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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC INSTITUTO UFC VIRTUAL CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR ANTONIO MARCOS EMILIANO ANALISANDO O MODELO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA ADOTADA PELA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL GERARDO EMILIANO: CONQUISTAS E DESAFIOS FORTALEZA 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC

INSTITUTO UFC VIRTUAL

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR

ANTONIO MARCOS EMILIANO

ANALISANDO O MODELO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA ADOTADA PELA

ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL GERARDO EMILIANO: CONQUISTAS E

DESAFIOS

FORTALEZA

2012

1

ANTONIO MARCOS EMILIANO

ANALISANDO O MODELO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA ADOTADA PELA

ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL GERARDO EMILIANO: CONQUISTAS E

DESAFIOS

Trabalho de Conclusão de Curso

submetido à Coordenação do Curso de

Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão

Escolar da Universidade Federal do Ceará

como requisito parcial para obtenção do

título de Especialista.

Orientadora: Profª. Ms. Roselene Maria de

Vasconcelos Reis

FORTALEZA

2012

2

3

Às minhas filhas, Livia e Luisa, razão do meu

esforço em busca de melhores condições de

vida;

Às professoras Soraia e Roselene, pela

compreensão diante do pior momento da

minha vida e por acreditar no potencial de

cada um de nós.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, por minha existência.

A minha mãe Conceição, por sempre acreditar em mim.

Ao meu irmão Marcos Antonio, pelo incentivo incondicional apresentado enquanto entre nós.

A minha família, incentivadora de minhas vitórias.

À minha orientadora, Roselene Maria de Vasconcelos Reis, pelo excelente trabalho

apresentado.

Aos sujeitos que participaram desta pesquisa fornecendo dados relevantes.

5

“Escola democrática é aquela em que os seus

participantes estão coletivamente organizados

e compromissados com a promoção de

educação de qualidade para todos.”

(Heloísa Lück)

6

RESUMO

O presente trabalho acadêmico trata do modo como os gestores da Escola Gerardo Emiliano,

que tem como público alvo crianças da educação infantil (maternal e pré escola) e do ensino

fundamental (1º ano 9° ano), desenvolve a gestão escolar e busca identificar se de fato ela se

apresenta como democrática. A iniciativa desse estudo se deu por conta da necessidade de

aperfeiçoamento da gestão escolar, bem como a adequação da mesma ao que exige a

legislação vigente sobre o assunto. Busca identificar as possíveis limitações envolvendo a

participação da comunidade nos processos decisórios da escola e conhecer o pensamento de

alguns estudiosos do assunto. Para que esta pesquisa acontecesse se fez necessária uma

investigação bibliográfica sobre a história da gestão escolar no Brasil. Para isso recorreu-se a

alguns teóricos como Heloisa Lück, Celso Vasconcelos, Luiz Fernando Dourado, entre outros.

Também foi necessário recorrer à legislação da educação, buscando com isso apresentar um

trabalho com uma abordagem qualitativa, tendo como fundamentos de pesquisa a pesquisa-

ação. Ambos serviram de base para o trabalho de campo que, com entrevistas e questionários

com alunos, pais e professores, foi possível identificar os entraves que impossibilitam uma

gestão democrática de fato na referida escola. No entanto, como principais resultados deste

trabalho, podemos destacar o aprofundamento no conhecimento do tema, a melhora

significativa do trabalho como gestor e a possibilidade de disponibilizar este estudo para

outras pessoas que desejam conhecer e se aprofundar no assunto.

Palavras-chave: Gestão democrática. Participação. Comunidade Escolar. Escola.

7

ABSTRACT

This scholarly work addresses how the managers of the School Gerardo Emiliano, who's

target audience is children in kindergarten(nursery and preschool) and elementary school (1st

year 9th year), develop school management and seeks to identify whether in fact it presents

itself as democratic. The initiative of this study was due to the need to improve school

management and the appropriateness of requiring the same to the legislation on the subject. It

seeks to identify possible limitations involving community participation in decision making

processes of the school and know the thinking of some scholars. For this research was

needed to happen a bibliographical research on the history of school management in

Brazil. For this we used some theoretical and Heloisa Lück, Celso Vasconcelos, Luiz

Fernando Dourado, among others. It was also necessary to apply the law of education, seeking

to make it work with a qualitative approach, having as fundamental research action research.

Both served as the basis for field work, interviews andquestionnaires with students, parents

and teachers, it was possible to identify the barriers that prevent a truly democratic

management at the school. However, the main results of this work, we highlight a

deeper knowledge of the subject, the significant improvement of the work as a manager and

the ability to provide this study to other people who know and want to delve into the subject.

Keywords: Democratic administration. Participation. Community School. School.

8

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................... 09

2 . GESTÃO DEMOCRÁTICA NA EDUCAÇÃO................................................................. 12

2.1. Gestão democrática: Percurso histórico............................................................................ 12

2.2. Conceituando Gestão Democrática................................................................................... 17

2.3. O papel do gestor na escola na construção de uma escola democrática .......................... 22

3. A COMUNIDADE ESCOLAR E A GESTÃO DEMOCRÁTICA..................................... 28

3.1. A Importância do Projeto Político Pedagógico para a Escola........................................... 28

3.1.1. A Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano e seu PPP.................................... 30

3.2. O que pensam docentes, técnicos e alunos sobre gestão democrática: pesquisa de

campo....................................................................................................................................... 32

3.2.1. Discutindo o trabalho de campo..................................................................................... 33

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................................ 42

5. RESULTADOS.................................................................................................................... 45

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 48

APÊNDICES............................................................................................................................ 50

ANEXOS ............................................................................................................................. ... 53

9

1. INTRODUÇÃO

Ao escolher o referido tema, fica claro a vontade de implantar em nosso trabalho,

como gestor escolar, um estilo de gestão que esteja de acordo com o que a sociedade espera

da escola pública brasileira. Sobretudo, pela forma ainda patrimonialista1 que muitos gestores

de nossa região tem a frente das escolas que comandam.

É certo que a construção de uma escola democrática implica muito trabalho, muita

discussão e nem sempre a vontade do gestor prevalece sobre as dos demais. No entanto, mais

importante que a alimentação do ego do gestor, é a tomada de consciência de sua equipe e de

todos os outros segmentos que compõem a instituição.

Nesse pensar, podemos enfatizar que gerir democraticamente uma instituição é

aceitar os desafios impostos por essa nova forma de lidar com a gestão, desafios estes que

implicam mais diálogo, mais senso de justiça, mais capacidade de ouvir e com isso, saber

acatar a decisão da maioria.

É lógico que a escolha do referido tema tem a ver com nossa vontade pessoal de

aperfeiçoar aquilo que acreditamos ser a forma mais adequada de gerir uma instituição

pública, seja qual for ela. Para isso, pretendemos consultar alunos, funcionários e professores

da escola para verificar o que acreditam ser uma gestão democrática.

Partindo das entrevistas, buscaremos consolidar nossa pesquisa juntando os

resultados colhidos nas entrevistas com a pesquisa bibliográfica e as leis que tratam sobre o

tema.

1 Erasmo Fortes Mendonça em seu artigo Estado Patrimonial e Gestão Democrática do Ensino Público no Brasil afirma que “o patrimonialismo constitui a terra seca e infértil de um tipo de Estado que inibe a germinação das sementes da participação, na qual se funda a democracia”. Para ele, o diretor, gozar da confiança da liderança política é ter a possibilidade de usufruir do cargo público. Estabelecem-se, desta maneira, as condições de troca de favores que caracterizam o patrimonialismo na ocupação do emprego público. Essa forma de provimento é baseada no apadrinhamento e não na capacidade própria dos indicados. A exoneração segue, nesse sentido, a mesma lógica. Na medida em que o beneficiado com o cargo perde a confiança política do padrinho, a exoneração é acionada como conseqüência natural, como o despojamento de um privilégio. (MENDONÇA, 2001, p.100)

10

Com isso, ao recorrer a alguns estudiosos sobre o tema, tentaremos fazer um

paralelo entre o que eles dizem e o que pensa a comunidade e com isso criar nosso próprio

conceito de gestão democrática, tendo como principal objetivo desse trabalho um estudo

sistematizado e empírico sobre o agir democraticamente dentro da instituição escolar, bem

como buscar novas estratégias metodológicas de trabalho no âmbito de uma gestão

democrática.

Não podemos deixar de destacar a importância do aperfeiçoamento de nosso

trabalho a partir do supracitado tema, bem como enfatizar os avanços e dificuldades

encontrados na gestão da escola durante a realização da pesquisa.

Percebemos ser essa uma forma de melhorar a qualidade de nosso trabalho, bem

como proporcionar ao nosso público uma escola cidadã, que tenha como uma de suas funções

conscientizar seus alunos da importância do conhecimento de seus direitos e deveres, bem

como do processo democrático para a construção de uma nação mais forte e justa.

O mesmo também será de grande relevância para outros colegas que, assim como

nós, desejam melhorar o trabalho gestor, envolvendo toda a comunidade escolar na difícil

tarefa de formar cidadãos mais críticos e conscientes da tarefa que exercem para a construção

de uma sociedade mais humana, justa e democrática.

Sabemos, contudo que o processo de gestão democrática na referida escola não é

uma tarefa fácil, haja vista que a mesma está situada em uma comunidade onde ainda é grande

o nível de analfabetismo, onde a percepção dos direitos e deveres, das conquistas e derrotas

do cidadão ainda são muito limitadas.

Com isso, podemos dizer que o grande desafio desse trabalho acadêmico seja

identificar as limitações da gestão democrática da Escola de Ensino Fundamental Gerardo

Emiliano, para com isso, buscar sugestões de como aperfeiçoar o referido modelo de gestão.

Para que isso aconteça de fato se faz necessário que realizemos uma pesquisa que

utilize uma metodologia qualitativa, tendo como foco a pesquisa-ação, traçando um roteiro de

ação que vai desde a escolha dos autores estudados, um cronograma de trabalho com a

comunidade escolar até a elaboração de questionários para entrevistas com professores e

alunos, bem como a sua aplicação

11

No entanto, durante a execução deste trabalho, teremos como principais nortes o

pensamento e as sugestões da comunidade escolar, sem esquecer, é claro, do conhecimento

teórico de alguns autores, como Heloisa Lück, Celso Vasconcelos, Luiz Fernando Dourado,

entre outros, além de alguns instrumentos legais que oficializam e conceituam gestão

democrática nas escolas públicas.

E é justamente nos conceitos de gestão escolar e gestão escolar democrática que

embasaremos nossa pesquisa, traçando uma linha do tempo que caracterizou a transformação

legal do primeiro para o segundo conceito, bem como apresentando um pouco da história da

escola e de como esse processo foi se transformando ao longo do tempo.

12

2. GESTÃO DEMOCRÁTICA NA EDUCAÇÃO

2.1. Gestão democrática: Percurso histórico

Gestão Escolar Democrática é um assunto que frequentemente é debatido nas

discussões sobre educação atualmente. No entanto, nem sempre esse assunto foi visto com

bons olhos por aqueles que faziam a política brasileira, isso porque somente em 1988, com a

promulgação da Constituição Federal, em seu artigo 206, é que a educação brasileira iniciou

de fato o processo de construção e busca pela qualidade educacional e introduziu o

pensamento democrático entre educadores no âmbito da gestão escolar.

Em 1996, essa discussão foi aprofundada com a criação da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – Lei Nº 9.394/96, nela é apresentada a tese da Gestão

Democrática da Educação Pública no Brasil, transformando em letra de lei esse princípio que

tomara corpo ao longo da década de 1980.

Essa discussão é realmente aprofundada a partir da promulgação da Constituição

de 1988 e referendada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estabelece

em seus artigos 14 “Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do

ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os

seguintes princípios...” e 15 “Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares

públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e

administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro

público2”,

Nesse pensar, podemos perceber que a LDB deixa clara a idéia de gestão

democrática, tanto no âmbito dos Sistemas de Ensino quanto das próprias entidades públicas

de ensino.

Partindo dessas prerrogativas legais, é iniciada a tentativa de tornar o espaço

escolar em um ambiente democrático onde todos os segmentos constituídos (gestores,

2 Os artigos 14 e 15 fazem referencia a LDB – Lei N° 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional)

13

professores, pais, alunos, comunidade local, etc.) possam contribuir, participando ativamente

do contexto onde se inserem, construindo assim, a tão sonhada autonomia da escola pública.

Podemos até apresentar como uma das formas encontradas para buscar a

democratização da escola pública a criação de instrumentos legais que passaram a ser

responsáveis em promover diversas formas de controle sobre a administração escolar, tais

como a criação dos Conselhos Escolares, Unidades Executoras, etc., tornando-a democrática.

Isso evidencia o fortalecimento da idéia de que a gestão pública deve ser de qualidade e com a

participação dos diversos segmentos sociais.

Desta forma não estaremos nos limitando ao corporativismo ou a situações

impostas pelo estado. A prática da gestão, tida como democrática deve ser desenvolvida num

clima onde todos se sintam sujeitos, com direitos e deveres conquistados ou adquiridos a

partir de decisões coletivas.

Nisso, Lück (2000, p.13) completa afirmando que

Até bem pouco tempo, o modelo de direção da escola, que se observava como

hegemônico, era o de diretor tutelado dos órgãos centrais, sem voz própria em seu estabelecimento do ensino, para determinar os seus destinos e, em conseqüência,

desresponsabilizado dos resultados de suas ações e respectivos resultados. (LÜCK,

2000, p. 13)

É claro que essa afirmativa apresentada por Lück demonstra o tipo de educação

que se tinha no Brasil até meados de 1980.

É lógico que essa educação era decorrente do pensamento político da época, que

ditava as regras e tirava do cidadão o direito de exigir seus próprios direitos, participar

ativamente do processo de construção consciente da cidadania e exigir qualidade nos serviços

públicos.

Com isso, Lück (2000, p. 13), completa dizendo que

[...] o entendimento que sustentava essa homogeneidade era o de que o participante

da escola deve estar disposto a aceitar os modelos de organização estabelecidos e a

agir de acordo com eles. Portanto, tensões, contradições e conflitos eram eliminados

ou abafados. (LÜCK, 2000, p. 13)

14

Esse pensamento ilustra o que acabamos de afirmar, demonstrando como a

cultura política influenciava a educação naquele momento histórico.

O resultado dessa política foi um grande número de reprovação e evasão por

muito tempo, isso porque se acreditava que a educação era responsabilidade do governo, que

era visto como uma espécie de entidade superior, autoritária e paternalista.

Tendo no Brasil uma educação normativa, determinada pelo princípio do certo ou

errado, completo ou incompleto, perfeito ou imperfeito. O gestor escolar tinha como função

somente o comando e o controle da escola de forma bem objetiva e distanciada, sem levar em

conta o que realmente era importante para a aprendizagem dos alunos, mas seguindo uma

espécie de roteiro pré-estabelecido pelo sistema educativo.

“Quando os membros de uma organização concentram-se apenas em sua função,

eles não se sentem responsáveis pelos resultados” Lück (2000, p.16 apud SENGE 1993). Com

isso, acreditamos ser justamente esse o motivo pelo fracasso das escolas públicas brasileiras

por muito tempo. E o gestor, como figura indispensável dentro da instituição, se fazia o

primeiro a apenas cumprir as tarefas que lhes eram impostas pelo sistema no qual fazia parte.

No entanto, esse modelo de gestão foi aos poucos dando lugar a outro mais focado

na participação coletiva de todos os segmentos da escola. Daí surge um questionamento: Por

que hoje há na escola pública uma relevante tendência a descentralização de sua gestão?

Conforme Lück (2000, p.17 apud MACHADO 1999)

[...] é porque o mundo passa por mudanças muito rápidas. Na verdade, a

globalização coloca cada dia um dado novo, cada dia, uma coisa nova. Há

necessidade de adaptação e de constante revisão do que está acontecendo. Então,

isso gera a necessidade de que o poder decisório esteja exatamente onde a coisa

acontece. Porque, até que ele chegue aonde é necessário, já houve a mudança, as

coisas estão diferentes, e aí aquela decisão já não tem mais sentido. (2000, p.17 apud

MACHADO 1999)

Como se vê, a gestão escolar passa por um momento de transformação muito

forte, hora influenciado pelas novas tecnologias, hora seguindo padrões pré-estabelecidos

pelos sistemas de ensino, que por sua vez acompanham a necessidade humana de participar

das decisões.

15

“Com a necessidade de desenvolver novos conhecimentos, habilidades e atitudes

para o que não dispõem mais de modelos e sim de concepções” Lück (2000, p.15), passando a

escola pública, bem como sua gestão, por um processo contraditório, paradigmático.

Esses paradigmas aos poucos vão sendo extintos do ambiente escolar e dando

lugar a concepções que, por sua vez, carregam em si idéias de gestão escolar voltadas para as

necessidades da comunidade escolar, tornando-as aos poucos de fato democráticas.

Com isso, podemos afirmar que há o surgimento de um novo paradigma

relacionado a gestão escolar, a escola e a própria educação. E a idéia que da educação

depende diversos segmentos da sociedade e que por isso há uma demanda muito grande por

espaços de participação nos quais se associa grande esforço de responsabilidade da sociedade,

seja na construção de uma gestão democrática, ou mesmo de uma escola que cultive esses

mesmos valores

Para tal pensamento, Lück (2000 p.15) afirma que

[...] em decorrência da situação exposta, muda a fundamentação teórico-

metodológica necessária para a orientação e compreensão do trabalho da direção da escola, que passa a ser entendido como um processo de equipe, associado a uma

ampla demanda social por participação. (LÜCK, 2000, p. 15)

Esse modelo apresenta-se marcado por uma mudança de consciência da população

e dos gestores escolares, ambos já conseguem perceber a importância do trabalho em equipe e

da participação colegiada para a tomada de decisões dentro da instituição.

“Sua prática é promotora de transformações de relações de poder, de práticas e da

organização escolar em si, e não de inovações, como costumava acontecer com a

administração científica” Lück (2000, p.15). Essa mudança de consciência também traz está

associada à substituição da figura do administrador para a figura do gestor. Cabe-nos a

observação de que não se trata simplesmente de mudança de termos ou significados e sim de

uma essencial mudança de atitude.

É certo que a escola pública, embora muito avançada no processo de

democratização de sua gestão ainda recebe muito influencia de suas redes de ensino e

16

governos. Esses, por sua vez se utilizam de mecanismos que maquiam a gestão democrática,

pois conforme Lück (2000 p.18 apud BARROSO 1997),

[...] o Estado devolve (para as escolas) as táticas, mas conserva as estratégias, ao

mesmo tempo em que substitui um controle direto, centrado no respeito das normas

e dos regulamentos, por um controle remoto, baseado nos resultados.(LÜCK apud

BARROSO, 1997, p. 18)

Ora, que escola hoje não trabalha em função das avaliações externas, como

SAEB, Prova Brasil ou SPAECE? Muitas vezes essas escolas são obrigadas a deixar de lado

sua filosofia ou modo de trabalho para que possa dedicar-se com mais intensidade, algumas

até exclusivamente a esse tipo de avaliação externa.

Contudo, os autores Catani e Gutierrez (2001, p.69), ao discutirem a relação entre

a participação e a gestão escolar, afirmam que

Toda e qualquer organização que tente implantar e desenvolver práticas de natureza

participativa vive sob a constante ameaça da reconversão burocrática e autoritária

dos seus melhores esforços. As razões para isto são diversas: história de vida de seus

membros, supervalorização ideológica das formas tradicionais de gestão, demandas

específicas difíceis de conciliar, etc. De tudo isso, contudo, um ponto deve ser

destacado: a participação se funda no exercício do diálogo entre as partes. Essa

comunicação ocorre, em geral, entre pessoas com diferentes formações e habilidades, ou seja, entre agentes dotados de distintas competências para a

construção de um plano coletivo e consensual de ação. Na prática da gestão escolar,

esta diferença, que em si não é original nem única, assume uma dimensão muito

maior do que a grande maioria das propostas de gestão participativa e autogestão

que pode ser observada. (CATANI; GUTIERREZ, 2001, p. 69)

Nesse pensar, podemos compreender que não basta a Constituição ou a LDB

estabelecerem que a gestão da escola pública deva ser democrática, é preciso que o agente que

ali se encontra na função de gestor esteja capacitado para tal função, mas que também tenha

em sua história de vida ou formação humana a idéia de que somente através da participação

direta e compromissada da comunidade escolar é que se pode construir realmente uma escola

com os princípios da gestão democrática.

Contudo, sabemos que muita coisa já mudou na área da gestão escolar, mas ainda

temos um grande caminho a percorrer até que possamos ter escolas de fato democráticas e

com gestores que vistam a camisa da participação coletiva dos segmentos, da autonomia da

17

escola e sejam capazes de agir conforme os conceitos estabelecidos para a gestão escolar

democrática. Mas que conceitos são esses? É o que tentaremos apresentar e discutir a seguir.

2.2. Conceituando Gestão Democrática

O tema Gestão Democrática é um dos mais discutidos entre educadores,

representando importante desafio na operacionalização das políticas de educação. Sua base

legal origina-se na Constituição de 1988 que, no seu Art. 206, Inciso VI, define a “gestão

democrática do ensino público na forma da lei”. No mesmo sentido também se apresenta a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que detalha o caput do artigo da Constituição,

utilizando, no Art. 3, Inciso VIII, os termos “na forma da Lei”, acrescentando as palavras “e

da legislação dos sistemas de ensino”.

No entanto, para conceituar o supracitado tema precisamos nos remeter a alguns

teóricos e tentar encontrar as semelhanças e diferenças entre esses conceitos para que

possamos tentar estabelecer um meio termo na conceituação do referido assunto. Também

precisamos compreender os fundamentos básicos de uma gestão democrática para com isso,

elucidar o tipo de gestão democrática que acreditamos e aplicamos em nosso trabalho como

gestor escolar.

Bordignon3 (2005, p.38) afirma que “a natureza e a singularidade da escola

estabelecem os fundamentos da gestão democrática”. Com isso, podemos inferir que a gestão

de uma organização requer coerência e fidelidade à natureza de sua missão, de sua razão de

ser, de sua intencionalidade permanente. A gestão da prática na escola, onde cada ambiente é

único, é inexplicável e incomparável pode ser radicalmente distinta de outra que se apresente

também como sendo democrática.

3 Extraído do texto “Gestão democrática da escola cidadã”, publicado originalmente no livro Ensino Médio:

ciência, cultura e trabalho, organizado por Gaudêncio Frigotto e Maria Ciavatta quando no seminário “Ensino Médio: construção política” promovido pela SEMTEC/MEC em maio de 2003. Reproduzido pela Secretaria de Educação do Ceará em 2005 no livro “Novos paradigmas para a gestão escolar”.

18

Com a compreensão dessa singularidade e de que democracia e cidadania são

indissociáveis e mutuamente fortalecedoras, é preciso que procuremos na Constituição e na

LDB os princípios da gestão democrática da escola pública.

Com isso, precisamos ainda buscar a qualquer custo arruinar os antigos

paradigmas para que os novos se apresentem de forma contundente e eficaz. Nesse pensar, os

conceitos de autonomia, poder, participação e compromisso precisam estar sob a ótica desses

novos paradigmas. Igualmente relevante é a necessidade de não reduzir as estratégias de

gestão democrática à “participação” da comunidade escolar e local em conselhos e na

elaboração de projetos e propostas.

Poderíamos até afirmar que a qualidade da cidadania depende da qualidade da

escola, bem como de sua autonomia, pois, como afirma Bordignon (2005 p.39) “uma escola

súdita formará súditos. E cidadãos, numa democracia, são governantes, não súditos”.

Como podemos perceber não basta ter ideais democráticos, é preciso incorporar

esses ideais e mobilizar toda a comunidade escolar para essa ação participativa, uma ação que

deve ser consciente e de acordo com a realidade de cada instituição, pois a participação não

tem o mesmo significado para todos, tratando-se, portanto, de uma palavra que tem vários

significados. Ela apresenta diferenças significativas quanto à natureza, ao caráter, às

finalidades e ao alcance dos processos participativos. Isso quer dizer que os processos de

participação constituem, eles próprios, processos de aprendizagem e de mudanças culturais a

serem construídas cotidianamente.

A participação pode ser entendida, portanto, como processo complexo que envolve

vários cenários e múltiplas possibilidades de organização. Ou seja, não existe apenas uma

forma ou lógica de participação: há dinâmicas que se caracterizam por um processo de

pequena participação e outras que se caracterizam por efetivar processos em que se busca

compartilhar as ações e as tomadas de decisão por meio do trabalho coletivo, envolvendo os

diferentes segmentos da comunidade escolar.

Isso quer dizer que alguns processos chamados de participação não garantem o

compartilhamento das decisões e do poder, configurando-se como mecanismo legitimador de

decisões já tomadas centralmente.

19

Portanto, quando falamos em gestão democrática, estamos falando em participação

de várias pessoas na tomada de decisões colegiada. Com isso, ao conceituar participação, de

certa forma estaremos conceituando gestão democrática, pois ambas necessitam de indivíduos

para de fato existirem.

“A gestão democrática implica compartilhar o poder, descentralizando-o” Dourado

(2001, p.24). Já escola democrática pode ser entendida como “aquela em que os seus

participantes estão coletivamente organizados e compromissados com a promoção de

educação de qualidade para todos” Lück (2009, p.69). Podemos então concluir a partir dos

conceitos apresentados que só há de fato uma gestão democrática dentro da escola pública

quando tiver a participação de outros elementos na tomada de decisões e no compartilhamento

das idéias.

“A gestão democrática pode ser considerada como meio pelo qual todos os

segmentos que compõem o processo educativo participam da definição dos rumos que a

escola deve imprimir” GRACINDO (2007, p.34). É entendida também “como a participação

consciente do coletivo escolar em busca de uma identidade para a instituição educativa que

responda aos anseios da comunidade” CONCEIÇÃO, ZIENTARKI e PEREIRA (2006, p.01),

reforçam os supracitados autores.

Nisso, arrematam CONCEIÇÃO, ZIENTARKI e PEREIRA (2006, p.08)

[...] faz-se necessário redefinir os conceitos e formas de democracia no seio da

escola pública. Ou seja, é preciso discutir que forma de democracia queremos e de

qual democracia estamos falando para, a partir destas considerações, oportunizar a

participação dos diferentes segmentos dentro do contexto escolar. (CONCEIÇÃO;

ZIENTARKI; PEREIRA, 2006, p. 8)

Assim, podemos afirmar que gestão democrática é um objetivo e um percurso. É

um objetivo porque faz referência direta a uma meta a ser sempre aprimorada e é um

percurso, porque se revela como um processo que, a cada dia, se avalia e se reorganiza. Nela é

necessário que haja, segundo Navarro4 (2004, p.13)

4 Ignez Pinto Navarro, juntamente com Lauro Carlos Wittmann, Luiz Fernandes Dourado, Márcia Ângela da Silva

Aguiar e Regina Vilhaes Gracindo elaboraram para o Ministério da Educação a coleção de livros “Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares” em 2004. A referida citação é retirada do Vol. 5 “Conselho Escolar, gestão democrática da educação e escolha do diretor”.

20

a efetivação de novos processos de organização e gestão baseados em uma dinâmica

que favoreça os processos coletivos e participativos de decisão. Nesse sentido, a participação constitui uma das bandeiras fundamentais a serem implantadas pelos

diferentes atores que constroem o cotidiano escolar. (NAVARRO, 2004, p.13)

Com isso, Lück (2009 p.23) afirma que,

[...] Segundo o princípio da gestão democrática, a realização do processo de gestão

inclui também a participação ativa de todos os professores e da comunidade escolar

como um todo, de modo a contribuírem para a efetivação da gestão democrática que

garante qualidade para todos os alunos. (LÜCK, 2009, P. 23)

Nesse pensar, podemos destacar o Projeto Pedagógico da Escola de Ensino

Fundamental Gerardo Emiliano, que apresenta em seus princípios norteadores “a gestão

democrática e participativa”, entendida como

[...] gestão compartilhada com os fins da educação e articuladora da participação

responsável do diretor, pais, professores e alunos no processo educacional, definindo

formas de participação da comunidade escolar e dos segmentos colegiados na

tomada de decisões e definição das prioridades educacionais5.

Portanto, podemos concluir que a referida escola já oferece na teoria seu modelo

de gestão democrática, modelo este que se apresentada como uma gestão compartilhada com

os diversos segmentos existentes na referida instituição. No entanto, nem sempre a teoria

representa a prática e no decorrer deste trabalho acadêmico investigamos e apresentamos de

fato o modelo democrático oferecido pela Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano.

“À medida que a consciência social se desenvolve, o dever vai sendo

transformado em vontade coletiva” Carvalho (1979, p.22), isto é, aos poucos vai criando na

escola uma identidade própria, que passa a ser orientada pelo princípio da cidadania, onde se

reforça os ideais de educação, com isso, esses ideais passam a fazer parte da cultura da escola,

não precisando mais ser imposta, mas construída. Com isso, é certo que uma coisa muito

importante nesse processo de compreensão do modelo de gestão democrática dentro de uma

instituição escolar, é a tomada de consciência crítica e social dos envolvidos.

5 Extraído do PPP Projeto Político Pedagógico da Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano, elaborado

em 2008 e revisado em 2011.

21

Nisso, a edificação da consciência crítica e da responsabilidade social sobre o

papel da escola na promoção da aprendizagem e na formação dos alunos, constitui-se, pois em

condição imprescindível para a construção de uma escola democrática, bem como para a

efetivação de uma gestão democrática. Essa condição é construída sob uma perspectiva ativa

e empreendedora, ajustada e orientada por elevado espírito educacional e critérios que

qualificam a participação coletiva dos segmentos no contexto da escola.

Nessa perspectiva, a participação se constitui em uma expressão de

responsabilidade social própria da democracia. Portanto, Lück (2009 p.71 apud, SIQUEIRA

et al, 2008) definem gestão democrática como sendo

[...] o processo em que se criam condições e se estabelecem as orientações

necessárias para que os membros de uma coletividade, não apenas tomem parte, de

forma regular e contínua, de suas decisões mais importantes, mas assumam os

compromissos necessários para a sua efetivação. (LÜCK apud SIQUEIRA et al,

2008, p. 71)

Isso porque democracia pressupõe muito mais que tomar decisões, ela envolve a

consciência de construção coletiva da unidade educacional, bem como da ação grupal como

um todo. E a participação constitui uma forma significativa de, ao promover maior

aproximação entre os membros da escola, reduzir desigualdades entre eles. Portanto, a

participação está centrada na busca de formas mais democráticas de promover a gestão de

uma unidade social.

Sem a participação efetiva dos entes que compõem a comunidade escolar, o gestor

volta ao passado e pode passar a assumir duas posturas distintas, mas prejudiciais a

construção de uma escola democrática:

Por um lado o mesmo pode passar a assumir atitudes autoritárias e ignorar as

opiniões daqueles que compõem a comunidade escolar, se isolando no controle

administrativo, pedagógico e financeiro da instituição, ficando o mesmo muito sucessível a

possíveis desvios de conduta.

Por outro, pode passar a assumir a postura de administrador escolar, limitando-se

apenas a cuidar da escola de forma geral, sem base teórica ou metodológica para a função.

Portanto, sem autonomia e sem condições de gerir uma instituição escolar nos moldes atuais.

22

Contudo, Lück (2009, p.69) apresenta algumas competências que consolidam uma

gestão democrática e participativa:

2.3. O papel do gestor escolar na construção de uma escola democrática

A sociedade atual, marcadamente orientada pela economia no conhecimento e

pela tecnologia da informação e da comunicação, oferece uma dinâmica social que aponta

para relações e influências de caráter global, ao mesmo tempo constituindo-se em

oportunidades culturais instigantes e interessantes a todas as pessoas e organizações, assim

como desafios e exigências extraordinárias. Nesse contexto, a educação se torna indispensável

como ação contínua, exigindo das instituições que a promovem, a busca constante de

reinventar-se, melhorando suas capacidades continuamente.

Lidera e garante a atuação democrática efetiva e participativa do Conselho escolar ou órgão

colegiado semelhante, do Conselho de Classe, do Grêmio Estudantil e outros colegiados escolares;

Equilibra e integra as interfaces e diferentes áreas de ação da escola e a interação entre as

pessoas, em torno de um ideário educacional comum, visão, missão e valores da escola.

Lidera a atuação integrada e cooperativa de todos os participantes da escola, na promoção de um

ambiente educativo e de aprendizagem, orientado por elevadas expectativas, estabelecidas

coletivamente e amplamente compartilhadas;

Demonstra interesse genuíno pela atuação dos professores, dos funcionários e dos alunos da escola,

orientando o seu trabalho em equipe, incentivando o compartilhamento de experiências e

agregando resultados coletivos;

Estimula participantes de todos os segmentos da escola a envolverem-se na realização dos projetos

escolares, melhoria da escola e promoção da aprendizagem e formação dos alunos, como uma

causa comum a todos, de modo a integrarem-se no conjunto do trabalho realizado;

Estimula e orienta a participação dos membros mais apáticos e distantes, levando-os a apresentar

suas contribuições e interesses para o desenvolvimento conjunto e do seu próprio desenvolvimento;

Mantém-se a par das questões da comunidade escolar e interpreta construtivamente seus processos

sociais, orientando o seu melhor encaminhamento.

Promove práticas de co-liderança, compartilhando responsabilidades e espaços de ação entre os

participantes da comunidade escolar, como condição para a promoção da gestão compartilhada e da construção da identidade da escola;

Promove a articulação e integração entre escola e comunidade próxima, com o apoio e

participação dos colegiados escolares, mediante a realização de atividades de caráter pedagógico,

científico, social, cultural e esportivo. (LÜCK, 2009, p.69)

23

Com isso, os educadores que lotam as escolas de todo país se veem na obrigação

de estarem, constantemente renovando seus conhecimentos. O gestor escolar, que antes

apenas administrava a instituição se vê cada dia mais atarefado e com a obrigação de adquirir

novas capacidades que podem ser de grande relevância para a tarefa do referido cargo.

Na escola, a ele compete a liderança e organização do trabalho de todo o quadro

docente e técnico que nela trabalha, de modo a guiá-los no desenvolvimento do clima e do

espaço educacional, tornando-o capaz de promover aprendizagens e formação dos alunos, no

melhor nível de qualidade possível, de modo que estejam capacitados a enfrentar os novos

desafios que são apresentados.

Sobre esse assunto, Lück (2009, p.15) nos diz que

A ação do diretor escolar será tão limitada quão limitada for sua concepção sobre a

educação, a gestão escolar e o seu papel profissional na liderança e organização da escola. Essa concepção se constrói a partir do desenvolvimento de referencial de

fundamentos legais e conceituais que embasem e norteiem o seu trabalho. (LÜCK,

2009, p. 15)

Portanto, podemos concluir que cabe ao gestor nortear o trabalho da escola,

podendo ser ele o alicerce na construção de uma escola democrática e cidadã. Para isso, deve

ter seu trabalho pautado em fundamentos legais a partir de referenciais norteadores para uma

ação educativa de qualidade.

Sabendo que para ser um gestor atuante e atual, são importante diversas

competências, entre as quais podemos destacar o conhecimento teórico de gestão democrática,

das leis que regem a educação brasileira, entre outras. Outra competência não menos

importante é ter espírito cooperativo e articulador, sendo consciente da importância da

coletividade para a construção real de um projeto de gestão escolar democrática e dos desafios

impostos pela sociedade à referida função.

Como, pois, ser um bom diretor escolar sem conhecer quais os desafios que a

sociedade contemporânea apresenta para as escolas e os cidadãos? Lück (2009, p.17) nos

mostra uma série de questionamentos que envolvem a educação e que são de fundamental

importância para que o gestor compreender a importância de seu trabalho dentro da instituição

escolar, entre os quais, destacamos:

24

A superação desses desafios e a apresentação de determinadas competências

implica capacidade de liderar e condições efetivas de criar e desenvolver dentro do espaço

escolar uma dinâmica de participação consciente, onde a presença e a participação efetiva dos

segmentos da escola podem elevar o trabalho do gestor a elevado nível de rendimento, dando

a instituição escolar condições de atuar democraticamente.

“Desenvolver, atualizar e rever permanentemente conhecimentos deve fazer parte

do dia-a-dia do diretor escolar” Lück (2009, p.18). Ora, se vivemos em uma sociedade em

constante estado de mudanças, onde cada vez mais se necessita da participação coletiva para a

gestão escolar nas escolas públicas, é importante que o gestor também acompanhe essas

mudanças.

Para isso, o gestor deve, segundo Lück (2009, p.18)

[...] envolver-se no esforço de aprofundar a compreensão do significado da gestão

escolar pela qual é responsável, sua abrangência, suas dimensões de atuação e

estratégias de ação que contribuem para construir escolas eficazes. (LÜCK, 2009, p.

18)

Qual o sentido da educação, seus fundamentos, princípios, diretrizes e objetivos

propostos pela teoria educacional e pela legislação?

Qual o sentido e os objetivos da educação na sociedade atual?

Como se organiza o processo educacional nos diferentes níveis e modalidades de

ensino para atender as novas demandas?

Qual o papel da escola e de seus profissionais segundo as proposições legais e as

demandas sociais?

Que princípios e diretrizes constituem uma escola efetiva?

Quem são os alunos a quem a escola deve atender? Quais suas necessidades? Suas

características pessoais e orientações para a vida?

Quais suas necessidades educacionais e humanas, em relação ao seu estágio de

desenvolvimento e seus desafios sociais?

Em que condições aprendem melhor?

Como se pode organizar a escola para oferecer ao aluno condições educacionais

favoráveis para sua formação e aprendizagem efetiva? (LÜCK, 2009, p. 17)

25

Compete, pois ao gestor escolar construir, para melhor exercer seu trabalho, um

acervo de conceitos, próprios de sua escola. Nesse acervo, o mesmo deve ter claro suas

opiniões sobre educação, gestão democrática e liderança educacional. Contudo, o gestor deve

ser capaz de transformar esses conceitos em ações claras e definidas sobre a política

educacional efetivada em seu trabalho, bem como os desafios e demandas educacionais que

terá que enfrentar, além de ser capaz de conhecer as dimensões e competências de sua gestão

escolar.

Para o desenvolvimento desse repertório, o gestor escolar deve ter como livros de

cabeceira a Constituição Federal, a LDB, Diretrizes Curriculares Nacionais, a Legislação

Educacional do Estado ou Município a que pertença, entre outros.

O diretor escolar é, portanto, um líder, doutor do processo educativo, coordenador

das atividades educacionais e orientador principal da escola, em sua plenitude. Por esta razão

suas responsabilidades não podem ser diluídas entre sua equipe gestora, embora fossem com

eles compartilhada. Portanto, além do sentido mais amplo, o gestor precisa e deve ser

referência em todos os aspectos da gestão escolar, que por sua vez é sua responsabilidade

principal, sendo ele o elo entre a escola e seus diversos segmentos.

É certo que não é fácil para o gestor construir na escola um ambiente propício

para o convívio democrático, pois vivemos em uma sociedade com traços autoritários ainda

muito marcantes. Nisso o gestor pode ser revestido de um poder que, em muitos casos, tem

dificuldades de partilhar. E mais, de modo geral, esse poder é burocrático e com pouca

substância pedagógica.

“Gerir é reunir diferentes vontades para atuar na busca de objetivos comuns, sob

uma interpretação e um sentido construídos e, por isso mesmo, também compartilhados”

Portela e Atta6 (2005, p.49). Portanto, ocupar a gestão de uma escola pública hoje, é estar

convicto do enfrentamento do grande desafio de trabalhar em conjunto, de construir

6 Extraído do texto “A gestão da educação escolar hoje: o desafio do pedagógico”, elaborado inicialmente por

solicitação do FUNDESCOLA/MEC, tendo sido posteriormente ampliado pelas suas autoras (Adélia Luiza Portela e Dilza Maria Andrade Atta) e usado nos cursos de Formação de Equipes de Apoio Pedagógico ao Trabalho Docente realizado pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Educação Municipal (PRADEM). Publicado novamente no livro “Gestão para o sucesso escolar”, publicado pela Secretaria de Educação Básica do Ceará, em 2005.

26

coletivamente uma idéia de convivência democrática e colocá-la em prática, também

coletivamente.

Como se vê, é preciso ter muito mais que conhecimentos e habilidades

sistematizadas para ser um gestor de fato democrático, pois suas vivências podem influenciar

e muito no modo de agir, motivar e induzir os segmentos da escola para agirem com

consciência democrática.

Uma boa idéia para buscar a qualidade da gestão escolar seria a utilização dos

chamados “indicadores de qualidade da escola”, esses indicadores podem se constituir na base

para a construção de critérios orientadores do trabalho do gestor, bem como em referencial

para o acompanhamento e avaliação da qualidade da escola. Podemos citar alguns desses

indicadores, que hora destacamos, como indispensáveis para nortear o trabalho gestor.

O “tipo de gestão da escola” ou o tipo de gestão desenvolvido pelo diretor é

considerado um dos indicadores mais significativos de qualidade, pois todos os demais estão a

ele diretamente ligados. Para ilustrar a importância desse indicador, apresentamos uma síntese

das características de uma gestão eficaz. Segundo Portela e Atta (2005, p.84)

[...] ela deve ser uma gestão democrática; participativa; que busca o apoio das

autoridades; que constrói parcerias; que tem como foco a aprendizagem dos alunos;

que organiza toda a escola na direção da construção e desenvolvimento de um

currículo voltado para o exercício da cidadania; que está preocupada com o contínuo

aperfeiçoamento da equipe escolar; que tem a proposta pedagógica construída

coletivamente, como seu eixo de ação; que orienta seu trabalho e da equipe escolar a

partir dos resultados do acompanhamento e da avaliação das ações da escola.

(PORTELA; ATTA, 2005, p. 84)

Como se vê, o gestor escolar precisa ter, além dos conhecimentos sistematizados

que o ofício exige, algumas habilidades que são indispensáveis para o trato com os diversos

segmentos da escola.

Outro indicador que merece destaque é o “clima escolar”, nele mais uma vez

entra o gestor como elemento principal, pois, segundo Portela e Atta (2005, p.85) “os estudos

sobre clima das organizações escolares identificam basicamente quatro tipos de climas: o

autoritário explorador, o autoritário benevolente, o participativo de caráter consultivo e o

participativo grupal”.

27

Podemos observar que cada um dos climas refere-se diretamente ao gestor

escolar, ao seu trabalho e a sua forma de comando. Contudo, Brunet7 classifica o clima

participativo grupal como o que apresenta melhores resultados para a escola.

No entanto, é no indicador “participação da comunidade” que o gestor pode

perceber se de fato sua gestão se consolida ou não como democrática, pois esse indicador tem

sido incluído como um dos princípios da gestão democrática pelo que os pais representam

para a escola, como elemento de acompanhamento de sua função social.

Contudo, a imagem pública que a escola passa a ter é um indicador de sua

eficácia. Uma escola, bem como seu gestor, passa a ser reconhecido publicamente por sua

competência, quando é capaz de realizar um bom trabalho com seus alunos e com a

comunidade que a cerca.

Isso fica evidente quando vemos filas de pais para matricular seus filhos em

determinadas escolas públicas de nosso país. Provavelmente isso ocorre pelo trabalho da

escola na educação das crianças e pelo trabalho do gestor na condução de sua equipe e na

mobilização da comunidade escolar para o bem da escola.

7 BRUNET, Luc. Clima de Trabalho e Eficácia da Escola. In: As Organizações Escolares em Análise. Op. Cit. P.130

28

3. A COMUNIDADE ESCOLAR E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

3.1. A Importância do Projeto Político Pedagógico para a Escola

Para Mendonça (2001, p. 93)

O projeto político pedagógico é apontado como expressão coletiva do esforço da

comunidade escolar na busca de sua identidade e, nesse sentido, como uma das

principais expressões da autonomia escolar. A sua elaboração participativa pode

propiciar uma experiência mais consequente de outros mecanismos de gestão

democrática, como a definição das funções dos colegiados escolares, na medida em

que passam a constituir-se referência da ação orgânica de todos os membros da

comunidade escolar na busca de objetivos comuns. (MENDONÇA, 2001, p. 93)

Lück (2009, p. 22) completa afirmando que

[...] escolas eficazes são aquelas que envolvem os funcionários na equipe geral da

escola, desde o delineamento do seu projeto político pedagógico, até a discussão de

projetos especiais da escola utilizando suas leituras e idéias como fonte de referência, de modo a agregar valor a esses projetos e valorizar a sua contribuição à

escola. (LÜCK, 2009, p. 22)

Contudo, quando o gestor elabora de forma democrática a proposta pedagógica de

sua escola, ele apenas cumpre o que estabelece a LDB (Lei Nº 9.394/96), em seu artigo 12,

quando é categórica ao afirmar que todo o estabelecimento de ensino tem a incumbência de

elaborar e executar sua proposta pedagógica.

Nesse pensar, Gadotti e Romão (1994, p.38) afirmam que

o PPP8 é o instrumento balizador para o fazer educacional e, por conseqüência,

expressa a prática pedagógica das escolas, dando direção à gestão e às atividades

educacionais, pela explicitação de seu marco referencial, da educação que se deseja

promover, do tipo de cidadão que se pretende formar. (GADOTTI; ROMÃO, 1994,

p. 38)

8 PPP – Projeto Político Pedagógico

29

Já Lück (2009, p.38 apud VASCONCELOS 1995) afirma que o PPP “constitui-se

em um instrumento teórico-metodológico que organiza a ação educacional do cotidiano

escolar, de uma forma refletida, sistematizada e orgânica”. Lück (2000, p.38 apud VEIGA

2001) completa ao alegar que o PPP “é a configuração da singularidade e da particularidade

da instituição educativa”.

Partindo do que expressam diversos teóricos sobre o projeto político pedagógico,

podemos compreendê-lo como o coração da escola, pois nele estará a essência daquilo que a

comunidade escolar acredita ser uma escola decente, voltada para os valores democráticos e

fonte de valorização da cidadania.

É certo que para que o PPP aconteça de fato, é preciso muito mais que um

documento elaborado e guardado em alguma gaveta da instituição. É preciso ação dos atores

envolvidos, é preciso coordenação dos trabalhos e projetos defendidos, é preciso vontade de

fazer diferente e uma equipe que de fato acredite no que faz.

Portanto, Lück (2000, p.38 apud VEIGA 2001) acrescenta que o Projeto Político

Pedagógico deve:

i) ser construído a partir da realidade, explicitando seus desafios e problemas; ii) ser

elaborado de forma participativa; iii) corresponder a uma articulação e organização

plena e ampla de todos os aspectos educacionais; iv) explicitar o compromisso com

a formação do cidadão e os meios e condições para promovê-la; v) ser

continuamente revisado mediante processo contínuo de planejamento; e vi)

corresponder a uma ação articulada de todos os envolvidos com a realidade escolar. .

(LÜCK apud VEIGA, 2001, p. 38)

Podemos concluir então que o Projeto Político Pedagógico, como não poderia

deixar de ser, deve ter como foco o aluno, a sua formação e aprendizagem e a organização do

processo pedagógico para promover essa formação e aprendizagem. Em vista disso, ele

engloba o planejamento curricular, isto é, o conjunto das experiências a serem promovidas

pela escola para promover a formação e aprendizagem dos alunos.

Para tanto, tentaremos fazer uma análise imparcial do Projeto Político Pedagógico

da Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano, levando em conta o que alguns teóricos

já afirmaram sobre o assunto e a realidade sócio-cultural da comunidade onde ela está

inserida.

30

3.1.1. A Escola Gerardo Emiliano e seu PPP

Sendo uma escola pequena e localizada na zona rural do município de Massapê,

poderíamos até esperar que a escola tivesse uma proposta pedagógica limitada e sem muitas

ambições. No entanto, ao analisar o Projeto Político Pedagógico da referida escola, podemos

perceber que as intenções ali propostas faziam uma ligação direta com o que se espera de uma

escola de fato democrática.

A começar com seu objetivo geral que propõe “garantir o funcionamento da

escola como uma instituição democrática, pública e dentro de um padrão de qualidade,

buscando parcerias com a comunidade e juntas, traçando alternativas para melhorar os

índices educacionais da comunidade escolar e local9”.

Poderíamos dizer que o que está escrito não representa necessariamente o que de

fato acontece no âmbito da entidade educacional que é objeto deste estudo acadêmico, no

entanto, a expressão “melhorar os índices educacionais”, apresentada no objetivo geral do

PPP da referida escola, deixa evidente uma preocupação da instituição quanto aos resultados

obtidos pela mesma nos últimos anos.

No entanto, vale ressaltar que “essa melhora” só poderá acontecer de fato quando

houver realmente o empenho de toda a comunidade escolar, pois os sonhos coletivos só

podem se tornar realidade quando a coletividade buscar intensamente a realização desse

sonho.

Para tanto, é necessário observar o que afirma a missão da escola apresentada em

seu PPP quando propõe “garantir a formação do aluno como pessoa e cidadão, sendo

consciente de seus deveres na sociedade, assegurando-lhe o acesso e permanência na escola

e formando cidadãos críticos e participantes na construção de uma sociedade igualitária10

”.

Ora, até que ponto a escola consegue interferir na realidade sócio-econômica da

comunidade onde ela se insere sem o apoio real de seus segmentos? Aí encontramos certo

9 Objetivo geral do Projeto Político Pedagógico da Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano

10 Missão da Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano, extraída de seu Projeto Político Pedagógico

31

descompasso entre o que propõe o PPP da Escola Gerardo Emiliano e o que acontece no

âmbito de uma gestão que se propõe a ser democrática.

Contudo, é certo que o ambiente onde a escola se insere se faz de fundamental

importância para a consolidação de resultados satisfatórios. Sobre esse assunto, fica evidente

na justificativa do PPP da Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano as dificuldades

encontradas por ela ao afirmar que “sua economia gira em torno das contas de

aposentadorias, dos programas de transferência de renda do governo, dos empregos da

prefeitura local e do trabalho no campo. É, portanto, uma comunidade muito pobre e, apesar

dos esforços das escolas11

, ainda apresenta grande índice de analfabetismo12

”.

Não obstante, através do PPP a escola se propõe a trabalhar a concepção de aluno

como “agente da própria aprendizagem”, sendo ele ator de sua própria história, buscando

formar seres “críticos, ativos e disciplinados”.

Além do mais, em seu quadro de docentes, a gestão dá prioridade para aqueles

que se identificam com o fazer democrático dentro da instituição escolar. Sendo esse um norte

para a escola no sentido de continuar buscando estratégias para motivar seus segmentos na

intenção de maximizar a participação democrática e agilizar a construção de consciência

crítica entre seus atores.

Outro ponto que chama a atenção dentro do PPP da Escola Gerardo Emiliano é a

forma como ela se apresenta dentro do referido documento. A começar pelo Marco

Referencial, onde é colocado de forma clara e objetiva qual o conceito que a própria entidade

tem de si mesma. Nesta parte do documento é apresentada a estrutura da escola de forma

geral, desde seu espaço físico até suas carências pedagógicas.

Já no marco doutrinal é apresentado a filosofia da escola. Nele percebe-se

claramente a visão de escola que a gestão tem, bem como o tipo de aluno que a entidade

pretende oferecer a sociedade, sem deixar de levar em conta o ambiente e público que a escola

recebe.

11

O distrito de Tangente possui atualmente duas escolas. Uma funciona do 1° ao 5° ano (EEF Santo Antonio) e outra do 1° ao 9° (objeto deste estudo). 12 PPP da Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano. Justificativa.

32

Por fim, é apresentado o marco situacional, nele é feito uma síntese da situação da

escola enquanto entidade que faz educação, dos seus índices educacionais e do ambiente em

que ela é situada.

A partir daí, podemos perceber o desejo coletivo de se construir uma escola

alicerçada na participação consciente de seus indivíduos, uma escola onde o compromisso de

educar de forma participativa seja a principal vontade daqueles que estão a frente da

instituição.

“Os termos participação e compromisso associados a poder e autonomia,

assumem significado específico no contexto da gestão democrática da escola cidadã”

Bordignon (2005, p.40). Ou seja, mais importante do que elaborar um lindo documento

expressando idéias e sonhos sobre uma educação que seja democrática e cidadã, é ir a luta e

construir essa escola através da participação coletiva e do compromisso contínuo, buscando

sempre a autonomia do fazer educação sem deixar que o poder tome conta daqueles que

lideram esse processo.

Para descobrir se os princípios democráticos apresentado pelo PPP da Escola

Gerardo Emiliano estão de fato sendo objetos da prática cotidiana dentro do ambiente escolar,

elaboramos um questionário e fizemos uma pesquisa com professores e alunos da referida

escola. Tentaremos apresentar o resultado desse trabalho nos itens seguintes.

3.2. O que pensam docentes, técnicos e alunos sobre gestão democrática: pesquisa de campo

Para que nosso trabalho acadêmico pudesse ser ilustrado de forma mais precisa, foi

necessário elaborar um questionário para entender o que de fato professores, técnicos e alunos

pensam sobre determinados assuntos que envolvem o processo de gestão democrática na

referida escola pública. Nele ficou mais claro o porquê de algumas questões interessantes não

acontecerem de fato no âmbito da instituição escolar.

33

Nesse questionário, tivemos a oportunidade de entrevistar alguns professores,

técnicos da escola e alunos, tendo como base a compreensão que cada um dos entrevistados

tem sobre gestão democrática.

Contudo, é relevante informar que a referida escola não possui coordenador

pedagógico e essa função acaba sendo exercida pelo gestor que, além de cuidar da parte

burocrática, também é responsável direto pelo pedagógico.

A justificativa para essa informação é que a escola é pequena13

e a contratação de

um coordenador pedagógico para cada escola pequena exoneraria a folha de pagamento da

educação no município.

3.2.1. Discutindo o trabalho de campo

A primeira pergunta de nosso questionário tinha como objetivo o entendimento

sobre o conceito que cada entrevistado tinha sobre gestão democrática. Nisso, fizemos a

seguinte pergunta para professoras e alunos14

: O que você entende como gestão democrática?

Todas as professoras entrevistadas apresentaram em suas respostas alguma

referência sobre participação, no entanto, compreendemos como limitada o entendimento do

conceito de gestão democrática por parte das profissionais entrevistadas.

Para ilustrar nosso entendimento, substituiremos os nomes das professoras por

letras do alfabeto e dos alunos por numerais e apresentaremos somente fragmentos das

respostas apresentadas.

Percebemos que parte das profissionais entrevistadas associava o conceito de gestão

democrática ao simples fato dos segmentos darem opinião em reuniões. É o caso da

professora A que apresentou sua resposta nos seguintes termos: “gestão onde todos dão

opinião sobre o que tem que acontecer”, já a professora F relata: “uma forma de administrar

13

Segundo o Censo Escolar, a Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano tinha 180 alunos matriculados em 2011. A estimativa para 2012 é de 186 alunos, segundo a própria escola. 14

Os alunos entrevistados tinham em média 14 anos e eram alunos do 9º ano do Ensino Fundamental da Escola de Ensino fundamental Gerardo Emiliano.

34

onde existem opiniões de todos aqueles que fazem parte da escola, procurando assim,

conciliar idéias”.

Contudo, outra parte associa o conceito em discussão ao ato de participar das ações

diretamente, é o caso da professora C que diz “É uma forma de administrar em conjunto, na

qual todo o núcleo gestor, alunos, família e sociedade participam numa ação conjunta para o

bem da escola”. Já a professora J afirma que gestão democrática “é quando há a participação

efetiva dos vários segmentos da comunidade escolar”.

Para concluir nossos comentários sobre essa pergunta, apresentamos no gráfico 01 a

ilustração da idéia de gestão democrática tida pelas profissionais da escola. Nele é claro a

idéia limitada de gestão democrática de parte desses profissionais e a conseqüência disso,

possivelmente é também a limitação das discussões e decisões colegiadas na escola.

O que você entende como Gestão Democrática?

56%

44% PARTICIPAÇÃO EFETIVA DOS SEGMENTOS DA ESCOLA

DAR OPINIÕES NAS REUNIÕES OU DEBATES

gráfico 0115: O que você entende como gestão escolar

Quanto aos alunos entrevistados, a surpresa ainda foi maior, pois a limitação das

respostas foi muito superior às anteriores. A grande maioria ou não responderam ou

apresentaram uma resposta totalmente sem nexo com a pergunta. Mesmo os que responderam,

não conseguiram apresentar um conceito preciso sobre gestão democrática, pois também

associaram a gestão democrática ao simples fato de dar opiniões. Apenas uma aluna

apresentou uma boa resposta ao relatar, gestão democrática “é uma forma de liderar com a

participação da comunidade escolar, dos demais núcleos escolares e integrantes da

comunidade”.

15

os gráficos “01, 02, 03, 04, 05 e 06” foram elaborados a partir de questionários desenvolvidos para professores e alunos da Escola de Ensino Fundamental Gerardo Emiliano e aplicados entre 30 de janeiro a 30 de março de 2012. Os mesmos foram parte de um projeto de pesquisa na referida escola com o objetivo de analisar o tipo de gestão democrática exercido por ela.

35

O gráfico 02 representa as respostas dos alunos que ficou da seguinte forma:

O que você entende como gestão democrática?

36%

9%9%

46%

SEM RESPOSTA

RESPOSTA SEM NEXO

RESPONSABILIDADE DA ESCOLA

TENTARAM RESPONDER

gráfico 02: O que vocês entende como gestão democrática?

Para concluir essa primeira pergunta, podemos afirmar que há certa dificuldade dos

membros daquela unidade de ensino em entender o que de fato se caracteriza uma gestão

democrática. Talvez esse seja o motivo da participação desses membros se limitarem a dar

opiniões quando necessário.

E aí fica a pergunta: Essa escola que se propõe a ser democrática é de fato ou

simplesmente encontra dificuldades na alienação de seus segmentos?

No entanto, a própria escola, no seu Projeto Político Pedagógico, baseada no site

Wikipédia conceitua gestão democrática como “uma forma de gerir uma instituição de

maneira que possibilite a participação, transparência e democracia”.

Já na segunda pergunta voltada aos profissionais da escola – você considera sua

escola democrática? – Todos afirmaram que sim. Ora, podemos então concluir que cada

profissional, a seu modo e na sua visão, considera que há participação dos segmentos na

gestão escolar, embora uns tenham uma visão mais limitada que outros.

Em relação aos alunos a pergunta foi outra – Em sua escola existe gestão

democrática? – Mas as respostas continuaram as mesmas, sem nexo ou mesmo sem reposta.

Podemos afirmar que esse tema poderia ser mais bem tratado por parte da gestão entre os

atores desse segmento. Até mesmo a aluna que apresentou um bom conceito de gestão

democrática, na segunda pergunta respondeu da seguinte forma: “sim, pois sempre somos

informados das decisões da instituição”. Ora, nessa pergunta ela excluiu os alunos no

processo de tomada de decisões da escola.

36

Fizemos então outra pergunta para tirar a dúvida sobre o processo de participação

dos alunos na gestão da escola. Aos professores perguntamos: Existe a participação de alunos

e pais na Gestão da escola? Como se concretiza essa participação? E aos alunos fizemos a

seguinte pergunta: Você enquanto aluno(a), participa da gestão da sua escola? De que forma?

As respostas são ilustradas nos gráficos 03 (professores) e 04 (alunos)

Existe participação de alunos e pais na gestão da escola?10%

70%

20%

Sim, nas decisões

Sim, dando opiniões

Não participam

gráfico 03: Existe participação de alunos e pais na gestão da escola?

Você, enquanto aluno participa da gestão de sua escola?

25%

13%

49%

13%

Sim, dando opiniões

Sim, efetivamente

Algumas vezes

Não

gráfico 04: Você, enquanto aluo participa da gestão de sua escola?

A essa altura das entrevistas, pudemos perceber que de fato grande parte dos

segmentos entrevistados associa o ato de participar ao simples fato de opinar. Essa conclusão

nos permite afirmar que a participação na gestão da referida escola se torna frágil e limitada.

Nisso Lück (2009, p.23) afirma que

Segundo o princípio da gestão democrática, a realização do processo de gestão inclui

também a participação ativa de todos os professores e da comunidade escolar como

um todo, de modo a contribuírem para a efetivação da gestão democrática que

garante qualidade para todos os alunos. (LÜCK, 2009, p. 23)

Ora, sem a efetiva participação dos segmentos, não podemos classificar uma

instituição escolar como democrática, embora possamos reconhecer dentro dessa mesma

instituição entre seus membros a vontade de construir coletivamente um espaço de discussão e

tomada de decisões, mas limitando essa vontade ao simples fato de dar opiniões.

37

“A educação é um processo organizado, sistemático e intencional, ao mesmo

tempo em que é complexo, dinâmico e evolutivo” Lück (2009, p.19). Portanto, limitar a

gestão escolar ao simples ato de dar opiniões é um erro do gestor que se diz aplicar em sua

escola uma gestão democrática.

Ora, o bom gestor está ligado ao que se passa na escola, por isso o conhecimento do

tipo de participação que nela existe deve ser sua obrigação, haja vista que a dinâmica da

educação obriga-o a ser sistemático, trabalhar de forma intencional e estar em constante

processo de evolução e compreensão do seu trabalho.

A pergunta seguinte – Você acha importante a participação do aluno na gestão da

escola? – foi direcionada somente aos alunos entrevistados e pretendia medir o grau de

interesse dos mesmos em relação a participação dos discentes na gestão escola da Escola

Gerardo Emiliano.

Para nossa surpresa cerca de 80% dos alunos entrevistados afirmaram ser muito

importante a participação dos mesmos no processo de gestão da escola e as justificativas

foram as mais variadas. Para tanto, apresentaremos somente as respostas dos alunos 01 e 04.

O aluno 01 afirma em sua resposta que “Sim, pois toda escola ganha muito quando todos

participam de sua gestão”, já o aluno 04 apresenta sua justificativa nos seguintes modos:

“Acha muito importante, porque tem vezes que nós alunos queremos mudar alguma coisa, e

isso só acontece se tivermos participando das decisões”.

No entanto, alguns alunos ainda se mostraram indiferentes quanto a importância da

participação dos mesmos na gestão escolar e afirmaram em suas respostas ser de

responsabilidade somente do gestor e dos professores a participação nos processos decisórios

da instituição.

Nesse momento foi clara a percepção de que havia certa alienação por parte desses

alunos que jogavam a responsabilidade dos processos decisórios somente para professores e

direção, pois, a nosso entender, gerir democraticamente implica a possibilidade de se criar

uma visão crítica a respeito da própria gestão. Coisa que acreditamos não ter acontecidos com

esses alunos que responderam negativamente a pergunta em questão.

38

Continuando a mesma linha de raciocínio a respeito do interesse dos alunos sobre

os assuntos relacionados a gestão escolar da Escola Gerardo Emiliano, perguntamos se na

escola onde estudam os discentes participam de algum movimento estudantil?

As respostas dos mesmos estão representadas pelo gráfico abaixo:

Os alunos da escola participam de algum movimento

estudantil?

50%

40%

10%

SIM

NÃO

SEM RESPOSTA

gráfico 05: Os alunos da escola participam de algum movimento estudantil?

Nesse momento das entrevistas começamos a perceber mais claramente o tipo de

visão de mundo que os alunos da Escola Gerardo Emiliano tinham. Ora, como podíamos

cobrar consciência crítica de um público proveniente de uma localidade onde a grande

maioria das pessoas maiores de 30 anos eram analfabetas?

Ao analisar as respostas, nos achamos em condições de discordar totalmente do

resultado obtido, pois como numa escola onde 54% dos alunos sequer conseguem conceituar

a palavra gestão democrática pode haver metade desses mesmos alunos participando de algum

movimento estudantil dentro da instituição escolar.

É certo que algo está errado. Seja no modo como o gestor conduz sua escola,

achando que a gestão se torna democrática somente pelo simples fato de consultar os alunos

ou pais algumas vezes ao ano. Ou mesmo por conta da cultura da comunidade local, que não

consegue perceber a importância da participação no processo de gestão escolar para a

formação da consciência crítica de seus filhos e para a construção da cidadania dos mesmos.

Outra pergunta elaborada para os alunos que faz uma relação direta com o processo

de participação dos mesmos da gestão escolar foi sobre Grêmio Estudantil. Fizemos a

seguinte pergunta: Na sua escola existe grêmio estudantil? Se existe, como é a participação

dos alunos do grêmio estudantil na gestão escolar?

39

Para essa pergunta também elaboramos um gráfico que ficou assim organizado:

Na sua escola existe grêmio estudantil? Se existe, como é a participação

dos alunos do grêmio estudatil na gestão escolar?18%

64%

18%

SIM

NÃO

SEM RESPOSTA

gráfico 06: Na sua escola existe grêmio estudantil? Se existe, como é a participação dos alunos do grêmio estudatil na gestão escolar?

Apesar de apenas 64% dos entrevistados afirmarem não ter grêmio na Escola

Gerardo Emiliano, o que de fato é verdade, ainda tivemos 18% que acreditavam existir

grêmio na escola. No entanto, esses alunos associaram o grêmio estudantil a participações em

jogos ou reuniões organizadas pela gestão. Além desses, outros18% não sabiam sequer o que

era um grêmio estudantil.

Ora, mais uma vez nos reportamos a gestão da Escola Gerardo Emiliano que se diz

agir de forma democrática, no entanto, sequer tem uma participação organizada dos alunos.

Ao investigar o porquê de não haver grêmio estudantil organizado, tivemos como

justificativas o tamanho limitado da escola e a pouca idade dos alunos. Esses fatores, segundo

o gestor, fazem com que se torne complicado a existência efetiva do grêmio dentro da

instituição.

Ora, se entre as competências de gestão democrática e participativa estão a de

“liderar e garantir a atuação democrática efetiva e participativa do Conselho Escolar ou órgão

colegiado semelhante, do Conselho de Classe, do Grêmio Estudantil e de outros colegiados

escolares” Lück (2009, p.69). Como podemos admitir a justificativa de que a escola é pequena

ou de que os alunos tem pouca idade para participar de decisões colegiadas.

Baseando-nos na supracitada autora, fica evidente que para que o gestor da Escola

Gerardo Emiliano consolide sua gestão e torne-a de fato democrática é preciso que pelo

40

menos incentive e dê condições ao grêmio estudantil de existir, pois a consolidação de

instrumentos de participação dos segmentos da escola deve ser estimulada.

Nisso, a descentralização da gestão escolar implica a reorganização dos

procedimentos centralizadores de decisão e a gestão colegiada, passando as discussões a

nascer a partir do coletivo, onde haja o envolvimento de todos os segmentos da escola,

orientados pelo pensamento pedagógico e tendo como base o pensamento político, que devem

ser sempre presentes nesses exercícios de prática democrática.

A escola, com isso, no cumprimento de uma gestão realmente democrática, precisa

desenvolver ambientes que sejam propícios para as discussões coletivas, no sentido de

construir um projeto educativo sustentável além de inventar e manter espaços que favoreçam

a participação de toda a comunidade escolar e local.

Para concluir nossas entrevistas perguntamos aos professores de que forma as

decisões sobre os gastos dos recursos recebidos pela escola são tomadas?

Não houve unanimidade, no entanto, 80% dos profissionais entrevistados

afirmaram que esses recursos são gastos somente depois de haver uma consulta com todos os

segmentos da escola. Cabendo ao gestor estabelecer as prioridades de acordo com as

necessidades mais urgentes.

Ora, de certa forma encontramos aí o meio termo entre a gestão democrática e a

atuação direta do gestor, pois, se o mesmo é o único responsável pela escolha das prioridades,

ele exclui os segmentos das decisões principais dentro do processo de gastos desses recursos.

Se a gestão democrática consiste na participação efetiva dos segmentos da

comunidade escolar nos processos de decisão da escola. Como então, o gestor toma para si a

responsabilidade das decisões finais. Lück (2009, p.105) ao apresentar as competências da

gestão administrativa na escola, destaca que o gestor deve

“coordenar e orientar a administração de recursos financeiros e materiais e a sua

prestação de contas correta e transparente, de acordo com normas legais, seja os

recursos obtidos diretamente de fontes mantenedoras, seja os obtidos por parcerias e

atividades de arrecadação”. Lück (2009, p.105)

41

Portanto, é de fundamental importância que o gestor da Escola Gerardo Emiliano,

na intenção de agir democraticamente, busque se aperfeiçoar nessa prática, traçando metas

realmente democráticas e envolvendo os segmentos nos processos decisórios de fato.

A Ação Educativa, o Unicef, o INEP e o Ministério da Educação promovem e

coordenam o Programa Indicadores da Qualidade na Educação16

, no qual foi produzido um

conjunto de dimensões de indicadores que são indispensáveis para a qualidade da educação

brasileira. Entre essas dimensões de indicadores destaca-se a Gestão Escolar Democrática, na

qual tem como elementos observados:

Informação democratizada;

Conselhos escolares atuantes;

Participação efetiva de estudantes, pais, mães e comunidade em geral;

Acesso, compreensão e uso dos indicadores oficiais da escola e das redes de ensino;

Participação em programas de repasse de recursos financeiros.

Portanto, podemos concluir afirmando que subsídios e recursos para que se tenha

uma gestão democrática nas escolas públicas brasileiras não faltam. O que falta na verdade é a

vontade e a aquisição de conhecimentos sistematizados que possam ajudar os gestores nessa

tarefa de expandir a democratização da educação brasileira de fato, pois de direito isso já

acontece há anos.

16

AÇÃO EDUCATIVA. Indicadores da qualidade na educação. São Paulo: Ação Educativa, 2008

42

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho acadêmico nos possibilitou uma reflexão sobre nossa prática enquanto

gestores de escola pública. Com ele tivemos a oportunidade de perceber que gestão

democrática é muito mais que uma simples idéia, é ação, é reflexão sobre a prática e é acima

de tudo participação colegiada.

Tivemos condições de ver que, envolver a comunidade nos processos decisórios da

escola exige muito trabalho, e muitas vezes, apresenta poucos resultados, mas possibilita uma

tomada de consciência crítica de todos os envolvidos, fazendo com que cada ator exerça a sua

cidadania.

Cidadania esta tão negada nos arredores da Escola Gerardo Emiliano. Ela, situada em

um distrito do município de Massapê com pouco mais de mil habitantes, e que apresenta

grande índice de analfabetismo entre as pessoas acima de 30 anos. Já a escola funciona com

educação infantil e ensino fundamental do 1º ao 9º ano, tendo pouco mais de 180 alunos. Tem

em seu quadro de professores apenas um que é concursado e trabalha em tempo integral na

escola, os demais são temporários, dos quais ou não concluíram nível superior ou atuam em

área diferente da formação. Mesmo assim, apesar de ser pequena, a escola conta com um

laboratório de informática, uma pequena biblioteca e um espaço para atender alunos com

necessidades educacionais especiais.

Mas foi o modo como as decisões são tomadas na escola, com a participação dos

segmentos, embora algumas vezes individualizados, que chamou nossa atenção para o tema

„gestão escolar democrática‟. Começa aí nossa trajetória em busca de conhecimento sobre o

referido assunto.

No entanto, sem a ajuda dos diversos pensadores estudados durante o curso, não

teríamos condições de traçar um projeto de pesquisa que nos permitiu perceber o quanto

nossos conceitos sobre gestão democrática estavam incorretos.

A começar por Carlos Roberto Jamil Cury17

, que nos ensinou na disciplina

“Fundamentos do Direito à Educação” que ela, a educação, é sagrada. Portanto enquanto

educadores, temos a obrigação de preservar esse direito sagrado, seja através do

17 Escreveu o artigo Direito à Educação: Direito à Igualdade, Direito à Diferença, publicado em Cadernos de Pesquisa N° 116, julho/2002. Professor da Universidade Católica de Minas Gerais e Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação.

43

conhecimento sistematizado, ou no exercício da cidadania, através da participação na gestão

escolar.

Já na disciplina “Planejamento e Práticas de Gestão Escolar”, o professor Marcelo

Soares Pereira da Silva, da Universidade Federal Fluminense, ao escrever sobre o tema nos

mostra que um bom gestor deve saber planejar, avaliando as necessidades principais da escola

e traçando caminhos para se chegar ao resultado esperado. Tudo isso com a participação da

comunidade escolar, principalmente professores, funcionários, pais e alunos.

Contudo, foi na disciplina “Tecnologia da Educação” que tivemos a oportunidade de

perceber quão atrasada está a educação brasileira, bem como os gestores escolares no que se

refere ao uso das novas tecnologias para o aperfeiçoamento do trabalho gestor.

Mas foi na disciplina “Projeto Vivencial” que de fato começamos a pensar sobre um

tema para nossa pesquisa. Nela tivemos a oportunidade de adentrar um pouco na essência da

Escola Gerardo Emiliano, de conversar com pais, alunos e comunidade e entender o porquê

dos resultados obtidos nos últimos anos pela referida escola. Conseguimos perceber que não

éramos tão bons quanto imaginávamos, que nosso trabalho poderia melhorar muito mais e que

a essência de tudo isso estava na participação da comunidade escolar.

Para tanto, começamos nossa pesquisa bibliográfica, buscando os autores que

tratavam do tema „gestão escolar democrática‟ para que pudéssemos entender, do ponto de

vista conceitual, o sentido verdadeiro do referido termo. Para isso, foi preciso que

selecionássemos uma vasta bibliografia sobre o assunto, buscando em livros e na internet

esses autores, bem como coleções de livros que abordavam o supracitado tema.

Organizado essa coletânea, aos poucos fomos selecionando o que de fato nos

interessava, com destaque especial as obras de Heloísa Lück. No entanto, também tivemos

que recorrer a nossa Carta Magma e a LDB para, agora de um ponto de vista constitucional,

visualizar melhor o tema.

É certo que a pesquisa só tomou realmente um rumo quando partimos para a ação, ou

seja, começamos a visitar a escola, participar das reuniões com professores, pais e alunos,

conversar individualmente com membros desses segmentos e consultar o Projeto Político

Pedagógico da Escola Gerardo Emiliano.

Contudo, o PPP da referida escola foi de grande valia para o desenvolvimento deste

trabalho acadêmico, pois a partir dele, norteamos nosso trabalho, verificando se sua proposta

estava sendo executada pela escola.

44

Com isso, elaboramos um questionário para os professores e outro para os alunos que

deveria ser aplicado por amostragem, já que se tornaria quase inviável aplicá-lo a todos os

alunos e professores da escola. Nele, traçamos como meta de amostragem 10% de alunos, nos

quais deveriam ter 12 anos ou mais. Já entre os profissionais da escola calculamos entre 50%

a 60%, sendo pelo menos um professor por área de atuação.

Partindo dessa entrevistas tivemos condições de analisar através de gráficos o que os

segmentos pesquisados entendem como gestão democrática e como os mesmos avaliam o

trabalho do gestor. Vale ressaltar que apenas esses dois segmentos foram avaliados por

estarem mais próximos da gestão escolar.

Para concluir nossa pesquisa, fizemos um paralelo entre o que diziam alguns

pensadores, o que rege a lei e o que pensavam alunos e professores da Escola Gerardo

Emiliano sobre o tema.

45

5. RESULTADOS

O estudo sobre gestão escolar democrática nos possibilitou um aprofundamento no

conhecimento sobre o tema. Com isso, conseguimos entender algumas questões de caráter

pessoal no que se refere a nosso próprio conceito sobre o assunto, bem como a forma de

trabalhar e envolver toda a comunidade escolar nos processos decisórios da Escola Gerardo

Emiliano.

Para o entendimento dessa questão, Heloísa Lück nos mostrou em alguns de seus

escritos sobre o tema que gerir é muito mais que mandar ou cuidar da parte burocrática da

escola, que a gestão envolve o trabalho da direção, da supervisão e da coordenação

pedagógica. No entanto, através do princípio da gestão democrática o trabalho de gestão

também envolve a participação de professores, alunos e comunidade em geral.

Mas foi na aplicabilidade da prática do tema que conquistamos os melhores

resultados. Entre eles, podemos apresentar como exemplo o entendimento que quase a metade

dos professores (44%) associa o conceito de gestão democrática ao simples ato de dar

opiniões e 54% dos alunos sequer conseguiram responder a essa pergunta. Esse resultado nos

mostra quão fragilizada é a gestão democrática da Escola Gerardo Emiliano.

Nisso, Maria Lúcia Carvalho nos mostra que quanto mais consciência crítica a

comunidade escolar apresenta, mais intensa se torna sua participação no processo de gestão

democrática da escola.

Podemos apresentar como principal resultado a comprovação da inexistência ou

existência limitada da consciência crítica da comunidade escolar. Essa comprovação só foi

possível graças aos questionários aplicados a professores e alunos da Escola Gerardo

Emiliano.

Neles comprovamos ainda que somente 10% dos professores e 13% dos alunos

entrevistados percebem a participação ativa de alunos e pais nas decisões colegiadas da

escola.

46

Ora, Dourado (2007 p.18) diz que, entre os aspectos que contribuem para a

qualidade da educação estão, “os espaços coletivos de decisões, a participação e integração da

comunidade escolar e a visão de qualidade dos agentes escolares”.

Nessa perspectiva, é clara a necessidade de aperfeiçoamento das ações voltadas

para a gestão democrática na Escola Gerardo Emiliano, sobretudo porque 82% dos alunos

entrevistados não participam ou não sabem sequer o que um grêmio estudantil.

O certo é que como principal resultado obtido, esta a certeza de que sempre

precisamos nos aperfeiçoar naquilo que nos propomos a fazer e que gerir democraticamente

exige esforço pessoal, vontade e consciência crítica dos atores envolvidos e mobilização da

comunidade escolar.

47

6. CONCLUSÃO

Este trabalho acadêmico, fruto de dezoito meses de estudo e pesquisa sobre o

processo de gestão da escola pública brasileira, representa o resultado de todo um método

científico. Nele, traçamos alguns objetivos com a intenção de fazer um estudo detalhado sobre

o processo de gestão democrática da Escola Gerardo Emiliano.

Com ele, tivemos a oportunidade de melhorar a qualidade de nosso trabalho, seja

através da pesquisa científica, nos embasando no que dizem alguns autores sobre o tema, seja

através do contato direto com a comunidade, através de questionários, observações e

conversas informais com os membros de diversos segmentos da escola.

Pretendíamos de fato, com a conclusão desta pesquisa, proporcionar ao nosso

público uma escola cidadã, que tenha como uma de suas funções conscientizar seus alunos da

importância do conhecimento de seus direitos e deveres, bem como do processo democrático

para a construção de uma nação mais forte e justa. Hoje sabemos que ainda temos um longo

percurso a percorrer, pois a teoria sem prática é somente teoria.

Com o estudo realizado, sabemos que servirá de suporte para outros estudantes ou

gestores que buscam compreender melhor a construção de uma escola democrática, ou pelo

menos servirá de norte para que iniciem também esse processo de compreensão da dinâmica

de funcionamento da gestão da escola pública como manda a lei.

Outro ponto muito importante nesta pesquisa foi a identificação das limitações da

gestão escolar na referida escola, tida como democrática. Isso nos proporcionou uma

relevante tomada de consciência quanto ao exercício pleno da cidadania através da

participação na gestão escolar, seja nos conselhos escolares, Unidades Executoras, associação

de pais e mestres ou numa simples reunião, reclamando ou sugerindo.

Por fim acreditamos ter alcançado nosso objetivo maior de realizar uma pesquisa

utilizando-se da pesquisa-ação, com uma metodologia qualitativa, tendo como principais

nortes o pensamento e as sugestões da comunidade escolar, sem esquecer, é claro, do

conhecimento teórico dos estudiosos pesquisados durante o curso.

48

REFERÊNCIAS

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49

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VASCONCELLOS. Celso. Planejamento: plano de ensino-aprendizagem e projeto

educativo. São Paulo: Libertad: 1995.

50

APÊNDICES

51

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista aplicado aos técnicos e professoras da Escola

Gerardo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC

INSTITUTO UFC VIRTUAL

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR

QUESTIONÁRIO ELABORADO PARA ENTREVISTA COM OS SEGMENTOS DA

COMUNIDADE ESCOLAR DA E.E.F. GERARDO EMILIANO

Instrumento 1 A - Direção, Docentes e Coordenadores

NOME: _________________________ SEGMENTO: _____________DATA: ___/___/____

1. O que você entende como gestão democrática?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2. Você considera a sua escola uma escola democrática?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3. Existe a participação do aluno na Gestão da escola?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4. Como se concretiza essa participação?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5. Existe a participação dos pais na Gestão da escola?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6. Como se concretiza essa participação?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7. De que forma as decisões sobre os gastos dos recursos recebidos pela escola são

tomadas?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8. Você gostaria de dizer algo que não mencionado na entrevista?

___________________________________________________________________________

52

APÊNDICE B - Roteiro de entrevista aplicado aos alunos da Escola Gerardo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC

INSTITUTO UFC VIRTUAL

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR

QUESTIONÁRIO ELABORADO PARA ENTREVISTA COM OS SEGMENTOS DA

COMUNIDADE ESCOLAR DA E.E.F. GERARDO EMILIANO

Instrumento 2 A - Discentes e Componentes do Grêmio Estudantil

NOME: __________________________ SEGMENTO: ____________DATA: ___/___/____

1. O que você entende como gestão democrática?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2. Em sua escola existe uma Gestão Democrática?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3. Você enquanto aluno(a), participa da gestão da sua escola? De que forma?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4. Você considera a sua escola democrática? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5. Na sua escola existe grêmio estudantil? Se existe, como é a participação dos alunos no

grêmio estudantil na gestão escolar?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6. Você acha importante a participação do(a) aluno(a) na administração da escola? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7. Os alunos na sua escola participam do movimento estudantil?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8. Você gostaria de dizer algo que não mencionado na entrevista?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

53

ANEXOS

54

ANEXO A – declaração de comprovação de defesa do Trabalho de Conclusão da

Especialização

55

ANEXO B – Declaração de Revisão Gramatical

56

ANEXO C – Diploma da Revisora Gramatical