educaÇÃo para o desenvolvimento sustentÁvel

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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL VENDA NOVA DO IMIGRANTE ES

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Page 1: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

VENDA NOVA DO IMIGRANTE – ES

Page 2: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Sumário

1 A EVOLUÇÃO HISTÓRIA E TEÓRICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA) .......... 3

1.1 O Capítulo 36 da Agenda 21 ......................................................................... 5

2 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO CRÍTICA AO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL: NOTAS SOBRE O MÉTODO .......................................................... 8

2.1 Construindo Consenso Sobre a EA (Educação Ambiental) Associada ao

Desenvolvimento Sustentável ................................................................................... 10

3 ALIANÇA MUNDIAL PELA SUSTENTABILIDADE ............................................... 10

3.1 A Década no Contexto da Globalização...................................................... 11

3.2 Uma Grande Oportunidade para os Sistemas de Ensino............................ 11

4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONCEITOS, SIGNIFICADOS E

INTERPRETAÇÕES ................................................................................................. 12

4.1 Críticas e Objeções ao Desenvolvimento Sustentável ................................ 13

4.2 Educação e sustentabilidade ...................................................................... 15

5 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NO BRASI L ................................................ 17

5.1 O Nível Genético ......................................................................................... 18

5.2 Nível De Espécies ....................................................................................... 19

5.3 Estado da Conservação da Flora e da Fauna ............................................. 21

5.4 Os Principais Ecossistemas Brasileiros ...................................................... 22

6 ENERGIA SUSTENTÁVEL ................................................................................... 47

6.1 Fontes renováveis de energia elétrica ........................................................ 49

7 O PRINCÍPIO DOS TRÊS ERRES (3R’S) NA LEI Nº 12.305/2010: REDUZIR,

REUTILIZAR E RECICLAR ....................................................................................... 55

7.1 A participação popular................................................................................. 57

7.2 Educação ambiental e sua importância para a implementação da lei nº

12.305/2010................................................................................................................58

8 RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS ............................................... 59

Page 3: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

8.1 Soluções Utilizadas para a Questão Hídrica ............................................... 62

8.2 Gestão de resíduos sólidos......................................................................... 66

8.3 Classificação dos resíduos sólidos ............................................................. 67

8.4 Outros tipos de resíduos sólidos ................................................................. 74

8.5 Resíduos industriais .................................................................................... 74

8.6 Impactos Causados pela Disposição Inadequada dos Resíduos Sólidos ... 76

8.7 Doenças Causadas Devido à Disposição Inadequada dos Resíduos

Sólidos........................................................................................................................77

8.8 Reciclagem: a indústria do presente ........................................................... 78

8.9 Para onde vai o lixo? .................................................................................. 79

9 CULTURA E SUSTENTABILIDADE EM FOCO: A CULTURA DA

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL .......................................................................... 85

9.1 Ambiente, Cultura e Sustentabilidade ......................................................... 86

9.2 Cultura, produto do desenvolvimento do homem ........................................ 87

9.3 A Cultura da Sustentabilidade Ambiental .................................................... 87

9.4 Técnicas para Elaboração e Avaliação de Projetos Sustentáveis .............. 88

10 O MEIO AMBIENTE E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ...................... 91

10.1 As Diferentes Concepções de Educação e de Educação Ambiental ........ 92

10.2 Olhares e Práticas diferenciadas na Educação Ambiental........................ 92

10.3 A construção do campo educativo-ambiental e o compromisso com a

sociedade...................................................................................................................93

10.4 Educação Ambiental Popular .................................................................... 95

10.5 Educação Ambiental Crítica ...................................................................... 97

10.6 A Metodologia Participativa como Ferramenta para a Educação Ambiental

Crítica.........................................................................................................................99

10.7 O Saber Ambiental .................................................................................. 100

11 BIBLIOGRafia BÁSICA ..................................................................................... 102

Page 4: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

3

1 A EVOLUÇÃO HISTÓRIA E TEÓRICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA)

O conceito de Educação Ambiental é mais antigo que o conceito de Educação

para o Desenvolvimento Sustentável e, nos últimos anos, tem havido muita discussão

sobre as inter-relações entre estes dois conceitos. O conceito de EA surgiu com a

própria UNESCO, em 1946, mas foi reforçado em 1975, na Carta de Belgrado

(UNESCO, 1975). Nessa Carta, afirmava-se que a meta da EA é formar uma

população consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas a ele

associados e que seja capaz de trabalhar para resolver os problemas existentes e

para evitar que surjam outros (LEITE & DOURADO,2015).

Nos finais da década de 1980 e inícios da década de 1990 começou a emergir

uma nova concepção de Educação que viria a designar-se como Educação para o

Desenvolvimento Sustentável (EDS).

Em 1997, a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, em

Tessalónica, Grécia, considerou que os resultados da implementação das diversas

orientações sobre EA tinham sido insuficientes e realçou a necessidade de uma

educação voltada ao Desenvolvimento Sustentável (LEITE & DOURADO,2015).

No Brasil, a Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, em seu

Artigo 1º estabelece que "entendem-se por educação ambiental os processos por

meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,

bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua

sustentabilidade"(IATO, et al, 2014) .

As Conferências de Estocolmo, em 1972, Belgrado (1975), Tbilisi (1977),

Moscou (1987), Rio de Janeiro (1992), Tessalônica (1997), Rio+20 (2012) trouxeram

em pauta a discussão da educação ambiental como um processo dialético de

reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, na busca de adoção de novos

padrões de atitudes.

Page 5: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

4

Imagem: Conferência de estolcomo

Fonte: www.profes.com.br

A Assembleia Geral das Nações Unidas com base na resolução n° 57/254

instituiu a “Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento

Sustentável” (2005-2014) com o propósito de estimular estratégias articuladas que

permitissem à educação respostas às crises ambiental, social e econômica. Criaram-

se assim condições que encorajaram os Estados-membros da ONU (entre eles o

Brasil) a promoverem a integração dos valores do desenvolvimento sustentável em

todas as formas de aprendizagem, abrindo perspectivas de diálogo entre os parceiros

empenhados e com responsabilidades na construção de sociedades mais

equilibradas ambiental, social e economicamente (IATO, et al, 2014).

Segundo Barreto, & Vilaça, (2018), atualmente a educação ambiental é

frequentemente complementada com ‘para a sustentabilidade’, sendo um tema

relevante e prioritário nas discussões de diversas instituições governamentais e não

governamentais. Assim a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) traz

consigo elementos complementares àquela visão de EA apenas sob a vertente

ambiente, aproximando da discussão elementos como sociedade e economia.

Neste contexto, a disciplina de Educação e Desenvolvimento Sustentável

pretende preparar o futuro Técnico Superior de Educação para o diagnóstico de

Page 6: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

5

problemas econômicos sociais e ambientais, bem como para a análise de ações

educativas capazes de minorá-los e ou evitá-los, de uma forma sustentada (LEITE &

DOURADO,2015).

Para dar cumprimento a esse propósito, um dos objetivos do programa da

disciplina requer a análise das diversas perspectivas sobre EA e EDS, bem como a

análise dos significados desses conceitos e das suas inter-relações, uma vez que,

como já mencionado, não existe consenso absoluto sobre esse assunto.

1.1 O Capítulo 36 da Agenda 21

A Agenda 21 entendeu a "Promoção do treinamento" como um dos instrumentos

mais importantes para desenvolver recursos humanos e facilitar a transição para um

mundo mais sustentável, devendo ser dirigido a profissões determinadas e visar

preencher lacunas no conhecimento e nas habilidades que ajudarão os indivíduos a

achar emprego e a participar de atividades de meio ambiente e desenvolvimento.

Segundo a Agenda 21, ao mesmo tempo, os programas de treinamento devem

promover uma consciência maior das questões de meio ambiente e desenvolvimento

como um processo de aprendizagem de duas mãos. A "Promoção de treinamento"

tem os seguintes objetivos:

1) estabelecer ou fortalecer programas de treinamento vocacional que atendam

às necessidades de meio ambiente e desenvolvimento com acesso assegurado a

oportunidades de treinamento, independentemente de condição social, idade, sexo,

raça ou religião;

2) promover uma força de trabalho flexível e adaptável, de várias idades, que

possa enfrentar os problemas crescentes de meio ambiente e desenvolvimento e as

mudanças ocasionadas pela transição para uma sociedade sustentável;

3) fortalecer a capacidade nacional, particularmente no ensino e treinamento

científicos, para permitir que Governos, patrões e trabalhadores alcancem seus

objetivos de meio ambiente e desenvolvimento e facilitar a transferência e assimilação

de novas tecnologias e conhecimentos técnicos ambientalmente saudáveis e

socialmente aceitáveis;

Page 7: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

6

4) assegurar que as considerações ambientais e de ecologia humana sejam

integradas a todos os níveis administrativos e todos os níveis de manejo funcional,

tais como marketing, produção e finanças.

A partir da publicação do relatório Nosso futuro comum, produzido pela

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cmmad), a expressão

desenvolvimento sustentável passou a ser difundida e tornou-se popular, com a

Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio Ambiente (Cnumad),

realizada no Rio de Janeiro, em 1992 (BARBIERI e SILVA, 2011).

A Agenda 21, documento aprovado durante a Conferência do Rio de Janeiro, é

um programa de ação abrangente para guiar a humanidade em direção a um

desenvolvimento que seja ao mesmo tempo socialmente justo e ambientalmente

sustentável. Ela é constituída por 40 capítulos, dedicados: às diversas questões

sociais e ambientais de caráter planetário (erradicação da pobreza, proteção da

atmosfera, conservação da biodiversidade etc.); ao fortalecimento dos principais

grupos de parceiros para implantar as ações recomendadas (ONGs, governos locais,

comunidade científica e tecnológica, sindicatos, indústria e comércio etc.); e aos meios

de implementação, como mecanismos financeiros, desenvolvimento científico e

tecnológico, cooperação internacional e a promoção do ensino (BARBIERI e SILVA,

2011).

Após a Eco-92, merecem menção, na discussão das ideias da educação

ambiental, o "Congresso Mundial para Educação e Comunicação sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento", Toronto, Canadá (1992) e o "I Congresso Ibero-

americano de Educação Ambiental: uma estratégia para o futuro", Guadalajara,

México (1992), que se manifestaria em sequência, nos seguintes eventos: "II

Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: em busca das marcas de Tbilisi",

Guadalajara, México (1997); "III Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental:

povos e caminhos para o desenvolvimento sustentável", Caracas, Venezuela (2000);

"IV Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: um mundo melhor é

possível", Havana, Cuba (2003) e "V Congresso Iberoamericano de Educação

Ambiental", Joinville, Brasil (2006).

A promoção do ensino está presente em praticamente todas as áreas e os

programas da Agenda 21. Além disso, o Capítulo 36 é inteiramente dedicado à

promoção do ensino, da conscientização pública e do treinamento. Embora conste em

Page 8: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

7

seu preâmbulo que as recomendações da Conferência de Tbilisi ofereceram os

princípios fundamentais desse capítulo, uma análise de seu texto mostra que ele foi

muito mais influenciado pela Conferência Mundial do Ensino para Todos para a

Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizado, realizada em Jomtien,

Indonésia, em 1990. Com efeito, apenas uma única menção foi feita à EA em todo o

texto do Capítulo 36. Esse fato mostra uma mudança de trajetória no âmbito das

conferências intergovernamentais promovidas pela ONU e nos documentos

produzidos por elas. A Declaração de Jomtien reafirma a ideia da educação como um

direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo

inteiro, e que pode contribuir para conquistar um mundo mais seguro, mais sadio, mais

próspero e ambientalmente mais puro, ao mesmo tempo que favoreça o progresso

social, econômico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional. A Declaração

reconhece que uma educação básica adequada é fundamental para fortalecer os

níveis superiores de ensino, a formação científica e tecnológica e, por conseguinte,

para alcançar um desenvolvimento autônomo. A educação básica é considerada, de

modo amplo, como satisfação das necessidades de aprendizagem ao longo de toda

a vida para todos (UNESCO, 1990).

A Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS) foi criada em 1992 para

acompanhar e avaliar a implantação das áreas de programas e atividades

recomendadas pela Agenda 21 e a cooperação internacional relacionada com elas. A

coordenação das atividades do Capítulo 36 da Agenda ficou a cargo da Unesco, que

promoveu uma iniciativa internacional denominada Educação para o Futuro

Sustentável (EPS), em 1994, com o propósito de reforçar os objetivos, as propostas e

as recomendações constantes nesse capítulo e nas conferências mencionadas

(BARBIERI e SILVA, 2011).

Essa mudança de prioridade modificaria a atuação da Unesco e do Pnuma em

relação à EA. Tal mudança foi precedida pelo encerramento, em 1995, das atividades

do Piea, que havia sido criado como resultado da Conferência de Estocolmo, como já

mencionado. Em 1997, a Assembleia Geral da ONU, com base nessa avaliação da

CDS, adotou um programa para implantar a Agenda 21, na qual os temas do Capítulo

36 passaram a ter as prioridades citadas. Esse programa usa as expressões

educação para a sustentabilidade e educação para o futuro sustentável, cujos temas

centrais incluem, entre outros, a educação permanente, a educação interdisciplinar e

a educação multicultural (BARBIERI e SILVA, 2011).

Page 9: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

8

2 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO CRÍTICA AO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL: NOTAS SOBRE O MÉTODO

Segundo Leher (2016), a matriz discursiva dessa orientação é o

desenvolvimento sustentável que, a rigor, não é um conceito científico, mas,

sobretudo, uma ideologia penetrante e indispensável ao capital, em um contexto em

que os problemas socioambientais alcançam perigosa escala planetária e as

resistências se ampliam. Está fora de questão que a eficiência energética e o controle

dos resíduos avançaram de modo extraordinário nas últimas décadas, repercutindo

de modo positivo em determinados indicadores ambientais e em certos territórios.

Entretanto, é a lógica destrutiva do capital – materializada no desenvolvimento

desigual do capital nos territórios – que calibra a forma de consumo de energia, o

custo possível das mercadorias e define a escala de circulação das mesmas em

âmbito planetário.

A opção por um método que converte o Estado em unidade de análise bastante

em si inevitavelmente leva à reiteração da ordem e ao reforço da institucionalidade

vigente. Muitos estudos e pesquisas, ao focalizarem a análise interna desses

documentos, concluem que existe uma polarização nas concepções sobre a

problemática ambiental, como se houvesse um corte epistemológico entre o culto à

vida silvestre e o eco cientificismo. A rigor, os dois enfoques possuem pressupostos

comuns, conforme argumento adiante, ao examinar o Instituto (LEHER, 2016).

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.

Antes de seguir a análise, uma rápida explicitação dos termos é necessária:

Culto à vida silvestre, orientação que busca se referenciar na ecologia –

políticas que em geral resultam na delimitação de parques e áreas de

preservação ambiental e da biodiversidade. Muitas dessas medidas são

patrocinadas por organizações não governamentais de âmbito mundial,

financiadas por corporações e, muito frequentemente, buscam regulamentar as

reservas a despeito de conflitos com os povos que nelas vivem.

Proposições ecocientificistas que argumentam que é possível corrigir o padrão

de acumulação do capital, melhorando a eficiência do uso dos recursos

naturais e aperfeiçoando os mecanismos técnicos de controle da

Page 10: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

9

contaminação. Se valem de proposições como desenvolvimento sustentável,

modernização ecológica e indústrias verdes, validadas por selos de

sustentabilidade ambiental. Essas proposições poderiam ser implementadas,

na prática, por meio de impostos que levassem em consideração a variável

ambiental, o uso de mercados de permissão de emissões e pelo

desenvolvimento de tecnologias que economizassem energia e recursos

naturais, por meio de formas mais eficientes e complexas de reciclagem: a ideia

chave é a mitigação dos efeitos socioambientais da produção capitalista.

A matriz discursiva dessa orientação é o desenvolvimento sustentável que, a

rigor, não é um conceito científico, mas, sobretudo, uma ideologia penetrante e

indispensável ao capital, em um contexto em que os problemas socioambientais

alcançam perigosa escala planetária e as resistências se ampliam. Está fora de

questão que a eficiência energética e o controle dos resíduos avançaram de modo

extraordinário nas últimas décadas, repercutindo de modo positivo em determinados

indicadores ambientais e em certos territórios. Entretanto, é a lógica destrutiva do

capital – materializada no desenvolvimento desigual do capital nos territórios – que

calibra a forma de consumo de energia, o custo possível das mercadorias e define a

escala de circulação das mesmas em âmbito planetário. O exemplo da Articulação

Internacional dos Atingidos pela Val é significativo. A coordenadora de iniciativas

populares existe, justamente, em virtude dos efeitos devastadores provocados pela

mineração da Vale em distintas partes do planeta. Produtos sofisticados,

ambientalmente certificados, estão inseridos em cadeias produtivas globais, que

contém nódulos que requerem despojo de populações e elevado custo

socioambiental. O pensamento ambiental eurocêntrico ignora isso (LEHER, 2016).

O desenvolvimento desigual do capitalismo, a circulação ampliada do capital e

os processos contra tendenciais* frente à queda da taxa média de lucros explicam o

motivo porque, a despeito dos avanços tecnológicos do pós-II Guerra, os problemas

socioambientais agravaram-se de tal modo que a vida no planeta está sob ameaça,

conforme os relatórios e pesquisas realizadas no âmbito do Painel Intergovernamental

para a Mudança Climática - IPCC, na sigla em inglês, e sobretudo pela Conferência

Mundial dos Povos sobre o Cambio Climático e os Direitos da Mãe Terra, realizado

na Bolívia, em 2010 (LEHER, 2016).

Page 11: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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2.1 Construindo Consenso Sobre a EA (Educação Ambiental) Associada ao Desenvolvimento Sustentável

Após a Conferência de Estocolmo de 1972, a EA (Educação Ambiental) passou

a receber atenção especial em praticamente todos os fóruns relacionados com a

temática do desenvolvimento e do meio ambiente. Dela resultou a criação do

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que viria a dividir com

a Unesco as questões relativas à EA no âmbito das Nações Unidas.

Foi estabelecido um plano de trabalho com 110 resoluções, e uma delas se

refere à necessidade de implantar a EA de caráter interdisciplinar com o objetivo de

preparar o ser humano para viver em harmonia com o meio ambiente (Resolução nº

96). Para cumprir essa resolução, a Unesco e o Pnuma criaram o Programa

Internacional de Educação Ambiental (Piea), com o objetivo de promover o

intercâmbio de ideias, informações e experiências em EA entre as nações de todo o

mundo, fomentar o desenvolvimento de atividades de pesquisa que melhorem a

compreensão e a implantação da EA, promover o desenvolvimento e a avaliação de

materiais didáticos, currículos, programas e instrumentos de ensino, favorecer o

treinamento de pessoal para o desenvolvimento da EA e dar assistência aos Estados

membros com relação à implantação de políticas e programas de EA (BARBIERI e

SILVA, 2011).

3 ALIANÇA MUNDIAL PELA SUSTENTABILIDADE

Em 2006, a Unesco criou um grupo de referência para subsidiar a Secretaria da

Década com insumos conceituais e estratégias. A Secretaria da Unesco para a

Década, com base em estudos e pesquisas sobre a educação para o desenvolvimento

sustentável (EDS), está produzindo materiais educativos para a formação necessária

para facilitar a emergência de uma reforma educacional que inclua a sustentabilidade

como princípio e diretriz e que nos conduza a uma nova qualidade do ensino-

aprendizagem. O Grupo de Referência da Década da Unesco tem como orientação

básica cinco estratégias:

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11

estabelecer os princípios para uma grande aliança mundial pela

sustentabilidade, governamental e não governamental;

concretamente, iniciar pela criação e acompanhamento dos trabalhos das

comissões nacionais da Década;

criar centros de referência em diferentes partes do mundo para fomentar a

discussão, a pesquisa e a intervenção na EDS;

estabelecer estreita ligação com outras iniciativas e décadas da ONU, tais

como: Década da Alfabetização, Educação para Todos, HIV/Aids e os

Objetivos do Milênio;

estabelecer uma estratégia de comunicação e informação fortemente

ancorada nas novas tecnologias e, particularmente, na internet.

3.1 A Década no Contexto da Globalização

A globalização, impulsionada pela tecnologia, parece determinar cada vez mais

nossas vidas. As decisões sobre o que nos acontece no dia-a-dia parecem nos

escapar, por serem tomadas muito distante de nós, comprometendo nosso papel de

sujeitos na história. Mas não é bem assim. Como fenômeno, como processo, a

globalização é irreversível. Mas não esse tipo de globalização, esse modelo de

globalização, o “globalista” (Ianni, 1996) ao qual estamos submetidos hoje: a

globalização capitalista. Seus efeitos mais imediatos são o desemprego, o

aprofundamento das diferenças entre os poucos que têm muito e os muitos que têm

pouco, a perda de poder e de autonomia de muitos estados e nações. Há, pois, que

distinguir os países que hoje comandam a globalização – os globalizadores (países

ricos) – dos países que sofrem a globalização – os globalizados (pobres)

(GADOTTI,2008).

Dentro deste complexo fenômeno, pode-se distinguir também a globalização

econômica, realizada pelas transnacionais, da globalização da cidadania. Ambas se

utilizam da mesma base tecnológica, mas com lógicas opostas.

3.2 Uma Grande Oportunidade para os Sistemas de Ensino

A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável se constitui numa

grande oportunidade para a renovação dos currículos dos sistemas formais de

Page 13: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

12

educação. O apelo do documento das Nações Unidas é, sobretudo, para os “Estados

membros”. O documento resgata a história de lutas por uma cultura da

sustentabilidade, desde Estocolmo (1972), passando pelo Nosso Futuro Comum

(1987), pela Rio-92, pelo Fórum de Educação de Dakar (2000) e pelos Objetivos do

Milênio (2002).

A Década representa um meio de implementação do capítulo 36 da Agenda 21,

buscando reorientar e potencializar políticas e programas educativos já existentes

como o da educação ambiental e iniciativas como a da Carta da Terra. O capítulo 36

da Agenda 21 enfatiza que a educação é um “fator crítico” para promover o

desenvolvimento sustentável e para desenvolver a capacidade das pessoas no que

se refere às questões do meio ambiente e do desenvolvimento. O mesmo capítulo

identifica quatro desafios básicos para implementar uma EDS: melhorar a educação

básica, reorientar a educação existente para alcançar o desenvolvimento sustentável,

desenvolver a compreensão pública, o conhecimento e a formação (GADOTTI,2008).

A educação para o desenvolvimento sustentável, apesar de sua ambiguidade, é

uma visão positiva do futuro da humanidade, um consenso apoiado por uma grande

maioria. Com o aquecimento global, a Década tornou-se ainda mais atual, e pode

contribuir para a compreensão das grandes crises atuais (água, alimento, energia

etc.).

4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONCEITOS, SIGNIFICADOS E

INTERPRETAÇÕES

O termo “desenvolvimento sustentável” surgiu a partir de estudos da

Organização das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, como uma resposta

para a humanidade perante a crise social e ambiental pela qual o mundo passava a

partir da segunda metade do século XX. Na Comissão Mundial para o Meio Ambiente

e o desenvolvimento (CMMAD), também conhecida como Comissão de Brundtland,

presidida pela norueguesa Gro Haalen Brundtland, no processo preparatório a

Conferência das Nações Unidas – também chamada de “Rio 92” foi desenvolvido um

relatório que ficou conhecido como “Nosso Futuro Comum”. Tal relatório contém

informações colhidas pela comissão ao longo de três anos de pesquisa e análise,

Page 14: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

13

destacando-se as questões sociais, principalmente no que se refere ao uso da terra,

sua ocupação, suprimento de água, abrigo e serviços sociais, educativos e sanitários,

além de administração do crescimento urbano (BARBOSA, 2008).

O relatório Brundland considera que a pobreza generalizada não é mais

inevitável e que o desenvolvimento de uma cidade deve privilegiar o atendimento das

necessidades básicas de todos e oferecer oportunidades de melhoria de qualidade de

vida para a população. Um dos principais conceitos debatidos pelo relatório foi o de

“equidade” como condição para que haja a participação efetiva da sociedade na

tomada de decisões, através de processos democráticos, para o desenvolvimento

urbano (BARBOSA, 2008).

Não é esperado que toda uma Nação se conscientize de seu papel essencial

no quadro ambiental e social mundial. Apesar disso, as diversas discussões sobre o

termo “desenvolvimento sustentável” abrem à questão de que é possível desenvolver

sem destruir o meio ambiente.

O Direito Ambiental deve ser firmado em princípios e normas específicas, que

têm como premissa buscar uma relação equilibrada entre o homem e a natureza ao

regular todas as atividades que possam afetar o meio ambiente. O fato de que o

desenvolvimento sustentável tenha respaldo na comunidade brasileira e poder,

através do Direito Ambiental, fazer parte de uma disciplina jurídica, torna o termo

capaz de definir um novo modelo de desenvolvimento para o país (BARBOSA, 2008).

4.1 Críticas e Objeções ao Desenvolvimento Sustentável

A expressão “desenvolvimento sustentável” se tornou popular após a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada

no Rio de Janeiro, em 1992, embora já estivesse presente, com diferentes

denominações, desde a Conferência de Estocolmo, de 1972.

A definição de desenvolvimento sustentável da Comissão Brundtand, de 1987,

passou a ser citada em praticamente todos os documentos oficiais da ONU e suas

agências, como a Unesco, Pnuma, Pnud, Unido e Unctad, em documentos oficiais de

entidades intergovernamentais, como OMC, OMS e Banco Mundial, em leis nacionais

e subnacionais, em documentos de empresas e ONGs, e já faz parte do repertório de

pessoas mais esclarecidas do público em geral. Hoje, é crescente o número de

empresas que a colocam em suas missões e declarações. A adesão foi tanta e tão

Page 15: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

14

rápida que não é exagero afirmar que se trata de verdadeiro sucesso em termos de

popularidade. Mas também não são poucos os que se manifestaram contrários à ideia

de desenvolvimento sustentável.

Com efeito, nas medidas de mitigação dos problemas socioambientais, as ações

de educação ambiental são convocadas para provocar o encontro harmonioso entre

os “cidadãos” expropriados e os grandes empreendimentos econômicos. As

resistências verificadas no IBAMA e no ICMBio são trincheiras e ações localizadas

que provocam correções, ajustes, revisões, mudanças de rota de gasodutos,

indenização a pescadores e outros atingidos. Entretanto, as medidas de educação

ambiental exigidas pelo órgão fiscalizador, ainda que a favor das populações afetadas,

são efetivadas, via de regra, por parcerias público-privadas com organizações que,

contraditoriamente, dependem do financiamento da empresa que o órgão público está

interpelando. As tensões são inevitáveis, visto que o setor público exige a mitigação

dos efeitos das ações provocadas pela empresa que financiará o programa de

educação ambiental. É uma relação que, a despeito da correção, ética e disposição

crítica da ONG (ou mesmo do grupo universitário), torna o futuro do trabalho crítico

incerto e vulnerável às pressões mais ou menos sutis das empresas. Ademais, como

é possível constatar nos grandes empreendimentos, essas medidas corretivas são

rapidamente internalizadas nos custos dos produtos e serviços ou, então, têm seus

cursos absorvidos pelo Estado, em nome da preservação ambiental. No cômputo

geral, é um ambiente inóspito para vicejar o pensamento crítico, passível de ser

adensado teoricamente e sistematizado (LEHER, 2016).

De fato, a educação ambiental crítica não pode ser nutrida teórica e

politicamente, de modo endógeno, no âmbito do Estado.

Se a educação ambiental crítica encontra dificuldade de se desenvolver, teórica

e praticamente, nos conflitos advindos do processo de licenciamento de grandes

empreendimentos, é necessário indagar se nas escolas públicas está sendo possível

tal adensamento teórico-prático. Um exame dos programas governamentais,

parcerias com empresas, experiências escolares e de formação docente, confirma

que a perspectiva crítica se desenvolve em um ambiente educacional francamente

hostil. Com efeito, a incorporação, nas diversas esferas do Estado, da agenda

empresarial veiculada pelo Todos pela Educação, pela coalizão ultraconservadora

Escola Sem Partido, pelas entidades sindicais patronais (Sistema S), pelas

corporações (Vale S.A., Gerdau...) e pelas entidades empresariais do agronegócio

Page 16: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

15

(Associação Brasileira do Agronegócio), torna quase que estéril o solo para vicejar a

educação ambiental inscrita na perspectiva histórico-crítica e libertária. O controle do

capital sobre a educação básica busca pasteurizar, por meio de seu moinho triturador,

todas as práticas educativas críticas nas escolas (LEHER, 2016).

Ademais, em virtude da presença de movimentos sociais que reivindicam a

perspectiva crítica, os intelectuais do capital chegam a se valer até mesmo do léxico

pós-moderno para assimilar e esvaziar as proposições emancipatórias de seus

sentidos anticapitalistas produzidos nas lutas de classes. É necessário, por

conseguinte, dialogar com a produção do conhecimento decorrente das lutas contra o

despojo e de seus nexos com espaços de produção de conhecimento científico

referenciado em uma ética pública.

A retomada do crescimento com um objetivo do desenvolvimento sustentável

tanto suscita críticas e desconfianças por diversas razões quanto aplausos e

regozijos. No entanto, foi a menção à retomada do crescimento que trouxe

popularidade ao desenvolvimento sustentável entre os políticos profissionais de modo

geral, pois o crescimento econômico sempre foi bandeira fácil de carregar e de render

votos.

Para os governantes, o crescimento econômico gera impostos e uma gestão

mais tranquila, pois aumenta a possibilidade de atender às demandas de diversos

setores da sociedade, além do fato de que uma economia em crescimento gera menos

greves e necessidades de recursos para atender desempregados. Um político que

propõe em sua plataforma reduzir o crescimento econômico certamente teria uma vida

política curta. (BARBIERI e SILVA, 2011).

4.2 Educação e sustentabilidade

A forma de educação que, em nível mundial, está sendo preconizada para

enfrentar o desafio de construção de sociedades sustentáveis é a Educação para o

Desenvolvimento Sustentável (EDS) ou a Educação para a Sustentabilidade (EpS).

Page 17: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

16

Fonte: www.ver.pt

Essa forma de educação passou a ser preconizada internacionalmente pela

Organização das Nações Unidas (ONU) a partir de 2002 e tem como meta beneficiar

as pessoas com uma educação em que seus valores e comportamentos possam gerar

e gerir sociedades sustentáveis.

À medida que os debates a respeito da sustentabilidade se aprofundam e

envolvem cada vez mais pessoas, instituições e organizações da sociedade civil,

compreendemos que a solução dos problemas ecológicos é complexa. Aos poucos,

percebemos que sem uma mudança de paradigma certamente não seremos capazes

de encontrar alternativas razoáveis aos grandes desafios que a crise ecológica impõe

à sociedade global (TROMBETTA, 2014).

Essa abordagem de desenvolvimento sustentável discute as desigualdades

econômicas e sociais entre os diferentes países como uma das causas da degradação

ambiental e propõe políticas para o enfrentamento desses problemas. No entanto,

podemos observar que as estratégias propostas para substituir os atuais processos

de crescimento econômico pelo desenvolvimento sustentável dizem respeito a

modificações nas políticas de desenvolvimento, a mudanças nos processos de

desenvolvimento econômico da sociedade atual. Em nenhum momento questiona-se

o modelo de desenvolvimento em si, mas suas estratégias. Assim, desenvolvimento

sustentável diz respeito a uma forma de crescimento econômico das nações que

levam em conta o comprometimento dos recursos naturais para as futuras gerações.

A nova ordem internacional a que ele se refere seria controlar a exploração dos

Page 18: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

17

recursos naturais em níveis suportáveis em todo mundo. Em resumo, a proposta de

desenvolvimento sustentável é de crescimento econômico com controle ambiental. A

desigualdade é tratada como um desajuste a ser superado pela universalização do

desenvolvimento econômico, porém com sustentabilidade (DE CAMPOS TOZONI-

REIS, 2011).

Apesar desse aspecto, a influência do conceito de desenvolvimento sustentável

manteve-se amparada principalmente no âmbito das políticas nacionais e

internacionais. O Banco Mundial lançou em 1992 um relatório sobre desenvolvimento

e meio ambiente, em que deixou clara sua postura neomalthusiana, afirmando que,

apesar dos conflitos entre crescimento econômico e qualidade ambiental, é possível

encontrar caminhos para adequar o modelo de crescimento econômico ao bem

comum.

5 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NO BRASI L1

Conhecer a biodiversidade brasileira é uma condição fundamental para a

elaboração e o aperfeiçoamento de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento

sustentável de nosso país. Ao se abordar a temática da biodiversidade, faz-se

necessária uma breve definição do termo.

Fonte: www.luciacangussu.bio.br

1 Texto extraído do site:

http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/livros/livro07_sustentabilidadeambienta.pdf

Page 19: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

18

A relevância desse tema se traduz na decisão, pela Assembleia-Geral da

Organização das Nações Unidas (ONU), de declarar 2010 como o Ano Internacional

da Biodiversidade, com o objetivo precípuo de aumentar a consciência sobre a

importância da preservação da biodiversidade em todo o mundo, assim como destacar

sua influência na qualidade de vida humana e dinamizar iniciativas de redução da sua

perda (CARDOSO JR, 2010).

A diversidade dentro de espécies abrange toda a variação de indivíduos de uma

população, bem como entre populações distintas de uma mesma espécie. Embora

essa definição pudesse incluir outros aspectos, tais como diversidade morfológica e

comportamental, entre outras, na prática, vem sendo tratada como equivalente à

diversidade genética.

A diversidade entre espécies, por sua vez, refere-se usualmente ao número de

espécies (riqueza) presentes em determinado tipo de ambiente ou região de interesse

– por exemplo, o Brasil. Ainda como apontado por esses autores, a diversidade de

ecossistemas é mais ambígua que as outras categorias relacionadas na CDB e, em

termos práticos, vem sendo abordada como a diversidade de fisionomias de

vegetação, de paisagens ou de biomas (CARDOSO JR, 2010).

5.1 O Nível Genético

A diversidade genética está na base dos processos ecológico-evolutivos, que

determinam, em última instância, a constituição dos níveis superiores (espécies e

ecossistemas). A manutenção da composição intraespecífica de alelos (diferentes

versões de um mesmo gene) é tão importante quanto a conservação de espécies ou

ecossistemas. Essa composição pode variar muito entre os indivíduos de uma mesma

população ou entre populações diferentes de uma mesma espécie. Isso significa que

em uma população com 100 irmãos ou primos espera-se encontrar menos

biodiversidade do que em uma com indivíduos não aparentados.

Conservar a variabilidade intraespecífica é importante dos pontos de vista ético

e estético, mas também por motivos mais pragmáticos.

A baixa diversidade genética compromete a viabilidade de populações em longo

prazo, pois diminui sua capacidade de adaptação a mudanças ambientais e sua

resiliência a estresses bióticos ou abióticos – como ataques de patógenos ou períodos

muito quentes. Uma população geneticamente homogênea, ainda que grande,

Page 20: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

19

sempre possui maior risco de extinção, pois pode ter todos os seus indivíduos

dizimados por uma mesma doença, por exemplo.

Uma vez que a perda de hábitats e a fragmentação são as maiores responsáveis

pela redução da diversidade genética, investir no desenvolvimento de técnicas de

manejo em paisagens fragmentadas reveste-se de uma importância evidente. Sabe-

se, por exemplo, que a persistência de populações em paisagens fragmentadas é

criticamente dependente da manutenção da conectividade entre fragmentos, o que

diminui o isolamento (CARDOSO JR, 2010).

Pesquisas sobre a ecologia e a genética de populações mostram-se

fundamentais, pois o desconhecimento do poder de dispersão das espécies de

interesse, assim como da sua estrutura genética populacional antes da fragmentação,

pode ser um sério empecilho à sua conservação. Estudos com anfíbios e aves

mostram que a erosão genética não ocorre imediatamente após o processo de

fragmentação. Assim, a preservação de fragmentos onde a deriva genética e a

endogamia ainda não são pronunciadas pode ser crítica para a manutenção da

diversidade genética e viabilidade das populações em uma determinada região.

Apesar de poucos projetos terem abordado efeitos temporais da fragmentação, os

resultados indicam que diferentes estratégias devem ser adotadas de acordo com a

idade dos fragmentos (CARDOSO JR, 2010).

5.2 Nível De Espécies

A diversidade é um dos aspectos mais fascinantes do mundo vivo. Nos últimos

300 anos, a partir das viagens de exploração – a mais célebre certamente foi a de

Darwin a bordo do Beagle – o conhecimento sobre a diversidade da vida cresceu

exponencialmente. Fundamentais à sua consolidação foram as teorias sobre a

definição biológica de espécie. Ainda que não seja um consenso, já que atualmente

há diversas definições para a espécie, o conceito proposto por Mayr (1999)

fundamenta-se em três premissas:

A espécie é um grupo de populações naturais reprodutivamente isolado de

outros grupos semelhantes;

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20

Considerando seu isolamento reprodutivo, todos os processos evolutivos que

ocorram em uma determinada espécie restringem-se a ela e a seus

descendentes: a espécie seria a moeda da evolução biológica; e

A espécie é também a unidade básica em ecologia e nenhum ecossistema será

compreendido de forma plena sem que se conheçam as espécies que o

integram e suas respectivas interações. Dessa maneira, a diversidade – ou

riqueza – de espécies traduz-se em inestimável patrimônio sob os pontos de

vista evolutivo, ecológico e econômico (CARDOSO JR, 2010).

A tarefa de apresentar um diagnóstico do estado da biodiversidade brasileira em

nível de espécies é gigantesca, considerando sua acentuada riqueza e, ao mesmo

tempo, a magnitude daquilo que ainda falta ser conhecido. O estudo mais abrangente

até o momento, no que se refere à síntese do conhecimento atual, foi realizado no

âmbito do projeto Estratégia Nacional da Biodiversidade, do MMA. A partir de

informações obtidas de especialistas nos grupos taxonômicos mais bem conhecidos

e catalogados, estimou-se que o país teria, em média, cerca de 13% do total mundial

desses grupos, algo entre 168.640 e 212.650 espécies.

Enquanto para organismos maiores da biota vegetal e animal a aplicação dos

métodos tradicionais de classificação possibilita a identificação da espécie, para os

microrganismos é comum que a caracterização taxonômica seja feita apenas em nível

de gênero, o que traz restrições às estimativas de riqueza de espécies para a

microbiota. Sob o aspecto de estudo da diversidade, há ainda limitações associadas

à grande variabilidade genética registrada em microrganismos em ambiente natural

(não cultivados em laboratório). Dessa maneira, antes da abordagem sobre o estado

de conhecimento da flora e da fauna, apresentam-se aspectos singulares acerca da

diversidade e da conservação da microbiota (CARDOSO JR, 2010).

Microrganismos são seres vivos unicelulares microscópicos, incluindo bactérias,

arqueas, fungos, protozoários e vírus. Sua importância ecológica e econômica é

fundamental: toda a cadeia da vida no planeta, assim como parte significativa das

atividades econômicas, depende dos processos por eles realizados, destacando-se

atividades de fotossíntese, ciclagem de nutrientes, manutenção da fertilidade e

estrutura de solos e processos industriais em diversos setores, destacando-se os de

química, papel e celulose, alimentos e bebidas. Além disso, microrganismos

desempenham papel fundamental no tratamento de efluentes industriais, esgotos e

Page 22: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

21

resíduos sólidos. O isolamento e o cultivo de microrganismos em laboratório

respondem também por considerável parcela das inovações nas áreas médica,

biotecnológica e ambiental. A despeito de sua importância, há uma significativa

defasagem no conhecimento de sua diversidade em relação a outros grupos, tais

como animais e plantas superiores. Em nível mundial, estima-se que tenham sido

descritos cerca de 5% das espécies estimadas de fungos, 0,1% a 12% dos procariotos

(arqueas e bactérias), 31% dos protozoários e 4% dos vírus. Como o conhecimento

sobre a diversidade desses grupos no Brasil é ainda incipiente, presume-se que

também há um vasto campo propício à descoberta de novas espécies (CARDOSO

JR, 2010).

Os invertebrados respondem por 95% das espécies animais hoje viventes e o

número de espécimes tombados em coleção brasileira é quase oito vezes maior que

o total de vertebrados. Ainda que a maioria dos filos seja total ou parcialmente

marinha, os invertebrados terrestres destacam-se pela sua riqueza e suas

importâncias ecológica e econômica. Há filos numerosos, como o Arthropoda,9 que

inclui aproximadamente 1,5 milhão de espécies já descritas e estudos recentes

estimam que esse total pode alcançar até quarenta vezes o número atualmente

conhecido.

Avaliado de forma resumida o estado de conhecimento da biodiversidade,

busca-se a seguir apresentar o nível de proteção – e por consequência de ameaça –

a que estão sujeitas as espécies brasileiras.

5.3 Estado da Conservação da Flora e da Fauna

A primeira lista oficial brasileira das espécies de plantas ameaçadas de extinção

data de 1968, tendo sido identificadas 13 espécies de plantas, sendo que metade era

de orquídeas. Em 1980, houve a segunda atualização, com o acréscimo de apenas

uma espécie. A terceira atualização veio após 12 anos, em janeiro de 1992; poucos

meses depois, em abril, ocorreu a quarta atualização, com o acréscimo de apenas

uma planta. A partir daquele ano, incluíram-se nessa lista espécies de biomas

diversos à Mata Atlântica, refletindo o processo de ocupação dos estados da

Amazônia e dos cerrados do Centro-Oeste. Desde então, a quantidade de espécies

ameaçadas praticamente aumentou dez vezes. Apenas recentemente, em 2008, a

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22

lista de plantas superiores foi novamente atualizada, listando 472 espécies

ameaçadas de extinção e 1.079 com deficiência de dados.

5.4 Os Principais Ecossistemas Brasileiros

O Brasil possui uma grande diversidade de ecossistemas. Quase todo o seu

território está situado na zona tropical. Por isso, nosso país recebe grande quantidade

de calor durante todo o ano, o que favorece essa grande diversidade. Veja, no mapa

a seguir, exemplos dos principais ecossistemas encontrados no Brasil.

Fonte: www.estudokids.com.br

Floresta Amazônica

Estende-se além do território nacional, com chuvas frequentes e abundantes.

Apresenta flora exuberante, com espécies, como a seringueira, o guaraná, a vitória-

régia, e é habitada por inúmeras espécies de animais, como o peixe-boi, o boto, o

Page 24: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

23

pirarucu, a arara. Para termos uma ideia da riqueza da biodiversidade desses

ecossistemas, ele apresenta, até o momento, 1,5 milhão de espécies de vegetais

identificadas por cientistas.

Fonte: www.fatosdesconhecidos.com.br

Com uma área de aproximadamente 5,5 milhões de km², a Floresta

Amazônica é a principal cobertura vegetal do Brasil, ocupando 45% do nosso

território, além de espaços de mais nove países, sendo também a maior floresta

tropical do mundo. É chamada de Floresta latifoliada equatorial.

A Floresta Amazônica caracteriza-se por ser heterogênea, havendo um elevado

quantitativo de espécies, com cerca de 2500 tipos de árvores e mais de 30 mil tipos

de plantas. Além disso, ela é perene, ou seja, permanece verde durante todo o ano,

não perdendo as suas folhas no outono. Apresenta uma densidade elevada, o que é

propício ao grande número de árvores por m².

Costuma-se classificar essa floresta conforme a proximidade dos cursos d’água.

Dessa forma, existem três subtipos principais: mata de igapó, mata de várzea e mata

de terra firme.

Page 25: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

24

Mata de Igapó

Também chamada de floresta alagada, a mata de igapó caracteriza-se por se

localizar muito próxima aos rios, estando permanentemente inundada. Apresenta

plantas de pequeno porte em comparação ao restante da vegetação da Amazônia e

que costumam ser hidrófilas, ou seja, adaptadas à umidade. Possui, em geral, raízes

elevadas que acompanham os troncos.

Fonte: www.infoescola.com

Mata de Várzea

Assim como a mata de igapó, a várzea também sofre com as inundações, porém

apenas no período das cheias dos grandes rios, por se encontrar em áreas um pouco

mais elevadas.

Page 26: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

25

Fonte: meioambiente.culturamix.com

É uma mata muito fechada, com elevada densidade, árvores altas (em média

20m de altura) e, em geral, com galhos espinhosos, o que dificulta o seu acesso. As

espécies mais conhecidas são o Jatobá e a Seringueira, essa última muito usada na

extração de látex, a matéria-prima da borracha.

Mata de Terra Firme

Também chamada de caetê, a mata de terra firme caracteriza-se por se

encontrar relativamente distante dos grandes cursos d’água, localizando-se em

planaltos sedimentares. Em razão disso, não costuma ser alvo de inundações,

recobrindo a maior parte da floresta e apresentando as maiores médias de altura

(algumas árvores chegam a alcançar os 60m).

Page 27: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

26

Fonte: cristalinolodge.com.br

A importância da Floresta Amazônica reside, principalmente, em sua função

ambiental. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, ela não é o “pulmão do

mundo”, pois o oxigênio por ela produzido é consumido pela própria floresta. Sua

importância ambiental reside no controle das temperaturas, graças ao aumento da

umidade, que é resultado da constante evapotranspiração da floresta, produzindo

massas de ar úmido para todo o continente sul-americano, os chamados Rios

Voadores.

É importante não confundir o Bioma Amazônia com a Floresta Amazônica. O

primeiro termo refere-se às características gerais que envolvem a mata, os animais,

os rios, os solos e a flora, o segundo limita-se às características da floresta.

Page 28: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

27

Fonte: www.sobiologia.com.brp

Mata de Cocais

A mata de cocais situa-se entre a floresta amazônica e a caatinga. São matas

de carnaúba, babaçu, buriti e outras palmeiras. Vários tipos de animais habitam esse

ecossistema, como a arara canga e o macaco cuxiú.

A Mata dos Cocais é um tipo de cobertura vegetal situada entre as florestas

úmidas da região Norte e as terras semiáridas do Nordeste do Brasil, sendo uma zona

de transição entre os biomas Caatinga, Floresta Amazônica e Cerrado. Abrange

predominantemente o Meio-Norte (sub-região formada pelos estados do Maranhão e

Piauí), mas também se estende pelos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e

Tocantins.

Influenciado pela sua localização, esse bioma possui três tipos de

climas: equatorial úmido - quente e chuvoso, predominando em menos de 20% do

bioma; tropical semiúmido - predomina em mais de 65%, com estações secas e

úmidas bem definidas e temperaturas médias elevadas; tropical semiárido – quente e

seco, com chuvas escassas e irregulares, predomina em 15% do bioma.

A Mata dos Cocais se formou ocupando lacunas de outras formações vegetais

(cerrados e florestas amazonenses), que foram desmatadas para criação de pasto e

exploração de madeira. Seu solo é rico em minérios como: ferro, ouro,

diamante, bauxita, alumínio e níquel. Uma característica interessante é que o solo, na

Page 29: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

28

região dos cocais, possui um lençol freático pouco profundo, permanecendo úmido o

ano inteiro.

Fonte: educacao.uol.com.br

A vegetação da Mata dos Cocais é dominada pela palmeira babaçu (sendo a

mais importante a Orbignya speciosa), que predomina nos locais mais úmidos como

o Maranhão, norte do Tocantins e oeste do Piauí. Na área menos úmida, que abrange

o leste do Piauí e litorais do Ceará e Rio Grande do Norte, predomina a palmeira

carnaúba (Copernicia cerifera). As outras principais palmeiras são o buriti (Mauritia

flexuosa) e a oiticica (Licania rigida). Uma grande quantidade de arbustos e

vegetações de pequeno porte também são encontradas nos locais de menores

altitudes.

O babaçu chega a atingir 20 metros de altura e uma árvore pode produzir até

2.000 frutos (cocos) por ano. Dentro dos frutos existem as amêndoas, das quais é

extraído um óleo muito utilizado em diversas indústrias (alimentícias, farmacêuticas,

químicas, etc.). Outras partes do coco também são aproveitadas, como o epicarpo

(camada externa), que é utilizado na produção de estofados, embalagens, vasos,

placas, etc.

A carnaúba também é utilizada de várias formas. O uso mais importante é a

extração da cera de suas folhas, que é utilizada na fabricação de diversos produtos.

Page 30: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

29

Assim, a Mata dos Cocais representa uma importante fonte de renda para a população

local. (CARDOSO JR, 2009).

A fauna nesse bioma é muito diversa, destacando-se a arara-vermelha, gavião-

real, jaguatirica, lobo-guará, macaco cuxiú (endêmico do Brasil) e outras muitas

espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Nos rios vivem a ariranha, o boto, o

acará-bandeira (peixe), entre outros.

A Mata dos Cocais está sendo prejudicada pelo desmatamento desordenado

para desenvolvimento da pecuária e cultura de soja. Além disso, a extração de

minerais que ocorre nesse ambiente acaba por fragilizá-lo ainda mais.

Mata Atlântica

Com uma área de 1.110.182 km2, o bioma Mata Atlântica10 é um complexo

ambiental que incorpora cadeias de montanhas, platôs, vales e planícies ao longo de

toda a faixa continental atlântica brasileira, avançando em direção ao interior do Brasil

nas regiões sudeste e sul (CARDOSO JR, 2009).

Essa enorme biodiversidade é resultado, em grande parte, da ampla gama de

latitudes pela qual a Mata Atlântica se distribui (27º de 3ºS a 30ºS), das grandes

variações em altitude (desde o nível do mar até 2.700 m, nas montanhas da

Mantiqueira e Caparaó, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, do Rio de Janeiro e

do Espírito Santo) e dos regimes climáticos diversos presentes ao longo de sua

extensão – desde regimes subúmidos e estações secas no Nordeste até áreas que

atingem 4 mil mm/ano de pluviosidade, nas montanhas da Serra do Mar.

A cobertura vegetal da Mata Atlântica começou a ser mapeada utilizando-se a

análise de imagens de satélite no início da década de 1990, em um trabalho conjunto

entre a organização não governamental SOS Mata Atlântica e o Inpe. Desde então,

as duas instituições têm publicado regularmente um atlas contendo informações sobre

a dinâmica da vegetação da Mata Atlântica – desmatamentos, fragmentação e, mais

recentemente, regeneração. A quinta e última edição, correspondente ao período

2005-2008, foi lançada em 2009 (CARDOSO JR, 2009).

Unidades de conservação podem ser consideradas como fragmentos de habitat

natural em um bioma altamente modificado pela ação humana, como é o caso da Mata

Atlântica – mas também de outros biomas já bastante desflorestados e alterados,

como a Caatinga e o Cerrado. A descontinuidade que existe entre as UCs, preenchida

Page 31: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

30

por uma paisagem antropizada constituída por áreas urbanas, industriais e rurais,

áreas degradadas e em regeneração, bem como as características dos

remanescentes da paisagem natural (por exemplo, tamanho, perímetro e grau de

isolamento – distância – em relação a fragmentos adjacentes) têm implicações

importantes em relação à capacidade desses fragmentos conservarem a

biodiversidade

Pantanal

Com uma área total de 150.355 km2, o bioma Pantanal está inserido na Bacia

do Alto Paraguai e abrange no Brasil parte dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso

do Sul. Seus limites coincidem com a chamada “Planície do Pantanal” ou “Pantanal

Mato-grossense”, que representa a parte mais baixa da bacia hidrográfica e é também

a maior superfície interiorana inundável do mundo (IBGE, 2004a).

Considerando-se sua reduzida área em relação aos demais biomas brasileiros,

a riqueza de espécies do Pantanal pode ser considerada elevada, embora haja na

região um baixo número de endemismos.

A principal atividade econômica no Pantanal é a pecuária bovina de corte,

realizada de forma extensiva em pastagens naturais. O gado foi introduzido em

fazendas no Pantanal a partir de 1740, o que foi favorecido por extensas áreas de

campo nativo. Porém, foi somente a partir de 1914, com a criação da Estrada de Ferro

Noroeste do Brasil – de Bauru a Corumbá –, que a pecuária entrou no circuito

nacional.

Por se tratar de um bioma altamente influenciado pelo regime hídrico, qualquer

intervenção humana que altere os ciclos hidrológicos naturais poderá colocar em risco

a biodiversidade, as populações humanas e as atividades econômicas estabelecidas

na região. Nesse sentido, as maiores ameaças ao bioma referem-se à execução de

dragagens, à construção de diques e barragens ao longo da planície do Pantanal, ou

mesmo no planalto adjacente, pertencente à Bacia do Alto Paraguai, onde estão

localizadas as cabeceiras de diversos rios que compõem a bacia pantaneira.

Page 32: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

31

Fonte: www.vix.com

O bioma Pantanal conta com apenas cinco UCs, o menor número e o que

proporcionalmente tem a menor cobertura por UCs entre os biomas continentais

brasileiros. São duas UCs federais e três estaduais, todas de proteção integral, cuja

área total soma aproximadamente 440 mil ha, o que corresponde a 2,9% da área do

bioma. As duas UCs federais, o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense

(135.600 ha) e a Estação Ecológica do Taiamã (14.300 ha), foram criadas em 1981.

Em 2000 o Mato Grosso do Sul criou o Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro

(77 mil ha) e na década atual o Mato Grosso constituiu suas duas unidades, o Parque

Estadual do Guirá (103 mil ha) e o Monumento Natural Estadual Morro de Santo

Antônio (258 ha).

Campos Sulinos

No Brasil, o bioma Campos Sulinos abrange parte do território do Rio Grande do

Sul. São cerca de 170 mil Km2. Além das fronteiras do país, ele se estende por terras

do Uruguai e da Argentina.

Os campos sulinos são também conhecidos como pampas, palavra de origem

indígena que quer dizer “região plana”. Na verdade, os pampas são apenas um

Page 33: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

32

pedaço das terras dos campos sulinos. O bioma engloba também campos mais altos

e algumas áreas semelhantes a savanas.

Nos campos do Sul já foram encontradas 102 espécies de mamíferos, 476 de

aves e 50 de peixes.

Para que você possa imaginar como é a fauna deste bioma, vamos citar alguns

de seus integrantes. No grupo dos mamíferos, podemos citar o tatu, o guaxinim, o

zorrilho, o graxaim (Pseudalopex gymnocercus) e outras duas espécies em risco de

extinção: o gato-dos-pampas ou gato palheiro (Leopardus pajeros) e a preguiça-de-

coleira.

Fonte: www.emaze.com

Entre as aves mais comuns estão o cisne-de-pescoço-preto, o marreco, a perdiz,

o quero-quero, o pica-pau do campo e a coruja-buraqueira, que ganhou este nome

por fazer seus ninhos em buracos cavados no solo.

Fazem parte das 50 espécies de peixes catalogadas o lambari-listrado, o

lambari-azul, o tambuatá, o surubim e o cação-anjo.

E por lá existem também répteis e insetos. No primeiro grupo está a tartaruga-

verde-e-amarela, a jararaca-do-banhado, a cobra-cipó e o cágado-de-barbicha. Entre

Page 34: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

33

os insetos, podemos destacar a vespa da madeira e o conhecido bicho-da-maçã,

também chamado traça-das-frutas.

São chamados de pampas os campos mais planos que estão localizados ao sul

do estado do Rio Grande do Sul. Neles existe uma vegetação campestre, que parece

um imenso tapete verde. Nos pampas predominam espécies que medem até um

metro de altura. São comuns as gramíneas, que às vezes transformam os campos em

grandes capinzais.

Nos pampas a vegetação pode, então, ser considerada rala e pobre em

espécies. Ela vai se tornando mais rica nas proximidades de áreas mais altas. Nas

encostas de planaltos, existem matas com grandes pinheiros e outras árvores, como

a Cabreúva, a grápia, a caroba, o angico-vermelho e o cedro. Nestas regiões,

chamadas de campos altos, é encontrada a Mata de Araucária, onde a espécie vegetal

predominante é o pinheiro-do-paraná.

Próximo ao litoral, a paisagem é marcada pela presença de banhados,

ambientes alagados onde aparecem juncos, gravatás e aguapés. O mais conhecido

banhado é o de Taim, onde foi criada, em 1998, uma estação ecológica administrada

pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis) para preservação de tão importante ecossistema.

Na região dos pampas o solo é fértil. Por isso, estes campos são normalmente

procurados para desenvolvimento de atividades agrícolas.

Ainda mais férteis são as áreas com solo do tipo "terra roxa", batizado assim

devido ao nome que receberam dos italianos que vieram para o Brasil trabalhar na

lavoura. Por causa de sua cor avermelhada, eles chamavam o solo de terra

rossa, pois em italiano, rosso é vermelho. Só que quem começou a chamar de terra

roxa não sabia italiano e acabou confundindo rosso com roxo por conta do som da

palavra.

Em áreas de planalto os solos são também avermelhados, mas não possuem a

fertilidade da terra roxa. Na planície litorânea o solo é bastante arenoso.

Algumas áreas dos pampas estão sofrendo processo de desertificação, devido

à retirada da vegetação nativa e sua substituição por monoculturas ou pastos.

O relevo nos campos sulinos é suavemente ondulado. Predominam planícies,

mas podem ser encontradas algumas colinas, na região conhecidas como “coxilhas”.

Page 35: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

34

Além das coxilhas existem também alguns planaltos. Cavernas e grutas são

comuns. A pedra do Segredo, em Caçapava do Sul, tem 160 metros de altura e três

cavernas em seu interior.

Destacam-se como rios importantes deste bioma o Santa Maria, o Uruguai, o

Jacuí, o Ibicuí e o Vacacaí. Estes e outros da região se dividem em duas bacias

hidrográficas: a Costeira do Sul e a do rio da Prata. Tratam-se de rios que apresentam

boas condições para navegação, constituindo verdadeiras hidrovias na região.

Próximo ao litoral existem muitos lagos e lagoas. A Lagoa dos Patos, localizada

no município de São Lourenço do Sul, é a maior laguna do Brasil e a segunda maior

da América Latina, com 265 km de comprimento.

O clima da região é o subtropical úmido. O que isso significa? Bom, isso quer

dizer que, nos campos sulinos, os verões são quentes, os invernos são frios e chove

regularmente durante todo o ano.

Quando falamos em invernos frios, estamos falando de temperaturas que podem

registrar menos que 0º C, ou seja, que podem ser negativas. Quando falamos de

verões quentes, estamos falando de temperaturas que podem chegar a 35º C. É a

região com a maior amplitude térmica do país, isto é, onde há maior variação de

temperatura.

Caatinga

A caatinga, palavra originária do tupi-guarani, que significa “mata branca”, é o

único sistema ambiental exclusivamente brasileiro. Possui extensão territorial de

734.478 km², correspondendo a cerca de 10% do território nacional. Ela está presente

nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas,

Bahia, Piauí e norte de Minas Gerais.

Page 36: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

35

Fonte: www.ecoprimos.com.br

As temperaturas médias anuais são elevadas, oscilam entre 25°C e 29°C. O

clima é semiárido; e o solo, raso e pedregoso, é composto por vários tipos diferentes

de rochas.

A ação do homem já alterou 80% da cobertura original da caatinga, que

atualmente tem menos de 1% de sua área protegida em 36 unidades de conservação,

que não permitem a exploração de recursos naturais.

As secas são cíclicas e prolongadas, interferindo de maneira direta na vida de

uma população de, aproximadamente, 25 milhões de habitantes.

As chuvas ocorrem no início do ano e o poder de recuperação do bioma é muito

rápido, surgem pequenas plantas e as árvores ficam cobertas de folhas.

A região enfrenta também graves problemas sociais, entre eles os baixos níveis

de renda e de escolaridade, a falta de saneamento ambiental e os altos índices de

mortalidade infantil.

Desde o período imperial, tenta-se promover o desenvolvimento econômico na

caatinga, porém, a dificuldade é imensa em razão da aridez da terra e da instabilidade

das precipitações pluviométricas. A principal atividade econômica desenvolvida na

caatinga é a agropecuária. A agricultura destaca-se na região através da irrigação

Page 37: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

36

artificial, possibilitada pela construção de canais e açudes. Alguns projetos de

irrigação para a agricultura comercial são desenvolvidos no médio vale do São

Francisco, o principal rio da região, juntamente ao Parnaíba.

Vegetação – As plantas da caatinga são xerófilas, ou seja, adaptadas ao clima

seco e à pouca quantidade de água. Algumas armazenam água, outras possuem

raízes superficiais para captar o máximo de água da chuva. E há as que contam com

recursos para diminuir a transpiração, como espinhos e poucas folhas. A vegetação é

formada por três estratos: o arbóreo, com árvores de 8 a 12 metros de altura; o

arbustivo, com vegetação de 2 a 5 metros; e o herbáceo, abaixo de 2 metros. Entre

as espécies mais comuns estão a amburana, o umbuzeiro e o mandacaru. Algumas

dessas plantas podem produzir cera, fibra, óleo vegetal e, principalmente, frutas.

Fauna – A fauna da caatinga é bem diversificada, composta por répteis

(principalmente lagartos e cobras), roedores, insetos, aracnídeos, cachorro-do-mato,

arara-azul (ameaçada de extinção), sapo-cururu, asa branca, cutia, gambá, preá,

veado-catingueiro, tatupeba, sagui-do-nordeste, entre outros animais.

A primeira área protegida criada no bioma foi a Floresta Nacional do

AraripeApodi, no estado do Ceará, em 1946. A década de 1990 foi a que apresentou

o maior incremento em área de UCs, mas esse incremento se deveu praticamente à

criação de apenas três APAs: dunas e veredas do baixo-médio São Francisco (1

milhão de ha), pelo governo do estado da Bahia e Chapada do Araripe (0,9 milhão de

ha) e Serra do Ibiapaba (1,6 milhão de ha), pelo governo federal. Na atual década a

Bahia criou mais uma APA de grande extensão, a do Lago de Sobradinho (1,2 milhão

de ha) (gráfico 3). A maior unidade de conservação de proteção integral do bioma

Caatinga é o Parque Nacional da Chapada Diamantina, no estado da Bahia, com

cerca de 150 mil ha. Das 67 UCs do bioma, 20 têm área entre 10.001 e 100.000 ha,

21 têm área entre 1.001 e 10.000 ha e 19 têm área menor do que 1.000 ha.

Zona Costeira

Conforme mencionado, a Zona Costeira e Marinha tem sido tratada como um

“sétimo bioma” brasileiro no âmbito das políticas governamentais, especialmente as

ambientais, embora a definição oficial de bioma, baseada na distribuição contígua da

Page 38: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

37

vegetação, não lhe seja aplicável. A Zona Costeira e Marinha é a fusão de conceitos,

ações e políticas relacionadas à gestão e do ordenamento territorial, e ao

reconhecimento da soberania nacional sobre recursos econômicos marinhos

(CARDOSO JR, 2010).

A Zona Costeira e Marinha (ZCM) acompanha os mais de 8 mil quilômetros da

costa brasileira e abriga uma grande diversidade de ambientes, como estuários,

praias, dunas, os únicos recifes de coral de todo o Atlântico Sul e a maior extensão

contínua de manguezais do planeta. Cinco dos seis biomas continentais brasileiros

possuem interface com a ZCM (BRASIL, 2008). Considerando aspectos físicos e

biológicos, estima-se que existam entre três e nove grandes regiões marinhas no

Brasil.

A biodiversidade marinha da costa brasileira é ainda relativamente pouco

conhecida. No caso de invertebrados bentônicos, já foram registradas pouco mais de

1.300 espécies na costa sudeste do Brasil, com elevado grau de endemismo, mas

muitas regiões e ambientes ainda precisam ser adequadamente inventariados. Para

grupos mais bem conhecidos, os peixes somam aproximadamente 750 espécies, cuja

diversidade é relativamente uniforme ao longo da costa e de baixo grau de endemismo

(CARDOSO JR, 2010).

Fonte: www.inctambtropic.org

Page 39: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

38

O nível de proteção do ambiente marinho por UCs é o mais baixo comparado

aos biomas continentais brasileiros. Apenas 1,5% da zona marinha é coberta por UCs

e esta porcentagem cai para meros 0,3% caso a área de APAs não seja contabilizada.

São ao todo 40 UCs, 22 federais e 18 estaduais, que somam 5,4 milhões de ha.

Entretanto, excluindo-se as APAs – que representam 89,4% da área de UCs de uso

sustentável –, a área protegida por UCs é de um milhão de ha (CARDOSO JR, 2010).

Com área de 35 mil ha, a unidade de conservação mais antiga da zona costeira

é a Reserva Biológica do Atol das Rocas, no litoral do Rio Grande do Norte, de 1979.

Em 1980 foi criado também o Parque Nacional de Cabo Orange, no extremo norte do

Amapá – bioma Amazônia –, com uma área de pouco mais de 600 mil ha, dos quais

aproximadamente 200 mil ha correspondem a ambientes marinhos, trecho que

constitui a maior área contínua de unidade de conservação de proteção integral

existente na zona marinha. Na década seguinte, mais cinco UCs federais de proteção

integral exclusivas à zona marinha foram criadas, com destaque para as duas

maiores, o Parque Nacional Marinho de Abrolhos (aproximadamente 90 mil ha) e o de

Fernando de Noronha (aproximadamente 11mil ha). A maior UC estadual de proteção

integral é o Parque do Parcel de Manuel Luiz, no Maranhão, criado em 1991, com 50

mil ha. Nas últimas duas décadas, apenas duas pequenas UCs de proteção integral

foram criadas, ambas pelo estado de São Paulo, cobrindo uma área de pouco mais

de 5 mil ha. Assim como nos biomas terrestres, a ênfase tem sido dada à criação de

unidades de proteção de uso sustentável, que totalizam 11 APAs (2,5 milhões de ha)

e nove reservas extrativistas marinhas (500 mil ha) (CARDOSO JR, 2010).

Restinga

A restinga é uma planície arenosa costeira, de origem marinha, incluindo a praia,

cordões arenosos, depressões entre cordões, dunas e margem de lagunas, com

vegetação adaptada às condições ambientais”.

Page 40: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

39

Fonte: www.overmundo.com.br

Sobre a restinga é possível se encontrar a vegetação de restinga, que é um

conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamente distintas, sob influência

marinha e fluviomarinha, que ocorrem distribuídas em mosaico e em áreas de grande

diversidade ecológica, sendo consideradas comunidades edáficas, por dependerem

mais da natureza do substrato que do clima.

A cobertura vegetal nas restingas pode ser encontrada em praias e dunas, sobre

cordões arenosos, e associadas a depressões. Na restinga os estágios sucessionais

diferem das formações ombrófilas e estacionais, ocorrendo notadamente de forma

mais lenta, em função do substrato que não favorece o estabelecimento inicial da

vegetação, principalmente por dissecação e ausência de nutrientes.

O corte da vegetação ocasiona uma reposição lenta, geralmente de porte e

diversidade menores, onde algumas espécies passam a predominar. Os diferentes

tipos de vegetação ocorrentes nas restingas brasileiras variam desde formações

herbáceas, passando por formações arbustivas, abertas ou fechadas, chegando a

florestas cujo dossel varia em altura, geralmente não ultrapassando os 20m. São em

geral caracterizada por comunidade com pouca riqueza, quando comparada a outras

comunidades vegetais, sendo protegidas por lei devido à sua fragilidade.

Em muitas áreas de restinga no Brasil, especialmente no sul e sudeste, ocorrem

períodos mais ou menos prolongados de inundação do solo, fator que tem grande

Page 41: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

40

influência na distribuição de algumas formações vegetacionais. A periodicidade com

que ocorre o encharcamento e a sua respectiva duração são decorrentes

principalmente da topografia do terreno, da profundidade do lençol freático e da

proximidade de corpos d’água (rios ou lagoas), produzindo em muitos casos um

mosaico de formações inundáveis e não inundáveis, com fisionomias variadas, o que

até certo ponto justifica o nome de “complexo” que é empregado para designar as

restingas.

As formações herbáceas ocorrem principalmente nas faixas de praia e ante

dunas, em locais que eventualmente podem ser atingidos pelas marés mais altas, ou

então em depressões alagáveis. Nas zonas de praia, dunas frontais e dunas mais

próximas ao mar, predominam espécies herbáceas, em alguns casos com pequenos

arbustos e árvores, que ocorrem tanto de forma isolada e pouco expressiva, como

formando agrupamentos mais densos, com variações nas suas respectivas

fisionomias, composições e graus de cobertura. A vegetação das praias e dunas tem

ocorrência praticamente ao longo de toda a costa brasileira, mas a sua exata

circunscrição e os termos empregados para designá-la variam muito. As pressões

antrópicas no sentido de ocupação e urbanização da zona costeira já suprimiram

muitas áreas representativas desta formação em vários pontos no litoral brasileiro.

As formações arbustivas das planícies litorâneas, que para muitos autores

constituem a restinga propriamente dita são os tipos vegetacionais que mais chamam

a atenção no litoral brasileiro, tanto pelo seu aspecto peculiar, com fisionomia variando

desde densos emaranhados de arbustos junto a trepadeiras, bromélias terrícolas e

cactáceas, até moitas com extensão e altura variáveis, intercaladas por áreas abertas

que em muitas locais expõem diretamente a areia, principal constituinte do substrato

nestas formações. Os termos “scrub”, “thicket”, “escrube” e “fruticeto” já foram

empregados para designar comunidades e/ou formações desta natureza,

notadamente na região litorânea.

As formações florestais que ocorrem na planície litorânea brasileira variam

bastante ao longo da costa, sendo essas variações geralmente atribuídas às

influências das formações vegetacionais adjacentes e às características do substrato,

principalmente sua origem, composição e condições de drenagem.

Estas florestas variam desde formações com altura do estrato superior a partir

de 5m, em geral livres de inundações periódicas decorrentes da ascensão do lençol

freático durante os períodos mais chuvosos, até formações mais desenvolvidas, com

Page 42: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

41

alturas em torno de 15-20m, muitas vezes associadas a solos hidro mórficos e/ou

orgânicos.

Estes dois tipos de florestas em geral acompanham as variações topográficas

decorrentes da justaposição dos cordões litorâneos, ao menos onde tais feições são

bem definidas. Em locais situados mais para o interior da planície costeira, geralmente

em terrenos mais deprimidos onde tais alinhamentos não são claramente definidos e

os solos são saturados hidricamente e têm uma espessa camada orgânica superficial,

ocorrem florestas mais desenvolvidas semelhantes florística e estruturalmente

àquelas situadas nas depressões entre os cordões.

A fauna ocorrente nas restingas brasileiras está relativamente menos estudada

quando comparada com os conhecimentos que já se acumulam sobre a composição

e estrutura dos seus diferentes tipos vegetacionais. Dentre os estudos tratando de

grupos de animais invertebrados, podem ser mencionados os realizados com os

artrópodos, notadamente com diferentes grupos de insetos, estes constituindo a

maioria dos relatos encontrados. A fauna de vertebrados ocorrente nas restingas

brasileiras também é relativamente pouco pesquisada, com destaque para os

trabalhos realizados no litoral do Rio de Janeiro, principalmente com pequenos

mamíferos e répteis.

Manguezal: Os mangues ou manguezais são um ecossistema típico de áreas

litorâneas, alagadas, onde há o encontro da água do mar com a dos rios dando um

aspecto salobro à água dessas regiões. É de sua característica a transição entre

aspectos marinhos e terrestres e sua presença em locais com clima tropical ou

subtropical. Sua vegetação é composta por três tipos de árvores que podem atingir

até 20 metros de altura em certos pontos do país: Rhizophora mangle (mangue-bravo

ou vermelho), Laguncularia racemosa (mangue-branco) e Avicena

schaueriana (mangue-seriba ou seriúba).

Os mangues estão presentes em diversas partes do mundo como Oceania,

África, Ásia, alguns países da América e Brasil. No Brasil esse ecossistema pode ser

encontrado no nordeste do país em Cabo Orange no estado do Amapá até a região

sul em Laguna em Santa Catarina compreendendo um total de 20 mil quilômetros

quadrados, 15 % do total em todo o mundo.

Este é um ecossistema rico em diversas espécies de animais como peixe-boi-

marinho, caranguejo, lontra, jacaré, cobras, mexilhão, aranhas, craca, lagartos,

tartaruga, crocodilos entre outros.

Page 43: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

42

Esse tipo de ecossistema possui o solo extremamente rico em nutrientes e

matéria orgânica, raízes e material vegetal em decomposição.

As raízes aéreas são uma de suas características mais marcantes, e têm como

principal função proporcionar a respiração das plantas já que o solo é pobre em

oxigênio e elas obtêm o mesmo fora dele.

O cheiro dos mangues também é um aspecto bem característico, isso ocorre

devido à presença de água salobra e matérias vegetais em estado de

decomposição.

Suas sementes são geralmente compridas, finas e pontudas para garantir a

reprodução ao se fixarem melhor ao caírem no solo úmido.

A caça e comércio do caranguejo, espécie com grande população nos

mangues, é o que garante o sustento de diversas famílias que vivem na região.

Uma das principais ameaças a esse ecossistema é a exploração, (como a caça

do caranguejo) que teve início com fins comerciais em países da Ásia ganhando

expansão rápida para demais países detentores de mangues. O uso desordenado e

de maneira não sustentável de seus recursos causa uma depredação quase que

irrefreável, em países como Tailândia e Filipinas a área de manguezal teve grande

parte dizimada por conta da super-exploração, chegando a ser reduzida em 110.000

hectares da área original de 448.000 nas Filipinas.

No Brasil não é diferente, porém algumas leis foram estabelecidas com o intuito

de promover a preservação dos manguezais. A lei de número 4.771 de 15 de setembro

de 1965 define os mangues como APPs (Área de Preservação Permanente), e a

Resolução da CONAMA de número 369 de março de 2006 estabelece a proibição da

supressão de vegetação ou qualquer outro tipo de intervenção, salvo apenas em

casos de utilidade pública para as áreas de mangues. Ainda assim esse ecossistema

é o mais ameaçado dentre todos nos Brasil.

A poluição também é outra grande inimiga dos manguezais. A poluição

proveniente das cidades costeiras e de indústrias instaladas na região como o

depósito de lixo nos mares e rios, derramamentos de petróleo, são fatores que

contribuem para a degradação do ecossistema.

Page 44: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

43

Cerrado

A primeira unidade de conservação do bioma foi a Floresta Estadual Bebedouro,

criada pelo estado de São Paulo em 1937. Na década de 1940 foram criadas mais

duas UCs, a Floresta Estadual de Avaré, também pelo estado de São Paulo e a

Floresta Nacional de Silvânia, pelo governo federal, no estado de Goiás. Até 1960

nove UCs existiam no bioma, sendo sete de uso sustentável e duas de proteção

integral. A maior destas, criada em 1959, era o Parque Nacional do Araguaia, que

abrangia toda a Ilha do Bananal – aproximadamente 2 milhões de ha.

Fonte: www.revistaplaneta.com.br

Em 1971 os limites foram redefinidos, devido à criação da Terra Indígena do

Parque do Araguaia. Mais recentemente, a criação da Terra Indígena Inãwébohona

se sobrepôs em 377.113 ha à área remanescente do Parque Nacional do Araguaia,

que é de cerca de 550 mil ha. Ao mesmo tempo, o Decreto de 18 de abril de 2006,

que homologou a demarcação administrativa desta terra indígena, estabeleceu o

Parque Nacional do Araguaia como bem público da União submetido a regime jurídico

de dupla afetação, destinado à preservação do meio ambiente e à realização dos

direitos constitucionais dos índios, passando este a ser administrado em conjunto pela

Page 45: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

44

Fundação Nacional do Índio (Funai), pelo Ibama9 e pelas Comunidades Indígenas

Javaé, Karajá e Avá-Canoeiro. Outra unidade de conservação do Cerrado que teve

os limites drasticamente reduzidos foi o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, em

Goiás. Criado originalmente em 1961 como Parque Nacional do Tocantins, com

aproximadamente 600 mil ha, hoje o parque conta com aproximadamente 10% da

área original.

É a segunda maior formação vegetal brasileira. Estendia-se originalmente por

uma área de 2 milhões de km², abrangendo dez estados do Brasil Central. Hoje,

restam apenas 20% desse total. Típico de regiões tropicais, o cerrado apresenta duas

estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Com solo de savana tropical,

deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, abriga plantas de aparência seca,

entre arbustos esparsos e gramíneas, e o cerradão, um tipo mais denso de vegetação,

de formação florestal. A presença de três das maiores bacias hidrográficas da América

do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) na região favorece sua

biodiversidade.

Estima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos

vivam ali. Essa riqueza biológica, porém, é seriamente afetada pela caça e pelo

comércio ilegal. O cerrado é o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu alteração

com a ocupação humana. Atualmente, vivem ali cerca de 20 milhões de pessoas.

Essa população é majoritariamente urbana e enfrenta problemas como desemprego,

falta de habitação e poluição, entre outros. A atividade garimpeira, por exemplo,

intensa na região, contaminou os rios de mercúrio e contribuiu para seu

assoreamento. A mineração favoreceu o desgaste e a erosão dos solos. Na economia,

também se destaca a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começa

a se expandir principalmente a partir da década de 80. Nos últimos 30 anos, a pecuária

extensiva, as monoculturas e a abertura de estradas destruíram boa parte do cerrado.

Hoje, menos de 2% está protegido em parques ou reservas.

Pequenas árvores de troncos torcidos e recurvados e de folhas grossas,

esparsas em meio a uma vegetação rala e rasteira, misturando-se, às vezes, com

campos limpos ou matas de árvores não muito altas – esses são os Cerrados, uma

extensa área de cerca de 200 milhões de hectares, equivalente, em tamanho, a toda

a Europa Ocidental. A paisagem é agressiva, e por isso, durante muito tempo, foi

considerada uma área perdida para a economia do país.

Page 46: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

45

Os Cerrados apresentam relevos variados, embora predominem os amplos

planaltos. Metade do Cerrado situa-se entre 300 e 600m acima do nível do mar, e

apenas 5,5% atingem uma altitude acima de 900m. Em pelo menos 2/3 da região o

inverno é demarcado por um período de seca que se prolonga por cinco a seis meses.

Seu solo esconde um grande manancial de água, que alimenta seus rios.

Entre as espécies vegetais que caracterizam o Cerrado estão o barbatimão, o

pau-santo, a gabiroba, o pequizeiro, o araçá, a sucupira, o pau-terra, a catuaba e o

indaiá. Debaixo dessas árvores crescem diferentes tipos de capim, como o capim-

flecha, que pode atingir uma altura de 2,5m. Onde corre um rio ou córrego, encontram-

se as matas ciliares, ou matas de galeria, que são densas florestas estreitas, de

árvores maiores, que margeiam os cursos d’água. Nos brejos, próximos às nascentes

de água, o buriti domina a paisagem e forma as veredas de buriti.

A presença humana na região data de pelo menos 12 mil anos, com o

aparecimento de grupos de caçadores e coletores de frutos e outros alimentos

naturais. Só recentemente, há cerca de 40 anos, é que começou a ser mais

densamente povoada.

A província do cerrado, como denominada por EITEN, englobando 1/3 da biota

brasileira e 5% da flora e fauna mundiais. É caracterizada por uma vegetação

savanícola tropical composta, principalmente de gramíneas, arbustos e árvores

esparsas, que dão origem a variados tipos fisionômicos, caracterizados pela

heterogeneidade de sua distribuição.

Muitos autores aceitam a hipótese do oligotrofismo distrófico para formação do

Cerrado, sua vegetação com marcantes característica adaptativas a ambientes áridos,

folhas largas, espessas e pilosas, caule extremamente suberizado, etc. Contudo

apesar de sua aparência xeromórfica, a vegetação do cerrado situa-se em regiões

com precipitação média anula de 1500 mm, estações bem definidas, em média com

6 meses de seca, solos extremamente ácidos, profundos, com deficiência nutricional

e alto teor de alumínio.

Segundo EITEN os tipos fisionômicos do cerrado (latu sensu) se distribuem de

acordo com três aspectos do substrato onde se desenvolvem: a fertilidade e o teor de

alumínio disponível; a profundidade; e o grau de saturação hídrica da camada

superficial e subsurpeficial. Os principais tipos de vegetação são:

Cerrado (strictu sensu) - é a vegetação característica do cerrado, composta por

exemplares arbustivo-arbóreos, de caules e galhos grossos e retorcidos, distribuídos

Page 47: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

46

de forma ligeiramente esparsa, intercalados por uma cobertura de ervas, gramíneas

e espécies semi-arbustivas.

Floresta mesofítica de interflúvio (cerradão) - este tipo de vegetação cresce sob

solos bem drenados e relativamente ricos em nutrientes, as copas das árvores, que

medem em média de 8-10 metros de altura, tocam-se o que denota um aspecto

fechado a esta vegetação.

Campo rupestre - encontrado em áreas de contato do cerrado com o caatinga e

floresta atlântica, os solos deste tipo fisionômico são quase sempre rasos e sofrem

bruscas variações em relação a profundidade, drenagem e conteúdo nutricional. É

caracteristicamente, composto por uma vegetação arbustiva de distribuição aberta ou

fechada.

Campos litossólicos miscelâneos - são caracterizados pela presença de um

substrato duro, rocha mãe, e a quase inexistência de solo macio, este quando

presente não ocupa mais que poucos centímetros de profundidade até se deparar

com a camada rochosa pela qual não passam nem umidade nem raízes. Sua flora é

caracterizada por um tapete de ervas latifoliadas ou de gramíneas curtas, havendo

em geral a ausências de exemplares arbustivos, ou a presença de raríssimos

espécimes lenhosos, neste caso enraizados em frestas da camada rochosa.

Vegetação de afloramento de rocha maciça - representada por cactos, liquens,

musgos, bromélias, ervas e raríssimas árvores e arbustos, cresce sob penhascos e

morros rochosos.

Pampa

Com uma área de 176.496 km2, o bioma Pampa está presente no Brasil14

somente na porção sul do Rio Grande do Sul (abaixo do paralelo 30º), onde ocupa

53% do estado (IBGE, 2004a). A área corresponde aos campos da metade sul e das

missões do Rio Grande do Sul, enquanto o restante do estado é ocupado pelo bioma

Mata Atlântica, localizado ao norte.

Quando comparado aos demais biomas continentais brasileiros, há

relativamente poucos dados disponíveis sobre o bioma Pampa, utilizando-se o recorte

definido pelo IBGE (2004a). Uma das razões é que, sob o ponto de vista da pesquisa

biológica, este geralmente é tratado como parte de uma área mais abrangente de

vegetação campestre do sul do Brasil, os chamados “Campos Sulinos”. Além de todo

Page 48: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

47

o bioma Pampa, os Campos Sulinos incluem também áreas localizadas no Planalto

Sul-Brasileiro, os quais formam mosaicos com as florestas na metade norte do Rio

Grande do Sul e nos estados de Santa Catarina e Paraná. Estes campos do Planalto

Sul-Brasileiro, porém, estão inseridos no bioma Mata Atlântica, na definição do IBGE

(2004a) (CARDOSO JR, 2010).

Assim como os demais biomas, o Pampa teve sua vegetação mapeada em

escala 1:250.000, utilizando a interpretação de imagens de satélite Landsat obtidas

em 2002.15 As imagens foram interpretadas buscando-se identificar categorias que

indicassem um domínio fisionômico florestal ou campestre e que dessem ideia do grau

de pressão antrópica sobre a formação (CARDOSO JR, 2010).

6 ENERGIA SUSTENTÁVEL

A definição do tipo de energia utilizada em um dado pais ou região e decorrente

da necessidade de se atender a demanda doméstica e de aumentar o nível de

inserção no mercado econômico internacional. As políticas públicas, ao apoiarem a

produção de bens, o desenvolvimento regional, o atendimento das famílias, os

cuidados ambientais; e ao estimularem a geração de energia da fonte A ou B, são

vetores importantes no desenho do modelo energético. Nesse sentido o Brasil tem

sido exemplo mundial no uso de energias renováveis ao manter, desde os anos 1970

até 2009, matriz energética que oscila entre 61% (1971) e 41% (2002) originada de

fontes renováveis.

Pode-se afirmar, por conseguinte, que toda redução de custo que puder ser

alcançada deve fazer parte das estratégias das empresas. Fazer uma análise do custo

de energia elétrica pode ser complexo, mas percebe-se que identificar melhorias para

uma organização, no que se refere à utilização desta energia, traz uma redução no

consumo da eletricidade, que pode refletir diretamente no preço do produto, pois reduz

os custos de produção (KLAUS e SHERER, 2017)

A tabela abaixo mostra a participação das principais fontes de geração utilizadas

no cenário energético do setor elétrico brasileiro, destacando os empreendimentos

que estão operando, assim como aqueles que estão em construção ou foram

concedidos – licitação – ou autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica

(Aneel). Observar que a potência apresentada em MW mostra o perfil da capacidade

Page 49: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

48

instalada do parque gerador nacional e não a energia produzida ou consumida por

hora.

De acordo com a acima, na primeira grande coluna é mostrado o conjunto de

usinas. Em operação, ou seja, aquelas que já estão gerando energia, seja para o

serviço público, autoprodução – uso exclusivo –, seja para a produção independente.

Já na segunda coluna denominada Em construção está disposto o contingente de

usinas que estão sendo construídas, bem como aquelas que foram recentemente

licitadas ou autorizadas pelo órgão regulador, mas que ainda não iniciaram sua

construção (CARDOSO JR, 2010).

O interesse comum da sociedade vem impulsionando a comunidade científica a

pesquisar e desenvolver estratégias para o aproveitamento de fontes alternativas de

energia, menos poluentes, renováveis, e que provoquem reduzido impacto ambiental.

Esta tendência tem se verificado na prática por meio de uma maior contribuição das

fontes renováveis na matriz energética mundial, conforme ilustra a Figura abaixo, na

qual destaca-se ainda a grande dependência mundial energia elétrica proveniente de

fontes térmicas a carvão e similares. Comparativamente, também cabe chamar a

Page 50: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

49

atenção para a grande diferença entre as dependências das energias térmica e

hidráulica entre o Brasil e o mundo (DUPONT; GRASSI, e ROMITTI, 2015).

6.1 Fontes renováveis de energia elétrica

O uso de fontes renováveis de energia não é um assunto novo. De fato, os

primeiros aproveitamentos datam de muitos séculos atrás, fazendo parte da própria

história da humanidade. Mais recentemente, o aproveitamento destas fontes recebeu

incontáveis melhorias tecnológicas e a crescente demanda por alternativas

energéticas, e principalmente sustentáveis, fez que com essas antigas tecnologias

fossem revisitadas e adaptadas. De maneira geral, as fontes de energia renovável

fornecem apenas uma fração da energia se comparado com as grandes centrais. Essa

característica permite duas categorias de fornecimento de energia para as cargas

(DUPONT; GRASSI, e ROMITTI, 2015).

Energia Eólica

Os primeiros indícios da utilização da energia eólica para a realização de

trabalho mecânico são controversos, mas credita-se algumas das primeiras máquinas

a Heron de Alexandria, há cerca de dois mil anos (PINTO, 2012). Posteriormente, a

energia eólica foi amplamente utilizada em moinhos, substituindo a tração animal.

Page 51: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

50

Contudo, foi apenas nos últimos anos que a energia eólica se tornou uma peça

fundamental na geração de energia, principalmente elétrica, período em que houve

uma grande expansão na pesquisa e no desenvolvimento para transformar a energia

fornecida pelo vento.

Fonte: www.canalbioenergia.com.br

A captação da energia cinética do vento pode ser feita basicamente por duas

formas distintas: as turbinas de eixo vertical e as de eixo horizontal. No primeiro caso,

engrenagem e gerador são colocados ao nível do solo e a turbina é movida por forças

de arraste ou sustentação (FARRET, 2014).

Energia Solar Fotovoltaica

Entre as fontes renováveis, a energia solar fotovoltaica é uma das mais

abundantes em toda a superfície terrestre e é inesgotável na escala de tempo

humano. Por esta razão é uma das alternativas mais promissoras para a composição

de uma nova matriz energética mundial e seu aproveitamento tem se consolidado em

muitos países (VERMA; MIDTGARD; SATRE, 2011). É esperado que até 2040 esta

seja a fonte renovável de energia mais importante e significativa para o planeta

(BRITO et al., 2011)

Page 52: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

51

Fonte: diarioms.com.br

As células fotovoltaicas são dispositivos mais recentes, quando em comparação

das primeiras tecnologias de aerogeradores, datando de 1839 quando Antoine Henri

Becquerel conduziu os primeiros estudos sobre o efeito fotovoltaico. Contudo, foi na

década de 1950 que as aplicações de células fotovoltaicas começaram a ter maior

atenção nos programas espaciais.

Energia Hídrica ou Hidroelétrica

Por sua vez, a energia hidroelétrica utiliza-se do movimento das águas dos rios

para a produção de eletricidade. Em países como Brasil, Rússia, China e Estados

Unidos, ela é bastante aproveitada pelas usinas que transformam a energia hidráulica

e cinética em eletricidade.

Page 53: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

52

Figura: Usina hidrelétrica de Itaipu, a segunda maior do mundo

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Como é necessário o estabelecimento de uma área de inundação no ambiente

em que se instala uma usina hidrelétrica, a sua construção é recomendada em áreas

de planalto, onde o terreno é mais íngreme e acidentado, pois rios de planície

necessitam de mais espaço para represamento da água, o que gera mais impactos

ambientais.

Por um lado, as hidroelétricas trazem vários prejuízos ambientais, não só pela

inundação de áreas naturais e desvio de leitos de rios, como também pelo dióxido de

carbono emitido pela decomposição da matéria orgânica que se forma nas áreas

alagadas. Por outro lado, essa é considerada uma eficiente forma de geração de

eletricidade, além de ser menos poluente, por exemplo, que as termoelétricas movidas

a combustíveis fósseis.

Energia da Biomassa

A biomassa corresponde a toda e qualquer matéria orgânica não fóssil. Assim,

pode-se utilizar esse material para a queima e produção de energia, por isso ela é

Page 54: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

53

considerada uma fonte renovável. Sua importância está no aproveitamento de

materiais que, em tese, seriam descartáveis, como restos agrícolas (principalmente o

bagaço da cana-de-açúcar), e também na possibilidade de cultivo.

Figura: A biomassa é utilizada como fonte de eletricidade e também como

biocombustível

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Existem três tipos de biomassa utilizados como fonte de energia: os sólidos, os

líquidos e os gasosos.

Combustíveis sólidos: podemos citar a madeira, o carvão vegetal e os restos

orgânicos vegetais e animais.

Combustíveis líquidos: o etanol, o biodiesel e qualquer outro líquido obtido

pela transformação do material orgânico por processos químicos ou biológicos.

Combustíveis gasosos: aqueles que são obtidos pela transformação industrial

ou até natural de restos orgânicos, como o biogás e o gás metano coletado em áreas

de aterros sanitários.

Page 55: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

54

Energia Geotérmica

A energia geotérmica corresponde ao calor interno da Terra. Em casos em que

esse calor se manifesta em áreas próximas à superfície, as elevadas temperaturas do

subsolo são utilizadas para a produção de eletricidade.

Figura: Usina de energia geotérmica

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Basicamente, as usinas geotérmicas injetam água no subsolo por meio de dutos

especificamente elaborados para esse fim. Essa água evapora e é conduzida pelos

mesmos tubos até as turbinas, que se movimentam e acionam o gerador de

eletricidade. Para o reaproveitamento da água, o vapor é novamente transportado

para áreas em que retorna à sua forma líquida, reiniciando o processo.

O principal problema da energia geotérmica é o seu impacto ambiental através

de eventuais emissões de poluentes, além da poluição química dos solos em alguns

casos. Somam-se a isso os elevados custos de implantação e manutenção.

Page 56: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

55

Energia das Ondas e das Marés

É possível utilizar a água do mar para a produção de eletricidade tanto pelo

aproveitamento das ondas quanto pela utilização da energia das marés.

Fonte: www.portal-energia.com

No primeiro caso, utiliza-se a movimentação das ondas em ambientes onde elas

são mais intensas para a geração de energia. Já no segundo caso, o funcionamento

lembra o de uma hidrelétrica, pois cria-se uma barragem que capta a água das marés

durante as suas cheias, e essa água é liberada quando as marés diminuem. Durante

essa liberação, a água gira as turbinas que ativam os geradores.

7 O PRINCÍPIO DOS TRÊS ERRES (3R’S) NA LEI Nº 12.305/2010: REDUZIR,

REUTILIZAR E RECICLAR

Entende-se que, com a inclusão dos conceitos de redução, reutilização e

reciclagem na Lei, pretende-se diminuir o uso de matéria-prima e retardar a disposição

dos rejeitos, que é a última etapa da gestão sustentável dos resíduos sólidos,

conforme prescrito no Título I, Cap. II, art. 3º, XV, da referida Lei. A sua efetivação

Page 57: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

56

permitirá o aumento do tempo dos recursos naturais no ciclo produtivo, em como avida

útil dos aterros sanitários. A coleta seletiva, necessária ao retorno dos resíduos sólidos

ao processo de produção, de acordo com a citada Lei, consiste na “coleta de resíduos

sólidos previamente segregados, conforme sua constituição ou composição” (Lei nº

12.305, Título I, Cap. II, art. 3º, V).

Fonte: meubolsofeliz.com.br

Page 58: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

57

A reciclagem, conforme o Título I, Cap. II, art. 3º, XIV, da Lei nº 12.305/2010,

consiste no processo de transformação dos resíduos sólidos, que envolve a alteração

de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à

transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões

estabelecidos pelos órgãos competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente

(SISNAMA) e, se couber, do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e do

Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA) (REIS e LOPES,

2018).

A redução está em consonância com o descrito no Título I, Cap. II, art. 3º, XIII,

que define os padrões sustentáveis de produção e consumo, estando alinhados com

o combate ao desperdício: padrões sustentáveis de produção e consumo; produção

e consumo de bens e serviços de forma a atender as necessidades das atuais

gerações e permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade

ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras (REIS e LOPES,

2018).

Já os rejeitos definem-se como resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas

as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis

e economicamente viáveis, não apresentam outra possibilidade que não a disposição

final ambientalmente adequada (REIS e LOPES, 2018).

7.1 A participação popular

A gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos deve ser planejada,

implementada e fiscalizada pelo poder público em conjunto com a população. A

população, neste caso, possui um papel fundamental, pois além de ser responsável

pela correta destinação dos seus resíduos pós-consumo, atua como fiscalizadora das

ações sustentáveis de gerenciamento dos resíduos.

A atuação consciente do cidadão, no que tange à destinação seletiva de seu

resíduo, separando na fonte o que for resíduo orgânico do resíduo inorgânico,

possibilita tornar o processo economicamente mais barato, por subtrair uma etapa de

triagem da reciclagem, além de refletir diretamente na qualidade de vida coletiva, pela

destinação correta, longe de rios, vias públicas, terrenos etc (REIS e LOPES, 2018).

Evita-se, com o engajamento da população, o aumento dos impostos

concernentes ao saneamento básico, ao passo que também diminui a oneração sobre

Page 59: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

58

o valor dos produtos que deverão contemplar em seu custo os gastos com o

recolhimento destes pelas empresas, visando à reutilização, reciclagem ou descarte

final, conforme o caso.

A Lei também institui o princípio do “poluidor-pagador” e do “protetor-recebedor”.

No que se refere ao papel do cidadão, não está estabelecido em termos práticos como

será beneficiado aquele que contribui, ou como aquele que fere os preceitos legais

será punido.

A simples homologação da Lei não significa cumprimento, especialmente no

caso do Brasil, visto que, de acordo com Da Matta (1986), existe uma resistência

cultural em cumprir as determinações legais, o que condiz com o “jeitinho brasileiro”.

Em seu art. 8º, VIII, a educação ambiental é postulada como um dos instrumentos da

Política Nacional de Resíduos Sólidos, o que é certamente mais eficaz para a gestão

integrada e sustentável dos resíduos sólidos, por significar uma conscientização,

quando o indivíduo age independente de fiscalização (REIS e LOPES, 2018).

7.2 Educação ambiental e sua importância para a implementação da lei nº 12.305/2010

A gestão integrada e sustentável dos resíduos sólidos, prevista na Lei nº

12.305/2010, como analisado anteriormente, tem como um de seus pilares a

participação colaborativa de empresas, indústrias, comércios e cidadãos. A exigência

de um novo comportamento, que contribua para o paradigma da sustentabilidade,

impõe-se.

As estratégias de prevenção da poluição devem considerar a hierarquia a ser

adotada no gerenciamento ambiental, com a introdução do conceito de Prevenção da

Poluição: prevenção e redução, reciclagem e reuso, tratamento e disposição.

Esquema da gestão integrada e sustentável dos resíduos sólidos, com inclusão

da etapa de educação ambiental para desenvolver hábitos e atitudes visando à coleta

seletiva e redução de resíduos sólidos:

Page 60: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

59

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

CONSUMO CONSCIENTE

NÃO GERAÇÃO, REDUÇÃO¹ NA FONTE

REDUÇÃO² DE MATÉRIA-PRIMA JÁ EXTRAÍDA DO MEIO AMBIENTE

REUTILIZAÇÃO RECICLAGEM

TRATAMENTO QUÍMICO E BIOLÓGICO

DISPOSIÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADA DOS REJEITOS

Redução 1: ocorre quando o indivíduo deixa de consumir em sintonia com os

padrões sustentáveis de produção e consumo, o que vai de encontro ao consumismo

e desperdício.

Redução 2: ocorre após o consumo, quando o produto volta ao ciclo produtivo

pela reutilização ou reciclagem, possibilitadas pela atitude de triagem dos resíduos

sólidos nas fontes geradoras.

8 RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS

Países em desenvolvimento, como o Brasil, revelam uma situação preocupante,

pois, embora existam serviços de limpeza urbana, estes não são capazes de coletar

toda a produção de resíduos sólidos. O resultado disto é a deposição de resíduos

sólidos em passeios públicos, terrenos baldios e, muitas vezes, próximos ou dentro

dos cursos d’água. Os sistemas de drenagem urbana, já comprometidos pela falta de

capacidade de condução para a urbanização atual, tornam-se agentes de transporte

dos resíduos sólidos que obstruem o fluxo (NEVES & TUCCI, 2011; BLUMENSAAT

et al., 2012).

Page 61: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

60

O gerenciamento de resíduos sólidos urbanos - RSU é uma atividade que deve

ser processada de forma integrada, porém, para ser colocada em prática, é necessária

a cooperação do poder público, disponibilizando recursos financeiros para a

implementação e melhor qualidade na disposição final destes resíduos.

Fonte: www.abras.com.br

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE (2010) comprovou que a população brasileira corresponde a cerca de 190

milhões de habitantes, produzindo, diariamente, 250 mil toneladas de resíduos

sólidos. Com relação à situação da disposição final dos resíduos, observa-se que em

2000, dos municípios brasileiros, 86% encaminhavam seus resíduos para lixões e

aterros controlados e, somente 14% destinavam em aterros sanitários. Em 2008,

apesar do aumento ocorrido no número de municípios, ainda 29% faz a disposição

final em aterros sanitários e que, a maioria, 71% dispõe seus resíduos em lixões e

aterros controlados (IBGE, 2010). A cidade de Marechal Deodoro se enquadra neste

cenário de má qualidade de limpeza urbana, tendo como destinação final o lixão a céu

aberto, localizado, no município, na Fazenda Suíça (SILVA e OLIVEIRA, 2015).

A Educação Ambiental tem um papel importante na gestão dos resíduos sólidos

e pode ser praticada de diferentes maneiras dependendo da forma de proposta desse

gerenciamento. Deve ser empregado como instrumento para reflexão no processo de

mudança de atitudes em relação ao correto descarte do lixo e à valorização do meio

Page 62: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

61

ambiente. Se aplicada a gestão dos resíduos sólidos, as mudanças de atitude devem

ser conduzidas de forma qualitativa e contínua, mediante um processo educacional

(SILVA e OLIVEIRA, 2015).

Na gestão dos resíduos sólidos, a sustentabilidade ambiental e social se constrói

a partir de modelos e sistemas integrados, que possibilitam tanto a redução do lixo

gerado pela população, como a reutilização de materiais descartados e reciclagem

dos materiais que possam servir de matéria prima para a indústria, diminuindo o

desperdício e gerando renda. Gestão de resíduos sólidos é um conjunto de atitudes

(comportamento, procedimento, propósitos), tendo como objetivo principal a

eliminação dos impactos ambientais, relacionados à produção e a destinação do lixo

(SILVA e OLIVEIRA, 2015).

O combate ao desperdício da água é decisivo para se alcançar uma gestão

eficiente dos recursos hídricos. Os índices de desperdício são alarmantes em um

território em que se criou a mentalidade de que os recursos naturais e, especialmente

a água, são infinitos. O que torna o desafio do combate ao desperdício uma missão

gigantesca que deve abranger todos os segmentos da sociedade. O reuso dos

recursos hídricos é de suma importância na busca pela tão sonhada sustentabilidade

ambiental. No Brasil a reutilização dos recursos hídricos acontece de maneira tímida,

devido à falta, principalmente de políticas públicas eficientes e também do

cumprimento das legislações ambientais, especialmente quando se trata do uso

público (RODRIGUES, et al 2016).

Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais os

indivíduos e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,

atitudes e competências de vida e sua sustentabilidade.

A sustentabilidade ambiental é uma dimensão da educação, é a atividade

intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um

caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando

potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática

social e de ética ambiental. É a ação educativa permanente pela qual a comunicação

tem a tomada de consciência de sua realidade global. A educação ambiental deve

proporcionar as condições para o desenvolvimento das capacidades necessárias,

para que grupos sociais, em diferentes contextos socioambientais do país,

intervenham, de modo qualificado tanto na gestão do uso dos recursos ambientais

Page 63: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

62

quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do ambiente

(RODRIGUES, et al 2016).

Com os avanços tecnológicos advindos após a Revolução Industrial e o

crescente aumento da população a atividade humana passou a causar mais impactos

negativos ao meio ambiente, e o que durante muito tempo foi visto como fonte

inexaurível de recursos disponíveis para servir às necessidades do homem agora

passa a ser uma inquietação, porquanto os recursos são limitados. O ciclo produtivo

da sociedade capitalista extrai do meio ambiente os insumos necessários para a

produção de alimentos e bens de consumo, entretanto, o processo produtivo retorna

resíduos sólidos, efluentes líquidos e emite gases nocivos e poluentes em grandes

quantidades, acarretando poluição ambiental e esgotamento dos recursos naturais.

Outra preocupação que emerge é que uma volumosa camada da população mundial

que sofre com a pobreza, fome e exclusão social. As empresas procuram resultados

financeiros, ampliação de fatias de mercado e sobrevivência e manutenção de sua

competitividade. A globalização da economia e o acirramento da competição mundial

elevam a escala de produção, com a consequente busca da redução dos custos.

Diante deste panorama as empresas passam a se reestruturar para se adequarem a

esta nova percepção. As pressões sociais e restrições impostas fazem com que as

empresas sejam forçadas a buscar formas de reduzir seu impacto ambiental e a

melhorar sua imagem frente a sua responsabilidade social. Neste sentido, muito tem

sido feito para a sustentabilidade do setor produtivo (RODRIGUES, et al 2016).

8.1 Soluções Utilizadas para a Questão Hídrica

Dessalinização

A dessalinização é a retirada de sais que se encontram dissolvidos na água por

meio de diversos métodos. É verdade que a destilação e os processos de troca iônica

são capazes de reduzir significativamente os sais dissolvidos, produzindo água

desmineralizada, que é uma água com elevada purificação. Há vários outros

processos, porém com finalidades distintas. Por exemplo, a filtração, a adsorção, a

cloração e a própria esterilização são outros meios de que se lança mão para melhorar

a qualidade da água, mas não são capazes de promover a retirada dos sais. Esses

métodos atuam sobre outros elementos presentes nas massas líquidas. A filtração,

Page 64: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

63

por exemplo, é capaz de separar as partículas suspensas, ou seja, que não estão

dissolvidas, enquanto que a adsorção, ao atuar por meio de filtros de carvão ativo, é

capaz de reter partículas ainda menores do que aquelas separadas pela filtração.

Justamente é o objetivo deste método, transformar a água salgada em doce. Os

dessalinizadores são equipamentos que transformam águas salinas ou salobres em

água potável empregando a osmose reversa. Esses equipamentos operam sob

condições severas para os materiais que os constituem, dada à presença de um

elemento corrosivo que é o íon cloreto, associado a pressões elevadas. Além disso,

são sofisticados em termos de tecnologia e a sofisticação reside na natureza das

membranas semipermeáveis artificiais, que imitam as membranas naturais. Elas são

fabricadas por um número muito pequeno de empresas em todo o mundo

(RODRIGUES, et al 2016).

Fonte: blogs.odiario.com

As organizações em geral já são obrigadas pelas leis ambientais ao cumprimento

de inúmeros requisitos a favor de recompensar ao menos parte da exploração

causada por seu processo produtivo, e estas ainda, muitas vezes, vão um pouco mais

além para ficar bem vistas perante a comunidade. Porém todas essas ações, ainda

que realmente aplicadas e fiscalizadas, são pequenas se comparado o necessário

para tornar-se um empreendimento sustentável.

Despoluição dos rios: crescimento populacional, falta de planejamento urbano,

conexões clandestinas com a rede de esgoto e indústrias que despejam resíduos

indevidos.

Page 65: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

64

Fonte: www.ambientelegal.com.br

Coletores de ar que condensam a água: as máquinas que existem usam

basicamente duas técnicas diferentes. A primeira é percebida com a de um ar

condicionado promovendo o resfriamento do ar e a consequente condensação da

água, que depois é filtrada e armazenada em pequenos tanques.

Page 66: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

65

Fonte: www.fenomenosdaengenharia.blogspot.com.br

A outra envolve um processo químico, uma solução concentrada de sal absorve

a umidade do ambiente de onde é extraída a água que também passa por filtração.

Aproveitamento da água da chuva: a água captada da chuva e armazenada

pode ser usada para fins domésticos e industriais.

Fonte: www.tubolarmeioambiente.com.br

Page 67: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

66

Extração de águas de geleiras: mais da metade da água potável do planeta

está nas geleiras e nas calotas polares. Em caso de crise mundial no abastecimento

de água, uma das soluções possíveis seria a retirada e exportação de blocos de gelo

dessas regiões. O mais provável é que a água fosse exportada já na forma líquida em

grandes navios de carga ou por meio de canos, outra hipótese seria “aproveitar” o

aquecimento global que está derretendo as geleiras e criando naturalmente novos

cursos de água.

Busca de água em outros planetas: outra resposta para a escassez de água

pode ser encontrar fontes fora da Terra. No sistema solar, a NASA já detecta a

presença de gelo em pontos de Marte, Mercúrio e na Lua.

8.2 Gestão de resíduos sólidos

Em 2 de agosto de 2010, a Lei Federal nº 12.305 instituiu a Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS), regulamentada pelo Decreto nº 7.404/2010 (BRASIL,

2010). A lei incorporou conceitos modernos de gestão de resíduos sólidos, trazendo

novas ferramentas à legislação ambiental brasileira. Alguns desses aspectos podem

ser ressaltados, como:

Acordo Setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder público e

fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a

implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto;

Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto

de atribuições dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos

consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo dos

resíduos sólidos pela minimização do volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados,

bem como pela redução dos impactos causados à saúde humana e à qualidade

ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei (RIBEIRO

e MENDES, 2016);

Logística Reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social,

caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a

viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para

Page 68: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

67

reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação

final ambientalmente adequada (RIBEIRO e MENDES, 2016);

Coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme

sua constituição ou composição;

Ciclo de Vida do Produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do

produto, a obtenção de matérias–primas e insumos, o processo produtivo, o consumo

e a disposição final;

Sistema de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos – SINIR: tem

como objetivo armazenar, tratar e fornecer informações que apoiem as funções ou

processos de uma organização. Essencialmente, é composto de um sub–sistema

formado por pessoas, processos, informações e documentos, e um outro composto

por equipamentos e seu meios de comunicação (RIBEIRO e MENDES, 2016);

Planos de Resíduos Sólidos: o Plano Nacional de Resíduos Sólidos está sendo

elaborado com participação social, contendo metas e estratégias nacionais sobre o

tema. Também estão previstos planos estaduais, microrregionais, de regiões

metropolitanas, planos intermunicipais, municipais de gestão integrada de resíduos

sólidos e os planos de gerenciamento de resíduos sólidos (MMA; IPEA, 2011)

8.3 Classificação dos resíduos sólidos

A classificação de resíduos sólidos é feita com base na identificação do processo

ou atividade que lhes deu origem, de seus componentes e características, e também

da comparação entre os componentes dos vários tipos de resíduos e substâncias, os

quais causam sérios impactos à saúde e ao meio ambiente. A classificação dos

resíduos sólidos, por exemplo, facilita a segregação, a identificação e a composição

na fonte, contribuindo para o gerenciamento adequado e correto, quanto ao seu

destino final (SILVA, 2015)

A Figura abaixo ilustra a classificação dos resíduos sólidos urbanos de acordo

com a Funasa.

Page 69: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

68

Figura - Classificação dos Resíduos Sólidos Urbanos

Fonte: Funasa, 2010.

Lei 12.305/2010 e a ABNT/NBR 10004 (2004)

Art. 13. Para os efeitos desta lei, os resíduos sólidos têm a seguinte

classificação:

I - Quanto à origem:

a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em

residências urbanas;

b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de

logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;

c) resíduos sólidos urbanos: é constituído pelos resíduos doméstico e

comercial;

d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços,

os gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas “b”, “e”,

“g”, “h” e “j”;

e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados

nessas atividades, excetuados os referidos na alínea “c”;

f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e

instalações industriais;

Page 70: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

69

g) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde,

conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos

do Sisnama e do SNVS;

h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas,

reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da

preparação e escavação de terrenos para obras civis; i) resíduos

agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturas,

incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades;

j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos,

aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de

fronteira;

k) resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração

ou beneficiamento de minérios; os resíduos sólidos são classificados quanto

ao risco à saúde pública e ao meio ambiente em: perigosos e não perigosos,

sendo ainda este último grupo subdividido em não inerte e inerte.

II - Quanto à periculosidade:

a) resíduos perigosos (classe I): aqueles que, em razão de suas

características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade,

patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade,

podendo apresentam risco à saúde pública ou à qualidade ambiental,

provocando ou contribuindo para o aumento de uma mortalidade ou incidência

de doenças e/ou apresentar efeitos adversos ao meio ambiente, quando

manuseados e dispostos de forma inadequada.

b) resíduos não perigosos (Classe II): são aqueles não enquadrados na

alínea “a” (não são perigosos). Os resíduos não perigosos (Classe II)

subdividem-se em:

1) resíduos da classe II A: são aqueles que em função de suas

características não se enquadram nas classificações de resíduos classe I

(perigoso) e classe II(inertes). Esses resíduos podem apresentar

propriedades como solubilidade em água, biodegradabilidade ou

combustibilidade.

Page 71: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

70

2) resíduos da classe IIB: são resíduos submetidos ao teste de

solubilidade, não possuem nenhum de seus constituintes solubilizados em

concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água (ABNT, 2004).

A figura abaixo ilustra a classificação dos resíduos não perigosos – Classe II

Fonte: ABNT/NBR 10004 (2004 apud FELTRIN, 2014).

Um resíduo é considerado não inerte caso ele não seja enquadrado como um

resíduo perigoso (Classe I) ou resíduo Inerte (Classe II B). Comumente quando os

resíduos não inertes apresentam as seguintes propriedades:

Biodegradabilidade: é a quebra de compostos químicos mediados

biologicamente. Isto significa que determinadas substâncias podem ser

utilizadas como substratos por micro-organismos capazes de produzirem como

resultado energia, outras substâncias, novos tecidos e novos organismos. A

Mineralização é a biodegradação ou quebra total das moléculas orgânicas em

CO2, água e compostos inorgânicos.

Combustibilidade: é quando uma substância tem capacidade de entrar em

combustão e produzir energia, a exemplo das madeiras, dos tecidos e dos

papéis. Solubilidade em Água: são os constituintes solubilizados a

concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-

Page 72: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

71

se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor, conforme anexo G (padrões de

ensaios de solubilização) depois de submetidos a um contato dinâmico e

estático com água destilada ou deionizada, à temperatura ambiente. Já os

resíduos que não tiverem seus constituintes solubilizados em água conforme

descrito acima, são classificados como inertes (ABNT/NBR 10004, 2004 apud

FELTRIN, 2014).

O Quadro 1 apresenta outras legislações e normatizações (ABNT) pertinentes

dos resíduos sólidos.

Fonte: MMA: SNIR/ Legislação.2014

A caracterização consiste nos aspectos físico-químicos, biológicos, qualitativo

e/ou quantitativo das amostras. De acordo com a caracterização dos resíduos, pode-

se enfim classifica-los para a melhor escolha da destinação do mesmo. Cumprindo-

Page 73: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

72

se assim a norma da ABNT NBR 10004/04 e também a lei 12.305 de agosto de

2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Descrição da origem do resíduo

Estado físico

Aspecto geral

Cor

Odor

Grau de heterogeneidade

Denominação do resíduo

Estado físico

Processo de origem

Atividade industrial

Constituinte principal

Destinação

Destinação final

Aterro para resíduo perigoso

Aterro sanitário (não perigoso)

Aterro de resíduo inerte (solubilidade)

Tratamento térmico (compostagem, incineração, co-processamento)

Após a caracterização dos resíduos sólidos, é realizado a classificação dos

resíduos, que envolve a identificação da atividade que gerou determinado resíduo,

além dos seus constituintes.

A norma NBR 10004/04 da ABNT dispõe sobre a classificação dos resíduos

sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública para

que possam ser gerenciados adequadamente.

A norma classifica os resíduos nos seguintes grupos:

Resíduos Classe I – Perigosos

Os resíduos considerados perigosos são aqueles que têm características que

podem colocar em risco as pessoas que manipulam ou que tem algum outro tipo de

contato com o material.

Page 74: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

73

Fonte: www.koleta.com.br

Para um resíduo ser considerado perigoso, ele deve apresentar pelo menos uma

das características seguintes: inflamabilidade, corrosividade, toxicidade, reatividade

e/ou patogenicidade.

A NBR 10004/04 aponta critérios específicos para o profissional capacitado

classifique e avalie cada propriedade dos resíduos. A intenção é que se o produto for

considerado “perigoso”, seja tomada as devidas providencias para

manuseio, transporte e a correta destinação desses materiais.

Resíduos não perigosos não inertes (Classe II A)

São resíduos que não se apresentam como inflamáveis, corrosivos, tóxicos,

patogênicos, e nem possuem tendência a sofrer uma reação química. Contudo, não

se pode dizer que esses resíduos classe II A não trazem perigos aos seres humanos

ou ao meio ambiente.

Os materiais desta classe podem oferecer outras propriedades, sendo

biodegradáveis, comburentes ou solúveis em água.

Resíduos dessa classificação merecem a mesma cautela para destinação final

e tratamento do resíduo de classe I.

Page 75: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

74

Resíduos não perigosos inertes (Classe II B)

Os resíduos dessa classificação não têm nenhuma das características dos

resíduos de classe I.

Porém, se mostram indiferentes ao contato com a água destilada ou desionizada,

quando expostos à temperatura média dos espaços exteriores dos locais onde foram

produzidos.

Com isso, não apresentam solubilidade ou combustibilidade para tirar a boa

potabilidade da água, a não ser no que diz respeito à mudança de cor, turbidez e

sabor, seguindo os parâmetros indicados no Anexo G da NBR 10004/04.

Após a classificação, deve-se elaborar um relatório ou laudo, contendo

informações sobre os resíduos. Desse modo é mais fácil para estabelecer qual o

melhor descarte final, tratamento, transporte, embalagens.

8.4 Outros tipos de resíduos sólidos

É importante destacar que há outros tipos de resíduos sólidos classificados

segundo a origem, como: resíduos hospitalares, agrícolas, industriais, da construção

civil, de varrição, comerciais, domésticos; os do tipo recicláveis e não recicláveis.

No entanto, somente profissionais especializados podem indicar o melhor

descarte para esse tipo de resíduos. Não apenas o descarte, mas os cuidados que

devem ser tomados durante o processo de embalagem e transporte, e, até mesmo

indicar melhores procedimentos para reciclagem, tratamento e destinação final.

8.5 Resíduos industriais

Os resíduos industriais são considerados os maiores responsáveis pela

poluição do meio ambiente. Para isso a melhor solução é o gerenciamento dos

resíduos sólidos industriais, possibilitando que as industriais contribuam para um meio

ambiente menos poluído e mais saudável.

Page 76: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

75

Fonte: www.saolourencoambiental.com.br

De acordo com Resolução 313 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, são

considerados resíduos industriais todo aquele que:

Resulte das atividades das indústrias;

Se encontre nos estados sólido, semissólido, gasoso (quando contido)

ou líquido;

Cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública

de esgoto ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas

ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia possível.

Inclui-se também lodos provenientes de sistemas de tratamento de efluentes

líquidos e aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição.

Sendo assim, todo remanescente da atividade industrial que preencha esses

requisitos é considerado resíduo industrial.

Page 77: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

76

8.6 Impactos Causados pela Disposição Inadequada dos Resíduos Sólidos

Os recursos naturais estão a cada dia mais escasso, devido o uso excessivo e

sem as devidas medidas de preservação, e também em consequência do descarte

irregular de resíduos sólidos nos ecossistemas, a exemplo dos lixões, da disposição

em valas e locais públicos, constituindo um sério problema em relação aos aspectos

ambientais, a saúde e suas interações.

Fonte: residuoall.com.br

Os resíduos sólidos são considerados perigosos devido às suas propriedades

físicas, químicas e infectocontagiosas e, por isso, alguns dos resíduos sólidos, a

exemplo dos inorgânicos, disposto no solo não degradam facilmente, tal como o vidro,

o alumínio, o plástico, entre outros, persistindo por muitos anos no meio ambiente. Já

no processo físico-químico de decomposição dos resíduos orgânicos, quando não

controlado de forma correta, produzirá um líquido, ou seja, o chorume rico em sua

maioria em metais pesados, chumbo, níquel, cádmio, e outros, e tanto escoa, como

percola e infiltra no solo, contaminando os meios hídricos superficiais e também

subterrâneos. Isso pode se agravar ainda mais no período de chuva, devido ao

Page 78: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

77

aumento no processo carreamento e infiltração dessas substâncias em grande

quantidade (SILVA,2015).

8.7 Doenças Causadas Devido à Disposição Inadequada dos Resíduos Sólidos

Os impactos ambientais ocorridos pela disposição inadequada dos resíduos

sólidos vêm seriamente afetando a saúde pública, através do desenvolvimento de

diversas doenças crônico-degenerativas e infectas contagiosas, transmitidas por

ratos, baratas, moscas, cães, etc., além dos microrganismos patogênicos, tais como

as bactérias, vírus, protozoários e helmintos, que são responsáveis pela transmissão

da leptospirose, dengue, diarreia, febre tifoide, malária e outras(SILVA,2015).

O descarte de pilhas, lâmpadas fluorescentes e outros objetos que têm em sua

composição o mercúrio, são descartados junto com os resíduos sólidos orgânicos,

contaminando através do processo de lixiviação o solo e a água e por sua vez,

prejudicando a cadeia alimentar, levando o homem a desenvolver sérios problemas

no sistema nervoso, provocando lesões no córtex e no cérebro, que podem ser

irreversíveis (SILVA,2015).

O Quadro abaixo apresenta as doenças relacionadas aos agentes biológicos que

fazem dos resíduos sólidos sua fonte de alimentação ou abrigo.

Fonte: Cussiol (2005)

Page 79: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

78

8.8 Reciclagem: a indústria do presente

A reciclagem é uma das alternativas de tratamento de resíduos sólidos mais

vantajosas, tanto do ponto de vista ambiental como do social. Ela reduz o consumo

de recursos naturais, poupa energia e água e ainda diminui o volume de lixo e a

poluição. Além disso, quando há um sistema de coleta seletiva bem estruturado, a

reciclagem pode ser uma atividade econômica rentável. Pode gerar emprego e renda

para as famílias de catadores de materiais recicláveis, que devem ser os parceiros

prioritários na coleta seletiva. Em algumas cidades do país, como por exemplo, São

Paulo e Belo Horizonte, foi implementada a Coleta Seletiva Solidária, fruto da parceria

entre o Governo local e as associações ou cooperativas de catadores.

Fonte: sociedadepublica.com.br

Para atrair mais investimentos para o setor, é preciso uma união de esforços

entre o governo, o segmento privado e a sociedade no sentido de desenvolver

políticas adequadas e desfazer preconceitos em torno dos aspectos econômicos e da

confiabilidade dos produtos reciclados.

Os materiais normalmente encaminhados para a reciclagem são o vidro

(garrafas, frascos, potes etc.), o plástico (garrafas, baldes, copos, frascos, sacolas,

canos etc.), papel e papelão de todos os tipos e metais (latas de alimentos,

Page 80: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

79

refrigerantes etc.). Por questões de tecnologia ou de mercado, alguns materiais ainda

não são reciclados.

8.9 Para onde vai o lixo?

Segundo a pesquisa do IBGE, em 64% dos municípios brasileiros o lixo é

depositado de forma inadequada, em locais sem nenhum controle ambiental ou

sanitário. São os conhecidos lixões ou vazadouros, terrenos onde se acumulam

enormes montanhas de lixo a céu aberto, sem nenhum critério técnico ou tratamento

prévio do solo, com a simples descarga do lixo sobre o solo. Além de degradar a

paisagem e produzir mau cheiro, os lixões colocam em risco o meio ambiente e a

saúde pública.

Como resultado da degradação dos resíduos sólidos e da água de chuva é

gerado um líquido de coloração escura, com odor desagradável, altamente tóxico,

com elevado poder de contaminação que pode se infiltrar no solo, contaminando-o e

podendo até mesmo contaminar as águas subterrâneas e superficiais. Esse líquido,

chamado líquido percolado, lixiviado ou chorume, pode ter um potencial de

contaminação até 200 vezes superior ao esgoto doméstico.

Além da formação do chorume, os resíduos sólidos, ao serem decompostos,

geram gases, principalmente o metano (CH4), que é tóxico e altamente inflamável, e

o dióxido de carbono (CO2) que, juntamente com o metano e outros gases presentes

na atmosfera, contribui para o aquecimento global da Terra, já que são gases de efeito

estufa.

Existe uma técnica ambientalmente segura para dispor os resíduos, denominada

aterro sanitário. Esta técnica surgiu na década de 1930 e vem se aperfeiçoando com

o tempo. O aterro sanitário pode ser entendido como a disposição final de resíduos

sólidos no solo, fundamentado em princípios de engenharia e normas operacionais

específicas, com o objetivo de confinar o lixo no menor espaço e volume possíveis,

isolando-o de modo seguro para não criar danos ambientais e para a saúde pública.

Os resíduos dispostos em aterros estão isolados do meio ambiente externo por meio

da impermeabilização do solo, da cobertura das camadas de lixo e da drenagem de

gases.

Page 81: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

80

Tratamento e disposição final do lixo: Existem algumas formas possíveis para

o tratamento do lixo e sua disposição final na natureza. No Brasil, o gerenciamento

dos resíduos sólidos urbanos é de responsabilidade das Prefeituras Municipais. Ainda

é bastante reduzido o número de municípios que possuem um bom gerenciamento de

resíduos sólidos, com sistemas adequados de coleta, tratamento e disposição final

dos resíduos. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada

pelo IBGE em 2000, 64% dos municípios brasileiros depositam seus resíduos em

lixões. Apenas 14% possuem aterros sanitários e 18% possuem aterros controlados.

Existe, ainda, a necessidade de se promover a universalização da limpeza pública

(coleta, varrição, tratamento, destinação final etc.) para toda a população brasileira, já

que cerca de 30 % do total de resíduos gerados não é coletado no país (IPT/Cempre

2000).

Fonte: www2.maringa.pr.gov.br

O conjunto de ações que objetivam a minimização da geração de lixo e a

diminuição da sua periculosidade constitui a fase de tratamento dos resíduos, que

representa uma forma de torná-los menos agressivos para a disposição final,

diminuindo o seu volume, quando possível. Os processos de tratamento dos resíduos

são os seguintes:

Page 82: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

81

Compostagem: É um processo no qual a matéria orgânica putrescível (restos

de alimentos, aparas e podas de jardins etc.) é degradada biologicamente, obtendo-

se um produto que pode ser utilizado como adubo. A compostagem permite aproveitar

os resíduos orgânicos, que constituem mais da metade do lixo domiciliar. A

compostagem pode ser feita em casa ou em unidades de compostagem.

Incineração: É a transformação da maior parte dos resíduos em gases, através

da queima em altas temperaturas (acima de 900º C), em um ambiente rico em

oxigênio, por um período pré-determinado, transformando os resíduos em material

inerte e diminuindo sua massa e volume. Não se deve confundir a incineração com a

simples queima dos resíduos. No primeiro caso, os incineradores geralmente são

dotados de filtros, evitando que gases tóxicos sejam lançados na atmosfera.

De qualquer forma, devido a aspectos técnicos, a incineração não é o tratamento

mais indicado para a maioria dos resíduos gerados e não é adequado à realidade das

cidades brasileiras. Algumas unidades de incineração estão sendo desativadas no

país por operarem precariamente, sem sistemas de tratamento adequado dos gases

emitidos. A incineração é um sistema complexo, que envolve milhares de interações

físicas e reações químicas. Além do dióxido de carbono e do vapor de água, outros

gases são produzidos, incluindo diversas substâncias tóxicas, como metais pesados

e outras.

Entre elas, destacam-se as dioxinas e os furanos, classificados como poluentes

orgânicos persistentes – POPs, que são tóxicos, cancerígenos, resistentes à

degradação e acumulam-se em tecidos gordurosos (humanos e animais). Esses

poluentes são transportados pelo ar, água e pelas espécies migratórias, sendo

depositados distante do local de sua emissão, onde se acumulam em ecossistemas

terrestres e aquáticos. Em decorrência dessas características, em setembro de 1998

a Environmental Protection Agency (EPA), a agência de proteção ambiental

americana, anunciou que não existe um nível “aceitável” de exposição às dioxinas.

Pirólise: Diferentemente da incineração, na pirólise a queima acontece em

ambiente fechado e com ausência de oxigênio.

Digestão Anaeróbica: É um processo baseado na degradação biológica, com

ausência de oxigênio e ambiente redutor. Neste processo há a formação de gases e

líquidos. Este princípio é bastante utilizado em todo o mundo em aterros sanitários.

Reuso ou Reciclagem: Já implantados em vários municípios brasileiros, estes

processos baseiam-se no reaproveitamento dos componentes presentes nos resíduos

Page 83: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

82

de forma a resguardar as fontes naturais e conservar o meio ambiente. Como todo

processo de tratamento produz um rejeito, isto é, um material que não pode ser

utilizado, a disposição final em aterros acaba sendo imprescindível para todo tipo de

tratamento.

Aterro sanitário: É um método de aterramento dos resíduos em terreno

preparado para a colocação do lixo, de maneira a causar o menor impacto ambiental

possível. Veja a seguir algumas das medidas técnicas empregadas para proteger o

meio ambiente:

O solo é protegido por uma manta isolante (chamada de geomembrana) ou

por uma camada espessa de argila compactada, impedindo que os líquidos

poluentes, lixiviados ou chorume, se infiltrem e atinjam as águas

subterrâneas;

São colocados dutos captadores de gases (drenos de gases) para impedir

explosões e combustões espontâneas, causadas pela decomposição da

matéria orgânica. Os gases podem ser queimados para evitar sua dispersão

na atmosfera;

É implantado um sistema de captação do chorume, para que ele seja

encaminhado a um sistema de tratamento;

As camadas de lixo são compactadas com trator de esteira, umas sobre as

outras, para diminuir o volume, e são recobertas com solo diariamente,

impedindo a exalação de odores e a atração de animais, como roedores e

insetos;

O acesso ao local deve ser controlado com portão, guarita e cerca, para evitar

a entrada de animais, de pessoas e a disposição de resíduos não autorizados.

Page 84: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

83

Fonte: www.grupoescolar.com

Aterro controlado: O aterro controlado não é considerado uma forma

adequada de disposição de resíduos porque os problemas ambientais de

contaminação da água, do ar e do solo não são evitados, já que não são utilizados

todos os recursos de engenharia e saneamento que evitariam a contaminação do

ambiente.

Fonte: meioambiente.culturamix.com

Page 85: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

84

No entanto, representa uma alternativa melhor do que os lixões, e se diferenciam

destes por possuírem a cobertura diária dos resíduos com solo e o controle de entrada

e saída de pessoas.

Unidades de segregação e/ou de compostagem: Essa forma de tratamento

prevê a instalação de um galpão para a separação (triagem) manual dos resíduos,

usualmente realizada em esteiras rolantes. Quando o município realiza a coleta

seletiva, os resíduos já chegam separados, isto é, materiais recicláveis separados dos

resíduos orgânicos.

Fonte: www.poa24horas.com.br

Entretanto, quando não existe esta separação nas residências, comércios etc.,

os sacos de lixo coletados na coleta convencional são encaminhados para a triagem,

onde os resíduos recicláveis são separados dos orgânicos. Neste último caso, a

separação é muito mais difícil porque os resíduos estão misturados, dificultando a

segregação e comprometendo a qualidade do composto orgânico produzido.

No Brasil, o sistema de reciclagem e compostagem desvinculado da coleta

seletiva tem-se mostrado oneroso, pois além de exigir gastos elevados com muitos

funcionários e equipamentos, a separação do material orgânico do reciclável é muito

baixa. Por esta razão, a melhor alternativa é integrar as centrais de triagem e de

Page 86: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

85

compostagem a um sistema de coleta seletiva, promovendo a separação dos

materiais recicláveis e compostáveis na origem e a participação comunitária. Para que

a coleta seletiva seja realmente eficiente é necessária a mudança de hábito na

disposição e acondicionamento do lixo já na fonte geradora. Além dos benefícios

ambientais promovidos pela coleta seletiva e consequente destinação dos resíduos

para reciclagem e compostagem, podemos considerar também os benefícios de

inclusão social dos catadores, caso eles sejam os parceiros preferenciais na coleta

seletiva.

9 CULTURA E SUSTENTABILIDADE EM FOCO: A CULTURA DA

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Desde quando emergiu no ambiente primitivo e sem o desenvolvimento do

intelecto, os primeiros grupos humanos pouco se diferenciavam dos outros animais,

pautando suas preocupações apenas na percepção dos meios de subsistência pela

alimentação e pela segurança física. Viviam submissos aos rigores do ambiente, pela

falta de habilidade para enfrentar as contingências da natureza e a competição com

muitas outras espécies animais até que conseguiram desenvolver as primeiras

estratégias de organização (FEITOSA, 2017).

Os primeiros rudimentos de intelectualidade potenciaram ao homem o sentido

de organização e de representação do espaço, que são marcos referenciais das

atividades humanas, ao longo do processo civilizatório. A evolução deste processo

registra o apogeu e o declínio de algumas comunidades, em diversos lugares e

através do tempo, permeados por algumas iniciativas ambientalmente racionais, que

perduraram e se notabilizaram por sua contribuição ao equilíbrio da natureza

(FEITOSA, 2017).

Inicialmente, atribuindo pouca importância coletiva aos problemas ambientais,

as primeiras reflexões no sentido de seu enfrentamento emergiram na percepção

individual de estudiosos mais conscientes de sua relação responsável com o futuro

do ambiente, no que respeita a extração de matéria-prima para a produção dos

recursos, mais ainda sem a ponderação de ações mitigadoras tão reivindicadas na

atualidade. Tais reflexões deram origem às primeiras reuniões setoriais e eventos

Page 87: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

86

científicos de nível local e regional, para discutir a temática, os quais logo evoluíram

para a escala global (FEITOSA, 2017).

Para além da discussão e aprovação dos instrumentos legais de educação

ambiental, normatização, fiscalização e ações coercitivas com grande volume de

estudos e relatórios de impacto ambiental produzido para atender as exigências da

legislação e recolhidos em acervos documentais cujas recomendações vêm sendo

negligenciadas por falta de interesse ou de meios materiais. No âmbito da percepção

individual, merece destaque (FEITOSA, 2017).

9.1 Ambiente, Cultura e Sustentabilidade

Emergindo da natureza, o homem se aproveita dos recursos por ela oferecidos,

como todos os seres vivos mais evoluídos, para prover sua subsistência e abrigo.

O processo de desenvolvimento do homem evidencia etapas que permitem

caracterizar suas primeiras atividades, como: coleta, caça e pesca, domesticação de

animais e de plantas, as quais, praticadas por pequenos grupos de indivíduos e com

incipiente emprego da técnica, não constituíram causa de impactos significativos à

natureza. Contudo, evidenciam o início dos processos culturais cujo percurso resultou

na diversidade atual, tão bem fragmentada, analisada e valorizada (FEITOSA, 2017).

Com a Revolução Industrial, no século XVIII, o incremento das atividades da

agricultura, da pecuária e mineração modernas, para atender as demandas das

populações urbanas e de matérias-primas para as indústrias, acelerou a frequência e

a magnitude dos impactos das atividades humanas sobre o ambiente natural, de cujo

processo emergiram as primeiras preocupações com a natureza, mediante a

perspectiva de esgotamento dos recursos pela superação dos limiares de equilíbrio

do ambiente natural (FEITOSA, 2017).

Ações decorrentes das conferências citadas motivaram a construção de uma

agenda ambiental cuja culminância resultou na Rio-92 e na Rio+20 com protocolos

internacionais e documentos diversos, como a Agenda 21, instrumento para orientar

a cooperação de governos, empresas, organizações não-governamentais e a

sociedade em geral, em âmbito global, nacional e local e nas instâncias de

planejamento e gestão socioambiental.

Page 88: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

87

As ações do homem no ambiente, praticadas por determinado grupo em um

tempo e lugar delimitados, constitui a Cultura daquele segmento da humanidade em

sua totalidade, representada por todas as manifestações individuais e coletivas que

expressam aptidão, conhecimento, comportamento, costumes e crenças.

9.2 Cultura, produto do desenvolvimento do homem

Emergindo da natureza, as primeiras manifestações culturais do homem

expressaram suas ações e reações praticadas para subsistir ao embate com os

rigores da natureza e com os animais para adquirir aptidão e conhecimento, ainda que

incipiente, o instrumental necessário à mudança de comportamento para a superação

dos obstáculos. Em estágio mais evoluído, identifica-se a elaboração de artefatos para

maior eficiência nas atividades de coleta, pesca, caça, criação de animais e

agricultura, seguindo-se a representação espacial dos elementos do seu universo

conhecido através da arte rupestre e dos processos audíveis (FEITOSA, 2017).

Na atualidade, muitas ciências expressam compreensão própria sobre o

conceito e definição de cultura, notadamente as ciências sociais, filosofia e

antropologia e geografia, ainda que se identifiquem pequenas diferenciações por

vezes frutos da variação semântica. Nesse contexto, merece relevo a valorização e

proteção da cultura popular e da cultura patrimonial, aplicada ao ambiente, mesmo

que com motivação focada na geração de renda.

9.3 A Cultura da Sustentabilidade Ambiental

A concepção de sustentabilidade ambiental vem sendo introduzida na rotina

diária do coletivo das pessoas como um apelo para a solução de uma crise que as

afeta, mas que elas, individualmente, sabem que não deram causa, e para o resgate

de uma condição ambiental que a grande maioria não sabe ter perdido, ou mesmo se

existiu. Contudo, embora a postura das pessoas possa parecer alienação em relação

a um problema que as afeta no dia-a-dia, é resultado da falta de educação formal com

qualidade ou mesmo de instrução (FEITOSA, 2017).

Uma pequena parcela do coletivo de pessoas, tendo recebido educação formal

ou instrução com qualidade em relação aos problemas ambientais, tem conhecimento

destes, mas não os incorpora em nível consciente e não os interpreta como motivação

Page 89: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

88

para uma mudança séria de valores e atitudes em relação ao ambiente. Neste caso,

afigura-se certa alienação em relação aos apelos por não terem contribuído para dar

causa aos problemas.

O despertar da crise ambiental responsabilizou o crescimento econômico com

foco no sistema industrial e deflagrou uma série de ações para equacionar os

problemas identificados através de controles instituídos na legislação e criação de

normas específicas. Dentre as principais ações neste sentido, referimos a criação do

PNUMA, cujas ações serviram de base para as políticas públicas ambientais a nível

nacional (FEITOSA, 2017).

Considerando todos os esforços despendidos e recursos investidos em

Educação Ambiental ao longo dos últimos 40 anos, ainda não se observam resultados

que indiquem uma mudança efetiva dos valores e atitudes dos indivíduos quanto à

prática sistemática de ações sustentáveis, mas apenas aquisição de informações

dispersas sobre a necessidade de preservar o “meio ambiente”.

A importância da cultura para a sustentabilidade ambiental vem sendo pontuada

por sua influência no fortalecimento dos grupos sociais e para agregar valor às

variadas expressões e manifestações, fato que contribui para a melhoria das

condições econômicas, sociais e ambientais. O reconhecimento desta possibilidade

tornou-se mais visível com o lançamento do livro Cultura: o 4º Pilar da

Sustentabilidade (no qual se destaca a importância da cultura para o resgate dos

costumes e tradições e o conhecimento do passado como indicador de perspectiva

do futuro).

No plano de ação do indivíduo, todas as suas manifestações expressam a cultura

apreendida como produto das experiências vividas nos meios em que atuou de modo

ativo ou passivo. Mediante os apelos da cultura da sustentabilidade ambiental em

cumprimento à responsabilidade de cada indivíduo neste processo, tais

manifestações podem denotar o cultivo consciente e disciplinado de atitudes e valores

ambientais nos aspectos objetivos e subjetivos. Um exemplo a ser copiado, um

modelo a ser seguido.

9.4 Técnicas para Elaboração e Avaliação de Projetos Sustentáveis

O Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, tem como

finalidade chamar a atenção de todas as esferas da população para os problemas

Page 90: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

89

ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais. A data foi

instituída na a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em

1972.

Dentre os principais problemas que afetam o meio ambiente, podemos destacar

o descarte inadequado de lixo, a falta de coleta seletiva e de projetos de reciclagem,

consumo exagerado de recursos naturais, desmatamento, uso de combustíveis

fósseis, desperdício de água e esgotamento do solo. Esses problemas e outros

poderiam ser evitados se todas as esferas da sociedade se conscientizassem da

importância do uso correto e moderado dos nossos recursos naturais.

A pesar de parecer uma tarefa difícil, o meio ambiente pode ser ajudado com

medidas individuais bastante simples de sustentabilidade. Se cada um fizer sua parte,

podemos garantir um futuro mais promissor para as gerações futuras. E o papel da

escola nessa tarefa é fundamental.

Criação de Horta na Escola

A construção de uma horta escolar é uma forma dos alunos compreenderem

mais sobre como a terra fornece o alimento e a importância de cuidar do solo. A horta

pode se expandir para um projeto comunitário, educar os outros e permitir que a

comunidade escolar tenha a oportunidade de trabalhar junta.

Fonte: www.palmas.to.gov.br

Page 91: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

90

A escola é um ambiente importante para o desenvolvimento do indivíduo como

um todo. É papel da escola propiciar a emancipação do indivíduo, ou seja, fornecer a

ele ferramentas que os tornem responsáveis e capazes de contribuir e resolver

questões sociais. Também é importante que a escola favoreça as relações do

educando com o meio ambiente onde vive. Pois este contato com o ambiente natural

pode despertar a consciência das pessoas para o fato que os recursos naturais são

finitos (ARRUDA; MARQUES; REIS, 2017).

O desenvolvimento de projetos no ambiente escolar, que abordem a temática

ambiental, tem grande importância para promover este contato ser humano- natureza.

Ultrapassando assim a barreira da teoria somente. Um exemplo de projetos desta

natureza é a construção de hortas no ambiente escolar. A construção de uma horta

proporciona diversos benefícios para os envolvidos no processo. Com a confecção da

horta, o estudante tem possibilidade de aprender a plantar, selecionar o que plantar,

planejar o que plantou, transplantar mudas, regar, cuidar, colher, decidir o que fazer

do que colheu. É importante que o educando participe ativamente de todas a etapas

deste processo, pois assim estes se sentem estimulados e corresponsáveis pelo

projeto (ARRUDA; MARQUES; REIS, 2017).

Compostagem demonstra os processos da natureza de decomposição,

transformando resíduos orgânicos em novo solo, permitindo que os alunos se

familiarizem com o ciclo de nutrientes. Os alunos podem construir com o adubo para

uso no pátio da escola a ser preenchido com jardim e restos de comida.

Programa de Reciclagem

A maioria dos resíduos da sociedade é composta por papel e programas de

reciclagem devem tentar lidar com todos os tipos possíveis. As escolas podem criar

contentores de reciclagem nas salas de aula, escritórios, salões e refeitório para

coletar resíduos. Pode-se também envolver a comunidade, pedindo doação de

materiais recicláveis para serem trabalhados dentro da escola.

Projeto de Arborização

As árvores são partes importantes do ecossistema por fornecerem oxigênio,

proteger o solo, fornece habitat animal e limpar o ar. O plantio de árvores consiste em

grande experiência prática de cuidar do meio ambiente e contribuir para a comunidade

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91

local, além de fornecer habitat natural e de alimentos para animais. Um projeto de

plantação fornece a oportunidade para aprender sobre botânica e o papel das árvores

nos ecossistemas.

Uso Racional de Energia Elétrica

Disseminar conceitos básicos de uso eficiente e seguro da energia elétrica e

promover a conscientização da comunidade escolar para o seu uso racional. As

escolas podem criar iniciativas para transformar os alunos em agentes multiplicadores

do uso correto da energia elétrica dentro e fora da escola, para que seja compartilhado

com os familiares e a comunidade.

10 O MEIO AMBIENTE E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Na década de 1960, começaram os debates sobre a questão ambiental no Brasil.

A realização de encontros e congressos sobre o assunto fez surgir um embrionário

movimento ecológico organizado. Entretanto, efetivamente, foi na década de 1970 que

o governo federal direcionou sua atenção para os problemas de degradação

ambiental, com a criação de áreas protegidas - como os Parques Nacionais - e

punição aos infratores ambientais.

Em uma conjuntura de ―milagre econômico, quando o governo brasileiro

priorizava o crescimento econômico e a industrialização como condição de

desenvolvimento em detrimento da conservação e o uso racional de recursos naturais,

foram criadas as primeiras instituições e políticas públicas ambientais do

país(MARTINS, 2017).

Em 1999 foi editada a Lei n° 9.795, que dispõe sobre a Política Nacional de

Educação Ambiental e define as orientações políticas e pedagógicas deste tema

transversal nos sistemas de ensino em âmbito nacional. A Lei preconiza que a EA

deve ser desenvolvida nos currículos das instituições de ensino públicas e privadas,

em todos os níveis de ensino e de forma interdisciplinar.

Com todo um aparato legal, a Educação Ambiental vai se disseminando e se

tornando uma realidade nos bancos escolares do Brasil. Todavia, o ―como cuidar da

vida no planeta‖ envolve diferentes concepções de sociedade, de educação e da

relação homem e a natureza. Concepções que se refletem no fazer pedagógico do

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92

professor. E a respeito dessas concepções de educação e educação ambiental que o

próximo capítulo se propõe a refletir (MARTINS, 2017).

10.1 As Diferentes Concepções de Educação e de Educação Ambiental

Desde que o vocábulo ―educação ambiental começou a ser utilizado no Brasil,

uma heterogeneidade de denominações surgiu para designar as diferentes

concepções epistemológicas que orientam a prática pedagógica: variando entre uma

abordagem conservacionista, que apregoa o uso racional dos recursos naturais e uma

adequação dos comportamentos individuais ao ponto de vista ambiental, até a EA

crítica, que propõe a compreensão das relações sociedade-natureza e uma

consequente intervenção nos problemas e conflitos ambientais. Tais concepções

norteiam o fazer pedagógico de formas diversas. Com visões de mundo e objetivos

bem diferenciados, as diferentes denominações vão demarcando as fronteiras

internas do campo da educação ambiental (MARTINS, 2017).

As concepções de educação norteiam, de formas diversas, a prática educativa.

Para que ocorra aprendizagem, na abordagem histórico-cultural, é necessária a

mediação cultural. Assim, a Educação Ambiental necessita transcender os aspectos

puramente biológicos, de forma que tenha um alcance social desde o seu conceito até

a prática pedagógica (MARTINS, 2017).

10.2 Olhares e Práticas diferenciadas na Educação Ambiental

A concepção que se tem de Educação Ambiental está intimamente relacionada

à representação que um indivíduo e, sobretudo, um grupo possui de meio ambiente.

Por se tratar de termo passível de múltiplas significações, o conceito tem suscitado

inúmeras discussões (MARTINS, 2017).

Os PCN – Meio Ambiente – 3º e 4º ciclos (1988), no anexo III, orienta o professor

com relação a noções básicas referentes à questão ambiental. Dentre elas, a definição

de meio ambiente:

[...] o termo “meio ambiente" tem sido utilizado para indicar um “espaço” (com seus componentes bióticos e abióticos e suas interações) em que um ser vive e se desenvolve, trocando energia e interagindo com ele, sendo transformado e transformando-o. No caso do ser humano, ao espaço físico e biológico soma-se o “espaço” sociocultural. Interagindo com os elementos do

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seu ambiente, a humanidade provoca tipos de modificação que se transformam com o passar da história. E, ao transformar o ambiente, o homem também muda sua própria visão a respeito da natureza e do meio em que vive. (PCNs,2001,p.31-32).

Assim, a questão ambiental integra processos tanto de ordem física como social,

superando, dessa forma, uma concepção reducionista de ambiente.

É num campo novo do conhecimento, com inúmeras formas de concepção e

significação do meio ambiente, onde natureza e cultura se articulam e que a Educação

Ambiental avança na construção de seu objeto de estudo (MARTINS, 2017).

10.3 A construção do campo educativo-ambiental e o compromisso com a sociedade

A presença da educação ambiental nas licenciaturas é a extensão do processo

de retradução da crise ambiental no campo acadêmico na forma de problemática

ambiental.

Ao abordar a origem do conceito de campo, Bourdieu afirma que ele foi

elaborado para resolver um problema colocado pela explicação da produção dos bens

simbólicos na sociedade. A produção cultural, na qual se incluem a ciência e o

conhecimento ambiental, se explica pela articulação entre o seu conteúdo, na forma

de auto explicação – uma obra se explica por si só – e as suas determinações sociais.

Neste sentido, o campo é um espaço relativamente autônomo, com leis próprias,

ainda que na produção ele se constitua em função das pressões e solicitações

externas a ele, por exemplo, aquelas colocadas pela questão ambiental à formação

acadêmica.

Numa sociedade complexa em que a organização do trabalho e as relações

sociais estão sofrendo profundas alterações, a escola e o professor têm uma árdua

missão: responder às demandas dessa sociedade sem perder a sua função primordial

que é a de’ ensinar. Na chamada ―era do conhecimento, da comunicação midiática,

formar um aluno que se adapte às exigências de um mundo cada vez mais científico

e tecnológico e que seja capaz de transformar a realidade em que vive é tarefa que a

sociedade delega a escola e, principalmente, ao professor.

Ao novo currículo, além das áreas do conhecimento tradicionais, foram

incorporadas questões sociais da vida real, contemporâneas, que estão sendo

debatidos nas famílias, nas comunidades, nas igrejas, na mídia e necessitam serem

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discutidos dentro das escolas. É neste contexto que a inclusão de projetos de EA é

realizada nas escolas.

Em face dessa complexidade, a escolha dos procedimentos metodológicos não

é fácil. Investigar os projetos de Educação Ambiental, na educação formal, requer a

imersão num espaço contraditório e complexo que é a escola. E, mais

especificamente, abordar esse tema sob a ótica do professor é desafiador. O

professor pensa e age circunstanciado por suas representações, crenças,

sentimentos e valores e torna-se difícil compreender seus comportamentos sem

vivenciar o contexto onde a prática educativa se realiza que é a escola. Daí a

necessidade da aproximação do pesquisador com o contexto da pesquisa.

Acompanhar de perto os movimentos, as expressões e as mensagens, muitas vezes

subjetivas, permite uma melhor compreensão da realidade, identificando práticas que

vão além das aparências (MARTINS, 2017).

Os princípios da Epistemologia Qualitativa – denominação dada à pesquisa

qualitativa por González Rey - possuem uma estreita relação com a subjetividade. O

autor enfatiza que a subjetividade está constituída tanto no sujeito, como nos

diferentes espaços sociais em que ele se relaciona. Os diferentes espaços de uma

sociedade estão estreitamente relacionados entre si, assim como suas implicações

subjetivas. É a subjetividade social que se apresenta nas representações sociais, nos

mitos, nas crenças, na moral, na sexualidade, nos diferentes espaços em que se vive

e está atravessada pelos discursos e produções de sentido que configuram sua

organização subjetiva na obra citada (MARTINS, 2017).

Assim, entende-se que para melhor compreensão das ações pedagógicas dos

professores envolvidos nos projetos de EA da rede pública de ensino é importante

observar e analisar os aspectos subjetivos – tanto individuais quanto sociais – que

participam no processo de formação do professor. Em sua prática pedagógica, ele

pensa e age apoiado em conhecimentos que estão sendo produzidos nos variados

espaços em que se relaciona. Daí a importância das relações inter e intrapessoais

que o professor estabelece no seu processo de formação (MARTINS, 2017).

Além da formação ofertada nas instituições de ensino superior, outros espaços

dentro do campo acadêmico são ocupados por esse conhecimento, tais como eventos

e publicações científicas, indicando que ele tem conseguido fazer “triunfar

argumentos, demonstrações e refutações” de acordo com as regras do campo.

Contudo, ainda são “focos” que não garantem a sua vitória na disputa pelo poder no

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campo. De certa forma, a imagem que mais se aproxima desta possibilidade tem sido

apresentada pelo discurso da ambientalização do Ensino Superior, na qual haveria.

10.4 Educação Ambiental Popular

Depois da reunião do "Clube de Roma" em 1968 e da "Conferência das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente Humano" em Estocolmo em 1972, a problemática

ambiental passou a ser analisada na sua dimensão planetária. Nesta última

conferência, uma das resoluções indicadas no seu relatório final apontava para a

necessidade de se realizarem projetos de educação ambiental.

Em 1977, a UNESCO realizou em Tbilisi, URSS, a primeira Conferência Mundial

de Educação Ambiental, após a realização de inúmeras outras a nível regional, nos

diferentes continentes. Em 1987, em Moscou, foi realizada a segunda Conferência

Mundial que reafirmou os objetivos da educação ambiental indicados em Tbilisi.

Surgidos do consenso internacional, os objetivos da educação ambiental são:

Consciência: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem uma

consciência e uma sensibilidade acerca do meio ambiente e dos problemas a ele

associados.

Conhecimento: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a ganharem uma

grande variedade de experiências.

Atividades: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem um conjunto

de valores e sentimentos de preocupação com o ambiente e motivação para

participarem ativamente na sua proteção e melhoramento.

Competência: Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem

competências para resolver problemas ambientais.

Participação: Propiciar aos grupos sociais e aos indivíduos uma oportunidade

de se envolverem ativamente, em todos os níveis, na resolução de problemas

relacionados com o ambiente.

Esses elementos fundamentam experiências diversas em educação ambiental a

nível escolar e extraescolar.

Muito recentemente temos visto o surgimento do que tem sido chamado de

educação ambiental popular, no que o ICAE é um dos centros pioneiros na sua

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96

divulgação e está implementando uma política de realização. Onde então a educação

popular e a educação ambiental se encontram e se unem?

Nesta perspectiva de educação popular se incluem os objetivos da educação

ambiental, só que a primeira tem uma tradição pedagógica e política voltada para o

avanço das camadas populares. Avanço este que inclui melhores condições de vida,

democracia e cidadania. A opção política explícita da educação popular não se

encontra facilmente nos projetos de educação ambiental que têm sido realizados no

Brasil, em particular. Um estudo mais aprofundado sobre isso na América Latina, é

necessário ser feito. São também poucas as opções e projetos de educação ambiental

para as camadas populares, embora esta necessidade e reivindicação já tenham sido

apontadas em trabalhos que se situam nos limites da educação realizada em escolas

públicas de São Paulo (Reigota, 1987 e 1990).

A educação ambiental popular, no entanto, deverá ser realizada prioritariamente

com os movimentos sociais, associações e organizações ecológicas, de mulheres, de

camponeses, operários, de jovens, etc, procurando fornecer um salto qualitativo nas

suas reivindicações políticas, econômicas e ecológicas.

Fonte: tribunadoceara.uol.com.br

A sua realização possibilitará recuperar o potencial critico dos movimentos

ecológicos, que têm se caracterizado pelo conservadorismo, tecnocracismo, elitismo,

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97

entre outros "ismos", assim como propiciar a participação social nas questões

ambientais das principais vítimas do modelo de desenvolvimento econômico, que

ignora as suas consequências sociais e ecológicas.

A educação ambiental popular terá certamente um papel importante nos

próximos anos, já que muito resta a fazer nos planos teórico e prático para atingirmos

uma melhor qualidade de vida, a democracia e a cidadania. O papel que a América

Latina tem e terá nos próximos anos, no debate internacional sobre o meio ambiente,

será de importância fundamental para estabelecimento de uma nova ordem

econômica e ecológica internacional (DE ANDRADE, 2016).

10.5 Educação Ambiental Crítica

A “Educação Ambiental Crítica, Transformadora ou Emancipatória é uma das

nomenclaturas existentes no Brasil que, atualmente, retratam um momento da

Educação Ambiental em que há a necessidade de se criar novos significados para a

percepção do papel do indivíduo no planeta e são fundamentais para vislumbrar os

diferentes posicionamentos político-pedagógicos. Nesse sentido, o Brasil abriga uma

rica discussão sobre as especificidades da Educação Ambiental Crítica na construção

de uma verdadeira sustentabilidade. O debate no Brasil sobre o novo papel da

Educação Ambiental é o que veremos ao longo desta seção (DE ANDRADE, 2016).

A complexidade ambiental emerge no mundo como um efeito das formas de

conhecimento, mas não se trata apenas de uma relação de conhecimento. Não é uma

biologia do conhecimento nem se resume a uma relação entre o organismo e seu

ambiente. A complexidade ambiental não surge das relações ecológicas, mas do

mundo levado pela cultura e transformado pela ciência, por um conhecimento objetivo,

fragmentado e especializado. A complexidade ambiental permite uma nova reflexão

sobre a natureza do ser, do saber e do conhecer e ainda sobre a hibridização do

conhecimento na interdisciplinaridade e na transdisciplinaridade (DE OLIVEIRA e

GUIMARÃES, 2014)

A Educação Ambiental Crítica enfatiza a educação enquanto processo

permanente, concreto e coletivo, pelo qual os indivíduos devem agir e refletir,

transformando a realidade de vida. Está focada nas pedagogias problematizadoras do

cotidiano, no reconhecimento das diferentes necessidades, interesses e modos de

relações na natureza que definem os grupos sociais e o “lugar” ocupado por estes em

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98

sociedade, como meio para se buscar novas sínteses que indiquem caminhos

democráticos, sustentáveis e justos para todos. Baseia-se no princípio de que as

certezas devem ser relativizadas com as críticas e autocríticas constantes e de que a

ação política é uma forma de se estabelecer movimentos emancipatórios e de

transformação social, que possibilitem o estabelecimento de novos patamares de

relações na natureza (DE ANDRADE, 2016).

Designar a qualidade “Crítica” à Educação Ambiental, mesmo que para enfatizar

uma característica já presente, evidencia os vínculos existentes entre a Teoria Crítica

e a Educação Ambiental, o que pode significar dois movimentos simultâneos, mas

distintos: um refinamento conceitual, fruto do amadurecimento teórico do campo da

Educação Ambiental, mas também o estabelecimento de fronteiras de identidade

internas de ambos os conceitos. A Educação Ambiental em viés crítico, portanto,

versa sobre o encontro da educação ambiental com o pensamento crítico dentro do

campo educativo (DE ANDRADE, 2016).

A partir da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, passando pelos referenciais

dos movimentos de Contracultura, construiu-se, assim, o conceito de Educação

Ambiental como Crítica no Brasil, preenchendo a visão convencional de Educação

Ambiental de sentido político e como ação política de transformação de relação de

seres humanos entre si e com o ambiente, seja ele natural ou social, com forte

influência do pensamento neomarxista, ou seja, do materialismo histórico e dialético.

A Educação Ambiental Crítica, desse modo, foi definida no Brasil a partir de uma

matriz que vê a educação como elemento de transformação social e movimento

integrado de mudança de valores e de padrões cognitivos.

No campo da educação e suas abordagens, a influência à Educação Ambiental

Crítica de maior destaque encontra-se na pedagogia inaugurada por Paulo Freire,

inserida no grupo das pedagogias libertárias e emancipatórias iniciadas na década de

1970 na América Latina, em seus diálogos com as tradições marxista e humanista

(DE ANDRADE, 2016). Esta pedagogia se destaca pela ideia de que a educação deve

ser tratada como atividade social de aprimoramento do indivíduo pela aprendizagem

e pelo agir, atreladas aos mecanismos de transformação social, de ruptura com a

sociedade consumista e de formas alienadas de se viver. Concebe o indivíduo como

um “ser inacabado”, ou seja, em constante transformação, sendo por meio desse

movimento contínuo que o indivíduo passa a conhecer e a evoluir intelectualmente e,

Page 100: EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

99

nessa transformação, integra-se e se insere na sociedade, ampliando a consciência

de pertencimento ao mundo (DE ANDRADE, 2016).

A Educação Ambiental Crítica, ao se inspirar nessas ideias que tomam a

educação como parte da construção da história e da personalidade do indivíduo,

acrescenta uma característica fundamental: propor a compreensão das relações

homem-natureza, a fim de que o indivíduo passe a atuar sobre os problemas e

conflitos ambientais. Desse modo, a proposta político-pedagógica da Educação

Ambiental Crítica seria a de estimular o pensamento crítico para que haja uma

mudança de valores e atitudes, contribuindo para a formação de um cidadão ecológico

e comunitário. É dar uma ótica subjetiva de ensinar, pautada em sensibilizar as

pessoas para questões solidárias em relação à comunidade e ao meio ambiente,

construindo bases para a formação de indivíduos e grupos sociais capazes de

identificar, questionar, criticar e atuar frente às questões socioambientais, dentro de

uma construção ética preocupada com a justiça ambiental (DE ANDRADE, 2016).

Outro relevante teórico que contribuiu como base de sustentação da Educação

Ambiental Crítica como uma nova proposta de ensino-aprendizagem, voltada à

construção de uma postura ético-política do indivíduo, é Boaventura de Sousa Santos,

que em sua Teoria da Emancipação busca não reduzir o real ao que existe, mas

enxergar possibilidades alternativas para além do que existe. Para o citado autor, a

realidade fática da modernidade não se pautou na cidadania plena e na

universalização da liberdade e de direitos. Ao contrário, a lógica capitalista de

consumo, de concentração de renda e de utilização do máximo de riquezas naturais

em prol do progresso, somada a um ensino tradicional, reprodutor de ideias pré-

concebidas, retrai e desestimula as possibilidades de construção de um pensamento

crítico e de emancipação. Daí a necessidade de reinventar a forma de pensar a

educação ambiental, no sentido de voltar o pensamento para o futuro que queremos

e podemos construir em todos os contextos da vida humana e social (DE ANDRADE,

2016).

10.6 A Metodologia Participativa como Ferramenta para a Educação Ambiental Crítica

As metodologias participativas são as mais adequadas ao propósito da

Educação Ambiental Crítica, uma vez que a participação é um dos seus pressupostos

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indissociáveis, pois permite que os indivíduos passem a questionar e a construir seus

próprios conceitos.

Participar, nesse passo, é promover a cidadania, entendida aqui como realização

do indivíduo enquanto agente de transformação de sua própria realidade. Para isso,

é preciso libertá-lo de condicionamentos políticos e econômicos e de reprodução de

conceitos pré-concebidos. No entanto, é importante destacar que um dos grandes

problemas da participação e, logo, de uma perspectiva emancipatória consiste no fato

de que vivemos em uma sociedade heterogênea e desigual. Ocorre, ainda, que as

pessoas se submetem a fatos e argumentos, por ignorância sobre o assunto ou por

não conseguir visualizar soluções concretas de melhorias para determinada questão

e, em diversos momentos, filiam-se a opiniões pré-concebidas e acabam se

identificando com elas, sem fazer qualquer juízo de valor. Por isso, é relevante que

qualquer informação recebida por um indivíduo se converta em conhecimento, não se

reduzindo ao simples acesso a elas. No processo educativo, a compreensão, a

reflexão e a inter-relação são fundamentais na formação de um cidadão e, desse

modo, a metodologia participativa propõe o estímulo à capacidade individual e coletiva

de construir argumentos e questões que possam ser incluídos na agenda pública (DE

ANDRADE, 2016).

Para que os educadores viabilizem a proposta da ação pedagógica da Educação

Ambiental Crítica, com o desenvolvimento de projetos que se voltem para além das

salas de aula, deve haver, inicialmente, uma internalização das práxis de um ambiente

educativo de caráter crítico. Sendo assim, acredita-se alcançar a efetiva inserção

política dos educadores no processo de transformação da realidade socioambiental,

ou seja, é necessário que primeiro os educadores promovam uma transformação

interna de pensamentos e atitudes para que depois estejam aptos a verdadeiramente

estimularem a construção deste processo nos seus alunos. Nesse processo

pedagógico, estar-se-á promovendo a formação da cidadania, na expectativa do

exercício de um movimento coletivo conjunto, gerador de mobilização para a

construção de uma nova sociedade ambientalmente sustentável (DE ANDRADE, 2016).

10.7 O Saber Ambiental

Segundo Leff (2012), o saber ambiental carrega em si o caráter integrador,

problematizando o conhecimento fragmentado em disciplinas e administrado

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setorialmente, visando constituir teorias e práticas voltadas para a rearticulação das

relações sociedade-natureza. Ainda segundo o autor, a partir da complexidade da

problemática ambiental e dos múltiplos processos que a envolvem, questionou-se a

compartimentalização do conhecimento disciplinar, incapaz de entendê-la e resolvê-

la.

O saber ambiental inclui a questão da diversidade cultural no conhecimento da

realidade, mas também o problema da apropriação de conhecimentos e saberes em

diferentes culturas e identidades étnicas. Ele não só produz um conhecimento

científico mais objetivo e abrangentes, mas também gera novas significações sociais,

novas formas de subjetividade e de posicionamento diante do mundo. Assim sendo,

o saber ambiental emerge como um processo de revalorização das identidades

culturais, das práticas tradicionais e dos processos de produção de diferentes

populações, abrindo num diálogo entre conhecimento e saber proporcionando um

encontro do tradicional com o moderno. O saber ambiental, portanto, reconhece as

identidades dos povos, suas cosmologias e seus saberes tradicionais como parte de

suas estratégias culturais para a apropriação de seu patrimônio de recursos naturais.

A Complexidade

A complexidade, dentre outros aspectos, é uma ideia que se contrapõe a

fragmentação, a simplificação e a redução do conhecimento que caracteriza o

paradigma dominante.

A complexidade ambiental emerge no mundo como um efeito das formas de

conhecimento, mas não se trata apenas de uma relação de conhecimento. Não é uma

biologia do conhecimento nem se resume a uma relação entre o organismo e seu

ambiente. A complexidade ambiental não surge das relações ecológicas, mas do

mundo levado pela cultura e transformado pela ciência, por um conhecimento objetivo,

fragmentado e especializado. A complexidade ambiental permite uma nova reflexão

sobre a natureza do ser, do saber e do conhecer e ainda sobre a hibridização do

conhecimento na interdisciplinaridade e na transdisciplinaridade.

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11 BIBLIOGRAFIA BÁSICA

CASCINO, Fabio. Educação ambiental: São Paulo: SENAC. 1999. DIAS, General

Freire. Educação ambiental: Princípios e práticas. 9.ed. São Paulo: Gaia. 2009.

PEDRINI, A.G. de (org.). 1998. Educação Ambiental - reflexões e prática

contemporâneas. RJ:Vozes. 2008.

KINDEL, Eunice Aita Isaia. Educação ambiental: Vários olhares e várias práticas.

2.ed. Porto Alegre: Mediação 2004.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

GADOTTI, M. Pedagogia da Terra. Editora Peirópolis. 6º edição. São Paulo. 2009.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 2. ed.. Rio de

Janeiro: Garamond.2002.

GUERRA, Antonio José. Impactos ambientais urbanos no Brasil:.3.ed., Bertand.

Rio de Janeiro: 2006.

SÍLVIO, Gallo. Ética e cidadania: Caminhos da filosofia. São Paulo: PAPIRUS

EDITORA. 2003.