educaÇÃo e tecnologia - instituto de artes · aulas de marcenaria, onde aprendíamos como fazer...

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ENRIC LLAGOSTERA RA 043190 EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROJETO DE APRENDIZAGEM: TRICÔ 1. INTRODUÇÃO Este artigo pretende, através de uma detalhada descrição, análise e reflexão sobre o processo de aprendizado presente no projeto desenvolvido explicar o processo de criação de conhecimento sobre o tema estudado, a partir de dados e, depois, informações, apontando algumas dificuldades e pontos interessantes para uma compreensão maior sobre aprendizagem e tecnologia em si. Desde muito pequeno tive um grande contato com as artes. Apesar de tanto meu pai quanto minha mãe não serem artistas em si ou terem qualquer hobby relacionado diretamente a artes, ambos criaram um ambiente muito propício a esse contato. Sempre tive a meu alcance livros e o hábito da leitura é algo que sempre esteve presente em minha vida. Ainda pequeno, com 7 anos, entrei em um conservatório onde tinha aulas de desenho, pintura, teatro e música. Com isso, meu interesse pelas artes aumentou consideravelmente e aprendi muitas dessas técnicas, ainda que não de maneira profunda. Ao mesmo tempo, o computador chegou em minha casa cedo, ainda em 1994, no mesmo ano em que entrei no conservatório de artes, o que me possibilitou um contato com a tecnologia constante, através de jogos de computador e videogames. Nas aulas de artes da escola e do conservatório sempre tive interesse em fazer coisas que durassem, que pudessem ser guardadas e utilizadas. No ano em que vivi na Espanha tive aulas de marcenaria, onde aprendíamos como fazer desenhos técnicos de pequenos objetos e faze-los. Gostei muito dessa experiência e uso até hoje algumas dos objetos que fiz. O mesmo se dá com produtos tecnológicos. Gosto de produzi-los de maneira que sejam utilizáveis a prazo e aprendi em meus estudos como técnico em Informática pelo Cotuca a lógica de criação de projetos técnicos duráveis. No processo de aprendizagem desses conhecimentos, sempre tive uma grande carga de pesquisa própria sobre os aspectos que mais me interessavam, muitas vezes essa pesquisa sendo feita em meios eletrônicos com imagens como enciclopédias multimídia ou a Internet, além de livros. Ao mesmo tempo, o caráter empírico de tentar realizar as coisas e a partir disso tirar conclusões para meu aprendizado é outra constante, até mesmo pelo caráter experimental e do ‘fazer’ das artes. Outro ponto de grande importância para meu aprendizado é a discussão ou a conversa sobre o que está sendo aprendido com outras pessoas. Essas características de aprendizado recorrentes ficaram bem marcadas em meus testes sobre estilos de aprendizado, onde esse perfil mais ativo que reflexivo, um pouco intuitivo, visual e equilibrado entre seqüencial e holístico foi apontado pelo teste de Felder, assim como o teste de VARK deixou bem claro parte das minhas estratégias de aprendizado quanto a fazer pesquisas, experimentar e conversar com outras pessoas como parte de meu aprendizado. 1

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ENRIC LLAGOSTERA

RA 043190

EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROJETO DE APRENDIZAGEM:TRICÔ

1. INTRODUÇÃO

Este artigo pretende, através de uma detalhada descrição, análise e reflexão sobre o processo de aprendizado presente no projeto desenvolvido explicar o processo de criação de conhecimento sobre o tema estudado, a partir de dados e, depois, informações, apontando algumas dificuldades e pontos interessantes para uma compreensão maior sobre aprendizagem e tecnologia em si.

Desde muito pequeno tive um grande contato com as artes. Apesar de tanto meu pai quanto minha mãe não serem artistas em si ou terem qualquer hobby relacionado diretamente a artes, ambos criaram um ambiente muito propício a esse contato. Sempre tive a meu alcance livros e o hábito da leitura é algo que sempre esteve presente em minha vida. Ainda pequeno, com 7 anos, entrei em um conservatório onde tinha aulas de desenho, pintura, teatro e música. Com isso, meu interesse pelas artes aumentou consideravelmente e aprendi muitas dessas técnicas, ainda que não de maneira profunda. Ao mesmo tempo, o computador chegou em minha casa cedo, ainda em 1994, no mesmo ano em que entrei no conservatório de artes, o que me possibilitou um contato com a tecnologia constante, através de jogos de computador e videogames.

Nas aulas de artes da escola e do conservatório sempre tive interesse em fazer coisas que durassem, que pudessem ser guardadas e utilizadas. No ano em que vivi na Espanha tive aulas de marcenaria, onde aprendíamos como fazer desenhos técnicos de pequenos objetos e faze-los. Gostei muito dessa experiência e uso até hoje algumas dos objetos que fiz. O mesmo se dá com produtos tecnológicos. Gosto de produzi-los de maneira que sejam utilizáveis a prazo e aprendi em meus estudos como técnico em Informática pelo Cotuca a lógica de criação de projetos técnicos duráveis.

No processo de aprendizagem desses conhecimentos, sempre tive uma grande carga de pesquisa própria sobre os aspectos que mais me interessavam, muitas vezes essa pesquisa sendo feita em meios eletrônicos com imagens como enciclopédias multimídia ou a Internet, além de livros. Ao mesmo tempo, o caráter empírico de tentar realizar as coisas e a partir disso tirar conclusões para meu aprendizado é outra constante, até mesmo pelo caráter experimental e do ‘fazer’ das artes. Outro ponto de grande importância para meu aprendizado é a discussão ou a conversa sobre o que está sendo aprendido com outras pessoas. Essas características de aprendizado recorrentes ficaram bem marcadas em meus testes sobre estilos de aprendizado, onde esse perfil mais ativo que reflexivo, um pouco intuitivo, visual e equilibrado entre seqüencial e holístico foi apontado pelo teste de Felder, assim como o teste de VARK deixou bem claro parte das minhas estratégias de aprendizado quanto a fazer pesquisas, experimentar e conversar com outras pessoas como parte de meu aprendizado.

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Essas características de aprendizado acabam por refletir e estar presentes em grande parte de minhas atividades de hobby que pratico até hoje, assim como minhas escolhas profissionais. Minha opção por Midialogia está afetada por esse perfil ativo, intuitivo, empírico e visual, pois seria um espaço onde poderia exercer essas características. Meus hobbys, como leitura, sempre acompanhada de resumos e notas, música (toco violão e canto) e poesia confirmam um pouco esse perfil e a maneira como conduzo minhas atividades nesses campos também acabam por confirmar minhas estratégias perante o conhecimento. Assim, meu objeto de estudo nesse projeto de aprendizado também foi escolhido como algo que, mais que simplesmente confirmar esse perfil, pudesse coloca-lo um pouco a prova e, ao mesmo tempo, gerasse um conhecimento prático, um produto duradouro e uma oportunidade de trabalhar manualmente, verificando a possibilidade ou não de aprender algo tão tradicional e manual através da tecnologia disponível atualmente.

1.1 OBJETIVOS

• Objetivo geral: aprender a tricotar.

• Objetivos específicos: aprender a fazer um cachecol usando tricô; analisar esse processo de aprendizado de acordo com minhas preferências de aprendizagem, confirmando-as ou não; analisar o uso da tecnologia como ferramenta de pesquisa e aprendizado no estudo de algo basicamente manual; documentar o processo de aprendizagem e o desenvolvimento do produto; relacionar o processo de aprendizagem com minhas preferências de aprendizagem.

1.2 JUSTIFICATIVA

Meu interesse por trabalhar na feitura de objetos duradouros e usáveis foi um dos fatores que me levaram a escolher esse objeto de estudo para o projeto. A idéia de confrontar um saber tão manual e tradicional como o tricô com o aprendizado mediado por tecnologias de informação e comunicação também foi outro fator instigante e motivador. Outro fator que levei em consideração foi o fato de tal atividade ser comumente associada com o sexo feminino, partindo de minha experiência de conhecer pouquíssimos homens que soubessem tricotar, e considerei interessante aprender essa atividade apesar dessa ‘convenção social’. O fato de ser uma atividade de cunho prático, um tanto quanto artístico e sobre a qual não tinha nenhum conhecimento prévio também me motivou a fazer essa escolha, por considerar que poderia exercer, através do uso de tecnologias de aprendizado, as diferentes etapas do aprendizado desde seu início mais básico.

2. METODOLOGIA

A realização do projeto contou com etapas diferenciadas de pesquisa, experimentação e elaboração do produto final, utilizando a cada momento técnicas e abordagens diferentes. Assim, pode-se dividir claramente a metodologia utilizada em cada etapa desse projeto.

A pesquisa de conteúdos gerais sobre tricô, materiais necessários e receitas foi feita usando apenas a Internet, principalmente blogs sobre o assunto estudado.

Ainda utilizando a Internet, foram utilizados vídeos disponibilizados no website

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YouTube pela comunidade de hobbys Expert Village para o aprendizado das etapas básicas da feitura do tricô.

Para a prática das noções básicas do tricô e a elaboração do produto final, foram utilizados dois pares de agulha número 5 e dois novelos de lã laranja.

Em um último momento, a ajuda presencial de colegas de curso foi utilizada como parte do processo de aprendizado do projeto.

No total, foram utilizados três métodos (pesquisa na Internet, vídeos e ajuda presencial).

Para documentar as diferentes etapas de desenvolvimento do produto do projeto, assim como o resultado obtido, foram utilizadas fotografias digitais de baixa resolução (câmera Sony Cybershot, 640x480), algumas delas disponibilizadas neste artigo.

3. RESULTADOS

3.1 PESQUISA INICIAL

Para iniciar minha aproximação com o objeto de estudo, conduzi uma pesquisa utilizando a Internet, mais especificamente o website www.google.com.br, utilizando as chaves ‘aprendendo tricô’ e ‘tricô’. Assim que iniciei a pesquisa, pude perceber que muitos dos resultados que obtive com alguma relevância no sentido de conteúdo eram blogs de pessoas, todas mulheres, que faziam tricô. Nesses blogs, encontrei vários textos sobre diversos aspectos da atividade em questão, mas poucas informações voltadas para o iniciante completo no assunto.

Durante essa etapa da pesquisa aprendi muito sobre quais eram os diferentes aspectos da atividade em questão, podendo em pouco tempo listar as etapas essenciais para o tricô: a escolha e compra dos materiais ideais para a receita1 sendo feita, a colocação dos pontos nas agulhas, as carreiras de pontos e os diferentes tipos de acabamentos. Assim, pude ter um panorama geral do que teria de aprender, o que é um ponto de partida importante para minhas estratégias de aprendizado, pois assim pude ter tanto uma visão seqüencial do que teria de fazer como uma visão holística do todo do processo.

Um dos aspectos que chamou minha atenção enquanto realizava essa etapa do projeto foi os diferentes modos de organização das pessoas que fazem tricô: em comunidades de blogs, grupos de tricotadeiras e conselhos de tricô e trabalhos em lã, por exemplo. As comunidades de blogs funcionam mais como intercâmbio de receitas e fotos entre pessoas com um conhecimento já intermediário na atividade, enquanto o website do Conselho Americano de Trabalhos em Lã2 trazia mais informações voltadas aos iniciantes.

3.2 MATERIAIS

Nessa segunda etapa do desenvolvimento do projeto, ainda muito marcada pela pesquisa de conteúdos, comecei a procurar informações mais específicas sobre outra parte inicial

1 Receita é o nome dado a um projeto de tricô. Nele, estão descritas, de maneira muito semelhante a uma receita culinária, os materiais necessários a esse projeto, o modo de fazer e os diferentes cuidados específicos dessa peça sendo trabalhada.2 Endereço do website: www.learntoknit.com, Nov. 2006

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importante para prosseguir o projeto: a compra dos materiais necessários.

Pesquisando na Internet, em bazares e lojas de armarinho virtuais, além dos blogs relacionados a tricô, encontrei várias descrições e imagens sobre os diferentes tipos de lã que poderiam ser usados para a feitura do cachecol. Também procurei informações sobre tipos de agulhas e tamanhos, e descobri que o tipo de cachecol que estava querendo fazer, baseado em um cachecol que tenho, só poderia ser feito com linhas muito finas e agulhas pequenas, o que dificulta a feitura. Sendo assim, optei por comprar agulhas de número maior e uma linha mais grossa e barata, para poder aprender o básico com menos dificuldades.

O aspecto do aprendizado por experimentação, tentativa e erro, por ser parte do meu estilo de aprendizagem, foi assim levado em consideração. Utilizando uma agulha maior e uma linha não tão fina eu não teria os mesmos resultados que os esperados inicialmente, mas teria uma maior possibilidade de aprender mais rapidamente, o que me permitiria realizar o produto-objetivo do projeto.

3.3 MUDANÇA DE FONTES DE INFORMAÇÃO

Na terceira etapa do projeto, o perfil do tipo de aprendizado necessário mudou. Até esse momento, os conhecimentos adquiridos através da pesquisa eram de caráter fundamentalmente teórico. As formas em que esse conteúdo teórico estava apresentado também eram basicamente textos informativos e imagens ilustrativas. Os textos não continham qualquer preocupação em serem didáticos e as imagens geralmente eram redundantes e adicionavam muito pouco para uma melhor compreensão do que estava sendo dito. Porém, como essas etapas anteriores estavam mais voltadas a um conhecimento teórico do tricô, essas características do material encontrado não atrapalharam meu aprendizado, mesmo meu perfil de aprendizagem sendo mais visual que verbal.

Após ter em mãos os materiais necessários para começar a tricotar, passei a procurar informações mais específicas sobre as etapas de feitura do tricô. Utilizando as informações encontradas no website www.learntoknit.com, no link ‘The Basics’, tentei seguir uma página do tipo passo a passo explicativo, com textos dando instruções e imagens ilustrando os passos. Consegui realizar a primeira etapa descrita, colocar o primeiro ponto na agulha, mas não consegui fazer a segunda, de colocar os outros pontos da primeira carreira. As instruções e as imagens eram confusas e não-didáticas, pouco claras. Sendo assim, passei a procurar outros tutoriais passo a passo que fossem mais didáticos e explicassem melhor os passos dessa segunda etapa da feitura do tricô. No entanto, mesmo depois de pesquisar em vários websites, não encontrei tutoriais com essas características.

Passei então a procurar outras formas de informação que ajudassem o processo de aprendizado. Levando em consideração o perfil mais visual e ativo que apresentei nos testes de Felder, decidi procurar por vídeos ou animações na Internet que mostrassem como fazer essa segunda etapa. Além disso, essa decisão baseou-se em outro resultado, apresentado nos testes VARK, que dizia que meu aprendizado passava por uma etapa de ouvir a experiência do outro. Sendo assim, procurei por vídeos em que alguém estivesse ensinando essa etapa do tricô em que eu estava tendo dificuldades.

Após pesquisar no website de compartilhamento de vídeos YouTube3, encontrei mais de mil e quinhentos vídeos relacionados à chave de pesquisa ‘knit’ (tricô em inglês). Entre esses

3 Endereço na Internet: www.youtube.com, Nov. 2006

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resultados, optei por um dos mais populares e que tratava exatamente da etapa da feitura em que eu estava com dificuldades, a colocação dos pontos da primeira carreira na agulha.

3.4 COLOCAÇÃO DOS PONTOS

Com a utilização do vídeo encontrado no YouTube sobre ‘casting on’4, termo em inglês para a colocação dos pontos na agulha, o aprendizado dessa etapa do tricô foi muito facilitado. A imagem do vídeo, apesar da baixa qualidade de resolução, somada à narração da mulher que estava fazendo o tricô, tornava muito mais claros os passos a serem feitos para colocar os pontos na agulha. Esse vídeo, que descobri ser parte de uma série de vídeos da mesma professora sobre tricô, está cadastrado também em outro website relacionado a hobbys variados, chamado Expert Village. Existe uma certa didática no vídeo, com a repetição do processo mais lentamente e uma certa preocupação em deixar a imagem do tricô sendo feito a mais clara possível.

O uso desse vídeo como ferramenta de aprendizado foi muito mais eficiente para tirar as dúvidas que eu tinha sobre como colocar os pontos na agulha. O fato da imagem não ser mais apenas uma ilustração redundante e sim a base da explicação facilitou minha compreensão dessa etapa do processo. Assim, pude seguir os passos sem maiores dificuldades, imitando o que estava sendo feito no vídeo e assistindo várias vezes para tirar as dúvidas que iam surgindo nesse meio tempo, através da comparação do que estava fazendo com o que via no vídeo.

Nessa etapa, realizei alguns testes de colocar os pontos da primeira careira na agulha na agulha para, depois de estar mais seguro no uso da técnica necessária, começar a colocar os pontos de meu cachecol. Seguindo uma receita de cachecol com uma largura parecida com a do cachecol que utilizei de modelo, coloquei os pontos na agulha para fazer meu cachecol. Para uma visualização em maiores detalhes, seguem algumas fotografias dessa etapa do processo.

FIG. 1 - Seqüência de movimentos para colocar um ponto na agulha (linha simples)

Como a realização dessa etapa, após encontrar o vídeo com instruções, não apresentou maiores dificuldades, criei uma confiança excessiva de que a próxima etapa, fazer os pontos tricô transferindo-os de uma agulha para outra, seria de aprendizado fácil e dificuldade semelhante. Sendo assim, procurei o vídeo sobre a próxima etapa, o ponto tricô e comecei a 4 Endereço do vídeo na Internet: www.youtube.com/watch?v=mwwIyoxNu8g (‘Knitting: casting on’), Nov. 2006

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tentar aprendê-lo.

3.5 O PONTO TRICÔ

Para aprender a fazer o ponto tricô, segui a mesma abordagem, utilizando outro vídeo feito pela professora do Expert Village5. Porém, não consegui acompanhar as instruções do vídeo, pela narração estar pior e não conseguir entender as imagens da gravação, que, apesar de não diferirem muito das imagens do vídeo anterior, estavam confusas e difíceis de acompanhar. Encontrei dificuldades principalmente em compreender a posição inicial dos fios nas mãos, e, mesmo tentando muitas vezes acompanhar imitando cada movimento da professora no vídeo, não fui capaz de realizar o ponto.

A partir do sucesso encontrado em aprender a colocação dos pontos na agulha através de vídeos, decidi procurar outros vídeos sobre o ponto tricô. Encontrei outros vídeos no YouTube(), porém descobri, após muitas tentativas de acompanhar esses novos vídeos, que as maneiras de colocar os pontos na agulha utilizadas em cada um desses vídeos eram diferentes da forma que tinha aprendido, o que impediu meu aproveitamento dessas fontes de informação. Passei a questionar então se tinha realmente aprendido corretamente a colocar os pontos na agulha e verifiquei novamente com o vídeo que utilizei. Assim que comprovei que havia aprendido corretamente, comecei a refletir em outras maneiras de aprender o ponto tricô e acabei por optar pela ajuda presencial.

A ajuda presencial cumpre uma das características apresentadas no meu perfil de aprendizado apontado pelo teste VARK, o aprender pela explicação do outro e para o outro. Além disso, a presença de alguém que soubesse mais sobre tricô poderia me ajudar a entender qual era o possível erro que estava cometendo na hora de fazer o ponto tricô. Assim, conversei com meus colegas de sala e descobri que alguns colegas sabiam já tricotar e tinham feito peças de roupas utilizando essa técnica. Logo, marcamos de nos encontrar para que eles me ajudassem.

No dia marcado, assim que começamos a trocar informações e mostrei a eles como estava fazendo o ponto tricô, eles identificaram onde estava o problema que impedia que eu completasse o ponto: a técnica de colocação de pontos na agulha que eu estava utilizando era, na verdade, específica para quando se tricota com linha dupla e a técnica que estava utilizando para tentar completar o ponto tricô era para o tricô com linha simples. Assim que esse erro foi identificado, aprendi com eles qual é a técnica correta para a colocação dos pontos (muito semelhante à anterior) e depois não tive maiores dificuldades em realizar o ponto tricô da maneira que eu havia aprendido anteriormente. Adicionalmente ensinaram-me a passar o fio por trás da cabeça para mantê-lo esticado e algumas dicas em relação a não apertar demais os laços para facilitar o progresso rápido do tricô.

5 Endereço na Internet: http://www.youtube.com/watch?v=oYGqXAN8R-4&mode=related&search= , Nov. 2006

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FIG. 2 - Seqüência de movimentos necessários para fazer o ponto tricô

Por ter de recomeçar a fazer o tricô, agora usando a nova técnica de colocar os pontos na agulha e sabendo fazer o ponto tricô, não consegui, por falta de tempo, finalizar o produto que tinha como objetivo, meu cachecol. Essa é uma característica do trabalho em tricô que não favorece o aprendizado descontínuo, ou seja, que não seja realizado de acordo com um único material de instrução ou método, pois poucos erros nessas fases mais básicas são possíveis de serem corrigidos sem que se recomece o produto. Sendo assim, o resultado final alcançado, em relação a acabar o produto, não pode ser alcançado. A imagem abaixo mostra até onde foi possível completar o cachecol após o aprendizado definitivo do ponto tricô, sendo esse o resultado final alcançado em relação ao produto.

FIG. 3 - Resultado final alcançado no tricô

3.6 RESULTADOS GERAIS

Nesse projeto de aprendizado, cada método envolvido trouxe contribuições e resultados diferentes. Cada etapa do aprendizado exigiu um tipo de material para aprendizado e uma abordagem diferente para ser compreendida. Assim, posso relacionar minhas preferências de aprendizagem, verificadas teoricamente anteriormente, com um exemplo de minha prática de

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aprendizado, e comprovar sua validade na resolução das situações-problema que surgiram durante esse projeto.

Para a pesquisa de conteúdos gerais sobre o assunto sendo estudado, as tecnologias de informação e comunicação, marcadamente a Internet, ajudaram muito no acesso fácil a informações variadas, que possibilitaram uma avaliação de sua qualidade por comparação. Nessa etapa inicial, o problema principal de compreender melhor a natureza do tricô foi fácil de resolver justamente por essa facilidade de busca, o que confirma e favorece o aspecto ativo de meu perfil de aprendizado detectado nos testes de Felder.

A próxima situação-problema e sua respectiva resolução, a dificuldade em compreender e executar o início do tricô através de tutoriais passo a a passo com imagens e textos, também está relacionada a uma de minhas preferências de aprendizagem que apresento perfil mais marcado: a compreensão visual. A redundância e falta de clareza desses tutoriais foram solucionadas adotando um vídeo, através das TIC, que explicasse essa etapa. Nessa mesma etapa, ficou clara a necessidade de instruções com uma maior preocupação pedagógica, presentes no vídeo de maneira mais bem feita.

O aprendizado através do vídeo disponibilizado na Internet funcionou bem para uma das etapas do tricô, mas já não foi de grande ajuda quando aplicado na próxima, o ponto tricô. A dificuldade em identificar onde estava o erro na execução dessa etapa mostrou a necessidade de algum tipo de depuração do que estava sendo feito para possibilitar a reflexão e a elaboração de alternativas a serem testadas. Mesmo com a comparação do primeiro vídeo testado com outros sobre o mesmo assunto, não houve progresso e pude constatar uma série limitação da aplicação de um aprendizado de prioridade experimental, ativa, em uma atividade onde o erro é dificilmente corrigido como no tricô que, por ser um emaranhado de nós, tem de ser refeito caso ocorra algum erro em uma etapa mais básica.

Nessa última etapa, a ajuda presencial, adiada ao máximo por não envolver diretamente as TICs, um dos objetivos específicos do projeto, foi de essencial importância, pois demonstrou para mim a importância do processo de diálogo com o outro, mesmo que esse tenha um conhecimento igual, superior ou inferior ao seu no assunto. Dessa maneira, o conhecimento adquirido com meu aprendizado foi sendo consolidado e a nova etapa a ser aprendida foi aprendida rapidamente, confirmando o aspecto de meu aprendizado chamado de aural pelo teste VARK.

Não ter completado o objetivo específico de terminar o cachecol e ter um produto final duradouro desse projeto é algo que revela um planejamento falho em relação a dificuldade que teria de encontrar bons materiais disponibilizados na Internet, no sentido de encontrar materiais que fossem de interação mais inteligente que apenas reativa ou nula, como todos que encontrei. Outro aspecto que foi mal avaliado e que afetou esse aspecto dos objetivos foi a dificuldade de exercer uma reflexão mais calma dos processos sendo aprendidos, enquanto a experimentação, as vezes de pouca eficácia, apesar do meu perfil ativo, foi supervalorizada como ferramenta de aprendizado.

4. CONCLUSÃO

A realização da atividade de projeto de aprendizado pretende propor desafios continuados em relação ao processo de aprendizagem, para que possamos avaliar se nossas preferências de aprendizado detectadas em diferentes atividades durante o decorrer da

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disciplina são confirmadas ou não por esse processo de aprendizagem documentado.

Partindo dessa premissa e relacionando os resultados obtidos com os objetivos iniciais do projeto, posso dizer que, apesar de não ter conseguido terminar o cachecol, um dos objetivos específicos, meu objetivo com esse projeto foi cumprido, pois aprendi a tricotar, faltando apenas a parte de acabamento, que é bem mais simples que qualquer uma das etapas aprendidas, e pude tanto relacionar esse processo de aprendizado com minhas preferências de aprendizagem quanto compreender melhor o papel das TIC nesse processo.

Ficou claro para mim na prática desse projeto que o processo de aprendizado tem etapas essenciais e sem as quais não pode haver um conhecimento consistente e verdadeiro. Independente da facilidade do aprendiz com um estilo ou outro de aprendizagem, a questão da depuração e reflexão cuidadosa do tema sendo aprendido, apoiada por materiais e técnicas capazes de colaborar com esses dois processos, é fundamental. A espiral de aprendizado tem como base essas características, para que a relação do aprendiz com o conhecimento seja sempre dinâmica.

A falta de equipamentos ou técnicas além da ajuda presencial que auxiliem nesse aspecto para o aprendizado de tricô foi um sério obstáculo que dificultou a execução plena de todos os objetivos do projeto. O aprendizado da técnica necessária ao tricô ocorreu, pois foi memorizada, compreendida em sua natureza e executada, ainda que não totalmente, em relação ao acabamento. Partindo da experiência acumulada durante esse processo de aprendizado, posso dizer que as tecnologias da informação não estão sendo utilizadas de maneira inteligente para a instrução do tricô e, possivelmente, outras técnicas manuais, pois não encontrei nenhum exemplo de animação interativa ou jogo eletrônico que fosse capaz de ensinar através de depuração, por simples que fosse. Esse problema indica a necessidade de que essas tecnologias sejam repensadas em seu uso educacional, pois utilizá-las apenas para veiculação de vídeos é uma evidente sub-utilização. Essa afirmação baseia-se também em meu contato com tecnologia, já citado na introdução deste artigo.

Durante esse projeto, pude perceber um aumento de consciência minha em relação aos processos que estava utilizando para aprender e percebi como a espiral de aprendizado estava ocorrendo em relação às próprias maneiras de aprender. Posso dizer que as principais características do meu perfil de aprendizado foram confirmadas e que todas foram utilizadas de maneira eficiente, com a exceção parcial do aprendizado por diálogo e conversa com outras pessoas, que, julgo, foi sub-utlizado, pois poderia ter acontecido mediado pelas TIC, possibilidade essa que não foi explorada.

Com esse projeto, pode-se perceber a importância das TICs, seu potencial e suas limitações atuais para o uso educacional em disciplinas essencialmente manuais e de ensino tradicional, quase exclusivamente familiar. A partir dessa atividade, o tricô, em questão, podemos ampliar o debate do uso das TICs na educação, assim como fazer um apelo a seu uso inteligente e adaptado às diferentes preferências e estilos de aprendizagem, sem que a espiral básica de aprendizado seja esquecida ou negligenciada.

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BIBLIOGRAFIA

Valente, J. A. “O projeto como meio para trabalhar conceitos”.

Valente, J. A. “Mudanças na sociedade, mudanças na educação: o fazer e o compreen-der”.

Valente, J. A. “A espiral da aprendizagem e as tecnologias da informação e comunicação: repensando conceitos”.The VARK Questionnaire: www.varklearn.com/Portuguese/page.asp?p=questionnaire, Nov. 2006

Felder, R. & Soloman, B. A. Index of Learning Styles (ILS). Disponível em:www2.ncsu.edu/unity/lockers/users/f/felder/public/ILSpage.html, Nov. 2006

Cavellucci, L.C.B. & Valente, J. A. “PREFERÊNCIAS DE APRENDIZAGEM: aprendendo naempresa e criando oportunidades na escola”.

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