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Características, valores e virtudes do empreendedor A ideia central do capítulo é proporcionar aos empreendedores o conhecimento básico necessário a respeito das características e qualidades pouco ensinadas nas escolas, porém cobradas desde o primeiro instante em que o negócio é colocado em prática. Tornar-se líder por excelência, socialmente responsável, e conseguir equilibrar a vida pessoal e profissional para evitar a escravidão dos negócios são desafios permanentes na vida de quem se propõe a empreender por conta própria. O empreendedor ideal está no topo da pirâmide. Atingir esse nível significa passar por todas as fases do processo empreendedor e superar barreiras de qualquer natureza: falta de apoio, incentivo, capital de giro e falta de crédito no mercado, pressão da família e da sociedade, pouco conhecimento do assunto e, principalmente, ausência de familiaridade com os conceitos básicos de gestão e planejamento estratégico. O empreendedor poderá olhar com ceticismo para as características aqui mencionadas, considerando o fato de que talvez não faça parte da sua natureza ou da própria cultura onde foi inserido apreciar valores como felicidade, liberdade, plenitude ou excelência, por exemplo. Antes de pensar em se tomar um empreendedor, deve existir antes de tudo, uma grande figura humana, consciente de seu papel na sociedade. Valores e virtudes são características que determinam o sucesso ou o fracasso ser empreendedor. No caso do sucesso, não estou me referindo àquele construído sob a égide da sonegação, da extorsão ou da apropriação indébita dos bens alheios, sob quaisquer circunstâncias; atitudes comuns no passado, fruto das escolhas praticamente irreversíveis realizadas por diversos empresários. Os valores são a expressão conceitual das "preferências ou opções morais de uma sociedade em determinada época e com determinado nível de desenvolvimento econômico e cultural. Estão associados a uma série de fatores que permeiam a existência humana desde os tempos mais remotos, portanto, são determinantes na vida pessoal e profissional dos cidadãos. A construção dos valores e das virtudes é proveniente dos modelos mentais adquiridos com base em um conjunto de sentidos, pressupostos, regras de raciocínios, pré-julgamentos ou inferências que levam alguém a fazer determinada interpretação, algo que demanda cuidado e discernimento. Todos os indivíduos gozam de uma característica muito particular no sentido de avaliar o que é bom e o que é ruim: bom para quem, ruim para o quê, bom ou mal em que sentido? Quando se fala de valores positivos, a referência de maior peso deve ser o respeito à integridade física e à dignidade do ser humano. A questão central é: o que nos impede de agir dessa forma na vida pessoal e nos negócios? Quais são os nossos valores principais? Embora as preferências que regem a conduta social do ser humano sejam compartilhadas pelos membros da sociedade, cada indivíduo goza de livre arbítrio para decidir sobre questões morais e, de acordo com o seu modelo mental, elabora sua própria escala de valores sem que haja, necessariamente, uma total coincidência com a escala de valores adotada pelo consciente coletivo. O empreendedor tem os seus valores individuais respaldados pela própria conduta, ou seja, há uma correspondência absoluta entre os valores e as coisas que realiza. Quando suas ações entram em contradição com os valores, ocorre uma traição dos princípios básicos que norteiam toda sua existência e ele tende a entrar em choque com a mentalidade empreendedora. Aos que incorrem nessa contradição, há uma tendência generalizada de tentar confortar a si mesmo com autojustificativas que colocam o consciente em estado de alerta. “A consciência é a guardiã da moral", segundo Emerson. Por mais natural que pareça uma atitude de desrespeito temporário ou o ato ilícito cometido em momentos de desespero, a PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com

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Características, valores e virtudes do empreendedor A ideia central do capítulo é proporcionar aos empreendedores o conhecimento básico necessário a respeito das características e qualidades pouco ensinadas nas escolas, porém cobradas desde o primeiro instante em que o negócio é colocado em prática. Tornar-se líder por excelência, socialmente responsável, e conseguir equilibrar a vida pessoal e profissional para evitar a escravidão dos negócios são desafios permanentes na vida de quem se propõe a empreender por conta própria. O empreendedor ideal está no topo da pirâmide. Atingir esse nível significa passar por todas as fases do processo empreendedor e superar barreiras de qualquer natureza: falta de apoio, incentivo, capital de giro e falta de crédito no mercado, pressão da família e da sociedade, pouco conhecimento do assunto e, principalmente, ausência de familiaridade com os conceitos básicos de gestão e planejamento estratégico. O empreendedor poderá olhar com ceticismo para as características aqui mencionadas, considerando o fato de que talvez não faça parte da sua natureza ou da própria cultura onde foi inserido apreciar valores como felicidade, liberdade, plenitude ou excelência, por exemplo. Antes de pensar em se tomar um empreendedor, deve existir antes de tudo, uma grande figura humana, consciente de seu papel na sociedade. Valores e virtudes são características que determinam o sucesso ou o fracasso ser empreendedor. No caso do sucesso, não estou me referindo àquele construído sob a égide da sonegação, da extorsão ou da apropriação indébita dos bens alheios, sob quaisquer circunstâncias; atitudes comuns no passado, fruto das escolhas praticamente irreversíveis realizadas por diversos empresários. Os valores são a expressão conceitual das "preferências ou opções morais de uma sociedade em determinada época e com determinado nível de desenvolvimento econômico e cultural. Estão associados a uma série de fatores que permeiam a existência humana desde os tempos mais remotos, portanto, são determinantes na vida pessoal e profissional dos cidadãos. A construção dos valores e das virtudes é proveniente dos modelos mentais adquiridos com base em um conjunto de sentidos, pressupostos, regras de raciocínios, pré-julgamentos ou inferências que levam alguém a fazer determinada interpretação, algo que demanda cuidado e discernimento. Todos os indivíduos gozam de uma característica muito particular no sentido de avaliar o que é bom e o que é ruim: bom para quem, ruim para o quê, bom ou mal em que sentido? Quando se fala de valores positivos, a referência de maior peso deve ser o respeito à integridade física e à dignidade do ser humano. A questão central é: o que nos impede de agir dessa forma na vida pessoal e nos negócios? Quais são os nossos valores principais? Embora as preferências que regem a conduta social do ser humano sejam compartilhadas pelos membros da sociedade, cada indivíduo goza de livre arbítrio para decidir sobre questões morais e, de acordo com o seu modelo mental, elabora sua própria escala de valores sem que haja, necessariamente, uma total coincidência com a escala de valores adotada pelo consciente coletivo. O empreendedor tem os seus valores individuais respaldados pela própria conduta, ou seja, há uma correspondência absoluta entre os valores e as coisas que realiza. Quando suas ações entram em contradição com os valores, ocorre uma traição dos princípios básicos que norteiam toda sua existência e ele tende a entrar em choque com a mentalidade empreendedora. Aos que incorrem nessa contradição, há uma tendência generalizada de tentar confortar a si mesmo com autojustificativas que colocam o consciente em estado de alerta. “A consciência é a guardiã da moral", segundo Emerson. Por mais natural que pareça uma atitude de desrespeito temporário ou o ato ilícito cometido em momentos de desespero, a

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consciência não abandona os princípios. Dessa forma, haveremos de encontrar sempre o ladrão arrependido, o empresário redimido e o homem público desiludido, cujo passado lhes condena. Na vida pessoal e na vida profissional, o legítimo empreendedor se defronta com diferentes alternativas e se vê obrigado a realizar escolhas: o que eu ganho ou perco com isso? É exatamente o que eu quero fazer? Está de acordo com os meus valores e sentimentos? Porque estou fazendo isso? Quanto vai me custar? Quem eu estarei prejudicando ou beneficiando? Portanto, os valores adotados por ele devem ser inabaláveis, inconfundíveis e inegociáveis. Quais os valores fundamentais do empreendedor? Se perguntarmos a eles, é provável que cada um tenha desenvolvido uma escala de valores própria que não ultrapassa cinco ou seis itens: felicidade, plenitude, liberdade, amor e paz. Poucos se arriscam a mencionar o dinheiro, não porque não tenham apego a ele, mas pelo fato de soar mais simpático mencionar valores universais que derivam diretamente da condição humana. O modo como o empreendedor se relaciona com as pessoas - amigos, clientes,fornecedores, funcionários - determina parte da qualidade da sua imagem dentro e fora da organização. Se estiver convencido de que o trabalho que faz é honesto, útil para a sociedade e importante para as pessoas, sua imagem e seus valores são o reflexo de tudo isso. O fato de os valores existirem dentro de um conceito universal não significa que o seu entendimento e aplicação sejam universais considerando as dificuldades de relacionamento existentes em diferentes lugares do mundo, suportadas por violências de todos os tipos: guerras, conflitos étnicos e religiosos, desigualdades sociais e econômicas. Com relação aos valores universais, eles estão presentes nos legítimos empreendedores. Sua conduta é fundamentada na prática imutável de valores aqui mencionados, independentemente de qualquer quantidade de dinheiro que possam amealhar. Pela simplicidade das suas ideias, as vultosas quantidades de dinheiro acumuladas por alguns nem sempre podem ser explicadas, porém o fato é que foram premiados de alguma forma e cabe a eles retribuir para a sociedade parte do conforto que lhes foi proporcionado. A ordem de importância dos valores varia de empreendedor para empreendedor de acordo com os modelos mentais adotados, geralmente associados a características ou fontes distintas. É o que se denomina de "as fontes dos modelos mentais, maneira pela qual nós, seres humanos, organizamos e damos sentido às nossas experiências"(FURUTIÈRE,1990). Quadro 2.1 Fontes dos modelos mentais. Biologia

O primeiro filtro dos modelos mentais é o sistema nervoso. Limitações fisiológicas nos impedem de perceber certos fenômenos com os sentidos. A impossibilidade dessa percepção implica a possibilidade de ação. Nossa interconexão com o mundo é bem mais complicada do que pensamos. Os empreendedores com percepção aguçada têm vantagem sobre os demais e não utilizam os fatores biológicos como desculpa para a não-realização.

Linguagem

A linguagem é o meio no qual se estrutura a consciência do ser humano. A compreensão tradicional da linguagem é a "teoria Linguagem das etiquetas". Segundo essa teoria, vemos as coisas no mundo tais como elas são e depois lhes aplicamos um nome, uma etiqueta. Ex.: o empreendedor enxerga em determinado negócio resultados positivos que o ser comum não vê.

A cultura pode ser considerada um modelo mental coletivo. Basicamente, é um padrão de pressupostos compartilhados, aprendido por um grupo durante o

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Cultura

processo de seus problemas de adaptação externa e integração interna. Dentro de qualquer grupo - famílias, profissões, organizações, indústrias, nações - os modelos mentais coletivos se desenvolvem com base em experiências compartilhadas. Ex.: "aqui as decisões são tomadas por consenso", "aqui não se questiona a autoridade", "aqui os homens são os provedores da casa". A cultura reflete os valores adotados por uma sociedade e influencia a forma de pensar e agir dos empreendedores.

História Pessoal

Diz respeito à raça, sexo, nacionalidade, origem étnica, condição social e econômica, influências familiares, nível de educação, a maneira como fomos tratados por nossos pais, irmãos, professores e companheiros de infância, a maneira como começamos a trabalhar e alcançamos a autossuficiência. Todas essas experiências moldam o modelo mental utilizado pelos empreendedores para navegar pelo mundo e prosperar. Ex.: o filho que acompanha o pai desde cedo nos negócios tem mais probabilidade de assumir os negócios e correr mais riscos por conta própria na maioridade.

Uma das premissas fundamentais da mentalidade empreendedora é que, para construir um negócio bem-sucedido, liderar pessoas e promover o bem-estar dos clientes através da qualidade dos produtos e serviços oferecidos, é necessário fazê-lo a partir do exemplo pessoal, baseado em princípios, valores, virtudes, atitudes e condutas positivas. Atuar em ambientes distintos não significa ter personalidades diferentes. Com base nessa premissa, o empreendedor é um ser íntegro e a integridade pressupõe autoridade moral, sustentação básica da liderança ética adotada pelos empreendedores. A sociedade é pouco disposta a tolerar diferenças de comportamento a partir de um único ser, o ser integral. Para monitorar o nosso comportamento, a Internet demonstra ser o instrumento mais eficiente de democratização da informação, pois permitiu a ampliação do consciente coletivo, uma espécie de Iluminismo do mundo atual, na parte que vale a pena compará-la. Independentemente das banalidades encontradas, denúncias de todas as espécies são permitidas na rede mundial de computadores: maus-tratos, abusos de autoridade, agressões à natureza, desrespeito aos valores universais. Ainda que pouca coisa possa ser feita para resolver os problemas, a indignação afeta o consciente coletivo e estimula a revisão de valores, portanto, de fato, nada mais é possível gratuitamente sem o repúdio popular e a pressão sobre as autoridades em todas as camadas da sociedade, o que aumenta ainda mais a responsabilidade dos futuros empreendedores. Dentre os principais valores adotados pelos empreendedores para o estabelecimento de um modelo de vida, condizente com a sua forma de pensar e agir, os mais relevantes foram explorados a seguir. São valores universais, próprios de quem deseja dar sentido à realização através da criação de valor e prosperidade para todas as pessoas ao seu redor. O dinheiro é uma consequência e, apesar de necessário, não é determinante. Trata-se apenas de um instrumento de troca distorcido no mundo dos negócios, quase sempre atrelado ao sucesso ou ao fracasso de alguém, o que não reflete a mentalidade empreendedora. Quadro 2.2 Valores universais do empreendedor.

Felicidade É inerente ao ser humano, o estado mais desejado, um conceito relativo, e não tem relação direta com o dinheiro. No nível externo ou de resultados, segundo Fredy Kofman, a felicidade

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se produz quando a pessoa tem êxito, quando ela obtém o que deseja, seja numa situação que ocorre por influências das suas próprias ações ou ainda por um lance de pura "sorte", como ganhar na loteria, por exemplo. A felicidade é um estado de espírito, transitório, que se alterna de acordo com o desenrolar dos acontecimentos na vida de uma pessoa, com sentidos diferentes atrelados aos modelos mentais de cada um. No caso do empreendedor, é fundamentada pelas realizações positivas, planejadas ou não, com resultado efetivo e aparente, e ofuscada em alguns momentos por fracassos temporários. No nível interno, a felicidade existe somente quando se opera em harmonia com os desejos mais profundos de realização no âmbito pessoal e profissional. Não pode jamais ser adquirida em moeda corrente, pois seu estado é temporário. Qualquer instrumento de troca na tentativa de adquiri-Ia provoca uma pseudo felicidade com duração limitada e de caráter duvidoso. A felicidade é a soma de pequenas vitórias ao longo da jornada.

Liberdade Dá asas ao espírito empreendedor. No sentido literal da palavra, é o sentimento de se poder fazer o que quiser, sem restrições ou impedimentos de qualquer natureza, para se conseguir o que se deseja. O fato de se gozar da liberdade não garante êxito nem sobrevivência, pois depende da forma como é utilizada. Ser livre significa poder perseguir a felicidade utilizando-se de todos os recursos à sua disposição sem interferir, obviamente, na liberdade alheia. Considero o maior valor a ser perseguido pelo empreendedor quando utilizado de forma ética, a serviço do bem comum. Viver livremente numa sociedade significa ter o direito inalienável de viver uma vida digna, isenta de agressões e ameaças, independentemente da cor, credo ou ideologia política. Liberdade é o estado de espírito alcançado pelo elevado grau de confiança em si mesmo. Tem a ver com a fé, a livre consciência e, principalmente, com o sentido de realização dentro da sociedade. É o que moveu George Washington, Nelson Mandela, Thomas Edison, Mahatma Gandhi, Madre Tereza de Calcutá, Chico Mendes, Zilda Arns e outros ilustres que mudaram os acontecimentos ao seu redor.

Plenitude É a sensação de viver com total intensidade e paixão, experimentando cada momento como se fosse único. É o sentimento de inclusão e aceitação no meio onde se vive por fazer parte de uma corrente de acontecimentos. A plenitude também provoca oscilações pelas mesmas razões que a felicidade. O ser empreendedor alterna entre momentos de alegria e de frustração, porém sabe que tudo é vida, tudo é trabalho, tudo é realização, portanto, aproveita os momentos de plenitude para criar ainda mais e nos momentos de menor grau de plenitude refaz o caminho, corrige a rota, recua, se necessário. Quando há empenho e trabalho sério envolvido, é apenas questão de tempo para que as coisas retornem ao seu devido lugar. A plenitude tem a ver com o êxtase e a máxima satisfação, pressupõe um estado mais avançado de espírito. A plenitude implica uma boa dose de energia e comprometimento por parte dos empreendedores e deve ser associada a uma conquista, uma meta a ser perseguida. A plenitude é o encontro da preparação e da oportunidade, movida por um sentimento único de realização em todos os sentidos.

Excelência É o compromisso com a efetividade e com o aprendizado, operada em harmonia com os demais valores. Significa a realização do melhor produto ou quantidade possível de serviços para a melhoria do ambiente em que vive. O empreendedor eficaz é movido pela excelência, pela obtenção dos melhores resultados. Não tem nada a ver com "ser o melhor", mas com melhorar as coisas ao seu redor, por meio da contribuição efetiva na melhoria das pessoas. Infelizmente, a excelência não se mostrou efetiva na evolução da sociedade. A diferença de cores, credos e sistemas de governos é um obstáculo a ser superado na conquista da

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excelência e todo legítimo empreendedor tem consciência disso. A eterna disputa entre a razão e a emoção é um desafio que atravessa séculos, próprio do instinto humano aprisionado em sua própria caverna, segundo Platão. Empreendedores são seres incansáveis na busca da excelência, com os melhores resultados possíveis e com a possibilidade constante de melhoria.

Autonomia e Independência É a capacidade de assumir o protagonismo na determinação dos valores e objetivos pessoais. Significa assumir o comando de si mesmo e dar vazão à criação para os desejos mais duradouros. A autonomia pressupõe o desenvolvimento de uma visão, uma missão e a fundamentação de valores e virtudes pessoais. Viver com autonomia significa operar no mundo possível com determinada liberdade de ideias e pensamentos, guiando-se pelos seus próprios valores e não pelos valores coletivos. O contrário da autonomia é a subordinação do critério pessoal às convenções coletivas, o que muitas vezes provoca uma subordinação irresponsável. O massacre dos judeus na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, reflete a natureza humana subordinada a uma "obediência devida" ao alto comando alemão e a história determinou que toda atrocidade cometida de forma desmedida é de responsabilidade única do próprio ser humano. Quando a autonomia fere e ultrapassa os limites da ética, atinge o estágio do abuso e este, por sua vez, caminha em lado diametralmente oposto ao espírito empreendedor.

Sentido de Realização/Reconhecimento O sentido de realização vai além da necessidade de sobrevivência e reflete a extrema ansiedade humana por reconhecimento perante a sociedade. Imprimir uma boa dose de energia em determinado projeto pessoal ou profissional sem a justa e correspondente recompensa tende a gerar insatisfação absoluta e seus respectivos malefícios. Ninguém produz simplesmente por produzir. Em qualquer modelo de agrupamento, há necessidade premente de reconhecimento, de admiração e de conforto do ego. Os seres empreendedores são automaticamente recompensados pela excelência dos seus resultados. O seu empenho é tão efetivo que chegam a ficar espantados no momento em que são agraciados por títulos de qualquer natureza. O sentido de realização é uma característica de quem percebe o mundo como um vasto campo de ideias e oportunidades e por esse motivo dá vazão à criação. O ser empreendedor não foge à responsabilidade de fazer a parte que lhe cabe nesse grande latifúndio chamado Terra. No sentido mais amplo, é o realizador, o ser integral, capaz de dedicar uma existência inteira em benefício de uma causa nobre. Outros valores poderiam ser mencionados, como paz e amor, por exemplo, destinados para causas ainda mais nobres no contexto geral da humanidade, o que não significa menos importância na escala dos valores adotados pelos empreendedores. Eles entendem esses valores como consequência de um trabalho bem realizado e, portanto, estão arraigados no caráter individual de cada um e na realização do seu projeto pessoal. O desenvolvimento dos valores é apoiado por determinadas virtudes e comportamentos que promovem espaços férteis de convivência na vida pessoal e profissional do empreendedor. Na sociedade em que vivemos, comportar-se de acordo com essas virtudes produz uma existência digna e impele o homem a manifestar seu verdadeiro potencial. O resultado é uma vida plena, que ao mesmo tempo expressa e promove os valores mais fundamentais do ser humano. Os valores orientam a conduta humana e indicam, do ponto de vista moral, o que pode ser feito e o que não pode ser feito, o que é justo e o que é injusto, quais os meios e os fins aceitáveis e quais não o são. As virtudes são construídas durante toda uma existência e atuam como agentes catalisadores da consciência humana. Em geral, expressam a realidade interior

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de cada um, o que pressupõe caráter eminentemente subjetivo, de acordo com o modelo mental estabelecido pelo interlocutor que as coloca em julgamento. Aos olhos de alguém, uma virtude, aos olhos de outrem, um defeito. Não existe unanimidade nesse sentido embora as escolhas se aproximem por afinidade. O fato é que quando as ações realizadas entram em contradição com os seus valores, o maior prejudicado é o próprio interlocutor. Isso se aplica perfeitamente aos empreendedores. A prosperidade dos negócios depende, em grande parte, da formação da sua base moral e intelectual fundamentada pelas virtudes que lhe foram imputadas de acordo com os conceitos estabelecidos pelo meio onde nasceu e viveu ou adquiridas pelo próprio hábito. Aristóteles afirmava que há duas espécies de virtudes: a intelectual e a moral. A primeira deve, em grande parte, sua geração e crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e tempo; ao passo que a virtude moral é adquirida em resultado do hábito. É evidente, pois, que nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza, visto que nada que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito. Da mesma forma que os valores, as virtudes relacionadas a seguir são recomendáveis aos empreendedores. Obviamente, não são comuns a todas as pessoas e devem ser perseguidas e incorporadas à medida que o empreendimento se desenvolve. A maioria dos empreendedores aspira a uma existência rica e feliz, em plenitude, gozando de total liberdade, preferencialmente, dentro de um clima de paz e harmonia, sem se descuidar dos valores e virtudes. Quadro 2.3 Virtudes do empreendedor.

Responsabilidade O ser empreendedor assume total responsabilidade sobre seus atos. E o que é ser responsável? É ter plena consciência de que todas as ações do homem giram em torno de causa e efeito. Quando decide assumir o protagonismo da sua vida, o empreendedor entende e aceita que é capaz de responder às circunstâncias, segundo seus próprios valores. Ser o "dono de si mesmo" implica ter a noção exata da cobrança imposta pela sociedade sem possibilidade de atribuir a culpa aos outros. Ser responsável significa prestar contas de suas ações, primeiro a si mesmo e depois à sociedade. O legítimo empreendedor não se vê como vítima das circunstâncias nem leva a responsabilidade ao extremo, afinal os resultados estão atrelados a um conjunto de fatores, muitas vezes de ordem incontrolável. Determinados acontecimentos não dependem do ser humano e dessa forma escapam à sua responsabilidade: os desejos alheios, as características físicas, o decorrer do tempo, os fenômenos meteorológicos e as decisões alheias sem a respectiva negociação. Portanto, não existe uma responsabilidade universal, afinal, não somos deuses. "A responsabilidade pessoal é uma atitude que indica o grau de compromisso que temos com nosso próprio crescimento como seres humanos e como profissionais."(Schumpeter, 1982)

Disciplina Disciplina é uma virtude determinante na condição de vida do ser empreendedor. Está ligada ao método, ao compromisso, à integridade e à paixão pela realização de uma ideia. Kofman a define como a capacidade de subordinar qualquer gratificação imediata visando obter uma gratificação mais importante (ou sublime) no longo prazo? É diferente da complacência ou da indulgência, que se referem à subordinação de valor transcendente ao prazer momentâneo. Diz respeito à capacidade que o empreendedor possui de hierarquizar seus objetivos de longo prazo, atribuindo-lhes maior ou menor grau de importância em relação às tentações instantâneas para não se perder na atração do momento. A disciplina pressupõe sacrifício, palavra geralmente associada a dor ou penúria. A palavra sacrifício tem a mesma raiz de

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"sacro" ou "sagrado", portanto, sacrificar significa também sacralizar, cedendo algo mais baixo (denso ou grosseiro) por algo mais elevado (sutil). Grandes obras da humanidade estão diretamente relacionadas ao uso correto da disciplina e, por consequência, do sacrifício. DaVinci, Tolstoi, Mozart e Aleijadinho são apenas alguns dos inúmeros exemplos de esforço, treinamento, disciplina, constância, ensaios, exercícios, práticas, ensaios e compromisso com a realização da tarefa, portanto, suas obras são universais. Segundo o escritor e pensador Henry David Thoreau, não existe nenhum fato mais encorajador que a inquestionável capacidade humana de aceitar a própria vida através do esforço consciente. A disciplina é o próprio esforço consciente à prova de decepções de toda ordem.

Honestidade É a expressão consciente da verdade mais profunda. A honestidade é a base da credibilidade e da autoridade moral que difere o legítimo empreendedor dos demais homens ou mulheres de negócios comuns. Em princípio, é uma virtude que quase todos reclamam dos demais e poucos estão dispostos a praticá-las até as últimas consequências. O empreendedor que exige honestidade de seus colaboradores, fornecedores e do governo deve ter uma conduta inquestionável, consequente com o seu discurso. Ser honesto consigo mesmo é viver em estado permanente de autoreflexão, autoavaliação e reciclagem. Ser honesto com o mundo e com a sociedade significa abrir mão de ganhos puramente unilaterais em benefício do bem comum. A honestidade é a promessa cumprida, ligada ao senso de responsabilidade. É honesto o empreendedor que se vale das prerrogativas da lei para recolher seus impostos, não de arranjos ou falcatruas para cobrira ausência de disciplina financeira. É honesto o pai que repreende o filho e assume a responsabilidade por um atropelamento ou um delito cometido por ele em vez de tentar encobri-lo valendo-se de certo prestígio ou status social. É honesto o empreendedor que remunera corretamente seus colaboradores diretos ou indiretos sem a necessidade de regatear o excedente de trabalho realizado em benefício do próprio sucesso financeiro do patrão. É honesto todo aquele que admite seus erros e não recorre ao autoengano para se sentir tranquilo ou satisfeito em relação a qualquer ato ilícito cometido em detrimento de terceiros.

Humildade Para se tornar uma pessoa responsável, todo empreendedor deve ter uma dose razoável de humildade. A sociedade entende a humildade como uma atitude positiva e, nesse sentido, nada tem a ver com a condição socioeconômica dos indivíduos. Em geral, é a capacidade de aceitar ou ignorar que o próprio conhecimento a respeito das coisas é insuficiente e por essa razão há de se respeitar e escutar quem sabe mais ou tem maior experiência sobre determinado assunto. O fato de alguém pedir esclarecimentos ou escutar uma sugestão, independentemente do nível de graduação do interlocutor, não desmerece sua capacidade intelectual nem diminui o prestígio ou autoridade de alguém perante a sociedade. O exercício permanente da humildade conduz ao crescimento intelectual e espiritual pelo fato de permitir a troca entre diferentes perspectivassem, necessariamente, comprometer determinado ponto de vista. O empreendedor sabe que o julgamento está sujeito a diferentes interpretações, portanto, não sente necessidade de mostrar que tem sempre razão, e cada conflito, desentendimento ou mal-entendido representa uma oportunidade de ampliar a compreensão a respeito do mundo e das dificuldades que o cercam. Ser humilde significa recuar temporariamente e reconstruir o modelo de pensamento. Nesse sentido, os empreendedores são experts, e ainda que sustentem uma ideia preconcebida a respeito do futuro, aproveitam as oportunidades que se abrem gratuitamente no inconsciente coletivo e deixam de ser captadas pela maioria daqueles que se predispõem a fazer negócios. A natureza cobra essa humildade espalhada voluntariamente aos quatro cantos sem a devida correspondência considerando a mudança de padrão de vida que, invariavelmente, o

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empreendedor experimenta à medida que os negócios crescem. Integridade

É a perfeita correspondência entre o discurso e a prática, o respeito aos contratos, a geração de confiança pela palavra. Ser íntegro significa cumprir promessas, honrar compromissos, prometer somente aquilo que se está disposto a cumprir. "Uma promessa representa o direito que conferimos ao outro e que lhe permite a realização de determinadas coisas. Romper a promessa equivale a desconhecer um direito (propriedade) do outro e constitui séria falta de respeito”(GERBER,2004). Emerson afirmava que os grandes homens valem mais por sua amplitude e extensão do que pela sua originalidade, o que compromete significativamente a seriedade da maioria dos homens de negócio na face da Terra. Em outras palavras, os seres humanos são medidos e valorizados, de forma equivocada, mais pela aparência e pelos bens acumulados do que pela originalidade. Dessa forma, o empreendedor deve estar atento à qualidade dos atos praticados e das palavras proferidas, cuja importância vai se tornando mais relevante à medida que constrói um patrimônio e uma reputação na sociedade. A integridade não admite mudança de discurso. A conduta pessoal e a profissional são indissociáveis. O mundo dos negócios exige muito mais aparência e disposição do que o mundo familiar, porém uma representação teatralizada na sociedade coloca em xeque a credibilidade de qualquer indivíduo e, não raro, as condutas irregulares explodem na mídia para desmascarar o discurso não aplicado na prática.

Respeito Todos os seres humanos têm o direito inalienável de viver como bem entenderem com a restrição única de respeito ao mesmo direito inalienável dos outros. Respeitar a decisão de outros não significa necessariamente subserviência ou estar de acordo com a opinião alheia. Quando existe a predisposição de escutar a opinião alheia, a pessoa torna-se vulnerável quanto à sua opinião e talvez tenha de modificá-la. Por mais convicto que o ser empreendedor possa parecer, sempre haverá momentos de dúvida ou de discordância em relação aos colaboradores e patrocinadores, portanto, a possibilidade de mudança é uma variável praticamente inevitável. O respeito aos contratos pressupõe a adoção de valores e virtudes compatíveis com a maneira de pensar e agir do empreendedor. Em qualquer empreendimento, o respeito se faz presente quando existe liberdade para o diálogo, para a opinião alheia e para o convívio com as adversidades. Para que haja respeito absoluto, a humildade é uma precondição. São virtudes, complementares, de importância vital para o enriquecimento mútuo em todas às formas de organização.

Equanimidade É o perfeito equilíbrio entre a razão e a emoção. Significa ainda o tratamento justo e igualitário, respeitadas as diferenças de cada um em particular. Ser equânime pressupõe caráter e grandeza de espírito suficiente para a ausência de julgamento. Em situações de relativa tensão emocional, a equanimidade tem o poder de reavivar o compromisso assumido consigo mesmo para o controle da situação e das palavras. A equanimidade pode ser ofuscada pela falta de serenidade ou pela volatilidade. O empreendedor desequilibrado dificilmente conseguirá tomar uma decisão sensata em momentos de dificuldade. Essa virtude requer senso de justiça. “A justiça é a virtude mais completa no mais próprio e pleno sentido do termo porque a pessoa que a possui pode exercer sua virtude não só em relação a si mesma, como também em relação ao próximo.” (DRUCKER, 1987). O legítimo empreendedor entende e pratica essa virtude de forma natural e inequívoca.

O Não-julgamento Praticar o não-julgamento é uma atitude nobre. Os seres humanos, condicionados por

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modelos mentais distintos, carregam uma dose incontrolável de pré-julgamento à sua disposição e fazem uso dela de maneira indiscriminada. O ser empreendedor não dispõe de tempo para isso, salvo em questões de negócios onde a comparação torna-se inevitável e deve ser tomada como exemplo a ser seguido ou ignorado. A consciência do momento presente e da diferença biológica entre os seres humanos são suficientes para a prática do não-julgamento. Em cada ser humano há também uma razoável dose de discernimento, portanto, não é necessário elevar ou destruir o pensamento alheio com o simples olhar. A consciência do não-julgamento permite a convivência pacífica com profissionais de diferentes níveis, credos, cores e religiões, o que propicia um ambiente altamente favorável para o estímulo da criatividade e do conhecimento mútuo. O julgamento constante desvia os olhos do objetivo principal, portanto, deve ser evitado a qualquer custo para se reduzir a tendência equivocada de sempre olhar ao redor com uma perspectiva unilateral e pretensiosa que não conduz a nenhum resultado efetivo. O modelo empreendedor proposto neste livro difere sensivelmente do modelo tradicional adotado por estudiosos como Drucker, Hirisch e Schumpeter, que encontraram nos empreendedores características muito mais comerciais ou de negócio do que valores e virtudes associados ao caráter pessoal dos indivíduos na condição de seres humanos comuns. A ideia central é defender a indissociabilidade do empreendedor no campo pessoal e profissional. Creio que o êxito dos empreendedores depende de um conjunto de habilidades, características, valores e virtudes que não podem ser adotados de maneira excludente no trabalho ou fora dele. O bom desempenho dos negócios é resultado do conjunto de forças aplicadas na mesma proporção em qualquer ambiente, capaz de impulsionar e moldar o estilo de vida a serviço do bem comum. Tentar separá-los e imaginar que é possível adotar comportamentos diferentes em cada campo de atuação termina sempre em conflitos com a própria natureza humana. A mente é a mesma e o julgamento não muda, portanto, como diz o próprio nome, ser íntegro significa comportar-se da mesma maneira, com as mesmas características, valores e virtudes em ambientes distintos. A utilização de comportamentos totalmente diferentes em casa e no trabalho beira a hipocrisia, típica do empreendedor imaturo, despreparado para construir um negócio que sirva de modelo para as futuras gerações. Ele pode amealhar a maior quantidade de dinheiro possível, mas será muito mais lembrado por suas atitudes levianas do que por suas atitudes relacionadas à geração de valor e riqueza. O quadro a seguir foi desenvolvido originalmente por Emiliano Gómez, e adaptado para a realidade dos negócios em geral. O empreendedor ideal poderá manifestar seus valores e virtudes por meio das seguintes atitudes:

Atitudes empreendedoras - Procure honrar seus compromissos perante fornecedores, colaboradores e clientes. - Seja honesto consigo mesmo e com os outros sem medo de expressar sua verdade mais profunda. - Respeite os diferentes pontos de vista mesmo quando não concorda com eles. - Pratique o não-julgamento ou o julgamento com base somente nos resultados. - Utilize toda sua experiência de vida (erros e acertos) como uma oportunidade de aprendizado constante. - Mantenha o equilíbrio emocional perante as adversidades. - Apoie o crescimento pessoal e profissional de todos aqueles que fazem parte do seu círculo de relacionamentos. - Pratique a excelência e empenhando todos os esforços para a construção de um mundo melhor para a família e a sociedade através do seu empreendimento. Faça o melhor esforço

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possível. - Lembre-se de que os fins não justificam os meios, portanto, pratique a integridade, ou seja, a correspondência entre os seus valores e a sua conduta. Valores e virtudes são elementos inegociáveis. Contudo, empreendedores e empresários são convidados frequentemente a abrir mão de suas convicções em troca de benesses tentadoras que, em princípio, parecem resolver todos os seus problemas, mas, quando levadas à reflexão e contabilizadas, trazem consequências irreversíveis na sua vida pessoal e profissional. O empreendedor ideal deve adotar valores e princípios dos quais não pretende abrir mão durante a vida a fim de gerar credibilidade no seu círculo de relacionamentos. Adotar uma postura perante os fornecedores e outra perante os clientes poderá colocar em risco a sua integridade. Quando isso ocorre, o risco é automaticamente transferido para a sustentabilidade dos negócios.

O líder empreendedor O que faz uma pessoa comum se tomar um líder? O que faz um líder se tornar empreendedor? O que faz o empreendedor se tomar um líder? Todos os empreendedores são líderes? Todo líder deve ser empreendedor? A liderança pode ser ensinada nas escolas? Se perguntarmos a definição de líder para profissionais em cargos de comando ouviremos diferentes respostas: líderes são motivadores, carismáticos, inspiradores, estabelecem metas e objetivos, criam uma missão e uma visão, têm valores bem definidos, influenciam pessoas e gerações, estabelecem novas culturas e assim por diante. Entretanto, se a pergunta for "o que os líderes devem fazer?", provavelmente a resposta será: o papel do líder é extrair os melhores resultados da sua equipe. Embora seja um conceito mal compreendido e adotado de maneira equivocada, a liderança tornou-se uma característica indispensável no mundo dos negócios. Associar Bill Gates, Lee Iaccoca, Winston Churchill, Jack Welch, Antonio Ermírio de Moraes, Henry Ford e outras personalidades ao espírito de liderança não está totalmente errado, mas o fato de alguém adotar suas qualidades na tentativa de se tomar líder não garante a sua transformação em líder absoluto. No exercício da profissão, constato a triste realidade de dezenas de executivos que desperdiçam tempo e energia vital simplesmente para causar boa impressão e para mostrar aos superiores uma liderança que conflita com os seus princípios e valores, em vez de dedicarem esforços para fazer as coisas da maneira mais simples e correta possível para seus liderados. Contrários à recomendação de Deepak Chopra, quando afirma que um líder precisa entender a hierarquia das necessidades dos seguidores para dar as respostas certas que possam satisfazê-los, os líderes se perdem em receitas prontas que não trazem resultados efetivos. Não estou afirmando que os executivos dessas empresas sejam maus líderes, porém existem características que distinguem bons líderes de líderes medianos. Neste começo de século é possível encontrar uma verdadeira indústria de experts em liderança que se dizem capazes de testar e treinar executivos em todos os níveis hierárquicos de uma organização. Entretanto, a liderança confunde e ilude muitas pessoas e organizações pelo fato de existirem poucas pesquisas sobre os resultados positivos provocados por determinados estilos de liderança utilizados por pessoas em cargos de comando. Em geral, o que se lê nas revistas e nos livros diz respeito ao impacto negativo provocado pela ausência de liderança nas empresas e suas consequências desastrosas. Apesar de "misterioso e ilusório", alguns dos principais "gurus" da administração moderna têm a definição de liderança na “pontada língua", sob diferentes ângulos ou pontos de vista. A

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essência não muda, portanto, vale a pena resgatá-los para solidificar o conceito. O empreendedor ideal deve esforçar-se para absorver a essência da liderança. Isso muda a realidade dos negócios. Quadro 2.4 Conceitos de liderança.

Autor Conceito Deepak Chopra As 7 Leis Espirituais do Sucesso

É a decisão de sair das trevas. Somente alguém capaz de ter sabedoria em meio ao caos será lembrado como grande líder.

Emiliano Gómez Liderança Ética

É a arte de se relacionar construtivamente com outras pessoas e conseguir que se mobilizem para atingir determinados objetivos comuns.

Hanz Finzel Dez Erros que o Líder Não Pode cometer

É a capacidade de reconhecer as habilidades especiais e as limitações dos outros, associada à capacidade de introduzir cada um dentro do serviço que desempenhará melhor.

James Hunter O Monge e o Executivo

É a capacidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente, visando atingir objetivos comuns e inspirando confiança por meio da força do caráter.

Ken Blanchard O Gerente Minuto

É o processo de influenciar pessoas.

Peter Drucker A Profissão de Administrador

A primeira coisa que caracteriza a liderança é o trabalho. O alicerce da liderança eficaz é criar missão, defini-Ia, estabelecê-la de forma clara e visível. O líder estabelece metas, define prioridades, determina padrões e os mantém.

Peter Senge A Quinta Disciplina

A capacidade de facilitar o aprendizado dos indivíduos e das equipes.

Stephen Covey O Hábito nº 8

A liderança está em comunicar às pessoas seu valor de modo tão claro que elas possam vê-lo como próprio.

Tom Peters Vencendo a Crise

A verdadeira liderança é um processo conjunto de descoberta.

O espírito de liderança está diretamente atrelado ao fato de que sem iniciativa, sem paixão e sem "riscar o fósforo", não existe liderança capaz de "incendiar o empreendimento" e levar qualquer negócio adiante. Com todas essas atribuições, certos empreendimentos ainda se tornam inviáveis e, apesar das justificativas, raramente sabemos os principais motivos que levaram ao fracasso. Quando o inverso ocorre, torna-se mais fácil. Em determinados casos, a liderança é atropelada pelo desejo de obter resultados imediatos. É o caso de empreendedores que se empenham em alcançá-los de maneira alucinada e se perdem na gestão dos colaboradores porque alimentam o ego na mesma proporção. Para incorporar o espírito da liderança, o empreendedor deve deixar de lado os mecanismos rígidos de defesa e aceitar as críticas de maneira receptiva. Por sua natureza realizadora, empreendedores têm dificuldades em aceitar ideias e críticas de pessoas mais próximas, principalmente quando à frente de um negócio de natureza familiar. A liderança de uma empresa familiar difere razoavelmente da empresa tradicional. Na empresa familiar o foco é a manutenção da unidade familiar e a administração das emoções. Na empresa convencional o foco concentra-se prioritariamente nos resultados. Para extrair um conceito mais adequado ao empreendedor do terceiro milênio, é oportuno associar os componentes da inteligência emocional idealizados por Daniel Goleman, os quais se aplicam diretamente aos objetivos propostos neste tópico. Inteligência Emocional é a habilidade de dirigir eficazmente a nós mesmos e a nossos relacionamentos, segundo Goleman, e pode ser construída mediante a absorção de cinco componentes distintos. Cada um é composto por uma lista de capacidades e suas correspondentes características pessoais.

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Quadro 2.5 Os cinco componentes da inteligência emocional.

Componente Definição Marca Autoconsciência

- A habilidade de reconhecer e entender seu temperamento suas emoções e iniciativas, assim como seus efeitos nos outros

- Autoconfiança - Autoavaliação realista - Senso de humor com seus próprios defeitos

Autodisciplina

- A habilidade de controlar ou redirecionar impulsos e temperamentos desordenados - A propensão a protelar julgamentos, pensar antes de agir

- Confiança e integridade - Conforto com a incerteza - Sinceridade para mudança

Empatia

- Capacidade de entender o modo de ser emocional das outras pessoas - Habilidade em treinar pessoas de acordo com as suas reações emocionais

- Especialidade em construir e reter talentos - Sensibilidade relacionada a diferentes culturas - Serviço aos clientes e compradores

Motivação

- Uma paixão de trabalho por razões que vão além do dinheiro e posição - Uma propensão a perseguir metas com energia e persistência

- Forte motivação para a execução de atividades - Otimismo, mesmo ao se defrontar com o fracasso - Compromisso organizacional

Habilidade Social

- Capacidade de gerenciar relacionamentos e de desenvolver networks (redes de relacionamento) - Habilidade para encontrar fundamento comum e construir entendimento

- Eficácia em liderar mudanças - Persuasão - Especialidade em construir e liderar equipes

O maior obstáculo do empreendedor é a dificuldade de lidar com o próprio ego e evitar que isso interfira na sua capacidade de realização. Quando olhar para dentro de si mesmo, ele deve lutar com os desafios da liderança para dominá-la e fazer uma diferença positiva na vida das pessoas que se aproximam dele, não somente pelo interesse de conquistar o emprego e ganhar dinheiro. As recompensas e as alegrias da liderança não são imunes à dor e suportá-la provoca mudanças positivas na sua vida e na vida dos liderados. A Teoria da Contingência diz que a liderança depende de urna situação em particular, o que é fundamentalmente verdade considerando que durante a vida é possível enfrentar uma variedade de contingências, portanto, existe também uma gama razoável de lideranças utilizadas por diferentes pessoas de diferentes culturas em modelos variados de negócios. Deve-se partir sempre do pressuposto de que quem inicia um negócio por conta própria possui algumas características fundamentais para o exercício da liderança, dentre elas a tomada de decisões, o desejo de sair da inércia, a necessidade de autorrealização e a predisposição para o compartilhamento, muito além da vontade de ganhar dinheiro ou enriquecer. Empreendedores com excelente iniciativa nos negócios fracassam quando se veem diante da difícil tarefa de liderar pessoas e inspirá-las a realizar coisas maiores ainda. O inverso também é verdadeiro. Excelentes líderes podem se tornar péssimos empreendedores. Líderes conscientes torcem pela empresa e pelo empreendimento que será levado adiante para o bem de todos os envolvidos. Um empreendimento bem-sucedido gera uma cadeia de

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prosperidade. Empreendedores em potencial devem possuir uma forte capacidade de liderança baseada em princípios. Somente um líder efetivo será capaz de agregar pessoas em torno de si e movê-las em direção aos objetivos por ele determinados. Equipes bem treinadas tendem a elevar a líder aquele que guia seus seguidores em direção a urna meta comum, porém alguns fracassam e outros obtêm êxito. No mundo dos negócios, é possível deparar-se frequentemente com vários empreendedores que apresentam dificuldades em entender os fatores que tornam uma pessoa um líder empreendedor ou, no sentido mais amplo, inspirador de equipes. Os principais mitos sobre liderança, estudados por pesquisadores da Universidade de Harvard, explicam parcialmente esse fenômeno, aqui aplicado ao universo do empreendedorismo. Quadro 2.6 Os quatro mitos mais comuns sobre liderança. Todos podem ser líderes. Não é verdade. Muitos executivos não possuem o conhecimento de si mesmos e a autenticidade necessária para a liderança. Isso é apenas uma parte da equação. Os indivíduos têm de também querer ser líderes e muitos empregados talentosos não estão interessados em tomar a responsabilidade em seus ombros. Outros preferem devotar mais tempo a suas vidas privadas que ao trabalho. Além do mais, há mais na vida do que apenas trabalho, e mais no trabalho do que ser o chefe. • No empreendedorismo não é diferente, razão pela qual o verdadeiro empreendedor acaba tomando as "rédeas" do negócio de maneira quase desordenada, mas, por uma questão de foco, as coisas praticamente conspiram a seu favor e ele vai se tornando líder aos poucos. Saber contratar bons profissionais com capacidade de liderança à medida que o empreendimento se desenvolve também é uma forma inteligente de conduzir o negócio e se envolver o menor tempo possível com a operação e a maior parte do tempo com a estratégia e a perpetuidade. Líderes levam a resultados. Nem sempre. Se os resultados fossem sempre uma questão de boa liderança, seria fácil escolher um líder. Em todos os casos, a melhor estratégia seria ir atrás de pessoas nas empresas com os melhores resultados. Mas, claramente, as coisas são tão simples dessa forma. Negócios com indústrias quase monopolistas geralmente se dão muito bem com uma gerência competente, melhor que com grandes lideranças. Da mesma forma, algumas empresas bem lideradas não necessariamente produzem resultados, especialmente em curto prazo. - Isso explica o fato de encontrarmos empreendedores com formação, cultura e valores completamente diferentes, porém alguns fracassam e outros obtêm sucesso nos negócios e não se pode afirmar que alguns sejam mais ou menos líderes do que outros. Durante a minha pesquisa de mestrado, foi possível encontrar empreendedores que venceram nos negócios mais pela persistência do que pela sua capacidade de liderança inspiradora. Pessoas que chegam ao topo são líderes. Não necessariamente. Uma das mais persistentes confusões é pensar que as pessoas em posição de liderança são líderes. As pessoas que chegaram ao topo podem ter conseguido devido a conchavos e não necessariamente graças a qualidades verdadeiras de liderança. Além disso, verdadeiros líderes podem ser vistos em toda a organização, desde a suíte executiva até o andar das lojas. Por definição, os líderes são simplesmente pessoas que têm seguidores e a posição não tem muito a ver com isso. Organizações militares importantes, como a marinha norte-americana, há muito se deram conta da importância de desenvolver líderes por meio da organização. • O sucesso nos negócios não está associado ao espírito de liderança, mas ao espírito empreendedor. No caso dos empreendedores, o estilo self made man é o mais utilizado e premia o esforço, a perseverança e a vontade de vencer. A liderança não está presente na totalidade dos empreendedores e nem por isso alguns deixam de obter êxito nos negócios, o

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que torna o conceito ainda mais intrigante. Nesse caso, a liderança é exercida por seus liderados, impulsionados por uma visão e uma missão inspiradora. Líderes são grandes coaches. Raramente. Toda uma atividade cresceu em torno do ensinamento de que bons líderes devem ser bons coaches. Mal tal pensamento diz que uma pessoa pode ao mesmo tempo inspirar as tropas e ensinar habilidades técnicas. É claro que é possível que bons líderes sejam bons coaches, mas isso acontece só ocasionalmente. São mais típicos aqueles líderes como Steve Jobs, fundador da Apple, cuja força distintiva está na habilidade de entusiasmar os outros mais por sua visão do que com seu talento para coaching. • O mesmo vale para o empreendedorismo. Milhares de empresas não resistem à segunda, terceira ou quarta geração apesar de todos os esforços de seus fundadores para perpetuar o negócio por meio de seus descendentes. Na maioria dos casos, o líder era o patriarca, o pai patrão, principalmente na empresa familiar, e o seu exemplo de vida não foi suficiente para neutralizar o risco do negócio, a falta de visão de futuro, a disputa de poder e a dilapidação do patrimônio pelos sucessores. O exercício da liderança será imprescindível na economia do século XXI, algo inevitável e necessário para a criação de valor na sociedade. Adotar os princípios da liderança servidora e entender o papel da liderança não é suficiente para que o empreendedor domine o complexo ambiente dos negócios, porém é um grande começo. Durante 30 anos de carreira tive a oportunidade de conviver com mais de uma centena de líderes com diferentes cargos e funções: diretores, gerentes, coordenadores, supervisores e chefes de setor. Alguns eram líderes por excelência, outros sequer entenderam o conceito nem apresentaram os traços de qualidade que distinguem os que fazem dos que não fazem a liderança ganhar sentido nas organizações. O aprendizado foi inestimável, principalmente, o que não fazer para manter o moral da equipe e convencê-la a alinhar seus objetivos pessoais com os objetivos da empresa. Parece simples, mas é algo extremamente complicado, por vezes impraticável. O empreendedor terá esse desafio pela frente e não poderá se furtar aos problemas dos seus colaboradores. O empreendedor deve almejar sucesso levando em consideração essa premissa: "são as pessoas que realizam o trabalho". Uma das tarefas indelegáveis do líder é "tornar as pessoas produtivas", e para isso é necessário desprender-se da prepotência e da vontade de demonstrar aos outros uma aparente condição de superioridade. Tornar as pessoas produtivas e engajadas na missão da empresa requer a adoção dos princípios da liderança servidora, bem definidos por James Hunter. Adotar esses princípios significa também adotar uma postura diferente nos negócios e pensar mais na organização do que nos interesses pessoais. Quadro 2.7 Princípios da liderança servidora. Liderança exige paciência: ter paciência é demonstrar autocontrole. Essa qualidade de caráter é essencial para um líder na medida em que a paciência e o autocontrole são os fundamentos do caráter e, portanto, da liderança. Liderança exige gentileza: gentileza é dispensar atenção, apreciação e encorajamento aos outros. A segunda definição possível é tratar os outros com cortesia. Os líderes efetivos pressionam e estimulam os outros a aumentarem o seu nível de atuação. Seu papel é encorajar as pessoas a partilharem conhecimentos e experiências de forma a influenciarem constante e positivamente quem está ao seu redor. Você não precisa ser chefe para encorajar e influenciar os outros.

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Liderança exige humildade: os líderes humildes não sofrem nenhum complexo de inferioridade. Eles sabem que não têm todas as respostas e aceitam isso com naturalidade. Quando atingidos em sua escala de valores, princípios morais e senso de justiça, eles podem ser tão destemidos quanto um leão. Liderança exige respeito: tratar as pessoas com a devida importância. Quem está ao redor do líder percebe que ele é capaz de respeitar os outros, já que o vê a todo instante recebendo pessoas importantes. Delegar responsabilidade é um modo maravilhoso de demonstrar confiança e respeito. Liderança exige altruísmo: atender às necessidades dos outros, uma bela definição de altruísmo. A vontade de servir e se sacrificar pelos outros ao abrir mão do próprio anseio pelo bem maior. Liderança exige perdão: as pessoas vão cometer erros quando você for o líder, portanto, é essencial aceitar as limitações alheias e ter uma enorme capacidade de tolerar a imperfeição. Perdoar significa deixar o ressentimento de lado. Liderança exige honestidade: não tentar enganar ninguém. Poucos discordam que a honestidade e integridade são qualidades essenciais de um líder. Sem confiança, uma organização é um castelo de cartas. Liderança exige compromisso: "ser fiel à sua escolha". Compromisso é uma das importantes qualidades de caráter que um líder pode possuir e, é claro, só se torna possível com uma boa dose de força de vontade e de comprometimento. Depois de analisar mais de 30 livros de liderança, o que serviu de base para a elaboração do livro Liderança Orientada para Resultados (Ed. Campus), David Ulrich e Tony Rucci concluíram que existem sete fatores que ajudam o líder a construir o envolvimento dos funcionários, denominado de sistema VOI C E (ver Quadro 2.8). O sistema é pertinente ao assunto explorado neste livro e considero uma ferramenta importante no exercício da liderança empreendedora. Segundo os autores, cada profissional prioriza elementos distintos do sistema. Alguns se sentem mais motivados por recompensas em dinheiro do que pela visão ou pelo impacto e existe a possibilidade constante de que as prioridades mudem durante o desenvolvimento de suas carreiras. Em princípio, isso acontece naturalmente. Profissionais em início de carreira tendem a priorizar o dinheiro, em seguida a profissão, depois a carreira e mais adiante começam a pensar em qualidade de vida, a qual está relacionada com a cultura e o desenvolvimento econômico de cada país. Cabe aos líderes empreendedores identificarem os fatores capazes de motivar os funcionários de maior potencial. O negócio em si não é tão complexo quanto a administração de interesses em todos os níveis, motivo pelo qual o interesse dos colaboradores - os que acreditam no empreendimento tanto quanto o próprio dono - deve ser levado em consideração. Quadro 2.8 Sistema VOI C K para criar envolvimento dos funcionários. Visão: as pessoas querem encontrar um sentido ou um objetivo no trabalho que executam. Oportunidade: todos querem uma chance para aprender, crescer, avançar e melhorar naquilo que fazem. Incentivos: o dinheiro pode ser um bom fator de motivação se vier em quantidade significativa e se seu ganho estiver associado a objetivos específicos.

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Impacto: as pessoas querem fazer seu trabalho quando visualizam o impacto de seus esforços. Comunidade: os funcionários se envolvem mais quando se sentem parte de uma equipe. Comunicação: as pessoas têm mais motivação quando sabem o que está acontecendo. Empreendedorismo: cresce o envolvimento das pessoas quando elas têm a oportunidade de controlar como e onde o trabalho será feito. O envolvimento de cada colaborador requer total comprometimento e dedicação. A palavra lealdade abrange um comprometimento cego e o que se deseja é o sucesso dos negócios é um comprometimento intencional. A liderança eficaz faz com que os funcionários se identifiquem com os objetivos da empresa e mostrem orgulho em fazer parte dela. Uma opinião unânime nos livros consultados é o fato de que a liderança é uma característica adquirida aos poucos, de acordo com o ambiente onde se vive e trabalha, com a cultura e algumas habilidades individuais que despontam à medida que o ser humano se desenvolve. Para alguns, a liderança é uma questão de oportunidade. Para outros, absoluto desempenho. Na essência, a liderança é um processo de desenvolvimento pessoal que não tem fim e o teste ocorre quando o empreendedor é obrigado a se destacar perante o público, quer para defender os interesses de alguém, quer para defender os seus próprios interesses. Em outros casos é questão de sobrevivência mesmo e faz com que pessoas totalmente despreparadas tenham a oportunidade de comandar o destino de milhões de pessoas, porém eles demonstram ineficácia na missão e colocam tudo a perder. Isso é comum no meio político e familiar e mais comum ainda no meio empresarial, onde a falta de habilidade para lidar com as coisas mais simples não existe. O líder empreendedor deve desenvolver condições e ferramentas para despertar as habilidades dos colaboradores à medida que o empreendimento vai ganhando corpo, mas é necessário tratar a liderança como um fator importante a ser trabalhado em todos os níveis da organização. Quadro 2.9 Passos para desenvolver a habilidade dos colaboradores. 1. Aquisição: traga novos talentos por meio do recrutamento de profissionais de fora da empresa ou de outros departamentos da organização. 2. Construção: desenvolva o talento com treinamento na função, rotatividade de tarefas e empowerment. 3· Benchmarking: visite empresas que sirvam como referência nos processos profissionais voltados para o desenvolvimento. 4· Busca de recursos: faça parcerias com consultores, vendedores, clientes ou fornecedores de fora da empresa para reunir novas ideias. 5· Demissão: elimine profissionais com desempenho baixo ou inadequado. 6. Retenção: conserve os funcionários mais talentosos. 7· Critique em particular, elogie em público: isso fará com que os funcionários sejam respeitados pelos demais colegas e criará um clima de confiança ainda maior na missão, na visão e nos valores adota dos pelo empreendedor. Comumente, é possível encontrar inúmeros livros, artigos e periódicos dedicados ao estudo da liderança. Apesar do vasto material, os donos de empresas continuam à procura de novos líderes capazes de retirá-las do emaranhado de problemas e confusões proporcionados pela economia de mercado e pelo fenômeno da globalização. A consciência da importância da liderança e o exercício frequente das habilidades que fundamentam o perfil do líder determinam o encaminhamento dos negócios. Quanto maior a discussão e o estímulo ao aprendizado, menores as chances de conflito entre os membros.

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O resumo a seguir reúne as qualidades mais importantes a serem observadas por empreendedores na condução de um empreendimento. Considero a nata das 50 lições de liderança definidas por Tom Peters. Quadro 2.10 A essência da liderança empreendedora. 1. Líderes visionários são importantes. Mas grandes administradores são fundamentais. Visão é uma coisa muito elegante, mas a excelência mantida por uma companhia vem de um grupo de administradores capazes. Os grandes administradores são o cimento de uma organização. 2. Líderes criam o seu próprio destino. Acredite, nos próximos cinco anos – eu diria 50 anos - não haverá lugar para burocratas. Somente as pessoas que tomam a determinação pessoal de liderar sobreviverão - e isso é verdade para todos os níveis de todas as organizações. 3. Líderes fazem tudo ao mesmo tempo. Qual é o item mais restrito hoje, amanhã e depois de amanhã? O tempo. O futuro pertence ao líder que consegue fazer uma dúzia de coisas simultaneamente. E quem é ele? Quero dizer, ela? Quem consegue administrar mais coisas ao mesmo tempo? 4. Líderes confiam nos seus instintos. Intuição é uma palavra que adquiriu uma conotação ruim. Intuição é a nova física. É uma maneira prática, einsteiniana, de tomar decisões difíceis. Linha final: quanto mais loucos os tempos, mais os líderes devem desenvolver sua própria intuição - e confiar nela. 5. Líderes criam marcas. Você não será um líder nos próximos cinco anos se não for capaz disso. A capacidade de criar uma marca é que vai dar o tom da cultura e estabelecer as ideias que dão corpo à empresa. Essa é a marca registrada de um líder. Se você ainda não consegue fazer isso, trate de aprender. 6. Líderes não criam seguidores, criam mais líderes. Um número grande de líderes antiquados mede a sua influência pelo número de seguidores que diz ter. Mas os maiores líderes são os que não têm seguidores. É só pensar em Martin Luther King Jr. ou Nelson Mandela. Eles procuravam mais líderes, para que pudessem transmitir-lhes o poder de descobrir e criar os seus próprios destinos. 7. Líderes têm humor. Ninguém é infalível. Para sobreviver nestes tempos difíceis, você terá de rir de si mesmo e das situações muito mais vezes do que imagina. O humor é a melhor arma para evitar que você e sua equipe enlouqueçam. 8. Líderes sabem: energia gera energia. Cada companhia bem-sucedida, cada equipe bem-sucedida e cada projeto bem-sucedido funcionam com apenas uma coisa: energia. A tarefa do líder é transformar-se na fonte de energia que impulsiona os outros. 9. Líderes dão uma causa a cada pessoa. Se você quiser que as pessoas prestem atenção - realmente muita atenção -, aliste-as numa causa que possa despertar o seu interesse. Por exemplo: tornar-se parte de uma equipe que fará história. As pessoas fazem o impossível por uma causa. Mas por um negócio elas apenas trabalham. Qual é a sua causa? 10. Líderes pensam, ou melhor, sabem que podem fazer diferença. Os líderes estão convencidos de que vão fazer diferença. E isso não é ter um ego inflado, mas um saudável e inquestionável senso de adequação. Um líder assim atrai outros que partilham desse sentimento. E, partindo disso, surge uma equipe que, certamente, fará diferença! Há uma dose de subjetividade na essência da liderança definida por Tom Peters. Entretanto, autoconhecimento, confiança, foco e determinação podem torná-las objetivas se forem conquistadas para aumentar o valor e o bem-estar da sociedade. Lembre-se de que liderar significa conquistar as pessoas, envolvê-las de forma que coloquem alma, criatividade e excelência a serviço de um propósito de vida. Um simples pedido não provoca o efeito necessário na equipe.

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O líder empreendedor não gerencia pessoas, lidera pessoas. Não é necessário ocupar um cargo de liderança, tampouco construir um negócio por conta própria, simplesmente para se tomar líder. Líderes de fato lideram pelo exemplo e pela energia que empreendem em determinada missão, em negócios ou cargos políticos. A liderança tem tudo a ver com o comportamento do líder levando-se em conta que outras pessoas estão atentas ao seu desempenho. Qualquer cartão de visita faz de um profissional um presidente de empresa ou um diretor comercial. Não importa se a empresa fatura dez milhões ou dez mil reais, se dispõe de dez ou de dez mil empregados. O fato é que somente a consciência do papel da liderança e o aprendizado constante transformam o simples recém-formado da USP ou de Harvard num líder empreendedor. Esse processo é um longo caminho a ser percorrido. A crença que herdamos no progresso desencadeado a partir da Revolução Industrial não existe mais, segundo Peter Drucker. A crença de um mundo dominado pela civilização ocidental também não. Vivemos num mundo de difícil compreensão e, apesar do esforço, os próprios líderes mundiais não se entendem quanto ao padrão de desenvolvimento a ser adotado para não comprometer o futuro das nações. Os Estados Unidos estão sendo seguidos de perto e em breve podem ser ultrapassados pela China em termos econômicos. Nesse mundo de valores tão diferentes entre os países, o papel de líder empreendedor se toma cada vez mais essencial para manter o empreendimento vivo. Compreender esse papel e aplicá-lo na prática faz toda a diferença na condução dos negócios. Não existe fórmula secreta para a incorporação dos princípios básicos da liderança nem recomendação para esse ou aquele tipo de empreendedor. A liderança de Jack Welch no mundo dos negócios é questionada por estudiosos do assunto pelo fato de que ele cresceu na GE (General Electric), foi um produto da GE e a GE também foi um produto dele. De algum modo, como organização, a GE foi capaz de atrair, manter, desenvolver, preparar e selecionar Welch como líder. Soichiro Honda passou a infância ajudando o pai em sua oficina de bicicletas e, aos 15 anos, sem o benefício de uma educação formal, viajou para Tóquio em busca de trabalho. Arranjou emprego como aprendiz em uma oficina mecânica, mas acabou trabalhando como babá na casa do proprietário. Frustrado e desanimado, retornou para casa e, seis meses depois, foi chamado de volta, quando permaneceu por seis anos trabalhando como mecânico de automóveis até voltar para casa outra vez e montar a própria oficina mecânica. Apaixonado por corridas, Honda foi convencido por sua esposa a abandonar o hobby, depois de sofrer um grave acidente, e passou a concentrar suas energias nos negócios. Aos 31 anos, começou a fabricar anéis de pistão e fundou a Tokai Seiki Heavy Industry (TSHI). Constrangido pela falta de uma educação formal, matriculou-se na Hamamatsu School of Technology; mas revelou-se péssimo aluno, demonstrava pouco interesse nas aulas de engenharia que não envolvessem anéis de pistão, recusava-se a tomar nota das matérias e a fazer os exames escritos. Convidado a se retirar da escola, Honda decidiu fazer fortuna à sua maneira. Ao lado de Konosuke Matsushita, Akio Morita e Eiji Toyoda, Soichiro Honda é considerado um dos maiores líderes industriais do Japão, destacando-se por seu caráter e estilo independente que transformou um hobby em negócio e construiu uma empresa bilionária que produziu a melhor motocicleta do mundo. Ser líder é aprender com os próprios erros. Se o empreendedor for um líder perfeito e carismático, ótimo. Se não for, também não há problema, pois empresas como 3M, Procter & Gamble, Sony, Boeing, HP e Merck também não contavam com excelentes líderes e prosperaram.

O empreendedor socialmente responsável O século XXI é o século da responsabilidade social. Não há mais como ignorar o fato de que as empresas serão cada vez mais cobradas, e admiradas, se foro caso, de acordo com o seu nível de comprometimento com as causas sociais necessárias e mais urgentes da nossa sociedade.

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Em primeiro lugar, deve-se perguntar como é possível, para o pequeno e o médio empreendedor, por exemplo, adotar uma causa e assumir a postura socialmente responsável diante das dificuldades que assombram o estágio inicial das empresas, tais como a falta de capital de giro, a elevada carga tributária e até mesmo a falta de credibilidade, comum nos primeiros anos de atividade. Para responder essa questão é necessário entender o que significa assumir uma postura socialmente responsável no mercado. Para Ricardo Young, do Instituto Ethos, não existe empresa socialmente responsável sem que seus líderes o sejam. Um gestor socialmente responsável é bem diferente de um administrador tradicional, principalmente aquele formado na Escola Clássica da Administração, que leva em consideração conceitos poucos sistêmicos, essencialmente cartesianos, que priorizam apenas a obtenção crescente dos lucros do acionista, contrariamente ao que se espera deles. Agir como empreendedor socialmente responsável demanda geração de valorem três dimensões distintas e bem definidas: social, econômica e ambiental, que pressupõe a consciência do todo. Saber olhar a empresa sob o ponto de vista holístico é a vantagem do empreendedor socialmente responsável. Ele assume que a empresa faz parte de processos totalmente interdependentes, complexos e originários de causas distintas. Quando nascem e ganham corpo, as empresas adquirem uma nova função social e os empreendedores devem conhecer o impacto que a relação com a cadeia produtiva gera em todas essas camadas a partir da concepção do novo empreendimento. Esse impacto tende a crescer na mesma proporção do negócio e, a partir de determinado momento, merece atenção redobrada. A ideia de responsabilidade social incorporada aos negócios pode ser considerada recente. Com a aceleração da degradação ambiental provocada pelo desequilíbrio dos ecossistemas, aquecimento global e com o próprio aumento da população, há uma nova demanda por mais transparência nos negócios e as empresas são obrigadas a adotar uma postura mais responsável em suas ações. O lucro deve compensar a opção pelos negócios socialmente responsáveis. De maneira geral, quanto maior o lucro das empresas, maior o nível de responsabilidade social requerida. A adoção do conceito e a conquista do reconhecimento público são sustentadas com base em quatro características: Quadro 2.11 Características da responsabilidade social corporativa. 1. É PLURAL: as empresas não devem prestar contas somente aos acionistas, mas aos funcionários, à mídia, ao governo, ao setor não governamental e, por fim, à comunidade onde atuam. Empresas têm muito a ganhar na inclusão de novos parceiros sociais em seus processos decisórios. Um diálogo mais participativo não apenas representa uma mudança de comportamento da empresa, mas também mais legitimidade social. 2. É DISTRIBUTIVA: a responsabilidade social nos negócios é um conceito que se aplica a toda a cadeia produtiva. Não somente o produto final deve ser avaliado por fatores ambientais ou sociais, mas o conceito é de interesse comum, portanto, deve ser difundido ao longo de todo e qualquer processo produtivo. Assim como consumidores, empresas também são responsáveis por seus fornecedores e devem fazer valer seus códigos de ética quanto aos produtos e serviços realizados durante os processos produtivos. 3. É SUSTENTÁVEL: a responsabilidade social anda de mãos dadas com o conceito de desenvolvimento sustentável. Uma atitude responsável em relação ao ambiente e à sociedade amplia o conceito para uma escala mais ampla e diminui a escassez de recursos. O desenvolvimento sustentável conduz ao crescimento orientado, além de promover a imagem da empresa. Uma postura sustentável é por natureza preventiva e facilita a prevenção de riscos futuros, como impactos ambientais e processos judiciais. 4. É TRANSPARENTE: a globalização traz consigo demandas por transparência. Somente os livros contábeis não são suficientes. Empresas estão sendo gradualmente obrigadas a divulgar

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seu desempenho social e ambiental, o impacto de suas atividades e as medidas tomadas para prevenção ou compensação de acidentes. Nesse sentido, empresas serão obrigadas a publicar relatórios anuais, onde a performance será aferida nas mais diferentes modalidades possíveis. Muitas empresas já o fazem de maneira espontânea, porém é fato que a divulgação dos relatórios socioambientais será totalmente compulsória no futuro. Essas características independem do tamanho da empresa. A criação de valore riqueza pressupõe elevado nível de responsabilidade social e diz respeito ao pequeno, médio e grande empreendedor. A impressão é a de que somente as grandes empresas têm capacidade financeira e, portanto, maior responsabilidade sobre as ações que afetam o meio ambiente e a sociedade e isso não é verdade. O que muda nesse caso é o tamanho da cobrança por parte da sociedade. O empreendedor deve pensar diferente e incorporar a ideia desde o princípio para criar uma cultura de responsabilidade social. A empresa não precisa esperar dez anos para iniciar pequenas ações de acordo com a sua possibilidade de investimentos. A natureza não espera a empresa ter lucro para depois disponibilizar os recursos que ela precisa para produzir, crescer e prosperar. Em todos os países do mundo, existe um leque de alternativas para o engajamento em ações de responsabilidade social que passam, invariavelmente, pelas empresas. De maneira consciente, elas retiram da natureza uma quantidade substancial de matéria-prima e da sociedade uma quantidade considerável de energia através da utilização da força de trabalho humana para a produção de bens e serviços nos mais variados ramos de negócio. Nada mais justo do que retribuir e compartilhar com a sociedade parte dos lucros auferidos para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, inclusive si mesmo. Considerar esses fatores é imprescindível para os empreendedores que almejam o título de "socialmente responsáveis" e aspiram sustentabilidade no longo prazo. Por experiência, lembro que um negócio em estágio embrionário dificilmente será cobrado por suas ações equivocadas em relação ao meio ambiente ou ao tratamento com os seus colaboradores. Na medida em que o negócio adquire novas dimensões, é natural que o olhar das autoridades - sociais, fiscais, ambientais - se volte para aqueles que geram mais lucros e, portanto, têm mais responsabilidade sobre o impacto social e mais condições financeiras de investir nessa área. Investir em responsabilidade social significa reconhecer que as ações da empresa têm o poder de provocar grande impacto na sociedade e, ao mesmo tempo, que a empresa está atenta aos acontecimentos sociais que afetam os resultados do seu negócio diretamente, além de elevar a sua reputação e dificultar a manutenção das empresas que se comportam de maneira socialmente irresponsável no mercado. O que se pretende aqui é despertar a consciência para as ações que contribuem para um mundo melhor e que não dependem necessariamente de capital; para sua execução. Conscientemente, todos os problemas que afetam a humanidade têm relação com as empresas, e estas, por sua vez, são os organismos vivos com as melhores condições de contribuir para a transformação consciente da sociedade em organismos vivos de responsabilidade social. O que isso tem a ver com os negócios? Antes de pensar em conceber qualquer empreendimento deve-se ter em mente as Metas do Milênio. Em maior ou menor proporção, estão diretamente relacionadas com o compromisso socialmente responsável que não pode mais ser ignorado. As metas levantam a reflexão em torno das desigualdades sociais entre as diferentes classes de renda e dos impactos exercidos pelas empresas sobre o meio ambiente. Empreendedores socialmente responsáveis são vistos de maneira diferente no mercado e sempre haverá espaço e reconhecimento para quem investe no futuro da humanidade e, por consequência, dos seus descendentes. Mas não se iluda! A responsabilidade social é mais fácil

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de ser aplicada quando existe lucro, caso contrário, nenhuma empresa resiste. A questão é a seguinte: é possível pensar nas pessoas, no meio ambiente, em produtos e serviços alinhados com os Critérios de Responsabilidade Social sem antes pensar no lucro? Esse exercício deve ser feito regularmente por aqueles que desejam ir além do lucro, considerando que o lucro é apenas a consequência ou o subproduto das coisas bem feitas, segundo Peter Drucker. No início do século XX, a expressão responsabilidade social tinha pouco significado no mundo acadêmico e era praticamente nula no mundo dos negócios, mas o pensamento visionário de Ford transformou o estilo de vida norte-americano para 15 milhões de pessoas com o Modelo T - o "carro popular", principalmente devido à redução de preços em 58% de 1908 a 1916. Para sustentar suas ideias, Ford ousou instituir o dia de US$ 5 para os operários, aproximadamente duas vezes mais do que o índice do setor, o que chocou e revoltou o mundo industrial na ocasião, motivo pelo qual foi acusado de cometer um "enorme erro econômico", um crime hediondo e outros predicados que tinham por objetivo denegrir sua imagem. O pensamento de Ford se concentrava no fato de que quanto mais pessoas tivessem acesso aos veículos, mais qualidade de vida, mais geração de empregos e mais prosperidade seriam proporcionadas para um número maior de pessoas possível na cadeia de negócios da empresa. Idealismo, pragmatismo, oportunismo, declarações cínicas e despropositadas, podemos pensar o que quiser, mas as ideias de Ford resultaram numa onda de prosperidade em toda a cadeia de negócios, de clientes a fornecedores, de leste a oeste dos Estados Unidos. A responsabilidade social é uma forma inteligente de conduzir os negócios, senão a única forma, no mundo globalizado, onde o clamor por um capitalismo menos selvagem e mais alinhado com os problemas sociais é evidente; portanto, qualquer missão pautada exclusivamente no lucro, sem a visão da interdependência, da reciprocidade, da ética e do respeito aos princípios básicos de cidadania, não criará as condições mínimas para ser colocada em prática. Robert W Johnson Jr. fundou a Johnson & Johnson em 1886 com a meta idealista de "aliviar a dor e as doenças" da população. Em 1908, ele havia transformado a meta numa ideologia de negócios que colocava o serviço ao cliente e a preocupação com os funcionários na frente do retorno aos acionistas. Em 1935, Johnson refletiu esses sentimentos através de uma filosofia que denominou de "interesse pessoal iluminado", onde o serviço aos clientes viria em primeiro lugar, o serviço aos funcionários e à gerência em segundo e o serviço aos acionistas por último. Em 1943, ele acrescentou uma extensa lista de serviços dedicados à comunidade e transformou a ideologia da Johnson e Johnson no que ele chamou de "Nosso Credo", transcrito a seguir:" • Em primeiro lugar, temos uma responsabilidade perante médicos, enfermeiras, hospitais, mães e todos aqueles que usam nossos produtos. Nossos produtos têm que ser sempre da mais alta qualidade. Temos que lutar constantemente para reduzir o custo desses produtos. Nossos pedidos têm que ser atendidos com pontualidade e precisão. Nossos revendedores têm que ter um lucro justo. • Em segundo lugar, temos uma responsabilidade perante aqueles que trabalham conosco: os homens e mulheres em nossas fábricas e escritórios. Eles têm que se sentir seguros em relação a seus empregos. Os salários têm que ser justos e adequados, a gerência imparcial, as horas de trabalho razoáveis e o local de trabalho limpo e organizado. Os funcionários devem ter um sistema organizado para que possam dar sugestões e fazer reclamações. Os supervisores e chefes de departamento têm que ser qualificados e justos. Deve existir a oportunidade de crescimento para aqueles que forem qualificados e cada pessoa tem que ser considerada como um indivíduo com a sua própria dignidade e mérito. • Em terceiro lugar, temos uma responsabilidade perante nossa gerência. Nossos executivos

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têm que ser pessoas com talento, educação, experiência e capacidade. Eles têm que ser pessoas de bom senso e compreensivas. • Em quarto lugar, temos uma responsabilidade perante as comunidades em que vivemos. Temos que ser um bom cidadão corporativo, apoiar obras de caridade e pagar os devidos impostos. Temos que manter em ordem a propriedade que temos o privilégio de usar. Temos que ajudar a promover o progresso cívico, a saúde, a educação e os bons governos, informando a comunidade sobre nossas atividades. • Por fim, em quinto lugar, temos uma responsabilidade perante nossos acionistas. Os negócios têm que apresentar lucros estáveis. É preciso criar reservas, realizar pesquisas, desenvolver programas ousados e pagar pelos erros. Temos que estar preparados para adversidades, pagar os impostos devidos, comprar novas máquinas, construir novas fábricas, lançar novos produtos e desenvolver novos planos de vendas. Temos que fazer tentativas com novas ideias. Quando tivermos feito isso, os acionistas receberão um retorno justo. Com a graça de Deus, estamos determinados a cumprir essas obrigações, dando o melhor de nós. Não é preciso entender de responsabilidade social para adotar um credo como esse, mas ao fazê-lo Robert Johnson definiu claramente os critérios que fundamentaram o espírito de desenvolvimento, de comprometimento com a sustentabilidade dos negócios e de solidariedade da Johnson & Johnson. Qualquer pessoa pode adotar um credo semelhante e tornar a empresa um negócio lucrativo sem ignorar as necessidades mais urgentes do planeta. A partir da década passada, o mundo testemunhou a criação de inúmeras normas, regulamentos, padrões, referências e diretrizes que tratam da conduta e das práticas empresariais que dizem respeito à ética, ao relacionamento com os públicos de interesse, ao desempenho nos planos econômicos, social e ambiental e a outros aspectos relativos à contribuição das organizações para o desenvolvimento sustentável. Para disseminar tal conduta, empresários de renome, artistas, esportistas e políticos em todo o mundo abraçaram essa causa. Uma das justificativas mais comuns adotadas por pequenos e médios empreendedores é a que um documento dessa natureza e amplitude não se aplica ao tamanho do seu empreendimento, o que não é verdade. Nenhuma empresa está livre de se sujeitar a leis, políticas, normas e procedimentos que valem para toda a sociedade. A igualdade de direitos também pressupõe a igualdade de obrigações em todas as camadas da sociedade: religiosa, política, empresarial. Atrocidades como trabalho escravo, trabalho forçado, trabalho infantil, maus-tratos, assédio moral, assédio sexual, abuso de poder, desrespeito ao meio ambiente e desrespeito aos direitos básicos do trabalhador são passíveis de acontecimento em qualquer organização. Sem conscientização e sem um código de ética pessoal capaz de exprimir com firmeza os valores associados à natureza do empreendedor, não há como exercer a responsabilidade social. Nesse caso, o empreendedor nem deveria se habilitar a entrar no mundo dos negócios. Em 25 de julho e 2002, quando a venda da HERSHEY uma das maiores fabricantes de chocolates do mundo, veio à tona através de um artigo publicado no Wall Street Journal, os 12 mil habitantes de Hershey, nos Estados Unidos ficaram perplexos e a notícia repercutiu por toda a cidade. E logo surgiram as primeiras indagações: quem seriam os novos proprietários? O que fariam com a fábrica da HERSHEY, com o parque temático que atraía milhares de pessoas, o SPA, o hotel, os jardins e outras atrações que haviam convertido a cidade em centro turístico? O que aconteceria com os empregados dependentes do chocolate, o grande motor da economia local? A ligação entre a cidade de Hershey e seu maior empregador vai muito além dos limites geográficos e econômicos. Quando fundou a empresa, Milton S. Hershey, membro da seita menonita e um homem profundamente religioso, queria que sua riqueza fosse utilizada para

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promover o "bem duradouro" e via sua pequena cidade da Pensilvânia como comunidade utópica, na qual havia construído seu empreendimento, concebida e governada para a fruição de seus habitantes. A notícia desencadeou uma onda de revolta e de ações por parte dos empregados e habitantes da cidade na tentativa de neutralizar a iniciativa dos controladores da Hershey. Um abaixo-assinado, que angariou mais de oito mil assinaturas numa cidade cuja população total era de apenas doze mil habitantes, exigia a demissão dos membros do Conselho de Administração. Em 17 de setembro de 2002, o drama da pequena cidade de Hershey havia chegado ao fim. Pouco antes da meia-noite, o Conselho de Administração decidiu abortar a própria iniciativa - apesar dos USD 12,5 bilhões que estavam em jogo e dos USD 17 milhões de despesas com serviços bancários e com honorários profissionais investidos na operação - e divulgou um comunicado que pôs fim ao grande dilema de uma pequena cidade da Pensilvânia: "A Hershey Foods Corporation anunciou hoje que o Conselho de Administração do fundo fiduciário decidiu instruir a empresa a desistir do processo de venda que fora iniciado por decisão anterior do mesmo órgão." Em cidades pequenas como Hershey, o destino de uma empresa e da comunidade estão estreitamente entrelaçados. É o caso de Telêmaco Borba, ao norte do Paraná, onde a empresa de papel e celulose da Klabin responde pela maioria dos empregos diretos e indiretos gerados na cidade. As casas, as ruas, os milhares de eucaliptos plantados refletem a alma e a consciência do fundador. Depois de milhares de e-mails enviados a Robert Vowler, CEO da Hershey, e aos membros do Conselho de Administração, pedidos de afastamento dos conselheiros, debates acalorados nos meios de comunicação e uma pressão insuportável da sociedade, milhares de empregados da empresa, de habitantes da cidade e de alunos e ex-alunos da Hershey School comemoraram o desfecho, com a sensação de que haviam salvado sua empresa e sua comunidade, por meio do poder do protesto. Qualquer empresa, ainda que bem administrada, cheia de boas intenções e impregnada de orgulho pela trajetória do seu fundador, pode balançar quando se ignoram os princípios da responsabilidade social. O preço a ser pago é alto e pode colocar em risco a sustentabilidade do negócio. A batalha pelo controle da Hershey remete a algumas questões centrais que são levantadas neste capítulo e levanta outras importantes que devem ser consideradas por empreendedores e líderes de negócios: 1. Será que as responsabilidades dos gestores de empresas vão além da geração dos lucros? 2. Quais são as responsabilidades das empresas perante os empregados, suas famílias, a comunidade onde vivem e a sociedade em geral? 3. Será que basta pagar salários justos, oferecer benefícios competitivos e produzir produtos e serviços necessários? 4. Que informações devem ser divulgadas sobre as decisões e as responsabilidades da empresa para as partes que nela detêm algum interesse? 5. Como será que os líderes da empresa devem levar em conta os pontos de vista e as preocupações de todos os envolvidos ou detentores de interesses? 6. Como criar consciência interna e tornar a empresa uma referência em termos de responsabilidade social e sustentabilidade? 7. Quais são os valores centrais que se constituirão nos pilares da responsabilidade social na minha empresa? 8. Queremos ser empreendedores socialmente responsáveis ou ganhar dinheiro nos basta? Uma empresa que assumiu uma posição responsável no mundo dos negócios foi a General Electric (GE), sob o comando de Jeffrey Immelt, o qual sinalizou o que seria importante a partir

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da sua gestão à frente da empresa: inovação, criatividade e soluções de mercado reais para os grandes problemas da humanidade. A postura de Immelt foi diferente da posição de seu antecessor, Jack Welch, o qual, durante anos, liderou pessoalmente o combate contra a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), na tentativa inútil de evadir-se da responsabilidade pela poluição dos rios Hudson e Housatonic, com quase 500 toneladas de resíduos tóxicos. Contudo, Welch saiu ileso e hoje é venerado no mundo dos negócios. Em todos os países do mundo, os empreendedores são geradores centrais de riqueza e prosperidade, portanto, devem procurar desenvolver sempre um papel positivo no mundo dos negócios. Embora as pressões dos consumidores sejam exercidas sobre as grandes corporações, pequenos e médios empreendedores devem ter em mente que os negócios crescem na mesma proporção da sua dedicação, razão pela qual é importante criar consciência desde o início para estimular uma cultura de responsabilidade social. Os empreendedores que entenderam os elementos do desafio da responsabilidade social e se dedicaram a colocá-las em prática desde o início estão predestinados a se tomarem grandes vencedores. Não é necessário investir milhões de reais para participar ativamente na grande cruzada contra os principais males que afetam a humanidade. Não há segredo nessa cruzada; basta que cada um faça sua parte. Em princípio, pense grande, mas enquanto não for grande o suficiente, tome iniciativa com a parte que lhe cabe, não porque o mundo dos negócios exige, mas porque é dever do empreendedor participar desse processo como empresário e cidadão. Dinheiro, sucesso e prosperidade são mera consequência de produtos, serviços e ações que facilitam a vida das pessoas e promovem o bem-estar da sociedade. O empreendedor do futuro não tem alternativa. Seu empreendimento já deve nascer socialmente responsável. Provavelmente, eu não mudaria uma vírgula nessa afirmativa, entretanto, as transformações ocorridas no planeta nos últimos 50 anos, por conta do consumo exacerbado dos recursos naturais, não permitem mais que os empreendedores olhem somente para os lucros. O que vale para a sociedade de hoje é o lucro com responsabilidade social e ambiental. O Brasil tem apresentado progressos nesse sentido, ainda que a passos lentos, e muitas empresas têm assumido um papel fundamental para reduzir o abismo das desigualdades sociais no país e também para retardar o processo de degradação do meio ambiente. Vejamos alguns exemplos no quadro a seguir: Quadro 2.13 Exemplos de atuação socialmente responsável no Brasil. 1. Para assegurar a geração de renda de pequenos produtos rurais, o Banco do Brasil, a Construtora Odebrecht, a Mineradora Rio do Norte (MRN) e a Seara financiam e dão assistência técnica a projetos em diferentes partes do país. As iniciativas viabilizam fábricas de beneficiamento de caju, horticultura e aviários construídos em assentamentos de trabalhadores rurais. 2. Em parceria com o Instituto Paulo Freire e a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Petrobras desenvolve o Projeto de Alfabetização MOVA Brasil. Mais de 15 mil alunos frequentam o curso, em cinco Estados. 3. O Projeto de geração de renda da Fundação Telefônica é voltado especificamente para mulheres de baixa renda que são chefes de família (25%das famílias brasileiras são hoje chefiadas por mulheres). Promove-se a capacitação técnica para desenvolvimento, confecção e venda de vários produtos. 4. Em parceria com a ONG Inmed Brasil, a Aché desenvolve, em seis Estados, um projeto voltado para o combate à anemia em crianças de escolas públicas. Mais de 5 mil meninos e meninas foram atendidos desde 2001. 5. Natura, Avon e Schering Plough, companhias que empregam um grande número de mulheres, mantêm programas permanentes de informação sobre sexualidade, doenças

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sexualmente transmissíveis, auto exame de mamas, amamentação e planejamento familiar. 6. Belgo Mineira e Pfizer promovem educação em saúde sexual e prevenção ao uso e abuso de drogas em São Paulo e em 20 municípios do Nordeste. Além disso, formam universitários que atuam como multiplicadores. 7. Um pool de empresas foi formado para financiar, sob a coordenação do poder público, a construção de cisternas na Região Nordeste do país. Eles canalizam as águas da chuva para grandes reservatórios familiares. Graças às cisternas, populações do semiárido nordestino contam pela primeira vez com água potável durante todo o período da seca. 8. A Fundação Bradesco possui 3 mil computadores em 29 escolas. Em seu programa de inclusão digital, cada uma das escolas da Fundação estabeleceu parceria com duas escolas da rede pública, cujos alunos e professores passam a ter acesso às máquinas e treinamento. "O mundo gera atualmente mais de 4,2 bilhões de quilos de lixo por dia, ou uma média de 700 gramas por habitante, uma estatística alarmante. No Brasil, são 140 milhões de quilos diários, metade enviada para lixões a céu aberto. O chorume, líquido gerado pela decomposição do lixo orgânico, contamina o solo e o lençol freático. O gás metano, outro resultado da decomposição, contribui vezes mais para o efeito estufa que o próprio CO2. Quando se inicia um empreendimento, de qualquer natureza, por mais simples e menos pretensioso que pareça, algumas perguntas são fundamentais para a disseminação da consciência no ambiente da empresa: sua empresa vai ajudar a combater o aquecimento global? Criar produtos ecologicamente corretos? Gerar menos resíduos? Combater o desperdício? Respeitar o interesse dos vizinhos? Os sócios estão comprometidos com a causa ambiental? Uma das maneiras de estimular a sustentabilidade nos negócios é associar o espírito da responsabilidade social na visão e na missão da empresa. Assumir essa premissa não significa negligenciar o lucro ou comprometer os resultados financeiros, mas assumir a consciência de que as empresas também existem para atender outros interessados, não somente o empreendedor. Jeffrey Immelt percebeu isso muito mais rápido do que seu antecessor Jack Welch na GE e criou uma iniciativa de desenvolvimento de tecnologias limpas que já rende bilhões de dólares por saber ouvir o que a sociedade tinha a dizer. Agir de acordo com a responsabilidade social significa ir além das obrigações legais e dos interesses imediatos. Empreendedores devem levar em conta os impactos de suas atividades em seus clientes, fornecedores e na sociedade. Dependendo da estratégia utilizada na gestão, a empresa pode tomar-se fonte de geração de pobreza ou evitar que isso ocorra. Empreendedores comprometidos coma melhoria da sociedade têm a obrigação de não fechar os olhos para os grandes dilemas da humanidade. No mundo essencialmente globalizado, até os mais pobres canalizam investimentos na educação de crianças e jovens para que conquistem, através de melhores oportunidades de aproveitamento da vocação, uma qualidade de vida superior à de seus pais e avós, mediante sacrifícios que impõem a si mesmos por conta de uma possível recompensa no futuro ou satisfação pessoal. Uma sociedade que se preocupa com a responsabilidade social deve fazer o que for necessário para que seus jovens tenham o máximo de opções e a maior liberdade possível para se realizarem como pessoas, através de uma melhor inserção no mercado de trabalho, especialmente em regiões onde o desemprego, a desigualdade e a pobreza afetam homens e mulheres em idade economicamente ativa. O investimento familiar em educação não é suficiente. O importante é que os jovens tenham oportunidades para progredir e sejam capazes de aproveitá-las, exercendo responsavelmente suas liberdades. o empreendedorismo é um caminho saudável pelo fato de promover a inclusão mediante o aproveitamento do potencial dos indivíduos para a geração de riqueza. Fazer propostas para

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promover trabalho decente e criar empregos produtivos é optar por fortalecer a democracia, apoiar a coesão social e contribuir com o crescimento econômico. É cômodo falar de riqueza, integração dos povos, democracia, crescimento econômico sustentável quando se pode fazer, no mínimo, três refeições por dia. Todo empreendimento é valido desde que não comprometa a nossa forma dever o mundo como um celeiro de oportunidades para promover a justiça e o bem estar das pessoas, além do próprio bem-estar. O mundo não é o mesmo do início:0 século passado, onde a riqueza foi estimulada à custa da degradação ambiental, da exclusão social e da concentração de renda. Os grandes empreendedores são também admirados por se envolverem em projetos de natureza social. Não existe prazer diante de tanta fartura vivendo indiferente aos graves problemas sociais existentes na sociedade. Empreender e gerar riqueza são instrumentos de socialização e compartilhamento. O empreendedor ideal entende que a riqueza só faz sentido quando é compartilhada com causas nobres a serviço da humanidade. A responsabilidade social começa dentro de casa com o mínimo que pode ser realizado para reduzir o efeito da pobreza por todos aqueles que conseguem, graças à sua inteligência e à dedicação, gerar prosperidade através de pequenos e grandes negócios. Com relação aos grandes dilemas do mundo, principalmente a miséria visivelmente constituída, a solução passa pelo fortalecimento de três instituições universalmente reconhecidas, as únicas com possibilidade de exercer influência positiva (ou negativa) sobre o comportamento humano e reverter o processo de degradação moral e ambiental que assolam a humanidade neste século. EMPRESA: fonte do aprendizado coletivo, da geração de riqueza e da disseminação do conhecimento; promotora da identidade e da dignidade humana com relação ao aproveitamento da vocação individual. FAMíLIA: base de uma sociedade solidamente construída; chave para o aprendizado e a construção do bom relacionamento; representação mínima de uma vidas socialmente organizada; única instituição reconhecida pelo ser humano como o refúgio predileto para a fuga das grandes pressões do mundo contemporâneo. EDUCAÇÃO: do latim educatíone; ato ou efeito de educar-se, de alterar hábitos e atitudes a partir dos conhecimentos adquiridos, portanto, é a raiz do conhecimento, das transformações de ordem pessoal e profissional, da constituição de valores e princípios que fortalecem o ser humano, a família, a empresa e a sociedade em geral. Miséria, pobreza, em sentido mais amplo, não significa a imagem do mendigo sujo, mal vestido, a dormir no meio da rua ou a pedir esmolas, mas o fato de o ser humano não possuir renda suficiente para cobrir suas necessidades básicas. O empreendedor ideal deve trabalhar duro para lucrar e viver confortavelmente, mas não deve ser furtar de fazer a sua parte para reduzir o desequilíbrio social, a começar pelo meio onde vive e faz negócios. Nesse caso, a construção de uma visão duradoura foi fundamental. O sonho conjunto de Dom Paulo Arns, Zilda Arns e James Grant continua transformando a vida de milhares de pessoas em diferentes países do mundo com o mais nobre dos empreendimentos: salvar vidas. Atitudes socialmente responsáveis independem do tamanho da empresa. No caso da Pastoral da Criança, um número razoável de empresas participa do programa porque acredita na missão da organização, na prática da solidariedade humana e na partilha do saber. Para que isso ocorra é necessário ao empreendedor ter uma visão clara de responsabilidade social e sustentabilidade, não somente dos seus negócios em particular, mas do mundo. Com as pressões sociais e ambientais do mundo globalizado, diversos setores da sociedade estão redefinindo seus papéis. Adotar um comportamento socialmente responsável, por exemplo, faz cada vez mais parte da visão e da missão das empresas, pelo fato de pressupor

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uma coerência ética nas ações e nas relações com os diferentes públicos com os quais interagem, contribuindo para o crescimento das pessoas, das comunidades e de suas relações entre si e com o meio ambiente. A responsabilidade social está se tornando fator de sucesso no mundo empresarial ao projetar perspectivas para a construção de uma sociedade mais justa, sob o ponto de vista social, e mais próspera, sob o ponto de vista econômico, para o bem da humanidade. Em 1999, no âmbito das Nações Unidas, foi constituído o Pacto Global com intuito de estimular as empresas a assumirem o compromisso com a aplicação da gestão de seus negócios, de dez princípios nas áreas dos direitos humanos, das relações de trabalho e do meio ambiente. Ao incorporá-los à gestão empresarial, empresas e empreendedores colocam em prática ações de responsabilidade social que colaboram, direta ou indiretamente, para atingir as metas. Quadro 2.14 Princípios do pacto global.

Áreas Princípios Direitos

Humanos • As empresas devem apoiar e respeitara proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente na sua área de influência • Assegurar-se de sua não-participação em violações de direitos humanos

Relações de Trabalho

• As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva • Apoiar a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório • Apoiar a erradicação efetiva do trabalho infantil • Apoiar a eliminação da discriminação no emprego

Meio

Ambiente

• As empresas devem adotar uma abordagem preventiva para os desafios ambientais • Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental • Incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente sustentáveis

Corrupção, Extorsão e Suborno

• As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, incluindo extorsão e suborno

Pensar nesses princípios desde o início do empreendimento é uma atitude que demonstra preocupação e comprometimento com o futuro do planeta e da própria humanidade. A responsabilidade social e ambiental deve ser pensada em todos os aspectos. Liderar pelo exemplo desde o início está nas possibilidades de qualquer empreendedor. Quando Anita Roddick fundou a Body Shop, há 32 anos, no interior da Inglaterra, o espírito empreendedor não inibiu sua vontade de continuar lutando pelas causas sociais em que acreditava. Apesar de ter construído um império de cosméticos ao redor do mundo, Anita deixou mais do que uma história de sucesso nos negócios: deixou legado e uma lição de vida. O desafio de equilibrar a vida pessoal e profissional Tomei muito cuidado ao organizar e escrever esse tópico para não comprometera ideia central do livro, tornando-o um cabedal de ideias e atitudes empreendedoras inatingíveis. O discurso adotado desde o início não tem a pretensão de transformar o empreendedor num missionário, mas a de sustentar a hipótese de que as pessoas - homens de negócios, pais e mães de família, políticos, religiosos e governantes - são as únicas responsáveis por seus atos e os resultados que alcançam estão diretamente relacionados ao desempenho e à determinação de cada um para o melhor aproveitamento da própria vocação.

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Antes de discorrermos com mais profundidade sobre o assunto, vale a pena analisar alguns dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no XVII Congresso Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho, realizado em Orlando, nos Estados Unidos. • Todos os dias morrem em média 6.000 pessoas devido a acidentes ou doenças profissionais, totalizando mais de 2,2 milhões de mortes relacionadas com o trabalho e mais de 1,7 milhões de mortes relacionadas a doenças profissionais. Para além desses números, há a acrescentar os acidentes de trajeto, com mais de 158.000 acidentes mortais. • Todos os anos aproximadamente 270 milhões de trabalhadores são vítimas de acidentes de trabalho que levam a ausências de três ou mais dias de trabalho, e de 160 milhões de incidentes que originam doenças profissionais. • Perde-se aproximadamente 4%do produto interno bruto mundial com os custos relativos a lesões, mortes e doenças em resultado dos dias de trabalho perdidos, dos tratamentos médicos e das prestações de invalidez e sobrevivência. • As substâncias perigosas matam cerca de 438.000 trabalhadores por ano, e10%dos cancros da pele são atribuídos à exposição a substâncias perigosas no local de trabalho. • Enquanto os homens têm mais risco de morrer durante a idade ativa (antes dos 65 anos), as mulheres sofrem com doenças contagiosas e transtornos delonga duração. São casos de malária na atividade agrícola, infecções bacterianas ou virais e desordens musculares. • Os homens, por sua vez, estão mais expostos a acidentes, doenças no pulmão e câncer relacionado ao trabalho, como o provocado por amianto. • O número de acidentes e, em particular, os que causam mortes, está subindo, sobretudo em alguns países asiáticos, devido, entre outros fatores, ao rápido desenvolvimento das atividades e às fortes pressões competitivas exercidas pela globalização. • A OIT constatou ainda o aumento nas chamadas "novas doenças do trabalho", como distúrbios psicossociais, violência, alcoolismo, dependência química, estresse, tabagismo e Aids. Problemas com cigarro afetam principalmente os trabalhadores de restaurantes, no setor de serviço e com entretenimento. • Estima-se que o tabagismo cause 14%de todas as mortes por doenças relacionadas ao trabalho, ou 200 mil casos por ano. • Em vários países industrializados mais da metade das aposentadorias são antecipadas ou estão vinculadas à concessão de pensões de incapacidade. • Apesar de "a segurança e a saúde serem fundamentais para a dignidade do trabalho", os responsáveis pelo estudo calculam que quase 2,2 milhões de pessoas morrem a cada ano por acidentes e doenças de origem profissional. Não há motivo para orgulho dessas estatísticas, porém, é oportuno levantar a reflexão. O capitalismo em si não é mau, mas o uso que a humanidade faz dele traz consequências irreversíveis em todos os sentidos e a pressão exercida pela busca incessante do lucro e da acumulação parece pouco preocupada com o fato. E o ser humano, obstinado na sua luta por melhores condições de vida ou por necessidade absoluta de sobrevivência, se curva à maioria das imposições do mundo essencialmente materialista, sob pena de viver à margem da sociedade. A incerteza é um elemento frequente na vida do empreendedor. Isso não é novidade, e ele não pode negar que o trabalho tem um efeito poderoso, positivo ou negativo, sobre a sua vida privada, mas a questão essencial é: onde o comportamento responsável termina e onde começa a interferência? Esses dois universos são interdependentes e difíceis de ser conciliados. As atitudes pessoais são parte e consequência da personalidade, tanto na vida pessoal corno na vida profissional, portanto, o equilíbrio é que determina a melhor forma de utilizá-las em qualquer ambiente. As atitudes também ditam o conteúdo e a forma do nosso discurso, a qualidade de nossas ações e, em grande medida, os resultados que obtemos.

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A variedade de atitudes é ampla. Algumas são valiosas porque nos fortalecem, nos desenvolvem e fazem com que muitas pessoas sejam felizes ao nosso lado. Outras nem tanto. Algumas nos causam dano e prejudicam aqueles que convivem ou se relacionam conosco, não importa o ambiente. Elas são inerentes ao ser humano, embora no ambiente familiar se tornem mais evidentes e corriqueiras. A busca pelo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é uma constante desde o advento da Revolução Industrial, mas o caminho para atingi-lo é longo. Não vamos aqui relacionar os motivos, mas o fato é que se quisermos iniciar alguma mudança em nossa vida, como um negócio por conta própria, por exemplo, devemos concentrar a atenção em coisas que dependem realmente de nós. Os conflitos entre as demandas da vida pessoal e profissional existem desde os primórdios da sociedade organizada. Ficaram mais evidentes depois da Revolução Industrial, mas remontam aos tempos do Império Romano, quando os gladiadores e guerreiros eram obrigados a deixar suas famílias e partir a serviço dos imperadores, aos tempos dos navegadores, dos inquisidores e dos conquistadores dos mares. Em qualquer negócio, o empreendedor assume total responsabilidade pelo que acontece com os seus produtos e serviços, pelas pessoas que dirige, pelos credores e, principalmente, seus clientes. Para que isso ocorra, a responsabilidade social compreende quatro níveis distintos: Assumir a responsabilidade por seus atos é o primeiro passo para o equilíbrio da vida pessoal e profissional. A questão da indissociabilidade do ser humano não deve ser ignorada. Ao assumir a responsabilidade de dirigir o próprio negócio, algumas variáveis conspiram a favor e outras contra o êxito do negócio, portanto, saber administrar essas variáveis de maneira equilibrada é fundamental. Em toda a história da humanidade, pais e mães de família sempre tiveram filhos para cuidar, projetos pessoais para cumprir, comunidades para organizar, pessoas para liderar, além de passatempos para aliviar a pressão exercida no ambiente de trabalho. Uma das premissas mais disseminadas, e mais sustentadas de maneira equivocada, é o fato de que as pessoas podem administrar facilmente a vida pessoal e a vida profissional, como se fosse possível realizar uma coisa com a mão esquerda enquanto a outra se ocupa com algo diferente. A frequência cerebral é tão intensa que não permite dissociação dessa natureza. A mente humana alterna entre uma e outra rapidamente. A vida dos empreendedores passa por uma profunda transformação na medida em que os negócios evoluem. O que antes parecia tranquilo e transcorria dentro da normalidade - horário, carga de trabalho, renda, vida social - muda por completo a partir do momento em que o agora "empresário" assume o comando da empresa. Em geral, a família do empreendedor sofre o maior impacto decorrente das pressões naturais da operação do próprio negócio. Para minimizar essa pressão é recomendável o compartilhamento das informações e dos problemas considerando que o empreendimento é concebido para o bem de todos. Não são apenas os lucros que devem ser divididos, mas os problemas também. "Carregar a empresa nas costas" é uma decisão pouco sensata e representa um alto custo social. Se a família não for consultada e não houver cumplicidade com relação à sobrecarga de trabalho e de responsabilidades, a vida familiar acaba comprometida e a ruptura torna-se inevitável. Empreendedores que sentem uma forte necessidade de realização e priorizam a área profissional em detrimento da área pessoal não conseguem atingir seus objetivos completamente e acabam se tomando hostis consigo mesmos. O nível de exigência interno é tanto que o desequilíbrio emocional torna-se inevitável em razão das demandas que surgem de ambos os lados. Embora, em qualquer negócio, seja difícil fugir das transformações que surgem de todos os lados, é possível administrá-las sem colocar o negócio e a família em risco. Em todos os empreendimentos, os desafios são constantes, portanto, o empreendedor deve buscar o equilíbrio necessário para enfrentar os colaboradores menos dedicados, os menos capacitados, os deprimidos, os desconfiados, os que fomentam a rivalidade e a discórdia no

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ambiente de trabalho. Aliado a tudo isso, soma-se a complexidade do negócio provocada pela falta permanente de capital de giro, pressão dos fornecedores, oscilação nas vendas, pressão da família e uma completa solidão quando mais se precisa de soluções conjuntas. o tempo a ser compartilhado com a família é precioso e é natural que eles se sintam culpados por sacrificarem parte de sua vida para cumprir o volume de trabalho e que a frustração se abata sobre eles por se tornarem incapazes de tomar atitudes para reverter a situação. Porém, todo empreendedor imagina que o que faz está sendo feito é para o bem da família e a frustração se torna maior ainda quando o negócio entra em decadência e o lucro não compensa o esforço e o tempo dedicado ao êxito do negócio. Surge então o drama no ambiente familiar. Nesse aspecto, a limitação de tempo no trabalho é crucial para prevenir o esgotamento físico e um possível colapso. Permitir ou exigir que os colaboradores trabalhem 14 ou 20 horas por dia sob pretexto de estarem dando o melhor de si para o bem da organização é arriscado. Além de contribuir para uma vida familiar insatisfatória, torna-se um álibi capaz de encobrir fatores muito mais obscuros que tendem a agravar o convívio entre as duas dimensões. Pergunte ao empreendedor mal sucedido a razão de sua vida privada não ser tão compensatória quanto gostaria e ouvirá dele que o trabalho consome boa parte do tempo e da energia que poderiam ser distribuídos de maneira mais equilibrada. Aliás, nenhum empreendedor deve permitir a si mesmo sacrificar tanto tempo e o tempo dos seus familiares por conta de um negócio que tende a abreviar o seu precioso tempo de vida e de convivência com familiares e amigos. Antes de se tornar empreendedor sagaz, comprometido e singular, ele é, prioritariamente, um ser humano sujeito aos desequilíbrios provocados pela sociedade moderna. Nos primeiros anos de dedicação aos negócios, é compreensível que os empreendedores mergulhem de corpo e alma com tanta determinação que somente o esgotamento físico e mental consegue detê-los. Em alguns casos, nem isso é suficiente. Obviamente, algumas pessoas são mais fortes e preparadas para enfrentara pressão. Outras são mais propensas aos riscos por sua frágil natureza biológica e psicológica. O exagero na carga de trabalho, ainda que por necessidade ou por desejo de prosperar, apresenta custo elevado para o empreendedor e para a sociedade, portanto, a busca pelos resultados positivos na vida profissional sem o devido equilíbrio tende a reduzir a qualidade e a produtividade nos negócios e afeta diretamente o relacionamento pessoal de cada um. Competição, solidão, estresse, pressão social e desespero são algumas características da atual crise existencial que aflige a sociedade em que vivemos. Isso faz com que as pessoas se preocupem e desenvolvam esforços com o intuito de amenizar o desequilíbrio social e psicológico para onde são empurradas. Empreendedores não vivem voltados para os problemas, mas para as oportunidades. De maneira intuitiva, e preventiva, eles deixam os problemas "morrerem de fome", pois sabem que as crises, problemas e dificuldades de toda ordem são importantes, mas não são tão pessoal e profissional. Em síntese, a concentração passa a ser na solução e não no problema e isso reduz efetivamente a pressão sobre os indivíduos. Isso faz sentido quando o empreendedor, desejoso de levar adiante uma idéia previamente concebida, não dá a mínima importância para as coisas que realmente importam. Quando isso ocorre, há um desequilíbrio na divisão de tempo e energia, o qual acaba em danos à saúde física e mental do empreendedor. Stephen Covey adverte que é no relacionamento que os poderes criativos se maximizam. O relacionamento entre as partes também inclui o poder de criar uma cultura sinérgica dentro da família ou de uma organização. Quanto mais genuíno for o envolvimento, quanto mais sincera e voluntária a participação na análise e solução dos problemas, maior a liberação da criatividade individual e os eu comprometimento com o que está sendo criado. Esse é o segredo do poder na atitude japonesa nos negócios, que mudou o mercado mundial.

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Abrir um negócio por conta própria é muito mais fácil do que encerrá-lo, principalmente no Brasil. Difícil é enfrentar a concorrência, a carga tributária, a pressão dos consumidores por preços menores e mais qualidade, a falta de capital de giro e a insatisfação dos funcionários com os salários e benefícios. Contudo, é possível encontrar uma legião de empreendedores determinados a resolver todos os problemas com relativa facilidade porque realmente se dedicam a eles embora se mostrem incapazes de resolver problemas no universo particular. São verdadeiros experts em sua área de atuação. A metáfora da Conta Bancária Emocional utilizada por Stephen Covey faz muito sentido quando envolve as duas partes. Para Covey, todos nós sabemos o que é uma conta bancária financeira. Fazemos depósitos e acumulamos reservas que nos permitem realizar saques quando necessário. A Conta Bancária Emocional descreve a quantidade de confiança acumulada em um relacionamento e cuida da sensação de segurança que se tem com outro ser humano. Transporte a metáfora para os negócios e será mais fácil promover o equilíbrio emocional. Quando o legítimo empreendedor e o ser humano praticam a integridade e os depósitos da Conta Bancária Emocional são mais frequentes, coisas críveis aparecem: pendrives, l-Pods, veículos maravilhosos, eletrodomésticos, aparelhos celulares, serviços impecáveis e outras realizações que transformam e facilitam a vida das pessoas. No campo pessoal, as famílias se tornam mais sólidas, os pais são mais dedicados, os jovens são mais responsáveis, as crianças são mais criativas e as pessoas se tornam menos violentas. Profissionais de todos os segmentos de negócio não estão imunes ao colapso nervoso em determinado período da vida, geralmente quando acreditam ter atingido a sonhada autos suficiência. Ao longo da jornada, muitos demonstram hostilidade, frieza, intransigência e, por vezes, indiferença no trato com os seus dos problemas sociais, da competição acirrada e da necessidade de provar ao mundo que podem oferecer mais de si mesmos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), Rússia, Ucrânia e Lituânia estão no topo do ranking das taxas de suicídio. No bloco intermediário, a França ocupa a 18ª posição junto com a Suíça e Cuba. Felizmente, o Brasil ocupa somente a 71ª posição. Nos últimos 45 anos, a taxa de suicídio cresceu 60%, ou seja, 1 milhão de mortes no ano 2000, praticamente 3 mil mortes por dia. A OMS afirma ainda que o suicídio está entre as três maiores causas de morte na faixa etária entre 15 e 34 anos, quando os seres humanos são mais produtivos e tendem a ser mais empreendedores. Equilibrar a vida pessoal e a profissional requer uma transformação de ordem pessoal. Sem essa transformação, qualquer empreendimento faz do seu empreendedor um alienado. Poucos empreendedores assumem a infelicidade e admitem o fracasso. Em geral, preferem viver a doce ilusão de que o excesso de trabalho, apesar de tudo, ainda pode trazer felicidade enquanto a família o espera, de maneira impaciente, dentro de casa para alguns minutos de diálogo. A convivência com empreendedores bem-sucedidos deixa lições de aprendizado que faço questão de compartilhar com todos aqueles que buscam conhecimento e informação nessa área. A literatura ajuda, mas o testemunho dos fatos tal como acontecem na vida real dos empreendedores é praticamente urna pesquisa não científica cujo resultado, embora simples, mostra o caminho a ser tornado por quem deseja prosperar no mundo dos negócios sem se descuidar das coisas que fazem sentido na vida. A compreensão do universo alheio é uma excelente ferramenta de gestão e criatividade, mas também de equilíbrio entre o campo pessoal e o campo profissional. A missão e a visão de uma empresa ou de uma pessoa são detalhes, muitas vezes sem importância, para as outras pessoas. Esposas e filhos dificilmente aceitarão o fato de que o empreendedor inteiramente envolvido com o trabalho assim o faz porque deseja o bem de todos, portanto, o equilíbrio passa pelo campo da compreensão e da concessão. Por experiência própria, digo que os negócios

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avançam melhor quando o envolvimento dos empreendedores e de seus respectivos familiares ocorre de maneira conjunta em determinada atividade. O envolvimento familiar flui até determinada fase do negócio. A partir do instante em que o empreendimento requer a entrada de mais pessoas e demanda mais profissionalização, a mudança é inevitável. Os familiares nem sempre estão preparados para aceitar a mudança e pensar como legítimos empreendedores. Embora seja um assunto contagiante, será bem mais explorado em outro livro. Fonte: MENDES, J.; Manual do Empreendedor – Como Construir um Empreendimento de Sucesso; Capítulo 2; São Paulo, Atlas, 2009.

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