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Arquitetura e saúde A identificação de que ambientes agradáveis podem ser mais do que coadjuvantes na promoção do bem-estar revela um promissor campo para o desenvolvimento de uma arquitetura mais humana nos estabelecimentos de assistência à saúde. Além disso, a permanente transformação dessas edificações para atender com mais conforto aos usuários e adequar os espaços às inovações em equipamentos e serviços configura um mercado em expansão para os arquitetos e urbanistas, que são competentes para projetar hospitais, clínicas, consultórios e laboratórios, abrangendo desde a concepção, dimensionamento, planejamento das complexas instalações e tratamento dos seus espaços internos e externos. PáGINAS 18 A 21 PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE ARQUITETOS DE INTERIORES DO BRASIL/RS #69 ANO 13 | OUT/NOV/DEZ | 2014 PROJETO Referência internacional, os diferenciais do trabalho do arq. e urb. João Filgueiras Limas na Rede Sarah de Hospitais PÁGINAS 24 A 26 PROFISSÃO A especialização em Arquitetura Hospitalar: desafios e oportunidades PÁGINAS 20 A 22 ROTEIRO Os harmoniosos contrastes da arquitetura de Córdoba, na Argentina PÁGINAS 28 A 31 SEMINÁRIO AAI Brasil/RS reúne expoentes da nova geração de profissionais de arquitetura em Porto Alegre PÁGINAS 32 A 35 PROJETO ARQ. E URB. PATRíCIA SINISGALLI, SóCIA DO ESCRITóRIO GEBARA CONDE SINISGALLI ARQUITETOS | FOTO: ACERVO

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Informativo da Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil/RS

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Page 1: AAI em revista  nº 69

Arquitetura e saúdeA identificação de que ambientes agradáveis podem ser mais do que coadjuvantes na promoção do bem-estar revela um promissor campo para o desenvolvimento de uma arquitetura mais humana nos estabelecimentos de assistência à saúde. Além disso, a permanente transformação dessas edificações para atender com mais conforto aos usuários e adequar os espaços às inovações em equipamentos e serviços configura um mercado em expansão para os arquitetos e urbanistas, que são competentes para projetar hospitais, clínicas, consultórios e laboratórios, abrangendo desde a concepção, dimensionamento, planejamento das complexas instalações e tratamento dos seus espaços internos e externos. PáginAs 18 A 21

PublicAção dA AssociAção de Arquitetos de interiores do brAsil/rs

#69Ano 13 | out/noV/deZ | 2014

P R O J E T OReferência internacional,

os diferenciais do trabalho do arq. e urb. João Filgueiras Limas

na Rede Sarah de HospitaisPáginas 24 a 26

P R O F I S S Ã OA especialização em

Arquitetura Hospitalar: desafios e oportunidades

Páginas 20 a 22

r o t e i r oOs harmoniosos contrastes da arquitetura de Córdoba,

na ArgentinaPáginas 28 a 31

S E M I N Á R I OAAI Brasil/RS reúne expoentes

da nova geração de profissionais de arquitetura em Porto Alegre

Páginas 32 a 35

Projeto Arq. e urb. PAtríciA sinisgAlli, sóciA do escritório gebArA conde sinisgAlli Arquitetos | Foto: Acervo

Page 2: AAI em revista  nº 69

Arq. e urb. Silvia BarakatPresidente AAi BrAsil/rs - 2014-2015

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sil

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sArquitetura e Medicina. Uma relação impor-

tante, que merece a nossa atenção. Dedica-

mos esta edição da AAI em revista para tratar

desse tema, apresentado sob diversos enfo-

ques e de forma abrangente. Entendemos a

necessidade e percebemos o esforço das ins-

tituições do setor da saúde pela humanização

da arquitetura hospitalar. A qualificação dos

espaços internos em prol do bem-estar, do

conforto e da segurança dos pacientes e de-

mais usuários dos estabelecimentos ganha ain-

da mais importância com a expansão da “ten-

dência” da hotelaria hospitalar. Esse é um mer-

cado que nos diz respeito e que exige capa-

citação profissional e atuação multidisciplinar.

Nas próximas páginas, discorremos sobre a

complexidade desse segmento e você obser-

vará que se trata de um significativo nicho de

atuação para quem se dedica à Arquitetura de

Interiores. É preciso estar sintonizado com as

necessidades específicas, com as inovações

tecnológicas e com os preceitos de um proje-

to eficiente de arquitetura – como destacamos

na matéria sobre o trabalho exemplar desen-

volvido pelo grande arq. e urb. Lelé durante

décadas à frente da Rede Sarah de Hospitais.

IV REcIcLAgEM pRofISSIoNALFerramentas de trabalho para a arquitetura: Abnt – reformas; biM e Pós-ocupação. esses foram os temas dos três encontros realizados em agosto como parte do Programa de Atua-lização e valorização Profissional da entidade. A quinta edição da reciclagem Profissional es-tá prevista para os dias 3, 10 e 17 de novembro.

Parceiros aai Brasil/rs

2014

Estas empresas garantiram participação nos eventos e projetos da AAI Brasil/RS.

DIREToRIA - gESTão 2014/2015 pRESIDêNcIA Arq. e urb. silvia Monteiro barakat VIcE-pRESIDêNcIA Arq. e urb. cármen lila gonçalves Pires DIR. DE ExERcícIo pRofISSIoNAL Arq. e urb. Flávia bastiani DIR. DE RELAçõES AcADêMIcAS Arq. e urb. Maria bernadete sinhorelli e Arq. e urb. elisabeth sant’Anna DIR. DE coMUNIcAção / RELAcIoNAMENTo Arq. e urb. Ana Paula bardini DIR. DE MARKETINg Arq. e urb. Andres luiz Fonseca rodrigues DIR. DE oRgANIzAção DE EVENToS Arq. e urb. cezar etienne Machado de Araújo DIR. fINANcEIRA / TESoURARIA Arq. e urb. gislaine saibro

JoRNALISTA RESpoNSÁVELletícia Wilson (reg. 8.757)

[email protected]

coLAboRAçãotatiana gappmayer (reg. 8.888)

coNSELHo EDIToRIALArq. e urb. gislaine saibro

letícia Wilson

coMERcIALIzAçãoProjetato Assessoria e comunicação

51 3239.2273 - 51 [email protected]

EDIção gRÁfIcAevaldo tiburski | tiba

rua sport club são josé, 67/407Porto Alegre/rsceP 91030-510Fone 51 3228.8519www.aaibrasilrs.com.br

conceitos e opiniões emitidos por entrevistados e colaboradores não refletem, necessariamente, a opinião da revista e de seus editores. não publicamos matérias pagas. todos os direitos são reservados. Publicação trimestral, com distribuição dirigida a arquitetos e urbanistas, entidades de classe, instituições de ensino e empresas do setor. órgão oficial da AAi brasil/rs.

AAI EM REVISTA - ARQUITEToSA 12ª edição da publicação anual da AAi brasil/rs apresentará projetos de 20 arquitetos e urba-nistas associados. são eles: Aclaene de Mello, Albert Wainer, Alessandra Alves e daniela Zoppas, Ana lore burliga Miranda, Angela limberger, beatriz regina cherubini Alves e isabel grazziotin, carlos jardim e lisete jardim, cristiana brodt bersano, débora schmitt noronha e Maria Alice car-valho, gislaine saibro, Karen Haas, laline bittencourt, Marcelo john, nilza colombo, Paula Araújo ribeiro lino, tania bertolucci delduque de souza e tina Zimmermann. o lançamento acontecerá no dia 9 de dezembro, no jantar comemorativo ao dia do Arquiteto, quando igualmente será re-velado o vencedor do concurso ‘Melhores trabalhos da Arquitetura de interiores’ que conta, tam-bém, com o patrocínio do cAu/rs.

RT EM DEbATEem junho, a AAi brasil/rs promoveu novo encontro sobre “reserva técnica”, agora entre empre-sários e representantes da AsbeA/rs e do sAergs e com a participação do coordenador da co-missão de Ética e disciplina do cAu/rs, Marcelo Petrucci Maia.

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l A necessidAde de AdAPtAr os esPAços de sAúde às noVAs tecnologiAs e de deixá-los mAis Acolhedores Vem AmPliAndo o mercAdo PArA A AtuAção dos ProfissionAis nessA áreA

Arquitetura pelo bem-estar

com espaços menos estressantes as pessoas

curam-se mais rapidamente e as internações são

menos prolongadas, gerando maior rotatividade

e movimento nos hospitais, garantindo o retorno

do investimento na qualidade das estruturas. A

experiência do arquiteto e urbanista João filguei-

ras lima, o lelé – falecido em maio deste ano –

na rede sarah de hospitais contribuiu muito para

alterar as concepções tradicionais desses edifí-

cios, integrando conceito arquitetônico às neces-

sidades médicas e terapêuticas. “mostrou ainda

a importância da racionalização e da viabilidade

econômica dos processos unidos aos cuidados

com a higiene, com o aprimoramento dos espa-

ços internos, entradas de luz natural e renovação

do ar, o contato com a natureza através de liga-

ções com jardins e solários, o uso de cores, bem

Acervo gcsA

SEGUINDO O CONCEITO DA HOTELARIA, ÁREAS COMUNS DE HOSPITAIS E CLÍNICAS RECEBEM TRATAMENTO ATUAL E MODERNO, EM RELAÇÃO A REVESTIMENTOS E MOBILIÁRIO

Page 5: AAI em revista  nº 69

5

como a parceria das artes plásticas”, detalha a

professora doutora da faculdade de Arquitetura

e urbanismo da Pucrs, leila nesralla mattar.

um dos conceitos que vem sendo traduzido

nessas construções para atender às novas expec-

tativas é o da hotelaria, uma vez que a hospeda-

gem passou a ser valorizada tanto pelos pacien-

tes como por seus acompanhantes. dessa forma,

áreas comuns como recepções, circulações, es-

tares e esperas começaram a ter uma atenção

especial quanto ao tratamento da luz natural e

artificial, revestimentos, mobiliário mais moder-

no, utilização de tonalidades diferenciadas para

as diferentes alas, aparelhos que contribuem pa-

ra maior comodidade e segurança do paciente,

adornos e complementos. “A melhoria dos am-

bientes internos e a hospitalidade também se tor-

naram primordiais nas unidades de internações,

distinguindo-as dos empreendimentos mais an-

tigos desse setor”, afirma leila.

A arquiteta e urbanista Patrícia sinisgalli, sócia

do escritório gebara conde sinisgalli Arquitetos

(gcsA) de são Paulo – que há 20 anos atua nes-

se segmento–, complementa que ao procurar um

hospital, inconscientemente, o usuário busca in-

dicadores de qualidade, competência e integri-

dade. nesse sentido, o espaço é uma das refe-

rências analisadas pelos pacientes e que deve

promover o máximo de conforto e funcionalida-

de. “os recursos destinados para hotelaria nesses

lugares transmitem a sensação de acolhimento,

trazem resultados físicos e emocionais e aumen-

tam os índices de satisfação em relação aos ser-

viços prestados”, aponta. Patrícia acrescenta que

o principal desafio para os profissionais é proje-

tar ambientes que sejam ao mesmo tempo refe-

rência de excelência, reduzindo o estresse e au-

xiliando na recuperação da saúde, que originem

maior produtividade aos funcionários e comuni-

quem sinais positivos aos clientes. A melhoria dos

locais de saúde, inclusive, foi um dos temas abor-

dados durante o Vi congresso brasileiro para o

desenvolvimento do edifício hospitalar, ocorrido

em florianópolis, em agosto passado, assim co-

mo as tendências nesse campo.

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“Assim como o projeto de interiores, A luminotécnicA tem o objetivo de descArActerizAr A imAgem friA hospitAlAr”, enfAtizA A Arq. pAtríciA sinisgAlli, sóciA do escritório gebArA conde sinisgAlli Arquitetos (gcsA). nAs fotos, projetos desenvolvidos por suA equipe, em são pAulo

Page 6: AAI em revista  nº 69

uti de um dos novos Anexos do hospitAl de clínicAs de porto Alegre . nA expAnsão dA instituição, Atenção à tecnologiA, sustentAbilidAde e humAnizAção. As sAlAs têm AmplA vistA pArA A áreA externA

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l todos os complexos dessa área devem ser

criados de acordo com as regras da Agência na-

cional de Vigilância sanitária (Anvisa), vinculada

ao ministério da saúde, assim como das vigilân-

cias estaduais e municipais de saúde, que as ajus-

tam às especificidades locais. eles devem res-

ponder às resoluções rdc-50/2002 e rdc-51/

2011, que tratam da regulamentação técnica pa-

ra planejamento, programa, elaboração e ava-

liação de projetos físicos de estabelecimentos

assistenciais de saúde.

REDUzINDo A coMpLExIDADEPor serem edificações sempre sujeitas a mudan-

ças e ampliações, pensar a flexibilidade dos am-

bientes é essencial na concepção de projetos de

hospitais, ressalta a sócia do escritório gcsA, que

já realizou trabalhos em são Paulo de reforma e

revitalização do prédio dos ambulatórios do hos-

pital das clínicas, de interiores para a expansão

do hospital nossa senhora de lourdes, de refor-

ma da unidade de internação e uti pediátrica do

hospital sírio libanês, entres outros. Patrícia re-

força ainda a importância de simplificar a com-

plexidade dessas construções sempre que for viá-

vel, adotando soluções como circulações amplas

e bem sinalizadas para ajudar o usuário a se lo-

calizar, priorizar o paciente e acompanhantes per-

sonalizando os espaços, empregar iluminação na-

tural sempre que possível e proporcionar conta-

to com o exterior. “Assim como o projeto de in-

teriores, a luminotécnica tem o objetivo de des-

caracterizar a imagem fria hospitalar”, frisa.

uma ressalva que a arquiteta faz refere-se aos

materiais utilizados nesses prédios: além de suas

características técnicas, estéticas e assépticas,

devem ser consideradas questões ambientais, co-

mo o uso de produtos que causem baixo impac-

to ao meio ambiente, reuso da água, redução da

geração de resíduos e eficiência energética, por

exemplo. ela conta que nos empreendimentos

desenvolvidos pelo escritório costumam optar por

itens como forro removível, que facilita o acesso

e manutenção das instalações, e pisos em man-

tas. esse recurso é bastante empregado por ser

resistente a produtos químicos e ao tráfego de

carrinhos e macas, possuir propriedades térmi-

cas agradáveis, não ser tão frio como mármores

e granitos, absorver parcialmente os ruídos e por

permitir criar desenhos que auxiliam na setoriza-

ção. A utilização de cores também afeta o com-

portamento humano, gerando estímulos que fa-

vorecem a saúde. contudo, adverte Patrícia, é

preciso tomar cuidado com a superestimulação

que pode promover resultados negativos nas pes-

soas. ela pondera que os arquitetos interessados

em atuarem nesse setor precisam de especiali-

zação para conhecer como esses espaços fun-

cionam e suas particularidades.

Page 7: AAI em revista  nº 69

7

SUSTENTAbILIDADE EM pAUTAcom uma área construída que chegará a 88 mil

m2, os dois novos anexos do hospital de clínicas

de Porto Alegre foram projetados com caracte-

rísticas de greenbuilding por uma equipe multi-

disciplinar formada por profissionais especializa-

dos em arquitetura e engenharia hospitalar. se-

gundo o chefe do serviço de engenharia e edi-

ficações da instituição, engenheiro civil fernando

martins Pereira da silva, uma das inovações da

obra envolve o reaproveitamento dos insumos

térmicos dos prédios. Para isso, está sendo er-

guido um complexo que funcionará como um cen-

tro de distribuição, englobando o conceito de

co-geração de energia. “hoje, o sistema todo é

gerado e co-gerado a gás natural. o excedente

das temperaturas dos gases será utilizado para

o aquecimento de água através de trocadores de

placas, não vamos usar resistências elétricas, se-

rá tudo através de troca térmica”, explica.

Além disso, outras iniciativas sustentáveis se-

rão adotadas como a recuperação de água do

lençol freático, o reaproveitamento da água e a

instalação de uma praça de convivência, que te-

rá projeto paisagístico da arquiteta e urbanista

léa Japur. “A ideia é integrar a sociedade a esse

espaço do clínicas, tornando mais agradável a

permanência das pessoas que ficam no entorno

aguardando atendimento, muitas vezes vindas do

interior do estado e que não têm onde ficar”, sa-

lienta silva. com relação às cerca de 240 árvores

que foram retiradas para o início dos trabalhos,

o engenheiro destaca que serão plantadas como

compensação aproximadamente três mil mudas.

o hospital contratou uma bióloga para atuar em

conjunto com a engenheira ambiental da institui-

ção na avaliação do melhor lugar para concreti-

zar esse plantio.

com previsão de conclusão em 2017, as duas

edificações contarão ainda com dois subsolos ca-

da uma, acrescentando 722 vagas de estaciona-

mento, ampliação do ambiente da emergência

de 1.700 m2 para 5.159 m2 e dos 54 leitos do cen-

tro de tratamento intensivo (cti) para 110. silva

assinala que a humanização foi uma questão es-

sencial na concepção da expansão. “A cti será

toda monitorada e os pacientes terão janelas pa-

ra o lado externo”, descreve.

A recepção e o registro ambulatoriais recebe-

rão novas instalações, mais amplas, modernas e

hospital da unimed em caxias do sul: inovação, tecnologia e referências à tradição italiana no tratamento da fachada

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novAs instAlAções do hospitAl mãe de deus, em porto Alegre. mudAnçAs pAssArAm pelA reorgAnizAção do processo de Acolhimento pArA proporcionAr mAis AgilidAde no Atendimento e segurAnçA Aos pAcientes

Fotos: MArcelo donAdussi / divulgAção HosPitAl Mãe de deus

Page 9: AAI em revista  nº 69

9

acolhedoras aos usuários. ele complementa que

a sala de recuperação pós-anestésica passará dos

atuais 22 leitos para 90 e possuirá mais 60 pol-

tronas de restabelecimento. “As modificações, as-

sim como atenderão melhor às pessoas, aumen-

tarão a produção assistencial e aperfeiçoarão o

atendimento e os processos realizados no clíni-

cas. isso traz um ganho fantástico em termos de

qualidade e segurança à saúde”, argumenta.

êNfASE NA HUMANIzAçãoA principal característica do projeto do hospital

da unimed nordeste, em caxias do sul, foi o fo-

co no lado humano. “nossa preocupação era ofe-

recer espaços nos quais os usuários se sentissem

confortáveis e valorizados. Pesquisadores indi-

cam que a mente, o cérebro e o sistema nervoso

podem ser diretamente influenciados pelos ele-

mentos sensoriais do meio ambiente e propõem

que, em vista disso, os locais sejam estimulantes

e dinâmicos”, detalha o responsável pelo empreen-

dimento, arquiteto e urbanista Jonas badermann,

do escritório badermann Arquitetos Associados,

de Porto Alegre. nesse sentido, em um hospital,

a humanização, ambiência e a consequente res-

posta positiva das pessoas a estímulos como co-

res são fundamentais para disponibilizar “espa-

ços terapêuticos”, como define o profissional es-

pecializado em arquitetura hospitalar.

inaugurado em dezembro de 2004, o com-

plexo possui uma área construída de 12.280 m2,

116 leitos, sendo 20 de unidade de terapia in-

tensiva, oito salas de cirurgia e serviços de he-

modinâmica, endoscopia e parque de imageno-

logia completo. Além do projeto arquitetônico,

o escritório concebeu o detalhamento do mobi-

liário e a comunicação visual. outra particulari-

dade da edificação refere-se a como o conceito

de humanização foi traduzido nas fachadas. “co-

mo o prédio encontra-se em caxias do sul, re-

gião de tradição italiana, utilizamos uma com-

posição com elementos que remetem à lingua-

gem clássica, com um desenho de esquadrias

muito usado nas casas coloniais”, revela. dessa

forma, o projeto promoveu uma identificação do

paciente com sua cultura, de maneira que a ar-

quitetura já o acolhesse conforme ele se apro-

ximasse do edifício, assim como, em alguns mo-

mentos, o emprego de materiais como o vidro

espelhado permite que os usuários identifiquem

nas fachadas a alta tecnologia correspondente

ao seu interior.

REoRgANIzAção DoS fLUxoSA ampliação e melhoria da área de emergência

e Pronto-atendimento do hospital mãe de deus

(hmd), foram concluídas no primeiro semestre

deste ano, sob a responsabilidade do arquiteto e

urbanista Paulo cassiano. A intervenção resultou

em um modelo diferente de acolhimento dos pa-

cientes, estabelecido por meio da separação fí-

sica da recepção dos casos de alta, média e bai-

xa complexidade. Para isso, a instituição investiu

na criação de um ambiente específico para os

atendimentos de baixa complexidade, que repre-

sentam cerca de 70% da procura no hmd. esses

usuários passam, agora, por triagem inicial e, em

seguida, são encaminhados para o novo espaço

e recebidos nos consultórios médicos do local. o

padrão adotado também prevê uma considera-

ção especial para os acompanhantes dos clien-

tes, com um fluxo de informações mais ágil sobre

cada um deles.

de acordo com o diretor geral do sistema de

saúde mãe de deus, claudio seferin, o objetivo

é atender aos pacientes em menos tempo, des-

congestionando a emergência e dando atenção

personalizada a cada usuário e familiar. seguin-

do a premissa de reorganização do processo de

acolhimento, para proporcionar mais agilidade e

segurança, uma sala de monitoramento e con-

trole de fluxo de usuários será responsável pelo

sistema de gerenciamento do atendimento de

cada cliente, assim como pelos tempos deman-

dados em cada etapa: exames, medicação e pe-

ríodo de internação, entre outras informações

em tempo real.

com investimentos de cerca de r$ 5 milhões,

a emergência conta atualmente com cinco con-

sultórios e sala de medicação com seis lugares.

o lugar onde já funcionava esse espaço ficou de-

dicado exclusivamente aos pacientes de alta com-

plexidade e teve sua estrutura expandida. A sala

de observação, por exemplo, antes com nove lei-

tos, hoje possui 16 leitos e a uti da emergência

ganhou mais três leitos, além dos dez já existen-

tes. todas as mudanças realizadas resultarão em

um aumento de 30% na capacidade de atendi-

mento do mãe de deus.

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Inovação em complexo médicotudo no mesmo lugar. essa é a essência do novo empreen-

dimento que a cyrela goldsztein está desenvolvendo em Por-

to Alegre, o medplex medical center. Voltado para atender

aos profissionais da saúde em praticamente todos os níveis

de suas necessidades, o prédio com duas torres – localizado

no bairro santana, próximo à Avenida ipiranga – terá desde

elevadores com grande capacidade para evitar filas e trans-

portar macas até descarte de lixo hospitalar em todos os an-

dares e redes de infraestrutura específicas. o projeto contem-

pla também corredores com 2m de largura, portas com folhas

duplas e abertura de 1,3m, banheiros com acessibilidade em

todos os pisos, consultórios preparados para junções em qua-

tro, seis e oito unidades para formação de clínicas, estaciona-

mento rotativo com serviço de manobrista e lojas e consultó-

rios com iniciativas integradas e complementares. A previsão

de entrega é 2017.

conforme o diretor de negócios da companhia, ricardo Jor-

nada, a possibilidade de comprar uma unidade em um polo de

saúde completo é um dos principais diferenciais do complexo.

“normalmente, existe apenas a locação como modelo possível

nesse tipo de construção. no medplex, o médico, por exemplo,

é dono do seu endereço”, ressalta. A integração é outro ponto

destacado por ele, uma vez que a edificação reúne, na mesma

estrutura, clínicas day hospital, bloco cirúrgico de oftalmologia,

demandas ambulatoriais e outros serviços, como exames labo-

ratoriais, diagnósticos por imagem e terapias. A arquiteta e ur-

banista sandra Axelrud, responsável pelo projeto, acrescenta

que tanto pacientes quanto profissionais da saúde contarão com

espaços bem planejados e facilidades como operações “ânco-

ra”, café, farmácia, fitness com pilates, auditório, salas de reu-

niões e área gourmet com terraço e banco.

sandra explica que o empreendimento busca, além de enten-

der os seus usuários, oferecer atributos de comodidade, segu-

rança e “muita arquitetura funcional”. “As regulamentações da

Anvisa aplicáveis a edifícios de saúde foram observadas deta-

lhadamente para que o ambiente fosse adequado aos serviços

ali realizados e, assim, o profissional o reconhecesse como seu”,

afirma. segundo ela, o complexo permite ainda intercalar ativi-

dades de estudo, lazer, esporte e confraternização, uma vez que

as pessoas que trabalharão no local passam, muitas vezes, a

maior parte do dia longe de suas residências.

com relação aos desafios de projetar um estabelecimento li-

gado à saúde, sandra observa que, em primeiro lugar, a equipe

de arquitetura, engenharia e desenvolvimento imobiliário teve

de sair de sua “zona de conforto” para pensar em um conceito

inédito para eles. “contratamos a assessoria da lúcia lisboa

Arquitetura hospitalar para contribuir com as ideias de fluxo e

de operação de um centro como esse”, salienta. com uma área

total de 30.500 m2, em um terreno de 7 mil m2, o medplex pos-

suirá 187 consultórios de 35 m2 a 375 m2, com junções de até

745 m2, e três lajes inteiras de 745 m2 para grandes clínicas. Já

a torre office, terá 154 salas comerciais de 29 m2 a 215 m2.

Page 11: AAI em revista  nº 69

11

com área total de 30,5 mIl metroS QUadradoS No BaIrro SaNtaNa, em Porto aleGre, emPreeNdImeNto VaI INteGrar dUaS torreS, reUNINdo HoSPItal dIa, coNSUltÓrIoS mÉdIcoS, laBoratÓrIoS e eSPaÇoS de laZer e de eSPorteS

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sala de espera de uma clínica de psiquiatria infantil e hebiátrica localizada em florianópolis. projeto da idein – ideia + desenvolvimento – arquitetura, dirigida por emerson

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Page 13: AAI em revista  nº 69

13

A comPlexidAde do desenVolVimento do edifício hosPitAlAr mereceu A criAção de um congresso nAcionAl esPecífico. em suA sextA edição, reAliZAdA em Agosto, o cbdeh trAtou dA excelênciA em Ambientes de sAúde: exPeriênciAs e eVidênciAs

estAbelecimentos de sAúde de menor

Porte, descentrAliZAdos nAs grAndes

cidAdes e hotelAriA hosPitAlAr são

AlgumAs dAs chAmAdAs tendênciAs do

setor, como APontA, nestA entreVistA à

AAi em revista, o Arquiteto e urbAnistA

emerson dA silVA, Presidente do cbdeh e

futuro Presidente dA AssociAção

brAsileirA PArA o desenVolVimento do

edifício hosPitAlAr. o congresso foi

reAliZAdo em floriAnóPolis/sc

um novo modeloAAi em revista – o cbdeh apresentou modelos nacionais e internacionais de hospitais pri-vados e públicos em diversos países. dos exemplos apresentados, quais os diferenciais e qual a tendência no exterior no planejamento desses espaços?emerson – o congresso trouxe diversas experiências do exterior, em especial os trabalhos

que vêm sendo realizados na Argentina, espanha, escandinávia, estados unidos e Austrália.

foram várias contribuições, mas cabe destacar uma reflexão bastante interessante para o

contexto urbano – a redução no tamanho das edificações hospitalares. A tendência é a cons-

trução de hospitais com no máximo 200 leitos, em estruturas de saúde descentralizadas, dis-

tribuídas pela cidade, contribuindo para a redução dos trajetos e fluxos internos do ambien-

te urbano. A maior proximidade entre a estrutura assistencial e os bairros permite um acesso

fácil ao equipamento e menores deslocamentos, exatamente o que preconizam as cidades

contemporâneas preocupadas com a sustentabilidade e a qualidade do viver urbano.

outro destaque é a evolução nos estudos que demonstram que um ambiente hospitalar

adequadamente projetado, de caráter acolhedor, seguro e organizado, pode contribuir signi-

ficativamente para a cura dos usuários. essa situação está cada vez mais sendo pauta de pes-

quisas em centros renomados pelo mundo afora. A “ambiência” dos espaços vem sendo tra-

tada por diversas disciplinas, com destaque para a psicologia, onde as reflexões sobre a psi-

codinâmica dos ambientes recebe especial atenção nos estudos mais recentes.

Page 14: AAI em revista  nº 69

14

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AAi em revista – em que nível estão os projetos brasileiros nesta área?emerson – temos diversos exemplos de relativa

expressividade no contexto internacional, em es-

pecial nas questões regulatórias, onde o brasil

tem destaque e vem sendo copiado por outros

países que estão em processo de desenvolvimen-

to de seus marcos regulatórios. outro item que

nos coloca em destaque internacional é o avan-

ço nas questões de segurança nos ambientes hos-

pitalares, alguns hospitais são referência neste

assunto, é o caso do hospital moinhos de Vento,

em Porto Alegre, que possuí um sistema de ges-

tão de infraestrutura, compatível com os grandes

centros internacionais.

AAi em revista – o mercado nacional, em relação a materiais e equipamentos, está bem abastecido?emerson – como em outras áreas da economia,

o brasil vem recebendo atenção especial dos fa-

bricantes internacionais de materiais e equipamen-

tos médicos. esses, vislumbrando um mercado

atrativo, implantam aqui suas unidades de produ-

ção e distribuição, uma vez que grande parte dos

financiamentos do setor (ex.: finAme) exigem re-

gistros nacionais dos produtos, e uma alternativa

amplamente empregada pelos grandes players

do setor é a instalação de unidades no brasil.

da mesma forma, muitos fabricantes nacionais,

vêm desenvolvendo linhas de produtos orienta-

das para esse segmento. o momento de reestru-

turação de grandes complexos, a necessidade de

construção de novos equipamentos e a exigência

cada vez maior dos usuários do sistema impul-

sionam o setor e tornam o mercado muito atrati-

vo para empresas que não exploravam esse setor.

AAi em revista – diretores de instituições de saúde costumam reclamar da falta de mão de obra especializada para a construção de edifí-cios hospitalares. segundo eles, é grande o des-preparo de construtoras e empreiteiras. essa é uma realidade local, regional, nacional? como resolver essa questão?emerson – definitivamente, essa situação não é

uma peculiaridade local ou regional. falta mão de

obra qualificada para o setor de construção nesse

segmento, em especial por conta de sua peculia-

Arq. e urb. emerson dA silvA, diretor de relAcionAmento dA idein ArquiteturA e presidente do congresso, defende A especiAlizAção nA áreA. “não é mAis Admissível que edifícios com tAmAnhA complexidAde sejAm projetAdos e construídos com desconhecimento de cAusA”

Ac

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Pe

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l “os estAbelecimentos de sAúde não deVem ser de ProPorção

muito exíguAs, Pois se tornAm Pouco rentáVeis nA suA

oPerAção; e nem de ProPorções exAgerAdAs, que dificultem

o controle e A mAnutenção dAs Ações do cotidiAno.”

Page 15: AAI em revista  nº 69

15

ridade. As instalações especiais, os acabamentos

diferenciados, os sistemas e a complexidade das

relações entre eles exigem um conhecimento mais

específico para a execução a contento das obras

hospitalares. muitos critérios de segurança a se-

rem seguidos e um controle mais rígido do crono-

grama de execução – uma vez que diferentes agen-

tes interagem no mesmo espaço, no mesmo ins-

tante ou em momentos sincronizado, fazem com

que poucas empresas explorem esse segmento.

AAi em revista – você costuma dizer que o mo-delo ideal de edifício hospitalar deve compor-tar até 200 leitos. por quê?emerson – A gestão de um complexo com gran-

des proporções vem se mostrando cada vez mais

ineficaz, sejam nas suas relações internas ou ex-

ternas. no ambiente urbano, as operações de trá-

fego estão se tornando cada vez mais restritivas,

o grande fluxo de pacientes, carga e descarga

em grandes montas, a geração de resíduos em

larga escala colocam em risco a ambiência do

entorno. operações menores podem ser uma al-

ternativa para mitigar o impacto desses equipa-

mentos na sua implantação urbana. outra ques-

tão importante diz respeito ao controle e a ras-

treabilidade dos diferentes agentes que interagem

no ambiente hospitalar, pessoas e insumos, ad-

ministrá-los em grandes proporções vem se tor-

nando uma operação cada vez mais complexa e

onerosa. A alternativa de centros com dimensões

mais reduzidas pode permitir uma gestão mais

assertiva e direcionada.

AAi em revista – você considera possível, em médio prazo, que os imponentes e complexos edifícios hospitalares deixem de existir, em subs-tituição a unidades menores e descentralizadas?emerson – Acredito que sim. A tendência, cada

vez maior, é a busca por equipamentos mais sus-

tentáveis, sejam pelas questões ambientais, eco-

nômicas ou sociais. talvez os grandes complexos,

já configurados, permaneçam como estão, mas,

os novos devem seguir essa orientação. eles não

devem ser de proporção muito exíguas, pois se

tornam pouco rentáveis na sua operação; e nem

de proporções exageradas, que dificultem o con-

trole e a manutenção das ações do cotidiano.

AAi em revista – esse é um mercado que está em expansão, considerando as diversas inicia-tivas empresariais na região sul, especialmen-te, com a construção ou reforma de hospitais e de centros médicos? qual a motivação, na sua opinião?emerson – o mercado de saúde vem sendo mo-

tivado pelo momento econômico que o País vive

nesta década. A pirâmide social brasileira vem

sofrendo uma alteração significativa – um “incha-

ço” na faixa etária compreendida entre os 20 e

60 anos, exatamente o período mais produtivo

da vida, onde o poder aquisitivo, resultado desta

etapa economicamente ativa, impulsiona o cha-

mado “poder de compra”. também é nessa eta-

pa de vida que se formam as famílias, e a saúde

aparece como elemento indispensável nesse ce-

nário, com filhos em fase de crescimento. É ce-

nário fortuito para os planos de saúde, que vêm

implantando, cada vez mais, seus serviços pró-

prios – centros de saúde, unidades de diagnósti-

co, hospitais e estruturas de atendimento.

Por outro lado, a população brasileira enve-

lheceu, e muito, nos últimos anos. no início dos

Page 16: AAI em revista  nº 69

16

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Sala de eSpera Secundária de um laboratório de FlorianópoliS. projeto da idein arquitetura

Page 17: AAI em revista  nº 69

17

“o ProfissionAl de ArquiteturA que se dedique Ao

entendimento de todA A comPlexidAde do temA deVe ser

o ‘mAestro’ dessA oPerAção. mAs, PArA tAnto, deVe ter

consigo umA equiPe muito bem PrePArAdA.”

anos 1990, a expectativa de vida era de 66,9

anos. hoje, passa dos 74. A vitória da longevida-

de, a perspectiva de viver mais, no entanto, nos

trouxe um novo problema. o perfil das enfermi-

dades que mais afligem os brasileiros mudou.

são as doenças crônicas mais comuns em idosos

e o tratamento especializado para elas o maior

gargalo do sistema de saúde. As estruturas exis-

tentes são insuficientes para tamanha demanda.

temos muito por fazer.

AAi em revista – como o arquiteto e urbanis-ta pode e deve se preparar para atuar nesse mercado?emerson – Assim como em qualquer negócio,

a especialização e a compreensão dos temas

em questão permitem ao profissional maior in-

serção no segmento. não é mais admissível que

edifícios com tamanha complexidade sejam pro-

jetados e construídos com desconhecimento de

causa. o planejamento é o principal aliado. com

as verbas disponíveis, poderia ser feito muito

mais se tudo fosse pensado de acordo com as

necessidades de cada localidade. A eficiência e

a segurança de um empreendimento de saúde

estão cada vez mais associadas à localização,

aos projetos e à manutenção adequada, além

da adaptação aos novos tratamentos, profissio-

nais e tecnologias incorporadas pela medicina

contemporânea.

AAi em revista – considerando a tendência de investir cada vez mais na promoção do bem-es-tar do paciente, hospitais têm adotado clara-mente a linguagem do segmento hoteleiro. qual a importância desse movimento e quais os re-sultados reais possíveis?emerson – A hotelaria hospitalar já é uma reali-

dade em diversos centros de atenção à saúde.

mas, ela é bem mais complexa do que vem sen-

do difundido por aí. nesse contexto, os serviços

de apoio, normalmente esquecidos ou relegados

como questões secundárias, são vitais para o ple-

no funcionamento das operações. não se pode

exigir que a alimentação seja adequada e satis-

fatória se o local onde ela é produzida não este-

ja projetado e implementado a contento. como

exigir que o atendimento do corpo de enferma-

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18

en

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A

gem seja de excelência se as estações de traba-

lho não apresentam condições adequadas para

o desenvolvimento das rotinas? enfim, para que

os protocolos possam ocorrer com eficiência e o

atendimento ser de excelência, precisamos pro-

jetar o edifício hospitalar com muito rigor, sejam

nas áreas onde se executam as atividades “fim”

(assistenciais), ou as atividades “meio” (apoio).

AAi em revista – com a crescente oferta de uni-dades hospitalares, essa questão passará a ser considerada pelo paciente na escolha do local onde quer ser internado?emerson – Acredito que não só pelos pacientes,

mas também pelos médicos e equipes assisten-

ciais. um cirurgião renomado e sua equipe com

certeza irão optar por unidades de saúde que

lhes permitam maior segurança e confiabilidade

no desenvolvimento das suas atividades, bem co-

mo maior conforto e tranquilidade no seu coti-

diano de trabalho. esses agentes são os que cha-

mamos de “clientes internos”, os geradores de

clientela externa. um bom cirurgião que opere

no meu corpo clínico atrairá uma clientela expres-

siva para o meu negócio!

AAi em revista – em relação à promoção da se-gurança no espaço hospitalar, quais os desafios?emerson – são vários aspectos envolvidos com

o tema segurança no ambiente hospitalar, tanto

que em 2013 a AnVisA publicou uma resolução

diretiva de colegiado, a rdc 36, específica para

esse tema, com vistas à promoção de ações para

a segurança do paciente em serviços de saúde.

Ações de gestão dos riscos no serviço de saú-

de conforme as atividades desenvolvidas pela uni-

dade, que vão desde a implementação de pro-

cessos, passando pelo controle da qualidade das

instalações e infraestrutura até os protocolos de

controle de contaminação, e nesse contexto o

ambiente seguro é uma meta a ser atingida pelas

instituições.

AAi em revista – A promoção do conforto am-biental e a garantia da qualidade do ar, por exem-plo, parece ser um dos maiores desafios, certo?emerson – o sistema de condicionamento de ar,

e todos os seus agregados – exaustão, renovação

e outros sistemas térmicos –, se não for bem pro-

jetado e operado dentro dos critérios adequados

de mantenabilidade, torna-se um grande vilão do

ambiente hospitalar seguro. Para tanto, é neces-

sário o estabelecimento de protocolos rígidos du-

rante o processo de projeto, instalação e operação.

Afinal, de nada adianta a instalação de um sistema

complexo se não temos uma manutenção especí-

fica e adequada para o seu pleno funcionamento.

AAi em revista – percebe-se que a formação de uma equipe multidisciplinar é imprescindível para um projeto eficiente, certo? o arquiteto e urbanista é o profissional habilitado a coorde-nar esta equipe?emerson – Acredito que o profissional de arqui-

tetura que se dedique ao entendimento de toda

a complexidade do tema deva ser o “maestro”

dessa operação. mas, para tanto, deve ter consi-

go uma equipe muito bem preparada. com a par-

ticipação de profissionais de diversas áreas, des-

de o engenheiro clínico, indispensável na defini-

ção das instalações adequadas para a implemen-

tação do parque tecnológico, até o corpo de en-

fermagem, que realmente “presta o serviço as-

sistencial”, passando por um grupo de engenhei-

ros com conhecimento específico das instalações

e peculiaridades do ambiente hospitalar.

“A hotelAriA hosPitAlAr Já É umA reAlidAde em diVersos centros de Atenção à sAúde.

mAs, elA É bem mAis comPlexA do que Vem sendo difundido Por Aí.”

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OutrO ângulO da sala de espera da clínica de psiquiatria infantil

e hebiátrica em flOrianópOlis

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recepção do hospital são lUiZ JaBaQUara/rede d’or, em são paUlo. proJeto da GeBara coNde siNisGalli arQUitetos

Acervo gcsA

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21

ProJetos nA áreA dA sAúde demAndAm ProfissionAis com formAção AProfundAdA

conhecimento especializado

A busca por uma vida mais saudável tem leva-

do um número cada vez maior de pessoas a pro-

curarem os serviços médicos de maneira preven-

tiva. esse movimento, em conjunto com a atuali-

zação permanente dos espaços de hospitais, clí-

nicas e consultórios, representa uma oportunida-

de de negócios para os arquitetos que desejam

atuar nesse segmento. contudo, para entrar nes-

se mercado, é preciso conhecimento especializa-

do devido à complexidade das estruturas de as-

sistência à saúde.

desde 2007, o instituto de Administração hos-

pitalar e ciência da saúde (iAhcs), em Porto Ale-

gre, conta com a pós-graduação em Arquitetura

hospitalar com o objetivo de capacitar os profis-

sionais nos aspectos técnicos e normativos espe-

cíficos para o planejamento físico e funcional des-

ses ambientes. “A saúde precisa ser vista de mo-

do global, abrangendo também seus sistemas,

organização, recursos tecnológicos e humanos e

legislação”, observa o arquiteto e urbanista Jonas

badermann, coordenador do curso e especialista

em Administração e Arquitetura hospitalar.

com duração de 18 meses e professores bra-

sileiros e argentinos que trabalham no setor, são

oferecidas pela instituição até 40 vagas anual-

mente para arquitetos e urbanistas e engenheiros

civis que buscam aprofundar conteúdos que vão

desde como aliar, em seus projetos, os quesitos

arquitetônicos às exigências das vigilâncias sani-

tárias, ao entendimento das funções de cada uma

das unidades e serviços de um hospital. os alu-

nos saem preparados para avaliar as necessida-

des de instalações especiais, mobiliário e equi-

pamentos, como climatização, gases medicinais,

instalação elétrica, proteção radiológica e pre-

venção contra incêndio. conforme badermann,

aqueles que não destinam tempo para o estudo

não têm condições para atuar nesse campo por

causa dos inúmeros processos e requisitos legais

que envolvem a construção de um empreendi-

mento dessa natureza.

“o profissional precisa saber o que acontece

na portaria, em uma sala de cirurgia, no berçário,

conhcer as rotinas e os fluxos, por exemplo. com

isso, ele ganha mais segurança para projetar”,

aponta o coordenador. ele explica que o curso

do iAhcs foi criado em razão da inexistência de

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Pr

oF

iss

ão disciplinas exclusivas nos currículos de gradua-

ção sobre o planejamento arquitetônico de esta-

belecimentos assistenciais de saúde.

com experiência de 16 anos no desenvolvimen-

to de especializações em arquitetura e saúde, a

coordenadora do departamento de cursos do

instituto de Arquitetos do brasil no estado (iAb/

rs), tatiana santiago, reforça a importância da-

queles que trabalham nesse setor estudarem as

especificidades das estruturas hospitalares para

poder criar bons projetos. “uma das grandes di-

ficuldades enfrentadas pelos profissionais envol-

ve a não aprovação dos complexos pelo não aten-

dimento às resoluções rdc 50 e 51, da Agência

nacional de Vigilância sanitária (Anvisa)”, relata.

tatiana comenta que o iAb já realizou, neste ano,

um curso específico sobre normatização exata-

mente para tratar das exigências legais que de-

vem ser cumpridas nos empreendimentos. ela

antecipa que os próximos encontros abordarão

temas como projetos para estabelecimentos de

saúde e prevenção contra incêndio.

criadas para responder à demanda dos arqui-

tetos, as atividades do instituto são de curta du-

ração, de 12 a 48 horas, e têm como caracterís-

tica principal serem informativas e práticas, com

a possibilidade de aplicar o conhecimento adqui-

rido logo em seguida. A coordenadora revela que

já formou mais de 300 profissionais ao longo de

sua trajetória, iniciada no centro de ensino con-

tinuado (cenec) e após na sua empresa tgs, que

teve sua última turma de especialização em Ar-

quitetura hospitalar concluída em maio de 2014.

sobre as vantagens de quem se aprimora na área,

ela ressalta o reconhecimento dos arquitetos es-

pecialistas, inclusive, com concursos que solici-

tam esse diferencial, a contribuição que eles dão

ao bem-estar das pessoas e a capacitação para

planejar qualquer complexo relacionado à saúde.

DA TEoRIA à pRÁTIcAA arquitetura hospitalar tem um cunho social. ela

não cura o paciente, mas ajuda na sua recupera-

ção. dessa forma a arquiteta Adriana silva da sil-

va define o segmento em que atua. Para ela, o

ambiente hospitalar é um local onde ocorre um

cruzamento de sentimentos, de expectativas, um

espaço que o profissional busca tornar mais ame-

no, levando conforto àqueles que nele permane-

cem. trabalhando exclusivamente com estruturas

médico-hospitalares, Adriana fez pós-graduação

em Arquitetura e engenharia de estabelecimen-

tos Assistenciais de saúde (promovida pelas ins-

tituições unievangélica e tgs) e em gestão de

recursos físicos e tecnológicos em saúde (da

fiocruz), ambas na capital gaúcha.

o interesse pelo setor começou quando ainda

era estudante de Arquitetura e foi estagiar na

parte Administrativa do hospital luterano, da ul-

bra, em Porto Alegre. “essa experiência com os

pacientes, seus familiares e funcionários naquele

local me motivou a procurar mais conhecimentos

dentro do meu campo”, revela. ela também pas-

sou pelo outro lado da moeda, sendo contratada

pela Vigilância sanitária de canoas, lugar em que

aprovava projetos voltados para a saúde e com-

provou a relevância do papel do arquiteto no es-

paço hospitalar. Adriana salienta que os princi-

pais desafios que se enfrenta nessa área são as

adaptações que precisam ser feitas, às vezes, em

função das obrigações legais e o entendimento

do cliente em relação a essa questão.

Para o arquiteto Paulo cassiano, que foi coor-

denador da especialização em Arquitetura hospi-

talar da tgs, o segmento atrai poucos profissio-

nais devido a sua complexidade e às regras espe-

cíficas de cada uma das unidades de um estabe-

lecimento de assistência à saúde. “É preciso com-

preender as relações entre as alas, a relevância da

proximidade entre algumas delas e os projetos

arquitetônicos devem ser compatíveis com outros,

como os relacionados ao conforto e à assepsia.

são muitas variáveis a serem respeitadas”, argu-

menta. na pós-graduação, a meta era apresentar

os diferentes locais que compõem um hospital,

com suas particularidades e as obrigações deter-

minadas pelas normas existentes. Ao final do cur-

so, os alunos concebiam a ideia de um ambiente.

cassiano salienta que os benefícios para aque-

les que se qualificam nesse assunto vão do me-

lhor credenciamento para a idealização desses

empreendimentos até a possibilidade de entrar

em um mercado em que um número pequeno de

pessoas se aventura. o arquiteto adianta que, em

breve, deve ser lançado um novo curso de espe-

cialização na área de gestão de espaços de saú-

de, em uma parceria entre a escola de saúde da

unisinos e o hospital mãe de deus. mais informa-

ções: [email protected].

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fAchAdA e espAço externo do hospitAl dA rede sArAh em sAlvAdor, inAugurAdo em 1994. tomAndo pArtido dA grAnde áreA de terreno destinAdA Ao empreendimento, lelé Adotou umA implAntAção horizontAl, em ApenAs dois níveis. dessA formA, foi possível integrAr todAs As áreAs de trAtAmento e de internAção Aos Amplos jArdins de AmbientAção. A coordenAção do projeto ficou A cArgo do Arq. e urb. hAroldo pinheiro, que já hAviA AtuAdo com ele no hospitAl do sArAh de brAsíliA

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25

ícone dA ArquiteturA hosPitAlAr, João filgueirAs limA, lelÉ, deixA um legAdo nA áreA dA sAúde no PAís que se tornou referênciA internAcionAl

Medicina e arquiteturaum dos membros da tríade responsável pelo nascimento de brasília, o

arquiteto e urbanista carioca João da gama filgueiras lima, conhecido

como lelé, foi considerado “o construtor” por lucio costa – autor do pro-

jeto do Plano Piloto da capital federal –, ao lado do colega oscar nieme-

yer, o “criador”. na defesa da racionalização e da industrialização na ar-

quitetura, lelé deixou sua marca em brasília, mas ganhou fama e notorie-

dade pelo trabalho exemplar desenvolvido junto à rede sarah de hospi-

tais desde o final dos anos 1970 até maio deste ano, quando faleceu, em

salvador, aos 82 anos.

os prédios hospitalares projetados associam estética e tecnologia, com

o emprego de métodos desenvolvidos por ele próprio, como da pré-fabri-

cação de componentes em série e o da argamassa armada. o máximo apro-

veitamento da ventilação e da luz naturais é outra característica marcante,

dispensando o uso de aparelhos condicionadores de ar e, assim, reduzindo

o risco de infecções. esse princípio básico da era da “sustentabilidade” era

considerado por ele, simplesmente, resultado de um bom projeto de arqui-

tetura. “não precisamos desenvolver teorias de sustentabilidade para saber

que quando você pôe um vidro na fachada, ele esquenta; e que se você não

proteger o vidro, ele vai ter mais calor”, disse ele em uma entrevista conce-

dida ao conselho de Arquitetura e urbanismo do brasil (cAu/br) em 2012.

na oportunidade, lamentou que a “industrialização esteja fora de moda” no

meio, considerando os fortes lobbies existentes no setor da construção ci-

vil. “temos que ocupar os nichos que surgirem”, enfatizou.

o início do legado na área da saúde se deu em 1980, com a inauguração

do primeiro hospital da rede sarah Kubitschek, em brasília, especializado

em neurorreabilitação de pacientes. nos anos 1990, a rede inicia o projeto

de expansão, inaugurando unidades em são luís, belém, macapá, fortale-

za, salvador, belo horizonte e rio de Janeiro.

os primeiros projetos concebidos como hospitais satélites da rede sarah

foram os da cidade de são luís e de salvador. Ambos foram elaborados si-

multaneamente, empregando a tecnologia de pré-fabricação e argamassa

armada desenvolvida na fábrica de equipamentos comunitários (fAec) de

salvador, criada nos anos 1980 por lelé e que produziu de bancos e passa-

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relas de pedestres a escolas e creches. em seu

livro “Arquitetura, uma experiência na área da saú-

de”, lançado em 2012 pela editora romano guer-

ra, o arquiteto descreve em detalhes as técnicas

utilizadas em seus projetos hospitalares. Vale acres-

centar que no ano passado a publicação conquis-

tou o segundo lugar na categoria Arquitetura da

55a edição do Prêmio Jabuti, a maior e mais tra-

dicional premiação de literatura do País.

o sistema de ventilação natural implantado,

considerado mais eficiente que o adotado na uni-

dade de brasília, foi, mais tarde, aperfeiçoado pa-

ra os demais hospitais instalados no nordeste.

executada na direção piso-teto, a proposta resul-

ta basicamente do aproveitamento das galerias

de tubulação localizadas nos subsolos para insu-

flamento de ar nos ambientes. “o deslocamento

do ar nas galerias é provocado pelo próprio ven-

to ou por ventiladores localizados em suas res-

pectivas aberturas para o exterior. A pulverização

de água, prevista na entrada de cada galeria, além

de funcionar como filtro para captação de partí-

culas em suspensão, proporciona também, pelo

efeito de evaporação, um rebaixamento de tem-

peratura em cerca de dois graus centígrados”,

escreveu lelé na publicação. A proteção contra

a insolação norte foi garantida pelas criação de

amplas varandas, com 2,50 metros de largura,

que também funcionam como áreas de estar e

de tratamento, integradas aos jardins externos.

A infraestrutura do conjunto de edifícios é cons-

tituída de uma trama de galerias subterrâneas

que acompanha a distribuição dos pilares da su-

perestrutura, projetada em aço. essas galerias

exercem tripla função: constituem o próprio sis-

tema de fundações do edifício; canalizam o ar

externo para todos os ambientes do hospital; e

aloja todas as tubulações gerais de suprimentos

e serviços, possibilitando sua fácil manutenção.

todas as tubulações correm ao longo dos tetos

e paredes das galerias. As tubulações de esgoto

foram dispostas fora do corpo das galerias, mas

são acessíveis através de caixas herméticas loca-

lizadas ao longo das paredes. o objetivo foi evi-

tar que um eventual vazamento possa provocar

a contaminação do ar insuflado que penetra nos

ambientes do hospital.

o arquiteto considerou a dificuldade de mobi-

lidade dos pacientes, projetando equipamentos

e instalações específicas. As piscinas, externas e

interna, contam com rampas para a entrada de

pessoas em cadeiras de rodas ou macas. nos

quartos, os pacientes acamados têm acesso ao

controle de luz individual, ao interruptor para cha-

mada da enfermagem e ao ponto de insuflação

de ar exterior conduzido através das galerias. ino-

vação, pioneirismo, técnica e bom senso a favor

da saúde e do bem-estar. o trabalho de lelé na

área hospitalar é a prova da eficiência de um bom

projeto de arquitetura.

destAque pArA As AberturAs dos sheds, voltAdAs intencionAlmente pArA A direção dos ventos

dominAntes e A fAvor. “o efeito de sucção produzido dessA formA tAmbém AjudA nA extrAção do Ar dos

Ambientes”, enfAtizou lelé no seu livro “ArquiteturA, umA experiênciA nA áreA dA sAúde”. muros vAzAdos

pré-fAbricAdos em ArgAmAssA pintAdA, com 1,80m de AlturA, promovem o fechAmento. neles, A Arte do

pArceiro Athos bulcão

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IRO EDIFICAÇÕES DE DIFErEntES EStIloS

ConStroEm um rICo DIálogo Em CÓrDoBA, A SEgunDA CIDADE mAIS populoSA DA ArgEntInA

Harmonia arquitetônicatexto e Fotos: tAtiAnA gAPPMAyer

A forte herança jesuítica, ordem que chegou a córdoba por volta

de 1589, deixou importantes marcas nas edificações locais. uma ca-

minhada pela região central e pelos bairros próximos revela, através

da arquitetura, traços da trajetória dessa cidade de cerca de 1,3 mi-

lhão de habitantes. Patrimônios nacionais como a manzana Jesuítica

– que reúne a iglesia de la compañía de Jesus (a mais antiga do país),

capilla doméstica, colégio nacional de monserrat e a antiga sede da

universidade nacional de córdoba – e a catedral convivem em per-

feita sintonia com prédios góticos e contemporâneos e deixam a pai-

sagem urbana cordobesa diversificada e ainda mais interessante. ou-

tra característica que chama a atenção são os vários calçadões (pea-

tonales) na área do centro, privilegiando a circulação dos pedestres,

e os caminhos de pedra existentes entre os edifícios históricos.

pAsseio de pedrAs originAis no cAminho entre o museu dA memóriA e A cAtedrAl. os cAsArões históricos gAnhAm novos usos, com A inAugurAção de espAços culturAis, comerciAis e de serviços, integrAndo AindA mAis o centro histórico às edificAções modernAs erguidAs nA região nos últimos Anos

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29

Aliás, o contraste entre o passado e o presente é constante e a ocupação

de sobrados em estilo colonial, transformados em lojas e cafés, demonstra

na prática a possibilidade de preservar a memória e manter uma persona-

lidade única sem deixar de estar atualizado com o que há de mais moderno

nas técnicas construtivas. Preservação e revitalização andam juntas nos re-

centes empreendimentos em desenvolvimento na localidade e a criação do

espaço cultural e de lazer Paseo buen Pastor, no bairro nueva córdoba, é

um exemplo dessa harmonia. A edificação, que já funcionou como um asi-

lo de mesmo nome e uma prisão de mulheres, inclusive no final dos anos

1970, durante a ditadura argentina, passou por modificações para recupe-

rar a estrutura e receber novas funções. foram mantidas originais a facha-

da voltada para a Avenida hipólito Yrigoyen e a capela, seus afrescos e o

pAseo buen pAstor: de Asilo e presídio feminino A um dos mAis

importAntes centros de comprAs e lAzer dA cidAde

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30

ro

te

iro

formato em cruz grega, ambiente que atualmen-

te é usado para apresentações musicais e teatrais.

devido às condições dos muros e demais pré-

dios, foi optado pelo governo de córdoba optou

por demolir o que havia, abrindo o complexo

para mais ruas e permitindo visualizar a impres-

sionante iglesia del sagrado corazón, da ordem

dos capuchinhos. desenhada em estilo neogó-

tico pelo artista e engenheiro italiano Augusto

ferrari, a igreja possui duas torres, porém ape-

nas uma delas está acabada, simbolizando a per-

feição de deus ante a imperfeição humana. em

cada escultura e detalhe ornamental nota-se o

trabalho desempenhado pelos artesãos da ci-

dade, que tornaram a construção uma verdadei-

ra obra de arte.

inaugurado em 2007, o projeto do Paseo tem

mais de 10 mil m2 de área e cerca de 3 mil m2 de

área construída e foi conduzido pelo arquiteto

héctor spinsanti. hoje, abriga restaurantes, ba-

res, lojas de produtos locais e áreas para mostras

e exposições de arte, espaços distribuídos em

uma construção contemporânea com destaque

para o uso de vidro e estruturas metálicas, uma

interferência urbana que não “briga” com a par-

te conservada.

UM oLHAR DE VALoRIzAçãona mesma linha de restauração arquitetônica está

o museu emilio caraffa, que alia um edifício de ca-

racterísticas neoclássicas a um mais moderno. ou-

tros destaques de córdoba são suas diversas igre-

jas, com diferentes estilos que impressionam pela

riqueza das pinturas, do teto ao chão, e seus mu-

seus, como o Palácio ferreyra e o da memória – pri-

são clandestina da época da ditadura, onde homens

e mulheres eram torturados. um triste retrato de um

dos tempos mais duros vividos pelos argentinos. A

antiga casa conta a breve trajetória de pessoas que

continuam desaparecidas até hoje através de de-

poimento de familiares e amigos e de seus objetos.

A história e sua preservação têm papéis im-

portantes na construção da identidade dos cor-

dobeses, que valorizam seu passado e seus pa-

trimônios arquitetônicos. Para chamar ainda mais

a atenção de moradores e visitantes, a municipa-

lidade elaborou uma iniciativa diferente para atrair

o olhar dos pedestres que passam diante de edi-

ficações simbólicas e que, na correria diária, nem

as percebem. foram instaladas, no centro da ci-

dade, sombras feitas de pedras brancas nas cal-

çadas em frente a esses prédios, levando as pes-

soas a desviarem a visão e apreciarem esses lo-

cais. outras ações estão em andamento nessa

área, com muitos edifícios de valor cultural, reli-

gioso e social em obras de revitalização. A ocu-

pação desses espaços, com eventos ligados à ar-

te, atrai um grande público e traz segurança pa-

ra circular em regiões como a Praça san martín,

o edifício do cabildo e a calle de las flores.

o museu de belAs Artes emilio cArAffA é outro exemplo de restAurAção, integrAndo o edifício de estilo neoclássico projetAdo em 1915 pelo Arquiteto juAn kronfuss com o Anexo de linhAs modernAs criAdo em 2008 pelo Arquiteto lucio morini e pelA equipe do escritório ggmpu Arquitectos

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pátio olmos shopping, no bAirro nuevA córdobA, instAlAdo em edificAção de ArquiteturA centenáriA. criAdo pelo Arquiteto elíAs senestrAri em 1909, o prédio AbrigAvA umA escolA. pArciAlmente destruídA por um terremoto em 1977, A estruturA permAneceu AbAndonAdA por duAs décAdAs Até A suA trAnsformAção em shopping

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s AssociAção reúne exPoentes dA noVA gerAção de Arquitetos e urbAnistAs wem mAis umA edição do seminário de quAlificAção ProfissionAl

referênciastécnica, pesquisa, talento, ousadia e muita criatividade. É dessa mistura

que nascem projetos surpreendentes das mãos e das mentes de expoentes

da nova geração de arquitetos e urbanistas brasileiros. Já bastante conhe-

cidos por profissionais e estudantes de Arquitetura e urbanismo – divulga-

dos pela imprensa especializada nacional e pelas redes sociais – alguns des-

ses destaques foram apresentados em detalhes por seus autores no semi-

nário realizado pela AAi brasil/rs no dia 16 de outubro, na fiergs, em Porto

Alegre. mais de 60 pessoas participaram do evento, que contou com o pa-

trocínio do cAu/rs e das empresas expresso do oriente e Puxadores & cia.

sob o tema “uma Viagem pela Arquitetura”, os palestrantes foram con-

vidados a apresentar seu trabalho com ênfase na inovação, nos diferenciais

e nos desafios superados. thiago rodrigues e Antonio carlos figueira de

mello, dois dos quatro sócios do escritório paulista superlimão studio, fun-

dado em 2002, detalharam trabalhos que revelam o interesse deles pela

transformação de materiais industriais, reciclados ou recicláveis, em reves-

timentos e estruturas. eles destacaram a característica do desenvolvimento

de uma linguagem estética inspirada no cotidiano das grandes metrópoles.

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seminário AtrAiu profissionAis e estudAntes pArA As ApresentAções dos Arquitetos e

urbAnistAs convidAdos. com A propostA de oferecerem umA “viAgem pelA ArquiteturA”,

os pAlestrAntes AbordArAm sobre Alguns de seus principAis trAbAlhos, destAcAndo os

diferenciAis de projeto e de métodos construtivos e os desAfios enfrentAdos pArA

execução dAs propostAs. nA foto, os pAlestrAntes com A diretoriA dA AAi brAsil/rs

os jornAlistAs convidAdos pelA AAi brAsil/rs que elegerAm o vencedor do “prêmio imprensA” dentre os projetos finAlistAs do concurso “melhores trAbAlhos de ArquiteturA de interiores”

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s de são Paulo, também foi convidada a equipe do fg-

mf Arquitetos, criado há 15 anos, representado pelo

arq. e urb. rodrigo marcondes ferraz, um dos três só-

cios. em sua definição, eles procuram realizar uma ar-

quitetura “contemporânea, investigativa e inovadora”.

totalizando quase 300 projetos desenvolvidos, o gru-

po acumula diversos prêmios nacionais e internacio-

nais. recentemente conquistou o re-thinking the fu-

ture Awards; o internacional rogélio salmona, rece-

bido na colômbia; e o wan 21 for 21, ingressando na

seleta lista dos 21 escritórios de arquitetura do século

21. outro destaque do evento foi a participação da jo-

vem designer inglesa francesca wade, radicada em

são Paulo. ela é a mentora do disputado workshop

de criatividade mesa & cadeira e do estúdio multidis-

ciplinar todos. única representante gaúcha dentre os

palestrantes, a arquiteta e urbanista Kelen tomazelli

apresentou o trabalho da Pop studio Arquitetura cria-

tiva, fundada em 2011 em Porto Alegre. A empresa é

especializada no desenvolvimento de projetos de ar-

quitetura efêmera e de arquitetura de interiores, resi-

denciais e comerciais. o mais experiente dentre os

palestrantes era o arquiteto e urbanista paranense sér-

gio Parada, que comanda empresa própria desde 1997,

com sede em brasília (df), a sérgio Parada Arquite-

tos Associados, em sociedade com rodrigo mônaco

biavati e Kyle bussinger spínola de Andrade. o pro-

fissional já atuou em outros escritórios, em curitiba;

em grandes construtoras, em brasília; no governo mu-

nicipal da cidade do méxico; foi professor universitá-

rio; e possui importante trajetória na defesa da classe,

junto ao iAb. Acumula prêmios e homenagens, tanto

no brasil como no exterior. “seja qual for o programa

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edifício comerciAl corujAs, em são pAulo. com gAbArito bAixo, o empreendimento foi plAnejAdo considerAndo os jArdins do entorno dAs AntigAs cAsAs do bAirro, nA escAlA do usuário. restAurAnte deliqAtê, recém-inAugurAdo nA cApitAl pAulistA. estruturA em Aço, fAchAdA envidrAçAdA pArA mAnter “contAto permAnente com A ruA”. AcimA, detAlhe dA “cAsA grelhA”, em mAdeirA e vidro: respeito à topogrAfiA, à vegetAção existente, à privAcidAde dos morAdores e Ao visuAl dA serrA dA mAntiqueirA. projetos dA fgmf Arquitetos

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arquitetônico a ser traduzido em um edifício,

desde o mais corriqueiro até o mais sofistica-

do, sempre resultará numa atitude complexa”,

é a mensagem transmitida pelo arquiteto.

A pREMIAçãodurante o seminário, foi realizada a última das

três etapas do processo de escolha dos ven-

cedores da primeira edição do concurso “me-

lhores trabalhos de Arquitetura de interiores”,

realizado pela AAi brasil/rs com o apoio do

cAu/rs. na ocasião, para análise e votação

secreta de todos os participantes do evento,

foram apresentados os três projetos finalistas,

sem a identificação dos autores. cinco jorna-

listas especialmente convidados pela AAi bra-

sil/rs, presentes no seminário, elegeram ainda, dentre esses trabalhos, aque-

le que receberá o “Prêmio imprensa”: eleone Prestes, do caderno casa & cia

da Zero hora; eduardo bins ely, do Jornal do comércio; Patrícia castro dos

sites Pauta social e Palpitadas.com; lisiani mottini, da tVcom; e marcela

brown, da revista decor. os vencedores serão divulgados no evento come-

morativo ao dia do Arquiteto, que será realizado pela AAi brasil/rs no dia 9

de dezembro, em Porto Alegre. o projeto vencedor estampará a capa da 12ª

edição da publicação anual AAi em revista - arquitetos.

Participaram do concurso, os trabalhos de ambientes participantes da pu-

blicação, os quais se inscreveram para a premiação. A primeira seleção ocor-

reu no dia 3 de setembro, pelo conselho editorial e pela presidência da As-

sociação, mantendo todos os inscritos. A segunda etapa foi eliminatória, du-

rante um café da manhã promovido no dia 1 de outubro especialmente para

a ocasião, quando um júri formado por arquitetos e urbanistas convidados

apontou os três finalistas, considerando a solução técnica adotada a partir

do programa de necessidades, das condicionantes de projeto e do problema

apresentado pelo cliente.

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ApArtAmento, em são pAulo, projetAdo em 2011 pelA equipe do escritório superlimão estúdio. AbAixo, montAgem de fotos do “pArAdouro gAúcho” no evento criAdo pelo sebrAe/rs, em pArceriA com o governo do estAdo pArA receber os visitAntes durAnte A copA do mundo 2014. montAdo no ArmAzém b do cAis do porto, em porto Alegre, o espAço foi projetAdo pelA pop studio

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os novos chuveiros de teto italianos da Al-

tero da linha sPA têm como destaque a ino-

vação tecnológica. com jatos para massa-

gem de diferentes intensidades e leds cro-

moterápicos, o produto está disponível em

três versões: 42x26cm, 42x42cm e 60x60cm.

saiba mais em www.altero.com.br

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seguindo o conceito de móveis planejados para

“vestir a casa”, a dell Anno firmou parceria, este

ano, com o estilista Pedro lourenço, que assinou

um padrão de madeira que alia desenho orgânico

com textura futurista. batizada de moon, a super-

fície foi inspirada na era da corrida espacial e che-

gada do homem à lua, no final dos anos 1960, em

que as casas no mundo passavam por um perío-

do de transição com uso de elementos orgânicos

em abundância, como a madeira, a pedra e o cou-

ro, e estabeleciam contraste com o metal, que re-

fletia a aspiração pela tecnologia, pelo futurismo.

saiba mais em www.dellanno.com.br

Arrojado, o pendente td 593 da taschibra

combina a sutileza do vidro com o requin-

te da madrepérola, em base de alumínio.

outras informações em www.taschibra.com.br

na primeira edição da idA – exposição internacional

de design e Arte, realizada em gramado em setembro,

a sergio bertti apresentou a Poltrona Zózimo, assina-

da pelo designer ronald scliar sasson, na mostra “iné-

ditos: design-arte”. somente 28 peças faziam parte

do acervo montado

por Alberto Vicente e

marcelo Vasconcellos,

proprietários da galeria

carioca mercado moderno

(memo). com revestimento me-

tálico maciço, o móvel foi produ-

zido em uma série de apenas três

unidades, duas em cobre e uma em latão. o

nome da poltrona é uma homenagem ao prestigiado co-

lunista social carioca Zózimo barrozo do Amaral (1941-1997).

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A primeira e única Entidade do Brasil exclusivamente de arquitetos e urbanistas que atuam em Arquitetura de Interiores. A Associação de Arquitetos de Interiores do Rio Grande do Sul - AAI-RS

foi criada em 1997, em Porto Alegre/RS; o objetivo é a valorização do exercício profissional, divulgando a produção dos associados e esclarecendo o mercado quanto as particularidades

da atividade. Em 2009, passou a chamar-se AAI Brasil/RS, Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil - Seccional RS, congregando a entidade nacional também fundada no

Estado, a Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil - AAI Brasil.

você ainda não é parte da AAI?

A AAI Brasil/RS promove a troca de experiências entre seu associados, incentiva o aprimoramento profissional, propondo o debate sobre a Arquitetura e Urbanismo;

busca o estabelecimento de procedimentos uniformes para os aspectos principais do exercício profissional, promovendo a valorização da Arquitetura

de Interiores; com outras entidades, sugere ações de para a regulamentação e fiscalização do exercício profissional da Arquitetura de Interiores nos

âmbitos estadual e nacional.

por que participar?

venha para a AAI:

Para saber mais: AAI Brasil/RS www.aaibrasilrs.com.br e 51 3228 8519 Projetato Assessoria [email protected] www.facebook.com/aaibrasilrs twitter: @aaibrasilrs

Arquiteto e urbanista, faça parte deum grupo especial de profissionais!