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EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTO*Eli Diniz e Renato R. Boschi

O presente trabalho tem por objetivo analisar as estratgias de desenvolvimento e a retomada do crescimento aps as reformas orientadas para o mercado, segundo a percepo de correntes representativas do empresariado industrial, tendo em vista a redefinio do papel dos atores econ* Trabalho apresentado no XXVI Anual da Anpocs, GT Empresariado e ao coletiva, Caxambu, 23-26 de outubro de 2002. Agradecemos ao assistente Csar Zucco Jr. que na primeira fase da pesquisa pelo trabalho de coleta, elaborao de tabelas e grficos e anlise preliminar dos dados. Tambm a Leonardo Andrada e Srgio Mastrangelo, assistentes na fase atual, que fizeram levantamentos e sistematizaram as informaes utilizadas. Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa Globalizao, elites empresariais e reconfigurao do setor privado no Brasil dos anos 90, coordenado por ns com verba da Faperj e bolsa de pesquisa do CnPq. Artigo recebido em outubro/2002 Aprovado em abril/2003

micos ante o Estado e o contexto internacional. A primeira parte focaliza os principais aspectos das mudanas que afetaram a estrutura produtiva brasileira, sobretudo a natureza e o volume das transaes que alteraram o peso relativo dos investimentos estrangeiros em face do capital domstico. Em outras palavras, trata-se de identificar a reconfigurao ocorrida no plano das relaes produtivas entre os principais segmentos da indstria e suas conseqncias em termos da posio relativa dos atores e suas relaes estratgicas. Outro aspecto estrutural, destacado na segunda parte, consiste na reconfigurao da estrutura de representao de interesses e na alterao de sua lgica de funcionamento, cuja dinmica passou a ser pautada sobretudo pelo princpio da adeso voluntria e da operao de incentivos seletivos, em vez da compulsoriedade predominante do momento anterior. Finalmente, a terceira parte concentra-se nas propostas acerca de vias alternativas de deRBCS Vol. 18 n 52 junho/2003 .

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .es, que levou a um deslocamento cada vez maior do capital domstico em favor do capital estrangeiro. Como se pode observar no Grfico 1, significativo o volume de fuses e aquisies na dcada de 1990, segundo dois relatrios especializados (KPMG, 2001; e Prince, Waterhouse e Coopers, 2001, respectivamente). Embora com certa discrepncia entre as fontes, constata-se uma tendncia de crescimento no volume dessas transaes ao longo da dcada, sobretudo a partir de 1997, perodo em que se intensificam as privatizaes. Em 2000, de acordo com Prince, Waterhouse e Coopers, o aumento do nmero de fuses e aquisies atingiu o seu ponto mximo.

senvolvimento por parte das lideranas empresariais. A anlise procura detectar a maneira pela qual os empresrios industriais percebem o debate sobre a retomada do crescimento econmico a longo prazo e as perspectivas do capitalismo no Brasil, definidas por cenrios alternativos de insero do pas no sistema internacional. Isso implicou o aprofundamento do atual modelo ou a correo de rota com nfase nas possibilidades de um maior equilbrio entre os fatores de atrao externa e a induo interna.

Reformas econmicas e reestruturao industrial nos anos de 1990A dcada de 1990 foi marcante do ponto de vista de reformas e mudanas estruturais na economia, que afetaram as bases do capitalismo industrial no Brasil, a participao e o papel dos diferentes atores econmicos. A crise do modelo nacional desenvolvimentista e a transio para um modelo centrado no mercado constituram a tnica desse perodo. Essas mudanas atingiram tambm os diferentes ramos da atividade industrial, com impactos significativos no desempenho da indstria no conjunto da economia. Alm disso, as reformas e seus impactos influenciaram sobremaneira o plano de composio e de estratgias de ao coletiva das elites empresariais. Como j foi bastante discutido, entre os fatores que impulsionaram essas mudanas sobressaem a abertura comercial e o programa de privatizaes, implementados a partir do final dos anos de 1980 e intensificados no final da dcada seguinte. As conseqncias dessas reformas no plano macroeconmico foram analisadas exaustivamente, o que no se deu em relao aos impactos que elas causaram no mbito poltico, sobretudo no que diz respeito reconfigurao dos atores, recomposio dos interesses e organizao de suas estratgias de representao. Examinaremos em primeiro lugar os efeitos da abertura comercial sobre a recomposio da propriedade das empresas, expressa no grande nmero de falncias, fuses e aquisi-

Grfico 1 Nmero de Fuses e Aquisies na Dcada de 1990

Segundo o Relatrio KPMG, possvel se identificar trs perodos caracterizados por diferentes formas de atuao do governo. O primeiro, at 1993, refere-se aos efeitos iniciais da abertura da economia, em que ocorreu grande nmero de fuses em setores como produtos qumicos, petroqumicos, metalurgia e siderurgia. O segundo, de 1994 a 1997, corresponde implementao do Plano Real e estabilizao da economia, o que estimulou novas transaes, sobretudo nos segmentos financeiro e eletro-eletrnico para alm dos j mencionados. Finalmente, no terceiro perodo (1998-2000) o avano das privatizaes teria propiciado um grande nmero de transaes nos setores de telecomunicaes e tecnologia da informao (Tabela 1).

EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTOTabela 1 Fuses e Aquisies na Dcada de 1990 Principais Setores Alimentos, Bebidas e Fumo Financeiro Qumico e Petroqumico Metalurgia e Siderurgia Eltrico e Eletrnico Telecomunicaes Tecnologia da Informao Outros Total de fusesFonte: KPMG (2001).

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1992 12 4 4 11 2 1 nd 24 58

1993 28 8 18 13 7 7 nd 69 150

1994 21 15 14 11 5 5 8 99 175

1995 24 20 13 9 14 8 7 116 212

1996 1997 1998 38 31 18 17 15 5 11 204 328 49 36 22 18 19 14 8 204 372 36 28 25 23 9 31 8 204 351

1999 26 16 2 9 5 47 28 157 309

2000 Total 36 18 12 11 5 26 57 219 353 270 176 128 122 81 144 136 1296 2353

Grfico 2 Valor das Privatizaes no Total de Fuses e Aquisies e Participao Estrangeira em Milhes de US$

Fonte: Siefert Filho e Silva (1999) e KPMG (2001).

Cabe destacar nesse conjunto de transformaes o papel das privatizaes como o segundo vetor da reestruturao produtiva em curso nos anos de 1990. O Grfico 2 permite avaliar o peso das privatizaes no total das fuses e das aquisies na economia, assim como o grau de participao do capital estrangeiro. A intensificao da presena desse capital foi, em grande medida, ensejada pelo prprio programa de privatizaes, como sugere o crescimento simultneo de ambas as tendncias a partir de 1995.

O montante das privatizaes a partir de 1991 foi bastante expressivo, como se pode observar nos dados da Tabela 2, onde esto computadas as receitas das privatizaes no mbito do PND (Programa Nacional de Desestatizao, criado em 1990), nas esferas federal e estadual e no setor de telecomunicaes, tratado separadamente. A privatizao do setor de telecomunicaes teve incio em 1997 e constituiu o mais significativo dos segmentos desse programa, respondendo por 44% da receita do governo federal provenien-

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .to das reformas orientadas para o mercado, que foram levadas a cabo durante a dcada de 1990? Segundo dados apresentados por Siffert Filho e Silva (1999), um aspecto saliente da reestruturao produtiva foi a alterao na estrutura da propriedade das maiores empresas brasileiras, com grande reduo no nmero de empresas estatais, crescimento do nmero de empresas de propriedade estrangeira, alm do aumento do nmero de empresas de propriedade dominante minoritria. A participao das empresas estrangeiras no total das receitas geradas pelas cem maiores empresas teve um aumento significativo na dcada de 1990. As empresas de propriedade familiar mantiveram-se em nmero estvel ao longo da dcada, mas sua participao na receita decresceu de 23 para 17% (Tabela 3). Uma viso mais especfica das tendncias de alterao no padro de propriedade das maiores empresas brasileiras ao longo da dcada pode ser obtida a partir dos dados publicados pelo Balano Anual da revista Exame. Comparando-se a lista das quarenta maiores empresas classificadas pela origem do capital nos anos de 1989 e 1999, observa-se que a parcela controlada pelo capital estrangeiro aumentou de 37,5% para 45%, enquanto a participao do Estado foi reduzida substancialmente. Entre essas empresas, no final dos anos de 1980, catorze eram estatais, da quais restavam apenas oito em 1999. Entre as dez maiores empresas, se em 1989 havia seis estatais, ao final da dcada de 1990 apenas trs figuravam na lista. Como se pode observar na Tabela 4, das companhias brasileiras privadas que obtiveram melhor faturamento em 2000, a maior dela (Am-

te das privatizaes (Grfico 3). Apenas os setores de minerao e siderurgia tm expressividade por si prprios no conjunto das receitas federais com privatizao.

Tabela 2 Receita das PrivatizaesPrograma de Privatizao Total Federal PND Telecomunicaes Total Estadual Total Geral * Em bilhes de dlares. Fonte: BNDES (www.bndes.gov.br). Receita* 65718 36615 29103 34670 100388

Grfico 3 Receita das Privatizaes Federais por Setor

Fonte: www.bndes.gov.br.

Qual teria sido, do ponto de vista das reconfiguraes no mbito das empresas, o impac-

Tabela 3 Estrutura de Propriedade das Cem Maiores Empresas BrasileirasTipo de Propriedade Dispersa Dominante minoritria Familiar Governamental Estrangeira Cooperativas 1990 1 5 27 38 27 2 Nmero de empresas 1995 1997 1998 3 3 4 15 19 23 26 23 26 23 21 12 31 33 34 2 1 1 1990 0 4 23 44 26 2 % de receita 1995 1997 2 2 11 12 17 16 30 32 38 37 2 0 1998 3 19 17 21 40 0

Fonte: Siefert Filho e Silva (1999).

EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTObev) fruto de uma fuso, quatro (Telemar, Telesp e Vale do Rio Doce e Embratel) so resultantes de privatizao, e apenas trs (Po de Acar, Gerdau e Souza Cruz) so genuinamente do setor privado.

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Grfico 4 As Quarenta Maiores Empresas Brasileiras Por origem de capital

ram uma queda ainda mais acentuada do PIB do que a verificada na dcada anterior. Houve alguns momentos de expanso entre 1993 e 1994 e entre 1999 e 2000, porm sem recuperao de um ritmo mais constante de crescimento do PIB. O Grfico 5 mostra o fraco desempenho da economia brasileira nas duas ltimas dcadas do sculo XX a partir das taxas mdias de variao anual do PIB.

Grfico 5 Taxa Mdia de Variao Anual do PIB

Fonte: Balano Anual, revista Exame, 1989 e 1999. Fonte: IEDI (2000).

Tabela 4 Companhias Brasileiras Privadas e No Financeiras com Maior Faturamento em 2000 Empresa Ambev Telemar Telesp Operaciona Vale do Rio Doce Po de Acar Embratel 8955 Gerdau Souza Cruz*Em bilhes de R$. Fonte: Valor Econmico, 13/3/2001.

Faturamento* 11282 10852 l 9821 9820 9052 6226 5337

Esse quadro contrasta com os baixos ndices de desempenho da economia durante toda a dcada de 1990. Revertendo a tendncia de taxas de crescimento estveis durante o perodo da industrializao substitutiva, os anos de 1990 apresenta-

de se destacar as caractersticas do desempenho do setor industrial no quadro descrito de declnio marcante nos ndices de crescimento do PIB. Tal desempenho oscilou bastante entre quedas acentuadas (1990, 1992, 1998 e 1999) e perodos de recuperao (1993, 1994, 1997 e 2000). Neste ltimo ano, no apenas se verifica uma forte recuperao, como tambm a liderana do setor industrial no crescimento do PIB (Tabela 5). Considerando-se a participao relativa dos diferentes setores no PIB, observa-se uma tendncia estabilizao na participao de cada um a partir de 1994, aps um declnio verificado neste ano em relao a 1993. No entanto, a indstria de transformao teve uma participao relativa, na faixa de apenas 25%, com um declnio muito ligeiro (Grfico 6). Os dados apresentados na Tabela 6 permitem uma avaliao mais precisa sobre o desempenho relativo da indstria. Na indstria como um todo, houve um declnio de sua participao

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .Tabela 5 Variao do PIB na Dcada de 19901990 1991 1,25 0,26 0,34 1,37 406 2771 1992 -0,30 -4,21 0,30 4,84 387 2605 1993 4,43 7,01 1,76 -0,07 430 2847 1994 5,85 6,73 1,80 5,45 543 3546 1995 4,22 1,91 1,29 4,08 705 4542 1996 2,66 3,28 2,27 3,11 775 4924 1997 3,27 4,65 2,55 -0,83 802 5022 1998 0,22 -1,41 1,10 1,84 776 4793 1999 2000* 1,21 -1,60 1,89 7,41 557 3402 3,95 4,79 3,61 2,90 580# nd

PIB real em % Indstria Servios Agropecuria PIB (US$ Bilhes) Renda Per Capita

-5,05 -8,73 -1,15 -2,76 439 3243

*Dados preliminares. Fonte: Conjuntura estatstica, Conjuntura Econmica, 55 (3): XIX, abr. 2001; O Globo, 15/2/2001.

Grfico 6 Participao dos Setores no PIB

Fonte: IBGE, Sistema de contas nacionais.

relativa no PIB de 38,68%, em 1990, para 33,95%, em 1998. Esse declnio foi um pouco mais elevado em relao indstria de transformao: de 26,54% para 20,29%, aps expressivo aumento em 1993 para a faixa de 29,06%. Em contrapartida, a indstria da construo civil aumentou significativamente sua participao no PIB, constituindo-se o setor que, no conjunto, apresentou melhor desempenho gradativo ao longo da dcada.

Cumpre ainda examinar as variaes nas principais categorias da produo industrial classificadas segundo a natureza dos bens produzidos. Observa-se nesse caso uma flutuao significativa em seu desempenho, muito embora o sentido geral tenha sido a tendncia ao declnio a partir de 1993/1994, particularmente expressivo nos setores de bens de consumo durveis e bens de capital. Nas categorias de bens intermedirios, semidurveis e no durveis, as taxas so mais indicativas

EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTOTabela 6 Participao no PIB Setores Agropecuria Indstria Extrativa Mineral Ind. Trans. Servios Ind. de Utilidade Pblica Construo Civil Servios Subtotal Dummy Financeiro PIB Total 1990 8,09 38,68 1,7 26,54 2,67 7,76 70,34 117,12 -17,12 100 1991 7,78 36,16 1,62 24,86 2,56 7,11 68,92 112,87 -12,87 100 1992 7,71 38,69 1,61 26,42 3,03 7,62 77,5 123,92 -23,92 100 1993 7,56 41,61 1,17 29,06 3,11 8,26 81,81 130,99 -30,99 100 1994 9,85 40 1,03 26,78 3,02 9,15 64,25 114,1 -14,1 100 1995 10,11 36,67 0,86 23,91 1996 7,97 34,7 0,95 21,48 1997 7,87 34,84 0,89 21,29

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1998 8,41 33,95 0,64 20,29

2,67 2,74 2,65 2,74 9,21 9,51 10 10,26 60,71 62,31 62,41 62,79 106,39 105,33 105,13 105,16 -6,39 -5,33 -5,13 -5,16 100 100 100 100

Fonte: IBGE, Sistema de Contas Nacionais.

de um padro estvel ao longo do perodo. J entre 1999 e 2000, observa-se uma sensvel recuperao nas taxas de crescimento dos bens de capital e dos bens de consumo durveis (Grfico 7). Grfico 7 Taxas de Crescimento da Produo por Categoria de Uso

indicativa de variaes conjunturais s quais a economia, num contexto de abertura de mercado, foi submetida operao de mecanismos seletivos, ausncia de polticas industriais ou de projeto de desenvolvimento. No entanto, comparado a contextos onde o baixo desempenho industrial foi resultado de processos de converso ao mercado, o caso brasileiro, numa leitura mais positiva, talvez se caraterize por uma depurao seletiva, que no chegou a comprometer o parque industrial como um todo. evidente, contudo, que vrios setores da indstria sofreram regresso, entre os quais os setores de material eltrico, equipamentos eletrnicos, calados, vesturio e txtil apresentaram retrao superior a 40% (Anexo 1).

Fonte: IBGE/Sidra, 2000.

Como interpretar o desempenho da indstria no contexto do novo modelo em funo dos dados apresentados? No possvel visualizar nenhuma tendncia clara de estabilizao no desempenho da indstria brasileira no perodo abrangido pela presente pesquisa.1 Ao contrrio, a dcada onde foram institudas as reformas econmicas se caracterizou por uma grande instabilidade. A oscilao nos ndices de desempenho

Mudanas na estrutura de representao de interessesA reconfigurao que se observou no mbito da estrutura produtiva brasileira a partir das reformas que alteraram o papel relativo da indstria no conjunto das atividades econmicas e redefiniram o perfil e a composio dos atores econmicos refletiu-se tambm na sua organizao para a ao coletiva. Dessa forma, a estrutura de repre-

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .penho organizacional, como incentivos seletivos para garantir a adeso de seus membros. A centralidade relativa da estrutura corporativa oficial depende da reestruturao das organizaes no sentido de promover servios especializados, evitando assim seu esvaziamento, e ao mesmo tempo as associaes independentes da indstria esto voltadas tanto para a consecuo de nveis crescentes de profissionalizao, como para a redefinio de sua base de atuao, num esforo de controlar os free-riders potenciais. Esta pesquisa baseou-se numa recente atualizao de um banco de dados sobre as organizaes de representao de interesse do empresariado industrial para avaliar as principais tendncias dos interesses organizados. Um primeiro aspecto refere-se evoluo da estrutura dual de representao a partir dos anos de 1930 (Grfico 8). Enquanto o pico da criao de entidades oficiais (sindicatos) ocorreu na fase inicial do processo de industrializao, sobretudo entre 1938 e 1945, com uma retomada nos anos de 1970, o perodo tpico de criao das associaes extracorporativas (associaes independentes) deu-se entre os anos de 1970 e 1980. A dcada seguinte perodo das reformas orientadas para o mercado e das baixas ta-

sentao de interesses passou a ter uma nova configurao para poder se adaptar a um contexto mais competitivo dos circuitos globalizados e expanso da presena do capital estrangeiro no cenrio domstico. Com a ausncia do apoio incondicional do Estado aos interesses da indstria domstica e com o deslocamento potencial, esse cenrio contribuiu para aumentar as incertezas no meio industrial como um todo e, em particular, em alguns setores especficos. Analisaremos os aspectos mais recentes dessas transformaes estruturais, dando continuidade a trabalhos anteriores (Diniz e Boschi, 2000a; 2000b), em que outras dimenses da trajetria dos interesses organizados foram estudadas em detalhe. importante ressaltar primeiramente a idia de uma alterao profunda no marco da ao coletiva dos interesses organizados da indstria em funo da abertura de mercado e da privatizao: de um cenrio no qual predominava o mercado protegido com uma estrutura oficial de organizao dos interesses de carter compulsrio, vislumbra-se atualmente um quadro de abertura pautado pela competio e por um marco voluntrio na organizao da ao coletiva, o que alterou a busca de eficincia e a nfase no desem-

Grfico 8 Sindicatos e Associaes por Data de Fundao

EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTOxas de crescimento econmico caracterizou-se por um estancamento no ritmo de criao dos dois tipos de entidade, ainda que se pode observar mais recentemente um pequeno aumento no nmero de novas associaes. Ainda que de maneira no sistemtica, a pesquisa revelou por meio de diferentes indicadores a adoo por parte de vrias entidades de um novo modelo profissional de gesto. Cada vez mais, as entidades parecem adotar um formato de prestadoras de servios, pautando sua atuao em moldes empresariais e procurando oferecer solues para problemas cotidianos das empresas. A Abiquim (Associao Brasileira da Indstria Qumica) um caso exemplar, embora no seja exceo. A direo da entidade totalmente profissionalizada: h um conselho superior composto por empresrios, ao qual o presidente executivo responde em ltima instncia. Este tem, no entanto, total autoridade, representando a entidade para todos os fins, inclusive junto ao governo e opinio pblica. Essa associao realiza uma srie de atividades que, anteriormente, eram desempenhadas por cada empresa de forma independente. Isso ocorreu devido necessidade de reestruturao das empresas em face da abertura econmica e tornou a entidade uma verdadeira empresa prestadora de servios. Desde a manuteno de uma central de atendimento a clientes, at o oferecimento de MBAs especficos para a rea, a Abiquim realiza uma mirade de funes que certamente ultrapassa a mera representao de interesses. Muitas so as entidades que possuem diretores executivos, mas o grau de profissionalizao varia bastante. H casos, como o da Abifarma (Associao Brasileira da Indstria Farmacutica) e o da j mencionada Abiquim, em que os presidentes so verdadeiros executivos que desempenham at mesmo as atividades polticas da entidade. O IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia) constitui um caso em que o coordenador executivo tem visibilidade similar de diretores-empresrios. Na Abinee (Associao Brasileira da Indstria Eletro Eletrnica), no obstante o presidente ser empresrio, as funes de carter administrativo so da responsabilidade do vice-presidente executivo, e,

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ao contrrio do que ocorre no IBS, o cargo tcnico tem menos autonomia e visibilidade do que a liderana empresarial propriamente dita. Essas caractersticas so tpicas de associaes extracorporativas, mas passaram tambm a constituir o perfil das principais entidades oficiais. A prpria Fiesp (Federao das Indstrias do Estado de So Paulo), apesar das resistncias internas, tem buscado separar as funes tcnicas das de direo, e criou recentemente o cargo de diretor executivo: profissional em nvel de diretoria remunerado para o exerccio da funo. A CNI tambm apresenta essa duplicidade de funes. Alm do vasto corpo tcnico, que atua em diversas comisses temticas, essa entidade apresenta em seu organograma trs diretores executivos. Outra importante dimenso da profissionalizao diz respeito s relaes das entidades com o governo. Com a importncia que o poder legislativo vem adquirindo no contexto das decises polticas nacionais, diversas entidades mantm escritrios prprios ou contratados para desempenhar funes de lobby, comumente denominadas de relaes governamentais. Quase toda a atividade de lobby realizada por equipes de profissionais. Essa nova realidade tem contribudo, inclusive, para a consolidao de uma nova categoria profissional: lobista dos interesses da indstria. A centralidade alcanada pela arena congressual causou impacto em inmeras iniciativas do empresariado no sentido de modernizar e adaptar sua estrutura de representao s mudanas do perfil institucional do pas. Movimentos importantes como a Ao Empresarial, diversas entidades de classe como a CNI, a Fiesp e a ABDIB, entre outras, voltaram suas atividades para o Congresso, com o qual passaram a manter um intercmbio permanente, acompanhando a tramitao dos projetos de interesse para o setor empresarial. Dentro dessa linha evolutiva, alguns fatos merecem destaque. O primeiro diz respeito criao da Ao Empresarial, em 1991, para acompanhar no Congresso a tramitao da lei de modernizao dos portos. Destituda de uma organizao formal, a Ao Em-

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .laes de trabalho, integrao internacional, comrcio exterior, meio ambiente, alm de assuntos legislativos. Houve tambm uma importante mudana na composio desses conselhos, que passaram a incorporar, ao lado das organizaes corporativas, as associaes setoriais nacionais, como a ABDIB, a Abiquim, a Abinee, a Anfavea, entre outras. Outro aspecto da modernizao da CNI foi a expanso e o aperfeioamento de seus quadros tcnicos, bem como o reforo de suas funes de assessoria em diferentes campos, alm da produo e divulgao de informaes relevantes sobre questes econmicas e polticas de interesse de seus associados. Em seu departamento de pesquisa, passou a promover estudos para avaliar o impacto das polticas governamentais sobre os diferentes setores industriais, realizando ainda consultas sistemticas sobre as opinies dos empresrios acerca dos rumos da economia e outros assuntos relevantes da pauta empresarial. O terceiro fato indicativo do processo de adaptao das organizaes empresariais ao novo contexto foi a criao da Onip (Organizao Nacional da Indstria do Petrleo). Caracterizando-se como uma organizao no-governamental de carter mobilizador, a Onip rene os interesses da cadeia produtiva do petrleo em operao no pas. Prope-se a atuar como um espao de articulao e cooperao envolvendo os principais atores Petrobrs, empresas privadas, entidades de classe e rgos governamentais na busca de estratgias comuns para a expanso e o fortalecimento da cadeia produtiva como um todo. Em outros termos, busca-se chegar a um consenso em torno de interesses comuns, para alm das diferenas setoriais. Ao contrrio das organizaes anteriores, o alvo da atuao da Onip o poder Executivo, destacando-se a ANP (Agncia Nacional do Petrleo), o Banco Central, o BNDES, os ministrios da Fazenda, Cincia e Tecnologia, Desenvolvimento e outros. Entre as entidades de classe, esto includos sindicatos e federaes patronais integrantes da estrutura corporativa ao lado das associaes setoriais nacionais ligadas cadeia do petrleo. A articulao com o governo se d por meio da montagem de uma rede de conexes que envolve os dife-

presarial caracterizou-se desde o incio como um movimento dotado de muita flexibilidade e liberdade de ao, englobando um amplo leque de interesses e atuando em momentos estratgicos para a defesa de aspectos gerais da pauta empresarial. Alm da nova legislao porturia, atuou intensamente durante a reviso constitucional de 1995 e, mais recentemente, vem concentrando sua atividade em torno da tramitao da reforma tributria no Congresso. Mantm uma conexo mais estreita com a CNI e com o IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia), os quais lhe fornecem suporte organizacional, alm de ter tambm vnculos com um grande nmero de organizaes empresariais, o que lhe d um grande poder de mobilizao. Na avaliao das lideranas empresariais, a defesa de interesses abrangentes, que afetam o conjunto do empresariado, foi uma experincia nova e bem-sucedida no mbito da estrutura de representao de interesses do empresariado brasileiro. Outra inovao associada centralidade da atividade parlamentar foi a criao da Coal (Coordenadoria de Assuntos Legislativos) dentro da CNI. Trata-se de uma assessoria para assuntos legislativos que tem por objetivo o acompanhamento dos trabalhos legislativos de interesse para o empresariado industrial, fornecendo informaes para as diferentes entidades de classe acerca dos principais projetos e, ao mesmo tempo, encaminhando aos parlamentares no apenas dados, mas tambm sugestes formuladas pelas organizaes empresariais. H cinco anos, a Coal edita e faz circular no meio empresarial a agenda legislativa, que divulga informaes sobre os vrios projetos em tramitao, explicitando a posio das entidades de classe e suas principais propostas. A criao da Coal no o nico resultado do esforo modernizador que vem alterando a forma de atuao da CNI. No decorrer da ltima dcada, a tradicional entidade de cpula do empresariado industrial passou por uma revitalizao que, se no pode ser entendida como uma transformao radical, lhe deu maior dinamismo e representatividade. Por exemplo, reestruturao e ampliao dos conselhos temticos, que passaram a formular propostas para diferentes reas, tais como poltica industrial, desenvolvimento tecnolgico, re-

EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTOrentes atores, segundo um padro informal, no havendo canais e arenas institucionalizadas de negociao e de acesso.2

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Estratgias de desenvolvimento: alternativas e perspectivasEm trabalho anterior (Diniz e Boschi, 2001), analisamos a avaliao das principais lideranas empresariais acerca do impacto das polticas macroeconmicas executadas ao longo dos anos de 1990 na estrutura produtiva e nos rumos da economia do pas. Como ressaltamos, houve consenso em torno da importncia da estabilizao econmica, percebida pela totalidade dos entrevistados como um ganho do governo Fernando Henrique Cardoso. Entretanto, com relao s reformas orientadas para o mercado, o que predominou foi uma atitude crtica quanto ao ritmo e forma de implementao dessas reformas. Os erros de execuo foram causados, segundo os empresrios, pelas dificuldades enfrentadas pelas empresas brasileiras, submetidas a uma profunda reestruturao sem o respaldo de polticas governamentais eficientes, capazes de conduzir a uma adaptao equilibrada e gradual. Essa lacuna explicaria o impacto destrutivo sobre o setor industrial, o qual se manifestou por inmeros indicadores. Fechamento de empresas, falncias, associaes e fuses com empresas estrangeiras, queda substancial do nvel de emprego na indstria, desarticulao de cadeias produtivas j consolidadas (como a cadeia eletro-eletrnica), ampla desnacionalizao da economia, tudo isso foi apontado como as principais conseqncias da abertura descontrolada e do aumento da vulnerabilidade externa da economia, principalmente entre 1995 e 1998, sobressaindo entre os setores mais afetados as indstrias txtil, de mquinas e equipamentos, de autopeas e de produtos eletrnicos. Essa avaliao negativa no se ocasionou, entretanto, um movimento de resistncia organizado. Ao contrrio, as principais entidades empresariais, representadas nas declaraes e nas aes de suas lideranas mais expressivas, mantiveram o apoio agenda governamental. O xito do plano real garantiu a unida-

de do conjunto da classe em torno da estabilidade econmica, a despeito do sacrifcio imposto a alguns setores, desencorajando manifestaes de dissidncia e isolando os mais descontentes. Esse quadro alterou-se no final da dcada de 1990, quando surgiram os primeiros indcios de ruptura do consenso, o qual, certamente, foi a base de sustentao do primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. As divergncias na coalizo dominante manifestaram-se em diferentes nveis. No crculo governamental, a corrente liberal-desenvolvimentista fortaleceu-se sob a liderana de figuras de peso, como o ministro Luiz Carlos Mendona de Barros. Para alm da burocracia governamental, no meio empresarial, observou-se tambm uma importante fissura no apoio do conjunto da classe s polticas liberais. Essa ciso veio a pblico durante o ano eleitoral de 1998, numa conjuntura marcada pela proposta de reeleio do presidente em exerccio e pelo debate em torno da necessidade de uma redefinio de rumos. A postura crtica foi liderada por duas importantes organizaes empresariais Fiesp e Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e por um grupo recm-constitudo, integrado por oito organizaes empresariais Movimento Compete Brasil , delineando-se pela primeira vez um esforo de resistncia conjunta. A despeito das diferenas de cada um desses segmentos, havia convergncia de opinio quanto redefinio de prioridades a favor da retomada do desenvolvimento e adoo de uma poltica industrial que ajudasse a revitalizar a indstria brasileira. Uma nova conjuntura estava ento se formando, cujo cerne era a idia de que a estabilidade econmica no bastava, seria preciso uma reorientao drstica na poltica econmica, tendo em vista um projeto de mais longo prazo. Abertura indiscriminada, juros altos e sobrevalorizao da moeda teriam criado um ambiente muito favorvel aos interesses financeiros em detrimento dos interesses industriais, privilegiando ainda o capital estrangeiro em detrimento do domstico, o que tambm teve implicaes negativas para o conjunto da economia ao gerar estagnao e altas taxas de desemprego. Dessa perspectiva, estariam

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .mental, determinando um refluxo das demandas em prol da nfase desenvolvimentista. Observouse ainda o restabelecimento da hegemonia do Ministrio da Fazenda e do Banco Central na orientao da poltica econmica, relegando o Ministrio do Desenvolvimento a uma posio subordinada. Por outro lado, apesar de contida, a demanda pela reviso do modelo econmico no desapareceu. Entre os crticos da rigidez fiscal, algumas lideranas empresariais, em diferentes momentos ao longo do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, defenderam a redefinio de prioridades a favor do fortalecimento do parque produtivo nacional, da expanso das exportaes e de uma poltica mais agressiva de comrcio exterior.3 Assim, a constncia da meta do desenvolvimento foi um fator importante para a reativao do debate em torno da busca de uma nova estratgia econmica para o pas.4 Nesse sentido, a proposta de criao da Alca (rea de Livre Comrcio das Amricas), ao mesmo tempo em que foi percebida como uma oportunidade a longo prazo de estimular o desenvolvimento pela expanso do comrcio exterior, suscitou crticas do empresariado em funo das condicionalidades impostas pelos Estados Unidos durante o processo de negociao do novo bloco comercial. Dessa forma, expressas em documentos da CNI e do Iedi, essas crticas se dirigiram, fundamentalmente, s barreiras tarifrias e no tarifrias que incidem sobre produtos de exportao, onde o Brasil competitivo, de forma a reverter as condies de assimetria avaliadas como prejudiciais aos interesses do pas e da indstria nacional. Alm disso, a opo pela Alca reduziria as vantagens comparativas que o Brasil atualmente desfruta nas reas de comrcio latino-americanas, como a Aladi (Associao Latino-americana de Integrao) e, principalmente, o Mercosul. As posturas do empresariado so, alis, congruentes com o questionamento da forma pela qual foi realizado o processo de liberalizao comercial, assim como com a idia de que essencial para a definio de uma nova estratgia de desenvolvimento a capacidade de exportao. Cumpre salientar tambm, na perspectiva de avaliao do signifi-

esgotadas as condies para a permanncia da poltica de estabilizao como prioridade exclusiva e absoluta do governo. A preocupao unilateral com o controle da inflao, associada ao ajuste fiscal a qualquer custo, conduziram o pas a um impasse, pois estagnaram o crescimento e inviabilizaram de fato uma estratgia de desenvolvimento sustentado. Alm disso, no existia no governo um espao institucional onde essas propostas pudessem ser discutidas e que se configurasse como centro de confluncia das expectativas de mudanas. Nesse contexto surgiu a proposta de criao do Ministrio da Produo, idia essa que no foi levada a cabo, mas que, posteriormente, deu origem ao Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior. Isso sinalizou a inteno de se construir um espao de discusso para as questes ligadas expanso da base produtiva e retomada do desenvolvimento. Fatores externos vinculados crise internacional decorrente da moratria da Rssia e ao novo acordo com o FMI (pelo qual se negociou um pacote de US$ 41 bilhes nas vsperas da reeleio do presidente), ao lado de problemas internos relacionados s suspeitas de irregularidades no programa de privatizaes, provocaram uma mudana expressiva da poltica econmica. Entre as principais inovaes, destacam-se a elevao do supervit primrio para 3,75%, a substituio do regime de cmbio fixo pela liberdade cambial e o reforo da austeridade fiscal com a lei de Responsabilidade Fiscal. Aps a reeleio, o presidente Fernando Henrique substitui Gustavo Franco na presidncia do Banco Central pelo economista Armnio Fraga, deflagrando uma nova fase a partir de 1999, que arrefeceu as condies inibidoras do dinamismo da economia e possibilitou a ocorrncia de surtos espasmdicos de crescimento quando as condies internacionais se tornaram menos restritivas. Sob tais condies, verificou-se o restabelecimento do consenso em torno da prioridade da preservao dos fundamentos macroeconmicos. Estabilidade de preos, austeridade fiscal e equilbrio das contas pblicas assumiram mais uma vez o status de primeiro lugar na agenda governa-

EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTOcado da Alca, a necessidade de reforma tributria e a reduo do chamado custo Brasil como possibilidade de alavancar as exportaes em setores em que o pas possa ser competitivo. A conjuntura eleitoral de 2002 reacendeu o debate em torno da retomada do desenvolvimento, num processo em que a convergncia das propostas das principais entidades empresariais foi considerada o elemento central. Reitera-se, nesse sentido, a noo de que a alternativa para a retomada do desenvolvimento residiria em corretivos ao processo de abertura indiscriminada da economia, instaurado durante as dcada de 1990. Assim a nfase de trs propostas formuladas pela CNI, Fiesp e pelo Iedi no primeiro semestre de 2002 centrou-se na urgncia da adoo de uma poltica industrial consistente de estmulo s exportaes e substituio competitiva de importaes, de forma a reduzir o dficit da balana comercial, com uma srie de efeitos em cadeia, como a criao de capacidade tecnolgica, produo de bens de alto valor agregado, aumento de produtividade e expanso do emprego na indstria.5 A idia central comum s trs propostas a recuperao do dinamismo da economia e a consecuo de metas de crescimento econmico que, segundo a Fiesp, deveria alcanar um nvel prximo a 5% ao ano. Tambm o crescimento do emprego constitui-se um importante vetor dos documentos, assim como a reverso no processo de informalizao do mercado de trabalho. Por fim, a reforma tributria foi apresentada como um objetivo estratgico para viabilizar o processo de desenvolvimento, reduzindo o chamado custo Brasil pela eliminao de impostos cumulativos e pela racionalizao da carga fiscal. Quanto aos aspectos mais especficos das propostas, possvel organizar as sugestes em duas dimenses, quais sejam, a poltica industrial propriamente dita e as condies institucionais para a sua viabilizao. O programa de desenvolvimento industrial sugerido pela CNI articula-se em torno de trs eixos: poltica de comrcio exterior e de negociaes comerciais internacionais, poltica de inovao tecnolgica e poltica de desenvolvimento e integrao nacional voltada para a reduo de

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disparidades regionais. No interior destes, destacam-se itens como a idia de fortalecer a Cmara de Comrcio Exterior e de formular um plano estratgico de desenvolvimento de exportaes, alm do apoio a projetos de substituio competitiva de exportaes. So apontados ainda os desafios a serem vencidos dentro desse campo, a maior parte dos quais concernem correo de distores introduzidas pelo processo de abertura comercial indiscriminada. Um aspecto bastante diferenciado do documento da CNI diz respeito aos desafios na rea de inovao tecnolgica. As propostas discutem no apenas a questo da capacitao tecnolgica comumente suscitada para o campo de pesquisa e desenvolvimento, mas tambm a necessidade de financiamento s diversas atividades de inovao, assim como o tratamento tributrio adequado e o incremento formao de redes e parcerias. Paralelamente a esse debate, foi realizado um importante trabalho que resultou na criao, em fevereiro de 2002, da Protec (Sociedade Brasileira Pr-Inovao Tecnolgica), por ocasio de uma reunio na Associao Brasileira da Indstria de Mquinas e Equipamentos (Abimaq). Esse projeto contou com o apoio de associaes de indstrias e das federaes, no sentido de mobilizar o setor produtivo e a sociedade em geral para a criao e o aprimoramento de polticas de incentivo inovao tecnolgica, as quais garantiriam ao pas uma maior competitividade.6 Foi tambm realizado, em julho de 2002, o primeiro Encontro Nacional da Inovao Tecnolgica para Exportao e Competitividade Enitec. O aspecto peculiar das propostas desenvolvidas na Fiesp enfatiza a constituio de grupos empresariais brasileiros de porte mundial, no sentido de fortalecer e ampliar a insero do pas no cenrio internacional. com relao ao estabelecimento de um novo marco regulatrio, contudo, que a proposta da Fiesp mais se diferencia. O documento considera a criao de instituies reguladoras fortes e desburocratizao do Estado imperativos ao aumento de competitividade da indstria brasileira. Para a viabilizao dessas propostas, sobretudo nos documentos da CNI e da Fiesp foi dada

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .no baixo desempenho da economia. Oscilou-se entre a estagnao econmica e momentos de surtos episdicos de crescimento, os quais eram revertidos sempre que as condies externas se tornavam adversas. Baixas taxas de crescimento, reduo da produo industrial, aumento do desemprego e expanso do setor informal, altas taxas de juros e escassez do crdito, reduo das exportaes e aumento das importaes, tudo isso manteve a produo domstica sob limites particularmente rgidos, manifestados pelo grande nmero de concordatas, falncias, fuses e reestruturao patrimonial. A despeito das dificuldades, das incertezas e da insatisfao de segmentos expressivos do empresariado, no se observou nenhuma ao de resistncia organizada. Ao contrrio, predominaram o apoio agenda neoliberal e a adeso ao consenso criado pelo xito do Plano Real. Este, alm de ser um marco no controle do processo inflacionrio, representou um importante capital poltico, garantindo a legitimidade da agenda governamental. Em contrapartida, no final da dcada de 1990, a ecloso de sucessivas crises no cenrio internacional levou a um acirramento das posies em relao s potencialidades do modelo econmico. As crticas poltica econmica centrava no eixo da sobrevalorizao cambial e nas altas taxas de juros j se faziam presentes na agenda do empresariado, e o debate chegou a um razovel consenso acerca da necessidade de se retomar o crescimento por meio de uma poltica industrial consistente, centrada no aumento das exportaes e na insero competitiva do pas no cenrio internacional. Num quadro de progressiva fragmentao da dinmica dos interesses organizados e sua evoluo para uma direo mais competitiva, interessante ressaltar a convergncia entre as propostas das principais entidades porta-vozes do empresariado, como a CNI, a Fiesp e o Iedi, no que diz respeito a uma expressiva reorientao da poltica econmica, ou seja, a necessidade de se priorizar a meta do desenvolvimento com capacitao tecnolgica e gerao de empregos. No novo ambiente institucional, foi fundamental o fato de a ao coletiva ter comeado a

muita nfase ao ambiente poltico institucional. A garantia de condies de governabilidade vista pelo prisma da reforma poltica, englobando nesse sentido mecanismos de fortalecimento dos partidos polticos, fidelidade partidria e transparncia do processo eleitoral, inclusive no que diz respeito s regras de financiamento de campanhas, alm do aperfeioamento do processo legislativo. Ademais, o papel do Judicirio foi considerado condio essencial para o funcionamento eficiente do mercado, reiterando, basicamente, a garantia de contratos e o respeito propriedade. A reforma poderia se dar seja por meio do aprimoramento das regras relativas ao processo judicirio, seja dotando o poder Judicirio de maior autonomia, como explicitado no documento da CNI.

ConclusoO presente trabalho procurou avaliar o impacto das polticas governamentais ao longo dos anos de 1990 notadamente a estabilizao econmica e as reformas orientadas para o mercado na estrutura produtiva do pas, na organizao dos interesses do empresariado industrial, assim como na percepo das lideranas empresariais acerca dos desafios e das perspectivas apresentadas ao pas. Observou-se em primeiro lugar uma profunda reestruturao econmica do pas, alterando-se os fundamentos do capitalismo industrial herdados da estratgia desenvolvimentista. O modelo do trip, consolidado no regime militar, que se caracterizava por um certo equilbrio entre os setores estatal, privado nacional e privado estrangeiro, alterou-se de forma substancial pelo refluxo do Estado-empresrio, pelas privatizaes, pela influncia cada vez maior de grupos transnacionais e, ainda, pelo drstico estreitamento do espao das empresas nacionais. A desnacionalizao da economia alcanou propores at ento inditas, delineando-se uma nova ordem econmica, marcada pela primazia do capital internacional. Alm disso, a prioridade absoluta atribuda s metas de estabilizao econmica, austeridade fiscal e ao equilbrio das contas pblicas traduziu-se

EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTOse pautar pela lgica da competitividade, isto , pela operao de incentivos seletivos como o mecanismo principal da lgica de associao. Em outras palavras, a desconstruo do antigo corporativismo, somada ao prprio processo gradual de transformao e adaptao da estrutura de representao de interesses, sobretudo nas dcadas mais recentes, romperam com os parmetros de atuao dos interesses organizados, quais sejam, a prevalncia do monoplio da representao e a obrigatoriedade de filiao. O carter voluntrio passou a ser o motor da organizao coletiva. Entretanto, poderia estar se desenhando uma assimetria na capacidade de organizao dos interesses entre as classes, ainda maior do que aquela observada no mbito do velho corporativismo. A desmobilizao do sindicalismo, as altas taxas de desemprego e o declnio da poltica social contriburam para a intensificao dessa desigualdade estrutural, sobretudo no plano das relaes com o Estado em que a ao coletiva vem sendo reestruturada. O quadro de fragmentao dos interesses privados e sua lgica de atuao pautada pela competio, somados aos novos padres de acesso ao setor pblico pela via de lobbies, autorizam a qualificar o conjunto desses processos como uma certa americanizao das relaes pblico/privado. A esse respeito, cumpre ressaltar como algo positivo a capacidade de recomposio e a flexibilidade de adaptao da representao dos interesses, que possui um rico potencial de se institucionalizar nas mais diferentes direes. Em contrapartida, de maneira no to positiva, destaca-se a capacidade dos interesses privados, que so mais organizados, em se apropriar do espao pblico. Na estrutura de representao de interesses do empresariado industrial, podem ser detectados pontos de continuidade e de ruptura. Quanto aos primeiros, a estrutura formal permaneceu destituda de uma organizao de cpula abrangente capaz de dar forma e expresso a interesses multisetoriais. Por outro lado, como resultado do processo adaptativo da ltima dcada, surgiram novas organizaes voltadas para a ar-

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ticulao e a mobilizao de setores da produo industrial ou mesmo do conjunto do empresariado para a negociao junto ao Executivo ou ao Legislativo, tendo em vista a defesa de polticas de interesse da classe empresarial em seu conjunto ou de alguns segmentos mais expressivos. Este , como foi analisado, o caso da Onip, que representa os interesses da cadeia produtiva do petrleo, e o da Ao Empresarial, movimento integrado por mais de cinqenta entidades empresariais para acompanhar e influir na aprovao de leis que afetam o funcionamento do mercado brasileiro, como a nova lei dos portos e das patentes, alm da reforma tributria. Um outro exemplo nessa mesma direo o da criao da Sociedade Brasileira Pr-Inovao Tecnolgica (Protec), fundada por quinze entidades empresariais com o objetivo de desenvolver uma poltica industrial de fomento direto gerao de novas tecnolgicas, componente fundamental da agregao de valor e competitividade da produo nacional. Trata-se de iniciativas inovadoras que tendem a tornar mais dinmico o complexo organizacional do empresariado industrial. Buscam formas de ao capazes de contornar a heterogeneidade, as clivagens e as divises internas, mobilizando interesses mais gerais e procurando articular formas concertadas de atuao. Finalmente, possvel apontar mudanas importantes em curso no que diz respeito aos rumos do capitalismo no pas e sua insero na nova ordem internacional. Verifica-se, em primeiro lugar, que as reformas econmicas e a conseqente reestruturao produtiva ocasionaram alteraes nas relaes estratgicas entre os atores. Estas, por sua vez, influenciaram o padro de atuao coletiva e de organizao dos interesses do empresariado. Sob esse ponto de vista, o que ocorreu de mais significativo foi a tendncia a contrabalanar a disperso por meio da construo de plataformas mais aglutinadoras, ainda que provenientes de organizaes mais especficas, voltadas para objetivos delimitados. Por outro lado, os programas e as alternativas propostos pelas entidades de carter mais abrangente tm se encaminhado em direo de uma perspectiva mais afinada com a viabilidade de alternativas

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .econmica, embora mantenha o compromisso com a preservao da estabilidade econmica. Resta saber como compatibilizar essas metas, ou seja, como ampliar a liberdade na administrao das condicionalidades externas e articular internamente uma coalizo capaz de sustentar essa via alternativa.

comprometidas a uma estratgia de desenvolvimento de mais longo prazo, capaz de superar as limitaes impostas por um contexto internacional extremamente restritivo. Essa estratgia implica, segundo a viso desses atores, a correo seletiva do processo de abertura da economia e a reviso de pontos fundamentais da poltica

Anexo 1 Participao da Indstria de Transformao no PIB*1990 Indstria de transformao Indstria do caf leos vegetais Farmacutica e perfumaria Laticnios Outros produtos alimentares Automveis, caminhes e nibus Refino do petrleo Abate de animais Elementos qumicos Benef. de produtos vegetais Minerais no-metlicos Mquinas e tratores Outros metalrgicos Papel e grfica Siderurgia Madeira e mobilirio Metalurgia dos no-ferrosos Borracha Artigos de plstico Outros veculos e peas Qumicos diversos Material eltrico Indstrias diversas Acar Equipamentos eletrnicos Fabricao de calados Artigos do vesturio Indstria txtil 1991 1992 26,42 0,15 0,52 0,79 0,25 1,33 0,62 3,49 0,51 1,00 1,06 1,27 2,37 1,25 1,16 1,29 0,77 0,46 0,41 0,58 1,07 1,14 0,84 0,65 0,23 0,77 0,50 0,73 1,08 1993 29,06 0,24 0,37 0,97 0,24 1,31 0,75 5,01 0,65 1,34 1,02 1,23 2,76 1,38 0,91 1,23 0,92 0,39 0,42 0,67 1,20 1,09 0,75 0,72 0,24 0,84 0,51 0,69 1,09 1994 26,78 0,31 0,38 0,84 0,22 1,25 0,83 3,80 0,60 1,13 0,91 1,29 2,53 1,44 0,91 1,08 0,95 0,50 0,40 0,56 1,23 0,94 0,71 0,69 0,24 0,94 0,40 0,64 0,93 1995 23,91 0,24 0,29 0,77 0,27 1,20 0,95 2,74 0,59 0,82 0,73 1,14 2,14 1,29 1,11 0,96 0,89 0,48 0,37 0,58 1,13 0,79 0,72 0,57 0,18 1,04 0,32 0,60 0,84 1996 21,48 0,21 0,29 0,73 0,29 1,19 0,88 2,22 0,58 0,74 0,74 0,97 1,97 1,17 0,98 0,80 0,79 0,41 0,32 0,60 0,95 0,81 0,59 0,48 0,15 0,94 0,30 0,55 0,73 1997 21,29 0,17 0,39 0,84 0,27 1,18 0,97 2,45 0,50 0,87 0,79 1,06 1,87 1,20 0,89 0,76 0,75 0,37 0,33 0,57 0,88 0,80 0,56 0,44 0,14 0,76 0,27 0,47 0,63 1998 20,29 0,24 0,39 0,90 0,30 1,20 0,65 3,00 0,49 0,76 0,72 1,11 1,80 1,06 0,83 0,65 0,67 0,35 0,27 0,52 0,71 0,75 0,55 0,40 0,13 0,56 0,19 0,44 0,53 Var.% -23,55 50,00 39,29 25,00 15,38 14,29 10,17 5,26 -2,00 -3,80 -7,69 -15,27 -22,75 -25,87 -30,25 -32,29 -32,32 -33,96 -34,15 -35,00 -38,26 -39,52 -40,22 -42,86 -43,48 -51,72 -56,82 -58,88 -66,03

26,54 24,86 0,16 0,28 0,72 0,26 1,05 0,59 2,85 0,50 0,79 0,78 1,31 2,33 1,43 1,19 0,96 0,99 0,53 0,41 0,80 1,15 1,24 0,92 0,70 0,23 1,16 0,44 1,07 1,56 0,18 0,33 0,54 0,24 1,18 0,65 2,25 0,51 0,93 0,91 1,37 1,96 1,42 1,46 1,04 0,91 0,52 0,39 0,66 0,97 1,28 0,78 0,67 0,23 0,95 0,41 0,77 1,20

* Por ordem de variao relativa.Fonte: IBGE, Sistema de Contas Nacionais.

EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTOAnexo 2 Scios da ONIP ABCE ABDAN ABDIB ABEAM ABEGS ABEMI ABIMAQ ABINEE ABITAM ABRAPET ANP BNDES CNI FIEAM FIEB FIEMG FIESP FINDES FINEP FIRJAN GES GRJ GRN IBP PETROBRAS PM SEBRAE SOBENA SIMME SINAVAL SINDICEL Associao Brasileira dos Consultores de Engenharia Assoc. Bras. p/ o Desenv. das Ativi. Tc. e Ind. nas reas Nuc. e Trmica Associao Brasileira da Infra-Estrutura e da Indstria de Base Associao Brasileira das Empresas de Apoio Martimo Associao Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gs Canalizado Associao Brasileira de Engenharia Industrial Associao Brasileira da Indstria de Mquinas e Equipamentos Associao Brasileira da Indstria Eltrica e Eletrnica Associao Brasileira da Indstria de Tubos e Acessrios de Metal Associao Brasileira dos Perfuradores de Petrleo Agncia Nacional do Petrleo Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social Confederao Nacional da Indstria Federao das Indstrias do Estado do Amazonas Federao das Indstrias do Estado da Bahia Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais Federao das Indstrias do Estado de So Paulo Federao das Indstrias do Estado do Espirito Santo Financiadora de Estudos e Projetos Federao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro Governo do Estado do Esprito Santo Governo do Estado do Rio de Janeiro Governo do Estado do Rio Grande do Norte Instituto Brasileiro do Petrleo Petrleo Brasileiro S. A. Prefeitura de Maca Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas Sociedade Brasileira de Engenharia Naval Sind. das Ind. Mecnicas e de Material Eltrico do Municpio do RJ Sindicato Nacional da Indstria da Construo Naval Sindicato da Indstria de Condutores Eltricos, Trefilao e Laminao de Metais No-Ferrosos do Estado de So Paulo

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Fonte: www.onip.org.br, 2001.

NOTAS1 De fato, dados divulgados pela imprensa para o ano de 2001 e a projeo para 2002 revelaram uma queda acentuada da produo industrial e do PIB em 2001 em relao a 2000. A produo industrial apresentou queda de 6,64 para 1,41 na variao percentual anual, com projeo de declnio para 2002. No caso do PIB, a queda foi de 4,36% para 1,51% com 2 3 4

a projeo de crescimento para 2002 no superior a 2,1% (Folha de So Paulo, 18/5/2002). Ver a lista de membros da ONIP no Anexo 2. A esse respeito ver, por exemplo, Coalizo Empresarial (1999, 2000) e Iedi (2002). Como parte desta pesquisa realizamos um levantamento nos jornais Folha de So Paulo, para o perodo de 1994 a 1998, e O Globo, para os anos de

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .1998 e 2002, com o objetivo de apreender as conjunturas eleitorais. Apuramos a constncia do tema da poltica industrial quando anunciado pelas principais entidades do empresariado nesses perodo. Em relao Fiesp, a demanda por poltica industrial constituiu, em ambos os jornais, cerca de 20 a 24% do total das matrias veiculadas sobre a entidade. No caso da CNI e do Iedi, embora as matrias publicadas contivessem em sua maioria crticas poltica econmica do governo, a demanda por poltica industrial tambm constituiu um conjunto expressivo, com cerca de 17 a 18% das matrias voltadas para esse tema. Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Os empresrios apresentaram a Protec para Fernando Henrique Cardoso em 5/3/2002 (cf. http://www.brasilnews.com.br).

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Cf. Iedi (2002), Fiesp/Ciesp (2002) e CNI (2002). O Conselho Deliberativo da Protec tem, como membros titulares, os presidentes das quinze entidades fundadoras. A presidncia est a cargo de Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq; integram tambm a diretoria, Jos Miguel Chaddad, diretor da Associao Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), e Nelson Brasil de Oliveira, diretor da Associao Brasileira da Indstria de Qumica Fina e Biotecnologia (Abifina), a qual sediar a Protec no Rio de Janeiro. A entidade tambm realizar reunies regulares em So Paulo. Como vice-presidentes, Eduardo Eugnio Gouva Vieira, presidente da Federao das Indstrias do Rio de Janeiro (Firjan); Horcio Lafer Piva, presidente da Fiesp; Jos Carlos Gomes Carvalho, presidente da Federao das Indstrias do Estado do Paran; Jos Fernando Faraco, presidente da Federao das Indstrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc); e Robson Braga de Andrade, presidente da Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Como conselheiros, Carlos Paiva Lopes, da Associao Brasileira da Indstria Eltrica e Eletrnica (Abinee); Celso Antonio Barbosa, da Anpei; Dante Alrio Jnior, da Associao dos Laboratrios Nacionais (Alanac); Fernando Sandroni, do Centro das Indstrias do Rio de Janeiro (Cirj); Jos Augusto Marques, da Associao Brasileira da InfraEstrutura e Indstrias de Base (Abdib); Luiz Carlos Baeta Vieira, do Centro de Integrao de Tecnologia do Paran (Citpar); Luiz Cezar Auvray Guedes, da Abifina; Mrio Bernardini, do Centro das Indstrias do Estado de So Paulo (Ciesp); e Srgio Moreira, do

Documentos e Fontes BNDES. (2000), Privatizaes. www.bndes.gov. br/pnd1000. COALIZO EMPRESARIAL. (1999), Contribuio do setor empresarial brasileiro para negociaes da Alca. Rio de Janeiro, CNI. _________. (2000), A viso da coalizo empresarial brasileira sobre o processo de negociaes da Alca. Rio de Janeiro, CNI.

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REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS SOCIAIS - VOL. 18 N 52 .ENTREPRENEURS AND DEVELOPMENT STRATEGIES Eli Diniz and Renato BoschiKey words Entrepreneur; Reforms; Regulation; Organizations of Interest; Development. This paper analyses the development strategies as perceived by representative tendencies of the industrial entrepreneurial establishment after market-oriented reforms, having in sight the redefinition that occurred in the role of the economical factors facing the State and the international context with the processes of privatization and commercial opening. The first part focus on the main aspects of the changes that have affected the Brazilian productive structure, especially the volume of transactions that changed the relative weight of foreign investments compared to the domestic capital. Another structural aspect is enhanced in the second part, which is the reconfiguration of the structure of representation of interests, which started to operate predominantly in a way of voluntary enrolment and the operation of selective incentives. Finally, the third part concentrates on proposals about the so-called alternative ways of development by the entrepreneurial leaderships and the formation of possible coalitions able of sustaining different strategies.

EMPRESARIADO E ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTO Eli Diniz e Renato BoschiPalavras-chave Empresrio; Reformas; Regulao; Organizaes de interesse; Desenvolvimento. Este trabalho consiste em uma anlise das estratgias de desenvolvimento na percepo de correntes representativas do empresariado industrial aps as reformas orientadas para o mercado, tendo em vista a redefinio ocorrida no papel dos atores econmicos ante o Estado e o contexto internacional com os processos de privatizao e abertura comercial. A primeira parte focaliza os principais aspectos das mudanas que afetaram a estrutura produtiva brasileira, sobretudo o volume das transaes que alteraram o peso relativo dos investimentos estrangeiros em face do capital domstico. Outro aspecto estrutural, destacado na segunda parte, consiste na reconfigurao da estrutura de representao de interesses, que passou a operar predominantemente no marco da adeso voluntria e da operao de incentivos seletivos. Finalmente, a terceira parte concentrase nas propostas acerca de vias alternativas de desenvolvimento por parte das lideranas empresariais e na formao de possveis coalizes capazes de sustentar diferentes estratgias.

PATRONAT ET STRATGIES DE DVELOPPEMENT Eli Diniz et Renato BoschiMots-cls Entrepreneurs; Rformes; Rgulation; Organisations dintrts; Dveloppement. Ce travail propose une analyse des stratgies de dveloppement suivant les courants reprsentatifs du patronat industriel qui sont apparus suite aux rformes du march qui ont t entreprises. Il tient compte de la redfinition qui a eu lieu dans le rle des acteurs conomiques face ltat et du contexte international par rapport au processus de privatisation et douverture commerciale. La premire partie aborde les principaux aspects des changements qui ont affect la structure productive brsilienne, principalement en ce qui concerne le volume des transactions qui modifient le poids relatif des investissements trangers face au capital interne. Un autre aspect structurel, trait dans la seconde partie, se rapporte la restructuration de la reprsentation dintrts, qui opre dsormais prioritairement suivant ladhsion volontaire et de la mise en place daides slectives. Finalement, la troisime partie analyse les propositions relatives aux voies alternatives de dveloppement de la part de la direction du patronat et de la formation de possibles coalitions capables de dfendre diffrentes stratgies.