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Copyright © 2019, PACTOR – Edições de Ciências Sociais, Forenses e da Educação® Marca registada da FCA – Editora de Informática, Lda.ISBN edição impressa: 978-989-693-087-51.ª edição impressa: março de 2019

Paginação: Carlos MendesImpressão e acabamento: Realbase – Sistemas Informáticos, Lda. – Albergaria-a-VelhaDepósito Legal n.º 453564/19Capa: José Manuel Reis

Todos os nossos livros passam por um rigoroso controlo de qualidade, no entanto, aconselhamos a consulta periódica do nosso site (www.pactor.pt) para fazer o download de eventuais correções.

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Agradecimentos ........................................................................................................... IX

Prefácios ........................................................................................................................ XIMaria Irene de Carvalho e Isabel de Freitas Vieira

Introdução .................................................................................................................... XVIIEstrutura da obra ........................................................................................................... XX

PARTE I 1

Enquadramento Teórico

Capítulo 1 3

Fundamentos Históricos e Conceptuais da Supervisão em Serviço Social

Introdução ..................................................................................................................... 3Evolução histórica e conceptual da supervisão em Serviço Social .............................. 3

Evolução histórica ................................................................................................... 3A evolução da prática da supervisão profissional em Serviço Social no contexto europeu .................................................................................................................... 5Agências europeias de supervisão .......................................................................... 7Supervisão profissional em Serviço Social em Portugal ......................................... 8Evolução conceptual ............................................................................................... 9

Abordagem normativa ....................................................................................... 13Abordagem empírica .......................................................................................... 14Abordagem pragmática ..................................................................................... 14

Supervisão em Serviço Social: ao encontro do conceito atual ..................................... 15Modelos e influências teórico-metodológicas da supervisão em Serviço Social ......... 20Considerações finais ..................................................................................................... 26

Capítulo 2 27

Tipos, Funções e Modalidades de Supervisão

Introdução ..................................................................................................................... 27Tipos de supervisão ...................................................................................................... 27

Supervisão pedagógica ........................................................................................... 27Supervisão profissional............................................................................................ 30

Funções da supervisão profissional................................................................... 30Papel do supervisor na supervisão administrativa ....................................... 31Papel do supervisor na supervisão educativa.............................................. 31Papel do supervisor na supervisão de apoio/suporte .................................. 34

O core da supervisão de apoio/suporte: a prevenção do burnout.......................... 39

Índice

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Supervisão Profissional em Serviço Social – Ao encontro de uma prática reflexiva

VI

Aprender a cuidar de si mesmo ............................................................................... 42Modalidades e formas de supervisão ........................................................................... 44

Em função da vinculação do supervisor ................................................................. 44Supervisão profissional interna .......................................................................... 45Supervisão profissional externa ......................................................................... 45

Em função dos destinatários da supervisão profissional ........................................ 46Supervisão individual ......................................................................................... 46Supervisão coletiva ............................................................................................ 47

Supervisão em grupo ................................................................................... 47Supervisão de equipas ................................................................................. 49Desvantagens da supervisão em grupo e da supervisão de equipas ......... 50Supervisão interpares (peer group) .............................................................. 51

Considerações finais ..................................................................................................... 53

Capítulo 3 55

A Supervisão Profissional Externa em Serviço Social

Introdução ..................................................................................................................... 55A supervisão profissional externa em função dos objetivos ......................................... 55

A supervisão profissional externa enquanto espaço e tempo… ............................ 57… de formação ................................................................................................. 57… de socialização e reforço da identidade profissional .................................... 59… de desenvolvimento organizacional .............................................................. 60

Contextos e enquadramento temporal da supervisão profissional .............................. 62Sobre o contexto físico da supervisão .................................................................... 62Enquadramento temporal da supervisão ................................................................ 64

Princípios éticos em supervisão .................................................................................... 64Supervisão profissional externa como relação ............................................................. 67

Fatores que interferem na relação supervisor/supervisando .................................. 69Humor ................................................................................................................ 69Diversidade/interculturalidade ........................................................................... 69

Perfil e competências do supervisor profissional externo ............................................ 70Inteligência emocional ............................................................................................. 72Necessidade de supervisão para os supervisores .................................................. 74Competências do supervisor ................................................................................... 76Perfil do supervisor .................................................................................................. 77

Supervisão profissional externa como processo .......................................................... 80Etapas do processo de supervisão ......................................................................... 81Avaliação da supervisão .......................................................................................... 85Requisitos para o desenvolvimento do processo de supervisão profissional ........ 86

Conteúdos, temas e dimensões de análise na supervisão profissional ....................... 88Críticas e constrangimentos à supervisão profissional externa em Serviço Social ...... 92

Constrangimentos internos ..................................................................................... 93Constrangimentos externos .................................................................................... 94

Considerações finais ..................................................................................................... 97

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Índice©

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VII

Capítulo 4 99

Supervisão, Reflexividade e Prática Reflexiva em Serviço SocialIntrodução ..................................................................................................................... 99Os contributos de Dewey, Schön e Kolb ...................................................................... 100

O contributo de John Dewey ................................................................................... 100O contributo de Donald Schön ................................................................................ 102O contributo de David Kolb ..................................................................................... 105Síntese das propostas de Dewey, Schön e Kolb..................................................... 107

Reflexividade e prática reflexiva no Serviço Social ....................................................... 108Constrangimentos à prática reflexiva no Serviço Social ............................................... 114Considerações finais ..................................................................................................... 116

PARTE II 119

Estudo de Caso

Capítulo 5 121

Uma Experiência de Supervisão com Coordenadores de Serviços de Apoio Domiciliário (SAD)

Introdução ..................................................................................................................... 121Breve contextualização metodológica .................................................................... 121

Universo e amostra ............................................................................................ 122Recolha de dados .............................................................................................. 122Questões éticas ................................................................................................. 123Descrição do contexto institucional onde foi realizada a supervisão ................ 123Método global de atuação ................................................................................. 124

Caracterização das assistentes sociais participantes no processo de supervisão 125Informações gerais............................................................................................. 125Funções exercidas no SAD da instituição ......................................................... 126

Funções de coordenação ............................................................................. 126Funções de gestão de caso ......................................................................... 126

O processo de supervisão no desenvolvimento pessoal e profissional dos assistentes sociais: impactos e locus para uma (re)construção da intervenção .......... 127

Benefícios/impactos do processo de supervisão ................................................... 128Definição dos perfis das supervisandas .................................................................. 129

Perfil 1) Técnico-burocrático .............................................................................. 131Perfil 2) Prático-imediatista ................................................................................ 131Perfil 3) Reflexivo ............................................................................................... 132

Supervisão como estímulo ao empowerment e à autonomia ................................. 134Supervisão como processo de desenvolvimento pessoal e profissional ................ 136Supervisão como processo de reciclagem profissional .......................................... 137A (re)construção das práticas a partir da supervisão: um processo permanente e desafiante ............................................................................................................. 137

Considerações finais ..................................................................................................... 142Supervisão profissional externa em Serviço Social: que desafios? ........................ 142

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Supervisão Profissional em Serviço Social – Ao encontro de uma prática reflexiva

VIII

Conclusão ..................................................................................................................... 143Supervisão em Serviço Social: um objeto de estudo complexo .................................. 143

Referências Bibliográficas ............................................................................................ 147

Índice Remissivo .......................................................................................................... 153

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XI

Maria Irene de Carvalho

Professora Associada do ISCSP – Universidade de Lisboa

Fazer o prefácio deste livro é uma tarefa desafiante e exigente, dada a proximidade pes-soal e profissional com a autora. Por isso, gostaria de destacar, em primeiro lugar, o seu entusiasmo pela vida, pelo Serviço Social e pela supervisão, bem como a capacidade de comunicar e de se envolver na comunidade. Também o rigor científico e técnico, e a capacidade de pesquisar, estudar, analisar, refletir, compreender e revelar os resultados destes processos publicamente.

Porque nós somos o resultado daquilo que fazemos, evidencio, em segundo lugar, o tema desta obra – a supervisão profissional –, pela sua originalidade no panorama do Serviço Social em Portugal. É uma obra inédita e pioneira, com contributos relevantes para a ciência do Serviço Social.

O Serviço Social é uma profissão muito exigente e complexa. Exerce-se na sociedade, com uma relativa autonomia de critérios, com um saber técnico e científico e com uma responsabilidade social. Contudo, estas características não são exclusivas do Serviço Social. Então, qual é a especificidade da profissão do Serviço Social?

É uma profissão da mudança social em dois planos entrecruzados. No plano individual, centra-se na pessoa e na dignidade humana (autonomia, liberdade e autodeterminação) e, no plano social, na sociedade, na promoção da justiça social, nas oportunidades e na justa distribuição de recursos. Sendo uma profissão das relações humanas, os profissionais são desafiados a desenvolverem-se constantemente como pessoas e a transformarem-se enquanto profissionais para responderem às mudanças sociais e aos seus impactos.

Para exercer a profissão é necessário um conhecimento científico rigoroso, uma profi-ciência técnica, experiência diversificada e aprofundada e sensibilidade ética, isto é, ser perspicaz e criativo. A supervisão é o catalisador que faz com que a profissão, enquan-to algo inacabado, tenha a capacidade de se desenvolver constantemente.

O Serviço Social tem uma relação intrínseca com a mudança social e com os conteú-dos programáticas das políticas públicas e sociais, intervindo junto dos cidadãos tendo presente a dimensão estrutural dos problemas sociais, permanecendo nesse âmbito comprometido com os direitos humanos e com a justiça social, sobretudo com o com-bate às injustiças e às indiferenças. Os profissionais de Serviço Social desempenham funções nesses contextos, em organizações do Estado central e local, em organizações privadas (lucrativas e não lucrativas) com dimensão internacional, nacional, regional e local. O bom desempenho destes profissionais e a qualidade da sua intervenção reque-rem processos de supervisão inovadores, colaborativos e reflexivos.

A supervisão é fundamental para que a profissão responda aos desafios das novas e das velhas questões sociais, quer as visíveis ou as invisíveis, decorrentes da globaliza-ção do risco, das políticas neoliberais e das constantes crises económicas. É aqui que a supervisão profissional externa ganha sentido, não só para melhorar os processos de

Prefácios

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Supervisão Profissional em Serviço Social – Ao encontro de uma prática reflexiva

XII

intervenção junto das populações, mas também capacitar os profissionais para agirem crítica e reflexivamente nestes contextos.

Esta obra, apresentada pela autora Carla Ribeirinho, destaca a supervisão como uma disciplina, com conteúdos e metodologias próprios, como um processo e como uma prática profissional. A supervisão está relacionada com o ensino do Serviço Social, com a intervenção, com a profissionalização e com o desenvolvimento profissional – super-visão pedagógica, de apoio à intervenção e de desenvolvimento dos profissionais.

Este saber disciplinar, pedagógico e reflexivo constituiu-se como uma prática através da qual profissionais com a responsabilidade de cumprir objetivos organizacionais, profissionais e pessoais procuram proporcionar as melhores soluções e os melhores recursos para as pessoas, utentes do Serviço Social. Mas a supervisão é mais do que uma prática em que profissionais com mais experiência supervisionam outros menos experientes – é um processo colaborativo, autorreflexivo e autoformativo.

A supervisão é um espaço onde se negociam relações complexas além daquelas que se estabelecem entre o supervisor e os supervisandos. Esta negociação tem finalidades e funções, ao promover: um desempenho profissional de qualidade (função de gestão ou normativa); um desenvolvimento profissional contínuo (funções formativas); apoio pessoal (funções de suporte e restaurativas); e o envolvimento e a participação das pessoas com e nas organizações (funções de mediação).

Assim entendida, a supervisão valoriza a capacidade de o profissional fazer ouvir a sua voz, não só alguém que domina a prática, mas também alguém com aptidão para produzir conhecimento e potenciar novas formas de atuação perante a realidade em constante mutação, de forma a poder responder às necessidades das pessoas, utiliza-doras dos serviços.

A supervisão assume-se, então, como um processo de coconstrução, porque participada, entre os supervisores e os supervisionados e entre a organização e as pessoas, utilizado-ras dos serviços. É também um processo de cocriação, requerendo criatividade, inovação e aperfeiçoamento dos processos de intervenção, enquanto produto que responde às necessidades das populações. É ainda um processo de cotransformação e de desenvol-vimento pessoal e profissional efetuado através da reflexão na ação e sobre a ação.

Estas questões são debatidas nesta obra, com mestria pela autora. Na Parte I, são analisados os fundamentos da supervisão, os tipos, as funções e as metodologias para a promoção de práticas profissionais reflexivas e críticas e, na Parte II, é analisada uma prática de supervisão externa exercida com profissionais de Serviço Social, com funções de coordenação de serviços de apoio domiciliário (SAD) para pessoas idosas.

Os resultados demonstram que a supervisão profissional externa contribui diretamente para reforçar as competências profissionais a nível do saber teórico, metodológico, ético e decisional do Serviço Social, para fortalecer as competências pessoais e inter-pessoais, sobretudo na relação consigo mesmo e com os outros, e para aperfeiçoar os processos de intervenção social. Indiretamente, a supervisão profissional externa me-lhora os processos organizacionais da intervenção, com impactos positivos no produto final obtido, que consiste na promoção da pessoa, no desenvolvimento e justiça social.

Esta obra será, decerto, uma referência no panorama do Serviço Social em Portugal, constituindo-se como uma mais-valia para a profissão e para os profissionais.

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Isabel de Freitas Vieira

Assistente Social e Docente na Universidade Católica Portuguesa

A supervisão é uma atividade imprescindível à capacitação profissional permanente, tendo a potencialidade de orientar o aperfeiçoamento da intervenção social. A super-visão tem a finalidade de refletir sobre teorias e práticas, desconstruindo a generali-dade/particularidade dos fenómenos com os quais os assistentes sociais trabalham e ajudando a encontrar formas mais qualificadas de operacionalizar a intervenção pro-fissional.

Robinson, em Supervision in Social Casework (1936, p. 53), define a supervisão como “um processo educacional no qual uma pessoa habilitada com conhecimentos e capa-cidades assume a responsabilidade de treinar outra pessoa com menos competências”.

O supervisor tem a responsabilidade de manter o moral dos supervisionados, ajudar a ultrapassar os desânimos e os descontentamentos relacionadas com o trabalho, resti-tuindo-lhes os sentimentos de identidade, pertença e segurança, valorizando-os como profissionais e incentivando-os a adquirirem novas competências, para assim fortalecer a sua criatividade e reforçar a sua capacidade de resiliência.

Para Cruells (2009), a supervisão potencia a passagem do pensamento e da reflexão comuns à reflexividade autónoma, tornando-se um espaço de reflexão sistemática so-bre a ação profissional. A supervisão constitui-se, assim, como uma oportunidade de descoberta de forças e fraquezas, pessoais e coletivas, permitindo ultrapassar barreiras e desenhar novas estratégias de crescimento e aperfeiçoamento, pessoal e profissional.

O grupo de supervisão transforma-se num coletivo de aprendizagens, possibilitando a troca de saberes e a partilha de sucessos e insucessos, incentivando a realização de novas estratégias de ação, ensinando a refletir sobre a experiência acumulada e tendo a finalidade de melhorar o exercício profissional e de aumentar o nível de satisfação com o trabalho.

Em Portugal, a supervisão tem tido bastante importância na formação em Serviço So-cial, quer na formação curricular (orientação de estágios), quer no exercício da profissão (supervisão interna e externa), mas tem-lhe sido atribuída pouca relevância por parte dos responsáveis dos serviços e dos poderes instituídos.

O livro de Carla Ribeirinho traz-nos um valioso contributo para pensarmos as teorias do e para o Serviço Social, colocando a supervisão num lugar de destaque e de crucial urgência para refletirmos sobre o exercício profissional dos assistentes sociais. O texto aborda os fundamentos históricos da supervisão em Serviço Social, no contexto euro-peu e em Portugal, identificando fontes e reunindo informação, até aqui dispersa, para lhes conferir qualidade científica e relevância temática.

A autora apresenta a evolução do conceito de supervisão e descreve a forma como a sua racionalidade semântica e instrumental conduzem, num fio do tempo e numa multiplicidade de lugares de práticas, a diferentes tipologias e modelos de supervisão, que derivam de variados suportes teóricos e metodológicos e conduzem a diversas finalidades.

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Supervisão Profissional em Serviço Social – Ao encontro de uma prática reflexiva

XIV

No início do século XX, a supervisão em Serviço Social começa por ser uma forma de aconselhamento e uma ação filantrópica entre colegas, em que os profissionais mais velhos prestavam aconselhamento prático aos mais jovens. O trabalho do supervisor era orientar, informar, instruir e fornecer apoio/suporte emocional. Esta orientação e este treino de competências começam por ser feitos a nível individual e só mais tarde em grupo.

Na contemporaneidade, a atividade profissional do supervisor requer uma formação credenciada e especializada, utilizando métodos e modelos próprios. Cada vez mais a supervisão é entendida como um processo formativo que proporciona momentos de atualização teórica e um treino de competências técnicas, gerando uma reflexão sobre situações complexas e ajudando a resolver alguns dos dilemas éticos originados no exercício da profissão.

As modalidades e as finalidades de supervisão variam de acordo com a natureza e a cultura das organizações e dependem tanto das estratégias dos seus gestores e admi-nistradores, como dos modelos implementados pelos supervisores.

A prática da supervisão realiza-se em diferentes áreas, como os serviços de saúde, as escolas, os serviços de justiça e prisionais, os serviços de apoio a pessoas idosas, os serviços de proteção de infância e juventude, o apoio a famílias e o trabalho comunitá-rio, os serviços de apoio a vítimas de violência, entre outros, tornando-se, hoje em dia, uma prática implementada pelas próprias organizações e pelos serviços de ação social.

Alguns serviços utilizam a função administrativa da supervisão como um processo de organização e sistematização do trabalho, que permite aumentar a responsabilização profissional e melhorar o desempenho organizacional. Numa perspetiva clínica, a su-pervisão tem uma vertente psicoterapêutica, pois ajuda a desconstruir os problemas e fornece apoio/suporte emocional, mas podendo ter, também, uma função fiscalizadora, que pretende controlar os atos profissionais e melhorar as suas eficácia e eficiência através do aconselhamento. Numa perspetiva educacional, a supervisão tem um ca-rácter pedagógico e a finalidade de renovar os referenciais teóricos e metodológicos, de treinar competências técnicas e de refletir sobre as atitudes e a postura profissional. Numa perspetiva política, a supervisão pode facilitar o conhecimento de procedimen-tos, regulamentos e quadros legislativos, favorecendo uma correta e apropriada imple-mentação das medidas de política social por parte dos profissionais; de igual modo, os relatos de experiências, os estudos de caso e a desconstrução/reconstrução dos modos de fazer podem levar a um melhor conhecimento do real impacto dessas mes-mas medidas junto dos seus destinatários. Numa perspetiva ética e deontológica, a supervisão cumpre o papel de sensibilizar os profissionais para a concretização dos princípios orientadores do Serviço Social, como a defesa da dignidade humana, dos direitos humanos e da justiça social, colocando-os nas suas atitudes profissionais e nas suas práticas quotidianas.

A supervisão pode articular e entrelaçar estas diferentes visões e perspetivas. Compete ao supervisor adequar as dinâmicas das sessões e os materiais utilizados às expeta-tivas dos supervisionados e dos seus superiores hierárquicos, bem como adaptar os objetivos à natureza dos problemas sociais que se pretendem resolver, de acordo com a missão e a visão da organização.

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XV

As práticas profissionais dos assistentes sociais têm vindo cada vez mais a ser sub-metidas à informatização, à automatização e à formatação dos processos de trabalho, focados na rentabilização dos esforços face à redução de recursos. Estes automatis-mos resultam num “conjunto de respostas profissionais rápidas, ligeiras, irrefletidas, instrumentais, baseadas em analogias, repetição de experiências, de senso comum, (…), em estrita obediência a leis e orientações superiores” (Guerra, 2012, p. 46), sem qualquer capacidade crítica e reflexiva que dê suporte à especificidade e à qualidade dos atos profissionais.

Carla Ribeirinho faculta-nos um texto onde transparecem o rigor e a independência de pensamento. O quadro conceptual que nos é fornecido enriquece e ganha sentido quando é aplicado numa experiência de supervisão que a autora realiza com profissio-nais de Serviço Social, numa instituição que efetua serviços de apoio domiciliário (SAD) junto de pessoas idosas. A segunda parte do livro descreve esta prática e identifica três perfis profissionais: o técnico-burocrático, o prático-imediatista e o reflexivo.

Percebemos, então, que na opinião destes profissionais, além de uma função formati-va, a supervisão tem uma função de apoio/suporte emocional (e.g., gerir o stress e os conflitos internos, dar apoio moral, propiciar satisfação no trabalho), sendo um espaço de partilha, que permite quebrar as rotinas, e um tempo de reflexão, que permite “parar para pensar” em conjunto.

Face a uma crescente descaracterização das práticas profissionais dos assistentes so-ciais, Carla Ribeirinho desafia-nos a repensar o espaço e o tempo da supervisão em Serviço Social. Na sua perspetiva, a supervisão surge como um espaço coletivo para repensar e renovar as práticas, facultando ferramentas teóricas, éticas e metodológicas que permitem desconstruir a complexidade dos problemas emergentes e refletir sobre a agência e os valores orientadores do Serviço Social. A sua experiência mostra-nos como a supervisão, enquanto espaço de troca de vivências e de experiências, pode fa-cultar uma aprendizagem partilhada, reforçar o espírito de grupo, favorecer a colabora-ção e a cooperação profissional, treinando a reflexividade e a análise críticas, ao religar pensamento, sentimento e ação numa ótica tanto individual, como coletiva.

Por todas estas razões, desejo que o maior número possível de estudantes e profis-sionais de Serviço Social possa ler esta obra e, a partir daí, criar novos momentos de diálogo e reflexão sobre a oportunidade aqui gerada para, através da supervisão, ser-mos capazes de renovar as práticas profissionais e reafirmar o lugar do Serviço Social na academia e na sociedade como construtor da dignidade humana, defensor dos direitos humanos e tutor da justiça social.

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XVII

Este livro, com o título Supervisão Profissional em Serviço Social – Ao encontro de uma prática reflexiva, trata sobre o tema da supervisão profissional externa em Servi-ço Social enquanto espaço de desenvolvimento pessoal e profissional e sobre o seu contributo para a reconstrução da intervenção dos assistentes sociais. Pretende tam-bém apresentar um exemplo de desenvolvimento de um processo de supervisão num contexto de intervenção de assistentes sociais coordenadores de serviços de apoio domiciliário (SAD).

A supervisão profissional externa em Serviço Social tem sido desenvolvida sobretudo na área da intervenção com famílias e crianças em risco e em contextos de terapia fami-liar. A complexidade destas realidades requer que supervisores externos desenvolvam processos de apoio aos profissionais, no sentido de lidarem com aspetos emocionais (pessoais) e de tomada de decisões técnico-científicas (profissionais). No caso da inter-venção com pessoas idosas, esta realidade é relativamente recente e pontual, depen-dendo em grande parte da política institucional.

A atualidade tem sido marcada pelo aumento e pela complexidade dos problemas so-ciais, pela escassez de recursos na resposta às necessidades dos cidadãos, pela regu-lação do Estado sobre as organizações e, por sua vez, por um Estado também regulado por políticas e burocracias supranacionais advindas, nomeadamente, da União Euro-peia. As organizações tuteladas pelo Estado com utilizadores de serviços cada vez mais exigentes são, neste contexto, confrontadas com vários dilemas a que têm de acorrer continuamente, por exemplo: responder às necessidades emergentes com recursos escassos; promover a melhoria dos processos de trabalho e a qualidade das respostas; incentivar a participação dos utilizadores nas decisões e garantir a qualificação dos profissionais. Neste contexto, a intervenção profissional é cada vez mais orientada para uma gestão por objetivos e para o controlo das atividades desenvolvidas sob o lema da eficiência e da eficácia.

É neste cenário que o livro se inscreve, situando a supervisão profissional externa em Serviço Social na matriz da identidade do Serviço Social e das organizações onde exer-ce a sua atividade. Pode ser desenvolvida em várias modalidades, nomeadamente em contextos pedagógicos e administrativos, em processos de apoio, no acompanhamen-to de casos e na supervisão de práticas profissionais (como é o caso do Capítulo 5) (Carvalho, 2012b; Kadushin & Harkness, 2014).

A supervisão em Serviço Social:

“(...) é um processo em permanente construção, através da consciência das necessida-des, auto-formação e mudança de posicionamento teórico e prático. É também intempo-ral, pois tem a influência de saberes já adquiridos, revistos nas disciplinas da formação em Serviço Social e as suas actualizações, e perspectiva o exercício profissional no futuro.”

Carvalho (2012b, p. 79)

introdução

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Supervisão Profissional em Serviço Social – Ao encontro de uma prática reflexiva

XVIII

Concretamente, a supervisão profissional externa é efetuada por profissionais que não pertencem à instituição e pode ser entendida enquanto espaço de reflexão na ação e de reflexão sobre a ação, constituindo-se como um instrumento fundamental que capacita o assistente social e promove o reequacionamento das suas práticas. Pode ainda ajudar a sedimentar teórico e metodologicamente e ético e politicamente a sua intervenção. Este reequacionamento implica o desenvolvimento da reflexividade, que contraria a mecanização das práticas e a dificuldade de discernimento nas situações críticas e de apreensão da complexidade do real.

A supervisão profissional, concretamente na área do envelhecimento e das pessoas idosas (Gerontologia), decorre da crescente complexidade das situações apresentadas aos assistentes sociais neste âmbito, a par da escassez de recursos disponíveis e da redução do espectro de abrangência das políticas sociais. As dinâmicas desenvolvidas nestes contextos podem fragilizar os níveis de reflexividade dos profissionais. Esta si-tuação pode também conduzi-los para uma disposição normativa em relação à prática, baseada em lógicas de focalização nos resultados, de quantificação da intervenção, de burocratização e de aceleração dos processos de intervenção, desumanizando-os, o que se traduz num conjunto de circunstâncias ideais ao desenvolvimento de práti-cas estéreis e descentradas dos sujeitos destinatários da intervenção (Amaro, 2012; Ribeirinho, 2013).

Apesar de a supervisão se ter iniciado no seio do Serviço Social quase desde a sua fundação (Kadushin & Harkness, 2014; Ranquet, 1996; Richmond, 1917), sobretudo ligada ao acompanhamento e à avaliação da relação de ajuda desenvolvida junto dos utentes1, e, mais tarde, no acompanhamento dos processos pedagógicos na formação académica (estágios) em instituições sociais e de saúde (Buriolla, 1999; Vieira, 1981), ela não tem sido devidamente valorizada no que à construção de conhecimento diz respeito (Carvalho, 2012b). É, contudo, inquestionável a necessidade de promover o desenvolvimento profissional contínuo dos assistentes sociais ao longo de toda a sua carreira profissional, para que possam acompanhar as mudanças sociais e organizacio-nais, bem como rever e renovar os seus conhecimentos, competências e perspetivas. Neste sentido, o presente livro partilha da convicção de que a supervisão profissional assume um papel importante na concretização desse objetivo, na medida em que pre-tende, fundamentalmente, contribuir para o desenvolvimento humano e profissional do assistente social, sobretudo se numa perspetiva de supervisão não hierárquica, mas antes reflexiva e centrada na melhoria da atuação profissional.

A investigação sobre a supervisão profissional externa de assistentes sociais é de real interesse para o Serviço Social, como um potencial contributo para que este se projete como uma profissão com capacidade de enfrentar os desafios que ocorrem a nível social. Esta convicção radica também na ideia de que “a recriação do Serviço Social re-sulta do realinhamento do exercício da intervenção profissional face às transformações dos modos de vida e dos quotidianos sociais” (Mouro, 2009, p. 11), até como forma de afirmação do seu espaço no campo das ciências sociais e humanas.

Kadushin e Harkness (2014), autores de referência nesta área, consideram a supervisão uma atividade imprescindível à formação, não só académica, mas também direcionada para a capacitação permanente do profissional, tendo a potencialidade de orientar o

1 Ao longo deste livro, utilizaremos a designação “utente” sempre que nos quisermos referir a qualquer cidadão/ /utilizador de um serviço público ou privado no qual o Serviço Social exerce a sua intervenção.

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aperfeiçoamento da sua intervenção. Pode realizar-se de forma individual ou em gru-po e dirigir-se a estudantes, profissionais ou equipas que trabalhem numa instituição. O denominador comum a todos os tipos de supervisão é o de que se trata de uma prá-tica em que um supervisor2, profissional com conhecimento e experiência adquiridos, presta apoio a um supervisando, que lhe solicita orientação e/ou formação.

É importante ter em consideração que, fora do âmbito da intervenção social, a super-visão tem diferentes aceções, sendo normalmente conotada como um instrumento de controlo por parte das hierarquias e também como elemento de controlo da qualidade, tanto dos serviços, como de produtos. A supervisão não é, assim, uma prática ex-clusiva do Serviço Social, desenvolvendo-se em diferentes contextos e em diferentes ciências sociais, humanas e psicológicas, nos campos da Saúde e da Educação e em meio empresarial. Embora não haja um setor específico para o desenvolvimento da supervisão, sabemos que os profissionais que desenvolvem a sua prática na área dos cuidados ou ajuda a pessoas, em que a relação é relevante, são os que mais a defen-dem e praticam (Cruells, 2009).

A supervisão em Serviço Social tem sido identificada como um dos fatores mais im-portantes na determinação dos níveis de satisfação laboral dos assistentes sociais e de qualidade do serviço prestado aos utentes3.

Sendo um processo constitutivo, de forma indireta, do Serviço Social, é surpreendente que a supervisão não tenha recebido tanta atenção como outras suas componentes, como a investigação ou a administração social. Há uma notável lacuna na discussão crítica e profunda do estado da arte e da prática da supervisão em Serviço Social, baseada na evidência, na literatura de investigação empírica existente (Howe & Gray, 2013; Kadushin & Harkness, 2014; Tsui, 2005). Idañez (1994, p. 19) questiona mesmo: “(…) como é que é possível este défice e fraco desenvolvimento (…) sobretudo no âmbito profissional (…) se em todo o lado se fala de supervisão?”. Assim, é necessária uma investigação sobre supervisão em Serviço Social para fazer a ponte entre as exi-gências do campo e a ausência de literatura.

Neste livro, consideramos a conceção, o desenvolvimento e as estratégias de ação para a promoção de práticas reflexivas que potenciam o desenvolvimento pessoal e profissional. Procuraremos, através do estudo de caso apresentado no Capítulo 5 (Parte II), ilustrar em que medida a supervisão profissional pode melhorar a reflexão e a intervenção e potenciar o conhecimento (teorias, modelos, metodologias e ética) em Serviço Social num projeto concreto de supervisão profissional em Serviço Social, desenvolvido junto de assistentes sociais que coordenam SAD de uma instituição social.

Pretende-se, portanto, contribuir para a construção de conhecimento científico acerca da supervisão profissional externa em Serviço Social em Portugal, dada a sua escas-sez, caracterizando o processo de construção do conhecimento profissional do assis-tente social potenciado pela participação num processo de supervisão.

2 Apesar de a linguagem não ser neutra, utilizaremos neste livro o termo “supervisor” para nos referirmos ao profis-sional que realiza supervisão, quer seja masculino ou feminino; o mesmo faremos em relação ao “supervisando” nos Capítulos 1 a 4 (Parte I). Apenas no estudo de caso apresentado no Capítulo 5 (Parte II), iremos recorrer ao género feminino para nos referirmos às “supervisandas”, por corresponder à realidade efetiva, usando quer a designação “assistente social”, quer os termos “profissional” ou “entrevistada”.

3 Assume-se esta ideia no livro, mas ainda são escassos os estudos que revelam que a supervisão pode melhorar o serviço prestado aos utentes.

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Supervisão Profissional em Serviço Social – Ao encontro de uma prática reflexiva

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Estrutura da obraO livro encontra-se dividido em duas partes interrelacionadas, as quais se concretizam em cinco capítulos. Na primeira parte, composta pelos Capítulos 1 a 4, apresentaremos o enquadramento teórico – fundamentos históricos e conceptuais da supervisão em Serviço Social (Capítulo 1); tipos, funções e modalidades de supervisão (Capítulo 2) – e analisaremos, aprofundadamente, a supervisão profissional externa, os seus objetivos, o processo, o perfil e as competências do supervisor (Capítulo 3), bem como o seu po-tencial no desenvolvimento da reflexividade e da prática reflexiva (Capítulo 4).

Na segunda parte do livro, abordaremos o estudo de caso já aludido, analisando em que medida a supervisão profissional externa em Serviço Social se consubstancia como processo de desenvolvimento pessoal e profissional e como locus da (re)constru-ção da intervenção (Capítulo 5). Apresentaremos, por fim, a conclusão e as referências bibliográficas.

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IntroduçãoNo sentido de uma melhor compreensão dos contornos metodológicos do processo de recolha de informação, com vista à sistematização deste capítulo, começamos por apresentar uma breve contextualização metodológica e a caracterização das assisten-tes sociais participantes neste estudo de caso.

Breve contextualização metodológica

O nosso objeto de pesquisa foi a supervisão profissional externa em Serviço Social enquanto espaço de desenvolvimento pessoal e profissional que contribui para a re-construção da intervenção social dos assistentes sociais em SAD, que prestam cuida-dos maioritariamente a pessoas idosas, mas também a outras pessoas em situação de dependência.

A fim de prosseguir esse objeto, foram definidas como finalidades gerais: analisar a for-ma como o processo de supervisão profissional externa em Serviço Social desenvolvi-do com assistentes sociais coordenadores de SAD influencia as suas práticas; perceber como o processo de supervisão profissional externa e a promoção do desenvolvimen-to pessoal e profissional dos assistentes sociais contribuem para o desenvolvimento de competências reflexivas críticas para, na e sobre a ação; identificar os contributos da supervisão profissional externa na (re)construção dos saberes e das competências teóricas, metodológicas, éticas e políticas específicas do Serviço Social. Foram ainda estabelecidos os seguintes objetivos específicos: definir o perfil dos assistentes sociais que participaram no processo de supervisão profissional, contextualizando as suas fun-ções e responsabilidades; situar os padrões teóricos, metodológicos e éticos desenvol-vidos pelos assistentes sociais em SAD; identificar as dimensões reflexivas integradas na prática profissional decorrente do processo de supervisão externa.

Em função dos objetivos que foram definidos para este trabalho, pareceu-nos funda-mental a adoção de uma postura interpretativa. Foi nesse sentido que realizámos um estudo de caso de tipo compreensivo, através da análise intensiva e aprofundada de uma situação em particular, ou seja, uma experiência de supervisão profissional externa em Serviço Social desenvolvida numa instituição social portuguesa.

O critério de escolha deste caso prendeu-se não só com a acessibilidade ao campo por parte da autora enquanto supervisora, mas também pela potencial exemplaridade do caso, dado que a experiência se realizou numa instituição de grande prestígio na área

Uma Experiência de Supervisão com Coordenadores de Serviços de Apoio Domiciliário (SAD)

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social, com muitos assistentes sociais, na qual a preocupação com a formação e o de-senvolvimento profissional e com uma intervenção de qualidade junto dos destinatários da intervenção é uma premissa fundamental.

Universo e amostra

A nossa amostra correspondeu ao universo das1 assistentes sociais coordenadoras de SAD à data da pesquisa de campo, isto é, 33 profissionais.

Neste trabalho, não procurámos uma representatividade estatística nem o estabeleci-mento de regularidades, mas sim uma representatividade social e a diversidade dos fenómenos. Na verdade, como sublinha Yin (1989), o estudo de caso não visa uma ge-neralização estatística dos resultados, uma vez que o “caso” não é uma amostra a partir da qual se possam inferir as características do universo em estudo. De forma distinta, segundo o mesmo autor, o estudo de caso permite, quando muito, uma generalização “analítica”, na qual as questões de investigação e os pressupostos teóricos são utiliza-dos como guias para comparar os resultados empíricos.

A análise e a compreensão do contributo da supervisão em Serviço Social na (re)cons-trução dos saberes e das competências teóricas, metodológicas, éticas e políticas da intervenção dos assistentes sociais só poderão ser alcançadas com a participação dos seus agentes e através do contacto com os seus contextos de trabalho. Neste sentido, e tal como advoga Martinelli (1999), na pesquisa qualitativa em Serviço Social o que interessa não é o número de pessoas que prestam informação, mas o significado que esses indivíduos têm, de acordo com o que procuramos com a investigação.

Recolha de dados

Optámos por realizar entrevistas em profundidade como técnica qualitativa de relevân-cia na apreensão das perceções e das vivências pessoais das experiências, da totali-dade das assistentes sociais das equipas supervisionadas, com o objetivo de aceder às representações e aos significados que são atribuídos ao processo de supervisão. Destaca-se o valor heurístico das narrativas das entrevistadas, que permitiu a sua utili-zação como fonte de conhecimento.

Enquanto fontes secundárias, destacamos as documentais, designadamente docu-mentos da instituição de acolhimento da supervisão, que serviram, sobretudo, para a caracterização do campo empírico.

Foi, assim, elaborado um guião de entrevista que procurasse estimular a produção de discursos e respeitar uma baixa diretividade na condução da conversa, para que as entrevistadas expressassem livremente as suas conceções e práticas e retratassem as suas vivências, indagações e pontos de vista. O guião foi construído a partir de um conjunto de dimensões e respetivos indicadores enunciados na Tabela 5.1.

1 Uma vez que a totalidade das pessoas entrevistadas é do género feminino, optámos por utilizar sempre a designa-ção “entrevistadas” ou referirmo-nos a “assistentes sociais” ou “supervisandas” no feminino.

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Tabela 5.1 – Dimensões e indicadores analisados

Dimensões Indicadores

I) Caracterização/Perfil das assistentes sociais■■ Dados sociodemográficos; ■■ Formação académica inicial e contínua.

II) Experiência profissional ■■ Percurso profissional.

III) Contexto de intervenção ■■ Serviço Social em SAD.

IV) Conhecimentos teóricos e metodológicos do Serviço Social

■■ Posicionamento teórico;■■ Processo metodológico.

V) Questões éticas ■■ Princípios e valores.

VI) Autorreflexividade ■■ Emoções profissionais (autorreflexão);■■ Aprendizagem com os outros.

VII) Supervisão profissional externa ■■ Experiência atual de supervisão; ■■ Experiência prévia de supervisão.

Questões éticas

As narrativas das assistentes sociais permitiram aceder não só ao seu projeto ideológi-co e às suas expetativas, mas também às tensões em que estão imersas em contextos institucionais. Estas narrativas fundamentam a compreensão de como é vivenciado, neste contexto profissional específico, o processo de supervisão profissional contado na primeira pessoa.

O interesse e as motivações que estiveram na base desta investigação e que a acom-panharam manter-se-ão para além dela, tendo-se considerado não existir conflito de interesses neste processo. Privilegiou-se o ponto de vista dos atores nele envolvidos e a nossa análise sobre a interpretação dos atores da investigação, que são criadores de significados, tal como nós. Esta circunstância implica a assunção do risco acrescido de investigar um tema/objeto no qual a própria investigadora esteve inserida. Tal posi-ção significa que, por um lado, possa não existir um real distanciamento que facilite a objetividade dos atores, ao fazerem parte da investigação enquanto sujeito e enquanto objeto, mas, por outro, possam abrir-se novas perspetivas que, possivelmente, de outro modo, não teriam sido tidas em consideração ou mesmo descobertas.

Descrição do contexto institucional onde foi realizada a supervisão

A supervisão é desenvolvida, geralmente, em contexto institucional. Desta forma, es-tudar o processo de supervisão numa determinada instituição implica conhecer o con-texto no qual o mesmo decorreu. Vários autores são consensuais ao defenderem que o desenvolvimento da supervisão numa instituição pressupõe um amplo conhecimento desta (Cruells, 2009; Guerra & Braga, 2009; Kadushin & Harkness, 2014; Tsui, 2005). Neste sentido, este ponto visa dar conta do contexto organizacional e das circuns-tâncias em que se situa o SAD, serviço onde se integra e configura a experiência de supervisão aqui considerada.

O contexto institucional onde o assistente social desenvolve a sua ação tem alguma influência nos processos de estruturação e perceção das suas práticas, particularmente

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quando estamos perante contextos institucionais nos quais a autonomia técnica e profissional do assistente social é relativa. Esta situação pode, de acordo com Nunes (1995), levar a uma certa cristalização de saberes e práticas profissionais. O sistema institucional determina a estrutura da supervisão, os direitos e os deveres do trabalho de supervisão dentro da instituição e o papel de cada um dos atores. A cultura da instituição, a sua missão e os seus procedimentos são, neste sentido, determinantes para a interação supervisor-supervisando. Desta forma, diferentes instituições reque-rem diferentes adaptações da supervisão (Kadushin & Harkness, 2014). Nesta linha de pensamento, a supervisão não pode ser vista apenas como experiência individual ou de grupo, uma vez que os profissionais não existem desligados de um determinado contexto coletivo. A supervisão é uma experiência social, porque ser pessoa também o é, e estudá-la significa compreender os aspetos institucionais que a influenciam. Tal como afirma Ponticelli (1994, p. 30):

“(…) os aspetos institucionais (ou seja, inerentes à organização na qual o Serviço Social se insere como modalidade de intervenção) não são elementos marginais no processo de ajuda. A organização não é um aspeto secundário, ou um cenário onde se desenvolve uma ação centrada em dois atores: o utente (individual ou coletivo) e o assistente social. É (antes) um fator que perpassa todo o processo de intervenção, influenciando-o e mo-derando-o (...).”

A instituição onde decorreu a supervisão é uma pessoa coletiva de direito privado e uti-lidade pública administrativa, nos termos dos respetivos estatutos. A sua história está intimamente ligada à ação social, desenvolvendo a sua intervenção também noutras áreas.

A resposta do SAD da instituição em estudo destina-se a indivíduos que se encontram em situação de dependência física e/ou psíquica e que não podem assegurar temporá-ria ou permanentemente a satisfação das suas necessidade básicas e/ou a realização das atividades instrumentais da vida diária. À data do estudo, tinha uma capacidade total de resposta de 2870 utentes.

Método global de atuação

A supervisão assentou nos seguintes princípios de atuação:

■■ Preparação do plano de supervisão das sessões, mediante a realização do diag-nóstico das necessidades, aspirações e expetativas das supervisandas, junto das mesmas;

■■ Apresentação e discussão de casos, pelas profissionais, e análise prospetiva da intervenção, a partir da ponderação de questões. Utilização de várias técnicas adequadas à exploração dos temas e objetivos propostos, tais como role-playing, brainstorming, análise documental de alguns relatórios e informações sociais e exposição oral pelas supervisandas, entre outras;

■■ Realização de autorreflexões sobre atitudes e valores dos profissionais face à in-tervenção, considerando a proximidade, o distanciamento e o envolvimento do profissional na relação com os utentes;

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■■ Avaliação do programa de supervisão que integrou momentos e instrumentos de avaliação intercalar e global. Foram considerados indicadores de avaliação, entre outros, o processo de supervisão, a interação supervisor supervisando, os temas abordados e os conteúdos apreendidos e refletidos, a organização do plano de supervisão, a metodologia utilizada e o espaço físico.

As sessões, com a duração de três horas por equipa, realizaram-se nas instalações da instituição, mensalmente, durante nove meses. Cada equipa teve, assim, nove sessões, num total de 27 horas de supervisão2.

Em síntese, podemos utilizar a proposta de categorização de Cruells (2009, p. 84), ilus-trada na Tabela 5.2.

Tabela 5.2 – Síntese de caracterização do protocolo de supervisão (adaptada de Cruells, 2009)

Cruells (2009) Experiência em estudo

Número de pessoas supervisionadas: individual ou coletiva

■■ Quarenta e sete profissionais, 33 dos quais as-sistentes sociais;

■■ Coletiva (de grupo).

Procedência dos supervisandos: da mesma insti-tuição ou de diferentes instituições

■■ Da mesma instituição;■■ De diferentes SAD.

Área disciplinar e qualificação profissional: de igual ou diferente qualificação profissional, da mesma disciplina ou pluridisciplinar

■■ Predominantemente disciplinar (Serviço Social).

Procedência do supervisor: interno, do mesmo local de trabalho ou externo à própria instituição

■■ Externo à instituição.

Origem da decisão de supervisão: da direção ou dos trabalhadores

■■ Da direção da instituição.

Qualificação do supervisor: disciplina afeta à dos supervisandos ou distinta

■■ Afeta à das supervisandas (Serviço Social).

Objetivos propostos ■■ Descritos no protocolo.

Caracterização das assistentes sociais participantes no processo de supervisão

Informações gerais

Todas as assistentes sociais participantes neste estudo de caso são mulheres, com ida-des compreendidas entre os 32 e os 59 anos. São todas licenciadas em Serviço Social (à exceção de uma, que é licenciada em Política Social). A assistente social licenciada há mais tempo terminou a licenciatura em 1980 e a mais recente terminou-a em 2006. Em termos de formação pós-graduada, verificamos que praticamente metade das su-pervisandas possui pós-graduação. A sua experiência profissional como assistentes sociais varia entre os 5 e os 35 anos, sendo que em SAD varia entre os 2 e os 16 anos de trabalho.

2 É importante referir que embora a experiência concreta aqui em análise se refira apenas a estes nove meses, este protocolo de supervisão profissional externa tinha tido várias edições anteriormente, sendo a supervisora e a maior parte das supervisandas as mesmas.

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AO ENCONTRO DEUMA PRÁTICA REFLEXIVA

SUPERVISÃOPROFISSIONALEM SERVIÇO

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Assistente social há quase duasdécadas. Licenciada e mestre em Serviço Social pelo Instituto Superior de Serviço Social e doutoradaem Serviço Social pela Universidade Católica Portuguesa. Docentena licenciatura em Serviço Social no Instituto Superior de Ciências Sociaise Políticas da Universidade de Lisboa. Foi docente na licenciatura de Serviço Social e no mestrado de Gerontologia Social na Universidade Lusófonade Humanidades e Tecnologias, com responsabilidades de coordenação executiva da pós-graduação e do mestrado em Gerontologia Sociale de subdireção da licenciaturaem Serviço Social. Formadora e super-visora profissional nas áreas do Serviço Social e da Gerontologia Socialem diversas organizações. Consultora da área Seniores da Fundação Aga Khan Portugal. Foi supervisora profissional externa nos serviços de apoio domicili-ário (SAD) da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa. Coautora de capítulos de livros nas áreas do Serviço Sociale da Gerontologia Social, entre os quais Serviço Social no Envelhecimento e Maus Tratos a Pessoas Idosas, ambos publicados pela Pactor.

A supervisão profissional em Serviço Social é um processo em que o assis-tente social, geralmente mais experiente e informado, orienta outro assisten-te social tendo como objetivo aumentar os conhecimentos e a competência dos profissionais, melhorando a sua prática e o seu desenvolvimento profis-sional e pessoal.

Fruto do cruzamento dinâmico das trajetórias de intervenção e investigação da sua Autora, surge esta obra inédita e pioneira em Portugal, que coloca a supervisão em lugar de destaque no exercício profissional dos assistentes sociais.

Dividida em duas partes inter-relacionadas, na primeira apresentam-se os fundamentos, os tipos e as modalidades da supervisão em Serviço Social, bem como o perfil e as competências do supervisor e a supervi-são enquanto espaço e tempo de desenvolvimento de uma prática reflexiva; na segunda, é demonstrado um estudo de caso, levado a cabo no serviço de apoio domiciliário (SAD) de uma instituição social, cujos resultados evidenciam que uma análise crítica sistemática das práticas quoti-dianas dos assistentes sociais, possibilitada pela supervisão, permite aumentar o conhecimento e potenciar uma prática crítica, reflexiva e mais qualificada.

Por consistir num contributo muito relevante para o Serviço Social enquanto profissão e disciplina académica, este livro é destinado a estudantes, docentes e profissionais desta área, bem como a outros técnicos de ação e intervenção social que se interessem pelo processo de supervisão pedagógica e profissional.

Maria Irene de CarvalhoProfessora Associada do ISCSP – Universidade de LisboaEsta obra será, decerto, uma referência no panorama do Serviço Social em Portugal, constituindo-se como uma mais-valia para a profissão e para os profissionais.

Isabel de Freitas VieiraAssistente Social e Docente na Universidade Católica Portuguesa(…) desejo que o maior número possível de estudantes e profissionais de Serviço Social possa ler esta obra e, a partir daí, criar novos momentos de diálogo e reflexão sobre a oportunidade aqui gerada para, através da supervisão, sermos capazes de renovar as práticas profissionais e reafirmar o lugar do Serviço Social na academia e na sociedade como construtor da dignidade humana, defensor dos direitos humanos e tutor da justiça social.

Prefácios de:

www.pactor.pt ww

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.pt

ISBN 978-989-693-087-5

9 789896 930875

16,7cm x 24cm9cm 16,7cm x 24cm 9cm9,5mm

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