brasil em código - 12ª edição

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Uma publicação da GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação abr/mai/jun 2014 www.gs1br.org BRASIL EM CÓDIGO GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação EDIÇÃO 12 EDIÇÃO 12 PETER HINSSEN FALA SOBRE A ATUAÇÃO DAS EMPRESAS COMO REDES ENTREVISTA Centro de Inovação e Tecnologia da GS1 Brasil mostrará como as empresas poderão aplicar os padrões na prática VISÃO DE FUTURO CÓDIGO BRASIL EM

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Essa edição traz um panorama do Centro de Inovação e Tecnologia da GS1 Brasil, inaugurado em Junho de 2014, em são PaUlo. A publicação ainda traz uma entrevista exclusiva com o especialista em tecnologia Peter Hinssen, que fala sobre a necessidade das empresas começarem a atuar como redes.

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PETER HINSSEN FALA SOBRE A ATUAÇÃO DAS EMPRESAS COMO REDESENTREVISTA

Centro de Inovação e Tecnologia da GS1 Brasil mostrará como as empresas poderão aplicar os padrões na prática

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Visão de futuroO ditado popular, “o que os olhos não veem o coração não sente”, tem um

fundo de verdade quando pensamos a respeito de alguns processos no mercado. No caso da padronização, que envolve questões bem técnicas, sabemos que é difícil visualizar o que está por trás das operações realizadas pelas empresas, ou seja, desvendar a linguagem que torna possível realizar um trabalho preciso, seguro e integrado com os parceiros comerciais.

Tendo em vista essas questões, percebemos que palavras, em muitos casos, não são suficientes para explicitar a importância do uso de padrões. É preciso mostrar o que acontece nos bastidores da cadeia de suprimentos. Por isso, a GS1 Brasil decidiu dar um passo à frente em um projeto único no País: a abertura do Centro de Inovação e Tecnologia (CIT). Reunimos esforços, tanto da nossa equipe interna quanto de parceiros na área de tecnologia, para demonstrar, de forma prática, como a padronização pode fazer a diferença nas operações das empresas, agregando eficiência e agilidade.

Nossos associados, profissionais de vários setores e comunidade de negócios, poderão ver de perto a aplicação dos padrões globais de ponta a ponta na cadeia de suprimentos – desde a fabricação até chegar ao consumidor final.

Esse espaço, que é mais que um showroom dos padrões globais, traz o que há de mais inovador em relação a equipamentos e processos. Para que o visitante tenha uma experiência de encher os olhos, apresentamos como se dá o impacto da tecnologia nas companhias e no dia a dia do consumidor de maneira atrativa e interativa. Os detalhes podem ser conferidos na matéria de capa desta edição.

A concretização dessa iniciativa, idealizada desde 2011, não seria possível sem darmos outro passo importante – a mudança de sede da GS1 Brasil, na capital paulista. O novo prédio, que abriga o CIT, possui espaço amplo para receber a crescente demanda de associados, possibilitando maior oferta de cursos, treinamentos, eventos e outros serviços. A realização desses dois projetos indica que estamos de olhos bem abertos para o mercado e para as necessidades dos associados.

A tecnologia e a inovação são os vetores do crescimento atualmente. Por esse motivo, acreditamos que o CIT terá impacto no mercado como um todo, afinal as empresas buscam produtividade e retornos efetivos de seus negócios – algo que os padrões ajudam a conquistar. No CIT temos a oportunidade de demonstrar o trabalho da GS1 Brasil construído há décadas e em constante evolução. Nosso compromisso é inovar sempre para estar na vanguarda da tecnologia. Esperamos a sua visita!

Um forte abraço,

João Carlos de Oliveira

presidente

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expediente

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João Carlos de Oliveira Presidente

Antônio Carlos LeãoJosé Humberto Pires de Araújo

Maria Eugenia Proença Saldanha Paulo Hermínio Pennacchi

Pedro Zidoi Sdoia Wanderlei Saraiva Costa

Vice-Presidentes

Virginia Villaescusa Vaamonde ceO e diretOra de Marketing

e relações instituciOnais Charles Sampaio

diretOr de Finanças e serViçOs cOrPOratiVOs Roberto Matsubayashi

diretOr de inOVaçãO e alianças estratégicas Silveraldo Mendes

diretOr de PrOcessOs e atendiMentO aO assOciadO

COORdEnAçãO dA REViStAAndréa Palmer

GS1 BRASiLRua Henrique Monteiro, 79

Pinheiros – 05423-020 – São Paulotelefone: (11) 3068-6229

www.gs1br.org

REdES SOCiAiSfacebook.com/gs1brasil

www.linkedin.com/company/gs1-brasilwww.youtube.com/gs1brasil

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FALE COM A REdAçã[email protected]

PROdUçãO EditORiAL E GRÁFiCAG&t Comunicação Ltda.telefone: (11) 2503-4618

[email protected]

EditORA denise turco – MtB 43.537 EditORA-ASSiStEntE Kathlen Ramos

REViSãO Helder ProfetaFOtOGRAFiA Paulo Pepe

CAPA Marcelo GorzoniARtE Adriano Cristian Fernandes

COLABORAçãO Ana Paula Garrido, Camila Guesa, Claudia Manzzano, Epaminondas neto, Giseli Cabrini,

Mariana izidoro, Patricia Lucena (texto);e Edson Perin (artigo)

iMPRESSãOElyon

tiRAGEM 3 mil exemplares

A revista Brasil em Código é uma publicação trimestral da GS1 Brasil dirigida e distribuída gratuitamente aos seus associados, aos parceiros e à comunidade de negócios. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam a opinião da entidade e da editora.

Centro de inovação e tecnologia demonstra na prática os benefícios do uso de padrões

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comunicação

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CAPA GS1 Brasil apresenta o Centro de inovação e tecnologia, espaço onde será possível experimentar procedimentos e padrões adotados em toda a cadeia de abastecimento

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Perfil Mercadinhos São Luiz, de Fortaleza, dão a receita de sucesso: variedade de produtos e atendimento atencioso

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reCUrSOS HUMANOS nova modalidade de coaching promete trazer mais satisfação e bem-estar aos funcionários

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eNTreViSTA Peter Hinssen fala sobre a necessidade de as empresas começarem a atuar como redes

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MerCADO Consumo de produtos de higiene pessoal e cosméticos está cada vez mais amplo e sofisticado

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CASe Atacadista de vestuário adota solução de RFid para reduzir custos e aumentar a segurança nos processos

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48 jOGO rÁPiDOCEO da GS1 Global fala sobre os desafios e as oportunidades da entidade

SumáriO

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44 6 CUrTAS10 iNSTiTUCiONAl estratégia16 iNOVAÇÃO18 PerDAS & GANHOS26 NeGÓCiOS32 fiNANÇAS36 CONSUMO38 GeSTÃO exportação42 eVeNTO Global forum 56 GeSTÃO Desenvolvimento 58 OPiNiÃO60 DeSCONeXÃO62 TeNDÊNCiA66 TeCNOlOGiA & NeGÓCiOS

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GS1 Brasil em novo endereço Desde abril, a GS1 Brasil está em novo endereço na capital paulista. Localizada à Rua Henrique Monteiro, 79, no bairro de Pinheiros, a sede oferece fácil acesso e proximidade com vários meios de transporte, inclusive uma estação de metrô. O prédio de oito andares tem espaço amplo para encontros e cursos de capacitação dos associados, com auditório e salas de treinamento. O destaque fica por conta do Centro de Inovação e Tecnologia (CIT), que ocupa dois andares, um showroom para demonstração prática e interativa dos padrões globais GS1 (confira mais informações na página 20). O investimento nesta nova sede tem o objetivo de atender à demanda crescente de associados, melhorar a infraestrutura de eventos e serviços e modernizar as instalações da entidade.

Experiência em TIA pesquisa global “Work Redesigned”, realizada pela Avanade, em 2013, mostra que o mais importante em soluções de tecnologia da informação (TI), atualmente, não é o custo das ferramentas, mas a possibilidade de oferecer às pessoas uma melhor experiência de consumo. Algumas empresas estão dispostas a pagar até 30% a mais em produtos e serviços que ofereçam uma melhor experiência ao cliente e cerca de 80% de companhias brasileiras já usam sistemas de CRM e mídias sociais. De acordo com a pesquisa, essas empresas registram aumento de 61% na fidelização dos clientes e de 60% em suas receitas.

AutomaçãoA GS1 Brasil participou da Autocom 2014 – 16ª Feira e Congresso Internacionais de Automação Comercial e Tecnologia para o Varejo, realizada de 8 a 10 de abril, em São Paulo (SP). No estande, a entidade recebeu associados, provedores, atacadistas e varejistas de vários setores. Além disso, o assessor de negócios da organização, Rodrigo Souza, ministrou palestra para um público de cem pessoas sobre a importância de o varejo adotar práticas de rastreabilidade, prevenção de perdas e mobilidade.

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6 abr/mai/jun 2014 [ BrasIL EM cÓDIGO ]

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CompartilheA partir de agora, a GS1 Brasil também está no Twitter, no perfil@gs1br. Confira iniciativas de outras unidades da GS1 pelo mundo, notícias e novidades do setor de logística, varejo e indústria.

PremiaçãoJá estão abertas as inscrições para XVII Prêmio Automação – Categoria Imprensa, promovido pela GS1 Brasil. Jornalistas com matérias publicadas no País entre 1º de outubro de 2013 e 30 de setembro de 2014, em jornal, revista e web, podem encontrar o regulamento, ficha de inscrição e outras informações no site www.gs1br.org/premiacaoimprensa. A data--limite para a inscrição é 7 de outubro de 2014 e os prêmios serão de R$ 4.000, além de homenagem com menção honrosa.

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Autenticidade A GS1 Brasil está finalizando a reformulação de sua ferramenta de consulta e verificação de autenticidade dos códigos de barras de produtos, a plataforma GEPIR. A nova versão, além de assegurar que um determinado código de barras é autêntico, também permitirá obter informações sobre detalhes dos produtos, como descrição do item, marca, dentre outros. O lançamento desta nova plataforma está previsto para maio.

Maratona empresarialCom o objetivo de orientar os empreendedores sobre as oportunidades de negócios ao adotar os padrões na identificação de produtos, a GS1 Brasil marcou presença na Maratona Valor PME 2014, promovida pelo jornal Valor Econômico, na capital paulista, em abril. Durante o evento, que reuniu líderes empresariais para compartilhar suas trajetórias de sucesso, a organização demonstrou em seu estande a importância e os benefícios proporcionados pela utilização dos códigos de barras.

8 abr/mai/jun 2014 [ BrasIL EM cÓDIGO ]

SaúdeEm sintonia com as necessidades de automação para o setor da saúde, a GS1 Brasil marcará presença no fórum realizado durante a feira Hospitalar, realizada de 20 a 23 de maio, em São Paulo (SP). Em conjunto com a Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), as entidades conduzirão o Seminário Internacional de Rastreabilidade, Qualidade e Segurança, no qual serão apresentados cases de instituições e empresas que implementaram a rastreabilidade de medicamentos e produtos para a saúde. Além disso, está previsto um debate sobre os desafios do setor com a participação de representantes de hospitais, indústrias farmacêuticas e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

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No arOs aeroportos brasileiros nunca receberam tantos passageiros quanto em 2013, segundo dados do Ministério do Turismo. Foram cerca de 89 milhões de passageiros desembarcando de voos domésticos e 9,4 milhões descendo no País a partir de voos internacionais em 2013, os maiores números desde o início da medição. “A meta é avançar ainda mais neste ano, afinal, teremos pela frente Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos, e os aeroportos estão se preparando para o acréscimo na demanda”, disse o ministro do Turismo, Vinicius Lages. Os embarques nacionais cresceram 4%; e os internacionais, 1%, em comparação a 2012.

RFID na universidadeParceria firmada entre a GS1 Brasil e o Instituto Mauá de Tecnologia viabilizará a inclusão de uma disciplina focada na tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID) na grade curricular da graduação de engenharia de controle e automação, elétrica e eletrônica. A matéria será ministrada no último ano dos cursos, desde o primeiro até o segundo semestres. Nela, os alunos aprenderão princípios básicos sobre padrões de identificação EPC/RFID (Código Eletrônico de Produto) e RFID, além de terem acesso a iniciativas nacionais e internacionais de implantação da tecnologia.

Cinema no varejo Mais uma vez a GS1 Brasil estará na Feira APAS 2014 – 30º Congresso e Feira de Negócios em Su-permercados, realizada de 5 a 8 de maio no Expo Center Norte, na capital paulista. A associação apresentará suas soluções em padronização que ajudam a melhorar a eficiência operacional do varejo de uma maneira inusitada. O estande terá formato de cinema com pôsters de filmes, além de exibir vídeo em 3D mostrando as situações que os códigos globais estão presentes. A ação é ins-pirada na nova campanha da entidade: “GS1 está em tudo que você vê e o que você não vê”, conta a assessora de eventos, Poliana Nogueira. O estande estará no Pavilhão Vermelho, Rua 15 /16.

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Da Redação

ESTRATÉGIAINSTITUCIONAL

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Encontro de líderes da GS1 realizado no Brasil discutiu estratégias globais da organização com uma pitada de cultura verde-amarela

Uma só voz

Em janeiro, a cidade de São Paulo (SP) foi palco do encontro do Advisory Council da GS1, grupo formado por lideranças da organização de vários países para discutir estratégias mundiais. O evento acontece três vezes ao ano, em diferentes locais, e reúne os CEOs das associações locais e executivos do escritório global, sediado na Bélgica.

Estiveram presentes represen-tantes da Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Colômbia, Espa-nha, Estados Unidos, França, Hong Kong, Índia, Itália, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Polônia, Reino Unido, Rússia e Suécia.

Além das reuniões estratégicas, o grupo conheceu as instalações da nova sede da GS1 Brasil, também na capital paulista. A programação ainda contemplou um momento de integração dos executivos es-trangeiros e a equipe da brasileira.

De acordo com a CEO da GS1 Brasil,Virginia.Vaamonde.Villaescusa,

o foco principal do encontro foi a integração entre os representantes de cada país e a equipe do Global Office para a definição das estra-tégias globais. “Discutimos temas que são primordiais para a evolu-ção da GS1 nos próximos anos, como, por exemplo, manter uma identidade única em todo o mun-do, alinhando a missão e a visão de todas as organizações-membros.” Segundo ela, isso significa reforçar as diretrizes que foram resumidas no lema da entidade: “uma única visão, uma só voz”. Nesse senti-do, a GS1 Brasil participa de um projeto-piloto para alinhamento de identidade visual do website global da entidade, diz.

A importância de qualificar os da-dos para a troca segura de informa-ções entre indústria e varejo foi outro assunto abordado no encontro. Além disso, a criação de indicadores (KPIs) para a organização. “A GS1 Brasil é uma das poucas que possui pesquisa de reconhecimento de marca e este

foi um dos indicadores adotados em âmbito global”, frisou Virginia.

Outro ponto da reunião foi a definição dos setores nos quais as organizações devem direcionar es-tratégias para entregar valores sig-nificantes às empresas usuárias de padrões GS1. Os segmentos foram reunidos em três grupos: principal (transporte e logística, produtos pe-recíveis, alimentos frescos, bens de consumo e saúde), oportunidades (food service, vestuário e têxtil) e opcionais (financeiro).

Os encontros do Advisory Council propiciam a troca de expe-riências entre os executivos da GS1, que têm a possibilidade de abordar dificuldades, expectativas e desafios em seus respectivos países. Apesar das diferenças regionais e culturais, algumas necessidades e oportunidades são parecidas. A Brasil em Código conversou com os CEOs da GS1 Índia e França sobre o uso dos padrões e as perspectivas locais. Confira a seguir.

10 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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OpOrtunidades nO varejO

agilidade nas Operações lOgísticas

Com quase 17% da população mundial, a Índia possui uma grande quantidade de consumidores e é também base de muitas empresas que fornecem produtos e serviços para todo o mundo. Esse cenário é propício para a implementação dos padrões GS1, segundo o CEO da entidade na Índia, Ravi Mathur. “Os padrões que atendem o segmento B2C para facilitar as compras on-line, fornecendo acesso a fontes confiáveis de informações sobre os produtos, seriam de grande ajuda para os jovens compradores da região.” Segundo ele, um dos principais desafios naquele país é conscientizar tanto empresas quanto consumidores sobre os benefícios da padronização, como, por exemplo, eficiência, produtividade, redução de custos e segurança na cadeia de abastecimento. Outro ponto é ampliar a automação e o uso do código de barras no varejo, além de fortalecer os setores de logística e transportes. Por outro lado, o país já tem projetos de sucesso. “Na Índia, 90% dos produtos embalados são identificados com os códigos de barras GS1”, contou. Outra iniciativa é o combate à proliferação da falsificação de medicamentos, por parte do governo, que tem exigido o uso da padronização global por parte das empresas. Na área de bebidas, os órgãos governamentais estão

notificando as companhias para adotarem o GS1 DataMatrix, possibilitando, assim, a autenticidade e a rastreabilidade desses itens.

Devido ao baixo nível de crescimento na Europa, as empresas da região buscam mais eficiência e competitividade. Nesse contexto, os padrões GS1 são essenciais para reduzir custos, diminuir estoques e aumentar a qualidade dos serviços, afirmou o CEO da GS1 França, Pierre Georget. Segundo ele, os dois principais desafios na Europa referem-se à regulamentação para proteção dos consumidores, o que têm impacto sobre a rotulagem e informações sobre produtos, e à ascensão do e-commerce. “Em 2020, na Europa, 10% do varejo alimentar e 50% dos negócios de mercadorias em geral estarão na internet. Essa é uma grande mudança para o mercado.” Reside aí uma oportunidade: os padrões GS1 podem ajudar na visibilidade da cadeia de suprimentos e agilizar

as operações logísticas, afirmou. Na França, por exemplo, a adoção de padrões é ampla, em especial em tempos de baixo crescimento econômico. No setor varejista, 90% das lojas de vários segmentos adotam a digitalização. Já o varejo de alimentos frescos usa amplamente a Rede Global de Sincronização de Dados (GDSN), na qual dados armazenados num mesmo padrão facilitam o compartilhamento de informações e promovem transações comercias. Nos segmentos de construção civil e perfumes e cosméticos, o uso dos padrões para as trocas eletrônicas aumenta cada vez mais, contou o executivo.

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[[entrevista PETER HINSSEN

Capturadospela redeNão tem como fugir: as redes já ocupam um espaço tão significativo na sociedade a ponto de as empresas repensarem os antigos paradigmas de negócios para se tornarem mais dinâmicas e velozes

Por Denise Turco

Vivemos em uma época de incertezas sobre os rumos da economia, o comportamento do consumidor e a sobrevivência das empresas. As regras do jogo mudam rapidamente. Esse cenário impõe novos desafios para se projetar no mercado, traçar estratégias e até para se relacionar com os funcionários. Uma tese que explica essa dinâmica atual é o fato de que a sociedade funciona cada vez mais como uma rede – nesse caso, as redes invisíveis, sem fio, que conectam pessoas, telefones, tablets e outros dispositivos. Diante disso, as organizações precisam aprender como as redes operam para começar a atuar de forma semelhante – com informação fluindo rapidamente.

São essas reflexões e tendências que Peter Hinssen explora em seu novo livro The Network Always Wins – How to Survive in the Age of Uncertainty (em tradução livre, A Rede Sempre Vence – Como Sobreviver na Era das Incertezas), que será lançado no segundo semestre de 2014 na Europa e ainda sem previsão de chegar ao Brasil.

Hinssen é um dos mais renomados especialistas europeus sobre o impacto da tecnologia na sociedade. É um dos fundadores da Across Group, consultoria na área de gestão e marketing, e atua como coach, escritor e palestrante.

Em seu livro The New Normal, ele escreve sobre o que acontece quando o digital se torna normal. Agora, nesse novo trabalho, reforça que é preciso se concentrar em ser ágil, estimular as redes das empresas e a adoção da cultura da experimentação e da inovação. Com base nisso, vislumbra o início

de uma nova etapa na sociedade e no mundo dos negócios, a Era das Redes (Age of Networks). “A rapidez do mercado e o fluxo incessante de informações que alimentam a transição dos mer-cados em redes estão se tornando mais visíveis a cada dia”, acredita.

Em julho, Hinssen estará em terras brasileiras como principal palestrante do evento Brasil em Código – Conferência Internacional da GS1 Brasil sobre Automação e Logística. Entre suas viagens, ele concedeu a entrevista a seguir, por e-mail, sobre seu novo livro.

Brasil em Código Em Network Always Wins, o senhor alerta para uma grande mudança que afetará a sociedade e os negócios. Qual será?Peter Hinssen A mensagem principal é que os mercados como nós conhecemos vão desaparecer e se tornarão redes – redes dinâmicas de informação, com o consumidor no coração delas. Se observarmos como estamos conectados em rede, o tempo todo, vemos que ela muda o nosso comportamento como consumidor. Levantamos de manhã com nosso celular e vamos para a cama, à noite, com ele. Checamos nosso smartphone quando estamos em uma loja. Estamos sempre conectados. Isso, acima de tudo, muda o nosso método de acessar a informação. Se você perceber como toma uma decisão, como consumidor, isso não é mais um simples jogo de marketing, porque fazemos escolhas com base em uma infinidade de informações.

12 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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“A evidência de que o mercado está se tornando rede é algo

que testemunhamos hoje”

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[[ENTREvISTA

BC Em sua opinião, por que as redes são o motor do progresso?PH O futuro será das Redes das Coi-sas (Networks of Things), das Redes dos Consumidores (Networks of Cus-tomers) e das Redes das Habilidades (Networks of Skills) dentro das organi-zações. A evidência de que o mercado está se tornando rede é algo que teste-munhamos hoje. A fluidez e a rapidez com que ele se movimenta e o fluxo incessante de informação que alimen-ta a transição dos mercados em redes está se tornando visível a cada dia. A transição das clássicas abordagens de marketing e o aprendizado sobre como influenciar as redes são pontos que as empresas se confrontam diariamente. Agora, o consumidor se tornou inteli-gente e empoderado. Ele tem o poder e a habilidade de se informar e reúne inteligência de seus pares, dos amigos e da rede. Ele confia mais na rede do que na sua empresa. Isso é um verdadeiro motor do progresso.

BC Nessa nova etapa, a Era das Redes, a principal mudança é que a informação torna-se fluida. Poderia falar mais sobre isso?PH O aspecto fundamental é que a informação começa a fluir, e nós temos que perceber como esse fluxo faz sentido. Durante anos, temos tratado o domínio da informação como um reservatório. Queremos construir ban-cos de dados capazes de armazenar e capturar toda a informação relevante para os negócios e as empresas. Hoje, a situação é completamente diferente. A informação flui fora das companhias, são ordens de magnitudes maiores

do que a dos bancos de dados e datawarehouses. No passado, tínha-mos informação como algo estático, como um reservatório, como lagos e lagoas. De repente, quando entramos na Era das Redes, a informação começa a fluir, tornando-se um rio. As empresas terão de entender como a informação faz sentido uma vez que se torna fluxo.

BC Qual é a importância da geração Y, que nasceu e cresceu em um ambiente conectado, nessa nova era?PH Em 2020, 46% da mão de obra dos Estados Unidos será baseada na geração Y ou “geração me me me”, conforme a revista Time cunhou. Essa geração tem um “pensamento em rede” construído em sua própria alma. É a primeira geração que cresceu completamente conectada a tudo e a todos. Isso é o que os torna verdadeiramente únicos. Eles estão conscientes da dinâmica da rede, sentem o ritmo da rede e entendem as regras da rede.

BC O senhor defende que as empre-sas precisam se tornar uma rede se quiserem sobreviver. Para isso, elas têm de mudar a dinâmica no que diz respeito ao marketing, recursos humanos e estratégias de negócios, abandonando, inclusive, as teorias consagradas nessas áreas. Elas teriam de começar tudo de novo?PH O novo mundo do trabalho vai exigir uma reformulação completa do engajamento das pessoas nas empresas – com base na filosofia da rede. E nós teremos de jogar fora muitas coisas,

como as ferramentas usadas no pas-sado, quando as empresas ainda estavam baseadas no modelo antigo de estrutura hierárquica. O elemento central dessa transição é que a estrutura estática de hoje terá de ser reinventada para a era da fluidez. Simplificando: se os mercados se tornam redes, as empresas têm de se tornar redes também.

BC Quais seriam as principais ações para uma empresa começar a funcio-nar como uma rede?PH Para se reinventar para a era das redes, eu acredito que as companhias precisam abandonar o conceito de organograma e começar a pensar em termos de redes, nós, clusters e comu-nidades. Além disso, compreender o fluxo da inovação dentro da empresa e fazer com que isso seja a espinha dorsal da companhia, e não a tradicional hie-rarquia. E também aproveitar o poder da nova geração, que entende a rede como um lugar natural.

BC Levando em conta que há mui-tas incertezas no mercado, o senhor acredita que não faz mais sentido elaborar um planejamento de longo prazo, algo que sempre foi pregado pelos gurus dos negócios. Nesse ce-nário, como as companhias podem se adequar rapidamente a tantas mu-danças? PH Isso não é algo novo. Péricles, no século 5 a.C., escreveu: “Não é nossa tarefa prever o futuro, mas estar prepa-rados para isso.” O ponto interessante é que hoje você não pode mais prever o futuro. Tudo acontece rapidamente, e coisas simples podem ter resultados

14 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

“Os mercados como nós conhecemos vão desaparecer e se tornarão redes dinâmicas

de informação, com o consumidor no coração delas”

Page 15: Brasil em Código - 12ª edição

extremamente complexos. Portanto, muitas empresas ainda terão uma es-tratégia de longo prazo, mas elas terão que mudar isso constantemente. As companhias ainda terão um plano de cinco anos, mas precisarão de um novo a cada ano. Empresas que querem so-breviver precisam de duas habilidades essenciais: velocidade e agilidade.

BC Cada vez mais os consumidores estão bem informados, querem interagir com as marcas e serem ouvidos por elas. Isso é facilitado pelo advento das redes sociais. Como esse comportamento do consumidor deve mudar a maneira como as estratégias de marketing das empresas são cons-truídas na Era das Redes?PH O desafio da próxima geração de profissionais de marketing não diz respeito apenas à construção de mensagens para os consumidores, mas como entender o seu comportamento. Eles precisam entender de tecnologia, não na medida em que devem ser capazes de desenvolver ou codificar a nova onda das plataformas de social marketing, mas na medida em que entendem a dinâmica e os mecanismos que regem o mundo da tecnologia. A próxima geração de profissionais de marketing deve se tornar, acima de tudo, “pensadora de rede” (network--thinker), entender a influência dos nós da rede em um mundo onde os consumidores têm de se tornar parte de um ecossistema da informação.

BC Muitas as empresas, inspiradas no Google, transformam seu espaço em um ambiente descolado, com móveis modernos, jogos e horários

flexíveis. Em um cenário no qual a dinâmica da rede deve prevalecer, isso ajuda a engajar as pessoas de fato? Qual deve ser a nova visão da área de recursos humanos (RH) nesse sentido?PH Hoje, um departamento de RH tem uma visão estática da situação atual da empresa. Mas uma rede como o Linkedin dá uma visão muito mais dinâmica de uma organização e será capaz de mostrar onde os indivíduos estão se posicionando dentro da rede. As ferramentas atuais dos departamentos de RH dão a eles uma visão estática do hoje, redes darão insights dinâmicos no futuro. Como Wayne Gretzky disse: “Eu patino para onde o disco [de hóquei] vai, não para onde ele foi.” Eu acredito que o “novo RH” terá de se transformar em “pensador de rede”, orientando e moldando as redes dentro das organizações, deixando a inovação e a informação fluírem.

BC Atualmente se fala muito sobre o conceito de Internet das Coisas (Internet of Things), no qual os dispositivos têm a capacidade de comunicar-se entre si. O senhor propõe no seu livro o conceito de Rede das Coisas (Network of Things)? Poderia explicar melhor?PH Durante algum tempo, começamos a falar sobre Internet das Coisas, na qual mais e mais dispositivos conec-tados começam a surgir e parecem estar crescendo como um incêndio. A sua casa será ocupada com coi-sas que monitoram, conectam e trocam informações. Seus equi-pamentos elétricos irão obede-cer à rede de energia elétrica e

entender quando é mais conveniente e econômico para se autoligarem. Seu carro estará constantemente conectado a uma rede e fornecerá informação em tempo real para a companhia de segu-ros. Mais e mais dispositivos serão “in-ternet-ready” e começarão a “viver” na rede e trocar informação na rede. Isso será algo grandioso. Se você pensou que o Facebook era impressionante, esse é um paradigma completamente novo.

BC Para finalizar, por que as redes sempre ganham?PH As redes ganham porque a informação flui rapidamente nelas. Além disso, porque e a informação é mais bem filtrada a inovação flui mais rapidamente.

“É preciso aproveitar o poder da nova geração, que

entende a rede como um lugar natural”

Page 16: Brasil em Código - 12ª edição

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TecnologiaINOVAÇÃO

Conhecer ofertas de alimentos, informações nutricionais e receitas; escolher itens de acordo com as restrições alimentares ou com as características pessoais e ainda compartilhar opiniões sobre os produtos nas redes sociais. Tudo isso feito de maneira instantânea, aliando o código de barras e um dispositivo móvel instalado nos óculos do consumidor. A GS1 comprovou que isso é possível durante o Mobile World Congress, realizado em fevereiro deste ano, em Barcelona, na Espanha. A organização fez a primeira demonstração da leitura de códigos de barras com o uso do Google Glass, os óculos inteligentes da Google. A demonstração da solução pode ser conferida no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=mHBUSxoSDw8.

A solução – desenvolvida em colaboração com o Open Mobile Alliance (OMA), organização de padronização móvel, e o Icare, instituto de pesquisas suíço especializado no setor de tecnologia da informação – permite uma interação completa entre o produto e o consumidor, trazendo uma nova realidade para varejo e indústria. “O comportamento dos consumidores está sempre se modificando e há uma necessidade constante para acesso a informações sob demanda. Isso faz da nova

geração de leitores de código de barras uma peça-chave para os consumidores acessarem dados. A nossa apresentação usando o Google Glass é uma forma inovadora de mostrar a varejistas, fabricantes e provedores de soluções móveis como imaginar o futuro e como vamos compartilhar as informações em dispositivos móveis”, avalia o presidente da divisão Global Solutions da GS1, Malcolm Bowden.

A organização e a OMA trabalham em colaboração desde 2011 para permitir que recursos de leitura de código de barras possam ser instalados diretamente nos dispositivos móveis. Agora, o foco está na criação de especificações baseadas nos padrões existentes e no fato de que os fabricantes desses equipamentos poderão usar ainda neste ano. Isso facilitará o processo para desenvolvedores de aplicativos adicionarem recursos de leituras de código de barras e conectar informações reais de produtos nas suas aplicações. “Os padrões da GS1 e da OMA desempenham um papel fundamental para permitir que a visão de consumidor conectado aconteça. Ele terá confiabilidade na informação de suas compras”, concluiu o chairman do conselho do OMA, Gary K. Jones.

Por Kathlen Ramos

Pensando no futuro

A GS1 gerencia o sistema de códigos de barras para produtos usados por empresas em âmbito mundial. A organização desenvolveu serviços que permitem fabricantes e varejistas compartilharem informações corretas sobre os seus itens no mundo digital. Esses serviços conferem aos desenvolvedores de aplicativos e ao mercado de mobilidade acesso a informações essenciais para transformar inovações em realidade para o consumidor final.

16 abr/mai/jun 2014 [ BRaSil eM cÓDigo ]

Visão delongo alcanceNa Europa, GS1 demonstra pela primeira vez a leitura de códigos de barras por meio do Google Glass, trazendo uma nova relação entre consumidor, varejo e indústria

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Por Ana Paula garrido

De cozinheiro nas horas vagas, empresário supera a falta de experiência e vira o rei das carnes de Belo Horizonte

Comida boa sempre foi presença obrigatória no cardápio do mineiro Leonardo Marques, de 42 anos. Além de ser uma espécie de consultor informal, que dá dicas de onde comer para os amigos, ele sempre foi o cozinheiro oficial da turma. Foi por conta dessa paixão que resolveu aceitar, em 2006, o convite de um amigo para abrir um bar, o Fábrica da Carne, depois de trabalhar anos na indústria farmacêutica.

No entanto, sem uma receita prévia de como administrar um negócio e com um sócio desorganizado e sem conhecimento no ramo, Marques admite ter errado na escolha de quase todos os ingredientes. “Não tínhamos nenhum projeto, mas decidimos abrir e pronto. Mas o ponto era ruim, o cardápio era extenso e ainda tivemos problemas com funcionários. Conclusão: quebramos em menos de um ano”, resume o empresário, hoje dono de três restaurantes em Belo Horizonte (MG) – Boteco da Carne, Gonzaga Butiquim e Monjardim Costelaria.

Porém, antes de saborear essa fartura de empreendimentos bem- -sucedidos – as três casas empregam um total de 80 funcionários e contam com um faturamento satisfatório, que ele preferiu não revelar –, Marques aprendeu na prática a lição do velho ditado “o apressado come cru”. Sem planejamento, ele e o sócio fizeram tudo às pressas, a começar pela escolha dos profissionais. “Era tanta afobação que qualquer um servia. No fim, tivemos 11 ações trabalhistas.”

O empresário lembra que sobraram apenas dois funcionários, que, aliás, estão com ele até hoje. Foi então que prevaleceu a expertise de Marques na cozinha – a única vantagem que ele tinha, afinal já gostava e conhecia o setor. “Eu fazia de tudo: lavava, cozinhava, comprava os alimentos. Por conta disso, hoje eu sei da necessidade e da função de cada um e tudo o que precisa em uma cozinha. É aquela história: peão de obra não respeita o engenheiro, mas sim o mestre de obra. Hoje sou visto como um mestre de obra, porque, se der problema, eu resolvo.”

Leonardo Marques, empreendedorDepois de experiências traumáticas, seu lado

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Esse contato direto também serviu para aproximá-lo dos funcionários, com quem ele faz questão de ser o mais transparente possível. “Eles têm de saber que é uma luta diária. E quando o negócio vai bem, é preciso recompensar o pessoal, seja com aumento de salário, seja com uma homenagem.”

Outra situação complicada que o empresário viveu foi com relação às parcerias fechadas para oferecer almoço aos funcionários de companhias da região. “Na época, fechei um valor fixo por refeição com uma das empresas que só tinha mulheres. Resultado: elas passaram a comer muito e a solução foi acabar com essa opção de venda.”

Dessa experiência traumática, Marques aprendeu uma lição, que, à primeira vista, até soa estranha: vender muito nem sempre é um bom negócio. “É preciso pensar também na compra e no controle de produtos e não apenas em vender, pois, nesse caso, quanto mais eu vendia, mais prejuízo somava.”

Com relação ao cardápio, foram elaboradas muitas opções, mas poucas tinham demanda. A saída foi deixar os pratos preferidos do empresário para ele cozinhar em casa, para a família e os amigos. “Pensar que seu gosto prevalece é pura vaidade. Achava um absurdo que alguém não gostasse de alguns pratos até perceber que eu preci-sava me adaptar ao que o cliente buscava.”

Além das experiências práticas do que não fazer, Marques participou de cursos e palestras, logo após fechar o primeiro restaurante, e aprendeu a gerir um negócio. Um dos resultados positivos veio com os próprios clientes, que são só elogios ao atendimento e à qualidade das refeições. “A relação é quase familiar, principalmente durante o almoço, pois muitas pessoas comem todo dia ali. Minha meta é não deixar a qualidade cair”, comemora.

LocaLizaçãoPor falta de dinheiro, Marques montou o Boteco da

Carne no mesmo lugar: no segundo andar de um prédio no bairro de São Pedro. Logo que a situação financeira melhorou, o empresário foi para o bairro de Lourdes, que concentra um público maior, principalmente à noite,

quando o restaurante vira bar. “Antes, eu estourava a conta telefônica chamando os amigos para ir ao meu restaurante. Quando mudamos, passei a vender o triplo”, compara Marques, destacando a localização no térreo. “Faz toda a diferença estar no nível da rua, já que o mineiro adora ver e ser visto. Prova disso é que no Monjardim, por exemplo, as bebidas mais caras são vendidas para quem está sentado nas mesinhas na rua.”

Os outros dois empreendimentos estão no mesmo bairro, distantes um quarteirão um do outro. A proximidade ajuda a gerenciar, mas ele revela que o segredo foi aprender a delegar e criar uma identidade própria para cada negócio. “O carro-chefe do Boteco da Carne é a picanha, além dos pratos de comida de boteco. O Gonzaga é famoso pela carne de sol e os pastéis caseiros. Ele acabou virando um bar de luxo. Já o Monjardim é mais refinado e atrai pela exclusividade: é a única costelaria uruguaia no Brasil.”

O sucesso da costela é tanto que o empresário das carnes está prestes a abrir uma filial no bairro de Belvedere, assim que acertar a questão dos fornecedores. “Vendo, em média, quatro toneladas de costela por mês. Mas agora o Uruguai está em crise nesse setor. Tive de me aperfeiçoar no comércio exterior e estou buscando um produto com a mesma qualidade que o uruguaio”, explica, lembrando o seu talento e preocupação em comer bem, para, em seguida, provar que seu lado administrador também já está “ao ponto”. “Hoje sou mais prudente. Se fosse antes, já teria aberto a nova casa e, provavelmente, teria de oferecer uma carne inferior.”

Sinal de que, dessa vez, o empresário acertou tanto nos ingredientes quanto no modo de preparo.

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Monjardim CostelariaEspaço atrai pela exclusividade da culinária uruguaia

CoMpartiLhesuas experiências com os leitores da Brasil em Código e conte no que errou – operação, tecnologia, gestão, recursos humanos, etc. – e qual foi a solução encontrada. Escreva para a redação: [email protected]

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Tecnologia que se sente

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INOVAÇÃOCAPA

GS1 Brasil apresenta o Centro de Inovação e Tecnologia, iniciativa que tornará os padrões mais acessíveis para empresas e mostrará seu impacto no dia a dia das pessoas

Por Denise TurcoColaboração Giseli Cabrini

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No papel de consumidores, nem sempre pensamos quais tecnologias e padrões estão por trás das atividades que fazem parte do nosso cotidiano. Por exemplo, o alimento que chega à nossa mesa, a fabricação do medicamento apli-cado em um paciente no hospital, as facilidades para usar um aplicativo no celular, o produto entregue rapidamente depois de uma compra pela internet. É difícil imaginar a complexidade de processos que acontecem nos bastidores das empresas, mas que, no entanto, já parecem au-tomáticos para nós.

Mas a partir de agora, o que ficava apenas no plano abstrato, toma uma forma real. A GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação inaugura, em junho, o seu Centro de Inovação e Tecnologia (CIT), um espaço onde será pos-sível experimentar procedimentos operacionais utilizados pela indústria e varejo, mostrando de que maneira o uso de padrões e códigos tornam as atividades mais eficientes.

Com equipamentos de ponta e demonstração de procedimentos inovadores em toda a cadeia de suprimentos, o CIT, que ocupa dois andares da nova sede da GS1, em São Paulo (SP), vai funcionar como um laboratório de ideias e prá-

ticas que refletirão na experiência de compra do consumidor final.

“A ideia de construir o CIT surgiu da neces-sidade de demonstrar os benefícios do uso de padrões. Temos pilhas de documentos sobre como deve ser um protocolo de RFID ou de código de barras, que são soluções abstratas e intangíveis. Por isso idealizamos uma forma de explicar como esses padrões funcionam na prá-tica”, expõe o diretor de inovação e alianças es-tratégicas da GS1 Brasil, Roberto Matsubayashi.

“Acreditamos que o CIT terá impacto posi-tivo no mercado brasileiro como um todo. Nossa proposta é inovar para estarmos na vanguarda da tecnologia. O CIT estará em constante mutação, porque os padrões sempre evoluem”, afirma o presidente da entidade, João Carlos de Oliveira.

Para o projeto, que vem sendo desenhado desde 2011, a associação selecionou alguns cenários da cadeia de suprimentos – linha de produção, operação logística e loja – para montar um verdadeiro showroom das opera-ções das empresas.

Segundo Oliveira, a inspiração surgiu de-pois da visita da equipe da GS1 Brasil à GS1 Alemanha, que possui um centro de tecnologia

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ExperiênciaNo CIT, público poderá conferir como funcionam procedimentos operacionais com o uso de padrões GS1 e equipamentos de ponta

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22 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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com soluções de ponta e ambiente in-terativo. Na ocasião, o grupo também conheceu, naquele país, a Loja do Futuro e o centro de tecnologia do Grupo Metro, uma das maiores redes varejistas do mundo. “A partir dali começamos a nos questionar por que não tínhamos um CIT, pois somos a quinta maior GS1 em número de associados”, conta o presidente da entidade. A busca por referências

continuou em outras unidades da or-ganização que já possuem o seu centro de tecnologia: Colômbia, México, Espanha e Argentina. “Em relação a esses países, temos um espaço maior aqui”, compara.

O CIT estará aberto para a visitação de associados da GS1, profissionais, estudantes de áreas relacionadas, re-presentantes do governo e entidades, às segundas e sextas-feiras, às 10h e às 14h.

Além de ser um espaço de demonstração, o centro também cumpre o papel de fortalecer o tra-balho técnico realizado pela GS1. O laboratório que faz os testes para certificação do código de barras, solução que permite que um código seja lido na primeira tentativa em qualquer equipamento, ganhou um espaço maior e, assim, poderá ampliar suas atividades.

VISão holíSTICa

“Nossa proposta é inovar sempre paraestarmos na vanguarda da tecnologia”João Carlos de oliveira, presidente da GS1 Brasil

Ao visitar o CIT, será possível conhecer como ocorre a aplicação de vários tipos de códigos e tecnologias, como é o caso da identificação por radiofrequência, por meio do EPC/RFID, e do GS1 DataBar no momento em que o produto está sendo fabricado. E ainda a simulação do uso de tecnologias no varejo, com diferentes tipos de produtos, que dão uma nova dimensão à experiência de compra.

Recursos multimídia, como vídeos, imagens e sons, tornarão a visita ainda mais interessante e farão com que os padrões “ga-nhem vida”. Todo o espaço e suas atividades foram idealizados com a ajuda de renomadas empresas da área de tecnologia.

“Esperamos que o CIT proporcione maior conhecimento e compreensão do que somos e as contribuições que trazemos para o dia a dia das pessoas. Além disso, queremos mostrar so-luções já utilizadas e outras que acreditamos que podem bene-ficiar o mercado. Vamos propor novas tecnologias e formas de relacionamento com o consumidor e entre as empresas”, conclui Roberto Matsubayashi, da GS1 Brasil.

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Cada ETapa, uma TECNoloGIa

Veja quais são os diferentes ambientes e soluções simulados no CIT

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operação logística

ExpEctativasOs apoiadores do projeto apostam

na proposta inovadora do CIT. Afinal, as tecnologias e as soluções demons-tradas ganharão uma nova dimensão, saindo do âmbito conceitual para abordar os aspectos práticos e opera-cionais – um ecossistema completo da cadeia de suprimentos.

“Estamos realmente vivendo na era do cliente. Ele espera ser atendido de maneira surpreendente – muitas vezes em tempo real. Com o CIT, te-remos condições de mostrar as solu-ções de negócios funcionando para os tomadores de decisão das empresas, que, por sua vez, terão a capacidade de se antecipar e superar as expecta-

tivas de seus consumidores”, acredita o diretor de marketing do Microsoft Dynamics, Fabio Araujo.

“A GS1 já é uma referência para toda cadeia de suprimentos, e o CIT facilitará o entendimento dos padrões, mostrando, ao vivo e em cores, o fun-cionamento de tecnologias que efetiva-mente trazem benefícios à cadeia logís-tica”, afirma o diretor comercial da Gtt, Giuliano Piccoli.

Na opinião do CEO e presidente da Acura, Marcos Honda, uma das grandes lacunas do mercado é a pos-sibilidade de ter acesso a uma gama completa de soluções de ponta em um mesmo local. “O CIT é a resposta para isso”, aposta. Profissionais de vários

setores, como indústria, varejo, saúde, tecnologia, etc., poderão ter uma visão ampla de todas as etapas tecnológicas demandadas pela cadeia de supri-mentos. “Esse espaço será um painel dinâmico do que há de mais avançado no mundo e, como tal, incentivará os executivos das empresas a acelerarem os investimentos em tecnologia”, prevê.

Para o diretor-executivo da Seal, Wagner Bernardes, o CIT ajudará a desenvolver uma série de processos na cadeia de suprimentos e a trazer benefí-cios para as empresas. “Hoje nenhuma organização do mercado tem a preocu-pação de mostrar a realidade de uma solução, um espaço para discutir os be-nefícios das tecnologias”, argumenta.

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24 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

RoTEIRo dE VISITa

As soluções tecnológicas que poderão ser conferidas no CIT mostram o caminho dos produtos desde a indústria até o consumidor final. Para cada situação, há um padrão global GS1 para auxiliar as organizações e as pessoas. Confira:

Eficiência no atendimentoO código de barras identifica os produtos, facilitando as operações nas lojas com um atendimento mais rápido

AutenticidadeO GS1 DataMatrix garante a procedência de medicamentos e evita a falsificação ao longo da cadeia de suprimentos

SaudabilidadeO GS1 DataBar informa a data de validade dos alimentos, perecíveis e itens de pesos variáveis, além de informações que permitem a rastreabilidade, como o número de lote

LazerO EPC/RFID agiliza as operações desde a fabricação do produto, passando pelo controle de estoque até facilidades na operação de loja, proporcionando, principalmente, uma experiência de compra diferenciada para o consumidor

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SEJa BEm-VINdo!

CEnTro dE InoVAção E TECnoLoGIA dA GS1 BrASIL

Endereço: rua Henrique Monteiro, 79 – Pinheiros – São Paulo – SP Visitas: a partir de junho, às segundas e sextas-feiras, com agendamentoHorários: às 10h e às 14hPúblico: aberto para profissionais, estudantes, entidades e órgãos governamentaisContato: [email protected]

“Vamos propor novas tecnologias e formas

de relacionamento com o consumidor e

entre as empresas”Roberto matsubayashi, da

GS1 Brasil

A codificação e a rastreabilidade ainda são desafios para muitas empresas. “O CIT servirá como exemplo de que a tecnologia pode ser aplicada e que existem empresas no mercado especializadas em todas as etapas desse processo”, avalia o ge-rente de vendas da Flexlink Systems, Roberto Prikladnicki. “Além disso, o centro poderá demonstrar que o valor do uso da tecnologia em codi-ficação, no longo prazo, é um investi-mento com elevado retorno.”

Segundo a gerente de marketing da CCRR Participações, Patricia Lombardi, a sede da GS1 é o local mais adequado para a montagem de um centro de inovação e tecno-logia. “O desenvolvimento e a dis-seminação das tecnologias de iden-tificação, a começar pelo código de barras, e, atualmente, com as mais recentes, sempre contaram com o envolvimento e a coordenação da GS1”, conclui. “A colaboração para

o mercado”, diz, “acontecerá a partir do momento em que o CIT for com-preendido como um importante showroom de tecnologias, no qual os vários agentes da cadeia de supri-mentos poderão vê-las em operação e constatar, na prática, os benefícios que proporcionam”.

No novo espaço, os associados da GS1 terão a oportunidade de ver a aplicação dos padrões por meio de soluções de última geração e, assim, entender o valor agregado do uso das tecnologias com maior facilidade. “O CIT será muito re-levante para que a GS1 atinja os objetivos de disseminar os padrões de identificação e codificação para a cadeia de suprimentos”, projeta o gerente de operações da Seal Telecom, Renato Segovia.

Quebrar os tabus que ainda existem em relação ao uso da au-tomação, desde uma simples apli-cação de código de barras, passando

por utilização de RFID e chegando aos controles por comando de voz. É assim que o gerente comercial da Cassioli Brasil, Marcos Antonio Costa, resume a colaboração do CIT para o mercado. “Acreditamos que, por meio da GS1, conseguiremos conscientizar as empresas sobre os benefícios da automação.”

“Iniciamos o projeto com entu-siasmo. A exibição de produtos e so-luções, além do respaldo dos forne-cedores, facilitará a comunicação e a divulgação de novas tecnologias”, aposta o gerente comercial da área de codificação da Sunnyvale, Wagner Gennari de Aguiar. Segundo ele, a integração dos processos que poderá ser vista no CIT é muito interes-sante, pois proporcionará uma visão holística aos visitantes, muitos deles gestores e formadores de opinião.

O CIT conta ainda com outrasempresas colaboradoras: Intermec, Datalogic, MZA, PwC, Toledo e Siris.

Page 26: Brasil em Código - 12ª edição

Por Giseli Cabrini

Ditar tendências e quebrar tabus são atribuições da indústria da moda. Diante disso, as passarelas começam a abrir espaço para um novo segmento: o das pessoas com deficiência. Em fevereiro deste ano, pela primeira vez, as passarelas da Semana de Moda de Nova York (NYFW) receberam uma modelo cadeirante. Danielle Sheypuk ganhou os holofotes ao integrar o desfile da estilista Carrie Hammer. O diretor criativo da Diesel, Nicola Formichetti, escalou para o casting a blogueira e modelo norte-americana Jillian Mercado, que também é cadeirante.

No Brasil, também ganha espaço a moda inclusiva, que propõe inserir tipos de corpos que a indústria atual não contempla com algumas funcionalidades para facilitar o cotidiano da pessoa com deficiência.

Oficialmente, tudo começou com a criação, em 2008, da Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência (SEDPCD-SP), que instituiu a missão de garantir o acesso dessas pessoas no Estado de São Paulo “a todos bens, produtos e serviços existentes na sociedade”, como consta na Lei Complementar 1.038, de 6 de março de 2008. Sob a coordenação da

Negócios MODA INCLUSIVA

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Cada vez mais ativos e com maior demanda por produtos e serviços, pessoas com deficiência formam nicho promissor para estilistas e varejistas

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Além dos limites dapassarela

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secretaria, surgiu, em 2009, o 1º Concurso de Moda Inclusiva, que atualmente está em sua sexta edição com desfile final previsto para agosto, na capital paulista. Os 20 melhores trabalhos inscritos serão apoiados com tecido da Vicunha Têxtil para a confecção das roupas e as três melhores colocações serão premiadas.

“Os concursos estimularam jovens designers a exercer a criatividade num campo inédito, instigante e necessário. Muitos passaram a defender teses nas universidades a respeito, a especiali-zar-se no assunto e, dessa forma, co-meçaram a fomentar essa temática no mercado”, afirma a coordenadora do concurso, Daniela Auler.

Outra ação para estimular esse seg-mento é o Fórum Internacional de Moda Inclusiva e Sustentabilidade, criado em 2012, cujo objetivo é reunir especialistas, empresários, estilistas, professores e estudantes de escolas brasileiras e estrangeiras de design e de diversas áreas para discutir tendências, debater novas ideias e trocar experi-ências no âmbito da moda inclusiva e mercado têxtil.

MAgAzINES“O desenvolvimento do mercado

ainda está num processo lento, mas para um segmento que há alguns anos não existia, é uma conquista já contar com algumas marcas direcionadas para esse público. Mas é só o começo. Nosso objetivo é que a moda inclusiva seja encontrada no mercado como um todo, tanto em lojas especializadas quanto em magazines”, diz Daniela.

E é, justamente, ver suas peças con-feccionadas para pessoas com deficiên-cias expostas em grandes magazines do

País, o sonho de Leny Pereira, professo-ra de tecnologia em gestão de moda do SENAI Cianorte (PR) e pesquisadora na área de moda inclusiva desde 2006.

As roupas, confeccionadas com re-cursos próprios, são variadas e incluem desde peças casuais até ternos e vesti-dos de noiva. Ela estima ter feito mais de cem modelos. “Já fiz alguns conta-tos com confecções da minha região. gostaria muito de ver minhas peças em grandes redes varejistas, em provadores adaptados e a preços acessíveis. Isso é possível, pois o que encarece não é a execução, mas a pesquisa de modela-gem, afinal, no Brasil, não há um bió-tipo padrão. Há um grande nicho a ser explorado. Essas pessoas representam uma parcela expressiva da sociedade e já fazem parte do mercado de trabalho.”

De acordo com o censo demográfi-co de 2010, feito pelo Instituto Brasi-leiro de geografia e Estatística (IBgE), 45,6 milhões de brasileiros declararam possuir pelo menos uma das deficiên-cias investigadas na pesquisa: mental, motora, visual e auditiva, o que repre-senta 23,9% da população.

Segundo o estilista e pesquisador so-bre moda para pessoas com deficiência visual, geraldo Lima, o fato de esse pú-blico participar da população economi-camente ativa colabora para diminuir o preconceito e fomentar a expansão da moda inclusiva. Ele desenvolve um trabalho na área acadêmica, na qual a relação dos deficientes visuais com a moda é o foco principal de suas pes-quisas. Recentemente, abriu o espaço chamado Casa 3, que, em março, ini-ciou a primeira turma do curso “Com que roupa eu vou? Sentir e vestir a moda” para deficientes visuais.

BELEzA COM INDEPENDêNCIAFundada em junho de 2013 pela

fisioterapeuta Dariene Rodrigues e localizada em Sorocaba (SP), a Lado B: Moda Inclusiva e Sustentável é uma microempresa voltada para a confecção e comercialização de roupas promovendo soluções que facilitem o cotidiano das pessoas com deficiência e ou mobilidade reduzida, principalmente para as que fazem uso de cadeira de rodas e prótese de membros inferiores. A empresa foi uma das premiadas do 5° Concurso de Moda Inclusiva, da SEDPCD-SP.

Com investimento inicial de aproximadamente R$ 40 mil, o carro- -chefe de vendas são calças e bermudas masculinas com abertura na região frontal e nas laterais, fechamento em velcro, além de outras funcionalida-des. A empresa já começou a desen-volver calças e bermudas para o público feminino adulto e também para o infantil. “Atualmente, confeccionamos as peças de forma artesanal, ou seja, o cliente pode escolher o tecido, cor da lavagem, tipos de aberturas e opção por bolsos. A criação e desenvolvimento das peças demandam um tempo maior comparado ao das tradicionais, pois temos que levar em consideração a ergonomia, design, conforto, tendências, qualidade, além de beleza e independência”, diz Dariene.

Geraldo Lima, estilista e pesquisador Relação dos deficientes visuais com a moda é o foco de suas pesquisas

Produção artesanalA marca Lado B cria peças para facilitar o cotidiano de pessoas

com deficiência ou mobilidade reduzida

Page 28: Brasil em Código - 12ª edição

A empresa possui cerca de 60 clientes de várias regiões do País, principalmente Sudeste e Sul. “Num primeiro momento optamos por comercializar as peças em uma loja virtual para poder atender pessoas de todo o Brasil. A propaganda boca a boca é muito importante, já que os clientes acabam trocando experiências e, consequentemente, divulgam a nos-sa marca.” A média de faturamento men-sal é de, aproximadamente, R$ 4 mil. “Nosso próximo objetivo é lançar a primeira loja física de moda inclusiva do Brasil, formatando um padrão de estabelecimento diferenciado, desde a estrutura arquitetônica, variedade na oferta de peças adaptadas até na forma de atendimento. Também esperamos conseguir parcerias com redes de lojas para levar esse novo conceito de moda”, afirma a microempresária.

Segundo Dariene, a inclusão total depende de um conjunto de ações que permita às pessoas com deficiência se sentirem, de fato, integradas à sociedade. “Isso significa dar a possibilidade para que elas façam suas opções, entre elas a escolha de suas roupas. A moda é a nossa embalagem, o modo como nos

apresentamos ao mundo. Por isso, deve ser democratizada e humanizada.”

Outra iniciativa que caminha nesse sentido é das Lojas Renner, que, em fevereiro, anunciou a implantação de uma solução em seu site de e-commerce que substitui o mouse e o teclado por meio do sistema hands-free (mãos livres) de rastreamento de movimento, do autoclique, do escaneamento automático de links, além de outros recursos. Para aqueles com dificuldades de leitura devido a limitações de alfabetização, dislexia ou deficiência visual moderada, o dispositivo utiliza uma ferramenta que lê o conteúdo da web e, também, conta com um sistema de reconhecimento de voz. Segundo a empresa, a solução também pode ajudar pessoas com deficiência motora decorrente de condições como paralisia, distrofia muscular, Parkinson, artrite/artrose, esclerose múltipla e limitações relacionadas à idade.

Essas iniciativas sinalizam que, embora a moda inclusiva ainda esteja alinhavando seu espaço na indústria da moda, os holofotes, de fato, já começam a se voltar para as pessoas com deficiência.

NEGÓCIOS

AtendeR Bem A todos

Mara gabrilli é publicitária, psicóloga e deputada federal (PSDB-SP). Sofreu um acidente de carro que a deixou tetraplégica. Desde então, tem se dedicado a melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência. Fundou, em 1997, o Instituto Mara gabrilli, que apoia atletas com deficiência, fomenta pesquisas

científicas e projetos culturais. Ela foi a primeira titular da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (2005-2007) da cidade de São Paulo. Confira a seguir, seu depoimento exclusivo à Brasil em Código.

“Hoje, a pessoa com deficiência, além de brigar por seus direitos, quer escolher, entre outras coisas, o que vestir. E cada um demanda um serviço e atendimento específico. O que fará essa pessoa tornar-se cliente de um lugar é o cuidado que o estabelecimento tem com relação à acessibilidade. Sou uma consumidora cadeirante, então, ao buscar roupas, preciso de provadores espaçosos, rampas na entrada da loja e atendentes que estejam preparados para as minhas necessidades.

Independentemente da deficiência, essas pessoas têm o seu senso estético, que também deve ser respeitado. Esse é o grande desafio da moda inclusiva: criar um mercado que atenda à diversidade humana, e não apenas um determinado segmento. Atender bem é atender a todos.”

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direito de escolhaPessoas com deficiência estão

mais ativas e buscam opções para se vestir

28 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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Por Mariana Izidoro

O sucesso tem receita? Para os Mercadinhos São Luiz, rede cearense de supermercados com dez lojas na capital Fortaleza, duas no interior e uma loja on-line, existe fórmula sim. Dentre os ingredientes, estão a oferta de grande variedade de produtos (são mais de 15 mil por loja), o atendimento atencioso e as unidades desenhadas para facilitar a praticidade das compras.

Como toda boa receita, há o toque especial que transforma o comum em único. Nesse caso, o que fez essa massa crescer é a valorização da felici-dade das pessoas – de clientes a funcionários. O “cozinheiro” que criou a marca tem nome: João Melo. Na década de 1970, ele herdou a Casa São

Luiz de seu pai e transformou a então pequena loja de atacado em um mercadinho, que foi crescendo até se tornar uma rede de lojas famosa pelo atendimento diferenciado, que faturou R$ 400 milhões em 2013.

Nas palavras de funcionários, fornecedores e clientes, João Melo pode ser descrito como um homem que ensinava com seus exemplos e fazia de tudo para vê-los felizes. “Para você ter ideia, em 1975, quando fui trabalhar na empresa, vi João Melo empacotando mercadoria. E quando o consumidor não tinha transporte, ele levava as compras para a casa do cliente”, conta o gerente da primeira loja da rede, Mazinho, em depoimento

Há 40 anos, os Mercadinhos São Luiz apostam na felicidade, no bom atendimento e no mix único de produtos para conquistar a clientela e manter vivo o legado do fundador da rede

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PERFIL EMPREENDEDORISMO

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30 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Receita de fidelidade

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de vídeo gravado em homenagem ao fundador, que faleceu em 2008.

O mix de produtos é único. “A proposta é simples: se o produto ‘falar bem’ com o nosso consumidor, fazemos de tudo para trazê-lo para nossas lojas”, conta o presidente dos Mercadinhos São Luiz e sobrinho de João Melo, Severino Ramalho Neto. Assim, existem produtos que só são possíveis de encontrar nas gôndolas da rede. Além de importados, como vinhos e azeites, produtos locais são um diferencial. O brownie produzido pela Empório Brownie – confeitaria de sucesso em Fortaleza – é um exemplo, assim como os molhos Vignoli, feitos por uma das mais conceituadas pizzarias da cidade. Produtos que fazem a linha saudável, opções para quem gosta de culinária e alimentos prontos também têm forte apelo de vendas.

“A qualidade dos produtos e das lojas é mais do que um desejo: é uma

necessidade”, avalia Neto. A maior parte dos clientes (70%) é das classes A e B e 60% da clientela têm nível superior de escolaridade. Mais do que os indica-dores socioeconômicos, o presidente da rede diz que o comportamento do consumidor é a principal métrica de avaliação. “Percebemos também que o nosso cliente busca praticidade e agilidade”, afirma.

Todos esses fatores juntos resultam em um alto índice de fidelização. “Os clientes encaram o supermercado como uma espécie de dispensa da sua casa: cerca de 70% vão às nossas lojas mais de uma vez por semana”, diz o presidente. A fidelidade do público aparece como mote das propagandas da rede, cujo slogan é “me acostumei com você”.

Além das dez lojas em Fortaleza, os Mercadinhos São Luiz estão em Juazeiro do Norte e Crato, no interior do Ceará. A loja on-line atende so-mente a região da capital para entrega dos pedidos. A inauguração de duas novas unidades em Fortaleza está nos planos para 2014, além da reforma de outros estabelecimentos. Apesar de a maioria dos mercadinhos ser localizada em bairros residenciais, dois deles estão em shoppings e outro tem uma característica de “veraneio”, pois fica em uma das saídas para o litoral leste.

A rede de supermercados aposta em um desenho-padrão para a organi-zação dos espaços. “O nosso principal objetivo é que o cliente reconheça fa-cilmente a localização dos produtos, sem que precise ficar girando muito na loja à procura das mercadorias”, afirma o presidente da rede. Quem entra no São Luiz sabe que, geralmente, o se-tor de hortifrúti vai estar na entrada da loja, ao lado direito do salão. Enquanto isso, a adega fica ao lado esquerdo.

Apesar do cenário exigente do vare-jo, com muitas metas a serem cum-pridas pelas equipes, os Mercadinhos São Luiz procuram manter a essência e a simplicidade, legados do fundador.

A companhia aparece em 2011, 2012 e 2013 na lista das melhores empresas para se trabalhar (Great Place To Work) no Brasil.

O que começou no dia a dia, com o jeito de João Melo tratar as pessoas e oferecer produtos de qualidade para os clientes, hoje é parte da missão e dos valores da empresa, organizados após a morte do fundador. “Nós trabalhamos para que essa essência esteja sempre viva. Como o tio João nos ensinou: ‘Só se trata bem o cliente quando o fun-cionário está bem’”, diz Neto. São 1,6 mil funcionários. Do empregado para o cliente, não há fórmulas predetermi-nadas de atendimento (os chamados scripts), e os funcionários são encora-jados a atender de forma natural e con-dizente com a sua personalidade, mas sempre com atenção à necessidade do consumidor.

Como parte desse trabalho de manter os exemplos do fundador vivos no dia a dia da empresa, em 2013, no aniversário de 40 anos dos Mercadinhos São Luiz, foi inaugurado o Espaço João Melo. Vídeos de depoimentos de funcionários, forne-cedores e, claro, clientes, lembram a personalidade da figura que criou o padrão de bom atendimento e qualidade perseguidos pelos Mercadinhos São Luiz até hoje.

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AtendimentoManter consumidores e funcionários felizes faz parte da cultura da empresa

Severino Ramalho Neto, presidenteCerca de 70% dos clientes vão às lojas mais de uma vez por semana

João Melo, fundadorLegado de bom atendimento

e simplicidade continua em prática até hoje

Page 32: Brasil em Código - 12ª edição

FINANÇAS INVESTIMENTO

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Aliado ouinimigo?

O sucesso pode matar. Parece paradoxal, mas é o que acontece com muitas empresas. A loja está sempre cheia, a linha de montagem não para e a carteira de pedidos vai muito bem, obrigado, mas o empresário patina, às vezes se afundando em dívidas. O que aconteceu? Em muitos casos, um estrangulamento financeiro por um dos mais comuns equívocos empresariais: a má gestão do capital de giro.

“Em geral, quando o faturamento é alto, a empresa cria a ilusão de que tudo está indo bem. O fato de entrar muito dinheiro não significa que está sobrando muito dinheiro”, alerta o consultor da KaminskiAvalca Consultoria Empresarial, Renan Kaminski.

Em uma definição muito simples, o capital de giro é o dinheiro reservado para fazer o negócio funcionar, isso é, para bancar as necessidades da empresa depois de feitos os investimentos nos ativos fixos (a sede da empresa, a compra de equipamentos, entre outros).

Ele é afetado por três fatores: como a empresa compra; como vende; e como gerencia os estoques. A essas variáveis, acrescente uma pesada carga

tributária, encargos trabalhistas e uma oferta de crédito escassa, de curto prazo e cara.

Por esses motivos, seu controle financeiro é mais difícil do que aparenta no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, a preocupação não é tão grande, porque há crédito abundante e barato. Por aqui, grandes empresas até vendem ações na bolsa de valores para levantar capital de giro.

Campo minado A gestão do capital de giro parece cristalina em

princípio: a empresa tem contas a pagar nos dias 5, 10 e 15, e a receber nos dias 20, 25 e 30. Basta colocar os números na planilha financeira e programar o fluxo de caixa, antecipando as necessidades diárias de recursos, correto? Em um mundo ideal, sim.

Mas na vida real é fácil perder o controle do ciclo financeiro – o período entre os recebimentos e paga-mentos –, pois surgem problemas que, muitas vezes, o empresário percebe somente na primeira crise ou temporada de “vacas magras”. Um exemplo é a fal-ta de uma definição clara de política de crédito. Seu vendedor sabe o prazo que pode conceder aos clien-tes sem comprometer o caixa da empresa?

32 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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Page 33: Brasil em Código - 12ª edição

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jan/fev/mar 2013 15

Administrar o capital de giro é fundamental para que ele não se torne o vilão da gestão financeira

O capital de giro é afetado por três

fatores: como a empresa compra,

vende e gerencia os estoques

Por Epaminondas Neto

[ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2014 33

Outro ponto importante: quais são as chances de inadimplência? Poucos sabem ou se preocu-pam em dimensionar esse risco. A preocupação em vender sobrepõe a de receber, o que provoca consequências drásticas lá na frente: problemas de caixa e o sumiço do lucro.

“A empresa vende mal e recebe mal. Daí aumenta a necessidade de capital de giro, mas falta dinheiro no caixa e ela precisa buscar nos bancos. Essa é a regra geral”, comenta o professor da Trevisan Escola de Negócios, Armando de Santi Filho.

negóCios de oCasiãoOutros obstáculos surgem porque as

dores do crescimento não são dimensionadas apropriadamente pelo empreendedor. Muitos esquecem ou ignoram que, quando aumentam as vendas, os custos tendem a subir junto.

“O empresário tem de saber como vender e conhecer seus custos para obtenção de resultados. Quando ele não sabe calcular os custos dos serviços e dos produtos, não tem resultado. Logo, não tem capital de giro”, pondera o sócio-diretor da Massi Consultoria e Treinamento, Marcos Assi.

Qual o outro lugar em que esses percalços são mais visíveis? Na gestão dos estoques. Segundo o professor do Departamento de Administração da FEA-Ribeirão Preto (USP), Alberto Borges Matias, a maioria das empresas mantém estoques “normal-mente elevados para que não haja falta de produtos, mas há excesso de perdas por prazo e roubos”.

“Outro problema é que os estoques são de baixa qualidade. Algumas empresas têm altos estoques de insumos e peças que não utilizam mais ou com um giro muito baixo”, alerta o consultor do Instituto Áquila, Adriano Campos.

Page 34: Brasil em Código - 12ª edição

16 jan/fev/mar 2013 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

fINANçAS

Os 4 errOs mais cOmuns nO cOntrOle dO capital de girO

- Descuidar do planejamento financeiro A separação entre o “contas a pagar” e o “contas a receber” é parte do cotidiano das empresas. Porém, aumenta o risco de perder o controle sobre o fluxo de caixa. O gestor que compra para pagar em 60 dias e vende para receber em 120 dias, em geral, tem um problema de caixa, porque o ciclo financeiro é grande demais. “Se você está financiando o seu cliente, precisa ter caixa para isso”, assinala o consultor Marcos Assi.

- Esquecer da acumulação de reservasEsse é um problema recorrente nas companhias em fase de crescimento rápido ou empresas pequenas. O empresário gasta o recurso que sobra, em vez de separá-lo para montar o capital de reserva – que será usado para financiar as despesas em dias de baixo faturamento.

- Criar dependência dos bancosUma situação comum: o empresário vende hoje e, no dia seguinte, já antecipa o recebível no banco, porque depende do crédito para bancar o capital de giro necessário para manter as atividades da empresa.

- Travar o capital reservado para o giroSem perceber, o gestor pode consumir o dinheiro reservado para financiar as operações diárias de seu negócio. Como? Imobilizando o capital por meio de um grande investimento em ativos fixos, às vezes, desnecessários. “O empresário brasileiro tem a mania da sede administrativa própria, do equipamento próprio, quando isso não é o foco do negócio dele, quando ele não precisa disso”, diz o professor Alberto Borges Matias, da FEA-Ribeirão Preto (USP).

34 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Mas estoque é dinheiro parado, que pode comer seu capital de giro. Problemas dessa natureza ocorrem com frequência por um motivo sim-ples: em um mundo de margens de ganho apertadas, parece irresistível ao empreendedor aproveitar um desconto oferecido pelo fornecedor para adquirir um “pouquinho” a mais de mercadorias.

“O empresário não deve se em-polgar com negócios de ocasião, tanto na compra quanto na venda. Muitas empresas sobrevivem sem lucro, mas não sem caixa”, aconselha o professor de planejamento e controle da FIAP, Clayton Nogueira.

emprestar ou poupar?Uma companhia pode financiar suas

necessidades de capital de giro por meio de recursos próprios ou de terceiros. Não existe uma resposta pronta para definir qual o equilíbrio perfeito entre um e outro.

Usar 100% de capital próprio para fi-nanciar as operações, em tese, é o ideal, mas também pode ser um limitante para o crescimento do negócio. E recor-rer aos empréstimos bancários implica em suportar as altas taxas de juros pra-ticadas no Brasil.

Especialistas recomendam que o gestor sempre mantenha seus ativos circulantes (aqueles que podem ser

convertidos em dinheiro num prazo inferior a um ano) acima de seus passivos circulantes (compromissos que vencem em período inferior a um ano). Essa prática significa manter reservas para imprevistos, evitando apelar para as linhas caras e de curto prazo dos bancos. “Cada empresa tem uma realidade. Uma dica é que ela sempre tenha de quatro a cinco meses de suas despesas fixas como reserva”, afirma Renan Kaminski.

O empréstimo bancário deve ser otimizado: trata-se de um recurso pre-ferencialmente usado para as opera-ções que vão acelerar o crescimento da empresa.

Page 35: Brasil em Código - 12ª edição

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jan/fev/mar 2013 17[ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2014 39

Page 36: Brasil em Código - 12ª edição

Por Helder Profeta

Estudo revela as diferentes preferências, poder de

consumo e prioridades de mais da metade da

população brasileira

Até bem pouco tempo atrás, dividir as camadas sociais do Brasil era uma ta-refa bem simples. Numa representação gráfica, bastava desenhar um triângulo e colocar a população de baixa renda na base, a classe média no meio e a alta no topo. Mas o crescimento do País nos últimos anos se encarregou de mudar o perfil do desenho, transformando-o em um losango. Ou seja, muita gente con-seguiu mais renda e ascendeu de classe.

O grande destaque foi o surgimento da chamada nova classe média, que passou de 38% da população, em 2003, para 54%, em 2013. Atualmente, esse grupo contabiliza 108 milhões de pessoas, que gastaram R$ 1,17 trilhão e movimentaram 58% do crédito nacional no ano passado, segundo dados do Data Popular e da Serasa Experian. Para 2014, estima-se que o consumo será de 8,5 milhões de viagens nacionais, 6,7 milhões de aparelhos de TV, 4,8 milhões de geladeiras e 4,5 milhões de tablets. Em 2023, a previsão é de 125 milhões de pessoas na classe média, o que representará 58% da população brasileira. Todos

esses números comprovam porque esse grupo tornou-se o grande público--alvo da indústria e do varejo.

Atentas a essa mudança estrutural da população brasileira, o Data Popular e a Serasa Experian realizaram o estudo “Faces da Classe Média”, cujos resultados foram divulgados no início deste ano. De acordo com o gerente de projetos do Data Popular, Márcio Falcão, foi utilizada uma base de dados com mais de 400 variáveis com informações geográficas, demográficas, creditícias e comportamentais. O mate-rial foi compilado e analisado sob três óticas: família e trabalho, visão do mundo e consumo.

A pesquisa revela que é errôneo pressupor que mais da metade da po-pulação tenha praticamente os mes-mos gostos, poder de consumo ou prioridades. Ou seja, a classe média não é um grupo homogêneo. Assim, a análise não contempla apenas a ren-da, mas a percepção do que satisfaz as pessoas, as oportunidades almejadas, entre outros aspectos. Com base nessa abordagem mais qualitativa, as insti-

tuições segmentaram a classe média em quatro grupos: promissores, batalha-dores, empreendedores e experientes.

Os promissores formam a camada mais jovem da classe média, que re-cebe muita influência das inovações tecnológicas. Quase todos são soltei-ros, de comportamento extremamente consumista, tanto que mais da meta-de já teve problemas com dívidas ou situações de aperto financeiro. Esses jovens, bem escolarizados, enxergam a vida como um aglomerado de opor-tunidades que devem ser exploradas pela nova facilidade de acesso ao cré-dito. Eles estão focados em obter cres-cimento profissional, conquistar status e se estabilizarem, comprando e deco-rando imóveis.

Já na meia idade, estão os batalha-dores e os empreendedores. Os batalhadores são o maior grupo dessa nova segmentação da classe média, tanto em número quanto em poder de compra. São aquelas pessoas que receberam o maior impacto com o crescimento do País, aproveitando o aumento de demanda de emprego.

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36 abr/mai/jun 2014 [ BRasiL eM CÓDiGO ]

Page 37: Brasil em Código - 12ª edição

Conheça os novos perfis da classe média e sua presença nas regiões do Brasil

[ BRasiL eM CÓDiGO ] abr/mai/jun 2014 37

Porém, quase metade deles possui so-mente o ensino fundamental completo. Por isso, existe um apego muito forte ao trabalho e a percepção de que é vital correr atrás de qualificação para ter estabilidade. Atualmente, o que encanta esse grupo é a possibilidade de viver experiências até então inviáveis, como, por exemplo, a compra de eletroeletrônicos e as viagens de avião para destinos nacionais.

Os empreendedores são detentores da maior renda per capita para consu-mo. Isso possibilita facilmente a compra de produtos de alta tecnologia, viagens internacionais, decoração do lar e inves-timento em educação. Aliás, o motivo

dessa melhor posição financeira indi-vidual está relacionado diretamente ao fato de que mais da metade deles está cursando o ensino médio ou possui edu-cação superior. Com um comportamen-to que privilegia a liberdade, acreditam que o trabalho não pode ser apenas uma obrigação, mas deve também proporcio-nar prazer e satisfação.

Os experientes formam o segundo maior grupo da classe média atualmente. O acesso e a interação com a tecnologia ainda é baixo para esse grupo, que possui pouca formação escolar – quase um terço não tem instrução. Boa parte viúvos e aposentados, eles enfrentam preconceito dos mais jovens, estão mais

propensos a ter depressão e gastam mais com serviços de saúde. Não obstante, também procuram uma vida ativa, mantendo-se no mercado de trabalho e aproveitando-se do aumento da ex-pectativa de vida. Estão praticamente empatados no poder de consumo com os empreendedores e também querem viajar de avião pelo Brasil, comprar eletroeletrônicos ou decorar a casa.

“O reconhecimento da existência desses grupos é importante no sentido de que as empresas podem desenvolver as estratégias de seus produtos e serviços em conformidade ao segmento a ser atingido”, argumenta Falcão, do Data Popular.

PROMISSORES- 14,7 milhões de pessoas- Consumo anual: R$ 230,8 milhões- Idade média: 22,2 anos- 95% são solteiros- 59% têm ensino médio- 72% acessam a internet

BATALHADORES- 30,3 milhões de pessoas- Consumo anual: R$ 388,9 bilhões- Idade média: 40,4 anos- 72% são solteiros- 48% têm ensino fundamental- 41% acessam a internet

EMPREENDEDORES- 11,6 milhões de pessoas- Consumo anual: R$ 276 bilhões- Idade média: 43 anos- 19% possuem ensino superior- 43% têm carteira assinada- 60% acessam a internet

EXPERIENTES- 20,5 milhões de pessoas- Consumo anual: R$ 274 bilhões- Idade média: 65,8 anos- 59% têm ensino fundamental- 31% não possuem instrução- 36% são autônomos- 7% acessam a internet

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Por Claudia Manzzano

Atuar em mercados estrangeiros é um desafio para micro e pequenas empresas. Confira como buscar apoio e capacitação para colocar seu produto no cenário internacional

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GESTÃO EXPORTAÇÃO

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Passaporte carimbado

38 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Page 39: Brasil em Código - 12ª edição

As micro e pequenas empresas (MPEs) repre-sentam mais de 99% das companhias brasileiras. Mas quando se trata de exportação, o valor movimentado por elas não passa de 0,98%. As dificuldades de começar a atuar fora do Brasil são diversas, mas podem ser superadas com apoio de entidades e consultorias e também de capacitação.

“Existe grande dificuldade administrativa, trâmite aduaneiro burocrático e é preciso ter mão de obra para fazer o processo de exportação”, afirma o diretor do departamento de ampliação de mercado da Secretaria da Micro e Pequena Empresa do Governo Federal, Gustavo de Paulo. Ele diz que a prospecção de mercado também é complicada para MPEs, pois é difícil localizar compradores estrangeiros.

Para o vice-presidente executivo da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), Fábio Martins Faria, a maior dificuldade é conhecer o mercado externo, embora acredite ser um obstáculo superável. “É bom estabelecer parcerias. Ir ao local e encontrar um distribuidor para facilitar a colocação do produto em outro país”, sugere.

De acordo com o especialista, da mesma forma que o empresário precisa fazer um planejamento para operar no mercado brasileiro, ele deve estru-turar suas ideias para atuar em outros locais. “Ainda que a empresa tenha um produto bem-sucedido no Brasil, isso não é garantia de sucesso no exterior.”

Antes de qualquer ação, é preciso definir os mercados-alvos. Hoje, com a internet, esse trabalho fica facilitado, mas não exclui visitas in loco. O próximo passo é verificar os hábitos culturais para definir, por exemplo, tipo de embalagem ou apresentação do produto. Por isso, fazer pequenas adaptações é parte do processo. Por exemplo, um grupo étnico das Filipinas só

reconhece quatro categorias de cores: preto, branco, verde e vermelho. Na cultura hindu e chinesa, o branco representa a morte.

Alguns casos também exigem certificações específicas, como alimentos e produtos que usam determinados componentes químicos. O ideal para o micro e pequeno empresário é buscar um mercado que não exija extrema adequação técnica. “O caminho seria participar de feiras internacionais e identificar possíveis parceiros ou representantes locais para distribuir seus produtos”, sugere o despachante aduaneiro e sócio do grupo Airsealog, Ricardo Garlope Barbosa.

A apresentação da empresa e do produto não são menos importantes que as questões burocráticas. Isso inclui cuidados com a imagem da mercadoria, informações técnicas e com orientações ao usuário. “A seriedade no mercado internacional é condição primordial para passar confiança e credibilidade quanto à sua capacidade de atendimento da demanda, qualidade, e, especialmente, condição de venda”, relata Barbosa.

O preço do seu produto no exterior também exige atenção. Lembrando que na exportação não há incidência dos mesmos impostos do mercado doméstico. É preciso saber todos os custos envolvidos até o produto chegar ao destino final: transporte, embalagens especiais, comissão do parceiro local, certificações ou taxas extras exigidas. É fundamental entender cada trâmite para a empresa não ser atropelada pelos procedimentos que desconhece e ser surpreendida pelos custos operacionais. O passo seguinte é fazer uma pesquisa na concorrência, para saber se o valor seria competitivo.

Vale lembrar que os preços são fixados em moeda estrangeira, o que exige precaução em relação à instabilidade da taxa de câmbio. Faria ressalta que

[ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2014 39

Do Brasil Para o munDo

Quem planeja exportar deve ficar atento a algo que facilita, inclusive, a entrada em determinados mercados e clientes estrangeiros: o código de barras. Ele identifica produtos e caixas, por exemplo, ao armazenar dados sobre a mercadoria como data de fabricação e lote. Mas é importante adotar uma codificação que siga um padrão mundial, de modo que as informações sobre o produto possam ser lidas por compradores de qualquer lugar do mundo, agilizando as operações e dando maior credibilidade ao fabricante. A GS1 é uma organização global que padroniza códigos de barras para diversas aplicações e pode ajudar as pequenas empresas nesse sentido.

Page 40: Brasil em Código - 12ª edição

Planeje a atuação Da sua emPresa no mercaDo internacional

- Defina quais países ou regiões pretende atuar. Conheça previamente o mercado e a concorrência - Conheça o público-alvo, seus hábitos e preferências- Analise parcerias com distribuidores locais, pois isso facilita a inserção do produto no mercado estrangeiro- Leve em consideração que será necessário fazer adaptações, como, por exemplo, tamanho e cor, e obter certificações específicas dependendo do tipo de mercadoria- Faça um estudo para verificar se o seu produto é competitivo e se a embalagem é compatível com as necessidades dos clientes- Busque um diferencial associado à cultura brasileira, que é bem aceita internacionalmente – como apelo ecológico ou cultural - Faça a composição de preço adequada, considerando que será em moeda estrangeira- Tenha domínio do inglês ou do idioma do país para o qual pretende exportar- Adapte a mensagem dos materiais de divulgação, considerando o idioma, a cultura e os costumes locais

40 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

[[GESTÃO

existem produtos financeiros, chamados de hedge cambial, por meio dos quais as empresas podem se garantir nesse aspecto. Um exemplo é vender dólares a futuro na bolsa de valores, com uma data de vencimento próxima àquela em que receberá os dólares efetivos de sua exportação. Com essa operação, o exportador fixa, antecipadamente, uma taxa de câmbio apropriada.

ApoioUma preocupação constante dos

pequenos empresários é com a necessi-dade de uma infraestrutura complexa – com muitos funcionários, capital de giro ou estoque – para comportar uma ope-ração de exportação. Mas essa não deve ser a principal preocupação, acreditam os especialistas. Grandes estoques, por exemplo, são necessários em casos espe-cíficos. “Se forem mercadorias de con-sumo de massa, normalmente, o cliente vai querer volumes mais elevados. Mas no caso de produtos para nicho, os lotes serão menores”, diz Faria.

O importante é ter uma pessoa res-ponsável para fazer as pesquisas sobre mercado-alvo, concorrência, preço, cultura local ou buscar apoio de insti-tuições que oferecem serviços focados

para MPE (programas de capacita-ção, missões internacionais, finan-ciamento), como a Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Inves-timentos (Apex-Brasil), o Ministé-rio do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), os Cor-reios, entre outros.

A Apex-Brasil apoia cerca de 13 mil empresas brasileiras de 81 setores da eco-nomia, que trabalham com produtos e serviços de médio e alto valor agregado. Desse total, 84% são micro, pequenas e médias empresas. Até outubro de 2013, as companhias apoiadas pela agência exportaram US$ 37 bilhões para 213 países, uma participação de 18,78% nas exportações brasileiras.

No ano passado, a entidade e o MDIC lançaram o site Gestão Empresarial Compe-titiva (http://gecompet.apexbrasil.com.br), a fim de auxiliar o pequeno empresário nos primeiros passos para a exportação e promover a capacitação por meio de apostilas, videoaulas e links para sites com conteúdo relevante. Outra inicia-tiva é Portal Brasileiro do Comércio Exterior, do MDIC (www.comexbra-sil.gov.br), que oferece informações sobre exportação, legislação, acordos, promoção comercial, estatísticas, en-

tre outros. Já a Vitrine do Exportador, (www.vitrinedoexportador.gov.br).é uma iniciativa do governo federal com o objetivo de divulgar na rede as empresas brasileiras e seus produtos no mercado internacional.

Segundo Gustavo de Paulo, da Secretaria da Micro e Pequena Empresa do Governo Federal, a Receita Federal, o MDIC e o Ministério de Relações Exteriores estão trabalhando em um projeto que concentre todo o processo de exportação em um mesmo portal. Outro projeto é o Portal Empresa Simples, já anunciado pela presidente Dilma Rousseff para ser lançado em junho de 2014, em que a ferramenta Praça Eletrônica de Negócio será um ponto de encontro entre compradores e fornecedores para comércio doméstico, comércio exterior e compras públicas. Este portal terá uma ferramenta de prospecção e os empresários brasileiros poderão divulgar seus produtos por lá.

SimpleS internAcionAlUma iniciativa que promete mudar a

vida dos micro e pequenos empresários

Page 41: Brasil em Código - 12ª edição

Em 2013, as exportações brasileiras chegaram a US$ 242,2

bilhões, segundo o MDIC. Para 2014, a aposta é de que os índices sigam o patamar do ano passado

sites recomenDaDos Para consulta

Apex-Brasil www.apexbrasil.com.brMinistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exteriorwww.mdic.gov.br/comercio-exterior‎Vitrine do Exportador www.vitrinedoexportador.gov.brPortal Brasileiro do Comércio Exterior www.comexbrasil.gov.brGestão Empresarial Competitiva http://gecompet.apexbrasil.com.brSEBRAE www.sebrae.com.brCorreios www.correios.com.brGS1 Brasil www.gs1br.org

[ BRASIL EM CÓDIGO ] jan/fev/mar 2014 31

exportadores é o Simples Internacional. O projeto de lei já passou pelas comissões do Congresso Nacional e, agora, espera a votação em plenário. Mas o governo está confiante em sua aprovação, tanto que já apresentou a proposta à Organização dos Estados Americanos (OEA) no ano passado. “A aprovação da OEA deve facilitar as tratativas para os acordos bilaterais”, conta Paulo.

Pelo projeto, MPEs de países de língua portuguesa e castelhana teriam uma tramitação mais simplificada para os processos de importação e exportação. Essa lei também facilitaria os critérios de MPEs exportadoras. Hoje, além do valor exportado, é levado em consideração o número de funcionários. Com o Simples Internacional, bastaria exportar no valor igual ou menor que R$ 3,6 milhões por ano. Trinta países de língua portuguesa e espanhola estão envolvidos na criação de um mercado

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Fórum mundial da GS1 mostrou que os esforços da indústria e do varejo estão concentrados em soluções para o cliente multicanal, que valoriza as experiências digitaisPor Kathlen Ramos

GLOBAL FORUMEVENTO

Todo ano em Bruxelas, na Bélgica, as organizações-membros da GS1 de todo o mundo se reúnem para alinhar a estratégia da entidade, trocar experiências, inspirar e fortalecer as equipes durante o Global Forum. Neste ano, o evento, realizado entre os dias 17 e 21 de fevereiro, reuniu repre-sentantes de 111 países para discutir os desafios e as oportunidades diante das novas demandas do mercado, com foco especial nas necessidades do consumidor final.

Uma equipe da GS1 Brasil esteve no evento para participar desse debate e também apresentar um pouco do trabalho que a entidade desenvolve em território nacional. O assessor de comunicação digital da GS1 Brasil, Kleber Pinto, contou que os esforços da indústria e do varejo para atender o cliente foram bastante discutidos. “Notamos que as relações deixaram de ser business to business (B2B) para serem business to business to consumer (B2B2C)”, disse. “Todas as soluções, até mesmo de transporte ou

logística, passam a ser pensadas para o consumidor, que tem o poder nas mãos e se torna o elemento mais importante da cadeia”, resumiu.

Já que o ponto central estava no consumidor, trazer soluções que atendam aos conceitos do omnichannel, com foco em estratégias digitais, também foi tema abordado durante o Global Forum. “Essa é a necessidade mais atual dos nossos associados e que nós traduzimos em padrões e soluções para melhorar a qualidade e as formas de acesso a dados confiáveis sobre produtos e empresas”, garantiu o assessor de inovação e alianças estratégicas da GS1 Brasil, Wilson Cruz.

O evento também foi marcante no sentido de mostrar a evolução dos padrões na área da saúde e varejo, conforme avaliou o assessor de soluções da GS1 Brasil, Marcelo Sá. “Um dos workshops abordou o Unique Device Identification (UDI) para o setor da saúde, abrindo as portas para aplicar o Sistema GS1.

Também teve destaque o workshop sobre o GS1 DataBar com foco em controle de validade de produtos, no qual a GS1 Macedônia conduziu um projeto-piloto desde o fabricante até o varejo”, acrescentou.

Contribuição A GS1 Brasil participou de dois mo-

mentos do evento expondo suas expe-riências de sucesso às outras unidades da organização. Kleber Pinto apresen-tou o tema “Estratégia de Comunicação Digital”, durante o encontro das equi-pes de marketing, explicando o traba-lho desenvolvido por aqui para disse-minar informações sobre os padrões.

Por meio de ações no Google, empresários interessados que usassem o buscador para encontrar informações sobre padrões, como o código de barras, encontrariam, em destaque, o hotsite www.solucoesgs1brasil.com.br..Esse

endereço, que traz dados sobre os padrões mais utilizados atualmente pelas empresas, fez com que o tema se tornasse bastante didático para qualquer

De olho noconsumidor

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42 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Page 43: Brasil em Código - 12ª edição

Equipe brasileira Da esq. para a dir.: Felipe Ayuso, Kleber Pinto, Marcelo Sá,Nora Kaci, da GS1 Global, Virgínia Vaamonde e Wilson Cruz

interessado. “Por meio de links patrocinados no Google, conseguimos fazer com que associados e interessados tivessem suas dúvidas respondidas da maneira mais simples possível, deixando esse assunto que parece ser tão complexo, bastante simplificado”, contou Kleber Pinto. Por exemplo: uma pequena empresa que precisa usar padrões para crescer e fornecer produtos para grandes companhias tem, nesse canal, informações suficientes para saber como adotá-los e as suas vantagens. “Conseguimos auxiliar mais empresas após a realização desse trabalho”, disse o assessor, acrescentando que as en-tidades dos Estados Unidos e Portugal se interessaram pelo case e pretendem adotar essa estratégia localmente.

A atuação da entidade brasileira também foi destaque no Workshop In Defense, encontro de um grupo de dis-cussão que compartilha informações e boas práticas entre as organizações--membros a respeito da implantação do Sistema GS1 no setor de defesa. “Apre-sentamos como identificar uniformes e acessórios dos militares com tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID) para melhorar o controle logís-tico”, explicou Wilson Cruz, responsá-vel pela palestra. Segundo ele, os bene-fícios dessa tecnologia são múltiplos: melhoria da performance na operação logística, principalmente em processos de recebimento, expedição, armazena-gem, movimentação e inventário; e re-dução de ruptura de estoque.

Saldo poSitivoDe acordo com o presidente da GS1 Brasil,

João Carlos de Oliveira, o Global Forum é uma excelente oportunidade para reforçar a missão da entidade como uma organiza-ção que atende aos anseios e às necessida-des da comunidade mundial de negócios. “Nossa orientação é, e sempre será, voltada para os usuários dos nossos padrões. As in-formações que trouxemos do fórum certa-mente serão adaptadas à nossa realidade e replicadas para o mercado brasileiro”, des-tacou o executivo.

A troca de experiências entre os países é fundamental para trazer diretrizes e solu-ções ainda mais benéficas aos associados, acredita a CEO da entidade no Brasil, Virgínia Villaescusa Vaamonde. “Traba-lhamos em interdependência com as ou-tras organizações-membros da GS1. Isso é muito positivo para nossos associados e para a comunidade brasileira de negócios como um todo. Em um mundo cada vez mais co-nectado, discutir o impacto dos padrões GS1 na digitalização do comércio, na susten-tabilidade dos negócios e na experiência do consumidor a partir de bons exem-plos de diversos países, só colabora para a GS1 Brasil oferecer serviços e soluções de maneira mais assertiva”, resumiu.

O administrador de rede da GS1 Brasil, Felipe Ayuso, afirmou que, para ele, o Global Forum foi uma experiência profis-sional única e enriquecedora. “Ter a opor-tunidade de conhecer pessoas de várias nacionalidades com um único propósito é muito positivo”, finalizou.

Debate produtivoEvento reúne equipes da GS1 de todo o mundo para a troca de experiências

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O cuidado do brasileiro com a beleza já tornou o País o terceiro mercado mundial de produtos de higiene pessoal e cosméticos

Por Patricia Lucena

Vaidade para uns, necessidade básica para outros e faturamento para muitos. O segmento de cosméticos e produtos de higiene está deixando de ocupar o espaço de supérfluo para se tornar item obrigatório nas compras dos brasileiros. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) mostram que, nos últimos 17 anos, o segmento cresceu, em média, 10% ao ano, passando de um faturamento de R$ 4,9 bilhões, em 1996, para R$ 34 bilhões, em 2012.

Atualmente, o Brasil ocupa a terceira po-sição no ranking mundial de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, perdendo apenas para Japão e Estados Unidos. Considerando os setores que compõem esse mercado, o País é o primeiro em perfumaria e desodorantes; o segundo em produtos para cabelos, itens mas-culinos, infantil, produtos para banho, depila-tórios e proteção solar; o terceiro na categoria de cosméticos e de higiene oral; e o quarto em produtos para pele.

Na avaliação do farmacêutico e especialis-ta em cosmetologia, Maurício Gaspari Pupo, o principal fator dessa aceleração é o aumento de renda da população, que passou a consumir produtos de maior valor agregado. No entanto, ele ressalta que o Brasil ainda está atendendo às primeiras necessidades da nova classe C. “Avan-çamos em relação ao crescimento em volume e em faturamento, mas nosso mercado ainda não

pode se igualar ao europeu, por exemplo. Isso porque a maioria da população ainda não utiliza itens mais elaborados.”

Mesmo assim, o consumo já co-meça a ficar mais diversificado e sofisticado. “Antigamente, as mulheres usavam batom e blush. Atualmente, falamos em primer, fi-nalizadores e dezenas de opções de cores e texturas de sombras”, analisa a diretora de marketing de produto de O Boticário, Isabella Wanderley.

Segundo a gerente de atendimento da Nielsen, Fernanda Gomes, com a ascensão da classe média, os desejos, as exigências e as inovações aumentaram significativa-mente. “A categoria de higiene e beleza passou a fazer parte das necessidades básicas do consumidor.”

Prova disso, ressalta, é que, mesmo endividado, o brasileiro está disposto a manter a boa aparência. “Desde o ano passado, a população está mais endividada em virtude do acesso ao crédito mais amplo e maior poder aquisitivo. O fato surpreendente é que, apesar de a maioria das categorias ter retraído em volume, a cesta de higiene e be-leza foi uma das únicas que registrou cresci-mento em 2013, aumentando 2,3% em volume e 3,5% em valor, ficando atrás apenas da lim-peza caseira”, diz.

MERCADO hIGIEnE E BELEzA

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Movidospela vaidade

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No Brasil, há 2.426 empresas atuando no mercado de produtos

de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos,

segundo a ABIHPECMaurício Pupo, especialistaEm 2017, o Brasil será o segundo maior mercado mundial do setor

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Patrícia do Amaral, da GS1 BrasilA padronização é uma ótima solução

para o segmento, pois otimiza os processos e reduz perdas

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O endividamento é preocupante neste ano desafiador para o mercado, com elei-ções e o mundial de futebol a caminho. O consumidor está mais racional, ressalta Fernanda. Com os gastos mais restritos e um número maior de informações dis-poníveis, ele passa a ser mais exigente, na avaliação da gerente de comunicação e sustentabilidade da Procter & Gamble (P&G) Brasil, Michele Colombo. “As pessoas estão mais ligadas na inovação e preocupadas com a qualidade, procuran-do produtos com maior valor agregado, mas que também representem um bom custo-benefício”, destaca.

Apesar do cenário positivo, um dos grandes entraves do setor, segundo Pupo, é a alta carga tributária. Somando os im-postos diretos e indiretos, há incidência de 70% a 80% de impostos sobre os pro-dutos brasileiros. “Marcas que no Brasil custam R$ 100, podem ser encontradas por € 9 lá fora (cerca de R$ 27). O que é isso? Carga tributária”, afirma Pupo.

Outro ponto de atenção é a execução dos processos de venda, ressalta. “Não adianta pensar somente no tipo de pro-duto, mas analisar local e preço certos. Isso será fundamental para o sucesso do setor em 2014”.

APOStASPara atrair os consumidores, a Gra-

nado decidiu contar a sua trajetória. “temos um acervo grande de fotos, móveis, objetos e produtos da história do Brasil, na qual a trajetória da Gra-nado se insere. Assim, trouxemos para nossa loja toda a decoração da época para mostrar a história da marca ao

consumidor. Fizemos isso também com o design dos produtos e as for-mulações originais, como o polvilho antisséptico e o sabonete de glicerina”, conta a diretora de marketing e vendas, Nazish Munchenbach.

Já a P&G aposta em opções inova-doras para os consumidores. “Primei-ro, pesquisamos profundamente os hábitos e desejos dos nossos clientes. Em seguida, investimos em tecnologia e inovação para criarmos produtos de alta qualidade. Depois, comunicamos de uma forma que faça sentido aos nos-sos consumidores”, destaca Michele.

A estratégia de O Boticário é ouvir e entender as necessidades dos consu-midores. “Nossa premissa é estabelecer vínculos permanentes, respeitando as diferenças, entendendo as expectativas e antecipando os desejos. Os brasileiros estão cada vez mais exigentes, pois têm acesso a muito mais informação”, afirma a diretora de marketing.

PADRONIzAçãO Em meio a esse crescimento vigoroso,

é fundamental que o segmento de higiene pessoal e cosméticos reforce a padronização de produtos e a comunicação entre fornecedor, empresa e consumidor. O código de barras, pre-sente em muitos itens dessa categoria, facilita a identificação das mercadorias desde o momento em que o produto é fabricado até o consumo. Assim, o item pode ser identificado em todo o caminho ao longo da cadeia de suprimentos. “Com identificação e padronização é possível fazer

a rastreabilidade dos itens. Com isso, a empresa pode oferecer ao consumidor uma maior segurança com relação ao que ele está comprando”, destaca a assessora de negócios da GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação, Patrícia do Amaral. A entidade estimula o uso de padrões de identificação e comunicação, além de soluções para aumentar a eficiência na cadeia de suprimentos, a exemplo do código de barras.

Nazish, da Granado, concorda e acredita que a padronização ajuda a todos os envolvidos. “O consumidor cria confiança naquilo que está comprando. A padronização garante que o item em questão tem qualidade, não é algo aleatório que ele está adquirindo. Já para os parceiros e distribuidores, ter um padrão facilita os processos e a comunicação.”

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16 jan/fev/mar 2013 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

MERCADO

FAtorES quE CoNtrIBuEM PArA A ExPANSão ACElErAdA do SEtor

- Acesso das classes D e E aos produtos de beleza e higiene pessoal- Novos integrantes da classe C passaram a consumir produtos com maior valor agregado- Participação crescente da mulher brasileira no mercado de trabalho- Utilização de tecnologia de ponta e o consequente aumento da produtividade, favorecendo os preços praticados- Lançamentos constantes de produtos- Aumento da expectativa de vida

46 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

“Com a padronização, a empresa otimiza seus processos internos e na cadeia como um todo, tanto na produção quanto na logística e nas vendas. Além disso, reduz perdas, eliminando os ruídos na comunicação com seus fornecedores”, explica Patrícia.

tENDêNCIASCom uma pitada de fantasia e de

criatividade, o mercado de cosméticos e produtos de higiene traz conceitos novos ao mercado. E isso, aliado à boa dispo-sição do consumidor em adquirir esses produtos, faz com que o segmento regis-tre números cada vez mais positivos.

“Em 2017, o maior mercado de cosméticos será a China, que possui 1 bilhão de habitantes e está se tor-nando um país cada vez mais rico. Porém se o Brasil continuar dimi-nuindo a pobreza,alcançará o segun-do maior mercado do setor, passan-do à frente do Japão e dos Estados Unidos”, analisa Pupo.

Segundo o consultor, o mercado de cosméticos brasileiro ainda dá seus primeiros passos, mas deve atingir a fase madura nas próximas décadas. “A tendência é que o Brasil comece a con-sumir produtos mais específicos e que ainda são pouco explorados.”

Para Nazish, da Granado, ainda há oportunidades, principalmente no que diz respeito à distribuição. “Vemos empresas, como a Sephora, entrando no País e abrindo espaço para muitas marcas exporem suas linhas. Mas isso ainda é muito fraco no Brasil. Faltam pontos de venda como esses, nos quais as empresas possam apresentar itens mais sofisticados.”

Somado a isso, uma forte tendên-cia mundial é utilizar matérias-primas vegetais, fazendo um cosmético mais seguro para quem usa, tornando o pro-cesso mais sustentável e sem abrir mão da tecnologia, ressalta Pupo.

também é preciso atenção ao novo momento do Brasil. O País vive um cenário em que cada vez mais os idosos estão levando uma vida ativa. Com isso, a economia precisará se adaptar às novas necessidades de consumo dessa população, que requer mais cuidados com a saúde. Isso pode representar uma grande oportunidade para o segmento de produtos de higiene pessoal e cosméticos.

Nazish Munchenbach, da GranadoEstratégia é inserir o consumidor no universo da marca

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SEGMENto dE BElEzA No BrASIl

- O número de salões de beleza cresceu 78% em cinco anos, passando de 309 mil, em 2005, para cerca de 600 mil em 2012- É um dos maiores geradores de empregos no País. Cerca de 4,4 milhões de pessoas trabalham em salões no País- O gasto mensal das famílias com serviços de cabeleireiros ultrapassou a marca de R$ 1 bilhão, um crescimento de 44% em seis anos

Fonte: ABIHPEC

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Por Denise TurcoColaboração Giseli Cabrini

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jogo rápido PADRONIZAÇÃO

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Há 40 anos, os padrões GS1 ajudam a melhorar os negócios em todo o mundo. Com foco em eficiência, a organização global renova suas diretrizes em sintonia com as novas necessidades de companhias e consumidores

Evolução CONSTANTE

48 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Há quatro décadas, o código de barras transformou o mundo por meio da criação de uma linguagem global de negócios, num primeiro momento, agilizando as operações nos supermercados. Posteriormente, foi amplamente adotado pelo varejo e pela área de logística. Depois dele, novos códigos e padrões surgiram para uso em diversos tipos de produtos e processos. Com o desenvolvimento do mercado e as novas necessidades dos consumidores, a evolução nessa área não para. E a GS1 é uma das principais responsáveis, com o apoio de empresas e profissionais, em incentivar o uso de padrões e a automação em todo o mundo.

Reafirmando a missão de continuar a expandir essas soluções, o CEO da GS1 Global, Miguel Lopera, que esteve recentemente no Brasil, fala sobre os projetos da entidade para 2014, bem como os desafios e as oportunidades que envolvem a padronização. Com ampla experiência nas áreas de gestão, marketing e tecnologia da informação, além de 24 anos dedicados à Procter & Gamble na Europa, ele afirma que a estratégia global da entidade está alinhada às demandas locais. Há uma década no comando da organização, o executivo espanhol acredita que todas as

conquistas da GS1 vêm da paixão das equipes. “Cada pessoa faz a diferença.” Confira.

Desde o surgimento do código de barras, quais foram as principais conquistas que o uso dos padrões globais GS1 vem gerando para o mundo?

O código de barras GS1 surgiu há 40 anos, quando líderes do varejo escolheram um único padrão para identificar produtos. Mais de 5 bilhões de código de barras GS1 são escaneados todos os dias, em âmbito mundial. Não é exagero dizer que ele transformou o mundo por meio da criação de uma linguagem global de negócios. Tudo o que fazemos é dedicado para que as cadeias de valor sejam mais eficientes, seguras e sustentáveis. Podemos tornar mais rápido e fácil a operação em um supermercado ou em uma loja de varejo. Nossos padrões no setor de saúde melhoram a segurança do paciente. Nosso trabalho no segmento de alimentos frescos, por exemplo, ajuda a reduzir as perdas, aumentar a segurança e melhorar a qualidade. Contribuímos para o recall de produtos e ações antifalsificação em muitos setores. Em breve, seremos capazes de habilitar pesquisas mais relevantes e precisas na web.

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Quais são os desafios e as oportunidades para 2014?Neste ano, assim como nas quatro décadas anteriores, as

equipes da GS1 vão focar sua energia e talentos para tornar a vida das pessoas melhor e mais segura. Vamos trabalhar, em particular, em várias inovações que têm o potencial de expan-dir os benefícios da GS1 da cadeia de abastecimento para o consumidor. Por exemplo, nosso projeto Next Generation Product Identification irá considerar as futuras estratégias de informação para responder às necessidades emergentes do consumidor e de regulamentação de informação. O proje-to GS1 Digital vai transformar a forma como a indústria se conecta com os consumidores. Além desses esforços especí-ficos, estamos com foco na obtenção de 100% da qualidade dos dados. Informações precisas são fundamentais para au-mentar a eficiência, reduzir custos e impactar positivamente a satisfação do consumidor – especialmente porque mais e mais dados armazenados pela GS1 são usados por provedores de aplicativos, usuários finais e órgãos reguladores.

A GS1 está presente em 111 países. Como a organização lida com as diferenças locais para elaborar suas diretrizes?

Na verdade, a GS1 não poderia existir sem a sua rede de 111 organizações-membros (MOs) nacionais. Nossas MOs têm uma compreensão sem precedentes das necessidades e preocupações locais. Dia após dia, elas acompanham as empresas na implantação de normas e serviços baseados em padrões. Comparada com outras organizações que desenvolvem padrões globais, a presença local da GS1 é única.

Nós asseguramos que nossa estratégia global esteja alinhada às demandas atuais de negócios em todo o mundo através do GS1 Global Standards Management Process (GSMP). Esse é um espaço no qual usuários voluntários de todo o globo se unem para identificar e compartilhar as necessidades de negócios que requerem soluções baseadas em padrões para gerar mais eficiência na cadeia de suprimentos. Os integrantes do GSMP participam da criação de acordos e diretrizes globais orientadas para os usuários.

O consumidor multicanal exige um novo posicionamento das empresas e amplia a necessidade de uma cadeia de suprimentos cada vez mais unida e organizada. Como o uso de padrões globais pode beneficiar a supply chain?

Os padrões GS1 fornecem uma estrutura que permite que produtos, serviços e informações sobre eles sejam movimentados de forma eficiente e segura. Nossos padrões garantem trocas eficazes entre as empresas e atuam como

uma diretriz básica que facilita a interoperabilidade e fornece estrutura para vários setores. As soluções GS1 ajudam empresas e seus parceiros de negócios a reduzir custos e complexidade das operações. Além disso, os padrões reúnem companhias que representam todas as partes da cadeia de suprimentos e permitem que elas trabalhem juntas, sob nossa liderança, fazendo com que os padrões tornem a cadeia de abastecimento mais rápida, eficiente, menos complexa e menos onerosa.

Como a GS1 está elaborando suas estratégias e padrões considerando o universo digital?

Cada vez mais, os consumidores estão se voltando para a internet a fim de encontrar informações sobre produtos. Mas até que as marcas e os varejistas concordem em adotar uma padronização que represente as informações dos produtos no universo digital, eles continuarão a fazer uma busca na web que não é a ideal. Porque os mecanismos de busca continuarão a ter dificuldade de entender a informação que está publicada on-line. É por isso que a GS1 está trabalhando para identificar e atender proativamente as necessidades de nossa comunidade nessa área, através de uma iniciativa chamada GS1 Digital. Essa solução permite a identificação confiável, classificação, descrição e relação de informações dos produtos que unem o físico e o digital. As duas primeiras áreas de foco concreto são o GS1 Source, projeto para permitir o fluxo da informação do produto, e GTIN+ on the Web, para trazer a identificação do item na linguagem HTML, que inclui todas as páginas da web.

De que forma o uso de padrões globais pode fomentar o empreendedorismo em todo o mundo?

Os padrões GS1 são usados por grandes companhias multinacionais e marcas mundialmente famosas… mas tam-bém por pequenas lojas e artesãos. O trabalho vital que faze-mos permite a visibilidade na cadeia de suprimentos – e isso é crucial para empresas de qualquer tamanho. Uma melhor visibilidade torna possível mensurar a redução de custos e melhorar a performance operacional.

Miguel Lopera, CEO da GS1 Global

“Vamos trabalhar em inovações que têm o potencial de expandir

os benefícios da GS1 da cadeia de abastecimento para o

consumidor”

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Por Camila Guesa

RFIDCASE

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Atacadista e distribuidora de vestuário, Brascol adota

solução de RFID, reduzindo custos e aumentando a

segurança nos processos

O código daeficiência

Qualquer empresa que traba-lha com compra, venda e distri-buição de produtos busca, em suma, segurança nos processos de entrada e saída dos volumes comercializados. Afinal, garan-tir que os procedimentos sejam os mais precisos e seguros possí-

veis (atingindo índices perto dos 100%) é um diferencial competi-

tivo. É isso que a Brascol, uma das maiores atacadistas e distribuidoras

de vestuário para bebês e infantojuvenil do Brasil, conseguiu com a implantação

de uma solução de identificação por ra-diofrequência (RFID) em seus produtos e processos das suas lojas na capital paulis-ta, na região do Brás – onde a concorrên-cia é notoriamente grande.

Para oferecer essa agilidade e segurança da informação, a Brascol, que opera há 26 anos no Shopping Mega Polo Moda, importante ponto de comércio atacadista, e que possui uma loja de rua, contou

50 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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Antonio Almeida, superintendenteModernizar a empresa em relação à qualidade da informação agrega valor aos negócios

Nina Kudagawa, gerente da BrascolConferência de produtos que durava uma

hora, agora é feita em menos de 20 minutos

com a solução completa ofere-cida pela ITAG Tecnologia. A empresa implantou na Brascol os equipamentos e os softwares geradores de etiquetas inteligentes e produziu as etiquetas personalizadas para cada item – vestuário, calçados, roupas de banho e puericultura tanto de fabricantes diversos quanto produtos de marca própria. A ITAG também foi responsável por implementar o sistema em todos os processos: entrada de produtos, conferência das mercadorias, contabilidade, administração, área de vendas, caixas e expedição.

Depois da implantação, em me-ados de outubro de 2013, a Brascol conseguiu não só essa segurança no histórico dos produtos e com furtos, perdas e roubos mas também me-lhorar o controle de seus estoques, ter uma economia operacional e, principalmente, oferecer uma expe-riência otimizada de atendimento aos clientes varejistas.

“Na prática, uma conferência de cerca de 300 produtos no momento da venda que durava quase uma hora, hoje, conseguimos fazer em menos de 20 minutos, garantindo a continuidade da compra para o cliente com informações precisas de

tudo o que já tem em seu carrinho em termos de quantidade de peças, modelos, cores, valor final, etc.”, exemplifica a gerente da Brascol, Nina Kudagawa.

Essa diminuição de tempo se repete em todas as etapas que exigem conferência, como, por exemplo, no recebimento de mercadorias dos fornecedores, ao levar os produtos para a área de vendas, nos caixas, no estoque (cada loja tem um próprio), nas embalagens dos produtos já vendidos e na separação para despachá-los aos varejistas. Todo esse processo, geralmente, concentra-se, todos os dias, entre 14h e 16h, horários em que os compradores costumam voltar para as suas cidades de origem. “Além disso, ao fim da venda, garantimos que nossos clientes levarão exatamente aquilo que compraram”, completa Nina.

A adoção da RFID atendeu a uma necessidade de modernização que a Brascol já vinha identificando em seus processos. “Modernizar a empresa em relação à qualidade da informação e segurança no histórico de vendas agrega valor aos negócios porque levamos um diferencial pal-pável aos nossos clientes”, afirma o superintendente da empresa, Antonio Almeida.

Outro fator que facilitou a implementação da solução no atacadista foi a queda dos custos das etiquetas e ou-tros componentes RFID que vem ocorrendo no mercado nos últimos anos, possibili-tando, assim, o acesso desse tipo de solução às compa-nhias de modo geral, diz o coordenador do projeto e diretor da ITAG Tecnologia, Sérgio Gambim.

A ITAG, que também faz a inte-gração de software e hardware em produtos com etiqueta inteligente, garante que, normalmente, as me-lhorias nos processos e a agilidade da RFID podem trazer mudanças signi-ficativas em 45 dias (em movimenta-ção e volume de vendas) e o retorno de investimento ocorre de seis a oito meses para qualquer empresa.

Prática que comProvaA RFID se faz presente desde o

pedido de compra da Brascol para o fabricante até a entrega da merca-doria para o cliente final.Isso garan-te controle de estoque, agilidade na separação e entrega na mercadoria, atendimento 100% de acordo com o que foi pedido (tanto na relação Brascol com fornecedores quanto com clientes), entre outras vanta-gens. Isso porque em todo o pro-cesso há a conferência do que está sendo separado/transportado por meios dos portais RFID com an-tenas de leituras dos microchips presentes nas etiquetas, garantindo o controle financeiro e da quanti-dade de mercadorias.

“Estamos operando com um terço de pessoas e passando o dobro de mercadorias, comparado ao que

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52 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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RFID NA OPERAÇÃO DA BRASCOL

Confira como funciona o processo de venda e expedição com uso de RFID na loja da Brascol para as compras dos clientes varejistas

fazíamos antes de implementar a RFID. Em qualidade de vida dos nossos funcionários, reduzimos substancialmente o volume de horas extras e trabalhos aos fins de semana”, exemplifica Almeida.

De acordo com ele, a tecnologia possibilita a redução de despesas e ajustes de custos de pessoal e de

processos, o que melhora, por sua vez, a rentabilidade. “Esse projeto complementa dois pontos-chave que adotamos na empresa: a inovação e a tecnologia. A RFID é uma porta de entrada para outras tecnologias que agregaremos em nossos processos para aproveitar essa infraestrutura de informação”, diz Almeida.

Padrão Nessa nova fase da Brascol, a GS1

participou dando apoio à ITAG, orientando a fornecedora da tecno-logia a fazer uma etiqueta que pu-desse atender ao padrão global GS1 – que inclui identificação, captura de dados e troca/compartilhamen-to de informação, conta o assessor

Emissão de etiqueta por pedido de compra e envio ao fabricante

1

Finalização do pedido de compra, fazendo leitura

para comparar mercadoria solicitada (quantidade, cor e tamanho) e produto entregue

2

Mercadoria é liberada

diretamente para a área de vendas

3

Cliente consulta valor total da compra por

meio de uma única leitura das

etiquetas

4

No despacho da mercadoria para o comprador, é feita uma nova leitura dos produtos, cruzando as informações da venda com as da nota fiscal

9

Conferência da quantidade

física

6

Passagem do produto pelo portal RFID

7

Depois de terminada a compra, o carrinho vai para a expedição

5

Cliente paga no caixa

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VANTAGENS DA TECNOLOGIA

AgilidAde: a conferência de uma grande quantidade de produtos é feita rapidamente

Precisão: as informações contidas nas etiquetas RFID informam a quantidade de produtos e suas características individuais (cor, tamanho e quantidade)

segurAnçA: cada SKU tem um histórico único, que não se repetirá em nenhuma situação (fornecedor, peça e outras situações que poderiam ser conflitantes)

de inovação e alianças estratégicas da GS1 Brasil, Wilson Cruz.

Na Brascol, a etiqueta inteli-gente feita pela ITAG para itens de marca própria está de acor-do com o padrão global GS1, que identifica a empresa e seus produtos com uma numeração

única e serial por meio do EPC (Código Eletrônico de Produto). As peças fabricadas por fornece-dores externos ainda não estão nesse padrão.

“A GS1 também dá suporte para a ITAG e a Brascol amplia-rem o uso do padrão global junto

à sua cadeia de fornecedores, que atualmente utiliza uma codifica-ção da Brascol. A ideia é que cada fornecedor faça uma identifica-ção individual em seus produtos usando o padrão GS1, trazendo vantagens a todos envolvidos na cadeia”, ressalta Cruz.

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RecuRsos Humanos Equilíbrio

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Por Kathlen Ramos

“Funcionários felizes rendem mais.” Há tempos essa afirmação deixou de ser apenas uma especulação de especialistas em recursos humanos. Pesquisas pelo mundo e a experiência empresarial comprovam que colaboradores satisfeitos com a vida pessoal e profissional trazem mais resultados para o ambiente corporativo.

A importância da satisfação dos colaboradores é tamanha que alguns países realizam pesquisas para acompanhar a alegria local, conta o sócio-fundador da Alliance Coaching, Sílvio Celestino. “Nos Estados Unidos, há um índice chamado Wellbeing Index, desenvolvido pelo grupo Gallup Healthways, que acompanha a felicidade no país desde 2008. Isso porque, seja em uma comunidade, seja em uma empresa, a felicidade desempenha um papel importante na produtividade, uma vez que reduz os problemas de saúde e os custos relacionados às faltas por doenças, estresse e esgotamento”, justifica.

Pensando nisso, surgiu recentemente uma nova modalidade de coaching, o wellness coaching, que direciona o foco para o equilíbrio, a saúde e o bem-

O profissional pOr inteirO

Uma nova modalidade de coaching promete trazer mais satisfação e bem-estar aos colaboradores e gerar impacto positivo nos negócios

-estar. “Usamos métodos mais específicos para desenvolver o bem-estar do indivíduo, o que pode envolver aspectos como corpo, sociedade, intelecto, espírito, emoções e ocupação. O foco não é o bem-estar pelo bem-estar, mas como condição primordial para o engajamento e o melhor desempenho do profissional”, esclarece Celestino.

A sócia-diretora da Garcia Azevedo e Consultores, Ana Paula Azevedo, resume que o wellness coaching busca a promoção da saúde e a prevenção de doenças. “Ele gera autoconhecimento, fazendo com que a pessoa mude o estilo de vida. A metodologia cria metas e alicerces para que o indivíduo aumente sua performance e felicidade”, descreve.

Durante as reuniões, diversas atividades podem ser estimuladas. “Atividade física, reeducação alimentar, comportamento preventivo e capacidade de autoavaliar se

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o problema exposto é real ou fruto da imaginação do colaborador”, acrescenta Ana Paula. O wellness coaching também é dirigido para situações fora do trabalho, como ajudar quem deseja parar de fumar ou emagrecer.

O método traz benefícios para todos os envolvidos. Para a empresa, ajuda a

diminuir o absenteísmo, a rotatividade de pessoal, os problemas de relaciona-mento na equipe, além de ajudar a mo-tivar os profissionais. “Numa equipe de vendas, por exemplo, quando existe esse direcionamento, o time mais ani-mado alcança um rendimento supe-rior”, garante a diretora da Vitória’s

Mentoring e Coaching, Mônica Vitó-ria. Os benefícios se estendem para o funcionário. “Com a sensação de saú-de e o maior índice de alegria e satis-fação, o colaborador passa a sentir or-gulho de si. O diferencial do wellness coaching está em trabalhar a pessoa por inteiro”, finaliza.

EntEnda o método na prática

Ficha técnica do WEllnEss coaching

Um executivo de 45 anos, morador da cidade de São Paulo (SP), teve uma grande oportunidade profissional. Ele foi selecionado para gerir a implantação de uma unidade da indústria em que trabalhava no interior de Goiás. Se fosse bem-sucedido na empreitada, seria promovido a diretor. O projeto envolvia altas quantias, muitos funcionários e fornecedores, além de logística internacional. Apesar de a proposta ser atrativa, o executivo era muito apegado à sua esposa e ao filho de 10 anos. Ficar longe deles geraria estresse e angústia, que se somariam aos seus problemas de saúde e dificuldade para dormir. Mesmo assim, ele encarou o desafio profissional e, paralelamente, começou a participar do processo de wellness coaching. A partir daí, o executivo foi orientado a fazer um checkup e, após autorização médica, retornar às atividades físicas regulares. Como o nível de estresse e a pressão eram muito elevados, ele passou a organizar a agenda, desenvolver a capacidade de dar feedback e de “dizer não” às pessoas. Com isso, conseguiu administrar melhor o tempo e passou a cobrar maior compromisso da equipe.Para melhorar o aspecto pessoal, o coach criou um jogo para que ele conseguisse enfrentar a

distância da família e, ao final, ganhasse o “prêmio pela adversidade”. O jogo desenvolvido foi o seguinte. O executivo fez um enorme calendário de papel, com quadrados que correspondiam a cada semana que ele estava fora de casa. A atividade foi pregada na parede do quarto do filho e, quando o executivo retornava ao seu lar, os dois pintavam os quadrados equivalentes às semanas passadas. Isso criou um tempo de muita qualidade entre eles. Além disso, quando estava com a família, o almoço era um evento especial, e ele fazia um agradecimento pelo apoio e o esforço de todos. Para completar, tinha um jantar especial com a esposa. Desse modo, em vez de ficar se lamentando quando voltava para casa, ele começou a aproveitar os bons momentos juntos. O projeto durou cerca de 70 semanas, e o executivo conseguiu terminá-lo com baixo nível de estresse, boa qualidade de vida e relacionamento familiar, apesar de todas as adversidades. Foi promovido, conforme o esperado.

preço: cada sessão varia de R$ 350 a R$ 500, para pessoa física, e de R$ 1.500 a R$ 3.500, para pessoa jurídica.duração: de 8 a 12 sessões, uma hora por semana. Alguns processos levam mais tempo, mas é importante ter uma data para o fim, do contrário, torna-se terapia.profissionais habilitados: devem ter certificado em coaching, preferencialmente em alguma instituição reconhecida por organismos internacionais, como a Federação Internacional de Coaches (ICF).

conheça o caso real de um profissional que participou de um processo de wellness coaching, contada pelo sócio-fundador da alliance coaching, sílvio celestino:

Page 56: Brasil em Código - 12ª edição

GESTÃO Desenvolvimento

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Quer abrir uma empresa em um ramo que desconhece? Terá momentos decisivos complicados pela frente? Sua companhia não está prosperando como esperava? Nenhum desses as-suntos é problema quando se pode extrair das cenas e enredos do cinema inspirações para fazer o negócio dar certo. É nisso que acredita o especialista no desenvolvimento de líderes orga-nizacionais e um dos autores do livro Os Filmes que Todo Gerente Deve Ver, Pedro Grawunder. “Os filmes trazem insights importantes para a atuação profissional e podem ser a origem de ideias inovadoras na solução de qualquer problema”, assinala.

Para o especialista, a arte imita a vida. “Grande parcela dos filmes que encontramos no cinema é baseada em fatos reais. As situações que os personagens vivem são simi-lares àquelas que muitas pessoas vivenciaram”, explica o autor. Uma das principais lições encontradas nas telas do cinema é a importância de buscar soluções para os conflitos.

“Os filmes podem ajudar na gestão, principalmente quando são adaptações de histórias reais ou são reconhecidos nas áreas de negócios e autoajuda”, concorda José Carlos Vasconcellos,

presidente da Telehelp, empresa de teleassistência que visa melhorar a vida de pessoas que moram sozinhas e necessitam de cuidados específicos, como os idosos. Um exemplo, diz, é o filme A Rede Social (2010), que mostra a origem do Facebook e de seu fundador Marck Zuckerberg. No universo empresarial, os desafios, sem dúvida, dão um bom filme.

PrePAre A PiPOCAOs autores do livro Os Filmes que

Todo Gerente Deve Ver, Marco Oliveira e Pedro Grawunder, fizeram uma seleção de três filmes que trazem lições para os negócios exclusivamente para os leitores da revista Brasil em Código. Confira:

1. Compramos um Zoológico: conta a história de um “empreendedor aciden-tal”, interpretado por Matt Damon, que compra um zoológico, negócio que ele não sabe como funciona. Apesar de ser o líder do empreendimento, precisa do conhecimento dos funcionários para prosperar. “Cada vez mais os líderes vão encontrar situações em que precisam admitir que sabem menos do que os co-laboradores sobre o que deve ser feito. Nesse caso, o papel da liderança será o de guiar os esforços da equipe para atin-

gir os objetivos que trarão sucesso, em-presa, diz Grawunder.

2. O Grande Truque: dirigido por Christopher Nolan, conta a história de dois ilusionistas vivendo uma eterna relação de competição desenfreada, em que um busca sempre superar o outro e, assim, conseguir a adoração do público. essa busca arruína a vida pessoal dos dois mágicos e todos que convivem com eles. Segundo os autores, a obra é exemplo de como a competição entre organizações por uma fatia cada vez maior de mercado pode trazer graves consequências que, se ignoradas, consomem a empresa e quem atua dentro dela.

3. Um Conto Chinês: o primeiro motivo para assistir a esse filme é o fato de ser engraçado e fazer sucesso com praticamente qualquer público. Para profissionais, ele conta a história de um gestor obcecado por controlar o ambiente de trabalho, sabendo onde cada singelo parafuso vai parar. ele é capaz de brigar furiosamente com fornecedores e parceiros de negócios por causa de erros pequenos. “É uma importante obra para ajudar a refletir sobre como esse tipo de comportamento pode atrapalhar e custar caro para gestores em qualquer lugar do planeta”, acredita Grawunder.

Histórias de cinema

empresários levam a sério as lições passadas por filmes e transformam o que viram na tela em realidade Im

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Por Juliana de Mello

56 abr/mai/jun 2014 [ BRAsil em CÓDiGo ]

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Os ensinamentos do cinema aplicados na prática no ambiente corporativo

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Das telonas para os negócios

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O filme 11 Homens e um Segredo (um remake lançado em 2001 do original de 1960), que conta a história de Danny Ocean e sua quadrilha de onze homens, é o preferido do diretor da Flores Online, eduardo Casarini. Com a meta de roubar três cassinos de Las Vegas, nos estados Unidos, em uma mesma noite, o grupo possui um plano de contingência para cada detalhe, caso algo dê errado durante o trajeto. Da mesma maneira, no dia a dia da empresa em que atua – um dos maiores e-commerces de flores e presentes do País com faturamento de r$ 20 milhões em 2012 –, Casarini busca um plano B, caso enfrente alguma adversidade em determinado projeto. Para isso, ele se cerca de especialistas e, quando algo não ocorre de acordo com o planejado, está preparado para tomar a decisão certa rapidamente, mesmo sem a ajuda dos atores que compõem o elenco, como George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Don Cheadle, Andy García, e Julia roberts. em 2013, a empresa traçou um plano para atingir a meta de entregar as encomendas em todo o Brasil no mesmo dia. e conseguiu cumprir por meio de parcerias com floriculturas locais que foram treinadas para fazer os arranjos. “A lição desse filme que levo para a vida é a de que é preciso planejar sempre, mas não ter medo de mudar, quando necessário”, considera o executivo.

Nunca desistir dos sonhos. essa é a lição passada por Chris Gardner (Will Smith) pai desempregado, com sérios problemas financeiros e enfrentando a separação da esposa no filme À Procura da Felicidade (foto). As cenas demonstram que os problemas – financeiros ou não – podem ser oportunidades para buscar a felicidade, dependendo de como forem encarados. “As pessoas dizem que algo que você almeja não vai dar certo porque não conseguiram o que queriam. Nunca deixe que lhe digam o que fazer. Se quer conquistar algo, vá em frente e não desista”, ensina o personagem ao filho de apenas 5 anos em uma das cenas mais marcantes. A trama é inspiração para o sócio-fundador da Diletto, fabricante de picolés artesanais, Leandro Scabin. “Acredito que o filme demonstra a lição mais importante para um empreendedor: a de que a perseverança é a chave do sucesso”, afirma. “A virada, às vezes, está mais próxima do que você imagina.”

O Feitiço do Tempo (1993) é uma das fontes de ideias para o presidente da empresa de teleassistência Telehelp, José Carlos Vasconcellos. O filme mostra a história de um jornalista que é enviado para uma pequena cidade para fazer a cobertura de uma tradicional celebração americana – um trabalho sem graça na sua visão. Como consequência da sua má vontade, ele é castigado por meio de um feitiço que torna os dias iguais. “Uma cena marcante é quando Bill Murray – o ator principal – quebra várias vezes o despertador, que continua a tocar, sinal de que não adianta simplesmente adiar ou fugir dos problemas e das dificuldades”, pontua Vasconcellos. Para ele, o longa-metragem faz menção tanto à rotina no trabalho quanto à vida pessoal. “A lição é a de que podemos usar a criatividade, disposição e visão de oportunidades para tornar cada dia um dia diferente”, conclui.

[ BRAsil em CÓDiGo ] abr/mai/jun 2014 57

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‘Heverton

AnunciaçãoPalestrante, escritor e

consultor em CRM e Tecnologia

www.heverton.com.br‘No meu último livro, Tudo o que o Google não

te Respondeu sobre as Redes Sociais, criei o tema chamado Reengenharia 2.0 a partir da minha observação empírica no mundo corporativo nas últimas três décadas, que tento detalhar a seguir.

Em 2012, no artigo “A Era do Capitalismo do Cliente”, publicado na revista Harvard Business Review, o reitor da Rotman School of Management, Roger Martin, concluiu que o capitalismo moderno pode ser dividido em duas grandes eras. A primeira, que começou em 1932, é denominada de capitalismo gerencial e definida pela tese, então radical, de que toda empresa deveria ter uma gestão profissional. A segunda, com início em 1976, foi o capitalismo do valor ao acionista e é regida pela ideia de que toda empresa deve maximizar a riqueza dos acionistas. Mas estas são premissas tragicamente falhas, segundo o autor. É hora de abandoná-las e de inaugurar uma terceira era: a do capitalismo voltado ao cliente. Qual é o argumento de Roger Martin? É impossível aumentar sem parar o valor ao acionista, pois a cotação da ação é movida pelas expectativas em relação ao futuro e não podem subir indefinidamente.

Daí surge a pergunta: como explicar aos investidores que a empresa terá mais retorno no longo prazo beneficiando o cliente final e os funcionários?

Na escala evolutiva do mundo dos negócios, nós estamos mais rápidos, porém ainda vivemos a infância no que se refere ao atendimento

Temos tecnologias sofisticadas de atendimento ao cliente, mas elas são usadas em processos pensados no século passado

CRM

ao cliente. As transformações estão acontecendo em virtude do surgimento do Código de Defesa do Consumidor, dos SACs, do gerenciamento das relações com o cliente, das ações de sustentabilidade e do marketing de relacionamento.

Se olharmos para trás, na década de 1980, a reengenharia trouxe-nos o conceito de oferecer melhores produtos, inclusive fazendo empresas se gabarem de suas certificações ISO 9000... Surgiram os primeiros softwares de Customer Relationship Management (CRM), e muitas empresas acharam que eles seriam responsáveis por curar a “miopia” ainda existente. Na realidade, o CRM possibilitou a aparição e a identificação do que estava escondido debaixo dos tapetes corporativos: os processos e a estratégia estavam focados em produtos.

Pensando nisso, concluo que, agora, precisamos urgentemente implantar uma reengenharia de processos focada na perspectiva dos clientes e suas experiências de consumo. É uma reengenharia 2.0, se assim podemos chamá-la, e pode ser resumida assim: há muitas empresas que são ou estão digitais, mas seus processos ainda são ou estão analógicos, pelo menos na visão de seus consumidores. Os processos corporativos devem ser vistos como sendo a partitura da empresa, nos quais cada área dará o seu ritmo para agradar aos clientes.

Nunca tivemos tantas tecnologias sofisticadas, caras ou baratas, de call center, webcall center, SMS, etc., mas elas ainda são usadas em processos que foram pensados no século passado e desenhados para entregar produtos, e não experiências de consumo excepcionais a consumidores cada vez mais exigentes. Faça um upgrade 2.0 dos processos da sua empresa. Seus clientes voltarão sempre.

Reengenharia 2.0Os processos corporativos devem ser planejados e executados com foco na perspectiva dos clientes e suas experiências de consumo

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(e meia)Jantar às noveO diretor do Plan Idiomas Direcionados ensina aos gringos a malícia de que, no Brasil, chegar no horário certo é praticamente uma gafe. Nas horas vagas, gosta de cozinhar pratos do mundo todo para os amigos

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Se o jantar está marcado para as 21h, todo brasileiro sabe que chegar meia hora depois do combinado não é exatamente um atraso. Essa e outras regras de etiqueta implícitas – e tipicamente brasileiras – são o tema do curso de “brasilidade”, uma espécie de imersão para estrangeiros na cultura do nosso País e um diferencial que tornou o Plan Idiomas Direcionados conhecido. “São dicas para os estrangeiros desaparecerem na multidão”, conta o diretor e fundador da escola, criada em 1986, Faust Maurer.

Além de falar português, o estrangeiro aprende que chegar no horário certinho é até uma gafe e, no caso de um jantar, a comida ainda nem estará pronta. Enquanto que no trabalho Faust criou as aulas de “brasilidade”, entre amigos ele fez fama com a receita de filet au poivre (filé mignon com molho a base de pimentas). O gosto pela cozinha e pela culinária começou a surgir quando ele morou nos Estados Unidos durante 11 anos, na fase da

adolescência. “Estudei em um colégio de classe média alta e comecei a ter contato com a alta gastronomia”, conta.

De volta ao Brasil para começar a faculdade, em 1982, Faust usou seus conhecimentos em inglês para dar aulas particulares e se especializou no atendimento direcionado a profissionais. Ali surgiu a base do Plan Idiomas, hoje com duas unidades no Rio de Janeiro (RJ) e 1,6 mil alunos, principalmente executivos de grandes empresas.

No início da carreira, ele não tinha dinheiro suficiente para frequentar bons restaurantes, como fazia nos Estados Unidos. Foi aí que Faust apurou seu gosto pela gastronomia, que se tornou um hobbie. “Gosto de fazer jantares e estar com os amigos. Convido as pessoas para a minha casa, abro um vinho e faço uma receita para elas se lembrarem depois”, diz.

Nascido em Goiás, Faust sabe que a comida tem o poder de reunir as pessoas, seja em casa, seja no

Por Mariana Izidoro

60 abr/mai/jun 2014 [ BRaSil eM CÓdiGO ]

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IngredIentes

8 medalhões de filé mignon2 colheres (sopa) de óleo2 colheres (sopa) de azeite4 colheres (sopa) de pimenta verde1 xícara (chá) de vinho branco seco4 colheres (sopa) de conhaque400 ml de creme de leite frescosal a gosto Modo de PreParo

1. Preaqueça o forno a 200°C (temperatura alta).2. numa frigideira grande, coloque o óleo e o azeite e leve ao fogo alto para esquentar.3. Quando estiver bem quente, acrescente os meda-lhões na frigideira e deixe dourar por dois minutos sem mexer. Vire os medalhões, de preferência com uma pinça de cozinha para não furar a carne e não perder líquido. doure o outro lado por mais dois minutos.4. Com a pinça, segure os medalhões e apoie um ao lado do outro para dourar as laterais por um minuto. Vá rodando até dourar a lateral toda.5. retire os medalhões da frigideira e transfira para uma assadeira.6 Leve ao forno preaquecido por 18 minutos (ao ponto).7. sem lavar a frigideira, acrescente o vinho branco e leve ao fogo baixo. Com uma colher de pau, esfregue o fundo da frigideira para que os resíduos da carne sejam absorvidos ao molho. esse processo é chamado deglaçar.8. apoie as pimentas verdes sobre uma tábua e, com uma faca, pique grosso.9. acrescente o conhaque, as pimentas verdes e o creme de leite. deixe reduzir por cerca de dez minutos, até que o molho comece a encorpar. reserve.10. retire os medalhões do forno. acrescente o líquido que se formou na assadeira ao molho de pimentas e misture bem.11. distribua o molho quente no fundo de quatro pratos e sirva dois medalhões por pessoa. sirva imediatamente.

executivo dá areceita de suaespecialidade:filet au poivre

[ BRaSil eM CÓdiGO ] abr/mai/jun 2013 61

Faust Maurer, do Plan IdiomasIdeias dos pratos surgem das viagens

que faz ao redor do mundo

trabalho. No início do Plan Idiomas, as primeiras reuniões com professores eram realizadas em sua residência. Além dos assuntos da escola, Faust servia legítimas panquecas americanas aos colaboradores em um verdadeiro breakfast.

Depois da expansão das escolas, há cinco anos o diretor inaugurou um café dentro da unidade principal. Lá são servidos lanches como tortas, bolos, sanduíches e também refeições completas no almoço. Nesse caso, Faust não põe a mão na massa, mas conta que a ideia do café surgiu para garantir a imersão dos alunos nas aulas de línguas. “Nos cursos intensivos de um dia, o aluno não tem a chance de falar português na hora do almoço, pois tudo acontece dentro da escola”, explica.

Na cozinha, Faust é um autodidata. Com a vivência nos Estados Unidos, ele aprendeu a harmonizar vinho e comida. No Brasil, teve ajuda de livros, revistas especializadas e amigos para desenvolver a prática. Hoje, é conhecido pela rapidez com que consegue preparar os pratos. “Sou bastante ágil”, garante. Ele conta que demora 50 minutos para fazer risoto de açafrão com filé tornedor, prato que pode demorar duas horas para ficar pronto. Ter os equipamentos de cozinha corretos, além da prática de cortar os ingredientes, são pontos importantes para quem quer virar um chef, avalia o diretor.

O arroz com feijão de segunda a sexta-feira não é o forte de Faust. As ideias dos pratos surgem das viagens que faz ao redor do mundo. Primeiro, passou pela fase de comida italiana. Depois, peruana. Atualmente, depois de uma visita ao sudeste asiático, ele voltou com a mala carregada de temperos e especiarias e a comida tailandesa entrou em seu cardápio.

Em casa, Faust oferece pelo menos dois jantares por mês, para até oito pessoas. O apartamento foi todo reformado para que a cozinha ficasse integrada aos ambientes de estar e jantar. “Assim as pessoas podem me ver cozinhando”, conta. Para ele, o sabor e a apresentação dos pratos são inseparáveis. “Não adianta a comida estar gostosa se a aparência for horrorosa.”

Page 62: Brasil em Código - 12ª edição

Tendência Saudabilidade

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Alimentação de qualidade

O consumo de frutas e hortaliças é fundamental para prevenir doenças e manter o peso, mas ainda é baixo no Brasil. Uma das soluções é criar o hábito já na infância

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ock A nutricionista escocesa Gillian McKeith,

autora do best-seller Você é o que Você Come e ex- -apresentadora de um programa homônimo da BBC inglesa exibido no Brasil há alguns anos, é descrita na imprensa internacional como uma pessoa difícil de digerir pela dureza com que trata o assunto. Mas a dieta proposta por Gilian, que defende a

ingestão de vegetais e frutas crus aliada à prática de exercícios físicos, é saudável e encontra respaldo nas orientações de entidades internacionais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para e Agricultura e Alimentação (FAO) recomendam o consumo de cinco porções ou 400 gramas de frutas, verduras e legumes por dia para um dieta de 2,3 mil calorias como forma de fortalecer a saúde e colaborar com a prevenção de doenças, como cardiopatias, diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer e obesidade. Estima-se que o baixo consumo de frutas e verduras cause cerca de 31% das isquemias cardíacas e 11% dos acidentes cardiovasculares em todo o mundo.

No Brasil, por conta dos maus hábitos à mesa, 51% da população está

acima do peso e 17% são obesos, segundo dados do Ministério da Saúde (MS). A obesidade é um forte fator de risco para o desenvolvimento de

doenças crônicas não trans-missíveis, como infarto, acidente

vascular cerebral (AVC), trombose, embolia e arteriosclerose.

Pesquisa divulgada em 2010 pelo MS mostrou que, em 2009, apenas 18,9% dos brasileiros ingeriam as porções recomendadas pela OMS. O que leva o País a tais índices?

Para se ter uma ideia, em 2011, foram colhidas 45,1 milhões de tone-

Por Giseli CabriniColaboração Kathlen Ramos

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[ bRaSil eM CÓdiGO ] abr/mai/jun 2014 63

Para as criançasNos Estados Unidos, campanha com personagens da Vila Sésamo tem apoio

de Michele Obama para incentivar alimentação saudável.Ação deve chegar em breve ao Brasil

ladas de frutas, segundo estudo feito pelo Departamento de Economia Rural (DERAL), da Secretaria de Abastecimento do Paraná (SEAB), número que coloca o Brasil em terceira posição no ranking mundial. No caso das hortaliças, são produzidas 17 milhões de toneladas, de acordo com o pesquisador do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo (IEA), Waldemar Pires. A produção brasileira desses itens cresceu 110%, entre 1999 e 2009, enquanto a população avançou 25%.

Segundo análise da OMS, apesar de os países em desenvolvimento produzirem grande parte do estoque mundial de frutas e verduras e de serem boas as possibilidades de aumento dessa oferta, muitos de seus habitantes não ingerem uma quantidade suficiente, principalmente, entre a população de menor poder aquisitivo. Ao mesmo tempo, cresce o consumo de alimentos com alto teor de gordura e de açúcar.

REAÇÃOAlimentação fora do lar, baixo

poder aquisitivo, hábito alimentar e concorrência com substitutos, como pães, biscoitos, carnes, frios, laticínios e guloseimas. Esses foram alguns dos fatores apontados pela

pesquisa da Connection Reseach, realizada a pedido da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e divulgada em 2011, que justificam o baixo consumo de frutas, legumes e verduras (FLV). O estudo revelou ainda que, no caso das frutas, o consumo é largamente dissociado das refeições, solto no dia, o que torna a ingestão mais vulnerável ao esquecimento e a substituições.

Diante desse cenário, segundo o assessor técnico da Comissão Nacional da CNA, Eduardo Brandão, a entidade fez um amplo estudo a fim de traçar um diagnóstico sobre o consumo de FLV e ações nesse sentido. A organização está formatando o lançamento de uma campanha para promover a ingestão de FLV no País envolvendo governo, entidades e todos os agentes dessa cadeia produtiva.

Entre as instituições que estão em contato com a CNA está a Produce Marketing Association (PMA), asso-ciação global que representa a indú-stria de flores e FLV. Nos Estados Unidos, a PMA acaba de fechar uma parceria de licença de uso de marca dos oito principais personagens da Vila Sésamo, livre de royalties até

2016. A ideia é que eles ilustrem ações de marketing de produtores, distribuidores e comerciantes de FLV direcionadas ao público infantil de modo a incentivar as crianças norte-americanas, entre 2 e 5 anos, a ingerir mais alimentos frescos, além de influenciar suas famílias a tomar melhores decisões na hora de fazer as refeições dentro ou fora do lar.

A ação integra o projeto Parceria para uma América mais saudável (Partnership for a Healthier America, PHA), um dos braços da iniciativa Let’s Move!, criado pela primeira- -dama dos Estados Unidos, Michele Obama, que tem como meta ampliar o consumo de frutas e vegetais frescos junto às crianças, a fim de reduzir a obesidade infantil naquele país.

“Nosso objetivo é realizar uma campanha unificada a partir de uma mensagem que sensibilize nosso público-alvo e, assim, promover uma mudança nos hábitos alimentares. Estudos mostram que, após os 11 anos, torna-se muito difícil alterar esses padrões. Daí a importância de atingir as crianças mostrando a elas que é divertido e saboroso ingerir frutas e vegetais frescos”, afirma a vice-presidente de negócios

Page 64: Brasil em Código - 12ª edição

globais da PMA, Nancy Tucker, que esteve no Brasil recentemente.

Nos Estados Unidos, a série Vila Sésamo tem a confiança de 83% das mães, as responsáveis por tomar as decisões familiares nas lojas. O programa de televisão tem a maior coaudiência de todos os programas pré-escolares: quase 10 milhões de telespectadores por semana, incluindo 2 milhões de mães.

O projeto começou em março de 2013 com o lançamento de uma espécie de “kit de marketing”, que traz instruções sobre como usar os personagens da Vila Sésamo e criar peças de propaganda personalizadas para embalagens, sinalização em lojas e ações na televisão.

“A ideia é estender a ação para ou-tros países, incluindo o Brasil”, afirma a representante da PMA no País, Valeska de Oliveira. Atualmente, empresas bra-sileiras que exportam FLV para os Estados Unidos podem participar da ação envolvendo a Vila Sésamo.

No Brasil, a PMA desenvolve seu trabalho há cerca de três anos por meio de uma sede de representação, localizada em São Paulo (SP), e de viagens por todo o País. Atualmente, a entidade possui quase 50 associados entre supermercadistas, distribuido-res e produtores.

À BRASILEIRAPor aqui, o Grupo Fisher, que

produz frutas, já colhe resultados positivos do licenciamento para uso

da marca Turma da Mônica desde 1994. A ação que começou para escoar as maçãs menores e com valor inferior às graúdas, elevou as vendas de 1 milhão de quilos por ano para 1,5 milhão de quilos por mês, em pontos de venda espalhados por todo o País. “A Turma da Mônica é uma marca conhecida e que tem a confiança das mães. Além disso, as frutas são previamente embaladas e higienizadas, o que reforça a praticidade. Com o passar dos anos, atingimos outros públicos além das crianças – os solteiros e os casais sem filhos”, afirma o gerente comercial da Fisher, Wilson Passos. Segundo ele, essa parceria agrega valor para o produto de, em média, 20%, o que cobre os custos do licenciamento. “Prova disso, foi a extensão da linha para kiwi e pera. Para 2014, estamos preparando o lançamento da uva sem semente da Turma da Mônica.”

A exemplo da Fischer, outras empresas que atuam no segmento já lançam mão do licenciamento de personagens infantis para estimular o consumo entre os pequenos e seus fami-liares, além de consolidar o nicho de mercado de hortaliças tipo baby e míni.

A alimentação saudável também começou a ser valorizada no segmen-to de restaurantes. Aos poucos, algu-mas redes de fast-food adaptam seus cardápios, incluindo mais saladas e legumes, como opção às fri-turas, por exemplo, além de frutas como sobremesa. Há

também as redes com uma proposta saudável mais clara, que preparam alimentos orgânicos e sucos naturais.

Segundo Valdirene Neves dos Santos, especialista em nutrição clínica e assessora da Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN), a criação de hábitos saudáveis desde a infância é fundamental para a mudança de padrões alimentares. “A criança de hoje é o adulto de amanhã, que será pai e mãe, gerando um efeito multiplicador.” No entanto, a especialista ressalta que a transformação dos hábitos alimentares da população brasileira depende também de fatores como uma oferta variada dos itens, divulgação dos benefícios nutricionais de forma

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“As pessoasjá sabem que o

consumo de frutas,legumes e verduras

faz bem para asaúde, mas ainda

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benefício”

PARTICIPE VOCÊ TAMBÉM

O novo Guia Alimentar da População Brasileira (edição 2014), desenvolvido pelo Ministério da Saúde (MS), que orienta os brasileiros sobre os cuidados com a saúde e como manter uma alimentação saudável e balanceada, encontra-se em fase de consulta pública até 7 de maio, no endereço eletrônico www.saude.gov.br/consultapublica. As contribuições da população serão avaliadas pelo MS e poderão constar do documento final.

64 abr/mai/jun 2014 [ bRaSil eM CÓdiGO ]

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COMENdO fORA dE CASA

acessível ao consumidor e mudanças na apresentação desses produtos, que precisa ser mais prática.

Além disso, atualmente a venda desses itens, fora do lar, costuma ter um preço final superior ao dos ali-mentos processados, ricos em gor-dura, sal e açúcar, o que desestimu-la o consumo. “As pessoas já sabem que o consumo de frutas, legumes e

verduras faz bem para a saúde, mas ainda não conseguem tornar tangível esse benefício. É preciso um traba-lho maior nesse sentido que envolva a todos: produtores, comerciantes e governo”, afirma Valdirene.

De fato, pesquisas sobre hábitos de consumo acenam nessa direção. Es-tudo realizado pela Nielsen, em 2013, revela que, ao lado da tecnologia, a

saudabilidade irá nortear o consumo no futuro. De acordo com o levanta-mento, 69% dos 164 milhões de indi-víduos, que concentram 92% do po-tencial do consumo do País, esperam que os alimentos ajudem a manter a saúde. Quem sabe, no futuro, os car-dápios exibam mais porções de lico-peno, potássio, betacaroteno, fibras e vitaminas C e E? É esperar para ver.

* Prefira um restaurante a um fast-food, pois há mais opções de pratos, e não apenas lanches

* Preferencialmente, peça uma refeição que acompanhe salada e/ou legumes, além de alimentos assados e cozidos. Evite as frituras

* Recuse as sobremesas. Se estiver com muita vontade, escolha um doce à base de frutas (doce de abóbora, goiabada, etc.) e esteja atento às quantidades

* Troque o refrigerante por um suco natural sem açúcar

* O arroz e feijão são inseparáveis devido à riqueza de nutrientes. A dica para uma proporção ideal é uma porção de feijão para duas de arroz

* Caso a escolha seja uma massa, prefira as integrais e os molhos menos calóricos e mais saudáveis. O molho ao sugo, por exemplo, é preparado com tomates frescos e sem conservantes. Os molhos prontos possuem excesso de sódio e aditivos para a conservação

* Se a empresa disponibilizar cozinha ou refeitório, prefira ser o responsável pelas suas refeições. Vá aos restaurantes, no máximo, três vezes por semana

A hora do almoço durante o expediente de trabalho é sempre um grande desafio para os profissionais. Muitas vezes, com pouco tempo ou opções para as refeições, o cardápio é escolhido de forma incorreta, prejudicando até mesmo o rendimento do funcionário. Confira, a seguir, algumas dicas da nutricionista da Clínica Vitalux - Santo André, Viviane Corrêa do Nascimento, para a melhor composição do seu prato.

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66 abr/mai/jun 2014 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

[[tecnologia & negócios

‘Edson PerinEditor do RFID

Journal Brasil ‘Tenho notado, por meio de conversas com diversos usuários e fornecedores de soluções de identificação por radiofrequência (RFID), que o interesse pela tecnologia tem crescido de modo acelerado no Brasil, graças aos casos de sucesso já conhecidos, especialmente os que temos documentados no site RFID Journal Brasil e também no evento anual RFID Journal LIVE! Brasil.

Além dos projetos privados, há diversas iniciativas públicas com RFID em fase de maturação, como Siniav, Brasil-ID, Chip do Boi, Uniformes Escolares, Passaporte Eletrônico, etc. Também há oportunidades que precisam ser aceleradas, como o uso de RFID para rastrear e dar garantia de autenticidade a medicamentos e outras substâncias de uso controlado, como explosivos e materiais militares.

Impossível deixar de notar que há milhares de aplicações para as quais esta tecnologia poderia significar ganhos enormes, não apenas em economia de recursos

e desperdício de materiais e tempo mas, principalmente, em qualidade e segurança.

Lógico que o varejo, de um modo geral, obtém resultados da RFID bem maiores do que se dava conta há poucos anos. “É que o custo das tags (etiquetas) caiu, e isso está ajudando as empresas a conquistar resultados”, dizem alguns. Mas eu faço uma análise mais ampla do que a questão do custo da etiqueta. Parece que a redução do custo das tags tornou, sim, mais fácil apresentar um projeto de RFID que seja aceito para testes.

Pelo que tenho estudado sobre RFID no decorrer dos anos, o custo da tag pode significar muito pouco diante dos ganhos que muitas empresas, de diversos setores, têm conquistado com a tecnologia. Em muitos casos, a simples mudança de processos já paga o investimento em RFID com rapidez (ROI ou retorno sobre o investimento) e ainda promove a eficiência e a economia de recursos.

Vamos pensar em um controle de estoques de uma loja de varejo de vestuário, por exemplo. A eficiência na contagem de SKUs (Stock Keeping Units) com RFID apresenta resultados que beiram os 100%, ou com dez unidades, ou com 10 milhões. Além disso, o inventário ocorre em tempo real, de modo automático.

Então, eu recomendaria a você que fizesse um teste com a tecnologia RFID. Você vai se surpreender com os resultados.

A diminuição do custo das etiquetas facilita a aceitação de projetos de RFID para testes

Economia operacional

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Além da expressiva redução do custo das tags nos últimos anos, a economia operacional da RFID oferece ganhos adicionais às empresas

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