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Edição 2015
cultura, diversidade e desenvolvimento
disciplina 11
Modelos de financiamento à Cultura
Elaboração e texto Tatiana Richard Colaboração Laura Chicayban
Modelos de fi nanciamento à
Cultura
Tatiana RichardLaura Chicayban
Ao fi nal da disciplina, você deverá ser capaz de:
• Conhecer as informações básicas sobre os mecanismos disponíveis de fi nanciamento à Cultura, fornecedoras de subsídios que permitam aprofundar conhecimentos.
Objetivo
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Quando tratamos do tema fi nanciamento à Cultura, a primeira questão que se apresenta é
o montante de recursos fi nanceiros disponíveis por determinado mecanismo e se os mesmos
são sufi cientes para dar conta da demanda do setor. O que seria preocupação de segunda
instância para quem possui um projeto cultural precisando de fi nanciamento, algo de caráter
particular, sob o ponto de vista da gestão, porém, é questão primordial, merecendo refl exão
e estudo.
Pensar a Cultura como gestor é se debruçar sobre as demandas do setor que não se
restringem a suporte de fi nanciamento, ações regionais ou projetos pontuais. Aqui as
preocupações são de caráter mais abrangente, se ampliam, partem do campo institucional
para refl etir sobre o papel da Cultura no desenvolvimento econômico local.
Segundo esse entendimento, a consideração primeira sobre quantidade de recursos
fi nanceiros deve dar lugar ao conhecimento da natureza da ação cultural – observadas suas
dimensões simbólica, econômica e cidadã – de planejamento. Entender de que maneira aquela
ação a ser desenvolvida coopera com as demais ações que vêm sendo empreendidas na região
alvo, quanto de mão de obra é movimentada na ação e de que magnitude econômica será esse
impacto e, fi nalmente, em que medida a ação pode cooperar para o crescimento da cidadania
dos sujeitos atingidos. Conhecendo o “corpo” do projeto, parte-se para o estudo das diversas
modalidades disponíveis de patrocínio, invertendo a máxima de “quais recursos existem para
que se possa desenhar a minha ação” para “como e quais recursos são necessários para a
ação que desenvolvo e os objetivos que tenho em vista”.
Em outras palavras, é preciso, anteriormente à pesquisa das modalidades de patrocínio
existentes, estruturar as atividades culturais a serem desenvolvidas, já que cada receita e
respectiva forma de aplicação têm objetivos e direcionamentos específi cos; um fi nanciamento
para compra de acervo não será direcionado a projeto de educação musical, da mesma
forma que uma linha de crédito para modernização de equipamentos não será destinada à
realização de evento.
Na sequência, apresentamos os pontos relativos ao tema desta matéria:
• Um breve panorama do fi nanciamento à cultura.
Modelos de fi nanciamento à Cultura
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• Ferramentas organizacionais que auxiliam no planejamento da ação
cultural.
• Principais modalidades de fi nanciamento públicas e privadas.
Um breve panorama do fi nanciamento à Cultura ou Para entender de onde vêm os recursos para os projetos culturais
A destinação de recursos fi nanceiros para a cultura no Brasil foi impulsionada pelo surgimento
das Leis de Incentivo, iniciando-se com o Governo Federal por meio da Lei Nº 7.505/1986,
conhecida como “Lei Sarney”, que concedia abatimento no Imposto de Renda a pessoa física
ou jurídica em troca de investimento em projetos culturais. Se a Lei representou um avanço
em termos de investimentos que até então só eram direcionados, entre outras áreas, para
agronegócio, indústrias têxteis e de eletrônicos, por outro lado apresentava problemas como
ausência de avaliação prévia de orçamento, de que só se tinha conhecimento na prestação
de contas, ou falta de obrigatoriedade de acesso público ao produto das propostas. De toda
forma, foi um primeiro grande passo; representou o start de que precisava a Cultura.
Em 1990, foram suspensos todos os mecanismos de patrocínio cultural pelo governo
federal e só retomados em 1991, com a Lei Rouanet (Lei nº 8.313/91), uma reformulação da
Lei Sarney que recebeu notórias melhorias, se estendendo, a partir de então, para estados
e municípios. Embora possuam regulamentações próprias, estados e municípios, em geral,
têm leis de incentivo com o mesmo princípio, a concessão de benefício fi scal de impostos a
contribuintes, para patrocínio a projetos inscritos, posteriormente avaliados pelas secretarias
que baseiam sua análise nas exigências dos decretos e editais regulamentadores.
São as seguintes as fontes de recursos das leis de incentivo, conforme a esfera
governamental: a Lei Rouanet concede benefício fi scal por intermédio do Imposto de Renda
(IR), podendo ser benefi ciárias pessoas físicas e jurídicas; as leis estaduais trabalham com o
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), portanto restritas a contribuintes
pessoas jurídicas. Já nas leis municipais podem-se encontrar modelos que trabalham com
o Imposto sobre Serviços (ISS), restrito a contribuintes pessoas jurídicas, e com o Imposto
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Territorial Urbano (IPTU), de que podem fazer uso pessoas físicas e jurídicas. Alguns estados e
municípios buscaram outras maneiras de patrocínio a projetos culturais.
Além do benefício fi scal, esses estados e municípios implementaram fundos de cultura
tendo como fonte de receita principal – quando não única – recursos do Tesouro. Por meio
dos fundos, projetos de importância para a coletividade, que resguardam, por vezes, tradições
e valores populares, têm oportunidade de realização. Essa modalidade pode ser encontrada,
dentre outros estados, no Acre, em Alagoas, na Bahia, em Goiás, Minas Gerais, Pernambuco,
no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Os fundos de cultura têm como prática a distribuição de
recursos a fundo perdido e, prioritariamente, por meio de editais de Fomento.
A percepção da importância e abrangência da cultura motiva, cada vez mais, ações que
busquem enriquecer os mecanismos que permitam manter tradições e motivar o aparecimento
de manifestações que, com certeza, funcionarão como rastilho para outras e outras. Com as
ações para implementação do Sistema Nacional de Cultura, que orienta a implementação dos
sistemas estaduais e municipais, novas modalidades de fi nanciamento vêm sendo agregadas
à Lei de Incentivo e aos editais de Fomento, não só pela necessidade de ampliar o montante
de investimento destinado ao setor, mas também com o objetivo de responder de forma mais
efi ciente à diversifi cação da atividade.
Fator relativamente novo e que integra essa pauta é o entendimento da Cultura como
colaboradora para a economia local, já que em nível mundial o setor vem desempenhando papel
que cresce em importância. Isso signifi ca que cada vez mais se consome, mais se investe e se
amplia a produção cultural. Como consequência desse fenômeno, é grande a atenção voltada
para a cultura no campo da criatividade e de sua capacidade de gerar volume signifi cativo de
emprego e renda. Ao se inserir como setor produtivo, passa a exigir relacionamento diferente
do estado, já que trabalha com a perspectiva de criar condições favoráveis ao incremento do
desenvolvimento econômico do mesmo.
Para isso novas receitas, além do benefício fi scal e do tesouro, e novas modalidades, além
das leis de Incentivo e dos editais de Fomento, têm sido identifi cadas para compor programas
de fomento mais efi cientes, a exemplo da recente Lei da Cultura nº 7.035/15 sancionada pelo
governador do estado do Rio de Janeiro e em processo de regulamentação.
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A Lei nº 7035/15 institui o Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura com a
fi nalidade de mobilizar e aplicar recursos para o desenvolvimento cultural do estado do Rio de
Janeiro, tendo como referências o Plano Estadual de Cultura e o Plano Plurianual.
Os recursos do Programa deverão ser aplicados para apoiar projetos, ações e programas
que visem a ampliar o acesso a bens e serviços artísticos e culturais; incentivar em todo o
estado a produção e difusão de bens e serviços culturais; estimular o desenvolvimento cultural
em todas as regiões do estado; garantir a preservação, difusão, conservação e recuperação
do patrimônio cultural, material e imaterial do estado do Rio de Janeiro; propiciar a formação
e aperfeiçoamento de agentes culturais e gestores públicos atuantes em âmbito estadual;
fomentar a pesquisa e a inovação nos diversos setores da Cultura; promover modelos
sustentáveis de gestão cultural; valorizar e difundir o conjunto das manifestações artístico-
culturais do estado do Rio de Janeiro; premiar e incentivar a excelência artística; estimular a
economia da cultura e as indústrias culturais e estimular iniciativas de acessibilidade cultural.
Para cumprir seus os objetivos, prevê como novas receitas recursos oriundos do Fundo
de Desenvolvimento Econômico e Social – Fundes, desoneração fi scal, doações, contribuições
ou legados de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras;
recursos provenientes de acordos, convênios ou contratos celebrados com entidades,
organismos ou empresas, públicos ou privados, nacionais e internacionais, e
recursos provenientes de operações de crédito, internas e externas, fi rmadas pelo estado.
Já como modalidades de investimento, operações de empréstimos reembolsáveis para
empreendimentos culturais, podendo ser considerada, no todo ou em parte, a operação relativa
à equalização de encargos fi nanceiros, não reembolsáveis; e operações de investimentos
retornáveis em empreendimento culturais.
Ferramentas organizacionais que auxiliam no planejamento da ação cultural ou a profi ssionalização necessária à produção cultural
Para que a produção cultural possa melhor utilizar as modalidades de fi nanciamento, deve-
se fazer uso de ferramentas gerenciais e de planejamento disponíveis e que podem colaborar
para uma visão mais ampliada e estratégica de seus negócios ou atividades.
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Instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa – Sebrae
(http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae), incubadoras como a Genesis (http://www.
genesis.puc-rio.br) e Rio Criativo (http://www.cultura.rj.gov.br/projeto/incubadoras-rio-criativo)
oferecem hoje formação específi ca nesse campo, com o objetivo de desenvolver o ambiente
empresarial e institucional da Cultura, não se restringindo às atividades que tenham vínculo
com a indústria, mesmo que essas organizações tenham particularidades em relação aos
demais setores produtivos.
Faz parte desse planejamento a defi nição da missão e valores das organizações, das
atividades a serem desenvolvidas, dos recursos fi nanceiros, de pessoal e estrutura e, ainda, a
identifi cação de parceiros, sejam eles públicos ou privados, fi nanceiros ou não.
É importante que o gestor tenha conhecimento das organizações que compõem o setor
cultural e suas estruturas, que saiba a que órgãos e mecanismos recorrer, tendo em vista
a ação a ser empreendida, com o que pretende realizar. Dirigir-se às pessoas corretas e
aos órgãos competentes agiliza o trabalho e permite que a tarefa se faça de maneira mais
integrada. Observe a seguir, alguns órgãos que compõem o Ministério da Cultura.
Ministério da Cultura
Composto por órgãos colegiados – Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), Comissão
Nacional de Incentivo a Cultura (CNIC) e Comissão do Fundo Nacional de Cultura (CFNC) – conta
com sete entidades vinculadas, sendo três autarquias e quatro fundações que abrangem
campos de atuação determinados. São elas: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan), Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Agência Nacional do Cinema (Ancine),
Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), Fundação Cultural Palmares (FCP), Fundação Nacional
das Artes (Funarte) e Fundação Biblioteca Nacional (FBN). Todas possuem fi nanciamentos
específi cos para suas respectivas áreas. Para conhecer cada um desses órgãos, acesse http://
www.cultura.gov.br.
Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro
A Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro é organizada em seis superintendências,
além do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural e da RioCriativo. São elas: Superintendência
da Leitura e do Conhecimento, Superintendência de Artes, Superintendência de Cultura e
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Território, Superintendência de Museus, Superintendência de Desenvolvimento Audiovisual e
Superintendência da Lei de Incentivo. Em matéria anterior tivemos oportunidade de tratar de
forma detalhada as atividades da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro.
Principais modalidades de fi nanciamento ou Quais são os mecanismos que podem viabilizar a ação cultural
Apresentamos aqui os principais mecanismos de fomento no âmbito federal, estadual do
Rio de Janeiro e outros privados e colaborativos.
Leis de Incentivo
Ministério da Cultura
Lei de Incentivo à Cultura, Lei nº 8.313 de 1991 (Lei Rouanet) – concede incentivo fi scal a
título de desconto no Imposto de Renda (IR) a empresas privadas ou contribuintes individuais
para patrocínio a projetos culturais. Para solicitar recursos de patrocínio pela lei federal, deve-
se cadastrar a proposta no sistema de inscrição do Ministério, preenchendo o formulário
básico. O Sistema de Apoio às Leis de Incentivo do Ministério da Cultura – SALIC NET, disponível
em http://sistemas.cultura.gov.br/salicnet/Salicnet/Salicnet.php, permite verifi car as empresas
patrocinadoras cadastradas, bem como consultar investimentos realizados por ano e região.
Todas as áreas e segmentos da cultura são admitidos pela Lei.
No momento, a Lei Federal vem sendo reformulada, por intermédio do Projeto de
Lei 6722/2010. Para leitura do documento e acompanhamento da tramitação, deve-se
acompanhar o site do Ministério da Cultura.
Lei do Audiovisual, Lei nº 8685 de 1993 – concede incentivos fi scais tanto a pessoas
físicas quanto a pessoas jurídicas que adquirem os chamados Certifi cados de Investimento
Audiovisual (títulos representativos de cotas de participação em obras cinematográfi cas). A Lei
do Audiovisual permite que o investimento dedutível do IR alcance 100% (limitado a 4% do IR
devido, para pessoas jurídicas).
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Tanto a Lei Rouanet quanto a Lei do Audiovisual possibilitaram maior investimento em
produção e coprodução de obras cinematográfi cas e audiovisuais, bem como na infraestrutura
de produção e exibição.
Para informação a respeito do investimento por meio do Audiovisual deve-se consultar
a Agência Nacional do Cinema – Ancine e suas regulamentações, disponível em: http://www.
ancine.gov.br.
Lei de Incentivo à Cultura no 1.954/1992, do Governo do Estado do Rio de Janeiro – a Lei
de Incentivo à Cultura do Governo do Estado é tratada em disciplina específi ca deste curso.
Fundo de Cultura
Os recursos dos fundos de cultura são distribuídos prioritariamente por intermédio de
editais de Fomento, mas podem também ser demandados por meio de solicitações para
celebrações de convênios e contratos de repasse.
- Fundo Nacional de Cultura (FNC)
O Fundo Nacional da Cultura (FNC), criado pela Lei 8.313/1991, a Lei Rouanet – deve
garantir a oferta de apoios fi nanceiros em linhas de incentivo que se comprometam com
descentralização regional, setorial e estética, abarcando as mais variadas expressões culturais
brasileiras, potencializando toda a rede produtiva e promovendo liberdade de criação.
O orçamento do FNC é composto por recursos provenientes do Tesouro Nacional, de
doações e legados, além da arrecadação de concursos e loterias federais dentre outros, e é
direcionado a projetos com menos possibilidade de realização com recursos próprios ou a
partir da captação de recursos do mercado. O apoio se dá por meio de convênios, prêmios
e subsídios para intercâmbios culturais ou bolsas. Conta com a realização de seleção pública
com comissões representativas, independentes e específi cas, habilitadas a avaliar o mérito
artístico-cultural e o caráter multiplicador das propostas concorrentes.
Seguindo os preceitos do Sistema Nacional de Cultura (SNC), que pressupõe a ação
conjunta dos entes da federação (governos federal, estadual e municipal), o Fundo Nacional
da Cultura deverá ainda operar ações descentralizadas com estados e municípios, de modo a
dar mais potência aos resultados com a articulação dos investimentos, sendo, portanto, uma
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forma de fi nanciamento que atende não só à produção cultural independente, como também
pode ser utilizado pelo poder público.
Todas as orientações sobre a apresentação de projetos, critérios de seleção e documentos
a serem apresentados podem ser obtidas no Portal de Convênios (Siconv). www.convenios.
gov.br/portal.
- Fundo Estadual de Cultura do Rio de Janeiro
O Fundo Estadual de Cultura, criado pela Lei nº 2927, de 30 de abril de 1998, e reformulado
pela Lei nº 7.035/15, entrará em operação a partir de sua regulamentação, tendo como objetivo
o fi nanciamento da política pública estadual de cultura.
O orçamento do Fundo Estadual de Cultura terá como receitas dotações consignadas na Lei
Orçamentária Anual e seus créditos adicionais; recursos provenientes de transferências previstas
em lei e do Fundo Nacional de Cultura; recursos provenientes de subvenções, auxílios, acordos,
convênios, contratos, doações, contribuições ou legados de pessoas físicas ou jurídicas, públicas
ou privadas, nacionais ou estrangeiras; doações de empresas contribuintes do Imposto de
Circulação de Mercadorias e Serviços a título de benefício fi scal; resultado fi nanceiro de eventos
e promoções realizados com o objetivo de angariar recursos; totalidade da receita líquida de
loteria estadual específi ca para a cultura; saldos não utilizados na execução de projetos culturais
benefi ciados pelo mecanismo do incentivo fi scal estadual ou editais de fomento da Secretaria de
Estado de Cultura; devolução de recursos determinados pelo não cumprimento ou desaprovação
de contas de projetos culturais benefi ciados pelos mecanismos de fomento do estado para a
Cultura; produto de rendimento de aplicações fi nanceiras e retorno dos resultados econômicos
provenientes de investimentos; reembolso das operações de empréstimos por ele realizados;
recursos provenientes de operações de crédito, internas e externas, fi rmadas pelo estado e
destinadas ao Fundo; receitas decorrentes de termos de concessão, cessão e permissão de uso
relativos aos equipamentos culturais do estado sob gestão direta da SEC; receitas de multas
decorrentes de infrações contra o patrimônio cultural saldo de exercícios anteriores apurados
no balanço anual, objeto de transferência de crédito para o exercício seguinte.
O fi nanciamento com recursos do Fundo Estadual de Cultura será realizado prioritariamente
por meio de Editais Públicos, desenvolvidos de acordo com as linhas e programas do Sistema
Estadual de Cultura.
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Editais de Fomento
Os Editais de Fomento são destinados a diversas áreas da cultura e trabalham com
recursos a fundo perdido. Embora existam editais que sejam realizados de forma continuada,
a exemplo de prêmios como Myriam Muniz (Teatro) e Klauss Vianna (Dança) no âmbito do
governo federal, e Prêmio de Cultura no âmbito estadual do Rio de Janeiro, não existe um
calendário fi xo de seus lançamentos, o que pode difi cultar o planejamento daqueles que
realizam atividades com o perfi l dessa modalidade de fi nanciamento.
Dessa forma os canais de comunicação de fundações, institutos, ministério e secretarias de
Cultura devem ser fonte de consulta permanente dos gestores culturais.
A inscrição para solicitação de recursos por intermédio dos Editais de Fomento é feita
por meio de formulários que respondem aos critérios e exigências da legislação que podem
ser conhecidos previamente à inscrição, já que fi cam disponíveis para consulta nos sites dos
órgãos responsáveis.
A maneira mais efi caz de acompanhar os editais, que se espalham por diversos órgãos
governamentais de Cultura e por empresas patrocinadoras, é acessar sites de busca, literatura
especializada ou, ainda, grupos de redes sociais que tratam de oportunidades em Cultura. A
partir do conhecimento desses sites, consultar periodicamente o calendário de eventos de
concursos de patrocínio.
Ministério da Cultura – www.cultura.gov.br/editais
Funarte – http://www.funarte.gov.br/editais
Secretaria de Estado de Cultura – http://www.cultura.rj.gov.br/editais/editais.php
Convênios
Trata-se de instrumento de que se vale o governo federal para realizar transferência de
recursos previstos em orçamento para órgão da administração pública estadual, distrital
ou municipal, direta ou indireta, ou entidades sem fi ns lucrativos, com vistas à realização de
programa de governo, envolvendo a realização de projeto, de atividade, de serviço, aquisição
de bens ou evento de interesse recíproco em regime de mútua cooperação.
Consultar: www.cultura.gov.br/convenios.
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Empréstimos
O setor cultural não tem como prática tomada de empréstimos para realização de suas
atividades. Isso ocorre por diversas razões relacionadas ao perfi l das empresas e organizações,
bem como à natureza das atividades e ao retorno fi nanceiro por elas gerado.
Para tomar um empréstimo, o solicitante deve comprovar que tem capacidade de pagar o
valor desejado. É a maneira de a operação ser considerada de menor risco e capaz de gerar
uma boa negociação.
A difi culdade de tomar empréstimos reside, principalmente, na exigência de garantias
por parte das instituições bancárias, questão que vem sendo trabalhada pelo governo
e pelas agências de Fomento. Dessa forma, hoje instituições como Agerio – Agência de
Desenvolvimento do Rio de Janeiro oferecem oportunidades de “Microcréditos”, prevendo-se,
também, que o Programa de Fomento do estado do Rio de Janeiro trabalhe com alternativa
que venha solucionar aquele impasse, com o “Fundo de Aval” para a Cultura.
O Fundo de Aval será um instrumento fi nanceiro para prestar garantia (total ou parcial) de
empréstimos levantados por MPEs que não consigam apresentar outras formas de garantia
para o empréstimo junto às instituições. Pelo aval, a empresa paga uma taxa percentual
variável sobre o valor garantido.
Agerio – http://www.agerio.com.br
Financiamento Coletivo
No Brasil, o investimento em cultura é realizado principalmente pelo poder público, tendo
a participação da iniciativa privada vinculada ao uso das leis de Incentivo à Cultura, que
concedem benefício fi scal para o seu investimento.
Entre nós, há uma grande lacuna no que diz respeito à relação da sociedade com o
fi nanciamento do setor, o que não acontece em países como os Estados Unidos, com
grande representatividade no mesmo quesito. No entanto, nos últimos anos, nosso perfi l,
nesse particular, vem ganhando força com a modalidade de fi nanciamento coletivo
denominada crowdfunding, que supõe o investimento de pequenas quantias por várias
pessoas para viabilizar uma iniciativa.
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Observa-se com relação à plataforma crowdfunding crescimento em todo o mundo, movimentando
grandes montas de recursos e infl uenciando a forma de gerenciamento de negócios, inclusive
no campo da cultura, já que pressupõe que o usuário deve ter conhecimento do custo de seu
projeto e do mínimo necessário para viabilizá-lo. O investimento coletivo pressupõe planejamento
efi ciente já que, uma vez arrecadado o recurso, o projeto deve necessariamente ser realizado.
A diferença do crowdfunding em relação aos fi nanciamentos tradicionalmente utilizados na
Cultura é que o benefício de investimento em um projeto está em torná-lo viável ou fazê-lo
acontecer, não havendo compensações de recursos fi nanceiros ou fi scais, mas sim da oferta de
recompensas elencadas conforme o montante do investimento.
Abaixo listamos algumas das plataformas de crowdfunding, nacionais e internacionais. Em
buscas na internet podem-se encontrar outras, com perfi s de atendimento diferenciados, seja
por área de atuação, localidade etc.
Benfeitoria – https://beta.benfeitoria.com
Catarse – www.catarse.me
Ideame – http://idea.me
Impulso – www.impulso.org.br
Kickante – www.kickante.com.br
Queremos – http://www.queremos.com.br
Sibite – www.sibite.com.br
Startando – www.startando.com.br
Financiamentos advindos de outros setores
A Cultura é um setor transversal e, portanto, atua em colaboração com diversas outras
áreas. Por esse motivo é possível identifi car fi nanciamentos que são realizados diretamente por
secretarias, ministérios ou órgãos da área e que envolvem os setores de educação ou relações
exteriores, por exemplo. Assim, organizações internacionais como Unesco – Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, OEI – Organização dos Estados Ibero Americanos, BNDES – Banco
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do Desenvolvimento Econômico e Social, BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento e
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento também podem ser fontes de
fi nanciamento para a Cultura.
Unesco – http://www.unesco.org/
BNDES – http://www.bndes.gov.br/
OEI – http://www.oei.org.br/
BID – http://www.iadb.org/pt/banco-interamericano-de-desenvolvimento,2837.html
PNUD – http://www.pnud.org.br/
Capital semente
Modo de fi nanciamento a projetos que se encontram no embrião, no estágio zero, ou no
início de seu desenvolvimento, para que reúna condições fi nanceiras para manutenção até
que consiga seguir por si. Supõe o interesse de um ou mais grupos interessados.
O capital semente é um fi nanciamento que vem sendo muito utilizado pelas startups que
buscam recursos para alavancar sua empresa ou principal projeto.
Diferencia-se da estrutura de composição societária de uma empresa considerando que os
sócios investidores não estão diretamente envolvidos na ação, mas integram o seu capital por
investir na aposta de sucesso da sua atividade.
http://www.inseedinvestimentos.com.br/lista-de-fundos-de-capital-semente/
A disciplina apresentou de forma abrangente as principais modalidades de fi nanciamento
– públicas ou privadas – que são oferecidas e dialogam com as atividades do setor cultural,
atendendo desde as iniciativas voltadas às manifestações simbólicas até os empreendimentos
de cultura.
Para o bom uso das modalidades descritas, cabe ao gestor cultural realizar um bom
planejamento e avaliar quais respondem ao perfi l das suas atividades, levando sempre em
consideração que a ampliação de suas redes de trabalho, a composição de receitas e o uso de
fi nanciamentos de forma diversifi cada podem ser um caminho positivo para viabilizar as suas
ações e o seu negócio.