em tempo - 20 de abril de 2014

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É preciso muito cuidado com as tatuagens e os piercings, principalmente nas altas temperaturas. VENDA PROIBIDA EXEMPLAR DE ASSINANTE PREÇO DESTA EDIÇÃO R$ 2,00 ANO XXVI – N.º 8.330 – DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 – PRESIDENTE: OTÁVIO RAMAN NEVES – DIRETOR EXECUTIVO: JOÃO BOSCO ARAÚJO O JORNAL QUE VOCÊ LÊ MÁX.: 31 MÍN.: 24 TEMPO EM MANAUS FALE COM A GENTE - ANÚNCIOS CLASSITEMPO, ASSINATURA, ATENDIMENTO AO LEITOR E ASSINANTES: 92 3211-3700 ESTA EDIÇÃO CONTÉM - ÚLTIMA HORA, OPINIÃO, POLÍTICA, ECONOMIA, PAÍS, MUNDO, DIA A DIA, PLATEIA, PÓDIO, SAÚDE, ILUSTRÍSSIMA, ELENCO E CONCURSOS. A Prefeitura de Manaus manifesta seu profundo pesar pela tragédia ocorrida durante a procissão da Sexta-Feira Santa, no bairro Dom Pedro, e solidariza-se com os familiares das vítimas e toda a sociedade manauara. O Prefeito deseja que os fatos que possam elucidar esta tragédia sejam apurados pelas autoridades competentes e agradece o empenho de todos os entes da administração municipal neste momento de dor. Que Deus conforte os corações enlutados. Paço Municipal 18 de abril de 2014 Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto Prefeito de Manaus NOTA DE PESAR As atenções se voltam para o Campeonato Brasi- leiro, a partir deste fim de semana, quando terá início a 58ª edição da competição. Pódio E2 e E3 A briga pelo BRASILEIRÃO COMEÇA Pesquisa do IBGE aponta que o Amazonas é um dos Estados que mais investem em Saúde, ficando em quarto lugar, com 15,4% da parcela do orçamen- to aplicado. Dia a dia C1 15% do orçamento na Saúde AMAZONAS A CORRIDA DE MELO CONTRA O TEMPO Em ano de eleição, empreitadas somente podem ser inaugu- radas até final de junho, conforme determina a legislação elei- toral. Portanto, José Melo deverá percorrer, nesse espaço de tempo, 20 municípios, alcançando uma totalidade de 430,37 mil eleitores, o equivalente a 43,1% de todo o colégio eleitoral do interior, que é de 997,7 mil votantes. Política A5 DENÚNCIAS • FLAGRANTES 8177-2096 A algazarra nas águas com o boto cor-de-rosa é uma das atrações turísticas de Novo Airão Na primeira semana de go- verno, José Melo iniciou uma cara- vana de viagens ao interior CHICO BATATA/AGECOM DIEGO JANATÃ Governador tem 60 dias para entregar R$ 260 milhões em obras Considerado um dissi- dente, Praciano enfrenta por conta das suas convic- ções políticas desprezo do PT. “O PT não acreditou em mim”, admite o parla- mentar, que deve deixar o partido. Contexto A3 e Com a Palavra A7 “O PT não acreditou em mim” PRACIANO ABENÇOADO POR DEUS E BONITO POR NATUREZA NOVO AIRÃO Banhado pelas águas do rio Negro e abençoado pelos parques nacionais de Anavilhanas e Jaú, Novo Airão quer fazer valer o título de município ecoló- gico, durante a Copa 2014. Economia B4 e B5 D O M I N G O A revista Elenco na Ópera apresenta um guia completo de toda a progra- mação do 18º Festival. Gabriel Garcia Márquez era um escritor imenso, mas deste mundo. Confira ensaio sobre Gabo. LAUDO APONTA COCAÍNA Última Hora A2 TRAGÉDIA DO ÔNIBUS 825

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EM TEMPO - Caderno principal do jornal Amazonas EM TEMPO

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Page 1: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

É preciso muito cuidado com as tatuagens e os piercings, principalmente nas altas temperaturas.

VENDA PROIBIDA

EXEMPLARDE

ASSINANTEVENDA PROIBIDA

EXEMPLARDE

ASSINANTE

PREÇO DESTA EDIÇÃO

R$

2,00

ANO XXVI – N.º 8.330 – DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 – PRESIDENTE: OTÁVIO RAMAN NEVES – DIRETOR EXECUTIVO: JOÃO BOSCO ARAÚJO

O JORNAL QUE VOCÊ LÊ

MÁX.: 31 MÍN.: 24TEMPO EM MANAUSFALE COM A GENTE - ANÚNCIOS CLASSITEMPO, ASSINATURA, ATENDIMENTO AO LEITOR E ASSINANTES: 92 3211-3700

ESTA EDIÇÃO CONTÉM - ÚLTIMA HORA, OPINIÃO, POLÍTICA, ECONOMIA, PAÍS, MUNDO, DIA A DIA, PLATEIA, PÓDIO, SAÚDE, ILUSTRÍSSIMA, ELENCO E CONCURSOS.

A Prefeitura de Manaus manifesta seu profundo pesar pela tragédia ocorrida durante a procissão da Sexta-Feira

Santa, no bairro Dom Pedro, e solidariza-se com os familiares das vítimas e toda a sociedade manauara.

O Prefeito deseja que os fatos que possam elucidar esta tragédia sejam apurados pelas autoridades competentes e agradece o empenho de todos os entes da administração municipal neste momento de dor. Que Deus conforte os

corações enlutados.

Paço Municipal18 de abril de 2014

Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro NetoPrefeito de Manaus

NOTA DE PESARAs atenções se voltam

para o Campeonato Brasi-leiro, a partir deste fim de semana, quando terá início a 58ª edição da competição. Pódio E2 e E3

A briga pelo BRASILEIRÃO

COMEÇA

Pesquisa do IBGE aponta que o Amazonas é um dos Estados que mais investem em Saúde, fi cando em quarto lugar, com 15,4% da parcela do orçamen-to aplicado. Dia a dia C1

15% do orçamentona Saúde

AMAZONAS

A CORRIDADE MELO CONTRAO TEMPO

Em ano de eleição, empreitadas somente podem ser inaugu-radas até fi nal de junho, conforme determina a legislação elei-toral. Portanto, José Melo deverá percorrer, nesse espaço de tempo, 20 municípios, alcançando uma totalidade de 430,37 mil eleitores, o equivalente a 43,1% de todo o colégio eleitoral do interior, que é de 997,7 mil votantes. Política A5

DENÚNCIAS • FLAGRANTES

8177-2096A algazarra nas águas com o boto cor-de-rosa é uma das atrações turísticas de Novo Airão

Na primeira semana de go-

verno, José Melo iniciou uma cara-vana de viagens

ao interior

CHIC

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Governador tem 60 diaspara entregar R$ 260

milhões em obras

Considerado um dissi-dente, Praciano enfrenta por conta das suas convic-ções políticas desprezo do PT. “O PT não acreditou em mim”, admite o parla-mentar, que deve deixar o partido. Contexto A3 e Com a Palavra A7

“O PT não acreditou em mim”

PRACIANO

ABENÇOADO POR DEUS E BONITO POR NATUREZA

NOVO AIRÃO

Banhado pelas águas do rio Negro e abençoado pelos parques nacionais de Anavilhanas e Jaú, Novo Airão quer fazer valer o título de município ecoló-gico, durante a Copa 2014. Economia B4 e B5

D O M I N G O

A revista Elenco na Ópera apresenta um guia completo de toda a progra-mação do 18º Festival.

Gabriel Garcia Márquez era um escritor imenso, mas deste mundo. Confi ra ensaio sobre Gabo.

LAUDO APONTA COCAÍNA Última Hora A2

com as tatuagens e os piercings, principalmente

D O M I N G OD O M I N G OD O M I N G OD O M I N G O

Ópera apresenta um guia completo de toda a progra-mação do 18º Festival.

D O M I N G OD O M I N G O

TRAGÉDIA DO ÔNIBUS 825

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Page 2: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

A2 Última Hora MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

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Tragédia aconteceu na noite de 28 de março, quando caçamba invadiu pista e atingiu micro-ônibus de frente na Djalma Batista

Exame toxicológico revelou que Ozaías Costa de Almeida estava sob efeito de bebida alcoólica e havia utilizado cocaína na noite da tragédia da Djalma Batista

Motorista estava bêbado e drogado, aponta laudo

Vítimas de acidente na Via Sacra são sepultadas

Os corpos de Tânia Maga-lhães Gomes, 52, Luíza Ma-ria dos Santos Cruz e Cleida Bastos Antela, 64, vítimas do acidente na Via Sacra ocorrido na tarde da última sexta-feira (18), na rua Fran-cisco Orellana, bairro Dom Pedro, Zona Centro-Oeste de Manaus, foram velados na manhã de ontem.

O sepultamento de Luíza e Cleida estava agendado para as 15h de ontem. Luiza foi sepultada no cemitério Parque Manaus, no bairro Ta-rumã, e Cleida, no cemitério Nossa Senhora Aparecida, no mesmo bairro.

Os velórios de Tânia e Luíza ocorreram na funerária Almir Nezes, localizado na avenida Joaquim Nabuco e de Cleida na comunidade Rainha dos Após-tolos, no bairro Dom Pedro.

O prefeito de Manaus em exercício, Sildomar Abtibol, esteve presente na manhã de ontem na funerária para prestar condolências e infor-mar que a prefeitura havia conseguido agendar o trans-lado de Tânia Magalhães para Belém (PA), para as 20h de ontem.

Das demais vítimas, o pre-feito em exercício explicou que Ana Eunice dos Santos Cruz, 50, filha de Luíza que está internada no hospital pronto-socorro 28 de Agosto, é a única considerada em estado grave.

O sobrinho de Luíza contou que a vítima sempre foi devota e participava da Via Sacra da Igreja Matriz (Nossa Senho-ra da Conceição), mas que na manhã do acidente havia informado que dessa vez iria participar na procissão do seu próprio bairro.

“Sempre queremos uma desculpa para a morte, mas temos a certeza de que era o momento da minha tia partir, e o que nos conforta é que ela fazia o que mais gostava”, disse o sobrinho.

Segundo nota da Secretaria Estadual de Saúde do Ama-zonas (Susam), Ana Eunice deu entrada na unidade com politraumatismo, contusão pulmonar, múltiplas fraturas dos arcos costais (costelas), passou por procedimento ci-rúrgico, e permanece inter-nada na Unidade de terapia Intensiva (UTI), em estado gravíssimo e instável.

Das oito vítimas que haviam sido encaminhadas para os hospitais da cidade, além de Ana Eunice, mais duas pesso-as continuam internadas. No hospital pronto-socorro Pla-tão Araújo se encontra Alba-nice da Silva, 52, que sofreu fratura exposta de membro inferior esquerdo, passou por procedimento cirúrgico para colocação de fixador, está es-tável, mas ainda sem previsão de alta, pois passará por nova cirurgia ortopédica.

No hospital pronto-socorro da Criança, na Zona Leste, está internada Jeniffer Garcia Pereira, 10, que sofreu fratura exposta de membro inferior direito, passou por cirurgia, está estável, mas ainda sem previsão de alta hospitalar.

Grande VitóriaSobre o outro acidente que

ocorreu na tarde de sexta-fei-ra (18), em que um micro-ôni-bus invadiu uma casa no bairro Grande Vitória, Zona Leste de Manaus, Sildomar infor-mou que a prefeitura estava prestando toda assistência às famílias das duas mulheres mortas, e que vão acompa-nhar o caso de perto.

DOM PEDRO

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ISABELLE VALOISEquipe EM TEMPO

O laudo do exame to-xicológico do Insti-tuto Médico Legal (IML) do Amazonas

feito no corpo do motorista da caçamba Ozaías Costa de Al-meida, 36, que causou a morte de 16 pessoas em acidente envolvendo um micro-ônibus Executivo da linha 825, no dia 28 de março, na avenida Djalma Batista, aponta que ele dirigia o veículo naquela noite sob efeito de bebida alcoólica e cocaína.

A conclusão do estudo se deu com base na análise feita pelos Laboratórios Instru-mental e Toxicologia do Ins-tituto de Criminalística que integra o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, de Belém (PA) sobre 20 ml de urina e 10 ml de sangue do motorista. O documento foi despachado no último dia 7 de abril pelo grupo de peritos criminais escalados

pelo diretor do Instituto de Criminalística, Carlos José Vieira Fernandes.

O teste Cromatografia em Camada Delgada (CCD) constatou a concentração superior a 300 ml de ben-zoilecgonina, que é a prin-cipal substância da cocaína. O teste de CCD buscou iden-tificar ainda a presença de substâncias da maconha, o que deu negativo. Na amos-tra de sangue, os analistas detectaram a concentração de 3,18 gramas de álcool etílico por litro de sangue.

Por volta das 20h daquele dia, Ozaías dirigia a caçam-ba a serviço da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf). Ele teria ultrapas-sado um carro modelo pica-pe, com velocidade aproxi-mada de 90 quilômetros por hora. Ao entrar no trecho em curva abaixo do viaduto Airton Senna, em Flores, ele perdeu o controle do veículo, que subiu no canteiro central e colidiu de frente com o

micro-ônibus. Além das 16 vítimas fatais,

outras 17 ficaram grave-mente feridas.

O consócio Etacom, pro-prietário do caminhão ca-çamba que causou o aci-dente garantiu à época que

daria toda a assistência ne-cessária às famílias envolvi-das. A empresa afirmou que prestaria assistência médi-ca domiciliar e financeira às vítimas.

Segundo o advogado da empresa Francisco Figuei-

ra, Ozaias foi contratado para prestar serviços no dia 23 de setembro de 2013, e não tinha nenhum his-tórico de graves infrações no trânsito.

AcessoO prefeito em exercício,

vereador Sildomar Abtibol, disse na manhã de ontem que teve acesso ao laudo apenas pelas redes sociais. Para ele, o resultado das análises comprova que a imprudência no trânsito é uma realidade que precisa ser combatida.

Sildomar comentou sobre o resultado quando acompa-nhava o atendimento aos fe-ridos de outro grave acidente envolvendo um carro de som, ocorrido na última sexta-feira, durante a procissão da Via Sacra, no bairro Dom Pedro, Zona Centro-Oeste, que resultou na morte de três pessoas.

* Colaborou Isabelle Valois

MATERIALA conclusão do estudo se deu com base na análise feita sobre 20 ml de urina e 10 ml do sangue do moto-rista. O documento foi despachado no último dia 7 de abril pelo grupo de peritos

EMERSON QUARESMA*Equipe EM TEMPO

A dificuldade em encontrar os bonecos de Judas na cidade indicam que a tradição está praticamente desaparecendo. Enquanto isso não acontece, ainda é possível se divertir com os poucos encontrados. Na foto, uma menina já antecipa a malhação do Judas de um político - principais “modelos” para os bonecos que são destruídos na tarde do Sábado de Aleluia, símbolo do castigo a Judas Escariote, que entregou Jesus Cristo aos romanos.

JUDAS

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Velórios das vítimas aconteceram durante a manhã de ontem

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Page 3: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 A3Opinião

Pode parecer implicância da revista inglesa “The Economist” com o Brasil. Ela já pediu a demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e não perde uma oportunidade de espicaçar o governo de Dilma Rousseff . No seu último número, a publicação critica o mercado de trabalho no país e o nível de produ-tividade dos trabalhadores, bem no momento em que começa a correr um calendário de cinco dias de “feriadão”, iniciado na quinta-feira com pontos facultativos decretados até para surpresa dos servidores públicos.

Com o título “Soneca de 50 anos”, a reportagem comenta que “a partir do momento em que você pisa no Brasil você começa a perder tempo” e sugere que, após um breve período de aumento da produtividade entre 1960 e 1970, a produção por trabalhador estacionou ou até mesmo caiu ao longo dos últimos 50 anos. A publicação citou ainda que a produção de cada trabalhador foi responsável por 40% do crescimento do PIB do Brasil, enquanto na China e na Índia esse valor foi de 91% e 67%, respectivamente.

Observações críticas desse tipo costumam ferir “os brios nacionais”, principalmente se disparadas por “agentes estrangeiros”. Mas internamente, o Brasil também se critica com o mesmo rigor. Informações divulgadas, quinta-feira, início do feriadão, pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) indicam que a produção no Brasil pode sofrer perda “de até R$ 30 bilhões” com os feriados nas cidades 12 cidades-sede da Copa do Mundo.

Com isso sofre todo o conjunto da economia, como lojas no atacado e varejo, empresas de serviços, indústrias e produtores agrícolas. Acrescentem-se o baixo investimento em infraestrutura, a baixa qualidade da educação e a má gestão das próprias empresas do país e se tem a receita do atraso.

Contexto3090-1017/8115-1149 [email protected]

Para o Festival Amazonas de Ópera, que há 18 anos inseriu o Estado no circuito cultural internacional . Apesar das críticas, o festival resiste ao tempo e continua representando uma das portas de entrada do turismo.

Festival de Ópera

APLAUSOS VAIAS

Traição nada!

Praciano meteu o dedo na ferida dos cardeais do PT.

Para quem não gostou, ele explica que coerência política não é traição.

— Não se trata de traição, eu sou PT, sou governo. En-tretanto, têm algumas coisas que não fl exibilizo em nome da governabilidade, que são as questões éticas –, afi rmou Praciano.

Coerência

Praciano votou com sua consciência.

Afi nal, ele é presidente da Frente Parlamentar Contra a Corrupção e integrante da Or-ganização Global de Parlamen-tares contra a Corrupção.

— Ninguém do partido ou do Planalto me procurou na tentativa de impedir meu voto com o bloco dos re-belados.

Tráfi co humano

A Comissão de Segurança Pública e Combate ao Cri-me Organizado tem tomado todo o tempo do deputado federal Pauderney Avelino (DEM–AM).

Até por foi ele mesmo que sugeriu a criação de uma Sub-comissão Especial de Com-bate ao Tráfi co Humano.

“Como mercadoria”

Pauderney adverte que tomar o ser humano como mercadoria, fazê-lo objeto de exploração, é crime que deve ser combatido com ações de repressão e prevenção.

— Além disso, deve-se ga-rantir atendimento digno e efi caz às vítimas –, afi rma

o deputado Pauderney Ave-lino (DEM-AM), que sugeriu a criação do grupo.

Bilhões de dólares

O parlamentar cita uma estimativa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), segundo a qual o tráfi co de pessoas faz circular cerca de 32 bilhões de dólares ao ano.

— Devemos unir nossas forças com o objetivo maior de contribuir para o efetivo enfrentamento ao tráfi co de pessoas –, diz o deputado.

“Inimigo público”

Pela ordem de importância, a ditadura classifi cou em núme-ros aqueles que resistiram ao golpe de Estado e eram consi-derados “inimigos públicos”.

O amazonense Almino Monteiro Álvares Aff onso era o “inimigo público” número 14 da República.

Lista negra Esta foi a sua posição na

lista de 102 brasileiros que tiveram direitos políticos sus-pensos por integrar, ou apoiar, segundo registros da época, o governo “comuno-petebo-sindicalista” deposto pelas Forças Armadas entre os dias 31 de março e 2 de abril.

O número 1

O presidente João Goulart foi o primeiro.

Depois vinham Jânio Qua-dros, Luiz Carlos Prestes, Mi-guel Arraes e Leonel Brizola. O sexto era Rubens Paiva.

Celso Furtado, o décimo.

Fez história

Almino foi ministro do Traba-lho de Jango, deputado federal e líder do PTB, partido do presi-dente derrubado pelo golpe.

Foi ele e Tancredo Neves que acompanharam João Goulart até o aeroporto, de onde fugiria para Porto Ale-gre, para não ser preso.

Já vi esse fi lme À saída do aeroporto, Tan-

credo disse: — Há 10 anos, participei da

última reunião presidida pelo doutor Getúlio. Agora me per-gunto se a história se repete e foi a última vez que abracei Jango como presidente.

— Ô, Tancredo, por que tanto pessimismo? –, disse Almino.

— Vocês são jovens. Acre-ditam que o Rio Grande do Sul tem condições de resistir sozinho.

Doações

As doações de empresas em dinheiro ou por meio de publicidade a candidatos e partidos políticos podem fi -car proibidas.

O substitutivo ao proje-to de lei (PLS 60/2012) da senadora Vanessa Grazzio-tin (PCdoB-AM) acaba de ser aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, em turno suple-mentar.

Se não houver recurso para votação pelo plenário do Se-nado, a matéria segue para a Câmara dos Deputados.

Para empresas que contratam profi ssionais sem qualquer preocupação com seu compor-tamento social ou psicológico. Se houvesse esse cuidado, o motorista da caçamba que matou 16 pessoas não estaria trabalhando sob o efeito de álcool e cocaína.

Tragédia e cocaína

É fato que o deputado Francisco Praiano (PT-AM) está na geladeira do PT.Mas uma coisa é certa, o parlamentar amazonense está pagando um preço

por agir como agiria um petista autêntico nos velhos tempos. Praciano foi o único integrante do partido da presidente Dilma Rousseff a votar com o grupo de parlamentares insatisfeitos com o governo na primeira votação usada para retaliar o Palácio do Planalto. Praça apoiou a criação de uma comissão externa para investigar as suspeitas de corrupção envolvendo a Petrobras.

Um petista à moda antiga

ARQUIVO

[email protected]

‘Soneca de 50 anos’

Está nas páginas dos jornais, nos noticiários e comentários das rádios e das televisões, a dar a impressão de que é uma onda que se propaga e avoluma, ou de que é algo que já estava aí, escondido no fundo do armário e que criou ânimo para se mostrar.

Refi ro-me às ostensivas mani-festações de racismo, se é que se pode a isso assim designar, já que não é a uma raça que se rejeita e agride, pois não se pode rejeitar e agredir o inexistente, mas certa-mente quer-se expressar a “ideia” de que há algo de inferior nas peles negras, frente às brancas.

Não sabem que todos viemos da África, com a negritude que a luz e o sol excessivos causaram e que somente os que migraram para as zonas de pouca luz solar tiveram que perder melanina e clarear a pele, a fi m dela absorver um mínimo.

Aliás, sem querer também con-trair o mal do preconceito, é preciso notar que os fatos, quando negros são chamados de macacos e re-cebem bananas em lançamentos, estão a ocorrer quase que exclusi-vamente nos estádios de futebol, onde a maioria dos frequentadores mais infl amados não constitui pa-radigma de boa formação moral e intelectual.

Ademais, há nessa atitude um pe-cado original que nenhum batismo poderá sanar: quem é verdadeira-mente puro em sua brancura neste país de mestiços? Acho que somen-te aqueles que vieram de fora e de longe, lá do hemisfério norte, ou seus descendentes imediatos. Eu, pessoalmente, só conheço o Bruce, o Dieter, o meu dentista Batista, o Leandro e alguns portugueses (bem poucos deles). Nenhum bra-sileiro de terceira geração.

Como as teses podem ser confi r-madas ou refutadas no confronto

com o absurdo, ocorreram-me al-gumas situações que até no plano da imaginação difi cilmente pode-riam ser cogitadas, pelo menos por qualquer pessoa que preze o velho e valioso bom senso.

Fico a imaginar um show do mag-nífi co músico de blues B. B. King, ou um recital da esplendorosa cantora lírica Jessye Norman, ambos de pele negra, e o público a chamá-los de macacos e a jogar bananas nos palcos. Seria literalmente oferecer pérolas aos porcos. Aqui mesmo, entre nós, como seriam recebidos os grandes Milton Nascimento e Jorge Ben Jor, por exemplo? Po-nho-me ainda a imaginar o gran-de estadista sul-africano Nelson Mandela, se ainda vivo, em visita ao Brasil, a receber projéteis de bananas sobre si.

Há dias vi notícia sobre uma palestra que seria proferida pelo jurista negro Joaquim Barbosa, hoje na presidência do Supremo Tribunal Federal. Este, pela digni-dade do cargo, seria saudado como “símio”, forma eufemística mais delicada do que macaco. Não vale dizer que nos exemplos dados estão citadas apenas pessoas ilustres, enquanto nos campos de futebol estão negros de baixa estirpe, fi -guras banais e indignas do respeito humano, pois ali, entre eles, há os que são, na sua área, portadores de inegável talento e que deveriam ser aplaudidos.

Muito curioso o fato de que as pretendidas ofensas às vezes até decorrem de um lance brilhante, mas feito contra o time do torce-dor obtuso. Não é o atleta que é atingido em sua competência, mas apenas se evidencia a incapacida-de do torcedor em lidar com a frus-tração, o que o leva a projetar sua desajustada emoção sobre alguém que considera culpado. É assim que se institui o preconceito.

João Bosco Araú[email protected]

João Bosco Araújo

João Bosco Araújo

Diretor Executivo do Amazonas

EM TEMPO

Negros, macacos e bananas

[email protected]

Fico a imagi-nar um show do magnífi co músico de blues B. B. King, ou um recital da esplendorosa cantora lírica Jessye Nor-man, ambos de pele negra, e o público a chamá-los de macacos e a jogar bananas nos palcos. Seria literalmen-te oferecer pérolas aos porcos”

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

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Page 4: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

A4 Opinião MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

FrasePainelVERA MAGALHÃES

Na reunião da Executiva Nacional do PSDB marcada para terça-feira, os presidentes da maioria dos 27 diretórios estaduais do partido apresentarão moções por escrito aclamando Aécio Neves como candidato da sigla à Presidência da República. Os textos dirão que o senador mineiro é o nome que unifi ca a legenda e pedirão que seja antecipada sua nomeação ofi cial – o que deve ocorrer em São Paulo, no dia 14 de junho, primeiro sábado depois da abertura da Copa do Mundo.

Cálculo O objetivo do gesto é criar um fato político que co-loque Aécio em evidência uma semana depois do lançamento da chapa Eduardo Campos-Ma-rina Silva (PSB).

Coexistência A formação de palanques comuns entre PSDB e PSB nas eleições estaduais começa a criar mal-estar entre tucanos. Aliados de Aécio relatam que ainda não há acordo sobre o espaço que o senador mineiro terá que dividir com Campos em Estados como o Paraná.

Funil Aliados de Gilberto Kassab (PSD) acreditam que, hoje, o ex-prefeito está mais propenso a apoiar Paulo Skaf (PMDB) ao governo de São Paulo do que se lançar em uma candidatura própria.

Funil 2 Integrantes do PSD enxergam um espaço cada vez mais reduzido para uma quarta força na disputa, além de PSDB, PT e PMDB.

No bolso Para refutar a ideia de que a multa que deve ser imposta a quem aumentar o con-sumo de água em São Paulo terá efeito negativo na gestão Geraldo

Alckmin (PSDB), auxiliares do tu-cano martelam a ideia de que três quartos da população do Estado já estão economizando.

Aperto Nas contas do go-verno, o volume poupado com a transferência de água entre os sistemas de abastecimento e com a campanha de economia equivale a um rodízio em que oito milhões de consumidores fi cassem dois dias com água e dois dias sem.

Volume morto Conselheiros petistas calculam que um racio-namento de água em São Paulo pode provocar no eleitorado uma rejeição generalizada à classe política. Nesse caso, Alexandre Padilha (PT) e outros adversários de Alckmin não se benefi ciariam durante a campanha.

Marcas Apesar de a Polícia Fe-deral ter batizado a operação que prendeu o doleiro Alberto Youssef como Lava Jato, o nome diz res-peito a apenas um dos quatro inquéritos que apuram o esquema de lavagem de dinheiro.

Marcas 2 Para facilitar a in-vestigação, cada um dos doleiros considerados líderes do grupo

ganhou um inquérito com nome específi co: Carlos Habib Chater (Lava Jato), Raul Srour (Casablan-ca), Nelma Kodama (Dolce Vita) e Youssef (Bidone).

Não... Diante de pedidos fre-quentes de estagiários de escritó-rios de advocacia pelos autos do processo do cartel do metrô de São Paulo, funcionários do cartó-rio da 30ª Vara Criminal da Justiça afi xaram um cartaz respondendo “perguntas frequentes”.

... perturbe “Onde está o pro-cesso? No MP. 15/4. Jura mesmo? Juro”, diz o texto.

Tércio Escolhido por Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) para a Subchefi a de Assuntos Parlamentares, o advogado Jean Uema teve seu nome aprovado por ser um dos poucos articu-ladores que dialoga bem com diferentes setores do PT.

Currículo Uema, que será res-ponsável pela liberação de emen-das aos parlamentares, sempre se deu bem tanto com o ex-mi-nistro Alexandre Padilha quanto com o atual líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia. Os dois têm uma rixa antiga.

Fato consumado

Contraponto

Na obra “Espirituoso”, que reúne casos sobre Ronaldo Cunha Lima, um amigo do tucano conta que certa vez um ex-aliado pediu um encontro para reatar relações.– Almoçamos na segunda? – perguntou Cunha Lima.– Não posso, vou viajar – respondeu o interlocutor.– Então vamos conversar na terça-feira.– Não posso, que já tenho compromisso.– Na quarta-feira?– Também não posso. Que tal na quinta-feira?O tucano, então, decidiu encerrar o assunto:– Na quinta quem não pode sou eu. Irei adoecer!

Publicado simultaneamente com o jornal “Folha de S.Paulo”

Encontros e desencontros

Tiroteio

DO DEPUTADO ROBERTO FREIRE (SP), PRESIDENTE DO PPS, sobre o discurso de governistas de que a investigação pretende destruir a imagem da estatal.

Já que não é possível tirar Dilma do poder até outubro, a CPI é a maneira mais rápida de restaurar a credibilidade da Petrobras.

Já perdi a conta das vezes que celebrei a missa no domingo de Páscoa de manhã. Uma, em es-pecial, fi cou na minha lembrança e permanece como que um para-digma de todas as outras. Foi na comunidade de Coadi, município de Uarini, às margens do Soli-mões. Reunimo-nos ao nascer do sol. Na pequena capela estavam também ribeirinhos vindos da comunidade de Ingá e Nossa Senhora de Fátima. Todos haví-amos celebrado o tríduo pascal que começara na quinta feira com o Lava-Pés, tivera seu segui-mento na Via Sacra da sexta de manhã e na celebração da paixão do Senhor à tarde e terminara na Vigília Pascal.

Celebrávamos aquele domingo da Ressurreição num cenário de Mistério. Diante de nós o sol nascia despertando sentimentos de renovação e de esperança num espetáculo que se repete cada dia, mas que nem sempre merece nossa atenção. A luz multicolori-da do céu se refl etia nas águas do rio que naquele ponto são imensas e se revolvem em rebo-jos que assustam os navegantes fazendo sentir a força que muda o leito do rio e derruba barrancos. São águas que abrigam toda espécie de peixes e feras e que alimentam os que vivem ao seu ritmo, mas também populações distantes para onde o peixe é levado. Tudo respirava vida em plenitude, criação, renovação. Podia se sentir o poder criador de Deus que está na origem de tudo e tudo mantém.

Na humildade do lugar em que fazíamos memória da recriação do mundo no mistério pascal, es-tavam os dois símbolos maiores da noite da páscoa, a água do batismo, e o círio pascal, água e luz, sinais da vida renovada,

sinais da ressurreição. Naquele ambiente fraterno de humani-dade renovada na fé, purifi cada pelas águas do batismo e ilumi-nada pela luz do Cristo, ouvimos o relato da ida das mulheres ao túmulo. Inconformadas com a perda, foram ungir o corpo do Mestre crucifi cado três dias an-tes. Não encontraram seu corpo, mas o encontraram ressuscita-do. Tudo então se transforma, a vida venceu a morte.

É um privilégio viver na Ama-zônia, e viver a partir da fé em um Deus que é Pai criador e mi-sericordioso. A criação em toda a sua exuberância e a redenção da humanidade em toda a sua grandeza infi nita aqui são vivi-das com uma intensidade ímpar. Missionário, celebrei a Páscoa em diferentes comunidades e países. Ficou na minha lembran-ça uma Páscoa muito especial no Haiti, numa pequena comu-nidade desejosa de libertação e consciente da sua dignidade. Outras vezes, estive em grandes igrejas e catedrais e uma vez em Roma. Mas nunca experimentei uma interação tão grande entre o mistério celebrado e a natureza envolvente como aquela manhã no Coadi.

Neste domingo de Páscoa, faço votos de que todos possam ex-perimentar a vida que brota da Cruz, e fazendo memória da res-surreição vejamos a esperança renascer em nossos corações. Feridos pela morte e pelo pecado deixem que a luz de Jesus nos ilumine e nos dê vida nova. A Páscoa se prolonga por cinquen-ta dias. O círio pascal permanece aceso e nele estão os símbolos da eternidade e do tempo no meio a cruz com as chagas de Jesus. É aí que encontramos água viva, fonte de vida inesgotável.

Dom Sérgio Eduardo [email protected]

Dom Sérgio Eduardo Castriani

Dom Sérgio Edu-ardo Castriani

Arcebispo Metropolitano de

Manaus

É um privilé-gio viver na Amazônia, e viver a partir da fé em um Deus que é Pai criador e misericordio-so. A criação em toda a sua exube-rância e a redenção da humanidade em toda a sua grandeza infi nita aqui são vividas com uma intensidade ímpar”

Páscoa

Olho da [email protected]

“Vamos viver o amor”. Esta é a palavra de ordem em uma parede da avenida 7 de Setembro, centro de Manaus, ilustrada com dezenas de fotos dos que desapareceram durante a longa noite de pesadelo que o golpe civil-militar de 1964 estendeu sobre o país. Os jovens de hoje olham para o painel e se perguntam como isso aconteceu

Quando você tem uma proposta de CPI e usa isso daí como bandeira para tentar desgastar o governo que tem conduzido os negócios da Petrobras com zelo e competência, obviamente nós podemos lem-brar que, se for para fazer investigação política, há outros casos que merecem investigação política. O

ímpeto pela CPI é o ímpeto político-eleitoral

Ricardo Berzoini, ministro de Relações Institucionais, responsável pela articulação política do governo, avalia que

nenhum parlamentar “com experiência e sincero” pode julgar possível uma CPI “bem feita” a dois meses das convenções

partidárias que ofi cializarão os candidatos à eleição de 2014.

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Page 5: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 A5Política

Dois meses para entregar R$ 260 milhões em obrasGovernador José Melo está acelerando as inaugurações até junho, quando deverá percorrer 20 municípios do interior

Numa corrida contra o tempo para se tor-nar mais conhecido entre os eleitores, o

governador e pré-candidato à reeleição José Melo (PROS) iniciou, desde a sua primeira semana à frente do Executivo, há 13 dias, uma caravana de viagens pelo interior do Es-tado. Ele deverá passar, até junho, por 20 municípios al-cançando uma totalidade de 430,37 mil eleitores, o equiva-lente a 43,1% de todo o colé-gio eleitoral do interior, que é de 997,7 mil votantes.

Por ocasião da viagem, Melo entregará R$ 197,7 milhões em obras a esses redutos elei-torais, deixadas pela gestão do pré-candidato ao Senado, Omar Aziz (PSD) e anunciará novas empreitadas. A mara-tona de Melo irá combinar a agenda no interior com entre-gas na capital do Estado, que somam outros R$ 62,4 milhões em obras de infraestrutura, habitação e segurança.

Relatórios obtidos na Secre-taria de Estado de Infraestru-tura (Seinfra) apontam que a caravana pelo interior será fi -nalizada em junho, prazo fi nal determinado pela legislação eleitoral para governos inau-gurarem obras. Com calendário

apertado, desde 4 de abril Melo já passou por 79,8 mil eleitores em viagens que fez aos municí-pios de Careiro da Várzea, Boa Vista do Ramos, Barreirinha, Co-dajás e, a última delas, Iranduba, na última quinta-feira.

Além de esvaziar a progra-mação de inaugurações, o pré-candidato tem aproveitado as viagens para anunciar novos pacotes de obras, deixando promessas à população destes municípios. Em Codajás, por exemplo, emendou a inaugura-

ção do porto local anunciando quase R$ 100 milhões em in-vestimentos futuros nas áreas de educação, saúde e infraes-trutura. Em seus discursos, José Melo mostra preocupação em se aproximar do colégio eleito-ral do interior, ainda pouco ha-bituado com a sua imagem.

Na cidade de Barreirinha, no Baixo Amazonas, ele enfatizou

sua origem proveniente do mu-nicípio de Eirunepé. “Vocês estão na frente de uma pessoa como cada uma de vocês, que conhece a realidade. De uma pessoa que nasceu no interior. Ainda crian-ça, antes de pegar num lápis, eu já sabia o que era o peso de uma enxada, fazer um roçado, tarrafear no meio rio. Não sou homem diferente de vocês”, afi rmou o governador, para um público de 200 pessoas.

Até o fi m desde mês, o pré-candidato deve entregar em-preitadas em Manacapuru, San-ta Izabel do Rio Negro, Parintins e Nova Olinda do Norte. Em maio, o cronograma da Seinfra diz que estarão prontas para inauguração obras em Itacoa-tiara, Careiro e Juruá. Em junho, a maratona será encerrada com visitas aos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Caapi-ranga, Itamarati, Maués, Envira, Barcelos, Ipixuna e Nhamundá.

Até lá, José Melo terá pas-sado por seis prefeituras do PMDB, partido de seu potencial adversário, o senador líder da presidente Dilma Rousseff no Senado, Eduardo Braga, que também tem feito viagens ao interior. Entretanto, a maior parte do roteiro do governador envolve terrenos comandados por partidos, à priori, aliados, com prefeituras do PSD (6), PTB (2), PT (2), PCdoB (1), PSB (1), PR (1) e PDT (1).

RAPHAEL LOBATOEquipe EM TEMPO

Desde que anunciou ofi -cialmente a sua pré-candi-datura, em 24 de janeiro, na rede social Facebook, Eduardo Braga fez uma maratona de entrevistas em rádios locais e iniciou um calendário de viagens ao interior, priorizando ci-dades-polo acima de 50 mil habitantes. Desde lá, o pee-medebista já passou por Ta-batinga, Iranduba, Parintins, Itacoatiara e Manacapuru, regiões que concentram 246,772 mil eleitores.

Em Iranduba e Tabatinga, o líder de Dilma no Senado aproveitou inaugurações de

obras ligadas ao governo federal para marcar presen-ça junto aos eleitores. Nos demais municípios, realizou convenções do PMDB mar-cadas por festas, carreatas e discursos em tom de crí-ticas aos seus adversários. Na última viagem, a Mana-capuru, evidenciou o atrito com Omar Aziz culpando o ex-governador pelo arqui-vamento da proposta que estendia os benefícios fi s-cais da Zona Franca (ZFM) à Região Metropolitana de Manaus (RMM).

Neste fi nal de semana, Braga optou por não rea-

lizar nenhuma viagem de-vido ao feriado da Páscoa. Mas, já no próximo sábado, retoma a agenda de passa-gens por cidades-polo nos municípios de Rio Preto da Eva e Presidente Figueire-do, onde realizará novas convenções com a presença dos deputados estaduais do PMDB, que lhe fazem sus-tentação na Assembleia Le-gislativa do Estado (Aleam) e permanecem, até o mo-mento, integrando a ban-cada governista. A asses-soria do senador afi rmou que novas viagens estão sendo programadas.

Braga também prioriza o interior

ELEITORESNestes 20 municípios por onde passará, Melo deve alcançar 430,37 mil eleitores e inaugurar obras que somam R$ 197,7 milhões. Na capi-tal, o volume de inau-gurações neste período somam R$ 62,4 milhões

DESTAQUES DAS INAUGURAÇÕESAbril

Orla de Manacapuru R$ 3,1 milhõesMelhorias no Viver Melhor de Parintins R$ 1,2 milhão

MaioPavimentação em Nova Olinda do Norte R$ 19,5 milhões

Pavimentação em Santa Isabel do Rio Negro R$ 8,6 milhões

JunhoRamal do Careiro da Várzea R$ 8,3 milhões

Sistema viário em Maués R$ 6,7 milhões

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Page 6: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

A6 Política MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

Dilma prefere Bolsa Fa-mília à Educação Básica

Desde que tomou posse como presidente da Repú-blica em janeiro de 2011, Dilma Rousseff investiu mais no programa Bolsa Família do que em Educação Bá-sica, segundo o Portal da Transparência do governo. Os gastos com a transferên-cia de dinheiro que garante “agradecimento nas urnas” já superam os R$ 64,9 bi-lhões, quase 20% a mais do destinado para educação das crianças do país no mes-mo período.

Exemplo do chefeO ex-presidente Lula, men-

tor de Dilma, gastou R$ 47,8 bilhões com Bolsa Família em seu segundo mandato, 60% mais que em Educação.

Mais que bancoSegundo dados do Banco

Central, o valor gasto pelo governo Dilma com Bolsa Fa-mília é superior aos lucros dos bancos no Brasil em 2013.

Apagão gerencialA Eletrobras tem recorrido

a empréstimos para pagar salários, e sua subsidiária Eletrosul já colocou a sede à venda pelo mesmo motivo.

Risca-facaO senador Vital do Rêgo

(PMDB-PB) resume bem a CPI criada para investigar Petrobras, Suape e Metrô de SP: “É a CPI do risca-faca”.

Em caso similar, Vargas quis punir Demóstenes

O deputado André Vargas (PT-PR), que renunciou à vice-presidência da Câmara após ser revelado seu envolvimen-to com um criminoso, defen-deu, em 2012, investigação rigorosa da “cumplicidade” do então senador Demóste-nes Torres (GO) como um “ho-

mem do crime”. Referia-se ao bicheiro Carlos Cachoeira, preso na Operação Monte Carlo. Exatamente como seu sócio Alberto Youssef, na Operação Lava-Jato.

Espelho, espelho meuPara Vargas, a “bandeira

da ética da oposição foi desmontada” quando um de seus arautos (Demóstenes) foi flagrado com o crime organizado.

Fica a dicaAo falar de “matérias

bombásticas” sobre cor-rupção, Vargas disse que deve haver um estoque de escutas clandestinas “las-treando” a mídia.

Pit-bullNos corredores do Sena-

do, Gleisi Hoff mann (PT-PR) ganhou o apelido de “pit-bull da Dilma”, com a advertência jocosa: “Ela morde...”.

Pró-CPIO deputado Osmar Ter-

ra (PMDB-RS), que acom-panhou o depoimento do ex-diretor Nestor Cerveró, acredita que o discurso foi combinado com Planalto: “A Petrobras está no Pelouri-nho, precisamos investigar”

Tudo em famíliaDesafetos, Lula e o de-

putado federal e ex-prefeito de São Bernardo William Dib (PSDB-SP) trocaram fi guri-nhas no casamento domingo (13) de uma assessora de Dib, fi lha de grande amigo de Lula.

‘Pilhado’Explicado por que o depu-

tado sai-não-sai André Var-gas (PT-PR) está à beira de um ataque de nervos: torrou R$1,6 milhão de sua cota parlamentar em cafezinhos expressos de janeiro a março

deste ano.

Zé PatinhasRevolta nas redes sociais

com um vídeo do fi lho da vice-prefeita de Parnami-rim (RN) tomando uísque e rasgando uma nota de cem reais numa boate. É crime federal, com prisão de até três anos e multa.

Foco na energiaAspirantes à Presidência, o

ex-governador Eduardo Cam-pos (PSB-PE) e a ex-senadora Marina Silva decidiram tra-tar da questão energética no primeiro seminário do PSB e Rede, que ocorrerá até o fi m deste mês.

Alô, AnatelOs telefones 1331 e 1332,

da Agência Nacional de Tele-comunicações (Anatel), ainda estão mudos. A Anatel dá de ombros a reclamações de usuários que denunciam a existência do problema há mais de 30 dias.

Saiu da gavetaO Conselho de Ética da Câ-

mara dos Deputados negou acatar um dos processos de cassação contra o deputado Carlos Leréia (PSDB-GO), amigo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. A ideia agora é aplicar “penas alternativas” em nova ação que será vota-da nesta quarta-feira (23).

Crime sem castigoBrasileira Patricia Fukimo-

to, que fugiu para o Brasil após avançar sinal e matar um bebê no Japão em 2005, só terá prisão de consciência: o crime prescreveu na Justi-ça paulista, segundo o jornal Japan Times.

Surpresa!O deputado indeciso André

Vargas (PR) é o Kinder Ovo do PT nesta Páscoa.

Cláudio HumbertoCOM ANA PAULA LEITÃO E TERESA BARROS

Jornalista

www.claudiohumberto.com.br

Compete ao PT tomar a decisão, avaliar, dialogar com o deputado”

MINISTRO RICARDO BERZOINI (SRI) SOBRE O DE-PUTADO AMIGO DE DOLEIRO, André Vargas (PT)

PODER SEM PUDOR

E daí?A Câmara dos Deputados investigava,

na década de 50, as ligações entre o governo Getúlio Vargas e o jornal “Última Hora”, de Samuel Wainer. O empresário Francisco Matarazzo foi convocado para depor e fi cou sob a mira de Carlos Lacerda, na CPI:

- Sr. Matarazzo, o senhor deu dinheiro ao Samuel Wainer?

- Dei, sim – confi rmou, sem pesta-nejar.

- E por quê? – insistiu Lacerda.- Dei porque o dinheiro é meu e faço dele o que bem quiser.E a questão foi encerrada.

DEM e PSDB prometem resistir às tentativas do governo federal em acelerar a tramitação do Marco Civil na casa

Oposição do Senado quer adiar votação da internet

Senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) ajudou a frear um acordo proposto pelo governo para votar lei

Enquanto o governo pressiona para apro-var o mais rápido possível no Senado

o Marco Civil da Internet, a oposição está empenhada em protelar ao máximo as discussões sobre a proposta. O objetivo é não deixar que a presidente Dilma Rousse-ff tire proveito eleitoral do projeto que foi aprovado na Câmara no dia 25 de março, depois de quase dois anos de discussão. Dilma queria usar a aprovação do Marco Civil como demonstração de vanguarda na área até para reforçar seus planos de propor uma governança global para a Internet a ser apresentado na Net Mundial, que será rea-lizada em São Paulo nos dias 23 e 24 de abril.

Na semana passada, os lí-deres do PSDB, Aloysio Nunes (SP), e do DEM, José Agripi-no Maia (RN), impediram um

acordo de líderes proposto pelo governo para levar a pro-posta, tal como foi aprovada na Câmara, diretamente para o plenário, sem passar pelas três comissões de mérito que

analisam tal proposta neste momento. Dilma quer fazer palanque eleitoral com isso, acusa Nunes. É um absurdo impedir que as comissões de mérito possam opinar em um projeto tão importante e

minucioso. Os relatores não tinham sequer os pareceres prontos, diz o líder tucano.

Diante do cenário de resis-tência de DEM e PSDB, o rela-tor do Marco Civil no Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), reconhece que difi cilmente Dilma poderá chegar na Net Mundial com o texto sancio-nado debaixo do braço. “Com a conjuntura atual, é muito difícil que se vote isso na se-mana que vem”, resumiu Fer-raço, que tinha esperança que pelo menos duas comissões votassem o texto ainda na semana passada. Entretanto, um pedido de vistas coletivo brecou a apreciação na Co-missão de Ciência, Tecnologia. Além desta, o Marco Civil da Internet terá de passar pelas Comissões de Meio Ambien-te, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) e de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).

NA JUSTIÇA

Número de ações aumentaApesar de os juízes produ-

zirem anualmente cada vez mais decisões, o crescente volume de processos novos que chegam todos os anos aos tribunais ainda impede a redução do acervo de ações judiciais. Levantamento do Conselho Nacional de Jus-tiça (CNJ) aponta que, em-bora os juízes tenham dado decisão sobre 17,8 milhões de ações ao longo de 2013, a quantidade de processos que passaram a tramitar

no ano passado foi ainda maior, aproximadamente 19,4 milhões.

Os dados estão no Relató-rio dos Resultados da Meta 1, compromisso assumido pelo Judiciário de julgar, em 2013, mais processos que a quanti-dade de ações apresentadas à Justiça no ano. De acordo com o levantamento, a Meta 1 não foi atingida em 2013. Com isso, o número de novas demandas da sociedade à Justiça superou em 1,684

milhão de processos a ca-pacidade de os juízes darem a primeira decisão judicial sobre as ações.

Contrariando os resulta-dos nacionais de cumpri-mento da Meta 1, a Justiça Eleitoral deu resposta po-sitiva ao desafi o propos-to. Os 403 mil processos julgados em 2013 equiva-lem a 155% do número de ações que foram apresen-tadas ao longo do ano aos TREs: 259.080 ações.

DIVULGAÇÃO

Os planos da presidente Dilma com relação ao Mar-co Civil da Internet visam também dialogar com os jovens. Hoje esse público é bastante receptivo ao nome de Marina Silva (PSB), o que contribui para o cresci-mento de Eduardo Campos (PSB) depois que a ex-minis-tra ofi cializou sua pré-can-didatura à vice-presidência da República. A aprovação do Marco Civil é uma forma de Dilma estreitar laços com esse segmento.

A proposta tramita em regime de urgência, ou seja, se não for votada em 45 dias passa a trancar a pauta do Senado, a exemplo do que aconteceu na Câmara. Segundo o relator, o texto

não deverá sofrer mudan-ças, o que poderia atrasar ainda mais sua tramitação. “Não creio em grandes mu-danças, só coisas pontuais, cosméticas. Há o enten-dimento de que o debate feito na Câmara foi amplo”, opinou Ferraço.

“Não quero politizar a questão, até porque é algo que interessa ao país, mas é evidente que essa pres-sa da presidente tem in-teresses voltados para a eleição”, disse o líder do DEM, José Agripino (RN). Segundo ele, não existe a menor chance de que seja feito acordo para viabilizar a votação diretamente no plenário do Senado.

“Não há acordo sobre isso.

Esse projeto passou três anos na Câmara e o Senado tem o direito de avaliar com calma, afi rmou ele. Faremos isso no seu devido tempo. Não há qualquer intenção de procrastinar, mas por outro lado, não temos de queimar etapas e aprovar isso a to-que de caixa”, acrescentou o líder do DEM.

Segundo o líder tucano, o governo tem feito resis-tências às emendas apre-sentadas com o objetivo de acelerar o processo. O que se sabe é que o governo decidiu rejeitar todas as emendas, disse Nunes. Agripino diz que emendas já foram apre-sentadas e serão discutidas. Não vai tratorar não, disse o senador potiguar.

Dilma quer atingir público jovemÀs vésperas das convenções, Dilma quer melhorar a imagem que passa aos jovens

ROBERTO STUCKERT FILHO/PR

PRESSÃOOposição no Senado quer se unir para que o projeto do Marco Civil da Internet não sirva de palanque eleito-ral para a presidente Dilma Rousseff . Projeto agora está para vota-ção no Senado

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Page 7: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 A7Com a palavra

Eu não vejo como uma briga. Prefiro ficar indife-rente. Estava conversan-do com o deputado José Ricardo e nós, que não temos força dentro do partido, temos que esquecer isso”

Com uma história po-lítica voltada para o combate à corrupção, o deputado federal

pelo Amazonas, Francisco Praciano (PT), é uma figura à parte no partido do qual é membro. Considerado um dissidente, Praciano enfrenta por conta das suas convicções políticas desprezo da legenda não só em Brasília, mas tam-bém no Estado. Segundo ele, um exemplo do isolamento ao qual está fadado é a falta de in-dicação para relatar matérias da União e de apoio aos seus projetos de ascensão dentro do próprio Estado.

A última polêmica envolvendo a ‘rebeldia’ do petista foi seu voto favorável à instalação da Comissão Externa de Investiga-ção, na Câmara dos Deputados, que vai acompanhar as apura-ções a respeito das transações comerciais da Petrobras. Ele foi o único petista da casa – partido da presidente Dilma Rousseff - que se colocou contra o governo. Francisco Praciano recebeu a reportagem do jornal Amazonas EM TEMPO em sua residência em Manaus e fez revelações sobre os motivos que o levam a querer ficar “livre do PT” nos próximos anos.

EM TEMPO - O que levou o senhor a votar contra o seu partido no caso da comissão externa para investigar a Petrobras?

Francisco Praciano - Desde que eu comecei a fazer política - quatro mandatos de vereador e dois de deputado federal - me dediquei quase que exclusiva-mente à luta contra a corrupção. No primeiro ano de mandato me dediquei exclusivamente a combatê-la, no segundo foi combate à corrupção e à luta pela validação dos direitos do estudante, no terceiro, serviço público e combate à corrupção, o quarto foi a soma de tudo e combate à corrupção. Quan-do cheguei à Câmara (Federal) eu me “enfiei” logo na Fren-te Parlamentar de Combate à Corrupção e hoje, no segundo mandato, sou presidente dessa Frente mista de senadores e deputados. Eu poderia dar um voto diferente? Decidi votar e não perder radicalmente a co-erência. Na semana seguinte eu coordenei junto com o de-putado Mendes Thame (PSDB/SP) um seminário internacional de combate à corrupção, ele preside Organização Global de Parlamentares de Combate à Corrupção (Gopac) aqui no Bra-sil e eu sou secretário. Como é que eu iria sentar numa mesa onde existiam, contas abertas, transparência internacional, jornalistas? Como eu iria tole-

rar coordenando um seminário como aquele, a pergunta do tipo: Mas o senhor como presidente da Frente Parlamentar de Cor-rupção não quer que denúncias tão fortes como foi o caso da Petrobras não sejam investiga-das? Então, foi um voto coerente com toda a minha história de combate à corrupção. Não é nada de moralismo. A corrupção está dando ao Brasil um prejuízo de R$ 100 bilhões por ano, quase dez orçamentos do Amazonas por ano. O cálculo foi feito pela Federação da Indústria do Es-tado de São Paulo (Fiesp). Além disso, temos que combater a corrupção dos empresários so-negadores, que geram ao país prejuízo ainda maior. São pelo menos R$ 600 bilhões anuais, dinheiro que poderia ser reves-tido ao serviço público.

EM TEMPO - A sua inicia-tiva lhe rendeu a alcunha de rebelde. O senhor é um rebelde dentro do Partido dos Trabalhadores?

FP - Quando um companheiro da nacional me ligou perguntan-do o porquê do meu voto, eu lhe respondi: porque sou petista. Continuo sendo petista.

EM TEMPO - É verdade a existência de ameaças vela-das ao senhor dentro do PT, após este episódio?

FP - Não tenho ameaças, mas sofro algumas coisas desde que cheguei a Brasília. Nunca fui indicado para relator de uma matéria interessante, e em um determinado momento alguns companheiros me explicaram. Isso não é bom para você. Ou você está bem com o povo ou você está bem com o PT. Se você pegar um relatório do governo, sendo governo, você tem que seguir fielmente a orientação do governo naquele relatório. Se você não segue fica muito mal com o governo e com o PT, se você segue, às vezes, fica muito mal com o povo. Então é um dilema, uma dificuldade ser coerente. Manaus viu outra situação, em um encontro do partido para decidir tática elei-toral não me deixaram falar.

EM TEMPO - O senhor con-corda com o jeito Dilma de governar?

FP - Concordo com o jeito de Lula e Dilma. Todo mundo fala em Produto Interno Bruto (PIB), que precisa crescer o PIB, que precisa alavancar o PIB. Mas, para quê crescer o PIB? É para ajudar gente, não é? E qual foi o PIB Lula e Dilma, algo um pouco maior do que o do Fernando Henrique Cardoso, mas será que merece tanta crítica esse pequeno? Se hoje não se eliminou a miséria, mas se obteve uma redução muito grande. O que eu acho é que um país não cresce com um

povo miserável. O cidadão que não tem um café da manhã, um almoço, um jantar é um cidadão que colabora pouco ao desenvolvimento do país. E Lula e Dilma estabeleceram projetos que resolveram os problemas de gente. Para mim, foram e são um bom governo, porque mesmo com um PIB pequeno tiveram a coragem de tratar de ‘gente’ e não de coisas.

EM TEMPO - O senhor de-fende a reeleição da presi-dente Dilma Rousseff?

FP - Sim, sem sombra de dúvidas, tanto de Dilma quanto de Lula. Eu acho que em nome da governabilidade, ambos tive-ram que fazer muita coisa para dirigir o país. Vivo no meio de um Congresso complicadíssimo. Se não houver flexibilidade, não há governo. Você para um país, às vezes, por conta de satisfazer ou não satisfazer projetos in-dividuais de parlamentares. Se o governo radicaliza, eu tenho absoluta certeza que não go-vernaria.

EM TEMPO - Existem ru-mores de que o senhor esta-ria desestimulado ao ponto de querer se aposentar da vida política. Francisco Pra-ciano será candidato a algum cargo eletivo em 2014?

FP - Eu amadureci nos quatro mandatos de vereador e nos dois de deputado federal e, com 62 anos de idade, não tenho mais a ‘noia’ de ganhar ou não ganhar. Já estou tranquilo. A sociedade amazonense, pelos mandatos que me deu, me fez feliz. Eu decidi me candidatar e fazer meu último mandato de parlamentar. Quero fazer o parlamento dos meus sonhos: livre total, inclusive do PT. Eu acho que o PT não acreditou em mim, não me usou como de-veria e teria sido interessante. A partir desta última tentativa para o parlamento, devo focar em candidaturas locais. Não quero mais gritar, quero ter uma caneta nas mãos para realizar sonhos.

EM TEMPO - Como deve se comportar o PT Amazonas no pleito de outubro?

FP - Lamento dizer que o PT não está mais com o compor-tamento de um partido político, porque todo o partido político tem projeto de crescimento dentro do poder. Infelizmente, o PT Amazonas com esse tempo todo de Lula e Dilma, em um governo que ajudou muito o Amazonas, não quer participar das eleições com campanhas majoritárias. Pelo que vejo, a escola que nos dirige há 30 anos continuará nos dirigindo. Nas úl-timas eleições, o Eduardo Braga chegou e disse: meu candidato para governo é o Omar Aziz, sou candidato ao Senado, minha

mulher é minha suplente, meu amigo é o segundo suplente e o PT Amazonas, simplesmente aceitou. Essas coisas são ina-ceitáveis.

EM TEMPO - Para o senhor que se intitula um petista à moda antiga, o que é e o que foi o Partido dos Traba-lhadores?

FP - O PT hoje é um partido amplo, de muitos filiados, a maioria absolutamente séria, mas que não tem mais a em-polgação de usar um broche ou empunhar uma bandeira. As cores estão sendo desbo-tadas e por conta de garantir a governabilidade tem mudado muito o rumo da sua história. Eu lamento que o PT tenha se descaracterizado bastante para governar. A qualidade política do país é tão ruim, que quem pretende governar tem que abrir porta e flexibilizar e isso é que desmonta o sonho e a qualidade dos partidos.

EM TEMPO - As críticas à bancada federal do Ama-zonas, da qual o senhor faz parte, surgem de várias fren-tes. Em sua opinião elas são corretas? O que falta para a nossa bancada ganhar a con-fiança da opinião pública?

FP - Uma bancada de 11 par-lamentares nunca vai ser forte frente ao conjunto de 513 políti-cos. Mas, tenho que reconhecer que nossa bancada pouco se reúne e que não pensa o Estado. Cada um trabalha dirigido para seu foco de atuação, mas o tema Amazonas é pouco discutido. Nossos coordenadores nunca conseguiram reunir fácil essa bancada. E como a bancada do Norte é ao contrário da ban-cada do Nordeste, que sempre está reunida. Sei que existem temas que poderiam ser mais explorados, como o imbróglio da BR-319 (Manaus-Porto Velho) que ninguém mais fala.

EM TEMPO - As mudan-ças no tabuleiro político do Estado começaram com a ascensão de José Melo ao cargo de governador. Ele já se mostrou disposto a se lançar à reeleição, seu prin-cipal adversário será Edu-ardo Braga, o que o senhor pensa sobre esse possível embate?

FP - Eu não vejo como uma briga. É tudo uma escola só. Prefiro ficar indiferente. Estava conversando com o deputado estadual José Ricardo (PT) e nós, que não temos força dentro do partido, temos que esquecer isso. O grupo que está hoje no PT decide o que quer. Gosta-ria que o PT ou outro grupo surgisse e mostrasse um jeito diferente de fazer política, mas parece que tão cedo isso não vai acontecer.

Francisco PRACIANO

‘O PT NÃO acreditou EM MIM’

Foi um voto coeren-te com toda a minha história de combate à corrupção. Quando um companheiro da nacio-nal me ligou pergun-tando o porquê do meu voto, eu lhe respondi: porque sou petista. Continuo sendo petista”

JOELMA MUNIZEspecial EM TEMPO

FOTOS: DIEGO JANATÃ

Eu amadure-ci nos quatro mandatos de vereador e dois de deputado fe-deral e, com 62 anos de idade não tenho mais a ‘nóia’ de ganhar ou não ganhar. Já estou tranquilo’

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A8 Política MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

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[email protected], DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 (92) 3090-1045

O período de chuvas no Amazonas não serve de desculpa para parar a produ-

ção de peças de banho, como biquínis e maiôs. Pelo menos para jovens empreendedoras da moda praia, o momento que antecede a Copa do Mundo é propício inclusive para sonhar alto e investir em temas ama-zônicos, a fi m de conquistar o mercado internacional.

A aposta foi encarada pelas empresárias Michelle Guima-rães e Cristiane Batista, da griff e Santa Cris, que já produz a moda praia para o merca-do manauense classe “A”. As empreendedoras estudaram o mercado internacional e terão como ponto de partida de exportação a cidade de Mia-mi, localizado no Estado da Flórida, nos Estados Unidos da América (EUA), cuja vantagem está nos voos diretos entre a cidade norte-americana e a capital amazonense.

Segundo Michelle, o estudo permitiu constatar que a pro-dução brasileira de biquínis é forte em Miami e que o tema amazônico tem tudo para dar muito certo, uma vez que o diferencial está na aplicação de estampas exclusivas e a costura de detalhes artesa-nais extraídos da casca do tucumã, de couro de peixe e fi bras de coco e juta. “Já contatamos três empresários de Miami, os quais aguardam

apenas pela amostra do nosso produto”, afi rma.

A empreendedora conta que a decisão de produzir as peças se dá pelo custo da produção que não é alto em comparação com a moda de academia. Ela observa, no entanto, que a difi culdade está na falta de produção local de estampa di-gital exclusiva. “Encontramos somente em São Paulo, onde compraremos as malhas de qualidade, com as estampas exclusivas, e aqui com as nos-sas costureiras montaremos as peças com os detalhes re-gionais”, explica.

Antes de exportar o produto, Michelle informa que a moda será lançada em Manaus com sua loja virtual, durante a Feira do Empreendedor, que será realizada entre os dias 24 e 27 de abril, no Sesi - Clube do Trabalhador. Em seguida a griff e aproveitará o clima de Copa do Mundo para apresentar os biquínis regio-nais aos turistas que virão à cidade prestigiar o evento

mundial. Para isso, a Santa Cris realizará exposições em hotéis como o Blue Tree, o Qualit e o Tropical, além de lojas de artesanato.

ExpectativaAo alcançar a clientela in-

ternacional, prevista a partir do segundo semestre deste ano, a empresária afi rma que a expectativa para os 12 pri-meiros meses é de alcançar um faturamento de até R$ 200 mil. Durante o período da Copa elas esperam arrecadar no Amazonas com as vendas para os turistas estrangeiros até R$ 15 mil.

De acordo com Cristiane, estilista da griff e Santa Cris, a ideia de montar uma coleção com biquínis de estampas re-gionais partiu da necessidade de suprir o que ela defi ne como “lacuna de desejos”.

“O biquíni já é um produto com a etiqueta brasileira mais procurada pelos turistas. A malha nacional é a melhor do mundo. Já o detalhe regional, tanto nas estampas quanto nos detalhes em couro de pei-xe regional e os artesanais fa-zem toda a diferença na peça fi nal”, sustenta a estilista.

Segundo ela, a média dos valores dos biquínis classe “A” da grife é de R$ 80 até R$ 350. As peças são feitas hoje por duas costureiras, as quais montam até dez por dia. Sema-nas antes da Copa, o número de costureiras deverá aumentar para cinco, a fi m de atender a demanda do momento.

EMERSON QUARESMAEquipe EM TEMPO

RIBEIRINHOSA produção dos deta-lhes artesanais está em fase de negociação com moradores da comunidade ribeirinha de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro do Lago do Acajatuba, município de Iranduba

Os 25 anos de experiência da costureira Iris Ambrósio dos Santos, 53, proprietá-ria do atelier de Iris Moda, localizado no bairro Vila da Prata, Zona Oeste, a permite produzir a moda praia e a de academia e com isso atender a todos os públicos, principalmente para famí-lias de militares, que são seus vizinhos.

Ela, no entanto, diz que enfrenta no momento di-fi culdades para encontrar mão de obra de qualidade

que atenda o seu público, “fi el e exigente”.

Além da falta de mão de obra qualifi cada, Iris aponta que em Manaus ainda não chegou malhas com moti-vos da Copa do Mundo. Por esse motivo e também pela agenda lotada de pedidos da clientela, a empresária produzirá apenas por enco-menda. “Como compro ma-terial em Manaus, percebo que não chegou nada de estampas da Copa. Já esta-mos quase no mês de maio

e confeccionar para uma demanda maior para vender no atacado e no varejo fi ca impossível”, afi rma.

Iris conta que, com ajuda de uma secretária, produz con-juntos de peças em malha para moda feminina e mas-culina, como biquínis, sunga. Contudo, ela observa que a tendência do momento é a moda para academia como o body (antigo colan), encomen-dadas pelos seus vizinhos, mas também por clientes de São Paulo e Goiânia.

Falta mão de obra qualifi cada

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Empreendedoras amazonenses apostam na moda praia com estampas e detalhes regionais

Biquínis amazônicos para o mundo comprar e usar

Cristiane Batista e Michelle Guimarães, sócias da griff e Santa Cris, confi antes no investimento

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Peças de banho produzidas no Amazonas terão como primeiro destino internacional a cidade de Miami, nos EUA, mas antes serão expostas em Manaus, na Feira do Empreendedor, do Sebrae-AM

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B2 Economia MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

4G: Nunca vi, nem usei e só ouço falar em Manaus Tecnologia da quarta geração de telefonia móvel e internet está longe de funcionar a contento na capital amazonense

Apesar de alegarem que cumpriram a meta determinada pela Agência Nacional

de Telecomunicações (Anatel), as operadoras de telefonia móvel e internet estão longe de oferecer um serviço 4G a contento em Manaus.

O prazo para ofertar a nova tecnologia encerrou no fi nal do ano passado, porém em alguns pontos da capital amazonense, a nova tecno-logia não funciona em sua plenitude. “Não é a internet que desejamos, mas é o que temos no momento”, frisa Alex Mendes, 28, que já foi usuário da internet 4G da operadora Claro em seu celular e agora testa os serviços da Vivo.

Segundo ele, a procura pela tecnologia se deve à veloci-dade que é prometida para o serviço pelas operadoras. Com a rapidez do sistema é possível assistir fi lmes em alta defi nição, fazer download de arquivos de músicas e vídeos em tempo razoável, jogar on-line e realizar videochamadas com a interação de diversos usuários em tempo real. “O serviço pode ser melhorado

para atender com excelência os clientes”, analisa.

Devido às falhas, o técnico em Tecnologia da Informação (TI), Igor Nunes, 21, reluta em contratar o serviço. “O 4G em Manaus ainda não funciona com a qualidade ofertada e es-perada, por este motivo, ainda não adquiri o 4G”, revela.

Para ele, Manaus só foi con-templada por conta da de-terminação imposta às ope-radoras de telefonia móvel pela Anatel, que estabeleceu o dia 31 de dezembro como limite para a implantação do sistema nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo. “Se não fosse pelo evento, teríamos que esperar um pouco mais para ter o 4G em Manaus”, afi rma Igor.

Questionado sobre as van-tagens de se utilizar a quarta geração de telefonia móvel, Igor acredita que Manaus só tem a ganhar, uma vez que a preocupação por conta dos limites impostos pelas ope-radoras para a realização de download deixará de existir. “Documentos, aplicativos e ar-quivos mais pesados poderão ser baixados sem a necessi-dade de preocupação com o limite de tráfego” explica o técnico em TI.

ANDRE TOBIASEquipe EM TEMPO

Oferta de 4G foi determinação da Anatel para Copa do Mundo

Segundo a Claro - uma das primeiras empresas a disponibilizar o 4G em Manaus -, desde junho de 2013, mais de 1,8 milhões de habitantes da capital já podem usufruir da alta velocidade da rede.

Além dos manauenses, mais de 18 cidades no Amazonas contam com cobertura da operadora, mas apenas seis podem utilizar a tecnologia 3G na região.

Por meio de nota, a Vivo afirma que ativou, em setembro de 2013, sua rede 4G em Manaus. Atualmente, a operadora

disponibiliza a tecnologia de quarta geração em 41 bairros da cidade.

A TIM informa que encer-rou o ano de 2013 com a implantação da tecnologia 4G na capital amazonense. A operadora assegura que investirá quase R$ 1,5 bi-lhão no desenvolvimento da tecnologia no país pelos próximos 3 anos.

A Oi ressalta que o 4G está disponível em 24 municípios, dentre eles, Manaus. Até 31 de maio deste ano, a operadora se comprometeu em dispo-nibilizar a tecnologia em outras 21 cidades.

Empresas falam em investir

Difi culdade de acesso à tecnologia 4G é comum na região

Vitrine [email protected]

Inpa armazenará lixo radioativo

Na próxima terça-feira (22), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) vai inaugurar, às 9h, o primeiro prédio da Região Norte para armazenar materiais radioativos. O Prédio de Armazenamento para Materiais Radioativos (Pamrad) vai inicialmente guardar dejetos radioativos gerados das atividades de pesquisas do próprio Instituto. Segundo o Inpa, a inauguração do Pamrad garante o confi namento se-guro de materiais radioativos pelo tempo necessário à proteção do homem e do meio ambiente.

Clicks* A Sony vendeu, até o

último dia 6, mais de 7 milhões de unidades do Playstation 4. Lançado no fi nal de novembro de 2013, o videogame superou a marca do Playstation 3, que em quatro meses de mercado vendeu quase 3,5 milhões de unidades.

* A Nokia interrompeu temporariamente a venda do Lumia 2520 em países

da Europa devido a um problema com o carrega-dor do tablet, que pode causar choques elétricos nos usuários.

* Agora qualquer pessoa poderá acessar o Word, PowerPoint e o OneNote a partir do Google Chro-me. A Microsost foi quem anunciou a novidade que em breve também contará com o Excel.

Celular modular Os celulares modulares da Google deverão chegar ao

mercado somente a partir de janeiro de 2015. Porém, eles já geram uma expectativa quanto ao seu lança-mento. Desenvolvido por meio do projeto Ara, os novos celulares devem revolucionar o mercado pelo fato de que os aparelhos são altamente personalizáveis e de fácil atualização dos componentes.

Cada módulo trará funcionalidades e capacidades diferentes para o aparelho. As peças serão encaixadas num esqueleto que terá três tamanhos. Tanto os módulos como os esqueletos serão ligados por magnetismo.

Artigos científi cosAté o próximo dia 5

de maio, a revista “T&C Amazônia” está com cha-mada aberta para envio de artigos científi cos com os temas relacionados à inovação e ao desenvol-vimento regional em seus diferentes aspectos. Os in-teressados devem encami-nhar o texto para o e-mail: [email protected]. Os artigos serão analisa-dos pelo Conselho Editorial da Revista.

Novo diretorO Ministério da Ciên-

cia, Tecnologia e Inovação (MCTI) iniciou o processo de seleção de novo dire-tor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). Os candidatos interessados devem enviar suas cartas de inscrição até o dia 12 de maio.

Limpeza Instagram Para combater o spam,

o Instagram tem excluído contas inativas, ação que reduzirá perfi s “fakes”.

Inpa armazenará

Na próxima terça-feira (22), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) vai inaugurar, às 9h, o primeiro prédio da Região Norte para armazenar materiais radioativos. O Prédio de Armazenamento para Materiais Radioativos (Pamrad) vai inicialmente guardar dejetos radioativos gerados das atividades de pesquisas do próprio Instituto. Segundo o Inpa, a inauguração do Pamrad garante o confi namento se-guro de materiais radioativos pelo tempo necessário à proteção do homem e do meio ambiente.

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B3EconomiaMANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

Inpa estuda farinha de soja para produção de pirarucuEquipe de pesquisa do órgão testa a substituição de alimentos do peixe a fim de tornar o cultivo mais barato e competitivo

O pirarucu é um pei-xe amazônico com valor comercial e características fa-

voráveis para o cultivo in-tensivo. Na busca por tornar a produção da espécie ainda mais atrativa na Amazônia, o Grupo de Pesquisa Aquicultura na Amazônia Ocidental, do Instituto Nacional de Pesqui-sas da Amazônia (Inpa/MCTI), realiza estudos sobre o uso do farelo de soja como alternati-va de ingrediente para tornar a produção do peixe mais barata e mais competitiva.

A líder do grupo de pesqui-sa, pesquisadora Elizabeth Gusmão, avalia que o farelo de soja que custa em média R$ 0,90 o quilo pode ser um ingrediente importante, em termos nutricionais para substituir a farinha de peixe, insumo muito utilizado na dieta de espécies. A pesqui-sadora alerta que o uso da farinha de peixe, cujo quilo varia de R$ 2 (nacional) a R$ 6 (importada), deverá de-saparecer do mercado nas próximas décadas.

Em decorrência disso, Eli-zabeth explica que o Grupo de Pesquisa em Aquicultura tem trabalhado para atender duas demandas. A primeira

que trabalha pela diminuição dos custos de produção do peixe pesquisado e a segunda que busca encontrar alternati-vas que possam ser utilizadas, no futuro, para a criação, não somente do pirarucu, mas de outras espécies de interesse da piscicultura brasileira.

De acordo com a pesquisa-dora, são muitos os desafios

que precisam ser superados para incrementar a produção do pirarucu na região, dentre eles, estão as exigências nu-tricionais, principalmente por ser um peixe carnívoro e de grande porte. “Em razão do hábito carnívoro, essa espé-cie requer altas concentra-ções de proteína na dieta, o que aumenta o investimento na produção, restringindo o

interesse, sobretudo, dos pe-quenos produtores”, disse.

AlevinosElizabeth alerta sobre a

falta da oferta de alevinos na região e que a pesquisa precisa avançar no sentido de fazer o produtor dominar a sua reprodução artificial. “O pirarucu, sem dúvida, é um peixe de grande aceitação no mercado regional, nacional e até internacional, portanto, o mercado não é o problema para esta espécie”, ressalta.

De acordo com a pesqui-sadora, a produção de pes-cado tem atualmente como principal mercado da Região Norte a cidade de Manaus, que importa pescado, princi-palmente a espécie tamba-qui, dos Estados de Roraima, Rondônia e Acre.

“Não produzimos o sufi-ciente para abastecer a cida-de, embora, o Amazonas seja o maior produtor desta espé-cie na região”, afirma Eliza-beth. Ela ressalta que para a criação do pirarucu, embora o Estado de Rondônia de-tenha a maior produção, os investimentos no Amazonas têm se intensificado e espe-ra-se o aumento da produção nos próximos anos.

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Amazonense não produz número de peixes suficiente para abastecer o mercado consumidor local

CONSUMOO amazonense está entre os maiores con-sumidores de peixe do mundo, com consumo per capita em torno de 33 kg por habitante em um ano. A média mundial é de 18 kg por habitante/ano

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Page 12: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

B4 Economia MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 B5

Banhado pelas águas do rio Negro e cer-cado pelos parques nacionais de Anavi-

lhanas e Jaú, o município de Novo Airão (a 198 quilômetros de Manaus) quer fazer valer o título de paraíso ecológico durante o período da Copa do Mundo. Para tanto prepara seus empresários e trabalha-dores a fi m de receber visitan-tes nacionais e estrangeiros.

Segundo a secretária muni-cipal de Turismo, Ana Cleide Araújo, por meio de convênios entre a Prefeitura Municipal e o governo federal, pessoas re-cebem capacitação e setores da gastronomia, serviços, ho-telaria e atendimento passam por ampliação.

Cleide informa que o Pro-grama Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pro-natec-Copa), desde 2013, capa-cita a população local por meio de cursos de idiomas. De acordo ela, no ano passado 105 alunos participaram do curso de inglês básico e de recepção.

A secretária afi rma que em maio deste ano mais 135 pes-soas concluirão o curso. Além do Pronatec-Copa, ela diz que a prefeitura trabalha com projeto

Cama e Café, que consiste na construção de pequenos chalés para abrigar os turistas em es-paços vagos de terrenos particu-lares, após acordo fi rmado com os proprietários. O projeto está em fase de implantação.

Segundo a secretária, o Cama e Café é uma alternativa en-contrada pela gestão local para que não falte leitos de hotéis nos demais períodos do ano. Segundo os últimos levanta-

mentos da prefeitura, a cidade conta com 20 empreendimentos de hospedagem entre hotéis de selva e pousadas instaladas na área urbana.

A pousada Bela Vista, locali-zada na avenida Presidente Ge-túlio Vargas, é uma das opções da rede hoteleira do município. Apesar de situada no centro da cidade, o local dá ao hospede

vista ao rio Negro, além de oferecer passeios de lancha aos pontos turísticos. Com 22 apar-tamentos que abrigam até oito pessoas, o valor das diárias varia de R$ 150 a R$ 400. Durante a copa os preços sofrerão.

Conforme a proprietária da pousada, empresária Meire Guimarães, 32, os clientes têm acesso à internet via sinal wi-fi , chuveiro elétrico, TV e café da manhã. Dentre os visitantes mais ilustres e frequentes, ela aponta o apresentador aven-tureiro Richard Rasmussen, ancora do programa “Aventura Selvagem” do SBT.

O “Zé da Pinga” bar e restau-rante, localizado na travessa José Bonifácio é uma alternativa acessível e deliciosa para quem pretende comer um bom peixe amazônico. Pratos que custam entre R$ 15 e R$ 45, são prepa-rados com iguarias fresquinhas com “muito carinho” por Fran-cisca Pereira, 47, que trabalha com o marido conhecido como o “Zé da Pinga”. O casal afi rma que durante a Copa instalará um telão no restaurante para proporcionar aos clientes e amigos a transmissão dos jo-gos. “Vai ser um momento de muita felicidade. Vamos reunir amigos e até mesmo os visi-tantes para a grande festa”, ressalta dona Francisca.

JOELMA MUNIZEspecial EM TEMPO

Depois de Iranduba e Rio Preto da Eva, o terceiro município visitado pelo EM TEMPO oferece um ecoturismo consolidado

ESTRADAPara chegar a Novo Airão, por estrada, primeiro é necessário atravessar a ponto Rio Negro e depois seguir 174 quilômetros pelas rodovias AM-070 e AM-352, passando por Iranduba e Manacapuru

Passar por Novo Airão e não conhecer o boto cor-de-rosa é quase um pecado. A interação com os animais, já acontece em outros empre-endimentos, mas é no fl utu-ante de dona Marilda e das fi lhas, que eles acontecem com mais intensidade.

Para tocar nos animais que são alimentados por Mariza de Almeida, 25, e suas irmãs é cobrado o valor de R$ 10. Por conta de norma do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-turais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi-

dade (ICMBio), os turistas devem acompanhar uma palestra de conscientização antes do contato.

O turista aventureiro tem como alternativa de rota eco-lógica uma visita às ruínas do Velho Airão, que segundo a lenda foi tomada por formi-gas de fogo que expulsaram seus habitantes. Para chegar a ela é preciso alugar uma canoa, no porto. Há toras de aventura ainda nas grutas de Madadá, na praia da Velha, no rio Carabinani, na cachoeira do igarapé Preto, e nas praias do Meio, Bararuara e Pirapiema.

Rotas no Novo e do Velho Airão

Dos poucos municípios amazonenses consolidados como parada obrigatória para quem vem ao Amazo-nas em busca de contato com as belezas naturais, Novo Airão tem como princi-pal atrativo o contato direto com botos cor-de-rosa, mui-to frequentes na orla do mu-nicípio, bem como no trajeto dos passeios aos corredores formados entre as mais de 400 ilhas do segundo maior arquipélago fl uvial do mun-do, o de Anavilhanas e do Parque Nacional do Jaú.

Com uma área maior que o Estado de Sergipe,

o parque nacional do Jaú, localizado após as ilhas de Anavilhanas é considerado pela Organização das Na-ções Unidas para a Edu-cação (Unesco) Patrimônio Natural da Humanidade.

Criado pelo decreto nº 85.200, da Presidência da República, em 24 de se-tembro de 1980, o par-que possui uma área de 2.367.33 hectares, sendo a quarta maior reserva fl o-restal do Brasil e o tercei-ro maior parque do mundo com fl oresta tropical úmi-da intacta, de acordo com dados governamentais.

Passeio ao Anavilhanas e Jaú

Hotéis oferecem aventuras por trilhas no meio da floresta

Lanchas levam turistas para visitas ao arquipélago do município

Principal atração turística, o con-tato com o boto cor-de-rosa na orla do município está sob fi scaliza-ção do instituto Chico Mendes

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Novo Airão pronto para os turistas

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B4 Economia MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 B5

Banhado pelas águas do rio Negro e cer-cado pelos parques nacionais de Anavi-

lhanas e Jaú, o município de Novo Airão (a 198 quilômetros de Manaus) quer fazer valer o título de paraíso ecológico durante o período da Copa do Mundo. Para tanto prepara seus empresários e trabalha-dores a fi m de receber visitan-tes nacionais e estrangeiros.

Segundo a secretária muni-cipal de Turismo, Ana Cleide Araújo, por meio de convênios entre a Prefeitura Municipal e o governo federal, pessoas re-cebem capacitação e setores da gastronomia, serviços, ho-telaria e atendimento passam por ampliação.

Cleide informa que o Pro-grama Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pro-natec-Copa), desde 2013, capa-cita a população local por meio de cursos de idiomas. De acordo ela, no ano passado 105 alunos participaram do curso de inglês básico e de recepção.

A secretária afi rma que em maio deste ano mais 135 pes-soas concluirão o curso. Além do Pronatec-Copa, ela diz que a prefeitura trabalha com projeto

Cama e Café, que consiste na construção de pequenos chalés para abrigar os turistas em es-paços vagos de terrenos particu-lares, após acordo fi rmado com os proprietários. O projeto está em fase de implantação.

Segundo a secretária, o Cama e Café é uma alternativa en-contrada pela gestão local para que não falte leitos de hotéis nos demais períodos do ano. Segundo os últimos levanta-

mentos da prefeitura, a cidade conta com 20 empreendimentos de hospedagem entre hotéis de selva e pousadas instaladas na área urbana.

A pousada Bela Vista, locali-zada na avenida Presidente Ge-túlio Vargas, é uma das opções da rede hoteleira do município. Apesar de situada no centro da cidade, o local dá ao hospede

vista ao rio Negro, além de oferecer passeios de lancha aos pontos turísticos. Com 22 apar-tamentos que abrigam até oito pessoas, o valor das diárias varia de R$ 150 a R$ 400. Durante a copa os preços sofrerão.

Conforme a proprietária da pousada, empresária Meire Guimarães, 32, os clientes têm acesso à internet via sinal wi-fi , chuveiro elétrico, TV e café da manhã. Dentre os visitantes mais ilustres e frequentes, ela aponta o apresentador aven-tureiro Richard Rasmussen, ancora do programa “Aventura Selvagem” do SBT.

O “Zé da Pinga” bar e restau-rante, localizado na travessa José Bonifácio é uma alternativa acessível e deliciosa para quem pretende comer um bom peixe amazônico. Pratos que custam entre R$ 15 e R$ 45, são prepa-rados com iguarias fresquinhas com “muito carinho” por Fran-cisca Pereira, 47, que trabalha com o marido conhecido como o “Zé da Pinga”. O casal afi rma que durante a Copa instalará um telão no restaurante para proporcionar aos clientes e amigos a transmissão dos jo-gos. “Vai ser um momento de muita felicidade. Vamos reunir amigos e até mesmo os visi-tantes para a grande festa”, ressalta dona Francisca.

JOELMA MUNIZEspecial EM TEMPO

Depois de Iranduba e Rio Preto da Eva, o terceiro município visitado pelo EM TEMPO oferece um ecoturismo consolidado

ESTRADAPara chegar a Novo Airão, por estrada, primeiro é necessário atravessar a ponto Rio Negro e depois seguir 174 quilômetros pelas rodovias AM-070 e AM-352, passando por Iranduba e Manacapuru

Passar por Novo Airão e não conhecer o boto cor-de-rosa é quase um pecado. A interação com os animais, já acontece em outros empre-endimentos, mas é no fl utu-ante de dona Marilda e das fi lhas, que eles acontecem com mais intensidade.

Para tocar nos animais que são alimentados por Mariza de Almeida, 25, e suas irmãs é cobrado o valor de R$ 10. Por conta de norma do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-turais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi-

dade (ICMBio), os turistas devem acompanhar uma palestra de conscientização antes do contato.

O turista aventureiro tem como alternativa de rota eco-lógica uma visita às ruínas do Velho Airão, que segundo a lenda foi tomada por formi-gas de fogo que expulsaram seus habitantes. Para chegar a ela é preciso alugar uma canoa, no porto. Há toras de aventura ainda nas grutas de Madadá, na praia da Velha, no rio Carabinani, na cachoeira do igarapé Preto, e nas praias do Meio, Bararuara e Pirapiema.

Rotas no Novo e do Velho Airão

Dos poucos municípios amazonenses consolidados como parada obrigatória para quem vem ao Amazo-nas em busca de contato com as belezas naturais, Novo Airão tem como princi-pal atrativo o contato direto com botos cor-de-rosa, mui-to frequentes na orla do mu-nicípio, bem como no trajeto dos passeios aos corredores formados entre as mais de 400 ilhas do segundo maior arquipélago fl uvial do mun-do, o de Anavilhanas e do Parque Nacional do Jaú.

Com uma área maior que o Estado de Sergipe,

o parque nacional do Jaú, localizado após as ilhas de Anavilhanas é considerado pela Organização das Na-ções Unidas para a Edu-cação (Unesco) Patrimônio Natural da Humanidade.

Criado pelo decreto nº 85.200, da Presidência da República, em 24 de se-tembro de 1980, o par-que possui uma área de 2.367.33 hectares, sendo a quarta maior reserva fl o-restal do Brasil e o tercei-ro maior parque do mundo com fl oresta tropical úmi-da intacta, de acordo com dados governamentais.

Passeio ao Anavilhanas e Jaú

Hotéis oferecem aventuras por trilhas no meio da floresta

Lanchas levam turistas para visitas ao arquipélago do município

Principal atração turística, o con-tato com o boto cor-de-rosa na orla do município está sob fi scaliza-ção do instituto Chico Mendes

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B6 País MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

Ribeirinhosà procura de água

A comunidade de São Francisco espera ser bene-fi ciada por um sistema de bombeamento de água por energia solar que já chegou a outras 15 comunidades da região. Os sistemas foram instalados pelo Instituto Mamirauá entre 2010 e 2013. “Desenvolvemos essa tecnologia depois de ver o quanto o acesso à água pode melhorar a qualidade de vida dos ribeirinhos”, explicou a pesquisadora Dávila Correa. O primeiro protótipo dessa tecnologia foi apresentado em 2000. “O banho nos rios passou a ser feito com maior intimidade, dentro ou nas redondezas das casas. Isso, além de reduzir o número de acidentes, causou impacto signifi cativamente positivo nas áreas sociais. Quando o sistema é implementado, as atividades domésticas fei-tas na beira do rio passam para a casa, diminuindo o es-tresse em toda a comunida-de. Sobretudo em mulheres e crianças”, acrescentou.

O sistema desenvolvido pelo instituto venceu, em 2012, o projeto Finep de Ino-vação na categoria Tecno-logia Social. Como diminui o consumo de óleo diesel, o equipamento é ambiental-mente indicado por evitar emissões de gases para a

atmosfera. “Ele também apresenta resultados posi-tivos para a saúde da popu-lação”, explicou Dávila.

Benefi ciadosFoi o que constatou a

agente de Saúde Comuni-tária Ivone Brasil Carvalho, 28 anos, da comunidade Vila Alencar, uma das 15 benefi ciadas pelo sistema. “O sistema ajudou muito. As mães sofriam porque na seca o rio fi ca bem longe. Agora, a gente tem água em terra todos os dias. Diminuiu também, tanto em adultos quanto em crianças, a inci-dência de doenças como gri-pe, tosse e diarreia porque a água chega pré-fi ltrada nas casas”, disse a agente de saúde.

A comunidade já fazia coleta de água de chuva, com calhas e tanques for-necidos pelo programa Pró-Chuva. “Mas, agora temos fartura de água, a ponto de alguns tanques virarem piscina para as crianças”, disse ela ao mostrar Wisle Santos Castro, de 15 anos, que brincava com uma cuia em uma caixa d’água. “As famílias nunca imaginavam poder, um dia, tomar banho em casa”, acrescentou a ri-beirinha Ednelza Martins da Silva, 42 anos.

Tecnologia que vem do céu

Viver na maior bacia hi-drográfi ca do planeta não garante aos ribei-rinhos da Amazônia o

acesso à água. Fazer com que esse bem chegue às casas, especialmente no período de seca, quando aumenta a dis-tância até o rio, requer força nos braços, para carregar as latas, ou dinheiro para bancar o diesel usado nos motores que bombeiam a água para as caixas comunitárias. Ape-sar da proximidade com os rios, muitos ribeirinhos têm a qualidade de vida prejudicada devido à difi culdade de levar, a seus lares, esse recurso na-tural tão necessário para os afazeres domésticos, para a saúde e para a higiene.

Dependendo do período, a distância até o rio pode ser de quase 1 quilômetro, relatou à Agência Brasil a integrante do Grupo de Pesquisa das Populações Ribeirinhas do Instituto Mamirauá Dávila Correa. “E como a água é usada principalmente para tarefas domésticas, geral-mente quem a carrega são as mulheres”, acrescentou a socióloga e pesquisadora.

Riscos à vistaA difi culdade em levar água

até as casas faz com que muitos optem por se banhar nos rios da região. Mas isso pode implicar riscos, princi-palmente para as crianças. “Banho aqui é sempre no rio. Se for durante o dia, é de roupa. À noite, pelado”, disse Tânia Maria de Sales, 34 anos. “Meu medo são os bichos. Têm muitas cobras, jacarés e piranhas por aqui”, acrescentou a ribeirinha que já perdeu três sobrinhos por afogamento, na comunidade Nossa Senhora da Aparecida – localizada no lago Catalão, a cerca de uma hora de barco de Manaus.

Quem opta pelos motores a diesel para bombear água até as caixas comunitárias arca também com os custos elevados. “O problema é que o diesel por aqui é muito caro”, disse o presidente da comunidade São Francisco, Raimundo Ribeiro da Silva, 49 anos. “Esse preço difi cul-ta as coisas. O gerador fi ca desligado porque temos de economizar combustível. Em média, são sete litros por dia para fazê-lo funcionar das

18h às 22h.

A proximidade com os rios não signifi ca que muitos ribeirinhos tenham acesso à água: tão necessária para a saúde e higiene

Outra comunidade be-neficiada pelo sistema de bombeamento de água por energia solar foi Boca do Mamirauá, onde vive a guia comunitária Francil-vânia Martins de Oliveira, 24 anos.

“Melhorou muito nossa situação durante a seca. Antes, tínhamos de descer para lavar a roupa ou pe-gar água, correndo sempre o risco de esbarrar com

bichos. Agora tem até má-quina de lavar roupa aqui na comunidade.”

QualidadeEm 2013, o Instituto

Mamirauá fez um moni-toramento da qualidade da água nas 15 comunidades beneficiadas pelo sistema. “Ainda falta concluir a úl-tima comunidade, mas a adoção do sistema cer-tamente implica benefí-

cios nas áreas de saúde”, disse Dávila Correa, re-ferindo-se ao estudo que está analisando a água dos rios, das caixas d’água, das torneiras e dos recipientes que guardam a água nas comunidades atendidas.

GastosO custo de instalação

dos 15 sistemas chegou a R$ 400 mil, valor que inclui os gastos com assistência

técnica. “Nós (do Instituto Mamirauá) temos o com-promisso de instalar, a cada ano, dois sistemas nas comunidades”, infor-mou a integrante do Grupo de Pesquisa das Popula-ções Ribeirinhas.

Por 11 dias, no mês de fevereiro, a equipe de re-portagem da Agência Bra-sil viajou pela Amazônia para conhecer o dia a dia dessas comunidades.

Na seca, somente o sol ajuda a sobreviver

Menina ribeirinha caminha até um dos vários rios da Ama-zônia em busca de água para a sobrevi-vência da família

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tecnologia depois de ver o quanto o acesso à água pode melhorar a qualidade de vida dos ribeirinhos”, explicou a pesquisadora Dávila Correa. O primeiro protótipo dessa tecnologia foi apresentado em 2000. “O banho nos rios passou a ser feito com maior intimidade, dentro ou nas redondezas das casas. Isso, além de reduzir o número de acidentes, causou impacto signifi cativamente positivo nas áreas sociais. Quando o sistema é implementado, as atividades domésticas fei-tas na beira do rio passam para a casa, diminuindo o es-tresse em toda a comunida-de. Sobretudo em mulheres e crianças”, acrescentou.

O sistema desenvolvido pelo instituto venceu, em 2012, o projeto Finep de Ino-vação na categoria Tecno-logia Social. Como diminui o consumo de óleo diesel, o equipamento é ambiental-mente indicado por evitar emissões de gases para a

especialmente no período de seca, quando aumenta a dis-tância até o rio, requer força nos braços, para carregar as latas, ou dinheiro para bancar o diesel usado nos motores que bombeiam a água para as caixas comunitárias. Ape-sar da proximidade com os rios, muitos ribeirinhos têm a qualidade de vida prejudicada devido à difi culdade de levar, a seus lares, esse recurso na-tural tão necessário para os afazeres domésticos, para a saúde e para a higiene.

Dependendo do período, a distância até o rio pode ser de quase 1 quilômetro, relatou à Agência Brasil a integrante do Grupo de Pesquisa das Populações Ribeirinhas do Instituto Mamirauá Dávila Correa. “E como a água é usada principalmente para tarefas domésticas, geral-mente quem a carrega são as mulheres”, acrescentou a socióloga e pesquisadora.

palmente para as crianças. “Banho aqui é sempre no rio. Se for durante o dia, é de roupa. À noite, pelado”, disse Tânia Maria de Sales, 34 anos. “Meu medo são os bichos. Têm muitas cobras, jacarés e piranhas por aqui”, acrescentou a ribeirinha que já perdeu três sobrinhos por afogamento, na comunidade Nossa Senhora da Aparecida – localizada no lago Catalão, a cerca de uma hora de barco de Manaus.

Quem opta pelos motores a diesel para bombear água até as caixas comunitárias arca também com os custos elevados. “O problema é que o diesel por aqui é muito caro”, disse o presidente da comunidade São Francisco, Raimundo Ribeiro da Silva, 49 anos. “Esse preço difi cul-ta as coisas. O gerador fi ca desligado porque temos de economizar combustível. Em média, são sete litros por dia para fazê-lo funcionar das

18h às 22h.

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B7MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 País

Para o Supremo Tribunal Federal, os pacientes do SUS terão a opção de contratar acomodações e profissionais a seu critério

Pacientes poderão escolher leitos e profissionais no SUS

Estão abertas até a pró-xima terça-feira (22) as inscrições para a audiência pública que

vai discutir a chamada “di-ferença de classe” nas in-ternações do Sistema Único de Saúde (SUS). O debate, marcado pelo Supremo Tribu-nal Federal (STF) para o final de maio, vai ouvir a opinião de especialistas, poder públi-co e sociedade civil sobre a possibilidade de melhoria na acomodação e de contratação de um profissional conforme escolha do paciente.

A audiência foi convocada para que os ministros do Su-premo ouçam diferentes pontos de vista e possam julgar o Re-curso Extraordinário 581488, que trata do tema. De acordo com o STF, cada pessoa deverá defender seu ponto de vista durante 15 minutos.

O STF deve analisar o recur-so proposto pelo Conselho Re-gional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul, por meio do qual contesta a decisão da Justiça Federal da 4ª Região de não restabelecer a prática, proibida desde 1991. Para o tribunal, a “diferença de classe” é improcedente pois trata de forma diferente os

pacientes dentro de um sis-tema como o SUS, que prevê acesso universal e igualitário aos serviços de saúde.

RepercussãoEm 2012, os ministros do STF

deliberaram que o julgamento terá repercussão geral, o que significa que a decisão que for tomada neste caso será aplica-

da em situações idênticas pelas instâncias inferiores.

O recurso tramita no STF desde 2008 depois que uma ação civil pública foi movida pelo conselho de medicina gaú-cho contra a cidade de Canela (RS), para que o município, enquanto gestor municipal do SUS, fosse obrigado a permitir a “diferença de classe”. Pacientes terão a livre escolha de leito e profissional de sua preferência para atendimento no SUS

DIVULGAÇÃO

OPINIÃOO debate, marcado pelo STF para o final de maio, vai ouvir a opinião de especialistas, poder público e sociedade civil sobre a possibilidade de melhoria na acomodação e de contratação no Sis-tema Único de Saúde

A audiência será rea-lizada em um único dia (26), e cada expositor terá 15 minutos para sustentar seu ponto de vista, sendo facultada aos participantes a jun-tada de memoriais.

Os interessados, os entes estatais e as enti-dades da sociedade civil poderão manifestar seu desejo de participar da audiência e indicar ex-positor até o dia 22/4, exclusivamente pelo endereço eletrônico [email protected]. Para tanto, deve-rão explicitar os pontos que pretendem defen-der e indicar o nome de seus representantes. A relação dos inscritos es-tará disponível no por-tal eletrônico do STF a partir do dia 28.

Resultado da audiência sai no dia 28

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B8 Mundo MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

Vida secreta do ex-presidente Bill Clinton se torna pública

Os Arquivos Nacionais dos Estados Unidos tornarão pú-blicas nesta sexta-feira 7,5 mil páginas de documentos da administração Bill Clinton. Os registros cobrem uma ampla gama de assuntos, incluindo a participação da primeira-dama Hillary Clinton na re-forma do sistema de saúde, o atentado à bomba em 1995 em Oklahoma City e as rela-ções tumultuadas com Ruan-da, Irã e Oriente Médio.

Outros temas incluem do-cumentos de escritores de discursos presidenciais, reu-niões e ligações telefônicas entre o presidente e seu con-selheiro Stan Greenberg, e registros relacionados com o ex-presidente Richard Nixon, o diretor de cinema Steven Spielberg e a apresentadora de televisão Oprah Winfrey.

Documentos divulgados desde fevereiro deste ano

já mostraram detalhes so-bre o fracassado plano de reforma no sistema de saú-de e a vitória do Partido

Republicano nas eleições de meio de mandato de 1994. Os novos papéis revelados nesta sexta-feira devem ser analisados de perto, já que Hillary é uma possível can-didata nas eleições presi-denciais de 2016.

ARQUIVOS

Presidente se mostra cauteloso sobre o sucesso do pacto e diz que seu país tem preparadas novas sanções caso Moscou recue

Obama: Rússia pode romper acordo firmado em Genebra

O presidente dos Esta-dos Unidos, Barack Obama, mostrou-se cauteloso diante

das possibilidades de suces-so do acordo para tratar de apaziguar a crise na Ucrânia alcançado horas antes em Ge-nebra entre os ministrões de Relações Exteriores da Rússia, Ucrânia, a União Europeia e seu próprio país. O mandatário defendeu a via diplomática como a única solução viável para resolver o conflito, mas advertiu que Washington tem preparado um novo pacote de sanções para o caso de Moscou não cumprir com a sua parte do pacto.

“A esta altura não pode-mos estar seguros de nada”, reconheceu Obama quando perguntado sobre suas ex-pectativas de que a Rússia cumpra com sua parte no de-sarmamento das milícias pró-russas que tomaram várias instalações públicas nas prin-cipais cidades da zona oriental ucraniana. “O que existe é a perspectiva de que a diploma-cia possa reduzir a tensão e que possamos avançar ao que foi sempre nosso objetivo, que é permitir que os ucranianos possam decidir sobre suas

próprias vidas por si mesmos”. O presidente falou sobre o pacto de Genebra aproveitan-do uma inesperada coletiva de imprensa que ofereceu para engrandecer o sucesso de sua reforma sanitária.

Sem vislumbreObama reduziu qualquer

vislumbre de otimismo sobre o futuro desse acordo. “Va-mos esperar, mas dado seu comportamento passado não acho que possamos contar com isso”, assinalou.

Os EUA chegaram à reunião das quatro nações de Genebra com escassas expectativas de sucesso, no entanto, o acordo alcançado depois de mais de cinco horas de reunião – que passa pelo desarmamento dos ativistas pró-russos e a anistia por parte da Ucrânia para os que mudarem de posição - per-mitiu a Washington reafirmar sua aposta em uma solução diplomática para esse país e para a Rússia não ficar isolada como a única potência envol-vida no conflito que foge do diálogo e, sobretudo, atrasar a imposição de novas sanções por parte do Ocidente que, até na quinta-feira (17), parecia um fato inevitável. Obama não está tão confiante que a Rússia vá cumprir acordo de retirada de tropas da Ucrânia

AFP

Capitão de navio naufragado foi preso pela polícia coreana

O capitão Lee Joon-seok, 69, que comandava a barca Sewol, naufrada na última quarta-feira (16), na costa leste da Coreia do Sul, foi preso on-tem, atendendo a um pedido emitido pela Justiça do país. Outros dois membros da tripu-lação também estão detidos, segundo relatam as agências internacionais de notícias. A informação é de que Lee Joon foi um dos primeiros a deixar o navio, após o acidente, que deixou, até agora, 29 mortos e 268 desaparecidos.

Enquanto as equipes de bus-cas não encontram sobreviven-tes, a investigação avança. Um suboficial, e não Lee, pilotava a embarcação no momento da tragédia. Muito criticado pe-las famílias dos desaparecidos por abandonar a embarcação quando centenas de passa-geiros ainda estavam presos, o capitão estava na na popa no momento do acidente. O capitão enfrenta cinco acu-

sações, incluindo negligência do dever e violação do direito marítimo - pelo abandono do navio. Os mandados de prisão emitidos contra Lee, o oficial no comando e outro membro da tripulação argumentavam que eles não cumpriam a obrigação de ajudar os passageiros.

TragédiaA tragédia, que revoltou mi-

lhares de parentes de desapa-recidos e chocou o mundo, teve um capítulo marcante nesta sexta-feira. O vice-diretor do colégio sul-coreano que acom-panhou centenas de alunos na balsa, cometeu suicídio. Em carta, Kang Min-gyu afirmou que não poderia “continuar vivendo sem saber se meus alunos estão vivos ou não”.

A balsa, que transportava 477 passageiros e tripulantes, naufragou na quarta-feira du-rante uma viagem do porto de Incheon à ilha de veraneio de Jeju, no sul do país.

29 MORTOS

Obama, não obstante, considera a possiblidade de recorrer as sanções, advertindo a Rússia que os EUA já têm pronto um novo pacote caso se confirme, como diz temer, que Moscou não cumpre com sua parte do trato. “A questão é se vai empregar sua influência para seguir desestabilizando, como fez até agora, ou para restaurar a ordem para que os ucranianos possam celebrar suas eleições”, comentou o presidente. “Vamos demorar alguns dias para comprovar se cumprem a sua palavra”.

Os EUA coordenaram com seus sócios europeus a extensão das multas in-dividuais sobre oligarcas alinhados ao presidente russo, Vladimir Putin, e entidades bancárias.

‘Pacote na manga’ para frear russos

DIVULGAÇÃO

Arquivos de Clinton falam da participação da mulher, Hillary

REGISTROSOs registros cobrem uma ampla gama de assuntos, incluindo a participação da primei-ra-dama Hillary Clinton na reforma do sistema de saúde e o atentado à bomba em 1995 em Oklahoma City

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Dia a diaCade

rno

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[email protected], DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 (92) 3090-1041

Conheça as orquídeas de chocolate

Páginas C4 e C5

IONE MORENO

Novos rumos para a saúdeCom estimativa de investimentos de R$ 330 milhões, capital e interior do Amazonas devem ganhar este ano mais reforço na rede pública de saúde. Estado é apontado como o quarto do país em aplicação de recursos no setor

ALEX PAZUELLO/AGECOM

De acordo com Pesqui-sa de Informações Básicas Estaduais (Estadic) promovi-

da pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), o Amazonas tem se destacado como um dos Es-tados que mais investe em Saúde. Ele fi cou em quarto lugar, com 15,4% da par-cela do orçamento aplicado em saúde, atrás somente de Tocantins, com 16,9%; Mi-nas Gerais, com 16,3%; e Pernambuco, com 16,2%.

Em quinta posição fi cou a Bahia, com 14,7%; em 23ª o Pará, com 9,1%; em 24ª o Para-ná, com 9%; e em 26ª o Rio de Janeiro, com 7,2%. “O Amazo-nas tem sido identifi cado como um dos Estados que, embora tendo problemas, vem ofere-cendo melhores condições para atendimento na área de saúde nos níveis na média e alta com-plexidade. Esses investimentos vem reforçar em infraestrutura e equipamento para que se pos-sa fazer melhor atendimento e prestar melhor serviço para população”, analisou o titular da Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas (Susam), Wilson Alecrim.

Ele apontou que mais de R$ 330 milhões são estima-dos para serem investidos na compra de equipamentos e estruturação de hospitais e prontossocorros pela Susam, somente neste ano. Do mon-tante, R$ 82 milhões serão des-tinados para o interior e R$ 250 milhões para a capital.

Até junho, serão inaugura-dos três novos hospitais nos municípios de Japurá, Pauini e Envira. Além da entrega dos hospitais, a Susam tem investido na compra de equi-pamentos. A previsão é de que até junho seja entregue o primeiro tomógrafo público

no município de Itacoatiara (a 234 quilômetros da capi-tal). “Mantendo em Itacoa-tiara atendemos a todos os municípios adjacentes, como Silves, Itapiranga e Urucará”, disse o secretário.

Além do tomógrafo, haverá a instalação de mamógrafos em todos os 61 municípios. Destes, 15 já estão em funcionamento e 46 em fase de instalação. “Con-sideramos este o grande avan-ço na saúde no interior, porque evita deslocamento de pessoas para a capital e evita inúmeros inconvenientes”, apontou.

Nos últimos três anos, fo-ram inaugurados 10 hospi-tais nos municípios de São

Paulo de Olivença, Tabatinga, Humaitá e Silves.

O investimento em 92 am-bulâncias e 46 ambulanchas, no início de 2014, tem auxi-liado na execução do projeto de regionalização do Serviço de Atendimento Móvel de Ur-gência (Samu), uma iniciativa dos governos estadual e federal com as prefeituras.

Pela primeira vez o Samu, que só existia em Manaus, passou a funcionar em nove municípios da região do Alto Solimões e em seis da região metropolitana. “Isto vai possibilitar que pacien-tes com quadro grave, tanto das áreas urbanas e ribeirinhas, por meio das ambulanchas, che-

guem mais rapidamente aos hospitais para atendimento. Os investimentos para interior, em equipamentos, hospitais novos e reformas para o ano de 2014, estão estimados em R$ 82 mi-lhões”, afi rmou.

Já em Manaus, a expectativa é que ainda neste primeiro se-mestre seja entregue a Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI) na Fundação de Medicina Tropical (FMT), no bairro Dom Pedro, Zona Centro-Oeste.

Também estão na fase de conclusão a Unidade Básica de Saúde (UBS) no residen-cial Viver Melhor, no bairro Santa Etelvina, Zona Norte, o hospital Geraldo da Rocha, no Aleixo, Zona Centro-Sul, e uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na Cidade Nova, Zona Norte.

A previsão é que em junho seja inaugurado o pronto-socorro da Zona Norte e em julho de 2015, o hospital. Também esta sendo iniciada a construção do hospi-tal com 146 leitos da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), na avenida Constantino Nery.

No primeiro trimestre de 2014, em Manaus, foi inaugu-rada a expansão do hospital Francisca Mendes, no bairro da Cidade Nova, Zona Norte, o Serviço Residencial Tera-pêutico Lar Rosa Blaya, na Santa Etelvina, Zona Norte - para onde foram transferi-dos os pacientes que viviam no antigo Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro -, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no bairro Campos Salles, Zona Oeste e o Centro de Reabilita-ção em Dependência Química Ismael Abdel Aziz, que fi ca no quilômetro 53 da rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara). A inauguração do centro de re-abilitação foi realizada dia 28 de março de 2014.

METAWilson Alecrim apontou que mais de R$ 330 milhões são estimados para serem investidos na compra de equipa-mentos e estruturação de hospitais e prontos-socorros pela Susam, somente neste ano

Prestam serviço à rede estadual de saúde, em Ma-naus 1,6 mil médicos, com contrato direto, e mais de 2 mil ligados a coopera-tivas. No interior, são mil médicos, já inclusos os 451 profi ssionais vinculados ao programa federal Mais Médicos, que chegaram no Amazonas nos últimos oito meses. “No interior há ne-cessidade de 2 mil, temos défi cit de 50%. Na capital, apesar de estar melhor que no interior, não temos pe-diatras, anestesistas, uro-logista e neurologista em quantidade sufi ciente. Nós ainda não temos médicos e especialistas em quanti-dade sufi ciente para ocupar todos os postos”, afi rmou o secretário Alecrim.

O fato se deve, segundo o secretário, principalmente pela defi ciência na forma-ção de profi ssionais médi-cos. “Temos somente três faculdades de medicina no Estado, sendo duas públi-

cas e uma privada. Temos mais de 10 faculdades de Direito e sete de enferma-gem. Não temos proble-mas com enfermeiros. É preciso que as faculdades formem médicos e espe-cialistas em quantidade sufi cientes”, refl etiu.

DenúnciasO secretário rebateu

também as denúncias da demora de atendimento e ausência de médicos para responder a demanda, nos prontos-socorros da capital Aristóteles Platão Bezerra de Araújo, no bairro Jorge Teixeira, e João Lúcio, no São José, ambos na Zona Leste, publicadas pelo EM TEMPO na última semana. “A defi ciência em médicos não é a causa principal do tempo maior de espera para paciente na urgência e emergência. Os prontos-socorros João Lúcio, 28 de Agosto e Platão Araújo são de alta complexidade, feitos

para atender pacientes em estado grave e, geralmente, 40% das pessoas que bus-cam atendimento não se enquadram nesse estado, estão com dor de cabe-ça, febre ou gripados. Esse público poderia ser melhor atendido nas UBSs, ou nos Serviços de Pronto Atendi-mento (SPAs) e acabam to-mando a vaga de pacientes graves”, explicou.

Pacientes com doenças crônicas, como diabetes e pressão alta, também de-veriam buscar o tratamen-to continuado nas unidades básicas de saúde. “Não indo ou não tendo oferta da UBS, vai chegar o momento em que essa pessoa vai ter que ir ao pronto-socorro. E, acaba atrapalhando a as-sistência. Esperamos que com o plano de reestrutu-ração da atenção básica, onde 40 unidades básicas estão em reforma e cons-trução, permita organizar o atendimento”, desejou.

Profissionais na rede pública

Procedimento no hospital Francisca Mendes: problemas estão na formação dos profi ssionais

NONATO DUARTE/AGECOM

Segundo o secretário Wilson Alecrim, o Amazonas tem sido identifi cado como um dos Estados que, embora com problemas, oferece melhores condições para atendimento na área de saúde

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C2 Dia a dia MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

A saúde indígena pede socorroPara o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena do Alto Purus, Sebastião Haji Manchinery, problemas no segmento podem ser resolvidos, desde que haja observação a diversos aspectos que dificultam entendimento com partes envolvidas

Sebastião Haji Manchinery, do Alto Purus: investimentos atuais seriam suficientes para custear a atenção básica à saúde indígena no país, caso fossem administrados de modo diferente

A relação, por vezes tensa, entre grupos indígenas e gestores da área da saúde é

notória. Com frequência assis-timos a ocupações de prédios públicos, protestos que pedem pela troca da administração e descontentamento princi-palmente quanto à forma de aplicação dos recursos.

Um montante de um R$ 1,93 bilhão é repassado pelo governo federal e dividido en-tre os 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) anualmente. O investimento seria suficiente para custear a atenção básica, para o presi-dente do Conselho Distrital de Saúde Indígena do Alto Purus, Sebastião Haji Manchinery, 44, caso fosse administrado da maneira diferente.

“O montante em si daria para fazer um bom trabalho, mas como está sendo investido é que não permite. Por exemplo, nós pagarmos R$ 10 milhões para aluguel de carro, não é um bom negócio. Em longo prazo não é a melhor forma. A melhor

forma é que se tenha investi-mento a longo, curto e médio prazo. A curto você resolve o problema agora, a médio se estabelece plano de ação que vá contemplar os recursos humanos, estrutura financeira, por exemplo. E, a longo prazo, é que seja transformado em política, que as pessoas sai-bam para onde ir, que tenham um posto de saúde na aldeia, que quando vão à cidade ou para o município, mas que saibam que vão ser tratadas e o que será feito. No momento a gente não sabe, mandamos um paciente para tratamento e não sabemos o vai acontecer com ele”, afirmou o indígena que esteve em Manaus, na última semana, para participar do 2º Congresso de Secreta-rias Municipais de Saúde das Regiões Norte e Nordeste.

Da etnia dos manchineri, concentrada no município de Assis Brasil, no Acre, Sebastião - que também foi representan-te da Coordenação das Organi-zações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) de 1994 a 1996 e, por 4 anos, esteve à frente da Coordenação das Or-ganizações Indígenas da Bacia

Amazônica (Coica) - apontou semelhanças nas dificuldades sofridas pelos indígenas do Amazonas, Acre e de outros Estados brasileiros, que tota-lizam uma população de 817 mil, segundo dados do Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar de todo o investi-mento, a morte de indígenas acometidos de malária ou he-patite é um dado presente na realidade brasileira, segundo Manchinery. “Isto é verdadeiro: uma quantidade grande morre por malária”, afirmou.

O presidente explicou que doenças como gripe, febre e as que acometem o estômago e o intestino, assim como as doenças de pele, também são recorrentes. “Sempre temos muitos problemas intestinais. Diria que é em função tanto da alimentação e da bebida. Nos homens, a questão do alcoolismo é forte, mas tem também o abuso de açúcar e sal, que é situação bas-tante prejudicial à saúde. A maioria dos povos indígenas tem problema crônico, per-manente, desde dentário até de pele”, explicou.

Além disso, de acordo Man-chinery, há certa dificuldade em conter o contágio de do-enças sexualmente transmis-síveis e Aids. “Temos casos de DSTs, que é uma ameaça grande. Muitos povos não estão preparados para isso que, acontecendo em uma família, gera muitos prejuí-zos”, pontuou.

Para ele, a ausência da con-tinuidade e conclusão dos tra-tamentos é o que mais afeta a saúde indígena e pode levar à morte prematura. “Às vezes eles são até diagnosticados com antecedência, mas não se conclui o tratamento, e a doença ressurge até matar. Às vezes não temos um atendi-mento apropriado para trata-mento, os próprios pacientes também não tem muita preo-cupação em fazer dietas e, se não tem orientação, não vão fazer. A medicação não chega no momento certo e agrava a situação”, explicou.

A dificuldade em cumprir longos tratamentos também interfere na cura das doenças que acometem os indígenas aldeados. “Se o médico me manda tomar por 60 dias, de seis em seis horas o medica-

mento, às vezes ocorre de me esquecer ou passar do horá-rio. Imagina uma pessoa que está pescando, caçando ou no roçado. Muitos também são pessoas de pouca leitura, que não entendem as explicações

dos médicos”, ressaltou. No caso das DST/Aids, a

prevenção com o uso de pre-servativo ainda é um tabu para parte da população. “Até existe orientação (em usar preservativo), mas de fato não existe costume, as pessoas não se apegam a isso. Não veem o uso do preservativo como preocupação para evi-tar a doença. Enquanto isso não é assimilado pelo povo, é difícil terem isso como meio de prevenção”, alertou.

A convivência direta com animais domésticos, ou não, sem as condições adequadas de higiene também propor-ciona algumas enfermidades. “A maioria dos povos indíge-nas cria cachorro, gato, porco, galinha. Existe muita mistura e não há orientação. Quando os animais adoecem há o risco de transmitir para o homem. Em função disso, tem aumentado doenças de pele e respiratórias”, apontou.

DSTs são as grandes ameaçasIVE RYLOEquipe EM TEMPO

PROBLEMAApesar de todo o investimento, a morte de indígenas acome-tidos de malária ou hepatite é um dado presente na realidade brasileira, segundo Sebastião Haji Man-chinery

Indígenas na última ocupação da sede da Funai, em Adrianópolis: relação tensa com gestores

FOTOS: IONE MORENO

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C3Dia a diaMANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

A saúde indígena pede socorroPara Sebastião, há qua-

tro grandes pontos que dificultam a promoção de um sistema de saúde de qualidade às populações indígenas. O primeiro diz respeito a contratempos em remover um paciente da aldeia para o município mais próximo ou para a ca-pital. “Este processo é caro, é desgastante, demorado e cria uma desestabilidade econômica nas famílias do paciente”, afirmou.

O segundo ponto tem a ver com a relação de ins-tabilidade entre a gestão e os povos indígenas. “A ges-tão entende que, por estar amparada pela lei, ela faz, impõe, manda e desman-da no que quer. Findamos questionando e quando isso acontece, as pessoas se sentem ofendidas e não entendem que queremos a melhoria para saúde indí-gena”, apontou.

A desarmonia entre as três esferas governamen-tais e a escolha de pessoas para os cargos de direção, que algumas vezes estão alheias às necessidades das

etnias, também foi questio-nada por Manchinery. “Em alguns casos, a gestão finda colocando pessoas que não têm conhecimento nem afi-nidade, e isso cria problema e tem acontecido em todos os distritos. Não existe muito a questão da transparên-cia, da confiabilidade. Co-nhecemos muita gente que está ali porque o salário é alto. Então virou um meio de vida”, denunciou.

Além disso, outro fator que tem retardado um maior avanço na saúde é não aten-tar às especificidades, dife-renças culturais e crenças de cada etnia, para Manchinery. “Quando nós mergulhamos nessas diferenças e especi-ficidades, nós esbarramos na lei e na vontade política. Se nos esbarramos na lei, não temos como adquirir maiores condições para exercer essa saúde especial. Se esbarramos na vonta-de política, nós não temos condições de implementar as demandas específicas que tem cada povo, cada região. Essa forma precisa ser revista”, ressaltou.

Uma série de contratempos

Para ele, o lapso não está na lei, mas na au-sência de uma gestão e planejamento que contemple as neces-sidades de cada povo. Sebastião se lembrou do caso da etnia maderrá conhecida como culina – habitantes de parte dos territórios do Ama-zonas e do Acre –que acreditam que a doença pode se manifestar em uma pessoa, caso ela tenha sido vítima de al-gum feitiço. “Esta é uma especificidade bem mar-cante, atual e presente, e nem sempre nós, que não conhecemos a rea-lidade deles, vamos en-tender. Esses merecem tratamento específico”, argumentou.

Apesar das contrarie-dades, Sebastião acre-dita que há como mudar este atual panorama, se for concedida mais voz aos próprios indígenas.

Falta de gestão e planejamento

O que também dificulta o atendimento aos indígenas é a não observação das diferenças culturais

JOEL ROSA/ARQUIVO EM TEMPO

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C4 Dia a dia MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 C5

O chocolate que vem das floresEspécie de orquídea que exala odor de chocolate faz sucesso no Jardim Botânico do Museu Vivo da Amazônia

As delícias da Páscoa geralmente são feitas de chocolate e uma boa parte da preo-

cupação do consumo desses doces está nas calorias in-geridas. A flora amazônica é tão maravilhosa que pre-senteia o homem com uma espécie de orquídea que pode saciar um pouco a necessi-dade dos chocólatras, pois ela exala um forte aroma do doce tão desejado.

Com o nome científico de braemia vittata, mas vulgar-mente conhecida como orquí-dea de chocolate, a espécie é natural da região, mas pode ser encontrada em diversas áreas do Brasil, mas esses exemplares que são mais encontrados no sul do país surgiram com a mistura em laboratório de outras duas espécies conhecidas como oncidium jamie sutoch e a oncidium honolulu.

No sul do país, neste período, as pessoas tem o costume de presentear o próximo com uma orquídea de chocolate em lugar dos tradicionais ovos de Páscoa. A diferença da orquí-

dea de aroma de chocolate fei-ta em laboratório, cujo nome de batismo é oncidium cherry baby, está no tamanho das flores, que são maiores do que as produzidas pela orquídea de chocolate da Amazônia.

A espécie de orquídea brae-mia vittata pode ser encontra-da no patrimônio do Jardim

Botânico do Museu Vivo da Amazônia (Musa), localizado na borda da reserva florestal Ducke, bairro Cidade de Deus, Zona Leste de Manaus.

A espécie, que tem o regis-tro JB-x 1247, foi recolhida em média após um ano e meio e tem acolhido diversos curiosos que atravessam o país para conhecer e sentir o famoso cheiro de chocolate

da orquídea.O tom de vinho na flor tam-

bém se diferencia das demais espécies fabricadas em labo-ratório, que oferecem mais duas cores como o branco e o amarelo. A braemia vittata brota todo o ano e é res-ponsável pelo aroma doce e colabora para o encanto dos seus visitantes.

A espécie que vive no Jardim Botânico recebe um cuidado especial por parte da estudan-te de biologia e pesquisado-ra Pollyana Menezes Marcião, que conhece bem os detalhes das 400 espécies de orquídea, que estão no jardim.

A orquídea de chocolate, como as demais espécies, é recolhida depois que cai do seu habitat natural. Para evitar que a planta morra, os biólogos que trabalham, pesquisam e estu-dam na reserva, a recolhem e a levam para o jardim.

No local, a espécie passa por um cadastro que também é repassado para o Instituto Nacional de Pesquisa da Ama-zônia (Inpa). Esse cadastro também facilita para que os demais pesquisadores pos-sam saber que os exemplares da espécie estão expostos no Jardim Botânico.

ISABELLE VALOIS Equipe EM TEMPO

EXCLUSIVACom o nome científico de braemia vittata, mas vulgarmente conheci-da como orquídea de chocolate, a espécie é natural da região, mas pode ser encontrada de forma híbrida em diver-sas áreas do Brasil

A braemia vittata, que exala odor de chocolate, é uma espécie ainda pouco conhecida na região

A pesquisadora afirma que a espécie amazônica não é encontrada em outro lugar. Até mesmo os colecionado-res de orquídea ainda não possuem a braemia vittata, mas virou o xodó de todos que sempre a visitam.

Infelizmente pouco ainda se sabe sobre a espécie, até mesmo os estudos, mas a pesquisadora contou que a orquídea é conhecida por viver na região conhecida pelos pesquisadores como baixio, área de igarapé perto de palmeiras.

A braemia vittata, por viver dessa forma, mostra suas características de trópico e sua sobrevivência conforme a temperatura. “Sem dúvida, o maior encanto da orquí-dea, além da cor das peque-nas flores está no aroma de chocolate que transformam a arte floral da espécie”, re-forçou Pollyana Menezes.

A questão de estudos mais detalhados para a es-pécie é preocupante para a bióloga que cuida das orquídeas como se fossem seus próprios filhos. Em visita ao Jardim Botânico,

a pesquisadora conversa com cada espécie e até as chama de forma carinhosa de “meus bebês”.

Para manter a espécie viva, a pesquisadora dia-riamente borrifa as raízes e até mesmo a planta com substrato, que é um nutrien-te líquido. Dessa forma, a orquídea de chocolate tem vivido por esse período e ale-grando seus visitantes com belas flores e o delicioso aroma de chocolate.

Pollyana explicou que um dos motivos de não haver nenhum estudo para a brae-mia vittata ou algum tipo de pesquisa sobre a espécie, é a questão de as orquídeas serem a segunda maior fa-mília botânica.

Elas têm 76 gêneros e cada um pode ter mais de 35 mil exemplares no mundo. “Para um pesqui-sador estudar uma espécie sozinha é muito difícil, pode passar muito tempo para o fechamento da pesqui-sa e por isso que muitas espécies possuem poucos dados e a braemia vittata é uma delas”, disse.

O novo ‘xodó’ dos visitantes

Número de registro da espécie no Museu Vivo da Amazônia, localizado na Zona Leste da cidade

Espécie de orquídea recebe todos os cuidados possíveis da pesquisadora Pollyana Marcião

A pesquisadora rea-firmou que a braemia vittata encontrada na Amazônia é a verda-deira orquídea de cho-colate tão desejada no sul do país. “A nossa or-quídea de chocolate é totalmente retirada da floresta sem nenhum tipo de mistura ou modificação, por isso que o tamanho de suas flores é bem menor das demais que encontram pelo país”, explicou.

Para conhecer a bra-emia vittata ou a or-quídea de chocolate, é necessário estar vesti-do com calça comprida e sapatos fechados. A espécie fica no Jar-dim Botânico do Mu-seu Vivo da Amazônia, localizado na reserva florestal Ducke. O local é aberto para visitas de segunda a sexta-feira, nos horários de 8h às 17h.

A verdadeira orquídea da Região Norte

FOTOS: IONE MORENO

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C4 Dia a dia MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 C5

O chocolate que vem das floresEspécie de orquídea que exala odor de chocolate faz sucesso no Jardim Botânico do Museu Vivo da Amazônia

As delícias da Páscoa geralmente são feitas de chocolate e uma boa parte da preo-

cupação do consumo desses doces está nas calorias in-geridas. A flora amazônica é tão maravilhosa que pre-senteia o homem com uma espécie de orquídea que pode saciar um pouco a necessi-dade dos chocólatras, pois ela exala um forte aroma do doce tão desejado.

Com o nome científico de braemia vittata, mas vulgar-mente conhecida como orquí-dea de chocolate, a espécie é natural da região, mas pode ser encontrada em diversas áreas do Brasil, mas esses exemplares que são mais encontrados no sul do país surgiram com a mistura em laboratório de outras duas espécies conhecidas como oncidium jamie sutoch e a oncidium honolulu.

No sul do país, neste período, as pessoas tem o costume de presentear o próximo com uma orquídea de chocolate em lugar dos tradicionais ovos de Páscoa. A diferença da orquí-

dea de aroma de chocolate fei-ta em laboratório, cujo nome de batismo é oncidium cherry baby, está no tamanho das flores, que são maiores do que as produzidas pela orquídea de chocolate da Amazônia.

A espécie de orquídea brae-mia vittata pode ser encontra-da no patrimônio do Jardim

Botânico do Museu Vivo da Amazônia (Musa), localizado na borda da reserva florestal Ducke, bairro Cidade de Deus, Zona Leste de Manaus.

A espécie, que tem o regis-tro JB-x 1247, foi recolhida em média após um ano e meio e tem acolhido diversos curiosos que atravessam o país para conhecer e sentir o famoso cheiro de chocolate

da orquídea.O tom de vinho na flor tam-

bém se diferencia das demais espécies fabricadas em labo-ratório, que oferecem mais duas cores como o branco e o amarelo. A braemia vittata brota todo o ano e é res-ponsável pelo aroma doce e colabora para o encanto dos seus visitantes.

A espécie que vive no Jardim Botânico recebe um cuidado especial por parte da estudan-te de biologia e pesquisado-ra Pollyana Menezes Marcião, que conhece bem os detalhes das 400 espécies de orquídea, que estão no jardim.

A orquídea de chocolate, como as demais espécies, é recolhida depois que cai do seu habitat natural. Para evitar que a planta morra, os biólogos que trabalham, pesquisam e estu-dam na reserva, a recolhem e a levam para o jardim.

No local, a espécie passa por um cadastro que também é repassado para o Instituto Nacional de Pesquisa da Ama-zônia (Inpa). Esse cadastro também facilita para que os demais pesquisadores pos-sam saber que os exemplares da espécie estão expostos no Jardim Botânico.

ISABELLE VALOIS Equipe EM TEMPO

EXCLUSIVACom o nome científico de braemia vittata, mas vulgarmente conheci-da como orquídea de chocolate, a espécie é natural da região, mas pode ser encontrada de forma híbrida em diver-sas áreas do Brasil

A braemia vittata, que exala odor de chocolate, é uma espécie ainda pouco conhecida na região

A pesquisadora afirma que a espécie amazônica não é encontrada em outro lugar. Até mesmo os colecionado-res de orquídea ainda não possuem a braemia vittata, mas virou o xodó de todos que sempre a visitam.

Infelizmente pouco ainda se sabe sobre a espécie, até mesmo os estudos, mas a pesquisadora contou que a orquídea é conhecida por viver na região conhecida pelos pesquisadores como baixio, área de igarapé perto de palmeiras.

A braemia vittata, por viver dessa forma, mostra suas características de trópico e sua sobrevivência conforme a temperatura. “Sem dúvida, o maior encanto da orquí-dea, além da cor das peque-nas flores está no aroma de chocolate que transformam a arte floral da espécie”, re-forçou Pollyana Menezes.

A questão de estudos mais detalhados para a es-pécie é preocupante para a bióloga que cuida das orquídeas como se fossem seus próprios filhos. Em visita ao Jardim Botânico,

a pesquisadora conversa com cada espécie e até as chama de forma carinhosa de “meus bebês”.

Para manter a espécie viva, a pesquisadora dia-riamente borrifa as raízes e até mesmo a planta com substrato, que é um nutrien-te líquido. Dessa forma, a orquídea de chocolate tem vivido por esse período e ale-grando seus visitantes com belas flores e o delicioso aroma de chocolate.

Pollyana explicou que um dos motivos de não haver nenhum estudo para a brae-mia vittata ou algum tipo de pesquisa sobre a espécie, é a questão de as orquídeas serem a segunda maior fa-mília botânica.

Elas têm 76 gêneros e cada um pode ter mais de 35 mil exemplares no mundo. “Para um pesqui-sador estudar uma espécie sozinha é muito difícil, pode passar muito tempo para o fechamento da pesqui-sa e por isso que muitas espécies possuem poucos dados e a braemia vittata é uma delas”, disse.

O novo ‘xodó’ dos visitantes

Número de registro da espécie no Museu Vivo da Amazônia, localizado na Zona Leste da cidade

Espécie de orquídea recebe todos os cuidados possíveis da pesquisadora Pollyana Marcião

A pesquisadora rea-firmou que a braemia vittata encontrada na Amazônia é a verda-deira orquídea de cho-colate tão desejada no sul do país. “A nossa or-quídea de chocolate é totalmente retirada da floresta sem nenhum tipo de mistura ou modificação, por isso que o tamanho de suas flores é bem menor das demais que encontram pelo país”, explicou.

Para conhecer a bra-emia vittata ou a or-quídea de chocolate, é necessário estar vesti-do com calça comprida e sapatos fechados. A espécie fica no Jar-dim Botânico do Mu-seu Vivo da Amazônia, localizado na reserva florestal Ducke. O local é aberto para visitas de segunda a sexta-feira, nos horários de 8h às 17h.

A verdadeira orquídea da Região Norte

FOTOS: IONE MORENO

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C6 Dia a dia MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

Inpa terá ‘depósito radioativo’Com a inauguração do Prédio de Armazenamento para Materiais Radioativos (Pamrad), no dia 22, o instituto torna-se referência no Norte do Brasil neste tipo de armazenamento, garantindo o confinamento seguro desse tipo de material

Instalações do Prédio de Armazenamento para Materiais Radioativos (Pamrad), que será inaugurado na próxima terça-feira no Inpa: confinamento seguro de material usado em pesquisas

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) inaugura na

próxima terça-feira (22) a estrutura física do Prédio de Armazenamento para Mate-riais Radioativos (Pamrad). Este é o primeiro prédio da região Norte com capacidade de armazenagem inicial de materiais e dejetos radioa-tivos inerentes às atividades de pesquisas nos laborató-rios do Instituto que utilizam substâncias radioativas (os chamados radionuclídeos) em quantidades superiores aos limites de isenção especifi-cados em norma própria da Comissão Nacional de Ener-gia Nuclear (Cnen).

A inauguração será às 9h, no Campus I do Inpa, na avenida Otávio Cabral, s/nº, Petrópolis (Zona Sul de Ma-naus). Com a inauguração do Pamrad, o Inpa torna-se referência no norte do Brasil neste tipo de armazenamen-to, garantindo o confinamen-to seguro desses materiais radioativos pelo tempo neces-sário à proteção do homem e do meio ambiente.

Para o diretor do Inpa, Adal-berto Luis Val, o Serviço de Radioproteção no instituto é uma ferramenta de vital im-portância à disposição dos pesquisadores do Inpa para continuarem a ser competi-tivos na fronteira do conhe-cimento científico. “Orga-nizar e manter um Serviço de Radioproteção no Inpa é mais um avanço da institui-ção que definitivamente se consolida por meio de fer-ramentas de última geração no estudo da biodiversidade amazônica”, disse Val.

O prédio da Pamrad aten-derá às necessidades dos di-versos grupos de pesquisas de diferentes laboratórios do instituto, que já manifesta-ram a intenção de trabalhar com materiais radioativos ou equipamentos emissores de radiação ionizante em

suas pesquisas. Desse modo, esses laboratórios passa-rão a ser denominados, futuramente, de Instala-ções Radiativas licenciadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).

Dejetos radioativos são materiais produzidos em la-boratórios, hospitais, usinas nucleares, centros de pes-quisas, entre outros, e que não têm mais utilidade (mas que podem às vezes ser re-ciclados) e não podem ser “jogados fora” ou “no lixo”, por causa das radiações perigosas que emitem.

A técnica em Materiais Radioativos do Inpa e su-pervisora técnica do Serviço de Radioproteção, Zenaide Aparecida Figueiredo, ex-

plica que a construção do prédio teve um custo de R$ 444,1 mil, recursos oriundos do Projeto Grandes Vultos. O prédio foi projetado obede-cendo às legislações e nor-mas nacionais e internacio-nais, como da própria Cnen e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Conforme Zenaide, o prédio possui uma arquitetura pró-pria para a sua finalidade: as paredes possuem espessuras específicas, cantos arredon-dados, o piso foi concebido com uma base diferenciada de modo que não permita in-filtrações, e as pinturas foram feitas com tintas especiais. “O prédio também possui um sistema de contenção de água servida próprio e dife-

renciado. Não será descarta-do nenhum tipo de material radioativo no meio ambien-te, ficando retido no próprio Inpa”, explica a técnica.

Segundo ela, os laborató-rios do Inpa, depois de li-cenciados pela Cnen, passa-rão também a ser geradores de dejetos radioativos. Mas para que isso aconteça de modo seguro é preciso ha-ver o Gerenciamento de Rejeito Radioativo. Estes materiais serão embalados adequadamente, de acordo com o tipo de emissão de cada partícula radioativa, devidamente identificados e encaminhados ao Pamrad.

A técnica conta que haverá um agendamento para enca-minhar os materiais radioa-tivos para a armazenagem. “Cada laboratório agendará o envio desses materiais ao Pamrad”, diz Zenaide infor-mando que o prédio deverá entrar em funcionamento total no segundo semestre deste ano, tendo em vista que a aquisição dos equipamentos necessários ainda está em processo de licitação.

Ela esclarece que quan-do esses dejetos chegarem a um determinado nível de ocupação do prédio serão encaminhados a um depó-sito autorizado pela Cnen. No Brasil, existem depósitos autorizados em Recife, São Paulo, Rio de Janeiro.

De acordo com a técnica, um trabalho de orientação está sendo desenvolvido, desde 2013, com os responsáveis pelos laboratórios do Inpa, quanto à proteção radiológica aos que vão trabalhar com materiais radioativos, mesmo em pequenas quantidades, mas que fazem parte de seus estudos, como o carbono 14 (14C), o hidrogênio 3 (3H) e o cálcio 45 (45Ca), dentre ou-tros. “Para utilizar materiais radioativos, hoje, no Brasil, existem normas editadas pela Cnen que precisam ser aten-didas”, complementou.

DANIEL JORDANO/INPA

VANTAGEMO prédio da Pamrad atenderá às necessi-dades dos diversos grupos de pesquisas de diferentes labora-tórios que já manifes-taram a intenção de trabalhar com mate-riais radioativos

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C7Dia a diaMANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

Inpa terá ‘depósito radioativo’Uma das normas do Cnen

é a implantação do Servi-ço de Radioproteção, que já está sendo estruturado no Inpa com o objetivo de gerenciar as atividades de proteção radiológica.

Todos os laboratórios que trabalham com materiais radioativos ou com equi-pamentos que geram ondas ionizantes com raios X têm que ser licenciados ou isen-tados pela Cnen e precisam atender algumas normas na questão da proteção radio-lógica e com pessoal trei-nado. Os colaboradores en-volvidos nos laboratórios, que serão transformados em Instalações Radiativas, passarão por treinamentos, recomendados pela Cnen, de no mínimo 40 horas, re-petidos a cada dois anos.

Deverão participar dos treinamentos os pesquisa-dores responsáveis pelos laboratórios e seus técni-cos, e alunos de mestrado ou doutorado que tenham trabalhos desenvolvidos nesses locais. “Inclusive, o pessoal do serviço de limpe-za, que precisa conhecer o

símbolo da radiação e saber qual o tipo de equipamento de proteção individual (EPI) deve ser utilizado ao execu-tar serviços nesses locais”, ressalta a técnica em Ma-teriais Radioativos do Inpa, Zenaide Figueiredo.

Ainda de acordo com Zenaide, o Serviço de Ra-dioproteção também tra-balhará a segurança das fontes radioativas, a do-simetria (monitoração da dose de radiação recebi-da) das pessoas envolvi-das com a manipulação do material radioativo, além da monitoração ambiental em torno do prédio onde serão armazenados os dejetos radioativos para verificar a existência de algum nível de irradiação externa. “Também servi-rá como ponte entre os laboratórios do Inpa e a Cnen, porque para trabalhar com material radioativo, os laboratórios devem pos-suir licença de operação”, esclarece a técnica.

ComissãoPara o pesquisador Adrian

Pohlit, presidente da Comis-são Interna de Radioprote-ção, com o licenciamento junto à Cnen, o Inpa voltaria a utilizar um metabólito que contém o isótopo trício que é introduzido no meio de cultura durante o bioensaio. “Isso permite quantificação rápida dos parasitos e au-menta em mais de 100 ve-zes a velocidade dos testes antiplasmódicos”.

O Serviço de Radiopro-teção atuará em conjunto com a Comissão Interna de Radioproteção, composta por técnicos e pesquisado-res-doutores.

Além de auxiliar o Ser-viço de Radioproteção, a comissão terá a incumbên-cia de orientar os diversos laboratórios do Inpa que irão manusear materiais radioativos a realizarem esta atividade, conforme as normas da radioproteção e seguranças existentes, de modo a preservar a saúde da comunidade do Inpa e dos visitantes, proporcio-nando um ambiente seguro para essas pessoas e a pro-teção ao meio ambiente.

Novo serviço de radioproteção

Com o Pamrad, Inpa vai se tornar referência no armazenamento desses materiais no Brasil

RICARDO OLIVEIRA/ARQUIVO EM TEMPO

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C8 Dia a dia MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

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Page 25: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 [email protected] (92) 3090-1010

3 Morte de um imortal latinoVida e muitas obras de Gabriel García Márques. Págs. 4, 5 e 6

1 Uma conversa entre bobos e xerifesAdendo de Shakespeare em Sir Thomas More. Pág. 2

2 Ucrânia dividida tenta mostrar reaçãoVisão ocidental e parcial sobre o mapa. Pág. 3

4 É verão em Nova YorkPoema nosso de cada dia. Pág. 7

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G2 MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

Imaginação PROSA, POESIA E TRADUÇÃO

LINCOLN - Silêncio, ouvi: quem não quiser arenque defumado a quatro pence, manteiga a onze a libra, farinha a nove xelins o alqueire e carne a quatro moedas de ouro quatorze libras, me escutai.

GEORGE - Se os estrangeiros forem tolerados, isso vai acabar em crise. Vamos dar-lhe atenção.

LINCOLN -O nosso é um país que come muito; ergo, eles comem mais no nosso país do que no deles mesmos.

O BOBO - Um pão por dia a meio pêni, sistema troy.

LINCOLN - Eles cultivam vegetais de fora e pés-simos, o que é apenas pra ruína dos pobres dos aprendizes. Ora, o que é uma mísera pastinaga prum bom apetite?

WILLIAMSON - Nada, nada. Causam dor nos olhos e podem infectar a cidade com a paralisia.

LINCOLN - Não, infectaram: esses vegetais bas-tardos do esterco vós sabeis que eles crescem no esterco já nos infectaram, e a nossa infecção, que vai abalar a cidade, em parte está ocorrendo porque nós comemos pastinagas!

O BOBO - É verdade. Abóboras também.

Entra [Downes, o Sargento darmas]

DOWNES - O que dizeis à piedade do Rei? A recusais? LINCOLN - Quereis nos desequilibrar na luta, hein?

Não, claro que não; aceitamos a piedade do rei. Só que não vamos demonstrar piedade pelos estrangeiros!

DOWNES - Sois os infelizes mais simplórios que eu já vi insistindo numa questão como essa.

LINCOLN - Como é que disseste, aprendizes?, aprendizes simplórios? Abaixo com ele!

TODOS - Aprendizes simplórios! Aprendizes simplórios!

Entram o Prefeito de Londres, Surrey, Shrewsbury [e More]

PREFEITO DE LONDRES - Parem! Em nome do Rei, parem!

SURREY - Amigos, camaradas, compatriotas PREFEITO DE LONDRES - Paz, escutai, paz! Eu

vos ordeno, conservai a paz! SHREWSBURY - Meus camaradas, compatriotas WILLIAMSON - O nobre Conde de Shrewsbury,

vamos ouvi-lo. GEORGE - Vamos ouvir o Conde de Surrey. LINCOLN - O Conde de Shrewsbury. GEORGE - Vamos ouvir os dois. TODOS - Os dois, os dois, os dois, os dois! LINCOLN - Paz, estou dizendo, paz! Sois homens

sábios ou o quê? SURREY - O que quiserdes, menos homens

sábios. TODOS - Não vamos ouvir meu Lorde de Surrey:

Não, não, não, não! Shrewsbury, Shrewsbury! MORE - Enquanto transbordarem a obediência Vão acabar com tudo desse jeito. LINCOLN - O Xerife More fala: vamos ouvir o

TRECHOS ATRIBUÍDOS A WILLIAM SHAKESPEARETRADUÇÃO ALÍPIO CORREIA DE FRANCA NETO

1Sir Thomas More

Entram Lincoln, Doll, o Bobo, George Betts, Williamson e outros.

RESUMOO manuscrito de “Sir Thomas More” teria sido redigido por sete pessoas, entre elas An-thony Munday (1560-1633), que seria o autor do texto original, por volta de 1600. A peça não foi encenada nem publicada à época. A primeira colaboração de Shakespeare é iden-tifi cada no trecho ma-nuscrito pela chamada “hand d” (caligrafi a d), por volta de 1604. É o Ato 2, Cena 4, tradu-zido ao lado. Além de caligrafi a, também ortografi a e outras ca-racterísticas remetem ao dramaturgo. Uma colaboração posterior e mais curta de Shakes-peare, manuscrita por outra pessoa, “hand c”, é atribuída a ele por paralelos verbais e outros. Considerada a passagem de mais qualidade da peça, é o Ato 3, Cena 2, também ao lado. (Nelson de Sá)

Ato 2, Cena 4Xerife More falar?

DOLL - Vamos ouvir ele: ele como xerife tem uma mesa generosa, e arrumou pro meu irmão ser assisten-te do Sargento Safe. Vamos ouvir o Xerife More.

TODOS - Xerife More, More, More, Xerife More! MORE - Mesmo que com o governo que seguis, Ordenai-vos ouvirdes em silêncio. ALGUNS - Surrey, Surrey! More, More! LINCOLN e GEORGE - Paz, paz, silêncio, paz! MORE - Tu, que esta multidão escuta e preza, Ordena-lhe o silêncio. LINCOLN - A peste caia sobre eles! Não vão manter

a paz, O diabo não pode governá-los! MORE - Que encargo duro e ruidoso tendes, Governar quem o diabo não governa! Meus camaradas, escutai. DOLL - Sim, pela missa, nós vamos ouvir. More: és

hospitaleiro, e te agradeço a consideração em nome do meu irmão Arthur Watchins.

TODOS - Paz, paz! MORE - O que ofendeis é o mesmo que pleiteais, Ou seja, paz: não estaríeis aqui Tivésseis tido outros iguais na infância Pra degolar a paz, como quereis; Se a paz em que vos criastes até agora Fosse tomada, os tempos cruentos não Vos levariam até à idade adulta. Ai, tristes criaturas, qual o ganho Se assegurarmos isso que pedis? GEORGE - Ora, essa, a remoção dos estrangeiros,

que só sabem se aproveitar dos pobres artesãos da cidade!

MORE - Vamos supor que ela houve, e vosso ruído

Vergou a majestade da Inglaterra. Pensai nos estrangeiros, infelizes, Com crianças nos ombros, bagagem pobre, Se arrastando à orla e ao porto pra transporte, E sentais como reis ante os desejos, O poder silenciado às queixas altas, Vós, trajan-do vanglória até os rufos; O que lograstes? Digo. Ensinastes Que empáfi a e mão pesada hão de se impor, A ordem, ser pisoteada, e com esse exemplo Nenhum de vós acabaria ancião, Pois mais rufi ões, presas de fantasias, Com iguais razões, mão, senso de direito, Iriam predar-vos, e homens, devorar-se Como peixes vorazes.

DOLL - Por Deus, isso é tão verdadeiro quanto o Evangelho!

GEORGE - Ora, esse camarada é íntegro, garanto. Vamos ouvi-lo.

MORE - Deixai-me expor ao vosso juízo, amigos, O que é uma hipótese; se a escutardes, Percebereis quão repugnante é a forma Desse motim; primeiro, ele é um pecado Do qual o apóstolo já advertia, Instando obediência à autoridade; Não erraria se dissesse a todos Que vos batíeis contra o próprio Deus. TODOS - É claro, Deus proibiu isso! MORE - Ou melhor, certamente vos bateis. Deus concedeu ao Rei a autoridade Do assombro, do poder, justiça e mando,

Deu-lhe o governo, quis que obedecêsseis; E acrescentando majestade a isso, Não só cedeu Sua fi gura ao Rei, Seu trono e espada, como deu-lhe o nome O chama Deus na Terra. O que fazeis, Negando quem o próprio Deus empossa, Senão negar a Deus? O que fazeis À alma com isso? Oh, desesperados, Lavai vossa alma em pranto, e as mesmas mãos Que ergueis como rebeldes contra a paz Erguei por paz, e os joelhos profanos, Fazei-os vossos pés. Vos ajoelhar Para o perdão é guerra mais segura A vós, cuja ordem é o tumulto. Vamos, Recolhei-vos à obediência! Até Vosso tumulto ocorre em obediência. Me respondei: que capitão rebelde, Já que há motins, chamado dessa forma, Aquieta a malta? Quem segue um traidor? Como a proclamação soará harmoniosa Sem título senão o de rebelde Pra designá-lo assim? Degolareis Estrangeiros, lhes tomareis as casas E ireis guiar a majestade da lei em trela, então largá-la como a um cão. Se o Rei piedoso com quem tem remorso Punisse vossa enorme transgressão Só vos banindo, aonde iríeis? Qual País, com a natureza dessa falta, Daria abrigo? Ide à França ou Flandres, Província alemã, Espanha ou Portugal, Um lugar sem os usos da Inglaterra: Sereis, por força, estrangeiros. Vos Agradaria nação tão primitiva, Que irrompesse com uma violência hedionda, Não vos desse morada nesta terra, Afi asse a faca odiosa em vossa goela Ou vos chutasse como a cães, e como Se estranhos a Deus, não criados por ele, Com elementos não próprios ao conforto E impingidos a ele? O que pensaríeis De um trato assim? É o caso de estrangeiros; Eis vossa desumanidade horrenda. TODOS - É mesmo, o que ele tá falando é verdade.

Vamos fazer pros outros o que queremos que nos façam.

LINCOLN - Vamos ser liderados por ti, Camarada More, se fi cares a nosso lado pra conseguir nosso perdão.

MORE - Entregai-vos aos nobres cavalheiros,

Rogai-lhes a mediação com o Rei,

Cedei à regra, ouvi o magistrado

E será certo que achareis piedade

Se assim buscardes.

[...]

Uma mesa coberta por uma toalha verde. Sobre ela, uma almofada de cerimônia a bolsa com a insígnia de Lord Chancellor e ao lado dela a maça

Ato 3, Cena 2

É no céu que eu estou, de um jeito ou de outro, E o que chamamos sorte, como ímpios, É a provisão desse poder na altura, Própria e moldada à força natural Com que nascemos. Meu bom Deus, bom Deus! Eu ascender de um ramo humilde à testa Do meu país, como me aconteceu, E legislar! Na vida de meu pai, Ter direitos, tributos dos joelhos Dos meus, mais velhos e ele, por meu cargo,

Me dar a via plana a sua direita, Dele por natureza! É, tais coisas, Se não tratadas, tornam nosso sangue Corrupto: só que, More... quanto mais tenhas, Honra, carreira, posição, riqueza, Que atiçam a acolhê-las, abraçá-las, Mais lembra a natureza das serpentes, Seu cerne agudo, e adota esta máxima: Quanto mais fi os de fases triunfais Mais em ruína a meada se desfaz.

Entra Sir Thomas More

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Page 27: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

G3MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014

2Sob os olhos do Ocidente

Política

A cada manhã, acordo ima-ginando se terá chegado o dia em que a Europa Oriental será vendida mais uma vez. Verifi co meu celular e, quando vejo que nada de muito alarmante foi anunciado, mesmo que as notí-cias não sejam exatamente ani-madoras, ligo meu computador e vasculho as manchetes, ainda imaginando se vai acontecer hoje ou amanhã.

O dia em que só me con-centrando na observação de minhas reações pessoais e nas do mundo ao meu redor serei capaz de lidar com as notícias – porque é dever do escritor recordar os momentos em que se viram páginas da história.

Uma nova era já começou. O período que separa as guer-ras frias – de 1989 a 2014 – acabou.

A última vez que a Europa Oriental e os países bálticos foram vendidos à União So-viética e absorvidos em sua esfera de infl uência foi sob o pacto Molotov-Ribbentrop [em 1939], uma manobra que contribuiu para que o impé-rio soviético viesse a atingir seu maior poder. Uma força de trabalho não remunerada estava trancada nos campos de escravos do gulag. Ago-ra a Rússia deixou claro, em palavras e atos, que pretende restaurar a velha glória de seu império. A doutrina Brejnev foi atualizada e adotada por Putin. A Rússia acredita que tem o direito de intervir nas ações de Estados indepen-dentes caso estes pareçam estar se aproximando demais do Ocidente e caso a Rússia considere ter autoridade so-bre a área em questão.

A Duma, o Legislativo russo, debate em regime acelerado uma lei que facilitaria a ane-xação de regiões que no pas-sado estiveram sob domínio soviético, e os povos da Europa Oriental e dos países bálticos fi cam imaginando se uma vez mais terão depositado em vão sua fé no Ocidente – que, ao longo da última década, dedi-cou pouca atenção ao Leste Europeu, a não ser para vê-lo como fonte de mão de obra barata e local para instalações de produção lucrativas.

SOFI OKSANENTRADUÇÃO PAULO MIGLIACCIILUSTRAÇÃO RAFAEL CAMPOS ROCHA

A Rússia e o contra-ataque do império decaído

RESUMOEscritora que tem no cerne de sua obra os abusos soviéticos nos países bálticos vê a anexação da Crimeia pela Rússia como par-te de uma campanha colonialista contínua. Medo, provocação, projeção e propagan-da seriam as armas do Kremlin para justi-fi car ocupações, tanto para os habitantes locais quanto para o Ocidente.

A anexação ilegal da Crimeia tem grande valor simbólico; é a primeira região, desde o perí-odo soviético, a ter sido tirada de um Estado independente e incorporada à Rússia. Também é um teste, um estudo da tole-rância e da moral do Ocidente: será que ousará honrar suas promessas – ou trairá o Leste novamente?

O contra-ataque do império decaído começou em 2005, quando Putin declarou que o colapso da União Soviética foi o maior desastre geopolítico do século 20.

A forma como a história é ensinada é um dos métodos pelos quais essa tese é pro-movida, um conteúdo retró-grado motivado por interesses geopolíticos. O objetivo dessa versão da história é fazer re-nascer o orgulho nacional russo e funcionar como lembrete de que integrar o império rus-so era benéfi co para pessoas de outras regiões. Os antigos Estados vassalos têm opinião bastante diferente.

Por anos os ocidentais aplau-diram polidamente os discursos de Putin sobre o “desenvol-vimento democrático” de seu país. Ele defendeu seu modelo social como uma “democracia administrada”.

Esse tipo de governo não é uma democracia, mas o Ociden-te acatou a explicação, como acatou outros eufemismos do FSB (a versão atual da KGB) que tinham por objetivo acalmar o resto do mundo enquanto a elite no Kremlin fazia preparativos para criar o admirável mundo novo de Putin.

A União Soviética foi reabili-tada, e o jornalismo se tornou uma escolha profi ssional suici-da. Desde 2012, a elite de Putin vem repatriando os ativos que detinha no Ocidente, a fi m de garantir a independência dos que estão no poder. Um dos princípios fundadores da União Europeia é o de que deveríamos pelo menos tentar aprender al-guma coisa com o passado.

A União Eurasiana promovida por uma panelinha dentro da elite de Putin é diametralmente oposta a isso. Baseia-se em porções seletas do stalinismo e do nacional-socialismo, cujas lições de propaganda são segui-das atentamente. E essa forma de exercer o poder conta com um orçamento inesgotável.

Em 2005, o canal de TV Rus-sia Today, em inglês, foi criado para servir às necessidades de propaganda do Kremlin, com orçamento anual de mais de US$ 300 milhões.

Porque a programação do canal parece jornalística, to-dos acreditam que seja jor-nalística, quando, na verdade, ela serve para disseminar as “verdades” russas para o Oci-dente, como ex-funcionários da estação admitiram.

Agora, com a crise ucraniana, essa propaganda se tornou tão desavergonhada que já não tenta esconder do Ocidente as suas intenções, como fazia no passado. E isso é uma mudança considerável.

Entre os editores ocidentais, é prática comum apresentar opiniões de diversas partes a fi m de produzir um artigo que se aproxime da verdade. Mas

essa não é a maneira certa de agir quando um dos lados está mentindo escandalosa-mente. Ao agir assim, a mídia ocidental repete indiretamente a mensagem promovida pelos “siloviks” do Kremlin [ “pessoas de poder”, termo usado para denotar políticos importantes com antecedentes nos serviços de segurança].

O cerne da política do Kremlin é a guerra de informações, ple-na de alegações e contra-ale-gações, porque essa é a forma mais barata de conquistar terri-tórios sem utilizar blindados.

Medo, provocação, projeção e propaganda: a elite do Kremlin domina todas essas técnicas. São as armas usadas para justi-fi car ocupações, tanto aos olhos da população local quanto aos do mundo.

Tarefa fácilPara a Rússia, a anexação

da península da Crimeia, parte legal da Ucrânia, foi tarefa fácil. A invasão não gerou baixas russas, que poderiam ter levado as mães do país às ruas em pro-testo, e foi possível apresentar ao Ocidente uma narrativa que tornava a anexação compreen-sível, partindo do fato de que boa parte da população da área é russófona.

A chegada da maioria dessas pessoas à Crimeia resultou de transferências maciças de po-pulação promovidas por Stálin com o fi m de misturar a po-pulação dos Estados vassalos soviéticos e russifi car a região. Áreas de perfi l semelhante se encontram em diversos pon-tos da Europa Oriental. Agora essas pessoas estão sendo ex-ploradas pela gangue de Putin. Mas o fato é que os habitantes originais da Crimeia, os tárta-ros, já foram esquecidos. Na experiência deles, as políticas populacionais de Stálin termi-naram em genocídio.

Enquanto escrevo, as por-tas das casas ocupadas pelos tártaros na Crimeia são mar-cadas com cruzes. Isso lhes parece familiar?

A Rússia vem tentando de-sestabilizar a independência da Europa Oriental e dos países bálticos já há muito tempo. Em 2008, Putin descreveu a Ucrâ-nia como um Estado artifi cial. A Rússia colocou em questão o direito ucraniano a frontei-ras invioláveis e, por meio de um engenhoso arcabouço de mentiras, conseguiu fazer com que o país parecesse quase um Estado russo. Não há nada de novo nessa estratégia: foi o que ocorreu com o jovem Estado austríaco nos anos 30, con-duzindo-o ao Anschluss [união com a Alemanha] em 1938.

Os países bálticos vêm su-portando a retórica russa há anos. A informação que o resto do mundo tem sobre países como a Ucrânia é relativamente escassa. Consequentemente, impor a agenda da Rússia – o questionamento de seu direito à autodeterminação – não é nem de longe tarefa irrealizável.

Aquilo que na Rússia faz às vezes de imprensa tem publi-cado, há muito, reportagens sobre campos de concentra-ção estonianos onde russos estariam detidos (safra da mentira: 2007).

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Page 28: EM TEMPO - 20 de abril de 2014

G4 MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 MANAUS, DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2014 G5

Literatura

RESUMOEscritor colombiano retraça trajetória de seu colega e conterrâ-neo mais ilustre, Ga-briel García Márquez, morto aos 87, na quin-ta. Com o núcleo duro de sua obra escrito antes do Nobel (1982), o autor de “Cem Anos de Solidão” preferiu nos últimos anos o silêncio à repetição, e deve ser lembrado como imenso, mas não como um deus.

3O resto é silêncio

Se um homem morre quando seu coração para de bater, Gabriel García Márquez acaba de morrer; se um escritor mor-re quando deixa de escrever, García Márquez morreu no fi -

HÉCTOR ABADTRADUÇÃO FRANCESCA ANGIOLILLO

Gabriel García Márquez era um escritor imenso, mas deste mundo

FUGASe uma pessoa deixa de ser quando sua mente e sua consci-ência o abandonam, podemos dizer que a alma de García Már-quez vinha escapan-do de seu corpo há alguns anos.

nal de 2006, quando convidou para um almoço seu círculo de amigos mais íntimos para lhes dizer que não pensava escre-ver mais nenhuma palavra.

Se uma pessoa deixa de ser quando sua mente e sua consciência o abandonam, podemos dizer que a alma de García Márquez vinha es-capando de seu corpo já há alguns anos, pouco a pouco, como se quisesse despedir-se da vida com dissimulação, sem que nos déssemos conta de que partia.

Se um escritor morre quando já não é lido, podemos dizer que Gabriel García Márquez seguirá vivo por muito tempo e morrerá somente quando não haja ninguém sobre a terra que saiba ler.

Na última vez que o vi, em janeiro de 2010, García Már-quez começava a viver nos jardins desérticos da desme-mória, mas ainda conservava lampejos fulgurantes dessa maravilhosa anomalia de sua inteligência, que o havia leva-do a dizer e escrever coisas que só à sua mente prodigiosa poderiam ocorrer.

Estávamos em sua casa de

Cartagena, tomando a fresca da tarde em uma varanda. Mercedes, sua mulher, aca-bava de nos contar que sua intenção, 20 anos antes, era comprar uma casona antiga no centro histórico para re-formar, mas que, no fi m, de-sistiram “pelo medo de Gabo dos fantasmas”.

A palavra “fantasmas” pa-receu despertar sua mente abstraída. Ele então fez um comentário que nos deu, uma vez mais, o escasso prazer da

beleza verbal: “Quando chega-mos aqui eu não recordava que essa casa era minha, mas então semeamos árvores e aqui fi camos”.

Todos nos olhamos com um sorriso que não era de incom-preensão ou de compaixão, mas de estupor: a alma fugitiva do escritor não deixava de pro-nunciar frases lindas, ainda que divorciadas da ordem lógica do pensamento comum.

Essas duas características unidas fi zeram de sua obra algo extraordinário: sua cre-dulidade a alma intacta do menino a acreditar por inteiro nas coisas fantásticas que in-ventam os grandes (histórias de aparições, de fantasmas, de mortos que falam, de ossos que se movem e de seres invi-síveis que, sem tirar o chapéu, se sentam “a contemplar as cinzas da lareira apagada”) e sua capacidade de trans-formar sua experiência co-tidiana em algo fantástico, contando-a com manobras verbais que tornavam veros-símil e quase normal o incrível e o mágico.

Sua maneira personalíssima de explicar o mundo por meio de

imagens de grande perfeição poética sempre fez com que suas frases fi cassem, como ele mesmo dizia “encalhadas no coração dos leitores”. Por seus dotes de adivinho, em vários de seus romances assistimos à velhice de patriarcas que iam fi cando mudos e melancólicos, esquecendo tudo, à sombra das árvores de um pátio, real ou imaginário.

ArcoSe a vida literária de um

escritor se mede pelo arco de tempo entre o primeiro e o úl-timo livro que publicou, García Márquez nos acompanhou por meio século. Poucas carreiras são mais ricas, maravilhosas e prolífi cas do que esses 50 anos que separam “A Revoada (O Enterro do Diabo)”, publicado em 1955, e sua última novela, “Memória de Minhas Putas Tristes” ( 2004).

Foram esses dois livros, precisamente, os que rece-beram as críticas mais ácidas e impiedosas em sua vida de escritor. Imatura e malograda, se disse da primeira obra; senil e prescindível, da última.

Sabe-se que García Márquez esteve a ponto de abandonar a carreira de escritor após receber uma carta da edito-ra Losada, de Buenos Aires, fi rmada pelo diretor da reno-mada casa, Guillermo de Torre, que não só lhe informava que não publicaria esse romance supostamente malogrado, “A Revoada”, como aconselhava o jovem escritor a buscar outro ofício. Jorge Luis Borges mui-tas vezes lhe falaria do mau gosto literário de seu cunhado, mas García Márquez, naquele

momento, não podia ter em mente esse consolo, que só chegaria depois.

Já quanto a “Memória de Minhas Putas Tristes”, senão por uma crítica ponderada e elogiosa de J.M. Coetzee no “New York Review of Books” (que lê a confi ssão do sábio como uma espécie de con-versão religiosa e vê a jovem virgem, Delgadina, como uma nova Dulcineia), a nota predominante foi a acusação de que García Márquez seria pedófi lo, putanheiro, proxe-neta das letras. Alinharam-se esses e outros insultos, e não críticas.

CandorRecentemente me propus o

exercício de reler, juntos, esses dois romances, para escrever um ensaio. Tenho uma teoria sobre as primeiras obras dos grandes artistas: quando eles não sabem ainda quão impor-tantes chegarão a ser, escre-vem, de certa forma, como muito mais liberdade e com extremo descuido, com certo candor inocente que desnuda, sem querer, aspectos recôndi-tos do autor.

Creio que a frequência ex-cessiva com que muitos es-critores renegam seus primei-ros livros e sua obsessão por proibir que sejam reeditados não obedecem, na realidade, a razões de estilo ou aos fi ascos literários de anos de aprendi-zagem, mas sim ao fato de que eles não querem ver expostas as chaves secretas de suas obras posteriores.

Embora em “A Revoada” se note um problema técnico seus três monólogos não se justifi cam nem estão tão bem imbricados como nos outros livros de García Márquez, o

livro tem, salpicados aqui e ali, achados poéticos como os que mais tarde inunda-riam as melhores páginas de Gabo. São observações certeiras, comparações que desenham o que ocorrem e o mostram com a nitidez icástica de uma pintura.

Por exemplo, um “garotinho que passa assoviando, trans-formado e desconhecido, como se acabasse de cortar o cabelo”. Ou as mulheres que “se levantam, babadas, com a fl or do travesseiro bordada na face”.

No que concerne às chaves para livros posteriores, basta dizer que, neste primeiro ro-

mance, García Márquez nos apresenta uma Macondo ain-da muito apegada a seu mode-lo real, Aracataca, seu vilarejo natal, com uma companhia bananeira também mais rea-lista, que é a culpada de levar ao povoado a revoada (um mundaréu de trabalhadores braçais vindos de fora, sem destino, que só pensam no lu-cro imediato e não se integram ao tecido social do lugar) e de fazer terra baldia do lugarejo com sua partida, deixando só o vento de desolação que sua ausência levanta.

Por outro lado, “Memória de

Minhas Putas Tristes” tem, de fato, pequenos descuidos e inconsistências que o editor deveria ter resolvido. Não sei se foram distrações da idade, mas não caem nada mal em um narrador de 90 anos. Ao lado dessas pequenas falhas, porém, aparecem sempre, em cada página, os achados e maravilhas verbais do pro-sador consumado.

Se em “A Revoada” ainda havia titubeios (como in-serir um “creio” quando diz algo exagerado, arranhan-do a cara de pau com que aprenderia a contar as coisas impossíveis), em “Memória” está sempre presente o nar-rador destemido.

Entre esses dois breves ro-mances, está o que o mundo, com toda justiça, celebrou. Antes do Nobel (1982) há pelo menos três obras-pri-mas: “Ninguém Escreve ao Coronel” (1961), “Cem Anos de Solidão” (1967) e “O Outo-no do Patriarca” (1975). Além dessas, uma novela impecável, “Crônica da Morte Anunciada” (1981), e dois livros de contos prodigiosos: “Os Funerais de Mamãe Grande” (1962) e “A Incrível e Triste História de Cândida Erêndida e Sua Avó Desalmada” (1972).

Depois do Nobel, creio, há só uma obra no nível das an-teriores: “O Amor nos Tempos do Cólera” (1985). Mas, diante esse núcleo duro (e deixo de lado seu extenso trabalho jor-nalístico, que merece um estu-do à parte, por sua riqueza, seu frescor e sua complexidade), somente os “gabofóbicos” e gente de má vontade pode du-vidar da importância central que tem García Márquez na narrativa universal na segun-da metade do século 20.

TEMPOPor seus dotes de adivinho, em vários de seus romances assis-timos à velhice de pa-triarcas que iam fi can-do mudos, esquecendo tudo, à sombra das árvores. Tudo aconte-cendo naturalmente.

FAMAMuitos dos que de-notam fastio com o realismo mágico não julgaram Gabo, apelido de Márques, após reler suas obras, mas sim pelo requentado que foram e são os livros de seus epígonos.

Escritor colombiano Gabriel García Márques faleceu aos 87 anos de idade, no México

AP PHOTO/FOLHAPRESS

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Literatura

RESUMOEscritor colombiano retraça trajetória de seu colega e conterrâ-neo mais ilustre, Ga-briel García Márquez, morto aos 87, na quin-ta. Com o núcleo duro de sua obra escrito antes do Nobel (1982), o autor de “Cem Anos de Solidão” preferiu nos últimos anos o silêncio à repetição, e deve ser lembrado como imenso, mas não como um deus.

3O resto é silêncio

Se um homem morre quando seu coração para de bater, Gabriel García Márquez acaba de morrer; se um escritor mor-re quando deixa de escrever, García Márquez morreu no fi -

HÉCTOR ABADTRADUÇÃO FRANCESCA ANGIOLILLO

Gabriel García Márquez era um escritor imenso, mas deste mundo

FUGASe uma pessoa deixa de ser quando sua mente e sua consci-ência o abandonam, podemos dizer que a alma de García Már-quez vinha escapan-do de seu corpo há alguns anos.

nal de 2006, quando convidou para um almoço seu círculo de amigos mais íntimos para lhes dizer que não pensava escre-ver mais nenhuma palavra.

Se uma pessoa deixa de ser quando sua mente e sua consciência o abandonam, podemos dizer que a alma de García Márquez vinha es-capando de seu corpo já há alguns anos, pouco a pouco, como se quisesse despedir-se da vida com dissimulação, sem que nos déssemos conta de que partia.

Se um escritor morre quando já não é lido, podemos dizer que Gabriel García Márquez seguirá vivo por muito tempo e morrerá somente quando não haja ninguém sobre a terra que saiba ler.

Na última vez que o vi, em janeiro de 2010, García Már-quez começava a viver nos jardins desérticos da desme-mória, mas ainda conservava lampejos fulgurantes dessa maravilhosa anomalia de sua inteligência, que o havia leva-do a dizer e escrever coisas que só à sua mente prodigiosa poderiam ocorrer.

Estávamos em sua casa de

Cartagena, tomando a fresca da tarde em uma varanda. Mercedes, sua mulher, aca-bava de nos contar que sua intenção, 20 anos antes, era comprar uma casona antiga no centro histórico para re-formar, mas que, no fi m, de-sistiram “pelo medo de Gabo dos fantasmas”.

A palavra “fantasmas” pa-receu despertar sua mente abstraída. Ele então fez um comentário que nos deu, uma vez mais, o escasso prazer da

beleza verbal: “Quando chega-mos aqui eu não recordava que essa casa era minha, mas então semeamos árvores e aqui fi camos”.

Todos nos olhamos com um sorriso que não era de incom-preensão ou de compaixão, mas de estupor: a alma fugitiva do escritor não deixava de pro-nunciar frases lindas, ainda que divorciadas da ordem lógica do pensamento comum.

Essas duas características unidas fi zeram de sua obra algo extraordinário: sua cre-dulidade a alma intacta do menino a acreditar por inteiro nas coisas fantásticas que in-ventam os grandes (histórias de aparições, de fantasmas, de mortos que falam, de ossos que se movem e de seres invi-síveis que, sem tirar o chapéu, se sentam “a contemplar as cinzas da lareira apagada”) e sua capacidade de trans-formar sua experiência co-tidiana em algo fantástico, contando-a com manobras verbais que tornavam veros-símil e quase normal o incrível e o mágico.

Sua maneira personalíssima de explicar o mundo por meio de

imagens de grande perfeição poética sempre fez com que suas frases fi cassem, como ele mesmo dizia “encalhadas no coração dos leitores”. Por seus dotes de adivinho, em vários de seus romances assistimos à velhice de patriarcas que iam fi cando mudos e melancólicos, esquecendo tudo, à sombra das árvores de um pátio, real ou imaginário.

ArcoSe a vida literária de um

escritor se mede pelo arco de tempo entre o primeiro e o úl-timo livro que publicou, García Márquez nos acompanhou por meio século. Poucas carreiras são mais ricas, maravilhosas e prolífi cas do que esses 50 anos que separam “A Revoada (O Enterro do Diabo)”, publicado em 1955, e sua última novela, “Memória de Minhas Putas Tristes” ( 2004).

Foram esses dois livros, precisamente, os que rece-beram as críticas mais ácidas e impiedosas em sua vida de escritor. Imatura e malograda, se disse da primeira obra; senil e prescindível, da última.

Sabe-se que García Márquez esteve a ponto de abandonar a carreira de escritor após receber uma carta da edito-ra Losada, de Buenos Aires, fi rmada pelo diretor da reno-mada casa, Guillermo de Torre, que não só lhe informava que não publicaria esse romance supostamente malogrado, “A Revoada”, como aconselhava o jovem escritor a buscar outro ofício. Jorge Luis Borges mui-tas vezes lhe falaria do mau gosto literário de seu cunhado, mas García Márquez, naquele

momento, não podia ter em mente esse consolo, que só chegaria depois.

Já quanto a “Memória de Minhas Putas Tristes”, senão por uma crítica ponderada e elogiosa de J.M. Coetzee no “New York Review of Books” (que lê a confi ssão do sábio como uma espécie de con-versão religiosa e vê a jovem virgem, Delgadina, como uma nova Dulcineia), a nota predominante foi a acusação de que García Márquez seria pedófi lo, putanheiro, proxe-neta das letras. Alinharam-se esses e outros insultos, e não críticas.

CandorRecentemente me propus o

exercício de reler, juntos, esses dois romances, para escrever um ensaio. Tenho uma teoria sobre as primeiras obras dos grandes artistas: quando eles não sabem ainda quão impor-tantes chegarão a ser, escre-vem, de certa forma, como muito mais liberdade e com extremo descuido, com certo candor inocente que desnuda, sem querer, aspectos recôndi-tos do autor.

Creio que a frequência ex-cessiva com que muitos es-critores renegam seus primei-ros livros e sua obsessão por proibir que sejam reeditados não obedecem, na realidade, a razões de estilo ou aos fi ascos literários de anos de aprendi-zagem, mas sim ao fato de que eles não querem ver expostas as chaves secretas de suas obras posteriores.

Embora em “A Revoada” se note um problema técnico seus três monólogos não se justifi cam nem estão tão bem imbricados como nos outros livros de García Márquez, o

livro tem, salpicados aqui e ali, achados poéticos como os que mais tarde inunda-riam as melhores páginas de Gabo. São observações certeiras, comparações que desenham o que ocorrem e o mostram com a nitidez icástica de uma pintura.

Por exemplo, um “garotinho que passa assoviando, trans-formado e desconhecido, como se acabasse de cortar o cabelo”. Ou as mulheres que “se levantam, babadas, com a fl or do travesseiro bordada na face”.

No que concerne às chaves para livros posteriores, basta dizer que, neste primeiro ro-

mance, García Márquez nos apresenta uma Macondo ain-da muito apegada a seu mode-lo real, Aracataca, seu vilarejo natal, com uma companhia bananeira também mais rea-lista, que é a culpada de levar ao povoado a revoada (um mundaréu de trabalhadores braçais vindos de fora, sem destino, que só pensam no lu-cro imediato e não se integram ao tecido social do lugar) e de fazer terra baldia do lugarejo com sua partida, deixando só o vento de desolação que sua ausência levanta.

Por outro lado, “Memória de

Minhas Putas Tristes” tem, de fato, pequenos descuidos e inconsistências que o editor deveria ter resolvido. Não sei se foram distrações da idade, mas não caem nada mal em um narrador de 90 anos. Ao lado dessas pequenas falhas, porém, aparecem sempre, em cada página, os achados e maravilhas verbais do pro-sador consumado.

Se em “A Revoada” ainda havia titubeios (como in-serir um “creio” quando diz algo exagerado, arranhan-do a cara de pau com que aprenderia a contar as coisas impossíveis), em “Memória” está sempre presente o nar-rador destemido.

Entre esses dois breves ro-mances, está o que o mundo, com toda justiça, celebrou. Antes do Nobel (1982) há pelo menos três obras-pri-mas: “Ninguém Escreve ao Coronel” (1961), “Cem Anos de Solidão” (1967) e “O Outo-no do Patriarca” (1975). Além dessas, uma novela impecável, “Crônica da Morte Anunciada” (1981), e dois livros de contos prodigiosos: “Os Funerais de Mamãe Grande” (1962) e “A Incrível e Triste História de Cândida Erêndida e Sua Avó Desalmada” (1972).

Depois do Nobel, creio, há só uma obra no nível das an-teriores: “O Amor nos Tempos do Cólera” (1985). Mas, diante esse núcleo duro (e deixo de lado seu extenso trabalho jor-nalístico, que merece um estu-do à parte, por sua riqueza, seu frescor e sua complexidade), somente os “gabofóbicos” e gente de má vontade pode du-vidar da importância central que tem García Márquez na narrativa universal na segun-da metade do século 20.

TEMPOPor seus dotes de adivinho, em vários de seus romances assis-timos à velhice de pa-triarcas que iam fi can-do mudos, esquecendo tudo, à sombra das árvores. Tudo aconte-cendo naturalmente.

FAMAMuitos dos que de-notam fastio com o realismo mágico não julgaram Gabo, apelido de Márques, após reler suas obras, mas sim pelo requentado que foram e são os livros de seus epígonos.

Escritor colombiano Gabriel García Márques faleceu aos 87 anos de idade, no México

AP PHOTO/FOLHAPRESS

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Literatura[Continuação]

Big bangBastaria “Cem Anos de

Solidão”, “big bang” do romance contemporâneo, que eclodiu em Buenos Ai-res em 1967, para torná-lo um clássico. Por mais ab-surdo que seja o esforço de fazer profecias, creio que haja poucas possibilida-des de errar quando se diz que esse único livro o épi-co necessário a qualquer civilização e que faltava na América Latina seguirá sendo lido com deleite em anos por vir.

A fantasia e a violência, a vida familiar e as façanhas de guerra, a magia quase mística e o encantamento poético, tudo está reunido ali, nessas 350 páginas em que até as imperfeições são como particularidades, manchas de nascença.

Tive a sorte de estar, na Feira do Livro de Guadalaja-ra de 2003, num jantar em que Gabo e Francisco Por-rúa (editor de “Cem Anos de Solidão” na Sudamericana, tradutor de Ray Bradbury e “descobridor” de Cortázar) rememoravam os meses frenéticos em que, pela primeira vez, um livro da América do Sul se tornava um fenômeno mundial.

O que não contaram foi uma anedota engraçada que conta Bioy Casares

em seu diário de Borges: “García Márquez passou períodos de pobreza nos quais dizia a seus filhos que não se afligissem, que um dia chegaria um senhor com uma mala cheia de di-nheiro. Quando `Cem Anos de Solidão’ vendeu tanto, a Sudamericana lhe advertiu que receberia uma soma considerável. García Már-quez disse que muito bem, mas que não lhe mandasse um cheque, e sim que um senhor fosse levar o dinhei-ro em espécie, numa mala. Chegou o senhor, e García Márquez abriu a mala dian-te dos meninos”. O que na vida pública é épico, na vida privada se torna uma história de Aladim.

É possível que a sensibili-dade atual suporte mal cer-tas hipérboles do realismo mágico, assim como nos pa-recem piegas certas frases de romances românticos, ou eternas as sagas realistas, ou desmesuradas as faça-nhas dos livros de cavalaria. Mas cabe uma advertência: os exageros dessa escola não se devem tanto a García Márquez como a seus imita-dores, que são legião, tanto no âmbito da literatura em espanhol como no de outras literaturas.

Lichtenberg dizia que o que havia de ruim nos livros

muito bons é que costumam dar origem a muitos livros maus, medíocres. Muitos dos que denotam fastio com o realismo mágico fastio que muitos compartilhamos foram injustos com o maior expoente desse ramo. Não julgaram García Márquez depois de reler suas obras, grandiosas e convincentes

por si, mas sim por esse requentado que foram e continuam sendo os livros de seus epígonos.

PolíticaNão posso evitar o tema

mais incômodo em que mui-tos se espraiam quando tecem diatribes contra Gar-cía Márquez: a política e a triste intimidade do autor com os homens do poder.

Assim como Borges nun-ca será perdoado por ter recebido uma medalha do

ditador Pinochet, García Márquez sempre terá pe-cado por receber uma casa do ditador Fidel Castro ou pior, por se tornar, ao longo dos anos, seu amigo. Esse fascínio pelo poder foi, sem dúvida, uma fragilidade de seu caráter. É graças a esse deslumbramento e a essa proximidade que existe um romance grandioso como “O Outono do Patriarca”. Mas esse deslumbramento o levou a calar, submisso, diante de selvagerias ine-gáveis.

Mas há algo mais, que talvez seja o terreno em que pisam os “gabófobos” quando o atacam não pela política, mas pela litera-tura: para o bem e para o mal, nosso subcontinen-te mudou, e as nostalgias que governaram essa obra imensa não têm, para as novas gerações, a mesma ressonância mítica.

O mundo é outro, foram outras nossas infâncias, e algumas receitas, como se disse antes, se desgasta-ram. Assim como às vezes Borges parece imitar a si mesmo, também há pági-nas de García Márquez (so-bretudo em “Notícia de um Sequestro”, de 1996, ou “Do Amor e Outros Demônios”, de 1994) que se pautam pela mesma técnica impecável,

mas sem o sangue e a me-dula do início. Ele mesmo o notou, e creio que seu silên-cio recente, além do cansaço da idade, se deveu ao fato de que escrevia já com a inércia do ofício, e não com o vigor das entranhas.

García Márquez teve a du-vidosa sorte de se converter num clássico em vida e de não ver mais seus livros proibidos (como 40 anos atrás em cer-tos colégios colombianos), mas prescritos em doses semelhantes às reservadas às comédias de Shakespeare ou aos cantos de Dante. As-sim é fácil chegar a ser mais venerado do que lido, e ainda mais fácil colher aplausos quando uns reúnem ímpeto para o insulto.

Quando alguém tem um ins-tinto muito mais agudo que os cinco sentidos reunidos, e quanto esse instinto se une a uma intuição poética as-sombrosa e a um profundo conhecimento do coração, não é raro que o dono des-ses atributos seja conside-rado também um profeta. A avó de García Márquez dizia que ele era adivinho. Entre adivinho e divino há poucas letras de distância. Não se deve dar esse passo: Gabriel García Márquez foi um escri-tor imenso, mas deste mundo. Pedir mais é impossível. Dizer mais é idolatria.

MARCOO livro “Cem Anos de Solidão”, que eclodiu em Buenos Aires em 1967, é sufi ciente para torná Gabo um clás-sico eterno. A obra é necessário a qualquer civilização e que falta-va na América Latina.

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4 Exercícios de verão

Imaginação PROSA, POESIA E TRADUÇÃO

Os pombos ofi cialmente entraram em crise.

Meus poemas entraram numa crise em off .

Cada verso acha o poema ao lado mais bacana.

Como nesse momento acho mais ba-cana

estar na laje porque Flora está ali fumando.

Todo verso sonha ser o último do poema.

Flora está em pé, seu corpo apontado para o leste.

Vou apontar esse verso para o leste.

Uma infância em Nova Jersey vem com defeitos como não saber que Roberto Carlos só tem uma perna. Era preciso compensar nas férias, comer Mirabel e pegar conjuntivite. Depois voltava às aulas como se tivesse

ido à selva mas nessa época Flora já sabia “Emoções” de cor.

Hoje está muito escuro aqui dentro do seu coração. Acendo um fósforo e tremo com medo de encontrar hieróglifos de um amor

passado, ouvir os canais de chuva correndo e achar que escutei algum passo. Mas estou mesmo sozinho aqui. E apago.

Sol refi nado da janela. Sol mascavo que bate na terra. Sol cavalheiro de vento, égua castrada. Sol beira de espada. Sol que tenta mas não penetra corações. Sol da manhã que desbota o tapete

da minha mãe enquanto ela toma café com espuma

de leite e considera uma série de emoções

inexprimíveis.

Estou louco para escrever esse poema mas não posso tirar o olho da minha

vida. Oito da noite e o verão não entra pra

jantar. Quer fi car lá fora, fuçando cantos

claros, entrando em luminárias. Obriguei Flora a fumar lá fora. Ela apaga o dia com o pé. Não não me olha assim.

Talvez o último poema antes de meu sobrinho nascer.

Meio-dia, sol de bosque sobre asfalto, movimento comum para segunda-feira na cantina da luz. O sol está espesso como a lona sobre o casamento de

estranhos. Um homem limpa a calçada. Penso na cadeira azul onde você fuma e cata raios de sol para o jantar.

Vou descansar, como cigarros entre pedras portuguesas. Hoje sou muitos, mas somando tudo valho dois tragos. É preciso trabalhar muito, Carlos. Se é que você me ouve. Desmontaram o circo. Vou deitar na lona arriada.

SYLVIO FRAGA NETO

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RESUMOAo longo do verão de 2011 em Nova York, Sylvio Fraga Neto escre-veu um poema por dia, cada um com oito ver-sos --entre os quais os desta página. O poeta carioca inspirou-se no li-vro “A Plate of Chicken”, de Matthew Rohrer, escrito durante um úni-co verão e no qual cada poema tem sete versos. Os poemas estarão em seu próximo livro, previsto para o primeiro semestre de 2015, pela editora 7Letras.

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