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360 EDIÇÃO 27 • DEZEMBRO DE 2018 Gláucio Libório, do Ética Saúde, acredita que a cultura de denúncias pode diminuir a corrupção no setor Novo índice de inflação já está disponível No país da fartura, o descaso com os alimentos afeta diretamente quem tem fome Um prato cheio para o desperdício

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360EDIÇÃO 27 • DEZEMBRO DE 2018

Gláucio Libório, do Ética Saúde, acredita que a cultura de denúncias pode diminuir a corrupção no setor

Novo índice de inflação já está disponível

No país da fartura, o descaso com os alimentos afeta diretamente quem tem fome

Um prato cheio para o

desperdício

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CONTRIBUIÇÃO

POR QUE É IMPORTANTE?

COMO FUNCIONA?No âmbito federal a representação compete à Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), e em nível estadual essa função é atribuída à FEHOESP, que defende politicamente o setor e congrega, regionalmente, os sindicatos que tratam diretamente dos interesses das empresas prestadoras de serviços em saúde no Estado de São Paulo.

Defendemos sua empresa, proporcionando condições igualitárias em acordos e negociações na saúde

FEDERAL

ESTADUAL

REGIONALO sistema confederativo de representação sindical na área da saúde é composto por três esferas:

Mais informações/dúvidas:www.fehoesp360.org.br(11) 3226-9444 I [email protected]

CONTRIBUIÇÃO

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Sobrevivemos, a duras penas, aos desmandos de governos petistas sucessivos nos quais o tom ideológico deu cor e forma às políticas públicas no Brasil. A marola, ao contrário do que foi dito à época sobre os impactos da crise de 2008, na verdade foi do progresso. Vivemos um período de curto crescimento, que levou o país ao pleno emprego e ao aumento do consumo. Tudo ma-quiagem. Logo após a cortina veio abaixo, defla-grando o que estava por trás da encenação: cor-rupção, aparelhamento, ideologia de esquerda impregnada por todos os cantos do poder.

Ao assumir como presidente da República, Mi-chel Temer deu sinais de que colocaria o país nos trilhos. Acertou nas escolhas das novas equipes, especialmente a econômica, e conseguiu promo-ver algumas reformas, como a trabalhista. Mas o fim de seu governo seria decretado em 17 de maio de 2017, data em que estourou o escândalo da JBS, com Joesley Batista detonando mais uma crise política. Desde então, há quase dois anos, as tratativas que dependiam do Congresso Nacional ficaram paralisadas.

Foi assim, com o Brasil à deriva, que ocorreram as eleições, absurdamente polarizadas e que pro-moveram discórdias familiares, entre amigos, nas

redes sociais e nas ruas. Saudável, o debate polí-tico deve acontecer para que um país se desen-volva. Mas não pode ser tão atroz a ponto de fra-gilizar as instituições e sobretudo a importância da atividade política em si, que garante o funcio-namento de uma democracia. A nossa, inclusive, ainda é jovem e tem muito a caminhar.

Com o final do pleito, realizado apesar de tudo na mais perfeita ordem, temos um novo presiden-te, eleito sobretudo sob a negação do petismo e de sua roubalheira, e com um discurso de reno-vação que inclui a expurgação de práticas típicas do presidencialismo de coalizão. Os desafios são imensos e colocarão à prova esta nova força po-lítica que emergiu das urnas, com ampla legiti-midade diante do cidadão comum, mas que terá que conquistar também Câmara dos Deputados e Senado para conseguir governar. Apesar disso, é possível dizer que voltamos a ter aquele senti-mento de esperança de que as coisas irão melho-rar. E estamos torcendo para que seja um ano de boas notícias.

Yussif Ali Mere JrPresidente

De volta,a esperança

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ÍNDICE05

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09

No país da fartura e dos recordes de produção agrícola, o desperdício

de comida ainda afeta quem tem fome

CAPA 16

O que o mercado está fazendo para combater o desperdício na saúde, que pode chegar a 30% dos recursos

Resenha: série premiada retrata a vida e os desafios de um médico residente portador de autismo

Priscilla Franklim Martins, da Abramed, opina sobre como será o mercado de saúde em 2019

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12

As notícias que foram destaque no Portal FEHOESP 360

Os registros dos eventos realizados no período estão na seção de Notas

Conheça o desempenho do emprego no setor, no Brasil e em São Paulo, no Boletim Econômico FEHOESP

Novo Índice de Inflação dos Serviços de Saúde já está disponível

Workshop em Santo André debate o conceito de desospitalização e suas dificuldades de implementação

Ética deve se tornar um hábito das empresas, defende Gláucio Libório, o entrevistado da edição

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DESTAQUES ON-LINE

Menor aprendiz tem nova norma de fiscalizaçãoPor meio da Instrução Normativa nº 146/2018, a Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho, estabelece di-retrizes e disciplina a fiscalização da aprendizagem profissional.

Com isso, estabelecimentos de qualquer natureza são obri-gados a contratar e matricular aprendizes nos cursos de apren-dizagem, em um percentual mínimo de 5% e máximo de 15%, das funções que exigem formação profissional.

Ficam obrigados a contratar aprendizes, ainda, as empresas que tenham pelo menos sete empregados em funções que de-mandam formação profissional.

Acesse www.fehoesp360.org.br e leia a íntegra da norma.

Planejamento diminui tributos de forma lícitaO tema Planejamento Tribu-tário foi o destaque do por-tal www.fehoesp360.org.br no último mês. Em artigo assinado por Denise Ma-cedo Bezerra, gerente de Controladoria da FEHOESP e responsável pelo plantão de dúvidas contábeis IN$truir, são destacadas as formas lícitas de se reduzir a carga tributária e os custos fiscais.

A elisão fiscal, conhecida também como Planejamento Tribu-tário, ocorre quando se utiliza um meio permitido por lei para não pagar ou pagar menos tributos. Muitas vezes essa economia surge de uma interpretação da legislação, “de forma ética antes do fato gerador”, possibilitando a eliminação ou diminuição dos valores. Essa tem sido, ainda, a maior ferramenta de redução no pagamen-to de tributos utilizando medidas legalmente permitidas.

O texto compara também o termo elisão fiscal com outros que estão dentro do campo da ilegalidade, como evasão fiscal e elu-são fiscal. O primeiro ocorre quanto se utiliza meios ilícitos para não pagar ou pagar menos tributos, descumprindo as obrigações tributárias e utilizando técnicas como fraude ou sonegação. Já o segundo termo parte da simulação de um negócio jurídico visando fugir da tributação. “É uma conduta lícita praticada de forma atípi-ca ou artificiosa, constituindo uma fraude à lei ou abuso de direito.”

Essas ações fraudulentas, que num primeiro momento até pare-cem ser vantajosas, gerando economia, podem levar a empresa a ter sérios problemas fiscais. Isso poderá ser revertido em despesas e complicações para a empresa e seus proprietários, inclusive.

PORTAL FEHOESP 360

Confira no Portal:

As principais notícias do setor

Informações jurídicas, contábil e tributária

Convenções coletivas

Informativo Notícias Jurídicas

Versão eletrônica da Revista FEHOESP 360

Acesse www.fehoesp360.org.br

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NOTAS

Entre 17 e 20 de outubro, Brasília sediou o XXXVI Congresso Brasileiro de Psiquiatria – CBP, que discutiu o tema central “Diretrizes para um modelo de assistência psiquiátrica no Brasil, isso é possível?”. Trata-se do maior congresso de es-pecialidade médica da América Latina, o primeiro em atua-lização científica psiquiátrica. De repercussão internacional, o CBP contou com a presença de palestrantes de diversos países, que apresentaram mais de 48 áreas temáticas, em aproximadamente 300 horas de programação.

Como atividade inédita, os visitantes puderam contar com nove sessões, abrangendo temas como transtorno bi-polar, ansiedade, depressão, transtornos alimentares, entre outros, com a presença de professores de reconhecimento nacional e internacional para o esclarecimento de dúvidas e debate de casos clínicos.

Carmita Abdo, atual presidente da Associação Brasilei-ra de Psiquiatria (ABP), realizadora do evento, ressaltou

Saúde Mental realiza um de seus maiores congressosna abertura os desafios da psiquiatria do futuro. “Teremos que ampliar as dimensões do encontro do paciente com o profissional de saúde. A psicopatologia clássica, enriqueci-da pela neurociência, pela antropologia e pela sociologia, pode ajudar a convergir a ciência e o humanismo”, disse.

O coordenador do Departamento de Saúde Mental da FEHOESP, Ricardo Mendes, esteve em Brasília para acompa-nhar o congresso. “Questões muito contemporâneas, como a depressão crônica e refratária, a dependência da tecnolo-gia e a prevenção ao suicídio foram temas de muitas pales-tras. Nota-se também um crescimento da importância da psiquiatria, que deixou de ser o patinho feio das especialida-des. A enorme feira de expositores, com grandes nomes da indústria e até clínicas expondo seus serviços, mostra que estamos num caminho de ascendência”, afirmou.

Na ocasião, Antonio Geraldo da Silva, ex-presidente da ABP, tomou posse como presidente da Associação Psiqui-átrica da América Latina (APAL). Em seu discurso, ele res-saltou a necessidade de união da classe. "Estar à frente de associações tão importantes é uma responsabilidade enor-me. É fundamental honrar suas histórias e aqueles que as construíram, mas sempre pensando no futuro. E quanto mais unidos estivermos, quanto mais afinados for o nosso discurso, quanto mais similares forem nossos objetivos, maior será nossa respeitabilidade e nosso êxito.”

Assumiram também, no novo Comitê Executivo da APAL, Enrique Bojorquez, como vice-presidente; Romildo Bueno, como secretário-geral; Carlos Eduardo Zacharias, como se-cretário de Finanças; Miriam de La Osa, secretária do México, América Central e Caribe; Rodrigo Córdoba, secretário-geral dos países Bolivarianos; Graciela Onofrio, secretária regional dos países do Cone Sul; Enrique Chavez-León, como coor-denador de Seções.

Breno Monteiro é eleito para presidência da CNSaúdeA Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) elegeu, em novembro, os membros que comporão sua nova diretoria para o período de 2019-2021. Nos próximos três anos, a en-tidade será presidida por Breno de Figueiredo Monteiro, que também exerce o cargo de presidente da Federação Nacio-nal dos Estabelecimentos de Saúde (Fenaess) e da Associa-ção dos Hospitais e Casas de Saúde do Pará (Ahcsep).

A Confederação Nacional de Saúde é uma entidade sin-dical de terceiro grau – o mais elevado previsto pela lei – e congrega estabelecimentos privados ou filantrópicos pres-

tadores de serviços de Saúde no Brasil. Com sede em Brasília, a CNSaúde congre-ga oito federações (Fenaess, Feho-sul, Feherj, Fehospar, Fehoesc, Fehoesg, Febase e Fehoesp) e 91 sindicatos.

Ricardo Mendes e Carmita Abdo, na

abertura do Congresso

Breno Monteiro, presidente da Fenaess e da Ahcsep, estará à frente da CNSaúde

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Evolução da medicina a partir das guerras é tema de palestraNo fim de outubro, o SINDHOSP promoveu palestra com o médico José Maria Orlando, autor do livro “Vencendo a mor-

te: como as guerras fizeram a medicina evoluir”. O evento foi realizado em comemoração

aos 80 anos do Sindicato. A obra con-ta como muitos dos avanços da

medicina tiveram sua origem por ocasião de algumas das princi-pais guerras travadas pelo ho-mem, inúmeros deles dentro

Realizada em novembro, a oitava edição do Workshop Gesti, em Ribeirão Preto, contou com a presença de profis-sionais da área da saúde, incluindo médicos, administrado-res e empresários. O evento abordou temas como economia, política e saúde. O presidente da Federação e do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP/SINDHOSP), Yussif Ali Mere Jr, participou do painel “Escolhemos um novo presidente, e agora? O que realmente muda no Brasil”. A programação do Workshop ainda incluiu a participação do nadador e campeão olím-pico Cesar Cielo, que falou sobre grandes desafios e a busca pela superação. O evento é promovido e organizado pela Gesti Soluções, empresa que atua na melhoria da assistên-

Diretores participam do 8º Workshop Gesti

dos próprios campos de batalha. Foi assim com o processo de transfusão de sangue, aprimorado e firmado como mé-todo terapêutico somente durante a Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939). “Este termo, vencendo a morte, demonstra que, ao longo dos séculos, pequenas vitórias da medicina fo-ram adiando o inevitável. E as guerras, muitas vezes, contri-buíram de forma até inusitada para isso”, explicou Orlando.

O autor destacou também que, durante muito tempo, a principal causa de morte em uma guerra não era o ferimen-to em si, mas a falta de conhecimento para lidar corretamen-te com as infecções que a lesão provocava. Isso porque não havia ainda a compreensão moderna sobre bacteriologia e os antibióticos, por exemplo.

cia à saúde no Brasil em diver-sos segmentos da gestão.

Na foto, da esquerda para a direita: Luiz Fernando Ferrari Neto, vice-presidente do SINDHOSP e diretor da FEHOESP; Yussif Ali Mere Jr; Gustavo Jun-queira, jornalista e assessor de imprensa da Conceito Comu-nicação; André Ali Mere, CEO da Olidef Medical; e José Carlos Barbério, presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa na Área da Saúde (IEPAS).

07

José Carlos Barbério é homenageado pela FCF-USPO presidente do IEPAS, José Carlos Barbério, foi homenage-ado, em outubro, pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) por seus serviços prestados ao aprendizado na área de Farmácia. O evento ho-menageou ainda ex-diretores, professores e funcionários da instituição que, em 2018, completa 120 anos de existência.

Para Barbério, a surpresa e a emoção fizeram parte da noite. "Cito o filósofo Norberto Bobbio para agradecer este momento. Ele dizia que o grande patrimônio do velho está no universo da memória. Vivo aqui o tesouro que há em nos-sa memória, um reencontro com familiares e amigos com quem aprendi a ter amor, carinho e dedicação pela profis-são", discursou.

Na oportunidade, a faculdade inaugurou a exposição "Da Eschola Livre de Pharmacia à Faculdade de Ciências Farma-cêuticas - 120 Anos de Excelência", que expõe objetos e fotografias para recontar a história. A exposição é gratuita e estará disponível para visitação até 28 de fevereiro de 2019 (Rua Maria Antônia, 294 – Vila Buarque, São Paulo).

José Carlos Barbério, presidente do IEPAS, e Primavera Borelli, diretora da FCF

Evento debateu o futuro para o setor de saúde

José Maria Orlando, médico e autor do livro

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Desempenho do emprego no setor - Brasil e Estado de São Paulo

o acumulado de janeiro a setembro de 2018, se-gundo dados do Caged, houve abertura de 73.731 vagas nas atividades desempenhadas nos hospitais, clínicas e laboratórios no Brasil, totalizando 2.225.964 de trabalhadores. Entre as atividades, destacam-se a criação de 28.195 postos em “atendimento hospita-lar” e também a geração de 15.584 vagas na atividade “médica ambulatorial”, no período em questão, em

relação a dezembro de 2017. O Estado de São Paulo registrou, em setembro de

2018, o contingente de 733.470 trabalhadores nos hos-pitais, clínicas e laboratórios. No acumulado do ano, o setor gerou 22.295 vagas no Estado, destacando-se a geração de 7.693 postos na atividade “atendimento hospitalar”. O Estado de São Paulo emprega 33% do contingente de trabalhadores da saúde no país.

N

BOLETIM ECONÔMICO

Edição nº 4 – novembro de 2018 Dados de janeiro a setembro de 201808

Fonte: Caged/MTE e Rais 2017 | Elaboração Websetorial

*Gestão de saúde, onde estão incluídas a administração de hospitais, centrais de regulação, consultoria, assessoria e fundações de pesquisas

**Idosos, deficientes físicos, imunodeprimidos e convalescentes prestadas em residências coletivas e particulares

Categoria

Brasil São Paulo

Set/18

Saldo dascontratações Variação %

Set/18

Saldo dascontratações Variação %

Set18/Dez17 Set18/Dez17 Set18/Dez17 Set18/Dez17

Atendimento hospitalar 1.214.929 28.195 2,4% 398.245 7.693 2,0%

Serviço móvel de urgência 9.477 191 2,1% 3.454 -125 -3,5%

Serviço móvel de remoção de pacientes 2.009 91 4,7% 796 28 3,6%

Atividade médica ambulatorial 355.335 15.584 4,6% 125.659 5.136 4,3%

Laboratório, diagnóstico e exames 252.075 7.673 3,1% 72.491 2.581 3,7%

Profissionais da área de saúde 83.147 4.222 5,3% 22.103 1.030 4,9%

Gestão de saúde* 89.562 9.280 11,6% 10.601 1.776 20,1%

Ativ. de atenção à saúde humana não esp. anteriormente 90.035 2.531 2,9% 40.784 1.650 4,2%

Atividades de assistência a pacientes especiais** 63.450 2.423 4,0% 32.467 1.042 3,3%

Fornecimento de infraestrutura 16.637 989 6,3% 5.269 531 11,2%

Assistência psicossocial 16.869 773 4,8% 6.633 292 4,6%

Assistência social 32.439 1.779 5,8% 14.968 661 4,6%

Total 2.225.964 73.731 3,4% 733.470 22.295 3,1%

Tabela 8 - Evolução do emprego no setor no Brasil e no Estado de São Paulo

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componentes estão divididos nas seguintes categorias: sa-lários e encargos, materiais médicos de uso do paciente, material de consumo geral, serviços de nutrição e dietética, manutenção de edifícios e equipamentos, limpeza e despe-sas gerais. O IISSF tem apuração mensal e estrutura de cus-tos revisada periodicamente.

A Nota Técnica, os números a partir de maio de 2018 (já com o novo cálculo) e gráficos comparativos podem ser acessados pelo endereço eletrônico: www.fehoesp360.org.br/servicos/indicesinflacionarios.

ma Câmara Técnica da FEHOESP vem trabalhando nos últimos meses na construção de um novo índice de inflação, que oriente a categoria de maneira mais assertiva no que diz respeito a variações de preços. Veiculado desde janeiro de 1999, o Índice SINDHOSP passa agora a se chamar Índice de Inflação dos Serviços de Saúde FEHOESP (IISSF).

A base para a construção do novo cálculo teve como ponto de partida a análise dos componentes de custos mais relevantes na prestação de serviços de saúde, e foi fruto de pesquisa junto ao mercado. Segundo a Nota Técnica, tais

FINANÇAS

09

Indicador tem nota técnica e primeiros cálculos divulgados

U

FEHOESP lança

novo índice de inflação

Índice de Inflação dos Serviços de Saúde FEHOESP – IISSF – outubro 2018

% Índice Indicador Cálculo

Salários e encargos 55,00 INPC-IBGE 0,40 0,2200

Materiais médicos de uso do paciente 20,00 IPC-FIPE -0,1294 -0,0259

Materiais de consumo geral 2,00 IPCA-IBGE 0,4500 0,0090

Serviços de nutrição e dietética 4,00 IPC-FIPE Alimentação 1,2055 0,0482

Manutenção de edifício e equipamentos 4,00 IGPM-FGV 0,8900 0,0356

Limpeza 3,00 INPC-IBGE 0,4000 0,0120

Despesas gerais 12,00 IGPM-FGV 0,8900 0,1068

Total 0,4057

Compõem a Câmara Técnica do IISSF Marcelo Gratão, CEO das entidades; Nivia Conceição, gerente administrativa da FEHOESP; Flavia Veloso, analista administrativa da Federação; João Luís Romitelli, economista; Denise Bezerra, gerente de Controladoria da FEHOESP; e Luiz Fernando Ferrari Neto, diretor da FEHOESP e vice-presidente do SINDHOSP.

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Brasil envelheceu antes de enriquecer. Hoje o país soma cerca de 13% de idosos, e até 2050, um em cada três brasileiros estará na chamada terceira idade. Com o aumento da longevidade, há uma mudança no perfil epidemiológico, mais semelhante com o de países desenvolvidos, dei-xando para trás moléstias infecciosas. A evolução para uma grande população de doentes crônicos já bate à porta do sistema de saúde brasileiro, ge-rando uma demanda de assistência não hospita-lar sem precedentes.

Nesse novo contexto epidemiológico, há ne-cessidade urgente de se rever e discutir o modelo hospitalocêntrico e encontrar saídas inovadoras que garantam a qualidade do atendimento, a se-gurança do paciente, a redução de custos para o sistema de saúde e o uso de leitos para casos gra-ves e de maior complexidade.

Segundo o presidente da FEHOESP e do SINDHOSP, o médico Yussif Ali Mere Jr, a maioria dos casos pode ser resolvida fora dos hospitais. “Mas a própria população acaba procurando o hospital por uma questão de resolubilidade”. Diante da nova realidade brasileira, os especia-listas têm discutido a desospitalização, ou seja, a retirada do paciente do ambiente hospitalar para dar continuidade aos cuidados e tratamentos em sua própria casa ou em hospitais de transição ou

GESTÃO

Cuidados além do hospital

O

SINDHOSP promove workshop sobre desospitalização em Santo André

de cuidados paliativos. “Calcula-se uma econo-mia de até 80% para os próprios hospitais, pla-nos de saúde e seguradoras e até para o sistema público. Enquanto na outra ponta, a medida traz conforto e segurança ao paciente por mantê-lo longe dos altos riscos hospitalares e mais perto de seus familiares, tornando a atenção mais hu-manizada”, avalia Ali Mere Jr.

Este foi o mote debatido no Workshop “Desos-pitalização: onde estamos e para onde vamos”, promovido em Santo André pelo SINDHOSP e or-ganizado pelo IEPAS, em 30 de outubro.

Clínicas de retaguarda, de cuidados paliativos, de reabilitação, hospitais de longa permanência e serviços especializados em atendimento domici-liar se reuniram, lado a lado, com representantes de grandes hospitais e de operadoras de planos de saúde que já trabalham com o conceito junto aos seus pacientes.

O vice-presidente do SINDHOSP, Luiz Fernan-do Ferrari Neto, falou na abertura do evento, destacando a necessidade de o setor definir os critérios de elegibilidade para a transição de pa-cientes. Segundo Luciano Rodrigues de Oliveira, enfermeiro do Hospital Sírio-Libanês, a desospi-talização na instituição é trabalhada já na admis-são. “É mais difícil desospitalizar aquele paciente que fica mais tempo internado. Por isso, a alta é

POR ALINE MOURA

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pensada no momento da admissão. A internação hospitalar deve ser encarada como uma transi-ção e cabe à equipe multidisciplinar informar o tempo todo o plano de cuidados, para que pa-ciente, família e médicos entendam a hora certa de desospitalizar”.

No Hospital Israelita Albert Einstein, a equipe de desospitalização atua desde 2005 e é com-posta por um médico, dois enfermeiros e dois as-sistentes sociais. “Acompanhamos os pacientes com mais de 15 dias de permanência ou em risco de longa permanência”, detalhou a enfermeira Patricia Silveira Rodrigues, membro da equipe. Na Beneficência Portuguesa, o plano terapêutico do paciente também é acompanhado pela equi-pe de desospitalização desde a admissão, que vai à beira do leito, conversa com as famílias e atua para identificar, já no hospital, o possível cuida-dor. “Com a equipe, temos um método de traba-lho que multiplica a informação, porque muitas vezes há ausência de conhecimento do próprio profissional que está na ponta”, contou Iris Ingrid de Oliveira Silva, enfermeira de Protocolos e De-sospitalização da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Primeira operadora de plano de saúde a in-vestir em transição de cuidados, a Amil iniciou, há dois anos, um trabalho para repensar a área e “sair da caixinha do home care”. Segundo Aria-ne Mutti, gerente nacional de Desospitalização do plano, os equipamentos se diversificaram e podem oferecer mais qualidade ao paciente, de-pendendo do seu perfil. “Criamos uma equipe multidisciplinar, e temos feito reuniões perió-dicas nos hospitais, que incluem discussões de casos clínicos. É importante que família, paciente e equipes entendam que desospitalização não é alta precoce”, disse.

Para Rodolfo Pires de Albuquerque, diretor médico do Grupo Notre Dame Intermédica, a ju-dicialização, nessa área, gera muitas injustiças. “Hoje temos 100 liminares determinando o aten-dimento em home care, e isso representa 50% do

custo total do atendimento domici-liar”. Para ele, o problema do finan-ciamento da saúde, especialmente do idoso, é uma questão de toda a socieda-de e precisa ser discutida. “A saída é reduzir custos, e a realidade é que quando você pratica qualidade, você reduz custo”.

O fundador e diretor executivo da Clínica No-bre, Eduardo Santana, destacou alguns números: R$ 50 bilhões gastos com internação em um ano no país (dados da Abramge), e 9.170 pacientes em longa permanência nos hospitais da Anahp – o que representa 10% dos estabelecimentos do país. “Acredito que precisamos de um sistema comple-mentar, mas que também seja preciso promover uma mudança cultural”. Segundo ele, é comum que seja apresentada ao médico, no momento de indicação da desospitalização, uma ficha onde está escrito “home care”. “É preciso que haja um entendimento de que a ficha é um instrumento e que a transferência do paciente pode acontecer para diversos equipamentos, como para uma ins-tituição de retaguarda, de transição, de cuidados paliativos, além do home care”, sinalizou.

Embora o tema esteja sendo debatido há al-gum tempo, o entendimento sobre a desospita-lização é diferente quando se sai do eixo Rio-São Paulo. “Aqui, conseguimos entender com mais clareza a necessidade do equipamento. Fato é que o perfil dos doentes está mudando e não existe mais um cuidado isolado. É preciso fazer esse alinhamento, inclusive com sis-temas de informações efetivos entre as instituições”, ressaltou Alessandro Frei-tas Moura, gerente da Pleno Saúde.

Luciano Rodrigues de Oliveira, enfermeiro do Sírio-Libanês

Eduardo Santana, diretor da Clínica Nobre

Os palestrantes do evento

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Gláucio Libório, presidente do Instituto Ética Saúde,

defende que o Brasil deve criar uma cultura de

denúncias para acabar com desvios

m um mercado cada vez mais re-gulado, tecnológico e caro como o da saúde, a ética faz a diferença para as empresas se destacarem e trazerem melhores resultados aos pacientes. Es- sa é a opinião de Gláucio Libório, pre-

sidente do Instituto Ética Saúde (IES), entidade criada para combater a cor-rupção no setor. Com passagem pela indústria petroquímica, o engenheiro químico formado pela Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro se especializou

na área de distribuição e assistência técnica de materiais cirúrgicos, hospi-talares, próteses, onde atua há 22 anos. Foi presidente da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (Abraidi), de 2014

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ENTREVISTA

POR ELENI TRINDADE

“Problemas éticos estão em todos os lugares”

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a 2017, e, atualmente, é seu vice-presi-dente. Libório acredita que o modelo de autorregulação é o mais adequado para evitar fraudes, mas destaca que as denúncias não podem ser feitas ape-nas por questões concorrenciais. “Nós conhecemos os meandros do nosso negócio melhor do que um órgão regu-lador externo, sabemos onde estão os problemas e saberemos criar os impe-ditivos para eles.” Confira:

FEHOESP 360: Os objetivos da criação do Instituto Ética Saúde (IES) são bem incisivos: criar regras para a prevenção de suborno e corrupção no setor de saú-de. Como essas ideias nasceram? Gláucio Libório: Esse projeto já está em desenvolvimento há muitos anos. Por volta de 2010, houve uma ação de investigação do Ministério Público em Vitória (ES) e eu era presidente de uma associação local. Os promotores me procuraram para tirar dúvidas e pas-sei a acompanhar aquele trabalho e a buscar apoio nacional para avançar

no assunto. Em 2014, fui eleito pre-sidente do conselho de administra-ção da Abraidi e comecei a militar na questão ética. Participamos de vários eventos ligados à área de integridade e compliance, obtivemos apoio de um subprocurador da República em Bra-sília e mantivemos contato com o Ins-tituto Ethos, que desenvolveu durante o primeiro semestre daquele ano um acordo setorial. Também começamos o mapa de riscos da área, que envolvia distribuidores, fabricantes, hospitais e médicos. Esse grupo tinha 35 empre-sas (30 distribuidores e 5 fabricantes). Concluímos o mapa em dezembro de 2014. Estava tudo encaminhado, quan-do, em janeiro de 2015, veio uma re-portagem especial do Fantástico, da TV Globo, sobre corrupção na questão de implantes e houve um impulso muito grande para a causa.

360: Como essa exposição na mídia impactou o mercado da saúde? GL: Com a reportagem, as empresas que não tinham entendido o recado compreenderam que a situação es-tava crítica. Passamos a fazer divul-gação de tudo o que já estava sendo feito, mas o lançamento oficial foi em Brasília, em junho de 2015, com a presença de 255 pessoas, incluindo parlamentares e muita gente do Exe-cutivo. A essa altura já tínhamos 160 empresas integrantes. Hoje, são 220.

360: Qual a receptividade e a contri-buição que a entidade tem recebido do setor? GL: No início do processo todo mundo adora, mas ao mesmo tempo duvida que possa dar certo, porque a desor-ganização e os problemas na saúde já perduram há pelo menos 30 anos. Fomos conquistando a confiança aos poucos. Quando as pessoas veem hoje a quantidade de órgãos e entidades que têm acordo com a gente, como o Conselho Nacional do Ministério Públi-co, Associação Nacional do Ministério Público de Defesa da Saúde, Tribunal de Contas da União, entre outros, não imaginam quantas reuniões fizemos para mostrar a seriedade de um proje-to saído do próprio mercado. Partimos do princípio que nós conhecemos os meandros do nosso negócio melhor do que um órgão regulador externo, sabemos onde estão os problemas e como criar os impeditivos. Mas não inventamos a roda. Trouxemos expe-riências do Departamento de Justiça americano e de órgãos do Mercado Co-mum Europeu, que foram adaptadas ao Brasil.

A autorregulação

é uma boa opção,

porque o próprio

setor sabe onde

estão os problemas

e como criar

impeditivos"

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ENTREVISTA

360: Como as denúncias avançam para a resolução? GL: As denúncias que não tenham como característica a burla das leis atu-ais ficam no âmbito do IES para quem é associado. Dentro do IES, a empresa pode ser advertida, advertida e monito-rada, suspensa ou expulsa. Para quem não é associado, encaminhamos para o Ministério Público (MP), para que o órgão dê o encaminhamento adequa-do. Mas em caso de descumprimento da lei, o caso vai para o MP de qualquer maneira, sendo associado ou não.

360: Com o crescimento da judicializa-ção na saúde, os programas de com-pliance podem ser afetados? Qual deve ser o papel do Judiciário? GL: A judicialização em si não é um pro-blema. É, inclusive, uma solução. Acho saudável que ela exista. Ela é válida quando traz ganhos para o pacien-te e se trata de uma questão nobre, mas hoje têm pedidos na Justiça que, embora sejam corretos, muitas vezes não são adequados, uma vez que existem procedimentos e ma-teriais mais baratos do que aqueles que estão sendo judicializados, com o mesmo efeito e custando até dez vezes menos, embora pareça ab-surdo. O desconhecimento do juiz a respeito do que ele está julgando é que contribui para esse cenário e há atores que se aproveitam disso em seu benefício. Por isso, é preciso dar trans-parência à judicialização.

360: O modelo assistencial hospitalo-cêntrico e o de remuneração pelo fee- for-service podem contribuir para o de-senvolvimento de práticas indevidas na saúde? Como lidar com isso?GL: Hoje o médico decide o que vai colocar no paciente. Se o mercado não for transparente, quanto mais caro for vendido o material melhor é para o médico, se ele tiver recebendo algum

incentivo das distribuidoras, do plano ou do fabricante, e melhor para o hos-pital, se estiver recebendo percentual sobre o produto. Esse cenário não é bom para o paciente se, de alguma ma-neira, prejudica o plano de saúde. Por-que o plano não remunera o médico da forma que deveria e não remunera os hospitais, partindo do princípio que ambos têm outra forma de remune-ração. Em média, 50% do faturamen-to do hospital decorre de materiais e medicamentos. Nesse cenário, acaba havendo encarecimento do processo e facilitação de uma situação indevida que ocorre ao redor dessas negocia-ções. Quando o sistema é por pacote, a tendência é comprar material mais barato, independentemente se é o me-lhor ou não, para otimizar os custos e ter mais lucro.

360: Os modelos verticalizados são me-nos corruptos?GL: Se você verticalizar, os médicos trabalham sob a regulação do plano de saúde que poderá dizer que, caso eles façam menos cirurgias, receberão um plus salarial no fim do mês. Mas se o paciente estiver precisando de uma cirurgia e ele achar que pode adiar o procedimento para obter mais dinhei-ro, vai ser assim. Não é honesto, mas óbvio que não estamos falando dos corretos. Se todo mundo fosse corre-to, não precisaríamos ter feito o Ética Saúde. Esses projetos são bons para o

360: Já existem resultados com a ini-ciativa do Canal de Denúncias?GL: Basicamente são 1.600 denuncia-dos oriundos de 600 denúncias, já que cada queixa tem vários envolvidos. Re-cebemos essas acusações e procura-mos os acusados para conversar base-ados nos dados que temos em mãos, ao mesmo tempo em que retomamos o contato com quem denunciou para mais informações, já que o canal per-mite que retornemos, mesmo que a denúncia seja anônima. Com mais dados, melhoramos a avalição das denúncias e pedimos explicações. Dis-tribuidores e fabricantes são a maioria dos casos que chegam, mas, infeliz-mente, os problemas estão em todo lugar: no hospital, no coordenador de enfermagem, nos médicos auditores, no centro de esterilização e até no cir-culante do hospital, que pode influen-ciar em uma cirurgia e na escolha do material. É uma coisa absurda. Tem de tudo. Fazemos um verdadeiro trabalho de evangelização, com reuniões por todo o país para criar a cultura de de-núncia que o brasileiro não tem, mas com a preocupação de que não sejam denúncias vazias, feitas por questões apenas concorrenciais.

360: Existe um crivo apurado em tudo o que é recebido? GL: Sim. Esse trabalho é feito por uma empresa internacional que presta serviço para os governos americano e israelense, com uma estrutura de TI fora do país. Eu não tenho acesso aos dados, mas somente o conselho de ética criado independentemente. É uma equipe que recebe a denún-cia, faz a tratativa, verifica se os dados têm consistência e depois transfere o conteúdo para o IES, onde um asses-sor técnico específico traduz os dados para puxar o fio da meada e fazer um julgamento de acordo com as regras oficiais.

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Se todo mundo

fosse correto, não

precisaríamos ter

feito o Ética Saúde"

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plano porque ele consegue segurar o custo, mas é preciso ter equilíbrio. Não se pode fazer da redução dos custos a função do plano de saúde. Tem que haver uma regulamentação desse pro-cesso, porque o paciente fica na ponta e não sabe de nada.

360: O surgimento de tecnologias sem diretrizes claras é um desafio para a ins-talação de boas práticas no setor? GL: Tudo precisa de regulação. A partir do momento que você cria e faz inves-timento no produto, quer colocá-lo no mercado. Hoje a gente tem visto, prin-cipalmente na nossa área, que várias tecnologias que foram colocadas em um primeiro momento como grande solução, assim como os medicamen-tos, carregam um monte de contrain-dicação que as empresas conheciam ou que não tiveram tempo de testar. Então, cabe aos órgãos de regulação ficarem atentos a essa situação e ana-lisar tudo o que tem que ser analisado.

360: Grandes empresas investem em programas de compliance e obtém re-sultados positivos. Como clínicas, labo-ratórios e outras empresas de saúde de menor porte podem colocar em prática esse conceito e se valer desses benefí-cios? GL: Nesse ponto, as associações são muito importantes. Elas têm uma fun-

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ção de olhar à frente de seus associa-dos e criar novos caminhos. Se as ins-tituições incentivam, elas criam essa necessidade. O compliance tem um custo inicial, mas depois há um retorno a médio e longo prazos para evitar des-gaste de imagem, que é um custo intan-gível. Existem modelos e treinamentos na Abraidi e outras entidades que po-dem orientar as empresas associadas para implantar compliance. Temos que fazer com que o comprador do serviço ou do material valorize o sistema de compliance, porque com ele há menos chance de ter atitudes indevidas.

360: Na atual conjuntura – em que as pessoas demonstram cansaço com prá-ticas desonestas e debatem mais políti-ca e ética – qual o papel da imprensa e das redes sociais para ajudar a comba-ter a corrupção na saúde? GL: O primeiro papel é de reverbera-ção dos casos, quando ocorrem. As redes têm papel importante porque

democratizam a informação que antes estava nas mãos de grupos de mídia. Mas, ao mesmo tempo, podem criar fake news que arrasam

As associações têm

a função de olhar

à frente de seus

associados e criar

novos caminhos"

empresas e pessoas. As redes ajudam bastante a disseminar as coisas, mas a questão é ter cuidado ao fazê-lo. Muita gente divulgou informação sem funda-mento, mesmo pessoas com formação e cultura. Eu costumo confiar e acre-ditar nas pessoas, mas depois dessas eleições, estou muito mais atento! De qualquer maneira, estou animado com a atuação do IES por causa das puni-ções e da necessidade que a sociedade tem de cobrar, mas acredito que o atu-al cenário tornará as mudanças mais lentas do que esperávamos.

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Como o Brasil não consegue lidar com o descarte indiscriminado de alimentos

POR RICARDO BALEGO

Prato do dia:

desperdício

izem que comer é um ato político. De fato, essa expressão não só se confirma como ganha ainda mais sentido quando falamos de acesso à alimentação e seu desperdício, duas si-tuações que convivem em muitos lugares do mundo, mas especialmente no Brasil.

Uma grande contradição do país que hoje é o 4º maior produtor de alimentos, atrás apenas da China, Estados Uni-dos e Índia, e que também ocupa o 2º lugar em exportações do gênero.

A questão é que, ao mesmo tempo em que se produz e exporta muito alimento, também se desperdiça aquilo que poderia ir para a mesa de quem pouco ou nada tem para co-mer – situação infelizmente ainda comum. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricul-tura (FAO), somente em 2013, por exemplo, foram desperdi-çadas 26,3 milhões de toneladas de alimentos no Brasil. Os mais recorrentes foram produtos como arroz, milho, tomate e cebola.

Em todo o mundo, a cada ano, são desperdiçadas cer-ca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, o equivalente a 30% de toda a produção global para consumo humano – quase um terço de tudo que se produz. Mais triste ainda é saber que, com apenas uma parte dessa quantia, poderia ser resolvido o problema das 820 milhões de pessoas que ainda passam fome no planeta.

Durante as manifestações promovidas em razão do Dia Mundial da Alimentação, comemorado em 16 de outubro, o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, alertou que a situação vem se agravando. “Pelo terceiro ano seguido, os números da fome no mundo aumentaram. Infelizmente, es-tamos retornando aos níveis de uma década atrás”, disse. O

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brasileiro à frente do órgão das Nações Unidas destacou também que “agir não é mais uma opção, é um passo necessário para um futuro

sustentável para todos. As nossas ações de hoje vão determinar o nosso futuro”.

A questão da alimentação e especial-mente daquilo que é desperdiçado, por-tanto, não é problema somente do setor da saúde ou de outra área específica, mas

sim de todos. Porque, se comer é um ato po-lítico, desperdiçar alimento é inadmissível.

Da feira para o lixoA questão do desperdício de alimentos possui contornos tão importantes para o país que apenas um recorte desse problema já nos dá ideia do tamanho do desafio.

Um estudo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) mostra que, so-mente nas feiras livres do município de São Paulo, após a chamada xepa (ou fim de feira), são desperdiçadas 33 mil toneladas de alimentos todos os anos.

A pesquisa foi conduzida pela professora Sylmara Gon-çalves Dias, docente do curso de Gestão Ambiental da EACH, que pôde acompanhar de perto o desperdício nas feiras populares, onde os alimentos antes belos e saboro-sos passam a ser descartados por ganharem aspecto feio e aparentemente comprometido. “A gente entende a feira como uma vitrine onde a população consegue ter contato muito claro com a questão do desperdício, porque está ali na rua, a céu aberto. Isso tudo acontece também nos nossos restaurantes, supermercados, no Ceagesp, só que longe da população. Então a feira foi um exercício muito interessante, porque ela nos permite estar em contato direto com o pro-blema”, explica.

A partir dessa quanti-dade de alimentos des-cartados, o estudo também mensurou o montante per-dido em relação aos nutrien-tes presentes nos produtos. Con-cluiu-se que as perdas em itens como proteínas, fibras alimentares, ferro, zinco e vitamina C se-riam suficientes para suprir as necessidades nutricionais de 18.304 pessoas. Além disso, foi possível mensurar os im-pactos ambientais decorrentes desse desperdício em recur-sos como energia, água e área agricultável utilizadas para a produção dos alimentos. Foram quase 1.300 hectares por ano dedicados ao cultivo de frutas, legumes e hortaliças; 994 metros cúbicos anuais de água para a cultura de frutas e folhas; e 66.695 toneladas de CO2 lançadas no ar todo ano, resultado da queima de combustíveis para transporte ao longo de toda a cadeia de comercialização dos produtos. Em outras palavras, são números expressivos que tiveram como destino final o lixo.

Em outro resultado, a pesquisa descobriu que grande parte dos alimentos dispensados nas feiras poderia ser re-aproveitada, servindo inclusive para cumprir finalidades so-ciais, já que essa demanda poderia ser redirecionada para hospitais, escolas, creches e asilos, por exemplo. “Dessa primeira aproximação com o problema, com medidas mui-to pequenas na dinâmica da feira e no processo de higie-nização, a gente conseguiria aproveitar entre 50 e 80% do alimento”, confirma Dias.

Com base nessa possibilidade, o estudo sugeriu possí-veis “rotas tecnológicas” para reaproveitamento dos alimen-tos descartados. “A gente trabalhou com alguns cenários, de

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José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO

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qualificar esse alimento e ver que tipo de técnica ou meto-dologia de conservação se poderia utilizar, no sentido de conservar seu potencial”, aponta a professora.

Com isso, a primeira alternativa proposta, levando em consideração a grande quantidade envolvida, foi de que os alimentos passassem pelo processo de desidratação. Isso, além de conservar suas propriedades, viabilizaria a questão logística e de tempo necessário para a distribuição.

Outros meios possíveis seriam a transformação do ex-cedente em ração para animais; utilizar o processo de bio-digestão, gerando energia tanto elétrica como a gás; e para aquilo que de fato não pôde ser aproveitado antes, o pro-cesso de compostagem. “Fomos buscar estudar soluções que privilegiassem a função primeira do alimento, que é alimentar gente. Com esse ponto de partida, de aproveitar integralmente o alimento, que construímos nossas premis-sas de rotas tecnológicas possíveis para valorizar o que hoje vai 100% para aterros”, destaca Sylmara.

Anos de persistênciaCompletando 20 anos de atuação, a organização não gover-namental Banco de Alimentos foi uma das pioneiras na luta contra o desperdício de comida no Brasil. Em uma de suas principais frentes de atuação, promove ainda hoje a doação de 50 toneladas de alimentos por mês, em perfeitas condi-ções de consumo, mas que seriam descartadas.

Fazendo a ponte entre quem deseja doar e quem precisa receber, a entidade beneficia mais de 20 mil pessoas em 45 instituições cadastradas. Com isso, re-cebem complementação alimentar diária crianças, jovens, adultos e idosos. Entre os doadores estão empresas de todos os portes, assim como sacolões, hortifrútis, mercados municipais, fabricantes e distri-buidores, além de agricultores.

Fundadora da ONG, a economista Luciana Quintão explica que as entidades que recebem as doações compro-vam que os alimentos chegam em boas condições. “Isso em

uma ponta, na outra eu pego para mim a responsabilidade, junto com quem está doando o alimento, e depois a entida-de atesta que recebeu e que está perfeito para o consumo. Assim fechamos o ciclo”.

Segundo ela, apesar de não ter tido problemas com a doação de alimentos em duas décadas, existe uma situação de insegurança jurídica para quem decide doar. “O doador não pode ser criminalizado porque doa, mas se alguém re-clamar, não existe uma lei que descriminalize essa possibili-dade. Esse é o problema, as pessoas preferem muitas vezes não doar do que o risco de sofrer um processo. Ao passo que se houvesse uma lei que descriminalizasse essa questão, as doações subiriam exponencialmente.”

Além da colheita urbana, como é chamada a do-ação em si, a ONG também promove ações na área de educação nutricional. Existe, por exemplo, um convênio com o curso de Nutrição de uma facul-dade da capital paulista, permitindo que mais de trinta estagiárias passem pela entidade todo ano. “Há também uma terceira forma de ação, que eu costumo dizer que é para o Brasil que não passa fome, mas que por ele não fazer nada ou por não agir,

Luciana Quintão, fundadora da ONG Banco de Alimentos

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compactua com o que já existe”, aponta a economista. Fa-zem parte deste escopo canais de comunicação e a promo-ção de oficinas, palestras e workshops.

A atuação do Banco de Alimentos já lhe valeu, ainda, di-versos prêmios e reconhecimento ao longo de sua trajetó-ria. “Essa consciência é um desafio do nosso tempo. Não dá mais pra gente viver sem pensar na sustentabilidade, inclu-sive do próprio ser humano”, conclui Quintão.

Hospitais também se mobilizamA discussão sobre o desperdício de alimentos encontra no setor da saúde um campo peculiar e não menos importante. Isso porque estabelecimentos como hospitais são respon-sáveis por manipular grandes quantidades de alimentos, e lidar bem com essa questão exige mobilização de equipes e domínio de processos.

Exemplo acontece com a rede de hospitais São Camilo, na capital paulista, que vem conseguindo reduzir seus índi-ces de desperdício. Contando com verdadeiras unidades de produção de refeições, atendem não só pacientes e acom-panhantes, mas também médicos e funcionários dos esta-belecimentos. Nessa escala, os desafios são ainda maiores, já que o desperdício pode acontecer em qualquer processo entre o armazenamento e a distribuição. “O desperdício é visto sob diversas óticas, pois além do aspecto financeiro e político-social, a responsabilidade socioambiental é for-temente considerada, tendo em vista a problemática do impacto da geração de resíduos e a necessidade de novas perspectivas de gerenciamento, além da utilização dos re-cursos naturais”, afirma Marisa Resende Coutinho, gerente de Hotelaria da rede.

Nesse processo, são destacados indicadores importan-tes, como o de sobras limpas (alimentos produzidos, mas não distribuídos) e de restos alimentares (sobras deixadas

no prato). Segundo Coutinho, esse monitoramento “permite detectar, por exemplo, falhas na determinação do número de refeições a serem servidas, no superdimensionamento dos per capitas e porções e na aceitação das preparações”. A partir desses resultados são definidas as ações, como re-visão do número de refeições produzidas e a quantidade de alimentos dispensados nas preparações, além da revisão do modo de preparo e apresentação, visando melhorar a acei-tação dos clientes.

A recomendação é que os índices de desperdício fiquem dentro do que a literatura sobre o assunto recomenda: de 2 a 5% para sobra limpa e índice menor que 10% para resto alimentar. “Nas nossas unidades, os indicadores são traba-lhados dentro do preconizado, porém, temos índices bem inferiores. Para sobra limpa, temos uma média de 2,15%, e 1,44% de resto alimentar”, indica a gerente.

Para atingir esses níveis, no entanto, os hospitais contam com o engajamento de todos os funcionários do serviço de Nutrição e também de quem consome as refeições. Para isso, têm sido essenciais as campanhas de conscientização, treinamentos de funcionários nas áreas de produção e revi-são de cardápios e fichas técnicas.

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Doação na palma da mão

Em plena era digital e com as pessoas cada vez mais conectadas, nada mais justo do que as ações contra o des-perdício de alimentos chegarem também aos dispositivos móveis. É isso que faz o aplicati-vo Comida Invisível, cujo objetivo é unir quem quer doar alimentos em bom estado e quem deseja recebê-los.

O conceito por trás da solução nasceu há três anos, focado em pesquisas e estudos com o intuito de tentar compreender a origem do desper-dício e sugerir formas de minimizar o problema. Já o aplicativo surgiu em dezembro de 2017 e funciona por geolocalização, fazendo com que os interessados mante-nham contato entre si, seja para doar ou receber alimentos.

“O desperdício entrou na minha vida em um momento de lazer”, lembra Daniela Alvares Leite, criadora da iniciati-va. Certa vez, ela decidiu buscar frutas maduras para fazer geleia no Ceagesp, em São Paulo, e se deparou com pilhas de alimentos que perderam seu valor comercial apenas por estarem no ponto para consumo. Hoje, ela pode ver concre-tizada a ideia antiga de se combater o desperdício de ali-mentos. “Sabíamos que era possível, com conscientização, informação e comunicação, transformar essa realidade. E o aplicativo foi uma forma encontrada de materializar isso, dando oportunidade de resgatar essa ‘comida invisível’.”

Uma nova versão da ferramenta, inclusive, com melhorias e mais funcionalidades, deve estar pronta em breve – hoje está disponível somente no Google Play, para Android, por exemplo. O fato é que o aplicativo vem cumprindo sua fun-ção, como destaca sua idealizadora. “É muito gratificante ver o alimento atingindo o seu pleno potencial. Desperdício é há-bito e hábito se modifica com educação e conscientização.”

Um nicho contra o desperdícioUnindo o combate ao desperdício de alimentos e uma opor-tunidade de negócios, o Movimento Fruta Imperfeita surgiu no final de 2015, com o objetivo de aproveitar os alimentos de pequenos produtores que, por não atenderem um pa-drão de mercado, acabavam sendo descartados. São frutas e legumes que, mesmo fora das determinações habituais, conservam normalmente suas propriedades nutricionais e sabor, por exemplo, e podem ser comercializados por pre-ços menores que os praticados normalmente.

A ideia surgiu a partir das dificuldades enfrentadas com esse excedente “imperfeito” e a observação de outras inicia-tivas internacionais que já atuavam nesse mercado. Hoje, a empresa trabalha com entregas em domicílio e atende al-guns bairros do município de São Paulo, a partir da assinatu-ra ou venda individual de cestas com os produtos.

O negócio, que leva o “movimento” no nome, aposta no conceito de que é possível “diminuir o desperdício de ali-mentos por meio da disseminação do consumo consciente”. Com isso, afirma já ter conseguido salvar 500 mil toneladas de alimentos ao longo de sua trajetória.

À reportagem, a empresa afirmou que sua atuação “aju-da a quebrar o paradigma de que um alimento tem que ser bonito para ser bom, e por isso grande parte deles é jogada fora. Através da mudança para um consumo mais conscien-te, começamos a entender toda a problemática e todas as etapas que envolvem esse problema”.

PL busca desburocratizar a doação de alimentos

Diante da grande quantidade de alimentos descartados no país e as dificuldades enfrentadas tanto por quem quer doar como pelas iniciativas que arrecadam os produtos a fim de repassá-los, o tema do desperdício voltou à pauta de discus-sões na Câmara dos Deputados, em Brasília, no último dia 7 de novembro.

Na ocasião, foi realizada uma audiência pública para de-bater o projeto de lei 3.070, de 2015, que tramita há algum tempo na Casa e tem por finalidade criar uma política na-cional com regras para destinação adequada de restos de alimentos ou alimentos em condições de uso, visando so-bretudo combater o desperdício.

A proposta, do deputado Givaldo Pereira (PCdoB-ES), al-tera a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305/10) e aguarda análise pelo Plenário da Câmara.

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esquisas realizadas nos Estados Unidos apon-tam que 30% de todos os gastos em saúde da-quele país são puro desperdício. Em âmbito glo-bal, as estimativas de perda de recursos giram em torno de 20 a 40%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, apesar de não existir um dado oficial, os números podem ser si-milares ou ainda maiores – estudos mostram que 20% dos recursos, somente na iniciativa privada, representariam R$ 27 bilhões.

“Um terço do que é gasto é desperdiçado no sistema, porque metade de todos esses tratamen-tos, procedimentos e exames não tem evidência científica. Os desafios são parecidos no mundo todo, seja nos EUA, Brasil ou na Nigéria: médicos

ASSISTÊNCIA À SAÚDE

P

Prestadores, operadoras e médicos custam a montar o quebra-cabeça do desperdício na saúde

não explicam por que prescrevem e assim come-ça o desperdício”, destaca Margaret Mary Wilson, médica cardiologista, geriatra, diretora médica e vice-presidente sênior da UnitedHelthcare Global.

O fato é que as contas não têm fechado há al-gum tempo. De acordo com Filipe Oliveira, dire-tor-presidente da Aliança Hospitalar, é mais fácil enxergar o desperdício quando visto em partes. “A área administrativa custa, em média, de 30 a 50% para um hospital, e ela é uma das responsá-veis pela estabilidade do relacionamento quase sempre desgastado entre a instituição e as opera-doras, pela contenção de gastos com materiais e ainda por manter a ordem, da gestão clínica até o atendimento”, explica.

Uma conta que

não fecha

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O executivo destaca que o fluxo de pacientes,

do modo como se apre-senta, facilita o desperdício

na cadeia. “São realizados exa-mes e procedimentos muitas ve-

zes desnecessários.” Da mesma opinião, Ezekiel Emanuel, presidente e professor do de-partamento de Ética Médica e Política de Saúde da Universidade da Pensilvânia, destaca a prescri-ção de medicamentos e tratamentos nessa lista. “A diferença entre o Brasil e os países desenvol-vidos é que eles já entenderam que era preciso mudar a maneira como as coisas eram feitas para evitar que a população carecesse de atendimen-to. Foi necessária uma reeducação com foco, principalmente, na parte de tratamentos.”

Segundo a OMS, mais de 50% de todos os medicamentos prescritos, dispensados e vendi-dos no mundo são incorretamente indicados. A organização ainda cita que 55% das prescrições de antibióticos seriam cientificamente desneces-sárias. De acordo com Margaret, a explicação para a baixa aderência à prática da medicina baseada em evidências se deve à falta de suporte ao mé-dico que, muitas vezes, não tem tempo de pes-quisar e de acessar dados. “É preciso ajudar os profissionais a tomar decisões. Isso deve ser feito encorajando a formação de equipes para discus-são e implantando sistemas para coleta de dados que poderão ser analisados posteriormente por outros profissionais. Essa troca de experiências é fundamental para derrubar mitos e entender per-cepções de outras pessoas.”

Segundo ela, é possível motivar o médico a pesquisar mais sem interferir na sua indepen-dência, criando protocolos acessíveis e eficientes e dando feedback sobre experiências de outros médicos que conseguiram mais eficiência e resul-tados sem gastar tanto com exames, por exem-plo. "Incluir as pessoas nessas iniciativas as deixa mais dispostas e colaborativas", afirma a executi-va da UnitedHealth.

Nesse cenário, o modelo de pagamento adota-do no Brasil, o fee-for-service, também tem peso

fundamental, porque incentiva o consumo de insumos para fazer a conta crescer, como explica Sidney Klajner, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein. “Há um estímulo ao uso dos insu-mos mais caros, incorporando os desperdícios à conta que é paga pelo plano, e que são tão caros como a ineficiência, a complicação e a readmis-são hospitalar. Isso é o que faz o Brasil ter um dos sistemas de saúde mais caros do mundo. Os cha-mados eventos adversos consomem um montan-te de até R$ 15 bilhões da saúde privada, no país, por ano”, afirma Klajner.

O papel da atenção primária para ajudar a corrigir tais incongruências tem sido fundamen-tal. É o que acredita Robert Jannett, professor da Harvard Medical School e executivo da Cam-bridge Health Alliance. “Em nove anos de conta-to frequente com o sistema de saúde brasileiro, uma das minhas lutas é implantar e fortalecer a atenção primária na saúde suplementar. O moti-vo é que o acompanhamento mais próximo evita gastos elevados, quando os casos evoluem para complicações sérias.”

Para o pesquisador americano, um dos gran-des desafios é mudar a cultura. "O modelo tradi-cional daqui é focado no individual e passivo, em que os médicos esperam sentados a chegada dos pacientes, e atuam voltados para o curativo com tratamento episódico. O que funciona muito bem para mudar essa cultura é o acompanhamento, a coleta de dados e o estudo de casos clínicos, pois quando é feito um rastreamento da evolução dos pacientes e dos casos, é possível implementar es-tratégias e planejar o uso dos recursos.”

De acordo com Jannett, os dados obtidos na atenção primária devem ser compartilhados com as demais unidades de saúde por uma questão de responsabilidade populacional. “Quando as populações são tratadas e acompanha-das, milhares de vidas são salvas e há melhoria de desempenho dos sistemas. Se não reformar-mos hoje, não teremos futu-ro”, alerta.

Filipe Oliveira, diretor-presidente

da Aliança Hospitalar

Ezekiel Emanuel, presidente e professor de Ética Médica e Política de Saúde da Universidade da Pensilvânia

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Um ponto de convergência do setor é o ques-tionamento sobre a real necessidade de tantas escolas médicas e como os futuros profissionais contribuirão para conter o excesso de gastos. A visão pessimista tem fundamento. Hoje, o Brasil conta com 329 faculdades de medicina, mais do que o triplo de vinte anos atrás, quando havia apenas 85. Esse número coloca o país como vice- campeão mundial em número de faculdades de medicina, perdendo apenas para a Índia, com 400 faculdades para uma população seis vezes maior do que a nossa. Na China, há 150 faculda-des para 1,3 bilhão de habitantes e, nos Estados Unidos, 131 para 300 milhões. “O grande proble-ma do desperdício no Brasil é a formação. Vemos médicos graduados em instituições de renome que não conseguem ao menos fazer uma análi-se de paciente sem solicitar exames complexos e caros. Ninguém discute custos dentro das escolas médicas, apenas ensinam os alunos que para um bom diagnóstico são necessários check-ups com-pletos”, critica Braulio Luna Filho, professor livre- docente em cardiologia da Escola Paulista de Me-dicina, da Universidade Federal de São Paulo.

Para Evandro Tinoco, diretor clínico do Hospi-tal Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, a caixa-preta da formação médica precisa ser aberta no Brasil. “Em geral as escolas não formam um bom pro-fissional, são apenas caça-níqueis de alunos que, por sua vez, visam ao lucro ao término da facul-dade. Um recém-formado, hoje, ganha valores que não ganhávamos nem com anos de prática. A medicina deixou de ser uma profissão humanitá-ria para se tornar um ofício de luxo e ostentação.”

Uma das apostas para equalizar as contas é o investimento nas tecnologias, tanto para gestão quanto para consultas, exames e tratamentos. Vivien Rosso, CEO do A.C. Camargo Cancer Cen-ter, defende a informatização do sistema como prioridade na agenda dos prestadores e opera-doras. “Um dado que assusta são os desperdícios com geração de papel e excesso de conferências manuais. Poderíamos aprender com os bancos e

as operadoras, juntas, poderiam prover sistemas informatizados aos consultórios médicos. Além da economia em todas as áreas administrativas e na repetição de exames, poderíamos ter, de fato, a informação de saúde das pessoas acessível, e passaríamos a fo-car no cuidado integrado.”

Essa eficácia já vem sendo testada em outros lugares do mundo. Manuel Grandal, gerente ad-junto de Assistência de Cuidados Hospitalares e coordenador do Grupo de Trabalho de Telemedi-cina de Madri, apresentou, durante o 6º Congres-so da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), um modelo em telemedicina que apri-morou a eficácia dos processos de gestão, na Es-panha. De acordo com ele, a tecnologia tende a melhorar a eficiência e diminuir os desperdícios, mas é preciso ter a consciência de que o custo ini-cial é caro e os retornos aparecem a longo prazo.

“Em 2007, olhamos para o nosso sistema de saúde e chegamos à conclusão de que não pode-ríamos nos permitir gastar mais recursos que não fossem diretamente aplicados no bem-estar dos pacientes. Foi então que decidimos implementar a telemedicina, iniciando por informatização de documentos e interconsultas, uma espécie de atendimento entre pacientes e profissio-nais de saúde a distância, mas com atendimentos presenciais mantidos em casos de real necessida-

Tecnologia: aliada ou vilã?

Ensino focado

na realidade

Evandro Tinoco, diretor clínico do Hospital

Pró-Cardíaco

Braulio Luna Filho, professor livre-docente em cardiologia da Escola Paulista de Medicina

Vivien Rosso, CEO do A.C. Camargo Cancer Center

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ASSISTÊNCIA À SAÚDE

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de”, diz. A experiência acabou se tornando um grande sistema de comunicação digital, que fun-ciona entre hospitais, médicos e pacientes. “Hoje, os profissionais de especialidades fazem, inclusi-ve, reuniões de avaliação de casos entre hospitais de outras regiões de Madri. Os pacientes, por ou-tro lado, saem mais satisfeitos, porque são bene-ficiados com suas fichas médicas digitais e dispo-níveis na palma da mão, em seus smartphones.”

No Brasil, a implantação de um sistema como esse ainda precisa enfrentar algumas barreiras corporativistas e jurídicas. É o que destaca o Minis-tro da Saúde, Gilberto Occhi. “Temos um montan-te de R$ 500 bilhões em investimentos anuais na saúde, tanto privada como pública. Valores dessa natureza não podem resultar em ineficiência. A in-formatização e a entrada de tecnologias no setor trazem um ganho imenso, mas de nada valerão se não for respeitada uma legislação para proteção de dados. Gostaríamos que os setores privado e público caminhassem juntos nessa jornada.”

De olho em 2019

A troca da faixa presidencial, aguardada para 1º de janeiro de 2019, traz oportunidades para o se-tor. Esta é a opinião de Mark Britnell, presidente da KPMG Global Health. Segundo ele, será impos-sível entregar saúde para todos, como garante a Constituição brasileira, sem que se fomente as parcerias público-privadas. “A que ponto e de que maneira a saúde tem sido entregue na ponta fi-nal da corda? Além disso, temos aqui o segundo maior mercado segurado do mundo. O país conta com um orçamento congelado até 2022, portan-to, será impossível desenvolver o sistema sem as parcerias”.

Os investimentos internos, segundo Britnell, tendem a crescer caso haja uma sinalização do presidente eleito. “Pude seguir as eleições brasi-leiras bem de perto e notei o êxtase das bolsas de valores e do mercado a cada pesquisa que apon-tava Bolsonaro como futuro presidente. No entan-to, percebi que ele ainda não tem políticas muito claras para o setor, por isso, os investidores e os gestores teriam oportunidades de aproximação para transformar a saúde ofertada atualmente”.

Para ele, saem na frente investidores da área educacional na saúde, empresas que ofertam

tecnologia médica e digitaliza-ção de serviços. “Agora é a hora do Brasil fornecer certeza nos financia-mentos futuros, transparecer confiança, oferecer clareza na direção futura das reformas, ser into-lerante com a corrupção e buscar modelos para uma saúde sustentável.” (por Eleni Trindade e Rebeca Salgado)

Manuel Grandal, gerente adjunto de Assistência de Cuidados Hospitalares e coordenador do Grupo de Trabalho de Telemedicina de Madri

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ocê aceitaria ser atendido por um médico autista, em uma situação de emergência? E se fosse o responsável por contratar esse médico, o faria? Essa é a controversa decisão abordada na série dramática “The Good Doctor”, que tem sua primeira temporada distribuída exclusivamente pelo serviço de streaming GloboPlay.

Dirigida por David Shore, a produção se inicia apresen-tando o recém-formado Shaun Murphy (Freddie Highmore) que, com autismo e savantismo, enfrenta dilemas para sua

RESENHA

Fora do normal

V

Série retrata rotina de médico autista durante sua residência

POR REBECA SALGADO

contratação como cirurgião médico residente no prestigioso Hospital San Jose St. Bonaventure.

Duas cenas contrastam na tela e expõem ao espectador a complexidade do tema. Uma reunião para debater a ad-missão do médico versus um acidente durante a passagem de Shaun pelo aeroporto, a caminho do futuro emprego. Com gráficos do corpo humano e lembranças de trechos de enormes livros, a série reproduz o que se passa na mente do jovem enquanto tenta desesperadamente salvar uma

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Ficha TécnicaDrama, Médico16 anosDireção: David ShoreNacionalidade: EUA

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criança já quase sem vida. Enquanto isso, o presidente do hospital, Aaron Glassman (Richard Schiff), tenta incansavel-mente comprovar a inteligência e a estabilidade do médico na frente de seus conselheiros.

O caminho das duas histórias se cruza quando Murphy, no auge de sua destreza, realiza um procedimento médico improvisado com materiais disponíveis no saguão do aero-porto, fazendo com que a criança consiga esperar a chegada de uma ambulância, que a encaminha justamente para St Bonaventure, onde todos o esperam para uma entrevista.

Os olhares de desconfiança que cercam o jovem médico remetem à pergunta feita na introdução desse texto. Os ci-rurgiões-chefes e o corpo jurídico do hospital divergem do presidente e da gestora de recursos humanos na contrata-ção. Alguns acreditam na sua capacidade intelectual, mas duvidam de sua estabilidade emocional e social no trato com os pacientes e durante procedimentos de risco, como uma cirurgia.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) engloba diferen-tes síndromes, marcadas por perturbações do desenvolvi-mento neurológico com três características fundamentais que podem manifestar-se em conjunto, ou isoladamente. Na maior parte das vezes, os autistas apresentam dificuldade de comunicação por deficiência no domínio da linguagem e no uso da imaginação, dificuldade de socialização e padrão de comportamento restritivo e repetitivo. Também conhe-cido como Desordens do Espectro Autista (DEA ou ASD, em inglês), o transtorno é chamado de espectro porque envolve situações e apresentações diferentes umas das outras, com gradações que vão de leve à grave. Já a mente brilhante de Murphy pode ser explicada pela síndrome de Savant, que faz com que o indivíduo adquira inúmeros talentos graças à sua incrível capacidade de memorização.

As duas desordens que acometem o personagem prin-cipal são exploradas e explicadas de maneira minuciosa na primeira temporada da série. O ator, por sua vez, cativa e sensibiliza o telespectador, movido pelo roteiro bem de-senhado que sugere uma infância lotada de preconceitos e violência familiar. Com a ausência da mãe, o único consolo que sobra para Shaun Murphy é o irmão mais novo, Steve Murphy (Dylan Kingwell), responsável pelo incentivo a seus sonhos. Na adolescência, ele conhece o médico Glasman e sente o chamado para a medicina.

Aos mais sensíveis, preparem os lenços. “The Good Doctor” expõe todas as dificuldades da pessoa com autis-mo e os estigmas que a cercam. As cenas podem levar às lágrimas, e a uma profunda reflexão sobre como lidamos, enquanto seres humanos inseridos numa sociedade que insiste em impor padrões de normalidade, com as diferen- D

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o

ças. Ao mesmo tempo que desperta um olhar paternal do telespectador, em seus momentos de fragilidade, Murphy mostra-se independente e muito bem resolvido com o pas-sado, revelando sabedoria, sinceridade e rara honestidade com todos a sua volta, inclusive com os pacientes – o que pode render também boas risadas. A classificação etária, de 16 anos, deve-se às cenas mais fortes que retratam as cirur-gias em sua face mais real.

Filmada em Vancouver, no Canadá, a série estreou no ex-terior em setembro de 2017, batendo recordes de audiência. O terceiro episódio da primeira temporada alcançou a mar-ca de programa mais visto da televisão americana, ultrapas-sando a aclamada “The Big Bang Theory”. O já conhecido interesse do público por séries que abordam temas médicos se soma ao talento do diretor, o mesmo de "House", para ex-plicar o estrondoso sucesso. Outro ingrediente, a cereja do bolo, é a atuação de Freddie Highmore, indicado ao Globo de Ouro na categoria Melhor Ator em Série Dramática, e ao Teen Choice Awards, na mesma categoria. Embora jovem, o londrino Highmore já atuou em grandes papéis, e ao lado de estrelas de Hollywood, como Johnny Depp, nos “Em Busca da Terra do Nunca” (2004) e “A Fantástica Fábrica de Choco-late” (2005), e de Vera Farmiga, na série “Bates Motel” (2013). Além disso, “The Good Doctor” levou o prêmio da ASCAP Screen Music Awards na categoria de melhor série de TV, o Humanitas Prize na categoria 60 Minutos, o Banff Rockie Awards como melhor série de melodrama com roteiro, e o The Hollywood Reporter, no Prêmio de Impacto.

A primeira temporada completa, com 18 episódios, está dispo-nível on-line na GloboPlay. A segunda temporada, que estreou em outubro nos Estados Unidos, ainda não tem previsão de chegada ao Brasil.

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podemos nos antecipar em nenhuma ação mais estratégica. Hoje, mediante todo o panorama brasileiro, a melhor alter-nativa é o otimismo cauteloso.

Na saúde suplementar, que atende 47,5 milhões de brasi-leiros, seguiremos na luta contra o desperdício em todos os pontos cruciais da cadeia. Para lutar, precisamos dar ainda mais relevância aos debates sobre os impactos do overuse e do underuse – que são a superutilização e a subutilização de exames de diagnóstico – questões que têm interferência direta na sustentabilidade do sistema.

É indispensável que consigamos unificar ainda mais to-dos os envolvidos no segmento, incluindo a classe médica. São os médicos os grandes atores dos pedidos de exame e, também, os grandes responsáveis por garantir que os proto-colos estejam sendo seguidos para uma medicina preventi-va de qualidade.

Quando o overuse ganha corpo, planos de saúde são prejudicados pela elevação do custo por beneficiário, ao mesmo tempo que pacientes são expostos a exames des-necessários. Quando o underuse se instala, as duas pontas voltam a perder: a prevenção fica carente; o paciente, pouco protegido; e o plano de saúde mais uma vez se depara com os altos custos de tratamentos que poderiam ser evitados.

É para garantir que as solicitações de exames sejam fei-tas com sabedoria que a Abim (American Board of Internal Medicine) criou a Choosing Wisely, uma iniciativa que visa

POR PRISCILLA FRANKLIM MARTINS

ARTIGO

hegando ao final de mais um ano, o Brasil vivencia a ex-pectativa de renovação em diversos aspectos. Apesar dessa virada aguardada para o início de 2019, muitos dos desa-fios do setor de saúde permanecem como reflexos do que gerimos ao longo das últimas décadas, que promoveram inúmeras inovações tecnológicas capazes de revolucionar soluções e processos e, também, mudanças bastante signi-ficativas no perfil epidemiológico das comunidades.

Sem sombra de dúvidas, o cenário que foi desenhado após as eleições presidenciais nos deixa com um misto de sentimentos. Se por um lado acreditamos que as mudanças que estão por vir, somadas à renovação do quadro político brasileiro – assim que o novo presidente eleito assumir seu cargo, em 1º de janeiro –, podem gerar um ambiente positi-vo; por outro, seguimos com a cautela de quem ainda viven-cia as consequências de uma vasta crise e se resguarda de possíveis alterações bruscas de rumo.

Sabemos que a mudança política que encaramos de quatro em quatro anos influencia diretamente muitos se-tores que regem a cadeia de saúde. Essa influência atinge tanto as agências reguladoras – ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e Anvisa (Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária) – quanto o Ministério da Saúde, que passa por uma mudança de líder e de executivos que, muitas vezes, chegam com ideais diferentes daqueles que estavam sendo aplicados. Não sabemos como vai ser e, por conta disso, não

Com otimismo cauteloso,

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laboradores. Com tantas dúvidas e interpretações possíveis geradas pelo texto da legislação, os desafios são enormes e serão ainda maiores a cada passo dado rumo à adaptação. O que não poderemos é adiar essa mudança, pois em feve-reiro de 2020 todos nós estaremos sujeitos às penalidades pesadas, que acarretarão ainda mais prejuízos a um sistema já instável.

Paralelamente a isso, é preciso garantir o investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Com a inteligên-cia artificial cada vez mais evoluída, o sistema de saúde ga-nha em otimização de recursos, contribuindo para a inces-sante busca pela sustentabilidade. O paciente ganha com a garantia de resultados mais assertivos aos seus exames de diagnóstico. E o Brasil ganha em eficiência e reconhecimen-to por oferecer, de forma universal e indiscriminada, uma saúde de qualidade a todos os seus cidadãos.

*Priscilla Franklim Martins é especialista em comunicação e marketing em mercados internacionais e diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

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promover a comunicação entre médicos e pacientes, favo-recendo a tomada de decisão por discutir as intervenções com clareza, além de incentivar escolhas baseadas em evi-dências, não duplicidade de exames, ausência de danos e verificação da real necessidade daquele procedimento.

Para que todos os envolvidos na cadeia de saúde este-jam alinhados com esse desafio que precisa ser vencido, temos de rever também a necessidade de investimentos em educação continuada para a criação de gestores eficazes, capazes de transformar o atual sistema de saúde, tanto na esfera particular quanto na pública, visto que elas são com-plementares e indissociáveis.

O fator humano não pode ser um empecilho ao desen-volvimento, então precisamos encarar que a capacitação profissional é um dos grandes desafios da saúde em 2019. O sistema de educação em saúde precisa formar gestores com conhecimento amplo de todo o escopo do setor para garantir que nenhuma ponta seja descoberta. Precisamos alavancar a união do segmento para que o paciente nunca seja o principal prejudicado. Equilíbrio e conhecimento se-rão as palavras-chave para a tão almejada sustentabilidade.

E esses gestores que assumirão as competências neces-sárias para que o Brasil seja capaz de garantir uma saúde efi-caz e eficiente para toda a sua população também terão de lidar com uma novidade que está movimentando todas as empresas atuantes no setor. A Lei Geral de Proteção de Da-dos foi sancionada pelo presidente Michel Temer e o ano de 2019 será crucial para que todas as empresas brasileiras in-vistam tempo e recursos para modificar a forma como lidam com os dados pessoais, tanto de pacientes quanto de co-

São os médicos os grandes

atores dos pedidos de

exame e, também,

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Temos de rever a

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CHARGE

A Revista FEHOESP 360 é uma publicação da FEHOESP, SINDHOSP,

SINDHOSPRU, SINDJUNDIAÍ, SINDMOGI-DASCRUZES, SINDRIBEIRÃO, SINDSUZANO e IEPAS

Tiragem: 13.000 exemplares

Periodicidade: mensal

Correspondência: Rua 24 de Maio, 208, 9º andar - República - São Paulo - SP - [email protected]

Coordenadora de Comunicação Aline Moura

Editora responsávelFabiane de Sá (MTB 27806)

RedaçãoEleni Trindade, Rebeca Salgado e Ricardo Balego

Projeto gráfico/diagramação - Thiago Alexandre

Fotografia - Leandro Godoi

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Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista.

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Diretores Suplentes - Elucir Gir, Hugo Ale-xandre Zanchetta Buani, Carlos Eduardo Lich-tenberger, Armando de Domenico Junior, Lui-za Watanabe Dal Ben, Jorge Eid Filho e Michel Toufik Awad

Conselheiros Fiscais Efetivos - Antonio Car-los de Carvalho, Ricardo Nascimento Teixeira Mendes e João Paulo Bampa da Silveira

Conselheiros Fiscais Suplentes - Maria He-lena Cerávolo Lemos, Fernando Henriques Pin-to Júnior e Marcelo Rodrigo Aparecido Netto

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