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AAI – Avaliação Ambiental Integrada Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu Volume I São Paulo, Maio de 2009 Ministério de Minas e Energia

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  1. 1. AAI Avaliao Ambiental Integrada Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu Volume I So Paulo, Maio de 2009 Ministrio de Minas e Energia
  2. 2. AAI - Avaliao Ambiental Integrada Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu Volume I ELETROBRS So Paulo Maio de 2009
  3. 3. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan i ndice 1. Abordagem Metodolgica................................................................................................6 1.1. Estruturao da Aplicao da AAI e Procedimentos Metodolgicos..................................6 1.2. Descrio dos Captulos .....................................................................................................7 2. Caracterizao dos Empreendimentos.........................................................................13 3. Diagnstico da Bacia do Rio Xingu ..............................................................................22 3.1. Processos e Atributos do Meio Fsico e Ecossistemas Terrestres...................................24 3.1.1. Dinmica do Clima Regional.............................................................................................24 3.1.2. Terrenos............................................................................................................................33 3.1.3. Biota Terrestre...................................................................................................................49 3.1.4. Presses sobre os Ecossistemas Terrestres Desflorestamento ...................................73 3.1.5. reas Legalmente Protegidas...........................................................................................82 3.1.6. Ecossistemas Aquticos ...................................................................................................87 3.2. Meio Socioeconmico.....................................................................................................123 3.2.1. Organizao Territorial....................................................................................................123 3.2.2. Base Econmica .............................................................................................................139 3.2.3. Finanas Municipais........................................................................................................151 3.2.4. Modos de Vida ................................................................................................................152 3.2.5. Sistemas de Produo e Formas de Organizao Social Predominantes.....................174 3.2.6. Sociedades Indgenas.....................................................................................................179 Lista de Anexos Anexo I. Matriz de Simulao Anexo II. Matriz de Atores Sociais Lista de Tabelas Tabela 2-1 Informaes Gerais das PCHs da Bacia do Xingu Tabela 3-1- Lista de Flora Ameaada de Extino da Bacia do Rio Xingu Tabela 3-2 Espcies Ameaadas de Extino Tabela 3-3 - Municpios da bacia hidrogrfica do Xingu, segundo as taxas de desflorestamento observadas at 2007 Tabela 3-4 Carga orgnica (kg DBO/dia) por municpio de Mato Grosso da bacia hidrogrfica do rio Xingu Tabela 3-5 Carga de Nitrognio (N) por municpio, considerando seu territrio dentro da bacia hidrogrfica do rio Xingu Tabela 3-6 Carga de Fsforo (P) por municpio, considerando seu territrio dentro da bacia hidrogrfica do rio Xingu Tabela 3-7 - Postos Fluviomtricos com medio de descargas slidas
  4. 4. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan ii Tabela 3-8 Informaes sobre ciclo de vida e atividades reprodutivas de algumas espcies de peixes Tabela 3-9 Espcies Endmicas Tabela 3-10 Municpios componentes da Bacia por grau de insero Tabela 3-11 Evoluo da Populao, Taxa de Crescimento e Contribuio ao Crescimento no perodo 2000-2007 Tabela 3-12 PIB 2005 e Evoluo do PIB Setorial 2000-2005 Tabela 3-13 Composio e Participao do PIB na Bacia e nos Estados Tabela 3-14 Evoluo da Populao, Taxa de Crescimento e Contribuio ao Crescimento no Perodo 2000-2007. Tabela 3-15 Evoluo do ndice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M, 1991 e 2000 Tabela 3-16 Taxas de Mortalidade Infantil 2000 e 2005 Tabela 3-17 Taxa de Mortalidade Infantil por Municpio da Bacia do rio Xingu - 2006 Tabela 3-18 Educao de Base e Profissionalizante para Jovens Tabela 3-19 Terras Indgenas segundo municpios da Bacia do Rio Xingu Lista de Figuras Figura 1-1 Sequenciamento das sobreposies dos mapeamentos e Compartimento Final Figura 2-1 Localizao da rea de Estudo Figura 3-1- Variao sazonal dos sistemas atmosfricos na Amrica do Sul e na bacia do Rio Xingu Figura 3-2- Isoietas Anuais Figura 3-3 Sistemas de Terreno Figura 3-4 Endemismos Figura 3-5 Uso do Solo e Cobertura Vegetal Figura 3-6 - Taxas de desflorestamento nos Estados de Mato Grosso e Par entre 1988 e 2007 Figura 3-7 Variao relativa das taxas de desflorestamento nos Estados de Mato Grosso e Par entre 1988 e 2007 Figura 3-8 - Vetores de Desflorestamento e Temporalidade do Processo Figura 3-9 - Terras Indgenas e Unidades de Conservao Figura 3-10- APCB Figura 3-11 Rede Hidrogrfica Figura 3-12 - Vazes mdias mensais de longo termo no posto fluviomtrico de Altamira Figura 3-13 Ciclo Sazonal da dinmica hidrolgica e dos eventos ecolgicos no rio Xingu
  5. 5. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan iii Figura 3-14 Localizao geogrfica dos pontos de registro de ictiofauna na bacia do rio Xingu Figura 3-15 Unidades hidrolgicas identificadas ao longo da bacia do rio Xingu e respectivas reas de endemismo Figura 3-16 Localizao dos Municpios Figura 3-17 Populao Figura 3-18 Hierarquia Funcional / Polarizao Figura 3-19 Sistema Virio Figura 3-20 reas Legamente Protegidas Figura 3-21 Ttulos Minerarios Figura 3-22 Taxas de Crescimento da Populao Figura 3-23 Densidade Demogrfica Figura 3-24 IDH Figura 3-25 Mortalidade Proporcional (Todas as Idades) 2006 Figura 3-26 Mortalidade Infantil Figura 3-27 Percentual de Anos de Estudo Acumulado Figura 3-28 Percentual de Domiclios com gua Encanada e Banheiro - MT Figura 3-29 Percentual de Domiclios com gua Encanada e Banheiro PA Figura 3-30 Cobertura da infraestrutura bsica nos municpios do Par Figura 3-31 Cobertura da infraestrutura bsica nos municpios do Mato Grosso Figura 3-32 Terras Indgenas
  6. 6. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 4 Apresentao O instrumento Avaliao Ambiental Integrada (AAI) d prosseguimento Atualizao dos Estudos de Inventrio Hidreltrico da Bacia do Rio Xingu finalizada em 20071 , e objetiva antever e analisar de que modo os principais processos socioambientais prevalecentes no territrio da Bacia sero alterados em decorrncia da implantao dos novos aproveitamentos hidreltricos pretendidos para a bacia, considerando-se aqueles j existentes. Trata-se de observar como a entrada de investimentos para a ampliao da capacidade de gerao hidreltrica poder alterar trajetrias em curso, seja da evoluo econmica e demogrfica, seja da apropriao dos recursos naturais do territrio da bacia. No contexto dos estudos realizados, a Reviso dos Estudos de Inventrio (doravante Inventrio) teve como finalidade a identificao do melhor conjunto de aproveitamentos hidroeltricos possveis para a bacia hidrogrfica, a partir da combinao de critrios energticos, econmicos e socioambientais, ou, selecionar a alternativa de partio de queda2 capaz de contemplar simultaneamente tais critrios. A resultante do Inventrio, no caso da bacia hidrogrfica do Rio Xingu, reconheceu apenas um aproveitamento, o de Belo Monte (AHE Belo Monte), como aquele capaz de atender aos critrios estabelecidos. Em adio, outros aproveitamentos de pequeno porte, Pequenas Centrais Hidreltricas (PCHs), foram identificadas (em dezembro de 2008) e encontram-se recm implantadas ou projetadas na Bacia do Rio Xingu. Tem-se assim um nico aproveitamento de grande porte em conjunto com vrias PCHs, sendo, pois o objeto deste estudo, avaliar como esses Aproveitamentos Hidreltricos (AHEs) podero ser internalizados no mdio e longo prazo na complexa ambincia desta bacia hidrogrfica, considerando-se os processos socioeconmicos e ambientais prevalecentes e os novos que sero desencadeados, a partir da existncia desse conjunto de aproveitamentos em operao. No caso desta bacia hidrogrfica, portanto, a composio de aproveitamentos contrastante, pois rene de um lado, o AHE Belo Monte com porte primaz no contexto nacional da gerao, isolado na poro norte da Bacia, e de outro, outras oito PCHs distribudas pela poro sul no alto curso do rio Xingu e na sub-bacia do rio Iriri, a mdio curso. 1 Na Reviso foi utilizado o Manual de Inventrio em sua verso de 1997. A verso atualizada do Manual foi lanada em dezembro de 2007 e integrou os procedimentos da AAI metodologia dos estudos de inventrio. A AAI dever ser realizada para a alternativa de diviso de queda selecionada. Ressalte-se que as orientaes para a elaborao desta AAI esto tambm definidas no TR do MME (2005). 2 Composta por um determinado nmero de projetos, de usinas (grandes ou mdias centrais eltricas) com localizaes e caractersticas tcnicas definidas, ressaltando-se que o inventrio no considera as pequenas centrais eltricas.
  7. 7. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 5 A aplicao do instrumento Avaliao Ambiental Integrada a esta bacia hidrogrfica foi de fato um desafio que necessitou que se desenvolvessem procedimentos e solues metodolgicas para dar conta desses contrastes e especificidades. Formalmente, a aplicao do instrumento AAI consiste na identificao dos principais efeitos socioambientais da insero de tais aproveitamentos hidreltricos no mbito territorial da bacia, por meio de procedimentos sistemticos que possam avaliar com critrios a natureza e a intensidade destas alteraes, bem como possveis cumulatividades e sinergias entre essas manifestaes no territrio da bacia hidrogrfica. Considerando esse objetivo e escopo da AAI, importa ressaltar desde logo o quanto este instrumento se diferencia do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), uma vez que este tem por objetivo a avaliao de impactos de um nico empreendimento em suas reas de influencias, realizado no mbito do licenciamento ambiental. Assim, os EIAs se caracterizam por terem uma natureza necessariamente afirmativa no sentido da existncia ou no de determinados impactos do projeto. J a AAI tem outros objetivos. Trata-se de um instrumento de planejamento, operando com vrios projetos hidreltricos em simultneo num espao territorial mais amplo, qual seja, o da bacia hidrogrfica. Assim, pode orbitar tambm o plano das possibilidades da ocorrncia de certas interaes entre regies, pode discutir, especular e aventar sobre determinados impactos e suas decorrncias, alertando sobre as chances de serem deflagrados processos degenerativos das condies socioambientais que possam ser evitados com o intuito de orientar o planejamento do setor eltrico de mdio e longo prazo. Objetiva-se assim com a AAI contribuir para o processo de planejamento e de suporte tomada de deciso e atuao do setor eltrico na bacia em estudo, considerando-se a potencial existncia desses empreendimentos hidreltricos, para que se alcance as melhores condies de sustentabilidade possiveis, medida que o estudo rene, evidencia e oferece um espao de anlise e discusso sobre a evoluo da bacia hidrogrfica.
  8. 8. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 6 1. Abordagem Metodolgica 1.1. Estruturao da Aplicao da AAI e Procedimentos Metodolgicos Este documento foi estruturado em dois volumes. O Volume I contm os trs primeiros captulos da Avaliao Ambiental Integrada e o Volume II inicia-se a partir do quarto captulo: a Avaliao Ambiental Distribuda. Considerando os objetivos a serem alcanados, apresenta-se a seguir os captulos que estruturam este trabalho, ao mesmo tempo em que se expem os encaminhamentos metodolgicos adotados. Inicialmente, deve-se ressaltar que este estudo tem a peculiaridade de ter sido parcialmente elaborado simultaneamente Reviso dos Estudos de Inventrio Hidreltrico do rio Xingu, o que permitiu articulaes analticas de esforos entre ambos. Apresenta-se a seguir uma viso geral do estudo. A AAI inicia-se com a caracterizao dos AHEs a partir do levantamento das informaes disponveis, foi possvel obter dados sobre a potncia instalada, localizao, rea do reservatrio, entrada em operao, formando um quadro bsico de informaes. Analogamente, buscou-se conhecer as principais caractersticas socioambientais da bacia hidrogrfica, suas condies fsicas, biticas e socioeconmicas foram analisadas por meio de um conjunto de dados secundrios pertinentes, e visitas a campo em dois longos trechos da bacia hidrogrfica. Elaborou-se assim um diagnstico focado, uma sntese dos principais aspectos socioambientais, que inclusive foi organizado de forma regionalizada, mediante critrios de homogeneidade do territrio, ou graus de semelhana. Essa regionalizao ou compartimentao da bacia atende a necessidade de se poder avaliar os impactos que os aproveitamentos tero sobre tais regies na medida em que tendam a interagir e acomodar de forma semelhante os efeitos provocados pela implantao dos aproveitamentos hidreltricos. Portanto, a seqncia do trabalho consistiu na avaliao dos impactos dos aproveitamentos sobre os compartimentos em que esto ou sero implantados. E, a partir das avaliaes dos impactos por empreendimento, pode-se considerar a possibilidade de um mesmo impacto provindo de vrios aproveitamentos localizadas num mesmo compartimento se acumular. E tambm, verificou-se a possibilidade da ocorrncia de sinergia entre impactos distintos, ou se existem mecanismos de causa e efeito entre eles que possam provocar interaes, s quais est se denominando de sinergias. Esse trabalho denomina-se Avaliao Ambiental Distribuda (AAD), ou seja, procura-se entender o processo de transformao nos compartimentos, considerando-se os efeitos que os empreendimentos iro provocar medida que forem acumulados ou criarem sinergias. Para tanto, foram selecionados indicadores de impactos representativos de processos mais amplos, que sejam passveis de avaliao e que possam ser cumulativos ou apresentar sinergias.
  9. 9. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 7 Por cumulatividade, entende-se a possibilidade de um mesmo impacto provindo de vrios AHEs localizadas num mesmo compartimento se acumular, se intensificar. Por sinergia, entende-se a possibilidade de impactos de distintas natureza interagirem, o que exige a verificao da existncia de mecanismos de causa e efeito entre eles que possam suportar essa interao. Ainda no mbito da AAD, so identificados os atores sociais intervenientes na bacia hidrogrfica e os conflitos existentes e potenciais, relativos implantao de novos empreendimentos hidreltricos e tambm a planos e programas previstos nesse territrio. Na seqncia, tendo em conta a apreciao dos efeitos da implantao dos aproveitamentos sobre a ambincia da bacia hidrogrfica, renem-se elementos para, por meio da tcnica de cenrios, visualizar provveis comportamentos de variveis socioambientais essenciais no horizonte de planejamento deste trabalho (20 anos) a populao, o valor adicionado e o desmatamento - que expressam e sintetizam o fenmeno da antropizao e sua evoluo. Ao cenarizar as trajetrias de tais variveis, pode-se extrair tambm como resultado, sinalizaes sobre possveis impactos a elas associados. Assim, os cenrios so tambm uma forma de avaliao de impactos. Deste ponto em diante tem-se condies de avanar para a Avaliao Ambiental Integrada da bacia do rio Xingu, denominao homnima ao estudo, momento em que so examinados como os compartimentos alterados pelos impactos dos AHEs se relacionam, conjugando processos socioambientais, que podem a depender da natureza e intensidade, transformar a dinmica socioambiental da bacia como um todo. O conhecimento obtido e organizado desde a fase da Caracterizao dos empreendimentos d suporte elaborao de um conjunto de concluses, sob forma de diretrizes voltada atuao do setor eltrico na bacia no que se refere principalmente ampliao das unidades geradoras. Os resultados obtidos so apresentados e discutidos em reunio tcnica com os principais entes institucionais envolvidos nesse processo, onde o trabalho apresentado, com destaque para as diretrizes, buscando obter retornos substantivos que iro integrar o relatrio final do trabalho. Por fim, cabe ressaltar que em cada captulo so apresentados detalhamentos adicionais para melhor esclarecer a metodologia utilizada 1.2. Descrio dos Captulos Neste subitem busca-se descrever em maior detalhe os contedos de cada captulo. Volume I Caracterizao dos Empreendimentos No captulo 2, denominado Caracterizao dos Empreendimentos, os empreendimentos hidreltricos existentes e pretendidos para a bacia do rio Xingu so apresentados, informando-se as suas principais caractersticas tcnicas como: potncia instalada,
  10. 10. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 8 localizao, rea do reservatrio, entrada em operao, e demais informaes relevantes que estejam disponveis, formando um quadro bsico de informaes. Ressalta-se que h um extenso conjunto de dados e informaes para o AHE Belo Monte, mas, o mesmo no ocorre em relao s PCHs,3 assim, a disponibilidade de um mesmo bloco de informaes para o conjunto dos AHEs condicionou os procedimentos adotados. Diagnstico da Bacia do rio Xingu O captulo 3, denominado Diagnstico da Bacia do rio Xingu, teve como base a Caracterizao da Bacia do Rio Xingu 4 para sua estruturao, as condies fsicas, biticas e socioeconmicas da bacia hidrogrfica foram analisadas por meio de um conjunto de dados secundrios pertinentes, com visita a campo em dois trechos da bacia hidrogrfica. As questes relevantes identificadas nessa extensa caracterizao permitiram a elaborao de um diagnstico focado, uma sntese dos principais aspectos socioambientais, sendo utilizados, sempre que possvel, indicadores para tanto. Entende-se por Indicador a sinalizao de fenmenos maiores, ou seja, no caso do Diagnstico, quantificaes simplificadas que expressam uma determinada questo socioambiental. Com esse conhecimento, dispe-se de elementos para facilitar a identificao dos efeitos ou impactos socioambientais que sero desencadeados pela implantao dos aproveitamentos hidroeltricos ao longo do tempo em conjunto com aqueles j em operao. Particularmente, no diagnstico da socioeconomia, dada nfase ao tratamento da Organizao Social prevalecente na regio, formada pelos entes institucionais, atores sociais e grupos de interesse, que se traduz numa determinada Matriz Institucional que define as condies de governana da bacia, e mais que isso, se estende para a identificao dos principais conflitos latentes ou j manifestados, envolvendo principalmente as formas de uso das guas. Volume II Avaliao Ambiental Distribuda e Conflitos Na seqncia no captulo 4, com base nesse diagnstico efetua-se a compartimentao da bacia hidrogrfica, segundo o conceito de homogeneidade, ou melhor, segundo o grau de semelhana das condies fsicas, biticas e socioeconmicas. Neste sentido, a expectativa dessa regionalizao que cada compartimento identificado tenda a acomodar de forma semelhante os efeitos provocados pela implantao dos aproveitamentos hidreltricos em seu territrio. 3 Reuniu-se informaes a partir da base de informaes disponveis na ANEEL por empreendimento , e pesquisas realizadas na Internet. Alm disso, foram feitas consultas diretamente aos empreendedores e Secretarias de Meio Ambiente do Estado do Mato Grosso e Par que, no entanto, no tiveram sucesso no sentido da obteno de informaes adicionais. 4 ELN, Engevix, Intertechne, Arcadis Tetraplan, 2007 .
  11. 11. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 9 Considerando-se que no mbito do Inventrio foram delimitadas subreas 5 da bacia para cinco Componentes-Sntese, conforme diagrama abaixo dispe-se de vises regionalizadas por temas para se orientar e construir uma compartimentao funcional s necessidades da AAI. A espacializao que leva delimitao territorial dos compartimentos realizada utilizando- se a tcnica de sobreposio de cartas considerando os determinantes socioambientais, as questes-chave no contexto de cada tema tratado, os paradoxos e conflitos existentes e potenciais, bem como os principais vetores de transformao da paisagem e, por conseguinte, de seus processos fsicos e biticos e socioeconmicos. O resultado dessa etapa consiste um conjunto de mapas das subreas de cada um dos aspectos socioambientais, que foram sobrepostos com um dado seqenciamento, de modo a se captar semelhanas considerando-se todos os aspectos socioambientais em conjunto. Na Figura 1-1 a seguir apresenta-se esquematicamente a metodologia adotada. Figura 1-1 Sequenciamento das sobreposies dos mapeamentos e Compartimento Final No processo de delimitao dos compartimentos, os elementos que mais influenciaram os subespaos da Bacia do Rio Xingu traduzem suas diferenciaes, dando-lhes identidade e diferenciando-os dos demais compartimentos. 5 So termos prprios da metodologia utilizada nos estudos de inventrio. A designao subreas guarda semelhana com os compartimentos da AAI e os componentes snteses so campos temticos para os quais essas subreas existem, so eles: Populaes Indgenas, Ecossistemas Aquticos, Ecossistemas Terrestres, Modos de Vida, Organizao Territorial e Base Econmica. Sistemas de Terrenos + Hierarquia Fluvial Ecossistemas Aquticos Ecossistemas Tipologias Municipais Modos de Vida Organizao Territorial Base Econmica Sistemas de terrenos + Cobertura vegetal e uso do solo Ecossistemas Terrestres Compartimentao Socioeconmica Compartimentos (Dinmica Atual da Paisagem)
  12. 12. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 10 Dessa forma, compartimentos que tm presena marcante de uma dada atividade econmica (gros ou pecuria bovina, por exemplo), determinante de sua dinmica e a feio da paisagem, tm esta atividade como elemento definidor do Compartimento. Ou alternativamente, em outro compartimento da bacia hidrogrfica, em que o elemento definidor seja a infra-estrutura e o processo de ocupao posterior, como o caso da rodovia Transamaznica, ou ainda um condicionante fsico bitico (bioma), institucional (presena de reas protegidas) ou, combinao de alguns desses elementos. Na seqncia, o captulo 4 rene trs vertentes de anlise: Avaliao de Impactos dos empreendimentos captados individualmente: trata-se de procedimento necessrio para qualificar e/ou quantificar os impactos previstos sobre os meios fsico, bitico e socioeconmico por empreendimento em seu respectivo compartimento Anlise de Cumulatividade de Impactos: a partir das avaliaes dos impactos por empreendimento, pode-se considerar a possibilidade de um mesmo impacto provindo de vrios AHEs localizadas num mesmo compartimento poderem se acumular. A metodologia utilizada permite a obteno de magnitudes quantitativas, que devem, contudo ser verificadas pelos especialistas participantes sobre a pertinncia da soma de um mesmo impacto. Anlise de Sinergia de Impactos: o raciocnio o mesmo, mas trata-se de uma soma de impactos de distintas naturezas, o que exige a verificao se existem mecanismos de causa e efeito entre eles que possam provocar sinergias. Neste caso, fundamental que os especialistas das vrias reas possam discutir a respeito de tais processos e das magnitudes quantitativas obtidas. Para efetuar essas analises so utilizados indicadores que sintetizam a intensidade de impactos subjacentes aos diferentes fenmenos relacionados aos diversos temas em anlise, recursos hdricos, meio fsico e ecossistemas terrestres e meio scio econmico, inicialmente de cada empreendimento. Os resultados dessas avaliaes de impactos de cada empreendimento em seu compartimento so inseridos em uma matriz, denominada de matriz de sensibilizao de impactos, tem-se assim um quadro dos impactos, de suas intensidades e das possibilidades de cumulatividade e sinergia, conforme apontado acima. Esse trabalho denomina-se Avaliao Ambiental Distribuda, ou seja, procura-se entender o processo de transformao nos compartimentos, considerando-se os efeitos que os empreendimentos iro provocar medida que forem acumulados e/ou sinergizados. O fenmeno da cumulatividade dos impactos num dado compartimento pode ser compreendido quando se verifica a consistncia da sua atuao conjunta. Exemplificando. O impacto referente ao aumento do valor adicionado fiscal dos municpios devido operao dos AHEs em um dado compartimento onde se localizam, por exemplo, podem ser somadas. O fenmeno da sinergia, mais complexo, diz respeito avaliao da complementaridade entre os impactos de distintas naturezas num compartimento, ou seja, entre fenmenos
  13. 13. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 11 socioambientais, que ao interagirem, ao final geram efeitos diversos ou maiores que os impactos originalmente deflagrados num dado compartimento. Para concluir sobre isso, entretanto, necessrio que se identifique mecanismos de causa e efeito plausveis entre eles. Por exemplo, o impacto da animao da economia local, dada a contratao de mo-de-obra local, gera empregos relativamente mais qualificados, com maior nvel salarial, o que fortalece o mercado consumidor local que passa a demandar maior quantidade e qualidade de bens e servios que, por sua vez, acaba atraindo novas atividades produtivas para atender a demanda. Na medida em que se tenha mais de um empreendimento impactando desse modo, tais impactos podem se acumular gerando o efeito animao numa escala maior, ou seja, ocorre um efeito cumulativo e tambm sinrgico. Adicionalmente, tais impactos sobre a economia local em conjunto com os impactos positivos sobre as finanas pblicas municipais podem sinergizar-se de modo que o poder pblico local, com maior poder de gasto sob uma administrao eficaz, ser capaz de melhorar as condies de vida da populao do municpio a mdio e longo prazo. Cenrios A partir dos resultados do captulo 4 e do diagnstico apresentado no captulo 3, tm-se os elementos para no captulo 5 dedicado aos cenrios, fazer sua elaborao, que se inicia com um cenrio tendencial da evoluo da bacia, considerando-se seus mecanismos e ritmos de antropizao presentes na Bacia. O objetivo da construo dos cenrios para as variveis, populao, valor adicionado e desflorestamento evidenciar os impactos da implantao dos AHEs na bacia do Rio Xingu. Um segundo cenrio ser elaborado a partir do cenrio anterior, quando so considerados, portanto, os efeitos provocados pela entrada em operao dos AHEs. Cabe ressaltar desde logo que as pequenas centrais eltricas no tm condies de sensibilizar o comportamento das variveis cenarizaveis no contexto da modelagem utilizada, isso ocorre em funo da reduzida magnitude de seus impactos. Assim, apenas os impactos do AHE Belo Monte so capazes de alterar de fato as trajetrias de tais variveis de modo significativo. Ambos os cenrios so construdos por meio de hipteses sobre o comportamento futuro dessas trs variveis, as quais tm alto poder de expressar e sintetizar aspectos cruciais acerca da complexidade que enfeixa a evoluo socioambiental de uma regio qualquer. Portanto, do contraste entre os dois cenrios e de suas variaes que se manifestam vises e avaliaes sobre como podero ser as principais dinmicas socioambientais da bacia, ora numa trajetria, ora em outra, e dessa forma subsidiar a discusso sobre processos socioambientais no mbito da avaliao ambiental integrada dos compartimentos da bacia e da formulao de Diretrizes. Avaliao Ambiental Integrada da Bacia do rio Xingu No captulo 6, denominado, Avaliao Ambiental Integrada da bacia do rio Xingu, denominao homnima ao estudo, so examinados como os compartimentos alterados pelos impactos dos AHEs se relacionam, conjugando processos socioambientais, que
  14. 14. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 12 poderiam transformar a dinmica socioambiental da bacia como um todo, ou seja, o momento do trabalho em que se verifica em que medida tais transformaes ocorreriam. Tm-se dois tipos de situao: i. Compartimentos com AHEs podem impactar outros compartimentos em que no h empreendimentos e, ii. Compartimentos com AHEs em interao com outro compartimento com AHEs podero ter seus impactos socioambientais intensificados, ou sinergizados, do mesmo modo que vimos no interior de um compartimento na AAD. Neste caso, essas avaliaes so feitas por discusses entre os especialistas participantes de modo qualitativo. Diretrizes Finalmente, no captulo 7, o conhecimento obtido e organizado desde a fase da Caracterizao dos empreendimentos, d suporte elaborao de um conjunto de concluses, sob forma de algumas recomendaes gerais e diretrizes voltada atuao do setor eltrico na bacia no que se refere principalmente ampliao das unidades geradoras. Referncias Bibliogrficas Por fim, no captulo 8 so apresentadas as referncias bibliogrficas utilizadas neste trabalho.
  15. 15. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 13 2. Caracterizao dos Empreendimentos As informaes sobre as pequenas centrais eltricas (PCHs) foram obtidas em dezembro de 2008, portanto, o nmero de empreendimentos pretendidos para a bacia aquele identificado nesse perodo de acordo com a Agencia Nacional de Energia Eltrica, ANEEL. AHE Belo Monte O Aproveitamento Hidreltrico, denominado AHE Belo Monte, a ser implantado na Volta Grande do rio Xingu, afluente pela margem direita do rio Amazonas, consiste de uma barragem principal, um reservatrio (abrangendo parcialmente a calha do rio Xingu e parcela dos terrenos da margem esquerda deste curso dgua, na altura do trecho denominado Volta Grande) e duas casas de fora: a principal na localidade de Belo Monte e uma casa de fora complementar a ser posicionada na barragem principal. A barragem principal, localizada no stio Pimental, ser de terra homognea e de enrocamento, possuindo cerca de 6.200 m de comprimento total e altura mxima de 36 m. Nesta barragem est prevista uma usina complementar visando o aproveitamento da vazo que dever ser mantida a jusante do barramento principal (trecho denominado estiro jusante). Esta usina ter uma potncia instalada de 233,1 MW, contando com nove turbinas tipo bulbo, com potncia unitria de 25,9 MW e dever se situar na margem esquerda do rio Xingu. A usina principal, a ser construda no stio Belo Monte, ter uma potncia instalada de 11.000 MW, vinte unidades geradoras tipo Francis com eixo vertical e potncia unitria de 550 MW. O reservatrio dever apresentar duas partes distintas: a parte denominada calha do Xingu, que compreende a rea de inundao do rio Xingu na cota 97 m, a montante da barragem principal, e a parte denominada reservatrio dos canais. Este reservatrio compreende a rea que ser inundada pelas vazes desviadas do rio Xingu atravs dos canais de derivao. Nesta parte do reservatrio ser construda uma estrutura complementar de extravazo (vertedor complementar). O reservatrio ter rea total do espelho dgua de 516 km, e nvel mximo normal de operao na cota 97 m. A usina de Belo Monte foi projetada para uma gerao a fio dgua, isto : o nmero de turbinas acionadas depende essencialmente das vazes naturais afluentes a casa de fora, uma vez que o reservatrio no tem capacidade de acumulao. PCHs Segundo a Resoluo da ANEEL 394 04.12.98, uma PCH caracterizada por possuir potncia entre 1.000KW e 30.000 KW, com reservatrios de rea no superior a 3 Km para a cheia centenria.
  16. 16. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 14 Neste estudo so abordadas as oito PCHs registradas pela ANEEL6 dentro da Bacia do Rio Xingu7 , so elas: Localizadas na poro leste da Bacia, no Estado no Par e na sub-bacia do Rio Iriri: Salto Buriti Salto Curu Salto Trs de Maio Localizadas na poro sul da Bacia, no Estado do Mato Grosso e nas cabeceiras do Rio Xingu: ARS Paranatinga I Paranatinga II Culuene Ronuro A seguir apresentada na Tabela 2-1 um resumo das informaes gerais das PCHs, e na sequncia apresenta-se a Figura 2-1 com a localizao dos empreendimentos, e ao final feita a caracterizao de cada uma das PCHs de acordo com o levantamento, at o presente momento, de informaes de fonte secundrias. 6 http://sigel.aneel.gov.br, consulta em dezembro de 2008. 7 Sub-bacia 18 do Rio Amazonas, denominada Xingu e Paru que compreendida entre a confluncia do Rio Tapajs, exclusive, e a foz do Rio Xingu, inclusive.
  17. 17. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 15 Tabela 2-1 Informaes Gerais das PCHs da Bacia do Xingu Nome Rio* UF* Municpio Estgio Potncia* (MW) Destino da Energia** Nvel d'gua mx. normal* (m) Nvel d'gua normal jusante* (m) rea do Reservatrio.* (km) rea de drenagem* (km) SALTO BURITI CURU PA Altamira Operao 10 Produo Independente de Energia 435,5 395 2,9 1118 SALTO CURU CURU PA Altamira Operao 30 Produo Independente de Energia 394 253,6 0,3 1150 TRS DE MAIO TRS DE MAIO PA Altamira Operao 15 Produo Independente de Energia 426 260 0,16 420 ARS VON DEN STEINEN MT Nova Ubirat Em Construo 6,66 Produo Independente de Energia 330,5 312,75 1,64 0 PARANATINGA I CULUENE MT Campinpolis e Paranatinga Em Construo 22,3 Produo Independente de Energia 359 344,31 4,24 5940 PARANATINGA II CULUENE MT Campinpolis e Paranatinga Operao 29,02 Produo Independente de Energia 343,5 326 7,83 6203 CULUENE CULUENE MT Primavera do Leste e Paranatiga Operao 1,794 Servio Pblico 104,1 94,1 0,39 1100 RONURO** RONURO MT Paranatinga Operao 1,04 Autoproduo - - - - Fonte: SIPOT (Sistema de Informaes do Potencial Hidroeltrico Brasileiro) julho de 2005.
  18. 18. Rio das Mortes Rio Xingu Rio Xingu Rio Curu Rio Xingu Rio Xingu Rio Amazonas Rio Amazonas Rio Iriri Rio Xingu Rio Araguaia Rio Xingu Rio Tapajs G OG O M TM T T OT O P AP A A MA M Belo Monte Salto Trs de Maio Ronuro Salto Curu Salto Buriti Paranatinga II Paranatinga I Culuene ARS Novo Repartimento Parauapebas Rio Maria Pau D'Arco Redeno Anapu Senador Jos Porfrio Vitria do Xingu Altamira Prainha Brasil Novo Medicilndia Uruar Placas gua Azul do NorteOurilndia do Norte Tucum Bannach Cumaru do Norte So Flix do Xingu Rurpolis Itaituba Trairo Novo Progresso Santana do Araguaia Santa Terezinha Vila Rica So Flix do Araguaia Confresa Porto Alegre do Norte Canabrava do Norte Alto Boa Vista So Jos do Xingu Marcelndia Unio do Sul Ribeiro Cascalheira Querncia Canarana Gacha do Norte Campinpolis Paranatinga Primavera do Leste gua Boa Nova Xavantina Cludia Itaba Feliz Natal Santa Carmem Sinop Vera Sorriso Nova Ubirat Planalto da Serra Guarant do Norte Matup Peixoto de Azevedo Melgao Portel Gurup Porto de Moz Nova Brasilndia CUIAB 50W 50W 52W 52W 54W 54W 56W 56W 2S 2S 4S 4S 6S 6S 8S 8S 10S 10S 12S 12S 14S 14S Legenda UHE Belo Monte PCHs Capital Estadual Sedes Municipais Limite Estadual Limites Municipais Massa D'gua Bacia do Xingu Terras Indgenas Unidade de Conservao de Proteo Integral Unidades de Conservao de Uso Sustentvel 0 100 200 30050 km Sistema de Coordenadas Geogrficas Datum horizontal: SAD 69 1:4.25 45W 45W 60W 60W 0 0 15S 15S 30S 30S Localizao 2.1 Localizao da rea de estudo Fontes: Base Cartogrfica Digital do Brasil ao Milionsimo (IBGE, 2005) IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005 Compilao de dados MMA e ICMBIO ANEEL, 2008 Elaborao: ARCADIS Tetraplan, 2009
  19. 19. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 17 PCH Salto Buriti Localiza-se no Rio Curu, no municpio de Altamira, com potncia de 10.000KW, em duas unidades geradoras de 5.000KW. De propriedade da Buriti Energia S.A., encontra-se em construo e ser ligada ao Sistema Interligado Nacional aps a construo de Linha de Transmisso com 200 km de extenso, at a subestao Altamira da CELPA (conforme previsto no documento obtido no site da ONS: Definio da Modalidade de Operao de Usinas, Operao Futura). Contar com um reservatrio de 2,9km. Casa de Fora Vista Area
  20. 20. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 18 PCH Salto Curu Localiza-se no Rio Curu, no municpio de Altamira, com potncia de 30.000KW. De propriedade da Curu Energia S.A., encontra-se ser ligada ao Sistema Interligado Nacional aps a construo de Linha de Transmisso com 200 km de extenso, at a subestao Altamira da CELPA Centrais Eltricas do Par, com contrato de compra de energia por esta empresa at 2032. Atualmente enquadra-se como Produtora Independente de Energia e no est ligada ao SIN. Seu reservatrio ter 0,3 km. Obteve da ANEEL em outubro de 2008 a permisso para o incio da operao comercial das unidades 1,2 e 4. Cada unidade com potncia de 7,5MW, totalizando 22,5MW. Com isso esta PCH est beneficiando 220 mil habitantes do municpio de Altamira. Vista Area do Alojamento PCH Salto Trs de Maio Localiza-se no Rio Trs de Maio, no municpio de Altamira, com potncia de 15.000KW. De propriedade da Eletricidade Paraense Ltda. encontra-se em construo e ser ligada ao Sistema Interligado Nacional por meio do uso compartilhado do sistema de transmisso da PCH Salto Curu, at a subestao Altamira da CELPA - Centrais Eltricas do Par. Seu reservatrio ter 0,16 km. Esta PCH foi enquadrada pelo MME em 03.04.2008, pela Portaria n 142, no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infra-Estrutura (REIDI).
  21. 21. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 19 PCH ARS Localiza-se no Rio Von Den Steinen8 (ou Atelchu), no municpio de Nova Ubirat-MT, com potncia de 6.600KW e duas unidades geradoras de 3.300KW cada. De propriedade da Tecnovolt Centrais Eltricas Ltda., encontra-se em construo e ser ligada ao Sistema Interligado Nacional (conforme previsto no documento obtido no site da ONS: Definio da Modalidade de Operao de Usinas, Operao Futura) atravs da subestao PCH ARS e linha de transmisso de 57,2 km de extenso no Municpio de Nova Ubirat. A energia gerada substituir, em parte, a gerao eltrica baseada em combustveis fsseis, esperando reduzir as emisses de GEE (gases de efeito estufa) em aproximadamente 11.962 toneladas de CO equivalente por ano em um perodo de crdito de 10 anos. Atualmente enquadra-se como Produtora Independente de Energia. Seu reservatrio ter 1,64 km. PCH Paranatinga I Localiza-se no Rio Culuene, nos municpios de Parantinga-MT e Campinpolis-MT, com potncia de 22.300KW. Seu reservatrio ter 4,2km. De propriedade da Paranatinga Energia Ltda., encontra-se em construo e enquadra-se como Produtora Independente de Energia. A venda de energia ser feita para a Centrais Eltricas Matogrossenses - CEMAT. As instalaes de transmisso previstas sero compostas de 1 subestao com capacidade de 30/37,50MVA, 13,8/138KV interligando-se por meio de uma linha de transmisso 138,0KV, circuito simples, a SE Paranatinga II, com 25 km de extenso, de propriedade da prpria Paranatinga Energia Ltda. O funcionamento desta PCH est atrelado ao da PCH Paranatinga II, que em conjunto, e em sistema isolado, fornecero energia suficiente para substituir a gerao trmica de UTEs movidas a leo diesel localizadas nos municpios de Ribeiro Cascalheira, (produz 1.005MWh/ms), Querncia do Norte (produz 6.250 MWh/ms) e Gacha do Norte (produz 770MWh/ms). O funcionamento conjunto com a PCH Paranatinga II se deve ao regime hidrolgico do Rio Culuene que para viabilizar a potncia total necessria para a substituio das UTE, necessita de dois aproveitamentos distintos. Devido ao fato do Sistema Isolado do Estado do Mato Grosso no ter previso para integrar o Sistema Interligado Nacional, a ANEEL autorizou que a gerao de algumas PCHs tenha direito a 8 O Rio Von Den Steinen tributrio do Rio Ronuro, que por sua vez afluente do Rio Xingu.
  22. 22. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 20 sub-rogao da Conta de Consumo de Combustvel Fssil CCC, por se considerar a alternativa mais adequada para a substituio das UTEs, inclusive sobre a tica econmica. PCH Paranatinga II Localiza-se no Rio Culuene, nos municpios de Parantinga-MT e Campinpolis-MT, com potncia de 29.020 KW. Seu reservatrio ter 12,92 km. De propriedade da Paranatinga Energia Ltda., encontra-se em operao desde fevereiro de 2008. Enquadra-se como Produtora Independente de Energia. A venda de energia feita para Centrais Eltricas Matogrossenses - CEMAT. As instalaes de transmisso so compostas de 1 subestao com capacidade de 13,8/138KV 45/56,25MVA e 138/34,5KV 5MVA, de onde partem duas linhas de transmisso, sendo uma que interligar a PCH Paranatinga II at a Subestao Quercia do Norte, em circuito simples, em 138KV 10/12,5MVA e 13,8/34,5KV - 5MVA e desta partindo outra LT, circuito simples, com 60 km de extenso, na tenso de em 34,5/13,8KV 2MVA, at a subestao Ribeiro Cascalheira, conectando-se ao sistema de distribuio da CEMAT, e outra LT partindo da PCH Paranatinga II at a subestao Gacha do Norte, em circuito simples, na tenso de 34,5KV, com 90 km de extenso at a subestao Gacha do Norte, 34,5/ 13,8KV 2MVA, conectando-se ao sistema de distribuio da CEMAT. Ao todo so 406 km de LTs. Fonte:port.pravda.ru - junho 2006 Fonte:port.pravda.ru - junho 2006 Como j dito anteriormente, o funcionamento desta PCH est atrelado ao da PCH Paranatinga I, que em conjunto, e em sistema isolado, fornecero energia suficiente para substituir a gerao trmica das referidas UTEs. Alm disso, a construo desta PCH faz parte no contexto do Programa Luz para Todos do Governo Federal objetivando abastecer 16 municpios do Baixo Araguaia no nordeste mato- grossense. Sua implantao contou com a construo de uma escada de peixes, item que pela primeira vez apareceu em empreendimentos do tipo PCH. Tambm conta com programas de resgate de fauna e flora e de recomposio de uma faixa de 100m com vegetao nativa tendo em vista a recuperao da mata ciliar para evitar o assoreamento e a poluio do rio Culuene.
  23. 23. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 21 No mbito de seu licenciamento, o Ministrio Pblico Federal, solicitou um estudo para identificar o exato local de um dos stios sagrados da mitologia dos povos do Alto Xingu, o Kuarup, e verificar a interferncia com esta PCH. O estudo foi realizado de acordo com os critrios indicados pelo IPHAN e pela Fundao Nacional do ndio (FUNAI) durante um ano por 21 cientistas, e identificou que o Sagihenhu, local onde ocorreu a primeira celebrao do Kuarup, conhecido como Travesso do Adelino, fica a 7 quilmetros abaixo da obra. PCH Culuene Localiza-se no Rio Culuene, nos municpios de Primavera do Leste-MT e Paranatinga-MT, com potncia de 1,794MW. Seu reservatrio tem 0,39km. De propriedade da VP Energia S.A, encontra-se em operao e sua produo destinada ao Servio Pblico de Energia Eltrica por intermdio da CEMAT. Suas instalaes de transmisso possuem as seguintes caractersticas tcnicas: uma subestao interna de manobra, de barramento simples em 0,46KV com trs mdulos em 0,46KV sendo uma para cada unidade geradora de 747 KVA, mais um mdulo em 0,46KV para o trafo de servio auxiliar e mais 1 mdulo em 0,46KV para o trafo 0,46/34,6KV e respectiva conexo em 34,5KV na subestao local da concessionria distribuidora CEMAT. PCH Ronuro Localiza-se no Rio Ronuro, no municpio de Paranatinga-MT, com potncia de 1.040MW. De propriedade da Sopave Norte S.A. e Mercantil Rural, encontra-se em operao e sua energia destina-se ao consumo prprio (Autoproduo de Energia APE).
  24. 24. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 22 3. Diagnstico da Bacia do Rio Xingu A presente anlise da bacia hidrogrfica do Xingu foi delineada visando compreender as caractersticas scio-ambientais, quais sejam, os ecossistemas que constituem e organizam a paisagem e provem recursos naturais e servios ambientais, bem como a dinmica scio- econmica que determina as vrias formas de apropriao desses recursos e servios. A partir desse quadro, pode-se inferir sobre quais processos podero se estabelecer nesse espao territorial com a implantao de aproveitamentos hidreltricos e em que medida as alteraes ambientais decorrentes podero se intensificar como resultado da cumulatividade ou de sinergias de impactos. A bacia hidrogrfica do rio Xingu tem rea total aproximada de 509.000 km e se desenvolve no sentido sul-norte, desde a Regio Centro-Oeste, aproximadamente no paralelo 15 S, at o paralelo 3 S, na Regio Norte. Est limitada, pela bacia hidrogrfica do rio Tapajs, a oeste e, a leste, pela bacia dos rios Araguaia Tocantins. As cabeceiras dos formadores do rio Xingu e seus principais afluentes encontram-se no setor norte do Estado de Mato Grosso, nos terrenos mais elevados situados ao sul dos divisores da Chapada dos Parecis. O clima, fortemente estacional, condiciona a vegetao savnica, caracterstica do bioma Cerrado onde se insere esse trecho superior da bacia hidrogrfica. Nesse trecho inicial da bacia hidrogrfica predominam formaes de transio entre as savanas, que caracterizam as reas das nascentes, e as extensas florestas ombrfilas presentes no mdio e no baixo curso. Essa situao ecotonal traduz-se pela presena de extensas formaes de contato floresta ombrfila/floresta estacional, esta ltima caracterstica do limite entre os biomas Amaznia e Cerrado. nesse setor da bacia hidrogrfica que a agropecuria, notadamente as culturas cclicas tecnificadas, tm maior expresso, notadamente no sul/sudoeste da bacia, prximo BR-163, polarizada por Sinop e por Cuiab, quando considerado um raio maior. Os vetores de ocupao se expandem s reas de nascentes e aos altos cursos dos formadores do rio Xingu. Avanam sobre as formaes de contato floresta ombrfila/floresta estacional, em direo as Terras Indgenas a presentes, em um processo de crescente utilizao da base de recursos naturais e dos servios ambientais decorrentes principalmente da explorao da madeira, do consumo de nutrientes e de gua para produo de gros e para a pecuria. De ocupao relativamente recente, esse trecho da bacia hidrogrfica apresenta um processo de alterao da paisagem em curso, onde se evidencia o confronto de modos de vida e formas opostas de ocupao: uso dos produtos da floresta, pesca e cultivo de pequenas roas, presente notadamente nas Terras Indgenas, e a agricultura tecnificada. Desenvolvendo-se em direo norte, o rio Xingu apresenta, em seu trecho mdio, canal com ilhas e pedrais que formam rpidos e cachoeiras. As plancies fluviais so estreitas e descontinuas com
  25. 25. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 23 canais abandonados, lagoas e alagadios. Esse padro ocorre na maior parte do canal principal do Rio Xingu, entre a Cachoeira de Von Martius e Belo Monte, incluindo a regio da Volta Grande, grande parte do Rio Iriri e de seu afluente Rio Curu. Todo esse trecho da bacia, correspondente ao mdio curso, situa-se na Depresso da Amaznia Meridional, recoberta por florestas ombrfilas, onde encraves de savanas ou contatos savana/floresta ombrfila se destacam em correspondncia aos planaltos residuais a existentes. Caracterizado pelo contnuo florestal e ocupado em grande parte por Terras Indgenas e Unidades de Conservao, este amplo espao geogrfico encontra-se fragmentado na altura da cidade de So Flix do Xingu devido ocupao antrpica, onde se destaca a pecuria extensiva. A BR 158, que se desenvolve longitudinalmente a leste da bacia hidrogrfica, corresponde ao principal vetor da ocupao, polarizada por Marab no que se refere ao escoamento bovino de maior escala. A presso antrpica e os conflitos de uso se traduzem por extensos desflorestamentos em meio floresta ombrfila e em derrubadas menores, porm gradativas, em Terras Indgenas e em Unidades de Conservao. Evidencia-se nessa rea, denominada Terra do Meio, conflitos fundirios e um processo de explorao no sustentvel dos produtos da floresta e dos recursos hdricos, que se reflete em desflorestamentos irregulares e na ausncia de boas prticas ambientais. No curso mdio inferior, o rio Xingu recebe seu principal afluente, o rio Iriri e, nas imediaes da cidade de Altamira, sofre uma acentuada deflexo formando a chamada Volta Grande, de grandes corredeiras, com um desnvel de 85 m em 160 km. No fim desse trecho, altura da localidade de Belo Monte, o rio se alarga consideravelmente, apresentando baixa declividade at a sua foz e sofrendo, inclusive, efeitos de remanso provocados pelo rio Amazonas (CNEC, 1988). Nesse trecho, as extensas formaes florestais sofrem soluo de continuidade, em decorrncia da presena a rodovia Transamaznica, implantada na dcada de 1970. Transversal bacia, esta via de acesso trouxe como resultado uma ocupao em ncleos de colonizao associados rodovia e s estradas vicinais, onde o desflorestamento se intensificou, determinando um padro de fragmentao da floresta correspondente geometria dessa rede viria. Ao norte desse trecho intensamente ocupado e alterado desenvolvem-se novamente extensas florestas, em grande parte abarcadas por Unidade de Conservao de uso sustentvel, que se estendem at as vrzeas do rio Amazonas. Assim, parte as reas legalmente protegidas, vetores de ocupao se evidenciam em localidades bem definidas da bacia: (i) ao sul, no alto curso do rio Xingu, na regio das savanas e no contato destas com as formaes florestais amaznicas (ii) a leste, notadamente na regio de So Flix do Xingu e a sul/sudeste desta e; (iii) ao norte, em correspondncia Rodovia Transamaznica. Embora relativamente recente e circunscrita a determinados setores da bacia hidrogrfica, a dinmica ditada pelas intervenes antrpicas altera a dinmica original e passa a ter grande importncia, definindo espaos organizados pela lgica da atividade produtiva predominante.
  26. 26. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 24 Conforme evidenciado, fatores indutores externos bacia ditam essas ocupaes. Em grande parte esto relacionadas ao modelo voltado ocupao induzida, por meio de um planejamento centralizado, adotado entre as dcadas de 1960 a 80, que privilegiava uma viso externa ao territrio e em que a infra-estrutura precedia a ocupao. Este modelo determinou uma nova geometria de ocupao do espao amaznico, contrapondo-se ao modelo histrico de ocupao ao longo dos cursos dgua, por onde se dava a circulao e a rede de comunicao (Becker, 2001). A ltima configurao do modelo de ocupao, que privilegia o crescimento e a autonomia local, baseado em reas relativamente isoladas, dependentes da produo local, tambm est circunscrito no caso da bacia do rio Xingu, a setores definidos. Incipiente, entretanto, esse o modelo pretendido para grande parte desse territrio, como atesta a criao das vrias e extensas Unidades de Conservao de Uso Sustentvel. nesse quadro que se realiza a anlise dos possveis processos que podem se estabelecer com a implantao de aproveitamento para gerao de energia eltrica. A anlise dos efeitos sinrgicos que podem emergir implica a elaborao de um estudo dirigido integrao dos diversos temas abordados no diagnstico, buscando evidenciar fenmenos relevantes, que determinam, em grande medida, a dinmica atual desse espao e, portanto, que podero recrudescer ou se alterar em cenrios futuros com os empreendimentos que se pretende implantar. 3.1. Processos e Atributos do Meio Fsico e Ecossistemas Terrestres 3.1.1. Dinmica do Clima Regional O presente captulo trata da caracterizao do regime climtico da bacia do rio Xingu, com nfase na dinmica climtica que rege os principais sistemas atmosfricos atuantes na bacia. O Continente Sul Americano A Amrica do Sul est situada entre dois grandes oceanos. O Oceano Atlntico e o Oceano Pacfico exercem grande influncia sobre o clima desse continente. As caractersticas da circulao regional sobre a Amrica do Sul somente podem ser compreendidas considerando-se os efeitos climticos desses dois oceanos. Um aspecto geogrfico importante da Amrica do Sul a presena da elevada Cordilheira dos Andes que se estende ao longo de toda a costa oeste, desde 10 N a 60 S. Outra caracterstica especial da Amrica do Sul a floresta amaznica que ocupa cerca de 65% de sua rea tropical. O continente sul americano possui ainda alguns desertos dos mais inspitos e regies ridas, como o deserto de Atacama no Chile, o deserto da Patagnia e o rido serto do Nordeste do Brasil. A circulao atmosfrica sobre a Amrica do Sul exibe diversas caractersticas especiais, como a alta da Bolvia, a zona de convergncia do Atlntico Sul (South Atlantic Convergence Zone, SACZ), a rea de baixa presso do Chaco no vero e o fenmeno da friagem na regio equatorial durante o inverno do Hemisfrio Sul. Os oceanos tropicais dos dois lados do continente sul americano so os nicos do mundo que no so castigados por furaces e tufes. No Oceano Atlntico tropical, a zona de convergncia intertropical (Intertropical Convergence Zone, ITCZ)
  27. 27. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 25 estende-se de oestesudoeste para lestenordeste, tendo seu extremo oestesudoeste uma amplitude meridional de migrao sazonal bastante grande. A Circulao Regional Existem dois centros subtropicais de alta presso, um sobre o Oceano Pacfico e o outro sobre Oceano Atlntico, respectivamente do lado oeste e do leste da Amrica do Sul. Sobre o continente predominam presses relativamente baixas todo o ano. No interior do continente, a presso ao nvel do mar mnima no vero e mxima no inverno. A alta do Oceano Pacfico mais intensa no vero e a alta do Oceano Atlntico no inverno. Esses dois centros de alta afastam-se do continente no vero, quando ocorre a estao das chuvas na maior parte da Amrica do Sul tropical e subtropical. O anticiclone do Atlntico Sul migra durante o ano, passa da posio (15 W, 27 S) em agosto para a posio (5 W, 33 S) em fevereiro. Em combinao com a migrao sazonal da ITCZ no perodo de fevereiro maio determina a estao chuvosa na regio do Nordeste do Brasil (HASTENRATH, 1991). Sobre o continente, h uma zona equatorial de baixa presso (cavado) que se funde com a ITCZ sobre o oceano. A posio e a intensidade do cavado equatorial um fator de grande influncia sobre a estao chuvosa no lado norte da regio amaznica, incluindo as Guianas, a Venezuela e a Colmbia. Uma caracterstica importante da circulao geral da Amrica do Sul o enfraquecimento do anticiclone subtropical no vero, devido ao aquecimento das guas ocenicas. Ao deslocar-se para o sul, no incio do vero, o anticiclone do Atlntico Sul d ensejo ao desenvolvimento da SACZ que o divide em duas partes. A circulao das camadas mais baixas da troposfera (ventos alsios), oriunda do lado norte do centro de alta presso do anticiclone do Atlntico Sul, atinge os Andes, no Peru e na Colmbia, onde bloqueada pelas altas montanhas e desviada para o sul, quando se torna lentamente ventos de norte e de noroeste do lado leste das Cordilheiras. Na costa leste, os ventos alsios penetram o continente com diferentes ngulos e velocidades a cada estao. Isto tem efeitos significativos sobre a precipitao litornea (KOUSKY, 1955). Sobre o continente, regio do colo entre os dois anticiclones do Atlntico e do Pacfico, nas latitudes entre 15 S e 40 S, o campo do escoamento caracterizado por uma forte deformao, que foi qualificada como geradora de frentes, ou frontogentica (SATYAMURTY e MATTOS, 1989). H evidncias de que nessa regio ocorre um jato de baixo nvel de norte, abaixo de 850 hPa, que responsvel pelo transporte de vapor de gua e calor do Amazonas para a regio do Paraguai e Argentina (PEAGLE, 1987). Em abril, ao norte de 10 N sobre o Atlntico, os alsios tm uma componente mais de norte e a ITCZ fica situada ao sul do mar do Caribe. A ITCZ, no oeste do Oceano Atlntico e no leste do Oceano Pacfico, vista sob o aspecto do eixo de confluncia dos alsios, atinge sua posio mais ao norte no final do inverno do Hemisfrio Sul, isto , cerca de 10 N no Atlntico e 13 N no Pacfico. Por outro lado, a ITCZ chega mais ao sul no final do vero do Hemisfrio Sul, cerca de 3 N no Oceano Atlntico, no perodo de fevereiro-abril, e 5 N no Oceano Pacfico, no perodo janeiro e fevereiro (HASTENRATH, 1991).
  28. 28. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 26 3.1.1.1. Variao Anual da Circulao Atmosfrica O texto a seguir apresenta as anlises sobre as situaes de inverno-primavera e de vero- outono. A Figura 3 -1 mostra a variao sazonal dos sistemas atmosfricos na Amrica do Sul e sobre a bacia do Xingu, em particular, com a direo preferencial de expanso desses sistemas e sua faixa de flutuao. As situaes sazonais referem-se ao comportamento mdio da dinmica da atmosfera em cada estao, no sendo, portanto, representativas de eventos anormais causadores de grandes enchentes ou de estiagens singulares. Situao de Inverno Primavera Em condies normais, nesse perodo, o sistema Equatorial Atlntico (Ea) domina o tempo na costa nordeste do Brasil, penetrando pelo interior at as vizinhanas de Belm e controlando o tempo na bacia do Xingu. Ocasiona aguaceiros contnuos e sem trovoadas em toda a costa oriental, da Bahia ao Rio Grande do Norte, mas, em seu avano pelo continente, as chuvas se reduzem, atingindo um mnimo nesta poca do ano, quando o sistema apresenta grande estabilidade. No alto Amazonas, esse sistema cede lugar ao Equatorial Continental Amaznico (Ec), que se limita a esta rea, atraindo o alseo de nordeste para o continente. Na primavera, o sistema Ec tem maior expanso para leste, alcanando o trecho superior da bacia, conforme est esquematizado na Figura 3 -1.
  29. 29. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 27 Figura 3-1- Variao sazonal dos sistemas atmosfricos na Amrica do Sul e na bacia do Rio Xingu
  30. 30. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 28 A Convergncia Intertropical (CIT), durante a primavera, encontra-se no Hemisfrio Norte, ocupando sua posio mais setentrional a 8N, mas mantendo-se um pouco mais ao sul no inverno, de modo a exercer influncia sobre o extremo norte do continente. A Frente Polar Atlntica (FPA), em sua trajetria martima, pode atingir a latitude de Natal, inflectindo, em seguida, em direo ao Par. Quando a frente est ntida, produzem-se chuvas e trovoadas na costa norte, at Belm, havendo queda mdia de 3C na temperatura e vento de sul. Sob um avano continental, o sistema Polar Atlntico (Pa) penetra pela Bolvia e pelo Estado de Mato Grosso, seguindo rumo norte, sendo desviado para a esquerda altura da Serra do Roncador, que flanqueia o setor direito da poro superior da bacia do Xingu, atravessando o Acre, o Alto Amazonas e a Colmbia, gerando o fenmeno da friagem. Na FPA que precede esse sistema, produzem-se cumulonimbus, trovoadas e pancadas rpidas. A friagem pode afetar o setor superior da bacia do Xingu, mas no atinge o estado do Par e, portanto, a maior parte da bacia. Quando o sistema polar se instala no Amazonas, cessam as trovoadas e aguaceiros do sistema Ec, que recua para o norte; aps dois ou trs dias, o ar frio se mistura com o alseo que, instabilizando-se, traz novas trovoadas. A permanente instabilidade do sistema Ec, no inverno, na regio do Alto Amazonas, liga-se, justamente, aos freqentes jatos de ar polar. Muitas vezes, o avano de frentes superiores vindas do Pacfico sentido na zona equatorial. O ar frio sul atinge a latitude de Cuiab a uns 1.000 ou 2.000 metros, determinando aumento da presso, das temperaturas e possivelmente trovoadas, sendo que ao nvel do solo, persiste o sistema Tropical Atlntico de ventos do nordeste. Essa invaso superior caminha para leste, atingindo os estados de Gois, Minas Gerais e Bahia, at o Atlntico, formando cumulonimbus no contato com a superfcie do mar. As cabeceiras dos rios formadores do Xingu, embora no estejam includas na faixa mdia de ao dessas invases superiores, podem, ocasionalmente, ser afetadas. O prprio sistema Tropical Atlntico (Ta) no chega a agir sequer sobre o trecho superior da bacia, mas, estando este trecho numa rea de ao perifrica do sistema Ec, durante a primavera, pode sofrer, esporadicamente, uma interveno do primeiro sistema. De modo geral, as massas polares dificilmente invadem a poro Central do Brasil, ficando a regio do baixo Amazonas sob o domnio estvel do alseo, que no sofre resfriamento das invases polares, definindo um inverno mais seco. Situao de Vero Outono Durante esse semestre, a CIT encontra-se no Hemisfrio Sul, e, introduzindo-se pela regio nordeste, balanceia os sistemas Equatorial Continental Amaznico (Ec), Equatorial Atlntico (Ea) e Tropical Atlntico (Ta). O sistema Equatorial Continental Amaznico domina toda a regio central do Brasil, ao norte do Trpico, inclusive a bacia do Xingu, tendo sua expanso limitada a oeste pelos Andes, e alcanando, muitas vezes, o litoral sul do pas. A instabilidade desse sistema est ligada prpria circulao do vero, durante o qual o continente torna-se um centro aquecido, para onde convergem os alseos de norte e de leste, ocenicos, originando uma tpica mono. O sistema apresenta, ento, umidade e temperatura elevadas, sendo que a convergncia e
  31. 31. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 29 ascenso produzidas em seu interior so responsveis por forte instabilidade convectiva, de modo que as reas sob sua influncia recebem chuvas e trovoadas locais quase dirias. O sistema Equatorial Atlntico (Ea) no chega a afetar a bacia, pois no ultrapassa o litoral nordestino A CIT, no vero, se encurva para o sul, atravessando o centro do continente, atrada pela depresso trmica interior. O mesmo acontece no outono, quando atinge sua posio mais meridional, de aproximadamente 4S, na costa, e 0S sobre o oceano, controlando o tempo no trecho inferior da bacia. Este setor da bacia do Xingu apresenta, assim, um mximo pluviomtrico de outono e um mnimo de primavera coincidente com o maior afastamento da CIT. Quando ocorrem fortes avanos do ar polar atlntico, a CIT recua para noroeste e os sistemas Ea e Ta substituem o Ec, desaparecendo as trovoadas deste ltimo, substitudas por chuvas contnuas e estabilidade. No caso de invases polares vindas do Hemisfrio Norte a mono se refora e o sistema Equatorial Continental (Ec) avana para o leste, deslocando a CIT para o oceano. No sistema Ec formam-se, freqentemente, pequenas depresses trmicas, onde se intensificam as trovoadas, que caminham, em geral, de oeste para leste e de norte para sul, deslocando-se do Amazonas ao Cear. Duram dois ou trs dias e provocam elevao trmica de 4C, em mdia. Sob um avano do sistema polar pelo litoral, a Frente Polar Atlntica (FPA), ao atingir o equador, no mais se define como no inverno, mas sim mistura-se ao alseo, produzindo chuvas. Se o ar polar avana pelo interior, segue uma trajetria mais a leste que no inverno, podendo mesmo alcanar o norte do Par, afetando a bacia do Xingu. Produz-se uma friagem pouco intensa com decrscimo em torno de 3C na temperatura, sendo que as trovoadas locais do sistema Equatorial Continental so reforadas pelo ar frio que se mistura. As Variaes Interanuais As anlises sinpticas das variaes interanuais da circulao tropical de vero mostram que nos veres com circulao do tipo Hadley forte, as precipitaes so acima do normal na rea costeira do Nordeste do Brasil e no sul do Brasil. Durante os perodos de fraca circulao de Hadley, as chuvas so acima do normal no interior sul do Nordeste do Brasil e abaixo do normal no Sul do Brasil. Os estudos demonstraram que a circulao do tipo de Hadley sobre a Amrica do Sul era forte quando a circulao ciclnica de 850 hPa, centrada na posio 28 S e 65 W, era bem definida, e a circulao de Hadley era fraca quando ambas a circulao ciclnica de 850 hPa e a anticiclnica de 150 hPa eram fracas e deslocadas para norte na direo da Bacia do Rio Amazonas. Nesses veres, a invaso de ar frio do sul foi mais freqente. As situaes sinpticas de perodos relativamente secos ou relativamente midos no Nordeste do Brasil, nos meses de fevereiro a abril, parecem estar associados a um ndice zonal baixo no Hemisfrio Sul e um alto ndice zonal no Hemisfrio Norte. Essa situao sinptica facilita a penetrao das frentes frias do sul no Nordeste do Brasil, as quais
  32. 32. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 30 interagem com uma perturbao mvel no cavado equatorial e produz fortes precipitaes na regio. As Variaes Sazonais Madden e Julian, em 1971, descobriram algumas oscilaes de durao de 30 a 60 dias e as chamaremos de MJOs (Madden and Julian Oscillations), que ocorrem sobre o Oceano Pacfico. Posteriormente foi verificado que atingem todas as regies tropicais do globo, com intensidade varivel. O efeito da MJO sentido na Amrica do Sul cerca de seis semanas depois que se manifesta no oeste do Oceano Pacfico. J existem estudos (KOUSKY e CAVALCANTI, 1988) mostrando que essa oscilao tem efeito de baixa intensidade sobre a conveco na Bacia Amaznica e no Sudeste do Brasil, especialmente no vero. Nos anos do fenmeno El Nio9 , parece haver um aumento da freqncia das oscilaes MJOs. 3.1.1.2. Variaes Espaciais e Temporais dos Elementos do Clima At 1975 a rede de postos pluviomtricos e climatolgicos existentes na bacia era restrita a alguns pluvimetros, localizados em fazendas da regio das cabeceiras do Xingu, e s estaes climatolgicas de So Flix do Xingu, Altamira e Porto de Moz. A partir de 1975, com o incio dos Estudos de Inventrio do Rio Xingu, a rede pluviomtrica da bacia foi ampliada com a instalao de novos postos, de modo a aumentar a densidade da rede, bem como melhorar sua distribuio espacial, totalizando 21 postos pluviomtricos e trs estaes meteorolgicas. Devido ausncia de estaes meteorolgicas no trecho alto da bacia, j que as trs nicas estaes existentes situam-se no trecho mdio baixo e baixo da bacia, foram utilizados os dados da estao de Diamantino, situada fora da bacia, porm prxima aos limites das cabeceiras do Xingu. Com base nos dados coletados so apresentadas a seguir as principais caractersticas dos parmetros meteorolgicos relativos a precipitao, temperatura e umidade do ar. Precipitao Os registros de precipitao dos postos considerados como representativos da bacia, foi obtido o mapa de isoietas anuais apresentado na Figura 3-2 Isoietas Anuais. As isoietas mostram que na bacia do rio Xingu a precipitao aumenta no sentido de seu desenvolvimento, de montante para jusante, variando de 1.500mm nas nascentes a 2.600mm na proximidade da foz. J a precipitao mdia anual na bacia resultou em 1.800mm 9 O fenmeno La Nina, ou episdio frio do Oceano Pacfico, tambm tm freqncia de 2 a 7 anos, todavia tem ocorrido em menor quantidade que o El Nio durante as ltimas dcadas. Os episdios mais recentes de La Nia ocorreram nos anos de 1998/99. Os principais efeitos de episdios do La Nia observados sobre a regio norte-nordeste do Brasil so, entre outros: tend~encia de chuvas abundantes no norte e leste da Amaznia, possibilidade de chuvas acima da mdia sobre a regio semi- rida do Nordeste do Brasil, bem como de chegadas de frentes frias nessa regio.
  33. 33. Rio Tapajs Rio Amazonas Rio Iriri Rio Xingu Rio Xingu Rio Xingu Rio Xingu Rio Araguaia Rio Amazonas Rio das Mortes Rio Curu Rio Xingu Rio das Mortes Rio Xingu Rio Xingu P AP A M TM T G OG O T OT O A PA P Vera Anapu Curu Sinop Uruar Placas Tucum bidos Aveiro Juruti Itaba Matup Breves Portel Gurup Pacaj Prainha Bannach Trairo Lucira Cludia Colder Sorriso Melgao Altamira Alenquer SANTARM Belterra Itaituba Confresa Canarana Almeirim gua Boa Carlinda Oriximin Rurpolis Vila Rica Cocalinho Querncia Nova Mutum Novo Mundo Brasil Novo Marcelndia Paranatinga Feliz Natal Monte Alegre Medicilndia Unio do Sul Campinpolis Nova Guarita Santa Carmem Nova Ubirat Porto de Moz Alta Floresta Novo Progresso Alto Boa Vista Cumaru do Norte Santa Terezinha Gacha do Norte Vitria do Xingu Novo So Joaquim Nova Brasilndia So Jos do Xingu Planalto da Serra gua Azul do Norte So Flix do Xingu Canabrava do Norte Lucas do Rio Verde Peixoto de Azevedo Santana do Araguaia Terra Nova do Norte Nova Cana do Norte Ribeiro Cascalheira Senador Jos Porfrio So Flix do Araguaia Porto Alegre do Norte 52W 52W 54W 54W 56W 56W 2S 2S 4S 4S 6S 6S 8S 8S 10S 10S 12S 12S 14S 14S Legenda Capital Estadual Sedes Municipais Limite Estadual Limites Municipais Massa D'gua Bacia do Xingu Terras Indgenas Unidade de Conservao de Proteo Integral Unidades de Conservao de Uso Sustentvel Precipitao Mdia Anual 3500 3250 3000 2750 2500 2250 2000 1750 1500 1250 At 1000 0 100 200 30050 km Sistema de Coordenadas Geogrficas Datum horizontal: SAD 69 1:4 45W 45W 60W 60W 0 0 15S 15S 30S 30S Localizao Figura 3-2 Isoietas Anuais (mm) Fontes: Base Cartogrfica Digital do Brasil ao Milionsimo (IBGE, 2005) Adaptado de : IBGE, Geografia do Brasil, volume 1 e 3, 1991 Compilao de dados MMA e ICMBIO ANEEL, 2008 Elaborao: ARCADIS Tetraplan, 2009
  34. 34. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 32 Pode-se concluir que bacia do rio Xingu apresenta uma sazonalidade bem definida. O perodo chuvoso, das cabeceiras do rio at a parte mdia alta da bacia, compreende os meses de dezembro a maro; j na faixa mdia da bacia at o baixo curso, o perodo chuvoso vai de fevereiro a maio. Nota-se claramente que, entre as cabeceiras e o baixo curso, o perodo chuvoso sofre um atraso de cerca de um a dois meses. Este fato favorece a ocorrncia de grandes deflvios nos trechos do mdio e baixo cursos. As descargas que ocorrem nesses trechos, no perodo de fevereiro a abril, so provenientes do escoamento superficial das chuvas que atingem o segmento mdio inferior da bacia e do escoamento dos deflvios originrios das precipitaes de um a dois meses antes, nas partes mdia superior e alta da bacia. Merece citao tambm a grande acumulao na prpria calha do rio e nas baixadas marginais adjacentes, o que tem grandes efeitos sobre o amortecimento das cheias e seu tempo de trnsito ao longo da calha principal do rio Xingu. Temperatura Pela sua posio geogrfica prxima ao Equador e pelas suas baixas altitudes, a bacia se caracteriza por um clima quente, ocorrendo de agosto a dezembro as temperaturas mais elevadas. As mximas no so excessivas, devido forte umidade relativa e a intensa nebulosidade. Em contrapartida, nos meses mais frios, junho a julho, dificilmente a temperatura mdia fica abaixo dos 24 C. Em casos particulares, quando ocorre a invaso do ar polar continental, as mnimas absolutas podem chegar aos 8 C. Na regio de Altamira e Porto de Moz, trecho inferior da bacia, a temperatura mdia durante o ano fica entre 25,4C e 27,3C, com mnimas em fevereiro e mximas em outubro. Como indicador do trecho mdio, tem-se a localidade de So Flix do Xingu. Nesta, em posio mais meridional e em altitude mais elevada que o trecho inferior, as mdias mensais ficam entre 24,6C (mnima em julho) e 25,4C mxima em setembro. Para o trecho alto da bacia verifica-se que a temperatura mdia de 25,2C, com as mnimas ocorrendo em maio com valores em torno dos 24,4C . As mximas geralmente ocorrem a partir de fevereiro com valores entre 27,0C e 28C. Umidade Relativa No trecho inferior da bacia, tanto na latitude de Porto de Moz quanto de Altamira, a curva da umidade relativa cresce a partir de novembro at abril-maio, variando de 83% a 89% e 79% a 88%, respectivamente. Entre junho e outubro ela reduz at 82% em Porto de Moz, e entre maio e outubro at 78% em Altamira. Caracterizando o trecho mdio da bacia, So Flix do Xingu demonstra uma ligeira modificao na curva de umidade relativa em relao ao trecho inferior, apresentando mxima em janeiro (89%) e mnimas entre julho e agosto (81%). J no trecho alto da bacia, a umidade relativa fica pouco abaixo do trecho mdio, com mximas em janeiro/ fevereiro (80% e 83%) e mnimas em agosto/setembro (60,7 e 64,5%).
  35. 35. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 33 3.1.2. Terrenos Para o desenvolvimento deste tema foi adotado o conceito de terreno, que classifica o espao segundo suas condies ambientais predominantes, suas qualidades ecolgicas e avalia seu potencial de uso, bem como suas fragilidades. Tais estudos tm sido utilizados para fornecer uma viso sinttica do meio, para estudos cientficos e aplicados ao planejamento das atividades antrpicas no meio fsico. O presente diagnstico abrange a Bacia Hidrogrfica do rio Xingu, evidenciando-se os diversos compartimentos, seus principais atributos e dinmicas. Dados de relevo, substrato rochoso, solo e vegetao da rea de estudo foram analisados para definir os sistemas de terrenos e estabelecer os atributos abiticos dos principais ecossistemas terrestres que caracterizam a Bacia Hidrogrfica do rio Xingu (Figura 3-3). A bacia compreende parte de dez grandes unidades de relevo, que foram diferenciadas com base nos dados do IBGE (1993) e do Projeto RADAMBRASIL (1981 e 1982). De montante para jusante ocorrem: Planalto dos Guimares / Alcantilados, Depresso do Alto Araguaia / Tocantins, Depresso de Paranatinga, Planalto dos Parecis / Alto Xingu, Depresso da Amaznia Meridional, Planaltos Residuais do Sul da Amaznia, Planalto Marginal do Amazonas, Depresso do Amazonas, Plancie Fluvio-lagunar do Amazonas e Plancies Fluviais. O rio Xingu e seus afluentes cortam rochas do embasamento cristalino, rochas sedimentares paleozicas, mesozicas e cenozicas, que constituem unidades de diferentes idades. Condicionados pelos diferentes tipos de rochas e relevos ocorrem na Bacia do rio Xingu: Latossolos Amarelos, Latossolos Vermelho-Amarelo, Argissolos Vermelho-Amarelo, Argisolos Vermelhos, Neossolos Litlicos e Afloramentos Rochosos, Neossolos Quartzoarnicos, Plintossolo Ptrico e Gleissolos. No que se refere vegetao potencial, so diferenciados na bacia os seguintes tipos: floresta ombrfila densa, floresta ombrfila aberta, floresta estacional semidecidual, savana (cerrado), formaes pioneiras (sistema edfico de primeira ocupao) e sistemas de transio ecolgica ou tenso ecolgica (contato entre formaes vegetais distintas). Com base nessas observaes so descritas as principais relaes entre as Unidades de Relevo, as formaes vegetais potenciais, os sistemas de transio (tenso ecolgica), substrato rochoso e solos, que substanciaram a caracterizao dos diferentes tipos de terrenos que ocorrem em cada uma das Unidades de Relevo da Bacia do Rio Xingu. Para o mapeamento das unidades de terrenos em escala 1:1.000.000 foi realizada uma primeira aproximao da caracterizao da bacia com base nos Mapas Geomorfolgico do Brasil (IBGE, 1993), de Vegetao (IBGE, 1993) e Geolgico da Amrica do Sul (CPRM, 2000), em escala 1: 5.000.000, o que permitiu identificar, em escala macro, as principais caractersticas do Meio Fsico e avaliar o nvel de complexidade de seus elementos, o que se reflete na definio de unidades de terrenos. Aps essa caracterizao inicial, foram realizados estudos na escala 1: 1.000.000, com a utilizao dos mapeamentos elaborados pelo Projeto RADAMBRASIL correspondentes s folhas: Belm, Araguaia, Tapajs, Tocantins, Juruena, Gois e Cuiab.
  36. 36. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 34 De forma complementar, foram analisadas informaes dos Diagnsticos e Zoneamento Ambiental, elaborados pelos Estados do Mato Grosso (SEPLAN/MT, 2003) e do Par (SECTAM/PA, 2004), dados do Inventrio Hidreltrico da Bacia do Rio Xingu (ELETRONORTE, 1980), dados do Plano de Desenvolvimento Sustentado da BR 163, as Folhas Geolgicas ao milionsimo (CPRM, 2000) e elementos dos estudos realizados pelo CNEC (1988 a e 1988b).
  37. 37. Sub bacia do Rio Ronuro Sub bacia do Baixo Xingu Sub bacia do Rio Curu Sub bacia do Rio Von den Steinen Sub bacia do Rio Culuene Sub bacia do Rio Curisevo G OG O M TM T T OT O P AP A A MA M Rio das Mortes Rio Xingu Rio Xingu Rio Curu Rio Xingu Rio Xingu Rio Amazonas Rio Amazonas Rio Iriri Rio Xingu Rio Araguaia Rio Xingu Rio Tapajs Salto Trs de Maio Ronuro Salto Curu Salto Buriti Paranatinga II Paranatinga I Culuene ARS Legenda Depresso da Amaznia Meridional Dp AM - Relevos de rampas de aplanamento com dissecao incipiente em colinas. Anfibolitos, charnoquitos, dioritos, gnaisses, granitides, metabsicas, enderbitos, granodioritos, monzogranitos, arenito grauvacas, quartzo grauvacas, andesitos, traquitos, dacitos, riolitos e tufitos. Argissolos Vermelho - Amarelo, Latossolos Vermelho Amarelos e Nitossolo Vermelho. Floresta Ombrofila aberta. Depresso do Amazonas Dp AM1 - Relevos de rampas de aplanamento extensas com dissecao incipiente em colinas. Coberturas detrito-lateritica e Quartzo arenitos. Latossolos Vermelho Amarelos Floresta Ombrofila Densa predomina. Dp AM 2 - Associao de colinas e rampas de aplanamento. Quartzo arenitos. Latossolos Vermelho Amarelos. Contato a Floresta Ombrfila Densa e a Floresta Ombrofila Aberta. Depresso do Alto Tocantins / Araguaia Dp ATA - Relevos de rampas de aplanamento extensas Argilitos, folhelhos e siltitos Argissolos Vermelho - Amarelo e CambissolosSavana Arbrea com floresta galeria Associam-se serras residuais sustentadas por Arenitos com Latossolos e Neossolos quartzoarenicos. Dp ATA 2 - Serras residuais da Depresso Alto Tocantins/ Araguaia sustentadas por arenitos com Latossolos e Neossolos quartzarnicos. Depresso de Paranatinga Dp P1 - Associao de Relevos de Rampas de Aplanamento e Colinas Argilitos, folhelhos, siltitos e Arenitos. Argissolos Vermelho - Amarelo e Neossolos quartzoarenicos. Savana Arbrea aberta com floresta galeria. Dp P2 - Relevos colinosos Argilitos, folhelhos, Siltitos e Arenitos. Cambissolos Savana Parque predomina a floresta galeria. Planalto do Guimares / Alcantilados Pl GA 1 - Relevos de rampas de aplanamento extensas predominam e relevos colinosos subordinados. Arenitos Neossolos quartzoarenicos. Savana com Floresta de Galeria P1 GA 2 - Associao de relevos de rampas de aplanamento e colinas.FolhelhosArgissolos Vermelho - Amarelo e Plintossolos Ptricos.(T) Savana / Floresta Estacional - Savana Arbrea Densa. Planalto Marginal do Amazonas PI MA - Relevos colinosos suave ondulados a ondulados.Arenitos, folhelhos, siltitos, conglomerados e diabsios Latossolos Vermelho Amarelos, Nitossolo Vermelho e Argissolo Vermelho - Amarelo.Transio entre a Floresta Ombrofila Densa e Floresta Ombrofila Aberta. Planalto dos Parecis / Alto Xingu PI PAX 1 - Relevos de rampas de aplanamento pouco dissecadas no reverso da escarpa Cobertura Detritico-latertica e folhelhos Latossolos Vermelho-Amarelo Ecotono Savana / Floresta estacional e Savana Arbrea com floresta galeria. Escarpas sustentadas por folhelhos e arenitos. Ocorre Plintossolos Ptricos Ecotono Savana / Floresta estacional Savana Arbrea Densa. PI PAX 2 - Relevos de rampas de aplanamento extensas. Cobertura Detritico-latertica Latossolos Vermelho-Amarelo. Contato Floresta Ombrofila / Floresta Estacional PI PAX 2B - Associam-se relevos residuais sustentadas por andesitos, aplitos, basaltos, brechas piroclasticas, riolito, tufo laplitico. Ocorre Plintossolos Ptricos. Neossolos Litlicos e Argissolos Vermelho-Amarelo. Ectono Savana/ Floresta Estacional - Savana Arbrea Aberta. Planalto Residual do Amazonas PI RA 1 - Relevos residuais tabulares, dissecados em morros (de topos agudos e convexos) e campos de inselbergs Granodioritos, monzogranitos, sienogranitos, granitos, adamelitos, granulitos, charnoquitos, enderbitos, xixtos, granitos porfiros, andesitos, xistos filitos e formaes ferriferas, anfibolitos, quartzo xistos, folhelhos, metabasaltos e granulitos bsicos.Neossolos Litlicos, Afloramentos de Rochas, Argisolos Vermelho-Amarelo Floresta Ombrofila Densa Submontana (predomina); PI RA 2 - Arenito Grauvaca, Quartzo Grauvaca, Biotita Xisto, Filitos, Formaes Ferriferas Metacrseos, Metarenitos e Micaxistos, Folhelho, Quartzo Arenito e Siltito, Andesitos, Basaltos, Brechas Piroclsticas Riolito, Tufo Laplitico. Neossolos Litlicos, Afloramentos de Rochas, Neossolos Quarzoarnicos e Argisolos Vermelho - Amarelo. Savana: Florestada e Gramneo Lenhosa e Transio Savana/Floresta Ombrfila. Plancie Flvio- Lagunar do Amazonas Pfl AM - Plancies fluviais inundveis, alagadios, terraos e lagoas Sedimentos aluviais. Gleissolos e Neossolos Fluvicos Formaes Pioneiras fluviais arbustivas e herbceas
  38. 38. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 36 Unidades de Relevo e Tipos de Terrenos Planalto dos Guimares /Alcantilados: Rampas arenosas e Colinas amplas e Rampas Unidade de relevo que ocorre no extremo sul da Bacia Hidrogrfica do rio Xingu e que abriga as cabeceiras do rio Culuene, formador do rio Xingu, cujas nascentes encontram-se em altitudes de 750 a 800 m, no divisor de gua com o rio das Mortes e com o rio Teles Pires. Dois tipos de terrenos foram diferenciados nessa unidade de relevo, ambos com encostas de baixa inclinao: as Rampas arenosas em que predominam relevos de topo aplanado e as Colinas amplas e Rampas que apresentam dissecao incipiente e relevos convexos de baixa amplitude. Esses terrenos so sustentados por rochas do embasamento cristalino do proterozico superior, e por rochas paleozicas e mesozicas da Bacia Sedimentar do Paran. Essas rochas so representadas pelas seguintes unidades litoestratigrficas: Formao Raizama, Formao Furnas, Formao Ponta Grossa, Formao Aquidauana e Grupo Bauru. A presena de sedimentos cenozicos est associada principalmente s plancies fluviais. As Rampas arenosas so terrenos planos e suave ondulados desenvolvidos sobre arenitos. Predominam Neossolos Quartzarnicos rticos em associao com Latossolos Vermelho- Amarelos. Ocorrem ainda Argissolos Vermelho-Amarelos associados com Plintossolos Argilvicos e Cambissolos Hplicos. Em propores pequenas, ocorrem Latossolos Vermelhos e Gleissolos Hplicos. As Colinas amplas e Rampas constituem terrenos suave ondulados a ondulados, pouco dissecados, sustentados por folhelhos, siltitos e arenitos finos argilosos, onde ocorrem predominantemente Argissolos Vermelho-Amarelos associados a Plintossolos Argilvicos e Neossolos Quartzarnicos rticos. Latossolos Vermelho-Amarelos tambm ocorrem em pequenas propores. Os Neossolos Quartzarnicos rticos no so indicados para a lavoura devido as limitaes edficas, a drenagem excessiva e a deficincia de bases trocveis, podendo ser utilizados para pastagem, embora ainda apresentem limitaes relacionadas susceptibilidade eroso, exigindo cuidados especficos. Os Argissolos so indicados para uso com agricultura em geral, apresentando limitaes nas declividades mais acentuadas, entre 15 e 25% pela maior susceptibilidade eroso e pela deficincia nas bases trocveis. Os Latossolos apresentam aptido agrcola boa para lavoura, com limitaes relacionadas drenagem excessiva e deficincia em bases trocveis. O clima no aparece como fator restritivo e quanto ao relevo as limitaes so ligeiras, pela ocorrncia de declividades entre 5% e 15%. Os Cambissolos apresentam aptido boa para culturas permanentes, em especial com fruticultura, ou ento para a silvicultura, em funo da ocorrncia de relevo com declividades elevadas.
  39. 39. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 37 A deficincia de gua, a estrutura fraca, a textura arenosa, a drenagem deficiente, o gradiente textural e o baixo teor de bases trocveis, dos solos destes dois tipos de terreno, so limitaes que, associadas alta susceptibilidade a eroso e a arenizao, favorecem a sua utilizao para abrigo e proteo da fauna e da flora silvestre. Esses terrenos apresentam baixo potencial mineral, bem como baixa probabilidade de ocorrncia de cavernas, pois embora os arenitos sejam rochas favorveis formao destas feies pseudocrsticas, o relevo plano inibe o seu desenvolvimento. Depresso do Alto Araguaia / Tocantins: Rampas e Morros residuais tabulares Ocupa uma pequena rea na parte sul da Bacia Hidrogrfica do rio Xingu, onde esto alojadas as nascentes do rio Sete de Setembro, um dos seus formadores. As nascentes esto em altitudes de 380 400 m, associadas a rea alagadia (guas emendadas), onde tambm nasce o rio Arees, afluente do rio das Mortes, nas proximidades da localidade de gua Boa. Dois tipos de terrenos foram diferenciados nessa unidade de relevo: as Rampas com encostas de baixa inclinao em que predominam relevos de topo aplanado, e os Morros residuais tabulares que so limitados por escarpas e apresentam topos aplanados ou com dissecao incipiente. Esses terrenos so sustentados por rochas do embasamento cristalino do proterozico superior e por rochas paleozicas da Bacia Sedimentar do Paran, representadas pelas unidades litoestratigrficas Formao Diamantino, Formao Furnas e Formao Ponta Grossa. A presena de sedimentos cenozicos associa-se s plancies fluviais. As Rampas so terrenos planos e suaves ondulados sustentados por folhelhos e siltitos micceos, com finas intercalaes de arenitos arcoseanos, O solo predominante o Argissolo Vermelho-Amarelo que se associa com Latossolo Vermelho-Amarelo. Seguem-se Cambissolos Hplicos e Plintossolos Ptricos Concrecionrios, associados a Neossolos Litlicos. Os Cambissolos Hplicos desta unidade de relevo possuem carter distrfico indicativo de baixa saturao por bases trocveis e textura mdia que, pode condicionar deficincia hdrica s culturas nas pocas mais secas do ano. Os Morros residuais tabulares so terrenos que se destacam pela sua amplitude e pela presena de topos aplanados limitados por escarpas sustentadas por arenitos mdios a grossos, ortoquartziticos e feldspticos, com lentes de conglomerados e de siltitos argilosos. Nessa unidade predominam nos topos Latossolos Vermelho-Amarelos em associao com Neossolos Quartzarnicos rticos. Nas escarpas, ocorrem Plintossolos Ptricos Concrecionrios, associados a Neossolos Litlicos e Plintossolos Argilvicos. Os Argissolos Vermelho-Amarelos e os Latossolos, predominantes nas Rampas e nos topos dos Morros, so aptos para agricultura, sem limitaes quanto ao clima e relevo, mas com limitaes quanto baixa disponibilidade de bases trocveis e ao carter lico do solo. Nas escarpas as terras so aptas para a utilizao como abrigo e proteo da fauna e da flora silvestre. Os solos apresentam alta susceptibilidade eroso laminar e em sulcos,
  40. 40. AAI Avaliao Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidreltricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Xingu ARCADIS Tetraplan 38 problemas de toxidez por alumnio, alm de baixa profundidade efetiva e ocorrncia de afloramentos rochosos. Os Morros residuais tabulares apresentam alto potencial para a ocorrncia de abrigos e cavernas, devido presena de arenitos e de relevos de escarpas que favorecem a formao de feies pseudocrsticas. Esses terrenos apresentam baixo potencial mineral. Depresso de Paranatinga: Rampas arenosas, Rampas e Colinas amplas, mdias e Rampas Essa Unidade de relevo compreende uma depresso interplanltica ampla, com altitudes de 450 a 680 m, na qual esto inseridas as nascentes do rio Cuiab (Bacia do rio Paran), do rio Teles Pires (Bacia do rio Tapajs) e dos rios Ronuro, Tamitatoala ou Batovi e Curisevo, da Bacia do rio Xingu. Os afluentes do Xingu nesse compartimento, formam perces que fazem recuar os relevos escarpados que limitam o Planalto dos Parecis / Alto Xingu. Trs tipos de terrenos foram diferenciados nessa unidade, todos com encostas de baixa inclinao: Rampas arenosas, que se associam relevos de topo aplanado, Rampas e as Colinas amplas, mdias e Rampas onde se associam relevos com dissecao incipiente em topos convexos de baixa amplitude. Associa-se a esses terrenos morrotes e morros residuais tabulares que, por suas dimenses, no foram individualizados. Esses terrenos so sustentados por rochas do embasamento cristalino do proterozico superior, representado pela Formao Raizama, de ocorrncia restrita, e pela Formao Diamantino predominante. Intruses kimberlticas mesozicas ocorrem, cortando essas rochas e, embora no condicionem terrenos especficos, so responsveis pelo seu potencial mineral(diamantes). Na regio tm-se ainda rochas sedimentares mesozicas representadas pela Formao Parecis, e sedimentos cenozicos associados principalmente s plancies fluviais, e as coberturas detrito-lateriticas que afloram sobre os morrotes e morros residuais. Rampas arenosas so terrenos suave ondulados que ocorrem na cabeceira dos rios Ronuro, Jatob, Curisevo. Esses terrenos so sustentados por arenitos finos a mdios, feldspt