efeitos ergogÊnicos da creatina

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Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 150 EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA ERGOGENIC EFECTS OF CREATINE Fernanda Rodrigues Brioschi 1 Hemily Marquezine Hemerly 2 Érica Sartório Bindaco 3 RESUMO A creatina é um composto que pode ser encontrado diretamente na alimentação através da ingestão de alimentos de origem animal ou produzida endogenamente. Sua utilização através da suplementação vem ocorrendo com muita frequência por praticantes de atividade física e por atletas de alto rendimento devido aos seus potenciais efeitos ergogênicos como: ganho de força, potência muscular e principalmente aumento de massa muscular (massa magra). Entretanto, apenas recentemente tem-se atentado ao fato de que sua utilização indiscriminada pode gerar efeitos adversos indesejáveis e possivelmente causar a degradação das funções renais e hepáticas, dentre outras reações. Devido a isso, a ANVISA tem procurado dar uma maior atenção a esse tipo de suplementação de forma a preservar a integridade da saúde da população. Portanto, a suplementação de creatina usada com a finalidade de otimizar o desempenho físico deve ser feita de forma ponderada a fim de evitar reações indesejáveis a saúde. Palavras chave: Creatina, suplementação nutricional, recursos ergogênicos, fisiologia do exercício, nutrição. ABSTRACT Creatine is an compound found naturally in the diet, in foods of animal origin, and also produced synthetically. Due to its potential ergogenic effects it is widely used as supplement by the physically active and by high-performance athletes. Strength training, muscle building and--principally--building lean- muscle mass can all benefit. However, adverse effects have recently become known: creatine may produce adverse reactions and possibly cause degradation of liver and kidney functions, among other reactions. Because of this, ANVISA is increasing attention given to creatine supplementation, aiming to safeguard the integrity of users' health. Creatine supplementation with the purpose of physical-performance optimization should be undertaken with care and monitored to prevent ill effects. Keywords: Creatine, nutritional supplementation, ergogenic resources, exercise physiology, nutrition. 1 Graduação em Nutrição Centro Universitário São Camilo/ES 2 Graduação em Nutrição Centro Universitário São Camilo/ES 3 Professora Orientadora Centro Universitário São Camilo/ES

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Page 1: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 150

EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

ERGOGENIC EFECTS OF CREATINE

Fernanda Rodrigues Brioschi1

Hemily Marquezine Hemerly2

Érica Sartório Bindaco3

RESUMO

A creatina é um composto que pode ser encontrado diretamente na alimentação através da ingestão de alimentos de origem animal ou produzida endogenamente. Sua utilização através da suplementação vem ocorrendo com muita frequência por praticantes de atividade física e por atletas de alto rendimento devido aos seus potenciais efeitos ergogênicos como: ganho de força, potência muscular e principalmente aumento de massa muscular (massa magra). Entretanto, apenas recentemente tem-se atentado ao fato de que sua utilização indiscriminada pode gerar efeitos adversos indesejáveis e possivelmente causar a degradação das funções renais e hepáticas, dentre outras reações. Devido a isso, a ANVISA tem procurado dar uma maior atenção a esse tipo de suplementação de forma a preservar a integridade da saúde da população. Portanto, a suplementação de creatina usada com a finalidade de otimizar o desempenho físico deve ser feita de forma ponderada a fim de evitar reações indesejáveis a saúde.

Palavras – chave: Creatina, suplementação nutricional, recursos ergogênicos, fisiologia do

exercício, nutrição.

ABSTRACT

Creatine is an compound found naturally in the diet, in foods of animal origin, and also produced synthetically. Due to its potential ergogenic effects it is widely used as supplement by the physically active and by high-performance athletes. Strength training, muscle building and--principally--building lean- muscle mass can all benefit. However, adverse effects have recently become known: creatine may produce adverse reactions and possibly cause degradation of liver and kidney functions, among other reactions. Because of this, ANVISA is increasing attention given to creatine supplementation, aiming to safeguard the integrity of users' health. Creatine supplementation with the purpose of physical-performance optimization should be undertaken with care and monitored to prevent ill effects.

Keywords: Creatine, nutritional supplementation, ergogenic resources,

exercise physiology, nutrition.

1 Graduação em Nutrição – Centro Universitário São Camilo/ES

2 Graduação em Nutrição – Centro Universitário São Camilo/ES

3 Professora Orientadora – Centro Universitário São Camilo/ES

Page 2: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 151

INTRODUÇÃO

O ato da suplementação nutricional é definido como o consumo de

algum nutriente em busca de um determinado objetivo. E suplementos são

apenas vitaminas e/ou minerais isolados ou combinados entre si. A

suplementação é utilizada quando não se consegue alcançar através do

consumo alimentar a ingesta de determinado nutriente, outra causa que

também pode levar a suplementação é o desejo de aumentar o consumo de tal

nutriente com um objetivo específico. Para que haja suplementação a ingestão

do nutriente suplementado não pode ultrapassar 100% da ingestão diária

recomendada (RDI) se não é tido como medicação, quando a suplementação

ultrapassa a RDI, pode-se alcançar os efeitos desejados, como também efeitos

colaterais. 5, 16

Os suplementos nutricionais podem ser divididos em dois grupos: os

repositores e os ergogênicos. Os suplementos repositores, são aqueles

utilizados em uma situação específica. Já os suplementos (agentes)

ergogênicos, são aqueles utilizados para promoção do desempenho físico e

capacidade fisiológica. 16

Os suplementos com efeitos ergogênicos são substâncias que possuem

supostas capacidades de melhorar o desempenho físico dos seres humanos

durante a prática de atividade física, e podem ser subdivididos em três grupos:

fisiológicos, nutricionais e farmacológicos. Os ergogênicos nutricionais têm

como função principal o aumento do tecido muscular, elevação da oferta de

energia ao músculo e também da taxa de energia no músculo. No que se refere

à formação de energia, a geração ocorre pelo meio de três funções: 1ª. alguns

nutrientes são utilizados com fonte direta de energia; 2ª. outros regulam os

processos pelos quais a energia é produzida; e 3ª. e há aqueles que

promovem o crescimento e o desenvolvimento de tecidos corporais. 5, 23, 24

Os efeitos causados pelo uso da suplementação de creatina tem-se

tornado um fato muito relevante devido aos seus supostos efeitos ergogênicos,

entretanto mostra-se uma incógnita em relação aos possíveis benefícios e

também malefícios que seu uso pode causar.14 Frente a essa situação o

presente estudo justifica-se por tentar buscar respostas conclusivas sobre as

ações geradas pela suplementação de creatina.

Page 3: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 152

A partir do justificado tem-se como objetivo demonstrar o real efeito

ergogênico da creatina e por quais mecanismos tais efeitos ocorrem, buscando

lucidar também dúvidas ocorrentes sobre a forma de uso e se tal

suplementação pode acarretar em prejuízos maiores à saúde.

1. METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de um resumo bibliográfico realizado a partir

da consulta de artigos científicos e periódicos da área de nutrição e educação

física retirados de alguns bancos de dados como Scielo, Universidade Federal

de São Paulo, Universidade Gama Filho, entre outras entidades; foram

utilizados também livros, dissertações e teses. A pesquisa limitou-se a

utilização de conteúdos expostos nos últimos 10 anos, por apresentarem dados

mais atuais sobre o assunto tratado.

2. RESULTADOS E DISCUSSÕES

2.1. Histórico da creatina

Em 1832 o cientista francês Michel Eugene Chevreul descobriu a

existência de uma substância orgânica extraída da carne que foi denominada

como creatina (Cr). Em 1880, foi observada a existência de creatinina (Crn) na

urina o que levou diversos autores a acreditarem que havia uma ligação direta

da mesma com a creatina, que consequentemente estaria relacionada com a

massa muscular total. Entretanto, devido ao alto custo da extração da creatina

a partir de carne fresca, os primeiros estudos se apresentaram de forma

limitada. 4, 11, 20, 21, 25, 29

No início do século XX, observou-se que uma parte da creatina ingerida

pelos seres humanos não era eliminada através da urina, e em 1912 relatou-se

que a suplementação dessa substância aumentava o conteúdo de creatina no

tecido muscular, levando a conclusão de que a creatina é armazenada pelo

organismo. Fiske & Subarrouw descobriram em 1927, a partir de pesquisas a

forma fosforilada da creatina, chamada creatina-fosfato (CP) e denominaram a

função da creatina no metabolismo do músculo esquelético. Desde o início do

trabalho destes autores, a creatina tanto em sua forma livre (CrL) quanto em

Page 4: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 153

sua forma fosforilada (CrP) tem se mostrado como substrato-chave durante o

metabolismo intermediário da musculatura esquelética. 11, 20, 21, 25, 29

No ano de 1934 descobriu-se que havia uma enzima responsável pela

catalisação da fosforização da creatina denominada creatinafosfoquinase

(CPK). Posteriormente em 1947, foi confirmado que a creatina era um

composto encontrado regularmente na carne dos animais e que em animais

selvagens essa substância apresentava-se em maior quantidade quando

comparado a animais de cativeiro. 11, 20, 21, 25, 29

Entre 1940 e 1964 estudos desenvolvidos demonstraram possíveis

evidencias de efeitos benéficos do uso de creatina, porém estudos recentes e

mais específicos não detectaram efeitos ergogênicos relevantes. Já entre as

décadas de 1970 e 1980 pesquisas a respeito do potencial médico dos efeitos

causados pela creatina, relataram alguns benefícios a respeito de suas ações

ergogênicas. No início dos anos 70 alguns atletas da extinta União Soviética

passaram a utilizar a creatina com o objetivo de melhorar o seu desempenho

físico. Mas a sua popularização apresentou-se maior a partir de 1992, onde

surgiu a noticia de que os dois atletas Linford Christie (100m rasos masculino)

e Sally Gunnel (400m com barreiras feminino), ganhadores de medalha de ouro

nas Olimpíadas de Barcelona relataram o uso de creatina como recurso

ergogênico. Em 1993 a equipe de remo da Universidade de Cambridge

também utilizou a suplementação de creatina antes de vencer a equipe de

Oxford, considerada a favorita na competição. A partir de então, a creatina

tornou-se um dos suplementos mais consumidos no mundo. 4, 11, 21, 28

2.2. Síntese e produção de creatina

A creatina é uma amina nitrogenada denominada quimicamente por

ácido α – metil guanidino acético, sua síntese endógena realizada pelo fígado,

rins e pâncreas a partir de três aminoácidos precursores: glicina, arginina e

metionina, e através da ingestão de alimentos como carne vermelha e peixes

principalmente e em outros alimentos em menores quantidades (Tabela1). 2, 4, 11,

14, 17, 18, 20, 21, 24, 25, 29

Tabela 1 - Concentrações de creatina em alimentos considerados fonte

Alimento Concentração de creatina (g/kg)

Page 5: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 154

Arenque 6,5 – 10,0

Carne suína 5,0

Carne bovina 4,5

Salmão 4,5

Atum 4,0

Bacalhau 4,0 Fonte: MOLINA, 2006

Este composto inicia sua formação nos rins através de uma reação que

envolve os arginina e glicina em que primeiramente o grupo amino da arginina

é transferido para glicina, formando guanidinoacetato e ornitina através de um

processo de transamidação que é catalisado pela enzima glicina-amidina-

transamidase. Posteriormente, no fígado, o guanidino acetato é metilado pela

S-Adenosil-Metionina pela ação da enzima guanidinoacetato N-metiltranferase

formando a creatina, e é distribuída para os tecidos através do sangue (Figura

1). Já a creatina obtida pela ingestão de alimentos fornece aproximadamente

cerca de 1 g/dia e é absorvida de forma intacta pelo intestino e distribuída pelos

tecidos corpo. 10, 11, 18, 20, 21, 24, 29

Figura 1 - Síntese de creatina a partir da arginina.

O armazenamento da creatina ocorre de duas formas: livre e fosforilada,

sendo que a maior parte dos estoques corporais (95%) encontra-se localizada

nos músculos esqueléticos e o restante (5%) em órgãos como o coração,

cérebro, na musculatura lisa e testículos. Quando a creatina ingerida pela dieta

está reduzida, a síntese endógena se eleva para manter a estabilidade do

nutriente no organismo.9, 14, 18, 20, 21, 24, 25, 29

O conteúdo normalmente encontrado na musculatura esquelética é de

aproximadamente 120-125 mmol/kg de peso seco e equivale a 30 mmol/kg no

músculo úmido ou 4g/kg de músculo. Porém acredita-se que o músculo dos

Fonte: MENDES & TIRAPEGUI, 2002

Page 6: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 155

seres humanos tenha um limite máximo de acúmulo de creatina que varia entre

150-160 mmol/kg de músculo seco, pois se sugere que a ingestão desse

composto de forma crônica possa gerar uma redução da síntese da substância

denominada CreaT, de forma a evitar um armazenamento elevado de creatina

intramuscular. 11, 20, 21, 25, 29

A concentração de creatina celular apresenta-se controlada devido a

captação ativa da creatina em que receptores beta-2 são estimulados

juntamente com a atividade da sódio-potássio adenosina trifosfatase (ATPase),

apresentando uma função significativa. Contudo, existem diferenças entre as

concentrações intracelulares de creatina devido aos vários tipos de fibras

musculares. O bíceps, músculo formado por fibras de predominância branca

(glicolítica), possui 31% mais creatina que o sóleo, músculo com fibras de

predominância vermelha. 11, 21

2.3. Importância fisiológica da creatina

Metabolicamente a creatina tem a capacidade de ressintetizar ATP, ou

seja, tem a habilidade de fornecer energia durante a realização de um exercício

de alta intensidade, como pode ser visto no quadro a seguir:

Fonte: FERREIRA, 20008

A CP ao perder seu grupamento fosfato, libera energia que é utilizada

para regenerar o ADP e Pi em ATP, reação essa catalizada pela enzima

quinase (CQ). A energia provinda dessa reação permite que o pool de ATP seja

reciclado diversas vezes durante um exercício submáximo. Teoricamente, a

elevação da disponibilidade de CP aumentaria a habilidade para manter alta a

taxa de produção de energia durante o exercício de alta intensidade,

promovendo também a recuperação durante o intervalo entre uma sessão e

1:

Page 7: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 156

outra do exercício. 11, 21

A creatina também está envolvida no controle metabólico de diversas

maneiras. Uma das funções primárias do sistema dos fosfagênicos é tamponar

o aumento do ADP, ao invés de simplesmente ressintetizar ATP. A creatina

fosfato atua também no tamponamento da acidez, prevenindo o aumento nas

concentrações de H+ e redução do pH, assim a creatina auxilia na prevenção

da acidificação da célula muscular e pH normal, retardando assim o surgimento

de fadiga.

As propriedades energéticas da creatina também são importantes para

outros tecidos do corpo, como os do coração e do cérebro. A redução da

disponibilidade de creatina tem sido ligada a acometimentos da saúde humana

como, insuficiência cardíaca, prevalência aumentada de arritmias ventriculares,

isquemia e instabilidade de membranas de células do miocárdio durante a

isquemia. No sistema nervoso central e periférico é encontrada também uma

quantidade pequena de creatina, o que se pode entender que a creatina possa

ter importante papel na função da atividade cerebral. Deficiências de creatina

também têm sido referidas como causa de doenças neuromusculares, e

também estudos recentes apontam a existência de alguns benefícios

terapêuticos na suplementação de creatina nessas doenças. 11, 21

2.4. Fundamentação teórica da suplementação de creatina

Teoricamente os benefícios apresentados da suplementação de creatina

estão relacionados ao seu papel, assim como ao da creatina fosfato. Estudos

pioneiros relatam os diversos meios pelo qual a suplementação com creatina

pode apresentar efeitos ergogênicos em exercícios de grande intensidade. Os

benefícios da suplementação de creatina para o exercício físico estão

relacionados com a disponibilidade aumentada de CP, aumento da ressíntese

de CP, redução da acidez muscular, aumento da intensidade de treinamento,

aumento da massa corporal e o suposto potencial antioxidante. 11, 12, 15, 21, 29

2.4.1. Disponibilidade aumentada de CP

Os suprimentos de ATP e CP (fosfatos de alta energia) encontram-se

limitados, estimando-se que a soma total desses dois fosfatos sustente o

Page 8: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 157

exercício intenso por cerca de 10 segundos. Em algumas pesquisas observou-

se que a quebra da CP é o mecanismo energético que pode sustentar a

elevada taxa de produção de ATP. In vitro a taxa máxima de degradação da CP

é próxima a da taxa de hidrólise máxima de ATP pela proteína contrátil. O que

se deixa especular que a liberação de energia em períodos de atividade curtos

não é limitada pela taxa de geração de ATP por meio da CP, e sim por

limitações intrínsecas das proteínas contráteis. Foi observado também com

base em considerações termodinâmicas que a CP pode ser fator limitante na

produção de potência mesmo antes de o conteúdo muscular de CP estar

totalmente depletado. Assim, hipoteticamente a suplementação com creatina

poderia elevar a concentração corporal da mesma, gerando a possibilidade de

facilitar a geração intramuscular de creatina fosfato e a subsequente formação

de ATP, especialmente das fibras musculares de contração rápida, o que

prolongaria a duração da atividade física de alta intensidade. Alguns estudos

sugerem ainda que a suplementação oral de creatina diminua a degradação de

ATP durante a contração muscular intensa em até 30%, devido a melhora da

taxa de ressíntese de ATP a partir da ADP. 3, 11, 15, 21

2.4.2. Aumento da ressíntese de CP

Durante o período de recuperação de um exercício de alta intensidade a

ressíntese de CP parece ser um fator determinante na restauração da energia

para uma subsequente tarefa de alta intensidade. Foi observado que a

aceleração da ressíntese de CP após o exercício elevaria a capacidade

contrátil muscular, mantendo assim o turnover de ATP durante o exercício

seguinte. Por tal motivo a suplementação de creatina pode estar recomendada.

Foi observando ainda que a eficiente ressíntese de CP tem origem oxidativa,

propondo assim que a elevação da CP e da creatina promovam o aumento na

fosforilação oxidativa devido a presença da creatina quinase na mitocôndria.

2.4.3. Acidez muscular reduzida

A creatina fosfato atua como o principal tampão metabólico, sendo

responsável por aproximadamente 30% do total da capacidade tamponante

muscular, uma vez que a ressíntese de ATP a partir do ADP e CP consome um

Page 9: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 158

íon de H+ no processo, permitindo dessa forma que o músculo acumule mais

ácido lático antes de alcançar a concentração muscular limitante de pH,

possibilitando que mais exercícios intensos sejam realizados. Referindo-se a

essa função alguns estudos apresentam efeitos reais e benéficos da

suplementação de creatina em relação aos níveis de acúmulo de ácido lático,

em contrapartida, outros estudos não revelam esse efeito. No entanto, se uma

maior quantidade de trabalho é realizada com a suplementação de creatina, a

falta de diferenças significativas no lactato pode ser interpretada como uma

menor dependência da glicólise anaeróbia. 10, 11, 21, 24

2.4.4. Aumento da intensidade do treinamento

Com o passar dos anos vem se conhecendo a eficácia da creatina no

ganho de força e potencia muscular, aptidões físicas essas necessárias à

maioria dos desportos. Sabendo-se assim, que o ganho de massa muscular e

de força são cruciais no desempenho da maioria dos exercícios de potência e

que estudos demonstram que o uso suplementar de creatina possa aumentar o

peso corporal e a força, possibilitando assim a realização de maior carga de

exercícios em função do efeito ergogênico, o que aumentaria a síntese

protéica. Neste contexto a suplementação de creatina poderia beneficiar os

atletas pela capacitação ao treino com cargas mais elevadas, pela melhoria da

capacidade de repetir esforços em rápidos intervalos, pela redução da fadiga

associada ao treinamento e possivelmente pela aceleração da hipertrofia

muscular. 1, 11, 12, 21, 22, 25, 30

2.4.5. Aumento da massa corporal

O aumento da massa muscular, é um fator vantajoso para a prática de

esportes que exijam elevada potência muscular. Por ser uma substância

osmoticamente ativa o aumento da creatina intracelular na forma livre e

fosfocreatina induzem o influxo de água para o interior da célula, aumentando a

água intracelular e consequentemente gerando aumento da massa muscular, uma

vez que a retenção intracelular de fluídos e o aumento da pressão osmótica celular

podem constituir estímulo para a síntese protéica. Tal fato foi estudado e os

resultados mostraram que a suplementação com 25g de creatina durante 1

Page 10: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 159

semana resultou no aumento médio de 1,4Kg na massa corporal, o que pode servir

de confirmação que a hidratação celular pode estimular a síntese protéica e

diminuir a degradação de proteínas e possivelmente o aumento da massa isenta

de gordura. Diversos estudos com praticantes do treinamento de força demonstram

efeitos positivos com a suplementação de creatina sobre a massa corporal, tais

estudos podem ser complementados por outro que avaliou o efeito da

suplementação de creatina em homens saudáveis treinadores de força, que

concluiu que o ganho de massa corporal proveniente da suplementação é livre de

gordura. 10, 11, 15, 21, 25

Assim, teoricamente a suplementação de creatina pode beneficiar o

desempenho em uma variedade de exercícios ou esforços esportivos, de

intensidade muito elevada, tarefas repetitivas de alta intensidade com pausas

frequentes, tarefas anaeróbias mais prolongadas e atividades esportivas de

resistência dependente de massa corporal e massa muscular, e dos ganhos

associados de força e potência. 10, 11, 16, 21, 25, 30

2.4.6. Possíveis efeitos antioxidantes

Acredita-se que o aumento do estoque de creatina, provindo da

suplementação associado ao treinamento físico, possa servir como antioxidante

indireto, uma vez que estudos demonstraram queda na produção de amônia e

hipoxantina. A arginina um dos componentes da creatina atua na proteção das

células endoteliais e alguns dados demonstram também que ela possa neutralizar

o O2, o que leva a sugestão que a creatina apresente a possibilidade de exercer

efeito antioxidante direto além de indireto. Tal função se torna relevante uma vez

que a creatina se encontra presente no sarcoplasma, podendo assim, proteger sua

estrutura das espécies reativas de oxigênio provindas do exercício físico e através

disso atenuar o surgimento da fadiga e/ou melhorar a recuperação entre uma série

e outra. Além disso, existem estudos que apresentam que a creatina exerce efeitos

positivos em doenças em que o estresse oxidativo se faça presente. 9, 19, 27

2.5. Protocolo de suplementação

Os possíveis efeitos causados pela suplementação de creatina e/ou creatina

fosfato sobre a massa corpórea, vêm sendo estudados por diversos pesquisadores

Page 11: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 160

com o intuito de relatar as reais ações e a segurança do uso dessas substâncias

sobre o organismo.

A creatina geralmente utilizada por esportistas é consumida em forma de pó

(via oral), como monohidrato de creatina e o protocolo que se apresenta mais

adequado tem por objetivo elevar as concentrações totais de creatina e/ou

fosfocreatina. O protocolo mais utilizado, denominado protocolo clássico de

suplementação, é realizado em duas etapas, sendo que na primeira a finalidade do

consumo consiste em administrar grande quantidade de creatina por um período de

cinco dias gerando um quadro de sobrecarga, e posteriormente uma segunda etapa

com doses menores (manutenção). Seguindo então esse protocolo, na fase de

sobrecarga a ingestão diária administrada é de 20g de creatina em 4 doses iguais

diluídas em aproximadamente 250ml de líquido por um período de 5 a 7 dias. No

período de manutenção são administradas doses de 3 a 5g ou 0,03 g/kg/dia de

creatina. Entretanto, nem todos os indivíduos apresentam o mesmo aumento

muscular após a suplementação, indicando-se que existe uma considerável variação

entre os mesmos. 3, 4, 11, 13, 17, 18, 21, 29

Após observação realizada com rótulos de suplementos de creatina,

detectou-se que a dose mais usada nos primeiros 5 dias é de 20g consumidos em

4 ou 5g na primeira etapa. Na segunda usa-se de 5 a 10g diariamente. De acordo

com a análise sobre este fato, apresenta-se como conclusão que a dose de 5g de

creatina mais utilizada nos trabalhos com essa substância não apresentou efeitos

adversos, propondo-se então que esta dosagem poderia ser considerada segura. 11

A utilização da creatina juntamente com um carboidrato simples (glicose),

pode vir a aumentar o transporte de creatina para dentro do músculo até em

pessoas que se apresentam com menor sensibilidade a suplementação de

creatina, gerando uma elevação do efeito ergogênico da creatina. Toda essa

reação pode ser favorecida pela realização de exercícios durante a suplementação

de creatina, gerando um efeito adicional a captação muscular dessa substância. 11,

17, 21, 24,27

Após ter sido realizado o protocolo de suplementação, relata-se que são

necessárias de quatro a cinco semanas para reduzir os níveis de creatina

musculares, até que retornem aos valores normais. 1

Page 12: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 161

Efeitos da suplementação de creatina

Os possíveis efeitos do uso de suplementação de creatina sobre a massa

muscular vêm sendo muito estudados atualmente. Na maioria das pesquisas,

observa-se que a creatina causa um ganho de massa corpórea, porém existem

duas principais hipóteses para explicar isso. A primeira se baseia no fato de a

creatina gerar uma maior retenção hídrica devido ao seu alto poder osmótico e

também pela redução na produção de urina associada a essa suplementação, já a

segunda hipótese se baseia no fato de que a suplementação promoveria um

aumento da taxa de síntese de proteínas contráteis. Entretanto, a suplementação

de creatina baseada na utilização de 20g/dia durante 5 dias não demonstra

influência sobre hormônios como: testosterona, hormônio do crescimento e o

cortisol, que também poderiam causar alguma alteração na elevação de massa

muscular. 11, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 29

A maior parte das pesquisas realizadas sobre a sobrecarga de creatina

concorda com a ideia de que há uma elevação de massa corpórea em usuários

dessa substância. Porém, depois de realizadas investigações sobre os efeitos

crônicos dessa suplementação, observou-se que só foram detectadas alterações

significativas sobre a massa e a composição corporal em pessoas fisicamente

ativas ou atletas que fazem algum treinamento de força ou específico para a sua

modalidade esportiva. 11, 15

Enfim, pode-se dizer que o aumento de massa muscular corporal tem maior

ligação com a retenção hídrica do que com a proteína contrátil elevada. Contudo, a

suplementação crônica realizada juntamente com o treinamento de força pode vir a

elevar a massa corporal magra. 11, 21

Essa incerteza gerada devido à utilização de suplementação de creatina

pode ser comprovada na tabela 2, onde são demonstrados os resultados de

diversos estudos sobre o assunto. 4

Tabela 2 – Resultados de diferentes estudos sobre a suplementação de

creatina e desempenho físico.

Autor População Tipo de atividade Nº Dosagem (g/dia) Efeito sobre desempenho

Grindstaff et al, 1997

Nadadores Velocistas Juniores

Natação

18

21 g/dia/9dias

Aumentou

Smith et al, 1998 Universitários destreinados

Cicloergômetro 15 sendo 8 homens e 7 mulheres

20g/dia/5dias

Aumentou

Odlard et al, 1997 Indivíduos saudáveis

Ciclismo

9 homens

20g/dia/3dias

Sem efeito

Page 13: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 162

Schneider et al, 1997

Indivíduos destreinados

Ciclismo

9 homens 25g de creatina +

5g de CHO/dia/7dias

Sem efeito

Vandebuerie et al, 1998

Ciclista de elite Ciclismo

12

25g/dia

Aumentou

Javierre et al, 1997 Velocista de elite Corrida

20

25g/dia/3dias

Sem efeito

Terrilion t al, 1997 Velocista de elite Corrida

12 homens

20g/dia/5dias

Sem efeito

Brandon et al, 1997 Roedores Corrida

Aguda (10dias) crônica (4 semanas)

Aumentou

Aaserud et al, 1998 Jogadores profissionais de

handbol

Corrida

15g/dia/5dias

Aumentou

Kreideret et al, 1995

Jogadores de futebol americano

Força

25

15g/dia/28dias

Aumentou

Volek et al, 1997 Fisicamente ativos Força

14 homens

25g/dia/7dias

Aumentou

Magarinos et al, 1998

Indivíduos saudáveis

Força

10 homens 10g/dia/7dias

Aumentou

Vandenberghe et al, 1997

Indivíduos saudáveis

Força

19 mulheres 20g/dia/4dias

Aumentou

Biecque et al, 2000 Indivíduos saudáveis

Força

23 homens 5g/dia/4dias

Aumentou

Arciero et al, 2000 Indivíduos saudáveis

Força

30 homens 10 a 20g/dia/28dias Aumentou

Fonte: BARGIERI; VANCINI & LIRA, 2005.

A partir da observação desta tabela, pode-se concluir que os resultados

gerados devido a utilização de suplementação de creatina se apresentam de

forma contraditória e diverge em diversas situações. 4

2.6. Possíveis riscos e desvantagens da suplementação

A difusão do uso de suplementação de creatina pode ser considerado

um fenômeno novo, pois ainda não existem fundamentações científicas sólidas

o suficiente para comprovar os possíveis malefícios que a sobrecarga dessa

substância pode gerar sobre o corpo humano. Podem-se citar como possíveis

efeitos colaterais diarréia, cãibras, aumento do risco de problemas na função

renal e hepática, e distúrbios gastrintestinais. Porém, o único efeito

comprovado até agora é o ganho de peso devido à retenção hídrica.2, 4, 13, 14, 20, 24

Em um estudo, foram observados alguns pontos principais para detectar

os possíveis efeitos colaterais da sobrecarga de creatina: possíveis alterações na

pressão arterial, atividade da creatina quinase e a função renal; elevação da massa

corpórea total em relação ao sexo e a composição desse possível aumento;

observar se a administração de creatina teria o mesmo efeito em condições

isquêmicas. Entretanto, as únicas alterações encontradas foram em relação ao

maior aumento de massa no sexo masculino em relação ao feminino e uma

elevação considerável de massa livre de gordura. Todavia, em outra pesquisa

foram observados dados contrários em relação aos apresentados anteriormente,

onde houve alteração da pressão arterial e na função renal, dentre outras

Page 14: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 163

modificações na temperatura corporal e frequência cardíaca observadas em

exercícios de alta intensidade e curta duração. 4

Em relação a ocorrência de cãibras, isso se deve as alterações nas

concentrações de água e sais minerais nas fibras musculares, mas nenhum estudo

realizado comprovou que a utilização de creatina pode realmente gerar cãibras,

desidratação ou algum tipo de alteração nas concentrações intramusculares de

eletrólitos. Acredita-se que estas modificações podem ter mais ligação com o

treinamento em climas quentes do que com a suplementação de creatina. 13, 24

O uso crônico da suplementação de creatina, também se apresenta como

um ponto importante em diversos estudos, pois ele pode gerar um estresse renal

devido ao armazenamento da creatina no músculo que posteriormente será

excretado na urina, podendo então sobrecarregar o funcionamento dos rins.

Contudo, estudos realizados com o objetivo de detectar o possível malefício gerado

pela suplementação aguda de creatina não puderam comprovar que poderia haver

algum efeito prejudicial em relação à função renal (Tabela 3). 2, 14, 20

Tabela 3 – Estudos de caso que associaram danos renais á suplementação de

creatina

Fonte: GUALANO, 2008

Outro fato que se deve atentar é de que não existe razão para acreditar-

se que doenças como o câncer de cólon que estão mais presentes em

populações que consomem muita carne tem alguma ligação com a

suplementação de creatina. 29

Enfim, ainda não existem estudos que definem claramente os efeitos

colaterais reais gerados pelo uso da cretina, o que presume que ainda são

necessárias pesquisas que se aprofundem mais no assunto. 14, 24

Page 15: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 164

2.7. Proibição da comercialização

É cada vez maior o número de pessoas que frequentam academias para

praticar exercícios físicos com inúmeros objetivos, preocupadas em obter

resultados mais rápidos e eficientes, estas buscam produtos que são vendidos

como suplementos alimentares para atingirem seus objetivos de forma rápida, e

muitas vezes sem ter conhecimento se o produto é autorizado por lei. 6, 7, 8

Primariamente a comercialização da creatina, assim como a de outros

suplementos, foram proibidos no Brasil por não possuírem registro na Agencia

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Logo após a própria ANVISA dispôs

uma proposta para regularização dos suplementos que passam a ser chamados de

alimentos para atletas. Tal decisão foi estabelecida mediante as seguintes

considerações e necessidades: 6, 7, 8

- constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de

alimentos, visando à proteção da saúde da população;

- atualização da legislação sanitária de alimentos, com base no enfoque da

análise de risco e da prevenção do dano à saúde da população;

- comprovação de eficácia científica dos alimentos para fins especiais;

- evolução do conhecimento científico sobre nutrição esportiva e sua

participação no desempenho do atleta;

- a alimentação balanceada e diversificada é suficiente para atender as

necessidades nutricionais de indivíduos que praticam atividade física de forma

regular ou esporádica com objetivo de promoção da saúde, recreação, estética,

aptidão física, condicionamento físico, inserção social, desenvolvimento de

habilidades motoras ou reabilitação orgânico-funcional; nutricionais adicionais do

atleta são direcionadas a suprir as demandas de exercícios de alta intensidade

relativas ao treinamento esportivo visando desempenho máximo ou competitivo;

- melhorar a informação sobre esses produtos para o consumidor.

Posteriormente a creatina, foi proibida no Brasil em 2005, pela ANVISA.

A principal tese que levou à proibição da creatina é a de que a substância provoca

complicações renais e hepáticas quando usada com intensidade. Tal proibição foi

gerada também a partir da necessidade de: 6, 7, 8

- orientações precisas quanto à suplementação alimentar de pessoas que

Page 16: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 165

praticam atividade física;

- evitar o consumo indiscriminado de formulações à base de aminoácidos e

de outros produtos destinados à suplementação alimentar de praticantes de

atividade física;

- constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de

alimentos visando a proteção à saúde da população e a necessidade de fixar a

identidade e as características mínimas de qualidade a que deverão obedecer os

alimentos para praticantes de atividade física.

Atualmente por ser considerado um medicamento pela ANVISA, uma vez

que é utilizada no tratamento de algumas enfermidades, a creatina agora só pode

ser vendida com receita médica. Diante de tal fato a Gerencia de Inspeção e

Controle de Riscos de Alimentos esclarece que os aminoácidos isolados grupo no

qual está incluso a creatina não são permitidos como alimentos, pelo fato de não

haver consenso científico relacionados à segurança e eficácia de uso. Esses

aminoácidos são utilizados majoritariamente por atletas de elite e têm em alguns

casos a indicação de uso como medicamentos e, portanto devem ser utilizados sob

prescrição médica. 6, 7, 8

No intuito de preservar a integridade da saúde da população a creatina só

pode ser comercializada se em sua embalagem houver as seguintes informações:

6, 7, 8

- “Este alimento é destinado exclusivamente a atletas sob recomendação de

nutricionista ou médico e não substitui uma alimentação equilibrada”;

- “O consumo deste produto acima da recomendação diária, sem a

orientação de nutricionista ou médico, pode ser prejudicial à saúde do atleta”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A creatina já foi descoberta há mais de um século, porém ela ainda é

considerada como um fenômeno ergogênico relativamente novo, pela existência de

diversos estudos atuais que demonstram a participação da creatina no

desempenho físico, por meio de seus efeitos ergogênicos. Várias pesquisas

mostram os resultados promissores da suplementação com creatina no

desempenho em jogos esportivos que necessitam de um único e ou repetidos

esforços máximos de curta duração.

Embora haja substancial evidência de que a suplementação de creatina

Page 17: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 166

possa melhorar o rendimento em atividades de alta intensidade e curta duração, a

análise crítica da literatura aponta que nem sempre isso ocorre, pois, os

mecanismos envolvidos na ação da Cr na melhora do desempenho ainda não

foram totalmente esclarecidos.

De acordo com os diversos autores analisados, a creatina pode,

hipoteticamente, causar aumento de síntese protéica, aumento de retenção hídrica,

aumento de ressíntese de creatina fosfato, podendo levar, talvez, a uma hipertrofia

muscular. A creatina é também um viável agente ergogênico com papel

antioxidante indireto e direto, devido ao seu efeito atenuador da formação de

produtos de degradação de purinas. E os efeitos ergogênicos desta substância

podem ser aumentados quando consumida com carboidrato.

Com base nos argumentos apresentados concluiu-se que a creatina, como

qualquer outro suplemento alimentar, se utilizada de maneira correta, pode levar a

ganhos significativos na performance, pois ela aumenta os níveis de concentração

de creatina intracelular. No entanto, faz-se necessário respeitar as etapas e

períodos de treinamento, como também os métodos de utilização. Não esquecendo

de se atentar que a decisão de se utilizar a suplementação de creatina, como

método para aperfeiçoar o desempenho esportivo, deve ser tomada com

ponderação, de acordo com a necessidade e indicação de cada individuo e sob

supervisão de um profissional qualificado.

Page 18: EFEITOS ERGOGÊNICOS DA CREATINA

Conhecimento em Destaque, v.8, nº19 167

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