos processos industriais que envolvem a utilização de selênio, dentre estes se
destacam: a manufatura de cerâmica e vidro, células fotoelétricas, pigmentos, semicondutores, aço,
bem como na produção de materiais fotográficos, borracha e na indústria farmacêutica
(BARCELOUX, 1999).
O selênio apresenta diversas propriedades químicas similares às do enxofre (Tabela 2), ambos
possuem diversas formas alotrópicas, apresentam raios iônicos, eletronegatividade e potenciais de
ionização semelhantes (HERRING, 1990). Em razão de tais semelhanças, os ciclos biogeoquímicos
dos dois elementos podem se justapor; o selênio pode ser assimilado por organismos em canais
destinados ao enxofre (MILCHUNAS; LAUENROTH, 1984), e prontamente substitui S em sulfetos
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
7
(BARCELOUX, 1999). Entretanto, o Se é consideravelmente menos móvel do que o S em condições
ambientais, isso se deve à sua maior facilidade de redução e consequente sorção e imobilização. Esta é
a principal característica geoquímica que difere os dois elementos, e em razão disso, a coocorrência de
compostos similares de S e Se pode produzir produtos de reações diferentes para os dois elementos
(HERRING, 1990). Compostos como os aluminossilicatos e oxi-hidróxidos metálicos, que apresentam
altas capacidades de sorção, estão entre as barreiras geoquímicas mais eficientes para a remoção de
compostos de Se de soluções (YUDOVICH; KETRIS, 2006).
Tabela 2. Principais propriedades químicas e físicas do enxofre e selênio.
Propriedade S Se
Massa atômica 32,06 78,96
Número atômico 16 34
Isópotos naturais 32
S, 33
S, 36
S 67
Se, 74
Se, 77
Se, 78
Se, 80
Se, 82
Se
Raio covalente (Å) 1,04 1,17
Raio iônico (Å) 1,86 1,98
Potencial de ionização, eV 10,36 9,75
Afinidade eletrônica, eV 2,33 4,21
Eletronegatividade 2,53 2,55
Estados de oxidação -2, 0, +2, +3, +4, +6 -2, 0, +4, +6
2.2. OCORRÊNCIAS DE SELÊNIO
O selênio ocorre como um elemento traço na crosta terrestre, com concentração média de
0,05 mg/kg (PLANT et al., 2003). Seus compostos podem ser encontrados em praticamente todos os
compartimentos terrestres: rochas, solos, água e ar.
As rochas são a principal fonte do elemento para o sistema terrestre (Tabela 3)
(FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009). Cerca de 40% de todo o Se disponível na crosta
terrestre está contido em rochas, principalmente em arenitos, quartzitos e rochas calcárias (WANG, Z.;
GAO, 2001). Malisa (2001) compilou o conteúdo de Se em rochas magmáticas estimado por vários
autores, apresentando valores variando entre 0,01 e 0,14 mg/kg em diferentes litologias. Segundo o
mesmo autor, há uma tendência de aumento do conteúdo de Se em rochas ígneas durante a
diferenciação magmática, quando apenas uma pequena porção do magma é cristalizada e sulfetos
podem se separar da fase silicática, formando depósitos por diferenciação gravítica. As concentrações
mais altas podem ser encontradas em rochas básicas (SiO2 = 44-51%). Tais concentrações diminuem
em rochas intermediárias (SiO2 = 51-65%) e apresentam os menores valores em rochas ácidas e
alcalinas (SiO2 >65%) (MALISA, 2001). Rochas magmáticas como granitos e basaltos, por exemplo,
contém baixos níveis de Se, geralmente não excedendo 0,05 mg/kg (CCME, 2009).
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
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Tabela 3. Concentrações de Se em diferentes litologias (adaptada de FERNÁNDEZ-
MARTÍNEZ; CHARLET, 2009).
Ambiente litológico Se (ppm)
Crustal 0,05 – 0,1
Rochas ígneas 0,01 – 0,14
Arenitos 0,05 – 0,08
Calcários e dolomitos 0,03 – 0,10
Rochas fosfáticas 1 - 300
Xistos carbonosos 0,05 – 0,6
Carvão 2,15
Há poucos estudos sobre o conteúdo de Se em rochas metamórficas, no entanto, em virtude de
sua importância ambiental, encontra-se extensa literatura sobre o Se em rochas sedimentares,
sedimentos e solos. Segundo Malisa (2001), comparações entre rochas metamórficas, rochas
sedimentares e sedimentos demonstram um decréscimo no conteúdo de Se à medida que há um
aumento no grau de metamorfismo, isso porque, durante os processos iniciais do metamorfismo, o
selênio é mobilizado às partes superiores da crosta antes que a temperatura seja suficientemente alta
para metamorfizar a fração silicática das rochas. Os conteúdos mais elevados de selênio em rochas
sedimentares se devem às suas abundâncias em detritos finos e fração orgânica existentes nos
sedimentos originais (MALISA, 2001).
A concentração média de Se em rochas sedimentares na litosfera é 0,5 mg/kg (YUDOVICH;
KETRIS, 2006), variando de 0,1 mg/kg em arenitos e calcários a 0,6 mg/kg em xistos carbonosos, no
entanto, concentrações de até 100 mg/kg foram observadas em alguns xistos (HERRING, 1990). Em
comparação com outras rochas, frações argilosas, xistos, rochas fosfáticas, carvões e depósitos ricos
em material orgânico geralmente apresentam altas concentrações de selênio. Rosenfeld e Beath (1964)
reportaram concentrações de Se variando entre 1 e 300 mg/kg em rochas fosfáticas encontradas no
noroeste Estados Unidos, porém nenhuma correlação direta entre Se e P2O5 pôde ser observada.
Rochas fosfáticas contêm em média 1 mg/kg de Se (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009).
Altas concentrações de Se associado com sulfetos também foram observadas em depósitos areníticos
de urânio no oeste dos Estados Unidos (COLEMAN, R. G.; DELEVAUX, 1957).
O selênio é comumente encontrado como um substituto ao enxofre em minerais como
calcopirita, pirita, e outros sulfetos metálicos (NEAL; SPOSITO, 1989; YUDOVICH; KETRIS,
2006). Sob o aspecto químico-cristalográfico, a substituição isomórfica do S pelo Se em minerais pode
ser obtida com relativa facilidade em virtude das muitas similaridades químicas entre os dois
elementos. Existem três principais fontes de Se para depósitos rochosos ricos deste elemento: selênio
derivado de atividades vulcânicas; oriundo de fluídos magmáticos (cuja fonte magmática pode ter sido
rica em selênio desde sua origem, ou pode ter sido enriquecida durante a passagem do fluido
hidrotermal por regiões ricas no elemento); e selênio sedimentar, derivado de terrenos seleníferos pré-
existentes (COLEMAN, R. G.; DELEVAUX, 1957).
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
9
Em solos, as concentrações de selênio geralmente são baixas, variando entre 0,01 e 2 mg/kg,
com média mundial de 0,4 mg/kg. Concentrações extremamente altas de Se (até 1.200 mg/kg) foram
encontradas na Irlanda, em solos derivados de xistos carbonosos, ricos em matéria orgânica. Altas
concentrações de Se tendem a ser encontradas em solos oriundos de áreas mineralizadas, com altas
concentrações de matéria orgânica e drenagem ineficiente (PLANT et al., 2003). Embora a geologia
seja responsável pelo controle primário das concentrações de selênio nos solos, a biodisponibilidade
do elemento para plantas e animais depende de outros fatores, que incluem pH, potencial redox,
especiação, textura e mineralogia do solo, conteúdo de matéria orgânica e a presença de íons
competitivos (HERRING, 1990). Mesmo solos com concentrações relativamente altas de Se podem
causar deficiência do elemento à biota se o selênio não for biodisponível (FORDYCE, 2007; PLANT
et al., 2003).
As concentrações de selênio na maioria dos aquíferos naturais é muito baixa, geralmente não
excedendo 1 mg/L, no entanto, concentrações de até 1.000 mg/L já foram encontradas em aquíferos
nos Estados Unidos (DEVEREL et al., 1994; ENGBERG, 1999). Altas concentrações de Se em
corpos d’água geralmente estão associadas a terrenos seleníferos e/ou águas derivadas de drenagens de
minas, uma vez que a oxidação de minerais sulfetados pode propiciar a lixiviação de altas
concentrações de Se aos ambientes aquáticos (PLANT et al., 2003).
2.2.1. Selênio em carvões
Os constituintes iniciais do carvão mineral são, principalmente, derivados de vegetais, que
com a ação do tempo sofreram uma série de transformações biológicas e físico-químicas que
resultaram progressivamente em um decréscimo dos teores de umidade, materiais voláteis, oxigênio e
hidrogênio da matéria orgânica, depositada em pântanos, durante épocas remotas (BLOWES et al.,
2003). Com os anos, essas camadas de matéria orgânica foram cobertas com sedimentos e impostas a
condições de altas temperaturas e pressão, que dependendo de suas extensões, formaram os diferentes
tipos de carvões observados hoje. Os carvões são definidos em razão de seu grau de coalificação, ou
seja, o grau de metamorfismo sofrido pela matéria orgânica, sendo classificados em quatro tipos
principais: turfa, linhito, hulha e antracito, em ordem crescente de teor de carbono e decrescente em
teor de umidade (GOSH; PRELAS, 2009). Os quatro constituintes químicos principais dos carvões são
materiais voláteis, hidrogênio, carbono e oxigênio, e a porcentagem e razões desses elementos
determinam as características de combustão dos carvões (GOSH; PRELAS, 2009). A composição
orgânica dos carvões consiste em uma matriz complexa de estruturas aromáticas com números
variáveis de grupos alifáticos, na forma de ramificações, ou como cadeias de ligações entre os anéis
(LUSSIER, 2001). Os conteúdos minerais em carvões vêm de sais que faziam parte dos corpos d’água
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
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onde a deposição da matéria orgânica ocorreu. Isto explica os diferentes conteúdos minerais em vários
depósitos de carvão (GOSH; PRELAS, 2009). A Tabela 4 apresenta alguns dos principais minerais
presentes em depósitos de carvões, dentre os quais, quartzo e argilominerais podem representar até
90% desse conteúdo mineral. A maior parte dos minerais restantes consiste em carbonatos e pirita,
havendo óxidos, fosfatos e outros minerais em menores proporções (BLOWES et al., 2003).
Existe uma forte afinidade entre selênio e rochas carboníferas, podendo este ser encontrado em
concentrações várias vezes acima da média crustal nesse tipo de litologia (COLEMAN, L. et al.,
1993). As concentrações médias mundiais de Se em antracitos e linhitos são, respectivamente, 1,6±0,1
e 1,0±0,15 ppm (YUDOVICH; KETRIS, 2006).
Tabela 4. Alguns minerais em depósitos de carvões (adaptada de BLOWES et al., 2003).
Grupo mineral Representante
Argilominerais Caolinita, ilita, esmectita, clorita, camadas mistas de argilominerais
Carbonatos Calcita, siderita, dolomita-anquerita,
Sulfetos Pirita, marcasita, calcopirita, esfalerita, galena, pirrotita
Óxidos Quartzo, oxi-hidróxidos de ferro e manganês, hematita
Fosfatos Apatita, vivianita
Outros Gipsita, halita, sulfatos, cloretos, nitratos
Observando-se a tendência que o Se possui em substituir o S em minerais, é possível deduzir
sobre a ocorrência de Se em carvões através das informações disponíveis sobre S (LUSSIER, 2001). O
selênio pode ser enriquecido em carvões com altos teores de enxofre, concentrando-se principalmente
nas fases sulfídicas. Em carvões com menores teores de enxofre, o Se pode ser concentrado através de
redução ou sorção geoquímica; provavelmente, em sua maioria como Seº na matéria orgânica oxidada
e, parcialmente, pirita (YUDOVICH; KETRIS, 2006). Desse modo, podem haver associações
orgânicas ou inorgânicas de selênio em carvões (Figura 1). O Se pode se ligar covalentemente à
estrutura molecular da matéria orgânica, bem como, ionicamente às suas superfícies; substituir S em
minerais sulfetados; ocorrer como selenetos ou; na forma de selenato ou selenito, se ligar a
aluminossilicatos ou oxi-hidróxidos de ferro e manganês (OHFM) (LUSSIER et al., 2003).
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
11
Selênio em
carvões
Associações
orgânicas
Associações
inorgânicas
Ligado
ionicamente
Ligado
covalentemente
Formando fases
minerais discretas
Ligados a argilominerais
ou OHFM
Disperso em
minerais
Figura 1. Esquema proposto para as formas de ocorrência de Se em carvões (LUSSIER et al., 2003).
Através de experimentos de combustão e extração sequencial, Dreher e Finkelman (1992)
tentaram estabelecer a importância das associações orgânicas e inorgânicas de Se em amostras de uma
mina de carvão em Wyoming, EUA. Observando sua alta volatilidade e baixa susceptibilidade à
lixiviação por água e ácidos fracos, eles concluíram que a maior parte do Se nas amostras de carvão
encontrava-se associada à fração orgânica, sendo a maior parte do selênio restante, associada a
minerais sulfetados, principalmente à pirita.
Coleman, et al. (1993) encontraram correlações positivas entre as concentrações de Se com S
total, S pirítico e S orgânico; observando também correlações entre Se e os teores de cinzas em
amostras de carvão dos Estados Unidos, sugerindo assim, importantes associações inorgânicas de Se.
Lussier et al. (2003) empregaram técnicas de difração de raios-X, microscopia eletrônica de varredura,
extrações sequenciais e separação líquida de densidades com o objetivo de compreender as
associações mineralógicas e a biodisponibilidade do Se em amostras retiradas de minas de carvão em
Elk River Valley, British Columbia, Canadá. Os autores concluíram que, apesar de haverem
associações orgânicas e inorgânicas, os principais componentes litológicos correlacionados à
existência de Se são a matéria orgânica e os minerais sulfetados, especialmente a pirita (Tabela 5).
Tabela 5. Distribuição de Se em carvões de Elk River Valley, Canadá (adaptada de LUSSIER et
al., 2003).
Fase associada ao selênio % de Se total em carvões % média de Se total em
carvões
Solúveis em água 5 - 21,3 8
Oxi-hidróxidos de Fe e Mn 1 - 10,6 4
Sulfetos e matéria orgânica 60 - 84 73
Fase silicática 5,9 – 24,7 15
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
12
2.2.2. Associações de selênio com a matéria orgânica
A matéria orgânica tem um papel fundamental na geoquímica do selênio, governando a
mobilidade do elemento, principalmente, através de processos de complexação (FERNÁNDEZ-
MARTÍNEZ; CHARLET, 2009). Wang e Gao (2001), estudaram solos ricos em matéria orgânica na
região nordeste da China, onde existe grande deficiência de Se para a população local. Apesar de os
conteúdos de Se nesses solos não serem baixos, variando entre 0,1 e 0,3 mg/kg, seus resultados
mostraram que o selênio é imobilizado pela matéria orgânica, resultando em sua baixa
biodisponibilidade.
Bruggeman et al. (2005, 2007), estudaram a interação entre oxiânions de selênio e substâncias
húmicas dissolvidas derivadas de áreas de disposição de rejeitos nucleares. Termodinamicamente, e
devido à presença de uma fase redutora (FeS2), os oxiânions de selênio podem ser reduzidos a selênio
elementar e seleneto e serem removidos da solução por precipitação (BRUGGEMAN et al., 2005). As
concentrações de selenito são drasticamente reduzidas na presença de substâncias húmicas,
acompanhadas por um decréscimo na concentração total de selênio dissolvido após centrifugação.
Contudo, os autores não observaram mudanças no estado de oxidação do selenato, sugerindo que o
selenato é quimicamente inerte à redução abiótica por substâncias húmicas e fúlvicas e que o mesmo
deve ser reduzido somente por processos biológicos (BRUGGEMAN et al., 2007).
A adsorção de oxiânions de Se em oxi-hidróxidos metálicos é afetada por efeitos competitivos
com alguns ácidos orgânicos (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009). Os ácidos oxálico e
cítrico competem com o selenito e selenato por sítios de adsorção, contudo, os ácidos fórmico e
acético não modificam o rendimento adsortivo do selenito e podem até promover a adsorção do
selenato (DYNES; HUANG, P. M., 1997).
Outra relação importante da matéria orgânica com a geoquímica do selênio está relacionada à
sua utilização como substrato para reações biológicas que podem alterar os estados de oxidação do
selênio, influenciando sua mobilidade e biodisponibilidade (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET,
2009).
2.2.3. Associações de selênio com minerais sulfetados
Minerais sulfetados são frequentemente encontrados em rochas carboníferas, sendo a pirita o
representante mais comum em carvões (YUDOVICH; KETRIS, 2006). Spears e Zheng (1999)
encontraram fortes correlações positivas entre os conteúdos de pirita e Se, As, Mo, Sb e Tl em
amostras de carvão no Reino Unido. A quantidade de pirita em carvões depende da disponibilidade de
S e Fe e da intensidade da atividade bacteriana na redução do S (LUSSIER, 2001). Segundo Spears et
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
13
al. (1994), o Fe pode ser introduzido no sistema por meio do intemperismo de minerais silicáticos e do
fluxo de Fe(II) e Fe(III) em águas subterrâneas. Casagrande e Ng (1979) sugerem a quebra das
proteínas animais e vegetais durante o processo de coalificação como fontes de S para a formação da
pirita. Gosh e Prelas (2009) declaram também que as principais fontes de minerais durante os
processos de coalificação dependem das características físico-químicas dos ambientes deposicionais.
Sob o ponto de vista de formação de minerais sulfetados com inclusões de Se, assume-se que
fluídos dos quais tais minerais foram depositados continham selênio, e que, durante a deposição,
houveram substituições isomórficas, onde átomos de Se ocuparam posições de átomos de S na
estrutura do mineral durante a cristalização (COLEMAN, R. G.; DELEVAUX, 1957). Há boas
condições para substituições isomórficas quando os raios iônicos dos dois elementos variam em até
15% entre si. Ambos os raios iônicos e covalentes do S e Se se encaixam nessa estimativa. Outros
fatores que podem influenciar a substituição isomórfica, tais como, número de coordenação,
polarização e potencial iônico também são similares entre S e Se. Observa-se que piritas com
concentrações expressivas de Se (por exemplo, maiores que 1%), apresentam uma expansão na
estrutura do mineral, esperada pelo fato de o Se possuir maior raio iônico (COLEMAN, R. G.;
DELEVAUX, 1957). Estudos demonstram a existência discreta de minerais de selênio em carvões,
tais como claustalita (PbSe) e ferrosilita (FeSe2), no entanto, em razão da forte tendência do Se em
substituir S em sulfetos, estes minerais tendem a ser bastante raros e dão pouca contribuição aos
conteúdos totais de Se em carvões (LUSSIER, 2001). A oxidação de selenetos e minerais sulfetados
contendo Se geram oxiânions solúveis de selenito e selenato, sendo que o primeiro se liga facilmente a
argilominerais e OHFM (LUSSIER et al., 2003).
2.2.4. Associações de selênio com argilominerais
Argilominerais são filossilicatos hidratados de Al, Fe e Mg, com estruturas cristalinas em
camadas (ou lamelas), constituídos por folhas contínuas de tetraedros SiO4, ordenados de forma
hexagonal, condensados com folhas octaédricas de hidróxidos de metais tri e divalentes (COELHO et
al., 2007a). As lamelas são formadas pelo compartilhamento de três dos quatro oxigênios do tetraedro
de SiO4, numa estrutura análoga à da grafita. De forma semelhante, octaedros contendo um átomo de
metal (Al, Mg, ou Fe) no centro e seis átomos de oxigênio nos vértices também formam estruturas
bidimensionais através do compartilhamento de átomos de oxigênio (LUNA; SCHUCHARDT, 1999).
As argilas denominadas 1:1 (por exemplo, a caolinita) são formadas por uma monocamada de
tetraedros de silício condensada com uma monocamada de octaedros; e as argilas 2:1 (como exemplo,
a montmorilonita), são formadas por duas camadas de tetraedros envolvendo uma camada de
octaedros (Figura 2). Entre as lamelas pode existir água de hidratação e cátions de compensação, que
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
14
são passíveis de troca iônica (LUNA; SCHUCHARDT, 1999). O teor do cátion trocável, geralmente
expresso em miliequivalentes do cátion por 100 g de argila, é chamado CTC – capacidade de troca
catiônica (COELHO et al., 2007b). As argilas também têm a propriedade de se expandir, ou sofrer
intumescimento, através da introdução de moléculas de água ou de outros solventes na região
interlamelar (LUNA; SCHUCHARDT, 1999).
A formação de argilominerais se dá por meio do intemperismo de minerais preexistentes, tais
como, feldspatos, micas e minerais ferromagnesianos, através de três estágios principais: dissolução
dos minerais primários que se encontram fora de seus campos de estabilidade; transferência de
elementos químicos das zonas de dissolução para zonas de precipitação; e, precipitação de minerais
secundários, neste caso, argilominerais e oxi-hidróxidos de ferro e manganês (MEUNIER, 2005).
a) Estrutura da caolinita (argilomineral do tipo 1:1)
b) Estrutura da montmorilonita (argilomineral
do tipo 2:1)
Figura 2. Representação esquemática da estrutura de argilominerais (adaptada de USGS, 2001).
Eletricamente, os filossilicatos se comportam como capacitores, possuindo dois tipos de
cargas, uma carga permanente e outra dependente do pH do meio (MEUNIER, 2005). A carga
permanente surge da substituição iônica de cátions que possuem raios iônicos similares, mas cargas
diferentes. Por exemplo, Al3+
substitui Si4+
em folhas tetraédricas, enquanto Mg2+
ou Fe2+
substitui
Fe3+
em folhas octaédricas. Embora comum em argilominerais do tipo 2:1, substituições isomórficas
ocorrem com menor frequência em argilominerais do tipo 1:1 (LUSSIER, 2001). Esse tipo de
substituição confere uma carga negativa à superfície dos argilominerais, formando uma dupla camada
elétrica que atrai contra-íons e repele co-íons (MEUNIER, 2005).
Segundo o modelo de Stern-Gouy-Chapman, a estrutura da dupla camada elétrica nos
argilominerais é composta pela camada de Stern, onde os íons oscilam sobre pontos fixos de adsorção;
e a camada de Gouy-Chapman, uma banda difusa de cátions que se estende a vários nanômetros da
superfície do mineral (MEUNIER, 2005). A natureza difusa dessa camada depende da magnitude das
cargas na superfície do mineral, e resulta da competição eletrostática e forças de difusão dos cátions
envolvidos. Assim, quanto maior a concentração dos eletrólitos na solução, menor a tendência de
difusão dos mesmos (Figura 3) (LUSSIER, 2001; MEUNIER, 2005). Íons na camada de Stern podem
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
15
formar complexos se ligando diretamente aos grupos hidroxila da superfície do mineral (esfera
interna), ou, consistindo de íons hidratados, serem adsorvidos na superfície do mineral através de
ligações iônicas (esfera externa) (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009).
Selenito e selenato apresentem diferentes mecanismos de adsorção à superfície de
argilominerais (e OHFM). Íons selenito formam complexos na esfera interna da superfície dos
minerais, se ligando diretamente aos átomos de oxigênio ou outros grupos funcionais. Tal mecanismo
confere alta capacidade de retenção, e é o principal responsável pela redução da mobilidade do
selenito no meio ambiente (BROWN, T. H., 1990). No entanto, íons competitivos, tais como
ortofosfato (PO43-
) e ácido silícico (H4SiO4), podem ser responsáveis pela remoção de íons selenito dos
sítios de adsorção, uma vez que tais oxiânions formam complexos mais prontamente na esfera interna
das superfícies minerais (BROWN, T. H., 1990; FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009). Os
íons selenato, por sua vez, tendem a formar complexos hidratados, sendo adsorvidos à esfera externa
da camada de Stern através de atrações eletrostáticas fracas. Desse modo, ânions selenato adsorvidos
podem ser facilmente substituídos por outros ânions, tais como sulfato (SO42-
) e cloreto (Cl-), o que
evidencia sua alta mobilidade (Figura 4) (BROWN, T. H., 1990; MAYLAND et al., 1990).
Figura 3. Representação esquemática da dupla camada elétrica na superfície dos argilominerais
(adaptada de LUSSIER, 2001).
O segundo tipo de carga, dependente do pH, está relacionado ao desequilíbrio de cargas na
superfície dos minerais. Tal desequilíbrio é balanceado pela adsorção de cátions e ânions às suas
superfícies. O ponto de carga zero (PZC) se situa em um pH no qual a carga de superfície do mineral é
zero. Abaixo da PZC, a superfície do mineral apresenta carga positiva e é capaz de atrair ânions; acima
da PZC, apresenta carga negativa, atraindo assim, cátions. Argilominerais possuem valores de PZC
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
16
entre pH 2,5 e 4,5 (LUSSIER, 2001). Segundo Plant et al. (2003), a máxima adsorção de compostos
de selênio ocorre entre pH 3 e 5, e diminui à medida que o pH aumenta.
Figura 4. Adsorção dos diferentes cátions de selênio à superfície de argilominerais (adaptada de
LUSSIER, 2001).
2.2.5. Associações de selênio com oxi-hidróxidos de ferro e manganês
O selenito é prontamente adsorvido por oxi-hidróxidos de ferro e manganês (OHFM)
(MANCEAU; CHARLET, 1994; PLANT et al., 2003). OHFM são oxidos secundários que geralmente
ocorrem como coberturas na superfície de minerais, ou como partículas finas discretas. A estrurura
cristalina dos OHFM consiste em estruturas cúbicas hexagonais possuindo íons Fe3+
, Mn4+
ou Mn2+
nas posições centrais da molécula, ligados a ânions O2-
e/ou OH-. Sua estrutura é determinada pelo
grau de compartilhamento de seus vértices. OHFM comuns incluem a goethita (α-FeOOH),
lepidocrocita (γ-FeOOH), manganita (MnOOH) e birnessita (Na4Mn14O27·9H2O) (LUSSIER, 2001).
Em razão da variabilidade da composição química dos ambientes nos quais os OHFM são formados,
bem como, sua habilidade de incorporar íons externos à sua estrutura, esses minerais frequentemente
apresentam variações em sua composição, cristalinidade e morfologia, sendo, na maioria das vezes,
encontrados em estado amorfo em solos e sedimentos (MANCEAU et al., 1992a, 1992b). Isso confere
à superfície dos OHFM a mesma característica dos argilominerais no que se refere à dupla camada
elétrica, seguindo o modelo de Stern-Gouy-Chapman (HERRING, 1990). Por apresentarem área
específica relativamente elevada, os OHFM apresentam papel importante na retenção e liberação de
compostos no meio ambiente, como íons de metais pesados e nutrientes do solo (PEAK, 2006). Como
nos argilominerais, os OHFM também podem apresentar cargas positivas ou negativas dependendo do
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
17
pH. Óxidos de Fe apresentam PZC na faixa de pH de 7 a 9. Os óxidos de Mn tendem a apresentar
estruturas mineralógicas mais complexas do que os óxidos de Fe, e apresentam PZC em pH de 1,5 a
4,6 (LUSSIER, 2001). Compostos de Se possuem forte afinidade às superfícies dos OHFM, e
apresentam o mesmo comportamento adsortivo das superfícies dos argilominerais (MANCEAU;
CHARLET, 1994).
2.3. REMOBILIZAÇÃO, TRANSPORTE E ATENUAÇÃO DO SELÊNIO
2.3.1. Fluxos globais
Os principais processos biogeoquímicos que controlam os fluxos globais do Se envolvem o
intemperismo de rochas, as interações rocha-água e atividades microbianas. Estimativas dos fluxos de
selênio na atmosfera, continentes e oceanos indicam que o fluxo antropogênico já excede o fluxo
oceânico, principal via natural (Tabela 6) (PLANT et al., 2003). A combustão de carvão e petróleo,
bem como a extração e processamento de vários elementos, tais como: cobre, zinco, urânio, fosfato e
chumbo são as principais fontes antropogênicas de selênio ao meio ambiente (FERNÁNDEZ-
MARTÍNEZ; CHARLET, 2009; HERRING, 1990). A combustão de carvão é considerada a fonte de
maior impacto, sendo responsável por cerca de 7.300 toneladas de selênio por ano (YUDOVICH;
KETRIS, 2006). O selênio é um dos elementos traço mais voláteis no carvão, sendo amplamente
liberado à atmosfera na forma de vapores de SeO2, SeO, e como material particulado. Outras
atividades humanas de impacto na liberação de compostos de selênio são irrigações e utilização de
fertilizantes e pesticidas fosfatados, sendo ambos responsáveis por transformações biogeoquímicas
que favorecem a mobilização do selênio (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009).
Tabela 6. Fluxos Globais de Selênio (adaptada de PLANT et al., 2003).
Fonte Vias Fluxo de Se
(104 ton/ano)
Emissões antropogênicas Mineração, emissões antropogênicas à atmosfera, água,
solos e oceanos
7,6 – 8,8
Fluxos marítimos Volatilização, suspensão salina, biota marítima,
transferência de sedimentos a ambientes terrestres
3,825
Fluxos terrestres Volatilização, suspensão de partículas, transferência de Se
dissolvido ou particulado aos rios e oceanos
1,538
Fluxos atmosféricos Deposição úmida e seca aos oceanos e continentes 1,53
A Figura 5 apresenta uma generalização dos fluxos entre os compartimentos da litosfera. O Se
das rochas é transferido aos solos e ambientes aquáticos por meio de processos intempéricos. Em áreas
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
18
de clima quente e árido, onde existem ocorrências de rochas seleníferas, os conteúdos de Se em solos
tendem a ser altos, uma vez que as percas de Se por meio de lixiviação são baixas (HERRING, 1990).
O transporte do Se dos solos e sedimentos a ambientes aquáticos depende de fatores que incluem
especiação, condições de óxido-redução e atividade bacteriana, bem como, o tipo de mineral e
quantidade de matéria orgânica presente (GEERING et al., 1968; MASSCHELEYN; PATRICK,
1993).
Atmosfera
Biota
Corpos d´água Superfície oceânica
Solos e sedimentos
Litosfera
Profundezas oceânicas
Sedimentos marinhos
Volatilização e
metilação
Intemperismo
Precipitação Circulação
aquática
Adsorção
Precipitação
Volatilização
Fontes antropogênicas
- Processamento de
minerais sulfídicos
- Usos industriais de Se
- Combustão de carvão
Erupções vulcânicas
Sublimação
Figura 5. Ciclo biogeoquímico do selênio (adaptada de HERRING, 1990).
A volatilização de selênio de vulcões, solos, sedimentos, oceanos, microorganismos, plantas,
animais e atividades industriais são as principais fontes do elemento para a atmosfera (PLANT et al.,
2003). A precipitação e/ou sorção a partículas suspensas, por sua vez, são responsáveis pela remoção
do Se da atmosfera, permitindo que tais partículas retornem aos solos, corpos d’água e oceanos
(HERRING, 1990).
Organismos aquáticos assimilam e incorporam selênio como material orgânico particulado nas
águas superficiais. A morte desses organismos faz com que esse material seja transportado a águas
mais profundas, onde podem ocorrer a dissolução e regeneração do selênio, provavelmente através de
várias etapas de oxidação mediadas por microorganismos. A recirculação aquática reabastece esse
selênio dissolvido às águas superficiais, onde o elemento é novamente incorporado e o ciclo se repete
(HERRING, 1990; LEMLY; SMITH, G J, 1990). As principais fontes de selênio aos oceanos são as
partículas carreadas pelas águas dos rios, bem como, a precipitação do Se da atmosfera. O Se
introduzido nas profundezas oceânicas através de atividades hidrotermais é considerado uma fonte de
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
19
menor importância, uma vez que estes ambientes são altamente redutores, fazendo com que a maior
parte do Se introduzido fique retido nos sedimentos marinhos (HERRING, 1990).
2.3.2. Remobilização e transporte do selênio
O potencial de oxido-redução e pH são os principais parâmetros que controlam a mobilidade e
forma química dos compostos de selênio no meio ambiente (MAYLAND et al., 1990). As formas de
selênio mais comumente encontradas em solos e rejeitos de rochas são: selenato (VI) (SeO42-
), selenito
(IV) (HSO3-, SeO3
2-), selênio elementar (0), seleneto (-II
-), e compostos orgânicos de Se (BROWN, T.
H., 1990). Conforme apresentado na Figura 6, o selenato (VI) é encontrado em ambientes óxicos e
alcalinos. Em tais condições, a adsorção do selenato se torna altamente limitada à maioria dos
materiais, favorecendo sua lixiviação e incorporação por plantas e outros organismos (BROWN, T. H.,
1990; MAYLAND et al., 1990).
Sob condições de Eh-pH mais baixas, é esperado que o selenito seja a espécie de Se
predominante. O selenito (IV) pode existir na forma de hidrogenoselenito (HSO3-) em pH neutro a
ácido, e selenito (SO32-
) em pH alcalino (BROWN, T. H., 1990). Conforme já discutido anteriormente,
o selenito é prontamente adsorvido às superfícies de argilominerais e OHFM, no entanto, ambos,
selenato e selenito competem por sítios de adsorção com outros ânions, tais como fosfato, sulfato,
oxalato, molibidato, fluoreto, entre outros, desse modo, a disponibilidade desses ânions é um outro
fator determinante para a mobilidade do selênio (MAYLAND et al., 1990).
Figura 6. Diagrama de estabilidade das espécies inorgânicas de Se em condições ambientais (adaptada
de LUSSIER, 2001).
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
20
Sob as condições de Eh-pH apresentadas na região tracejada da Figura 6, comumente
encontradas em pântanos carboníferos, é esperado que o Se seja encontrado nos sedimentos nas formas
de Se0 ou Se
2-, ou em solução como Se
4+ (LUSSIER, 2001). Selênio elementar e seleneto apresentam
solubilidades muito baixas e são encontrados nas soluções ambientais em concentrações muito baixas
(HERRING, 1990). Condições que promovem a formação desses compostos contribuem para a
redução da mobilidade e biodisponibilidade do Se. Elrashidi et al., (1987), constataram em estudos
termodinâmicos das espécies de Se que, sob condições redutoras e em concentrações de 10-7
mol/L de
selênio total em solução, o selênio elementar só será formado em solos após a conversão dos íons
solúveis de Pb+, Cu
+, Cu
2+, Sn
2+ e Cd
2+ a selenetos insolúveis, ou mediante a remoção de tais cátions
da solução. O selênio elementar também pode ser formado através de processos bacterianos. Além
disso, a oxidação das formas de selênio elementar (0) e seleneto (-II) a selenito (IV), bem como, de
selenito (IV) a selenato (VI), são processos lentos, o que explica a existência de selênio elementar e
seleneto, mesmo em ambientes oxidantes (BROWN, T. H., 1990; ROSENFELD; BEATH, 1964).
2.3.2.1. Mecanismos de oxidação aeróbica
Em áreas de mineração, quantidades massivas de solo e rocha são afetadas pelas explosões,
escavações, e operações em geral. Tais operações alteram o balanço geoquímico do ambiente em
questão, provocando reações químicas que podem degradar a qualidade das água superficiais e
subterrâneas (BLOWES et al., 2003). Por exemplo, se materiais de zonas insaturadas forem movidos a
áreas saturadas, compostos desses materiais podem ser dissolvidos e lixiviados. Por outro lado, se
materiais de áreas saturadas forem movidos a áreas insaturadas, diversos minerais podem sofrer
oxidação, gerando compostos solúveis que, se lixiviados, podem contribuir para níveis elevados de
sólidos e metais dissolvidos nas águas superficiais e subterrâneas (DREHER; FINKELMAN, R B,
1992). Ambientes insaturados de superfície geralmente apresentam condições altamente oxidantes, por
serem regiões aeróbicas, possuindo grande disponibilidade de oxigênio. Em tais condições, a maioria
dos minerais seleníferos sofrem dissolução e oxidação, formando outros minerais e/ou outras espécies
móveis de Se (selenito e selenato) (BROWN, T. H., 1990).
Em razão de seu risco potencial de geração de drenagens ácidas, que pode causar danos
severos ao meio ambiente, os processos de oxidação da pirita têm sido amplamente estudados
(BLODAU, 2006; BLOWES et al., 2003). Sendo o selênio comumente encontrado como substituto ao
enxofre em piritas, uma compreensão acerca dos mecanismos de oxidação da pirita é de grande
relevância no entendimento da geoquímica ambiental do Se. A oxidação da pirita se dá quando o
mineral é exposto ao ar e água, sendo um processo complexo que envolve variáveis químicas, físicas e
biológicas (RIMSTIDT; VAUGHAN, 2003). Os mecanismos de oxidação são controlados por fatores
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
21
como o pH, concentração de oxigênio, superfície específica e morfologia do mineral, presença ou
ausência de bacterias e argilominerais, bem como, fatores hidrológicos (EVANGELOU; ZHANG, Y.
L., 1995).
As equações químicas dos processos descritos neste texto são apresentadas no Anexo 1. Os
maiores oxidantes da pirita em meio aeróbico são O2 e Fe3+
(RIMSTIDT; VAUGHAN, 2003). A
reação do O2 com a pirita produz Fe2+
e SO42-
[Eq. (A.1)]. A liberação de íons Fe2+
permite então que
estes sejam oxidados pelo O2 a Fe3+
[Eq. (A.2)]. Em pH baixo (<4,5), o Fe3+
oxida a pirita muito mais
rapidamente do que o O2, através da oxidação do Fe2+
a Fe3+
(EVANGELOU; ZHANG, Y. L., 1995).
A presença de bactérias oxidantes de ferro, como a espécie Thiobacillus ferrooxidans, pode acelerar a
taxa de oxidação do Fe2+
a fatores de até 106, incrementando o suprimento de Fe
3+ ao sistema, de modo
que, em condições de pH reduzido, a oxidação da pirita possa ser descrita pelas Eq. (A.2) e (A.4)
(BLODAU, 2006). Em pH neutro a alcalino, o O2 se torna o oxidante principal em razão da
diminuição da solubilidade do Fe3+
, mediante a precipitação de hidróxido de ferro [Eq. (A.3)]. A
oxidação da pirita por Fe3+
em condições circumneutras de pH depende da presença de O2, de modo
que este proporcione a continuidade na formação de Fe3+
(BLOWES et al., 2003). De maneira análoga
à formação de sulfato pela oxidação da pirita, o selênio contido nesses minerais, geralmente na forma
de seleneto, em condições de pH neutro a alcalino, é oxidado a selenato, se tornando solúvel e passível
de lixiviação aos corpos d’água receptores [Eq. (A.5) e (A.6)].
A oxidação química e microbial da pirita são diretamente controladas pela estrutura cristalina
do mineral, bem como, pelo tamanho das partículas (BLODAU, 2006). Entre as várias morfologias da
pirita, tais como, frambóidal, octaédrica, cúbica, e cristais com superfície irregular, partículas menores
de frambóides policristalinos são particularmente susceptiveis à oxidação, dada sua porosidade e
elevada área superficial (EVANGELOU; ZHANG, Y. L., 1995).
A adição de materiais carbonáticos a sistemas geradores de drenagem ácida pode contribuir
para uma aceleração na oxidação da pirita. Isto se deve ao fato de que a presença de CO2 e HCO3-
pode formar complexos nas superfícies da pirita, facilitando a oxidação abiótica do Fe(II) a Fe(III)
(BLODAU, 2006). Ressalte-se, contudo, que minerais carbonáticos são utilizados para a atenuação da
acidez formada pela oxidação dos minerais sulfetados. Coberturas superficiais com argilominerais e
OHFM podem, em contraste, reduzir as taxas de oxidação, por produzirem uma proteção física que
impede a oxidação de acontecer, bem como, pela adsorção de íons férricos (EVANGELOU; ZHANG,
Y. L., 1995).
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
22
2.3.2.2. Mecanismos de oxidação anaeróbica
As zonas de subsuperfície são regiões de transição entre a zona aeróbica e insaturada
superficial e a zona saturada e anaeróbica mais profunda. As condições redox nessas regiões variam à
medida que a profundidade aumenta e o sistema se torna mais anaeróbico (BROWN, T. H., 1990).
Nessas condições é esperado que íons selenato e selenito sejam as formas predominantes de Se. À
medida que o oxigênio dessas regiões diminui, o potencial redox também diminui, contribuindo para a
redução do selenato a selenito e selenetos e, eventualmente, selênio elementar. Desse modo, a
mobilidade dos compostos de Se tende a ser alta durante o período inicial de mineração, seguido de
uma considerável redução dessa mobilidade à medida que o sistema se torna mais anaeróbico
(BROWN, T. H., 1990). Estudos realizados em terrenos seleníferos têm sugerido, contudo, que a
presença de nitrato pode afetar a mobilização de compostos de selênio em áreas anaeróbicas (GATES
et al., 2009; WERES et al., 1990; WRIGHT, 1999). Correlações positivas entre Se dissolvido e NO3-
em soluções intersticiais de solos derivados de xistos marinhos ricos em selênio foram atribuidas à
oxidação do Se pelo NO3- em um sistema experimental sub-óxido (WRIGHT, 1999). O autor concluiu
que em sistemas onde as concentrações de oxigênio dissolvido são limitadas, a presença de nitrato
pode manter condições suficientemente oxidantes para oxidar formas reduzidas de Se in situ.
Na natureza, os microorganismos que catalizam as reações de óxido-redução competem por
recursos limitados e tendem a favorecer as reações que propiciam o máximo possível de energia
(KOROM, 1992). Na maioria das reações redox naturais, o oxigênio dissolvido, como receptor de
elétrons, produz a maior quantidade de energia livre e é, portanto, utilizado preferencialmente pelos
microorganismos oxi-redutores (MCMAHON; CHAPELLE, 2008). Entretanto, à medida que um
sistema se torna anaeróbico, por exemplo, em condições de subsuperfície de pilhas de rejeitos de
minas, a excassez de O2 se torna um fator limitante às reações de oxidação (BROWN, T. H., 1990).
Nessas condições, os microorganismos passam a utilizar uma sucessão de receptores de elétrons,
seguindo a seguinte ordem de preferência: O2 > NO3- > SeO4
2- > Mn
4+ > Fe
3+ > U
6+ > SO4
2- > CO2
(CHAPELLE et al., 2009; GATES et al., 2009; MCMAHON; CHAPELLE, 2008). Desse modo, à
medida que um receptor de elétrons preferencial se torna escasso, o próximo composto que propicia a
maior quantidade de energia aos microorganismos passa a ser utilizado (GATES et al., 2009). Uma
consequencia dessa sucessão ecológica é a de que os processos redox passam a ter uma tendência de se
segregar em zonas dominadas por um único processo de recepção de elétrons, de modo que cada
componente na ordem de preferência aja como um inibidor da redução dos outros (MCMAHON;
CHAPELLE, 2008). Por exemplo, na escassez de O2, o NO3- passa a ser utilizado como agente
oxidante, com sua consequente redução a NO2- e N2. Somente seguindo a escassez de NO3
-, então, o
SeO42-
será reduzido a SeO32-
, Se2-
e Se0.
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
23
Existem ainda, diversos estudos sobre a habilidade do nitrato de utilizar a pirita como um
doador de elétrons em processos de denitrificação com mediação bacterial (JORGENSEN et al., 2009;
SCHWIENTEK et al., 2008; TORRENTÓ et al., 2010; ZHANG, Y.-C. et al., 2009). Desse modo, o
Se presente nesses minerais também se torna suscetível à oxidação [Eq. (A.7) e (A.8)]. Tais evidências
trazem a tona a hipótese de que o nitrato, oriundo dos resíduos de explosivos utilizados em áreas de
mineração, pode contribuir, juntamente com outros fatores já citados, à oxidação e lixiviação do
selênio ao meio ambiente. Isso resultaria na mobilização de compostos de selênio mesmo em regiões
anaeróbicas, onde se espera que o selênio seja imobilizado por processos de redução e adsorção.
2.3.3. Transformações biogeoquímicas e mecanismos de atenuação do selênio
Com o tempo, a maioria do Se inserido nos ecossistemas é incorporado por organismos
(bioacumulado) ou se liga ao material particulado. Através da deposição do selênio incorporado
biologicamente e sedimentação do material particulado, a maior parte do Se geralmente se acumula
nas camadas superiores de sedimentos e detritos. Entretanto, em razão dos constantes processos
químicos, físicos e biológicos no meio ambiente, os sedimentos podem representar somente um
depósito temporário para o selênio, uma vez que ecossistemas mais dinâmicos podem reiniciar o ciclo
do Se, mantendo níveis elevados deste por longos períodos, mesmo após as fontes iniciais do elemento
terem cessado (LEMLY; SMITH, G J, 1990).
A Figura 7 mostra o ciclo aquático do Se. A atenuação dos compostos de selênio se dá
principalmente em sedimentos, em processos de imobilização que incluem sua redução química e
microbial, processos de adsorção, coprecipitação, e incorporação a tecidos de plantas. Sua
mobilização, por sua vez, pode acontecer através da recirculação da água e transformações bióticas,
que podem permitir que o Se seja novamente oxidado a compostos solúveis ou que gerem compostos
voláteis de selênio.
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
24
Figura 7. Ciclo aquático do selênio (adaptada de LEMLY; SMITH, G. J., 1990).
2.3.3.1. Redução biótica
A especiação, mobilidade e biodisponibilidade do selênio são grandemente afetadas pela
presença de microorganismos no meio ambiente. Sua principal influência se dá através do controle do
estado de oxidação do elemento, que está diretamente relacionado à sua solubilidade, e consequente
mobilidade (OREMLAND et al., 1989). Bactérias podem utilizar o selenato (VI) e selenito (IV) como
receptores de elétrons em seus processos metabólicos (redução dissimilatória), bem como, incorporar
o selênio em compostos orgânicos (redução assimilatória) (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET,
2009).
Zhang e Moore (1996), adicionaram selenato a sedimentos de uma área alagada em Montana,
EUA, e observaram que a formação de compostos orgânicos de selênio e a adsorção dos oxiânions de
Se na matéria orgânica representavam os processos mais importantes de imobilização do selenato.
Ambos os processos foram interpretados como sendo resultado de transformações microbiais.
Nelson et al. (1996), reportaram a redução de selenato a selênio elementar através de uma co-
cultura de Desulfovibrio desulfuricans e Chromatium vinosum, na qual a espécie D. desulfuricans
seria capaz de reduzir o selenato a seleneto com sua posterior oxidação a selênio elementar pela
espécie C. vinosum.
Utilizando sedimentos e efluentes líquidos de uma represa de rejeitos de uma mina de carvão,
Siddique et al. (2007) estudaram a capacidade da bactéria Enterobacter hormaechei de reduzir Se(VI)
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
25
a Se(0). Os autores observaram que, em um sistema anaeróbico, mais de 99% do Se (VI) (2,5 mg/L)
foi reduzido a Se(0) nos sedimentos, sugerindo uma possível aplicação dessa espécie de bactéria na
atenuação de compostos de Se.
Vários outros autores reportaram a capacidade de outras espécies de microorganismos na
redução, incorporação e volatilização de compostos de selênio: Alternaria Alternata (THOMPSON-
EAGLE et al., 1989), Enterobacter taylorae (ZHANG, Y. et al., 2003), Shewanella putrefaciens
(KENWARD et al., 2006), Serratia fonticola (KNOTEK-SMITH et al., 2006).
Cooke e Bruland (1987) identificaram seis espécies dissolvidas de Se em sedimentos e águas
superficiais de sítios seleníferos na Califórnia: espécies inorgânicas na forma de selenato (VI) e
selenito (IV); selenetos (-II) orgânicos não voláteis na forma de seleno-aminoácidos e íon
dimetilselenônio (DMSe+-R); e, as formas metiladas voláteis de dimetilseleneto (DMSe) e
dimetildiseleneto (DMDSe), sendo as quatro últimas espécies derivadas de transformações bióticas.
Conforme apresentado na Figura 8, os autores propõem um ciclo biogeoquímico do selênio que
envolve os seguintes mecanismos: (a) redução assimilatória do selenato (VI) e selenito (IV) por
microorganismos, gerando selenetos (-II) orgânicos; (b) liberação dos selenetos orgânicos ao meio
ambiente mediante a morte e depuração dos organismos; (c) assimilação de selenetos orgânicos por
microorganismos; (d) oxidação das formas orgânicas de Se; (e) conversão do DMSe+-R a DMSe por
hidrólise; (f) liberação direta do DMSe à solução; (g) liberação do DMSe
à atmosfera; (h) oxidação do
DMSe a selenito e selenato.
SeO32-
SeO42-
DMSe -R
DMSe
DMSe (g)
+
aa
c
b
b
f
e
h
g
d
(microorganismo)
Se orgânico2-
Se orgânicos
dissolvido
2-
Figura 8. Transformações biogeoquímicas do selênio (adaptada de COOKE; BRULAND, 1987).
Atenção também tem sido dada a algumas espécies de plantas capazes de incorporar e
metabolizar compostos de selênio (CHASTEEN; BENTLEY, 2002; TERRY et al., 2000). Certas
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
26
plantas são capazes de acumular de centenas a milhares de miligramas de Se/kg (peso seco) em seus
tecidos. A incorporação acontece principalmente através da formação de Se-aminoácidos e
Se-proteínas, bem como pela volatilização de compostos, que ocorre quando o suprimento de Se
excede as concentrações necessárias ao metabolismo da planta (TERRY et al., 2000). Os mecanismos
detalhados de assimilação e volatilização de compostos de Se em plantas podem ser consultados em
revisões como as de Chasteen e Bentley (2002), e Terry et al. (2000). A Tabela 7 apresenta uma
compilação de alguns dos principais organismos capazes de reduzir e gerar compostos voláteis de Se.
Tabela 7. Principais organismos capazes de metilar compostos de Se (adaptada de CHASTEEN;
BENTLEY, 2002).
Produtos*
Organismos Forma de Se
metilada
DMSe DMDSe DMSeS
Algas
Chorella sp. IV + + +
Cyanophyte-dominated Mat IV + + +
Bactérias
Aeromonas sp. VI + + +
Citrobacter freundii VI + + +
Clostridium collagenovorans IV + +
Corynebacterium sp. VI + +
Desulfovibrio gigas IV + +
Desulfovibrio vulgaris IV + +
Enterobacter cloacae IV +
Methanobacterium formicicum IV + +
Methanosarcina barkeri IV + +
Pseudomonas aeruginosa VI + + +
Pseudomonas fluorescens VI + + +
Pseudomonas sp. VI + + +
Rhodobacter tenuis IV, VI, Se0 + + +
Rhodocyclus tenuis IV, VI, Se0 + +
Rhodospirillum rubrum VI, Se0 + +
Fungos
Acremonium falciforme IV + +
Alternaria Alternata VI +
Cephalosporium sp. IV, VI +
Fusarium sp. IV, VI +
Penicillium citrinum IV + +
Penicillium sp. IV +
Scopulariopsis brevicaulis IV +
Plantas
Allium ampeloprasum Se aminoácidos + + +
Salicornia bigelovii - +
Spartina alterniflora - +
* DMSe = dimetilseleneto; DMDSe = dimetildiseleneto; DMSeS = dimetilselenosulfeto;
IV = selenito; VI = selenato; Se0 = selênio elementar; + = detectado; - = desconhecido
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
27
2.3.3.2. Redução abiótica
Embora a redução microbial do Se(VI) e Se(IV) a Se(0) tenha sido confirmada por diversos
autores (HERBEL et al., 2003; HOCKIN; GADD, 2006; OREMLAND et al., 1989; ZHER;
OREMLAND, 1987), vários estudos reportam mecanismos de redução abiótica do Se em contato com
minerais que contêm Fe(II) (BRUGGEMAN et al., 2005; CHAKRABORTY et al., 2010; CHARLET
et al., 2007; KANG et al., 2011; MYNENI et al., 1997; SCHEINOST; CHARLET, 2008;
SCHEINOST et al., 2008).
Myneni et al. (1997), estudaram a capacidade de redução do Se(VI) na presença de compostos
de Fe(II) e Fe(III). Em pH > 4,0 e condições anaeróbicas, íons Fe(II) e Fe(III) precipitam na forma de
oxi-hidróxidos hidratados conhecidos como green rust (GR), apresentando a seguinte fórmula:
FeII
4FeIII
2(OH)12X∙3H2O, onde X representa um ânion interlamelar. Utilizando uma GR contendo SO42-
como ânion interlamelar, os autores observaram que em solução ácida (pH < 4,0), não houve nenhuma
precipitação de GR ou redução de íons Se(VI), mesmo após 160h de reação. Em pH > 5,0, contudo,
houve precipitação de GR, que, ao reagir com o Se, foi convertida a magnetita (Fe3O4) e lepidocrocita
(γ-FeOOH) em pH 7,0; e apenas a magnetita em pH 9,5. O Se(VI) coprecipitado com GR foi mais
rapidamente reduzido nos instantes iniciais da reação, porém a taxa de redução se estabilizou a níveis
similares aos da redução do Se adicionado ao sistema já contendo GR precipitada [Anexo 1,
Eq. (A.9)]. Os autores concluíram que a redução do Se(VI) em pH >4,0 pode ocorrer de forma
homogênea na fase aquosa, ou através de reações heterogêneas pela adsorção e redução do Se na
superfície da GR, ou pela coprecipitação do Se com a GR seguida por sua redução interlamelar
(MYNENI et al., 1997).
Naveau et al. (2007) investigaram as interações entre Se(IV) e Se(-II) com piritas e
calcopiritas naturais e sintéticas em meio anóxico. Observando adsorção significante das espécies de
selênio em meio ácido e verificando o fraco surgimento de sulfato e de espécies reduzidas de selênio
adsorvidas nas superfícies dos minerais sulfetados, os autores sugerem a redução abiótica do selenito
acompanhada pela oxidação do sulfeto a sulfato em baixo pH.
Charlet et al. (2007), estudaram a adsorção e redução de íons selenito em uma montmorilonita
sintética enriquecida com íons Fe2+
, em condições anóxicas. Os autores observaram que na ausência de
Fe2+
no sistema, os íons SeO32-
eram apenas adsorvidos pela argila através de complexos de esfera
externa. No entanto, quando o selenito foi adicionado ao sistema contendo montmorilonita
previamente equilibrada com Fe2+
, a capacidade adsortiva do mineral foi aumentada e houve a
formação de uma fase sólida, identificada como Se0, levando os autores à conclusão de o Fe
2+
adsorvido seria o responsável pela redução do Se na superfície do filossilicato.
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
28
Chakraborty et al. (2010) investigaram a imobilização redutiva do Se(IV) a Se(0) em calcitas
contendo Fe(II) adsorvido ou coprecipitado condições anóxicas e pH 7. Quando comparada à calcita
livre de Fe(II) ou coprecipitada com este íon, a calcita contendo Fe(II) adsorvido apresentou maior
capacidade de adsorção e redução do Se(IV). A fraca capacidade adsortiva da calcita livre de Fe(II) se
deve à sua carga superficial negativa, fazendo com que os íons SeO32-
só sejam adsorvidos no mineral
através de troca iônica com os ânions CO32-
. A calcita contendo Fe(II) adsorvido, por sua vez,
apresenta carga superficial positiva, que propicia maior capacidade de adsorção do Se(IV) (CHARLET
et al., 2007). No que se refere à redução do selenito, os autores não observaram nenhuma alteração na
especiação do Se(IV) em contato com calcita coprecipitada com Fe(II), mesmo após 72h de reação.
Tal incapacidade redutiva foi atribuída à incorporação do Fe2+
na estrutura interna do mineral
(substituindo íons Ca2+
), que causaria uma espécie de blindagem no metal, impedindo a doação de
elétrons deste ao Se. O contrário foi observado na calcita contendo Fe2+
adsorvido em sua superfície,
concordando com o estudo de Charlet et al. (2007). Ainda neste estudo, Chakraborty et al. (2010) não
observaram nenhuma redução do Se em contato somente com Fe aquoso em 72h, concluindo que a
redução do Se(IV) por Fe(II) ocorre somente na superfície da calcita.
Outros estudos também investigaram a redução do Se na presença de minerais contendo Fe
(BRUGGEMAN et al., 2005; KANG et al., 2011; SCHEINOST; CHARLET, 2008; SCHEINOST et
al., 2008). A especiação do Se pode, portanto, ser controlada por processos bióticos e abióticos, sendo
que tais processos podem ou não estar inter-relacionados.
2.3.3.3. Processos de coprecipitação
Além dos mecanismos já descritos anteriormente, processos de coprecipitação de oxiânions de
selênio com outros minerais também possuem um importante papel na imobilização e atenuação do
Se. Em ambientes alcalinos, os sítios de adsorção dos argilominerais e oxi-hidróxidos metálicos
tendem a apresentar carga superficial negativa, desse modo, a adsorção dos oxiânions selenato e
selenito não é favorecida (CORNELIS et al., 2008). Estudos demonstram que, em razão de suas
similaridades químicas e cristalográficas, os oxiânions de selênio podem ser incorporados na estrutura
de minerais como gipsita (CaSO4∙2H2O) e calcita (CaCO3) em processos de coprecipitação que
contribuem para o controle da mobilidade desses oxiânions (AURELIO et al., 2010; NISHIMURA;
HATA, 2007).
Aurelio et al. (2010) estudaram a coprecipitação de íons selenito (IV) com uma calcita
sintética em pH neutro. Seus resultados reportam a substituição de ânions carbonato pelo selenito em
concentrações entre 30-75 mmol SeO32-
/kg de CaCO3. Reeder et al. (1994) e Staudt et al. (1994)
reportaram a incorporação de íons SeO42-
e SeO42-
na estrutura de calcitas. Seus resultados mostram
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
29
que mesmo ânions com simetria diferente, como o selenato, podem ser incorporados na estrutura da
calcita substituindo os sítios cristalográficos dos íons CO32-
(REEDER et al., 1994).
De acordo com Freyer e Voigt (2003), a precipitação de sulfatos de cálcio pode incorporar
ânions como HPO42-
, HAsO42-
SeO42-
, CrO42-
, entre outros, e que tal incorporação se dá na forma de
soluções sólidas. Uma solução sólida é uma rede cristalina na qual partículas de dois ou mais minerais
se encontram perfeitamente intercaladas, ou seja, quando existe a substituição de átomos de um
mineral sem que haja alteração na estrutura cristalina deste (ANDARA et al., 2005; FERNÁNDEZ-
GONZÁLEZ et al., 2006).
Nishimura e Hata (2007) estudaram os sistemas Ca-Se(IV)-H2O e Ca-Se(VI)-H2O através da
síntese de compostos formados nesses sistemas a 25 °C e em pHs diferentes. Seus resultados
mostraram a existência de três espécies de selenito de cálcio (Ca(HSeO3)2∙H2O; CaSeO3∙H2O e
Ca2SeO3(OH)2∙2H2O) e quatro espécies de selenato de cálcio (CaSe2O7; CaSeO4; CaSeO4∙2H2O e
Ca2SeO4(OH)2). Os autores calcularam as constantes de produto de solubilidade para os compostos
menos solúveis e observaram que as solubilidades moderadas a altas dos compostos formados
desqualificam o uso destes para tratamentos de rejeitos industriais (NISHIMURA; HATA, 2007).
Entretanto, em ambientes como represas de decantação de minas de carvão, as altas concentrações de
Ca, CO32-
, SO42-
, SeO32-
e SeO42-
, podem contribuir para um deslocamento no equilíbrio de
solubilidade proporcionando um mecanismo de atenuação dos oxiânions de Se através da
coprecipitação com calcita e gipsita.
2.4. ECOTOXICOLOGIA DO SELÊNIO
2.4.1. Efeitos em humanos
O selênio foi descoberto como sendo um nutriente essencial ao metabolismo dos animais em
1957 (SCHWARZ; FOLTZ, 1999). No entanto, sua função na glutationa peroxidase, uma enzima
responsável pela proteção das membranas celulares da destruição por radicais livres, foi estabelecida
somente em 1973 (ROTRUCK et al., 1973). De todos os elementos, o Se tem uma das faixas mais
estreitas entre deficiência nutricional (<40 µg/dia) e níveis tóxicos (>400 µg/dia) (FORDYCE, 2007),
com ingestão recomendada de 55 µg/dia para adultos (NIH, 2011).
A ingestão de Se ocorre primariamente através da dieta e exposição ocupacional (IPCS, 1987).
Concentrações insuficientes de Se no organismo podem causar distrofia muscular, necrose hepática e
deficiencia imunológica (BARCELOUX, 1999). Casos severos de deficiência nutricional de Se na
China são reportados em dois tipos de doenças endêmicas: a doença de Keshan e doença de
Kashin-Beck (TAN, 1989). A doença de Keshan é uma doença cardiovascular que afeta
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
30
principalmente crianças e mulheres jovens. Seus principais efeitos patológicos incluem necrose
multifocal do miocárdio; insuficiência cardíaca congestiva; choque cardiogênico; e morte
(BARCELOUX, 1999). Segundo registros, os piores anos da doença foram 1959, 1964 e 1970, nos
quais houveram mais de 8000 casos e de 1400 a 3000 mortes pela doença por ano (TAN, 1989). Uma
característica comum entre a população afetada era a baixa concentração de Se no organismo, indicada
por conteúdos de Se nos cabelos < 0,12 mg/kg (FORDYCE, 2007). A doença de Kashin-Beck é
caracterizada por osteoartropatia crônica (envolve atrofia, degeneração e necrose de cartilagens). Os
principais casos da doença foram reportados na China, Russia e Coréia (BARCELOUX, 1999). Em
ambos os casos, programas de suplementação alimentar em larga escala foram implementados
reduzindo grandemente os casos das doenças (FORDYCE, 2007).
Os efeitos tóxicos pelo excesso de Se geralmente incluem queda de cabelos e unhas, e
desordens na pele. Lesões cutâneas se desenvolvem principalmente nos membros e incluem
eritema, vesiculação, infecção secundária, e descoloração avermelhada. Odor de alho na respiração,
como resultado da aspiração de dimetilseleneto, é uma indicação de exposição excessiva ao selênio
(BARCELOUX, 1999). Outros efeitos clínicos foram reportados em casos de selenose crônica na
China, em áreas onde o consumo de alimentos produzidos em solos seleníferos ou pelo consumo de
carne de animais contendo altas concetrações do elemento (ZHENG, B. et al., 1999). Dentre estes
estão incluídos: cáries dentárias, fadiga, irritabilidade, fragilidade muscular, tremores, depressão,
náuseas, entre outros (BARCELOUX, 1999; FORDYCE, 2007; TAN, 1989).
2.4.2. Efeitos em animais domésticos
Embora tenha sido descoberto como elemento químico somente em 1817, os efeitos do selênio
em animais são conhecidos desde a antiguidade. Em sua expedição à China, no século XIII, o
explorador Marco Polo relatou a queda dos cascos de seus cavalos após a ingestão de certas plantas
nativas. Tal região atualmente fica na província de Shaan-Xi, onde existem altas concentrações de Se
nos solos (OLDFIELD, 2006). Em 1860, um médico da cavalaria americana observou a queda de
pelos e perca dos cascos de cavalos nas regiões de South Dakota e Nebraska, EUA. Moradores das
regiões também haviam observado efeitos semelhantes em seus rebanhos. Em razão da existência de
fontes de água alcalinas na região, e do consumo dessas águas na dessedentação dos animais, os
efeitos tóxicos observados ficaram conhecidos como alkali disease (doença alcalina) (JAMES et al.,
1990). Segundo Roselfeld e Beath (1964), a alkali disease é um tipo de intoxicação crônica por Se
resultante do consumo de plantas contendo entre 5 e 40 µg/g de Se em períodos que variam de
semanas a meses. Seus principais efeitos incluem fraqueza, emagrecimento, queda de pelos
(especialmente nas crinas e caudas dos animais), perda de vitalidade e lesões nos cascos. A doença se
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
31
manifesta em bovinos, equínos e suínos. Os efeitos tóxicos da doença não foram observados em
ovinos (ROSENFELD; BEATH, 1964). Problemas reprodutivos nos animais aparentemente ocorrem
em níveis nutricionais mais baixos do que aqueles necessários para o aparecimento dos sinais da alkali
disease. Segundo James et al. (1990), efeitos adversos na reprodução animal podem acontecer pelo
consumo de plantas com concentrações de Se inferiores a 2 µg/g.
Outra manifestação de intoxicação crônica por selênio se dá através de outra doença conhecida
como blind staggers. De acordo com Roselfeld e Beath (1964), a doença blind staggers resulta do
consumo de plantas com concentrações moderadas de Se durante períodos de dias a semanas. A
doença blind staggers é observada em bovinos e ovinos, sem manifestações em equinos, suínos ou
aves domésticas (JAMES et al., 1990). Os efeitos da intoxicação se dão em três estágios. No primeiro
estágio, os animais demonstram visão ofuscada, desconsiderando, tropeçando e/ou atropelando objetos
em seu caminho. Os animais também apresentam redução de interesse em se alimentar. Conforme a
intoxicação se acentua, os animais apresentam perca da capacidade de suporte pelas patas frontais e
anorexia. No terceiro estágio, os animais apresentam paralizia ou perca da capacidade de engolir,
cegueira, redução da temperatura corporal e falência respiratória (ROSENFELD; BEATH, 1964).
James et al. (1990) apresentam maiores informações sobre a intoxicação de animais domésticos por
Se, e alguns mecanismos de tratamento disponíveis.
A deficiência de Se em animais domésticos provoca retenção placentária, diarréias persistentes
em animais jovens, distrofia muscular, problemas hepáticos, pancreáticos e cardíacos. As
concentrações nutricionais recomendadas variam entre 0,05 e 0,10 µg Se/dia dependento do porte do
animal (JAMES et al., 1990).
2.4.3. Efeitos em peixes e animais selvagens
Altas concentrações de Se podem causar sérios problemas a ambientes aquáticos. Incidentes
nas décadas de 1970 e 1980, como Lago Belews, Carolina do Norte, e no Parque Nacional de
Kesterson, Califórnia, respectivamente, evidenciam os efeitos tóxicos que o selênio pode impor ao
meio ambiente.
A precipitação de cinzas volantes e descarga de águas de processo de uma usina termoelétrica
de carvão na região do Lago Belews, Carolina do Norte, EUA, foram responsáveis por altas
concentrações de selênio na água. Segundo Lemly (1985), algumas amostras de água apresentaram
concentrações de Se de até 200 µg/L. As concentrações elevadas de Se causaram severos problemas
reprodutivos em diversas espécies de peixes, levando a um rápido colapso nas populações das espécies
Lepomis macrochirus, Lepomis cyanellus, Micropterus salmonides e Ictalurus platycephalus
(SORENSEN et al., 1984). Dentre as anomalias congênitas observadas nessas espécies estão incluídas
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
32
a ausência de nadadeiras, olhos protuberantes e deformações nas cabeças e espinhas (LEMLY, 1985).
Embora os níveis de Se na água tenham sido reduzidos a concentrações abaixo de 1 µg/L, efeitos
teratogênicos nas espécies afetadas puderam ser observados mesmo após 10 anos de interrupção das
fontes de Se da usina termoelétrica (LEMLY, 1997).
O reservatório de Kesterson foi construído entre os anos de 1968 e 1975 como parte de um
sistema de drenagem de águas oriundas de áreas de agricultura para o Vale São Joaquin (San Joaquin
Valley), Califórnia. Os solos nessa área foram formados pelo intemperismo de estratos sedimentares
marinhos seleníferos, do período Cretáceo (PRESSER, 1994). O reservatório consistia em 12 lagos,
desenhados para atuarem como áreas alagadas e receberem água de subsuperfície derivada de áreas de
agricultura por irrigação (OHLENDORF, 2002). As primeiras evidências de contaminação por selênio
foram observadas em 1983, quando pássaros na região foram encontrados com altos índices de
deformidades embrionárias e mortalidade (OHLENDORF et al., 1986). Testes de qualidade da água
constataram que as águas que abasteciam os lagos possuíam concentrações de Se de até 1400 µg/L
(PRESSER; BARNES, 1984). Mediante a constatação de que o Se era o responsável pela
contaminação dos animais, as fontes de abastecimento dos lagos foram interrompidas em 1986 e os
lagos foram secos e cobertos em 1988 (OHLENDORF, 1989). Aves aquáticas apresentaram ausência
de olhos, bicos, asas, pernas e pés, bem como, abnormalidades cerebrais, no fígado, coração e
esqueleto (OHLENDORF, 2002; OHLENDORF et al., 1990). Concentrações de Se na espécie de
peixe mais comum na área (Gambusia affinis) também apresentaram valores entre 26 e 31 µg/L,
enquanto a mesma espécie em áreas que não recebiam águas de drenagem na região apresentava uma
média de Se de 0,39 µg/L. Contudo, nenhum efeito tóxico foi observado nessa espécie de peixe
(OHLENDORF, 2002). Invertebrados, répteis, anfíbios e mamíferos também demonstraram
acumulação de Se na área, porém nenhum efeito tóxico foi reportado (CLARK et al., 1989;
OHLENDORF, 1989).
A alimentação é a principal fonte de Se a animais aquáticos, contudo, os peixes também
podem absorver o Se diretamente da coluna d’água por suas guelras (LEMLY, 1993). Manifestações
específicas de toxicidade do Se em peixes incluem cegueira, olhos protuberantes, deformidades
osteológicas e redução na eclodibilidade dos ovos (CLARK et al., 1989; LEMLY, 1985). Um dos
fatores mais importantes no que se refere à ecotoxicidade do Se em ambientes aquáticos é sua
capacidade de bioacumulação. Em lugares onde peixes demonstram toxicidade crônica, as
concentrações de Se em seus tecidos apresentam valores de 100 a 30.000 vezes maiores do que as
concentrações na água. Além disso, o Se é capaz de se biomagnificar através da cadeia trófica, assim
como ocorre com o metilmercúrio, ou seja, os animais que se encontram no topo da cadeia, como
peixes predadores, aves e mamíferos, podem adquirir concentrações tóxicas de Se em seus
organismos, mesmo em lugares onde a concentração de Se na água é baixa (LEMLY; SMITH, G J,
1990).
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
33
2.4.4. Efeitos em plantas
Plantas têm capacidades variadas de incorporação de selênio. Certas plantas, chamadas de
acumuladoras de Se são capazes de acumular de centenas a milhares de miligramas de Se/kg (peso
seco) em seus tecidos. Dentre estas se destacam algumas espécies dos gêneros: Astragalus, Stanleya,
Morinda, Neptunia, Onopis e Xylorhiza (TERRY et al., 2000). No entanto, a maioria das espécies de
gramas e plantas cultivadas na agricultura contêm menos de 25 mg Se/kg (peso seco) e geralmente não
acumulam mais de 100 mg Se/kg (peso seco) em seus tecidos quando desenvolvidas em solos
seleníferos. Tais plantas são conhecidas como não-acumuladoras de Se (EMERICK; DEMARCO,
1990). Quando plantadas em solos não seleníferos ou com concentrações moderadas de Se, a maioria
das espécies cultivadas na agricultura raramente excedem 1 mg Se/kg (peso seco), entretanto, gêneros
como Distichlis e Atriplex, podem apresentar concentrações de 10 a 20 mg Se/kg (peso seco), quando
cultivadas em terrenos com concentrações médias de Se (TERRY et al., 2000).
Existe ainda uma categoria de plantas conhecida como acumuladoras secundárias de Se. Tais
espécies se desenvolvem em solos com conteúdos baixos a moderados de Se e podem acumular até
1000 mg Se/kg (peso seco) em seus tecidos. Exemplos dessas plantas incluem espécies dos gêneros:
Aster, Astragalus, Atriplex, Brassica, Castilleja, Comandra, Grayia, Grindelia, Gutierrezia e
Machaeranthera (EMERICK; DEMARCO, 1990; TERRY et al., 2000).
Selenato e selenito competem com outros íons como sulfato, fosfato, molibdato e oxalato por
sítios de adsorção nas raízes de plantas, e, embora ambos sejam passíveis de incorporação nos tecidos
vegetais, o selenato é mais facilmente assimilado pelo fato de o selenito ser mais fortemente retido
pelo material particulado no solo (BROWN, T. H., 1990). Entre os efeitos tóxicos do Se em plantas, se
destacam a redução do desenvolvimento, perca de pigmentação, e morte em casos onde as
concentrações de Se na solução do solo são muito altas (TERRY et al., 2000).
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
CAPÍTULO 3
ÁREA DE ESTUDO
3.1. HISTÓRICO E LOCALIZAÇÃO
A Mina Trend (MT) é uma mina de carvão a céu aberto, localizada no nordeste da província
de British Columbia (BC), Canadá, na região de Peace River. Fica a aproximadamente 120 km da
cidade de Dawson Creek e 30 km ao sul da cidade de Tumbler Ridge. A mina se encontra entre as
bacias hidrográficas dos córregos Babcock, Gordon e Hambler, as quais fluem para o córrego Flatbed,
que por sua vez deságua no rio Murray a oeste de Tumbler Ridge. O acesso à mina é feito através de
uma rodovia chamada Heritage Highway ao sul de Tumbler Ridge, seguindo à estrada PDR-46, que
provê acesso até a mina (PRC; LORAX, 2011). Os Anexos 2 e 3 apresentam os mapas de localização
da mina.
A MT está localizada em uma zona de clima temperado a uma altitude média de 1425 m acima
do nível do mar e precipitação média anual estimada em 958,5 mm. A temperatura média anual é de
aproximadamente 2,1 °C, sendo julho o mês mais quente do ano, com temperatura média de 13,4 °C; e
janeiro o mês mais frio, com média de -8,5 °C. Entre 1971 e 2000 as temperaturas extremas
registradas na região foram de -42,5 e 32,5 °C (NEMI, 2006).
Até 01 de dezembro de 2006, a propriedade de Trend era possuída e operada pela companhia
Northern Energy na Mining Inc. (NEMI). A partir dessa data, as licenças da NEMI, bem como das
companhias Hillsborough Resources e Anglo Canadian Coal Licenses Inc. foram combinadas em uma
nova companhia de mineração de carvão, a Peace River Coal Inc (PRC). Tal fusão propõe o
desenvolvimento da exploração dos recursos carboníferos de Trend. A mina atualmente tem permissão
para a produção de 2 milhões de toneladas de carvão por ano; o produto final é carvão metalúrgico
destinado ao mercado externo (PRC; LORAX, 2009).
3.2. GEOLOGIA LOCAL E REGIONAL
3.2.1. Geologia local
A propriedade da MT se situa em um cinturão Mesozoico que forma parte das montanhas
rochosas do nordeste da província de BC. As camadas economicamente exploráveis de carvão na
região carbonífera de Peace River são encontradas em estratos do período Cretáceo Inferior, que
consistem nos grupos Bullhead e Fort St. John. A estratigrafia interna dessa sucessão é caracterizada
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
35
como uma sequencia de xistos marinhos e litologias clásticas marinhas e não-marinhas depositadas a
partir de uma série de ciclos regressivos e transgressivos. As camadas mais espessas de carvão são
encontradas nas formações Gething e Gates, as quais se acredita terem sido formadas em ambientes
deposicionais deltaicos. Camadas finas e economicamente inviáveis também podem ser encontradas
dentro da formação Boulder Creek e no grupo Mines (NEMI, 2006).
3.2.2. Geologia regional
A Figura 9 apresenta o esquema estratigráfico das formações dos períodos Jurássico e
Cretáceo na região de estudo. O grupo Minnes data do período Jurássico superior ao Cretáceo inferior
e consiste em camadas cíclicas de arenitos argilosos e com partículas finas, siltitos, xistos carbonosos
e camadas de carvão. O carvão é pobremente desenvolvido (geralmente em camadas < 0,15 m de
espessura) e descontínuo.
PE
RÍO
DO
GRUPO/FORMAÇÃO
CR
ET
ÁC
EO
IN
FE
RIO
R
GP. FORT ST. JOHN
FM. SHAFTESBURY FM. BOULDER CREEK
FM. HULCROSS
FM. GATES
FM. MOOSEBAR
GP. BULLHEAD
FM. GETHING
FM. CADOMIN
GP. MINNES
JU
RÁ
SS
ICO
Figura 9. Estratigrafia dos períodos Jurássico e Cretáceo na região carbonífera de Peace River
(adaptada de BROATCH, 1985).
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
36
A Formação Cadomin tem espessura entre 15 e 45 m. É predominantemente composta por
conglomerados de granulação grossa contendo seixos arredondados e pedregulhos de chert de várias
cores, quartzito cinza e quartzo. Camadas de areia descontínuas e lenticulares podem ser encontradas.
A Formação Gething possui espessura variável de 120 a 200 m e consiste em unidades
alternadas de arenitos com granulação fina ou grossa, xistos carbonosos, carvão, siltitos e
conglomerados, sendo os últimos mais comuns nas porções inferiores dessa formação. Informação
sobre a distribuição das camadas de carvão na Formação Gething é incompleta, pois tal formação é
pouco exposta e poucas campanhas de exploração foram empreendidas nessa formação, no entanto, se
tem conhecimento de ao menos quatro camadas de carvão economicamente viáveis nessa formação,
dentro da área da mina. A parte superior da formação é definida por uma camada fina de seixos
conglomerados sobreposta por uma camada de arenito glauconítico; esse extrato significa o início dos
sedimentos marinhos pertencentes à Formação Moosebar.
A sequencia basal da Formação Moosebar é composta por xistos negros homogêneos,
geralmente sideríticos, e siltitos sideríticos. Em suas porções superiores, esta formação consiste em
xistos areníticos bandados, arenitos com granulação muito fina e arenitos intercalados com xistos, que
se convertem em camadas massivas de arenitos continentais na base da Formação Gates. A Formação
Moosebar apresenta espessuras que variam entre 120 a 215 m.
A Formação Gates varia entre 262 e 274 m de espessura e se situa acima da Formação
Moosebar. Tal formação contém a maior quantidade conhecida de recursos carboníferos exploráveis
na região. A parte inferior da formação, informalmente conhecida como Componente Quintette,
consiste em camadas massivas de arenitos de granulação média e cor cinza clara, com horizontes
carbonáceos e conglomerados em menor quantidade. A Componente Quintette é sobreposta por três ou
quatro ciclos de deposição de carvão que ocorrem em intervalos estratigráficos de aproximadamente
90 m. Tais ciclos são referidos como Componente Gates Média e normalmente se iniciam com
arenitos laminados, de granulação fina e média, na base de cada ciclo; estes dão lugar a xistos
carbonosos, que por sua vez, são sobrepostos por carvão. As camadas de carvão situadas nos ciclos
inferiores usualmente apresentam as maiores espessuras (até 11 m) e continuidade. As camadas de
carvão situadas em zonas superiores apresentam espessura máxima de aproximadamente 3 m. A
Componente Gates Média é sobreposta por uma sequencia de arenitos conglomeráticos de granulação
média a grossa e uma sequencia de seixos conglomerados, informalmente nomeada de Componente
Babcock. Essa unidade é bastante resistente ao intemperismo pelo fato de seus conglomerados
conterem muitos clastos de chert no interior de uma matriz silicática. A Componente Babcock é
sobreposta por uma sequencia de xistos referida como Componente Gates Superior. Essa componente
consiste principalmente em ciclos intercalados de xistos, arenitos de granulação fina e camadas muito
finas, economicamente inviáveis, de carvão. Uma camada muito fina de seixos de chert e cimentos
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
37
ferruginosos marca o contato da Componente Gates Superior com os sedimentos marinhos que a
sobrepõe na Formação Hulcross (NEMI, 2006).
A Formação Hulcross consiste em uma camada de 75 a 105 m de xistos acinzentados.
Intrusões finas de siltitos e arenitos de granulação fina são presentes, principalmente nas proximidades
do topo da formação.
A Formação Boulder Creek, que apresenta espessura média de 130 m sobrepõe a Formação
Hulcross. Tal formação consiste em camadas alternadas de xistos e arenitos com granulação fina a
média, sobrepostas por conglomerados maciços e arenitos conglomeráticos. As litologias da parte
superior da Formação Boulder Creek se assemelham à Componente Babcock da Formação Gates.
A Formação Shaftesbury sobrepõe a Formação Boulder Creek e completa a estratigrafia
presente na propriedade de Trend. Essa formação consiste em xistos marinhos acinzentados a negros
com menores quantidades de siltitos; e sua litologia se assemelha à da Formação Hulcross (NEMI,
2006).
3.3. OPERAÇÃO DA MINA
O método convencional de mineração de carvão a céu aberto é utilizado na MT e explora
camadas de carvão que se encontram nas formações Gates e Gething. A mineração se inicia com a
perfuração e detonação dos rejeitos de rocha, os quais são carregados por caminhões às pilhas de
rejeitos ou ao preenchimento de áreas já mineradas. O principal explosivo utilizado na detonação das
rochas na MT é o ANFO (ammonium nitrate fuel oil), inserido em furos de 250 ou 300 mm,
dependendo da dureza da rocha. As operações da mina são sequenciadas de modo a maximizar o
potencial de preenchimento das cavas onde os recursos carboníferos já foram extraídos. O carvão
minerado é carregado por caminhões até a planta de processamento da mina, onde é alocado em pilhas
de estoque ou conduzido diretamente à planta de processamento. O carvão que sai da planta de
processamento é carregado por caminhões até a estação de carregamento de trem que fica a
aproximadamente 15 km ao norte da mina e 12 km ao sul da cidade de Tumbler Ridge. Os rejeitos de
rocha produzidos durante a mineração são empilhados nas proximidades das cavas de modo a facilitar
sua posterior reposição topográfica. Materiais que apresentam potencial de geração de drenagem ácida
(com teores mais altos de enxofre) são intercalados com materiais com capacidade de neutralização
(em geral, com maiores teores de carbonatos) (NEMI, 2006).
As pilhas de rejeitos são construídas de maneira que a água que infiltra e/ou escoa por elas
seja conduzida às represas de decantação da mina, que retêm temporariamente a água, de modo a
reduzir suas altas cargas de material particulado e contaminantes antes que estas sejam descarregadas
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
38
nos corpos d’água receptores (CALDWELL, 2006). A MT atualmente possui cinco represas de
decantação que recebem as águas de escoamento e infiltração das pilhas de rejeitos e estéreis da mina;
uma próxima à pilha de estoque de carvão na estação ferroviária, e quatro na área da mina. A represa
de decantação da estação ferroviária (LSP-1) deságua no rio Murray, enquanto que na área da mina,
três represas deságuam no córrego Babcock (SP-1, SP-2 e SP-3) e uma no córrego Gordon (SP-4)
(Anexo 3) (PRC; LORAX, 2009).
3.3.1. Monitoramento da qualidade da água
O Anexo 3 e a Tabela 8 apresentam, respectivamente, o mapa das estações de monitoramento
da qualidade da água superficial e suas respectivas coordenadas e descrições. A Mina Trend realiza o
monitoramento mensal da qualidade da água dos corpos receptores. As amostras de água das estações
apresentadas na Tabela 8 são coletadas mensalmente por funcionários da mina, seguindo os critérios
descritos pelo Ministério do Meio Ambiente da Província de British Columbia (MOE, 2003). Em cada
evento de coleta, amostras em duplicatas e amostras em branco são incluídas para assegurar a
qualidade da amostragem. Para segurar a qualidade das análises, as amostras em duplicata são
submetidas ao laboratório analítico sem identificação, juntamente com as amostras identificadas (PRC;
LORAX, 2011). Além das coletas de água superficial, coletas trimestrais de água subterrânea estão
incluídas nos programas de monitoramento ambiental da Mina Trend, no entanto, este trabalho
abordará somente dados de água superficial, portanto, as coordenadas de coleta de água subterrânea da
MT não serão apresentadas. As unidades de medidas, técnicas analíticas e limites mínimos de detecção
(MDL) dos parâmetros de água analisados neste trabalho se encontram no Anexo 4.
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
39
Tabela 8. Coordenadas e descrições das estações de coleta de águas superficiais na Mina Trend.
Estação Coordenadas UTM
Descrição Easting Northing
B u/s Bt-9 629,557 6,085,380 Estação de referência no córr. Babcock, a montante da mina
B-2 630,600 6,086,380 Córr. Babcock montante da descarga de SP-3
B-3 637,160 6,095,960 Córr. Babcock à jusante da convergência entre os córr. Babcock e
Gordon
B-5 633,205 6,088,462 Córr. Babcock à jusante das represas de decantação SP-1, 2 e 3
F-3 631,460 6,106,680 Córr. Flatbed à jusante do córr. Babcock
G u/s Gt-16 633,650 6,083,100 Estação de referência no córr. Gordon, a montante da mina
G-2 634738 6,084,640 Córr. Gordon à jusante de SP-4
G-3 635182 6,086,428 Córr. Gordon a aproximadamente 2 km à jusante de G-2
LSP-1 628,950 6,101,250 Represa de decantação da estação férrea; descarrega no córr. tributário
do rio Murray, chamado MT100; opera desde 2006
MT100-1 629,650 6,100,585 Estação de referência no córr. MT100, a montante de LSP-1
MT100-2 628,760 6,101,390 Córr. MT100 a aproximadamente 300 m à jusante de LSP-1
SP-1 630,495 6,085,940 Represa de decantação; descarrega no córr. Babcock; opera desde 2006
SP-2 629,800 6,085,750 Represa de decantação; descarrega no córr. Babcock; opera desde 2006
SP-3 631,480 6.085,960 Represa de decantação; descarrega no córr. Babcock; opera desde 2007
SP-4 634,365 6,085,130 Represa de decantação; descarrega no córr. Gordon; opera desde 2009
3.4. SELÊNIO EM REJEITOS DE ROCHA E CORPOS D’ÁGUA
3.4.1. Rejeitos de rocha
Os principais componentes mineralógicos presentes nos rejeitos de rocha produzidos pela MT
são quartzo, carbonatos, muscovita, caolinita e partículas finas de carvões e outros minerais. Carvão
pode se fazer presente em quantidades de 1 a 25%. Traços de feldspato, clorita, rutilo, óxidos de ferro
e querogênio também podem ser observados. Existem quatro tipos de minerais carbonáticos presentes,
sendo eles calcita, dolomita, ankerita e siderita. Minerais sulfetados geralmente ocorrem em
quantidades inferiores a 2% e consistem principalmente em piritas bem arredondadas ou framboidais,
e em ocasiões raras, calcopirita (NEMI, 2006).
As concentrações de selênio, em amostras de rochas da MT se demonstram levemente acima
das médias globais, porém levemente abaixo das concentrações medidas em minas do sudeste de
British Columbia (RYAN; DITTRICK, 2000). Ryan e Dittrick (2000), analisaram as concentrações de
selênio em 374 amostras de diferentes litologias na Formação Mist Mountain, sudeste da Província de
British Colúmbia, Canadá, observando que os valores médios de Se nos rejeitos de rocha de cinco
minas na região variam entre 1,1 e 4,2 mg/kg. Na Mina Trend, algumas amostras de rejeitos de rocha
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
40
apresentaram concentrações de Se de até 4,6 mg/kg, porém a média entre 109 amostras foi de
1,4 mg/kg (NEMI, 2006). As associações mineralógicas do Se na MT não são completamente
conhecidas, porém, acredita-se que estas sejam similares àquelas observadas por Lussier et al. (2003).
3.4.2. Corpos d’água receptores
O relatório de avaliação técnica da MT estimou que durantes os estágios iniciais da mina, as
concentrações de selênio nos corpos receptores seriam baixas em razão dos baixos volumes de rejeitos
gerados. Tais concentrações de Se, contudo, atingiriam maiores níveis durante o período operacional
da mina, como consequência do aumento da área de perturbação, bem como do volume das pilhas de
rejeito. A estimativa é a de que as concentrações de selênio devam atingir seus níveis mais altos nos
períodos finais da operação da mina e/ou durante seu período de fechamento, por volta do ano de 2015
(NEMI, 2006).
O relatório da qualidade da água superficial da MT para 2010 reportou que os principais
parâmetros que apresentaram concentrações elevadas nos corpos d’água receptores em razão das
atividades da mina foram selênio, nitrato e sulfato. Concentrações de Se de até 2,81 µg/L e 9,15 µg/L
foram reportadas nas estações G-2 e B-5, respectivamente. Além disso, concentrações de até 10,1
mg/L de nitrato e 65,6 mg/L de sulfato foram constatadas na estação B-5 (PRC; LORAX, 2011). As
normas de controle de qualidade de águas superficiais de BC (Water Quality Guidelines, WQG)
estabelecem que as concentrações médias mensais não devem ultrapassar 2 µg/L para Se, 3 mg/L para
NO3- e 50 mg/L para SO4
2- (MOE, 2011). As elevadas concentrações desses parâmetros podem estar
conjuntamente relacionadas à geoquímica do selênio na Mina Trend, e, conforme o foco deste
trabalho, a compreensão de sua inter-relação deve ser de utilidade na proposição de técnicas de
prevenção e mitigação para esses compostos.
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
CAPÍTULO 4
MATERIAIS E MÉTODOS
4.1. ABORDAGEM METODOLÓGICA
A Figura 10 representa os fluxos gerais da água proveniente das pilhas de rejeito da Mina
Trend. A água pode ser oriunda de precipitações ou derretimento de camadas de gelo. As águas de
escoamento e infiltração nas pilhas de rejeitos fluem para as represas de decantação da mina, para sua
posterior descarga nos corpos d’água receptores. Embora as pilhas de rejeito sejam construídas de
modo a evitar a infiltração direta da água aos aquíferos subterrâneos, eventuais infiltrações podem
possibilitar cargas de poluentes aos lençóis freáticos, com posterior afloramento aos corpos d’água
superficiais.
Água proveniente das
pilhas de rejeito
Represa de
decantação
Corpo d´água
receptorÁguas subterrâneas
Escoamento Descarga
Infiltração
Afloramento
Figura 10. Fluxo das águas provenientes das pilhas de rejeitos de rocha.
Em razão de receberem água diretamente das pilhas de rejeitos, as represas de decantação
apresentam, em geral, concentrações elevadas de muitos parâmetros químicos, e, oferecem muitos
indícios dos processos geoquímicos associados às pilhas de rejeitos. A abordagem metodológica deste
trabalho é, portanto, focada na interpretação dos dados hidrogeoquímicos das represas de decantação
da Mina Trend, como indicadores dos processos geoquímicos associados à lixiviação do selênio aos
corpos d’água receptores na área de estudo.
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
42
4.2. ORGANIZAÇÃO DOS DADOS
Um banco de dados de variáveis hidrogeoquímicas (Anexo 4) das estações de coleta de
água superficial da Mina Trend (Tabela 8) foi compilado através do software EQWin® Data
Manager (EQWin® Software Inc.). Dados de 2005 a 2011, de amostras de água coletadas por
funcionários da da mina e análisados em laboratórios particulares, foram inseridos no banco
de dados. O conjunto de dados compilados foi submetido a: (1) análise de componentes
principais, com o objetivo de se adquirir uma compreensão geral sobre os principais processos
geoquímicos em curso nas pilhas de rejeitos e represas de decantação da mina (especialmente
aqueles associados à mobilização e atenuação do selênio); (2) análise de correlação, buscando
compreender o relacionamento geoquímico do selênio com outros parâmetros indicadores de
processos intempéricos e resíduos de explosivos.
Antes de submeter os dados às análises estatísticas, as amostras que apresentaram
parâmetros com valores abaixo do Limite Mínimo de Detecção (do inglês, Minimum
Detection Limit, MDL) da técnica analítica empregada foram complementadas com valores
iguais à metade do MDL (FARNHAM et al., 2002). A maior parte das amostras apresentaram
medidas de Ag, Be, Bi, Cr, Pb, Sn, Ti, Tl e V abaixo dos limites de detecção. Por não terem
papel fundamental na geoquímica do selênio, os dados desses elementos foram, portanto,
descartados da análise estatística. Os testes estatísticos foram empreendidos com o uso do
software livre Tanagra (RAKOTOMALALA, 2005).
4.3. ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS
Estudos ambientais frequentemente envolvem a coleta de dados em várias estações
amostrais e análise de múltiplas variáveis (por exemplo: temperatura, volume, dureza da água,
concentração de elementos traço, etc), é frequente, então, que existam dificuldades na
interpretação de resultados em razão do grande volume de dados (FARNHAM et al., 2002). A
análise de componentes principais (do inglês Principal Component Analysis, PCA) é uma
técnica da estatística multivariada que consiste na redução do número de variáveis de um
conjunto de dados, identificando o padrão de correlações ou de covariância entre elas, e
gerando um número menor de novas variáveis, calculadas a partir dos dados brutos. As novas
variáveis geradas são denominadas componentes principais (EVERITT, 2005).
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
43
Os componentes principais apresentam propriedades importantes: (1) cada componente
principal é uma combinação linear de todas as variáveis originais; (2) são independentes entre
si e estimados com o propósito de reter, em ordem de estimação, o máximo de informação,
em termos da variação total contida nos dados (HÄRDLE; SIMAR, 2007). A análise de
componentes principais é associada à idéia de redução de massa de dados, com menor perda
possível da informação. Procura-se redistribuir a variação observada nos eixos originais de
forma a se obter um conjunto de eixos ortogonais não correlacionados. A análise agrupa os
indivíduos de acordo com sua variação, ou seja, segundo seu comportamento dentro da
população, representado pela variação do conjunto de características que define o indivíduo.
Em outras palavras, a técnica agrupa os indivíduos de uma população segundo a variação de
suas características. Tal agrupamento gerado pelos componentes principais é tido como sendo
ocasionado por efeitos indepentendes dentro do grupo de dados (ABDI; WILLIAMS, 2010).
No âmbito da geoquímica ambiental, cada componente principal pode ser utilizado na
interpretação de diferentes processos geoquímicos em uma dada área de estudo
(SUNDARAY, 2010; VAROL; SEN, 2009).
Nesta seção serão apresentados os conceitos matemáticos para o cálculo da PCA,
contudo, as técnicas de estatística multivariada utilizam ferramentas matemáticas complexas e
é pouco usual que os cálculos sejam feitos manualmente. Para uma maior compreensão da
matemática envolvida, recomenda-se que o leitor consulte literatura especializada, tais como
as referências deste texto. Ao final da seção, será explicada a metodologia de interpretação
dos dados da PCA obtidos através do software Tanagra.
4.3.1. Matriz de dados X
Consideremos a situação em que observamos ‘p’ características de ‘n’ indivíduos de uma
população π. As características observadas são representadas pelas variáveis X1, X2, X3, ...,
Xp. A matriz de dados é de ordem ‘n x p’ e normalmente denominada de matriz X, Eq. (1).
11 12 13 1
21 22 23 2
31 32 33 3
1 2 3
p
p
p
n n n np
x x x x
x x x x
X x x x x
x x x x
(1)
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
44
A estrutura de interdependência entre as variáveis da matriz de dados é representada pela
matriz de covariância, S, ou pela matriz de correlação, R. O entendimento dessa estrutura
através das variáveis X1, X2, X3, ..., Xp, pode ser na prática uma coisa complicada. Assim, o
objetivo da análise de componentes principais é transformar essa estrutura complicada,
representada pelas variáveis X1, X2, X3, ..., Xp, em uma outra estrutura representada pelas
variáveis Y1, Y2, Y3, ..., Yp não correlacionadas e com variâncias ordenadas, para que seja
possível comparar os indivíduos usando apenas as variáveis Yis que apresentam maior
variância. A solução é dada a partir da matriz de covariância S ou da matriz de correlação R
(VARELLA, 2008).
4.3.2. Matriz de covariância S
Em estatística, a covariância é definida como uma medida de como duas variáveis variam
conjuntamente (assim, a covariância entre uma variável e ela mesma resulta em sua variância)
(KAPS; LAMBERSON, 2005). A variância de uma variável aleatória Xj é dada pela Eq. (2).
A covariância amostral entre as variáveis Xj e Xk é dada pela Eq. (3).
2 1var( )
n
i ji
ij ij
X XX s
n
(2)
1
cov( , )
n
i j i ki
j k jk
X X X XX X s
n
(3)
Onde X representa a média de cada variável, e n representa o número de observações (ou
amostras).
No caso de se existirem múltiplas variáveis, é necessário, então, se obter a covariância
entre cada par de variáveis. A partir dessa idéia, surge a matriz de covariância S, Eq. (4). A
matriz S é simétrica e de ordem ‘p x p’ (VARELLA, 2008).
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
45
1 1 2 1 3 1
2 1 2 2 3 2
3 1 3 2 3 3
1 2 3
var( ) cov( ) cov( ) cov( )
cov( ) var( ) cov( ) cov( )
cov( ) cov( ) var( ) cov( )
cov( ) cov( ) cov( ) var ( )
p
p
p
p p p p
x x x x x x x
x x x x x x x
S x x x x x x x
x x x x x x r x
(4)
4.3.3. Padronização dos dados
A medição de diferentes parâmetros ambientais é feita em unidades de medidas
diferentes, por exemplo, a concentração de um metal é determinada em µg/L, a temperatura é
medida em °C, a condutividade em µS/cm, etc. Assim, faz-se necessária a padronização dos
dados para eliminar a influência das diferentes unidades de medida (LIU et al., 2003).
A padronização dos dados é realizada através da Eq. (5), onde jx e ( )js x são,
respectivamente, a estimativa da média e o desvio padrão da característica j. A média e desvio
padrão são calculados, repectivamente, através das Eq. (6) e (7).
, 1, 2, , 1, 2, ,( )
ij j
ij
j
x xz i n e j p
s x
(5)
1
n
ij
ij
x
xn
(6)
2
( ) var( ) , 1, 2,1
j
j j j
x xs x x j p
n
(7)
Este tipo de padronização gera média zero e variância 1 para todas as variáveis,
permitindo a obtenção de uma nova matriz de dados Z, Eq. (8).
11 12 13 1
21 22 23 2
31 32 33 3
1 2 3
p
p
p
n n n np
z z z z
z z z z
Z z z z z
z z z z
(8)
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
46
A matriz Z das variáveis padronizadas zj é igual à matriz de correlação R (da matriz de
dados X), Eq. (9) (VARELLA, 2008).
1 2 1 3 1
2 1 2 3 2
3 1 3 2 3
1 2 3
1 ( ) ( ) ( )
( ) 1 ( ) ( )
( ) ( ) 1 ( )
( ) ( ) ( ) 1
p
p
p
p p p
r x x r x x r x x
r x x r x x r x x
R r x x r x x r x x
r x x r x x r x x
(9)
Para determinar os componentes principais partiremos da matriz de correlação R. É
importante observar que o resultado encontrado para a análise a partir da matriz S pode ser
diferente do resultado encontrado a partir da matriz R. A recomendação é que a padronização
só dever ser feita quando as unidades de medidas das características observadas não forem as
mesmas (VARELLA, 2008).
4.3.4. Determinação dos componentes principais
Os componentes principais são determinados resolvendo-se a equação característica da
matriz S ou R, Eq. (10), onde R é a matriz de correlaçao, I é a matriz identidade do conjunto
de dados e λ são os autovalores (eigenvalues) da equação:
det 0 0R I ou R I (10)
Se a matriz R não apresentar nenhuma coluna que seja combinação linear de outra, a
equação 0IR terá ‘p’ raízes chamadas de autovalores (λp) ou raízes características da
matriz R.
Sejam λ1, λ2, λ3, ..., λp as raízes da equação característica da matriz R ou S, então:
p321 , . Para cada autovalor λi existe um autovetor (eigenvector), ia~ , Eq. (11):
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
47
1
2
i
i
i
ip
a
aa
a
(11)
Os autovetores ia~ são normalizados, isto é, a soma dos quadrados dos coeficientes é igual
a 1, e ainda são ortogonais entre si. Devido a isso apresentam as seguintes propriedades, Eq.
(12) e (13) (VARELLA, 2008):
2 '
1
1 1p
ij i i
j
a a a
(12)
'
1
0 0p
ij kj i k
j
a a a a para i k
(13)
Sendo ia~ o autovetor correspondente ao autovalor λi , então o i-ésimo componente
principal é dado pela Eq. (14):
1 1 2 2i i i ip pY a X a X a X (14)
Os componentes principais apresentam as seguintes propriedades:
1) A variância do componente principal Yi é igual ao valor do autovalor λi: var i iY
2) O primeiro componente é o que apresenta maior variância e assim por diante:
1 2var( ) var( ) var( )pY Y Y
3) O total de variância das variáveis originais é igual ao somatório dos autovalores que é igual
ao total de variância dos componentes principais: var( ) var( )i i iX Y
4) Os componentes principais não são correlacionados entre si: cov , 0i jY Y
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
48
4.3.5. Contribuição de cada componente principal
A contribuição Ci de cada componente principal Yi é expressa em porcentagem. É
calculada dividindo-se a variância de Yi pela varância total. Representa a proporção de
variância total explicada pelo componenete principal Yi, Eq. (15).
1 1
var100 100 100
var
i i ii p p
i i
i i
YC
traço SY
(15)
A importância de um componente principal é avaliada por meio de sua contribuição, isto
é, pela proporção de variância total explicada pelo componente. A soma dos primeiros k
autovalores representa a proporção de informação retida na redução de p para k dimensões.
Com essa informação podemos decidir quantos componente vamos usar na análise, isto é,
quantos componentes serão utilizados para diferenciar os indivíduos (VARELLA, 2008).
4.3.6. Interpretação de cada componente
Esta análise é feita verificando-se o grau de influência que cada variável Xj tem sobre o
componente Yi. O grau de influência é dado pela correlação entre cada Xj e o componente Yi
que está sendo interpretado, Eq. (16).
1 1
, 1 1 1 1
var
var var
j
j Xj Y j
j j
Y acorr X Y r a
X X
(16)
Para comparar a influência de X1, X2, ..., Xp sobre Y1 análisamos o peso ou loading de
cada variável sobre o componente Y1. O peso de cada variável sobre um determinado
componente é dado pela Eq. (17):
111 12
1 2
1 2
, ,var var var
p
p
p
aa aw w w
X X X
(17)
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
49
Sendo w1 o peso de X1.
Os escores (scores) são os valores dos componentes principais. Após a redução de p para
k dimensões, os k componentes principais serão os novos índivíduos e toda análise é feita
utilizando-se os escores desses componentes (VARELLA, 2008).
4.3.7. Interpretação da PCA através do software Tanagra
O software livre Tanagra (RAKOTOMALALA, 2005) foi empregado para os cálculos
estatísticos neste estudo. Ao realizar a PCA nos dados hidrogeoquímicos das represas de
decantação da área de estudo, o software realiza a padronização dos dados, de modo a
remover as influências das diferentes unidades de medidas de cada parâmetro estudado (LIU
et al., 2003). Para a interpretação dos resultados, os dados extraídos da PCA foram os
autovalores (eigenvalues) dos componentes principais e os pesos (loadings) de cada
parâmetro. Os autovalores refletem a importancia de cada componente principal gerado e a
quantidade de variância que cada componente explica (FARNHAM et al., 2002), por
exemplo, se 37 parâmetros hidrogeoquímicos (que representam 37 eixos diferentes no espaço
amostral) são utilizados na PCA, 37 componentes principais serão calculados pelo software,
contudo, observa-se que somente os 8 primeiros componentes apresentam autovalores ≥ 1
(critério de exclusão sugerido por Liu et al. (2003), em razão da diminuição do poder de
explicação dos componentes principais que apresentam autovalores < 1); observa-se ainda
que a soma das variâncias dos 8 primeiros componentes principais explica aproximadamente
81% da variância de todo o conjunto de dados; isto significa que a interpretação destes
componentes poderá ser suficiente para a compreensão da maior parte dos processos
geoquímicos envolvidos no ambiente estudado. Os pesos dos parâmetros, por sua vez,
representam a correlação de cada parâmetro com cada componente principal (ZHAO; CUI,
2009), por exemplo, fortes pesos de amônia (NH3) e nitrito (NO2-), e peso moderado de
nitrato (NO3-) no terceiro componente principal - e pesos fracos desses compostos nos outros
componentes - geram um agrupamento, no terceiro componente, que pode ser interpretado
como sendo ocasionado pela proximidade geoquímica desses parâmetros, ou seja, pode-se
dizer que todos são oriundos de resíduos de explosivos utilizados nas atividades da mina. Os
termos forte, moderado e fraco foram adotados para os parâmetros que apresentaram,
respectivamente, pesos >0,75; 0,75-0,50; e 0,5-0,3 (LIU et al., 2003).
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
50
O software permite ainda a rotação dos fatores gerados (componentes principais). A
rotação de fatores, que utiliza o algoritmo Varimax proposto por Kaiser (1958), permite a
obtenção de uma estrutura para os pesos tal que cada variável tenha um peso alto em um
único fator e pesos baixos ou moderados nos demais fatores. Tal ferramenta maximiza o
agrupamento de dados, facilitando sua interpretação (RAKOTOMALALA, 2005). Neste
trabalho, a rotação Varimax foi empregada nos componentes principais que apresentaram
autovalores ≥ 1.
4.4. ANÁLISE DE CORRELAÇÃO
Em pesquisas, frequentemente, procura-se verificar se existe relação entre duas ou
mais variáveis, isto é, saber se as alterações sofridas por uma das variáveis são acompanhadas
por alterações nas outras. A verificação da existência e do grau de relação entre variáveis é o
objeto de estudo da correlação. O termo correlação significa relação em dois sentidos (co +
relação), e é usado para designar a força da relação linear entre duas variáveis (KAPS;
LAMBERSON, 2005). Por exemplo, ao se verificar uma forte correlação entre as
concentrações de selênio e sulfato em represas de decantação de uma mina e sabendo-se que
há uma forte associação geoquímica entre selênio e minerais sulfetados, é possível sugerir que
a lixiviação de selênio pode estar relacionada ao intemperismo de minerais sulfetados na área
estudada.
Neste estudo, o coeficiente de correlação linear de Pearson (r), Eq. (18), foi
empregado com o objetivo de sugerir os possíveis processos geoquímicos responsáveis pela
lixiviação e atuenuação de compostos de selênio na área de estudo (KAPS; LAMBERSON,
2005).
2 2
2 2
cov ,
var var
x yxyx y nr
x y x yx y
n n
(18)
Os limites de r são -1 e +1, ou seja, valores de r iguais a 1 indicam que os pontos estão
sobre a reta, isto é, a correlação é perfeita. Como na PCA, os termos forte, moderado e fraco
foram adotados, respectivamente, para os parâmetros que apresentaram coeficiente de
correlação de >0,75; 0,75-0,50; e 0,5-0,3 (LIU et al., 2003).
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
51
Para testar a significância de uma correlação, um teste de hipóteses é realizado com as
seguintes hipóteses:
0
1
: 0
: 0
H r
H r
(19)
A hipótese nula (H0) declara que o coeficiente de correlação não é diferente de zero,
ou seja, não há uma correlação significante entre os parâmetros avaliados. A hipótese
alternativa (H1), por sua vez, declara que a correlação entre os parâmetros avaliados é
diferente de zero, ou seja, que há correlação significativa. Para isso, o software calcula a
probabilidade de a hipótese nula estar correta, expressa pelo P-valor. Por exemplo, se uma
significância de 95% (α = 0,05) é adotada, a hipótese nula é descartada quando P ≤ 0,05, ou
seja, quando a probabilidade de a hipótese nula ser verdadeira for menor ou igual a 5%. O
P-valor utiliza os valores da distribuição T de Student com (n-2) graus de liberdade e é
calculado através da Eq (20) (KAPS; LAMBERSON, 2005).
( )calc tabP t t (20)
sendo 2
2
1calc
r nt
r
(21)
Desse modo, a hipótese nula é descartada quando calc tabt t e a significância α é aquela
que apresenta o valor de calct na tabela da distribuição de Student.
O coeficiente de determinação, r2, geralmente é empregado como uma medida do grau
de ajuste dos dados em um modelo de regressão. Neste trabalho, o r2 foi empregado no
âmbito de se verificar o grau de linearidade da correlação entre os parâmetros, de modo a
reforçar as hipóteses geoquímicas levantadas através da correlação (KAPS; LAMBERSON,
2005).
É importante ressaltar que fortes correlações estatísticas entre diferentes parâmetros
não significam necessariamente que estes são relacionados no meio ambiente. A interpretação
dos dados estatísticos apresenta caráter fortemente subjetivo e deve ter como base
fundamental o conhecimento geoquímico dos processos nos quais os parâmetros estudados
podem estar envolvidos.
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
CAPÍTULO 5
RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. CONCENTRAÇÕES DE SELÊNIO EM ÁGUAS SUPERFICIAIS
Conforme predito pelo relatório de avaliação técnica da Mina Trend (NEMI, 2006), as
concentrações de selênio têm aumentado nas represas de decantação e corpos d’água receptores ao
longo dos anos de operação da mina (Tabela 9). As médias anuais de selênio total (Se-T) aumentaram
consideravelmente nas represas de decantação SP-1, SP-2 e SP-3; e, por receberem as descargas
dessas represas, as concentrações de Se-T nas estações do córrego Babcock também aumentaram,
atingindo médias anuais acima de 2,0 µg/L a partir de 2009. Do mesmo modo, as concentrações
médias anuais na represa SP-4 aumentaram, de 3,13 para 3,44 µg/L entre 2009 e 2010. Os dados de
janeiro a maio de 2011 indicam um aumento expressivo nas concentrações de Se de todas as represas
de decantação, bem como das estações de coleta à jusante da mina. O aumento dos volumes de rejeitos
de materiais produzidos ao longo da operação da mina, o decorrer do tempo de reação entre a água e
os minerais presentes nos rejeitos, bem como, a possível atuação do nitrato como agente oxidante no
sistema (discutido nas próximas seções), devem ser as principais causas desse aumento nas
concentrações de Se.
Tabela 9. Médias anuais de selênio total nas estações de monitoramento.
Se-T (µg/L) 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011*
B2 0,63 0,61 1,53 1,81 2,93 3,10 3,71
B3 0,73 0,33 0,99 1,47 2,51 2,86 4,35
B5 0,53 0,54 1,05 1,49 4,01 4,63 7,88
Bu/sBT-9 0,73 0,46 0,56 0,91 0,39 0,38 0,34
F3 0,79 0,42 0,61 0,62 0,73 1,09 -
G2 - - - - 0,46 0,63 1,03
G3 - - - - 0,25 0,50 0,73
Gu/sGT-16 - - - - 0,40 0,35 0,36
LSP1 2,23 1,76 1,17 1,21 0,75 -
MT100-1 0,46 0,32 0,29 0,40 0,39 0,25 -
MT100-2 0,72 0,58 1,60 0,59 0,67 0,25 -
SP-1 - 11,42 19,83 24,65 27,65 33,55 32,76
SP-2 - 2,56 12,71 25,51 44,66 62,84 77,32
SP-3 - - 2,83 6,09 42,47 78,80 115,38
SP-4 - - - - 3,13 3,44 6,70
* Dados de Janeiro a Maio de 2011
- Dados indisponíveis
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
53
As estações de controle a montante da mina (Bu/sBT-9 e Gu/sGT-16) não tiveram nenhuma
variação brusca nas concentrações médias anuais de Se. O aumento mais notável na média anual da
estação Bu/sBT-9 para 2008 se deve à ocorrência de uma única amostra com concentração de
5,13 µg/L de selênio total em outubro daquele ano.
A represa de decantação da estação férrea (LSP-1) demonstrou um decréscimo nas
concentrações de Se entre 2006 e 2010. Isto se deve ao fato de esta represa não receber nenhuma carga
de rejeitos de materiais. É provável, portanto, que as concentrações de Se na LSP-1 tenham se
apresentado mais altas no início de suas operações em razão dos distúrbios ambientais causados
durante sua construção. As estações de monitoramento no córrego tributário do rio Murray (MT100-1
e 2) também não apresentaram nenhuma variação significativa nas concentrações de Se durante os
anos de monitoramento. O Anexo 5 apresenta os gráficos das concentrações de Se mensais nas
estações de monitoramento da Mina Trend.
De acordo com o relatório da qualidade da água superficial da MT para 2010, análises de
especiação de Se realizadas em amostras de sedimento das represas de decantação mostraram que
a maior parte do selênio total medido estava presente na forma de selenato, com uma porção
menor de selenito (PRC; LORAX, 2011). As formas mais oxidadas de selênio tendem a ser
encontradas em ambientes óxicos e alcalinos (BROWN, T. H., 1990). O pH alcalino das represas
de decantação da MT (Figura 11) e a forte correlação linear entre as concentrações de selênio total
e selênio dissolvido (Se-D) nas amostras de água da MT (Figura 12) indicam que o selenato
também é a espécie dominante de Se nas amostras de água e que o selênio é mobilizado em altos
pHs, como esperado. Neste texto, os termos selênio total e selênio dissolvido, relacionados a
amostras de água, se referem, respectivamente, a amostras não filtradas e amostras filtradas.
pH
7,2 7,4 7,6 7,8 8,0 8,2 8,4 8,6 8,8
Se-D
(µ
g/L
)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
SP-1
SP-2
SP-3
SP-4
Figura 11. Selênio dissolvido versus pH.
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
54
Se-D (µg/L)
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Se-T
(µ
g/L
)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
SP-1
SP-2
SP-3
SP-4
r² = 0.99
Figura 12. Correlação entre selênio total e selênio dissolvido nas amostras de água da Mina Trend.
5.2. PRINCIPAIS PROCESSOS GEOQUÍMICOS EM REJEITOS DE ROCHA E
REPRESAS DE DECANTAÇÃO
Nesta seção são apresentados os resultados da Análise de Componentes Principais (PCA)
aplicada sobre o conjunto de dados hidrogeoquímicos das represas de decantação da Mina Trend. Em
razão do grande volume de dados, a PCA empreendida sobre 37 parâmetros hidrogeoquímicos gerou 8
componentes principais (PC) com autovalores ≥1. A Tabela 10 apresenta os autovalores, porcentagens
de variância individual, e porcentagem de variância acumulada para os componentes principais
obtidos. A porcentagem de variância acumulada entre esses PCs corresponde a aproximadamente 81%
da variância total do conjunto de dados. Conforme se pode observar na Tabela 10, cada PC
subsequente apresenta autovalores menores e menor variância individual. Isto se deve de ao fato de o
algoritmo da PCA extrair cada PC sucessivamente, com cada um explicando o máximo possível da
variância restante no conjunto de dados (LIU et al., 2003).
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
55
Tabela 10. Autovalores, porcentagens de variância individual e porcentagens de variância
acumuladas dos componentes principais.
PC Autovalores % individual % acumulada
1 12,6298 34,13% 34,13%
2 4,4121 11,92% 46,06%
3 3,8515 10,41% 56,47%
4 3,7697 10,19% 66,66%
5 1,6893 4,57% 71,22%
6 1,4185 3,83% 75,06%
7 1,1130 3,01% 78,06%
8 1,0354 2,80% 80,86%
A Tabela 11 apresenta os pesos de cada parâmetro nos componentes principais rotacionados
pelo algoritmo Varimax (KAISER, 1958). Conforme já descrito anteriormente, os pesos de cada
parâmetro representam a correlação destes com o respectivo componente principal (FARNHAM et al.,
2002), e fornecem um agrupamento de acordo com seus efeitos dentro do grupo de dados (HÄRDLE;
SIMAR, 2007); neste caso, suas relações geoquímicas em comum. Parâmetros que apresentam pesos
≥ 0,4 estão em negrito para melhor visualização do agrupamento gerado nos componentes principais.
O PC 1, que representa 34,13% da variância total do grupo de dados, apresenta fortes pesos
positivos para os parâmetros de SO42-
, Mg, Se, Ca, U, EC, NO3-, Hard-T e Ni; e pesos moderados para
Cd, Mo e Alk-T. O relacionamento entre SO42-
, Se, U, Cd e Ni neste componente pode ser explicado
pela oxidação de minerais sulfetados (como pirita, calcopirita e esfalerita) que contêm estes elementos
(LU; ZENG, 1999). A oxidação de sulfetos libera acidez ao sistema, que, por sua vez, é neutralizada
pela dissolução de minerais carbonáticos, liberando cátions como Ca e Mg, que são os principais
componentes da dureza (Hard-T) (STROMBERG; BANWART, 1999). A condutividade elétrica (EC)
é associada aos sólidos totais dissolvidos (TDS) em solução (WEINER, 2000). EC e TDS são
independentes das condições redox de um sistema. Tanto sistemas oxidantes quanto redutores podem
ter uma ampla faixa de EC e TDS. Processos de óxi-redução, contudo, podem afetar as concentrações
de TDS. Por exemplo, se águas ricas em carbono orgânico dissolvido (DOC) são movidas de regiões
superficiais (oxidantes) a regiões de subsuperfície (redutoras), oxi-hidróxidos de Fe e Mn podem ser
reduzidos a Fe2+
e Mn2+
. Esses metais em sua forma reduzida (Fe2+
e Mn2+
) são muito mais solúveis do
que suas formas oxidadas, resultando em um aumento nos TDS. É importante ressaltar que para um
processo redox afetar os níveis TDS e EC, este deve estar relacionado a elementos presentes solução
em concentrações acima de concentrações traço (LOTTERMOSER, 2007; WEINER, 2008). Desse
modo, ainda que a redução de Se(VI) a Se(IV) e U(VI) a U(IV) resulte em suas precipitações, estes
elementos não estarão presentes em concentrações suficientemente altas para causarem mudanças
notáveis nos TDS e EC. O NO3- presente neste PC é oriundo de resíduos de explosivos e seu
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
56
agrupamento no PC 1 sugere que este composto tenha participação nos processos geoquímicos
associados ao Se.
O PC 2 corresponde a 11,92% da variância total do conjunto de variáveis e apresenta fortes
pesos para Na, Cl- e Sr, e pesos moderados para K, Alk-T e As. O agrupamento dos elementos Na, K e
Cl deve estar relacionado à dissolução de minerais secundários como halita (NaCl) e silvita (KCl).
Flier-Keller e Fyfe (1987) estudaram as associações de elementos-traço em sequências carboníferas
das regiões de Peace River em BC, e Moose River, na província de Ontario, Canadá. Dentre os
elementos analisados, os autores observaram que o estrôncio estava associado principalmente a
carbonatos (FLIER-KELLER; FYFE, 1987), possivelmente, como um substituto aos átomos de Ca e
Mg. Isso explica o peso moderado apresentado pela alcalinidade neste componente; o mesmo deve
estar relacionado à dissolução do carbonato de estrôncio (SrCO3). O arsênio pode estar associado
principalmente a minerais sulfetados, adsorvido na matéria orgânica ou em aluminossilicato. É
provável que o mesmo tenha maiores associações à matéria orgânica, conforme ilustra o agrupamento
observado no PC 5.
O PC 3 apresenta fortes pesos para Sb, Ba, NO2- e NH3; pesos moderados para Mo, B e Mn; e
peso fraco para Co. Amônia e nitrito são oriundos de resíduos de explosivos. O nitrato não aparece
com forte correlação neste componente, pois demonstrou maior participação no PC 1, possivelmente
como um agente oxidante de minerais sulfetados (ZHANG, Y.-C. et al., 2009). Elementos como Sb,
Mo e Co usualmente apresentam associações com minerais sulfetados e matéria orgânica (GRIEVE;
GOODARZI, 1994). Nas represas de decantação, as fontes de tais elementos, oriundos de rejeitos de
rochas, devem apresentar principalmente associações inorgânicas (sulfídicas), devido ao fato de os
rejeitos de rochas possuírem concentrações reduzidas de matéria orgânica. O bário deve estar
associado a argilominerais como a montmorilonita, bem como na forma de barita (BaSO4)
(VEJAHATI et al., 2010). O boro geralmente apresenta associações orgânicas, contudo, associações
inorgânicas, como cristais de turmalinas, podem se encontrar dispersas entre a matéria orgânica
(GRIEVE; GOODARZI, 1994). O manganês geralmente é encontrado em associação com carbonatos
(especialmente a siderita e ankerita), contudo, também pode estar presente em certos argilominerais
(RILEY et al., 2011). O Mn presente nas águas das represas de decantação (dissolvido) deve ser
oriundo, principalmente da dissolução de carbonatos.
O PC 4 apresenta fortes pesos negativos para Al, Fe, PO43-
, turbidez e Si. É possível observar
também que o PC 4 apresenta pesos de -0,3316, -0,2950 e -0,2452 para Cu, orto-PO43-
e sólidos
suspensos totais (TSS), respectivamente. Este componente agrupa os compostos derivados de
argilominerais e fosfatos. Embora o cobre demonstre estar relacionado a argilominerais e carbonatos
neste componente, o mesmo também pode estar associado a outras mineralogias, tais como minerais
sulfetados e matéria orgânica (RILEY et al., 2011). Partículas de minerais não dissolvidos são
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
57
responsáveis pela existência dos sólidos totais suspensos, que por sua vez, causam a turbidez, que
limita a penetração da luz sob a água (WEINER, 2008).
O PC 5 apresenta fortes pesos negativos para carbono orgânico dissolvido (DOC), carbono
orgânico total (TOC) e arsênio. A matéria orgânica presente nas represas de decantação é oriunda das
frações de carvão existentes nos rejeitos de rocha; e o forte peso para o arsênio neste componente
sugere que este esteja associado a essa fração orgânica.
À medida que a porcentagem de variância explicada pelos componentes principais decresce, o
poder de agrupamento, e sua consequente interpretação, também decrescem. Os componentes
principais 6, 7 e 8, juntos, representam apenas 9,64% da variância entre o conjunto de dados. Os pesos
para Zn no PC 6 e Ni e Co para o PC 8, devem estar relacionados à dissolução de minerais sulfetados;
enquanto o Si (PC 6) deve se relacionar a argilominerais. O PC 7, por sua vez, reenfatiza a relação
entre TSS e turbidez.
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
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Tabela 11. Pesos dos parâmetros em cada componente principal rotacionados.
Parâmetro PC 1 PC 2 PC 3 PC 4 PC 5 PC 6 PC 7 PC 8
Al-D -0,1147 -0,0802 -0,0453 -0,9416 0,0154 0,0234 0,0007 0,0092
Alk-T 0,5310 0,6031 0,3467 0,0573 -0,0729 0,1454 0,2530 -0,0625
As-D -0,0371 0,5177 0,3439 -0,1646 -0,4838 0,0714 0,0969 0,0541
Ba-D -0,0839 0,0605 0,8574 0,0182 -0,0842 0,0576 0,1516 -0,0419
B-D 0,4483 0,3927 0,6699 0,0431 0,1385 0,0773 0,0613 0,0357
Ca-D 0,9287 0,3098 0,0970 0,1017 0,0325 0,0444 0,0748 -0,0205
Cd-D 0,6477 -0,0306 0,0366 -0,0556 -0,1187 0,3519 -0,0153 0,3676
Cl-D 0,0893 0,9255 -0,1762 0,0748 -0,1738 -0,0672 -0,0015 0,0058
Co-D 0,3583 -0,0488 0,4646 -0,0058 0,1132 0,0589 -0,0369 0,6675
Cu-D 0,0115 0,0348 -0,1574 -0,3316 -0,2353 0,3757 0,1415 0,3950
DOC -0,0375 0,2161 -0,0253 0,0574 -0,8769 -0,0217 -0,0379 0,0244
EC 0,9170 0,3187 0,1402 0,1120 0,0358 0,0543 0,0793 -0,0281
Fe-D -0,1579 -0,0750 -0,0461 -0,9212 -0,0119 0,0538 0,0385 0,0128
Hard-T 0,8582 0,2689 0,1202 0,1122 0,0406 -0,0046 0,0603 -0,0476
K-D 0,5050 0,6821 0,3863 0,0850 -0,1298 0,0291 0,0941 -0,1002
Li-D 0,0227 0,1955 0,3469 0,1262 0,3851 0,1825 0,0344 0,2493
Mg-D 0,9439 0,2147 0,1239 0,0898 0,0749 0,0699 0,0608 -0,0370
Mn-D 0,2940 0,1913 0,5267 -0,0504 -0,1404 0,2567 -0,0493 0,4302
Mo-D 0,5898 0,0949 0,7169 0,0464 0,0788 -0,0705 0,0862 0,2226
Na-D 0,1338 0,8987 0,1604 0,0466 -0,0733 0,0662 0,0744 0,0636
NH3-N -0,0479 0,0023 0,7737 0,0417 0,0812 0,0174 -0,1287 0,1958
Ni-D 0,7657 -0,1001 0,2248 0,0114 0,0693 0,0782 -0,0129 0,5120
NO2-N 0,1454 -0,0421 0,8463 0,0489 0,0440 -0,1080 0,0082 -0,0550
NO3-N 0,9115 -0,0862 0,2448 0,0872 0,1158 0,0758 0,0109 -0,0028
OPO4-D 0,0813 -0,0719 -0,0804 -0,2950 -0,0405 0,2011 -0,0264 -0,3682
pH 0,2262 0,1500 0,1770 0,0247 0,0094 -0,4830 0,5316 0,1004
PO4-TD -0,0869 -0,0293 -0,0206 -0,8816 -0,1103 -0,0093 -0,1187 -0,0676
Sb-D 0,2938 0,0780 0,9048 -0,0185 0,0454 -0,0650 0,1192 0,0711
Se-D 0,9403 -0,0952 -0,0371 0,0786 0,0115 0,0303 0,0237 0,0974
Si-D -0,0126 0,3154 0,2777 -0,5484 -0,0495 0,5443 0,1014 -0,0514
SO4-D 0,9531 0,1927 -0,0110 0,0865 0,0627 0,0385 0,0592 -0,0306
Sr-D 0,2795 0,8972 -0,0010 0,0847 -0,0129 -0,0157 0,0047 0,0476
TOC -0,1625 0,1038 -0,0820 -0,1399 -0,8524 0,0660 -0,0490 -0,0111
TSS -0,1280 -0,0881 -0,0524 -0,2452 -0,0660 -0,0439 -0,8510 0,0181
Turb -0,1510 -0,0783 -0,0297 -0,8491 -0,0549 -0,0689 -0,3985 0,0112
U-D 0,9259 0,1453 0,0867 0,0580 0,0354 -0,0444 0,0835 0,1528
Zn-D 0,3038 0,0215 0,0117 0,0250 0,0522 0,7328 -0,0335 0,0402
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
59
5.3. RELAÇÕES ENTRE O SELÊNIO E INDICADORES DE INTEMPERISMO DE
REJEITOS DE ROCHAS E RESÍDUOS DE EXPLOSIVOS
As Tabelas 12 e 13 apresentam, respectivamente, os parâmetros que apresentaram correlações
lineares significativas (r ≥ 0,4; P ≤ 0,05) com Se e SO42-
. Tais parâmetros foram Alk-T, Ca, Cd, EC,
Hard-T, Mg, Mo, Ni, NO3- e U. Conforme esperado, esses mesmos parâmetros que tiveram
correlações significativas com Se e SO42-
nas regressões lineares já haviam sido agrupados
estatisticamente na PCA, sugerindo que suas interações estejam relacionadas à geoquímica do selênio
na área de estudo.
Tabela 12. Parâmetros que apresentaram correlações fortes a moderadas com Se.
Todas as represas SP-1 SP-2
Parâmetro r r² P r r² P r r² P
Al-D
Alk-T 0,41 0,17 <0,001 0,64 0,41 <0,001
B-D 0,43 0,19 <0,001
Ba-D -0,47 0,22 <0,001
Ca-D 0,85 0,72 <0,001 0,72 0,51 <0,001 0,96 0,91 <0,001
Cd-D 0,64 0,41 <0,001
Cl-D 0,93 0,87 <0,001
Co-D
Cu-D -0,42 0,18 <0,001
EC 0,83 0,69 <0,001 0,68 0,47 <0,001 0,95 0,89 <0,001
Fe-D
Hard-T 0,74 0,55 <0,001 0,61 0,37 <0,001 0,82 0,67 <0,001
K-D 0,52 0,27 <0,001
Li-D
Mg-D 0,86 0,73 <0,001 0,79 0,63 <0,001 0,97 0,93 <0,001
Mn-D
Mo-D 0,52 0,27 <0,001 0,40 0,16 <0,001
Na-D -0,42 0,18 <0,001 0,65 0,43 <0,001
Ni-D 0,78 0,61 <0,001 0,42 0,17 <0,001 0,67 0,45 <0,001
NO2-N
NO3-N 0,86 0,74 <0,001 0,93 0,87 <0,001 0,92 0,84 <0,001
pH-L
OPO4-D
Sb-D
SO4-D 0,88 0,78 <0,001 0,78 0,61 <0,001 0,98 0,95 <0,001
Sr-D 0,86 0,75 <0,001
TOC -0,50 0,25 <0,001
U-D 0,90 0,82 <0,001 0,79 0,62 <0,001 0,91 0,82 <0,001
Zn-D
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
60
Tabela 12. Parâmetros que apresentaram correlações fortes a moderadas com Se (continuação).
SP-3 SP-4
Parâmetro r r² P r r² P
Al-D -0,41 0,17 0,017
Alk-T 0,76 0,58 <0,001
B-D 0,57 0,33 <0,001 0,48 0,23 0,004
Ba-D 0,57 0,33 <0,001
Ca-D 0,97 0,93 <0,001 0,80 0,63 <0,001
Cd-D 0,89 0,80 <0,001 0,71 0,51 <0,001
Cl-D 0,49 0,24 0,004
Co-D 0,72 0,52 <0,001 0,89 0,80 <0,001
Cu-D
EC 0,95 0,91 <0,001 0,83 0,69 <0,001
Fe-D -0,42 0,17 0,014
Hard-T 0,84 0,70 <0,001 0,68 0,46 <0,001
K-D 0,83 0,70 <0,001 0,46 0,21 0,007
Li-D -0,41 0,16 0,017
Mg-D 0,97 0,95 <0,001 0,83 0,69 <0,001
Mn-D 0,50 0,25 <0,001 0,60 0,37 <0,001
Mo-D 0,95 0,91 <0,001 0,87 0,75 <0,001
Na-D
Ni-D 0,88 0,77 <0,001
NO2-N 0,69 0,48 <0,001 0,52 0,27 0,002
NO3-N 0,98 0,97 <0,001 0,83 0,68 <0,001
pH-L 0,44 0,19 <0,001
OPO4-D -0,42 0,17 0,014
Sb-D 0,90 0,80 <0,001 0,67 0,45 <0,001
SO4-D 0,96 0,93 <0,001 0,98 0,96 <0,001
Sr-D 0,73 0,54 <0,001
TOC -0,43 0,19 <0,001
U-D 0,94 0,88 <0,001 0,86 0,75 <0,001
Zn-D 0,51 0,26 <0,001
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
61
Tabela 13. Parâmetros que apresentaram correlações fortes a moderadas com SO42-
.
Todas as represas SP-1 SP-2
Parâmetro r r² P r r² P r r² P
Al-D
Alk-T 0,66 0,43 <0,001 0,68 0,46 <0,001
B-D 0,50 0,25 <0,001 0,43 0,18 <0,001
Ba-D -0,66 0,44 <0,001
Ca-D 0,97 0,94 <0,001 0,90 0,82 <0,001 0,97 0,95 <0,001
Cd-D 0,56 0,31 <0,001
Cl-D 0,96 0,92 <0,001
Co-D
Cu-D -0,54 0,30 <0,001
EC 0,96 0,93 <0,001 0,89 0,79 <0,001 0,96 0,93 <0,001
Fe-D -0,42 0,17 <0,001
Hard-T 0,87 0,75 <0,001 0,77 0,59 <0,001 0,83 0,69 <0,001
K-D 0,61 0,37 <0,001 0,54 0,30 <0,001
Mg-D 0,98 0,96 <0,001 0,97 0,95 <0,001 0,98 0,96 <0,001
Mn-D
Mo-D 0,57 0,33 <0,001
Na-D 0,63 0,40 <0,001
Ni-D 0,69 0,48 <0,001 0,61 0,37 <0,001
NO2-N
NO3-N 0,86 0,74 <0,001 0,82 0,67 <0,001 0,92 0,85 <0,001
pH-L
OPO4-D
Sb-D -0,49 0,24 <0,001
Se-D 0,88 0,78 <0,001 0,78 0,61 <0,001 0,98 0,95 <0,001
Sr-D 0,42 0,18 <0,001 0,86 0,74 <0,001
TOC -0,49 0,24 <0,001 -0,48 0,23 <0,001
Turb-L -0,40 0,16 <0,001
U-D 0,92 0,85 <0,001 0,96 0,93 <0,001 0,90 0,80 <0,001
Zn-D
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
62
Tabela 13. Parâmetros que apresentaram correlações fortes a moderadas com SO42-
(continuação).
SP-3 SP-4
Parâmetro r r² P r r² P
Al-D -0,49 0,24 0,003
Alk-T 0,84 0,71 <0,001
B-D 0,68 0,47 <0,001 0,56 0,32 <0,001
Ba-D 0,61 0,38 <0,001
Ca-D 0,98 0,97 <0,001 0,81 0,66 <0,001
Cd-D 0,88 0,78 <0,001 0,66 0,43 <0,001
Cl-D 0,43 0,19 0,010
Co-D 0,74 0,55 <0,001 0,84 0,70 <0,001
Cu-D
EC 0,97 0,95 <0,001 0,84 0,71 <0,001
Fe-D -0,50 0,25 0,003
Hard-T 0,87 0,75 <0,001 0,70 0,50 <0,001
K-D 0,85 0,72 <0,001 0,48 0,23 0,004
Mg-D 0,99 0,99 <0,001 0,84 0,71 <0,001
Mn-D 0,54 0,29 <0,001 0,49 0,24 0,003
Mo-D 0,98 0,95 <0,001 0,92 0,84 <0,001
Na-D
Ni-D 0,92 0,84 <0,001
NO2-N 0,64 0,41 <0,001 0,58 0,33 <0,001
NO3-N 0,97 0,94 <0,001 0,82 0,68 <0,001
pH-L 0,50 0,25 <0,001
OPO4-D -0,46 0,21 0,006
Sb-D 0,93 0,86 <0,001 0,75 0,57 <0,001
Se-D 0,96 0,93 <0,001 0,98 0,96 <0,001
Sr-D 0,75 0,57 <0,001
TOC -0,45 0,21 <0,001
Turb-L
U-D 0,99 0,98 <0,001 0,88 0,77 <0,001
Zn-D 0,53 0,28 <0,001
Embora o Se possua associações orgânicas e inorgânicas, os minerais sulfetados são os
principais portadores do elemento em rejeitos de rochas (LUSSIER et al., 2003). Por substituir o S em
pirita, o selênio se torna suscetível a processos de óxido-redução similares àqueles sofridos pelo
enxofre, liberando sulfato ao sistema (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ; CHARLET, 2009; HERRING,
1990). A forte correlação entre Se e SO42-
(Figura 13) indica que a oxidação de sulfetos é a fonte
primária de Se às represas de decantação. As correlações do Se com U (r = 0,90; P < 0,001), Cd
(r = 0,64; P < 0,001), Ni (r = 0,78; P < 0,001), e outros metais-traço (Tabelas 12 e 13) podem ser
atribuídas à presença desses elementos em minerais sulfetados (KHARE; BARUAH, 2010; RILEY et
al., 2011).
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
63
SO4
2- (mg/L)
0 200 400 600 800 1000 1200
Se-D
(µ
g/L
)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
SP-1
r² = 0.61
SP-2
r² = 0.94
SP-3
r² = 0.93
SP-4
r² = 0.95
Figura 13. Correlação entre selênio dissolvido e sulfato nas amostras de água da Mina Trend.
O consumo da acidez produzida pela oxidação de sulfetos é de fundamental importância no
controle da ocorrência de drenagens ácidas de minas (EVANGELOU; ZHANG, Y. L., 1995).
Conforme já apresentado anteriormente (Seção 5.1, Figura 11), o pH das águas das represas de
decantação da Mina Trend é básico, variando entre 7,3 e 8,7. As correlações de Se e SO42-
com
alcalinidade total (Alk-T), dureza e cátions alcalinos como Ca, Mg, K, Na e Al (Tabelas 12 e 13),
sugerem que a dissolução de carbonatos são os principais processos de controle da acidez produzida
durante a oxidação dos minerais sulfetados, proporcionando o pH alcalino nas represas de decantação
(em meios fortemente ácidos, pode haver também a oxidação de alguns minerais primários, tais como
biotita e plagioclásio) [Anexo 1, Eqs. (A.10) à (A.13)]. A máxima adsorção dos oxiânions de Se a
argilominerais e OHFM ocorre em uma faixa de pH entre 3 e 5 (PLANT et al., 2003). Em pH elevado
a adsorção do selenato (VI) e selenito (IV) a argilominerais e OHFM se torna altamente limitada, pois
a presença de ânions OH- em meio básico confere uma superfície negativa aos argilominerais e
OHFM, impedindo que os oxiânions de Se sejam adsorvidos.
As altas correlações entre Se/NO3- e SO4
2-/NO3
- (Figuras 14 e 15) sugerem que o nitrato faça
parte dos processos de oxidação do Se e S nos rejeitos de rocha da MT. Em 2006, o projeto de
expansão da MT estimou que, entre 2006 e 2011, 43.959 toneladas de explosivos seriam utilizadas na
mina, com um aumento gradual à medida que as atividades da mina fossem expandidas (NEMI, 2006).
A utilização de uma maior quantidade de explosivos poderia resultar em uma maior fragmentação dos
rejeitos estéreis de rochas, ou seja, na geração de rejeitos minerais com granulações mais finas. Grãos
menores possuem maior área superficial específica, favorecendo as reações de oxidação desses
minerais pelo oxigênio. Além disso, o aumento do consumo de explosivos resultaria em um aumento
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
64
das concentrações de compostos nitrogenados ao sistema. Com base em estudos prévios, que reportam
a capacidade do nitrato de impedir a redução do selênio, bem como, oxidar diretamente a pirita e
seleno-minerais (GATES et al., 2009; WERES et al., 1990; WRIGHT, 1999; ZHANG, Y.-C. et al.,
2009), é possível inferir que a presença de altas concentrações de nitrato nos rejeitos da Mina Trend
esteja impedindo a redução do selênio e contribuindo para a oxidação da pirita (e seleno-pirita) em
regiões anóxicas das pilhas de rejeitos. Embora a oxidação da pirita libere ácido ao sistema, a
neutralização da acidez gerada, através da dissolução de minerais alcalinos, gera um ambiente alcalino
que impede que o sistema apresente condições propícias à redução e adsorção dos oxiânions de Se a
argilominerais e OHFM (Seção 2.3). Uma vez que os processos de imobilização do selênio se
apresentam limitados, a oxidação da pirita e seleno-minerais pelo nitrato resulta na liberação de
maiores concentrações de sulfato e selenato ao sistema, ambos, passíveis de lixiviação às represas de
decantação e, posteriormente, aos corpos d’água receptores. Tal fato pode ser visualizado nas médias
anuais de selênio nas represas de sedimentação e corpos d’água receptores da Mina Trend (Seção 5.1,
Tabela 9).
NO3-N (mg/L)
0 50 100 150 200
Se-D
(µ
g/L
)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
SP-1
r² = 0.86
SP-2
r² = 0.84
SP-3
r² = 0.95
SP-4
r² = 0.68
Figura 14. Correlação entre selênio dissolvido e nitrato nas amostras de água da Mina Trend.
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
65
NO3-N (mg/L)
0 50 100 150 200
SO
4
2- (
mg/L
)
0
200
400
600
800
1000
SP-1
r² = 0.67
SP-2
r² = 0.85
SP-3
r² = 0.92
SP-4
r² = 0.26
Figura 15. Correlação entre sulfato e nitrato nas amostras de água da Mina Trend.
Na tentativa de se encontrar parâmetros que pudessem influenciar no relacionamento do NO3-
com Se e SO42-
, foi possível observar que as correlações de Se versus NO3- e SO4
2- versus NO3
-
decrescem à medida que há um aumento nas concentrações de dureza na água (Tabela 14). Vários
autores reportaram a capacidade de coprecipitação e substituição de compostos de Se com sulfatos e
carbonatos (ANDARA et al., 2005; AURELIO et al., 2010; FERNÁNDEZ-GONZÁLEZ et al., 2006;
LAMBLE, G M et al., 1995; NISHIMURA; HATA, 2007). Surge-se, então, a hipótese de que em
concentrações mais altas, o equilíbrio químico de ânions de Ca, Mg, CO32-
, SeO32-
, SO42-
e SeO42-
proporciona a precipitação de minerais secundários que agregam ânions de selênio em suas estruturas.
A blindagem gerada pela incorporação dos ânions de Se possivelmente limita a influência do nitrato
sobre esses compostos e pode ser um mecanismo de atenuação do selênio nas represas de decantação.
As amostras que possuem valores de dureza entre 500 e 800 mg/L não apresentaram correlação
significativa entre SO42-
e NO3-. Talvez essa seja a faixa de concentração ideal para a precipitação de
gipsita (CaSO4∙5H2O) nas represas de decantação da mina. Por outro lado, nas amostras que
apresentaram dureza ≥ 800 mg/L, o selênio foi quem não demonstrou correlação significativa com o
nitrato, sugerindo que em concentrações de dureza acima de 800 mg/L as taxas de incorporação do
selênio em cristais de minerais secundários devam ser favorecidas, reduzindo drasticamente a
influência do nitrato no sistema.
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
66
Tabela 14. Influência da dureza nas correlações de Se versus NO3- e SO4
2- versus NO3
-.
n r r² P
1 ≤ Dureza ≤ 1250
SO42-
234 0,86 0,74 <0,001
Se-D 234 0,86 0,74 <0,001
Dureza ≤ 800
SO42-
205 0,75 0,57 <0,001
Se-D 205 0,84 0,70 <0,001
Dureza ≤ 500
SO42-
133 0,88 0,78 <0,001
Se-D 133 0,90 0,82 <0,001
Dureza ≤ 300
SO42-
94 0,96 0,92 <0,001
Se-D 94 0,93 0,87 <0,001
Dureza ≤ 150
SO42-
62 0,97 0,95 <0,001
Se-D 62 0,95 0,90 <0,001
500 ≤ Dureza ≤ 800
SO42-
72 0,03 0,00 -
Se-D 72 0,59 0,35 <0,001
Dureza ≥ 800
SO42-
30 0,56 0,32 0,001
Se-D 30 0,21 0,04 -
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES
6.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresentou os resultados da Análise de Componentes Principais e Análise de
Correlação sobre um conjunto de parâmetros hidrogeoquímicos de águas superficiais de uma mina de
carvão localizada na província de British Columbia, Canadá, a Mina Trend. Este estudo buscou
compreender as associações geoquímicas do selênio na área de estudo, sugerindo possíveis
mecanismos de lixiviação e atenuação do mesmo.
Através do agrupamento gerado pela PCA, bem como das fortes correlações lineares
apresentadas pela Análise de Correlação, o selênio indica estar associado principalmente a minerais
sulfetados contidos nos rejeitos de rochas, cujas águas de escoamento e infiltração atingem as represas
de decantação da mina. O pH básico das represas de decantação e as correlações significativas de
selênio e sulfato com parâmetros tais como: alcalinidade, dureza, Ca, Mg, Al, K e Na, sugerem que a
acidez gerada pela dissolução de minerais sulfetados é neutralizada pela dissolução de minerais
básicos, como carbonatos e alguns minerais silicáticos.
Fortes correlações entre Se e NO3- e SO4
2- e NO3
- na Mina Trend sugerem algum grau de
participação do nitrato na oxidação dos minerais sulfetados contendo selênio. Tal participação pode
indicar o uso excessivo de explosivos nitrogenados, que geraria rejeitos minerais estéreis com
granulações finas, favorecendo sua oxidação e lixiviação de seus constituintes quando em contato com
o oxigênio presente nas regiões superiores das pilhas de rejeitos. Contudo, outros estudos realizados
em terrenos seleníferos alegam que em ambientes anóxicos o nitrato pode atuar como um agente
oxidante dos minerais sulfetados. Isso explicaria o porquê dos compostos de selênio se apresentarem
em suas formas oxidadas nas represas de decantação. Na hipótese de isso ser verdade na Mina Trend,
o nitrato, presente nas pilhas de rejeitos da mina, estaria tanto impedindo a redução do selênio em
regiões de subsuperfície, quanto contribuindo para sua oxidação. As represas de decantação da mina
recebem drenagens neutras a alcalinas das pilhas de rejeito, o que indica que as pilhas apresentam
condições de pH favoráveis à permanência do selênio em suas formas oxidadas (SeIV
e SeVI
). Além
disso, em pH alcalino, as formas oxidadas de Se, principalmente o selenato (VI), apresentam fraca
adsorção por argilominerais e oxi-hidróxidos metálicos, fazendo com que esses compostos se tornem
passíveis à lixiviação às represas de decantação da mina. A falta de informações mais específicas
sobre as condições de óxido-redução das represas de decantação impedem uma conclusão mais
específica sobre o papel do nitrato nesses ambientes, no entanto, pode-se inferir que, como em outros
ambientes lênticos, suas regiões mais profundas apresentam caráter redutor, que proporcionariam a
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
68
redução do selênio a formas menos solúveis, mesmo em condições alcalinas de pH. Uma vez que tal
situação não é observada nos dados hidrogeoquímicos das represas, supõe-se que o nitrato também
esteja impedindo a redução e imobilização do selênio nesses ambientes. Daí as concentrações
crescentes de Se nos corpos d’água receptores da mina.
A influência que a dureza exerce sobre as correlações de Se e NO3- e SO4
2- e NO3
- é um
indicador de que processos de coprecipitação do selênio com sulfatos e carbonatos sejam importantes
fatores no controle da mobilidade do selênio. A blindagem dos oxiânions de selênio pelas estruturas
cristalinas desses minerais secundários impediria que o nitrato pudesse usar tais compostos como
doadores de elétrons em processos de denitrificação. Deve-se ressaltar que o Se na forma de selenato
já se encontra em seu maior estado de oxidação, portanto, o impedimento da captura de elétrons pelo
nitrato só seria válido para o selenito. Uma vez que esta hipótese se baseia totalmente no equilíbrio
químico dos compostos envolvidos, tal mecanismo de atenuação seria muito frágil, pois inúmeros
fatores, tais como, composição dos rejeitos de rochas e temperatura do ambiente, alterariam as
condições de equilíbrio do sistema.
6.2. RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS POSTERIORES
Uma vez que as interpretações deste trabalho são totalmente baseadas em dados estatísticos, as
hipóteses aqui levantadas devem ser testadas experimentalmente para que conclusões finais sejam
adquiridas. Sugere-se, portanto, que estudos posteriores avaliem os seguintes temas:
Experimentos de lixiviação poderiam ser empreendidos em campo com amostras de rejeitos de
rochas livres de resíduos de explosivos, e contendo resíduos de explosivos, para que a real
influência do nitrato na lixiviação do selênio seja compreendida.
Que as condições de óxido-redução das represas de decantação sejam mais bem estudadas.
O uso de traçadores isotópicos de selênio em sedimentos de fundo poderia demonstrar o
comportamento do elemento nas represas de decantação, por exemplo, se o mesmo é oxidado ou
reduzido em áreas mais profundas, se é incorporado por minerais secundários coprecipitados,
etc.
Que sejam feitas revisões sobre o desempenho do uso de explosivos na mina, de modo que
eventuais excessos sejam evitados, permitindo uma menor inserção de nitrato ao meio ambiente
e proporcionando uma economia de recursos financeiros a curto e longo prazo.
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
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Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
ANEXOS
Anexo 1. Reações químicas envolvidas nos processos de mobilização e atenuação do selênio
Anexo 2. Mapa de localização da Mina Trend
Anexo 3. Mapa das estações de coleta de águas superficiais da Mina Trend
Anexo 4. Técnicas analíticas, limites de detecção e unidades de medidas dos parâmetros de qualidade
de água amostrados
Anexo 5. Concentrações médias mensais de selênio nas estações de monitoramento da Mina Trend
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
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Ca2
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Ca2
+ +
HC
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Mg
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CO
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Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
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Anexo 2. Mapa de localização da Mina Trend
© Peace River Coal Inc.
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
83
Anexo 3. Mapa das estações de coleta de águas superficiais da Mina Trend
© Peace River Coal Inc.
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Kelowna
Terrace
Kamloops
VancouverCranbrook
Fort Nelson
Dawson CreekFort St John
Tumbler Ridge
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MAP LOCATION WITHIN BC
PRC RAILLOADOUT
PEACE RIVER COAL INC.
WATER QUALITY MAP
TREND
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Heritage Highway
PDR-46
B-5
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G-2
Gu/sGT16
Bu/sBT9
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BT-31B
B-3
Trend MinePlant Site
1
Airstrip
2010 Annual WaterQuality Report
TRANSPORTATION NETWORK
TRIM Roads
Highways
Rail Line and Rail Loop
Trend By-Pass Road
Narrows By-Pass Road
Petroleum Development Road
WATER FEATURES
TRIM Creeks
Major Creeks
Marsh
Swamp
Lake or River
OTHER FEATURES
Designated Areas
Trend Mine Disturbance Limit
Sedimentation Ponds
Ditches
Water Quality Monitoring Stations
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Narrows By-Pass Road
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SP-2 Discharge
B-2
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Q-11
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LSP-1 Discharge
SP-4 Discharge
SP-4
LSP-1
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
85
Anexo 4. Técnicas analíticas, limites de detecção e unidades de medidas dos parâmetros de
qualidade de água amostrados
Código Nome do parâmetro Método de referência Unidade MDL
Alk-T Alcalinidade Total, como CaCO3 APHA 2320 Alkalinity mg/L 2,0
Al-D Alumínio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,0010
NH3-N Amônia, como N J. ENVIRON. MONIT., 2005, 7, 37-42, RSC mg/L 0,020
Sb-D Antimônio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00010
As-D Arsênio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00010
Ba-D Bário Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,000050
Be-D Berílio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00050
Bi-D Bismuto Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00050
B-D Boro Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,010
Br-D Brometo Dissolvido APHA 4110 B mg/L 0,050
Cd-D Cádmio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,000017
Ca-D Cálcio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,050
DOC Carbono Orgânico Dissolvido APHA 5310 TOTAL ORGANIC CARBON (TOC) mg/L 0,20
TOC Carbono Orgânico Total APHA 5310 TOTAL ORGANIC CARBON (TOC) mg/L 0,20
Pb-D Chumbo Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,000050
Cl-D Cloreto Dissolvido APHA 4110 B mg/L 0,50
Co-D Cobalto Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00010
Cu-D Cobre Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00010
EC Condutividade Elétrica (Lab.) APHA 2150 Auto Conduc. µS/cm 2,0
Cr-D Cromo Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00050
Hard-T Dureza Total, como CaCO3 APHA 2340B mg/L 1,0
Sn-D Estanho Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00010
Sr-D Estrôncio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00010
Fe-D Ferro Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,030
F-D Flúor Dissolvido APHA 4110 B mg/L 0,020
PO4-TD Fosfato Total Dissolvido APHA 4500-P PHOSPHORUS mg/L 0,0020
Li-D Lítio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,0050
Mg-D Magnésio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,10
Mn-D Manganês Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,000050
Mo-D Molibdênio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,000050
Ni-D Níquel Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00050
NO3-N Nitrato, como N EPA 300.0 mg/L 0,0010
NO2-N Nitrito, como N EPA 300.0 mg/L 0,0050
OPO4-D Ortofosfato Dissolvido APHA 4500-P PHOSPHORUS mg/L 0,0010
pH pH (Laboratório) APHA 4500-H pH Value - 0,10
K-D Potássio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 2,0
Ag-D Prata Dissolvida APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,000010
Se-D Selênio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00050
Se-T Selênio Total APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00050
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
86
Anexo 4. Técnicas analíticas, limites de detecção e unidades de medidas dos parâmetros de
qualidade de água amostrados (continuação)
Código Nome do parâmetro Método de referência Unidade MDL
Si-D Silicon Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,050
Na-D Sódio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 2,0
TDS Sólidos Dissolvidos Totais APHA 2540-C GRAVIMETRIC mg/L 10
TSS Sólidos Suspensos Totais APHA 2540-D GRAVIMETRIC mg/L 3,0
SO4-D Sulfato Dissolvido APHA 4110 B mg/L 0,50
Tl-D Tálio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,00010
Ti-D Titânio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,010
Turb Turbidez (Laboratório) APHA 2130 Turbidity NTU 0,10
U-D Urânio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,000010
V-D Vanádio Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,0010
Zn-D Zinco Dissolvido APHA 3030 B&E / EPA SW-846 6020A mg/L 0,0020
Geoquímica de Minerais e Rochas, 88p.
87
Anexo 5. Concentrações médias mensais de selênio nas estações de monitoramento da Mina
Trend
SP-1
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg
/L)
0
20
40
60
80
100
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
SP-2
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg
/L)
0
20
40
60
80
100
120
140
2006
2007
2008
2009
2010
2011
SP-3
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg
/L)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
2007
2008
2009
2010
2011
SP-4
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0
2
4
6
8
10
12
14
2009
2010
2011
Bu/sBT-9
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0
1
2
3
4
5
6
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
WQG
B-2
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0
2
4
6
8
10
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
WQG
B-3
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0
1
2
3
4
5
6
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
WQG
B-5
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
WQG
Silva, E. M., 2012. Análise Estatística de Parâmetros de Qualidade de Águas Superficiais como Indicadores da Geoquímica do Selênio em uma Mina de Carvão Canadense
88
Anexo 5. Concentrações médias mensais de selênio nas estações de monitoramento da Mina
Trend (continuação)
F-3
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Gu/sGT-16
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
2009
2010
2011
G-2
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
2009
2010
2011
WQG
G-3
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
2009
2010
2011
LSP-1
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0
1
2
3
4
5
2005
2006
2007
2008
2009
2010
MT100-1
Mês
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Se
-T (
µg/L
)
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
2005
2006
2007
2008
2009
2010