em cÓdigo

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EM CÓDIGO Fui chamado ao telefone. Era o chefe de escritório de meu irmão: - Recei de !elo "ori#onte um recado dele $ara o senhor. % uma mensa es'uisita( com )*rios itens( con)+m tomar nota: o senhor tem um l*$is a, - enho. /ode come0ar. - Então l* )ai. /rimeiro: minha mãe $recisa de uma nora. - /recisa de 'u1 - De uma nora. - 2ue história + essa - Eu estou di#endo ao senhor 'ue + um recado meio es'uisito. /osso co - Continue. - 3e&undo: $ore )i)e de teimoso. erceiro: não chora( morena( 'ue e - Isso + al&uma rincadeira. - 4ão + não( estou re$etindo o 'ue ele escre)eu. em mais. 2uarto: s mas não o$ilado. omou nota - Mas não o$ilado 5 re$eti( tomando nota. 5 2ue diao ele $retende co - 4ão sei não senhor. Mandou transmitir o recado( estou transmitindo. - Mas )oc1 h* de concordar comi&o 'ue + um recado meio es'uisito. - Foi o 'ue eu $re)eni ao senhor. E tem mais. 2uinto: não sou col&at na oca de muita &ente. 3e6to: $oeira + a minha $enicilina. 3+timo: caron Oita)o... - Che&a7 5 $rotestei( estu$efato. 5 4ão )ou ficar a'ui tomando nota idiota. - De)e ser carta em códi&o( ou coisa $arecida 5 e ele )acilou: - Est senhor 'ue tam+m não entendi( mas enfim... /osso continuar - Continua. Falta muito - 4ão( est* acaando: são do#e. Oita)o: )ou mas )olto. 4ono: che&a morena. D+cimo: 'uem fala de mim tem m*&oa. D+cimo $rimeiro: não sou $i$o tam+m dou meus $ulinhos. - 4ão tem d )ida( ficou maluco. - Maluco não di&o( mas o senhor mesmo disse( a &ente at+ fica com a idiota... Est* acaando( só falta um. D+cimo se&undo: Deus( eu e o Rocha. - 2ue Rocha - 4ão sei: + ca$a# de ser a assinatura. - Meu irmão não se chama Rocha( essa + oa7 - %( mas 'ue foi ele 'ue mandou( isso foi. Desli&uei( at;nito( fui at+ refrescar o rosto com *&ua( $ara $oder $ então me lemrei: ha)iam-me encomendado uma cr;nica sore essas motoristas costumam $intar( como lema( 8 frente dos caminh<es. Meu irmão( en&enheiro e )ia9a sem$re $elointerior fiscali#ando oras( $rometera a9udar-me( recolhendo em suas andan0as farto e )ariado material. E ele )ia9ou( o tem acaei me es'uecendo com$letamente o trato( na su$osi0ão de 'ue acontecera. =&ora( o material ali esta)a( era só fa#er a cr;nica. Deus( eu e o e6$licado: Rocha era o motorista. Deus era Deus mesmo( e eu( o caminhão. Fernando 3aino. In: /ara Gostar de ler 5 cr;nicas. 3ão >tica( ). ?( @ABA.

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EM CDIGO

EM CDIGO

Fui chamado ao telefone. Era o chefe de escritrio de meu irmo:

- Recebi de Belo Horizonte um recado dele para o senhor. uma mensagem meio esquisita, com vrios itens, convm tomar nota: o senhor tem um lpis a?

- Tenho. Pode comear.

- Ento l vai. Primeiro: minha me precisa de uma nora.

- Precisa de qu?

- De uma nora.

- Que histria essa?

- Eu estou dizendo ao senhor que um recado meio esquisito. Posso continuar?

- Continue.

- Segundo: pobre vive de teimoso. Terceiro: no chora, morena, que eu volto.

- Isso alguma brincadeira.

- No no, estou repetindo o que ele escreveu. Tem mais. Quarto: sou amarelo, mas no opilado. Tomou nota?

- Mas no opilado repeti, tomando nota. Que diabo ele pretende com isso?

- No sei no senhor. Mandou transmitir o recado, estou transmitindo.

- Mas voc h de concordar comigo que um recado meio esquisito.

- Foi o que eu preveni ao senhor. E tem mais. Quinto: no sou colgate, mas ando na boca de muita gente. Sexto: poeira a minha penicilina. Stimo: carona, s de saia. Oitavo...

- Chega! protestei, estupefato. No vou ficar aqui tomando nota disso, feito idiota.

- Deve ser carta em cdigo, ou coisa parecida e ele vacilou: - Estou dizendo ao senhor que tambm no entendi, mas enfim... Posso continuar?

- Continua. Falta muito?

- No, est acabando: so doze. Oitavo: vou mas volto. Nono: chega janela, morena. Dcimo: quem fala de mim tem mgoa. Dcimo primeiro: no sou pipoca mas tambm dou meus pulinhos.

- No tem dvida, ficou maluco.

- Maluco no digo, mas o senhor mesmo disse, a gente at fica com ar meio idiota... Est acabando, s falta um. Dcimo segundo: Deus, eu e o Rocha.

- Que Rocha?

- No sei: capaz de ser a assinatura.

- Meu irmo no se chama Rocha, essa boa!

- , mas que foi ele que mandou, isso foi.

Desliguei, atnito, fui at refrescar o rosto com gua, para poder pensar melhor. S ento me lembrei: haviam-me encomendado uma crnica sobre essas frases que os motoristas costumam pintar, como lema, frente dos caminhes. Meu irmo, que engenheiro e viaja sempre pelo interior fiscalizando obras, prometera ajudar-me, recolhendo em suas andanas farto e variado material. E ele viajou, o tempo passou, acabei me esquecendo completamente o trato, na suposio de que o mesmo lhe acontecera.

Agora, o material ali estava, era s fazer a crnica. Deus, eu e o Rocha! Tudo explicado: Rocha era o motorista. Deus era Deus mesmo, e eu, o caminho.

Fernando Sabino. In: Para Gostar de ler crnicas. So Paulo, tica, v. 4, 1979.

1. Qual a reao do narrador ao no entender o recado do irmo?

2. Por no estar entendendo o recado, o narrador quase decidiu no mais anota-lo. Identifique o trecho que evidencia isso.

3. Por que o personagem demorou para entender o recado?

4. De que forma voc transmitiria o mesmo recado, evitando mal-entendidos?

5. O texto apresenta um certo suspense e tambm um toque de humor. Quais recursos o autor usa para provocar cada um desses efeitos?

6. Voc j recebeu algum recado que no tenha conseguido decifrar? Como era?

7. Quem so os leitores das frases de caminho? Qual o objetivo desse tipo de frase?

8. Voc conhece outras frases de caminho? Quais?

Veja outras frases de caminho:

A saudade no brao mas aperta.

Na estrada da vida, o passado contramo.

No sou da orquestra mas vivo no conserto.

Na subida Deus me ajuda. Na descida, Deus me acuda!

Viver s uma vez, mas viver com a pessoa amada viver duas vezes.

Tentar nem sempre conseguir, mas todos que conseguiram... tentaram.

Crie outras frases de pra-choque a partir dos seguintes temas:

a) amor

b) saudade

c) viagem

d) famlia

e) estrada

Pesquise outras frases de caminho. Copie no seu caderno.