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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA A EXPLORAÇÃO DO CONTEÚDO ESPORTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA PARA DEFICIENTES FÍSICOS JULLIANO GALDINO DA SILVA SANTOS NATAL-RN 2009

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Trabalho de conclusão de curso de Educação Física da UFRN. Trata-se de uma pesquisa que buscou analisar a aplicação do conteúdo esporte nas aulas de educação física inclusiva.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

A EXPLORAÇÃO DO CONTEÚDO ESPORTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO

FÍSICA INCLUSIVA PARA DEFICIENTES FÍSICOS

JULLIANO GALDINO DA SILVA SANTOS

NATAL-RN 2009

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JULLIANO GALDINO DA SILVA SANTOS

A EXPLORAÇÃO DO CONTEÚDO ESPORTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA PARA DEFICIENTES FÍSICOS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado a Universidade Federal do

Rio do Norte como requisito para a

obtenção do título de Licenciado em

Educação Física, orientado pelo Prof.

João Batista Amorim.

NATAL – RN 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

A comissão abaixo assinada aprova o projeto de Trabalho de Conclusão

de Curso intitulado, A exploração do conteúdo esporte nas aulas de educação

física para deficientes físicos, elaborado por Julliano Galdino da Silva Santos,

como requisito final para o cumprimento das atividades relativas ao Trabalho

de Conclusão de Curso.

___________________________________________________ Prof. João Batista Amorim

Orientador

___________________________________________________ Prof. Dr. Edmilson Pinto Albuquerque

Membro examinador

___________________________________________________ Prof. Ms. Romilson de Lima Nunes

Membro examinador

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e a todos que de alguma forma contribuíram e me

incentivaram durante todo o curso.

Agradeço a todos os grandes amigos que fiz aqui, no Departamento de

Educação Física.

Agradeço aos meus pais e meu irmão, que me proporcionaram essa

oportunidade de estar aqui, nesse momento.

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RESUMO

Este trabalho é um estudo de como o esporte, em sua manifestação

educacional, é trabalhado na Educação Física Inclusiva, e que tipo de

contribuição ele pode dar aos alunos deficientes físicos, em especial. É

também um demonstrativo da atuação do professor de educação física quando

trabalha com esta clientela.

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SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO 07

1.1. O PROBLEMA 08

1.2. OBJETIVOS 08

1.2.1. OBJETIVO GERAL 08

1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 09

1.3. JUSTIFICATIVA 09

II. REVISÃO DE LITERATURA 10

2.1. UMA SOCIEDADE INCLUSIVA 10

2.2. INCLUSÃO NO CONTEXTO ESCOLAR 10

2.3. A DEFICIÊNCIA FÍSICA 11

2.4. A EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA 13

2.5. O CONTEÚDO ESPORTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA INCLU-

SIVA 15

III. METODOLOGIA 18

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 18

3.2. POPULAÇÃO 18

3.3. AMOSTRA 18

3.4. INSTRUMENTO DE PESQUISA 19

3.5. PROCEDIMENTOS 19

IV. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 20

4.1. CONTEXTO 20

4.2. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA 20

4.3. ANÁLISE DAS RESPOSTAS 20

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS 25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 26

ANEXOS

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CAPÍTULO I INTRODUÇÃO

1.1 – O PROBLEMA

A sociedade é um tanto esquiva ao se tratar das diferenças individuais.

Muitas vezes pode ser preocupante lidar com algo diferente do habitual. Por

isso a própria sociedade tende a rejeitar essa parte dela.

O processo de inclusão dessa parcela da sociedade deve partir desta,

afinal cabe a ela modificar-se e ajustar-se para “acomodar” a totalidade de seus

membros. Um grande passo a ser dado é a aceitação da diferença, ou seja,

reconhecer no indivíduo, independentemente de qualquer coisa, suas

potencialidades.

Se tratando de educação (e da educação física, consequentemente)

inclusiva, a diferença é um aspecto muito marcante. É preciso haver o

reconhecimento do indivíduo como um ser repleto de características

inigualáveis que devem ser respeitadas e trabalhadas em todos os seus

conteúdos.

O esporte, enquanto um dos grandes fenômenos sociais, tem grande

relevância na cultura da humanidade. Ele é tratado como um espetáculo capaz

de mobilizar grandes massas em eventos grandiosos, muitas vezes transpondo

barreiras de credo, de raça e cultura.

Dentro deste contexto de extrema aceitação da diversidade, o esporte

engloba a inclusão de deficientes físicos, não só como espectadores, mas

também como atletas de alto nível.

O esporte de rendimento praticado pelos deficientes físicos tem grande

reconhecimento e sucesso perante a sociedade. As modalidades paraolímpicas

são fortemente divulgadas e reconhecidas com certo apreço pelas pessoas.

Atletas paraolímpicos são vistos como heróis, pois estão lá realizando tarefas

de superação.

Esses atletas entram em contato com o esporte por motivos variados.

Muitos têm o primeiro contato com a prática esportiva já quando adultos. Um

exemplo disso é o nadador potiguar Clodoaldo Silva, que começou a praticar a

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natação quase na fase adulta, aos 17 anos, como processo de reabilitação. Em

muitos casos é assim que acontece.

Uma grande oportunidade que o deficiente físico tem de vivenciar o

esporte é na escola, enquanto conteúdo da educação física. No entanto, como

aconteceu com Clodoaldo Silva, muitos passam pelo período escolar sem uma

vivência proveitosa.

Em caso pessoal, quando fui aluno de educação física, sendo portador

de limitação física, sentia dificuldades em me integrar às aulas. Eu era

compelido a participar das aulas, que muitas vezes consistiam em apenas jogar

certa modalidade (handebol, voleibol, basquete, etc.). Eventualmente eu não

era bem sucedido, me causando grande desinteresse pela aula. Para o

professor, quando havia relutância de minha parte em participar da aula, era

apenas preguiça ou má vontade, embora ele soubesse do meu problema.

Com o conhecimento adquirido nesses anos como licenciando em

Educação Física, percebo que o professor não demonstrava qualquer

preocupação ou preparação em me incluir de fato.

A partir da minha experiência de aluno com deficiência física nas aulas

de educação física escolar, mais especificamente o conteúdo esporte, faço o

seguinte questionamento: o esporte, enquanto conteúdo da educação física,

como ele é explorado no contexto da educação inclusiva de deficientes físicos?

1.2 – OBJETIVOS

1.2.1 – OBJETIVO GERAL

• Analisar a exploração do conteúdo esporte no contexto da

educação física inclusiva nas escolas (públicas e privadas) de

Natal que tenham deficientes físicos inseridos em turmas

regulares.

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1.2.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Verificar a preparação pedagógica da escola para receber

alunos com deficiência física.

• Verificar as metodologias de aplicação do conteúdo esporte

para turmas que possuam alunos com deficiência física.

• Identificar os temas evidenciados pelo docente ao trabalhar

com esporte na educação física inclusiva.

1.3 – JUSTIFICATIVA

Tradicionalmente, os deficientes são considerados indivíduos incapazes

ou doentes, totalmente dependentes de outras pessoas, sendo obrigados a se

“curarem” para serem enquadrados nos padrões das pessoas “normais”.

Tal pensamento retrógrado advém da visão médica que incidia sobre os

especiais, visão esta presente, inclusive, em documentos importantes,

publicados na década de 70, que visavam o benefício dessas pessoas.

Muitas mudanças ocorreram desde aquela época até então. Ao menos

dentro do contexto de publicações e documentos, em prol dos portadores de

necessidades especiais. Atualmente, a preocupação mudou de enfoque. Ao

invés de fazer os especiais se adaptarem à sociedade, é esta que deve ser

preparada para receber aqueles.

Seguindo esse paradigma, a educação física, com base em todos os

seus conteúdos, se adaptou (e ainda se adapta) e se preparou (e ainda se

prepara) para atender às premissas da inclusão.

Sendo um dos conteúdos da educação física, o esporte tem grande valor

pedagógico, incentivando a inclusão, o respeito à diferença, a cooperação;

demonstrando ser um importante adjuvante ao processo inclusivo. Certamente,

a privação da vivência do esporte, em sua dimensão educacional, ou uma

aplicação mal orientada, gera grande prejuízo ao aluno.

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CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA

2.1 – UMA SOCIEDADE INCLUSIVA

“O processo de inclusão vem sendo aplicado em cada sistema social. Assim, existe inclusão na educação, no lazer, no transporte etc. Quando isso acontece, podemos falar em educação inclusiva, no lazer inclusivo, no transporte inclusivo e assim por diante”. (Sassaki, 2003, p.42).

O paradigma de inclusão social sugere que a sociedade seja maleável e

adapte-se às pessoas, em especial, aos portadores de necessidades especiais,

ao mesmo instante que estes estejam prontos para essa tarefa. Para Sassaki

(apud Sassaki, 2003, p.41), tal relação torna-se “um processo bilateral no qual

as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar

problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades

para todos”.

Nesse movimento, a edificação também é bilateral: a sociedade é

construída de forma mais completa, tornando-se apta a “receber” seus

cidadãos, sem restrição ou intolerância. Já os “especiais”, têm a oportunidade

de participar e contribuir, de fato, à sociedade.

O “modelo social da deficiência” (referindo-se, em especial, aos

deficientes) citado por Sassaki (2001, p. 47), sugere que cabe “à sociedade

eliminar todas as barreiras físicas, programáticas e atitudinais para que as

pessoas com necessidades especiais possam ter acesso aos serviços, lugares,

informações e bens necessários ao seu desenvolvimento pessoal, social,

educacional e profissional”.

É possível perceber tal assertiva quando observamos, por exemplo, os

planejamentos arquitetônicos das cidades, agora preocupados em propiciar

total acesso às pessoas com deficiência.

2.2 – INCLUSÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

No contexto de inclusão, a educação recebe relevante atenção nas

políticas públicas, que a enfatizam como direito de todos e dever do Estado e

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da Família (SOBAMA, 2001, p. 38). Portanto, Educação Inclusiva é um dos

aspectos da educação que mais estão em pauta, no tocante ao surgimento de

novas e necessárias preocupações inerentes ao desenvolvimento das

sociedades.

Dentro de um contexto “histórico-evolutivo”, a educação passou por

momentos distintos até chegar ao enfoque que tem hoje, quanto às pessoas

portadoras de necessidades especiais1. Para Sassaki (2003, p. 111 e 112),

foram três as fases anteriores ao que vemos agora como escola inclusiva. Na

primeira delas, a “fase de exclusão”, a sociedade rejeitava as pessoas com

deficiência, que não recebiam atenção educacional alguma.

Em seguida veio a “fase de segregação institucional”. Neste período

surgiram várias instituições não governamentais que atendiam as pessoas

portadoras de necessidades especiais, porém sem maior controle sobre a

qualidade da atenção oferecida.

Aproximando-se um pouco mais da fase da inclusão, veio a “integração”.

Neste momento surgiram as classes especiais, “não por motivos humanitários”,

inseridas nas escolas comuns. A justificativa: os alunos especiais “interfeririam”

na atuação do professor (Jönsson apud Sassaki, 2003, p.112).

Posteriormente, em alguns países desenvolvidos, começaram as

iniciativas inclusivistas. As escolas, agora, segundo Mantoan (apud Sassaki, p.

114) “propõem um modo de se construir o sistema educacional que considera

as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em virtude dessas

necessidades”.

2.3 – A DEFICIÊNCIA FÍSICA

"Variedade de condições não sensoriais que afetam o indivíduo em

termos de mobilidade, de coordenação motora geral ou da fala, como

decorrência de lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas, ou ainda,

de más-formações congênitas ou adquiridas".

1 Lembrando que os portadores de necessidades especiais, na educação inclusiva, não são apenas os deficientes, “numa lógica médico-psicológica”, mas também todos que apresentam dificuldades em seguir currículo escolar. Apesar da atenção especial que está sendo dada à inclusão de deficientes físicos neste trabalho.

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Costa (1992 apud UFRGS, INDESP, 1996) afirma que deficiência

física é "toda e qualquer alteração no corpo humano, resultado de um problema

ortopédico, neurológico ou de má formação, levando o indivíduo a uma

limitação ou dificuldade no desenvolvimento de uma tarefa motora".

Na deficiência física destacam-se:

a. Traumatismo Raquimedular

Tetraplegia: Perda dos movimentos dos membros inferiores e

superiores, sempre com o comprometimento das mãos.

Paraplegia: Paralisia dos membros inferiores e parte inferior do corpo;

afeta o movimento e a sensação.

b. Paraplegia Cerebral

Monoplegia: Perda dos movimentos em um dos membros.

Displegia: Paralisia bilateral que afeta parte de ambos os lados do corpo.

Triplegia: Condição rara em que três membros são afetados.

Quadriplegia: Perda dos movimentos dos membros inferiores e

superiores,

afetando, geralmente, todo o corpo.

c. Acidente Vascular Cerebral

Hemiparesia: Perda da sensibilidade em um dos lados do corpo

podendo ocorrer a recuperar a sensibilidade através da reabilitação, com

resgate total ou parcial da sensibilidade do membro afetado.

Hemiplegia: Perda dos movimentos em um dos lados do corpo podendo

ocorrer à recuperação momentânea, com resgate parcial ou total dos

movimentos. Causado por acidente vascular cerebral; aneurisma

cerebral; tumor cerebral e outras.

d. Amputações: Causas vasculares; traumas; malformações

congênitas; causas metabólicas e outras. Indivíduo com ausência de um dos

membros ou parte dele.

e. Poliomielite (Paralisia Infantil): Doença aguda, provocada por

vírus caracterizada pelo envolvimento do sistema nervoso central, resultando,

algumas vezes, em paralisia.

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2.4 – A EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA

Para Villa e Thousand (apud Sassaki, 2003) “O princípio fundamental da

educação [e da educação física, consequentemente] inclusiva é a valorização

da diversidade dentro da comunidade humana”.

Pode-se considerar o deficiente como alguém “diferente” e não vê-lo

como um doente ou incapaz. Inequivocamente, é um indivíduo capaz de

realizações próprias (STIL apud Sassaki, 2003, p. 28).

Um problema pertinente é como a escola lida com as diferenças. “Na

escola tradicional, a diferença é proscrita e remetida para as ‘escolas

especiais’”. (Rodrigues, p. 4).

É muito simples se recusar a aceitar e compreender o que é diferente.

Às vezes torna-se uma tarefa aterradora lidar com algo não habitual. Afinal, as

diferenças promovem insegurança, pois aniquilam a previsibilidade (SOBAMA

– SOCIEDADE BRASILEIRA DE ATIVIDADE MOTORA ADAPTADA, 2001, p.

33).

Por outro lado, a partir da compreensão do que é diferente, é possível

apreender uma série de novos conceitos. Portanto, o contato com o diferente

pode ser oportunidade inigualável de aumentar a bagagem cognitiva. Por isso

“é importante que a diversidade seja aceita com naturalidade e tranqüilidade”.

(Da Silva, Hartmann, Diniz & Rocha; 2008, p. 42).

A educação física, enquanto parte integrante e atuante na instituição

escolar, não fica de fora da doutrina instituída pela educação inclusiva. Aliás,

ela pode “ser um adjuvante para a construção da educação inclusiva”.

(Rodrigues, p. 5). Afinal, a educação física, por si só, prima pela incorporação

das dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais dos alunos (PCNs, 1998).

Bem ao contrário do que ocorria em tempos passados, quando se dava

atenção aos indivíduos “aptos ao exercício e ao esforço físico intenso”.

(SOBAMA, 2001, p. 43).

A essência da educação física, a partir dos princípios que a norteiam

(PCNs, 1998, p. 19), demonstra grande comprometimento com o movimento

inclusivista: o “princípio da inclusão” diz que é preciso ignorar a seleção de

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indivíduos a partir de suas maiores ou menores capacidades em práticas

corporais.

É perceptível nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino

Fundamental (Brasil, Ministério da Educação e do Desporto apud Aguiar &

Duarte) a preocupação em não permitir a exclusão, seja ela de qualquer

natureza. Para isso é importante a atuação do professor. Além disso, é

necessário partir deste, o cuidado na lida com fatos que podem gerar situações

excludentes.

Os PCN’s têm como alguns de seus objetivos, fazer com que os alunos

sejam capazes de:

. Participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e

construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas

e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por

características pessoais, físicas, sexuais ou sociais (p. 43);

. Participar de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude

cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por

razões sociais, físicas, sexuais ou culturais (p. 63);

. Participar de atividades corporais, reconhecendo e respeitando algumas de

suas características físicas e de desempenho motor, bem como as de seus

colegas, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou

sociais (p. 71);

. Conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes

manifestações de cultura corpórea, adotando uma postura não-preconceituosa

ou discriminatória por razões sociais, sexuais ou culturais (p. 72).

Como se pode ver, um dos propósitos mais relevantes da educação

física na escola é promover a socialização. Ainda mais além, fazer as

diferenças tornarem-se algo descomplicado e compreensível. No entanto,

muitas vezes, ocorre separação entre os alunos “normais” e os alunos com

deficiência física, indo totalmente de encontro a estes objetivos. Pois, se não

há interação, não há possibilidade de percepção da diversidade e apropriação

de novos conhecimentos.

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Sabe-se que: “[...]o ambiente social intervém no desenvolvimento do aluno, com isso fica nítido a responsabilidade da Educação e principalmente da Educação física, que é levar o aluno a participação efetiva na vida social, ressaltando a igualdade de direitos e desprendendo quaisquer tipo de discriminação”. (Oliveira, 2002).

Hort e Fischer (2003) dizem da importância da interação:

“[...]todo indivíduo possui potencialidades, e o seu desenvolvimento humano depende das condições existentes no mundo social, sendo tal desenvolvimento contínuo e, portanto, destinado a acompanhá-lo durante toda a existência”.

A diferença entre os indivíduos é fonte de aprendizado, claro,

dependendo da conduta tomada pelo professor durante o contato. Ele deve

saber se “aproveitar” das situações para poder “aplicar lições” 2.

Apesar de ser algo importante, a diversidade humana, certamente,

traduz grandes desafios ao educador.

“Na busca da criação e manutenção de escolas e comunidades realmente inclusivas, as crianças e os professores devem enxergar-se como agentes ativos para as mudanças, dispondo-se a enfrentar e desafiar os estereótipos e o comportamento opressivo e discriminatório que ainda persiste em nosso meio social”. (SOBAMA, 2001, p. 33).

É importante ressaltar que esse processo, assim como ocorre na

sociedade, é bilateral, ou seja, a inclusão é “um processo de 'ensinagem', onde

tanto professor como aluno aprendem e ensinam”. (Pedrinelli, ?).

2.5 – O CONTEÚDO ESPORTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA O esporte enquanto conteúdo da educação física pode ser uma

importante ferramenta na inclusão de deficientes, pois tem presença marcante

2Para efeito ilustrativo: importantes lições de civilidade podem ser dadas a um aluno “normal” quando

observa um colega ajudar outro que tenha, por exemplo, alguma dificuldade de locomoção. Do mesmo

modo que um portador de necessidade especial, na convivência, pode “aprender” a lidar com suas

limitações.

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na construção da cultura da sociedade, isto é, um fenômeno social (SOBAMA,

2001, p. 33).

A autoria supracitada faz um questionamento muito apropriado: “Como

proporcionar a prática do esporte para pessoas que possuem, habilidades,

realidade (familiar e social), cultura, limitações físicas, cognitivas,

comportamental, entre outras, tão variadas?” (p. 36).

Como a própria explica, é importante que todos estejam envolvidos no

objetivo da inclusão, desde os alunos até o educador, principalmente este, pois

ele será o norteador de toda a atividade e direcionará a intenção da prática.

O esporte, enquanto “maior manifestação corporal na Educação Física”

(CEDERJ, ?, p. 46), é motivo de relevante preocupação, quanto a sua

aplicação e:

“É uma manifestação corporal entre pessoas ou grupos de pessoas que, se bem orientados, podem dar excelentes frutos: solidariedade, espírito de competição, companheirismo, auto-estima elevada, bom condicionamento físico.” (id., ?, p. 46).

É importante incutir nos envolvidos o respeito às diferenças e

proporcionar a lida com a diversidade, valorizando-a, assim como as

potencialidades individuais. Jamais ignorá-las.

“O respeito as diferenças poderá gerar fontes de análises interessantes e complexas por parte de todos os presentes, criando momentos propícios para discussões sobre como lidamos com a diversidade e como tornar possível e produtiva, para ambos, esta convivência.”. (SOBAMA, 2001, p. 36).

É muito fácil de encontrar, nas aulas de educação física alunos que, por

um motivo ou outro, se privam da participação nas aulas. Cabe ao profissional

saber lidar com a dificuldade dos discentes e trabalhar sobre elas, no intuito de

confrontar tal característica pessoal. Quando o professor conhece o grupo que

trabalha, é possível “transformar suas aulas em espaços prazerosos onde tanto

ele, como os alunos, são cúmplices de uma aventura que é o aprender, o

aprender a aprender e o aprender a pensar”. (Pedrinelli, ?).

No contexto da educação física escolar, o esporte deve ser aplicado a

partir da ótica das dimensões educacional e social. Invariavelmente, o esporte

de rendimento é totalmente adverso ao esporte que deve ser aplicado na

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escola, pois este visa a seleção dos indivíduos mais aptos para disputas

acirradas. Já no enfoque educacional do esporte, a preocupação é propiciar a

vivência de variadas atividades e experiências.

O esporte surge como um desencadeador de relações de cooperação e

consequentemente de inclusão. Afinal, a prática esportiva, corretamente

orientada, sugere uma interação proveitosa entre os alunos, sendo passível de

aquisição de importantes conceitos de respeito, tolerância às individualidades,

solidariedade, auto-estima, entre outros.

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CAPÍTULO III METODOLOGIA

3.1 – CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa utilizou um modelo que a caracteriza como sendo do tipo

descritivo, através de uma abordagem qualitativa.

Neste tipo de pesquisa o pesquisador procura descrever os fatos nos

relatos e demonstrações dos pesquisados, sem interferir para modificá-lo. Para

se trabalhar com pesquisa descritiva, é necessário considerar as variáveis,

dependendo do tipo de pesquisa a ser realizada. Conforme Rudio (1986), este

termo variável “tem sua origem no campo da matemática, onde serve para

designar uma quantidade que pode tomar diversos valores, geralmente em

relação a outros valores” (p. 55). Então as variáveis são as propriedades que

se referem aos indivíduos servindo para caracterizá-los, podendo tomar

diferentes valores.

Este tipo de pesquisa procura narrar o que acontece, no qual seu

interesse está voltado no descobrir e observar os fenômenos, para poder

descrevê-los, classificá-los e interpretá-los. Ao estudar os fenômenos, a

pesquisa descritiva volta-se para conhecer a sua natureza, o que o compõe, e

quais processos o constituem e nele se realizam. Este tipo de pesquisa só

alcança resultados válidos se for elaborada corretamente e submetida às

exigências do método no qual a concerne.

3.2 – POPULAÇÃO Professores de educação física de alunos com deficiência nas escolas

da cidade do Natal.

3.3 – AMOSTRA Este estudo teve como amostra professores de educação física de

alunos com deficiência física, matriculados em turmas regulares de escola

públicas e privadas da cidade do Natal.

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3.4 – INSTRUMENTO DE PESQUISA O instrumento utilizado foi a entrevista semi-estruturada, com questões

direcionadas aos professores.

A entrevista é uma técnica que possibilita um diálogo entre o

entrevistado e o entrevistador durante o processo da pesquisa. Esta se

caracteriza como sendo uma simples conversa, tratando-se sim de um diálogo

que se realiza de maneira orientada, através de perguntas pré-elaboradas,

visando o recolhimento de informações e dados para a pesquisa (Martins,

1990).

3.5 – PROCEDIMENTOS

Verificação das instituições que apresentassem a população necessária

para o trabalho e demonstrassem disponibilidade para atender aos objetivos do

trabalho. A coleta de dados ocorreu com a realização de entrevistas.

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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 – CONTEXTO

Como descrito na metodologia, todos os professores que responderam à

entrevista pré-elaborada têm em suas turmas alunos com deficiência física e

que participam das aulas - ou pelo menos já participaram.

4.2 – CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A amostra foi composta de quatro professores que concordaram em

responder às perguntas, estando cientes das condições a que tais respostas

seriam submetidas, inclusive do sigilo, tanto do nome do próprio professor,

quanto do nome da instituição de ensino.

Todos os profissionais entrevistados já são formados – dois deles a

menos de um ano – no curso de graduação em Educação Física da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Dois dos entrevistados são educadores em instituições públicas

(PROFESSOR 1 e PROFESSOR 2) e os outros dois em instituições

particulares (PROFESSOR 3 e PROFESSOR 4).

4.3 – ANÁLISE DAS RESPOSTAS Os entrevistados foram identificados por PROFESSOR 1, PROFESSOR

2, PROFESSOR 3 e PROFESSOR 4.

Quando foi feita a eles a primeira pergunta (ver em ANEXOS o

questionário) a resposta unânime foi que é possível promover a prática

esportiva, embora com algumas ressalvas feitas por PROFESSOR 1 e

PROFESSOR 4. Este mencionou que é importante que haja a preocupação da

adaptação das atividades; já aquele se referiu ao apoio da família e da escola

como imprescindíveis para tal fim. O PROFESSOR 2 acrescentou que, em sua

experiência, o esporte é muito “eficaz”.

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A partir das respostas obtidas, é perceptível que todos os professores

acreditam na inclusão dos alunos deficientes físicos nas aulas de educação

física, nas práticas esportivas, e que utilizam essa ideia em seu dia-a-dia.

A ponderação do PROFESSOR 1 é pertinente, pois, segundo ele próprio

– em outra conversa que tivemos, que não pôde ser documentada – alguns

pais chegam até ele para pedir que o filho não faça as aulas.

Quando passamos para a segunda indagação, que se refere ao estímulo

à prática esportiva, as respostas também foram unânimes: sim, há estimulação

à prática esportiva. PROFESSOR 2 e PROFESSOR 4, ressaltaram a

importância do esporte, não com preocupações referentes a técnica ou

perfeição, mas sim com o objetivo de educar. Vemos nesse conceito a

manifestação esportiva, proposta por Tubino (apud SOBAMA, 2001, p. 36) – o

“esporte-educação: esporte como manifestação educacional, e indispensável

na formação e no processo de emancipação dos jovens”.

De fato, a partir de suas dimensões sociais, o esporte pode “viabilizar” a

inclusão, pois “quando o termo inclusão no esporte é utilizado, o mesmo refere-

se a participação de pessoas com e sem necessidades especiais, com metas e

objetivos semelhantes, em quaisquer destas dimensões” (id., p. 35).

Em relação à terceira questão levantada, todas as quatro respostas

apontaram para um ponto em comum – a sociabilização. Para PROFESSOR 3,

é possível fomentar a interação com os colegas de turma, assim como com a

sociedade, de um modo geral.

Segundo Santos (apud SILVA & SALGADO, 2005, p. 46), a inclusão é

“um processo que reitera princípios democráticos de participação social plena

(...) de qualquer cidadão em qualquer arena da sociedade em que viva, a qual

ele tem direito, e sobre a qual ele tem deveres”.

Para a promoção dos valores que propõem a Educação Inclusiva, e,

consequentemente, a Educação Física Inclusiva, é importante que haja uma

sistematização. Segundo os PCN’s, a elaboração de uma proposta pedagógica

integrando todas as disciplinas é imprescindível para a articulação dos

profissionais com a realidade do local da comunidade escolar.

O trabalho sem uma proposta pedagógica que o justifique torna-se de

frágil consistência e corre risco de se tornar inobjetivo. Afinal, sem o

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direcionamento deste tipo de projeto, o foco da inclusão pode acabar sendo

deixado de lado.

Nenhum dos profissionais entrevistados relataram que há propostas

pedagógicas, nas instituições de ensino que atuam, que contemplem os

paradigmas da inclusão. As iniciativas de inclusão que se sucedem são

oriundas da atuação no dia-a-dia, do contato e do conhecimento adquirido pelo

trabalho naquela situação.

Quando perguntado aos professores sobre como são preparadas as

aulas para seus alunos deficientes físicos, pela primeira vez houve divergência

das respostas. PROFESSOR 1 e PROFESSOR 3 não responderam a esta

pergunta.

PROFESSOR 2 respondeu que prepara suas aulas respeitando as

limitações de seus alunos, sempre tomando precauções para não tornar a

atividade enfadonha tanto para os “normais” quanto para os alunos com

deficiência física, sempre propiciando a igualdade de oportunidades de

participação.

PROFESSOR 4 salienta que o planejamento não é muito alterado, pois

não há muitos alunos deficientes físicos na escola.

A sexta pergunta feita aos entrevistados foi referente à existência ou não

de algum tipo de abordagem teórica nas aulas de educação física. Apenas

PROFESSOR 4 relatou que não faz abordagem teórica nas aulas.

Para se fazer uma abordagem teórica, é necessário que haja um

embasamento teórico, afinal é este que dá o respaldo à informação que está

sendo transmitida.

O trabalho de inclusão, no “esporte-educação”, perde muito de sua

objetividade sem um referencial teórico pautado em uma conscientização de

todos os envolvidos. É a orientação dada pelo professor que vai nortear toda a

produtividade dos trabalhos; é o profissional que vai dar a “intenção” daquelas

atividades. Sem isso, além do mais, as atividades podem tomar um rumo

distinto do desejado pelo facilitador.

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A sétima pergunta foi a seguinte – você tem dificuldade para lidar com

os alunos deficientes físicos? Todos os entrevistados responderam que sim,

apresentam dificuldades em lidar com os alunos com deficiência física.

PROFESSOR 2 garantiu que não por falta de preparo, mas sim pela falta de

“sintonia” entre escola, professor e família. PROFESSOR 1 diz que, apesar da

dificuldade, trata seus alunos deficientes físicos de modo natural.

O envolvimento é integral nessa tarefa, isto é; escola, família, professor

e os alunos.

A próxima pergunta referia-se a resistência ou não dos alunos

deficientes físicos em participar das aulas de educação física, nas quais se

trabalharia o conteúdo esporte. As respostas de PROFESSOR 2 e

PROFESSOR 3 foram as mesmas – nunca houve rejeição por parte de seus

alunos deficientes físicos.

PROFESSOR 1 e PROFESSOR 4 afirmaram que já houve ocasiões em

que os alunos deficientes físicos se recusaram a participar das aulas. O

primeiro relatou que o(a) aluno(a) é “mimado(a)”, causando muitas dificuldades

em integrá-lo(a), acabando por gerar desinteresse também no professor. O

segundo mencionou que a causa da falta de interesse em participar é o

constrangimento em atividades em grupo.

Para SOBAMA (2001, p. 36), é importante que todos os envolvidos

estejam cientes e focados no objetivo comum da atividade, não sendo

suficiente limitar-se apenas a oportunizar a prática esportiva.

Todos responderam positivamente a nona questão, exceto

PROFESSOR 3, que não o fez.

PROFESSOR 4 afirmou que o modo que encontrou para promover a

interação foi mantendo conversas e adaptando as atividades. PROFESSOR 2

fixou que é compromisso seu fomentar a interação dos “normais” com os

deficientes físicos. PROFESSOR 1 lamentou que há tentativas, mas a turma

não contribui muito.

O desafio é fazer com que se veja a diversidade como algo natural, que

faz parte de nossa sociedade e que a todo instante se lidará com ela e que

respeitando-a surgirão “fontes de análises interessantes” que afetam a todos os

envolvidos (id.). É preciso que não haja acomodação; é imprescindível o

constante aprimoramento. O respeito às diferenças

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Todos concordaram que houve evolução, tanto nos “normais” quanto

nos deficientes físicos, principalmente num ponto, a interação entre os alunos.

PROFESSOR 2 e PROFESSOR 4, frisaram isso em suas respostas. Este

percebeu que o esporte ajudou na compreensão da diferença, havendo uma

troca simultânea de aprendizado entre os alunos “normais” e os alunos

deficientes físicos.

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CAPÍTULO V CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conteúdo esporte, na educação física inclusiva, pode ser ricamente

explorado e render frutos muito importantes, contemplando o paradigma básico

da inclusão – a aceitação e a valorização das diferenças individuais. O grande

diferencial é o modo como o professor conduz suas aulas.

Obviamente, apenas o professor não é capaz de implementar mudanças

culturais tão significativas. É preciso que seja feito todo um trabalho junto aos

pais e à escola, para que a mudança comece a ocorrer de todas as direções.

Para que isso ocorra, é irrenunciável que tudo seja planejado. É de

suma importância que a escola, junto ao professor, compreenda o contexto

social no qual sua comunidade esteja inserida e – muito mais por parte do

profissional de educação física – conheça as individualidades de seus alunos,

para que, ao compilar essas informações se possa criar uma proposta

pedagógica que atenda a todas as demandas daquele corpo social.

Neste estudo, foi possível constatar que as escolas não apresentam tal

proposta. O conteúdo esporte é trabalhado de maneira aleatória, sem

fundamento em algo concreto. Daí o risco deste conteúdo se tornar algo

segregador, ao invés de dar uma fértil contribuição.

Em consequência da inexistência de propostas pedagógicas ao se

trabalhar o conteúdo esporte com alunos deficientes físicos, a metodologia de

trabalho também é vaga, novamente, limitando-se a atitudes carentes de maior

aprofundamento e embasamento.

Apesar disso, pelo que pode ser visto, a interação sempre foi uma

preocupação constante dos professores que contribuíram com este trabalho. A

opinião unânime entre eles foi que houve melhora nos alunos “normais” e nos

alunos deficientes físicos; cada um dos grupos se conhecendo melhor e

conhecendo também o outro grupo.

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ANEXOS

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QUESTIONÁRIO

O presente questionário destina-se a coleta de dados relativa ao

Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Educação Física, com o

objetivo de analisar como é tratado o conteúdo esporte nas aulas de educação

física em turmas que tenham alunos com deficiência física. Conto com sua

colaboração, assegurando-lhe total anonimato, no tocante ao nome do

participante, bem como do estabelecimento de ensino.

1. É possível promover a prática esportiva para alunos deficientes físicos

(DF)? 2. Você estimula a prática esportiva? 3. De que modo você acha que o esporte pode contribuir ao aluno DF? 4. Existe uma proposta pedagógica para o ensino do esporte nas aulas de

Educação Física? 5. Como você prepara as aulas de educação física aos seus alunos DF? 6. É feita alguma abordagem teórica ao se trabalhar o conteúdo esporte? 7. Você tem dificuldades para lidar com os alunos DF? 8. Os alunos DF apresentam alguma resistência em participar de suas

aulas? 9. Você toma medidas para promover a interação entre o aluno DF e o

restante da turma? 10. Você pretende apresentar ou já apresentou algum esporte adaptado a

toda turma? 11. É feito algum tipo de avaliação? 12. Você percebeu “melhoras” em seus alunos, tanto nos DF quanto nos

não-deficientes, desde o começo das aulas de educação física?