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ELVIS AGUILAR DOS SANTOS
ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO BRASIL: UMA ANÁL ISE DAS
VARIÁVEIS INFLAÇÃO E SALÁRIO MÍNIMO DE 1990 a 2010.
CANOAS, 2015
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ELVIS AGUILAR DOS SANTOS
ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO BRASIL: UMA ANÁL ISE DAS
VARIÁVEIS INFLAÇÃO E SALÁRIO MÍNIMO DE 1990 a 2010.
Trabalho de conclusão apresentado á banca examinadora do Curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.
Orientação: Prof. Dr. Moisés Waismann
CANOAS, 2015
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ELVIS AGUILAR DOS SANTOS
ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO BRASIL: UMA ANÁL ISE DAS
VARIÁVEIS INFLAÇÃO E SALÁRIO MÍNIMO DE 1990 a 2010.
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas do Centro Universitário La Salle – Unilasalle.
Aprovado pela banca examinadora em 20 de julho de 2015.
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________
Profª Dra. Judite Sanson de Bem
Unilasalle
_______________________________________
Prof. Dr. Moisés Waismann
Unilasalle
______________________________________
Prof. Dr. Róber Iturriet Avila
FEE - Unisinos
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Dedico o meu TCC para todos aqueles que
fizeram do meu sonho uma realidade, me
proporcionando forças para que eu não
desistisse de ir atrás do que eu sonhava para
minha vida. Pois muitos obstáculos foram
impostos durante esses últimos anos, mas
graças a Deus e vocês, eu não fraquejei.
Obrigado por tudo família, professores, amigos
e colegas. Serei eternamente grato pelas
palavras de apoio e incentivo dadas por cada
um!
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AGRADECIMENTOS
São muitas as pessoas que devem ser lembradas e agradecidas. Os
agradecimentos são voltados não apenas para aqueles que foram imprescindíveis à
realização deste trabalho, mas também para quem contribuiu ao longo do caminho
que percorri para chegar até este momento que encerra uma importante fase da
minha vida. De alguma forma, as pessoas aqui citadas auxiliaram, tanto
profissionalmente, quanto pessoalmente, a formar muito do que sou hoje, bem como
instigaram as escolhas dos caminhos os quais tomei.
Em primeiro lugar agradeço a Deus por cada momento da minha existência, e
por cada momento que obtive direção e conforto ao longo desta trajetória.
Em segundo lugar, agradeço imensamente aos meus pais, Mara e Mario, por
toda a dedicação, o esforço e o carinho que direcionaram a mim ao longo dos anos.
São dois exemplos de vida que me inspiram todos os dias, assim como agradeço in
memoriam a minha amada Tia Cristina, que plantou em mim valores sociais e
humanos que definiram meu caráter como ser social.
A minhas irmãs, Giovana, Pâmela, Paola e minha sobrinha Mehadi, que
sempre estiveram ao meu lado, por todo o companheirismo e por todo o carinho.
Pois são minhas grandes parceiras nos momentos bons e meu suporte nos
momentos difíceis. Amo muito cada uma de vocês!
Aos queridos colegas do CEPROFE, os quais me mostraram o sentido da
palavra união. Pois ter convivido com pessoas tão especiais e queridas como vocês
não tem preço, muito obrigado Chico Vicente, Juliana Lemons, Sandrinha, Daledier,
Mauro, Marcelo Albuquerque, Carolina César, Caroline e Fabíula.
Ao Prof. Moisés Waismann, devo enormes agradecimentos. Em primeiro
lugar, por todos os ensinamentos providos ao longo da minha vida acadêmica. Em
segundo lugar, pela oportunidade de trabalhar pesquisa no observatório, a qual abriu
muitas portas que foram de extrema valia para a minha formação como economista.
Por fim, agradeço pela orientação deste trabalho, por todo o enorme apoio na
realização desta monografia.
Aos professores do Unilasalle, Profª Judite pelo exemplo de ética e
comprometimento com a profissão, a Profª Nelci pelas maravilhosas tardes de
pesquisa e aprendizado, e quem sabe ser mais um aluno futuro presidente do Brasil,
ao Prof. Luciano Braga por ter despertado o espirito da inquietação na busca por
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mais conhecimento, ao Prof. Sthefano pelos calorosos debates em aula que em
muito contribuíram para o meu entender da conjuntura econômica, a Profª Clarisse
por ter me instigado a se aventurar na pesquisa de ordem social, ao Prof. Rudney
pelas palavras motivadoras em momentos de desanimo, que foram de grande
importância ao longo desta trajetória, ao Prof. Leonardo pela troca de experiências
profissionais no meio empresarial, sempre orientando com um alto profissionalismo,
ao Prof. Alexander que sempre estava a disposição para auxiliar na elaboração e
entendimento de modelos complexos e ao Prof. Mario pelas várias discussões que
em muito contribuíram para tomadas de posição em termos de politica econômica.
Aos meus colegas do curso de Ciências Econômicas, pois tornaram mais leve
e divertido o período de estudos ao longo do curso, nunca esquecerei o prazer que é
fazer parte desta grande família.
Aos citados e a todos os outros que de alguma forma me auxiliaram nesse
processo de crescimento, um muito obrigado.
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“O desenvolvimento deve referir-se à melhoria da qualidade de vida que levamos e às liberdades que desfrutamos. Desse modo, redistribuir a renda e a riqueza no Brasil emerge como elemento central para erradicar a pobreza e criar as bases sólidas para o desenvolvimento sustentado e solidário”.
Amartya Sen
Concentração da renda: Ciência ou desencargo de consciência? “[...] o processo de concentração da renda só pode ser considerado ‘natural’ no sentido de que é natural que num regime escravocrata haja escravos, que num regime feudal haja senhores e servos, ou ainda, no sentido de que para um canibal é natural que alguns comam e outros sejam comidos.”
Rodolfo Hoffmann
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RESUMO
Este estudo objetiva analisar a evolução recente da distribuição de renda brasileira,
no período de 1990 a 2010. Para isso será discutida as principais escolas que
debatem o tema da distribuição de renda, a relação entre distribuição de renda com
a inflação e o salário mínimo, e a discussão sobre o tema no Brasil, com um resgate
ao debate de 1970 até a atualidade dentro do período proposto neste trabalho, bem
como analisar a tendência das variáveis no período em questão. Para alcançar tais
objetivos, este estudo utiliza medidas consolidadas na literatura para a mensuração
da desigualdade. O índice de Gini, índice de Theil-T, Razão entre a renda dos 10%
Mais Ricos frente os 40% Mais Pobres e a Razão entre a renda dos 20% Mais Ricos
frente os 20% Mais Pobres foram utilizados para medir a desigualdade. Os
resultados apontam que houve uma redução da desigualdade de renda no Brasil, ao
mesmo tempo em que a inflação foi controlada e o salário mínimo real apresentou
valorização. Isso indica que existe uma relação entre as variáveis com a redução da
desigualdade, este estudo também procura evidenciar que o controle da inflação
associado a uma valorização do salário mínimo real favoreceu uma redução da
desigualdade.
Palavras-chave: Distribuição de Renda. Inflação. Salário Mínimo Real. Brasil.
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ABSTRACT
This study aims to analyze the recent evolution of the Brazilian income distribution,
from 1990 to 2010. To do that, will be discussed the main schools debating the issue
of income distribution, the relationship between income distribution, inflation and the
minimum wage, and the discussion on the topic in Brazil, with a ransom from the
1970 to the present debate within the period proposed in this paper, to analyze the
trend of the variables in the period. To achieve these objectives, this study uses
consolidated measures in the literature for the measurement of inequality. The Gini
index, Theil-T index, ratio of the income of the richest 10% front 40% Poorest and the
ratio of the income of the richest 20% front 20% Poorest were used to measure
inequality. The results show that there was a reduction in income inequality in Brazil,
while inflation was controlled and the real minimum wage has appreciated. This
indicates that there is a relationship between the variables and the reduction of
inequality, this study also seeks to show that the control of inflation associated with
an appreciation of the real minimum wage favored a reduction in inequality.
Keywords: Income Distribution. Inflation. Real wages Min. Brazil.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Impactos da Inflação sobre a desigualdade no curto prazo......... 28
Figura 2 - Impactos da Inflação sobre a desigualdade no longo prazo........ 30
Figura 3 - Valor do Salário Mínimo Real no Brasil – (1990 -2010)............... 34
Figura 4 - Evolução do SM e do Índice de Gini para o Rendimento do
Trabalho e a Renda Domiciliar per capita – (1995 - 2005)............. 35
Figura 5 - O Índice de Gini para o Brasil – (1990 – 2010)............................ 37
Figura 6 - A Curva de Lorenz........................................................................ 45
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Valores do Índice de Gini no Brasil – (1990 – 2010).................... 47
Tabela 2 - Valores do Índice de Theil – T no Brasil – (1990 – 2010)............. 49
Tabela 3 - Razões entre rendas no Brasil – (1990 – 2010)........................... 51
Tabela 4 - Valores do PIB e Variação anual no Brasil – (1990 – 2010)......... 54
Tabela 5 - Valores do PIB per capita e Variação anual no Brasil – (1990 –
2010)...............................................................................................
56
Tabela 6 - Valores percentuais da Inflação no Brasil – (1990 – 2010) ......... 60
Tabela 7 - Valores do Salário Mínimo Real no Brasil – (1990 – 2010)......... 63
Tabela 8 - População, PIB, PIB per capita e Variações anuais no Brasil –
(1990 – 2010).................................................................................
65
Tabela 9 - Medidas de Desigualdade no Brasil – (1990 – 2010).................. 66
Tabela 10 - Valores da Inflação e Salário Mínimo Real no Brasil – (1990 –
2010)............................................................................................... 67
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Relação entre Inflação e Desigualdade I – (1990 – 2010)........... 70
Gráfico 2 - Relação entre Inflação e Desigualdade II – (1990 – 2010).......... 72
Gráfico 3 - Relação ente SMR e Desigualdade I – (1990 – 2010)................. 75
Gráfico 4 - Relação entre SMR e Desigualdade II – (1990 – 2010)............... 77
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ABREVIATURAS
PAEG Programa de Ação Econômica do Governo
PIB Produto Interno Bruto
PND Plano Nacional de Desenvolvimento
SM Salário Mínimo
SMR Salário Mínimo Real
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 13
2 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E SEUS ASPECTOS TÉORICOS... .............. 16
2.1 Distribuição funcional da renda................ ............................................... 16
2.2 Distribuição pessoal da renda.................. ................................................ 24
2.3 Distribuição de renda e macroeconomia.......... ...................................... 27
2.3.1 A relação entre inflação e distribuição de renda.......................................... 28
2.3.2 A relação entre salário mínimo e distribuição de renda............................... 32
2.4 O debate sobre distribuição de renda no Brasil. .................................... 36
3 ESTUDO DE PARÂMETROS DAS MEDIDAS DE DESIGUALDADE,
RIQUEZA, INFLAÇÃO E SALÁRIO MÍNIMO................. ............................ 43
3.1 Medidas de desigualdade........................ ................................................. 44
3.1.1 Índice de Gini............................................................................................... 45
3.1.2 Índice de Theil-t........................................................................................... 47
3.1.3 Razão 10%+ / 40%- e Razão 20%+ / 20%-................................................. 50
3.2 Medidas de riqueza............................. ....................................................... 52
3.2.1 Produto interno bruto................................................................................... 52
3.2.2 PIB per capita.............................................................................................. 55
3.3 Inflação....................................... ................................................................ 57
3.4 Salário mínimo................................. .......................................................... 61
4 DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS................... ............................... 65
4.1 A relação entre inflação e desigualdade........ ......................................... 68
4.2 A relação entre salário mínimo e desigualdade.. .................................... 74
5 CONCLUSÃO........................................ ...................................................... 80
REFERÊNCIAS........................................................................................... 83
13
1 INTRODUÇÃO
Os países nos quais existe uma incidência de má distribuição de renda podem
ser classificados em dois grupos: (1) Aqueles nos quais a renda nacional é
insuficiente para garantir o mínimo indispensável a cada pessoa e; (2) Aqueles nos
quais a renda nacional é suficientemente elevada para garantir o mínimo necessário
a todos, mas a pobreza resulta da má distribuição da renda. No caso brasileiro,
quando utilizada à medida de desigualdade de renda, o índice de Gini, observa-se
como resultado uma das desigualdades de renda mais altas no mundo com todas as
complexidades socioeconômicas do país.
Presumindo que a função bem-estar social sintetiza o bem-estar individual de
cada cidadão em sua sociedade, parte-se do pressuposto que uma maior
distribuição de renda favorece um maior bem-estar individual, pois o índice de Gini
varia de 0 a 1: no mínimo todos são iguais e no máximo uma pessoa detém todos os
recursos da economia.
Exposta a argumentação e posterior conceituação do problema da
desigualdade de renda no Brasil, observa-se no período em analise de 1990 a 2010,
uma queda na desigualdade de renda cuja importância envolve algumas razões,
entre as quais: (1) Promoção da igualdade de condições; e (2) Queda na
desigualdade que significa uma menor distância entre pobres e ricos. (NERI, 1996;
ROCHA, 2003; BARROS et al., 2000).
Com base em um estudo com foco na inflação e no salário mínimo no período
de 1990 a 2010, almeja-se investigar as alterações na distribuição da renda no
Brasil, dado os resultados do controle da inflação e elevação do salário mínimo.
Com isto, faz total sentido analisar as particularidades da experiência
brasileira, no intuito de que os estudos sobre este assunto possam contribuir para a
elaboração de políticas socioeconômicas para combater a pobreza e a desigualdade
social presentes no Brasil. Nas últimas décadas, alguns pesquisadores, indicam que
a desigualdade social observada no Brasil pode ser atribuída ao processo de
modernização ocorrido no início do século anterior, e não mais como herança do seu
passado histórico. (SIQUEIRA, 2001; FERREIRA, 2000).
Conforme Barros, Henriques e Mendonça (2000) destacam, pela análise do
rendimento domiciliar per capita, entre 1977 a 1999, a desigualdade de renda
brasileira se manteve estável. Contudo, a partir de 1994, o índice de Gini, que mede
14
o grau de desigualdade de renda, começa a cair, indicando que a sociedade
brasileira está reduzindo sua desigualdade e, consequentemente melhorando a
qualidade de vida das pessoas.
Partindo das constatações acima, se identifica uma necessidade de fomentar
a discussão a respeito da desigualdade de renda no Brasil e a influência de fatores
como a inflação, o salário mínimo e outras variáveis. Neste sentido, este trabalho
contribui com a investigação do comportamento da desigualdade frente a estes
fatores no período de 1990 a 2010.
Constitui-se como problema pesquisa, entender como se relaciona a distribuição
de renda no Brasil em relação às variáveis inflação e salário mínimo no período de
1990 a 2010?
Tendo como objetivo geral, verificar como se relaciona a distribuição de renda no
Brasil em relação às variáveis inflação e salário mínimo no período de 1990 a 2010,
como objetivos específicos apresentar conceitos e teorias que problematizem
distribuição de renda e o debate no Brasil, sua relação com as variáveis inflação e
salário mínimo; Conceituar e apresentar a trajetória, no período estudado, das
medidas de desigualdade de renda: (1) Índice de Gini; (2) Índice de Theil – T; (3)
Razão entre a renda apropriada pelos 10% mais ricos e pelos 40% mais pobres e (4)
Razão entre a renda apropriada pelos 20% mais ricos e pelos 20% mais pobres, das
medidas de riqueza: (1) PIB e (2) PIB Per capita, bem como das variáveis inflação e
salário mínimo e discutir a relação das variáveis inflação e salário mínimo frente às
medidas de desigualdade;
Para analisar as medidas de desigualdade foi utilizado o Índice de Gini, Índice
de Theil-T, a Razão entre a renda dos 10% Mais Ricos frente os 40% Mais ricos e a
Razão dos 20% Mais Ricos frente aos 20% Mais Pobres.
Para atender aos objetivos propostos, o trabalho está estruturado em três
capítulos, além da introdução e da conclusão. O segundo capítulo apresenta as
principais teorias sobre distribuição de renda, uma discussão teórica utilizando
dados empíricos sobre a relação entre distribuição de renda, inflação e salario
mínimo, e o debate sobre distribuição de renda no Brasil de 1970 até a atualidade,
uma vez que os debates nos anos de 1970 foram precursores da temática
distribuição de renda no Brasil. No terceiro capítulo são apresentadas as
metodologias de mensuração da desigualdade, riqueza e as variáveis inflação e
salário mínimo, e o resultado das mesmas no período de 1990 á 2010. No quarto
15
capítulo observam-se os resultados e suas relações com as variáveis nos períodos
selecionados. Por fim, apresentam-se as conclusões obtidas e as sugestões para
trabalhos futuros.
16
2 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E SEUS ASPECTOS TÉORICOS.
A distribuição de renda refere-se à maneira pela qual a renda nacional é repartida
entre as várias categorias de pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para
sua produção. Logo, para a análise da distribuição de renda é de extrema
importância o entendimento do que são as categorias de pessoas. Caso essas
categorias sejam compostas por trabalhadores e capitalistas, então a análise trata-
se da distribuição funcional da renda. Mas, se essas categorias são definidas pelas
características das pessoas (classe de renda, cor, gênero, etc.) então se trata da
distribuição pessoal da renda (HOFFMAN, 2001).
O objetivo deste capítulo visa apresentar a questão da distribuição de renda em
termos teóricos e a discussão no Brasil e, prioritariamente, discutir a questão da
distribuição de renda e sua relação com inflação e salário mínimo.
Então, na primeira seção, será apresentado um levantamento histórico e teórico
das duas principais escolas que discutem a temática da distribuição de renda. Na
segunda seção ocorrerá à discussão da distribuição e sua relação com a
macroeconomia, com especial ênfase na relação entre distribuição de renda com
inflação e salário mínimo, com a utilização de dados empíricos para embasamento.
Posteriormente, na terceira seção, é realizado um levantamento histórico relativo ao
debate no Brasil sobre a distribuição de renda com início nos anos 1970 até os dias
atuais.
2.1 Distribuição Funcional da Renda
A distribuição funcional da renda está associada à repartição da renda gerada
no processo produtivo pelos fatores utilizados na produção. O significado do termo
funcional indica que a repartição da renda é realizada levando-se em conta a função
desempenhada pelos agentes econômicos no processo produtivo. Que podem ser
definidos pelas participações dos rendimentos do trabalho e do capital na renda
gerada pela economia, onde tais relações, obtidas por meio de uma desagregação
do PIB pela ótica da renda, servem como fundamento para a avaliação dos padrões
distributivos das sociedades (HALLAK; SABOIA, 2014).
Esta abordagem que visa à repartição da renda total tem sua origem na
tradição clássica que é iniciada em Adam Smith, pois antes disto a ciência
17
econômica se preocupava com a questão da agricultura como única geradora de
excedente, desenvolvida pelos Fisiocratas, em especial Quesnay, que via a
sociedade dividida em classes produtiva, estéril e ociosa, diferente da divisão
apresentada pela escola inglesa. A temática do excedente se torna uma
preocupação da escola inglesa, com Adam Smith, que considerava a manufatura tão
importante quanto à agricultura na geração de excedentes, onde se inicia uma
discussão sobre os mecanismos econômicos e como os acréscimos obtidos são
distribuídos.
Na segunda metade do século XVIII, Adam Smith se preocupou em explicar
como ocorria a repartição da renda entre os grupos de detentores de capital,
trabalhadores e proprietários de terra, o que marca uma nova abordagem que
influenciaria toda a escola clássica, uma vez que a sociedade seria dividida em
ordens correspondentes a classes (ALVAREZ, 1996).
Smith acreditava que a ordem econômica era determinada pelo livre mercado
autorregulado, e que existiam taxas naturais às quais tendiam as remunerações dos
grupos participantes na produção. E os salários de subsistência, que é o suficiente
para manter e reproduzir a força de trabalho. Entretanto, os lucros, seriam geridos
pela competição entre os capitalistas através da busca de um emprego e
disponibilidade de recursos, com o advento de progressivas oportunidades que
gerassem lucro e um maior acirramento entre concorrentes, a taxa natural dos lucros
caminharia em direção do suficiente a manutenção do capital, que seria o estado
estacionário (HUNT, 2005).
Quem se debruçou em investigar com maior profundidade a questão dos
salários tenderem a subsistência foi Malthus, em sua opinião, todo e qualquer
aumento dos salários levariam a um aumento na reprodução dos trabalhadores, o
expandido vultuosamente, o que levaria a um excesso de oferta de mão-de-obra e
uma possível redução dos salários, que com isso iria comprometer as necessidades
básicas dos trabalhadores e sua possível reprodução, sendo o inverso deste
movimento uma situação de aumento dos salários com resultados semelhantes
(ALVAREZ, 1996).
Boa parte destas conclusões se originam em seu principal trabalho,
denominado como a lei da população, que teve grande influência em outras áreas e
não se restringiu a ciência econômica, e que discute que o potencial de multiplicação
da população é bem superior ao nível de terra disponível para prover a subsistência
18
mundial, e que as possíveis consequências de um grande aumento populacional
seriam nefastas. Malthus também trouxe ao debate a lei dos rendimentos
decrescentes, que se enraizou na tradição econômica. Sendo um fator de produção1
constante, mais o incremento de unidade de fatores variáveis, levariam a acréscimos
decrescentes do produto necessário a certo ponto2, tendo está ideia sido trabalhada
por David Ricardo, com a constatação quanto à limitação de terras existentes e as
diferenças e graus de qualidade (HUNT, 2005).
A partir do século XIX, o trabalho de Smith se fortalece em Ricardo, que
segue adiante suas ideias e consolida o que se denominou como teoria clássica,
que expõe a natureza de destruição do ideal de harmonia na sociedade, ao
apresentar a natureza negativa dos proprietários de terra, onde os interesses
conforme Ricardo, iriam à contramão dos trabalhadores e capitalistas no
rebaixamento dos preços de bens e salários e como consequência, o custo de
subsistência.
A consolidação da visão que a taxa de lucro é reguladora do crescimento
econômico, partiu de Ricardo, onde a parcela dos lucros é vista como melhor
escolha na origem de incrementos no produto. A organização da análise Ricardiana
da dinâmica econômica se dá a partir do setor agrícola. Observando que os salários
orbitavam em torno do nível de subsistência, conforme a ideia de crescimento
populacional de Malthus, a questão dos rendimentos decrescentes e a qualidade
das terras explicava a queda nas taxas de lucro. Em que a pior terra utilizada geraria
uma renda “0” para o proprietário, sendo que os melhores excedentes da produção
eram encaminhados aos proprietários, e a utilização progressiva das terras inferiores
levavam a uma maior necessidade de quantidade de insumos e de um maior
adiantamento de alimentos aos trabalhadores, e o trabalho necessário aumentaria
para a produção de uma mesma quantidade de produto marginal. Sendo assim,
cairiam os lucros no setor, mesmo supondo taxas de lucro similares na economia via
movimentação de capitais, a taxa de lucro tenderia a cair. Como essas tendências
na distribuição do produto social eram de uma contínua proporção destinada à renda
da terra, com salários decrescentes e aos níveis de subsistência, seguindo a lógica
da dinâmica da população (HUNT, 2005).
1 Capital, terra e trabalho. 2 Em Turgot e nos fisiocratas o produto decrescente já era discutido.
19
Em outra esfera, John Stuart Mil se contrapõe ao fatalismo de Malthus, que
condenava os trabalhadores a um futuro iminente de pobreza ao qual não
escapariam, partindo de uma interpretação onde as leis da distribuição estariam
sujeitas a intervenção humana ao contrário daquelas relacionadas à produção.
Partindo do caminho da elevação dos níveis de instrução e de uma manifestação de
bom senso, Stuart Mill via uma possibilidade de mudança de hábitos e de
comportamentos, que possibilitariam um escape determinante do futuro nefasto
oriundo do aumento populacional. Com está possibilidade, abrir-se-ia uma brecha
para se enxergar na parcela de salários maiores uma forma de intervir e ampliar a
produção social frente ao que estava posto até então.
Existia certa inquietação em Stuart Mill referente ao estado estacionário
descrito acima, que Ricardo via como eminente, pois em sua visão, este estado era
preferível frente ao atual estado em sua época, onde a sociedade britânica
encontrava-se com problemas de embrutecimento e miséria (HUNT, 2005).
A partir do trabalho de David Ricardo, as bases para o desenvolvimento de
uma teoria Marxista de exploração são lançadas, pois se evidenciava que a
quantidade de trabalho incorporado às mercadorias superava ao valor pago pelo
capitalista em forma de salário. Ao não abandonar o trabalho como forma de valor,
que é base do pensamento de Smith e Ricardo, a lógica é que capital recebe um
valor maior ao que emprega (SILVA, 1974).
Com isto, a teoria elaborada por Karl Marx, utiliza a tradição clássica,
centrando sua ênfase na natureza com capitalismo como fato histórico, não
necessitando de leis naturais para entendimento. Onde uma situação de origem
histórica determinou o desenvolver de um modo de produção, em que ocorre uma
separação entre os proprietários de trabalho e capital, a produção de mercadorias
para troca, a divisão do trabalho e a ampliação de mercados. No entanto, expõe a
contradição fundamental do modo de produção capitalista, que seria a coexistência
de um processo de produção social com apropriação privada (HUNT, 2005).
Um diferencial frente aos clássicos na teoria marxista, é o entendimento de
um duplo aspecto no valor da força de trabalho. Em que, conforme os capitalistas,
em que o valor da força de trabalho é adquirido no mercado de trabalho e
determinado pelo trabalho necessário à produção de subsistência e reprodução de
mão de obra. Entretanto, os mecanismos do processo de produção, sobe o comando
dos capitalistas, faz com que seja exigido um tempo de trabalho maior frente ao
20
necessário para a subsistência e produção, na qual desta diferença, que se
estabelece um excedente não pago, que seria a mais valia, que é apropriada pelo
capitalista.
Os salários seriam mantidos em um nível de subsistência, através de um
contingente de trabalhadores estabelecidos como exercito de reserva, que seria
renovado com um aumento populacional e inovações nas técnicas que poupassem
mão de obra, onde mesmo que ocorra uma elevação dos salários, a diminuição da
parte de trabalho não pago e uma redução no ritmo de acumulação acabaria por
desaquecer a busca por trabalho pelos capitalistas:
Mas quando esse decréscimo atinge o ponto em que o capital não obtém mais em proporção normal o trabalho excedente que o alimenta, opera-se uma reação: capitaliza-se parte menor da renda, a acumulação enfraquece e surge uma pressão contra o movimento ascensional dos salários. A elevação do preço do trabalho fica, portanto, confinada em limites que mantém intactos os fundamentos do sistema capitalista e asseguram sua reprodução em escala crescente. (MARX, 1983, p. 71 – 72)
Na concepção de Marx, uma acumulação de excedentes e seu reinvestimento
permanente levariam a um aumento no capital constante por trabalhador. Enquanto
no mesmo espaço de tempo que aumenta o exército de reserva, esta considerável
acumulação do capital faria diminuir a taxa de lucros, que se entende pela razão
entre a mais valia gerada e o capital empregado na produção. E a competição
construída entre os capitalistas, reduziria constantemente o seu numero, onde o
perfil da distribuição de renda caminharia em direção de uma contraposição, de um
lado uma ínfima minoria capitalista e do outro uma grande massa de trabalhadores
que subsistem miseravelmente. Em que, as tensões geradas neste ambiente de
convivência social levariam a uma mudança no modo de produção, em direção ao
Comunismo, em que os processos de distribuição e produção se juntassem em um
único agente (HUNT, 2005).
Mesmo com grandes contribuições do ponto de vista histórico e social que
abrangem áreas diversas dentro e fora do pensamento econômico, as teorias
marxistas são relegadas a uma posição secundária no desenvolvimento do
pensamento da teoria econômica a partir do final do século XIX, onde começa a se
estabelecer de forma hegemônica a assim chamada escola marginalista. Onde as
questões presentes nas teorias clássica e marxista, como estagnação, revolução e
conflito são substitutas pelo equilíbrio e harmonia, com enfoque no indivíduo racional
21
dotado de fatores de produção que busca a remuneração por seus serviços. Nesta
concepção, o trabalho perde a preferencia de ser a fonte de valor, não tendo
distinção em relação ao capital e a terra, pois o sistema que se estabelece como de
mercado, é visto como um sistema eficiente de alocação de recursos nos seus fins
sociais mais benéficos, cabendo maior preocupação com a eficiência da alocação do
que com a distribuição. Como consequência, se estabelece um grande
desenvolvimento da microeconomia3, que parte das famílias e firmas como unidades
tomadoras de decisões de alocações. Logo, a discussão da distribuição de renda,
tanto funcional como pessoal, se resume em preços relativos a fatores em função
dos padrões de oferta e demanda estabelecidos. E a eliminação de intervenções e
distorções sobre o mercado, para que o mesmo se torne justo do ponto de vista
distributivo com eficiência alocativa (RAMOS; REIS, 1991).
Quem definiu questões relativas às parcelas distributivas demonstrando
distanciamento frente à escola clássica, foi um dos fundadores do pensamento
neoclássico, Alfred Marshall. Em sua visão, o salário era uma remuneração pelo
esforço humano, tanto para os proprietários dos meios de produção como pelos
trabalhadores, diferindo dos clássicos e Marx, que via o primeiro como lucros e não
salário. Entretanto, Marshall deduz os juros, que passam a ser entendidos como
uma remuneração pela escolha de adiar o consumo presente, visando um ganho
futuro. Assim o trabalho do produtor é destituído de caráter especial, sendo:
Mas a suposição de que toda esta “mais-valia” é produto do trabalho já apresenta como certo aquilo que, em última análise, procuram provar por seu intermédio. Não tentam prová-lo. E efetivamente não é verdadeiro. Não é verdade que a fiação, numa fábrica, depois de feito o desconto pelo desgaste do maquinário, seja o produto do trabalho dos operários. É o produto do seu trabalho, juntamente com o do empregador e capatazes subordinados, e do capital empregado. E esse capital mesmo é o produto de muitas espécies de trabalho e de espera. Se admitirmos que seja o produto de trabalho apenas e não de trabalho e de espera, podemos, sem dúvida, ser compelidos, por uma lógica inexorável, a admitir que não há justificação para o juro, a recompensa da espera, pois a conclusão está implícita na premissa. (MARSHALL, 1982, p.125)
A partir desta visão, sobre a origem do valor e a posição do trabalho no
processo de produção, que ocorre uma separação das concepções clássico-
marxista da neoclássica. Onde mesmo se propondo a ser cientificamente neutra, a
mesma acaba refletindo uma visão coerente com a sociedade capitalista, onde os
3 Preocupa-se com a formação de preços de bens e serviços (por exemplo, soja, automóveis) e de
fatores de produção (salários, aluguéis, lucros) em mercados específicos.
22
indivíduos atuam visando o próprio interesse em busca de atender a suas
necessidades, sendo por natureza competitiva, aceitando a desigualdade de bem-
estar como um fato natural.
Uma critica referente à questão da distribuição de renda na escola
neoclássica, se fundamenta em poucas evidências diretas do funcionamento dos
mercados frente a uma analogia com mercado perfeito e mais simples, em que se
reconhece o papel dos mecanismos, mas que há mais elementos envolvidos
(RAMOS; REIS, 1991).
Devido a crises, em especial a crise de 1929, e a não materialidade do
equilíbrio previsto pelas modelos neoclássicos, que surge John Maynard Keynes,
que discute a questão do pleno emprego não possuir garantias de funcionamento
automático em uma economia liberal, e se debruça em estudar os níveis agregados
da economia, como os que determinam os níveis de renda e emprego, trazendo as
preocupações para a macroeconomia4 que agora ganha mais atenção. Sobretudo
por que para Keynes o Estado tem papel importante no sentido de amenizar crises e
guiar economia visando o pelo emprego. Mesmo sendo critico da ortodoxia liberal
neoclássica, suas proposições e correções de conceitos como moeda e juros,
tornam o seu trabalho como um esforço no sentido de reformas ao sistema
capitalista, sendo muitas ideias de cunho keynesiano tendo sido receptivas por
formuladores de politica econômica e incorporadas na teoria neoclássica (ALVAREZ,
1996).
Keynes não desenvolveu trabalhos se dedicando exclusivamente a questão
da distribuição de renda, mas por outro lado, suas ideias seriam retomadas
posteriormente e desenvolvidas teorias de distribuição de renda com certo
parentesco keynesiano, pois Keynes observou a estabilidade dos agregados de
salários e lucros desde o século XIX na Grã-Bretanha, mesmo com grandes avanços
nas técnicas de produção e acumulação, que mais tarde inspiraria estudos sobre as
parcelas distributivas (HUNT, 2005).
Contemporaneamente a Keynes, Kalecki desenvolve suas ideias frente a
grave crise mundial, onde a noção de harmonia entre os agentes não se sustenta,
pois em seu modelo, as firmas visam determinar os preços das mercadorias
agregando uma margem, que seria o mark-up, adicionando os custos de produção,
4 Preocupa-se com o comportamento da Economia como um todo, considerando variáveis globais
como consumo agregado, renda nacional e investimentos globais.
23
salários e matérias primas, visando um lucro, com isso impedem os trabalhadores de
garantirem um ganho real em suas reinvindicações, em função deste meio de
repasse de custos. Este mecanismo das firmas é tão maior quando o grau de
monopólio em seu setor, sendo assim maior será a participação do capital na
repartição da renda com está situação. Sendo a distribuição de renda, como uma
função do grau de imperfeição dos mercados (RAMOS; REIS, 1991).
Uma aplicação do aparato keynesiano, visando à questão distributiva foi
realizada por Kaldor, com formulações para a parcela de lucros. Onde quanto menor
for à diferença entre a propensão a poupar dos capitalistas e a propensão a poupar
dos trabalhadores, maior será a sensibilidade da parcela de lucros a variações na
taxa de investimento, onde se assume como hipótese o investimento autônomo e o
pleno emprego, tendo o modelo incorporado mudanças na sociedade, em especial,
com a possibilidade de não capitalistas pouparem, pois Kaldor acreditava em
limitações politicas em faixas de variação das parcelas distributivas, com relativa
estabilidade frente ao modelo neoclássico. Com fatores que poderiam determinar a
magnitude distributiva, que vão além dos keynesianos, como taxa de acumulação,
taxa de investimento, estrutura tecnológica e poder de barganha entre trabalhadores
e capitalistas (RAMOS; REIS, 1991).
A escola denominada neo-ricardiana, que busca recuperar conceitos que
antecedem os neoclássicos, entendem que a distribuição de renda não é
determinada nas relações de mercado, tendo pouca relação com a determinação
dos preços relativos dos produtos, pois a distribuição do excedente está atrelada a
questões de fundo sociológico e institucional, não tendo relação com os princípios
marginalistas, como poder politico e financeiro, grau de competição, união sindical
ou relações étnicas e raciais (ALVAREZ, 1996).
Outra escola oriunda do pensamento marxista, denominada economia
radical5, também corrobora com a questão do poder de barganha entre o trabalho e
capital, frente à dificuldade de se quantificar a variável exploração, que é vista como
determinante da distribuição de renda para esta escola (ALVAREZ, 1996).
5 Escola influenciada pelo pensamento econômico de Karl Marx e pelos conflitos sociais do período, formada pelos Professores Samuel Bowles, Herbert Gintis, Stephen Resnick, Richard Wolff, and Richard Edwards, do Departamento de Economia da Universidade de Massachussets (Amherst), que a partir dos anos 1970, transformou-se num dos mais importantes centros de pesquisa e ensino de economia radical nos EUA.
24
O debate sobre a distribuição funcional de renda tem perdido relativo espaço
frente à distribuição pessoal de renda, em parte devido ao desenvolvimento da
escola predominante de fundo neoclássica, onde as parcelas distributivas têm sido
utilizadas visando explicar padrões de distribuição pessoal de renda.
2.2 Distribuição Pessoal de Renda
A distribuição pessoal de renda, diferentemente da distribuição funcional de
renda, capta fundamentalmente a renda salarial com o acréscimo da previdência e
assistência social, cobrindo ou não a renda do capital na forma de lucros e
dividendos e os juros, a depender a metodologia adotada pela PNAD. Entretanto, ela
se torna importante ao possibilitar conhecer a distribuição do bem estar entre os
indivíduos, assim como as causas intrínsecas relativas à pobreza em uma sociedade
e a concentração de renda entre estratos sociais.
Alvarez (1996) expõem que a fundação de teorias no plano da distribuição
pessoal de renda é bem mais atual que no caso da distribuição funcional, de forma
que a definição entre correntes teóricas não é tão clara.
Tem-se como referência sobre distribuição pessoal de renda a Lei de Pareto,
que é uma equação formulada por Vilfredo Pareto, oriunda do resultado de dados
investigados de diferentes sociedades em tempos históricos diversos, explicitando
que a distribuição de renda entre os indivíduos aproxima-se de uma distribuição log-
normal6, com uma cauda se estendendo à direita de forma assimétrica, refletindo
uma desigualdade na distribuição (ALVAREZ, 1996).
Na concepção de Pareto, ele tinha encontrado uma lei semelhante a lei da
gravitação, onde “a” seria correspondente à constante gravitacional (ALVAREZ apud
BRONFENBRENNER, 1971).
Partindo de uma concepção que defende processos aleatórios visando
determinar a distribuição de renda, surge a Teoria Estocástica, que usa um modelo
log-normal para determinar a distribuição de renda, levando em consideração
diversas influências para determinar a produção dos trabalhadores, como as
variáveis velocidade, educação e horas trabalhadas com uma distribuição normal,
logo se obteria uma distribuição log-normal a ser observada de forma instantânea.
6 O produto de várias variáveis independentes.
25
Algumas teorias se desenvolveram com ideias baseadas em diferenças de
habilidades entre os homens, dentro desta discussão as fontes se centram em
questões referentes à herança genética e ambientais relacionados ao meio familiar,
cultural e a educação recebida. Alvarez apud Taubman (1978) demonstra resultados
em que os fatores genéticos apresentam maior importância, entorno de 60%, a partir
de uma análise com dados de gêmeos idênticos e fraternos, que demostra resultado
superior ao relativo via anos de escolaridade vis a vis os ganhos dos indivíduos.
Até então foram expostas as teorias que convergem no ponto de
independência de possibilidades de as escolhas humanas determinarem a
distribuição e sua forma. Onde se acrescenta a isto, que as variáveis são de origens
não econômicas. Então logo se destaca as teorias alternativas, como a teoria do
capital humano, que surge como uma reação a abordagens não econômicas
(ALVAREZ apud MINCER, 1976).
O pioneiro a atribuir à escolha humana e gostos individuais como decisivos
para determinar os padrões de distribuição de renda pessoal foi Milton Friedman,
onde ele procura expor diferenças em função do grau de aversão ao risco variável
entre os indivíduos, em que os dispostos a assumir riscos, tenderiam a ser bem-
sucedidos e remunerados com elevadas rendas. Demais autores de origem na
Escola Austríaca partem da premissa que a pobreza se explica por escolhas
voluntárias, onde determinados gostos podem levar a recair. Entretanto foram
abertas as possibilidades de discussão do grau de liberdade individual que conforme
os teóricos, desta concepção, permitiam explicar a distribuição dos rendimentos.
(ALVAREZ apud MINCER, 1976).
Para os seguidores da teoria do capital humano, que se julgam percursores
das ideias dos grandes economistas como Adam Smith e Marshall, que discutiam a
questão de o salário variar conforme o grau de aprendizagem, treinamento no
trabalho e educação (ALVAREZ apud SAHOTA, 1978).
Onde em sua formulação extrema, os ganhos dependem do valor investido
em educação e treinamento para o trabalho, logo os indivíduos teriam uma
educação comum para entrar no mercado de trabalho, entretanto, assim que
entrassem no mercado de trabalho, a sua decisão consciente visando o
aperfeiçoamento educacional levariam a ganhos futuros oriundos da sua decisão de
investimento presente que elevaria sua produtividade. Tendo as hipóteses de
mercado de trabalho e capitais perfeitos, livre acesso a informação e perfeita
26
informação presentes, rejeitando fatores de ordem sociológica, institucional,
ambiental e genético. Tendo dentro das possibilidades de abordagem as variáveis:
ambiente cultural familiar, estoque de riqueza preexistente, sob a ótica de decisões
de investimento e componentes como idade e sexo (ALVAREZ apud MINCER,
1970).
A escola credencialista7 apresenta questionamentos sobre o pressuposto de
trabalhadores com maior educação terem preferencia em função da sua maior
produtividade, no entender desta escola o trabalhador se credencia através da ótica
do empregador, que pode levar em consideração questões como motivação pessoal,
adaptabilidade a regras institucionais das empresas e confiança que são de ordens
intangíveis que podem ser observadas pelo empregador (RAMOS; REIS, 1991).
Outras teorias diferentes da concepção original do capital humano, como os
modelos de segmentação de mercado, partem da ótica que o determinante para o
julgamento das empresas é o desempenho individual, que varia de acordo com a
cultura, setor e região de atuação das empresas, acrescentando mais variáveis à
educação para julgamento.
Já no modelo de competição por empregos, o mais importante são as
qualificações, que podem gerar acréscimo de produtividade oriunda de
conhecimentos adquiridos no interior da empresa, diferente do sistema de educação
formal, que foge da proposição original do capital humano em função dos efeitos que
possam vir a beneficiar a educação de forma irrestrita (RAMOS; REIS, 1991).
No campo da educação pesquisaram-se os reflexos das desigualdades e
seus impactos nos ganhos, cujo debate nos Estados Unidos nos anos 1960
centrava-se em um ambiente propício em que uma melhor distribuição de
oportunidade e em consequência de renda, estariam sujeitos a partir de uma
educação de qualidade para todos. Entretanto, as evidências não se comprovaram
como esperavam os seguidores do capital humano, abrindo espaço para pesquisas
que levassem em consideração outros fatores de ordem genética e psicológica
(ALVAREZ apud SAHOTA, 1978).
Estudos empíricos no período do pós-guerra, no final dos anos 1970,
demostrou que os perfis de distribuição de renda pessoal e funcional se tornaram
mais igualitários nos países desenvolvidos, elenca-se a isto questões como a força
7 Para maiores detalhes, ver Bonelli e Ramos (1993).
27
de entidades de representação dos trabalhadores e governos de ordem social
democrata e trabalhista, demostrando a influência do poder em questões
distributivas. Onde o poder pode ser entendido não só na esfera politica, mas
também econômica como em função de poder de acesso a bens e serviços e de
restringir esse acesso aos demais, ou de ordem administrativa dentro das
organizações e social ao restringir as ações individuais a regulamentações sociais
(ALVAREZ, 1996).
Outro aspecto importante ao se discutir modelos de distribuição de renda, é o
papel das heranças, entendido na forma material via bens e propriedades, como em
capital humano e social. Onde se entende que existe uma relação entre herança e
investimento, que pode vir a afetar a atuação do capital levando a uma perpetuação
no padrão distributivo, que levou a criação da teoria da herança, ligada a chamada
escola de Cambridge que possui relação com a distribuição funcional nos trabalhos
de Kaldor e Pasinetti8, que vê na herança um determinante na distribuição de renda
a ser percebido, como observado por Alvarez apud Atkinson (1975), onde 2/3 dos
maiores detentores de riqueza receberam heranças. Sendo o tema retomado por
Piketty (2014) na atualidade.
A distribuição pessoal de renda apresenta informações importantes que, como
exposto, podem ser teorizados sobre vários ângulos com variáveis determinantes,
entretanto, questões de ordem macroeconômica podem vir a afetar a distribuição de
renda, seja ela funcional ou pessoal, seja com intencionalidade corretiva advinda de
políticas de salário mínimo visando uma melhor remuneração aos trabalhadores ou
de ordem fatalista em função de um descontrole inflacionário. Estas variáveis e suas
relações serão discutidas nos próximos subcapítulos.
2.3 Distribuição de renda e macroeconomia
A discussão da relação de variáveis macroeconômicas que podem vir a
influenciar na distribuição de renda é antiga, variando de temas como
desenvolvimento econômico, desemprego, câmbio, inflação e nível de salários
(ALVAREZ, 1996). Entretanto, neste subcapitulo se ousará descrever a relação entre
distribuição de renda e inflação, em termos macroeconômicos com dados empíricos
para embasamento teórico, sendo discutida está relação com base nos estudos de
8 Para maiores detalhes, ver Góes (2006).
28
Barboza (2008) e Sabbadini (2010), o mesmo ocorre sobre a relação entre salário
mínimo e distribuição de renda, onde se contextualiza o comportamento do salário
mínimo em estudos de ordem teórica e aplicada, tendo por base os estudos de
Soares (2002) e Saboia (2007), que serão discutidos.
2.3.1 A Relação entre inflação e distribuição de renda
Está relação pode ser discutida em termos de efeitos de políticas
macroeconômicas como em termos teóricos, partindo deste preceito, iniciaremos
está seção pela macroeconomia terminando com as experiências teóricas relatadas
por diversos autores, em especial, a partir de estudos de pesquisadores brasileiros
que buscaram desvendar esta relação.
Geralmente os livros de macroeconomia informam que políticas monetárias
possuem resultados no curto prazo, sendo as de longo prazo com efeitos na taxa de
inflação de equilíbrio. Entretanto, as politicas de curto e longo prazo podem vir a ter
efeitos redistributivos em função da variação na taxa de inflação (BARBOZA, 2008).
Então se discutirá os efeitos de uma politica monetária limitada no curto
prazo, e os efeitos da inflação sobre a desigualdade, para tanto, será utilizado o
esquema elaborado através da figura 1 elabora por Barboza.
Figura 1: Impactos da inflação sobre a desigualdade no curto prazo
Fonte: Barboza, 2008, p. 10.
29
Logo, a distribuição de renda pode vir a piorar em função de uma fase de
desemprego gerada por uma política de contração monetária (efeito 1a), partindo da
hipótese de que as pessoas mais pobres possuem menor capital humano que as
mais abonadas, com isso os efeitos do desemprego, recessões e crises teriam um
maior impacto em suas vidas, onde Barbosa (2008, p. 10) descreve que “Esse efeito
pode ser resumido em uma maior elasticidade produto - emprego para a classe de
mais baixa renda.”.
Em função de uma elevação na taxa de juros, advinda de uma política de
aperto monetário, as pessoas menos favorecidas tendem a ser lesadas, pois a
inflação no curto prazo é determinada pelas expectativas que são dadas, gerando
aumentos reais na taxa de juros, o que deteriora a posição dos devedores e
inversamente melhora a dos credores. Conforme Barbosa (2008, p. 11) “Como é
mais provável que os pobres e não os ricos sejam liquidamente devedores,
podemos ter outro efeito negativo sobre a distribuição de renda (efeito 2a).”.
Entretanto, em um ambiente de inflação controlada, tem-se uma retração na
perda do poder de compra dos salários e das transferências indexadas, já que existe
uma dependência da renda dos mais pobres destas receitas - e os mais ricos
tendem a ter resultados advindos de rendimentos de capital e outras fontes
indexadas – assim eles obtêm ganhos maiores advindos deste efeito, que leva a
uma queda na desigualdade (efeito 3ª). Resultados contrários só ocorreriam, em
teoria, através de uma política monetária expansionista (BARBOZA, 2008).
Os impactos da inflação na distribuição de renda podem também ter efeitos
no longo prazo, como demonstrado no esquema da figura 2, pois os menos
favorecidos tendem a ter pouco acesso a serviços financeiros e oferta de crédito em
função de sua renda baixa, além de questões como assimetria de informação, logo,
na falta de crédito e condições de vir a adquirir ações e títulos, os mais pobres
tendem a fazer poupança e com isso acumular moedas em formato líquido por mais
tempo. Sendo que uma redução na inflação faz com que a poupança perca menos
valor o que leva a uma queda na desigualdade de renda de longo prazo (efeito 1b),
que também leva a um resultado favorável nos salários e transferências não
indexados (efeito 2b) concentradas, no longo prazo também, onde Barboza (2008, p.
12) resume os dois efeitos como “impactos do chamado “imposto inflacionário”, que
é a perda do valor real dos ativos monetários gerada por políticas monetárias
expansionistas.”.
30
O controle de uma inflação alta e crônica em um determinado país, pode se
reverter em crescimento econômico (efeito 3b), dada a estabilidade da economia
(BARBOZA, 2008).
Poderá ser discutido os efeitos de uma política monetária limitada no longo
prazo, e os efeitos da inflação sobre a desigualdade, para tanto, será utilizado o
esquema elaborado através da figura 2 elabora por Barboza.
Figura 2: Impactos da inflação sobre a desigualdade no longo prazo.
Fonte: Barboza, 2008, p.12.
Entretanto, a partir de outro efeito, a distribuição de renda pode vir a arrefecer
em função do controle da inflação, pois ocorre uma perda ao devedor ocasionada
por empréstimos com taxas fixas (efeito 4b). Que seguindo a hipótese que os mais
necessitados são devedores líquidos, ocorre uma maior concentração de renda
(BARBOZA, 2008). Assim como em um cenário em que se tenha um salário mínimo
alto de forma permanente, podem-se ter aumentos de forma estável no desemprego
(efeito 5b). Pois as firmas em função de uma elevada inflação contratam
trabalhadores com produtividade abaixo do valor nominal do salário mínimo, na
certeza que ocorrerá uma convergência entre o salário real e a produtividade abaixo
31
dela, entretanto, em um cenário de que a inflação chegue à zero, as firmas perdem
esta possibilidade e não poderão contratar trabalhadores com produtividade abaixo
do mínimo, logo este sistema penaliza aqueles trabalhadores com menor renda, que
como consequência levará a um agravamento na distribuição de renda (BARBOZA,
2008).
O debate não se restringe a estes mecanismos, tendo vários estudos de
ordem teórica sido desenvolvidos, que em grande parte apresentam resultados que
demonstram que a inflação influência na distribuição de renda (BARBOZA, 2008;
SABBATINI, 2010).
Os estudos voltados para o tema da distribuição de renda obtiveram grandes
avanços em função dos trabalhos de Deininger e Squire, que nas palavras de
Barboza:
Este reuniu outras pesquisas e levantamentos pré-existentes em uma grande base de dados com informações internacionais a respeito da desigualdade de renda. Desde então, muitos autores recorreram a essa grande compilação para tentar explicar a diferença de desigualdade de renda entre os países e relacioná-la com diferentes variáveis. A partir desses trabalhos surgiu uma recente linha de pesquisa empírica que estuda a influência da inflação sobre a desigualdade de renda utilizando dados de diversos países (BARBOZA, 2008, p. 19).
Logo, Romer e Romer desenvolveram um trabalho de grande destaque
utilizando dados de Deininger e Squire, utilizando o método de “cross-section” de 66
países, que demostrou que existia uma forte correlação negativa entre a parcela de
renda dos 20% mais pobres e a inflação, mostrando que quanto maior a inflação,
menor será a renda dos grupos de baixa renda. Assim como usaram dados de 76
países oriundos da mesma fonte e com o mesmo método, e descobriram que uma
maior desigualdade medida pelo Gini encontra também uma maior inflação média
nos países, e que estes resultados são validos em países desenvolvidos bem como
em desenvolvimento (BARBOZA, 2008).
Visando pesquisar sobre a relação entre desigualdade de renda e inflação,
pesquisadores se voltaram para países em especifico, utilizando séries temporais de
apenas um país bem como de vários, onde se descobriu efeitos de redistribuição
positivos e negativos, levando alguns autores a certa contradição. Pois foi
constatado que efeitos positivos em países desenvolvidos e efeitos negativos em
países subdesenvolvidos. Então, Galli e Hoeven expuseram que a inflação age
32
sobre a distribuição de forma linear. Sendo ela baixa, uma redução produz maior
desigualdade em função dos seus efeitos recessivos, entretanto, sendo ela alta, uma
redução agiria de forma positiva na redução da desigualdade. Com base em
estimações estatísticas, os autores chegaram à conclusão que diminuir a inflação só
traz benefício se ela se encontrar em níveis muito altos (BARBOZA, 2008).
Autores como Ferreira, Leite e Lichtfiel, estudaram está relação entre
distribuição de renda e inflação no Brasil, e perceberam que o Gini variou de 0,57 no
ano de 1981, foi a 0, 63 em 1989 caindo para 0,56 em 2004, fazendo com que o país
despencasse posições no ranking mundial de desigualdade. Os pesquisadores
detectaram alta correlação entre este resultado e a queda da inflação, sendo que
utilizaram outras variáveis como crescimento do PIB, educação e etc (BARBOZA,
2008). Diversos outros pesquisadores se debruçaram a estudar o caso brasileiro e
muitos apontam no mesmo sentido, que a partir do controle da inflação o país
começou a atingir melhorias significativas no aspecto social (BARBOZA, 2008 apud
CARDOSO, BARROS; URANI (1995); NERI, CONSIDERA e PINTO (1999) e
MEDEIROS, CARVALHO, PAES DE BARROS; SOARES (2006)). Além de abrir a
discussão para estudos de outras variáveis, como crescimento, mudanças
institucionais, educação e os ganhos reais por parte dos salários conquistados em
função de aumentos acima da inflação no período, que será discutida no próximo
subcapitulo.
2.3.2 A relação entre salário mínimo e distribuição de renda
Boa parte da discussão sobre o salário mínimo se dá em função dos seus
efeitos distributivos, pois por qual virtude se oneraria as firmas e governos de todas
as esferas com custos sobre os salários, e eventualmente produzir desemprego, se
não resultar em uma elevação da renda e gerar uma melhor distribuição de renda
em favor dos mais necessitados (SOARES, 2002).
Os proponentes do salário mínimo alegam que o mesmo possui efeitos
satisfatórios nos salários dos empregados.
Segundo seus proponentes, o salário mínimo teria fortes impactos positivos
sobre os salários dos empregados. Como corrobora Soares:
Essa intervenção estatal na economia arrastaria os rendimentos daqueles trabalhadores cujos salários, determinados pela dinâmica capitalista, eram inferiores ao mínimo até este valor (ou até além). Ao estabelecer um nível
33
de remuneração obrigatória, o mínimo estaria protegendo os indivíduos menos capazes de obter um salário alto e, desse modo, reduzindo a desigualdade salarial e, por consequência, reduzindo também tanto a pobreza como a desigualdade de renda per capita. Adicionalmente, é possível que o mínimo também aumente a participação dos salários no PIB ao forçar as empresas a remunerarem todos os seus empregados acima de um determinado valor. (SOARES, 2002, p. 1).
Além de possuir efeitos sobre as remunerações oriundas das jornadas de
trabalho, o salário mínimo impacta em outras áreas como exposto por Saboia:
Embora represente o piso salarial legal, o SM tem um papel que transcende em muito o mercado de trabalho. As aposentadorias e pensões oficiais, por exemplo, também possuem o SM como piso. A aposentadoria rural, em geral não-contributiva, também utiliza o SM como piso. Na medida em que o reajuste do SM se tem mantido acima do utilizado para as pensões e aposentadorias, estas cada vez mais se concentram no valor do SM. Além disso, a assistência social também utiliza o SM como valor de referência para alguns programas, como no caso do Benefício de Prestação Continuada (BPC). (SABOIA, 2007, p. 1-2).
Logo, reajustes no salário mínimo, possuem efeitos não apenas restritos aos
trabalhadores em atividade, mas aos aposentados, pensionistas e beneficiários de
programas de assistência social dos governos, repercutindo nas contas públicas, em
função dos pagamentos de seguridade social (SABOIA, 2007).
Os dados da figura 3, elaborado por Saboia, demonstram o comportamento e
a evolução do salário mínimo real, iniciando pelo ano de 1940. Onde se verifica um
padrão de oscilações ao longo da série, com acentuada queda em seu início e
recuperação nos anos seguintes, em boa parte em função dos governos de Getúlio
Vargas e Juscelino Kubitschek.
Com o arrefecimento da inflação nos 1960 e politicas de ordem salarial
impostas pelos governos ditatoriais a época, o salário teve perdas e se manteve nos
mesmos patamares até o aprofundamento do descontrole inflacionário nos anos de
1980, sendo retomado o ciclo virtuoso de crescimento a partir do meio dos anos
1990, em função do Plano Real9. Onde se deu inicio a retomada de ganhos reais
que e estende até a atualidade. Pois se partirmos da data do Plano até o ano de
2005, observaremos um crescimento real da ordem de 62% no estudo de Saboia.
Saboia (2007, p. 3) argumenta que “Considerando-se o período de dez anos
contados a partir de 1995, obtém-se um aumento de 45%. Tal diferença em apenas
um ano deve-se ao grande reajuste dado no início de 1995, quando o SM passou a
valer R$ 100.”.
9 Ver Franco (1994).
34
Figura 3 – O valor do Salário Mínimo Real no Brasil – (1944 a 2005)
Fonte: Saboia, 2007, p. 3.
Notas: 1) Série em reais de agosto de 2006, utilizando como deflator ICV-RJ da FGV, até março de 1979, e desde então o INPC do IBGE. 2) O SM anual foi obtido através da média dos salários mensais.
Mesmo que o salário mínimo tenha obtido um grande crescimento na última
década, o mesmo em 2005 estava próximo ao de 1970 e representava algo em torno
de um terço do valor real na mudança dos anos de 1950 aos 1960. Enquanto o
salário mínimo apresentava uma recuperação, se observava uma melhora na
distribuição de renda. Saboia ilustra no gráfico 4 os movimentos sincrônicos da
comparação do índice de Gini com o salário mínimo, analisados por duas óticas de
distribuição de renda, os rendimentos do trabalho e a renda domiciliar per capita.
Onde se observa que enquanto o salário mínimo crescia, de forma mais equânime
tendia a distribuição de renda (SABOIA, 2007).
35
Figura 4 – Evolução do SM e do Índice de Gini para o Rendimento do Trabalho e a
Renda Domiciliar per capita – (1995 a 2005).
Fonte: Saboia, 2007, p.4.
Notas: 1) Valores do SM referentes aos meses de setembro de cada ano, inflacionados pelo INPC, com base em setembro de 2005. 2) Os Índices de Gini referentes ao ano 2000 foram obtidos por interpolação linear.
Podem ser encontrados resultados parecidos com os do gráfico 4, através de
outras medidas de distribuição de renda e variáveis para o rendimento, que podem
propor que o salário mínimo tem papel relevante na melhora da distribuição de renda
nos últimos anos (SABOIA, 2007).
Existem estudos que visam discutir os impactos do salário mínimo frente à
distribuição de renda no Brasil, variando conforme a metodologia empregada, como
sugere Soares:
Esses trabalhos se dividem em duas categorias: artigos que trabalham com simulações, como, por exemplo, Neri (1997), Neri, Gonzaga e Camargo (2000), Ramos e Reis (1994) e Barros (1998); e artigos que tentam estimar os impactos, usando alguma técnica econométrica como, por exemplo, Soares (1998), Fajnzylber (2001) e Lemos (2001). (SOARES, 2002, p. 2).
Pesquisadores como Neri (1997) e Neri, Gonzaga e Camargo (2000), tentam
mostrar a influência exercida pelo salário mínimo sobre um grande contingente de
pessoas ocupadas, onde um aumento do salário mínimo terá generosos efeitos na
36
distribuição de renda de indivíduos ocupados. Por outro lado, Ramos e Reis (1994) e
Barros (1998), demostram que um aumento do salário mínimo possui poucos efeitos
na distribuição de renda das famílias, em especial, na renda domiciliar per capita,
pois ao encontrar os trabalhadores que recebem salário mínimo dentro da
distribuição de renda per capita, ficou demonstrado que 65% estão no terceiro
décimo da distribuição de renda ou acima, sendo apenas 35% que estão entre os
20% mais pobres, o que demonstra que o salário mínimo tem pouca eficácia na
melhora da distribuição de renda e combate à pobreza (SOARES, 2002).
Outros pesquisadores utilizando métodos econométricos, Soares, Fajnzylber
e Lemos, descobrem fortes efeitos do aumento do salário mínimo nos salários dos
trabalhadores nas piores situações da distribuição de renda. Entretanto, Fajnzylber e
Lemos localizam bons impactos, mas em menor intensidade, em trabalhadores com
melhor colocação na distribuição de renda, logo Soares (2002, p. 3) argumenta
“Quer dizer, a conclusão é que aumentos no salário mínimo reduzem a dispersão na
distribuição dos rendimentos individuais e, possivelmente, aumentam a média
salarial.”.
O debate sobre o tema da distribuição de renda é antigo no Brasil, sendo
palco de discussões emblemáticas, que com o passar dos anos mudaram, assim
como os interlocutores, mas continua a ser um dos temas mais necessários dada a
realidade distributiva no país, que será exposta no próximo subcapitulo que versa
sobre o Brasil.
2.4 O Debate Sobre Distribuição de Renda no Brasil
Existem diversos estudos feitos no Brasil sobre a desigualdade de renda
como descrito por Barros e Mendonça (1995), esse importante interesse, se dá pelo
fato de a desigualdade de renda ter um impacto sobre o bem-estar social, já que as
sociedades possuem preferência por equidade ou não, e também porque a
desigualdade está relacionada ao nível de algumas variáveis socioeconômicas,
como a taxa de mortalidade infantil e o nível da pobreza.
Entretanto, no Brasil, as pesquisas sobre distribuição de renda associam em
grande parte à distribuição pessoal da renda, com uma pouca atenção ao aspecto
funcional. Outro fator importante de relevância no estudo sobre a distribuição de
renda está ancorado na realidade desigual do Brasil, o qual apresentou em 2010,
37
segundo o Ipeadata, um índice de Gini igual a 0,53. A evolução da desigualdade
também não é animadora, conforme pode ser observado na figura 5.
Figura 5 – Índice de Gini para o Brasil (1990 a 2010).
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Ipeadata, 2015.
Os níveis de desigualdade distributiva de renda no Brasil, quando analisados
frente ao de outros países, situa-se entre um dos mais elevados do mundo.
Entretanto, de 2003 em diante continuou caindo, obtendo uma queda significativa no
Gini, na ordem de 6% (WORLD BANK, 2015).
Logo, se pretende discutir a evolução do debate sobre distribuição de renda
no Brasil, tendo por início os anos de 1970, dando atenção a trabalhos recentes,
quando a inflação passa a ser controlada e o salário mínimo volta a ter ganhos reais,
e estes passam a ser analisados em pesquisas sobre distribuição de renda no país.
Os estudos sobre a desigualdade de renda no Brasil iniciam-se a partir das
publicações dos censos demográficos de 1960 e 1970, com a verificação de um
elevado crescimento no grau de desigualdade de renda no decorrer dos anos de
1960, sendo ainda presente como tema de estudo, em função da desigualdade
distributiva ainda presente (ALVAREZ, 1996).
As pesquisas na década de 1970 podem ser divididas em duas correntes de
pensamento econômico. Uma corrente de pesquisadores entendia o aumento da
desigualdade como um efeito do alto crescimento no período, cabe destacar o
38
chamado milagre econômico10, o percursor desta corrente é Langoni (1973) além de
outros pesquisadores como Branco (1979) e Senna (1976). Enquanto outros
centralizavam suas análises sobre desigualdade de renda em função das políticas
praticadas pelos governos militares, como os estudos de Fishlow (1972) e outros
pesquisadores como Hoffmann e Duarte (1972), Bacha e Taylor (1980).
O trabalho “Distribuição de Renda e Desenvolvimento Econômico no Brasil”,
elaborado por Langoni, discute que a elevação da desigualdade de renda entre 1960
e 1970 é um resultado da rápida expansão da economia, articulado com o “efeito
Kuznets” e com alterações do mercado de trabalho em função avanço tecnológico.
O chamado “efeito Kuznets” está fundamentado no estudo de Simon Kuznets
(1955), o autor averiguou uma queda na desigualdade na Alemanha e
particularmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, e constatou que a desigualdade
estava diminuindo após uma elevação durante um primeiro período. Os motivos por
trás dessa afirmativa era que Kuznets julgava que nesses países a distribuição de
renda na agricultura era mais igual do que a distribuição de renda nas áreas
urbanas, e que conforme o desenvolvimento e a urbanização prosseguem, a
desigualdade deveria crescer, e a posterior queda na desigualdade que ele
constatou era devido ao declínio da desigualdade em áreas urbanas. Logo, Kuznets
atestava que a distribuição de renda de toda a população é uma soma da
distribuição de renda da população rural e urbana, sendo que conforme a renda
média per capita da população rural era menor que a da urbana e a desigualdade no
setor rural também era menor do que a da urbana. Então, nos anos iniciais de
industrialização, como a distribuição de renda na agricultura é mais igual do que a
distribuição de renda nas áreas urbanas, conforme o desenvolvimento e a
urbanização prosseguem, a desigualdade inclina-se a aumentar, pois a população
urbana vai ficando grande com a migração e imigração, sendo que em anos
posteriores, pode ocorrer à redução da desigualdade em alguns setores em função
do crescimento do poder político dos grupos urbanos de baixa renda, à proteção e
suporte da legislação, às transferências de renda e a uma melhor adaptação ao
setor urbano (ALVAREZ, 2006).
Logo, existe uma longa variabilidade da desigualdade na estrutura temporal
da distribuição da renda, crescendo nas fases iniciais do crescimento econômico,
10 Ver Silveira e Rathmann (2007).
39
quando for mais rápida a passagem da civilização pré-industrial em direção da
industrial, ficando estável durante alguns anos e diminuindo nos anos posteriores.
(ALVAREZ, 2006).
A ideia que Langoni utilizará subsequentemente para julgar o crescimento da
desigualdade de renda no Brasil, ao considerar que nas décadas de 1960 e 1970 o
país estaria vivendo a fase inicial de desenvolvimento (a renda per capita brasileira
era bastante inferior em relação à dos países desenvolvidos) e de crescimento
econômico com aceleração em parte devido ao processo estrutural de
industrialização. Sendo que no país vivia transformações nos setores tradicionais (de
baixa produtividade) em direção os modernos (alta produtividade) na forma de
migração da força de trabalho dos setores primários para os setores modernos o que
levaria ao aumento da concentração de renda. Entretanto, esta movimentação seria
temporária (a parte ascendente da curva de “U” invertido) na qual com o crescimento
da renda média e da estabilização da taxa de crescimento, ocorreria então uma
redução dessa desigualdade (parte descendente da curva) (ALVAREZ, 2006).
O outro proposito que Langoni julga em seu estudo está fundamentado em
desequilíbrios do mercado de trabalho, em função de uma desarmonia entre a
expansão da demanda e da oferta de mão-de-obra qualificada. Logo, os aumentos
na concentração pessoal da renda estavam também alicerçados na expansão
tecnológica dos novos setores modernos que precisavam de mão de obra
qualificada, mas o atraso no sistema educacional brasileiro tornava a curva de oferta
do curto prazo por mão-de-obra qualificada inelástica. (ALVAREZ, 2006).
Os trabalhos de Fishlow, entretanto, seguiam outra linha de discussão bem
diferenciada para o conhecimento do aumento da desigualdade de renda no país. Ao
verificar o aumento da desigualdade nos anos de 1964-1967, ele expõe a tese de
que os efeitos do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) no salário
mínimo real e o salário médio levaram com que o ganho em função da aceleração
do crescimento tenha se acumulado nos setores urbanos com renda acima da
média, nos setores das grandes finanças, nos cargos administrativos, mas que os
trabalhadores tiveram perdas relativas na renda total (ALVAREZ, 2006).
Os governos autoritários na época elaboraram o PAEG11 em 1964 tendo
alguns objetivos, e entre eles o de acelerar o ritmo de desenvolvimento econômico
11 Plano de ação econômica do Governo, ver mais em Silveira e Rathmann (2007).
40
que tinha diminuído em 1962/1963 e o de assegurar o controle do processo
inflacionário. Logo, utilizou-se de diversos instrumentos entre os quais, no estudo de
Fishlow, distingue-se a Política Salarial. O salário real mínimo após o reajuste e
correções de 1965 teve uma redução na ordem de 18% em relação a 1964, assim
que os salários não eram recompostos pelo pico de salário real alcançado nos anos
anteriores ao do reajuste, mas pelo salário real médio dos últimos 24 meses.
Incluindo a previsão da inflação estipulada pelo governo para o ano seguinte, que
era a base para o reajuste salarial, era seguidamente inferior à inflação de fato
observada, o salário real médio ficava consumido (ALVAREZ, 2006).
Fishlow se debruçou na questão da não transferência da produtividade
integral ao salário, após 1964, que beneficiava a elevação da participação das
parcelas mais abonadas da população na renda total. Pesquisadores como Hoffman
(1973), Bacha e Taylor (1980), e outros autores, também seguiram suas pesquisas
na mesma linha de discussão de Fishlow. (ALVAREZ, 2006).
Com o passar dos anos e com a mudança do ambiente político e econômico
em fim dos anos de 1970, o debate entorno da “controvérsia de 70” foi perdendo
força sem ter uma abordagem sobre a crescente desigualdade de renda como
vencedora. (ALVAREZ, 2006).
Nos anos de 1980, a discussão da distribuição de renda não teve a mesma
atenção que a da década de 1970, na medida em que na “década perdida” tem no
seu início a grave crise brasileira, e os economistas partem em direção de uma visão
mais voltada para os problemas da crise, e da volta do crescimento, via estabilização
da economia e sobre o controle da inflação. Mas nos anos de 1980, algumas
pesquisas sobre a distribuição de renda no país, dentre os quais o estudo de
Hoffman e Kageyama (1985), no qual os pesquisadores discutem distribuição de
renda entre pessoas e entre famílias nos censos de 1970 e 1980, e chegam à
conclusão de que houve uma tendência de declínio da desigualdade para a análise
feita para as famílias. O que é uma situação contrária ao observado na década de
anterior, e um aumento na desigualdade entre as pessoas.
Com o intuito de descobrir às causas e origens da desigualdade, vários
estudos foram desenvolvidos ao longo da década. Conforme Ramos e Mendonça
(2004):
41
[...] os trabalhos dos anos 1980, embora destaquem as variáveis fundamentais da teoria do capital humano na determinação dos salários, ou rendimento do trabalho, com particular preocupação com o papel da escolaridade, o modelo básico comum a esses estudos incorporava elementos de visões alternativas. A partir da interação do funcionamento do mercado de trabalho com desigualdades sociais preexistentes – representando, inclusive, desigualdade de oportunidades – esse modelo comum, que representava a concepção predominante nos trabalhos da época, considera a existência de fatores que podem gerar diferenciais de salários. (RAMOS; MENDONÇA, 2004, p. 6).
Nos anos de 1990 tem início uma nova discussão de estudos os quais
acompanham a evolução da distribuição de renda, além de haver uma crescente
preocupação com os motivos da origem da desigualdade, além das explicações do
porquê de suas variações.
Estudos de Bonelli e Ramos (1993) revelam que houve, na década de 1980,
um crescimento da concentração de renda no país e, que pela primeira vez, todas as
faixas de renda tiveram perdas em níveis absolutos de renda, com exceção da faixa
dos 10% mais ricos, que tiveram um rápido aumento.
Em função da discussão às causas e origens da desigualdade, alguns
estudos são feitos ao longo da década. Ramos e Mendonça (2004), em trabalhos
dos anos 1990 passaram a dar uma maior atenção para a influência de variáveis de
natureza econômica, como a inflação, salário mínimo e flutuações da demanda
agregada e o emprego, principalmente, pela viabilidade de uma nova fonte de
informações, a Pesquisa Mensal do Emprego. (ALVAREZ, 2006).
Já nos anos 2000, os debates se voltam para a questão dos programas de
transferência direta de renda, de iniciativas municipal, estadual e federal, com
diversos estudos que passaram a inserir esses programas como variáveis a serem
analisadas na distribuição de renda do país. De forma que os resultados de alguns
dos principais estudos da década, que buscam pesquisar, em especial, o impacto do
Programa Bolsa Família sobre a desigualdade de renda no Brasil.
O estudo “Desigualdade de renda no Brasil: uma análise da queda recente”
(2006 – 2007), que é formado por um grupo por especialistas brasileiros no tema,
são convidados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), para buscar
documentar a recente queda na desigualdade de renda, avaliando sua magnitude e
importância, identificando seus principais determinantes. A pesquisa revela que o
nível de concentração de renda do Brasil, mensurado pelo coeficiente de Gini, caiu
4% entre 2001 e 2004 o que, conforme os autores, seria uma queda substancial.
42
Para um melhor entendimento sobre as formas de se medir a desigualdade
entre as rendas, o próximo capitulo irá expor as fórmulas e métodos de cada medida
de desigualdade e riqueza, bem como inflação e salario mínimo que são as variáveis
que se almeja neste estudo relacionar com as outras medidas, afim de demostrar a
influência das variáveis no comportamento da distribuição de renda.
43
3 ESTUDO DE PARÂMETROS DAS MEDIDAS DE DESIGUALDADE,
RIQUEZA, INFLAÇÃO E SALÁRIO MÍNIMO.
Este estudo, descritivo, apresenta o comportamento da distribuição de renda
no Brasil, com um levantamento de informações estruturado, explicitando a realidade
da distribuição de renda nos anos de 1990 a 2010, a fim de expor a natureza
aplicada, e gerar conhecimentos para resolver problemas específicos. Neste caso,
voltada para a interpretação de indicadores sociais, que segundo Jannuzzi (2004, p.
15):
Um indicador social é uma medida em geral quantitativa, dotada de significado social substantivo, usado para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse teórico (para pesquisa acadêmica) ou programático (para a formulação de políticas). É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão ocorrendo na mesma.
Este trabalho utilizará a pesquisa de levantamento, pois os dados produzidos
pela pesquisa empírica serão trabalhados com a estatística descritiva, que Segundo
Marconi e Lakatos (2005, p.108-109), o método estatístico desempenha papel
importante em termos de procedimento numa investigação científica, não só por
fornecer uma descrição quantitativa de fenômenos sociológicos, políticos,
econômicos etc, mas também por se constituir em método de experimentação e
prova, já que é método de análise.
O corpus é de suma importância para o desenvolvimento do estudo, como
argumentam Gerhardt e Silveira (2009, p. 38), pois:
Trata-se a (...) de recortar o campo das análises empíricas em um espaço geográfico e social, bem como num espaço de tempo. De acordo com o caso, o pesquisador poderá estudar a população total ou somente uma amostra representativa (quantitativamente) ou ilustrativa (qualitativamente) dessa população.
Neste trabalho, o corpus será fundamentado nos dados provenientes da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, Pesquisa Mensal de Emprego
- PME, Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF e Pesquisa de Emprego e
Desemprego - PED.
44
Com base nestes universos amostrais que se desenvolverá o estudo, com a
utilização de medidas estatísticas de desigualdade, riqueza e as variáveis inflação e
salário mínimo.
3.1 Medidas de desigualdade
Atualmente existem diversas maneiras de cálculo de medidas de desigualdade
que podem ser utilizadas, entretanto, este estudo, averigua as tendências e
comportamentos da desigualdade em diferentes óticas nos períodos escolhidos. Os
métodos utilizam mensurações que revelam resultados estáticos diferentes, para
uma comparação entre os resultados, a distinção e definição dos indicadores
precisam estar claras para uma melhor confiança e entendimento, diante disto, as
medidas serão descritas neste capitulo.
Para Jannuzzi (2004, p. 27), O que torna confiável um indicador, são as
propriedades de onde os dados são levantados em seu cálculo, igual a uma balança
onde duas medidas semelhantes possuem o mesmo peso, ou seja, que os mesmos
pesos apresentem a mesma medida intertemporalmente.
Como definição de critérios de confiabilidade e relevância, Jannuzzi (2004, p.
27) recomenda:
Além da relevância social, validade e confiabilidade, um indicador social deve ter um grau de cobertura adequado aos propósitos a que se presta, deve ser sensível, específico, reprodutível, comunicável, atualizável periodicamente, a custos factíveis, ser amplamente desagregável em termos geográficos, sociodemográficos e socioeconômicos e gozar de certa historicidade.
Estes critérios possuem propriedades desejáveis para uma boa medida de
desigualdade. Os métodos utilizados para análise e interpretação dos dados, se
baseiam no estudo de Barros, Carvalho, Franco e Mendonça (2006), e estão
enquadrados nas propriedades recomendadas, pois para os autores:
Uma medida de desigualdade de renda é uma forma de agregar, em um único indicador, as diferenças de renda de milhões de pessoas. Não é surpreendente, portanto, que existam diversas maneiras alternativas de medir.
45
Para tanto, no próximo subcapitulo irá ser discutida as propriedades do índice
de Gini, bem como sua fórmula e dados relativos de 1990 a 2010.
3.1.1 Índice de Gini
Este índice foi escolhido para este trabalho, por ser o mais utilizado e divulgado
em estudos sobre distribuição de renda, e também porque é consistente com o
critério Lorenz, atendendo aos cinco princípios para ser considerado uma boa
medida de desigualdade.
O Índice de Gini foi desenvolvido pelo Estatístico Italiano Corrado Gini e
publicado em 1912, levando o sobrenome do autor como nome do Índice.
Este índice mede o grau de concentração da distribuição de renda de uma
determinada população em um determinado espaço geográfico de tempo.
Figura 6 – A Curva de Lorenz
Fonte: Ripsa, 2015.
Assim o índice de Gini pode ser calculado em sua forma mais simples com o
resultado do quociente da área em amarelo pela área sob a linha da igualdade
perfeita como expressa a figura 3. A equação utilizada para determinar esta medida
é apresentada pela equação 1.
G = a / (a + b) (1)
46
A Equação utilizada para determinar esta medida e que melhor representa o índice
de Gini matematicamente é a Fórmula de Brown, que está descrita na equação 2. O
resultado sempre será um valor do intervalo [0,1]. Quanto mais perto o resultado
estiver de 0 (zero) menos desigual será a distribuição, e assim, quanto mais próximo
for de 1 (um) mais desigual ela será.
(2)
Onde:
G = Índice de Gini
X = Proporção acumulada da população
Y = Proporção acumulada da renda
De acordo com Pinho e Vasconcelos (2003), o Índice de Gini pode ser definido
como o quociente da área entre a curva de Lorenz da distribuição analisada e a linha
de perfeita igualdade - área de concentração - pela área sob a linha de perfeita
igualdade. O índice de Gini é uma das medidas mais usadas para fins de pesquisa
em desigualdade social, além de ser de fácil manuseio como demonstra Sandroni
(2006, p. 255):
Medida de concentração, mais frequentemente aplicada à renda, à propriedade fundiária e à oligopolização da indústria. O coeficiente de Gini é medido pela relação ou pela fórmula geral, sendo xi a porcentagem acumulada da população (pessoas que recebem renda, proprietários de terra, indústrias etc.) até o estrato i; yi, a porcentagem acumulada da renda, área, valor da produção etc., até o estrato i; e n, o número de estratos de renda, área, valor da produção etc(...)Os valores do coeficiente de Gini variam, portanto, entre 1 e zero; quanto mais próximo de 1 for o coeficiente, maior será a concentração na distribuição de qualquer variável, acontecendo o contrário à medida que esse coeficiente se aproxima de zero.
A tabela 1 abaixo demonstra o comportamento do índice de Gini de 1990 a
2010, mostrando o comportamento do indicador com o passar dos anos de 1990 a
2010.
47
Tabela 1 - O valor do Índice de Gini no Brasil - (1990 a 2010).
Ano Índice de Gini
1990 0,614 1991 0,599 1992 0,583 1993 0,604 1994 0,603 1995 0,601 1996 0,602 1997 0,602 1998 0,600 1999 0,594 2000 0,595 2001 0,596 2002 0,589 2003 0,583 2004 0,572 2005 0,570 2006 0,563 2007 0,556 2008 0,546 2009 0,543 2010 0,537
Fonte: Elaborado pelo autor com dados da PNAD.
Nota: O Índice de Gini de 1991, 1994, 2000 e 2010 foi obtido por interpolação linear.
Entre os anos de 1990 e 2010, o grau de desigualdade no Brasil apresentou
uma queda expressiva e com tendência continua como expressa o Tabela 1.
Conforme o Índice de Gini, o grau de desigualdade no período de 1990 a 2010
declinou iniciando com 0,614 em 1990 e chegando a 0,537 em 2010. Em 1992 ele
atingiu a média dos vinte anos de análise, assim como em 2009 obteve-se o menor
resultado do período analisado.
3.1.2 Índice de Theil –T
As medidas de desigualdade de Theil (T e L) têm origem nos conceitos da
teoria da informação12. O Índice de Theil foi desenvolvido pelo Econometrista
Holandês Henri Theil em 1967 em seus estudos13, assim como outros índices, o
sobrenome do autor foi dado ao índice.
12 A teoria da informação é um ramo da teoria matemática das probabilidades que lida com sistemas de comunicação. Ver Shannon (1948). 13 THEIL, H. (1967). Economics and information theory. North-Holland: Amsterdam
48
Ao desenvolver estas medidas, Theil (1967) propôs estes dois índices para
medir a desigualdade - T e L - que vêm recebendo maior atenção, ultimamente, por
apresentarem, entre outras características desejáveis, relativa facilidade em serem
decompostos.
O diferencial dos índices de Theil, é que os mesmos derivam da noção de
entropia14 na teoria da informação, pela qual a quantidade de informação recebida
de um evento E é inversamente proporcional à sua probabilidade de ocorrência p.
Assim, a quantidade de informação recebida com a ocorrência de um evento E1 cuja
probabilidade era muito pequena é maior do que a de outro evento P2, cuja
probabilidade de ocorrência fosse próxima de 1 ; em outros termos, “quanto mais
raro é o evento, mais valiosa é a informação” (ROMÃO, 1993, p. 226).
A entropia (H) associada a n eventos mutuamente exclusivos pode ser
expressa por na equação 3:
(3)
Onde:
Pi é a fração da renda total recebida pelo indivíduo i.
Se, em n eventos, um deles possui a probabilidade de ocorrência igual a 1 , os
demais têm probabilidade de ocorrência zero e, portanto, H = 0 , ou seja, se temos
certeza da ocorrência de um evento, a quantidade esperada de informação será
igual a zero. Por outro lado, a entropia alcançará seu máximo quando as
probabilidades de ocorrência forem iguais entre si (p1 = p2 = ... = pn = 1/n) ; neste
caso, H = ln n. A entropia associada às participações na renda - H(Y), com pi = (Yi/Y)
- pode, assim, ser vista como uma medida da desigualdade de renda.
O índice T de Theil é obtido subtraindo-se H(Y) de seu valor máximo na
equação 4:
14 A entropia de um sistema caracteriza o seu grau de desordem. Ver (CPS, 2011, p. 1).
49
(4)
Quando há perfeita igualdade, T assume o valor zero e, inversamente, quando
apenas um indivíduo recebe toda a renda, assume o seu valor máximo, ln n.
Conforme Hoffmann (1998), o índice T de Theil também é conhecido como
redundância de distribuição de renda, por correspondência com a medida de
entropia utilizada na teoria da informação. A medida representa o valor informativo
de uma mensagem incerta, em que as probabilidades a posteriori são as frações de
renda adquiridas por pessoa, enquanto as probabilidades a priori são iguais a 1/n
(fração da população referente a cada pessoa), então, o índice T corresponde
esperança do valor informativo de uma mensagem que altera as frações da
população em frações de renda apropriada pelas pessoas.
Tabela 2 – Valores do Índice Theil - T* no Brasil - (1990 a 2010)
Ano Índice T de Theil
1990 0,773 1991 0,734 1992 0,695 1993 0,772 1994 0,752 1995 0,733 1996 0,732 1997 0,738 1998 0,734 1999 0,711 2000 0,719 2001 0,726 2002 0,710 2003 0,685 2004 0,665 2005 0,660 2006 0,644 2007 0,624 2008 0,602 2009 0,597 2010 0,583
Fonte: Elaborado pelo autor com dados da PNAD.
Nota: O Índice Theil - T de 1991,1994, 2000 e 2010 foi obtido por interpolação linear.
50
Entre os anos de 1990 e 2010, o grau de desigualdade no Brasil apresentou
uma queda expressiva em várias medidas de desigualdade, como evidencia na
tabela 2. Observando o Índice Theil - T, o grau de desigualdade no período de 1990
á 2010 declinou iniciando com 0,773 em 1990 e chegando a 0,695 em 2010. Em
2003 ele esteve próximo à média dos vinte anos de análise, assim como em 2010
obteve-se o menor resultado do período analisado.
3.1.3 Razão 10%+ / 40%- e Razão 20%+ / 20%-
Alguns indicadores sintéticos que são muito utilizados pela sua simplicidade
são calculados a partir da curva de Lorenz, comparando-se o nível de concentração
de renda de determinados estratos com outros, sendo muito utilizada a comparação
dos 10% mais ricos com a dos 40% mais pobres.
Note-se que, apesar de sua simplicidade, essa medida não capta as
transferências de renda ocorridas entre as pessoas dos estratos mais ricos e dos
mais pobres, bem como entre os estratos de renda intermediários.
A razão entre a renda apropriada pelos 10% mais ricos e pelos 40% mais
pobres e a razão entre a renda apropriada pelos 20% mais ricos e pelos 20% mais
pobres, são duas medidas de fácil compreensão, pois revelam a razão do
rendimento entre as faixas percentis dentro da renda total recebido, e qual a
participação destas rendas na renda total e suas oscilações. Estas razões se tornam
importantes para fins de comparação internacional, pois utilizam a renda per capita,
podendo assim ser trabalhadas como médias de renda para comparações de
distanciamento entre as rendas apropriadas com bem descrevem Barros, Carvalho,
Franco e Mendonça (2006, p. 11):
Uma forma alternativa de verificar que o nível da desigualdade no país ainda é muito elevado é comparar a distribuição de países no mundo segundo a renda per capita com a distribuição desses países segundo a renda média dos 20% mais pobres. Enquanto 64% dos países têm renda per capita inferior à brasileira, somente 43% têm renda média dos 20% mais pobres menor. Para que o Brasil passasse a ocupar na distribuição de países segundo a renda média dos 20% mais pobres a mesma posição que tem na distribuição dos países segundo a renda per capita, a proporção da renda apropriada pelos 20% mais pobres deveria dobrar.
Como exposto acima, essas medidas são bases para fins de análise segundo a
renda média usada em outros países.
51
Tabela 3 – Razões de entre rendas no Brasil - (1990 a 2010)
Ano Razão entre as rendas dos 10% mais ricos e os 40% mais pobres
Razão entre as rendas dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres
1990 26,47 30,51 1991 24,07 28,44 1992 21,68 26,37 1993 24,40 28,55 1994 24,18 28,14 1995 23,96 27,73 1996 24,53 29,66 1997 24,48 29,05 1998 23,92 27,78 1999 22,95 26,45 2000 23,11 26,88 2001 23,28 27,32 2002 22,20 25,03 2003 21,42 24,70 2004 19,93 22,42 2005 19,56 21,68 2006 18,71 20,83 2007 18,12 20,70 2008 17,01 19,22 2009 16,66 18,98 2010 16,15 18,46
Fonte: Elaborado pelo autor com dados da PNAD.
Nota: A Razão 10%/40% de 1991,1994, 2000 e 2010 foi obtida por interpolação linear.
Entre os anos de 1990 e 2010, a razão entre os 10% mais ricos e os 40% mais
pobres apresentou uma queda expressiva e continua com repique em 1993, 1996,
2000 e 2001 como demonstra a tabela 3. Conforme a razão, que é uma das medidas
utilizadas para auferir o distanciamento entre rendas, a distancia no período de 1990
a 2010 declinou, iniciando com 26,47 vezes maior em 1990, e chegando a 16,15
vezes maior em 2010. Em 1992 esteve próxima da média dos vinte anos de análise,
assim como em 2010 obteve-se o menor resultado do período analisado.
Entre os anos de 1990 e 2010, a razão entre os 20% mais ricos e os 20% mais
pobres apresentou uma queda como demonstra na tabela 3. Conforme a razão, que
é uma das medidas usadas para calcular o distanciamento entre rendas, a distância
no período de 1990 á 2010 declinou, iniciando com 30,51 vezes maior em 1990 e
chegando a 18,46 vezes maior em 2010. Em 2002, esteve próxima da média dos
vinte anos de análise, assim como em 2010 obteve-se o menor resultado do período
analisado.
52
Cabe agora discutir no próximo subcapítulo as medidas de riqueza, que são
variáveis de suma importância para discussão e análise posterior neste trabalho.
3.2 Medidas de Riqueza
Para se mensurar a riqueza de uma economia existem vários indicadores, tais
como os números que descrevem a produção do cimento, de carros, de soja no
país; os números de escolas e quilômetros de estradas que se construíram em
diferentes tempos e etc. Logo, na busca de indicadores mais abrangentes que inclua
todos os produtos e serviços finais dentro da economia de um país, os
pesquisadores escolheram uma espécie de padrão que possibilita comparações
entre países e períodos diferentes, mesmo que sujeito a alguma chance de dúvida.
Trata-se do PIB-Produto Interno Bruto (CARDOSO, 1985).
Diante desta possibilidade, será discutida nos demais subcapítulos o emprego
das medidas do PIB e do PIB per capita, em suas formulações e cálculos.
3.2.1 Produto Interno Bruto (PIB)
O PIB é um fluxo na ótica de Carvalho et. al. (2007). A sua definição de fluxo é
uma conexão feita com o fluxo de água por unidade de tempo que passa por um
tubo, ou seja, no entender dos autores, o PIB deve medir o valor de mercado da
produção que flui por meio das fábricas e lojas da economia por um determinado
tempo, como por exemplo, a cada ano ou a cada semestre. Logo, cada bem
produzido aumenta o produto da economia pela quantidade paga pelo seu
comprador. Então, o total de gastos com todos os bens e serviços produzidos
durante um ano reproduz o PIB anual.
Para Blanchard (2007) o PIB é o valor dos bens e serviços finais produzidos
em uma economia em um dado período. Cabe ressaltar que é de primordial
relevância a palavra finais, sendo que se deve contabilizar apenas a produção de
bens finais, e não de bens intermediários, pois o produto intermediário define-se
como um bem agregado na produção de outro bem. Blanchard (2007) também
delimita o PIB como a soma dos valores adicionados na economia em um período,
logo, é a soma dos valores adicionados por todas as firmas na economia. O valor
adicionado, no entender do autor, é o valor da produção menos o valor dos bens
53
intermediários utilizados na produção. Uma terceira delimitação de Blanchard (2007)
para PIB é sob a ótica da renda, onde o PIB é a soma das rendas na economia em
um dado período.
Sandroni (2006) entende o PIB como o valor agregado de todos os bens e
serviços finais, elaborados no território de um país, independente da nacionalidade
dos proprietários dos meios de produção de bens e serviços, tendo sido excluída as
transações intermediárias. Podendo ser calculado sobre três óticas:
I. Pela ótica da produção:
PIB corresponde à soma dos valores agregados líquidos dos setores primário, secundário e terciário da economia, mais os impostos indiretos, mais a depreciação do capital, menos os subsídios governamentais. (SANDRONI, 2006, P. 459).
II. Pela ótica da renda:
calculado a partir das remunerações pagas dentro do território econômico de um país, sob a forma de salários, juros, aluguéis e lucros distribuídos; somam-se a isso os lucros não distribuídos, os impostos indiretos e a depreciação do capital e, finalmente, subtraem-se os subsídios. (SANDRONI, 2006, P. 459).
III. Pela ótica do dispêndio:
[...] resulta da soma dos dispêndios em consumo das unidades familiares e do governo, mais as variações de estoques, menos as importações de mercadorias e serviços e mais as exportações. Sob essa ótica, o PIB é também denominado Despesa Interna Bruta. (SANDRONI, 2006, P. 459).
Blanchard (2007) destaca que a composição do PIB que os macroeconomistas
habituam utilizar é constituída pelas seguintes variáveis: o consumo é a primeira
variável do PIB, são os bens e serviços obtidos pelos consumidores, sendo o maior
componente do PIB; o investimento é a segunda variável, às vezes é o designado
investimento fixo. O investimento é a soma da compra de novas instalações ou
novas máquinas pelas empresas como a compra de novas casas ou apartamentos
pelas pessoas; os gastos do governo equivalem-se como terceiro componente, e
são os bens e serviços adquiridos pelas esferas governamentais – federal; estadual
e municipal. Deste total, para o cálculo do PIB, deve-se descontar as importações e
54
somar as exportações, logo, a balança comercial é um dos componentes na
composição do PIB.
Na Tabela 4 abaixo, será exposto o Produto Interno Bruto e a variação real no
período de 1990 a 2010, para melhor compreensão dos seus desdobramentos.
Tabela 4 – Valores do PIB e variação anual no Brasil - (1990 a 2010).
Ano PIB Variação (%)
1990 2.012.800 -4,3 1991 2.033.532 1,0 1992 2.022.478 -0,5 1993 2.122.080 4,9 1994 2.246.283 5,9 1995 2.341.161 4,2 1996 2.391.508 2,2 1997 2.472.236 3,4 1998 2.473.107 0,0 1999 2.479.388 0,3 2000 2.586.153 4,3 2001 2.620.112 1,3 2002 2.689.757 2,7 2003 2.720.598 1,1 2004 2.876.007 5,7 2005 2.966.879 3,2 2006 3.084.280 4,0 2007 3.272.156 6,1 2008 3.441.081 5,2 2009 3.418.896 -0,6 2010 3.674.964 7,5
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do IBGE.
Nota*: Valores a preços de 2010. Nota**: O cálculo do PIB sofreu mudanças em 2015, ocorrendo mudanças nos anos de
2002 para 3,1%, em 2003 para 1,2%, em 2005 para 3,1%, em 2007 para 6%, em 2008 para 5%, em 2009 para -0,2% e para 2010 para 7,6% respectivamente.
Entre os anos de 1990 e 2010, o PIB apresentou um considerável crescimento
como demonstra na tabela 4. Conforme PIB, que é uma das medidas usadas para
calcular a riqueza, a distância no período de 1990 a 2010 cresceu 57,6%, iniciando
com um crescimento negativo de 4,3% em 1990 e chegando a 7,5% em 2010. Em
2002 esteve na média dos vinte anos de análise, assim como em 2010 obteve-se o
maior resultado do período analisado. Sendo que o PIB saltou de R$ 2.012.800
milhões em 1990 a R$ 3.674.964 em 2010.
O PIB é uma medida da atividade produtiva na visão de Vasconcellos (2007),
que tem como objetivo propor que esta medida reflita alterações do padrão de vida e
55
bem-estar da coletividade. Abrindo espaço para que se calcule o total produzido
expresso pelo PIB, o dividindo pelo total da população residente em um país, que
será discutido no próximo subcapitulo.
3.2.2 PIB per Capita
O PIB per capita é um indicador econômico utilizado para aferir o grau de
crescimento econômico e desenvolvimento, sendo utilizado também como parâmetro
de medida de riqueza de um país.
Segundo Vasconcellos (2007), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é o
principal índice para se avaliar o bem-estar do ponto de vista social, pois o IDH é um
índice estimado a partir de uma média de indicadores sociais e econômicos, entre os
quais, taxa de alfabetização, nível de escolaridade, expectativa de vida e PIB per
capita. Conforme o autor, na maioria dos países existe alto grau de correlação entre
a posição a partir do IDH com a posição pelo PIB per capita.
Para Paulani e Braga (2007), o PIB per capita constitui-se na divisão do
produto agregado pelo total da população, assim, divide-se o PIB total apurado pelo
número total de residentes do mesmo território. Mesmo sendo um indicador
extensamente usado dentro da economia, ainda não é adequado por si só em uma
pesquisa de desenvolvimento, pois não representa as diferenças dentro da
distribuição de renda e o nível de desigualdade social.
Entretanto, Vasconcellos (2007) alerta que o PIB, apesar da existência de
algumas deficiências, é um indicador prático eficaz empregado para realizar
comparações internacionais, mensurar o crescimento ao longo dos anos para ter
uma referência do nível de desenvolvimento social e econômico de um país.
Paulani e Braga (2007) julgam o produto per capita como um indicador
qualitativamente melhor ao PIB total quando a finalidade é avaliar o desempenho
econômico de um território. Entretanto, deve ser levado em conta que o PIB per
capita trata-se notoriamente de uma média.
Conforme Paulani e Braga (2007, p. 259), “na análise do desempenho
econômico de um país, devemos investigar inicialmente não o valor de seu produto
agregado, mas o valor de seu produto per capita, isto é, o produto agregado dividido
pela população total.” Segundo a ótica dos autores, pode-se dizer que o PIB per
56
capita representa o nível de renda dos habitantes e da produtividade das regiões
analisadas.
A Tabela 5 abaixo mostra o comportamento do PIB per capita e sua variação
real no período de 1990 a 2010.
Tabela 5 – Valores do PIB Per Capita e variação anual no Brasil- (1990 a 2010).
Ano PIB Per Capita Variação (%)
1990 13.731 -7,1 1991 13.639 -0,7 1992 13.346 -2,2 1993 13.781 3,3 1994 14.360 4,2 1995 14.736 2,6 1996 14.824 0,6 1997 15.095 1,8 1998 14.876 -1,5 1999 14.692 -1,2 2000 15.099 2,8 2001 15.075 -0,2 2002 15.256 1,2 2003 15.221 -0,2 2004 15.880 4,3 2005 16.179 1,9 2006 16.621 2,7 2007 17.438 4,9 2008 18.148 -2,3 2009 17.855 -1,6 2010 19.016 6,5
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do IBGE
Nota: Valores a preços de 2010.
Entre os anos de 1990 e 2010, o PIB per capita apresentou um considerável
crescimento como expressa a tabela 5. Conforme o PIB per capita, que é uma das
medidas usadas para calcular a riqueza, a distância no período de 1990 a 2010
cresceu, iniciando com um crescimento negativo de -7,1% em 1990 e chegando a
6,5% em 2010. Em 2002 esteve na média dos vinte anos de análise com 0,9 %,
assim como em 2010 obteve-se o maior resultado do período analisado. Sendo que
o PIB per capita saltou de R$ 13.731 em 1990 a R$ 19.016 em 2010.
Como finalidade deste trabalho, cabe discutir outras variáveis que serão
importantes na análise posterior, como inflação e salário mínimo, em suas
formatações e formas de cálculo que serão expostas nos próximos subcapítulos.
57
3.3 INFLAÇÃO
Conforme Sachs (2000) é preciso especificar um aumento de preços
esporádicos com um aumento constante de preços; pois no primeiro caso se da em
razão de um impacto como aumento no preço do combustível e o segundo se dá por
problemas permanentes de governo e outras variáveis endógenas e exógenas na
economia.
Para Sachs (2000) a inflação pode ser delimitada como uma variação
percentual nos níveis de preços, de bens internos e externos, que será aplicada a
média desses preços. No cálculo da inflação, utiliza-se uma variação calculada pelo
Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que é a média de preços de varejo de uma
cesta de mercado fixa que abrange bens e serviços. Entretanto, neste trabalho será
usado o (INPC) que é calculado pelo IBGE, onde foi criado inicialmente com o
objetivo de orientar os reajustes de salários dos trabalhadores.
Para Sandroni (2006) a inflação pode ser classificada em quatro tipos
diferentes:
i. Inflação de demanda:
Também chamada de inflação dos compradores, é o processo inflacionário gerado pela expansão dos rendimentos. Ocorre que os meios de pagamento crescem além da capacidade de expansão da economia, ou antes, que a produção esteja em plena capacidade, o que impede que a maior demanda decorrente da expansão dos rendimentos seja atendida. Com isso, aumentam os preços e, por extensão, os salários e os rendimentos em geral, dando origem a uma espiral inflacionária. (SANDRONI, 2006, P. 302).
ii. Inflação de custos:
Processo inflacionário gerado (ou acelerado) pela elevação dos custos de produção, especialmente das taxas de juros, de câmbio, de salários ou dos preços das importações. (SANDRONI, 2006, P. 302).
iii. Inflação inercial:
Processo inflacionário muito intenso, gerado pelo reajuste pleno de preços, de acordo com a inflação observada no período imediatamente anterior; os contratos contêm cláusulas de indexação que restabelecem seus valores reais após intervalos fixos de tempo. Na medida em que esses intervalos são cada vez menores e os reajustes cada vez maiores e concedidos com a
58
mesma intensidade para todos os preços, estes tendem a ficar alinhados. Embora variando com grande intensidade, um congelamento manteria as mesmas posições relativas anteriores, garantindo a neutralidade da operação, isto é, não haveria nem ganhadores nem perdedores se a inflação deixasse de existir repentinamente pelo congelamento de preços. (SANDRONI, 2006, P. 302).
iv. Inflação estrutural:
Os estruturalistas, por sua vez, explicam a inflação pelo fato de as demandas salariais deixarem de ser uma questão exclusivamente econômica; elas adquirem caráter sociopolítico, envolvendo sindicatos, empresas e o governo, o que contribui para generalizar a prática da fixação dos preços em função dos aumentos de custos, em detrimento do rigor impessoal dos mercados competitivos. (SANDRONI, 2006, p. 302).
Na ocorrência de inflação contínua ela apresenta certos custos. Já a inflação
acentuada gera perda do valor de compra da moeda e aumento do custo nominal
dos bens e serviços oferecidos as pessoas. Entretanto, é necessário verificar a
diferença entre a inflação prenunciada – que está nas expectativas dos agentes – e
a não prevista que surge como além da predição dos agentes (SACHS, 2000).
A inflação, ainda que prevista, impõe custos à sociedade. Pois o aumento do
imposto inflacionário15, bem como a perda da utilidade vem acompanhado de taxas
de juros mais altas, com algumas exceções, o que reflete na direção do custo de
oportunidade de reter dinheiro. Diante incapacidade de prever a inflação do período
seguinte ou a exigência de realizar o consumo imediato que afeta a população.
Além disso, a inflação não prevista gera transferência de renda e riqueza entre
os diversos grupos econômicos da população. Tendo por fim citar a tomada de
decisões erradas em função das expectativas existentes quando estas não se
materializaram devido à inflação não esperada.
Os índices de preços são utilizados para mensurar a inflação de um
determinado lugar em um determinado período. Este mostra a relação entre o preço
de uma cesta de bens e serviços em vários anos e o preço da mesma
correspondente no ano-base. No ano base o índice é igual a 100 e aumenta ou
diminui de acordo com a cesta de consumo – caso ela aumente o índice subirá
(FROYEN, 1999).
15 O imposto inflacionário é a perda do poder aquisitivo da moeda em virtude da inflação. Ver (Cysne, 1994)
59
No Brasil existem diversos índices que foram criados com finalidades diversas.
Como exemplo, o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) fora elaborado com o
intuito de corrigir as operações financeiras de longo prazo, prioritariamente. O índice
Geral de Preços (IGP-DI/FGV) foi constituído em 1944 com a finalidade de medir o
comportamento geral de preços na economia brasileira, que é uma média
mensurada de diversos outros índices como o Índice de Preços no atacado (IPA),
Índice de Preços ao Consumidor (ICP) e o Índice Nacional da Construção Civil
(INCC). Já o IPC (Índices de Preços ao Consumidor) mensura os preços de varejo
de uma cesta de composição fixa em que incluem bens e serviços comprados pelas
famílias pesquisadas, chamada cesta de mercado (FGV 2015).
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é o índice oficial utilizado no
Brasil para medir a inflação do período, este é mensurado pelo Instituto Brasileiro
Geografia e Estatística (IBGE). Onde o índice demostra a variação dos preços nas
cestas de consumo das famílias que possuem rendas entre 1 a 40 salários mínimos.
Em função desta estatística o Banco Central do Brasil prepara a política para
atender as metas de inflação estabelecidas. (IBGE 2015)
O IGP mede o nível de preços de todos os setores produtivos da economia
julgados em conjunto. O IGP, mensurado desde a década de 1940, pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro. O IGP é uma média ponderada de um IPC,
um IPA e um índice de preços construção civil. Em função do IPA usado no cálculo,
existem o IGP-OG e o IGP-DI. O último é o geralmente utilizado.
Logo esta grande quantidade de índices no país, onde os principais são os
apurados pelo IBGE que calcula o índice de preços ao consumidor, e a Fundação
Getúlio Vargas (FGV) que também calcula índice de preços (BACEN, 2015).
Como exposto anteriormente, este trabalho utilizará o INPC, dada a sua
objetividade inicial.
60
Tabela 6 – Valores percentuais da inflação no Brasil - (1990 a 2010).
Ano INPC - (% a.a.)
1990 1.585,18 1991 475,10 1992 1.149,06 1993 2.489,11 1994 929,32 1995 21,98 1996 9,12 1997 4,34 1998 2,49 1999 8,43 2000 5,27 2001 9,44 2002 14,74 2003 10,38 2004 6,13 2005 5,05 2006 2,81 2007 5,16 2008 6,48 2009 4,11 2010 6,47
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do IBGE.
O Brasil viveu os efeitos de uma elevação crônica da inflação nos anos de
1980 até os anos de 1995 com a implantação do Plano Real, a inflação apresentou
ligeira queda, devolvendo o poder de compra à moeda, sendo que em 1993 o índice
de inflação INPC registrou 2.489,11% de inflação ao ano, e em 1995 atingiu 21,98%
ao ano.
Nos anos que se passaram desde o controle da inflação galopante, as taxas de
inflação se mantiveram baixas, caindo ainda mais, tendo atingido 2,49% ao ano em
1998 e 4,11 em 2009, entretanto apresentaram consideráveis aumentos em 2002
com 14,74% ao ano, mas manteve estável abaixo de 10% ao ano, cumprimento o
plano de metas da inflação, como demonstra a tabela 6 acima.
Dentro dos objetivos deste trabalho, cabe discorrer no próximo subcapitulo
sobre o salário mínimo como uma das variáveis importantes para analise posterior e
discussão.
61
3.4 SALÁRIO MÍNIMO
Para melhor conceituar o salário mínimo podemos de fundamentar na
concepção internacional, onde o salário mínimo é constituído como o menor valor
monetário que, por meio de lei ou de contratação coletiva, deve ser pago aos
trabalhadores em determinada região e período. O Salário mínimo em alguns países
é determinado por lei, enquanto em outros é instituído por diálogo tripartite (com
negociação entre representantes dos trabalhadores, dos empregadores e do
governo) ou por contratação coletiva (com negociação entre representantes de
trabalhadores e de empresas). Já a Organização internacional do Trabalho (OIT)
delimita o salário mínimo como o salário que fundamenta o piso para a constituição
salarial e é destinado a proteger os trabalhadores que estão na base da distribuição
salarial (DIEESE, 2010 apud ILO, 2008).
A visão usual de salário mínimo articula a informação de determinado padrão
de sobrevivência, observado como mínimo em determinada sociedade, com a
função de preservar o rendimento laboral dos trabalhadores mais necessitados no
mercado de trabalho. Então o salário mínimo pode significar uma intervenção com
uma visão ética ou moral na determinação dos preços (por meio da introdução de
um limite ao preço da força de trabalho), já que se fundamenta em parâmetros
políticos de atribuição do valor do trabalho e das condições coerentes de vida na
sociedade (DIESSE, 2010).
Com a introdução à Convenção nº 131 da OIT, de 1970, discute que o salário
mínimo tem por missão defender os trabalhadores assalariados frente a salário
baixos, dentro das condições de cada país. Em seu artigo terceiro, a determinação
da convenção fica clara:
ARTIGO 3 Os elementos a tomar em consideração para determinar o nível dos salários mínimos deverão da maneira possível e apropriada, tendo em conta a prática e as condições nacionais, abranger: a) As necessidades dos trabalhadores e das respectivas famílias, tendo em atenção o nível geral dos salários no país, o custo de vida, as prestações de segurança social e os níveis de vida comparados de outros grupos sociais; b) Os fatores de ordem econômica, abrangendo as exigências do desenvolvimento econômico, a produtividade e o interesse que há em atingir e em manter um alto nível de emprego. (DIEESE, 2010, p. 20, APUD OIT, 1970a).
62
Sendo que a Recomendação nº 135, que discute sobre a determinação de
salários mínimos, seguindo a Convenção nº 131, esclarecendo sobre os objetivos do
salário mínimo;
I. Objetivo da fixação de salários mínimos 1. A fixação de salários mínimos deveria constituir um elemento de toda a política estabelecida para eliminar a pobreza e assegurar a satisfação das necessidades de todos os trabalhadores e de suas famílias. 2. O objetivo fundamental da fixação de salários mínimos deveria ser proporcionar aos assalariados a necessária proteção social com relação aos níveis mínimos permissíveis de salários. (DIEESE, 2010, p. 20, apud OIT, 1970a).
Seguindo a mesma Recomendação, ela ainda caracteriza com maior rigor as
regras para uma determinação de salários mínimos.
II Critérios para a determinação do nível de salários mínimos. 3. Para a determinação do nível dos salários mínimos, dever-se-ia ter em conta, em particular, os seguintes critérios: a) as necessidades dos trabalhadores e de suas famílias; c) o custo de vida e suas variações; d) as prestações da Seguridade Social; e) o nível de vida relativo de outros grupos sociais; f) os fatores econômicos, inclusive os requerimentos de desenvolvimento econômico, a produtividade e a conveniência de alcançar e manter um alto nível de emprego (DIEESE, 2010, p. 21, apud OIT, 1970a).
As determinações que visão atender as necessidades básicas, também está
presente na instituição do salário mínimo no Brasil desde a sua regulamentação e
criação, na Constituição de 1934 e na CLT, toda via, nessas normas legais, o salário
mínimo tenha por finalidade atender as necessidades dos trabalhadores e suas
famílias. Logo a Constituição de 1946 entendeu que o salário mínimo deveria fazer
frente às despesas da família do trabalhador, sendo este principio mantido nas
demais constituições do Brasil. Entretanto, somente a constituição de 1988 deixou o
texto legal definindo os gastos que o salário mínimo deve arcar (DIEESE, 2010).
Sendo claro no artigo sétimo da constituição de 1988:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. (DIEESE, 2010, p. 22, apud, BRASIL, 1988).
63
Logo, em todos os locais em que o salário mínimo é vigente, a sua função
prioritária é remunerar os trabalhadores de acordo com o mínimo aceitável dentro da
cada sociedade. Ou seja, é função essencial do salário mínimo defender os
trabalhadores que estão na base salarial da sociedade, que é o motivo de sua
existência, sem excluir a função do salário mínimo no conjunto da economia, tendo
no Brasil várias funções, como proteção aos perdedores na barganha salarial;
combate a pobreza; enfrentamento da desigualdade salarial segundo seus atributos
pessoais; baliza dos salários no ingresso no mercado de trabalho; referência para
baixos rendimentos do trabalho em geral (de assalariados e outros segmentos de
trabalhadores); organização da escala de remunerações; inibição de rotatividade;
equalização e dinamização regional; instituição de piso para os beneficiários da
seguridade social (DIEESE, 2010).
Este trabalho utilizará o salário mínimo real, ou seja, o mínimo descontada a
inflação do período, que servirá de base de dados para análise posterior neste
estudo, que segue abaixo na tabela 6 no período de 1990 a 2010.
Tabela 7 – Valores do Salário Mínimo Real no Brasil - (1990 a 2010)
Ano Salario Mínimo Real Variação (%)
1990 277,03 - 1991 262,67 -5,18 1992 283,92 8,09 1993 313,11 10,28 1994 256,66 -18,03 1995 256,52 -0,05 1996 267,58 4,31 1997 274,36 2,53 1998 285,40 4,02 1999 288,03 0,92 2000 297,90 3,43 2001 324,97 9,09 2002 333,26 2,55 2003 335,58 0,70 2004 348,07 3,72 2005 372,31 6,96 2006 424,64 14,06 2007 450,30 6,04 2008 464,16 3,08 2009 497,67 7,22 2010 524,11 5,31
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do IPEADATA. Nota: O salário mínimo anual foi obtido por meio de médias mensais, a preços de 2010.
64
Observa-se na tabela 7, que o salário mínimo real entrou em uma rota
ascendente e constante, que permanece até os dias atuais. O salário mínimo real
apresentou em média um valor de R$ 339,92 em termos reais, com uma evolução
de R$ 277,03 em 1990 até um valor de R$ 524,11 em 2010.
Atendidas as pospostas deste capitulo que visava esclarecer sobre as variáveis
a serem utilizadas nas relações no capitulo posterior, este trabalho dará seu
prosseguimento junto à estatística e medidas quantitativas visando entender a
dinâmica da distribuição de renda e o impacto de outras variáveis.
65
4 DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS
No desenvolver deste trabalho, foi exposta uma revisão bibliográfica do tema
central abordado e os métodos de mensuração das medidas de riqueza e
desigualdade. Neste capítulo serão apresentados os resultados encontrados com
estes indicadores no período em especial de 1990 até 2010 no Brasil, a justificativa
é que neste intervalo de 21 anos ocorreram mudanças significativas de politicas de
controle de inflação e elevação do salário mínimo real, o que compatibiliza com o
objetivo de estudo deste trabalho.
Para uma melhor compreensão destas transformações nestes 21 anos que
compreende os anos de 1990 a 2010, se faz necessária uma analise do
comportamento da expansão populacional, o crescimento do PIB e seu resultado em
termos per capita. A tabela abaixo revela estas transformações nas variáveis.
Tabela 8: População, PIB e PIB per capita no Brasil - (1990 a 2010).
Ano População (Milhões) PIB Variação (%) PIB Per Capita Variação (%)
1990 146,60 2.012.800 -4,3 13.731 -7,1 1991 149,10 2.033.532 1,0 13.639 -0,7 1992 151,50 2.022.478 -0,5 13.346 -2,2 1993 154,00 2.122.080 4,9 13.781 3,3 1994 156,40 2.246.283 5,9 14.360 4,2 1995 158,90 2.341.161 4,2 14.736 2,6 1996 161,30 2.391.508 2,2 14.824 0,6 1997 163,80 2.472.236 3,4 15.095 1,8 1998 166,30 2.473.107 0,0 14.876 -1,5 1999 168,80 2.479.388 0,3 14.692 -1,2 2000 171,30 2.586.153 4,3 15.099 2,8 2001 173,80 2.620.112 1,3 15.075 -0,2 2002 176,30 2.689.757 2,7 15.256 1,2 2003 178,70 2.720.598 1,1 15.221 -0,2 2004 181,10 2.876.007 5,7 15.880 4,3 2005 183,40 2.966.879 3,2 16.179 1,9 2006 185,60 3.084.280 4,0 16.621 2,7 2007 187,60 3.272.156 6,1 17.438 4,9 2008 189,60 3.441.081 5,2 18.148 -2,3 2009 191,50 3.418.896 -0,6 17.855 -1,6 2010 193,30 3.674.964 7,5 19.016 6,5
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do IBGE. Nota*: Valores do PIB e PIB per capita a preços de 2010. Nota**: O cálculo do PIB sofreu mudanças em 2015, ocorrendo mudanças nos anos de 2002 para 3,1%, em 2003 para 1,2%, em 2005 para 3,1%, em 2007 para 6%, em 2008 para 5%, em 2009 para -0,2% e para 2010 para 7,6% respectivamente.
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Entre os anos de 1990 e 2010, a população saiu de 146,6 milhões de habitantes
no inicio do período para 193,3 milhões de habitantes ao seu termino, um
crescimento de 46 milhões de habitantes em 21 anos. Observa-se também na tabela
8, que o PIB apresentava o valor de R$ 2.012.800 milhões em 1990, com um
crescimento negativo da ordem de -4,3%, já em 2010 apresenta um valor de R$
3.674.964 milhões, com um crescimento positivo de 7,5%, apresentando um
incremento de R$ 1.662.164 milhões no decorrer de duas décadas. Estes resultados
levaram a um crescimento do PIB per capita de R$ 13.731 em 1990, com
crescimento negativo de -7,1%, para R$ 19.016 em 2010, com uma variação positiva
de 6,5%, elevando o PIB per capita em R$5.285 ao longo do período.
Um olhar sobre as principais medidas de desigualdade, nestes 21 anos que
abrangem os anos de 1990 a 2010, pode ser verificado na tabela abaixo, que
apresenta estas transformações nas variáveis, entre as quais se encontra as razões
entre rendas de camadas sociais, o índice Gini e o Índice T de Theil.
Tabela 9: Medidas de Desigualdade no Brasil - (1990 a 2010).
Ano Razão entre a dos 10% mais ricos e a dos 40%
mais pobres
Razão entre a dos 20% mais ricos e a dos 20%
mais pobres Índice de Gini Índice T de Theil
1990 26,47 30,51 0,614 0,773 1991 24,07 28,44 0,599 0,734 1992 21,68 26,37 0,583 0,695 1993 24,40 28,55 0,604 0,772 1994 24,18 28,14 0,603 0,752 1995 23,96 27,73 0,601 0,733 1996 24,53 29,66 0,602 0,732 1997 24,48 29,05 0,602 0,738 1998 23,92 27,78 0,600 0,734 1999 22,95 26,45 0,594 0,711 2000 23,11 26,88 0,595 0,719 2001 23,28 27,32 0,596 0,726 2002 22,20 25,03 0,589 0,710 2003 21,42 24,70 0,583 0,685 2004 19,93 22,42 0,572 0,665 2005 19,56 21,68 0,570 0,660 2006 18,71 20,83 0,563 0,644 2007 18,12 20,70 0,556 0,624 2008 17,01 19,22 0,546 0,602 2009 16,66 18,98 0,543 0,597 2010 16,15 18,46 0,537 0,583
Fonte: Elabora pelo autor com dados do IPEADATA.
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Ao observar os anos de 1990 a 2010, verifica-se que a Razão entre as rendas
dos 10% mais ricos e os 40% mais pobres apresenta uma variação de 26,47% no
inicio da série em 1990, chegando a 16,15% em 2010, com uma redução de 10,32%
pontos percentuais em 21 anos. Já a Razão entre as rendas dos 20% mais ricos e
os 20% mais pobres possui uma variação de 30,51% em 1990, e 18,46% em 2010,
o que representa uma queda de 12,05% pontos percentuais ao longo do período. O
Índice de Gini em 1990 possui 0,614, sendo que em 2010 chega a 0,537, o que
revela uma queda de 0,077 neste espaço de tempo observado. Já o Índice T de
Theil, no inicio da série tem 0,773 em 1990, chegando a 0,583 em 2010, o que
demonstra uma redução de 0,190 na desigualdade mensurada pelo indicador, que
segue os demais em temos de melhora.
As variáveis escolhidas para análise ao longo do período selecionado de 1990 a
2010 podem ser vistas na tabela abaixo, que demonstra o comportamento de cada,
como a Inflação medida pelo INPC e o Salário Mínimo Real.
Tabela 10: Valores da Inflação e Salário Mínimo Real no Brasil. (1990 a 2010).
Ano INPC - (% a.a.) Salário Mínimo Real Variação (%)
1990 1.585,18 277,03 - 1991 475,10 262,67 -5,18 1992 1.149,06 283,92 8,09 1993 2.489,11 313,11 10,28 1994 929,32 256,66 -18,03 1995 21,98 256,52 -0,05 1996 9,12 267,58 4,31 1997 4,34 274,36 2,53 1998 2,49 285,40 4,02 1999 8,43 288,03 0,92 2000 5,27 297,90 3,43 2001 9,44 324,97 9,09 2002 14,74 333,26 2,55 2003 10,38 335,58 0,70 2004 6,13 348,07 3,72 2005 5,05 372,31 6,96 2006 2,81 424,64 14,06 2007 5,16 450,30 6,04 2008 6,48 464,16 3,08 2009 4,11 497,67 7,22 2010 6,47 524,11 5,31
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do IPEADATA.
Nota: O salário mínimo anual foi obtido por meio de médias mensais, a preços de 2010.
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No decorrer dos anos de 1990 até 2010, a inflação apresentou grande variação,
partindo de 1.585,18% a.a. em 1990 para 6,47% a.a. em 2010, com uma redução de
1.578,71 pontos percentuais entre a variação inicial e final, algo não convencional
em termos de literatura econômica. O mesmo pode ser dito sobre o salário mínimo
real, mas em menor proporção, mas os ganhos obtidos acima da inflação se deram
também em função da queda acentuada da inflação, o que possibilitou um SMR de
R$ 277,03 em 1990, chegar a R$ 524,11 em 2010, com um incremento de R$
247,08 em 21 anos. Cabe destacar que o Salário Mínimo Real variou positivamente
acima da inflação nos anos de 2005 com 6,96%, em 2006 com 14,06%, em 2007
com 6,04% e em 2009 com 7,22%, produzindo ganhos reais acima da inflação ao
salário mínimo.
Nos subcapítulos seguintes, será feita uma relação entre as medidas de
desigualdade: (1) Razão entre as rendas dos 10% mais ricos e os 40% mais pobres;
(2) Razão entre as rendas dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres; (3) Índice de
Gini; (4) Índice T de Theil com as variáveis (5) Inflação e (6) Salário Mínimo Real.
Para tanto, o próximo subcapitulo irá realizar a relação entre inflação e
desigualdade.
4.1 A Relação entre inflação e desigualdade
Este subcapítulo irá expor os resultados correlatos entre inflação e desigualdade
no período de 1990 a 2010.
Conforme Hoffmann (2001, p. 70), no ano de 1989, a inflação acelerada
contribuiu para que a desigualdade de renda chegasse ao ponto máximo no Brasil e
o maior entre todos os países pesquisados pelo coeficiente de Gini, mostrando a
correlação que a inflação mantém com a desigualdade de renda. Ele também
especifica que um dos motivos pelo qual a inflação desordenada cria a desigualdade
na renda é que as pessoas erram ao declarar seus rendimentos, introduzindo aos
dados um “ruído” adicional que aumenta as medidas de desigualdade, mas isso não
altera o fato da perda de valor real da moeda ocasionado pela inflação em que a
classe mais pobre da sociedade tem menor capacidade de se defender, enquanto os
ricos se protegem da erosão inflacionária colocando sua renda em fundos bancários.
69
A relação entre Inflação, Razão entre as rendas dos 10% mais ricos e os 40%
mais pobres e a Razão entre as rendas dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres
pode ser observada no período selecionado de 1990 a 2010 no gráfico abaixo.
70
Gráfico 1 – Relação entre Inflação e desigualdade I (1990 a 2010)
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Ipeadata. Nota: A Razão entre renda dos 10% mais ricos e os 40% mais pobres e a Razão entre as rendas dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres de 1991, 1994, 2000 e 2010 foram obtidas por interpolação linear.
71
Conforme o gráfico 1, existe uma relação entre a queda da inflação e a
redução no distanciamento entre as rendas calculadas pela Razão entre as rendas
dos 10% mais ricos e os 40% mais pobres e a Razão entre os 20% mais ricos e os
20% mais pobres, o que revela uma redução na desigualdade entre rendas, pois as
razões possuem uma trajetória de queda, ao passo que a inflação apresenta uma
tendência decrescente no período em análise, entretanto, sendo que nos períodos
de menor taxa de inflação, ocorre movimento semelhante de redução nos
distanciamentos de renda de forma gradual, pois a série inicia com uma inflação na
casa dos 1.585,18 % a.a. e diferenças de 26,47 e 30,51 no ano de 1990, que é o
período onde as razões apresentam maior diferença nos períodos em análise, o
mesmo não pode ser dito sobre a inflação, uma vez que ela apresenta acentuada
evolução em 1993, chegando a 2.489,11% ao ano, entretanto as razões ficam em
24,40 e 28,55, abaixo das diferenças observadas em 1990. Em 1994 a inflação
chega a três dígitos com 929,32% a.a. e tem início o Plano Real, que no ano
posterior de 1995 apresenta dois dígitos com 21,98% a.a., ao passo que neste
intervalo de dois anos as razões não apresentaram grandes variações, oscilando de
24,18 para 23,96, e 28,14 para 27,73 respectivamente. A partir de 1996 a inflação
atingiu um dígito com 9,12% a.a., e mantém este padrão até o término da série em
análise, com duas exceções, em 2002 e 2003 com 14,74% a.a. e 10,38% a.a., sem
interromper a trajetória de queda das razões, que em 1996 situavam-se em 23,96 e
27,76 e não apresentaram oscilações em 2002, com 22,20 e 25,03 e nem em 2003,
com 21,42 e 24,70, apenas movimentos diferentes entre si, sendo que uma diminuiu
e a outra cresceu. No período que abrange os anos de 2004 a 2010 a inflação
permaneceu estável em um digito nestes 6 anos, sendo que as razões entre rendas
apresentaram tendência de queda ao longo de todo o período, variando de 19,03 e
22,42 em 2004, para 16,15 e 18,46 em 2010. Ao longo do período de 1990 a 2010, a
inflação apresentou uma retração de 1.578, 71% pontos percentuais, assim como as
razões 38,99% e 39,50%.
Entende-se que inflação alta não reduz a desigualdade conforme os
resultados do gráfico, mas uma redução consistente tende a produzir um menor
distanciamento entre as rendas. A relação entre Inflação, e o Índice de Gini e Índice
T de Theil pode ser visto no período selecionado de 1990 a 2010 no gráfico abaixo.
72
Gráfico 2 – Relação entre Inflação e desigualdade II (1990 a 2010)
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Ipeadata. Nota: O Índice de Gini e Índice T de Theil de 1991, 1994, 2000 e 2010 foram obtidos por interpolação linear.
73
Segundo o gráfico 2, existe uma relação entre a queda da inflação e a
redução desigualdade medida pelo Índice de Gini e o Índice T de Theil, o que revela
uma redução na desigualdade de distribuição de renda, pois ambos os índices
apresentam uma tendência de queda, tendo em vista que a inflação apresenta uma
inclinação decrescente no período em análise, todavia, nos anos de menor inflação,
ocorre deslocamento semelhante de redução na desigualdade de distribuição de
renda, de forma paulatina, pois a série começa com uma inflação na casa dos
1.585,18 % a.a. e números índice de 0,614 e 0,773 no ano de 1990, que é o
intervalo onde os índices apresentam maior diferença nos períodos em analise, o
mesmo não pode ser dito sobre a inflação, uma vez que ela apresenta acentuada
evolução em 1993, chegando a 2.489,11% ao ano, entretanto os índices ficam em
0,604 e 0,772 abaixo das diferenças observadas em 1990. No ano de 1994 a
inflação chega a três dígitos com 929,32% a.a. e tem inicio o Plano Real, que no ano
posterior de 1995 apresenta dois dígitos com 21,98%a.a., ao passo que neste
intervalo de dois anos os índices não apresentaram grandes variações, oscilando de
0,603 para 0,601 e 0,752 para 0,733 respectivamente. A partir de 1996 a inflação
atingiu um dígito com 9,12% a.a., e mantém este padrão até o término da série em
análise, com duas exceções em 2002 e 2003 com 14,74% a.a. e 10,38% a.a., sem
interromper o percurso de queda dos índices, que em 1996 situavam-se em 0,602 e
0,732 e não apresentaram alterações em 2002, com 0,589 e 0,710 e nem em 2003,
com 0,583 e 0,685. Nos período que abrange os anos de 2004 a 2010 a inflação
permaneceu estável em um digito nestes 6 anos passados, sendo que os índices de
desigualdade na distribuição de renda apresentaram propensão de redução ao longo
de todo o período, alterando de 0,572 e 0,665 em 2004, para 0,537 e 0,583 em
2010. Ao longo do período de 1990 a 2010, a inflação apresentou uma retração de
1.578, 71% pontos percentuais, assim como os índices 12,54% e 24,63%.
Pode se deduzir que inflação elevada tende a causar maior desigualdade na
distribuição de renda, como se observa nos resultados do gráfico, entretanto, a
redução perdurável pode produzir uma melhora na desigualdade da distribuição de
renda, que pode ser observada nos índices que mensuram padrões de distribuição
de renda como o índice de Gini e o índice T de Theil, que medem a diferença de
rendimentos entre pobres e ricos no caso do Gini e a redundância da distribuição em
T - Theil (HOFFMANN, 1998).
74
Cardoso (1992, p. 2) menciona que, se o Estado não se encontra em um
estágio de pleno emprego, a inflação causa a pobreza através do impacto que
ocasiona nos salários reais, onde os preços dos produtos sobem mais que os
salários nominais. Assim, a população não consegue mensurar essa desvalorização
contínua do seu salário e acaba causando a desigualdade na renda. Além disso, o
imposto inflacionário reduz o rendimento disponível no mercado.
O controle da inflação com a implantação do Plano Real, que em um primeiro
momento não contribuiu para a diminuição das diferenças entre rendas e dos índices
de desigualdade na distribuição de renda no Brasil, apresenta relação com a queda
na diferença entre rendas e redução na desigualdade da distribuição de renda a
posteriori. Convém salientar, que parte das políticas adotadas para conter a inflação,
tiveram efeitos que produziram um ambiente recessivo, que pode ter afetado
negativamente as Razões e os índices. Podendo ser explicado por Barboza (2008,
p.10), que demonstra que o controle da inflação com altas taxas de juros, como foi o
caso do Brasil com o Plano Real, poderia diminuir o crescimento e causar o
desemprego, com um maior número de desempregados, o crescimento da
desigualdade poderia acontecer.
4.2 A relação entre salário mínimo e desigualdade
Este subcapítulo irá expor os resultados correlatos entre salário mínimo real e
desigualdade no período de 1990 a 2010, demonstrando como elas se comportaram
e como uma influenciou a outra em termos de resultados positivos e negativos em
20 anos.
Alguns autores, dentre eles Sabóia (2005), Pochmann (2005) e Dedecca et all.
(2008), analisaram a questão da redução da desigualdade de renda e o papel
favorável do salário mínimo nesse processo. Neste trabalho, busca-se relacionar o
salário mínimo real com as medidas de desigualdade.
A relação entre Salário Mínimo Real, Razão entre as rendas dos 10% mais ricos
e os 40% mais pobres e a Razão entre as rendas dos 20% mais ricos e os 20% mais
pobres pode ser observada no período selecionado de 1990 a 2010 no gráfico
abaixo.
75
Gráfico 3 – Relação entre SMR e desigualdade I (1990 a 2010)
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Ipeadata.
Nota*: A Razão entre renda dos 10% mais ricos e os 40% mais pobres e a Razão entre as rendas dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres de 1991, 1994, 2000 e 2010 foram obtidas por interpolação linear. Nota**: O salário mínimo anual foi obtido por meio de médias mensais, a preços de 2010.
76
Conforme o gráfico 3, existe uma relação entre o aumento do salário mínimo e a
redução no distanciamento entre as rendas calculadas pela Razão entre as rendas
dos 10% mais ricos e os 40% mais pobres e a Razão entre os 20% mais ricos e os
20% mais pobres, o que revela uma redução na desigualdade entre rendas, pois as
razões possuem uma trajetória de queda, ao passo que o salário mínimo apresenta
uma tendência crescente no período em estudo, entretanto, sendo que nos períodos
de maior valorização do salário mínimo, ocorre um movimento de redução nos
distanciamentos de renda de forma gradual, pois a série inicia com um salário
mínimo na casa dos R$ 277,03, e as diferenças de 26,47 e 30,51 no ano de 1990,
que é o período onde as razões apresentam maior diferença nos períodos em
análise, o mesmo não pode ser dito sobre o salário mínimo, uma vez que ele
apresenta uma queda em 1991, chegando a R$ 262,67, entretanto as razões ficam
em 24,07 e 28,44, abaixo das diferenças observadas em 1990. Em 1993 o salário
mínimo apresenta o valor de R$ 313,11, sendo que no ano posterior que tem início o
Plano Real, o salário mínimo chega a R$ 256,66 em 1994, com uma redução de R$
56,45, neste intervalo dos dois anos as razões não apresentaram variações,
oscilando de 24,40 para 24,18, e 28,55 para 28,14 respectivamente. A partir de 1995
o salário mínimo chega a R$ 256,52, e mantém um padrão de valorização até o
término da série em análise, mesmo com a mudança na fórmula que estabelece o
critério de reajuste do mínimo que entrou em vigor em 2004, o salário permaneceu
sendo valorizado em R$ 348,07 no mesmo ano, e as razões oscilaram de forma
decrescente em 19,93 e 22,42. Nos período que abrange os anos de 2005 a 2010 o
salário mínimo permaneceu estável e crescendo nestes 6 anos, sendo que as
razões entre rendas apresentaram tendência de queda ao longo de todo o período,
variando de 19,56 a 21,68 em 2005, para 16,15 e 18,46 em 2010. Ao longo do
período de 1990 a 2010, o salário mínimo apresentou um crescimento de R$ 247,08
em termos reais, e as razões uma redução de 38,99% e 39,50%.
Denota-se que salário mínimo baixo não reduz a desigualdade conforme os
resultados do gráfico, mas um crescimento salutar tende a produzir um menor
distanciamento entre as rendas. A relação entre salário mínimo real, e o Índice de
Gini e Índice T de Theil pode ser visto no período selecionado de 1990 a 2010 no
gráfico abaixo.
77
Gráfico 4 – Relação entre SMR e desigualdade II (1990 a 2010)
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Ipeadata.
Nota**: O Índice de Gini e Índice T de Theil de 1991, 1994, 2000 e 2010 foram obtidos por interpolação linear. Nota**: O salário mínimo anual foi obtido por meio de médias mensais, a preços de 2010.
78
Segundo a gráfico 4, existe uma relação entre o aumento do salário mínimo e
a redução da desigualdade medida pelo Índice de Gini e o Índice T de Theil, o que
revela uma redução na desigualdade de distribuição de renda , pois ambos os
índices apresentam uma tendência de queda, ao passo que o salário mínimo
apresenta uma tendência crescente no período em análise, entretanto, sendo que
nos períodos de maior valorização do salário mínimo, ocorre movimento semelhante
de redução nos índices de forma gradual, pois a série inicia com um salário mínimo
na casa dos R$ 277,03, e os índices em 0,614 e 0,773 no ano de 1990, que é o
intervalo onde os índices apresentam maior diferença nos períodos em análise, o
mesmo não pode ser dito sobre o salário mínimo, uma vez que ele apresenta uma
queda em 1991, chegando a R$ 262,67, entretanto, os índices ficam em 0,599 e
0,734, abaixo das diferenças observadas em 1990. Em 1993 o salário mínimo
apresenta o valor de R$ 313,11, sendo que no ano posterior que tem início o Plano
Real, o salário mínimo chega a R$ 256,66 em 1994, com uma redução de R$ 56,45,
neste intervalo dos dois anos os índices não apresentaram variações, oscilando de
0,604 para 0,772, e 0,603 para 0,752 respectivamente. A partir de 1995 o salário
mínimo chega a R$ 256,52, e mantém um padrão de valorização até o término da
série em análise, mesmo com a mudança na fórmula que estabelece o critério de
reajuste do mínimo que entrou em vigor em 2004, o salário permaneceu sendo
valorizado em R$ 348,07 no mesmo ano, e os índices oscilaram de forma
decrescente em 0,572 e 0,665. No período que abrange os anos de 2005 a 2010 o
salário mínimo permaneceu estável e crescendo nestes 6 anos, sendo que os
índices de desigualdade na distribuição de renda apresentaram tendência de queda
ao longo de todo o período, variando de 0,570 e 0,660 em 2005, para 0,537 e 0,583
em 2010. Ao longo do período de 1990 á 2010, o salário mínimo apresentou um
crescimento de R$ 247,08 em termos reais, e os índices uma redução de 12,54% e
24,63%.
Pode se deduzir que o salário mínimo baixo não reduz a desigualdade
conforme os resultados do gráfico, mas um crescimento sustentável pode produzir
uma melhora na desigualdade da distribuição de renda, que pode ser observada nos
índices que mensuram padrões de distribuição de renda como o índice de Gini e o
índice T de Theil, que medem a diferença de rendimentos entre pobres e ricos no
caso do Gini e a redundância da distribuição em T- Theil como argumenta
(HOFFMANN, 1998).
79
Tanto os países em desenvolvimento quanto os países desenvolvidos
recolocaram em suas agendas a discussão acerca da política de salário mínimo.
Com a redução da regulação social sobre o mercado de trabalho ao longo das
últimas décadas, muitas economias tiveram impactos perversos com a piora da
distribuição de renda, com a depreciação das remunerações de base do mercado de
trabalho, com a queda do emprego, dentre outros. Dessa forma, a defesa do piso
salarial tornou-se relevante para evitar uma situação ainda pior das remunerações
no mercado de trabalho (BALTAR et all, 2005)
Segundo Pochmann:
A política de salário mínimo constitui a base de um processo mais amplo e extremamente complexo de redistribuição de renda, que envolve desde a coordenação de políticas públicas atinentes aos ocupados de salário de base até a realização de reformas sociais em planos distintos, capazes de desbloquear o conjunto de resistências contra a elevação do valor real do mínimo oficial (POCHMANN, 2005).
Ainda conforme DEDECCA (2005), seria razoável garantir que o salário
mínimo acompanhasse, pelo menos, os aumentos estimados do produto e da
produtividade para o ano. Tal critério mostra-se plenamente compatível com todos
os pressupostos da teoria econômica clássica e a política não teria ainda segundo
essa mesma teoria, efeito inflacionário, além de ser socialmente justo.
80
5 CONCLUSÃO
O debate sobre a evolução da desigualdade de renda no Brasil esteve
associada ao movimento estrutural da economia brasileira ao longo dos anos. A
discussão sobre o aumento da desigualdade nas décadas de 60 a 80 foi atrelada a
mudanças das características do trabalhador. Segundo Fishlow (1972) este aumento
deveu-se a queda real dos salários mínimos em virtude da inflação. Já Langoni
(1973), enfatizou que as transformações estruturais vindas do crescimento
econômico, onde ele aponta que a maior desigualdade observada podia ser
explicada a partir do modelo de Simon Kuznets (1955) no qual mostra que os efeitos
distributivos ocorreram na composição regional, setorial e nas mudanças qualitativas
da força de trabalho. A década de 80 pode ser entendida como um período em que o
aumento da desigualdade atingiu seu maior nível. O período foi marcado por
apresentar baixo nível de crescimento econômico, inflação elevada e inúmeros
planos de estabilização que não atingiram seus objetivos fins, o que proporcionou
um maior agravamento da concentração da renda e aumento da pobreza.
Observamos que os principais índices que medem a desigualdade de renda
tiveram uma queda considerável no Brasil nas duas últimas décadas de 1990 e
2010. Tanto o índice de Gini e Theil-T quanto a relação entre os mais ricos e mais
pobres, tiveram uma tendência de queda. Considerando essa diminuição da
desigualdade de renda medida por índices, conseguimos também evidenciar que
houve um aumento de participação nos extratos mais baixos da população e
simultaneamente, uma diminuição da participação dos extratos mais ricos.
O objetivo deste trabalho foi verificar se o controle da inflação e a elevação do
salário mínimo contribuíram para que houvesse a redução da desigualdade no país.
Logo podemos verificar que o controle do índice de preços no Brasil contribuiu para
uma mensuração do valor real da moeda e do valor do trabalho, assim como a
elevação do salário mínimo atingiu as camadas mais desprovidas dentre as faixas
salariais. Quando o país conseguiu a estabilidade macroeconômica via controle
inflacionário, as políticas públicas de elevação salarial demonstraram força e a
melhoram da distribuição de renda que se tornou aparente. Em 21 anos o Brasil
reduziu seu índice de Gini de 0,614 em 1990 para 0,537 em 2010, assim como o
índice de Theil-T de 0,773 em 1990 para 0,583 em 2010, do mesmo modo as
Razões entre as rendas dos 10% mais ricos e os 40% mais pobres e os 20% mais
81
ricos e os 20 mais pobres em 26,47 e 30,51 em 1990 para 16,15 e 18,46 em 2010,
demonstrando a capacidade da estabilização e as políticas públicas de elevação
salarial de interferir no grau de distribuição.
Ao analisar os dados podemos concluir que a inflação tem forte influência na
distribuição de renda, não exclusivamente, pois nos períodos de alta inflação os
índices de desigualdade social no Brasil seguem a mesma linha do excessivo
aumento de preços, com o índice de Gini, índice de Thiel-T, razão entre a renda dos
10% mais ricos e 40% mais pobre e razão entre a renda dos 20% mais pobres e
20% mais ricos, que se elevaram de maneira abrupta, praticamente proporcional ao
aumento da inflação, como especificado no capitulo 3. Quando o governo conseguiu
controlar as taxas de inflação, a distribuição de renda não sofreu alteração
significativa até 2000, devido aos anos de crise, mas também não houve um
aumento da desigualdade, mantendo estáveis os índices e razões no Brasil,
demonstrando que, mesmo com crises de desemprego, a estabilidade nos preços
manteve a distribuição de renda constante.
O salário mínimo existe em nosso país há 70 anos, mas apenas nos após o
controle da inflação o mesmo incorporou-se como uma política de Estado de grande
importância para a sociedade brasileira. A política de salário mínimo é, portanto, um
instrumento fundamental de política pública para o combate à pobreza, à
desigualdade social e à desestruturação do mercado de trabalho. Entretanto, é
necessário que ela esteja associada a outros fatores, como o crescimento
econômico para ter a efetividade esperada.
Para tanto, o segundo capítulo apresentou as principais teorias sobre
distribuição de renda, uma discussão teórica sobre a relação entre distribuição de
renda, inflação e salário mínimo, e o debate sobre distribuição de renda no Brasil de
1970 até a atualidade. O intuito desse capítulo foi discutir com elementos da
literatura, o debate sobre os temas propostos, demonstrando indiretamente que
parte da queda recente da desigualdade está associada à importância das políticas
salarial e inflacionária, com o objetivo de reduzir a desigualdade de renda no Brasil.
O terceiro capítulo teve como objetivo sistematizar as principais medidas de
desigualdade utilizadas para mensuração e demostrar o comportamento das
mesmas neste intervalo de 21 anos. Mostrou-se que as fórmulas de cálculos
diferentes têm por finalidade averiguar graus de proximidade e distanciamento
82
entre rendas e a concentração de renda. Foram apresentados também os
resultados de cada medida anualmente entre 1990 e 2010.
No quarto capítulo observam-se os resultados e suas relações com as
variáveis taxas de inflação anuais e salário mínimo real anual com as medidas de
desigualdade e riqueza nos períodos selecionados.
A análise da relação apresentou uma forte relação com a elevação da
inflação e aumento da desigualdade, assim como uma queda sistemática a partir do
controle inflacionário, da mesma forma a partir do momento que ocorreu uma
valorização do salário mínimo, ocorreu um processo de queda da desigualdade
medida pelos índices e razões. As políticas de controle da inflação e salário mínimo
são, portanto, instrumentos fundamentais de política pública para o combate à
pobreza e à desigualdade social. Entretanto, é necessário que ela esteja associada
a outros fatores, como o crescimento econômico para ter a efetividade esperada.
Como visto nos estudos de Soares (2008), o Brasil está com políticas
acertadas de distribuição de renda, otimizando gradativamente em um ritmo
notável, mas para manter esse ritmo é imprescindível manter a estabilidade
monetária e as políticas salariais, desenvolvendo o país para um Estado de Bem-
Estar Social, ou Welfare State, onde condomínios de luxo não poderão estar mais
ao lado de imensas favelas, comprovando o distanciamento ocular da renda em
nosso país, mas todos os cidadãos poderão ter uma vida digna e de qualidade,
usufruindo dos direitos conquistados e desfrutando de plenas liberdades.
Por fim, recomenda-se para estudos futuros que se busque fazer uma
retomada do debate sobre a distribuição de renda no Brasil, a luz das discussões
nas décadas passadas, pois no período passado buscou-se entender por que não
ocorreu uma melhora na distribuição de renda em função do grande crescimento
econômico na época, entretanto, na atualidade se observa uma melhora na
distribuição de renda com taxas de crescimento modestas em comparação com o
período passado. Assim como buscar relações com outras variáveis, como
crescimento, educação, crédito e politicas de transferência de renda.
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