educação e a teoria da complexidade
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Prof. Dr. Paulo Gomes Lima Faculdade de Educao Universidade Federal da Grande Dourados 1
EDUCAO E TEORIA DA COMPLEXIDADE:ENCAMINHAMENTOS PARA A EDUCAO CONTEMPORNEA
Paulo Gomes LimaProfessor Adjunto da Faculdade de Educao
Universidade Federal da Grande Dourados [email protected]
Introduo
O tema escolhido acerca da educao e teoria da complexidade, a despeito de
algum tempo de discusso na academia, tornou-se um objeto de estudo muito
atual, uma vez que reorienta a possibilidade de se pensar o conhecimento e ao
mesmo tempo problematizar a educao historicamente situada no como
objeto determinado, mas em construo, da a nossa opo por desenvolver atemtica. Diferentemente do paradigma positivista, o paradigma da
complexidade centra o seu objeto de investigao no que chamamos de
objetividade-subjetividade, dado que uma no existe sem a outra devido ao
carter multidimensional do pensamento epistemolgico complexo (proposto
por Edgar Morin) que considera o conhecimento parcelar como limtrofe e
insuficiente. Da proposta de Morin, construmos uma indagao que orientou o
desenvolvimento deste pequeno artigo, a saber: Quais so as bases
epistemolgicas do paradigma da complexidade e sua respectiva importncia
para a rea educacional, tomando como ponto de discusso a superao do
saber parcelar ? O objetivo geral desta pesquisa centrou-se em analisar as
bases do paradigma da complexidade, bem como suas contribuies para a
educao contempornea. A partir deste objetivo desdobramos trs outros
objetivos especficos para assegurar uma resposta ao problema levantado: a)
Descrever os pontos e contrapontos entre os paradigmas positivista e o da
complexidade; b) problematizar a educao escolar luz do paradigma da
complexidade e c) tecer encaminhamentos sobre a possibilidade de uma
educao luz da teoria da complexidade. Partimos da perspectiva do mtodo
materialista histrico-dialtico, uma vez que toma o objeto de estudo como
elemento dinmico na passagem do quantitativo para o qualitativo e na
superao e luta dos contrrios. Necessrio se faz enfatizar que Marx e Engels
concebiam a matria ou o materialismo como todos os fenmenos, coisas e
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processos que existem fora e independentemente da conscincia do homem
(KOPNIN, 1978, p.60); essa assero compreende, portanto, que o
pensamento necessita sempre de algum apoio em seu movimento. E esse
apoio lgico criado precisamente pela experincia antecedente do
conhecimento, que a que se fixa nas categorias1
da dialtica materialista..Vale ressaltar que o nosso referencial terico centrado na Teoria da
Complexidade, ter como fio condutor as obras de Edgar Morin (1987a; 1987b,
1995a; 1995b, 1996a; 1996b, 1989, 1998 e 1999). Esperamos que este
trabalho possa contribuir significativamente para alunos e pesquisadores do
fenmeno educacional.
1. Pontos e contrapontos entre os paradigmas positivista e o
da complexidadeA sociologia emergente do sculo XIX comparava a sociedade um
organismo2 vivo e como tal era constitudo de partes integradas e coesas e
que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo fsico ou mecnico;
por isso o positivismo foi chamado tambm de organicismo (COSTA, 1987,
p.43). A filosofia positivista bsica de Comte era centralizada na lei dos trs
estados3, a saber, o teolgico, o metafsico e o positivo relacionando-a ao
desenvolvimento do organismo humano, ou seja, o teolgico correspondia a
infncia (o estado em que o conhecimento humano comeava a dar os
primeiros passos), a metafsica correspondia a adolescncia (depois da
primeira fase, o equilbrio cognoscente e gnoseolgico se expande, mas ainda
no em sua plenitude) e o positivo, a maturidade (caracterizado pela lucidez e
amadurecimento para o todo do conhecimento ) e todo povo, toda sociedade,
1 Mas o que entende-se como categorias na dialtica materialista ? KOPNIN (1978, p.108) explica queso elementos que constituem o dispositivo lgico do pensamento cientfico terico, que um meio desntese de criao de novas teorias e movimento de um conceito a outro que interpreta com mais
profundidade o objeto, em outras palavras seriam snteses de mltiplas determinaes . O mesmo autoracrescenta que elas s assumem importncia medida que so objetivas por contedo, resultantes, porsua vez, da evoluo do conhecimento como base da construo do sistema de categorias... (p. 119).
2 Este conceito foi introduzido na sociologia na sua formao e desenvolvimento por Durkheim, que naobra La division du travail social faz uma analogia da sociedade como um ser vivo, justificando que assimcomo um corpo composto por um sistema de rgos diferentes mas que funcionam para uma nicafinalidade, assim a sociedade composta de vrios setores, mas assim como um corpo funcionanaturalmente, importa que a sociedade se desenvolva natural, funcional e inevitavelmente (LWY, 1988,p.27).
3 Para informaes complementares ver ABBAGNANO & VISALBERGHI, (1995, p.537).
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cada indivduo passava inquestionavelmente por esses trs estados, dada a
sua natureza inalienvel. A partir da orientao das cincias naturais este
paradigma passou a ser o standard referencial das demais cincias, mesmo
quelas emergentes.
TRIVIOS (1987, p.36-39) de forma geral, seleciona doze caractersticasfundamentais do positivismo que do sustentao essa concepo filosfica:
1) a realidade composta por partes isoladas, cada parte, embora
complementasse o organismo social, era separada, no transformando a
posterior por causa de sua fixidez; 2) no existe outra realidade4 a no ser a
dos fatos, e esses sempre passveis de observao; 3) Somente atravs dos
fatos observveis que as relaes entre as coisas podem se efetuar,
inexistindo o porqu, mas estabelecendo-se o como, as relaes entre os fatos
so produzidas, a cincia deve ser objetiva; 4) o conhecimento cientfico deveser neutro, a influncia humana no pode, nem deve alter-lo; 5) o positivismo
rejeita tudo que est alm do fsico, portanto, o investigador positivista no
aceita o conhecimento metafsico; 6) o princpio da verificao deve ser o
agente norteador da investigao cientfica, ser aceito como verdadeiro o que
empiricamente verificvel; 7) os mesmos mtodos que eram utilizados no
estudo das cincias naturais, deveriam ser empregados para o estudo das
cincias sociais (unidade metodolgica); 8) emprego do termo varivel
possibilitando a quantificao5 dos dados (mensurabilidade das relaes entre
os fenmenos, teste de hipteses, estabelecimento de generalizaes, etc.); 9)
toda a produo
cientfica deveria ser expressa na linguagem da fsica, sendo essa considerada
uma linguagem nica (fisicalismo), a no utilizao dessa, no era digna de
confiabilidade; 10) discordncia do postulado kantiano do conhecimento a
priori, aceitam como fidedigno somente o conhecimento a posteriori, advindo
da percepo sensorial; 11) os fatos eram objeto de estudo da cincia, mas os
4 relevante considerarmos aqui a posio de BRUYNE (s.d, p.136) quanto ao quadro positivista relativoa esta assertiva, uma vez que para ele a posio epistemolgica de base do positivismo a recusa daapreenso imediata da realidade, da compreenso subjetiva dos fenmenos, da pesquisa intuitiva desuas essncias..., determina-se os fenmenos que ocorrem no todo pelas propriedades caractersticas dotodo, o complexo pelo complexo, os fatos sociais pela sociedade...
5 BRUYNE, (s.d., p.83) afirma que a quantificao no modelo positivista deveria permitir obter umamedida fiel (permanecendo constante), discriminante (distino entre os indicadores, dados brutos) evlida (em vias de testes os resultados no poderiam ser alterados)
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valores no o poderiam ser, pois eram apenas expresses culturais,
impossveis de serem mensuradas e 12) h somente dois tipos de
conhecimentos autnticos e fidedignos: o emprico (achados e experimentados
pela cincia natural) e o lgico (representados pela lgica e a matemtica).
interessante destacar que este paradigma viria a influenciar tambm aorganizao educacional, mais proximamente por conta das perspectivas
behavioristas e empiristas (Comportamentalismo e experincia) e tambm da
transposio das idias de Taylor e Fayol (controle de tempos e movimentos)
para a rea educacional. Disto resultou aquilo que Paulo Freire (1980) chamou
de educao bancria. Observa-se, na orientao da educao bancria que:
a) o professor ensina, os alunos so ensinados; b) o professor sabe tudo, os
alunos nada sabem; c) o professor pensa para si e para os estudantes; d) o
professor fala e os alunos escutam; e) o professor estabelece a disciplina e osalunos so disciplinados; f) o professor escolhe, impe sua opo, os alunos
submetem-se; g) o professor atua e os alunos tm a iluso de atuar graas
ao do professor; h) o professor escolhe o contedo do programa e os alunos
que no foram consultados adaptam-se; i) o professor confunde a
autoridade do conhecimento com sua prpria autoridade profissional, que ele
ope liberdade dos alunos e j) o professor sujeito do processo de formao,
enquanto que os alunos so simples objetos dele. A teoria da educao para a
complexidade em Edgar Morin prope a superao deste olhar fragmentado
(simplificador). De maneira anloga, vale comparar as duas perspectivas de
forma sinptica.
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QUADRO 1ANALOGIA ENTRE O PARADIGMA DA SIMPLIFICAO E
O PARADIGMA DA COMPLEXIDADEPARADIGMA DA SIMPLIFICAO PARADIGMA DA COMPLEXIDADE
1. Princpio de universalidade: s h cincia geral. Expulso do local e do singular como
contingentes ou residuais.
1. Validade, mas insuficincia do princpio de universalidade. Princpio complementar e
inseparvel de inteligibilidade a partir do local e do singular.
2. Eliminao da irreversibilidade temporal, e, mais amplamente, de tudo que eventual
e histrico.
2. Princpio de reconhecimento e de integrao da irreversibilidade do tempo na fsica
(2 princpio da termodinmica, termodinmica dos fenmenos irreversveis) na
biologia (ontognese, filognese, evoluo) e em toda problemtica organizacional
(s se pode conhecer um sistema complexo referindo s ua histria e ao seu percurso
Prigogine). Necessidade inelutvel de fazer intervirem a histria e o acontecimento
em todas as descries e ex plicaes.
3. Princpio que reduz o conhecimento das organizaes aos princpios de ordem (leis,
invarincias, constncias etc.)
3. Princpio da incontornabilidade da problemtica da organizao e no que diz
respeito a certos seres fsicos (astros), os seres biolgicos e as entidades
antropossociais da auto-organizao.
4. Princpio de causalidade linear, superior e exterior aos objetos. 4. Princpio da causalidade complexa, comportando causalidade mtua inter-
relacionada (Maruyama), inter-retroaes, atrasos, interferncias, sinergias, desvios,
reorientaes. Princpio da endo-exocausalidade para os fenmenos de auto-
organizao.
5. Soberania explicativa absoluta da ordem, ou seja, determinismo universal e
impecvel: as aleatoriedades so aparncias devidas nossa ignorncia. Assim, em
funo dos princpios 1, 2, 3, 4 e 5, a inteligibilidade de um fenmeno ou objeto
complexo reduz-se ao conhecimento das leis gerais e necessrias que governam as
unidades elementares do que constitudo.
5. Princpio de considerao dos fenmenos segundo uma dialgica
Ordem desordem interaes organizao.
Integrao, por conseguinte, no s da problemtica da organizao, mas tambm dos
acontecimentos aleatrios na busca da i nteligibilidade.
6. Princpio de isolamento/separao do objeto em relao ao seu ambiente. 6. Princpio de distino, mas no de separao, entre o objeto ou o ser e seu
ambiente. O conhecimento de toda organizao biolgica exige o conhecimento de
suas interaes com seu ecossistema.
7. Princpio de separao absoluta entre o objeto e o sujeito que o percebe/conhece. A
verificao por observadores/experimentadores diversos suficiente no s para atingir
a objetividade, mas tambm para excluir o sujeito conhecente.
7. Princpio de relao entre o observador/concebedor e o objeto
observado/concebido. Princpio de introduo do dispositivo de observao ou de
experimentao aparelho, recorte, grade (MugurTachter) e, por isso, do
observador/concebedor em toda observao ou experimentao fsica. Necessidade
de introduzir o sujeito humano situado e datado cultural, sociolgica, historicamente
em estudo antropolgico ou sociolgico.
8. Ergo: eliminao de toda a problemtica do sujeito no conhecimento cientfico. 8. Possibilidade e necessidade de uma teoria cientfica do sujeito.
9. Eliminao do ser e da existncia por meio da quantificao e da formalizao. 9. Possibilidade, a partir de uma teoria da autoproduo e da auto-organizao, de
introduzir e de reconhecer fsica e biologicamente (e sobretudo, antropologicamente)
as categorias do ser e da existncia.
10. A autonomia no concebvel. 10. Possibilidade, a partir de uma teoria da autoproduo e da auto-organizao, de
reconhecer cientificamente a noo de autonomia.
11. Princpio de confiabilidade absoluta da lgica para estabelecer a verdade intrnseca
das teorias. Toda contradio aparece necessariamente como erro.
11. Problemtica das limitaes da lgica. Reconhecimento dos limites da
demonstrao lgica nos sistemas formais complexos (Gdel, Tarski). Considerao
eventual das contradies ou aporias impostas pela observao/ experimentao
como indcios de domnio desconhecido ou profundo da realidade (Withehead, Bohr,
Lupasco, Gunther). Princpio discursivo complexo, comportando a associao de
noes complementares, concorrentes e antagnicas.
12. Pensa-se inscrevendo idias claras e distintas num discurso monolgico. 12. H que pensar de maneira dialgica e por macroconceitos, ligando de maneira
complementar noes eventualmente antagnicas.
13. Princpio que reduz o conhecimento dos conjuntos ou sistemas ao conhecimento das
partes simples ou unidades elementares que os constituem.
13. Reconhecimento da impossibilidade de isolar unidades elementares simples na
base do universo fsico. Princpio que une a necessidade de ligar o conhecimento dos
elementos ou partes dos conjuntos ou sistemas que elas constituem. Julgo impossvel
conhecer as partes sem conhecer o todo, como conhecer o todo sem conhecer
particularmente as partes (Pascal).
FONTE: Morin (1996 a, p. 330-334).
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2. A educao escolar luz do paradigma da complexidade
Ao mesmo tempo que a cincia criou o paradigma da certeza das coisas
verificveis, mostrou-se ao mesmo tempo incapaz de problematizar outras
dimenses to importantes quanto. Mas, mesmo em relao s suas
descobertas como ponto acabado e invarivel, hoje so relativizadas tomandocomo parmetro a sua incompletude frente s inquietaes que se
mostram num mundo em constante mudana. Assim a construo de uma
educao que solidifica uma cincia pura e centrada na certeza por meio das
disciplinas estudadas na escola , no mnimo, incoerente, pois o conhecimento
produzido sofre variaes e demanda solicitaes diferenciadas medida que
so tecidas algumas descobertas que ampliam o olhar do prprio homem. A
escola contempornea, portanto, caber a misso de clarificar ao que
conhecimento humano um aprender a aprender, envolvendo relativizaes
histrico-culturais, bio-antropolgicas e incertezas em relao a uma cincia
que est em processo. A maior empreitada da educao em relao a
complexidade prestar contas das articulaes despedaadas pelos cortes
entre disciplinas, entre categorias e entre tipos de conhecimento, tendendo
para o conhecimento multidimensional, isto , estudar e respeitar as diversas
dimenses de um fenmeno, uma vez que o homem um ser biolgico
sciocultural e que os fenmenos sociais surgem e so, ao mesmo tempo, do
contexto econmico, psicolgico, cultural, etc (MORIN, 1995a; 1995b, 1989,
1998).
Conseqentemente, o pensamento complexo em sua multidimensionalidade,
comporta em seu interior um princpio de incompletude e incerteza (Morin,
1996 a, p. 177). Nestes termos, defende Morin que o objetivo do conhecimento
no fornecer uma resposta absoluta e completa em si como ltima palavra,
mas abrir o dilogo e no enclausur-lo, no s arrancando desse universo o
que pode ser determinado claramente, com preciso e exatido, como as leis
da natureza, mas, tambm, entrar no jogo do claro-escuro que o da
complexidade (Ibid., p. 191). A partir da a epistemologia complexa ter como
utilidade e funo a tomada de conscincia dos limites do conhecimento
favorecendo, desta forma, o conhecimento do nosso conhecimento e, portanto,
o seu progresso em novos espaos e momentos mediante a confrontao com
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a indizibilidade e a indecidibilidade do real (MORIN,1996 b, p. 32). Isto
significa que esta (...) epistemologia no dever ser encarada como uma
espcie de catlogo onde se acumulariam, por justaposio, todos os
conhecimentos cerebrais, biolgicos, psicolgicos, psicanalticos, lgicos, etc.
No, dever ser considerada como um princpio de complexificao da nossaconscincia, que introduz, em toda a conscincia, a conscincia das condies
bio-antropolgicas, socioculturais e noolgicas6 do conhecimento(Ibid., p. 33).
3. Encaminhamentos sobre a possibilidade de uma educao luz da teoria da complexidade
A epistemologia complexa no imbui-se da ambio de destruir os princpios
cientficos e suas competncias, mas e principalmente, com o desenvolvimento
suficiente e necessrio da articulao com outras competncias que, atravs
de um encadeamento formam um anel onde no delimita onde comea ou
termina a construo do conhecimento do homem (MORIN, 1987a; 1987b) . A
prpria mudana no mundo da cincia aponta para uma nova necessidade do
homem conhecer e aprender a lidar com relativizaes, isto , com as
incertezas por meio do que ainda est se elaborando, do j elaborado e de
projetos de descobertas. Considerar a construo do conhecimento como um
objeto que se prope a considerar todas as elaboraes das produes
humanas o caminho mais coerente em relao ao posicionamento: o homem
no , est em processo contnuo de construes e reconstrues entre as
rupturas e permanncias dos conhecimentos historicamente produzidos. Nessa
diretriz, lembrando MORIN (1999, p. 73), h uma necessidade imprescindvel
de articulao dos saberes, pois a constituio de um objeto ao mesmo tempo
interdisciplinar, polidisciplinar e transdisciplinar, permite, muito bem, criar a
troca, a cooperao e a policompetncia, assim, o dilogo com a realidade
estar pautado pela tica do conhecimento e ao mesmo tempo pela tica da
responsabilidade, fazendo com que as produes e contribuies humanas
sejam consideradas em sua totalidade complexa e processual. O termo
6 Morin (1996 b, p. 30) define a noologia como uma cincia nova, uma cincia das coisas do esprito, dasentidades mitolgicas e dos sistemas de idias concebidos na sua organizao e no seu modo de serespecfico.
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complexidade7 surgiu na obra de Morin somente a partir do final da dcada de
60, proveniente da ciberntica, da teoria dos sistemas e do conceito de auto-
organizao, desprendendo-se, como ele mesmo atesta, do sentido banal
(complicao, confuso) para ligar em si a ordem, a desordem e a organizao
e, no seio da organizao, o uno e o diverso... MORIN (1995 a, p. 7). Somentena dcada de 80, entretanto, que suas obras comearam a ser traduzidas
consideravelmente em outras lnguas, inclusive para o portugus de Portugal e
a posteriori para o do Brasil. Dessa forma, paulatinamente sua proposio
transdisciplinar vem influenciando a literatura cientfica no Brasil desde ento.
Na perspectiva transdisciplinar de Morin, a cincia tornou-se de tal forma
burocratizada e cega que resiste e rejeita quaisquer questionamentos,
caracterizando-os como no cientficos se no corresponderem ao modelo
convencionalmente estabelecido, nisto reside sua incapacidade de controlar,de prever, e mesmo de conceber o seu papel social, ... sua incapacidade de
integrar, de articular, de reflectir(sic) os seus prprios conhecimentos (Ibidem,
p. 76). Por isso uma idia simplista, disjuntiva e reducionista de cincia, como o
modelo convencional
preconiza, traz implcita em si uma viso fragmentada e fragmentria do
mundo. Nesse contexto, Morin apregoa que h que se considerar a incerteza e
tambm o acaso na cincia, pois assim como o prprio pensamento, essa
apresenta considerveis tramas de complexidade, conseqentemente, a
verdade da cincia no est unicamente na capitalizao das verdades
adquiridas, na verificao das teorias conhecidas, mas no carter aberto da
aventura que... hoje exige a contestao das suas prprias estruturas de
pensamento (MORIN, 1996a, p. 26).
Assim, somente a transdisplinaridade pautada pelo paradigma da
complexidade poderia reorientar a educao dando-lhe um forte suporte na
construo do conhecimento multidimensional (Unitas Multiplex). A
transciplinaridade, conseqentemente definida como a transpenetrao de
7 Na definio de PETRAGLIA (1995, p. 48) complexidade a qualidade do que complexo. O termovem do latim: complexus, o que significa o que abrange muitos elementos ou vrias partes. um conjuntode circunstncias, ou coisas interdependentes, ou seja, que apresentam ligao entre si. Trata-se dacongregao de elementos que so membros e partcipes do todo. O todo uma unidade complexa. E otodo no se reduz mera soma dos elementos que constituem as partes. mais do que isto, pois cadaparte apresenta sua especificidade e, em contato com as outras, modificam-se as partes e tambm otodo.
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conhecimentos, promovendo articulaes, transformaes e processos
polirrelacionais, onde cada elemento liga-se e religa-se conforme o respeito e a
observncia da unidade na diversidade.
CONSIDERAES FINAISA Teoria da Complexidade tem como ponto de partida a articulao dos
saberes numa proposta transdisciplinar. Portanto, sua base epistemolgica
centra-se na considerao das totalidades, unindo os saberes disjuntos,
promovidos pela excessiva especializao e fragmentao de uma educao
tradicional. Neste sentido, no mbito da educao escolar, a
transdisciplinaridade poder favorecer as junes necessrias da unidade na
diversidade. Para Morin (1987a; 1987b, 1995a; 1995b, 1996a; 1996b,
1989, 1998 e 1999) a transdisciplinaridade zela pela construo de um saberuno concebido na diversidade, onde o todo e as partes se interpenetram e se
transpenetram, se ligam e religam sem parcelar o conhecimento. Da mesma
maneira deve ocorrer nas escolas um processo de tomada de conscincia,
onde a organizao educacional estabelea um compromisso transdisciplinar,
sem amarras ao desenvolvimento do conhecimento, nessa direo, preciso
encontrar o caminho de um pensamento multidimensional que une e liberta
dos grilhes redutores, simplificadores e unidimensionais e esse caminho real
segue a via do paradigma da complexidade (MORIN, 1996 a, p. 189). Numapluralidade de paradigmas existentes com concepes diferenciadas a respeito
da cincia, da epistemologia e da prpria educao escolar, h que se resgatar
os nexos necessrios entre esses trs elementos bsicos, sem os quais, todo
trabalho epistemolgico ficaria a merc de ummundo programado e cerceador
do movimento e criatividade humana.
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