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em revista Publicação da Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil/RS Prêmio Nobel da Arquitetura é entregue a escritório japonês. SANAA conquista Pritzker Prize 2010 O Brasil possui, atualmente, um déficit habitacional esmado em 5,8 milhões de domicílios, sendo que deste total 82% estão lo- calizados nas áreas urbanas. Conforme levantamento do Ministério das Cidades, divulgado em março, as regiões metropolitanas repre- sentam 27% das carências habitacionais do País. Programas públicos federais foram lançados com a meta de reduzir esse índice, como o Minha Casa, Minha Vida, além da Lei nº 11.888, sancionada em de- zembro de 2008, que garante a assistência técnica gratuita para a construção, ampliação ou reforma de casas populares. A legislação, inclusive, configura-se como grande oportunidade para os arquitetos que desejam se envolver com iniciavas que podem mudar o perfil das cidades onde vivem e exercem – de uma forma diferenciada – sua responsabilidade social, ambiental e técnica, proporcionando, assim, uma arquitetura de qualidade a quem não tem condições fi- nanceiras. O intuito da lei é assegurar que famílias com renda de até três salários mínimos contem com o serviço técnico apropriado que, de outro jeito, não teriam meios de arcar com os custos. Para o arq. Tiago Holzmann da Silva, a medida poderá ser uma verdadeira revo- lução, tanto para a população como para o segmento da arquitetura. “Pela primeira vez atenderemos à esta enorme demanda de manei- ra organizada e profissional, com contratação regular e honorários adequados”, salienta o arquiteto, que é conselheiro do CREA-RS e conselheiro federal do Instuto de Arquitetos do Brasil no Estado (IAB-RS). Para que a Lei nº 11.888 torne-se uma realidade, o primeiro pas- so a ser dado pelos municípios é firmar um convênio com a União para receber o apoio financeiro necessário, segundo Tiago. Cabe às ARQUITETURA RESPONSÁVEL Veja página 18 2010 Ano VIII n º 48 Mai/Jun A Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) para Interiores pode ser ob- da por um espaço comercial, mesmo numa edificação que não tenha sido cerficada pelo U.S Green Building Council. Ao lado, imagem da sala de reuniões do Hospital Al- bert Einstein, em São Paulo, em processo de cerficação. O projeto, da Kahn do Brasil, prevê iluminação eficiente com baixo con- sumo, carpete com selo verde e ntas com índice mínimo de compostos voláteis. Página 10 prefeituras o cadastramento das famílias e dos arquitetos e enge- nheiros interessados em parcipar. As parcerias poderão ser esta- belecidas com endades de classe e sindicatos, por exemplo, com autônomos ou escritórios e integrantes de programas de residência acadêmica ou de extensão universitária em arquitetura e urbanismo ou engenharia, cabendo ao CREA a fiscalização. “As pessoas cadas- tradas procuram e contratam os profissionais selecionados, que ela- boram os serviços de assistência técnica exclusivamente para aque- la família. Concluído o trabalho, a prefeitura (ou a Caixa Econômica Federal) repassa os valores de honorários devidos ao responsável pelo projeto”, descreve. Com um número ainda mido de ações em andamento, o Minis- tério das Cidades não possui informações centralizadas sobre a quan- dade de municípios que aplicam a lei, o conselheiro informa que o IAB-RS está concluindo um manual de assistência técnica para im- plantação e operação da legislação. “O objevo é fomentar as inicia- vas locais”, frisa. Tiago, que também é sócio da 3C Arquitetura e Urbanismo, argumenta que os arquitetos podem, através de suas endades de classe, formalizar convênios com prefeituras para elabo- rar cadastros de profissionais, colaborando para que essa boa inicia- va venha a sair do papel. Imagem Divulgação/Kahn do Brasil Páginas 10 e 11

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em revistaPublicação da Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil/RS

Prêmio Nobel da Arquitetura é entregue a escritório japonês. SANAA conquista Pritzker Prize 2010

O Brasil possui, atualmente, um déficit habitacional estimado em 5,8 milhões de domicílios, sendo que deste total 82% estão lo-calizados nas áreas urbanas. Conforme levantamento do Ministério das Cidades, divulgado em março, as regiões metropolitanas repre-sentam 27% das carências habitacionais do País. Programas públicos federais foram lançados com a meta de reduzir esse índice, como o Minha Casa, Minha Vida, além da Lei nº 11.888, sancionada em de-zembro de 2008, que garante a assistência técnica gratuita para a construção, ampliação ou reforma de casas populares. A legislação, inclusive, configura-se como grande oportunidade para os arquitetos que desejam se envolver com iniciativas que podem mudar o perfil das cidades onde vivem e exercem – de uma forma diferenciada – sua responsabilidade social, ambiental e técnica, proporcionando, assim, uma arquitetura de qualidade a quem não tem condições fi-nanceiras.

O intuito da lei é assegurar que famílias com renda de até três salários mínimos contem com o serviço técnico apropriado que, de outro jeito, não teriam meios de arcar com os custos. Para o arq. Tia go Holzmann da Silva, a medida poderá ser uma verdadeira revo-lução, tanto para a população como para o segmento da arquitetura. “Pela primeira vez atenderemos à esta enorme demanda de manei-ra organizada e profissional, com contratação regular e honorários adequados”, salienta o arquiteto, que é conselheiro do CREA-RS e conselheiro federal do Instituto de Arquitetos do Brasil no Estado (IAB-RS).

Para que a Lei nº 11.888 torne-se uma realidade, o primeiro pas-so a ser dado pelos municípios é firmar um convênio com a União para receber o apoio financeiro necessário, segundo Tiago. Cabe às

ARQUITETURA RESPONSÁVEL

Veja página 182010

Ano VIII

nº 48Mai/Jun

A Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) para Interiores pode ser obti- da por um espaço comercial, mesmo numa edificação que não tenha sido certificada pelo U.S Green Building Council. Ao lado, ima gem da sala de reuniões do Hospital Al-bert Einstein, em São Paulo, em processo de certificação. O projeto, da Kahn do Brasil, pre vê iluminação eficiente com baixo con-sumo, carpete com selo verde e tintas com índice mínimo de compostos voláteis.

Página 10

prefeituras o cadastramento das famílias e dos arquitetos e enge-nheiros interessados em participar. As parcerias poderão ser esta-belecidas com entidades de classe e sindicatos, por exemplo, com autônomos ou escritórios e integrantes de programas de residência acadêmica ou de extensão universitária em arquitetura e urbanismo ou engenharia, cabendo ao CREA a fiscalização. “As pessoas cadas-tradas procuram e contratam os profissionais selecionados, que ela-boram os serviços de assistência técnica exclusivamente para aque-la família. Concluído o trabalho, a prefeitura (ou a Caixa Econômica Federal) repassa os valores de honorários devidos ao responsável pelo projeto”, descreve.

Com um número ainda tímido de ações em andamento, o Minis- tério das Cidades não possui informações centralizadas sobre a quan-tidade de municípios que aplicam a lei, o conselheiro informa que o IAB-RS está concluindo um manual de assistência técnica para im-plantação e operação da legislação. “O objetivo é fomentar as inicia- tivas locais”, frisa. Tiago, que também é sócio da 3C Arquitetura e Ur banismo, argumenta que os arquitetos podem, através de suas en tidades de classe, formalizar convênios com prefeituras para elabo- rar cadastros de profissionais, colaborando para que essa boa iniciati- va venha a sair do papel.

Imagem Divulgação/Kahn do Brasil

Páginas 10 e 11

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na Editorial2

Estas empresas garantiram participação nos eventos e projetos da AAI Brasil/RS em 2010. Informações na Arte Sul:[email protected] ou fones: (51) 3228.0787 - 9981.3176.

DIRETORIA - Gestão 2010/2011

Presidência Silvia Monteiro Barakat Vice-Presidência Cármen Lila Gonçalves Pires Relações Acadêmicas Maria Bernadete Sinhorelli Exercício Profissional Gislaine Saibro Marketing Ana Paula Bardini Eventos Rosinha Rodrigues Sandra Nara Kury Berthier Tesouraria Elisabeth Sant´Anna

Conceitos e opiniões emitidas por entrevistados e colaboradores não refletem, necessariamente, a opinião do informativo e de seus editores. Não publicamos matérias redacionais pagas. Todos os direitos são reservados. Publicação bimestral, com distribuição dirigida a arquitetos, entidades de classe, instituições de ensino e empresas do setor. Órgão oficial da Associação de Arquitetos de Interiores do Rio Grande do Sul.

CONSELHO EDITORIALArq. Cristina Duarte AzevedoArq. Gislaine Saibro Letícia WilsonEDITORAÇÃOPaica Estúdio Gráfico | TibaCOMERCIALIZAÇÃOArte Sul Marketing & Comércio(51) 3228.0787 - [email protected]

Projeto Empresarial AAI Brasil/RS

JORNALISTA RESPONSÁVELLetícia Wilson (Reg. 8.757)[email protected]ção:Tatiana Gappmayer (Reg. 8.888)Tiragem: 3.000 exemplares

em revistaAssociação de Arquitetosde Interiores do Brasil –

Seccional Rio Grande do Sul

Rua Sport Club São José, 67/407Porto Alegre/RS CEP 91030-510

(51) 3228.8519 www.aairs.com.br

O tema desta edição do AAI em revista leva-nos à reflexão: quais são as responsabilidades dos arquitetos? Pois são as mesmas de sempre – respeito à legislação; dedicação ao cliente, com suas ne-cessidades e orçamento disponível; cuidado com o meio ambiente; atenção à cidade e às pessoas. Além, é claro, da responsabilidade técnica perante o projeto e suas especificações.

Com o passar dos anos, percebemos que algumas questões, apa- ren temente, vão se perdendo. É o caso da relação com o meio ambien- te, pois hoje se sabe que a construção civil é grande causa de poluição no planeta. E do aspecto social da arquitetura, considerando o déficit habitacional de 5,8 milhões de moradias no País. Mais do que cons-truir casas para pessoas, é preciso garantir Arquitetura para todos. E nesse ponto, avançamos. Após três décadas de espera, os brasileiros conquistaram o direito à assistência técnica e gratuita para investi-rem em seus lares com dignidade e segurança. Os arquitetos podem se mobilizar para participarem desta importante iniciativa idealizada pelo então deputado e arq. Clóvis Ilgenfritz, firmando convênios com prefeituras. Um novo mercado se apresenta ao profissional que, após a leitura desta edição, pode sentir-se estimulado a cumprir uma par-te da sua função social. Mas tratamos, também, de ética, com o de-poimento de um dos fundadores da Associação, arq. Salus Finkelstein, que nos fala sobre transparência na relação com o cliente, e o mer-cado, que vê como uma questão de atitude profissional.

Arq. Silvia BarakatPresidente da AAI Brasil/RS - Gestão 2010/2011

REUNIÕES-ALMOÇONo almoço de março, mais de 40 associados assistiram a palestra da relações públicas Suzana Vellinho Englert, sobre “2010 – Otimismo para os prestadores de serviços”.

No dia 7 de abril, palestrou o arq. Klaus Bonhe, pesquisador e es-pecialista em energia solar fo -tovoltaica, sobre o tema “Pro je- to Anchieta Solar – Criando em- patia criativa e proativa”.

AAI Brasil/RS NO CREA-RSA Associação, por meio de sua representação no CREA-RS, assume a coordenação adjunta da Comissão de Ética do Conselho. A atual conselheira, arq. Gislaine Saibro, já coordenara a mesma Comis são em 2007.

FÓRUM DE ENTIDADES DE ARQUITETURA NO RSOs presidentes das entidades que compõem o Fórum – IAB, AsBEA, AAI Brasil/RS e FNA – e seus representantes reuniram-se no dia 6 de abril para discutir formas de ampliar as discussões sobre o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), prestes a ser criado, quanto ao seu Regimento Interno.

UNIVERSIDADESMembros da diretoria da Associação e seus convidados ministra rão o curso de extensão “Atuação Profissional em Arquitetura de In te -riores”, oferecido pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni sinos nos dias 18, 20 e 25 de maio. Esta é uma nova iniciativa da AAI Brasil/RS junto ao meio acadêmico, um dos focos de interesse da En tidade, conforme apontou a pesquisa realizada em janeiro jun-to a seus associados.

VISITA TÉCNICA MOVELSULUm grupo de profissio-nais prestigiou a Movel-sul Brasil 2010, no dia 15 de março, em uma Vi sita Técnica promovida pela AAI Brasil/RS à Bento Gonçalves.

AAI Brasil/RS

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na Profissão4

O que mudou em relação às responsabilidades assumidas pelos arquitetos nestas últimas décadas?

Na formação profissional, as responsabilidades civil, social e com o meio ambiente são intrínsecas. Essa preocupação sempre houve e isso foi transmi-tido. Quem mudou foram as pessoas. Hoje as pes-soas cobram mais.

Quanto a responsabilidades, pensamos também na atuação do arquiteto nas decisões da cidade.

Infelizmente, nós arquitetos, perdemos a impor-tância que deveríamos ter. A construção no Brasil, nos anos 60, era muito artesanal. Quando se tornou uma atividade industrial, os interesses econômicos se voltaram para a construção civil. E nós, arquitetos, não soubemos impôr nossas lideranças.

Por isso, nos planos diretores, as decisões são distorcidas. Em todo o Brasil, não conheço uma exce- ção. O homem continua matando a natureza por des- conhecimento e por interesses econômicos. Os pla-nos diretores até são encomendados para arquitetos, mas com diretrizes estabelecidas por gente que tem interesses econômicos. No início da criação dos sin-dicatos, nossos colegas ‘fanáticos’ quiseram trans-formar isso numa luta de classe. E não era. Quando tínhamos Niemeyer e Lúcio Costa em destaque, não tivemos coragem de assumir posições. Naquele mo-mento, os arquitetos deveriam estar à frente no lan-çamento das diretrizes brasileiras da construção, com a criação do Banco Nacional da Habitação (banco pú blico criado em 1964 para financiar a produção de empreendimentos imobiliários; extinto em 1986, quando incorporado pela Caixa Federal).

A ética parece uma questão nebulosa no meio, considerando os apelos de mercado, certo?

É uma distorção da nossa época. Na minha forma ção ficou bem claro que eu devo cobrar um preço jus to pelo meu trabalho. Aí tem um problema. Entendo que algumas entidades não se posiciona-ram com uma tabela sintonizada com a realidade brasileira – assim como nossa Entidade (AAI-RS, ago-ra AAI Brasil/RS) se posiciona, publicando um livro (GOP) que discute tabela e métodos de cobrança de ho-norários.

Todas as eventuais van-tagens obtidas como profis-sional, diretor da obra ou de orça mentos, devem ser do cliente, porque já se está co-brando honorários. O que acontece é que o mercado é muito inteligente. Sente a importância e tenta atrair.

Antes era comissão, hoje é ‘reserva técnica’. Eu sei que sou o ‘soldado de passo certo ou errado no ba-talhão’. E sei que isso foi incorporado talvez por ne-cessidade de sobrevivência dos colegas. No meu mo-do de ver é uma distorção. Não estou dizendo que seja desonesto, é uma questão de conduta. Quero ter a independência e a honestidade de classificar de ótimo, médio e ruim um fornecedor, sem com-prometimento financeiro. Estamos numa posição em que esta prática fica meio que em segredo. E isso é um erro mor tal. A primeira coisa que é preciso ter com o clien te é transparência, em todas as atitudes.

Diante de sua trajetória, como construir uma imagem de credibilidade e transmiti-la ao mercado?

O arquiteto tem que ter princípios. São os princí- pios básicos da profissão dele e disso a gente não abre mão. Por princípio o cliente sempre tem razão – e is so é verdade, mas é a razão de reclamar. Cabe ao arquiteto defender o princípio. Não se dá ‘jeitinho’, medida é uma coisa exata. Isso é fundamental e é o que a gente passa e já passou para algumas gerações de profissionais. Passaram por aqui vários estudan-tes e arquitetos e não lembro de nenhum ser meu inimigo. Aliás, sou padrinho de casamento de uma meia dúzia.

As universidades têm um papel importante nes-sa formação ética. Elas vêm fazendo um bom tra-balho?

A formação da faculdade é fundamental e acre-dito que a maioria dos professores, que estão hoje passando conhecimento para os alunos, tem deficiên- cia de informações de mercado. Com isso, ingressam no mercado profissionais que não têm a qualificação ética necessária e podem ficar na mão de fornece-dores – prejuízo para a sociedade e para os clientes.

A iniciativa de fundar a AAI-RS passava, tam-bém, pelo interesse de ‘regular’ o mercado em re-lação à ética?

A ideia era exatamente essa. A primeira reunião foi no meu escritório e tenho muito orgulho disso. O nosso IAB, na época, era falho com relação à ar-

quitetura de interiores, pois achava que era atividade se-cundária. Resolvemos, en-tão, fazer uma associação de profissionais atuantes há um certo tempo. Não queríamos concorrer com outras enti-dades. A Associação vingou, graças ao trabalho ‘des sas moças’ que estão aí, que são formidáveis (referindo-se às últimas Diretorias).

ARQUITETO DE PRINCÍPIOSAo completar 50 anos de profissão, o arq. Salus Finkelstein, um dos fundadores da Associação,

é referência de trabalho sério e dedicado. Nesta entrevista, ele fala sobre ética, responsabilidades e relação com o mercado

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“Cabe ao arquiteto

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na Detalhe6

ALÉM DA FORMA E DA FUNÇÃOA Office Solution, em sua 13ª edição, demonstrou a responsabilidade do design do

mobiliário corporativo, pautado pela versatilidade e sustentabilidade. A arq. Cristina Azevedo participou do evento e registra aqui as suas impressões

“O arquiteto, como projetista e especificador de produtos, está na constante busca de informações para oferecer, aos seus clientes o que há de melhor no mercado. Este foi um dos objeti- vos da XIII Office Solution, que ocorreu em São Paulo (SP), de 5 a 9 de abril, no Parque do Ibirapuera. Além da feira de produtos e serviços prediais e de interiores com foco específico em arqui-tetura de interiores, o evento contou com a exposição dos Premiados do VII Grande Prêmio de Arquitetura Cor porativa, que englobou as áreas de saúde; residencial unifamiliar, in- te riores, projeto predial; obras pú-blicas; estudantes; comercial; escri-tórios de interiores retrofit, entre ou- tras categorias. E, ainda, o 34º Sim-pósio de Negócios de Arquitetura, que ocorreu paralelo à feira.

Destinada especificamente a pro fissionais do setor, a feira apre -sen tava produtos para uso nos mais diversos segmentos de arquitetura de interiores, como hotéis, shopping centers, hospitais, escolas, comércio, corporativo; enfim, um amplo uni ver- so que o mercado oferece. No seg -mento mobiliário, destaque para as mesas, cadeiras, estações de trabalho, arquivos e acabamentos; na arquitetura, os pisos, persianas, forros e luminárias; em tec-nologia, a automação, hardwares e softwares, e em facility, a logística, segurança e serviços.

Com relação aos produtos, destaque para as opções de cadei- ras ecológicas, 100% recicláveis, mutáveis, com troca de peças e revestimentos, conectáveis, permitindo o acoplamento de peças de apoio, empilháveis e com possibilidade de uso externo. São cada vez mais características incorporando-se em um mesmo produto. Iniciativas ecológicas quanto à redução do ar poluente na produ- ção dos produtos; 100% de uso e com perda zero em produtos, co mo em carpetes modulados; 50% de redução no uso da água e trabalho com energia eficiente, com recordes anuais de redução da mesma; sem utilização de PVC são preocupações e trabalhos constantes nas empresas, principalmente nas de carpetes.

O mobiliário, com seu design ‘puro’ e, ao mesmo tempo, ar ro jado, inspirado na obra de nosso grande mestre arq. Oscar Niemayer, aparece também como destaque (foto 1). É um mo-biliário com inovação, tecnologia e confiança. Design diferen-ciado, alta funcionalidade e opções de acabamento. Facilidade na instalação e conexão da infraestrutura com infinitas possibi-

lidades de composições para a oti-mização dos espaços são caracterís-ticas fundamentais. Sustentáveis, assim como bonitos, buscando o SMART (Sustainable Materials Ra-ting Tech no logy), sendo comparável, nas edificações, com a certificação LEED. Este é o empenho das empre-sas do setor.

Os painéis acústicos em madeira, para teto e parede, com grande va-riedade de desenhos, materiais e formatos, diferentes formas de fixa-ção, fixos desmontáveis e ajustáveis, com uso ideal para teatros, auditó-rios, restaurantes e salas de vídeo conferência foram apresentados por várias empresas do setor. Os pisos vi nílicos desenvolvidos a partir de PVC reciclado, com a aparência natu-

ral da madeira e atendendo ao tráfego pesado, como de shoppings centers e academias, parecem surgir como uma ótima opção de- vido à facilidade de instalação e durabilidade, além da beleza dos padrões de acabamento.

Quanto às divisórias, o grande destaque foram as ‘paredes elétricas’ com recolhimento vertical automático (foto 2), consi-deradas a ‘última palavra’ em paredes autolift do mundo, com excelente performance acústica de 51 dB e apresentando uma infinidade de acabamentos.

Um setor da feira que chamou a minha atenção foi o espaço dos arquitetos. Ao contrário de ambientes/cenários montados por escritórios de arquitetura, nesta feira, os escritórios tinham seus estandes, mostrando todos os seus trabalhos ao público presente. Enfim, é o arquiteto como um expositor, assim como as demais empresas. Um grande avanço!”

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na Debate8

CAIS MAUÁ: REENCONTRO DE PORTO ALEGRE COM O GUAÍBA

Um dos cartões postais mais famosos da Capital está próximo de ser reestruturado. Após uma espera de mais de 20 anos, o so­nho de recuperação do Cais Mauá deve começar a sair do papel em maio deste ano, com a publicação do edital para a definição das empresas que executarão as obras no local. O documento, cuja minuta está sendo analisada por uma Comissão na Agência Nacio­nal de Transportes Aquaviários, trará informações sobre legislação, diretrizes, regramentos e regime urbanístico a serem respeitados. “Tudo aquilo que é necessário para que os arquitetos possam tra­balhar”, adianta o gerente do projeto estruturante de revitalização do Cais Mauá, Edemar Tutikian. Segundo ele, não há uma propos­ta arquitetônica definida para a região, que totaliza uma área de 3,3 quilômetros – entre a Usina do Gasômetro e a Estação Rodo­viária, e que neste primeiro momento a Comissão trabalhou so­mente com a questão legal. O investimento estimado é de cerca de R$ 500 milhões.

Para Tutikian, também diretor de Desenvolvimento e Marketing da CaixaRS, além de responder a um desejo antigo da população, a importância da intervenção está na revitalização do Centro Histórico, em sua integração com o Cais e no seu desenvolvimento econômico. De acordo com ele, as obras vão gerar cerca de 3 mil empregos dire­ tos e outros 600 indiretos, e alavancar o turismo de negócios da ci­dade. “Hoje temos 16% do ‘bolo’ nacional e poderemos atingir entre 24% e 25%”, projeta.

O regime urbanístico para as futuras construções foi definido na Lei Complementar Nº 638, aprovada pela Câmara Municipal em de­ zem bro de 2009 e sancionada pela Prefeitura em março. O texto as segura a preservação dos armazéns, do pórtico, dos prédios da Su perintendência de Portos e Hidrovias e do Frigorífico, do calçamen­ to e dos trilhos ferroviários de bonde.

Na região do Gasômetro, explica Tutikian, poderá ser construído um shopping center, respeitando as alturas propostas pelo Conselho

do Patrimônio Histórico. Já nos armazéns estão previstos empreendi­ mentos voltados para a cultura, lazer, gastronomia e o terminal hidro­ viário. As docas serão destinadas a espaços corporativos com edifica­ ções de até 100 metros de altura e estacionamentos. Os estudos am bientais deverão ser feitos na fase de apresentação dos projetos exe cutivos e o consórcio vencedor terá, ainda, de propor soluções que contemplem a acessibilidade. Serão, também, analisados crité­rios de sustentabilidade, como uso eficiente da energia e da água, reu tilização e redução dos resíduos sólidos. Sobre o Muro Mauá, Tutikian frisa que ele faz parte do sistema de defesa da cidade contra cheias e que está no mesmo nível dos taludes das avenidas Castelo Branco e Beira­Rio. “Portanto, não pode ser retirado. Ele é importan­ te para a segurança interna”, pondera.

Preocupação com os índices construtivosO presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Estado (IAB­

RS), arq. Carlos Alberto Sant’Ana, comenta que os índices construti­vos permitidos podem levar a uma ocupação que descaracterizará a região, alterando a paisagem, e a problemas de circulação, devido ao aumento da movimentação e da instalação de edifícios­garagens. Segundo ele, não foi divulgado um plano de trânsito, para avaliar se a medida será favorável ou não para Porto Alegre. “Houve uma preo­ cupação excessiva em conceder índices construtivos para a iniciativa privada, com o intuito de viabilizar economicamente o projeto”, ava­lia. Para Sant’Ana, faltou “amarrar” melhor a questão financeira com uma ideia de desenvolvimento da cidade, e a escolha da proposta deveria ser feita via concurso público internacional.

Contudo, o dirigente reforça que a ação é importante por ser um lugar representativo para os gaúchos, e porque poderá desencadear outras melhorias no Centro. “Porém, faltou uma maior integração do Cais Mauá com outros projetos esperados para essa área da Capital”, reitera o arquiteto.

Edital para seleção das empresas responsáveis pelo projeto de recuperação da área deve ser lançado no primeiro semestre deste ano. A intenção é inaugurar o novo Cais Mauá para a Copa de 2014

Foto Divulgação/ CaixaRS

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na Capa10

OS MÚLTIPLOS PAPÉIS DO ARQUITETOPense globalmente, aja localmente. A máxima que, há décadas,

virou lema no mundo dos negócios continua atual e é aplicada nos mais diversos setores, inspirando ações que estão mudando a vida e os espaços de muitos. O arquiteto, com a sua missão de promover o bem-estar e levar a beleza aos locais mais improváveis, não pode deixar de dar a sua contribuição nesse momento de tantas mudanças sociais, econômicas e climáticas. Uma série de medidas vem sendo criadas, utilizando o conhecimento desses profissionais, com técni-ca e inovação, para oferecer soluções que gerem uma arquitetura de qualidade com o menor impacto possível.

Os quatro elementos fundamentaisA arquitetura tem se voltado também – e de forma mais intensa

a cada ano – para o meio ambiente e as maneiras de interagir com ele, minimizando o impacto dos projetos. O arquiteto japonês Mit-suru Senda é referência nesse segmento, ele é fundador e presiden-te do Environment Design Institute e professor da The Open Univer-sity of Japan, com obras focadas na identificação cultural e na sus-tentabilidade. Esta, inclusive, forma um dos quatro pilares nos quais o profissional baseia suas criações. Os demais são ‘participação’, ‘in-tegralidade’ e ‘relação’. No Brasil para a 4ª Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, ocorrida em março em Curitiba (PR), Senda fez uma parada em Porto Alegre para apresentar algumas de suas realizações numa palestra no UniRitter.

À AAI em revista, Senda falou que a união dos quatro itens supra citados assegura a harmonia do design ambiental. Ele considera a ‘participação’ como o trabalho conjunto de quem projeta com os

Iniciativas realizadas no Brasil e no mundo revelam caminhos diferentes para uma atuação responsável com as pessoas e o com o ambiente

usuários, e a ‘relação’, a inserção da proposta na história e no con-texto local. Já a ‘integralidade’ é vista como a união de todos esses aspectos. Para o profissional, enquanto o século XX foi o do desen-volvimento material da população, o atual é o da preocupação am-biental. Segundo ele, a arquitetura contribui com cerca de 40% das emissões de CO2 no Japão. Para reverter esse quadro, em 2000 foi lançado o estatuto para uma arquitetura global, contendo cinco prin-cípios básicos para orientar as construções preocupadas com a na-tureza. O primeiro listado por Senda é a longevidade. “Uma constru-ção deve ter o maior ciclo de vida possível, dando durabilidade ao que for elaborado”, afirmou. O próximo foi a simbiose natural, se-gundo a qual deve haver harmonia do projeto com o meio ambien-te. “O conforto térmico de uma edificação pode ser melhorado atra-vés das árvores escolhidas para o lugar. Uma com floração nas esta-ções quentes, proporcionando sombra, e sem folhas no inverno, aumentando a exposição solar”, exemplificou. Outro ponto do esta-tuto destacado pelo arquiteto foi a eficiência energética, que deve maximizar o uso de fontes alternativas e de soluções técnicas como vidros duplos e refletores da iluminação natural. O quarto foi o da conservação de recursos, com o emprego de materiais recicláveis. Ele observou que, em seu país, a tendência é a de escolher madeira para as grandes obras, por sua possibilidade de reuso. Por fim, Sen-da falou sobre a sucessão, definida como trabalhos com forte apelo cultural, histórico e de identidade. “São obras que possam permanecer para as pró-ximas gerações, preservando o seu sentido”, descreveu.

Foto Evelise Morais/Divulgação UniRitt er

“Projeto sempre pensando o mundo como gostaria de vê-lo no futuro.”Arq. Mitsuru Senda, autor do projeto da Biblioteca da Universidade de Akita, no Japão, com estrutura de madeira que lembra tradicional guarda-chuva japonês

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OS MÚLTIPLOS PAPÉIS DO ARQUITETO

Mais do que conceitos teóricos, Senda apresentou, na palestra, alguns projetos nos quais aplicou esses parâmetros. Entre eles, o da Biblioteca da Universidade de Akita (Japão). O arquiteto esco-lheu o formato de um tradicional guarda-chuva japonês para a es-trutura do prédio, que contou com materiais híbridos como ma-deira e metal. Por ser uma região fria, criou passarelas para inter-ligar o campus, pensando na mudança das estações. “Toda a pro-posta foi desenvolvida para incentivar o contato com os livros. Os estudantes ficam cercados por eles e ainda têm espaços para a leitura com vista para a paisagem”, salienta, complementando que: “a arquitetura deve se adaptar para acompanhar a mudança da temperatura e do tempo”.

Uma escola e jardim de infância na cidade de Yokohama, próxima à Tóquio, foi outra ideia detalhada pelo arquiteto. Com uma área de 2,5 mil m2, o espaço foi dividido da seguinte forma: no térreo ficaram as crianças de até três anos e no andar de cima, as de até cinco. Pa-ra permitir espaços para a brincadeira, Senda instalou redes na área central (onde seriam os corredores) para aumentar a movimentação dos alunos. Um dos focos da sua atuação, inclusive, são os parques e locais lúdicos e o desenvolvimento de melhores ambientes para as crianças. “Projeto sempre pensando o mundo como gostaria de vê-lo no futuro”, concluiu.

Bambu: uma alternativa arquitetônica ecológicaA sustentabilidade também é uma constante nos projetos da

arquiteta paulista Leiko Motomura, do escritório Amima Arquitetu-ra. Pesquisadora de aplicações do bambu, desde 1990, estudou a fundo as possibilidades de seu emprego nas edificações. Antes disso, esteve na Alemanha, para participar de um congresso sobre arqui-tetura solar passiva. O resultado desses interesses está no trabalho que desenvolve hoje. Leiko é autora do projeto do Centro Cultural Max Feffer, em Pardinho (SP), primeiro na América Latina a receber o “selo verde” da Green Building Council (GBC).

Leiko Motomura sempre se preocupou com a responsabilidade do arquiteto ao especificar os materiais. “Há toda uma indústria produzindo-os, e é preciso pensar o problema do resíduo, da demo-lição, do desmanche, do uso da energia. A partir disso, fui me apro-fundando mais nesses assuntos”, lembra. Ela salienta que sempre trabalha com a assessoria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, que conta com um laboratório de

conforto ambiental onde testa, de forma calculada e simulada, todas as possibilidades do bambu, aplicado em pisos, paredes e cobertu-ras. “A intenção é tirar proveito dessa capacidade da planta de con-duzir e armazenar calor”, explica. Seus clientes a procuram por essa característica de sustentabilidade. “Estamos começando a assessorar escritórios de arquitetura que fazem empreendimentos maiores, nos quais conseguimos ver soluções não só da nossa área, mas de infra-estrutura”, relata. Para ela, isso é responsabilidade do arquiteto: vi-sualizar o todo.

Potencial sustentável em projetos popularesA preocupação com os impactos ambientais deve ser uma cons-

tante, independente da classe social para a qual se projeta. A opinião é defendida pelo professor doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), arq. Márcio Rosa D’Avila. Ele vê, no campo da habitação popular, potencial para a atuação dos profissionais da área e também para a inclusão de itens norteadores da sustentabilidade econômica, social, cultural e, claro, ambiental. “Com o grande déficit habitacio-nal do País, surge para os arquitetos a oportunidade de pensar em como integrar esse público a processos de geração de renda, em usar materiais regionais e de menor dano para o planeta e a respei-tar a identidade de cada comunidade”, frisa.

Um desafio para o segmento, apontado pelo professor, será de-bater o aumento das cidades. Em algumas regiões da Ásia a pers-pectiva é de que, em 2020, elas ultrapassem a marca dos 30 milhões de habitantes. “Esse crescimento ilimitado demanda que se reflita sobre as ações políticas e econômicas a serem adotadas, além das de infraestrutura para atender a essas populações”, pondera. Nesse contexto, a participação dos profissionais nas discussões públicas configura-se em uma maneira de se envolver com essas questões e colaborar para que as medidas selecionadas sejam as mais adequa-das para a cidade e seus moradores. O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Estado (IAB-RS), arq. Carlos Alberto Sant’Ana, comenta que os profissionais gaúchos têm bastante interesse nos assuntos públicos, mas poderiam ser mais atuantes nas suas entida-des. Para ele, mais interação representa o esforço de conscientização da importância da arquitetura. “Enquanto a área for vista como a arte do superficial, ela não será valorizada, nem receberemos os honorários adequados”, avalia.

Foto Roger Sassaki /Arquivo pessoal arq. Leiko Motomura Foto Divulgação Consulado do Japão

Centro de Cultura Max Feffer, projeto da arq. leiko Motomura: primeiro a receber “selo verde”

Redes instaladas na área central da escola japonesa de Yokohama estimulam as brincadeiras das crianças. Ideia do arq. Mitsuru Senda

Foto Evelise Morais/Divulgação UniRitt er

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PELO DIREITO DE TODOSO trabalho realizado pelos arquitetos pernambucanos Patrícia

Chalaça e Marcelo Souza Leão, através do Projeto Casa da Criança, é um exemplo concreto da responsabilidade do ofício para com a sociedade. A Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), que criaram há dez anos, desenvolve desde reformas e cons-truções a ações que primem pela qualidade do atendimento a crian-ças e adolescentes, beneficiando abrigos, creches, centros de edu-cação, hospitais e casas de apoio, entre outros.

A ideia surgiu da vontade de Patrícia em contribuir para diminuir as grandes diferenças sociais no Brasil e retribuir as oportunidades que a vida lhe ofereceu. Um dia, após uma exposição, mobilizou profissionais, construtores e cerca de 500 empresas para, de forma voluntária, reformar o abrigo Casa de Carolina, em Recife (PE). “Quan-do chegamos lá, vimos que o lugar era inapropriado para as 100 crianças atendidas e decidimos alterar aquela realidade. Confesso que não imaginávamos que essa se tornaria uma ação nacional. Era, mesmo, apenas a realização de um sonho”, compartilha. Hoje são 2 mil profissionais, 1 mil construtoras e 20 mil empresas fornecedoras participantes, em 15 estados.

Ao desenvolver os projetos, toda a rede segue critérios estabele- cidos pela experiência acumulada nesta década de atuação. Uma pes- quisa avalia a durabilidade dos materiais, a qualidade e a segurança das crianças. Os cuidados vão desde a especificação dos produtos em- pregados, desenvolvimento da proposta, do programa de necessida- des à execução. “As preocupações envolvem a não utilização de vidro, a manutenção dos espaços e o tipo de iluminação”, exemplifica Pa-trícia. Para cada público específico (dividido pela faixa etária e ação), um programa de atendimento é criado. Na parte infan til, por exem-

plo, são sempre previstos parquinho, sala para leitura interativa, brin-quedoteca e espaço para a contação de histórias. Nos ambientes para adolescentes, biblioteca com computadores, áreas para a arte, leitura e oficinas profissionalizantes. E, para as crianças com câncer, existe a atenção em ter um local para que as mães possam fazer ar-tesanato ou outras atividades. “Geramos uma mudança efetiva na arquitetura das instituições, levando à alteração de uso dos espaços e uma melhoria de vida aos que usufruem deles”, argumenta.

Como profissional, uma das dificuldades enfrentadas é a ausên-cia de lugares planejados para os seus usuários e a falta de infraestru- tura elétrica e hidráulica nestes espaços. Patrícia acredita que a ar-quitetura é um direito de todos, assim como é a assistência médica e a educação. “O Casa da Criança gera, através das modificações que promovemos, uma possibilidade para que os arquitetos retribuam a formação que tiveram àqueles que possuem menos oportunida-des”, considera. Os resultados obtidos nesses anos de atuação são a melhora da autoestima das crianças, do conforto oferecido e do desempenho educacional e da saúde.

Para viabilizar o projeto em uma região, é necessário a formação de um grupo de quatro pessoas, sendo dois arquitetos e dois de segmentos diversos. No Rio Grande do Sul, adianta Patrícia, uma equipe de franqueados está sendo concluída. “Já houve um início, mas é preciso que ocorra o treinamento para que, de fato, tenhamos pessoas comprometidas e que possam realmente doar parte do seu tempo”, frisa. A partir disso, os profissionais recebem a metodologia e acompanhamento da coordenação nacional, numa espécie de fran-quia social. Mais informações sobre o Casa da Criança podem ser obtidas pelo www.projetocasadacrianca.com.br

Enfermaria do Abrigo Tia Júlia, em Fortaleza (CE), reformada em 2002. Projeto das arquitetas Lídia Militão, Karin Pereira, Viviane Cordeiro, Catarina Ramos e Cláudia Vida

Sala de Quimioterapia do setor de Oncologia Infantil do Hospital Gov. João Alves Filho, em Aracaju (SE), transformado em 2006. Projeto das arquitetas Ana de Cássia, Shirley Barbosa, Sandra Graça, Josi Maciel

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LEED PARA INTERIORES

A certificação LEED para Interiores (LEED CI) já existe há 10 anos. Por que está sendo mais divulgada agora?

Acredito que as pessoas, no Brasil, estão mais conscientes da importância da sustentabilidade. Além da compreensão de que a certificação é a melhor ferramenta que permite mensurar e compa-rar indicadores para edifícios.

Esta parece ser uma certificação mais ‘acessível’ aos arquitetos, mais fácil de ser obtida, certo?

A certificação, em geral, é um processo trabalhoso e desafiador, caso os pré-requisitos não sejam completamente atendidos, o prédio não será certificado. A certificação LEED CI possui o diferencial que pode ser aplicada nos interiores de um espaço alugado em um edi-fício de escritórios, shopping centers, torres de múltiplo uso, lojas e restaurantes, mesmo o edifício não sendo certificado previamente.

Essa vantagem deverá levar a sua popularização? A certificação será cada vez mais difundida e trará mais um di-

ferencial para atrair o público. Os resultados se revelam em, por exemplo, 7,5% de acréscimo no valor do edifício e o aumento de, pelo menos, 3% no valor do aluguel, conforme dados norte-ameri-canos do US Green Building Council.

No dia 15 de maio Porto Alegre sediará um curso sobre a certificação LEED para Interiores. O AAI em revista adianta o tema nesta entrevista com a palestrante arq. Eleonora Zioni, coordenadora de Arquitetura da Kahn do Brasil. Entre as primeiras a receber a certificação LEED no País, emitida pelo U. S. Green Building Council, Eleonora integra a comissão técnica de nacionalização da versão LEED 2009

Quais os pré-requisitos para obtenção e quanto tempo, em mé-dia, leva esse processo?

Os pré-requisitos abrangem o atendimento a metas de perfor-mance energética, a redução de gases causadores de efeito estufa, a criação de abrigo para resíduos recicláveis e ao atendimento da qualidade mínima de ar interno, como a proibição do fumo no edi-fício. O processo é variável de acordo com o projeto, mas pode de-morar bastante tempo.

Quais podem ser as principais dificuldades enfrentadas pelos profissionais para obter a certificação?

A indústria da construção está mais consciente e preparada pa-ra fornecer os dados e os produtos sustentáveis e necessários para a certificação. Entretanto, como a certificação abrange as esferas ambiental, econômica e social, vejo a maior dificuldade na quebra dos paradigmas sociais. Por exemplo, não adianta ter um abrigo de resíduos recicláveis no prédio se as pessoas não separarem o lixo.

Há projetos com LEED CI na Região Sul? Ainda não. Uma das primeiras certificações no Brasil foi a do

Banco Morgan Stanley, em São Paulo. A conquista da certificação demonstra a preocupação do arqui-

teto com o social, o ambiental e o econômico. Quais são as respon-sabilidades atuais dos arquitetos?

Nossa responsabilidade é muito grande. As obras que os arqui-tetos projetam e constroem permanecem por muitas décadas. Temos que nos preocupar com as construções, pois são responsáveis por 39% das emissões de carbono na atmosfera, mais do que os meios de transportes e as indústrias, conforme dados norte-americanos do Environmental Information Administration.

Saiba mais pelo www.ecobuilding.com.br

NOVO BRASILEmpresários e profissionais se unem e lançam projeto inovador na Movelsul

Um imóvel com soluções arquitetônicas, materiais e móveis de qualidade a baixo custo. Essa foi a ideia do projeto Consumidor do novo Brasil, lançada pelo Sindicato das Indústrias do Mobiliário (Sind-móveis) na Movelsul, a maior feira do setor da América Latina, rea-lizada em março, em Bento Gonçalves (RS). No Parque de Eventos, num estande central da feira, foi montada uma casa de 50 m2, nos moldes dos empreendimentos oferecidos pelo programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida. Aliando o trabalho dos arquitetos parceiros e os materiais das empresas apoiadoras, o custo total do empreendimento foi de R$ 66 mil, dos quais R$ 6 mil corresponde-ram ao mobiliário e a ambientação interna.

O que a tornou tão barata? “Além do projeto racional e do pro-cesso construtivo, as escolhas de móveis e equipamentos adequados, dentro de uma faixa de preço condizente com o público alvo”, expli-

cam as arquitetas Tina Moura e Lui Lo Pumo, responsáveis pelo layout e pela ambientação da casa. No projeto do imóvel, privilegiaram o conforto e adequação estética e funcional. O desafio é mostrar que a arquitetura e elementos de design podem e devem estar presentes em qualquer moradia, independentemente de faixa social e econô-mica. “Morar bem é democrático, e melhora a qualidade de vida”, resumem Tina e Lui. Para o diretor do Salão Design, Alexandre La-zzarotto, e um dos idealizadores do projeto, este foi um exemplo prático e funcional de que design não significa produto de alto cus-to. O Sindmóveis baseou-se em dados que comprovam a força da nova classe média brasileira - ela forma 52% da população do País, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas. A casa, com todos os móveis, será doada pelos patrocinadores a uma família da serra gaú-cha, com o apoio da prefeitura de Bento Gonçalves.

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Com 50 m2, imóvel teve custo de R$ 60 mil,

incluindo mobiliário. Projeto das arquitetas

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AAI Brasil/RS EM PELOTAS E JAGUARÃOCom forte influência da colonização portuguesa, Pelotas é uma

referência em arquitetura, arte e preservação do patrimônio entre as cidades gaúchas. Não é à toa que integra o grupo de 26 municípios brasileiros contemplados pelo Programa Monumenta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – o único do Rio Grande do Sul.

E foi para lá que seguiram os participantes da Visita Cultural pro-movida pela AAI Brasil/RS nos dias 16 e 17 de abril. A primeira parada foi na Fábrica de Mosaicos, fundada em 1914 – época em que a in-dústria do charque impulsionava o desenvolvimento econômico da região. A empresa apostou na difusão do ladrilho hidráulico, material trazido para o Brasil pelas mãos dos imigrantes portugueses, fran-ceses e belgas. Hoje a empresa é referência mundial nesta produção.

O grupo conheceu uma charqueada (a mais antiga é de 1826) e seguiu para o Museu Municipal Parque da Baronesa, inaugurado em 1982 e tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal três anos de-pois. O parque ocupa uma área de 7 hectares, com jardins, bosque, lagos, a Casa de Banho e o casarão construído pela família Antunes Maciel, em 1863 , que bem retrata os hábitos e costumes das famí-

lias de posse da época. Na Capital Nacional do Doce, os arquitetos ainda visitaram o Centro Histórico antes de partir para Jaguarão, a 140 quilômetros de Pelotas, onde puderam apreciar um dos maiores acervos arquitetônicos do Estado. São 800 edificações de variados estilos catalogadas pela Prefeitura Municipal, um conjunto arquite-tônico da metade do século XIX.

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O mobiliário oriental, há décadas, influencia o ocidente. No Brasil, peças muito particulares de origem étnica chinesa têm ganhado espaço. Em Novo Hamburgo (RS), a Casa Pres-ser foi uma das pioneiras em trazer essas peças para o Bra-sil. No portifólio, estão aparadores entalhados à mão e cô-modas feitas em madeira de alto padrão com detalhes em ratan. Os móveis da marca estão à venda na região com exclusividade em seu showroom e na Abitare Couro Design. Confira a coleção completa em www.casapresser.com.br

A Docol acaba de lançar o primeiro produ-to flex do mercado: uma linha de torneiras e misturadores para banheiros residen-ciais. As peças trazem um exclusivo sis-tema de acionamento que possibilita tanto o uso automático como em 1/6 de volta. A linha Residencialmatic Oá-sis permite o uso racional da água, com conforto ao consumidor. Saiba mais em www.docol.com.br

Um papel especial, puro, ideal para receber a delicada pena para o desenho ou a pedra da gravura. Esta foi a inspiração da designer gaúcha Ana Maldonado, que captou as inter-ferências na textura plana para simular o efeito de papel amassado em uma parede. O resultado está na linha Ruído, da Solarium Revestimentos. São quatro módulos distintos, no tamanho 50x50cm, com padrões de amassados que se completam, criando um efeito de movimento irregular no volume. Veja mais em www.solariumrevestimentos.com.br

Se o chuveiro é apontado como um dos vilões do con-sumo de energia elétrica, novidades como o Eco Sho-wer Slim são muito bem-vindas. A KL Telecom lançou um produto pe que no e simples que, conforme testes da Universidade Federal de Itajubá (MG), permite uma economia de 40% de energia elétrica e de água. Mais informações em www.ecoshoerslim.com.br

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Produtos e Serviços

O Projeto de Lei (PL) que cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) já tramita na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, a última antes de seguir para o Senado Federal. No dia 14 de abril o PL foi aprovado por ampla maioria na Comissão de Finanças e Tributação, considerando o parecer do re-lator, dep. Arnaldo Madeira, de adequação financeira e orçamentá-ria do PL 4.413/2008, entre outras emendas, com o objetivo de “pro-teger o Tesouro Nacional”.

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Será em Gramado (RS), de 15 a 17 de setembro, a terceira edição do Seminário Internacional de Arquitetura para o Turismo – Architectour 2010. O evento será realizado na ExpoGramado e já está com as ins-crições abertas. Saiba mais no site www.architectour.com.br

O escritório da arquiteta carioca Nanda Eskes recebeu Menção Hon-rosa na 10ª edição do Europan, concurso de ideias que avaliou pro-jetos de jovens arquitetos e urbanistas (até 40 anos) desenvolvidos para 62 áreas em dezenas de cidades europeias. O trabalho brasilei-ro propôs uma intervenção na área portuária de Nordhavn, em Co-penhage, capital da Dinamarca. Um novo bairro será construído nes-sa região, com cerca de 700 habitações. Os vencedores do concurso estarão reunidos num seminário em Neuchatel, na Suíça, agora em maio. As equipes premiadas são auxiliadas pelos organizadores do Europan para que seus projetos sejam efetivamente implementados pelas autoridades locais. Esta edição do concurso contou 2.430 ins-critos, de 19 países, dos quais 123 foram premiados e 85 receberam menções. Saiba mais em www.europan-europe.com

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O prêmio Nobel da Arquitetura – The Pritzker Architecture Price – foi conquistado este ano pelos arquitetos Kazuyo Sejima e Ryue Nishiza- wa, sócios do escritório SANAA, com sede em Tóquio, no Japão. O resultado foi anunciado no dia 28 de março. Para o júri, a dupla pro-duz uma “arquitetura delicada e poderosa, precisa e líquida, enge-nhosa, mas não excedente”. Entre os projetos destaca dos estão o prédio da Christian Dior em Tóquio (foto) e o recém-inaugurado Cen-tro de Aprendizagem Rolex do Instituto Federal de Tec nologia da Suíça, em Lausanne. Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa re ceberão 100 mil dólares e dois medalhões de bronze como prêmio du rante a ce-rimônia que será realizada no dia 17 de maio na Ilha de Ellis, em Nova Iorque. Esta é a terceira vez que o prêmio, criado em 1979, é entregue a dois profissionais no mesmo ano. A primeira foi em 1988, para Oscar Niemeyer (BR) e Gordon Bunshaft (EUA); e a segunda em 2001, para Jacques Herzog e Pierre de Meuron, sócios de um escri-tório suíço. Outro brasileiro a conquistar o Nobel da Arquitetura foi Paulo Mendes da Rocha, em 2006.

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