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DO!S Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do UniBH Ano 30 • número 191 • Abril de 2013 • Belo Horizonte/MG Mui buh u Cena teatral de BH abriga diversas vertentes e polêmicas. Dossiê nas páginas 4 a 6.

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DO!SJornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do UniBH

Ano 30 • número 191 • Abril de 2013 • Belo Horizonte/MG

Mui buh uCena teatral de BH abriga diversas vertentes e polêmicas. Dossiê nas páginas 4 a 6.

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Cim IMpressão2 Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

Inpnência

Filmes autorais, experimentais,artsticos, produidos de forma

independente, com pouco ou ne-nhum patrocnio, em curta, mdiaou longa metragem, são contem-plados todo ano na Mostra Cine-BH. A última edição contou comexibições em locais como CircuitoCultural Praça da Liberdade, SescPalladium, Usiminas Belas Artes,Cine Humberto Mauro e Inhotim,reuniram 126 filmes dos quais 78curtas-metragens, produidos emtodo o mundo.

 A coordenadora da Mostra,Raquel Hallak, informou que aedição “consolidou o propósito doevento de colocar em evidência a

produção brasileira em diálogocom o mundo”. Nos seis dias deprogramação gratuita, estima-seque mais de quatro mil pessoas pu-deram interagir com a stima arte,sem que, para tanto, tivessem quedesembolsar quantias considerá-

 veis, como as cobradas no grandecircuito comercial.

O número de participantes des-te evento, e de outros que promo-

 vem a difusão do cinema autoral nacidade, não consegue ser contabili-

ado com precisão. As estimativasfaem parte dos festivais realiadostodos os anos, devido à passagemrelâmpago de curiosos e à isençãode bilheteria para registro. “Há fil-mes que ganham prêmios em fes-tivais mundo afora, mas que nãoconseguimos aferir por quantas

pessoas foram vistos no Brasil”,ressalta o jornalista e crtico de ci-nema, Marcelo Miranda.

 As produções que nascem dasmentes inquietas e longe das chan-celas de grandes distribuições aca-bam à margem da sociedade, quese habituou a assistir lançamentoshollywoodianos – ou filmes de ca-ráter mais popular feitos em outrospases, inclusive no Brasil – exibi-dos, em sua maioria, nos cinemasde shoppings centers. As produ-ções autorais ainda são territóriodesconhecido por muitos brasilei-ros. Pouco se sabe sobre os basti-

dores e as produções que corrempor fora do circuito comercial, osconhecidos outsiders, à margem dosmainstream.

Mas o que torna um filme, defato, independente? Daniel Quei-ro, especialista no assunto eprodutor cultural, tenta definir omovimento. “O cinema indepen-dente aquele feito sem o apoio daindústria, de um estúdio ou gru-po investidor, por produtores (oupelo próprio diretor encabeçando

tambm a produção) que corrematrás dos recursos para viabiliar arealiação”.

Marcelo Miranda, que tambmatuou como curador de festivais,enfatia a dificuldade de se rotulara produção cinematográfica auto-ral nos dias de hoje, devido às di-

ferentes nuances que ela pode ter.“Desvinculados de grandes corpo-rações e feito na raça, os filmes sãorealiados por criadores que estãomais preocupados com a criação ea autonomia do projeto”, explica.“Já o sistema comercial tem umapegada pasteuriada, que adequa ofilme ao gosto do público maior. A independência dos projetos de ci-nema autoral permeia este univer-so paralelo, com o intuito de dis-cutir assuntos que o comercial nãopossibilita, dentro de sua grade depreferência”, conclui.

Quantia x QualiaEm Belo Horionte, o número

de mostras, festivais e o aumento,ainda pouco significativo, das salasde cinemas independentes, podetransmitir a impressão de queesse movimento cresce de formaexpressiva. No entanto, Daniel en-dossa que as dificuldades são enor-mes. “No que se refere à exibição,o cinema independente não costu-ma encontrar muitos espaços. A maioria dos cinemas de shoppingrestringe sua programação a filmes

de grandes estúdios, em especialhollywoodianos. Ocasionalmente,estas salas exibem filmes ‘meno-res’, mas que tiveram algum grupomaior por trás da distribuição in-ternacional, que compraram os di-reitos de lançar o filme em cinema(e tambm em dvd e venda paratv), depois de ter se destacado nocircuito de festivais”, explica.

Fica claro que existe espaçopara obras independentes. No en-tanto, apesar de tais obras, bemcomo o circuito, não se pautarempor questões financeiras, os filmesestão inseridos no mercado. Atu-

almente, milhares de produçõesaudiovisuais são lançadas todosos anos. Muitas delas premiadasnacional e internacionalmente. A pergunta que paira se a capitalmineira tem estrutura para recebere, assim, difundir a altura esse tipode cinema. “Vivemos uma crise nocenário atual. O encerramento dasatividades da Usina Unibanco deCinema reforçou bastante esse pro-cesso. Afinal, a demanda difusae extensa. Com sorte, podemoscontar com pequenos oásis quetentam impedir a homogenia dosfilmes fortemente patrocinados,

promovendo a pluralidade da cine-matografia e atraindo um públicocarente de refletir sobre outros as-suntos”, acentua Marcelo, que tam-bm foi o responsável pela cura-doria do Festival Internacional deCurtas em BH, entre 2007 e 2011.

 A maior visibilidade do cinemaindependente passa por lugarescomo Cine Humberto Mauro, nocomplexo do Palácio das Artes, oUsiminas Belas Artes, novamentesob direção de Pedro Olivoto, o Te-atro Oi Futuro Klauss Vianna e oCine 104, recm inaugurado com

o ii fm i

Cim abu núm lug

Belas Artes 1992 Sala 1 – 138Sala 2 – 123Sala 3 – 76

104 2012 80

Humberto Mauro 1978 158

Cine Brasil poderá exibir lmes independentes em BH

FOTOS: JéSSICA AMARAL 

Babaa Gulat Ctim6º PeríodoLaua rzn7º Períodoeiçã: Ané Zuliani

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uma proposta bastante popular.

Esses espaços pulveriam as produ-ções autorais e at caseiras em BeloHorionte. Mas, a capital mineira,que abrigou mais de 50 cinemasna dcada de 1970, pode voltar aser palco de grandes produções, nointuito de ocupar essa carência fsi-ca. Notcias que coroa este univer-so são as possveis reaberturas doCine Brasil, na região central dacapital, e tambm do famoso CinePath, na Savassi, ambas previstaspara este ano.

Imaginái cltivMuitos festivais abrem a porta

para que a stima arte permaneçaem constante diálogo com os apre-ciadores. Eles são pontes, na medi-da em que possibilitam às pessoasfruir a arte por meio da indagação.Desse modo, há, atualmente, umpúblico bastante plural, já forma-do para estes festivais e que sempreparticipa. Trata-se, em grande par-te, de cineastas, estudantes, crti-cos, cinfilos e curiosos do cinema.

Marlon Penido, assistente deprodução audiovisual há cinco

anos, conta que se apaixonou pe-

las produções independentes aoconhecê-las mais a fundo em umfestival de cinema promovido emsua cidade natal, o Rio de Janei-ro. Desde então, afirma que, almde começar a aprender o ofcio deproduir filmes de própria autoria,passou a compreender melhor estemercado.

“Assuntos variados me encan-tam. Há muito tema transgressor,outros melancólicos, alguns eufóri-cos e at retóricos, assim como anuance de todo ser humano. Issome fe enxergar uma profissão,mas, antes de tudo, tornou-se um

grande hobby”, confessa Marlon,que, hoje trabalha na área emBelo Horionte e tambm parti-cipa dos movimentos popularesdos festivais. Só em 2012, almda Mostra CineBH, a cidade re-cebeu o Festival Indie, o FestivalInternacional de Curtas, Festival

 Varilux de Cinema Francês. Taisações cumprem sua vocação de ge-rar a reflexão sobre o audiovisuale valoriar o acesso do público auma programação mais extensa de

exibições. Lilian Lana, assistentecomercial, di que não conseguemais restringir seu interesse aosfilmes convencionais, que entramem carta e possuem extensas filase altos preços. “Os filmes cujo osautores têm total autonomia naqui-lo que produem são mais verda-deiros”, avalia Lilian. Como se asproduções autorais levassem maisem conta as carências humanas deconhecimento, carência esta que ogrande circuito não supre por que-rer atender à maioria, a percepção

geral, de modo a, assim, engessaro resultado dos filmes em exibiçãodos circuitos.

Lis IncntivHá hoje, no Brasil, diversos

mecanismos para financiar umaprodução independente (leis de in-centivo, editais, alm de incipientemercado de co-produção interna-cional) e sua circulação (salas, mos-tras e festivais que tambm contamcom leis de incentivo e editais).

Daniel Queiro, atual curadordo Festival Internacional de Cur-tas de Belo Horionte com expe-

riência como exibidor e programa-dor do Cine Humberto Mauro edo recm-chegado cinema populardo hipercentro, o Cine104, di quea maior dificuldade do cinema in-dependente angariar um público

fiel. “O desafio maior a formaçãode público, de modo a ampliar onúmero de pessoas interessadasem acompanhar as produções quefogem dos padrões dos filmes usu-almente exibidos nos grandes cir-cuitos e nos canais de TV aberta”.

Daniel afirma ainda que asproduções longe dos padrõeshollywoodianos são, sem dúvida,as melhores. “Acredito que grandeparte dos melhores filmes produ-idos no mundo, atualmente, sãoaqueles feitos à margem da indús-

tria. Muita gente pode ampliar seuinteresse por estas produções, sen-do o trabalho do programador im-portante no sentido de promover aponte entre os filmes e o público”.

Mas o trabalho árduo, explicaDaniel: “Não podemos nos pautarpelos números de bilheteria dosblockbusters. Falamos de outra re-alidade, na qual os números nãosão o principal. Um praer imenso proporcionar que algum entreem contato com um filme que di-ficilmente assistiria em outra situ-ação, e saia tocado, transformado,interessado em conhecer novas

cinematografias e buscar outrosfilmes que fujam à mesmice e aospadrões daquele cinema que se famovido mais pelo comrcio doque pelo efetivo desejo de criaçãoartstica”.

CimIMpressão   3Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

Com poucas salas para exibição do

cinema independente, BH investe em

festivais para conquistar o públicou mtCi ch m B Hi

Cim Fchm lug o qu é hj

Acaiaca Déc. 1990 818 Igreja Evangélica

Alvorada 1983 1.650 Casa de shows

Amazonas 1983 1.200 Igreja Batista

Art-Palácio 1992 1.200 Ponto Frio

Brasil 1999 2.500 Em reorma

Candelária 2000 2.000 Estacionamento interditado

Eldorado 1980 828 Ofcina mecânica

Floresta 1980 1.450 Loja e Igreja

Guarani 1980 1.189 Museu Inimá de Paula

Horto 1970 1.100 Sede Grupo Galpão

Independência 1983 1.350 Demolido

Jacques 1990 1.800 Demolido.

Local do Shopping Cidade

Metrópole 1983 1.300 Demolido.

Local Banco do Bradesco

México Déc. 1990 1.130 Estacionamento

Nazaré 1994 846 Supermercado Carreour

Odeon 1995 1.200 Sauna masculina

Palladium 1999 1.300 Espaço multiuso

Sesc Palladium

Pathé 1999 750 Em reorma

Progresso 1980 1.400 Casa noturna Phoenix

Roxy 1995 700 Galeria Feirashop

Royal 1995 1.200 Igreja Universal

Santa Efgênia 1981 980 Antigo Lapa Multi Show.

Santa Tereza 1980 1.150 Utilizado paraeventos culturais

São Carlos 1980 780 Gráca

São José 1980 780  Teatro

 Tamoio 1990 710 Loja de roupas Monax

Cine 104 é a nova opção no hipercentro da capital

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Camila Fitas3º PeríodoGuilhm Paclli4º PeríodoHiag Sas4º Períodoeiçã: dany Staling

Pimi At30 de Março. Era uma

tarde fria de sábado quan-do os integrantes da Com-

panhia Teatro Adulto de-sembarcaram na cidade deCuritiba. No dia seguinte,às 14h, as portas do ca-sarão do Teatro NovelasCuritibanas se abrirampara a primeira sessão doespetáculo Entre Nebulosase Girassóis – texto inditodo jovem Rafael Neumayr,que tambm atua ao ladode Lui Arthur e Julia Mar-ques, uma estreante nospalcos profissionais, sob adireção de Cyntia Paulino.

 Juntamente a outros seis

coletivos teatrais de BeloHorionte, eles participa-ram da 3ª Mostra Gruposde BH–Teatro Para Ver dePerto, que integra a progra-mação do Fringe, eventoparalelo à 22ª edição doFestival Internacional deTeatro de Curitiba.

 A curadoria da MostraMineira esteve nas mãosdo Galpão Cine Horto(centro cultural do grupoGalpão), que levou para opúblico do sul sete espetá-culos reunidos em estticas

e linguagens das mais di- versas, em montagens quese comunicavam com adança, a música, o cinemae a literatura. Os gruposparticipantes formam umpequeno recorte da varia-da safra de companhiasteatrais que já marcaramterritório em terras minei-ras. A mostra em Curitiba,por exemplo, obra da for-te tradição de teatros degrupo que existe em BeloHorionte – e que o Festi-

 val foi capa de enxergar e

 valoriar.São grupos que, em suamaioria, instalaram-se emgalpões (alguns alugadose divididos em parceriacom outras companhias)e que se comprometemem pesquisar o teatro edesenvolver propostas ex-perimentais: restrição deespaço da cena, linguagemmultimeios, criação cole-tiva, textos inditos, em

parceria com dramaturgosou de forma independen-te, dentre outras. O teatroexperimental “fala” direta-mente com a estranhea.Contamina-se com o riscoe idolatra a dúvida. Neste“universo”, “caminhar”

 verbo que se fa com pas-sos curtos, ou longos, massempre tortos, tateandoo certo. é quando as per-guntas se sobrepõem àsrespostas e a arte vistacomo um transbordar depossibilidades.

Sgun At“Encaramos o teatro de

grupo como alternativa dig-

na e legtima de sobreviverno mercado cultural”, afir-ma o ator Marcos Colleta,do grupo mineiro Quatro-loscinco – Teatro do Co-mum, em entrevista para oblog “Satisfeita, Yolanda?”.O ator explica que “em BH

não possvel falar de tea-tro sem falar de teatro degrupo; são muitos grupossólidos, com pesquisas re-levantes, com sedes que setransformaram em centrosculturais”. Uma alternativaàs montagens produidascom elencos não-fixos etemporadas programadas,como majoritariamenteacontece na Campanha de

Populariação do Teatro eda Dança – que ganhoustatus de maior projetode artes cênicas do pas elevou neste ano 395.544pessoas aos teatros da ca-pital, segundo o Sindicatodos Produtores de ArtesCênicas de Minas Gerais

(Simparc), no perodo dejaneiro a março, quando serealia o evento. A ediçãodeste ano superou a do anopassado, que chegou à mar-ca de 349.624 mil espec-tadores. A comdia “Umesprito baixou em mim”,dos atores Ilvio Amaral eMaurcio Canguçu, maisuma ve foi recorde de pú-blico. A dupla mineira honrada, desde 1998, coma “casa cheia”. Na tempo-rada 2013, a Campanha,como popularmente co-

nhecida, abrigou 154 espe-táculos (com predomniodas comdias), em 48 espa-ços da cidade.

Para o dramaturgo e jor-nalista Jos Carlos Aragão,56, autor da peça  Aqui se

 faz, aqui se casa, “a Campa-nha de Populariação temprós e contras”. E explicou,enquanto a cadela Diado-rim, um poodle inquieto,roçava em suas pernas:

“No sentido de populariar bom, mas ela cria um pa-radoxo, porque, no restan-te do ano, ningum vai aoteatro”. Presidente do Sim-parc, Rômulo Duque, 57,discorda de Aragão: “Hápúblico fora da Campa-nha, mas necessário que

o produtor tenha compe-tência para levar o públicoà peça dele”.

Para Duque, o tal “bu-raco”, que vai de marçoa deembro, “está condi-cionado a outros fatores”.Pedro Paulo Cava, diretore criador do Teatro da Ci-dade, exemplifica: “Hoje,existem muitos apelos almdo teatro, como a TV acabo, a internet, as mdiassociais e os cinemas de sho-pping”, lamenta, ao lem-brar que, “antigamente, em

Belo Horionte, as pessoassaam do trabalho às 18h,chegavam em casa e iamtomar um banho [para irao teatro] às 21h”. Hoje, ascoisas estão diferentes: “Se

 você for para casa, jamais voltará”, sentencia.

Tci AtNo dia seguinte a uma

apresentação no MemorialMinas Vale do premiado

diê t   IMpressão4 Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

dbat qu mpTeatro de Experimentação x Teatro tradicional. Existe espaço para os dois? Um existe

Um Molière Imaginário: peça do grupo Galpão coloca em perspectiva o teatro de pesquisa

REPRODUÇÃO

“O teatro de grupo é uma

alternativa digna e legítima de

sobreviver no mercado cultural.

Em BH, os grupos são sólidos,

com pesquisas relevantes”

Marcos Colleta

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monólogo  A Morte de DJ em Paris, adaptação do con-to homônimo do mineiroRoberto Drummond, diri-gido por Walmir Jos, Lui

 Arthur comentou o levan-tamento feito pelo IbopeMedia, segundo o qual opúblico de Belo Horionte

considerado o mais fre-quente em teatros/óperas,se comparado ao de outrascapitais (15% contra 11%da mdia nacional). O ator,de 44 anos, di ter ficadosurpreso com a pesquisa:“Está difcil levar públicoao teatro, mas temos queser criativos e prender es-forços, trabalhar no senti-do de aguçar o olhar do es-pectador para algo que elenão vai achar na televisão,nem no cinema”.

 A surpresa de Lui Ar-

thur tambm pode ser ex-plicada por aquilo que vemsendo criticado por outrosprofissionais da área: aconcentração de grandedivulgação em pocas e pe-ças especficas. “Não achoque o que atrai o públicopara o teatro sejam ingres-sos baratos. Acredito, na

 verdade, na mdia da Cam-panha de Populariação”,analisa Arthur

“O público belo-hori-ontino tende a gostar deeventos porque, diferente-mente do paulistano, queestá acostumado a faertudo soinho, ele gosta deandar em bando”, comen-ta Juare Guimarães Dias,professor do UniBH, dou-

tor em Artes Cênicas pelaUnirio e diretor-pesquisa-dor junto à Cia. Pierrot Lu-nar, tambm contrário àdivisão entre os artistas dacidade. “Quando os maisintelectualiados se refe-rem ao teatro comercialcomo lixo, ou como coisadesnecessária, colocam opúblico que frequenta es-ses espetáculos no mesmobojo”, critica, ao especificarseu ponto de vista: “Quan-do pensamos no que há de

 vanguarda no teatro brasi-

leiro contemporâneo, tudopassa, em primeiro lugar,por Belo Horionte”.

 Ao lado da Campanha,outro evento que se desta-ca – tanto em notoriedadequanto em participação – o Festival Internacional deTeatro Palco e Rua (FIT),realiado, bienalmente, viaparceria entre setor priva-do e captação de recursospelas leis de incentivo à

cultura. O evento espalha,entre as nove regiões dacapital - e tambm em ci-dades da região metropoli-tana - diversas produções eações paralelas, como ofici-nas e debates, alm de mo-biliar artistas e produtoresde vários estados, com par-

ticipação de importantescoletivos teatrais fora doeixo nacional.

O público tem parti-cipação efetiva neste quese tornou um dos cincomaiores festivais teatraisda Amrica Latina. Cria-do em 1993 pela Secreta-ria Municipal de Cultura,

o FIT uniu, de acordo como portal da Fundação Mu-nicipal de Cultura, “duaspropostas de festivais in-ternacionais: uma de pal-co, fundada pela direçãodo Teatro Francisco Nu-nes, e outra de rua, ideali-ada pelo Grupo Galpão”,

tradicional trupe de teatroda cidade, reconhecido,nacional e internacional-mente, pelos espetáculosde rua e pela incursão empesquisa continuada queatravessa o universo do cir-co, da cultura popular e damontagem de clássicos emelogiadas produções.

 At Final“A gente está falando

de um teatro que não temestrutura rgida. Muitopelo contrário: as artes, demaneira geral, na moder-nidade e na pós-moderni-dade, estão todas abertasàs intercessões”, esclarece,novamente, Juare Guima-rães, que, na Cia. PierrotLunar, investiga a narrati-

 va teatral em textos literá-rios, com transposição dolivro para o palco – experi-mento batiado de “teatroperfomativo-narrativo”,que convida os atores apisar no terreno da (des)construção textual, a fimde teatraliá-lo. é nessesolo frtil de possibilidadesque, por vees, desponta aousadia e a singularidadede cada grupo, quando aserviço da investigação.

Foi pensando em inte-grar novas propostas, nos

limites estilhaçados naquebra de fronteiras, emcriações que tentassemdialogar com o “mundoalucinado”, que Ione deMedeiros, 70, criou o Ve-rão Arte Contemporânea(VAC). Desde 2007 soba curadoria do OficcinaMultimdia – grupo fun-dado em 1977 por RufoHerrera e assumido seisanos depois por Medeiros–, o evento realia apre-sentações de produções re-centes em galpões, teatros

convencionais e nas ruas,prioriando artistas dacidade e contrapondo-seà programação de outroseventos que, segundo pu-blicação especial do Estadode Minas, sobre o Oficcina,estão “mais vinculados aoentretenimento que à pes-quisa teatral e artstica”. Ogrupo Multimdia conta-minado pelo conceito dearte integrada e garante ex-pressividade dentro e forado pas pelas montagensonde imagens e sons con-

 versam com a dança, como teatro e a instalação.

Enquanto o diálogo sedesenrola, o teatro conti-nua “clamando a presençafsica do espectador” (ci-tação de Lui Arthur) noespaço onde se instala apoderosa máquina de faerexistir o que só pode estar

 vivo quando o respirar daplatia se mistura ao fôlegoenrgico do ator.

diê tIMpressão   5Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

as ivisas palcsem o outro? Discussão divide atores, críticos e dramaturgos de Belo Horizonte

REPRODUÇÃO / GUTO MUNIz

 Meu Tio é Tia, de Marco Amaral, já foi vista por mais de 300 mil pessoas

“Quando as pessoas mais

intelectualizadas se referem

ao teatro comercial como lixo,

ou coisa desnecessária,

colocam o público que frequenta

esses espetáculos no mesmo bojo.”

Juarez Guimarães

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Para uma garota que foi ao teatro apenas uma vezna vida, essa foi, com certeza, a matéria mais difícil de

executar. Os conitos começaram logo na reunião depauta, com a escolha do teatro como tema. Qual a di-

ferença entre teatro experimental e teatro comercial?Existe preconceito entre um e outro? Temos bons crí-ticos em BH?

As questões eram levantadas e eu me debatia com

dúvidas internas. “O que é teatro de pesquisa? E teatroexperimental? Ou será que é a mesma coisa? Quemdisse que eu entendo alguma coisa de teatro?”

Mesmo com as leituras sobre o assunto, entendiacada vez menos. Como diz minha avó, me senti comocego em tiroteio. Descobri que os artigos e reporta-

gens sobre o assunto eram técnicos, eitos para quem

 já conhece o tema. Fiquei ainda mais rustrada.

Na apuração é que fnalmente comecei a entender

como funcionava o teatro, o porquê de tantos coni-tos e questões não respondidas. Fizemos entrevistascom pessoas bacanas, como Pedro Paulo Cava, José

Carlos Aragão, Luiz Arthur, Juarez Guimarães e Romu-lo Duque. Tive o privilégio de ser apresentada ao as-

sunto por essa gente boníssima.A cada conversa, ui aprendendo e entendendo

como unciona esse mundo. Da nostalgia de Pedro

Paulo à preocupação de Aragão com o texto, pas-sando pelo clamor de Luiz Arthur por mais apoio daimprensa. Com Juarez, aprendi que existem divisões,

mas que estão todos no mesmo barco quando setrata de dinheiro. E, fnalmente, com Romulo Duque

percebi que não adianta divisões entre os artistas. No

nal, se não existir a experimentação, não haverá te-atro comercial.

O teatro faz parte da história de um povo. E nãoé dierente com os mineiros, pois temos um teatro

dierenciado, reconhecido nacionalmente. Embora

altem alguns ajustes e soluções para determinados

problemas, o importante é o caminho estar sendo tra-

çado para isso. Finalmente, consigo responder minhas

questões internas sobre o tema.

Toda peça tem um autor. Ou não? A idia tra-dicional de um dramaturgo – algum que criaum texto teatral, isolado em seu escritório – não mais tão fundamental como era tradicional-mente. O texto no teatro, atualmente, resultade motivações e processos variados, vistos combons olhos por uns e com desconfiança por ou-tros, e provoca mudanças na maneira de com-por histórias e personagens.

No processo colaborativo, as ideias se cru-am, esfarelam-se, morrem e renascem em mol-des distintos. O dramaturgo (convidado pela

equipe, ou integrante oficial da companhia) responsável por assimilar os interesses do coleti- vo – surgidos de experimentos cênicos, entrevis-tas, vivências, improvisação – e faer dessa mis-tura a sntese comum. Cabe a ele construir umtexto que seja harmônico, em meio às diversasinfluências. Porm, não um mtodo que nãose fecha em si.

Há várias maneiras de se trabalhar a equipede atores para a construção da escrita teatral.O dramaturgo pode ou não “meter o bedelho”nas orientações do diretor, e possvel que nemesteja presente nas salas de ensaio; algumas pro-postas buscam nos próprios intrpretes o mate-rial que vai, com o tempo, dar o formato finalàquilo que começou em um procedimento arts-

tico aberto, sem ponto de incio definido. Aindaque seja ator, autor e diretor ao mesmo tempo,o indivduo não hesita em ser criativo e colabo-rador na produção. Deixa-se contaminar pelashistórias que surgem no processo, onde as pes-soas e seu repertório, suas aspirações e conflitossão colocados em cena e devidamente aparados,prontos para a prova dos aplausos.

No entanto, a fragilidade, que divide espaçocom a ousadia, sinônimo para alguns desse mo- dus operandi do teatro. “Uma coisa você estarem sua casa e escrever uma peça do incio ato final, outra coisa você ir escrevendo a peçajunto com a feitura da própria, junto com a suaconcretiação”, argumenta Juare Guimarães.

“Temos grandes escritores hoje que trabalhamnessa perspectiva”, di, para logo em seguidacitar Grace Passô, do espanca!, e Assis Beneve-nuto, do Quatroloscinco, como bons represen-tantes da dramaturgia desenvolvida na capitalmineira.

“Literatura dramática tem outra carpintaria,o sujeito tem que conhecer a cena. A escritateatral completamente diferente da ensinadanas escolas”, ressalva Pedro Paulo Cava. Já JosCarlos Aragão, autor de várias peças – algumaspremiadas, caso de A presepada e Godot não vem

mesmo, alm de Bastidores de Romeu e Julieta euma adaptação de Édipo Rei feita sob encomen-da do grupo Teatro Andante – considera que odramaturgo “ uma espcie em extinção”. Emseu blog [www.aragaoteatro.blogspot.com.br ], Ara-gão discorre sobre a dramaturgia contemporâ-nea, divulga seus textos e critica, por exemplo, acriação compartilhada: “é a forma mais comumde fugir a duas responsabilidades: pagar direitosautorais e contratar um dramaturgo. é um dosmtodos preferidos por grupos e companhiasque adotam os chamados processos colaborati-

 vos na criação de seus espetáculos”, recrimina.Outra crtica se dirige à pouca divulgação dostextos de novos autores: “Na maioria desses pro-cessos colaborativos não fica registrado o texto,

quem viu o espetáculo, viu; quem não viu, não vê mais e não tem possibilidade nem de conhe-cer a história, porque o texto não publicado”,conclui.

Contudo, publicações de alguns grupos dacapital, seja do texto, ou do processo de monta-gem, já foram realiadas, a exemplo do espanca!(Por Elise,  Amores Surdos, Congresso Internacionaldo Medo e Marcha Para Zenturo); do Quatroloscin-co (Outro Lado, É só uma formalidade); Mayombe(Mayombe: arquivos da memória, dramaturgia, pes- quisas e práxis cênicas) e de montagens marcan-tes do Grupo Galpão (Romeu e Julieta, A rua daamargura, Um trem chamado desejo, alm de ou-tras sete que faem parte da coleção).

 A plêmica a

amatugia

diê t   IMpressão6 Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

“Todo mundo quer público. Quando artistase referem ao teatro comercial como lixo, oestão colocando o público desses espetácul

“O

apoumpardigequaldigecoisÉ o

“O público belorizontino tem uma tendêncito, porque diferentemente do paulistano, qa fazer tudo sozinho, ele gosta de andar em

 vai sozinho, morre de vergonha de ser cha

“pceepn

“Essa nova geração se preumbigo, e aqueles duzent

dias e pronto. Estão fazenpara os amigos”.

“Você tem um triângulo formado por Braeconômico; e Rio com o poder da mídia,é nada. Sente a síndrome do ‘tribobó do rcriar em BH, sofrendo todo o massacre, t

Juarez Guimarães Dias (professor do UniBHe integrante da Companhia Pierrot Lunar)

Pedro Paulo Cava (ator, diretor, dramaturgo,produtor, professor de teatro)

“Sem experimehoje, par

“Há, sim, público fora da camppara produzir adequadamente

“Acredito que muitos scomo ator, diretor, técuma perspectiva para q

REPRODUÇÃO

Camila Fitas3º Período

GUILHERME PACELLI

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diê tIMpressão   7Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

mais intelectualizadoscoisa desnecessária,

s no mesmo bojo”.

ercado hoje

ta muito paraonsumo rápido,um consumo cujatão é facilitada, novocê não precisair nada, pois ajá está pronta.

amoso fast-food”.

a a gostar de even-e está acostumado

bando. Ninguémado de solitário”.

cena mineira está carecendo deúblico. Talvez ele tenha visto muitaisa ruim, ou que não entendeu,

fugiu do teatro. Talvez porque queperando somente a campanha de

opularização e durante o anoão quer ir ao teatro”.

cupa somente com o próprios amigos que vão lá, durante dez

o teatro para a própria classe,

ília, com o poder político; São Paulo com o poderitando moda. Belo Horizonte está no meio. Não

ancho fundo’. Você tem que fazer ginástica parada a inuência desses três grandes centros”.

José Carlos Aragão (artista plástico, escritor e dramaturgo)

“Há um desprestígiogrande ao textono teatro e, emdecorrência, ao

dramaturgo. O teatrocontemporâneo está

muito mais focado noaspecto cênico e visual

do espetáculo, doque propriamente no

conteúdo”.

“Em BH, existe aprática de privilegiaros campeões. Alguémque se destaca emdeterminado segmentosempre é valorizado,repetidas vezes,pela mídia e pelasinstituições que apoiama cultura. Para eles sóexiste aquele grupo deteatro, aquele grupode bonecos. Há muitosprossionais ralandopara mostrar seutrabalho, alguns com

muita qualidade, e nãoconseguem destaque”.

“A primeira coisa que um produtor corta quando vai montar umespetáculo é o dramaturgo. É sempre a primeira cabeça que rola.E para fazer isso, ou usa-se textos de domínio público, ou muitas vezes

o próprio diretor ou produtor assume a função de dramaturgo,embora não seja o papel dele”.

Luiz Arthur (ator, professor de teatro)

“A divisão entre um teatroinvestigativo, de pesquisa eum mais comercial é real. Masnão podemos tomar isso deforma preconceituosa, comose um tivesse mais qualidade

que o outro. O que sempredigo aos amigos e colegasde trabalho é que ofundamental é qualidade”.

“Quando não havia as leis de incentivo, todo mundo que fazia teatro só fazia porqueestava muito a m. O teatro pelo teatro. Quando comecei, era assim. Agora muitagente quer fazer teatro para fazer sucesso, para resolver a opção sexual, ou porquetem acesso ao departamento de marketing da empresa e sabe que vai ter patrocínio”.

“Está difícil mesmo levar público ao teatro. Tinha que ter umamídia muito maior, porque já não se tem a cultura do teatro. Osujeito nasce na Inglaterra com um livro do Shakespeare do lado.Talvez se a gente tivesse essa cultura, a coisa continuasse”.

Romulo Duque (Presidente do SINPARC)

tação, o teatro comercial não vai existir. Acho que a experimentação vem,a tentar novidades, que possam ser implementadas para o público assistir.

E a partir do momento em que o público assiste, passa a ser comercial.

Independentemente da linguagem, abriu bilheteria é teatro comercial”.

nha, mas é necessário que o produtor tenha competênciaara levar o público à peça dele”.

atreveram, em algum momento, a fazer alguma coisa pelo teatro, sejaico, ou professor. Eles foram fundamentais para que hoje, nós tivéssemosue o teatro fosse além do que a gente amava, fosse a nossa prossão”.

GUILHERME PACELLI

REPRODUÇÃO

GUILHERME PACELLI

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Cibcuu IMpressão8 Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

Caiu na nt,

isaa cta

Cain SantsCistian CavalhJsian Matins6º Período

eiçã: dany Staling

Chico Anysio, Jô Soares, A Pra- ça da Alegria (depois A Praça É Nos- sa), Os Trapalhões. Por anos, essesforam os grandes responsáveis pelohumor no Brasil. Mais tarde, sur-giram a TV Pirata, Casseta & Pla- neta Urgente, A Grande Família, Saide Baixo, Os Normais, Zorra Total. A televisão brasileira sempre foi pró-diga na hora de abrigar humoristase comediantes, seja em programascheios de esquetes ou por meio deseriados de comdia de situação.

 A fórmula, contudo, se des-

gastou ao longo do tempo. Antesde sua morte, em março de 2012,Chico Anysio já estava afastado datelinha, com uma e outra partici-pação esporádica no Zorra Total.

 Jô Soares deixou os programashumorsticos de lado no incio dosanos 1990 para se dedicar às entre-

 vistas. Os Trapalhões, após a mortede Mussum e zacarias, se viram re-sumidos ao programa do Didi, quedeixou a grade de programação daTV Globo em 2013, mesmo desti-

no da trupe do Casseta.  A PraçaÉ Nossa, comandada por Carlos

 Alberto de Nóbrega, tem seu ho-rário mudado por Silvio Santos

constantemente, tudo por contada baixa audiência.O humor brasileiro perdeu a

graça? Não, longe disso. Ele ape-nas migrou de veculo. Atualmen-te, quem quer dar boas risadasnão liga a TV, entra na internet. A 

 web concentra, hoje, o trabalho deuma nova geração de comediantese humoristas que, mais ousados eágeis, cativam o público e incomo-dam as grandes redes de televisão,que perdem espectadores ano apósano. O surgimento do Youtube em2005, site de compartilhamentode vdeos em formato digital, rein-

 ventou a forma de se produir hu-mor no pas.

 YutubUm dos primeiros vdeos pro-

duidos para o Youtube que logoalcançaram o sucesso foi o monó-logo Tapa na Pantera, de 2006, noqual a atri Maria Lúcia Vergueirointerpretava uma senhora de idadeque há 30 anos era usuária de ma-conha. O ato de fumar, ou de “darum tapa na pantera”, narrado de

maneira surreal, foi visto por mi-lhares de pessoas em pouqussimotempo, ajudando a populariar osite no Brasil.

O Youtube tambm foi respon-sável pela propagação do stand-upcomedy, ou “comdia em p”. O gê-nero, importado dos Estados Uni-dos, já era praticado no Brasil hádcadas por Jô Soares, Chico Any-sio e Jos Vasconcellos, mas com onome de esquetes, realiados emseus shows ao vivo, porm ficoufamoso na figura de novos artis-tas, como Rafinha Bastos, DaniloGentili, Diogo Portugal e tantosoutros. Alavancado pelas exibiçõesna internet, os novos humoristas

 viram seus espetáculos ficarem lo-tados, o que lhes valeu a entrada

na televisão convencional em pro-gramas como Zorra Total e CQC.Fora da televisão após uma ten-

tativa frustrada de copiar o tradi-cional programa de humor norte--americano Saturday Night Live naRede TV, Rafinha Bastos talveseja o humorista que melhor sai-ba trabalhar com a internet. Seucanal no Youtube possui mais de740 mil inscritos e está perto decompletar 100 milhões de visuali-ações. Nele, Bastos inclui cenas de

seus shows de stand-up e o progra-ma de entrevistas 8 minutos, com

 vdeos novos postados duas veesna semana.

Quem tambm está faendomuito sucesso o canal Porta dosFundos. Idealiado por AntonioTabet, dono do site de humor Ki- beloco, o canal, lançado oito mesesatrás, já tem quase três milhões deinscritos e mais de 240 milhões de

 visualiações. Seus vdeos, que tam-bm vão ao ar duas vees por sema-na, são estrelados por atores comoFábio Porchat, Gregório Duviviere Marcos Veras, que começaramno stand-up e tiveram passagens depequena importância na televisão.Na internet, contudo, são sucessoabsoluto. O vdeo “Estaremos fa-

endo seu cancelamento”, que Por-chat estrelou para outro canal do Youtube, o Nós em Chamas, já temmais de sete milhões de visualia-ções.

rs Sciais A força das redes sociais, que se

populariam no Brasil a partir de2008, primeiro com o Orkut e ago-ra com Twitter e Facebook, ajudoua fomentar a indústria do humorna internet. Quando um vdeo do

 Youtube, blogs e redes sociais faz o humor brasileiro migrar datelevisão para a internet com uma linguagem moderna e ágil

Paródia bem-humorada da presidente Dilma Rousseff é sucesso nas redes sociais

FOTOS:REPRODUÇÃO

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Porta dos Fundos publicado, rapi-damente milhares de pessoas ocompartilham para amigos e segui-dores, aumentando sua penetração.

 A conta do Kibeloco no twitter, porexemplo, tem mais de um milhãoe treentos mil seguidores. RafinhaBastos um dos campeões de audi-ência na rede social: seguido pormais de cinco milhões de tuiteiros.

 A presença do twitter e do Fa-cebook tão forte que ajudou a

criar páginas de humor exclusivasnas redes sociais. é o caso da Dil- ma Bolada, personagem criada peloestudante de publicidade JefersonMonteiro, que fa uma paródiabem-humorada da presidenta Dil-ma Rousseff. Com mais de 100 milseguidores do twitter e quase 300mil no Facebook, as postagens da“eta presidenta maravilhosa”, bor-dão que ficou famoso na web, ren-deram a Jeferson o bicampeonato

do prêmio Shorty Awards, conside-rado o Oscar das Redes Sociais.

Inspirada na tradicional figuraque ilustra uma caixa de palitos,surgiu a personagem Gina Indelica- da, perfil no Facebook com quasetrês milhões de fãs. Com postagensirreverentes e muitas vees politica-mente incorretas, o idealiador dapágina, Ricck Lopes (tambm estu-dante de publicidade), foi convida-do pela empresa Rela Gina, dona

da marca dos palitos, para usar suacriação de maneira comercial.

Seja nas redes sociais, no you-tube ou em sites e blogs, o humordominou de ve a web e se tornouum nicho de negócio rentável e pro-missor. Com mais liberdade paratrabalhar, os humoristas que faem

sucesso na internet não veem maiso veculo como trampolim para aTV. Pelo contrário, sabem que en-contraram um filão onde há muitoainda para se explorar.

Nã a TV Em entrevista ao programa 8

minutos de Rafinha Bastos, Gre-gório Duvivier foi questionado so-bre televisão x internet. De acordocom ele, os espetadores que vêemos vdeos são “reais”, pois ningumdeixa o Youtube ligado enquantocoinha, algo que recorrente emrelação a TV, portanto, “o público

necessariamente ativo”. Outra vantagem do humor na internet que não há filtros que engessamo roteiro da esquete, sendo assim,a oportunidade de ser autoral, tertotal liberdade e público cativo, fa-em que a migração para a televisãoseja uma regressão.

Duvivier ressalta que a televisão que deve faer a migração opos-ta e começar a produir conteúdos

 voltados para a internet. “O bom dainternet que só quem vê quemgosta. Ningum está te obrigando a

 ver aquilo”.

CibcuuIMpressão 9Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

Bg hum mi c Bi

Os sites, com sua instantaneidade, deixam as pessoas sempre plu -

gadas de uma orma tão ansiosa que preerem evitar a sensaçãode estarem perdendo algo. Confra os cinco blogs de humor mais

acessados no Brasil:

1. Kibc.cm.b – É um blog humorístico brasileiro criado em2002 pelo publicitário carioca Antônio Pedro Tabet e que abriga ocanal Porta dos Fundos.

2. nv.cm.b - Blog criado em 2008 por Mauricio Cid, onde

ele, de forma irreverente e utilizando uma temática religiosa, postaas mais engraçadas estripulias da internet. Pela abordagem humo-rística, se tornou um fenômeno na web, alcançando seus 10 mi-lhões de visitas mensais em menos de quatro anos. Detalhe: As vi-

sitas são de maioria direta, ou seja, não vêm pelo Google. São “éisdevotos”, que acessam o site frequentemente.

3. ni.cm.b - Blog de humor que usa a temática dos

 jogos da Nintendo, principalmente o simpático encanador Mário.Parceiro da MTV, possui em torno de oito a nove milhões de visitas/mês.

4. Miiu.cm – Minilua é blog independente, muito parecidocom os agregadores de conteúdos. Seu conteúdo é postado poruma equipe de nove colaboradores, grande parte de suas visitas

vêm por meio de parcerias dinâmicas com blogs menores. Comapenas dois anos online, já possui uma média de seis milhões de

visitas/mês.

5. hg.cm.b – Blog de humor que está sempre acompa-

nhando as tendências da internet e mantém seu conteúdo atu -

alizado diariamente. Desde 2008 no ar, o blog vê sua média deacessos aumentar a cada mês – hoje em torno de dois milhões devisitantes –, gurando hoje entre os 10 blogs de humor mais aces-

sados do país.

Pioneiro na internet, Ranha Bastos atrai fãs com humor e muita polêmica

Fábio Porchat em esquete que critica operadoras de telefonia

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Vcê já viu? IMpressão10 Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

os talhs

um slista A partir de uma história real, já publicada

tambm em livro de grande sucesso nos EstadosUnidos, O Solista se destaca pelo enredo, mastambm pela qualidade da produção e direção,a cargo do britânico Joe Wright, o mesmo deOrgulho e Preconceito, Desejo e Reparação e do re-

cente Anna Karenina.O drama envolve o poder da música: SteveLopes, um jornalista interpretado por RobertDowney Jr (O Homem de Ferro, Chaplin), conhe-ce Nathaniel Anthony Ayers, vivido por JamieFoxx (Ray e Django Livre), um sem-teto ex-es-tudante de música, que vive tocando um vio-loncelo de apenas duas cordas nas ruas de Los

 Angeles. O jornalista tenta de todas as formasajudar o solista perturbado a retornar sua vidae a realiar seu sonho, tocar no Walt Disney Concert Hall. Com isso, uma grande amiade formada, de modo que altere a vida e quebre osparadigmas dos dois.

Um dos destaques do filme a iluminação,usada de forma bastante significativa. Sempre

que o jornalista Lope está em seu apartamento,a iluminação mais escura, o que remete à con-fusão do personagem com seu próprio eu. Issoporque Lope tem um problema em se relacio-nar com as pessoas e sempre vai contra as ideiasde todos, o que, por sua ve, fa com que ele sejareconhecido e respeitado em seu trabalho.

Por outro lado, a claridade e as cores usadasnas cenas em que aparece o solista, duranteo dia, tambm revelam algumas coisas sobreele: sua roupa muito colorida mostra as váriaspersonalidades que Nathaniel comporta; seucabelo o diferencia de uma forma artstica. Osplanos e movimentos de câmera reforçam tam-bm seus momentos de conturbação, alegria eespontaneidade.

Outro destaque o uso da trilha: quando aimagem mostra o solista, a música do seu ins-trumento acompanhada por alguns violinos;porm quando mostra o jornalista, a música apenas a do solista. Isso indica dois sentimen-tos: o do músico, se sentindo acompanhado poruma orquestra e o de Steve Lope, que via ape-nas Nathaniel tocar.

O crtico Rodolfo Marques (do site Cinecríti- cas), afirma que O solista um pouco cansativoe modorrento, mas reconhece: “por vees a pro-jeção leva o espectador a momentos de lirismoe reflexão, ao mesmo tempo em que há umacrtica racional e esteticamente interessante àausência do estado, no caso especfico, em Los

 Angeles, na gerência da situação dos morado-res de rua.” Discordo quanto ao filme ser sono-lento, pois, pelo contrário, a obra envolvente

com seus detalhes espalhados por trás de uma

aparente simplicidade. Mas isso só perceptvelpara quem não fier uma leitura superficial nemtiver preguiça de analisar com apuro esse tipode filme. Trata-se de um filme que deve ser assis-tido mais de uma ve, sobretudo para perceberos pormenores. Tambm interessante para oespectador um conhecimento básico de música,de preferência clássica, já que o protagonista fã de Beethoven, toca músicas do compositoralemão e se inspira na história dele para justifi-

car aspectos da sua própria vida.

Fich técic

O solista (The soloist )

a: 2009

pí: EUAdiç: Joe Wright

ri: Susannah Grant,baseado no livro de Steve Lopezec:Jamie Foxx - Nathaniel AyersRobert Downey Jr. - Steve LopezCatherine Keener - Mary WestonTom Hollander - Graham ClaydonLisa Gay Hamilton - Jennifer Ayers

 Wsly Matins Abu7º Períodoeiçã: Ané Zuliani

REPRODUÇÃO

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Vcê já u?IMpressão   11Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

ent tanspsiçõs

fma cntú“Um simples convite para reflexões e risos.”

 A última frase do prefácio revela a que veio o li- vro A vida de jornalista como ela é, dos jornalistaspaulistas e irmãos gêmeos Anderson e EmersonCouto. As 193 páginas da obra reúnem conte-údos publicados no blog “Desilusões Perdidas”,onde Anderson e Emerson se transformam nopersonagem Duda Rangel, jornalista desempre-

gado que, como forma de desabafo, fala sobre osencantos e desencantos da profissão. E a soluçãoencontrada para reunir a essência de históriascômicas e mitificadas na internet em livro apre-senta-se já na capa, com o slogan: O melhor doblog de Duda Rangel.

Esse parece ser o recheio que fa com que oleitor se sinta atrado, perceba e viaje pela lógicado livro. Ao mesmo tempo em que os autoresbuscam valoriar a originalidade dos textos quejá foram construdos e que fieram sucesso en-tre os frequentadores do blog, há uma atençãoespecial em como organiar esse conteúdo. é opróprio Duda Rangel quem explica isso: “Doblog, nasceu este livro. Aqui estão reunidos osmelhores – ou piores – posts, tudo arrumadi-

nho por captulos temáticos”. Em 16 captulos,o enredo se constrói, preservando a identidadesolta, criativa e saga encontrada no ambien-te virtual e, ao mesmo tempo, enquadrando-acomo alternativa que encontra meios para sesustentar.

 A organiação do conteúdo em captulos te-máticos capa de dialogar e seguir o mesmo es-tilo irreverente contido nos textos. Prova dissosão as epgrafes adaptadas que acompanham osttulos genricos de cada uma das divisões. Sãoparódias, metáforas e pensamentos sobre o faerjornalstico, criados a partir de frases já consa-gradas e conhecidas pelos leitores. Para comple-tar, as adaptações são assinadas pelos criadoresdas frases que inspiraram as adaptações, como

escritores, músicos e figuras que, de algumaforma, tornaram-se populares. Integram a listado repertório Clarice Lispector, Fernando Pes-soa, Raul Seixas, Claudinho e Buchecha, DalaiLama, Walt Disney, e por a vai.

 Após cada uma das 16 cortinas, desvenda-seo manual da diversidade, “da sobrevivência e dobom humor”, como o próprio Duda caracteri-a. Para falar sobre o jornalismo, a receita, oumelhor diendo, a premissa dos autores usara imaginação, explorando estereótipos, trocadi-lhos inusitados e ideias presentes no senso co-mum que despertam identificação nos leitores.Elementos que ajudam tambm a construir uma

 visão exagerada e apocalptica da profissão, fa-endo jus à imagem do personagem, desiludido

com a carreira.Todas essas caractersticas são compiladasem uma mtrica livre. A ideia de uma narrativadinâmica, indicada já na capa do livro, dá sequ-ência a uma miscelânea de estilos e formas ade-quados à proposta dos textos. Contos, crônicas,poesias, paródias e perfis nas páginas de DudaRangel têm vida própria e não seguem padrõespr-fixados. Há textos com dois pontos, parágra-fo e travessão e tambm aqueles sem pontuaçãoalguma.

 A mesma reordenação textual chama a aten-ção para o registro de um movimento inverso.

Da mesma maneira que se exploram os formatostecnológicos, com a disseminação dos e-books eda lógica dos livros eletrônicos, há tambm o re-gistro da experiência virtual em livro impresso.Prova de que, como afirma Karin Littau em seulivro “Teoras de la lectura”, a comunicação lite-rária envolve convergência entre o fisiológico, omaterial e o tecnológico.

Nesta dinâmica, encontram-se os blogscomo espaço aos produtores de conteúdo eemissores no processo de comunicação. E emum dos momentos de convergência, ressaltado

pela autora, consagra-se o conteúdo do blogtransformado em registro impresso. Assimcomo a chegada do “A vida do jornalista comoela ” segue esse movimento inverso, outrasexperiências similares tambm são transpostasdo cenário virtual ao presencial. O site “Sensa-cionalista”, por exemplo, tambm decidiu reu-nir parte de seu conteúdo publicado no livro

“A História Sensacionalista do Brasil”, lançadopela editora Record. Uma proposta parecida àdo “Desilusões Perdidas” e com temática pró-

 xima: falar do jornalismo de maneira irônica,hiperbólica e sarcástica.

E a experiência tem tido aceitação. No pri-meiro mês de divulgação pela internet, o livroteve 250 exemplares vendidos. Anderson eEmerson Couto preferiram não apostar na ino-

 vação de um conteúdo adaptado e reformuladoao livro. Optaram por sustentar a mesma identi-dade do material produido para o blog. Ainda

com os mesmos textos e sem traer algo novoao público que já acompanha o trabalho dos au-tores, o livro consegue extrair boas gargalhadasdos fãs. Os irmãos, por meio de Duda, foramcategóricos nas escolhas e buscaram sustentá--las, principalmente, por meio da criatividade eda objetividade. Coincidentemente, requisitosdesse tal jornalismo.

Lilan Stauff7º Períodoeiçã: dany Staling

REPRODUÇÃO

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Sinto saudade da época em que ar- tistas da música eram de fato artistasda música - embora não tenha presen- ciado tal época. Isso é uma frustraçãoque ainda estou aprendendo a lidar ao

longo da minha vida, vasculhando oraaqui outra ali, a fim de encontrar algoque me devolva a fé naquela músicaque um dia serviu como forma de ex- pressão artística.

Certamente houve um momentoúnico na historia da indústria fonográ- 

 fica em que as coisas que vinham daalma serviam como produto de consu- mo e movimentavam milhões. Acho queobras assim continuam a ser criadas, noentanto, tropeçamos por cima do lixoque se instala sobre a grande mídia.Não posso ser leviano a ponto de que- rer enxergar as coisas da mesma formaem tempos diferentes; a internet surgiu,

o banal ganhou mais espaço e o Brasilcresceu economicamente. Esses fatoresmodificaram todo o cenário cultural dopaís e do mundo, e só me resta a certezade que a mudança foi para pior.

Esse meu olhar pessimista tomoumaiores proporções na manhã do dia27 de janeiro de 2013, quando me sur- preendi com a notícia da morte de maisde duzentas pessoas, vítimas de um in- cêndio em uma casa de show, e minhamaior surpresa foi saber que a responsá- vel por tamanha tragédia tenha sido amúsica. Sim, a música, ou o que pode- mos chamar de música. Alvará, poucainfraestrutura, lotação, espuma de iso- 

lamento acústico de baixa qualidade,na minha concepção, não passaram de fatores que potencializaram essa desgra- ça, mas o que realmente matou essasdezenas de pessoas foi a música, ou a

 falta dela. Alguns podem me achar radical,

mas continuo irredutível com minhaperspectiva, e repito: uma pequena dosede boa música teria evitado essa fatali- dade. O entretenimento cultural tem seapoiado em vertentes medíocres e o con- sumidor brasileiro parece ter se tornado

um “bobo alegre”, disposto a sustentar esse comportamento de alienação por tempo indeterminado. Por isso volto a

citar o desenvolvimento econômico dopaís, algo que acredito ser a mola pro- pulsora desse comportamento. O cida- dão brasileiro agora tem acesso ao queaté alguns anos atrás não tinha; inclu- são digital, carteira assinada, melhor qualidade de vida etc. Diante dessa re- alidade, ninguém tem do que reclamar,não é mesmo?

É ai que ocorre a mudança culturalde um país para pior, por consequência

do comodismo. A música popular, queoutrora servia como voz disseminadorade ideias e reivindicações, hoje se con- 

 figura apenas como um passatempo fugaz, que entra por um ouvido e saipelo outro. As músicas de fácil compre- ensão mostram o paradoxo desse paísonde o brasileiro trabalhador e dispos- to certamente passou a ter os ouvidosmais preguiçosos do planeta Terra,economizando reflexões e fazendo assi- milações poéticas em cima de cançõesque servem de exemplo em qualquer aula de divisão silábica. Diante desses

 fatos, julgo a música popular brasileiraatual como a maior culpada pela mor- te de todas as 241 pessoas em SantaMaria.

Se houvessem verdadeiros artistasse apresentando naquela fatídica noitede janeiro, não seria necessário o usode práticas apelativas em uma apresen- 

tação extravagante e sem nenhum fun- damento teatral plausível. Mas qualoutro artifício seria mais apropriadopara suprir a falta da verdadeira arte,do que os fogos de artifício? Eles encan- tam, chamam a atenção, e obviamen- te servem para preencher o buraco dacarência artística de homens que nãosabem usar os elementos naturais, ine- rentes a qualquer ser humano, como ocorpo, a voz e o intelecto.

Côic IMpressão12 Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

Essas coisas só acontecem comigo.É verdade, nada de mania de perse- 

 guição ou coisa de quem acredita naLei de Murphy. Mas depois de hoje,cheguei à conclusão de que algo estáerrado, e esse erro só pode ser comigo.

 Acordei em sobressalto, escutei o des- pertador somente no terceiro toque dasoneca. Na garagem, meu carro não li- 

 gou. Entrei em contato com o mecânico

e do outro lado da linha escutei: “Iiiih,isso é problema na bateria”. Dirigi-meao ponto de ônibus e esperei, esperei,esperei... Enfim ele parou no ponto.Tinha tanta gente que a porta quaseprecisou ir aberta. Me espremi e conse- 

 gui um “lugar” para ficar, quando, domeu lado, para uma senhora de feiçãosimpática...mas não por muito tempo.

“Tá cheio hoje, né? Então, você viuontem a loirinha que ganhou o prêmio,muito dinheiro. Eu gostei dela, disse até

nha sair daquele jeito pra todo mundover. Cê acha que ela mereceu?” Eu, comcara de espanto, logo pensei estar sendoconfundida e, educadamente, respondi:“Desculpe, senhora, mas não sei do quese trata”. Ela se espantou: “Como não,minha filha? Tô falando da vencedorade 1,5 milhões do Bial, do Big Brother Brasil”. Ah, sim, ganhadora? Então jáacabou?, pensei. “Não sei não, senhora,não acompanho o programa”. Quemviu a reação dela ao me escutar deveter imaginado que eu a estava desres- 

peitando, xingando palavrões, de tãoassustada a sua reação.

“Como não sabe, em que mundocê vive? Todo mundo sabe que foi amineirinha, nossa conterrânea que ga- nhou aquela dinheirama”. Preferi nãorender assunto, explicando que eu nãoassisto porque não gosto do programa.Como vi que essa minha declaraçãopoderia culminar em um barraco ma- tinal dentro no ônibus, apenas dei umsorriso e me calei esperando que ela fi- 

três quarteirões até que...“E a Morena, acha que vai voltar a

namorar o Bonitão?” Suspirei e respon- di calmamente: “Desculpa, mas nãoconheço essa moça, nem o ex-namoradodela”. Foi aí que ela esboçou um largoe alto sorriso: “Oh, menina engraçada.Sei que sabe do que eu tô falando. É daMorena, da novela das nove”. Expli- quei calma: “Não senhora, não assistonovela.” “Como não, faz o que à noi- te?” “Esse horário estou na faculdade”.“Oras, minha neta também, mas ela

vê tudinho pelo computador. Não teminternet não?”

Pensei em dizer: tenho sim, masnão tenho tempo e também não gostode novela. Mas como já sabia que ela

 ficaria indignada, apenas sorri, espe- rando que agora a conversa acabasse.

Mas, muito prestativa, ela resolveume colocar a par do que estava aconte- cendo. “Salve Jorge é muito boa sabe,

 filha? A novela conta a história daMorena, uma garota pobre que é apai- 

Exército e devoto de São Jorge, mas aíela resolve viajar pra fora do Brasil”...

E eu sem entender nada, quer dizer,o nome talvez eu tenha entendido. Pa- rece que o tal de Théo é devoto de São

 Jorge, logo pensei que ele fosse o galãe por isso o nome da novela. Essa foiuma das poucas coisas que eu conse- 

 gui prestar atenção. Chegando no meuponto de desembarque, aliviada porque

 ficaria livre daquele papo, agradeci eme despedi. Com outro largo sorriso,ela me responde: “Ainda falta um pe- 

daço da história pra eu te contar. Masveja só, que sorte a sua, vou descer nomesmo ponto que você”.

Ela desceu, e continuou narrando anovela, até que eu virei uma rua quenão era mais o seu caminho. Já cheia detanto ouvir uma história que eu não en- tendia bulhufas e menos ainda me inte- ressava, dei um seco tchau e virei as cos- tas. Quando achei que já estava livre,escuto um grito: “Ei, filha, chamam denovela das oito, mas é enganação, passa

Kll Lps6º Período

 Asly Gnçalvs6º Período

Mu mun fa “glbal”

IzAíAS GUERRA