educação física inclusiva - volume 04

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  • 8/17/2019 Educação Física Inclusiva - Volume 04

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    Eliana Lucia Ferreira

    (organizadora)

    EDUCAÇÃO FÍSICAINCLUSIVA

    Volume 4

    Juiz de ForaNGIME/UFJF

    2013

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    © 2013 by Eliana Lucia Ferreira (organizadora).Direitos desta edição reservados ao NGIME/UFJF.

    Capa: Liliane da Rocha FariaProjeto gráfico, diagramação e editoração: Camilla Pinheiro

    Revisão: Liliane MendesOs textos são de responsabilidade total de seus autores.

    Dados internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

    E24 Educação Física inclusiva / Eliana Lucia Ferreira

    (organizadora). - Juiz de Fora : NGIME/UFJF,2013.

    176 p. : il. ; 21 cm. ─ (Inclusão e deciên-

    cia ; v. 4)

    Inclui bibliograas.

    ISBN 978-85-67380-02-5

    1. Esportes para decientes físicos. 2. De-

    cientes físicos – Reabilitação. I. Ferreira,

    Eliana Lucia. II. Série.

    CDD 796.109

    ReitorHenrique Duque de Miranda

    Chaves Filho

    Vice-Reitor

    José Luiz Rezende Pereira

    Pró-Reitor de Pós-graduaçãoFernando Monteiro Aarestrup

    Centro de Ensino a Distância da UFJF (Cead)Flávio Iassuo Takakura

    Coordenador Geral

    Faculdade de Educação Física (Faefid)

    Maurício Gattas Bara FilhoDiretor

    Grupo de Pesquisa em Inclusão,Movimento e Ensino a Distância (NGIME)

    Eliana Lucia FerreiraCoordenadora Geral

    NGIME – Campus Universitário da UFJFBairro Martelos – CEP 36036-900 – Juiz de Fora, MG

    Distribuição gratuita

    Apoio: SECADI – Secretaria de Educação Continuada,

    Alfabetização, Diversidade e Inclusão

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    SUMÁRIO  PREFÁCIO ................................................................................................. 7

      APRESENTAÇÃO ..................................................................................11

    DESENVOLVIMENTO HUMANO COMPARADO:UMA ABORDAGEM DESENVOLVIMENTISTA .......................... 15Jorge Alberto de Oliveira

    Flavia Regina Ferreira Alves

    Roseane Oliveira do Nascimento

    1  INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17

    2  A IMPORTÂNCIA DAS RESTRIÇÕES CONSTRAINTS

      COMO MEIO DE AJUSTAMENTO NA EXECUÇÃO DE

      HABILIDADES MOTORAS ....................................................................................21

    3  O COMPORTAMENTO MOTOR “NORMAL” .................................................. 27

    4  O COMPORTAMENTO MOTOR “DA PESSOA COM

      NECESSIDADE ESPECIAL” ....................................................................................34

    4.1 DEFICIÊNCIAS SENSORIAIS ................................................................................. 36

    4.2 DEFICIÊNCIA MENTAL .......................................................................................... 37

    4.3 DEFICIÊNCIAS MOTORAS .................................................................................... 39

    4.4 DISFUNÇÕES NEUROLÓGICAS ...........................................................................40

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    5  A INTERVENÇÃO MOTORA PARA PESSOAS COM

      NECESSIDADES ESPECIAIS ................................................................................. 455.1 IMPLICAÇÕES, APLICAÇÕES, COMPETÊNCIA E AVALIAÇÃO

      DO MOVIMENTO ..................................................................................................... 48

    5.2 COORDENAÇÃO MOTORA GLOBAL, FINA E VISOMOTORA ................. 49

    5.2.1 Coordenação global ................................................................................................... 50

    5.2.2 Coordenação motora fina e viso-motora ............................................................... 50

    5.2.3 Desenvolvimento da habilidade de preensão ........................................................ 505.3 ESQUEMA CORPORAL ........................................................................................... 51

    5.4 PERTURBAÇÕES DO ESQUEMA CORPORAL .................................................. 52

    5.5 LATERALIDADE ........................................................................................................ 52

    5.6 INFLUÊNCIA DA PREVALÊNCIA DE DOMINÂNCIA DE LADO ................ 53

    5.7 PERTURBAÇÕES NA LATERALIZAÇÃO ............................................................ 54

    5.8 ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL ................................................................................. 555.9 ESTRUTURAÇÃO TEMPORAL .............................................................................. 55

    5.10 TONICIDADE MUSCULAR .................................................................................... 56

    5.11 COMPETÊNCIAS E AVALIAÇÃO .......................................................................... 57

    5.12 CONDIÇÕES AMBIENTAIS .................................................................................... 58

    6  APLICAÇÕES DA ANÁLISE DESENVOLVIMENTISTA

      DA TAREFA MOTORA ............................................................................................ 60

    7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................66

      REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 71

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      TÉCNICAS DE MANEJO NA DANÇA EM CADEIRA

      DE RODAS ..............................................................................................81  Pedro Américo de Souza Sobrinho

    1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 83

    2 O MANEJO DA CADEIRA DE RODAS ............................................................... 89

    3 EMPUNHADURA PEGADA NOS AROS PROPULSORES

      OU NOS PNEUS ......................................................................................................... 904 PROPULSÃO E DESLOCAMENTO NA DANÇA EM

      CADEIRA DE RODAS ..............................................................................................92

    4.1 TÉCNICAS DE FRENAGEM DA CADEIRA DE RODAS .................................. 95

    4.2 FRENAGEM COM AMBAS AS MÃOS .................................................................. 95

    4.3 FRENAGEM COM AMBAS AS MÃOS .................................................................. 96

      REFERÊNCIAS  .........................................................................................................117

      ACESSIBILIDADE NA INCLUSÃO ESCOLAR E LABORAL.. 119  Romeu Kazumi Sassaki

    1 INTRODUÇÃO  ........................................................................................................121

    2 A ONU E O ACESSO NAS ESCOLAS E EMPRESAS ...................................... 122

    3 O RAZOÁVEL NA ACESSIBILIDADE ESCOLAR E LABORAL .................127

    4 MEIO SÉCULO DE ACESSIBILIZAÇÕES ........................................................134

    4.1 DÉCADA DE 60 ........................................................................................................ 134

    4.2 DÉCADA DE 70 ........................................................................................................ 135

    4.3 DÉCADA DE 80 ........................................................................................................ 136

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    4.4 DÉCADA DE 90 ........................................................................................................ 138

    4.5 ANOS 2000 A 2006. .................................................................................................. 1425 ACESSIBILIDADE COM TECNOLOGIA ......................................................... 144

    6 MÉTODOS E PRINCÍPIOS DO ACESSO ESCOLAR E LABORAL............148

    7 DIMENSÕES DA ACESSIBILIDADE NAS ESCOLAS ...................................151

    7.1 DIMENSÃO ARQUITETÔNICA .......................................................................... 151

    7.2 DIMENSÃO COMUNICACIONAL ...................................................................... 151

    7.3 DIMENSÃO METODOLÓGICA...........................................................................1527.4 DIMENSÃO INSTRUMENTAL ............................................................................. 153

    7.5 DIMENSÃO PROGRAMÁTICA ........................................................................... 153

    7.6 DIMENSÃO ATITUDINAL .................................................................................... 154

    8 VANTAGENS DO ACESSO LABORAL .............................................................155

    9 ACESSIBILIDADE E DEFICIÊNCIA PSICOSSOCIAL ..................................156

    10 EXEMPLOS DE ACESSIBILIDADE COM OUTRAS  DEFICIÊNCIAS  ........................................................................................................159

    11 CONCLUSÃO  ...........................................................................................................166

      REFERÊNCIAS  .........................................................................................................169

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    PREFÁCIOO Ministério da Educação lançou em 2007 o Plano de

    Desenvolvimento da Educação  – PDE (Decreto nº 6.094),

    que tem como um dos seus eixos norteadores a formação de

    professores para a educação especial, a implantação de salasde recursos multifuncionais e a acessibilidade das escolas da

    rede pública de ensino, garantindo condições para o acesso

    e a permanência dos alunos com deficiência, público alvo

    da educação especial no ensino regular, e a oferta do atendi-

    mento educacional especializado.

    No âmbito do PDE, a SEESP criou o Programa da Rede

    de Formação Continuada de Professores em Educação Espe-

    cial , na modalidade a distância, com o objetivo de apoiar os

    sistemas de ensino na implementação da política de forma-

    ção continuada de professores na educação especial. A pers-

    pectiva da educação inclusiva, que contribui no âmbito da

    União, Estados, Distrito Federal e Municípios, para a cons-

    trução de projetos pedagógicos que atendam a necessidade

    de organização das escolas e de desenvolvimento de práticas

    pedagógicas que respeitem a diversidade humana, consolida

    uma educação para todos, em todo o território brasileiro.

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     Na perspectiva do desenvolvimento (da educação in-

    clusiva da escola), que acompanha os avanços do conheci-mento acadêmico, das lutas sociais e da própria legislação,

    no que tange aos direitos do cidadão, o MEC por meio de

    sua Secretaria de Educação Especial (SEESP), com o fim de

    aprofundar as políticas públicas promotoras de uma educa-

    ção de qualidade para todos, publica a Política Nacional de

    Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva noBrasil, em 2008. Dentre outros objetivos desta Política está

    a formação de professores para o atendimento educacional

    especializado e dos demais professores para as práticas pe-

    dagógicas no contexto da inclusão escolar.

    Sendo assim, a Rede de Formação Continuada de Pro-fessores em Educação Especial promove a oferta de cursos

    gratuitos de formação continuada (níveis de extensão, aper-

    feiçoamento e de especialização lato sensu), na modalidade a

    distância, na área da Educação Especial, no âmbito da Uni-

     versidade Aberta do Brasil – UAB, para os professores da rede

    pública de educação básica, ofertados por Instituições Públi-

    cas de Ensino Superior integradas ao apoio efetivo das Secre-

    tarias de Educação Municipal, Estadual e do Distrito Federal.

    Para implementar o Programa da Rede de Formação

    Continuada de Professores em Educação Especial, na mo-

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    Os autores estão de parabéns pela publicação e divulga-

    ção desta série, atendendo aos objetivos da Rede, de fomen-to à produção de conhecimentos de desenvolvimento e de

    disseminação de metodologias educacionais inovadoras na

    área da Educação Física inclusiva. Este trabalho constitui um

    referencial importante para a formação inicial e continuada

    dos professores, no que se refere às novas práticas de uma

    educação especial, na perspectiva da educação inclusiva.

    Claudia Pereira Dutra

    Secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diver-

    sidade e Inclusão (SECADI)

    Maria Medianeira PadoinProfessora da Universidade Federal de Santa Maria

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    APRESENTAÇÃOA obtenção da igualdade de oportunidades das pesso-

    as com deficiência passa, necessariamente, pela tomada de

    consciência de seus direitos sociais e também corporais, as-

    sim como das contribuições que a sociedade tende a oferecer.

    Os estudos têm mostrado que as pessoas com defici-

    ência proclamam uma urgência de experimentar vivências

    corporais e de sobreviver socialmente. É uma espécie de ne-

    cessidade, não apenas de encontrar um modelo de vida di-

    ferente, mas de buscar, a partir do contraste histórico entredeficiência e as propostas de inclusão, uma identidade mais

    definida, isto é, uma nova forma de organização para o que

     já existe.

    Na área da Educação Física, entre outros avanços, um

    importante passo para a efetivação dessas conquistas tem

    ocorrido nas escolas através do desenvolvimento de ativi-

    dades físicas inclusivas, que estão cada vez mais presentes.

    Sendo assim, a publicação da série “Inclusão e Defi-

    ciência”, ora proposta, destina-se a orientar professores de

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    Educação Física que estão na busca de uma sociedade mais

     justa, e, consequentemente mais participativa.

    O nosso interesse aqui é intensificar as ações de ativi-

    dades físicas inclusivas que estão ocorrendo no interior das

    escolas. Queremos assim, estimular cada vez mais, a parti-

    cipação das pessoas com deficiência nas aulas de Educação

    Física.

    Metodologicamente, a série está dividida em oito mo-

    mentos: nos dois primeiros volumes, os autores buscaram

    discutir sobre a questão da inclusão, mostrando suas espe-

    cificidades e memórias. Os momentos seguintes desta série

    foram construídos tendo como referencial as possibilidades

    do movimento corporal através de atividades físicas e es-

    portivas. Comum em todos os textos, está o alargamento da

    compreensão do que é o corpo, do que é a deficiência.

    Nos textos aqui apresentados, os autores foram além

    de buscar o entendimento corporal para a melhoria de uma

    técnica de movimento e mostraram as possibilidades e as

    capacidades expressivas do corpo.

    Sabemos que não podemos delimitar os caminhos que

    as pessoas com deficiência são capazes de percorrer. No en-

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    tanto acreditamos, como um primeiro passo, que é necessá-

    rio o compromisso de romper com as barreiras corporais edepois dar a oportunidade a esses indivíduos de decidirem

    sobre o seu próprio corpo, pois acreditamos que a partir do

    momento em que as pessoas com deficiência conseguem

    enfrentar o processo de deficiência, elas elaborarão os seus

    próprios movimentos.

    As propostas de atividade física aqui apresentadas não

    proprõem somente oportunizar à pessoa com deficiência a

    realização de movimentos corporais, mas de criar tensões

    que provoquem a necessidade de extravasar o corpo real

    para uma vida social calcada na diversidade.

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    * Doutor em Educação Física – Professor da USP.** Especialista em Educação Especial Inclusiva e Psicomotricidade

    Professora da UFJF – Professora do Centro Universitário do Sul de Minas– UNIS-MG.

    *** Mestranda da USP

    Jorge Alberto de Oliveira*

    Flavia Regina Ferreira Alves**

    Roseane Oliveira do Nascimento***

    DESENVOLVIMENTOHUMANOCOMPARADO:

    UMA ABORDAGEMDESENVOLVIMENTISTA

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    1 INTRODUÇÃO

    O desenvolvimento humano permite a cada indivíduo

    uma progressiva possibilidade de empreender atividades

    novas, as quais irão conduzi-lo a níveis cada vez mais com-

    plexos de conhecimentos, não sendo possível desenvolver

    os processos de formação sem colocar os problemas dos su- jeitos e das suas capacidades.

    O desenvolvimento humano é uma imbricada relação

    de fatores e taxionomias, onde estão envolvidos desenvolvi-

    mento cognitivo, afetivo, social e motor, os quais, cada um

    destes, possuem classificações que atribuem comportamen-

    tos normalmente definidos por níveis, estágios, etapas ou

    fases. Nesse aspecto, vários pesquisadores têm procurado

    estabelecer um comparativo do “desenvolvimento normal”

    com o “desenvolvimento anormal” ou atípico. Entretan-

    to, parece que essa relação não é unívoca, não se trata de,

    simplesmente, relatar que uma pessoa está fora do curso

    normal e criar uma taxionomia que descreva e explique as

    diferenças no desenvolvimento e os tipos de deficiência,

    sejam elas físicas, relacionadas ao desenvolvimento motor,

    relacionais, que envolvem o desenvolvimento afetivo-social,

    ou intelectuais, que envolvem o desenvolvimento cognitivo.

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    É preciso entender, pesquisar e criar condição para o bom

    desempenho das pessoas com necessidades especiais, nãoimportando que tais necessidades tenham sido adquiridas

    por acidente, trauma ou por uma má formação congênita.

    Dessa forma, é necessário compreender tais “desenvol-

     vimentos” como componentes atrelados ao desenvolvimento

    humano. No que tange especificamente ao desenvolvimentomotor, isso nos permite interpretá-lo mediante duas posi-

    ções vistas como complementares. A primeira seria o orga-

    nismo em desenvolvimento, que deve ser entendido como

    um sistema resultante de processos maturacionais endóge-

    nos, determinados por um trajeto de evolução próprio (indi-

     vidualizado), apresentando uma sequência invariante e mo-

    dificações altamente previsíveis. Assim, o desenvolvimento

    depende da própria disponibilidade do organismo para se

    desenvolver. Na segunda, o desenvolvimento deve ser enten-

    dido pela sua complexidade, dependente da reunião de con-

    dições favoráveis que não exercem apenas uma influência

    passiva, mas com as quais o organismo estabelece interação.

    al interação está estabelecida entre o indivíduo e o ambien-

    te e é conhecida como experiência. Contudo, as mudanças

    críticas do desenvolvimento podem ser entendidas de forma

    probabilística, apesar da sequência do desenvolvimento ser

    um processo previsível. Nesse sentido, não se deve reduzir a

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    complexidade do processo de desenvolvimento a processos

    simplificados e isolados, tampouco desconsiderar o contextoem que ocorre o desenvolvimento e a aprendizagem.

    Nesses dois contextos, diferenças apresentadas são ti-

    das como características individuais inatas e adquiridas ao

    longo da vida. Dessa forma, formulamos a seguinte pergun-

    ta: quem não é diferente? Quem é igual? Imaginar que umapessoa com necessidade especial é diferente é não conceber

    o princípio da individualidade, pelo qual cada ser humano é

    um ser único e o normal é ser diferente.

    Não se rotula a pessoa pela sua característica física, vi-

    sual, auditiva ou intelectual, porque o indivíduo está acima

    de suas restrições ou constraints, como será abordado mais

    adiante. Além disso, a construção de uma verdadeira socie-

    dade inclusiva passa, também, pelo cuidado com a lingua-

    gem, através da qual se expressa, voluntária ou involuntaria-

    mente, o respeito ou a discriminação em relação às pessoas

    com deficiência. Por isso, vamos sempre nos lembrar que a

    pessoa com deficiência, antes de ter deficiência, é, acima de

    tudo e simplesmente uma pessoa (SILVA, 2009).

    Grande parte da sociedade, que não possui familia-

    ridade ou não atua na área da deficiência, promovendo a

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    cidadania e inclusão social, utiliza o termo “portadores

    de deficiência” ou “portadores de necessidades especiais”,para designar alguém com deficiência. Na maioria das ve-

    zes, desconhece-se que o uso de determinada terminologia

    pode reforçar a segregação e a exclusão. Cabe esclarecer que

    o termo “portadores” implica algo que se “porta”, de que é

    possível se desvencilhar tão logo se queira ou se chegue a

    um destino. Remete, ainda, a algo temporário, como portarum talão de cheques, portar um documento ou ser portador

    de uma doença. A deficiência, na maioria das vezes, é algo

    permanente, não cabendo o termo “portadores”.

     Além disso, quando se rotula alguém como “porta-

    dor de deficiência”, nota-se que a deficiência passa a ser “a

    marca” principal da pessoa, em detrimento de sua condição

    humana. Há que se ressaltar e valorizar a pessoa, acima de

    tudo, independentemente de suas condições físicas, senso-

    riais ou intelectuais.

    ambém, em um determinado período, acreditava-se

    como correto o termo “especial” e sua derivação, “pessoas

    com necessidades especiais”. “Necessidades especiais”, quem

    não as possui, tendo ou não deficiência? E realmente, essa

    terminologia veio na esteira das necessidades educacionais

    especiais de algumas crianças com deficiência, passando a

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    ser utilizada em todas as circunstâncias, fora do ambiente

    escolar (SILVA, 2009).

    2  A IMPORTÂNCIA DASRESTRIÇÕES  CONSTRAINTS COMO MEIO DE AJUSTAMENTO

    NA EXECUÇÃO DE HABILIDADESMOTORAS

    A aquisição de habilidades motoras é, por natureza, um

    processo dinâmico e complexo, que envolve aspectos como

     variabilidade, organização hierárquica e estabilização de

    movimentos (MANOEL, 2005).

    Uma compreensão mais clara das interações dinâmi-

    cas, denominadas restrições, entre o indivíduo (pessoa), o

    ambiente e a tarefa motora, torna-se aspecto relevante em

    investigações sobre o desenvolvimento motor (MANOEL,

    1996). Podendo ser uma considerável aliada numa atuação

    profissional mais consistente, consciente e comprometida

    com alunos que apresentam necessidades educacionais es-

    peciais. Como já relatado, não podemos, de forma alguma,

    ignorar que cada pessoa é única e isso irá se refletir no seu

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    desenvolvimento. Os relatos de Nabeiro, Duarte e Manoel

    (1995), em estudo sobre o comportamento motor de crian-ças com síndrome de Down, confirmam que existe uma

    necessidade urgente de investigações que discutam de que

    modo o ambiente e a tarefa interagem com o processo de

    desenvolvimento de pessoas com necessidades especiais.

    Alguns pesquisadores, como Manoel e Oliveira 2000,Nabeiro, Duarte e Manoel (1995), Oliveira e Manoel (2002)

    consideram em seus estudos as relações entre ambiente,

    objetivo da tarefa, padrão de movimento e estados de de-

    senvolvimento. Esses estudos demonstram que, em geral,

    as classificações tradicionais do comportamento motor, em

    termos de estágios ou níveis de desenvolvimento, estão na

    dependência do objetivo da tarefa – por exemplo, o arre-

    messar a distância ou ao alvo – e das condições do ambiente

    – estável ou instável.

    Cruz e Lemishka (2010) relatam que, no  desenvolvi-

    mento do padrão de movimento andar, é possível observar

    que algumas pessoas andam mais cedo, outras um poucomais tarde. O tempo para se chegar a determinado estágio

    de movimento recebe a influência da interação de aspectos

    constitutivos e ambientais pertinentes ao indivíduo. Cabe

    ressaltar que padrão de movimento refere-se ao modo par-

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    ticular que cada indivíduo possui de organizar as ações mo-

    toras necessárias à resolução de problemas decorrentes desua interação com seu ambiente físico-social.

    A relação entre o padrão de movimento e as condições

    ambientais não é única. Isso é exemplificado por Higgens e

    Spaeth (1972), num estudo em que crianças praticaram o ar-

    remesso a distância com uma mão por cima do ombro a umalvo e em diferentes condições ambientais. Nessas circunstân-

    cias, o padrão de movimento resultante era relacionado à esta-

    bilidade do ambiente. Os movimentos sempre apresentavam

     variações de uma tentativa à outra. Quanto mais instável o

    ambiente, mais variado era o padrão. Posteriormente, Higgens

    (1978) observou que não há um padrão fundamental típico a

    cada ação, como preconizado por pesquisadores do desenvol-

     vimento motor. Cada padrão de movimento refere-se a uma

    solução particular, única, para um dado problema motor, em

    que as peculiaridades da interação indivíduo-ambiente têm

    grande influência. Esses relatos vêm confirmar que existe uma

    estrutura de execução, mas a forma pode ser variável median-

    te as circunstâncias (restrições ambientais e da tarefa) e condi-ções que a pessoa apresenta (restrições do organismo).

    Newell (1986) propõe que o desenvolvimento é resul-

    tante de mudanças em restrições impostas à ação. Uma res-

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    trição pode ser vista como uma característica que limita o

    movimento de um dado sistema, isto é, reduz o número deconfigurações possíveis de um sistema. No comportamento

    motor, restrições irão reduzir os graus de liberdade de mo-

     vimento, sendo, portanto, essenciais para facilitar a tarefa de

    controle motor. Como proposto por Newell (1986), as res-

    trições podem ser identificadas em vários níveis de análise:

    bioquímico, biomecânico, morfológico e neurológico. Emparticular, Newell (1986) propõe três categorias de restri-

    ções cuja interação resultaria num padrão ótimo de coorde-

    nação motora: a) “restrições organísmicas (da pessoa)” , ca-

    racterizadas por aspectos morfológicos do indivíduo, como

    massa corporal, dimensões corporais e deformação/falta de

    membros. As mudanças em tamanho absoluto e relativo de

    segmentos corporais teriam um impacto marcante no de-

    senvolvimento motor. O mesmo aplicar-se-ia à existência

    de estruturas coordenativas. Essas estruturas atuariam na fi-

    xação de articulações, reduzindo os graus de liberdade. Isso

    é observado no arremesso de crianças que, por volta de três

    anos de idade, concentram toda ação no braço de arremes-

    so, enquanto mantêm fixos os demais segmentos do corpo;b) “restrições ambientais” , que incluem a gravidade, a den-

    sidade do meio, luz natural, as condições físico-sociais do

    meio, entre outras. Num certo sentido, todas as restrições

    externas ao organismo seriam restrições ambientais. Entre-

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    tanto, Newell (1986) afirma que é importante diferenciar as

    restrições que são gerais a qualquer ação daquelas que sãoespecíficas a uma dada tarefa; c) “restrições da tarefa”.

    Essa terceira categoria incluiria as outras três categorias:

    objetivo da tarefa, regras que especificam ou restringem a di-

    nâmica da resposta e implementos ou máquinas que especifi-

    cam ou restringem a dinâmica da resposta. O objetivo definea função que deve ser exercida, podendo ou não definir como

    exercer essa função. Por exemplo, a ação de abrir uma por-

    ta pode ser realizada de várias formas, enquanto a execução

    de um salto típico em ginástica olímpica exige um padrão

    de movimento particular (NEWELL, 1986). As regras de

    execuções típicas em habilidades específicas do esporte irão

    também exercer influência na especificação da dinâmica do

    padrão de movimento, ainda mais quando se tratar de uma

    pessoa com necessidade especial. O mesmo se aplica às ca-

    racterísticas do objeto a ser manipulado pelo executante. Por

    exemplo, as variações no tamanho de uma bola a ser propul-

    sionada irão influenciar a seleção do padrão de movimento

    (BURON; GREER; WIESEBJORNSAL, 1992, 1993).

    Para alguns pesquisadores, o papel da restrição consiste

    na elaboração de um programa de ação (MANOEL; OLI

    VEIRA, 2000). Programas de ação passam por mudanças

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    ao longo do eixo temporal de vida da criança. Crianças que

    apresentam um padrão de movimento rudimentar, numadada ação motora, estariam utilizando programas de ação

    igualmente rudimentares. Evidentemente que as restrições

    do organismo, do ambiente e da tarefa irão exercer influên-

    cias, mas tais influências seriam correlacionadas ou adminis-

    tradas por um programa de ação. Para que essas influências e

    correlações sejam mais bem compreendidas é necessário que

    sejam realizados estudos em que haja manipulação experi-

    mental, não só das restrições já mencionadas, mas também

    dos programas de ação que o indivíduo é capaz de elaborar.

    Uma forma de conduzir tais estudos consistiria, inicial-

    mente, em identificar o nível de desenvolvimento motor de

    uma criança numa dada tarefa. Esse nível estaria diretamen-

    te relacionado à capacidade de elaboração de um progra-

    ma da ação. Caso as mudanças nas restrições da tarefa não

    levem a mudanças qualitativas no padrão de movimento,

    poder-se-á deduzir que o programa de ação não está sufi-

    cientemente desenvolvido para dominar o aumento dos

    graus de liberdade.

    Estudos têm demonstrado que os níveis de desenvol-

     vimento nas habilidades motoras básicas são suscetíveis às

    influências do ambiente e da tarefa (BASSO; MARQUES;

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    MANOEL, 2005; OLIVEIRA; MANOEL, 2005), reforçan-

    do a necessidade de se compreender como as diferentesrestrições do ambiente/tarefa interagem com a pessoa em

    desenvolvimento. Esse fato fica mais relevante quando tra-

    tamos de pessoas com deficiência (GIMENEZ, 2001; NA

    BEIRO; DUARE; MANOEL, 1995).

    3  O COMPORTAMENTO MOTOR“NORMAL”

    O comportamento motor é caracterizado basicamente

    por três fenômenos:

    1 Aprendizagem motora: enfatiza a aquisição de

    habilidades motoras, a melhoria de desempenho

    do aprendizado, ou a reaquisição de habilidades

    difíceis de executar, por conta de não poderem ser

    executadas devido à lesão ou doença.

    2 Controle motor: relaciona-se à forma como nos-

    sas funções do sistema neuromuscular ativam e

    coordenam os músculos e membros envolvidos

    na realização de uma habilidade motora.

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    3 Desenvolvimento motor: é o estudo das mudan-

    ças do comportamento motor humano ao longoda vida, os processos que estão por trás dessas mu-

    danças e os fatores que as afetam (HAYWOOD;

    GECHELL, 2005), como:

    a) Mudanças relativas à idade.

    • Sequências previsíveis de crescimento e

    desenvolvimento pelas quais a maioria

    das crianças passam.

    • O conhecimento dessas sequências for-

    nece uma base a partir da qual se ofere-

    cerão as melhores experiências de ensi-

    no para o aluno/pessoa.

    b) Movimento como produto/resultado.

    c) Mudanças como processos subjacentes.

    De modo geral, o estudo do desenvolvimento motor

    contribui para o conhecimento geral de nós mesmos e do

    mundo em que vivemos. Além de nos levar a compreender

    o desenvolvimento humano ao longo da vida, ajuda-nos a

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    diagnosticar problemas que não se desenvolvem normal-

    mente. Ajuda os indivíduos a melhorar seu potencial demovimento, propondo atividades adequadas ao desenvolvi-

    mento. Pode-se comparar “normal” para populações com

    necessidades especiais e aí reconhecer problemas de coor-

    denação, tendências, e ganhos motores. O termo “desenvol-

     vimento” está associado à mudança e ao tipo de qualida-

    de da experiência por que passamos ao longo da vida. Por

    exemplo, se essas experiências são adequadas ao desenvol-

     vimento na primeira infância, programa de exercícios, rea-

    bilitação, ou se a aprendizagem de habilidades esportivas irá

    assegurar que a criança se desenvolverá normalmente.

    Manoel (2005) aponta que mudança é o foco central

    do desenvolvimento, e a representação mais comum desse

    processo é dada porque enfoca a estabilidade do comporta-

    mento, mais precisamente os diferentes níveis de estabilidade

    pelos quais o organismo passa ao longo do tempo. Esses ní-

     veis correspondem aos estágios, fases ou etapas da sequência

    de desenvolvimento. Ainda que a estabilidade seja uma parte

    importante do desenvolvimento motor, é a mudança de umnível de estabilidade para outro que caracteriza esse processo.

    ais mudanças determinam as características de uma

    sequência de desenvolvimento que tem sido apresentada de

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    diversas formas e modelos (GALLAHUE; OZMUN, 2005;

    MANOEL, 1994). Normalmente elas sintetizam o conheci-mento acumulado em torno do quanto muda no comporta-

    mento motor.

    Em Manoel (2005), os modelos de sequência de desen-

     volvimento motor têm duas implicações: teórica e prática.

    No plano teórico, os modelos de sequência estimulam o le-

     vantamento de questões e o estabelecimento de hipóteses

    em torno das mudanças neles descritas. No plano prático, os

    modelos de sequência servem de inspiração para o desen-

     volvimento de currículos, além de servir como referência

    para que se identifique e avalie o estado de desenvolvimento

    motor dos indivíduos, nas diferentes etapas da vida. Consi-

    derando os avanços do conhecimento sobre o desenvolvi-

    mento motor típico, pode-se estabelecer as seguintes fases,

    de acordo com Manoel (2005):

    • Fase dos movimentos fetais – corresponde à aqui-

    sição de movimentos no período de vida intrau-

    terina; esses movimentos são de todo tipo: rápi-dos, lentos, seriados, discretos, uniarticulares e

    multiarticulares; parecem ser causa e efeito do

    desenvolvimento neuro-muscular (descrito por

    PRECHL, 1986 apud MANOEL, 2005).

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    • Fase dos movimentos reativos e espontâneos –

    corresponde à aquisição e ao desaparecimento dedois tipos de movimentos: a) os associados a um

    conjunto finito de estímulos, no caso dos reativos;

    b) gerados sem estimulação externa, no caso dos

    espontâneos, fundamental na sobrevivência do

    recém-nascido. Os movimentos reativos, junta-

    mente com os espontâneos, possibilitam os meios

    para a exploração do meio físico e social por parte

    do bebê no primeiro ano após o nascimento (MA

    NOEL, 1999 apud MANOEL, 2005).

    • Fase de ações motoras básicas – corresponde à

    aquisição de movimentos voluntários, isto é, movi-

    mentos em que a intenção age como uma restrição

    cognitiva na emergência de padrões de movimento

    (MANOEL, 2000 apud MANOEL, 2005); daí re-

    sulta a aquisição de uma ampla gama de habilida-

    des motoras da vida diária nas classes de locomo-

    ção, manipulação e orientação, cujo papel também

    é entendido como o de servir de fundamento paraações especializadas (GALLAHUE; OZMUN,

    2005; SEEFELD; HAUBENSRICKER, 1982;

    ANI et al., 1988); a prevalência dessas ações em

    crianças de todo o mundo confere a elas um cará-

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    ter universal, levando à conclusão de que se trata de

    habilidades “naturais”, todavia isso não implica umpré-determinismo genético por trás de sua aqui-

    sição, mas sim a alta probabilidade de ocorrência

    de correlações entre fatores internos e externos ao

    organismo, que contribuem para essa aquisição

    (OYAMA, 1985 apud MANOEL, 2005).

    • Fase de combinação das ações motoras básicas

    corresponde à aquisição de diferentes formas de

    combinação entre habilidades de locomoção, ma-

    nipulação e orientação; a existência dessa fase é

    pouco reconhecida e só recentemente há alguns

    indicativos que apontam em sua direção (GIME

    NEZ, 2001 apud MANOEL, 2005).

    • Fase de ações motoras especializadas - a aquisição

    dessas ações é tida como resultado da influência

    cultural, daí elas serem denominadas também de

    habilidades culturalmente determinadas (ANI et

    al., 1988). Entretanto, o caráter particular e espe-cífico dessas ações deve-se à ocorrência de corre-

    lações entre fatores internos e externos ao orga-

    nismo, as quais são circunscritas a determinados

    nichos ecológicos. Como elas são orientadas a

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    contextos particulares, podem ser agrupadas em

    habilidades do cotidiano, ocupacionais, expressi- vas, artísticas, esportivas e recreativas (MANOEL,

    2000 apud MANOEL, 2005).

    Manoel (2005) ainda relata que, mais do que as mu-

    danças entre as fases descritas, existem mudanças que ocor-

    rem no interior de cada fase. O autor toma como exemplo

    a fase dos movimentos reativos e espontâneos, em que há

    o aparecimento e desaparecimento de reflexos primitivos.

    Já a fase das ações motoras básicas compreende diferentes

    etapas na aquisição de ações como correr, arremessar, rolar,

    rebater, entre outras. Por conta dessas características, as fases

    aglomeram um conjunto de mudanças semelhantes a cada

    tipo de movimento ou ação, além desses comportamentos

    se situarem no mesmo período de aparecimento, aperfeiçoa-

    mento e desaparecimento. Nesse sentido, a denominação de

    “fases de desenvolvimento”, na sequência de desenvolvimen-

    to motor, não tem o mesmo status  epistemológico de fases

    descritas em outras teorias de desenvolvimento, como é o

    caso mais conhecido, o desenvolvimento cognitivo de Pia-get (1982). Manoel (2005) ainda afirma que, para que fossem

    similares, seria necessário que as fases de desenvolvimento

    motor refletissem estados de organização interna subjacen-

    tes aos movimentos e ações. A sequência de desenvolvimen-

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    to motor é orientada ao produto, pois cada fase é definida

    pelo tipo de movimento ou ação que aparece num mesmoperíodo de vida do indivíduo, e ainda, por meio de descri-

    ções das características espaço-temporais dos movimentos.

    4  O COMPORTAMENTO MOTOR“DA PESSOA COM NECESSIDADEESPECIAL”

    Um grande problema em definir o comportamento

    motor da pessoa com necessidade especial se refere à abran-

    gência dos níveis ou graus de deficiências existentes. Entre-

    tanto, por esses mesmos motivos, acumulam-se fatores e

    níveis em escalas diversas, como as estabelecidas em jogos

    olímpicos, CID-10 e outras mais.

    Gimenez (2001) e Gimenez e Manoel (2005) relatam

    que, frequentemente, ao observar-se o andar de uma criança

    portadora da Síndrome de Down, verifica-se um padrão di-ferenciado. Em muitos indivíduos, esse padrão é evidenciado

    pela locomoção com a base das pernas mais afastada e maior

    oscilação do tronco. Num primeiro momento, diante dessa

    observação, poderíamos inferir a existência de um atraso, ou

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    mesmo de uma deficiência no controle de movimentos. En-

    tretanto, as dificuldades que detectamos de controle podemestar associadas a problemas de ordem estrutural.

    Mas, de fato, o que observamos é que o controle motor

    é o responsável pelo suporte na interação entre sistemas e os

    níveis diferentes de controle nos anos iniciais da vida. Essa

    interação pode ser percebida em várias tarefas de controle

    postural (DUARE, 2000) e manipulação, como alcançar

    objetos (ELLIO; CONNOLLY, 1984; SABELINI NEO

    et al., 2004). A partir desses trabalhos, sugere-se que, no pro-

    cesso de desenvolvimento, exista a integração entre os siste-

    mas responsáveis pelo controle motor. Dessa forma, Seaman

    e DePauw (1982) afirmam que é possível identificar uma

    grande capacidade de adaptação do organismo deficiente,

    embora, dependendo de sua natureza, uma deficiência possa

    gerar dois tipos de “problemas”: a) impedimentos – que se

    referem a desvios estruturais ou morfológicos originários; b)

    incapacidade – que se referem às limitações funcionais ma-

    nifestadas por meio do desempenho.

    Como forma de retratar os diversos tipos de “problemas”,

     vários estudos (GIMENEZ, 2005; GORGAI; COSA,

    2005) contribuem para mostrar como isso pode estar acon-

    tecendo em diferentes tipos de deficiência, seja ela sensorial,

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    mental ou físico-motora, ou mesmo em alguns problemas de

    ordem neurológica. Porém, de forma geral, quando se tratarde prática esportiva, deve-se levar em consideração a natureza

    e severidade da deficiência, a funcionalidade em relação às ha-

    bilidades e o desempenho observado, para classificar grupos.

    A seguir serão apresentados alguns grupos de deficiências:

    4.1 DEFICIÊNCIAS SENSORIAIS

    Nas deficiências sensoriais, mais especificamen-

    te nas pessoas com deficiência visual, as pessoas apoiam

    o seu controle postural nos sistemas vestibular e somato-

    -sensorial para realizar suas ações motoras. Considerando--se a importância do sistema visual no controle postural

    (SHUMMWAYCOOK; WOOLACO, 2002), seria pos-

    sível especular que pessoas com deficiência visual não con-

    seguiriam realizar atividades motoras com grande demanda

    de controle postural. Contudo, esses indivíduos não somen-

    te são capazes de realizar essas atividades, como demons-tram ganhos significativos na capacidade de equilíbrio,

    quando submetidos a programas de intervenção (HUZ

    LER, 2011). De maneira similar, seria possível pressupor

    que indivíduos com deficiência visual realizariam sua orien-

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    tação espacial para reproduzir uma trajetória baseados em

    informações colhidas pelos sistemas tátil e vestibular. Issosignifica que, na ausência de uma fonte de informação sen-

    sorial, esses indivíduos recorrem a outra fonte e criam con-

    dições favoráveis para a solução de seus problemas motores.

    Uma outra deficiência sensorial seria a dos indivídu-

    os portadores de deficiência auditiva, que frequentemente

    apresentam comprometimento do aparelho vestibular. Em

    razão dessa peculiaridade, não são raros os casos de crianças

    com deficiência auditiva também apresentarem déficit no

    controle postural. Contudo, há indícios de que essa defasa-

    gem diminua substancialmente com o chegar dos dez anos

    de idade. Isso se dá em razão de uma integração mais efetiva

    entre os sistemas proprioceptivo e visual, como afirma Kaga(1999), citado por Gimenez (2005). A forte interação entre

    esses sistemas possibilitaria ao portador de deficiência au-

    ditiva meios para controlar o corpo de maneira satisfatória.

    4.2 DEFICIÊNCIA MENAL

    Alguns exemplos de adaptação também são encon-

    trados em indivíduos com deficiência mental, em especial

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    nas pessoas com Síndrome de Down. Mauerberg de Castro

    (2000, 2005) compara o andar de crianças e adultos com-Síndrome de Down em condições diferentes: sobre um

    trampolim e sobre colchões. Por meio da análise topológica

    dos movimentos, identificou-se que as crianças, sem receio

    de cair do trampolim, brincavam sobre ele, economizando

    movimento articular no andar. Por outro lado, os adultos,

    demonstrando sinais de declínio motor durante a locomo-

    ção sobre o trampolim, realizaram passadas curtas, lentas

    e instáveis. As crianças diminuíram a atividade flexora e

    extensora articular sem inibir a propulsão, ao passo que os

    adultos controlaram a todo custo a liberdade do movimen-

    to, de modo a diminuir o efeito mola indiscriminado da su-

    perfície. Na interpretação da autora, os grupos demonstra-

    ram modos coordenativos preferenciais de acordo com suasrestrições particulares. anto os adultos como as crianças

    apresentaram capacidade para lidar adequadamente com as

    suas restrições motoras.

    Seaman e DePauw (1982) afirmam que é possível que

    o padrão de andar marcado por maior oscilação do tronco ebase mais afastada típico desses indivíduos indique uma

    estratégia preferencial diante de uma limitação de ordem es-

    trutural. Essa estratégia de controle pode ser influenciada por

    prioridades do sistema nervoso, que estariam ligadas à segu-

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    rança. Alterações de aparelho vestibular são características

    dessas populações e estão relacionadas a dificuldades no con-trole postural, ocasionando uma forma de andar diferenciada.

    4.3 DEFICIÊNCIAS MOORAS

    Gimenez (2005) descreve que, embora a amputação de

    um membro possa conduzir a uma ruptura das conexões si-

    nápticas desenvolvidas ao longo da vida, há evidência de que

    as consequências de uma amputação devem envolver uma

    reorganização maior das projeções aferentes e eferentes, as

    quais, possivelmente, contribuiriam para uma diferenciação

    dos padrões motores observados junto aos indivíduos am-putados. Segundo Latash e Anson (1996), citados por Gi-

    menez (2005), os comandos motores descendentes ao longo

    do sistema nervoso levam em conta o estado das conexões.

    O input  proprioceptivo é utilizado no processo de geração

    de ajustes pré-programados e automáticos na atividade dos

    músculos, promovendo estabilidade postural durante osmovimentos voluntários. Dessa forma, quando da ocorrên-

    cia de uma amputação distal, espera-se uma reorganização

    dos comandos motores descendentes e uma delegação do

    controle postural – antes a cargo do sistema proprioceptivo

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    – para outras modalidades, como a visão e o aparelho ves-

    tibular. Logo, essa característica auto-organizável de nosso

    sistema também se manifesta diante da perda ou condição

    de restrição.

    4.4 DISFUNÇÕES NEUROLÓGICAS

    A disfunção neurológica, ou seja, os desvios nas fun-

    ções do sistema nervoso central, pode envolver imaturidade

    (atraso no amadurecimento), lesões específicas do cérebro,

    fatores hereditários e/ou disfunções químicas. Alguns au-

    tores referem-se a atraso estrutural neurológico, atrasos no

    sistema nervoso central, atrasos genético-constitucionaisdo hemisfério esquerdo e atrasos evolutivo-funcionais do

    hemisfério cerebral esquerdo. Com essas considerações,

    explicitamos um aspecto que julgamos importante para a

    clareza do conceito de distúrbio de aprendizagem: o fator

    neurológico. O distúrbio de aprendizagem é tido como psi-

    coneurogênico, resultante de disfunções do sistema nervosocentral e é compreendido como o termo utilizado para ex-

    plicar comprometimentos neurológicos que interferem na

    percepção e no processamento da informação pelo aluno,

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    impedindo sua aprendizagem. O distúrbio é considerado

    um termo genérico referente a um grupo heterogêneo de

    distúrbios que se manifestam por dificuldades significativas

    na aquisição e no emprego da capacidade para ouvir, falar,

    ler, escrever, raciocinar e calcular. Esses distúrbios são in-

    trínsecos e presumivelmente se devem a uma disfunção do

    sistema nervoso central, não sendo resultantes de condições

    deficientes ou influências ambientais. A disfunção neuroló-

    gica, assim como as formas irregulares de desenvolvimento

    da habilidade mental, as dificuldades em tarefas acadêmicas

    e de aprendizagem específicas, a discrepância entre ativi-

    dade real e potencial e a exclusão de outras causas são ele-

    mentos que podem ser encontrados em várias definições de

    distúrbio de aprendizagem (CAMPOS, 1997).

    Alguns problemas necessitam esclarecimento, por

    exemplo, se existe uma hierarquia entre segurança e eco-

    nomia. É possível perguntar: será que o sistema de controle

    opta por operar de maneira econômica somente quando ele

     já dispõe de segurança? É possível que, quando as restrições

    forem maiores e o sistema tiver a sua segurança ameaçada,ele priorize a segurança. A interação entre esses fatores me-

    rece uma discussão baseada na natureza de cada deficiência

    e no tipo de tarefa motora.

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    Kirk e Rhodes (2011) descrevem que os primeiros anos

    da infância representam um período de tempo importante,

    em que habilidades fundamentais motoras/físicas, sociais e

    cognitivas são formadas. Crianças identificadas com atra-

    so no desenvolvimento não conseguem realizar essas habi-

    lidades fundamentais no mesmo ritmo que crianças com

    desenvolvimento típico e, consequentemente, têm um ris-

    co ainda maior de saúde comprometida e mais atrasos no

    desenvolvimento social, emocional e cognitivo ao longo da

     vida. Atraso no desenvolvimento refere-se a um atraso cro-

    nológico não permanente (por exemplo, físico, intelectual,

    social) em alcançar marcos típicos esperados em uma de-

    terminada idade. Kirk e Rhodes (2011) relatam que, no Ca-

    nadá, atrasos desenvolvimentais foram identificados como

    a mais comum incapacitante condição entre as crianças jo- vens (idades 3-5). Aproximadamente 20.000 crianças foram

    identificadas com deficiência no Canadá, 68% dos casos

    por causa de um diagnóstico de atraso desenvolvimental (A

    PROFILE... 2001). Assim, os esforços de pesquisa focadas

    na melhoria do desenvolvimento social, cognitivo e físico

    das crianças com este tipo de atraso é uma prioridade desaúde pública em potencial.

    Esses autores ainda relatam que às crianças identifica-

    das com atraso no desenvovimento falta a competência ne-

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    cessária para executar as habilidades motoras fundamentais

    e, dessa forma, ficam em risco eminente no que tange ao

    funcionamento físico, social, emocional; e, consequente-

    mente, com pouca destreza mais tarde, no curso da vida.

    O acúmulo de informações por vários campos e a cres-

    cente mudança dos meios de comunicação criou um am-

    biente favorável para a integração de algumas áreas, tanto

    na intervenção quanto na busca da compreensão da defici-

    ência. Esses acontecimentos contribuíram para a já citada

    concepção da complexidade, que parte do pressuposto de

    que qualquer que seja a deficiência, ela constitui um proble-

    ma que necessita ser abordado sob várias perspectivas, por

    se tratar de um problema complexo.

    Mauerberg-de-Castro (2005) apresenta outra deno-

    minação e complementa a classificação geral de áreas de

    inadaptação ou deficiências com vários subtipos (Quadro 1).

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    Quadro 1 – Divisão de áreas de inadaptação ou deficiência com

    subtipos

    Fonte – O autor (2011) adaptação de Mauerberg-de-Castro (2005).

    Retardo mental oudeficiência mental

    Desordens sensoriais epsicomotoras

    Distúrbios deaprendizagem

    Distúrbios emocionais

    Encefalopatias Distúrbios da linguagem Distúrbio dodesenvolvimento dacoordenação (DCD)

    Psicose e neurose infantil

    Acidentes cromossômicos Distúrbios do gesto Desordem dehiperatividade e déficit deatenção (DHDA)

    Autismo

    Sindrome de Down (apraxias, apractoagnosia) Disfunção cerebralmínima

    Neurose

    Distúrbios metabólicos Deficiência auditiva Desordens alimentares

    Deficiência de iodoe outras substânciascontidas na alimentação

    Deficiência visual Problemas de ajuste social

    Desnutrição

    Fatores intrauterino

    Embriopatia rubeólica;toxoplasmose; sífilis.

    Fatores tóxicos

    Álcool, radiações

    Fatores perinatais

    Causas obstetrícias

    Fatores pós-nataisinfecciosos

    Meningite, poliomelite,raiva, etc.

    Pós-natais pós infecciosos

    Sarampo; varicela;rubéola; varíola, etc.

    Deficiências físicas ouortopédicas

    Doenças degenerativasprogressivas do SNC

    Desordensneuromusculares e do SN

    Problemas dedeterioração da saúde eda terceira idade

    Lesões medulares Parkinson Paralisias cerebrais Doenças arterialcoronoriana

    Amputações Coréia de Huntington Desordens convulsivas

    epilepsia

    Hipertensão

    Malformações congênitas Doença de Alzheimer Distrofias e atrofiasmusculares

    Asma bronquite; diabetes;obesidade; hemofilia,deformidades posturais,etc.

    Demências senis Hemiplegia

    Esclerose

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    É bom lembrar que as descrições realizadas até então

    são parte de um todo maior que engloba, por exemplo, a

    obesidade, as gestantes, cardiopatas, transtorno do desen-

     volvimento da coordenação (DC), entre tantas outras que

    poderiam ainda ser citadas. E que, quando se aborda o ter-

    mo desenvolvimento, está-se relatando todas as variáveis

    que interferem no processo de mudanças, ao longo da vida.

    5  A INTERVENÇÃO MOTORA PARAPESSOAS COM NECESSIDADESESPECIAIS

    No que diz respeito à intervenção, a concepção dacomplexidade se concretiza pela condução de trabalhos

    multidisciplinares, inevitavelmente, nos quais profissionais

    de diferentes áreas reúnem esforços no intuito de capacitar

    ou reabilitar pessoas com necessidades especiais (HUZ

    LER, 2011). No campo da ciência, essa realidade torna-se

    evidente pelo fato de que várias áreas de estudo têm procu-rado investigar temas comuns, como a gênese dos proble-

    mas, o processo de adaptação dos indivíduos, o seu desen-

     volvimento em diferentes domínios do comportamento e o

    seu processo educacional.

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    A Declaração de Salamanca, de 2009, trata da Educa-

    ção Especial, e nos itens 36 e 37, fala sobre a Informação e

    Pesquisa. Nesses itens consta que a disseminação de exem-

    plos de boa prática ajudariam o aprimoramento do ensino e

    aprendizagem. Informações sobre resultados de estudos que

    sejam relevantes também seriam valiosas. A demonstração

    de experiências e o desenvolvimento de centros de informa-

    ção deveriam receber apoio em nível nacional, e o acesso a

    fontes de informação deveria ser ampliado.

    Nestes itens constam ainda que a educação especial de-

     veria ser integrada a programas de instituições de pesquisa e

    desenvolvimento de centros com desenvolvimento curricu-

    lar apropriado. A pesquisa-ação focar-se-ia em estratégias

    inovadoras de ensino-aprendizagem, de que os professoresdeveriam participar ativamente, tanto na ação quanto na re-

    flexão envolvidas em tais investigações. Estudos-piloto e es-

    tudos de profundidade deveriam ser lançados para auxiliar

    a tomada de decisões e para prover orientação futura. ais

    experimentos e estudos deveriam ser levados a cabo numa

    base de cooperação entre vários países.

    Mauerberg-de-Castro (2005), Gimenez (2005) e Gor-

    gatti e Gorgatti (2005) apostam que essa aproximação entre

    as áreas contribuiu para o avanço no entendimento do com-

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    portamento motor de esportistas e não esportistas com ne-

    cessidades especiais. Entretanto, ainda prevalece uma gran-

    de lacuna para a compreensão mais efetiva dos mecanismos

    de controle motor e do processo de aquisição de habilidades

    motoras desses indivíduos, devido às inúmeras classes e va-

    riações de acometimentos. Isso, de fato, significa melhorar

    as condições de prática para as pessoas com necessidades

    especiais.

    Uma prova é o grande interesse dos pesquisadores

    da área que têm em sua origem questões práticas (GIME

    NEZ, 2005; GORGAI; GORGAI, 2005; HERKO

    WIZ, 1978; HUZLER, 2011; MAUERBERGDECAS

    RO, 2005; OLIVEIRA; PEROI; ANI, 2008; PAEL;

    GREYDANUS, 2010; SHIMIZU; YOON; MCDONOUGH,2010; ULRICH, 1988). Por exemplo, os estudos têm como

    foco: testar os efeitos dos programas de intervenção em po-

    pulações com necessidades especiais; utilizar a deficiência

    como um meio para se compreender o indivíduo como nor-

    mal, validar testes para investigar algum tipo de deficiência

    em particular. Gimenez (2005) revela que a grande maioriados trabalhos têm por objetivo: a) instrumentalizar profis-

    sionais de diferentes áreas que atuam com a deficiência –

    esses recursos se baseiam principalmente na apresentação

    de atividades e propostas; b) instrumentalizar os pais e de-

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    mais familiares na expectativa de normalização educacio-

    nal do deficiente; c) desenvolver programas de atividades

     variadas que permitam ao deficiente, desde a infância até a

    idade adulta, descobrir o seu potencial e consequentemente

    integrá-lo à sociedade; d) propor programas de atividades

    físicas que contribuam para a socialização.

    5.1 IMPLICAÇÕES, APLICAÇÕES,COMPEÊNCIA E AVALIAÇÃO DOMOVIMENO

    A implicação e a aplicação de conhecimentos nos pro-

    gramas de ensino de movimentos visando à promoção dacompetência motora das pessoas, desde a idade infantil até as

    idades mais avançadas atualmente têm recebido atenção me-

    recida. Como é amplamente conhecido, um dos principais

    objetivos da promoção da atividade física e esportiva tem

    sido o de aumentar o repertório motor e melhorar a quali-

    dade de movimento das pessoas, mediante o trabalho comas diferentes manifestações da cultura de movimento – jogo,

    esporte, ginástica, exercício e dança – adequando-o às suas

    características de desenvolvimento. No contexto da Educa-

    ção Física como uma área de conhecimento, essas preocupa-

  • 8/17/2019 Educação Física Inclusiva - Volume 04

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    ções deveriam ocupar posição de destaque nas investigações

    sobre desenvolvimento motor de pessoas com necessidades

    especiais. Infelizmente, tal não é a realidade, particularmente

    tratando-se de crianças, e uma das prováveis causas desse de-

    sinteresse talvez esteja na própria interpretação “naturalista”

    do desenvolvimento motor, segundo a qual não há necessi-

    dade de um trabalho organizado e sistemático para que esse

    processo ocorra adequadamente. Isso quando se trata de uma

    pessoa “normal”. Em outras palavras, basta deixar a criança à

     vontade que a natureza se encarrega do seu desenvolvimen-

    to, especialmente em relação às habilidades motoras básicas

    (HMB). A seguir serão expostas algumas capacidades e habi-

    lidades necessárias para o desenvolvimento e aprimoramen-

    to de tarefas motoras, cognitivas e sociais.

    5.2 COORDENAÇÃO MOORAGLOBAL, FINA E VISOMOORA

    Iremos abordar a importância da coordenação motora

    global, fina e viso-motora para o desenvolvimento do sercomo um todo, buscando enfatizar que a vivência de experi-

    ências motoras são necessárias para o desenvolvimento das

    capacidades através da potencialização de cada ação e ou

    tarefa motora de todo ser humano.

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    5.2.1  Coordenação global

    Refere-se a atividades dos grandes músculos e depende

    da capacidade de equilíbrio do indivíduo. A coordenação

    global e a experienciação levam a criança a adquirir a dis-

    sociação de movimento. Isso significa que ela deve ter con-

    dições de realizar múltiplos movimentos ao mesmo tempo,

    cada membro realizando uma atividade diferente, com con-

    servação da unidade do gesto.

    5.2.2 Coordenação motora fina e viso-motora

    Diz respeito às habilidades realizadas dos pequenos

    grupos musculares, destrezas manuais, e constitui um as-pecto particular da coordenação motora global.

    5.2.3  Desenvolvimento da habilidade depreensão

    Depende das coordenações fina e viso-motora.

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    5.3 ESQUEMA CORPORAL

    O corpo é uma forma de expressão da individualidade.

    A pessoa percebe-se e percebe as coisas que a cercam em

    função do seu próprio corpo. É a sua maneira de ser que

    estabelece contato, compreende e se engaja no mundo. O

    corpo é o ponto de referência que o ser humano possui para

    conhecer e interagir com mundo.

    Etapas do esquema corporal

    1ª Corpo vivido (até três anos)

      Corresponde à fase da inteligência sensório moto-

    ra (PIAGE, 1982)

    2ª Corpo percebido ou descoberto (três a sete anos)

      Corresponde à organização devido à função de

    interiorização, que auxilia o desenvolvimento da

    percepção centrada no próprio corpo, sendo a pri-

    meira tomada de consciência.

    3ª Corpo representado (7 a 12 anos)

      Nessa etapa, movimenta-se corretamente no am-

    biente, com controle do domínio corporal, o que

    o faz organizar e ampliar o seu esquema corporal.

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    Aos doze anos, consegue operacionalizar mental-

    mente suas ações.

    5.4 PERURBAÇÕES DO ESQUEMACORPORAL

    odos os problemas ou perturbações do esquema cor-

    poral tem origem afetiva. Crianças que não têm consciên-cia do seu próprio corpo podem apresentar insuficiência de

    percepção ou de controle corporal, incapacidade de con-

    trole respiratório, dificuldade respiratória e dificuldades de

    equilíbrio, de coordenação. Essas perturbações podem levar

    a criança à impossibilidade de adquirir esquemas dinâmi-

    cos correspondentes ao hábito viso-motor, interferindo naleitura e escrita, além do seu posicionamento no ambiente.

    5.5 LAERALIDADE

    É a propensão do ser humano utilizar preferencialmen-te mais um lado do que outro, nos níveis: olho, mão e pé.

    Nessa predominância lateral o lado predominante apresenta

    maior força muscular.

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    A lateralidade na criança pode se manifestar dessas

    formas:

    • Destra.

    • Sinistra.

    • Ambidestra.

    • Falsa destralidade.

    • Falsa sinistralidade.

    5.6 INFLUÊNCIA DA PREVALÊNCIADE DOMINÂNCIA DE LADO

    • Visão histórica.

    Idade da pedra (sem dominância).Idade do bronze (com dominância).

    • Hereditariedade.

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    • Dominância Cerebral.

    • Influência psico-social-afetiva.

    5.7 PERURBAÇÕES NALAERALIZAÇÃO

    • Direção gráfica.

    • Não reconhecimento de direita e esquerda.

    • Comprometimento da leitura e escrita.

    • Má postura.

    • Dificuldade de coordenação fina.

    • Discriminação visual.

    • Perturbação afetiva.

    • Sincenesias (comprometimento de músculos que

    participam e se movem sem necessidade).

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    55

    5.8 ESRUURAÇÃO ESPACIAL

    • Limitação do desenvolvimento mental e motor.

    • Não experiência corporal, manipulação, locomo-

    ção e estabilização.

    • Dominância lateral.

    • Falta de noção de esquema corporal.

    • Não reconhecimento das funções simbólicas.

    • Não abstração.

    5.9 ESRUURAÇÃO EMPORAL

    Conceitos que a criança deve adquirir:

    • Simultaneidade.

    • Ordem e sequência.

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    • Duração dos intervalos.

    • Renovação cíclica de certos períodos.

    • Ritmo.

    Perturbações:

    • Não percepção dos intervalos de tempo.

    • Confusão na ordenação e sucessão, p. ex. : sílabas

    (o que vem antes e o que vem depois).

    • Falta de padrão rítmico constante.

    • Falta de organização do tempo.

    • Falta de organização espacial e temporal, p. ex.:

    fazer uma fila.

    5.10 ONICIDADE MUSCULAR 

    ensão mínima e constante de um músculo.

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    Hipertônica

    • Em indivíduos que apresentam alta tonicidade

    muscular com grande resistência e estão contra-

    ídos em excesso.

    Hipotônica

    • Em indivíduos de baixa tonicidade muscular.

    5.11 COMPEÊNCIAS E AVALIAÇÃO

    A competência é definida por Ulrich (1988) como a de-monstração de uma meta correta do comportamento numa

    colocação apropriada. A competência de movimento é de

    suma importância para a prática e participação em progra-

    mas esportivos e de jogo, em nossa cultura. Visto que existe

    um sistema de compreensão da avaliação e análise da tarefa,

    Ulrich (1988) estabelece que a avaliação não seja feita numasó situação formal de teste, mas sim em situações informais

    de jogo (p.e.: dois a dois) e em situações estruturadas de jo-

    gos, com várias pessoas participando. Ele propõe também a

    combinação de medidas do produto (resultado obtido) com

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    medidas de processo (forma do movimento), levando-se

    em consideração as condições ambientais e as combinações

    que essas condições proporcionam, como mostram os qua-

    dros a seguir.

    5.12 CONDIÇÕES AMBIENAIS

    Quadro 2 – Condições para rebater bolas.

    A. B. C.

    Implemento de rebater Movimento da bola Tamanho da bola

    1 Mão Estacionária 30cm. diâmetro

    2 Raquete leve Arremesso por baixo lento

    a uma distância do 4,5m

    20cm. diâmetro

    3 Bastão de plástico Arremesso por cima a uma

    distância de 4,5m

    10cm. diâmetro

    Fonte – O autor (2011) adaptação de Ulrich (1988).

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    Sequência proposta:

    Quadro 3 –

     Combinações possíveis dos fatores (condições

    ambientais) de rebater bolas, de acordo com o

    Quadro 2

    Fonte – O autor (2011) adaptação de Ulrich (1988).

    O Quadro 2 mostra fatores que envolvem o rebater bolas,

    com três tamanhos diferentes, três condições e com três im-

    plementos diferentes. Já no Quadro 3, estão possíveis combi-

    nações entre os fatores apresentados no quadro anterior.

    01- A1 B1 C1 02- A1 B1 C2 03- A1 B1 C3

    04- A1 B2 C1 05- A1 B2 C2 06- A1 B2 C307- A1 B2 C1 08- A1 B3 C2 09- A1 B3 C3

    10- A2 B1 C1 11- A2 B1 C2 12- A2 B1 C3

    13- A2 B2 C1 14- A2 B2 C2 15- A2 B2 C3

    16- A2 B3 C1 17- A2 B3 C2 18- A2 B3 C3

    19- A3 B1 C1 20- A3 B1 C2 21- A3 B1 C3

    22- A3 B2 C1 23- A3 B2 C2 24- A3 B2 C3

    25- A3 B3 C1 26- A3 B3 C2 27- A3 B3 C3

    6 APLICAÇÕES DA ANÁLISE

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    6  APLICAÇÕES DA ANÁLISEDESENVOLVIMENTISTA DA

    TAREFA MOTORA

    Para estruturar o ambiente e desenvolver um instru-

    mento para uma avaliação mais válida do comportamen-

    to motor, um conceito que merece atenção é o de análise

    desenvolvimentista da tarefa motora. Proposta inicialmentepor Herkowitz (1978), essa análise considera que a criança,

    ao realizar uma ação, não executa apenas uma sequência es-

    pecífica de movimentos; ela está envolvida com inúmeras

     variáveis que atuam em conjunto – sejam da tarefa ou do

    ambiente. A análise desenvolvimentista da tarefa motora

    pode ser considerada de duas formas: a) como um instru-mento de avaliação do status do desenvolvimento motor; b)

    como uma abordagem instrucional, com o delineamento

    de experiências motoras sequencialmente orientadas, e a

    identificação de variáveis que limitam a aquisição de habi-

    lidades. O processo de análise envolve dois componentes:

    a) Análise Geral da arefa (AG) e b) Análise Específicada arefa (AE). A AG envolve a definição de fatores da

    t f d bi t i fl i i h

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    tarefa e do ambiente que influenciam sozinhos ou em com-

    binação, o comportamento motor da criança numa catego-

    ria motora geral, como correr, arremessar, rebater, saltar etc.

    Esses fatores são organizados de acordo com graus de com-

    plexidade. A AE envolve a elaboração de tarefas que incor-

    poram certos fatores levantados pela AG. Assim, é possível

    estruturar tarefas e ambientes em níveis – do simples para

    o complexo.

    A análise desenvolvimentista da tarefa procura anali-

    sar fatores que afetam a performance da habilidade. Cada

    fator está relacionado a níveis de dificuldade e comple-

    xidade da tarefa. O Quadro 4 mostra fatores como, por

    exemplo, tamanho do objeto sendo arremessado e distân-

    cia a que o objeto deve ser arremessado, peso do objeto,precisão do arremesso, velocidade do alvo, posição do alvo

    e outros mais.

    Quadro 4 Análise geral da tarefa para o padrão fundamental

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    Quadro 4 – Análise geral da tarefa para o padrão fundamental

    de arremessar

       F  a   t  o  r  e  s

       T  a  m  a  n

        h  o

        d  o

      o    b   j  e   t  o  s  e  n

        d  o

      a  r  r  e  m  e  s  s  a

        d  o

       D   i  s   t   â  n  c   i  a  q  u  e  o

      o    b   j  e   t  o    d  e  v  e  s  e  r

      a  r  r  e  m  e  s  s  a

        d  o

       P  e  s  o

        d  o  o

        b   j  e   t  o  a

      s  e  r  a  r  r  e  m  e  s  s  a

        d  o

       P  r  e  c   i  s   ã  o

        d  o

      a  r  r  e  m  e  s  s  o

       V  e

        l  o  c   i    d  a

        d  e

        d  o  a

        l  v  o

       P  o  s   i  ç   ã  o

        d  o  a

        l  v  o

       N   í  v  e   i  s

       S   i  m   p

        l  e  s

    Pequeno Curta Leve SemPrecisão Parado SemMovimento

    Médio MédiaPoucopesado

    PoucaPrecisão

    LentaVelocidade

    Fixa

       C  o  m   p    l  e  x  o

    Grande Longa PesadoCom

    PrecisãoRápido

    MovimentoCircular

    Fonte – O autor (2011) adaptação de Herkowitz (1978).

    Relacionada a esses fatores, a execução poderia ter três

    níveis de dificuldade: fácil, mediano ou difícil, de acordo

    com o tamanho do objeto a ser arremessado (pequeno, ou

    seja, do tamanho que encaixe na mão da criança, médio ou

    grande, que poderia dificultar a pegada desse implemento).

    O avaliador/professor poderá combinar esses e outros fato-

    res (representados no Quadro 5), de acordo com os estados

    de desenvolvimento da criança.

    Quadro 5 Análise Geral da arefa para a habilidade motora

  • 8/17/2019 Educação Física Inclusiva - Volume 04

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    Quadro 5 – Análise Geral da arefa para a habilidade motora

    rebater e trajetória de combinação de execução

     Tamanho do

    objeto a ser

    rebatido

    Peso do

    objeto a ser

    rebatido

    Velocidade do

    objeto a ser

    rebatido

    Previsibilidade

    da trajetória do

    objeto a serrebatido

    Comprimento

    do implemento

    de rebater

    Lado do corpo

    para o qual o

    objeto éarremessado

    Ajustes

    espaciais/

    locomotores eantecipatórios

    necessários

    Grande S/ ajustesLeve S/ velocidade S/ movimento S/ impl ementoLado

    favorável

    Médio Moderado

    Pesado No ar Linha médiaPequeno Rápida Longo

    Lenta

    moderada

    Quicando

    no solo

    Grandes

    ajustes

    Lado não

    favorável

    Ajustes

    mínimosPequeno

    No solo

    Pêndulo

    Planoinclinado

    FA TORES

    NIVEI

    S

    SI

    MPLES

    AO

    COMPLEXO

    Fonte – O autor (2011) adaptação de Herkowitz (1978).

    Uma criança não apenas rebate uma bola. Outras variá-

     veis envolvidas devem ser levadas em consideração. Uma

    criança rebate uma bola de determinado tamanho, um cer-

    to peso de bola, uma bola que tem certa velocidade e tra-

     jetória, etc.

    AG: abrange a definição de qualquer e todos os fatores

  • 8/17/2019 Educação Física Inclusiva - Volume 04

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    AG: abrange a definição de qualquer e todos os fatores

    ambientais e da tarefa, que influenciam o comportamento

    de movimento da criança em uma categoria geral (rebater,arremessar, agarrar, saltar, chutar, correr e trepar) sozinho

    ou em combinação.

    Nos Quadros 4 e 5 são identificados fatores que influen-

    ciam a rebatida. Certamente poderiam ser identificados

    mais fatores, mas para a proposta, são suficientes. A tarefade rebatida envolve fatores de níveis simples ou complexos.

    Os níveis implicam que nem todas as condições do mesmo

    fator são iguais. Ou seja, um mesmo fator pode ser encon-

    trado nos níveis simples e complexo. O nível de cada fator

    depende das demandas da tarefa. Por exemplo, no Quadro

    7 o primeiro fator é o tamanho do objeto a ser rebatido. Osníveis são amplamente classificados em grande, médio e

    pequeno, indicando que decrescendo o tamanho do objeto,

    aumenta a complexidade da tarefa e, talvez, a dificuldade

    da criança. Qualquer comportamento de rebatida pode ser

    classificado em um perfil (MANOEL; OLIVEIRA, 1995).

    Quadro 6 – Quadro de objetivos de tarefas motoras a serem

  • 8/17/2019 Educação Física Inclusiva - Volume 04

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    65

    Q Q j

    atingidas pela criança com base na AG.

    arefa: Rebater

    Atividade: Acertar a bola

    arefa da criança: Rebater de 3 a 4 bolas à mais ou menos 4.5mts.

    Equipamento: Bolas de 12”, 9”, 4”, de tênis, de paddle;Bastão de mandeira 18”, de plástico 36”.

    A criança deve sercapaz de:

    Rebater a bola cada vez menor;Rebater a bola com implemento cada vez maior;

    Rebater a cada vez que diminui a previsibilidade.

    Fonte – O autor (2011) adaptação de Herkowitz (1978).

    Quadro 7 – Quadro representativo de Análise Específica da

    arefa – AE – para a tarefa motora rebater

    FATORES QUE INFLUENCIAM A EXECUÇÃO DO ESTUDANTE

    Tamanho da bola   Comprimento doimplento de rebada

    Previsibilidade datrajetória da bola

    T1 12”

    T2 9”

    T3 4”

    C1 Com a mão

    C2 Bola de paddle

    C3 Bastão de madeira 18”

    P1 Estáca/parada

    P2 Com balanço

    P3 Bola aérea

    T4 Bola de tênis   C4 Bastão de plásco 36”

    NÍ VEL

    SI

    MPLES

    C

    OMPLEXO

    P/

    Fonte – O autor (2011) adaptação de Herkowitz (1978).

    alvez um dos pontos fortes desse método de análise

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    p

    seja a falta de ênfase em comportamentos apropriados à ida-

    de, ou seja, que uma criança de seis anos de idade não tenhaque executar certas habilidades prescritas. Ao invés disso, a

    criança é colocada ao longo de um contínuo de desenvolvi-

    mento, com pouca preocupação no que é apropriado à sua

    idade. Estimula o relacionamento entre todas as variáveis

    da tarefa e do ambiente e suas influências na performance.

    Esse tipo de análise induz ao reconhecimento da complexi-dade do comportamento motor e serve como instrumento

    de acesso e avaliação.

    7  CONSIDERAÇÕES FINAIS

    No movimento humano está imbricado o próprio de-

    senvolvimento motor, como também estão os aspectos cog-

    nitivos, afetivos e sociais. E por sua vez, o movimento está

    presente na maioria dos lugares, seja na escola, na academia

    ou em clubes esportivos, envolvendo atividades como o es-

    porte de competição, a dança, as lutas, recreação e o lazer.

    Dessa forma, foi argumentado aqui que, em princípio, o co-

    nhecimento acerca do desenvolvimento motor tem muito a

    contribuir com os programas de intervenção em Educação

    Física. Mas é oportuno ressaltar que o movimento também

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    se constitui um objeto de estudo e aplicação de outras áreas,

    como a Fisioterapia, em que o conhecimento sobre o desen- volvimento motor é básico, por exemplo, no caso de um lac-

    tente apresentar um distúrbio motor devido à uma paralisia

    cerebral, uma espinha bífida ou uma deficiência cognitiva.

    Livros como o de Gallahue e Ozmun (2005) têm ser-

     vido para popularizar a idéia de que a Educação Física naprimeira e na segunda infância deveria promover a aquisição

    de HMB. Para atingir tal objetivo, a Educação Física deve

    basear seu trabalho na sequência de desenvolvimento e em

    cada uma das habilidades. De fato, os conhecimentos sobre

    o desenvolvimento motor são úteis à intervenção em Educa-

    ção Física, na medida em que servem de referência para ana-lisar e avaliar comportamentos e para estabelecer objetivos,

    métodos e conteúdos condizentes com o estágio de desen-

     volvimento. No entanto, para que os conhecimentos sobre

    o desenvolvimento motor tenham uma contribuição efetiva

    na prática profissional em Educação Física Adaptada, é pre-

    ciso: ampliar investimentos e produzir mais pesquisas com o

    propósito de reunir conhecimentos sobre o desenvolvimen-

    to motor atípico; aprimorar os programas de intervenção

    motora, como também, incrementar e estabelcer políticas

    públicas em torno de pessoas com necessidades especiais.

    Portanto, após uma breve exposição de proposições te-

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    óricas e resultados de pesquisas na tentativa de explicar o

    desenvolvimento motor de crianças, Oliveira, Perotti e ani(2008) destacam que se pode constatar a existência de estu-

    dos preocupados em descrever estados de desenvolvimento,

    outros preocupados em identificar fatores (restrições) que

    estejam interligados e interfiram no processo de desenvol-

     vimento; e outros, ainda, que procuram resolver a questão

    da avaliação do comportamento motor, numa perspectivamais relacionada à solução de problemas da prática, como

    é o caso de Ulrich (1988), que amplia a análise desenvolvi-

    mentista proposta por Herkowitz (1978) e testada por Oli-

     veira e outros (2001), mostrando como várias combinações

    das restrições da tarefa e do ambiente podem ser manipula-

    das, desde as situações mais simples até as mais complexas.Oliveira (1997) e Oliveira e Manoel (2002) relatam que não

    se sabe, ainda, como essas combinações se apresentam na

    sequência de desenvolvimento, ou quais são mais efetivas

    para promover a aquisição de habilidades motoras, mas sa-

    be-se que sua interação é fundamental para aquisição.

    Nesse sentido, sugere-se que futuras investigações

    possam seguir duas direções de pesquisas: a primeira seria

    identificar restrições capazes de desempenhar papel rele-

     vante na mudança desenvolvimentista (por exemplo, OLI

    VEIRA et al., 2001), possivelmente com o uso de métodos

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    longitudinais, que servissem para identificar parâmetros de

    controle capazes de levar a mudanças em parâmetros de or-dem (formas de movimento); a segunda seria indicar como

    diferentes tipos de restrições interagem e atuam no estado

    de desenvolvimento motor, com o intuito de levar aos pro-

    fissionais informações relevantes sobre como manipular ta-

    refas para uma possível promoção da aquisição de habilida-

    des motoras ao longo do ciclo de vida do ser humano.

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    REFERÊNCIAS

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    BURON, A.; GREER, N. L.; WIESE-BJORNSAL, D. M.

    Changes in overhand throwing patterns as a function of ballsize. Pediatric Exercise Science, Champaign, v. 4, p. 50-67,

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    ______. Variations in grasping and throwing patterns as a

    function of ball size. Pediatric Exercise Science, Champaign,

     v. 5, p. 25-41, 1993.

    CAMPOS, L. M. L. A rotulação de alunos como portadores

    de “distúrbios ou dificuldades de aprendizagem”: uma ques-

    tão a ser refletida. São Paulo: FDE, 1997. Disponível em:

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    CRUZ, G. de C.; LEMISHKA, I. Ambientes inclusivo e ex-

    l i i di d

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    clusivo no processo ensino-aprendizagem de pessoas com

    deficiência mental em aulas de educação física. Revista Edu-cação Especial , Santa Maria, v. 23, n. 37, maio/ago. 2010

    CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO IN-

    CLUSIVA DE SALAMANCA, 2009, Salamanca. Declaração

    de Salamanca, sobre princípios, políticas e práticas na área

    das necessidades educativas especiais. Salamanca, 2009.

    DUARE, M. Análise estabilogr�